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EPISTEMOLOGIA I

Para algo existir mesmo – um deus, um bicho, um universo, um anjo... – é preciso que alguém tenha
consciência dele. Ou simplesmente que o tenha inventado (Mário Quintana).

1. METAFÍSICA (PIRÂMIDE DE PLATÃO)


2. POSITIVISMO (PRÉDIO DE DESCARTES)
3. FALSIFICACIONISMO (QUEBRA-CABEÇA DE POPPER E DE KUHN)

Filosofia: a crítica das nossas crenças1


Muitas vezes, a filosofia examina crenças que quase todos aceitam acriticamente a maior
parte do tempo. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas
algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos
preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos.
Eis algumas perguntas que qualquer um de nós pode fazer sobre nós mesmos: O que sou eu?
O que é a consciência? Será que eu posso sobreviver à morte do meu corpo? Será que posso ter a
certeza de que as experiências e sensações das outras pessoas são como as minhas? Se eu não
posso partilhar as experiências das outras pessoas, será que posso comunicar com elas? Será que
agimos sempre em função do nosso interesse próprio? Será que sou uma espécie de fantoche,
programado para fazer as coisas que penso fazer em função do meu livre-arbítrio?
Eis algumas perguntas sobre o mundo: Por que razão há algo e não o nada? Qual a diferença
entre o passado e o futuro? Por que razão a causalidade acontece sempre do passado para o futuro,
ou será que faz sentido pensar que o passado pode ser influenciado pelo futuro? Por que razão é a
natureza regular? Será que o mundo pressupõe um Criador? E, se pressupõe, será que podemos
compreender por que razão ele (ou ela ou eles) o criou?
Por fim, eis algumas perguntas sobre nós e o mundo: Como podemos ter a certeza de que o
mundo é realmente como pensamos que é? O que é o conhecimento e que quantidade de
conhecimento temos? O que faz de uma área de investigação uma ciência? (Será a psicanálise uma
ciência? E a economia?) Como conhecemos os objetos abstratos, como os números? Como
conhecemos os valores e os deveres? Como podemos saber se as nossas opiniões são objetivas ou
apenas subjetivas? (Simon Blackburn).
Se tivesse de escolher uma só palavra para descrever a função e "espírito" da filosofia, seria
crítica. Mas o significado desta palavra não deve ser mal entendida. Quotidianamente, esta palavra
tem geralmente um significado mais estrito do que o que tenho em mente. Quando dizemos,
quotidianamente, que "somos críticos relativamente àquela pessoa", queremos geralmente dizer que
lhe encontramos defeitos. A filosofia não é "crítica" neste sentido. Não se trata da procura
rabugenta de defeitos; não é "sempre a deitar abaixo", como as pessoas com maus temperamentos
que todos conhecemos. Ao invés, a filosofia é "crítica" num sentido mais lato. Neste sentido, a
filosofia examina algo para determinar os seus pontos fortes e fracos. A investigação crítica ocupa-
se tanto das virtudes como dos defeitos do que estuda. Ora, o que estuda a filosofia criticamente?
Não é tão fácil responder a esta questão como se poderia pensar. Pode dizer-se, contudo, que a
filosofia critica algumas das crenças mais importantes e comuns dos seres humanos. Um exemplo
seria a crença de que Deus existe. Outro exemplo seria a crença de que há certos atos, como
cumprir promessas ou agir como um patriota, que temos o dever de executar, e outros, como
mentir, que são moralmente errados. Outro exemplo ainda é a crença em certos fins ou "valores" da
existência humana que devemos procurar atingir, por exemplo, ter tanto prazer quanto possível ou,

