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Christus Faculdade do Piauí

Curso de Direito
Disciplina: Hermenêutica Geral e Jurídica

“A Escola Histórica de Savigny”

Albert Lima Cavalcante

Piauí – 2015
Introdução:

Possuindo bases na Teologia, passando pela Filosofia e finalmente


chegando ao Direito, a Hermenêutica Jurídica tem por objeto a
interpretação dos textos legais. Desta forma, torna-se essencial que
avaliemos o aperfeiçoamento da hermenêutica desde de a sua origem até a
forma que conhecemos hoje.

Assim, na teologia, tendo as Escolas de Alexandria e da Antioquia


como percussoras da Hermenêutica geral, na área Filosófica temos a
Hermenêutica filosófica e a ontológica. Por último e não menos importante,
a Hermenêutica Clássica, que tem, na sua composição, além da Escola da
Exegese e do pensamento do célebre Von Jhering, a Escola Histórica de
Savigny que será tratada nesse compilado de informações.

Visto isso, se opondo a conceitos basilares da Escola da Exegese, a


Escola Histórica de Savigny é fundamental para avaliarmos,
hodiernamente, a importância do povo para a construção do Direito.

De tal modo, como cita RICHE (2009):

O contexto em que ocorre seu advento é


caracterizado pela grande simpatia com que contava o
romantismo na época, inspirando a valorização da
tradição, do sentimento e da sensibilidade, em lugar da
razão, que não é capaz de tudo gerar. Valoriza, pois, as
manifestações espontâneas, devido à individualidade e
variedade do próprio homem, demonstrando ao mesmo
tempo um enorme amor ao passado, que não apenas
explica o presente, mas também gera motivações para o
futuro. (grifo nosso)
A escola História de Savigny funda sua importância, portanto,
através da intensa e contínua conexão entre o Direito e o Povo, que é, ainda
a maior e mais autêntica fonte do direito atual

Desenvolvimento:

O historicismo marca o pensamento alemão durante o fim do século


XVIII e início do século XIX, configurando, no campo filosófico-jurídico,
a denominada escola histórica do Direito, representada magistralmente por
Savigny. (Riche, 2009). Ademais, apesar de ter sido o difusor das ideias da
escola histórica, Savigny teve forte inspiração do precursor das ideias,
Gustavo Hugo.

Diante disso, é certo destacar que o romantismo da época passava a


refletir diretamente a cultura local, que passava a inspirar valores
tradicionais, passando a valorizar a tradição em detrimento da razão. Era
um tempo de ter fé, sentimentos aflorados e valorização do abstrato.

Assim, é acertado dizer que a razão era supervalorizada e o direito


era um mero instrumento disciplinar do povo que nascia junto com o
Estado representando a máxima de que “não há Estado sem Direito, nem
Direito sem Estado”. Outrora, na escola histórica, o direito passara a ser
visto como um reflexo social e peculiar de cada povo.

Segundo Bobbio (1999): “A escola histórica do Direito é, portanto,


eminentemente anti-racionalista, opondo-se à filosofia iluminista através de
uma dessacralização do direito natural. ” Podemos, desta forma deixar
claro a forte oposição já mencionada à Escola da exegese, que pregava um
Direito mais técnico, mais codificado, e com cada vez menos participação
do povo.

Para dar base a ideia da escola histórica, Savigny acreditava que a


ciência do direito deveria se construir histórica e filosoficamente. No
entanto, Savigny não atribuía a estes termos o significado que
conhecimentos hodiernamente. Desta forma, ilustra o pensamento em
questão, Costa (2010):

“Ao afirmar que o direito deveria ser filosófico, não queria


Savigny dizer que o direito deveria subordinar-se às noções
filosóficas de justiça nem se ater ao jusnaturalismo dominante,
mas simplesmente que a ciência jurídica deveria ser elaborada de
forma sistemática, por meio de conceitos organizados,
constituindo um campo de conhecimentos com unidade e
organicidade. Portanto, o conhecimento do direito não poderia
reduzir-se a uma mera exposição fragmentária do sentido das
normas, mas deveria ser capaz de organizar sistematicamente
todos os conceitos jurídicos.”(grifo nosso)

Desta forma, a escola histórica, de forma indireta, se opunha também


a Teoria Pura do Direita de Hans Kelsen, que defendia que o direito era um
sistema normativamente fechado e que se sobrepunha a quaisquer costumes
e a quaisquer povos.

O pensamento de Savigny, segue, desta forma, o raciocínio em duas


fases: uma primeira, mais radical e a mais criticada e uma segunda, mais
louvável e a terceira, que hoje é amplamente usada e aclamada. A primeira
fase consistia na afirmação de que o Costume, considerado, para ele, o
espírito do povo, representava, realmente o Direito.

Para Savigny, em sua primeira fase do pensamento, a norma jurídica


válida era aquela que conseguia apreender de forma fiel ao espírito do
povo. Esta fase recebeu muitas críticas porque nela, Savigny descartava
normas que fossem repressivas ou de coação, que de alguma forma
contrariassem os costumes, tornando a força coercitiva do Estado diminuta.

Já na segunda fase, Savigny reconhece a problemática do Direito de


capturar o espírito do povo diretamente destes. Assim, na segunda fase de
seu pensamento, Savigny, estabelece que a lei seria elaborada por
mediadores do Direito, que eram os legisladores. Este é, portanto, o ponto
máximo deste trabalho. Neste momento da segunda fase, surge, pela
primeira vez, a Hermenêutica Jurídica, que dá sentido ao estudo aqui
presente.

Finalmente, na terceira fase, Savigny aperfeiçoa suas ideias e afirma


que, a lei deverá ser atualizada pela doutrina para permanecer fiel ao
costume. Neste momento, Savigny cria, definitivamente, a função precípua
da hermenêutica jurídica: a atualização jurídica.

Conclusão:

Difundindo conceitos basilares para a Hermenêutica jurídica,


Savingy estabelece uma divisão da Hermenêutica, antes filosófica e
clássica, para a Hermenêutica Jurídica e seu estudo faz-se fundamental para
diagnosticar a real importância da hermenêutica para incorporação do povo
na construção da norma jurídica.

Criticado pela radicalização nas primeiras fases e aclamado nas


seguintes, Savigny, consegue estabelecer algo que perdura fortemente o
Direito atual: a incorporação dos costumes no estudo da hermenêutica
através da atualização jurídica.

De tal modo, depois de Savigny:

O Direito não é mais visto como um mero somatório de


normas rigidamente delimitadas por sua literalidade,
mas enquanto um conjunto de institutos jurídicos
presentes no espírito do povo, cuja apreensão pressupõe
uma intuição do jurídico, e não um mero racionalismo
dedutivo. (RICHE 2009)
Assim, afirmando que o genuíno direito se fazia através do povo e
para o povo, Savigny acreditava no direito natural, condenando o
engessamento do direito normativista da escola da exegese. Através disse,
cria cânones tradicionais da interpretação. São eles: o método gramatical,
lógica, sistemática e histórica.
Referências:

- BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito.


Tradução de Márcio Pugliesi, Edson Bini, Carlos E. Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1999,
p.45

- Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação. 3a tiragem. São


Paulo: Atlas, 1991, p.241

- LARENZ, Metodologia da Ciência do Direito, pp. 27-28.

- RICHE, Flávio. Friedrich Karl von Savigny e a Escola Histórica do Direito.


Ocities. 2009

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