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ANÁLISE FUNCIONAL:Princípios,

Métodos e Fins
Wilson Castro Ferreira Jr.

VERSÃO PRELIMINAR
IMECC-UNICAMP-05Mar08

CAPÍTULO 1

ESPAÇOS MÉTRICOS: A Origem dos Conceitos de


Convergência
Os números naturais são aceitos no mundo civilizado moderno sem barreiras
psicológicas mais sérias, pelo menos até que os resultados da Teoria dos Números
comecem a nos espantar! Esta familiaridade com o conceito de número natural é resultado
de um longo processo civilizatório que tem a sua origem óbvia na necessidade de contagem
e de ordenação de objetos concretos e já foi detectada nas civilizações mais antigas e
primitivas.Conceitos rudimentares de número natural restritos apenas aos primeiros dígitos,
são encontrados ainda hoje em certas tribos indígenas e, de certa forma, até mesmo em
algumas espécies animais.(C.Gallistel-The Concept of Number, MIT Press, O.
Neuberger-The Sciences in the Antiquity, Dover).
Por outro lado, a idéia do "conjunto total" dos números naturais, N, como um objeto em
si é muito mais sutil, pois envolve a idéia de "infinito", e ocorreu, de maneira incipiente,
mas sistemática, somente na Filosofia e na Matemática grega, há aproximadamente poucos
3000 anos atrás. O conceito de algoritmo recursivo, que é o germe da idéia de "infinito",
traz em si o conceito de um processo "infindável", e já pode ser explicitamente encontrado
nos trabalhos de Euclides (265AC-325AC), embora, certamente, ele tenha recebido
influências de antigos Babilônicos e Egípcios. Este conceito foi amplamente expandido nos
escritos do famoso matemático persa/iraquiano Al-Kwarizmi (780AC-850AC), de onde, a
propósito, vem o termo "algoritmo", e também o termo "álgebra".
(A.P.Ershov-ed.-Algorithms in Modern Mathematics and Computer Science, Springer
LNCS 122, 1981). De qualquer forma, o estabelecimento da idéia de infinito "potencial"
como um processo algorítmico, significou um longo salto intelectual para o conhecimento
humano. A introdução desses conceitos como parte formal da própria Matemática,todavia,
têve um longo período de germinação e somente se estabeleceu muito mais tarde, entre
meados do século XIX e início do século XX , tendo como seu principal protagonista o
matemático italiano Giuseppe Peano (1858-1932). (M.Segre-Peano’s Axioms in their
Historical Context, Arch.HistExact Sci. 48(3/4)1994, 202-336). Uma construção
algorítmico-indutiva e, portanto, "potencial" dos números naturais foi enfatizada por
Peano, onde cada e todo elemento de N pode ser construído utilizando-se uma quantidade
finita de etapas que envolvem apenas operações aritméticas efetuadas a partir da base
binária 0, 1.
Uma vez de posse dos números naturais, os números inteiros (relativos) e os racionais
(frações) são imediatamente obtidos por intermédio de simples conceitos algébricos finitos
(classes de equivalência) que não exigem nenhum salto intelectual comparável ao anterior.
Entretanto, o conceito de número real traz intrinsecamente a necessidade de processos
infinitos semelhantes àquele empregado para a construção do conjunto de números
naturais: cada número real é "potencialmente construtível", e exige um processo infinito
para descrevê-lo totalmente. A representação decimal corriqueira é apenas uma maneira
convencional e sistemática de representação dos números reais (com óbvias motivações e
origens fisiológicas), mas não é a única; qualquer seqüência racional equivalente à decimal
(no sentido da "aglutinação" de Cauchy) também é uma forma ”exata ”de determina-lo.
Caracterizado desta maneira, um número real é representado por uma classe de
equivalência de seqüências de Cauchy de números racionais, que é o ingrediente "concreto"
para construí-lo. ( H.Thurston - The Number System, Dover, ou G.Birkhoff-S.McLane -
Algebra Moderna, Vicen-Vives ).Com o conceito de número real já esclarecido por este
processo, surge naturalmente o conceito de limite, como um processo infinito e
generalizado de construção de números reais que não se prende a formas rígidas de
expansão ou a um determinado algoritmo, mas abre um enorme leque de possibilidades
para representá-los, e é exatamente nesta flexibilidade que reside a força do Cálculo.
O desenvolvimento da Análise em geral, e da Análise Funcional especificamente, desde
os meados do século XIX, está baseado (e enraizado) nos conceitos e técnicas que foram
introduzidos para o estudo dos números reais. Por esta razão, é historica (e culturalmente )
interessante indicar as pontes existentes entre a Análise Real, no seu sentido mais básico e a
Análise Funcional. Este não é o local para apresentarmos uma exposição histórica do
desenvolvimento destes conceitos, mas a leitora interessada nesta linha terá amplas
referências para seguir adiante.
O conceito fundamental em todo este desenvolvimento é o de convergência (e limite)
que é, na verdade, um processo construtivo de objetos matemáticos por intermédio de um
algoritmo infinito enumerável. Assim, os números reais são construidos (definidos) por
seqüências de Cauchy ("aglutinantes") de números racionais, e portanto, podem ser
considerados como uma extensão natural destes.
Esta técnica de ampliação de um conjunto baseada no conceito de seqüências
equivalentes de elementos do conjunto base, ( chamado Método de Completamento de
Cauchy) é um instrumento fundamental da Matemática e será empregado em todo o
desenvolvimento da Análise Funcional para a construção de inúmeros objetos matemáticos,
tão concretos, (ou tão abstratos, como queiram) quanto os números reais.
Em diversos livros de Análise Real, é comum atalhar esta construção histórica e
sistemática, mas trabalhosa, fazendo-se uso de uma definição axiomatizada de propriedades
sintéticas dos números reais. Um conjunto de axiomas comumente utilizado (mas não o
único) para caracterizar a estrutura de números reais, R , e que enfatiza o conceito de
convergência de Cauchy, é o seguinte:
1-R é um Corpo comutativo ( isto é, dispõe das operações de soma e produto
com as propriedades usuais e os elementos notáveis, 0 e 1),
2-Dotado de Ordem completa compatível com as operações de soma e
produto por número positivo
3-Arquimediano ( dados x e y ≠ 0, existe um n ∈ N , tal que, nx ≥ y ). Este
axioma introduz o conjunto N no contexto.
4-Completo ( toda seqüência de Cauchy é convergente ).
(J. Dieudonné -Foundations of Modern Analysis, Academic Press, 1960. )
Neste conjunto de axiomas, o conceito de distância entre dois números reais, definido
neste caso em termos da ordem, é o ingrediente básico para a introdução do conceito de
"convergência" que comparece no axioma 4. A generalização de ambos os conceitos para
estruturas matemáticas apropriadas resultará nos dois pilares básicos da Análise Funcional.
Para extrairmos apenas o conceito de distância (e, portanto, de convergência)
separadamente da estrutura algébrica peculiar que caracteriza os números reais, (corpo
ordenado arquimediano), definiremos axiomaticamente um objeto matemático chamado
Espaço Métrico, isto é, um conjunto onde há uma maneira de se medir a "distância ” entre
dois elementos quaisquer dele. Com isto, poderemos tratar especificamente da Teoria de
Convergência independentemente de outras estruturas que eventualmente possam ocorrer
no referido conjunto.A definição de Espaço Métrico reune os dois ingredientes básicos da
Análise Funcional; um conceito de convergência e uma noção geométrica, esta última ainda
em uma forma muito simples.
Este objeto matemático abstrato foi introduzido pelo famoso matemático francês
Maurice Fréchet (1878-1973) na sua tese de doutoramento, escrita sob orientação de Henri
Lebesgue (1875-1941), em 1906. Estes dois nomes aparecerão com uma certa freqüência
durante este curso.
DEFINIÇÃO:Espaços Métricos
Um conjunto não vazio M & uma função d : M M →R  são chamados de
Espaço Métrico, e denotados por M, d se,
1-dx, y ≥ 0, ∀x, y ∈M (Positiva)
2-dx, y  0  x  y ( Positiva Definida; separação dos pontos)
3-dx, y  dy, x, ∀x, y ∈M (Simétrica)
4-dx, y ≤ dx, z  dz, y, ∀x, y, z ∈ M ( Triangularidade)
Observações :
1)- Um Espaço Métrico é uma dupla ( conjunto e distância) e a modificação de
qualquer um dos dois ingredientes dará origem a um novo Espaço Métrico, o que
aliás, acontecerá com muita freqüência. Até que nos acostumemos com esta
idéia, iremos sempre explicitar a métrica junto com o conjunto quando isto não
for óbvio. Entretanto, progressivamente, esta atitude será reservada somente aos
casos onde não estiver absolutamente claro do que se trata. Em muitas situações,
a métrica a ser usada é tão óbvia do contexto subjacente, que, para evitar
pedantismos, o espaço métrico será designado somente pelo conjunto de seus
elementos.
2)-No estudo específico de Espaços Métricos, estamos nos abstendo de
considerar quaisquer outras estruturas que os conjuntos bases por acaso tenham;
apenas a estrutura métrica de convergência é assumida. Isto nos garante uma
enorme generalidade de tratamento, mas obviamente nosso interesse não termina
aí. Em próximos capítulos, veremos que os principais e mais importantes
exemplos de Espaços Métricos dispoem ainda de uma estrutura algébrica natural
de espaços vetoriais (tal como o R n  ou de álgebras ( tal como o R 2 ≈ C,
números complexos e M n (C), isto é as matrizes n  n ) que, se levadas em
consideração, permitem a obtenção de um número muito maior de resultados.
Neste capítulo, estaremos exclusivamente interessados no estudo "puro” do
conceito de convergência, independentemente de outras considerações.
Considerando que a definição de espaço métrico visa abstrair a noção de
convergência do contexto dos números reais, é natural que se verifique imediatamente se R
é de fato um espaço métrico com a distância definida na forma usual. Como exercício
informal, faça esta verificação e inclua também os R n , n  1, com a distância euclideana,
1
2
dx, y  ∑ |x k − y k | 2
, sem se esquecer de interpretar geometricamente cada um dos
1≤k≤n
axiomas.(A triangularidade neste último caso é resultado da importante desigualdade de
Cauchy utilizada em Geometria Analítica ou Álgebra Linear)
Assim, como uma conseqüência natural, definiremos agora o conceito de convergência
em espaços métricos com base na função de distância.
.
DEFINIÇÃO:Convergência em Espaços Métricos
1-Dizemos que uma seqüência  x n  n∈N ⊂ M converge para um ponto x ∈ M, se
lim n dx n , x  0, neste caso, escrevemos lim n→ x n  x.
2-Dizemos que uma seqüência  x n  n∈N ⊂ M é de Cauchy, se
lim n,m dx m , x n   0 .
Observação:
Os limites de distâncias da definição de convergência se referem a seqüências de
números reais e, portanto, são perfeitamente definidos no contexto do Cálculo
Clássico.
Exercício:Unicidade do Limite
1-Mostre que, se o limite de uma seqüência existe, ele deve ser único.
.O conceito de convergência é a razão final para a definição das estruturas de espaços
métricos. Portanto, como acabamos de ver pela definição, (e isto se tornará
progressivamente mais claro com os exemplos que surgirão), a convergência de uma
seqüência só terá sentido se estiver estabelecido (explicita ou implicitamente) em que
métrica ela se dá. Ou seja, a escolha da métrica determina quais seqüências serão
convergentes, os seus limites, e quais não serão.
Por outro lado, um mesmo conceito de convergência pode ser descrito por diversas
estruturas métricas. Isto significa que podemos ter duas métricas numericamente diferentes
em um mesmo conjunto mas que determinam as mesmas situações de convergência. A
possibilidade de descrever um mesmo processo de convergência por meio de múltiplas
métricas é uma flexibilidade conceitual que será de grande utilidade em diversas
circunstâncias.
É interessante observar que a própria reta pode ser "metrificada" de várias maneiras
distintas que, ainda assim, caracterizam as mesmas seqüências convergentes (e respectivos
limites) que aquelas determinadas pela métrica usual , dx, y ∣ x − y ∣. Os exercícios
abaixo ilustram esta possibilidade com exemplos que no futuro nos farão apreciar a
importância desta flexibilidade.
.
Exercícios -Variedade de Métricas
Considere uma função real f : R   R  tal que:
i-) fx ≥ 0 e fx  0  x  0 (positiva definida)
ii) fa ≤ fa  b ≤ fa  fb , ∀a, b ∈ R  (não decrescente e sub-aditiva)
Mostre que
2a-fx  C 1xx
,C  0,
2b- fx  ln1  x , e
2c- fx  x satisfazem estas propriedades.
3a-Mostre que dx, y  f∣ x − y ∣ é uma métrica em R para este tipo de função
3b-Mostre que se (M,d. for um espaço métrico e  : S  M uma função
bijetora , então podemos definir uma métrica d  no conjunto S, (que podemos
dizer que é induzida por (M,d e  da seguinte forma: d  x, y  dx, y.
Observe que a utilização da função fx  C 1x x
nos leva a uma métrica que faz da reta
real um espaço métrico limitado, ou seja, todos os pontos estão a uma distância finita da
origem, o que, a princípio, é um contrasenso.Entretanto, lembre-se de que o papel da
métrica não é descrever geometrias rígidas, mas convergências, e estas são determinadas a
pequenas distâncias, ou seja, a modificação apenas dos valores para "grandes" distâncias
em uma métrica não afeta o processo de convergência que se dá apenas "no frigir final dos
ovos"! Observe ainda que para x próximo de zero, o gráfico das funções fx do exercícios
2a,2b acima se comportam como uma reta que passa pela origem, ou seja, como uma
proporção. Nestes casos, há uma certa proporcionalidade local entre as taxas de
convergência das duas métricas e delas com a canônica. O mesmo não se dá entre a métrica
do exercício 2c e as outras. Este conceito ficará mais claro ou, pelo menos mais
formalizado, com a seguinte definição:
DEFINIÇÃO:Equivalência (Uniforme) entre Métricas
Duas métricas d 1 , e d 2 são ditas (uniformemente) equivalentes quando
existirem duas constantes positivas   0 e   0 tais que
d x,y
d 1 x, y ≤ d 2 x, y ≤ d 1 x, y ,∀x, y. Ou, que  ≤ d 2 x,y ≤  para quaisquer
1

x ≠ y.

