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Linguagem e Comunicação Jurídica Livro
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Unidade II
5 HIERARQUIA DE VALORES
Entende-se por valor o que mobiliza o anseio humano. É pelo conhecimento de suas necessidades e
pela hierarquia com a qual as apresenta que podemos avaliar o peso que elas detêm nas suas escolhas.
Contemplam-se, então, os valores que vão corresponder aos anseios não materiais da pessoa humana:
o anseio pela verdade, pelo bem, pelo belo, pelo afeto, pelo sagrado, por exemplo.
O valor lógico, buscado pela razão, procura pela verdade por meio da pesquisa e da ciência. Não
são considerados “valores” os conteúdos do conhecimento humano, mas a verdade que encerram e
que pode satisfazer à natural necessidade do saber. A humanidade não se contenta com qualquer
conhecimento, mas quer o que de algum modo e sob algum aspecto e em algum tempo, corresponda
ao real, ou seja, à verdade.
Os valores éticos correspondem à carência humana pelo bem moral, ao seu anseio por respeito e
justiça, por liberdade, lealdade, honestidade, responsabilidade e por todos os demais valores decorrentes
do princípio da moralidade que exige que se faça o bem e que se evite o mal. Há ainda o anseio pelo
belo, pelo harmônico que é satisfeito pelo valor estético.
Observação
O ser humano precisa do “outro” não só fisicamente, mas ainda afetivamente, querendo sempre,
com ele, constituir uma comunidade. O “outro” torna-se então valor por satisfazer uma necessidade,
uma carência do sujeito. Ao anseio pelo transcendente, pelo que ultrapassa a dimensão natural e
humana, corresponde o valor do sagrado que se expressa na religiosidade humana. Ocorre, portanto,
não a invenção, a criação de novos valores, mas a sua implantação onde antes não existiam.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Lembrete
O bem estar físico, a saúde, a busca do conhecimento pelo desenvolvimento intelectual, a vida
afetiva, o livre arbítrio com os seus valores do respeito e da justiça, do bem moral, enfim são exigências
de todo ser humano, independentemente, de tempo ou de espaço.
O fato de, em determinadas épocas e culturas, essas necessidades e esses valores não terem sido
ou não serem respeitados, em nada os invalida como exigências fundamentais e universais da pessoa
humana. Não há como relativizá-los sem discriminação, violência ou acomodação. Ao entender-se que
cada pessoa humana é portadora de uma “personalidade” única, própria e individual, chega-se a novos
valores ou nova hierarquia de valores.
Apesar de toda essa valorização do “novo”, pode-se perceber, especialmente no ocidente cristão,
uma direção, um ordenamento que, embora na prática se apresente constantemente com falhas e
retrocessos, mostra-se estável e constante: a permanente busca dos valores do “respeito”, da “justiça”
e da “igualdade de deveres e direitos”. Todos os movimentos culturais se fazem no sentido de garantir ao
ser humano cada vez mais igualdade de gênero, etnia, idade e classe social.
Percebe-se que o valor “igualdade”, pelo menos teoricamente, está no topo da escala. O “respeito”
pelo outro, a prática da “justiça social” são valores almejados pelo homem como nunca, seja ele quem
for. Constata-se uma reordenação dos valores de modo que seja dada maior ênfase, pelo menos
teoricamente, à igualdade, ao respeito e à justiça. O conhecimento é visto como grande valor que pode
promover a valorização das personalidades, permitindo a sua ascensão no plano pessoal, profissional,
econômico e social. Uma característica fundamental dos valores é a polaridade.
A hierarquização não se prende à modalidade, mas à capacidade de satisfazer com maior plenitude
e durabilidade aos anseios humanos. Embora se possa reconhecer a existência de uma hierarquia de
valores, não é fácil definir com clareza qual a melhor nem a mais perfeita. O processo de hierarquização
vai depender do critério adotado – novos valores ou nova hierarquia de valores?
São inúmeras as dificuldades para a hierarquização dos valores. A primeira liga-se à questão da sua
objetividade ou subjetividade. É extremamente difícil demonstrar a objetividade dos valores. Mais fácil
é perceber as necessidades universais do ser humano, o que naturalmente leva a uma escala de valores
para satisfazê-las, segundo o seu nível de exigência e prioridade. Considerar os valores subjetivos,
como criações humanas significa desvalorizá-los, relativizá-los e, assim, minimizar a sua importância
para o homem. A hierarquia de valores feita por um critério empírico só teria validade particular e
temporal. Seria variável e não universalmente válida e, assim, todos os comportamentos humanos
igualmente admitidos.
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Unidade II
Na hierarquia a ser constituída sobreleva-se o valor da pessoa e o valor de “outro” enquanto “pessoa”.
Não se pode prescindir do “outro”, valor por si mesmo, pois ele vai ocupar um lugar primordial em
qualquer escala. Nada mais ofensivo do que olhar para o “outro” como “coisa”, destituindo-o de sua
dignidade. Nada pode agredi-lo mais do que considerá-lo como simples coisa, objeto ou mesmo como
uma ideia. O “outro” além de pessoa é também uma personalidade, ou seja, um conjunto estruturado de
carências e de valores e como tal, objeto de experiência e apreensão. Nada pior para o ser humano do
que a indiferença que é o mesmo que negar a sua humanidade.
O homem chega então à consciência de si mesmo pelo conhecimento do valor de que se sente
privado. Por meio dele, conhece a sua destinação ao valor pleno e absoluto que fundamenta assim o seu
referencial para a sistematização dos múltiplos valores que vão satisfazer suas inúmeras necessidades.