1
Jerome Stolnitz, A esthetics and Philosophy of Art Criticism: A Critical Introduction , Boston: Houghton Mifflin, 1960.
Tradução de Desidério Murcho. Extraído de: http://blog.domingosfaria.net/2012/01/filosofiacriticadasnossascrencas.html.
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no pólo oposto, praticar o amor cristão abnegado. Descrevi as crenças que a filosofia critica dizendo
que são "importantes e comuns". Será óbvio, a partir dos exemplos, que tais crenças são realmente
comuns. Virtualmente todos os seres humanos adultos, seja qualquer for a cultura ou período
histórico em que viveram, tiveram uma crença de um tipo ou outro sobre cada uma destas questões.
Se o estudante pensar durante uns momentos, descobrirá que isto é verdade também relativamente
a si próprio, por mais que as suas crenças sejam vagas ou inseguras. Mas não podemos
compreender a importância das crenças estudadas pela filosofia até considerarmos o significado das
crenças em geral. As crenças não são como que outras tantas coisas nas prateleiras dos nossos
armazéns intelectuais, geralmente sem qualquer uso, mas a que ocasionalmente limpamos o pó e
tiramos da prateleira — para conversar de trivialidades, por exemplo. As crenças são muito mais
importantes do que isto. Pois controlam e dirigem o curso das nossas vidas. Estamos sempre a agir
à luz das nossas crenças. O que tomamos como verdadeiro sobre o mundo e sobre nós mesmos é
crucial para a nossa decisão de agir de uma maneira e não de outra, para a prossecução de um dado
objetivo e não de outro. As suas crenças sobre si próprio determinam a sua escolha de uma
determinada área de estudos; as suas crenças sobre os outros determinam a sua escolha da pessoa
que convida para sair. Assim, muitas coisas dependem da solidez das nossas crenças. A ação não
será geralmente compensadora nem terá sucesso a não ser que se baseie em crenças fidedignas. A
ação que não conte com a lucidez da crença verdadeira está condenada a ser incerta e fútil. É o
produto da superstição, do "palpite" ou da inércia. As crenças estudadas pela filosofia são as que
subjazem ao nosso comportamento em áreas centrais da experiência humana. No caso da ética, a
filosofia não se ocupa tanto de decisões morais específicas — deverei dizer uma mentira para
ganhar mais nesta transação comercial? — mas antes dos princípios do correto e do incorreto nos
quais a decisão se baseia. Um homem cujos princípios morais não são sólidos irá agir de maneira
mesquinha e repreensível. A situação é semelhante na área de experiência de que nos ocuparemos
— a criação e apreciação artísticas. O prazer que temos com a arte — se o temos — depende das
nossas crenças sobre a sua natureza e valor. Também neste caso, como veremos
pormenorizadamente, as crenças falsas conduzem ao comportamento infrutífero.
O que significa, especificamente, dizer que a filosofia faz a "crítica" das nossas crenças? Para
começar, admitamos que a maior parte das nossas crenças sobre questões vitais como a religião e a
moralidade são manifestamente acríticas. Faça uma vez mais uma pausa para avaliar as suas
crenças sobre estas questões, perguntando-se por que razão veio a ter as crenças que tem. Na
maior parte dos casos, podemos afirmar com segurança, irá descobrir que não "veio a ter" tais
crenças em resultado de uma reflexão prolongada e séria sobre elas. Pelo contrário, aceitou-as com
base em alguma autoridade, isto é, um indivíduo qualquer, ou instituição, que lhe transmitiu essas
crenças. A autoridade pode ser os seus pais, professores, igreja ou amigos. Muitas das nossas
crenças são tomadas de assalto pelo que chamamos vagamente "sociedade" ou "opinião pública".
Estas autoridades, regra geral, não lhe impõem as suas convicções. Ao invés, o leitor absorveu
essas crenças a partir do "clima de opinião" no qual se desenvolveu. Assim, a maior parte das suas
crenças sobre questões como a existência de Deus ou sobre se por vezes é correto mentir são
artigos intelectuais em "segunda mão". Mas isto não significa, claro, que essas crenças sejam
necessariamente falsas ou que não sejam sólidas. Podem perfeitamente ser sólidas. Os artigos em
"segunda mão" por vezes são muito bons. O que está em causa, contudo, é isto: uma crença não é
verdadeira simplesmente porque uma autoridade qualquer diz que o é. Suponha que, perante uma
certa crença, eu lhe perguntava: "Como sabe que isso é verdade?" Certamente que não seria
satisfatório responder "Porque os meus pais (professores, amigos, etc.) me disseram". Isto, em si,
não garante a verdade da crença, porque tais autoridades se enganaram muitas vezes. Verificou-se
que muitas das crenças sobre medicina dos nossos antepassados, que eles transmitiram às gerações
posteriores, eram falsas. E desde que se fundaram as primeiras escolas que os estudantes — graças
aos céus — encontraram erros no que os seus professores diziam e tentaram encontrar por si
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crenças mais sólidas. Por outras palavras, a verdade de uma crença tem de depender dos seus
próprios méritos. Se os seus pais lhe ensinaram que é desastroso abusar de maçãs verdes, então a
asserção deles é verdadeira não porque eles o disseram, mas porque certos fatos (muito
desagradáveis) mostram que é verdadeira. Se o leitor aceitar uma "lei" científica que leu num
manual, essa lei é válida não porque está escrita num manual, mas porque se baseia em provas
experimentais e no raciocínio matemático. Estamos justificados em aceitar uma crença unicamente
quando esta é sustentada por provas e lógica sólida. Mas, a maior parte de nós nunca testa as
nossas crenças desse modo. É aqui que entra a atividade "crítica" da filosofia. A filosofia recusa-se
a aceitar qualquer crença que a prova e o raciocínio não mostre que é verdadeira. Uma crença que
não possa ser estabelecida por este meio não é digna da nossa fidelidade intelectual e é
habitualmente um guia incerto da ação. A filosofia dedica-se, portanto, ao exame minucioso das
crenças que aceitamos acriticamente de várias autoridades. Temos de nos libertar dos preconceitos
e emoções que muitas vezes obscurecem as nossas crenças. A filosofia não aceitará uma crença só
porque tem sido venerada pela tradição ou porque as pessoas acham que é emocionalmente
compensador aceitar essa crença. A filosofia não aceitará uma crença só porque se pensa que é
"simples senso comum" ou porque foi proclamada por homens sábios. A filosofia tenta nada tomar
como "garantido" e nada aceitar "por fé". Dedica-se à investigação persistente e de espírito aberto,
para descobrir se as nossas crenças são justificadas, e até que ponto o são. Deste modo, a filosofia
impede-nos de nos afundarmos na complacência mental e no dogmatismo em que todos os seres
humanos têm tendência para cair.