Na literatura matemática diz-se, neste caso,que as duas métricas são "equivalentes".


Este termo na sua forma simples e usual não é muito feliz porque se o papel das métricas é
caracterizar convergências, duas métricas deveriam ser "equivalentes" se cumprissem o
seus objetivos da mesma forma, ou seja, se caracterizassem as mesmas convergências e
respectivos limites. Certamente, se forem uniformemente equivalentes , elas determinarão
as mesmas convergências (Exercício 4). Entretanto, a exigência de que  e  sejam
constantes e válidos para ∀x, y é um requisito muito forte para isso, não há necessidade de
tanto! Para entender esta observação, basta analisar a relação entre a métrica canônica

(usual) dx, y e a métrica d o x, y  f∣ x − y ∣ , para f   1 ; elas discriminam
exatamente as mesmas seqüências convergentes, mas não são uniformemente
equivalentes(Exercício 4b). Em particular, para que caracterizem as mesmas seqüências
convergentes bastaria que a desigualdade  d 1 x, y ≤ d 2 x, y ≤  d 1 x, y fosse válida
apenas localmente, ou seja, para "pequenas distâncias", embora nem mesmo isso de fato
seja necessário, como se poderá ver no exercício 5.
Um conceito mais apropriado no que diz respeito estritamente à convergência, sem
preocupações métricas, é o da equivalência topológica :
DEFINIÇÃO: Equivalência Topológica entre Métricas
Diremos que duas métricas são topologicamente equivalentes se qualquer
seqüência que convirja pelo critério de uma delas, também convirja pelo critério
da outra, e para o mesmo limite.
Exercícios :
4a-Mostre que se duas métricas são uniformemente equivalentes os seus Espaços
Métricos são simultaneamente limitados, ou não o são!
4b-Mostre que se duas métricas são uniformemente equivalentes, então elas são
topologicamente equivalentes.
5a-Mostre que a métrica usual da reta real é topologicamente equivalente à
métrica d r x, y  |x − y| , mas que elas não são métricas uniformemente
|x| |x|
equivalentes.Sugestão : Observe que |x|   quando x → 0, e |x|  0
quando x → .
5b-Um exemplo histórico, e geomètricamente importante, das vantagens
provenientes de uma multiplicidade de metrificações, é fornecido pelo exercício
3b, que analisa a metrificação do plano por intermédio da projeção estereográfica
de Riemann que identifica a esfera unitária (menos seu polo norte) e o plano
R 2 . Moste que nesta metrificação há seqüências de Cauchy no plano que não
convergem e determine quais são elas!
Mais tarde veremos que o completamento do plano nesta métrica nos levará à
introdução do ponto .Para uma discussão de notável clareza sobre a projeção
estereográfica no plano complexo consulte o primeiro capítulo do clássico: L. Ahlfors
-Complex Analysis, McGraw-Hill, 1957.É interessante observar neste exemplo de forte
apelo geométrico, como as duas métricas caracterizam o mesmo conjunto de seqüências
convergentes, mas também que não pode haver equivalência (uniforme) entre as duas
métricas uma vez que as taxas de convergência se tornam progressivamente mais díspares
conforme o ponto limite (no plano) esteja mais distante da origem. Medite sobre isto
enquanto fizer um esboço geométrico da situação.
A esta altura passaremos a caracterizar algumas dentre as propriedades fundamentais de
convergência que são inerentes à reta real e defini-las como conceitos ("desejáveis", talvez,
mas nem sempre alcançáveis) para os Espaços Métricos em geral.

DEFINIÇÃO: ("PRINCÍPIO DE CAUCHY" ):


Um espaço métrico (M, d) é dito completo se todas as seqüências de Cauchy em
M têm limite em M. (Atente para o final da frase, ”em M ”.).
Este conceito poderia ser metaforicamente descrito da seguinte maneira : ”Um espaço
métrico completo não tem buracos, isto é, toda seqüência aglutinante converge
necessariamente para um determinado ponto”. É claro que esta é uma das propriedades
mais básicas da reta real, tanto que ela comparece como um dos axiomas no sistema acima
apresentado.Observe, todavia, que esta não é uma propriedade dos números racionais com a
métrica usual, embora eles satisfaçam a todos os outros axiomas.(A propósito, isto mostra
que este axioma é independente dos outros, ou seja, que apresenta informação que não pode
ser deduzida do restante dos axiomas).
O Princípio de Cauchy para a reta real foi formulado pelo prolífico matemático francês
Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) em suas famosas notas para um curso de Cálculo (!)
que ele lecionava aos estudantes de engenharia na famosa École Polytechnique de Paris (
”Cours d ’Analyse ”). Isto, até que seus alunos se rebelaram contra a sua "didática"! Estes
livros, que tiveram ampla circulação mundial (européia), tornando-se um marco da
literatura matemática e estabeleceram os fundamentos rigorosos da análise moderna.
(Judith V. Grabiner-The Origins of Cauchy’s Rigorous Calculus, Dover 2005).
É interessante observar que os analistas, principalmente, dos séculos XVIII e XIX,
encaravam os números reais "experimentalmente", ou, "fenomenologicamente", tal como os
Físicos encaram seus objetos de estudo, baseando-se em "Princípios" , ou "leis" . Para eles,
a reta real era tida como um objeto físico a ser testada, cujas propriedades seriam
regulamentadas por "leis" descobertas a partir de testes e generalização. O método
axiomático, que pode eliminar completamente esta confusão, já havia sido introduzido por
Euclides há séculos(!), mas somente voltou a ser efetivamente incorporado à Matemática
muito mais tarde e, em grande parte por obra de David Hilbert. Dentre muitas outras "leis",
ou "Princípios" , "descobertos" pelos matemáticos (místicos e filósofos) do século XIX, o
seguinte Princípio de Bolzano tem um significado especial para os nossos propósitos: :
”Qualquer seqüência limitada de números reais tem pelo menos um ponto de acumulação
”.Este "princípio" foi formulado inicialmente pelo padre e matemático tcheco Bernhard J.P.
Bolzano (1781-1848) em um livro publicado em Praga em 1817, onde ele também se
antecipa a A.L.Cauchy por uns 4 anos, ao estabelecer pela primeira vez a definição
moderna de continuidade.( M.Kline). A demonstração deste "Princípio" em textos clássicos
de Análise Real parte dos axiomas acima elencados e utiliza inicialmente uma estratégia
algorítmica de bipartição chamada método de "encantoamento do leão", terminando com a
aplicação do (axioma) Princípio de Cauchy para o golpe final de misericórdia.(v. Apêndice
e principalmente R. Courant- Cálculo Diferencial e Integral, vol. I, editora Globo, Porto
Alegre, 1965). É importante observar que, se os números reais são axiomatizados pelo
sistema apresentado acima (que escolhe o princípio de Cauchy como axioma), o princípio
de Bolzano será um TEOREMA. Entretanto, se o escolhermos como um axioma, (no caso,
chamado de Princípio de Bolzano-Weierstrass), em lugar do Princípio de Cauchy,
poderemos demonstrar este último como TEOREMA.Isto mostra que, no contexto
específico dos números reais, eles são conceitos equivalentes.
Weierstrass, que desenvolveu a análise real na sua forma mais rigorosa ao seu tempo,
teve o seu nome associado a um outro "princípio"( ”Todo conjunto superiormente limitado
na reta admite supremo ”), diferente, mas facilmente demonstrável como equivalente ao de
Bolzano no contexto da análise real. Entretanto, esta formulação de Weierstrass faz uso do
conceito peculiar de ordem dos números reais, o que a torna inadequada para
generalizações para espaços métricos gerais, ao contrario da formulação de Bolzano que
utiliza apenas o conceito de distância. Esta é a razão porque este último é utilizado nas
abstrações enquanto que a superior autoridade matemática de Weierstrass é a razão porque
seu nome está forçosamente associado a ambos.
Um ponto de acumulação não é necessariamente um limite da seqüência, mas é sempre
possivel extrair dela uma subseqüência que converge para este ponto. ( Mostre isto como
exercício de recordação). Observe que uma seqüência pode ter vários (até infinitos) pontos
de acumulação.
Retornaremos então à formulação original do Princípio de Bolzano-Weierstrass que
será mais interessante para os nossos futuros propósitos, já que utiliza apenas o conceito de
proximidade e não de ordem: ”Qualquer seqüência de números reais contida em um
conjunto limitado e fechado tem ponto de acumulação neste conjunto ” Como as
conseqüências do Princípio de Bolzano-Weierstrass em Análise Clássica são extremamente
importantes, o nosso ponto de vista será no sentido de enfatizar os subconjuntos que
satisfazem esta propriedade, atribuindo-lhes um nome sonoro e notável. Na a reta real eles
são simplesmente os fechados e limitados. O Princípio de Bolzano-Weierstrass poderia ser
metaforicamente enunciado como : ”Conjuntos limitados e fechados na reta não têm
espaço suficiente para isolarmos todos seus elementos de um conjunto infinito ”, razão
porque o termo "compacto" é justificado para nomea-los.
Assim, em um Espaço Métrico geral M, os seus subconjuntos para os quais vale o
Princípio de Bolzano- Weierstrass serão denominados de "compactos" e cumprem um
papel de extrema importância no estudo de processos de convergência.