Nas coisas encontram-se participações do valor, mas não o valor propriamente dito. Nelas, por
exemplo, encontra-se alguma beleza, mas não a própria “beleza”. Não se criam e não se inventam valores.
Eles se encontram ou são instaurados nas coisas conferindo-lhes uma significação. A hierarquização dos
valores, embora feita pelos juízos de valor depende, em grande parte, da personalidade de cada um:
nas de sensibilidade mais desenvolvida, prepondera.
O interesse pelo nobre, pelo bom, pelo verdadeiro, até mesmo há aqueles que dão maior valor ao
estético até mesmo sobrepondo-o ao ético. Há aqueles que prezam mais a vida em sociedade. Aqueles
que mais querem a presença do “outro” abominam a solidão que é considerada como grande contra
valor. Há aqueles que priorizam o sagrado, a saúde, a família, o conhecimento ou outros valores da
escala. A preferência pelos valores aparece mais como tendências do que como atitudes exclusivas.
A predominância de uma delas decorre não só da personalidade de cada, mas ainda da educação recebida
nos seus primeiros anos.
Não é possível se definir uma hierarquia perfeita e ideal válida para todos os tempos e todos os
lugares. A saída está no estabelecimento dos critérios justificáveis, segundo os quais vai ser feita a
hierarquização. Propõem-se aqui as noções de “pessoa humana” e de “personalidade” como referências
justificáveis para hierarquização dos valores.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Há que se considerar que são os valores universais que devem ser priorizados porque são eles que
atendem às necessidades da pessoa humana. Os variáveis e secundários são aqueles que correspondem
às múltiplas.
6 RETÓRICA E ORATÓRIA
Quando pensamos a retórica no gênero discursivo jurídico, não podemos perder de vista o campo
de possibilidades que a heterogeneidade discursiva – vozes, que se completam ou se contradizem
em um mesmo espaço discursivo – nos permite alcançar em termos de organização de um percurso
argumentativo sólido.
Observação
Entendemos que a ilusão de origem é o que move o sujeito a querer
dizer. A consciência do repetível tornaria, ao nosso entender, o dizer muito
enfadonho. As escolhas que trabalha na elaboração do seu dizer lhe permite
acreditar que decide sobre o que diz e sobre o que o outro que retoma
diz, mesmo porque, o que retoma é um recorte do dizer do outro, que ele
entende escolher. Isso lhe confere a ilusão de ter poder, reafirmando as
relações de poder ideologicamente determinadas.
Considerando o outro como constitutivo do discurso do sujeito que o enuncia, entendemos que
a possibilidade de analisá-lo reside na historicidade – condições de produção e circunstâncias de
enunciação - representada pela materialidade discursiva – elementos linguísticos.
Lembrete
As circunstâncias de enunciação, por outro lado, são muito mais
acessíveis porque cercam o fato – relações, negociações, interesses – enfim,
são circunstâncias que resumem o todo que circunda o fato e que, se
pensadas em função das condições de produção constitutivas do discurso,
formam o quadro perfeito que se manifesta na materialidade linguística
que é a própria historicidade.
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Unidade II
A heterogeneidade discursiva, seja ela mostrada – forma marcada - ou constitutiva – forma não
marcada - passa ser entendida como resultado de uma espécie de acordo imaginário que se estabelece
entre o sujeito e seu leitor virtual, a partir das formações imaginárias, já, no ato da elaboração do texto.
Seja o texto escrito ou oral, o sujeito enunciador recorre a determinadas demarcações ou apagamentos
para reafirmar seu lugar de enunciação como fonte e origem do discurso que enuncia.
Assim, à medida que o sujeito se apresenta ao seu interlocutor virtual no domínio das normas que
o regulam, ele acentua sua ilusão de onipotência e independência, como o “dono de seu pensamento”
que, em nosso entender, reafirma a ilusão de “controlador” que o perpassa, pois, ao demarcar o
discurso do outro que retoma, o sujeito demonstra ser conhecedor das normas éticas de modo a não
se apropriar do dizer do outro, como exige o princípio de autoria.
Observação
Consideramos que o sujeito demarque o discurso do outro movido pelo desejo de atribuir maior
credibilidade ao seu próprio dizer e, assim, tornar irrefutável seu argumento. Isso se concretiza
devido à aceitabilidade que o outro possa ter perante o seu interlocutor virtual. Dizendo de outro
modo, a demarcação da voz que se retoma confere a quem é retomado a marca essencial ao argumento
de autoridade.
Uma outra possibilidade que, a nosso ver, justifica esse procedimento do sujeito, remete-nos
novamente à questão da ilusão de origem que perpassa o sujeito (PÊCHEUX; FUCHS, 1975). Entendemos
que, perpassado pela ilusão, o sujeito se entende investido do direito de corroborar ou refutar o dizer
do outro, que, em algum outro momento de enunciação, possa ter dito o que ele não se permite estar
repetindo como plágio. Assim, é exatamente por se entender na origem do seu discurso que o sujeito
entende que o outro possa ter dito o que ele (sujeito) não repete, mas também diz.
Nossas considerações, nesse sentido, se dão em relação ao fato de entendermos que o sujeito, no
cumprimento das normas que lhes são impostas, serve-se das mesmas regras que o controlam para
escamotear formas do dizer que lhe permitem proceder aos atos de convencer, persuadir e/ou dissuadir
na direção de seus objetivos.