Check-up filosófico
“Opinião é que nem bunda: cada um tem a sua” (Clint Eastwood).
Concordo Discordo
1. Não existem padrões morais objetivos; julgamentos morais são apenas a
expressão dos valores de culturas específicas.
2. Contanto que não prejudiquem os outros, os indivíduos deveriam ser livres
para perseguir seus objetivos.
3. As pessoas não deveriam usar o carro se pudessem fazer o mesmo trajeto
a pé, de bicicleta ou de trem.
4. É sempre errado tirar a vida de outra pessoa.
5. O direito à vida é tão fundamental que questões financeiras são
irrelevantes em qualquer esforço para salvar vidas.
6. A eutanásia por escolha do próprio paciente deve continuar sendo ilegal.
7. O homossexualismo é errado porque é antinatural.
8. É perfeitamente razoável acreditar na existência de algo mesmo que não
haja possibilidade de prova-la.
9. A posse de drogas para uso pessoal deveria deixar de ser considerada
crime.
10. Existe um bom Deus, todo-poderoso e amoroso.
11. A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra justa.
12. Quando se faz uma escolha, sempre se poderia ter feito a escolha oposta.
13. Nem sempre é correto julgar os indivíduos exclusivamente por seus
méritos.
14. Apreciações sobre obras de arte são puramente uma questão de gosto.
15. Após a morte física, a pessoa continua existindo numa outra forma.
16. O governo não poderia permitir a venda de remédios que não tivessem
sua eficácia e segurança previamente garantidas.
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17. Não existem verdades objetivas; a “verdade” é sempre relativa a