DEFINIÇÃO: Conjuntos compactos- "PRINCÍPIO DE BOLZANO-WEIERSTRASS"


Dizemos que um conjunto K ⊂ M é compacto , se todas as seqüências
x n  n∈N ⊂ K tem pelo menos um ponto de acumulação no conjunto K.
Em particular, dizemos que um espaço métrico é compacto se todas as seqüência
de seus elementos têm pelo menos um ponto de acumulação, neste espaço, claro.
.Os conceitos de COMPLETUDE (Cauchy) e de COMPACIDADE
(Bolzano-Weierstrass) são os dois pilares fundamentais do Cálculo Clássico (onde estão
presentes por serem inerentes à estrutura métrica natural dos números reais) e, a partir dos
quais, demonstram-se os principais resultados do Cálculo. Já no contexto abstrato de
espaços métricos, a sua validade pode ou não ocorrer, mas os casos positivos, isto é,
Espaços Completos e/ou Compactos, desempenharão um papel fundamental no
desenvolvimento da Análise Funcional.
A seguir apresentaremos alguns exemplos de espaços métricos que, pela sua
diversidade, mostrarão a versatilidade desta estrutura.
Exercícios : Exemplos de Espaços Métricos
Mostre que, de fato, os exemplos abaixo são o que se diz deles (Espaços
Métricos) começando por verificar em cada caso que a definição é "boa", ou seja
, que a distância entre dois elementos quaisquer do conjunto em questão pode de
fato ser calculada.
5) M  R n , d 1 x, y  ∑ 1≤k≤n ∣ x k − y k ∣, denominada métrica d 1 , ou métrica
do taxista.
Observação:
Observe que o conjunto R n pode ser interpretado, em particular, como um
conjunto de funções de valores reais e definidas no conjunto finito 1, 2, . . . . . n
6). M  R n , d 1 x, y  ∑ 1≤k≤n  k ∣ x k − y k ∣ , onde ( k  é uma n −upla de
números reais positivos, chamada ponderação. Medite sobre o seu significado
geométrico.
1
7) M  R n , d 2 x, y  ∑ 1≤k≤n ∣ x k − y k ∣ 2 2 , ( métrica d 2 usual, dita
Euclideana)
8-) M  R n , d p x, y  ∑ 1≤k≤n ∣ x k − y k ∣ P  P , ( métrica d p , onde p ≥ 1, real)
1

9-) M  R n , d  x, y  Máximo 1≤k≤n ∣ x k − y k ∣, ( Mostre o motivo pelo qual é


razoável denominar esta métrica de d  comparando-a com as d p anteriores.)
10-)M  R n , d  x, y  máximo 1≤k≤n  k ∣ x k − y k ∣,  k  0.
11)M  C 0 0, 1, R n   conjunto das funções contínuas definidas em [0,1] com
valores em R n ; d  f, g  Max 0,1 ∣∣ fx − gx ∣∣.
Observação:
A notação d  para os dois exemplos distintos acima têm sua razão de ser,
(medite sobre isto!), e não devem ser motivos de confusão, uma vez que se
referem a diferentes conjuntos. O mesmo vale para os exemplos abaixo.
12)M  C 0 0, 1, R n   conjunto das funções contínuas definidas em [0,1] com
valores em R n ; d 1 f, g   ∣∣ fx − gx ∣∣ dx
0,1
13) M  C 0 0, 1, R n   conjunto das funções contínuas definidas em [0,1] com
valores em R n ; d 1 f, g   ∣∣ fx − gx ∣∣ x dx , onde  é uma
0,1
função contínua positiva definida em [0.1], isto é, x  0, ∀x ∈ 0, 1, chamada
ponderação, ou função de peso.
14)M  P N C
{conjunto dos polinômios de coeficientes complexos de grau ≤ N,
dp, q  ∑ 0≤k≤N |px k  − qx k |, onde
x 0  x 1 . . .  x N ∈ R.(Observação:Lembre-se do teorema fundamental da
álgebra.)
15) M C k 0, 1, R n   conjunto das funções definidas e com derivadas
contínuas até pelo menos a ordem k (≥ 1) em 0. 1 ;
d k, f, g  ∑ 0≤j≤k d  f j , g j   ∑ 0≤j≤k Max 0,1 ∣∣ f j x − g j x ∣∣.
16) M  C k 0, 1, R n   conjunto das funções definidas e com derivadas
contínuas até pelo menos a ordem k (≥ 1 em
0, 1 d k,1 f, g  ∑ 0≤j≤k  ∣∣ f j x − g j x ∣∣ dx
0,1
17) -C k 0, 1, R n   conjunto das funções definidas e com derivadas contínuas
até pelo menos a ordem k≥ 1 em 0, 1 ;
d k,2 f, g  ∑ 0≤j≤k { 
1
∣∥ f j x − g j x ∣∣ 2 dx } 2
0,1
18) M  C 0 0, , R  conjunto das funções contínuas definidas em 0,  com
valores em R cuja integral de Riemann imprópria  ∣ fx ∣ e −x dx é finita ;
0,
d 1 f, g   ∣ fx − gx ∣ e −x
dx , x  e −x
Se f  x  x  ,  ∈ R  ,
0,
mostre que f ∈ M e Calcule d  f 0 , f 2 .
Observações:
Vários exemplos acima podem ser reconsiderados substituindo-se Rpor C
≈Conjunto dos Números Complexos.
19) M  S 1 C  conjunto das funções z: N  C , i.e.,seqüências de números
complexos z ( z n ), que são absolutamente somáveis : ∑ 1≤k ∣ z k ∣  ;
dx, y  ∑ 1≤k ∣ x k − y k ∣ .
20)-M  S 1 C n   conjunto das funções z: N  C n , i.e.,seqüências de vetores
complexos z ( z k ), que são absolutamente  −somáveis :
∑ 1≤k ‖z k ‖   ; d  x, y  ∑ 1≤k ‖z k ‖ , onde  é uma função tal como as
definidas pelos Exercícios 2a,2b,2c, e 3.
21) M  S 2 C  conjunto das funções z: NC , i.e., seqüências de números
complexos z ( z n ), que são quadrado somáveis, isto é, ∑ 1≤k ∣ z k ∣ 2   ;
dx, y  { ∑ 1≤k ∣ x k − y k ∣ 2 } 2 .
1

22) M  S B C  conjunto das funções z : N  C limitadas ;


dx, y  ∑ 1≤k 2 −k ∣ x k − y k ∣
23)-M  B A, R n   conjunto das funções limitadas definidas em um conjunto não
vazio A com valores em R n ;
d  f, g  Max a∈A ∣∣ fa − ga ∣∣.
Observe que dizer : ” f e g estão próximas segundo a métrica d  ” é equivalente a dizer
que estão uniformemente próximas, ou seja, que os valores ∣∣ fa − ga ∣∣ são
simultaneamente pequenos para todos os a ∈ A.
24)Mostre que no espaço M  S 2 C , dx, y  { ∑ 1≤k ∣ x k − y k ∣ 2 } 2 , do exercício
1

21), um conjunto limitado e fechado como a bola unitária fechada (ao contrário do que
ocorre nos R n reais) não é compacta, pois a seqüência e k  1≤k ( onde e k j   kj  não
admite subseqüência com limite. ( kj  0 se k ≠ j e,  kk  1 , ∀k, j ∈ N; é o famoso delta
de Kronecker!). Ora, isto significa que em espaços de dimensão infinita, como neste caso,
"há muito espaço para o leão se esconder"!

LINGUAGEM E CONCEITOS BÁSICOS DE


ESPAÇOS MÉTRICOS
sec. Jacques Monod: "Em ciência há aqueles que dão valor à idéias e aqueles que dão valor
à forma e muita luta ocorre entre eles, enquanto vivos.Sinto muito pelos últimos, porque
apesar de seu enorme esforço, somente os primeiros serão lembrados após um futuro
próximo".
sec.V.Braitenberg:"Focalize-se no ’software’, isto é, nas idéias, utilize o ’hardware’, a
forma, lembrando-se sempre que este passa e se vai, apenas o primeiro permanece"
Enunciaremos abaixo algumas definições em Espaços Métricos que já devem ser
conhecidas das leitoras no contexto do Cálculo Clássico. Por esta razão a apresentação será
sucinta, e cada uma tomará mais ou menos tempo para se familiarizar com a linguagem
dependendo de sua experiência anterior. De qualquer forma, uma boa familiaridade com os
conceitos e definições abaixo não poderá ser adiada já que usaremos os mesmos intensiva
e continuamente e sem maiores explicações em tudo que se segue.Por outro lado, é
importante e necessário alertar às leitoras que a linguagem e o formalismo matemático são
apenas um meio e não um fim em si mesmos, e que seu conhecimento não traz substância
matemática, embora seja indispensável para adquiri-la. Este alerta se justifica pelo
frequente equívoco em se dedicar um excessivo esforço e tempo nas firulas de linguagem
matemática, isto é, no formalismo, em detrimento das idéias que são, afinal, a sua
substância "concreta".
Uma Bola Aberta de raio r e centro em x é o conjunto denotado por Bx, r e definido
naturalmente por Bx, r  { y ; dx, y  r }.
Uma Bola Fechada de raio r e centro em x é o conjunto denotado por Bx, r e definido
naturalmente por Bx, r  { y ; dx, y ≤ r }.
Um subconjunto C de um espaço métrico (M, d é dito limitado se existir uma bola
Bx, r, tal que C ⊂ Bx, r.
O conjunto dos pontos de aderência de um conjunto C é denotado por C, chamado de
fecho de C e definido por C  { x : para todo r  0, existe um elemento de C em Bx, r }.
( Observe que mesmo se isolados os próprios elementos de C são aderentes a ele, por esta
definição ).
A fronteira de um conjunto A, que se denota por ∂A é definido como
∂A x : ∀r  0, Bx, r ∩ A ≠ , e Bx, r ∩ ∁A ≠ .
Dizemos que  é um ponto de acumulação de um conjunto C se para todo r  0,
existe um elemento y ≠  de C em B, r, ou seja, se existe um número infinito de pontos
de C em B, r. (Verifique).
Um ponto  é dito de acumulação de uma sequencia x k se para toda bola B, r. existe
um número infinito de índices k cujos valores x k da sequencia estão nesta bola,
x k ∈ B, r.
Observe a diferença simples, mas sutil, entre os conceitos de ponto de aderência e de
acumulação e entre pontos de acumulação de conjuntos e de sequencias.
Um conjunto F é dito fechado se contem todos os seus pontos de aderência, isto é, se
F F.
Um conjunto A é dito aberto se para todo x ∈ A, existe uma bola Bx, r ⊂ A.
Medite (e faça esboços figurativos) sobre as interpretações geométricas destes
conceitos, o que lhe esclarecerá completamente a motivação do formalismo.

Exercícios: Linguagem e Conceitos Básicos


Mostre que :
25)-Um conjunto F é fechado se e somente se contem todos os seus pontos de
acumulação.
26)-Uma Bola aberta é um conjunto aberto e uma bola fechada é um conjunto
fechado (!)
27)-O complementar de um conjunto fechado é aberto, isto é, se F for fechado,
então F c  { x; x ∉ F} é aberto, e que o complementar de um conjunto aberto é
fechado.
28)-Todo ponto de aderência  de um conjunto C pode ser aproximado como
limite de uma seq́ uência de pontos de C, isto é, existe uma seqüência x k  em C ,
tal que dx k ,   0.
29)-Mostre que se K for um Espaço Métrico Compacto, então toda seqüência
x n ⊂ K , admite uma subseqüência convergente em K, isto é, existe uma
subseqüência x n p  e um elemento x ∈ K , tal que
x n p  x para p → .
Observe que,de acordo como o conceito de subseqüência, n p deve ser crescente
com p e n p   quando p   ),
.
Um conjunto A é dito denso em outro conjunto B , se B ⊂ A , ou seja, se B está no
fecho de A, ou ainda, se todos os pontos de B , podem ser aproximados por pontos de A.
Em particular, um conjunto C é dito denso no espaço métrico M , se todos os pontos de
M , podem ser aproximados por pontos de C. Um exemplo claro disto é o conjunto dos
números racionais, que é denso na reta real.
Definição:Espaços Métricos Separáveis
Um espaço métrico é dito separável se existe um conjunto enumerável denso
nele.
A reta real e os R n são separáveis, por conta dos números racionais, que são
enumeráveis, de acordo com Georg Cantor. A vasta maioria dos espaços que serão tratados
neste curso será de espaços separáveis, uma propriedade, em geral, herdada dos números
reais, e indispensável para a definição algorítmica de diversos processos.Uma notável
exceção é o espaço (não-separável) de Bohr (Harald Bohr) das funções quase-periódicas, a
ser apresentado oportunamente.
A noção de continuidade, tem um papel fundamental na análise real clássica e a forma
mais intuitiva de caracteriza-la em um curso inicial de Cálculo certamente seria tomar o
injustamente "apagado" Teorema de Rolle (ou, do "Valor Intermediário") como sua
definição ("Se uma função f : R → R for contínua então para quaisquer a ≤ b e y 0
intermediário entre valores da função, por exemplo, fa ≤ y 0 ≤ fb (ou, fb ≤ y 0 ≤ fa
, existe x 0 intermediário a ≤ x 0 ≤ b, tal que fx 0   y 0 " ). Esta definição não
escandalizaria nem o menos intuitivo ou desavisado dos alunos, ao contrário dos " ′ s e  ′ s"
de Cauchy, que não raro causa danos psicológicos irreparáveis, dos quais mesmo
matemáticos maduros não conseguem se livrar!. Infelizmente a caracterização de Rolle é
fortemente dependente do conceito de ordem dos números reais e, portanto, impossível de
ser generalizada até mesmo para funções de duas variáveis. Por outro lado, não há dúvidas
que a caracterização de "continuidade" de Cauchy é expressa em uma forma conveniente
para a generalização em situações em que a ordem dos números reais não está disponível.
Mas , na verdade, a definição de Cauchy não traduz o conceito intuitivo de continuidade
tão bem quanto Rolle, mas sim o conceito de "estabilidade" . Como este termo
("estabilidade") não tinha ainda uso corrente na matemática dos séculos XVIII-XIX, pois,
somente se tornou "vulgar" depois da Mecanique Celeste de Poincaré, (c.1900) e, a
caracterização de Cauchy implicava na caracterização de Rolle, a "patente do termo"
acabou ficando com o próprio Cauchy. Entretanto, observe que o conceito de "continuidade
de Cauchy" é mais forte, ou seja, mais restritivo do que o de Rolle; basta analisar a seguinte
função Rolle-contínua mas que é Cauchy-descontínua: fx  sen 1x , x ≠ 0,
f0  0. Verifique.
Definiremos abaixo o conceito de continuidade de três maneiras equivalentes mas
distintas quanto aos seus pontos de vista. Iniciaremos na forma seqüêncial que é a mais
apropriada sob o ponto de vista construtivo, e algorítmico, passando em seguida para a
forma métrica, segundo Cauchy, que enfatiza a ideia de "estabilidade" e, finalmente,
apresentaremos a definição "topologicamente correta" que faz uso unicamente do conceito
de conjunto aberto e independe de métricas. Convidamos às leitoras que demonstrem esta
equivalência como exercício.
Definição Seqüêncial:
Uma função f entre dois espaços métricos (M 1 , d 1  e (M 2 , d 2  , f : M 1 M 2 , é dita
contínua no ponto x ∈ M 1 se para toda seqüência x k  x, temos
fx k   fx.Uma função f: M 1  M 2 é dita (simplesmente) contínua , ou
contínua em M 1 , se for contínua em todos os pontos de M 1 .
Definição Métrica de Cauchy: "Estabilidade"
Uma função f entre dois espaços métricos (M 1 , d 1  e (M 2 , d 2  , f : M 1 M 2 , é dita
contínua no ponto x ∈ M 1 se ∀  0, ∃  0, tal que fBx,  ⊂ Bfx, . Uma função
f: M 1  M 2 é dita (simplesmente) contínua , ou contínua em M 1 , se for contínua em
todos os pontos de M 1 .
Definição Topologicamente Correta
Uma função f: M 1  M 2 é dita (simplesmente) contínua , ou contínua em M 1 , se
dado qualquer conjunto aberto U ⊂ M 2 , então, a sua imagem inversa pela função
f −1 U  x ∈ M 1 ; fx ∈ U é aberta em M 1 .
.
Exercícios:
30)-Mostre que as definições acima são equivalentes e interprete o conceito de
"estabilidade" ou de "sensitividade" expressa na formulação de Cauchy.
31)- Mostre que a função  :M  R  , definida por x  dx 0 , x , para um x 0
fixo qualquer, é uma função contínua.
32)–Mostre que todo conjunto compacto é limitado.Mostre que a implicação
inversa não é válida fazendo uso de um (contra)exemplo.
33)-Mostre que todo conjunto compacto é fechado.Mostre que a implicação
inversa não é válida fazendo uso de um (contra) exemplo.
34)-Mostre que todo espaço métrico compacto é completo, mas que a implicação
inversa não é válida fazendo uso de um (contra)exemplo.
35)-Mostre que um subconjunto fechado de um conjunto compacto também é
compacto.