Esse aspecto, em nosso entender, favorece o sujeito a consolidar a estrutura argumentativa que, lhe
permite atingir o objetivo delineado por ele, objetivo este que se sobrepõe à sua própria resistência em
partilhar com outro enunciador do discurso do qual se entende “senhor”.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Os autores que fundamentam as articulações que passamos a tecer não trataram a questão da
heterogeneidade discursiva quando da proposta das teorias que passamos a apresentar, nossa
opção por proceder a essas articulações teóricas surge da necessidade de compreendermos como a
heterogeneidade discursiva se relaciona com essas teorias de modo a funcionar como estrutura argumentativa
do discurso jurídico.
Observação
É pertinente, portanto, entender que a aparente homogeneidade que o sujeito busca dar ao texto, na
realidade, parte de normas já institucionalizadas que exigem que o autor alcance uma aparente unidade
de sentidos exigida pelo princípio da autoria que, segundo Orlandi e Guimarães (1988), imputa ao autor
responsabilidade social pelo seu dizer.
À medida que se vê limitado por normas, o sujeito busca atingir uma aparente homogeneidade, que,
na realidade, nada mais é que uma espécie de “maquilagem”, cujo fim é o de esconder as diferenças
dos seus diferentes lugares de enunciação, muitas vezes, determinados pelas diferentes formações
discursivas que dividem o mesmo espaço discursivo.
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Unidade II
Observação
No tocante ao discurso jurídico enunciado no tribunal do júri, há que se considerar que o princípio
da autoria é, igualmente, regulador do dizer de todos que têm o direito a voz neste particular lugar de
enunciação, uma vez que todos são regulados pela responsabilidade do seu dizer, na medida em que
as consequências decorrentes do que é dito em um tribunal dessa ordem não são apenas norteadoras
do veredicto ao qual os jurados devem chegar ao final dos trabalhos, há que se considerar que
testemunhas que prestam compromisso com a verdade, podem sofrer sanções caso mintam quando
são ouvidas.
A tensão que perpassa todo dizer o rito do tribunal do júri toma conta de toda enunciação. Ao
enunciador/juiz compete presidir a enunciação do júri dentro do que preceitua a normatização do
direito processual penal e do direito penal, provendo garantias para que o devido processo legal não seja
comprometido, dando ao referente/réu concretas condições de ampla defesa em toda sua plenitude.
Observação
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
As várias vozes que estruturam o percurso discursivo das partes formam a heterogeneidade discursiva
que, por sua vez, se manifesta de duas formas, a mostrada que, segundo Authier-Revuz (1984), é
constituída por formas linguísticas que representam as diferentes maneiras de o sujeito negociar com o
dizer do outro que ele (sujeito) permite que constitua o seu discurso. E a forma constitutiva que reúne
outros dizeres que se misturam ao discurso do sujeito sem que sejam por ele demarcados.
A autora chama a nossa atenção para o fato de que toda compreensão e interpretação de marcas
como: aspas e itálico no glosado passa por uma especificação da alteridade de natureza implícita a que
remete devido ao seu ambiente discursivo “[...] uma outra língua, variedade de língua, um outro discurso
diferente, um discurso oposto, etc.” (AUTHIER-REVUZ, 1990, p. 30).
Segundo a autora, as formas que acenam para o exterior do discurso a ponto de interferir na cadeia
enquanto forma de heterogeneidade são:
Segundo o que nos foi possível compreender, a outra modalidade de tomada de sentido, à qual
a autora se refere, se dá por meio “de uma palavra, que recorre explicitamente ao exterior de um
outro discurso especificado, ou aquele da língua como lugar de polissemia, homonímia, metáfora etc.,
afastadas ou ao contrário invocadas para constituir o sentido da palavra. A autora esclarece, ainda, que
nos dois casos, ao lado do sentido dado como corrente, um sentido é constituído por uma palavra por
referência a um ou outros sentidos produzidos em alhures (em outro lugar, no interdiscurso ou na língua
(1990, p. 30).
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Unidade II
Observação
É por intermédio da forma marcada que o enunciador se coloca a uma relativa distância do seu
dizer, e, igualmente, se reafirma enquanto “dono de seu pensamento”, pois as demarcações fazem com
que ele (sujeito) assuma a posição do “juiz do seu dizer”. É enfatizado que “as formas marcadas da
heterogeneidade mostrada manifestam a realidade da onipresença do Outro precisamente nos lugares
que tentam encobri-la” (AUTHIER-REVUZ, 1990, p. 33).
Em um segundo momento, alertou para o fato de que a ilusão de origem do discurso que perpassa
o sujeito continua a perpassá-lo, mesmo quando ele se vê obrigado a assumir as responsabilidades
advindas de normas que o controlam, como as da função de autor. A autora considerou que essa
especificidade pode levar o sujeito a beneficiar-se das mesmas normas que o regulam, pois, à medida
que as cumpre, talvez demarque o outro em seu espaço discursivo na ilusão de que o não demarcado
seja apenas seu.
É fundamental que se entenda que as formas não marcadas da heterogeneidade mostrada implicam
uma outra forma de negociação com a heterogeneidade constitutiva, por meio das quais uma outra
forma caracteriza a presença do outro. Para Authier-Revuz (1990, p. 33), esse tipo de negociação é
“uma forma mais arriscada, porque joga com a diluição, com a dissolução do outro no um, no qual
este pode ser enfaticamente confirmado, ou ainda pode se perder. A exemplo, a autora aponta:
discurso indireto livre, ironia, metáforas, jogos de palavras”.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
No discurso jurídico, podemos observar o uso de formas não marcadas, sobretudo nos debates ou na
réplica ou na tréplica, nos momentos em que enunciadores/promotoria e defensoria retomam trechos
dos depoimentos que mais sustentam suas teses em forma de discurso indireto livre, mesclado com o
discurso direto, recorrem à ironia com acentuada frequência, sobretudo para provocar seu oponente.
