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A IMPARCIALIDADE DO JUIZ NO PROCESSO VERSUS A

ONTOLOGIA DE MARTIN HEIDEGGER


Identificando a parcialidade do juiz como aliada da injustiça, o Direito brasileiro buscou
mecanismos para afastá-la da prática processual. Todavia, faz-se necessário observar se
estes mecanismos processuais são eficazes para afastar a parcialidade no processo.
Aqui, encontra-se o objetivo desta pesquisa: identificar a incongruência entre os
mecanismos processuais de impedimentos da parcialidade com o conceito de pré-
compreensão da ontologia de Heidegger, baseando tais prerrogativas na análise da
jurisprudência brasileira, buscando encontrar um padrão de decisões de uma região pré-
estabelecida. Visto isso, encontraremos bases práticas da ontologia heideggeriana a qual
relaciona cultura e pré-compreensão, afastando o conceito de parcialidade do processo.

O estudo foi realizado por meio de um levantamento bibliográfico, explorativo-


descritivo, de cunho qualitativo, buscando conhecimentos através de livros e periódicos.

Avaliando o aspecto técnico da imparcialidade imposta no processo, observa-se no art.


95 da CF/88 as garantias (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade dos
vencimentos) dos magistrados que afastam a parcialidade do juiz, acreditando que desta
forma o processo será eficaz. Destarte, o Estado, responsável pelo exercício da
jurisdição, garante que o processo seja concluído de forma ética e justa. Assim, para
Ada Pellegrini: “Só a jurisdição subtraída de influências estranhas pode configurar uma
justiça que dê a cada um o que é seu através da garantia de um juiz imparcial” (1992).
Logo, as influências estranhas referidas tratam-se também de influências do meio, que
se configuram capazes de fornecer ao juiz uma parcialidade. Neste raciocínio, afastando
preceitos técnicos e direcionando o estudo aqui presente à ontologia de Heidegger, é
possível avaliar que a parcialidade presente nos processos vem de uma influência
externa, através do que circunda o intérprete do direito, em relação as suas vivências,
preconceitos e pré-compreensões. Assim, na obra Ser e Tempo (1926), Heidegger revela
que o intérprete (juiz) possui uma pré-compreensão do que irá interpretar. Essa pré-
compreensão, para ele, advém do que o indivíduo é cercado, culturalmente, e de suas
vivências. Como afirma Heidegger (1997): “A interpretação nunca é a apreensão de um
dado preliminar, isenta de pressuposições”. Buscaremos encontrar, portanto, na
jurisprudência brasileira, um padrão de decisões dos juízes de um local pré-
estabelecido, a fim de confirmar o pensamento de Heidegger, o qual relacionava cultura
e pré-compreensão.
Observamos que as jurisprudências das regiões sul e sudeste, apresentam-se mais
inovadoras que as de outras regiões, p. ex.: usucapião de bem público (MG), união
homo-afetiva (SC), juízes recitando decisões em forma de poema (RS), atestam que a
diferença cultural entre as regiões reflete diretamente em decisões. Assim, conexo com
o que expôs Heidegger, o indivíduo que tem contato com determinada cultura torna sua
pré-compreensão mero produto deste contato. Isso explicará o padrão de decisões
jurisprudenciais liberais e irreverentes.

Ora, se o juiz não sofre influências externas como se supõe, um padrão não poderia ser
identificado. A partir disso, verifica-se que o conceito de imparcialidade se torna frágil
quando decisões judiciais são dadas a partir de um de um preconceito existente no juiz,
que, enquanto ser humano, não se exime da capacidade de compreensão a partir de suas
vivências e culturas. A influência externa interfere diretamente no conceito de justiça do
juiz, tornando como condição de sua natureza humana, a parcialidade.

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