Na definição seqüêncial de continuidade, não há qualquer menção sobre a velocidade


de aproximação dos valores funcionais para o seu limite fx k   fx 0  , em comparação
com a aproximação dos valores da variável x k  x 0 ; esta relação pode variar muito
dependendo do ponto x 0 em questão.Veja por exemplo o caso da funçãof : R  → R,
fx  1x , cujos valores fx se aproximam "rapidamente" de valores fx 0   x10 , para
pontos x 0  0 , enquanto apresentam uma progressiva "lerdeza" na aproximação quando
x 0  .Obviamente, tratando-se da aproximação de funções contínuas para seus valores,
esta questão está imediatamente conectada à "variabilidade" da função nas imediações do
ponto limite, e, se houver, ao valor de sua derivada. O estudo quantitativo e funcional da
"velocidade de aproximação" de funções para seus limites (finitos ou infinitos) é o tema
central da chamada Análise Assintótica (N. de Bruijn-Asymptotic Analysis, Dover ;
R.Courant-"Cálculo"), que tem uma importância central no estudo do comportamento de
modelos matemáticos, e em Matemática, em geral.Este assunto será tratado com exemplos
mais adiante.
Entretanto, no momento estaremos interessados em distinguir qualitativamente aquelas
situações em que esta "velocidade de aproximação" não tenha discrepâncias extremadas ao
longo do espaço, ou seja, que apresente uma uniformidade neste sentido. O conceito de
continuidade uniforme será apresentado na definição a seguir por intermédio de uma
linguagem mais "topológica", que, neste caso, é mais conveniente.
Definição:Continuidade uniforme
Uma função f: M 1  M 2 é dita uniformemente contínua em M 1 , se ∀  0,
∃   0, tal que fBx,    ⊂ Bfx, ., ∀x ∈ M 1 .
Se a caracterização seqüencial de continuidade é dada pelo critério de transformar
seqüências convergentes em seqüências convergentes, a caracterização seqüencial de
continuidade uniforme é, parcialmente, dada pelo seguinte:
TEOREMA: Caracterização seqüêncial de continuidade uniforme
Se a função f: M 1  M 2 for uniformemente contínua, então ela leva seqüências
de Cauchy em M 1 em seqüências de Cauchy.em M 2 .
Exercício:
36)–Demonstre o Teorema acima, e mostre que não vale a volta. ( Se M 1 for
completo, as seqüencias de Cauchy e as convergentes são as mesmas e, neste
caso, basta que f seja contínua para que leve seqüências de Cauchy em seqüências
de Cauchy!).
37)Mostre que a função (Operação Funcional)
 : M  C 0 0, 1, R, d  → S  f ∈ C 1 0, 1, R ; f0  0 , d 
definida pela integral
x
fx   fsds
0
é contínua, uniformemente contínua, tem uma inversa  −1 : S → M que todavia
não é contínua.
Observação: Este exercício é fundamental e deve ser estudado com detalhes.

Observações:
As caracterizações topologicamente corretas, cuja linguagem se baseia
somente nas propriedades dos conjuntos abertos, ampliam a generalização e a
abstração do conceito de convergência para um contexto que prescinde
completamente da existência de uma métrica.Esta abordagem, embora tenha
significado importante no desenvolvimento moderno da Matemática, o seu
impacto nas aplicações se faz quase que somente por intermédio da linguagem,
em vários casos, de fato, a mais conveniente, mas muito pouco pelos seus
resultados específicos.
A estrutura de espaço métrico permite que tratemos do conceito de
convergência de uma maneira muito próxima à utilizada no estudo dos números
reais; isto é, basicamente por meio de seqüências, que são processos enumeráveis
e algoritmizáveis. Entretanto, observou-se que seria possível estender o conceito
de convergência e continuidade para contextos em que o processo de
convergencia poderia ser realizado de maneira eventualmente não-enumerável,
algo um pouco fora de uma mentalidade algoritmico-construtiva da Matemática
Aplicada e Construtiva.
Estas estruturas mais gerais, ( introduzidas também por Fréchet ), são
denominadas de Topológicas e fazem uso apenas do conceito de conjunto
aberto. Não nos deteremos em defini-las aqui em todas as situações, mas em
oportunidades convenientes apresentaremos a versão topológica apropriada.Esta
atitude tem por finalidade mostrar uma ponte entre a duas abordagens e permitir
que as técnicas da Topologia fiquem também disponíveis para o caso em que se
mostrarem úteis.Entretanto, procuraremos sempre que razoável optar por
abordagens seqüênciais, enumeráveis e algorítmicas.
É importante observar que em espaços topológicos, o conceito de
convergência é caracterizado por intermédio de conjuntos abertos genéricos e o
sistema de verificação de convergência pode constar de uma família não
enumerável destes, ao contrário dos espaços métricos em que basta utilizar a
”base ” enumerável  Bx, 1n  , n ∈ N  para cada ponto x . Portanto, definições
seqüênciais em espaços topológicos podem descrever conceitos distintos daqueles
expressos por meio de uma família não-numerável de abertos. Por exemplo, o
conceito de ponto aderente de um conjunto em um espaço topológico, se definido
seqüencialmente pode ser diferente do conceito definido por meio da base de
abertos. O mesmo acontece com o conceito de compacidade. Mas estas distinções
não serão importantes para o que se segue uma vez que trataremos apenas de
espaços métricos.
Uma excelente referência para o estudo da Topologia, naquilo que interessa à
Análise, escrito por um dos principais matemáticos do século XX, e também um
grande professor, (um acoplamento mais comum do que o sugerido por figuras
menos importantes), é a referência A.N. Kolmogorov - S.V. Fomin - Elementos
de la Teoria de Funciones y del Analisis Funcional, ed. MIR, 1972. ( Há uma
tradução em inglês com o título ”Introduction to Real Analysis ” em edição
brochura e barata pela editora Dover).
O desenvolvimento inicial da Análise Funcional via conceitos topológicos
deve muito à escola matemática polonesa, grande parte dela eliminada durante a
II Guerra Mundial, a começar por S.Banach, e a sua disseminação pós II Guerra à
escola Bourbakista, que exerceu muita influência no Brasil. Uma abordagem
nitidamente topológica é encontrada por exemplo no texto de Brézis, excelente
dentro de seus próprios termos:
H. Brézis - Analyse Fonctionelle , Masson, 1987.
Surpreendentemente, o mesmo acontece em um famoso e também excelente texto
que se diz escrito especificamente para os físicos,
M.Reed - B. Simon - Methods of Mathematical Physics, vol. I - Functional
Analysis, Academic Press, 1972., por razões que eles lá devem saber quais são.
.