Brandão (1991) tece considerações sobre a heterogeneidade mostrada, formulada por Authier (1982),
no que se refere ao discurso relatado:
Ao refletir a respeito do dialogismo que, segundo Bakhtin, se estabelece a partir dos “outros
discursos”, constitutivos do discurso, Brandão (1991, p. 53) corrobora a questão atrelada ao “dizível”:
“O discurso se tece polifonicamente num jogo de várias vozes cruzadas, complementares, concorrentes
e contraditórias”.
Nossas considerações nesse sentido se dão em relação ao fato de entendermos que o sujeito, no
cumprimento das normas que lhes são impostas, serve-se das mesmas regras que o controlam para
escamotear formas do dizer que lhe permitem proceder aos atos de convencer, persuadir e/ou dissuadir
na direção de seus objetivos.
Esse aspecto, em nosso entender, favorece o sujeito a consolidar a estrutura argumentativa que lhe
permite atingir o objetivo delineado por ele, objetivo este que se sobrepõe à sua própria resistência em
partilhar com outro enunciador do discurso do qual se entende “senhor”.
Entendemos que os apagamentos que a memória discursiva permite acabam por comprometer a
qualidade do julgamento feito pelos interlocutores/jurados, na medida em que se torna exaustivo ouvir
por longos períodos determinados fatos de uma parte e, em seguida, ouvir outros fatos como se estivem
diante de dois casos distintos, que são retomados por ocasião da réplica e da tréplica.
Desde a antiguidade, a argumentação tem sido objeto de interesse de todas as áreas em que se
pratica a arte de falar e escrever bem. Na prática das Ciências Jurídicas, a argumentação guarda estreita
dependência com o raciocínio lógico, ainda que seja um jogo discursivo, um jogo de inteligência,
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Unidade II
O gênero discursivo jurídico, sobretudo aquele que tem como lugar de enunciação o rito do tribunal
do júri precisa se submeter ao rito que, na verdade, confere legitimidade ao discurso que se faz ouvir
nesse lugar de enunciação que se reveste de grande particularidade e que, ao final, abre para uma nova
ordem discursiva que se instaura.
• o lugar de enunciação: o lugar físico onde a enunciação acontece (igreja, tribunal, sala de aula,
estádio esportivo);
• o lugar social de quem enuncia: a posição que o sujeito ocupa na sociedade (juiz, promotor,
defensor, réu, jurados, professor, padre, juiz, médico, promotor, advogado);
• os referentes: todo aquele ao qual o sujeito, seja ele locutor, enunciador ou autor se refere, seja
este último humano, animal ou coisa inanimada. Importa ainda o lugar social que o referente
humano ocupa na sociedade.
• a(s) tese(s) que se deseja provar: teses são referentes do discurso que é enunciado.
Quando pensamos esse discurso, temos de considerar as estratégias argumentativas que sustentam
seu percurso de modo a permitir que o objetivo norteador do sujeito, que assume a posição de enunciador,
tenha como objetivo a conquista da adesão dos interlocutores às suas teses.
É o argumento que se realiza pela citação de uma fonte confiável, de um especialista no assunto
ou pela referência a dados fornecidos por instituição de pesquisa, de uma frase dita por alguém que
se tornou um expoente na área. ou, mesmo que não seja da mesma área, que tenha se tornado uma
autoridade de notório saber a ponto e fundamentar argumentos enunciados de outras áreas em
função da credibilidade de que desfruta. Ex.: doutrinadores, autores, professores, cientistas, médicos,
membros da Igreja, instituições de pesquisa, universitárias, centros de pesquisa, tribunais, fontes
governamentais, jornalísticas.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
As citações de doutrina são os exemplos mais claros do argumento de autoridade, que tem duplo
efeito: primeiro, de fazer presumir-se certa a conclusão, porque emanada de alguém de notório
conhecimento; segundo, de revelar que a conclusão é isenta de parcialidade.
Lembrete
Ao fazer a citação, o enunciador/promotor ou defensor deve: fazer uma citação literal ou não literal
com a identificando o autor. Se necessário deve identificar a autoridade e consequentemente a sua
proeminência, porque precisa enfatizar a legitimidade que ele confere àquilo que é retomado, inclusive
porque o enunciador/promotor ou defensor não pode garantir que que todos os interlocutores/jurados
reúnem o conhecimento de quem se trata.
Quando se tratar de texto oral verbal, como é o caso do discurso enunciado no tribunal do júri,
o enunciador/promotor ou defensor deverá encontrar um espaço discursivo para orientar a conclusão
dos interlocutores/jurados de que o referente/argumento é perfeito, exatamente, porque foi dito por
pessoa que é uma referência.
Observação
No texto escrito, o enunciador, em cumprimento com a normas da ABNT deverá indicar as alterações
que imprime ao que retoma, indicando: grifo nosso, no caso de haver negritado ou sublinhado o
texto. Quando interromper o fio discursivo do texto, deverá acrescentar reticências, parênteses [...].
O enunciador nunca deverá inserir ou alterar palavras da transcrição da citação que retoma de forma
literal. Se houver erros no excerto copiado, a ele caberá acrescentar “(sic)”, logo após o engano, para
deixar claro que o erro está no original.
