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MATTOS, C.L.G.; CASTRO, P.A. (Orgs.). Etnografia e educação: conceitos e usos


[online]. In: A abordagem etnográfica na investigação científica. Campina Grande: EDUEPB,
2011. Disponível em<http://books.scielo.org/id/8fcfr/pdf/mattos-9788578791902.pdf>. Acesso
em 28 maio 2021.

Isis Valentina Inacia Borges1


O texto da autora Carmém Lúcia salienta aspectos teóricos da etnografia,
entendida como uma abordagem científica que possui enorme contribuição para
pesquisas de teor qualitativo, principalmente em pesquisas que competem ao estudo de
grupos minoritários. Segundo ela, o trabalho etnográfico possui algumas implicações
em seu fazer, tais como: a) preocupação com a dialética cultural; b) participação
dinâmica, transformadora e ativa dos atores sociais; c) expor as interações, a fim do
desenvolvimento da reflexibilidade entre pesquisados e pesquisadores.

A etnografia pode ser nomeada como pesquisa hermenêutica, pesquisa


interpretativa, observação participante, etc. Nela deve-se incluir os sujeitos sociais no
processo afim de transformação de estruturas sociais vigentes naquele determinado
território físico/cultural. O fazer etnográfico implica em um não padronização das
técnicas e metodologias aplicadas, sendo de liberdade e reconhecimento do etnógrafo
em detrimento dos territórios em questão.

Os estudos produzidos a partir da abordagem etnográfica procuram estudar fatos,


ações e eventos em determinados grupos sociais. Dentro disso tem por objetivo
monitorar, documentar e encontrar significados nos padrões que conduzem o cotidiano
do grupo social, bem como seus observar comportamentos e percepções manifestadas
pelo público estudado. Ao se tratar deste tipo de estudo estamos falando de grandes
períodos para a observação, por volta de pelo menos um a dois anos nesse processo.

A autora faz uma diferenciação entre os termos etnologia e etnografia. A


etnologia se enquadra em um ramo da antropologia cultural em que se estudam
populações primitivas no que compete os prismas culturais, ela dá suporte a etnografia
atual. A Etnografia é uma especialidade da antropologia que integra a etnologia, esta se
envolve no estudo e descrição de aspectos culturais como religião, raça, língua, ou seja,
investiga materialidades nas manifestações culturais de um povo específico.

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Discente do Mestrado em Educação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, disciplina de
Metodologia da pesquisa. E-mail: d201220082@uftm.edu.br
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Na perspetiva da microanálise etnográfica, que é tida como um instrumento da


etnografia, o estudo é elaborado a partir de um evento ou parte dele juntamente enquanto
da atenção as relações coletivas do grupo estudado. Evidencia o estudo de uma micro-
dimensão e a partir dela pode-se enxergar aspectos do macro que envolvem o processo.
No que tange os interesses da etnografia, estão as particularidades e locais, todos
indivíduos possuem um universo na língua e essas singularidades estão intrinsecamente
interligadas aos interesses gerais e universais. Dentro dos estudos sociolinguísticos, se
rastreiam as variações nas formas de falar dentro de uma dada sociedade/comunidade. A
comparação, o significado, organização, variações a densidade descritiva também são
preocupações na etnografia, denominada como uma perspetiva dialética.

Carmém Lúcia aponta que a pesquisa quantitativa dentro da pesquisa em


educação pode se tornar problemáticos se caso esses dados forem analisados
isoladamente. Na etnografia assim como já descrito se propõe em uma perspetiva
dialética ou ecológica, onde tem interesse na totalidade do problema e não apenas sua
aplicação em um caso específico de uma parte desta. Assim a quantificação
implementada de forma sensível, segundo a autora pode colaborar com a pesquisa
etnográfica.

A interação e o contexto, na pesquisa etnográfica, são considerados um


movimento cíclico e móvel, onde as interações podem movimentar de contextos para
contextos e de momentos para momentos. A ironia adotada neste tipo de abordagem
científica pressupõe falar com o outro e não sobre este, onde a fala se demonstre
significativa para os sujeitos históricos não invadindo, discriminando, comprometendo,
oprimindo ou excluindo.

Para autora um método de pesquisa não é o mesmo que um instrumento de


pesquisa, a etnografia coloca seus interesses no que tange ao tema pesquisado, não na
forma de coleta de dados. Analisar-se-á comportamentos e seus significados no cotidiano
em contrapartida de um contexto social maior em que se encontra inseridas essas
práticas. Os métodos e procedimentos de coleta de dados será definida durante o trabalho
em campo.

Conclui-se que a etnografia busca uma “natureza processual”, enquanto outras


pesquisas qualitativas procuram a natureza causal do fenômeno. Visto que nesse
dispositivo para pesquisa, não se tem interesse nos modos isolados que se põem, mas sim
na totalidade em que estão inseridos, em um universo construído socialmente. Neste tipo
de pesquisa as perspetivas, singularidades das ações e significados dos atores sociais são
levados em consideração, assim entre os grupos mais pesquisados por essa perspetiva são
grupos sociais com poder de fala reduzidos, tais como: mulheres, presidiários, negros/as,
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trabalhadores, estudantes, professores pacientes de hospitais e clínicas psiquiátricas.

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