TEOREMAS FUNDAMENTAIS Clássicos no


Contexto de Espaços Métricos
A força do conceito de compacidade será inicialmente verificada através dos
próximos resultados. Sem dúvida, um dos principais destes é o Teorema de Weierstrass
sobre pontos de máximo, que teve um extraordinário significado e um curioso papel na
história da Análise Funcional.
A existência de pontos de máximo e mínimo para uma função contínua foi
conectada, logo no princípio do desenvolvimento da Análise Real, ao conceito de conjunto
fechado e limitado para o domínio da função; o teorema clássico de
Bolzano-Weierstrass.Por outro lado, o princípio variacional de Dirichlet, ( na verdade
formulado por seu professor G.F.B.Riemann ), que determinava a solução do fundamental
problema de fronteira para a equação de Laplace, se baseava na existencia de um ponto de
mínimo para uma função (operação funcional ) definida em um conjunto de funções. A
impossibilidade geral de assumir a existencia deste mínimo fora do contexto real foi o tema
de ”violentos ” artigos de ninguem mais do que o próprio K.M.Weierstrass, uma figura
autoritária que desestimulava o debate naqueles de corações mais fracos.Com isto, o
princípio de Dirichlet somente foi levado a sério nesta época por aqueles que se
encontravam fora da influência de Weierstrass, essecialmente os matemáticos aplicados,
físicos e engenheiros, que continuaram a usa-lo sem maiores ansiedades. A reabilitação do
princípio de Dirichlet como o método fundamental para o estudo teórico e a resolução
numérica de equações diferenciais parciais muito mais gerais do que a de Laplace, foi um
dos grandes feitos de David Hillbert, e um dos principais pretextos para a invenção e o
desenvolvimento da moderna Análise Funcional.
É interessante observar que K.M.Weierstrass ( 1815-1897 ) foi professor em Berlim e
não fazia parte da importante genealogia matemática alemã de Göttingen que se inicia com
ninguem menos do que Carl F.Gauss, e passa por Georg Riemann, Felix Klein, David
Hilbert, Hermann Weyl e Richard Courant, Eberhard Schmidt dentre muitos outros
notáveis.
O conhecimento da história deste período revolucionário da Matemática, e
especialmente da Análise, é indispensável para um entendimento lúcido das interconexões,
motivações e finalidades das teorias desenvolvidas a partir daí. Para isto, as referencias
abaixo são recomendadas como um bom começo:
M. Kline - Mathematical Thought from Ancient to Modern Times, Oxford U.P., 1970.
C. Reid - Hilbert , Springer-Verlag,
C.Reid - Richard Courant, Springer-Verlag.
J.Dieudonné- A History of Functional Analysis , North-Holland, 1980.
Nos enunciados abaixo, iniciaremos a reinterpretação de resultados "clássicos"na
linguagem de espaços métricos, que é a abordagem apropriada e característica da Análise
Funcional.O primeiro deles indica claramente a importância do conceito de compacidade,
que foi introduzido de olho neste resultado que será crucial na demonstração de existência
de soluções de problemas chamados variacionais, ou seja, aqueles cujas soluções são
caracterizadas como mínimos de uma função.
TEOREMA: Uma função contínua leva compactos em
compactos- Weierstrass
Se f: M 1 → M 2 for uma função contínua entre dois espaços métricos ( M 1, d 1 ), e
( M 2, d 2 ) , e K ⊂ M 1 , um conjunto compacto,
então, a imagem de K pela f , fK) , será um conjunto compacto em M 2 .
Demonstração :
Seja y n  fx n  uma seqüência de pontos em fK. Como K é compacto, existe
uma subseqüência x n p e um elemento x ∈ K ,
tal que x n p  x . Ex. 20b . Mas então, como f é contínua, a correspondente
subseqüência de y np é tal que
y n p  fx n p   fx  y , onde obviamente y ∈ fK.  .
TEOREMA de WEIERSTRASS: Realização de máximo para
funções contínuas reais em compactos
Se f: M → R for uma função contínua entre um espaço métrico M, d e a reta real
R, e K ⊂ M , for um conjunto compacto, então, existirão pontos x m e x M em K ,
tais que fx m  ≤ fx ≤ fx M  , para todo x ∈ K, isto é, existirão pontos x m e x M ,
que realizam de fato (respectivamente) o mínimo e o máximo da função f em K.
Demonstração
Uma demonstração auto-suficiente, que faz uso do "método do leão" do Cálculo,
é a seguinte.
Como fK é limitado, tome  um número tal que y ≤  , para todo y ∈ fK.
Construa agora recursivamente a seguinte sequencia de números, ( faça um
esboço geométrico) : y 0 , qualquer em fK e  0 o ponto intermediário entre y 0 e
.
Se fK ∩  0 ,   ∅ , tome y 1  y 0 , caso contrário escolha um elemento y 1 ∈
fK ∩  0 ,  ≠ ∅.
Observe agora que a sequencia y n é não decrescente, isto é, y n1 ≥ y n e que não
há nenhum elemento de fK maior do que y n  2 −n  − y 0 .
Como fK é compacto, existe uma subsequencia y n P que converge para um ponto
y ∈ fK.
Convença-se agora de que este é o valor máximo de f . Para o mínimo, o
argumento é análogo, ou usa-se a função −f no argumento acima.
Este teorema pode ser generalizado para funções cujos valores não são numéricos;
neste caso, a imagem exibe as características generalizadas de um conjunto limitado e
fechado da reta, isto é, a compacidade.
Há situações de algum interesse em que a existência de pontos de máximo pode ser
garantida (separadamente da existencia de mínimo ), se observarmos que na demonstração
do Teorema de Weierstrass, mantida a compacidade, basta uma condição de
semi-continuidade superior ( respectivamente, superior) para chegarmos a uma mesma
conclusão. Este conceito é antigo e também foi introduzido por Maurice Fréchet e René
Baire em 1899.(v. Apêndice).
O enunciado do Teorema de Weierstrass , na verdade, é uma caracterização de
compacidade, ou seja,
TEOREMA:Caracterização de Compacidade de um conjunto
pelas suas Funções
Se um espaço métrico M, d é tal que todas as funções contínuas f : M  R ,
f ∈ C 0 M, R, atingem máximo em M , então M é necessariamente compacto
Demonstração
Suponha que, por absurdo, exista uma seqüência x k  ⊂ M que não admita um
ponto de acumulação. De partida podemos considerar que estes elementos são
todos distintos pois, se infinitos índices registrassem um mesmo elemento, então
haveria, obviamente, um ponto de acumulação da seqüência. Não havendo ponto
de acumulação, tomemos para cada elemento x n da seqüência, uma bola Bx n , r n 
que não contenha nenhum outro elemento da seqüência, exceto o seu próprio
centro, e consideremos a função:  n : M → R, cujos valores são definidos da
seguinte maneira (faça um esboço geométrico):
 n x  n r3n − dx, x n  para x ∈ Bx n , r3n  , e
 n x  0 para dx, x n  ≧ r3n .
Observe, ou verifique, que estas funções são contínuas e que duas delas não são
coicidentemente diferentes de zero em nenhum ponto.
Portanto, podemos definir a função  n : M → R , x  ∑  n x, que é então
k≧1
contínua e obviamente ilimitada, o que contradiz a hipótese.
Este resultado é importante no sentido de nos garantir que todas as afirmações sobre
compactos podem, de uma forma ou de outra, ser traduzidas em termos das funções reais
contínuas definidas sobre ele.A substituição de propriedades topológicas de conjuntos por
determinadas famílias de funções caracterizadas por elas, é uma modificação radical de
ponto de vista e tipifica uma estratégia sutil da Matemática com inúmeras aplicações
teóricas.
O próximo teorema é conhecido pelo nome de Teorema de Heine-Borel, devido a
Heinrich Heine(1821-1881) que o utilizou inicialmente como um "princípio
fenomenológico" no contexto dos números reais, e tem importantes aplicações no contexto
mais geral. O nome do(mais importante) matemático francês Émile Borel (..-..)
possivelmente foi agregado ao de Heine, por uma questão de autoridade; a saber!
TEOREMA DE HEINE: Continuidade em Compacto ≡
Continuidade Uniforme
Se f: K → M 2 for uma função contínua entre dois espaços métricos ( K, d 1 ), e (
M 2, d 2 ) , sendo K compacto, então, f será uniformemente contínua..
Demonstração :
Considere a função definida da seguinte forma : x  supr , tais que f
Bx, r ⊂ B fx,   para um fixo   0 e x ∈ K, e medite sobre o interesse
em analisa-la com respeito à continuidade de f .
Convença-se de que, sendo f contínua, então  está bem definida em K e é
contínua.
Então, de acordo com o Teorema de Weierstrass,  atinge mínimo em K . Seja
m 0 este mínimo que, sendo atingido em um ponto, digamos x m , deverá ser
positivo , m 0  x m   0.
Ora, mas então f (Bx, 12 m 0  )⊂ B  fx,   para todos os x ∈ K , o que exprime
exatamente a tese do Teorema de Heine-Borel.
A demonstração mais tradicional deste teorema seria por argmento de absurdo, mas
consideramos que a forma apresentada é mais útil e mais esclarecedora..
O conceito de aproximação uniforme já foi abordado na definição do espaço métrico
definido pelo conjunto de funções limitadas e com a métrica uniforme: B A, M , d  . Em
um contexto geral podemos também falar de convergência uniforme.
Definição:Convergência uniforme
Dizemos que uma sequencia de funções f n entre dois espaços métricos, M 1 e M 2 ,
f n : M 1  M 2 converge uniformemente para uma outra função  : M 1  M 2 , se
para qualquer   0, existe um N  tal que df n x, x   para todo n  N  e
todo x ∈ M 1 .
A convergência uniforme é importante na construção de funções contínuas por meio de
processos infinitos e um dos teoremas fundamentais do Cálculo de uma variável real afirma
que ”se uma função for limite uniforme de uma seqüência de funções contínuas, então esta
função limite será contínua ”. Este resultado pode ser literalmente transferido (assim como
sua demonstração) para o contexto de espaços métricos:
TEOREMA:O limite uniforme de funções contínuas é uma função

contínua
Se a seqüência de funções f n contínuas entre dois espaços métricos, M 1 e M 2 , f n :
M 1  M 2 converge uniformemente para uma outra função :M 1  M 2 , então
esta função limite será contínua.
Demonstração:
Repita argumentos do Cálculo, que são semelhantes àqueles empregados na
demonstração do Teorema abaixo.
O limite apenas ponto a ponto, pode construir coisas horrorosas a partir de funções
muito bem comportadas.(v. Apêndice).
Um caso, não tão feio, é o limite pontual da seqüência f n x  x n , quando consideradas
no intervalo fechado [0,1]. O conceito e alguns resultados clássicos de convergência
uniforme podem ser reinterpretadas de maneira conveniente no contexto de espaços
métricos de funções. É o que faremos em seguida.
TEOREMA :Completude de espaços de funções com métrica
uniforme
O espaço métrico : F B A, M  conjunto das funções limitadas definidas em
um conjunto não vazio A qualquer com valores no
espaço métrico (M, d,com a métrica d  f, g  Max a∈A d ( fa, ga ) , será
completo se M for completo.
Demonstração.
Seja  n uma seqüência de Cauchy em F, d  . Então, para cada x ∈ A , a sequencia
em M dada por  n x é de Cauchy pois,
d  n x,  m x  ≤ d   n ,  m   Max a∈A d  n a,  m a .
Como M é completo, concluimos que  n b converge em M , e com muita razão
definiremos uma função  : A  M , ponto a ponto, como x  lim  n x ; a
candidata natural para ser o limite da sequencia  n ∈ B A, M.
Devemos mostrar que  ∈ B A, M e, depois, que, de fato,  n   na métrica
d  , isto é, que lim d   n ,   0.
Mostraremos ambos por meio de uma triangularização.
Seja   0 e, com base na condição de Cauchy, tomemos n  tal que para
n, m  n  tenhamos d   n ,  m   .
Então, para qualquer x ∈ A temos, d x,  n x  ≤ d x,  m x   d
 m x,  n x  ≤ d x,  m x   .
Como esta desigualdade vale para todos os m, n  n  , podemos leva-la ao limite
com m   e fixando n  n  , de onde tiramos que
d x,  n x  ≤  , o que é válido para qualquer x ∈ A e n  n  . Isto significa
que  é limitada e é limite de  n na métrica d  . 
O Teorema de Cálculo acima mencionado, sobre limite uniforme de funções contínuas,
pode ser enunciado neste contexto como :
TEOREMA :
Se (M 1 , d 1  e M 2 , d 2  forem espaços métricos, então C 0B M 1 , M 2   funções
f : M 1  M 2 contínuas e limitadas, é um subconjunto fechado do espaço
métrico BM 1 , M 2  , d  .
Demonstração:
Suponha então que  n ∈ C 0B M 1 , M 2  e que  n   , onde  ∈ BM 1 , M 2 .
Seja agora x 0 ∈ M 1 e   0. Existe então um n  tal que se n ≥ n  , d    n , 
  . Como  n  é contínua, existe uma bola , digamos Bx 0 , , tal que  n  
Bx 0 ,  ⊂ B n  x 0 , .
Então, para todo x ∈ Bx 0 , , temos d  n x,  n x 0   d  n x,  n  x   d
 n  x,  n  x 0    d n  x 0 ,  n x ≤ 3 .Fazendo agora n →  nesta
desigualdade, obtemos no limite dx, x 0   3 , Portanto, Bx 0 , 
 ⊂ Bx 0 , 3 o que demonstra o teorema. 
Se o espaço métrico de saída for compacto, então, de acordo com o teorema de
Weierstrass, todas as funções contínuas são limitadas. O teorema abaixo exprime
este fato em uma forma apropriada para a Análise Funcional, onde ele
desempenha um papel central.
TEOREMA:Funções contínuas em espaços compactos com
métrica uniforme
Se (K, d for um espaço métrico compacto e (M,d 0 , outro espaço métrico, então
o conjunto C 0 K, M  funções contínuas f : K  M , é um subconjunto
fechado de BK, M , d  .
Exercício
38)- Demonstre o terorema acima.
A constatação de que uma seqüência de funções contínuas converge uniformemente
para uma outra função é, portanto, um fato notável que em muitas situações pode acarretar
resultados interessantes.Um importante teorema da análise real que estabelece um critério
suficiente para que a convergência pontual seja também uniforme, é devido ao matemático
italiano Ulisse Dini(1845-1918) que, no contexto de espaços métricos toma a seguinte
forma:
.
TEOREMA DE DINI :Monotonicidade pontual em um compacto
produz uniformidade
Seja K um espaço métrico compacto e  n ∈ C 0 K, Ruma seqüência de funções
contínuas de valores reais, tais que
a)  n1 x ≤  n x , para todos os x ∈ K e todos os n , isto é, a seqüência é
pontualmente não crescente,
b) lim n  n x  0 , para todos os x ∈ K.
Então o limite é uniforme ou, em outras palavras,  n  0 no espaço métrico
C 0 K, R , d  .
Demonstração:
Seja   0 e consideremos os conjuntos E n  { x ∈ K ;  n x ≥ . Gostaríamos
de provar que para algum n este conjunto será vazio pois E n1 ⊂ E n . Suponha
que não, e selecione para cada n natural um elemento x n ∈ E n , e em seguida
(pela compacidade de K tome uma subseqüência x n P   ∈ K. Mas, como
lim n  n   0 , existe um n  tal que 0 ≤  n    12 . Por outro lado, sendo
 n  contínua existe uma bola B ,  tal que ∣  n   −  n x ∣ 12  para
qualquer x ∈ B, .
Assim, por triangulação, teremos que para todo x ∈ B,  ,  n  x   , e pela
monotonicidade,  n x ≤  n  x  para todos n ≥ n  .
Ora, mas isto é impossível uma vez que  é um ponto limite de x n P para os quais,
 n P x n P  ≥ . 
.
Exercícios:
39)Demonstre o teorema de Dini utilizando a negação formal de que a
convergencia é uniforme. (isto é, usando os quantificadores ∀ ,∃ ).
40)-Dê (contra) exemplos de que faltando apenas uma de cada vez das seguintes
condições, o teorema é falso:
i)compacidade,
ii)monotonicidade,
iii) continuidade das funções.
Uma função contínua que terá uma grande importância no estudo de aproximação de
funções por um subconjunto ( em espaços métricos de funções) é a definida pela distância
de um ponto a um subconjunto.
Definição :
A distância de um ponto x em um espaço métrico M a um subconjunto A de M , é
denotada e definida por :
dx , A  infdx, a, a ∈ A. Analogamente se define distância entre
conjuntos; dA, B  infda, b ; a ∈ A, b ∈ B.
Exercícios:
41)-Mostre que a função distância de pontos a um conjunto fixo é contínua.
42)-Mostre que se K for compacto, então para cada x 0 ∈ M existe pelo menos um
 ∈ K , tal que dx 0 , K  dx 0 , . Diz-se neste caso que  atinge ou realiza a
distância ou então que  é uma (não necessariamente a única) melhor
aproximação de x 0 por meio de K.!
43)Considere o espaço métrico B0, 1, R, d   e o subconjunto das funções
polinomiais de grau ≤ 2. Mostre que este conjunto é fechado mas não compacto.
Mesmo assim, obtenha um polinomio de segundo grau que melhor aproxima a
função fx  e x no espaço métrico C 1 0, 1, R, d 1  e no espaço
B0, 1, R, d  .
Um outro teorema que, apesar de abstrato neste contexto, será importante no estudo da
dependência de soluções de equações gerais com respeito aos dados, é devido ao notável
matemático russo Andrei Nikolaievich Tikhonov(!906-1993), famoso por ter iniciado
várias teorias e métodos importantes da Matemática e suas aplicações.
Um dos problemas mais universais e fundamentais da Matemática são as equações, que
genericamente podem ser expressas na forma funcional da seguinte maneira: fx  a ,
onde a variável x ∈ M é a incognita e a ∈ A é o parâmetro, ou um "dado" do
problema.(J.Kazdan-Solving equations, Am.Math.Monthly....). Se sempre houver solução e
única para todo a em um conjunto A, podemos escreve-la na forma de uma função xa,
x : A → M. Uma vez garantida a existência e unicidade da solução, a próxima questão
natural que surge se refere à estabilidade ("robustês", ou "sensitividade") da solução com
respeito a perturbações do parâmetro (ou "dado") a do problema, ou seja, sobre a
continuidade da função inversa,xa.
Equações funcionais, onde a incognita é uma função, são particularmente
importantes.Por exemplo, considere um típico problema de valores iniciais para equações
diferenciais ordinárias lineares da forma: dx
dt
 Axt ; x0  a., onde A é uma matriz real
n  n e a incognita é uma função infinitamente diferenciável x : R → R n , ou seja,
x ∈ M  C  R, R n . Podemos obviamente reformular este problema e escrevê-lo como
t