Esse percurso instaura um efeito de lógica que conquista adesão dos interlocutores, mesmo que não
se proceda a uma verificação capaz que contestar o efeito de lógica.
Cabe esclarecer que o texto oral facilita a aceitação de um argumento que instaura efeito de lógica,
devido ao ritmo acelerado que é próprio do texto oral, sobretudo o da enunciação do tribunal do júri.
Exemplo de aplicação
Na produção cinematográfica americana Doze homens e uma sentença, temos vários exemplos do
uso da estratégia argumentativa de efeito de lógica, como já mencionamos na Unidade I.
Há um momento no qual um dos jurados, que é muito metódico, resiste em aceitar que o referente/réu
não se lembrava do filme que assistira na noite em que seu pai foi morto, tampouco do nome dos
atores. O enunciador/jurado que questionava os argumentos que levariam à condenação, interpela o
interlocutor/jurado indagando-lhe sobre sua vida privada, sobre as vezes nas quais fora ao cinema.
Começa a lhe fazer perguntas sobre o enredo, o nome dos filmes e do elenco.
Não podemos afirmar que o fato de o interlocutor/jurado não ter se lembrado de detalhes dos filmes
aos quais assistira não implica que o referente/réu, de fato, tenha tido uma amnésia temporária quanto
aos filmes, devido ao choque de encontrar o pai morto. Ou seja, isso confirma que o efeito de lógica,
embora seja persuasivo não pode ser entendido como pura lógica.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Observação
Exemplo de aplicação
É claro que Vossas Excelências não cairiam em uma versão romântica e trágica do homem traído que
perdeu a cabeça por amor. Claro que os senhores já perceberam que o referente/réu matou seu próprio
irmão, referente/sua mulher, referente/vítima por puro sentimento de posse, de ódio. E agora se faz de
coitado com o fim de conquistar a piedade de Vossas Excelências.
Digressão é momento no qual o sujeito sai do foco do texto que enuncia para trazer outro assunto
para os interlocutores, com vistas a promover um melhor entendimento.
Digressões necessárias: são aquelas que usamos para orientar a nossa audiência. Ex.: de
maneira, para ilustrar nosso ponto de vista, tomaremos um exemplo ocorrido no contexto...
O sujeito deve se referir ao exemplo que retoma de forma objetiva e rápida. E assim que
tiver concluído, deverá fazer a conclusão com os interlocutores. Não é aconselhável deixar
que a audiência chegue às suas próprias conclusões sozinha, pois isso poderá levar a erros.
Ex.: como pudemos apreciar no exemplo citado... Assim, pudemos verificar que o exemplo
citado ilustra...
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Unidade II
Digressões desnecessárias: devem ser sempre evitadas, pois geram sérios problemas
de compreensão, deixam o interlocutor confuso porque o enunciador desvia do foco sem
qualquer justificativa – simplesmente – muda de assunto.
No que diz respeito à prova técnica, deve-se ter em mente que é, apenas, o ponto de partida do
raciocínio jurídico. Do resultado do exame técnico, devem nascer as conclusões jurídicas, e não o
contrário. Ao criticar trabalho pericial, o enunciador/defensor deve-se ser objetivo, não deve atingir
o profissional, mas, sim, o resultado da perícia em si.
É o argumento que invoca o próprio discurso da jurídico para que reflexões semelhantes enunciadas
do próprio Judiciário possam nortear novas decisões. As citações de jurisprudência são os exemplos
claros de argumentos por analogia. São muito úteis porque o interlocutor/juiz tende a respeitar, de
algum modo, o que já foi decidido em outras situações e em outras instâncias superiores.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
• Citação direta ou literal de até 3 linhas: citar no próprio parágrafo e entre aspas, indicar a fonte
de autoria. Por ser citação literal, deverá se referir ao autor, apenas pelo sobrenome, ano da
publicação, número do volume (se houver) e o número da página.
• Citação direta ou literal de mais de 3 linhas: citar em recuo de quatro centímetros da margem
esquerda, em espaçamento 1,0 e na fonte 10, sem aspas e sem itálico. No momento da citação,
deverá ser indicado o nome do autor, o ano da publicação, o número do volume (se houver) e o
número da página.
• Destaques: momentos nos quais o enunciador decide marcar o texto de alguma forma – itálico,
negrito, sublinhado, mudança de fonte, colorido, porém, deve acrescentar: grifo nosso, ao final,
para deixar claro que aquele destaque é seu.
Importante lembrar que, muitas vezes, marcas são orientadas pela ilusão de origem do sujeito. Vejam
bem, o enunciador invade o discurso do outro que retoma de forma marcada e imprime sua própria
marca. Ao final, demarca escrevendo: grifo nosso. Entendemos que isso apenas concretiza as normas
que são imputadas ao sujeito/autor, mas, se pensarmos isso dentro do espaço de sentidos em que se
realiza, concluiremos que tudo que o sujeito tenta burlar, o que o assujeita.
O enunciador, independentemente, do lugar que enuncia não pode alterar nem corrigir o trecho
citado: à medida que identifica o problema, deve escrever entre parênteses: (sic).
Lembrete
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Unidade II
Exemplo
Exemplo
Enunciado/promotor: fica claro que houve uma terceira pessoa que matou os dois e fez parecer
que ela tenha matado o marido se suicidado em seguida.
Enunciado/promotor: vossas excelências já chegaram à perfeita conclusão de que foi a ré, a única
pessoa que tinha acesso à casa, que era herdeira da fortuna do casal e que, aliás, foi quem encontrou os
corpos – a filha adotiva do casal que está ali, sentada na frente de Vossas Excelências, chorando, com a
mesma cara deslavada de quem premeditou tudo.
Observação
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Exemplo
Enunciador/defensor: poder-se-ia afirmar que o réu não é capaz de controlar os seus atos, não tem
controle emocional, perde o controle rapidamente, é tido como “estouradinho” ou “puxa-faca”.
Exemplo: ninguém viu o acusado pulando o muro da sua casa, tampouco ouviu-se o grito da menina,
o que comprova a improcedência da acusação feita ao réu.
8 LÓGICA JURÍDICA
O que é a verdade? Quem detém o poder de conhecer a verdade? O homem, sempre, ao longo da
história da humanidade, busca encontrar uma única verdade, ou seja, busca a verdade universal.
A aprendizagem da lógica não constitui um fim, mas, um meio. Ela só tem sentido enquanto meio
para garantir que nosso pensamento chegue a conhecimentos verdadeiros. Podemos dizer que a lógica
trata dos argumentos, ou seja, das conclusões a que chegamos por intermédio da apresentação de
evidências que as sustentam. Os argumentos dividem-se em dois tipos, os dedutivos – argumentos
cuja conclusão é inferida de duas premissas – e os indutivos – argumentos nos quais, a partir de dados
singulares suficientemente numerados, inferimos uma verdade universal.
Os juízos jurídicos são de valor, pois envolvem questões de ordem moral e cultural em sua formação.
As decisões e o raciocínio jurídico não obedecem a esquemas pré-determinados para sua formação, ou
seja, o raciocínio jurídico trabalha com o razoável visando à adequação da norma as questões peculiares
de cada caso, como ensina o renomado jusfilósofo Bittar (2005): enquanto a lógica formal se preocupa
com a estrutura do pensamento, a lógica material investiga a adequação do raciocínio à realidade.
A filosofia moderna procura outros métodos lógicos para determinar o raciocínio válido.
Os sofistas, sábios capazes de elaborar discursos fascinantes, com intenso poder de persuasão foram
interpretados com hostilidade e desconfiança pelos socráticos. Os sofistas foram responsabilizados pela
decadência moral e política da cidade. O termo sofista adquire um sentido pejorativo e desfavorável,
marcando para sempre o vocabulário filosófico: argumento sofístico ou sofisma é o mesmo que falso
argumento ou intencionalmente falacioso; de sofista deriva sofisticado, no sentido depreciativo de algo
muito elaborado ou excessivamente ornado, embora vazio de conteúdo.
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Unidade II
Na esfera jurídica atual, a contribuição dos sofistas estende-se por todo campo da argumentação e da
retórica, muito comum nos debates jurídicos em que as partes pretendem, por meio de seus argumentos
e discursos, alcançar a aceitação de suas teses.
Lembrete
Parmênides defendia o ponto de vista de que nada muda, tudo que existe sempre existiu, nada se
transforma e, por isso, tudo que conhecemos não é um conhecimento confiável. Parmênides acreditava
apenas na razão, para ele, tudo que vemos sempre existiu.
A lógica formal é uma forma de organizar o raciocínio sem levar em consideração o conteúdo.
O raciocínio é feito com as premissas e a conclusão que é chamada de inferência na lógica. Para um
raciocínio ser considerado lógico, terá que obedecer a três regras básicas da lógica formal que são o
princípio da identidade, o princípio do terceiro excluído e o princípio da não contradição.
A lógica formal, como o próprio nome diz, é pura forma, não se preocupando com o conteúdo
das afirmações, nem há compromisso com a realidade. Aristóteles, para melhor explicar sua teoria,
criou símbolos, utilizando o silogismo, em que qualquer que fosse a proposição colocada no lugar dos
símbolos, o argumento seria válido – Se todos os B são C e se todos os A são B, todos os A são C.
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LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO JURÍDICA
O conceito característico da dialética é o diálogo, ou seja, a oposição de ideias e razões entre posições
inicialmente antagônicas ou não. Como vimos anteriormente, a lógica formal trabalha com conceitos
metafísicos, abstratos e absolutos em que a realidade é explicada por suas essências imutáveis. Já a
lógica dialética parte do princípio da contradição, ou seja, da oposição entre duas opiniões contrapostas.
A dialética é o movimento dos contraditórios, segundo a teoria de Hegel, passa por três fases distintas
em sua formação: a tese, a antítese e a síntese, ou seja, o movimento da realidade se explica pelo
antagonismo entre momento da tese e o da antítese, cuja contradição deve ser superada pela síntese.
No direito, a lógica dialética hegeliana tem importância fundamental, visto que o direito se
desenvolve em um cenário de contradição, uma vez que, o direito de um se coloca em oposição
ao direito de outro em que o poder jurisdicional intervém para dizer o direito válido para todo o grupo
social. A tese que representa o direito de A, a antítese que representa o direito de B e, finalmente,
a síntese que é a decisão judicial, que não põe termo ao ciclo como à priori poderia parecer, mas
realimenta o ciclo transformando-se também em uma nova tese que poderá ser contraditada.
Observação
A obra de Chaïm Perelman – maior expoente dos estudos de retórica moderna – (1912-1984) –
intitulada “lógica jurídica: nova retórica” tornou-se um clássico, configurando-se em manual prático
para o estudo de lógica e da argumentação jurídica.