uma equação funcional da seguinte maneira: x  a, onde x  xt −  Axsds é
0
uma função  : M → M e a ∈ A ⊂ M, o subespaço das funções constantes.
O teorema a seguir, embora não aplicável diretamente ao problema acima, nos dá uma
simples mas importante resposta neste sentido.
TEOREMA DE TIKHONOV I: Estabilidade de soluções únicas
para equações em um compacto
Se f : K  M for uma função contínua e bijetora entre dois espaços métricos,
sendo o domínio K compacto, então,
f −1 , isto é , a sua inversa, será contínua em M.
Demonstração :
Considere uma sequencia y N  y em M , e a sua pre-imagem x N  f −1 y N  em K.
Devemos então provar que x N converge para x  f −1 y , ou seja, que ∀  0 ,
∃N  , ∀N  N  , dx N , x   .
Suponhamos que isto não seja verdade, isto é, que : ∃ 0  0 , ∀N , ∃P N  N ,
dx P N , x ≥  0 .
Dado então o tal  0 , construiremos recursivamente a seguinte subsequencia: para
o inteiro N  1 , tomamos um inteiro P 1  1 para o qual dx P 1 , x ≥  0 .Obtemos
x P R1 tomando um inteiro P R1  P R e tal que dx P R1 , x ≥  0 .
Esta nova sequencia x P R  , ( no índice R ) , admite uma subseqüência ( em J ),
x P RJ que converge para um ponto x ∈ K.
Ora, mas a função f é contínua em x e, portanto f x P RJ   f x . Como
fx P RJ   y P RJ  y , temos y  f x  , e concluimos, pela injetividade de f, que
x  x. Mas isto é impossível uma vez que a subseüência x P R1 foi construída fora
da bola Bx,  0  e não poderia se aproximar de x. 
Observações:
1- M será também compacto.
2- A demonstração topológica deste teorema é considerada imediata ( pelos
topólogos!).Como curiosidade : Seja U um aberto de K.
Seu complementar K − U sendo fechado, é um compacto em K. Como f é
contínua, fK − U é compacto e, portanto, fechado. Por conseqüência, o seu
complementar é aberto, e, pela bijetividade de f , deve ser exatamente
fU imagem inversa de U pela f −1 . 
É claro que o ”imediato ” aqui depende da familiariade com os argumentos
topológicos, mas este é um bom exemplo da eventual conveniencia da linguagem
topológica. conjuntista.
3-Este teorema não chama tanta a atenção no caso de funções reais onde a
compacidade é prescindível. Mostre que se f: IJ for contínua e bijetiva, então a
inversa será contínua, onde I é um intervalo da reta real. R. No caso R n , a coisa é
bem mais complicada!
Os exercícios seguintes apontam para as limitações (contra-indicações) do uso
deste teorema.
.
Exercício:
44)-Considere
a)-O Espaço Métrico M 1  0, 1 com a métrica usual dos reais ,
M 2  S 1  z ∈ C, |z|  1"Círculo unitário no plano complexo com a métrica
usual" e a função  : 0, 1 → S 1 , t  exp2it. Mostre que  é contínua,
bijetora, mas a sua inversa não é contínua. Isto mostra que a compacidade do
primeiro espaço no Teorema de Tikhonov é essencial; e o espaço de chegada é
compacto!
b)O Espaço Métrico M 1  C 0 0, 1 , com a métrica d  , M 2  g ∈ C 1 0, 1 , tais
que g0  0 }, d  , e
s
a função será  : M 1  M 2 , onde f s   f d .Mostre que  é
0
contínua, bijetora mas a sua inversa, a derivada, é notoriamente descontínua na
métrica uniforme (sup).
Estes (contra-) exemplos não estão aqui só para escândalo, eles são importantes e
voltarão em outras oportunidades e sob vários disfarces!Entenda-os bem. O primeiro
exemplo tem uma "deficiência"de ordem geométrica em suas condições, enquanto que o
segundo tem uma "deficiência" de ordem analítica!
Em particular, concluímos que este espaço métrico, C 0 0, 1 , d  , não é compacto.
As funções bijetoras e bicontínuas são importantes pois, como vimos, nos garantem que
suas equações têm solução, única e, principalmente, estável com relação a
perturbações.Uma função desta classe de certa forma identifica (como em um espelho) os
processos de convergência de dois espaços métricos e, com isso adquirimos a possibilidade
de estudar um processo pela sua imagem no outro, talvez mais conveniente.Em Matemática
(Bourbakista) este tipo de identificação é denominado de morfismo.
Definição :Homemomorfismo Topológico
Uma função bijetora e bicontínua entre dois espaços métricos (isto é, quando f e
f −1 existem e são contínuas) é chamada de homeomorfismo topológico . Este tipo
de função identifica não somente os conjuntos mas, também a Topologia, ou seja,
identifica as duas noções de convergência.
O teorema de Tikhonov mostra como pode ocorrer esta identificação. Aliás, no contexto
deste Teorema, mais do que as seqüências convergentes são identificadas,mas também as
seqüências de Cauchy.(Porquê?).Estas questões ocorrem com muita freqüência quando os
espaços métricos diferem apenas da métrica, ou seja, quando o conjunto ”base ” é o mesmo.
E, como perguntar pode constranger mas não ofende, a função identidade (tu quoque,
Brute?) pode ser descontínua? Veja o exercício abaixo..
O que estamos querendo saber é simplesmente se as seqüências que convergem e os
seus limites são os mesmos com as duas métricas!
Exercícios:
45)-Mostre que a função identidade entre os espaços métricos C 1 0, 1, d   e
C 1 0, 1, d 1  é contínua em uma direção e descontínua na outra.(!).
46)-Mostre, por outro lado e utilizando o Teorema de Tikhonov que, se a função
identidade for contínua, e um dos dois espaços métricos, (M,  1  ou ( M,  2 ) ), for
compacto, então as duas métricas serão topologicamente equivalentes.
Alguns espaços dispõe de uma estrutura apropriada para o uso de argumentos deste tipo
ainda que não sejam compactos, bastando para isso que sejam localmente compactos, isto
é, que cada ponto tenha uma bola centrada compacta. Os R n são os típicos localmente
compactos porque qualquer bola fechada em R n é um conjunto fechado e limitado, e
portanto, compacto. Tanto, que parece ser uma propriedade universal; mas não é! Aliás,
Exercício:
47)-Mostre que a bola unitária fechada do espaço C 1 0, 1 , d  não é compacta ,
usando o Teorema de Tikhonov e os exercícios anteriores.
.

CONSTRUÇÃO ABSTRATA DE ESPAÇOS


MÉTRICOS
.
Nos itens acima já apresentamos de passagem algumas maneiras de construir novos
espaços métricos.Alguns serão repetidos aqui.
O principal método a ser apresentado e que se constitui no argumento básico para
construção teórica de vários e importantes espaços métricos em Análise Funcional, será
descrito pelo Teorema de Completamento que, na verdade é uma abstração do método de
construção dos números reais.Todas as construções, de alguma maneira, são realizadas por
meio de conjuntos de funções, razão pela qual abordamos logo no início destas notas alguns
exemplos mais simples e gerais destes. Mais a frente, em outros capítulos, ampliaremos
consideravelmente a variedade de exemplos de espaços funcionais..
.
ESPAÇOS QUOCIENTES
.
Comecemos com um exemplo simples, mas representativo. Considere o conjunto das
funções escada definidas em [0,1] e com valores reais :
E0, 1, R   f : 0, 1  R , tal que existe uma seqüência finita x i ∈ 0, 1,
0  x 1  x 2 . . . .  x n  1, e f é constante em cada subintervalo x i , x i1  .
Se estamos interessados no cálculo das integrais usuais destas funções, observamos que
os valores que elas tomam nas extremidades dos subintervalos não influem no resultado.
Assim, para este propósito, duas destas funções que difiram apenas em um número finito
de pontos de extremidades, podem ser consideradas como representantes do mesmo
objeto.Vejamos como tratar esta questão.
Observe que se definimos em E0, 1, R uma ”medida de dessemelhança”
Δ 1 f, g   ∣ fx − gx ∣ dx , é fácil concluir que ela satisfaz todas as condições para
0,1
ser uma métrica, exceto a positividade definida, isto é, existem funções distintas f ≠ g tais
que Δ 1 f, g  0.
Definiçao:Pseudométrica
Se S for um conjunto e Δ : S  S → S uma função positiva, simétrica e que
satisfaz à condição de triangularização (isto é, todas as propriedades de uma
métrica, exceto, possivelmente, a positividade definida) então Δ é chamada de
pseudo-métrica em S.
Lançaremos mão agora de um recurso abstrato muito comum em Matemática que é
definir uma relação de equivalencia entre membros de um conjunto, isto é, uma relaçao que
satisfaz às condições: reflexividade, transitividade e simetria. : f ≈ g se
Δ 1 f, g  0. v.Birkhoff-McLane
Exercício:
48)–Verifique as afirmações acima, ou seja, que Δ 1 é uma pseudo-métrica e que a
relação f ≈ g se Δ 1 f, g  0 é,de fato,de equivalência.

Em seguida, consideramos o chamado Conjunto Quociente E / ≈ formado


pelas classes de equivalência. Cada elemento de E / ≈ será um ”aglomerado”
de funções escada que diferem umas das outras apenas pelos valores em um
número finito de pontos.
Se g ∈ E , então chamamos de g ∈ E / ≈ como sendo a classe ( conjunto,
aglutinado..) de todas as funções escada f tais que Δ 1 f, g  0, ou seja as funções
equivalentes a g.
Observe que uma classe de equivalência pode ser representada por qualquer um de seus
membros, e esta é uma boa representação uma vez que cada elemento pertence à apenas
uma classe de equivalência.
Passamos então a considerar de agora em diante apenas o conjunto quociente E / ≈
de classes de equivalência.
Este tipo de argumento pode ser empregado em qualquer conjunto em que esteja
definida uma relação de equivalência mas, no momento, estamos interessados
especificamente apenas quando este tipo de equivalência é gerado por uma pseudo-métrica.
Deixemos agora o exemplo específico das funções escada e tratemos de um caso
abstrato em que temos um conjunto S e uma pseudo-métrica.
Denotaremos o conjunto quociente por S /Δ  M .
Neste conjunto quociente definiremos o que esperamos ser uma métrica para medir
distâncias entre classes de equivalência,e, o mais natural seria da seguinte maneira:
d ,   Δf, g , onde f ∈  e g ∈ . É claro que pode haver fortes suspeitas de que a
definição acima , dada em termos de dois representantes das respectivas classes de
equivalência, talvez dependa desta escolha, o que a tornaria inconsistente.Mas isto será
resolvido no próximo Teorema-exercício.
.
Exercício:A definição de métrica em Conjunto Quociente é Consistente
49)-Mostre que se Δ for uma pseudo-métrica em M , então no conjunto quociente
M  M /Δ é possível definir uma métrica da seguinte forma:
d ,   Δf, g , onde f ∈  ∈ M e g ∈  ∈ M. Observação: Comece por
mostrar que a definição é consistente.
Este procedimento será utilizado para a construção inicial do teorema de
completamento o qual passaremos a descrever como um exemplo de aplicação desta
técnica.
Sugiro fortemente que a(o) leitora(o) mantenha sempre em mente o método de
construção e representação decimal dos números reais como um modelo mental e
”concreto”dos argumentos abstratos que se seguirão.
Considere um espaço métrico (M, d e, neste, o conjunto de todas as seqüências de
Cauchy, (não necessariamente convergentes, se M não for completo), denotado por:
SM  x : N  M , tal que xk  x k é uma seqüência de Cauchy, isto é, lim m,n
dx n , x m   0 .
Medite sobre o significado geométrico da seguinte afirmação:
TEOREMA: Espaço Métrico das Seqüências de Cauchy
Podemos definir uma pseudométrica em SM da seguinte forma :
Δx, y  lim k dx k , y k , e definir uma métrica d correspondente no espaço
quociente S/Δ  S M .
Demonstração:
Devemos verificar inicialmente que a definição de Δ é realizável. Para isto,
mostraremos que existe o limite da seqüência de números reais r k  dx k , y k  ,
bastando para tanto mostrar que é uma seqüência de Cauchy de números reais.
Usando a triangularização apropriadamente,
r k − r n  dx k , y k  − dx n , y n . ≤ dx k , x n   dx n , y n  . dy n , y k . −dx n , y n .  dx k , x n . dy n , y k ,
e da mesma forma r n − r k ≤ dx k , x n . dy n , y k  . Portanto,
∣ r n − r k ∣≤ dx k , x n . dy n , y k  de onde concluimos o desejado já que o lado
direito tem limite nulo para n, k  .
O restante da demonstração será deixada como exercício.
Podemos agora usar o conceito de espaço quociente e definir inicialmente o conjunto de
classes de equivalência de seqüências de Cauchy, S/Δ  S M . Observe que a cada
g ∈ SM temos associada uma classe de seqüências de Cauchy g , e f ∈ g , se
lim dfk, gk  0.
Observe ainda que se, para cada z ∈ M tomarmos a seqüência de Cauchy (constante)
x k  z , a sua classe de equivalência será formada exatamente por aquelas que convergem
para z. Isto significa que os elementos originais de M podem ser interpretados como
cidadãos de M e, mais, caso o espaço original seja completo, o que teremos com M será
meramente o próprio M pois cada seqüência de Cauchy estará na classe de equivalência de
seu limite.
Não sendo o espaço M completo,todavia, haverá classes de equivalência cujas
seqüências de Cauchy não convergem. Portanto, podemos pensar em S M como uma
extensão ("completamento" será o termo correto) do espaço M. Este procedimento é uma
ferramenta básica da Matemática e teve a sua origem na construção dos números reais a
partir do conjunto de números racionais.Na construção dos números reais, convenciona-se
que a representação de cada número real é feita através de uma seqüência especial chamada
expansão decimal. Mas isto não é possível de se fazer no caso abstrato e, portanto, o
objeto matemático ”classe de equivalência ”, por mais desconfortável que seja, deve ser
trabalhado como tal. Veremos mais adiante que uma das tarefas posteriores à construção de
um espaço quociente ”concreto”, é a caracterização das classes por meio de seus proprios
elementos.
Usaremos agora esta construção inicial para concluirmos um programa de construção
análogo ao dos números reais com o teorema de completamento.
.
COMPLETAMENTO
.
TEOREMA: Completamento
Dado um espaço métrico (M, d , o espaço métrico das classes de equivalência de
suas seqüências de Cauchy com a métrica induzida, SM/Δ  S M, d , que
denotaremos por (M, d  ,
i) É completo,
ii) M está isometricamente imerso em M , isto é, existe uma função injetiva
i : M  M, tal que d ix, iy  dx, y (Esta imagem iM ⊂ M será
identificada a M e denotada pelo mesmo símbolo,
iii) M é denso em M , e
iv)O completamento é único no sentido de que qualquer outro espaço métrico
completo M em que M está densamente e isometricamente imerso, será também
isométrico a M.
Demonstração:
i) Seja então uma seqüência de Cauchy  j em M .Tomemos respectivas
seqüencias representantes em M, f j ∈  j , isto é, f j   j .
Então, lim i,j d  i ,  j   lim i,j lim k df i k, f j k   0 . Observe os
limites iterados!
O nosso objetivo é construir uma seqüência de Cauchy g :N M , tal que
lim j d  f j , g   lim j { lim k df j k, gk   0.
Utilizaremos para isto uma ideia devido a Georg Cantor denominada ”construção
diagonal ”, por motivos que se tornarão claros em breve.
Definiremos gk  f k n k  , onde n k é tomado de tal forma que para todo m  n k
tenhamos, df k m , f k n k   k −1 , o que é possível uma vez que cada f k é uma
seqüência de Cauchy. ( Não é razoável agora a designação de ”método diagonal ”
?).
Dado agora um   0 , tomemos um J o , tal que J −1 o   e se i, j  J o , tenhamos
d  i ,  j   lim k df i k, f j k  .
Mas então, se k, s  J o , temos, (triangulando, inserindo um índice m a direita e
fazendo m   ),
dgk, gs  df k n k , f s n s  ≤ df k n k , f k m  df k m, f s m  df s m, f s n s 
e , portanto g ∈ SM.
Devemos mostrar agora que  j  g ( na métrica d ).
Seja   0 e tomemos J o tal que J −1 o   e se m, j  J o tenhamos
dgm, gj ≤ .
Tomamos então kj  n j  J o . Se agora k  kj  n j temos que df i n j 
, f j k ≤ j −1 ≤ J −1o e
dgk, f j k ≤ dgk, gj  df j n j , f j k ≤   J −1 o ≤ 2 (observando que
gj  f j n j  ).
Portanto, lim k dgk , f j k ≤ 2 se j ≥ J o ,o que nos leva à conclusão
desejada.
Enfim, M, d é um espaço métrico completo.
ii)Para cada elemento x ∈ M , tomemos a correspondência ix  classe de
equivalência da seqüencia constante x, x, . . . . . . . 
É fácil verificar que i : M  M é de fato injetiva e isométrica.(Exercício).
iii)Se f ∈ SM, dado um   0, tomemos n o , tal que se m  n o , então dfm
,fn o  ≤ . É fácil ver agora que i fn o  ) dista no máximo  de f ∈ M, ou
seja, M é denso em M.
iv)Seja agora j : M  M uma outra imersão densa e isométrica em M completo.
Dado x ∈ M, tomemos uma seqüência de Cauchy x k ∈ M , tal que ix k   x .
Mas como j é isométrica, jx k  também é de Cauchy em M e portanto converge

para um x.

Não é difícil demonstrar que a correspondencia entre x e x é uma
isometria.(verifique).
A continuidade uniforme nos possibilitará construir novas funções, (e também novos
espaços de funções), assim como estender operações funcionais originalmente definidas em
conjuntos simples e reduzidos de funções, para conjuntos muito mais amplos e úteis que
serão construídos por meio do Teorema de Completamento. Este processo atingirá o seu
clímax (neste curso!) com a definição de integrais de funções generalizadas (Lebesgue) a
partir da integrais de Riemann para funções escada. Um dos argumentos básicos por meio
do qual realizamos esta construção, (o outro é o Teorema do Completamento! ), será
apresentado na forma do seguinte
TEOREMA: Extensão de funções uniformemente contínuas ao
fecho do domínio
Considere um espaço métrico (M, d 0 , um subconjunto denso A ⊂ M e uma
função uniformemente contínua f : A  S , onde (S, d é um espaço métrico
completo.
Então, existe uma única extensão contínua de f , que denotaremos por
f : M  S , isto é, f a  fa , ∀a ∈ A e f ∈ C o M, S.
E mais, esta função f é também uniformemente contínua.
Demonstração:
Como f é uniformemente contínua, ela transforma seqüências de Cauchy de M
em seqüências de Cauchy em S. v. Exercício a respeito).
Seja y ∈ M tomamos uma seqüência a n ∈ A tal que a n  y ( que existe pois A é
denso em M ) . Como a n é convergente em M ela é de Cauchy e portanto, fa n  é
de Cauchy e convergente em S, digamos fa n  → u. Tomando agora outra
seqüência b n ∈ A tal que também b n  y , digamos agora que fa n  → v.
Consideremos a triangulação:
du, v ≤ d u, fa n  )  d  fa n , fb n  )  d  fb n , v. Lembrando-nos da
continuidade uniforme de f e fazendo o limite n →  na triangulação, concluimos
que du, v  0 e, daí que lim fb n   lim fa n . Portanto, desta maneira, é
possível definir consistentemente os valores de f y para todo y ∈ M
f y  lim fa n  onde a n ∈ A é qualquer seqüência tal que a n  y .Este mesmo
argumento mostra que o valor definido para f y é o único possível para
que f seja extensão contínua de f.
Para mostrar que f é uniformemente contínua, consideremos dois pontos
quaisquer x e y ∈ M e duas seqüências a n e b n ∈ A , tais que a n → x e b n → y .
Pela continuidade uniforme de f em A , dado   0 , existe   0 tal que se
d 0 a, b   então dfa, fb  .
Mas, se d 0 x, y   , é claro que d 0 a n , b n    para n depois de algum
determinado n 0 . Considerando a triangulação
d f x, f y  ≤ d  f x, fa n  )  d  fa n , fb n  )  d fb n , f z )
e fazendo n →  acabaremos por obter que d f x, f y    .
Observação:
Voltemos ao exemplo da metrificação Riemanniana do plano complexo por
intermédio da projeção estereográfica. Como vimos, nesta métrica, o plano se
torna limitado mas incompleto. Para completarmos este espaço métrico
verificamos, geometricamente, que basta incluir um ponto que, por motivos
óbvios, chamaremos de infinito, . e que nesta identificação está associado ao
polo Norte na esfera.Este ponto é a classe de equivalência das seqüências de
Cauchy que "divergem" para o infinito Todas as outras seqüências de Cauchy
convergem para um ponto do plano É fácil ver que com isso, não apenas
completamos, mas também compactificamos o plano, ou seja, adicionado com
este novo ponto e dotado da métrica estereográfica Riemanniana o plano se torna
também compacto! Este processo de completamento é chamado
"compactificação". (v. L. Ahlfors - Complex Analysis, McGraw-Hill, 1966.)
.