Perelman foca seu trabalho na busca do entendimento do raciocínio jurídico perfeito e na identificação
de suas particularidades específicas, com vista a entender a real influência desses argumentos sobre as
decisões judiciais.
Os estudos realizados por Chaïm Perelman sobre a nova retórica, a lógica e a argumentação são de
fundamental importância para a formação acadêmica dos juristas contemporâneos. Perelman tinha
como objetivo claro declarar sua discordância ao positivismo jurídico que colocava o raciocínio jurídico
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como um raciocínio exato, mecanicista. O que Perelman queria era definir uma lógica específica que
não se utiliza somente do raciocínio dedutivo, mas que se utilize também de outras formas de raciocínio
como o indutivo.
Para esse autor, a aplicação do raciocínio jurídico pelo juiz é matéria complexa, visto que a lógica
judiciária não se resume a uma mera dedução de conclusões extraídas dos textos da lei, ou seja, a lei
posta pelo legislador, muitas vezes, tem um recurso linguístico vago, o que pode dar margem a várias
interpretações. Quando Perelman se refere ao raciocínio jurídico está falando do ato fundamentado e
expresso nas decisões do juiz que engloba também os demais profissionais que atuam com ele dentro
do processo como advogados, promotor etc.
O pensamento de Perelman volta-se mais para a prática do direito e menos para a estrutura lógica
formal do pensamento, isso se dá em função de sua intenção de conferir autonomia ao raciocínio
jurídico em relação à lógica formal, inserida pelos positivistas nas ciências humanas e jurídicas.
Perelman não trabalha com o conceito de verdade, mas sim, substitui esse termo por termos mais
apropriados como razoável, equitativo, aceitável, admissível..., termos mais apropriados para expressar
o raciocínio jurídico. Com isso, quer o autor demonstrar que o juiz não é simplesmente o porta voz
da lei, como ensina o próprio autor: “o juiz não é a ‘boca da lei’, aplicador neutro e desideologizado
das normas jurídicas como se quis no pensamento derivado da Revolução Francesa” (PERELMAN apud
BITTAR; ALMEIDA, 2005, p. 416).
Para Perelman, os estudos lógicos contemporâneos modernos, derivados de uma tradição cartesiana
e leibniziana, negligenciaram a própria lógica aristotélica. A utilização da lógica aristotélica não formal,
ou seja, a lógica aristotélica judiciária é um recurso que é utilizado por Perelman para reinventar as
dimensões do sistema jurídico em seu funcionamento dinâmico na prática. A influência de Aristóteles
na obra de Chaïm Perelman e notória, demonstrando, assim, em que o autor busca embasamento teórico
para fundar sua teoria.
A lógica jurídica consiste em uma lógica argumentativa e por meio do discurso se constrói o saber
jurídico, a justiça, a equidade, a razoabilidade, e a aceitabilidade das decisões judiciais.
A lógica perelmaniana não obedece a esquemas rígidos de formação, elocução, dedução. Trata-se de
uma lógica material, prática com o firme propósito de produzir efeitos diante de um auditório.
É pacífico o entendimento de que o operador do direito, por meio de seus argumentos influencia a
tomada de decisão do juiz. O juiz quando entra em contato com os argumentos, com os documentos,
com as provas orais, recebe informações que posteriormente vão ser condensadas no processo final de
julgamento, que é a decisão.
Observação
O trabalho desenvolvido por Perelman tem foco sobre o raciocínio jurídico que é o raciocínio
decisório, ou seja, o poder de dizer que o direito está no poder do juiz. Com esse princípio fundamental
é que Perelman visa a afirmar que a lógica jurídica difere das demais formas de lógica, por ser uma
lógica dialética ou argumentativa. Sendo assim não é dedutiva, não é rígida nem abstrata dos fatos
que analisa. Todo o raciocínio jurídico é traçado em meio aos fatos concretos do dia-a-dia sejam fatos
sociais, políticos dos quais surgem as decisões que regulam cada caso concreto em particular.
Saiba mais
Robert Alexy escreve sobre a Teoria da Argumentação – teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Alexy não pretendeu formular apenas uma teoria da argumentação capaz de
identificar os bons e os maus argumentos. Sua proposta foi adotar estrutura dos argumentos de forma
analítica e descritiva. Analisa os princípios gerais de direito, sua importância dentro do ordenamento
jurídico e sua aplicação para fundamentar decisões jurídicas.
O tema central da teoria de Alexy repousa na seguinte pergunta: é possível uma fundamentação
racional das decisões jurídicas? Há a possibilidade de determinar critérios que possam determinar que
um discurso prático ou jurídico seja racional? Alexy demonstra em sua obra que tais critérios podem ser
formulados de forma prática mediante a observância de regras práticas a serem seguidas.
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• Todo falante que aplique um predicado F a um objeto A tem de estar preparado para aplicar F
a todo outro objeto que seja semelhante a A em todos os aspectos importantes.
• Diferentes oradores não podem usar a mesma expressão com diferentes significados.
São as seguintes:
• Todo falante deve, quando lhe é solicitado, fundamentar o que afirma, a não ser quando puder
dar razões que justifiquem a recusa a uma fundamentação.
Fora isso, há mais algumas regras cuja observância é importante. Falaremos delas a partir de agora.
• Quem pretende tratar a pessoa A de maneira diferente da adotada para uma pessoa B, está
obrigado a fundamentar isso.
• Quem ataca uma afirmação que não é objeto da discussão deve dar uma razão para isso.
• Quem introduz uma afirmação que não sirva como argumento a uma manifestação anterior tem,
se isto lhe é pedido, de fundamentar porque introduziu essa afirmação.