PRODUTOS CARTESIANOS DE ESPAÇOS


MÉTRICOS
Suponha que tenhamos uma família finita de espaços métricos M i , d i . Definimos o
conjunto produto cartesiano dos conjuntos M i como sendo o conjunto de seqüências
(x 1 , x 2 , . . . . . . . . . x k   x onde x i ∈ M i e o denotamos por  0≤i≤k M i  M 1 .. . . M k .
Há várias maneiras de metrificar o espaço produto por meio das métricas dos fatores e
muitas delas são reminiscentes dos exemplos de métricas do R n , por exemplo:
d  x, y  maxd i x i , y i 
d 1 x, y  ∑ 0≤i≤k d i x i , y i  e etc.
Em todos os casos, o que realmente nos interessa é definir um sentido de convergência
que sintetize em uma só distância as convergências por (todas) coordenadas, isto é, que seja
válida a equivalência:
lim k→ x k i  x i (em M i ) quando k  , para todo 1≤ i ≤ n  x k  x (em
M  i M i ).
O problema se torna mais sutil quando temos uma coleção enumerável de espaços
métricos M i com i correndo em todo N . A experiencia dos exemplos em R n , são
inaproveitáveis na forma citada acima, pois teríamos uma quantidade infinita de termos
para consideração.
A segunda questão se refere ao fato da necessidade (ou não!) de que a convergência
coordenada a coordenada se dê uniformemente. Se isto não acontece, algumas propriedades
dos espaços métricos fatores podem ser perdidas no produto.
Não tentaremos analisar situações genéricas, mas optaremos por estudar uma classe de
metrificação de produtos cartesianos de espaços métricos que é suficiente para os nossos
propósitos. A topologização de produtos cartesianos, não enumeráveis em geral, e
constatação de que propriedades importantes dos fatores são herdados pelo produto, é o
tema de um famoso Teorema de Tikhonov, o mesmo A.N.Tikhonov citado anteriormente..
Apresentaremos apenas uma versão especial deste teorema. (O caso geral pode ser
consultado em : M.Reed-B.Simon- Functional Analysis, vol 1 Acad. Press 1974).
A estratégia comumente utilizada para a resolução satisfatória desta questão parte de
uma re-metrificação de cada M i , tornando-a limitada, mas retendo a mesma estrutura de
convergência, uma possibilidade anteriormente estudada. Utilizemos, por exemplo, uma
das modificações
dx, y
d 0 x, y 
1  dx, y
e definiremos uma métrica em  i M i  M da seguinte maneira :
d i x i , y i 
d  x, y  ∑ 2 −i
0≤i 1  d i x i , y i 
Exercícios:
48-)Mostre que d  x, y definida acima é, de fato, uma métrica no produto
cartesiano M  M i .
49-)Mostre a equivalência : "x k  x ( na métrica d  em M )  cada
k
coordenada x i  x i ( na métrica respectiva d i )".
Observação:
Para mostrar a volta, dado   0 , tome m 0 tal que se n  m 0 , ∑ mm 0 2 −k  .
Agora, lidando com um número finito de índices, obtenha um k  tal que se k  k 
, d i x k
i , x i    para todos os i , 0 ≤ i ≤ m 0 , e conclua o resultado.
.
.
TEOREMA de Tikhonov II: Espaços Métricos Produtos
Se (M i , d i ) for uma família enumerável de espaços métricos e M   i M i , d  
for o espaço métrico produto acima definido, então
1- x k  x ( na métrica d  em M   i M i )  cada coordenada x k i  x i ( na
respectiva métrica d i ).
2-Se todos os (M i , d i  forem completos, então (M, d  )será completo,
3-Se todos os (M i , d i  forem compactos, então (M, d  ) será compacto.
Demonstração:
1-Exercício.
2-Suponha que todos os (M i , d i  sejam completos e considere x k uma seqüência
k m
de Cauchy em (M, d  .Então, como d j x j , x j  ≤ dx k , y m  , temos que cada
uma das seqüências coordenadas é de Cauchy, e portanto convergente.Usando o
argumento para a estimativa sugerida no exercício acima, conclui-se que x k
converge para o elemento de M cujas coordenadas são os limites das seqüências
coordenadas.
3-Suponha que todos os espaços métricos (M i , d i  sejam compactos e considere
x k uma seqüência qualquer em M. Considere agora a sub-seqüência construida
k
recursivamente da seguinte maneira telescópica- diagonal: x 1 dispõe de uma
subseqüência que converge para um dado x 1 ∈ M 1 . Denomine os índices desta na
forma k j .
A seqüencia x k j  , em j , pode ser tratada da mesma forma que a anterior
tomando-se uma subseqüência em p do índice j tal que a segunda coordenada
convirja para um elemento x 2 . Observe que a sub-seqüência em p da primeira
coordenada continua convergindo para o mesmo x 1 uma vez que é sub-seqüência
de seqüência (em j) convergente.
E assim progressivamente ad infinitum.
Agora a diagonalização: Tomamos a sub-seqüência diagonal de índices que
convergirá para o elemento do espaço produto cujas coordenadas foram obtidas
sucessivamente como limites de sub-seqüências das respectivas coordenadas.
Este argumento é melhor compreendido por meio de um esquema em um
quadriculado que represente índices da seqüência na vertical e índices das
coordenadas na horizontal; experimente!
Este teorema terá aplicações na construção de diversos espaços métricos funcionais,
tema do próximo capítulo.

APÊNDICE

I-TEOREMA DE HEINE-BOREL: Tologicamente correto

A abordagem deste resultado por algumas tribos que preferem uma via mais
"topologicamente correta" (conjuntista) faz uso do conceito de recobrimento, que também
é útil em outros argumentos.
Definição:
Uma familia de conjuntos A  , não necessariamente enumerável, se diz
recobrimento de um conjunto B , se B ⊆ A  .
Exercícios:
37a)-A uniformidade contínua de f em K pode ser expressa da seguinte maneira :
∀  0 , ∃   0 , ∀x, y ∈ K com dx, y    , temos dfx, fy   , Escreva
a negação formal desta afirmação com todo o cuidado lógico e suponha-a
verdadeira como primeiro passo para uma demonstração do Teorema de
Heine-Borel por absurdo.
Tome então o  o que supomos existir por absurdo. Agora, para  ′ s tome N1 e para
cada um destes os seus respectivos x N e y N ∈ K , com dx N , y N   . Como K é
compacto, existe uma subsequencia x N K e um limite dela em K , digamos x.
Fazendo o mesmo com a sequencia y N K , conclui-se o desejado.
37b)-Mostre que em um espaço métrico, K é um conjunto compacto se e somente
se de todo recobrimentode K feito por uma família de bolas abertas B  , é
possível retirar uma subfamília finita B  1 , . . . . . , B  N , que ainda é um
recobrimento de K .
Em tribos mais topologicamente corretas esta caracterização é tomada como
definição de conjunto compacto, em lugar da definição seqüêncial adotada aqui.

II-Os Teoremas Clássicos de Weierstrass e a Bipartição


Os teoremas clássicos de Bolzano Weierstrass da Análise Real podem ser
demonstrados com arumentos semelhantes utilizando a estratégia de bipartição,
ou, encantoamento. Enfatizaremos esta conexão na apresentação abaixo.
Princípio de Bolzano
Qualquer seqüência limitada de números reais tem pelo menos um ponto de
acumulação, e podemos escolher uma subseqüência dela que converge para este
ponto.
Demonstração:
Seja x n uma seqüência limitada, digamos contida no intervalo a, b ,
b  a  h.Façamos a seguinte operação algorítmica de bipartição:
Tomemos no intervaloI 0  a, b um termo da seqüência x n 0 neste intervalo. Em
seguida o dividimos em duas partes disjuntas a, a  h2  e a  h2 , a  h . Pelo
menos um dos intervalos contem uma quantidade infinita de termos da seqüência
(entenda-se, uma quantidade infinita de índices cujos valores estão no referido
intervalo). Escolhemos este intervalo de comprimento h2 , o designamos I 1 , e
tomemos nele um termo da seqüência x n 1 , com n 1  n 0 .Repetimos este processo
e teremos intervalos encaixantes I k definidos para qualquer k, de comprimento
h2 −k que contem uma quantidade infinita de termos da seqüência e de onde
tomamos um termo x n k apropriadamente.Não é difícil concluir que a
subseqüência x n k  k é de Cauchy, pois seus elementos estão progressivamente
escolhidos em intervalos de comprimento h2 −k , e portanto convergem para um
número  que será obviamente um ponto de acumulação da seqüência original.
Teorema de Weierstrass:Convergência de Seqüências Monotônicas
Se x n  for uma seqüência de números reais não decrescente e majorada
superiormente, isto é, x n ≤ x n1 ≤ M ,∀n, então esta seqüência converge para um ponto  ,
que é o menor de todos os majorantes M da seqüência.
Demonstração:
Consideremos o intervalo I 0  x 0 , M (escrevendo h  M − x 0 para simplificar) ,
definimos  0  M e executamos nele uma bipartição tomando dois intervalos
x 0 , x 0  h2  e x 0  h2 , M.Se houver algum elemento da seqüência no segundo
intervalo escolhemos  1  M (outra vez!), caso contrário tomemos
 0  x 0  h2 .Repetimos o processo algoritmicamente e obtemos, obviamente,
uma seqüência de Cauchy  k , monotônica não crescente em intervalos
encaixantes que converge digamos para  e concluimos imediatamente que
 ≤  k .∀k. Agora observe que todos os  k são majorantes de toda a seqüência x n ,
ou seja x n ≤  k , ∀k, n. Portanto, usando a propriedade de desigualdade no limite,
temos x n ≤ , ∀n .Mas pela própria maneira de serem escolhidos sempre existe
algum elemento x n k que está a uma distância menor do que 2hk de  k , de onde
concluimos que para m  n k teremos |x m − |  2hk o que conclui o argumento.
Teorema de Weierstrass:Realização de Extremos por Função contínua em conjunto

fechado e limitado
Se f : K → R for uma função contínua definida em um conjunto de números reais
K fechado e llimitado, então existem pontos m, M ∈ K que são respectivamente
pontos de mínimo e máximo para fx em K, ou seja, fm ≤ fx ≤ fM, ∀x ∈ K.
Demonstração:
Argumentaremos apenas para o ponto de máximo, o que é
suficiente.Primeiramente observemos que o conjunto de valores da função fK é
limitado, pois, caso contrário teríamos uma seqüência x n ∈ K tal que fx k   k e,
pelo Teorema de Bolzano (já escolhida a subsequencia), x k →  ∈ K , o que
caracteriza uma descontinuidade infinita neste ponto, obviamente
impossível.Construa algoritmicamente uma sequencia x k tomando x 0 um ponto
qualquer e, considere o intervalo I 0  fx 0 , M onde M é um majorante de
fK. Efetue uma bipartição e escolha o intervalo à direita se nele houver alguma
imagem de f , e tome x 1 o valor que realiza esta imagem; caso contrário escolha o
da esquerda e nele o x 1 . Repetindo argumentos anteriores concluimos rapidamente
a demonstração.
DEFINIÇÃO: Semicontinuidade
Uma função de valores reais definida em um espaço métrico M , f : M  R , é
dita semicontínua superiormente -scs
(semicontínua inferiormente-sci ) em x ∈ M , se para todas as seqüências x n  x
, temos que limfx n  ≤ fx (respectivamente, lim fx n  ≥ fx ). Observação : lim
 n  sup dos pontos de acumulação da seqüencia  n ( e lim n  inf dos mesmos
).
TEOREMA: (semi) Weierstrass
Se uma função de valores reais, definida em um espaço métrico K compacto,
f : K  R , for semicontínua superiormente em todo o K , então f será limitada
superiormente e terá pontos de máximo.
Demonstração:
Se f não fosse limitada superiormente, teríamos uma seqüencia x n ∈ K , tal que
fx n   n ∈ N , de onde extrairíamos uma subseqüência x n k  x ∈ K , onde
limfx n k    o que é imposível pela definição de sc-superior. Para concluir o
teorema basta repetir o argumento do Teorema (completo) de Weierstrass.
III-Estranhos limites
Considere a função "parte inteira de um número real positivo
x"x  maxn ∈ N ; n ≤ x e a seqüência de funções
f n x  2n
1
∑ 1  −1 10 n x . Interprete estas funções, continuidade e
0≤k≤n
descontinuidades, e analise seu limite pontual.
O exemplo acima repete um pouco da famosa seqüência de funções construída por
Weierstrass que produziu no final do século XIX uma função contínua que não tem
derivada em nenhum ponto, um resultado que causou "frisson" e escandalizou
enormemente os mais impressionáveis da época.(v. Riesz-Nagy-Functional Analysis)

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