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Regras de fundamentação:
• A pessoa que afirma uma proposição normativa, que pressupõe uma regra para a satisfação dos
interesses de outras pessoas, deve poder aceitar as consequências dessa regra também no caso
hipotético em que ela se encontre na situação daquelas pessoas.
• As consequências de cada regra para a satisfação dos interesses de cada um devem poder ser
aceitas por todos.
• As regras morais que servem de base às concepções morais do falante devem passar por uma
análise histórico-crítica. Não passará por essa prova se: t a regra moral perdeu a sua justificação;
t a regra não pôde ser explicada racionalmente desde sua origem nem há novas razões que a
justifiquem agora.
Regras de transição
No discurso prático surgem problemas que obrigam a recorrer a outros tipos de discurso. Isso dá
lugar a mais três regras:
• para qualquer falante e em qualquer momento, é possível passar para um discurso teórico;
• para qualquer falante e em qualquer momento, é possível passar para um discurso de análise
da linguagem;
• para qualquer falante e em qualquer momento, é possível passar para um discurso de teoria
do discurso.
Luís Recaséns Siches defende o emprego de um só método, o da lógica do razoável, definida como
uma razão impregnada de pontos de vista estimativos, de critérios de valorização, de pautas axiológicas,
e, além de tudo, traz consigo os ensinamentos colhidos da experiência própria e também do próximo ao
longo da história.
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Recaséns Siches defende que, assim como a ciência jurídica, a filosofia do direito não tinha condições
de escolher um método ou uma tábua de prioridades entre os vários métodos de interpretação. Decorre
daí, que a única regra que se poderia formular, com universal validade, era a de que o juiz sempre deveria
interpretar a lei de modo que o levasse à solução mais justa dentre todas as possíveis.
Isso não se consubstanciaria em desrespeito à lei, porque, segundo seu pensamento, ao legislador
cabe emitir mandamentos, proibições, permissões, mas não lhe compete o pronunciamento sobre
matéria estranha à legislação, mas, sim, referente apenas à função jurisdicional.
Para Siches, ao contrário do que ocorre com a lógica da inferência, de caráter neutro e explicativo,
a lógica do razoável procura entender os sentidos os vínculos entre as significações dos problemas
humanos, e, portanto, dos políticos e jurídicos, assim como realiza operações de valoração e estabelece
finalidades ou propósitos.
A esse particular, o referido autor formula as seguintes observações: primeiramente entende que
a intuição do juiz acha-se embasada na lógica do razoável e que, quando se fala que o juiz procura
uma justificativa para o que pressentiu intuitivamente, isso não significa que deva recorrer àquelas
pseudomotivações lógico-dedutivas de que se serviram os juristas no século XIX, bastando oferecer uma
justificação objetivamente válida, com embasamento na lógica do humano.
Isso faz com que a função do juiz, embora se mantendo dentro da observância do direito formalmente
válido, seja sempre criadora, por alimentar-se de um amplo complexo de valorações particulares sobre
o caso concreto.
Não se trata, contudo, de direito alternativo, muito menos do uso alternativo do direito, porquanto,
trata-se de que o julgador se valha, ao intuir a solução mais justa aplicável ao caso concreto, dos
métodos tradicionais de interpretação para justificar a sua tomada de decisão.
Recaséns Siches explica ainda que a estimativa jurídica informa ao intérprete sobre quais são os
valores cujo cumprimento deve ou não ser perseguido pelo direito, tais como justiça, dignidade da
pessoa humana, liberdades fundamentais do homem, segurança, ordem, bem-estar geral e paz.
Mas há outros que podem ser englobados no conceito que tradicionalmente se denomina prudência:
sensatez, equilíbrio, possibilidade de prever as consequências da aplicação da norma e de sopesar entre
vários interesses contrapostos, legitimidade dos meios empregados para atingir fins justos etc.
No intuito de concluir, Siches salientou que a lógica do razoável está sempre impregnada por
valorações, ou seja, critérios axiológicos. Essa característica valorativa é totalmente estranha à lógica
formal ou a qualquer teoria da inferência, constituindo um dos aspectos que, definitivamente, distingue
a lógica do razoável da lógica matemática.
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Para o citado autor, a lógica formal não esgota a totalidade do logos, da razão, é apenas um
setor dela. Existem outros setores que pertencem igualmente à lógica, que possuem natureza
completamente diversa da lógica do racional, que é a lógica dos problemas humanos de conduta
prática, a “lógica do razoável”. Fica claro, então, que Luís Recaséns Siches é o dinamizador na ciência
jurídica latino‑americana, das novas teorias em matéria de hermenêutica do direito.
Saiba mais
No século XX, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, os juristas perceberam que não se
podia interpretar o direito por meio de equações lógicas, sem considerar valores e aspectos particulares
de cada caso, não se admitindo o positivismo obcecado nem o jusnaturalismo exagerado.
O pensamento jurídico atual passa a se opor à lógica formal e a utilizar-se da dialética e da lógica
do razoável. O direito como fato gerado no ceio da sociedade e que está em constante evolução,
exige do operador do direito que analise os fatos com uma visão estrita de cada caso, aplicando a
norma de forma a amoldá-la a situações apresentadas e obtendo, assim, o maior grau de êxito em sua
aplicação, abandonando definitivamente o simples silogismo e partindo para a discussão dialética das
questões jurídicas.
Resumo
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REFERÊNCIAS
Audiovisuais
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Textuais
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000