culturas e indivíduos.
18. O ateísmo é uma fé como outra qualquer, porque é impossível provar que
Deus não existe.
19. Saneamento básico e sistema de saúde adequados são geralmente bons
para a sociedade.
20. Em certas circunstâncias, pode ser aconselhável discriminar
positivamente uma pessoa como recompensa por danos causados a ela no
passado.
21. A medicina alternativa vale tanto quanto a medicina tradicional.
22. Um sério dano cerebral pode tirar de alguém toda a consciência e o
senso de individualidade.
23. Deixar que uma criança inocente sofra desnecessariamente, quando se
poderia facilmente impedir, é moralmente condenável.
24. O meio ambiente não deve ser desnecessariamente prejudicado em prol
dos interesses humanos.
25. Michelangelo é um dos maiores artistas da história.
26. Os indivíduos têm direito exclusivo sobre o próprio corpo.
27. Os genocídios são uma prova da capacidade humana de praticar um
grande mal.
28. O Holocausto é uma realidade histórica que aconteceu mais ou menos
como registram os livros de história.
29. Os governos deveriam poder aumentar radicalmente os impostos para
salvar vidas nos países em desenvolvimento.
30. O futuro está determinado; a forma como a vida de alguém se desenrola
é uma questão de destino.

Tensão (t); questão (q)

T1 T2 T3 T4 T5
Q1 Q5 Q10 Q17 Q24
Concordo Concordo Concordo Concordo Concordo
Q27 Q29 Q23 Q28 Q3
Concordo Discordo Concordo Concordo Discordo

T6 T7 T8 T9 T10
Q2 Q26 Q4 Q12 Q19
Concordo Concordo Concordo Concordo Concordo
Q9 Q6 Q11 Q30 Q7
Discordo Concordo Concordo Concordo Concordo

T11 T12 T13 T14 T15


Q20 Q22 Q8 Q14 Q16
Concordo Concordo Discordo Concordo Concordo
Q13 Q15 Q18 Q25 Q21
Discordo Concordo Concordo Concordo Concordo
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0 tensão: suas opiniões sobre os temas das nossas perguntas são totalmente coerentes.
1 ou 2 tensões: você parece ser um pensador de admirável coerência, ainda que não inteiramente.
3 a 5 tensões: suas convicções não são tão consistentes.
6 ou mais tensões: ou você é um pensador incrivelmente refinado ou é um mar de contradições.

T1: A moral é relativa?


T2: É possível dar preço a vida humana?
T3: Existe um Deus bom e todo-poderoso?
T4: Existem verdades absolutas?
T5: Quanto devo proteger o meio ambiente?
T6: Podemos agradar a nós mesmos?
T7: Posso fazer escolhas quanto a meu próprio corpo?
T8: Matar é sempre errado?
T9: O futuro está determinado?
T10: O antinatural está errado?
T11: A discriminação positiva é justificável?
T12: Qual a base do eu?
T13: O que é a fé?
T14: Como julgamos a arte?
T15: O que deveria ser legal?

1. METAFÍSICA (PIRÂMIDE DE PLATÃO)

Mitologia. O mito narra como a partir da vontade dos Seres Sobrenaturais (deuses) uma
realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Universo, ou apenas um fragmento: uma ilha,
uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. Outra função do mito consiste em
revelar os modelos exemplares de todas as atividades humanas significativas: alimentação,
casamento, trabalho, educação, arte, como cozer certo cereal ou caçar um animal com auxílio do
cajado, etc. Todas as culturas (povos, civilizações) têm os seus próprios mitos. Muitos mitos
criaram rituais. Através da repetição dos rituais, nasceram as religiões. Mito e religião (politeístas e
monoteístas), portanto, estão intimamente relacionados.
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Funções do mito. Lévi-Strauss, antropólogo do séc. XX, criador do método estrutural, estudou
os povos ditos primitivos, contestando o racismo e a noção de primitivo. Ele comparou etnografias
realizadas em todos os continentes. A sua grande contribuição foi a de que os chamados selvagens
não são atrasados, menos evoluídos e primitivos, apenas operam com o pensamento mítico (magia).
O mito e o rito não são simples lendas fabulosas, mas uma organização da realidade a partir da
experiência sensível enquanto tal. O mito tem três funções principais: função explicativa, o presente
é explicado por alguma ação que aconteceu no passado, cujos efeitos não foram apagados pelo
tempo, como por exemplo, uma constelação existe porque, há muitos anos, crianças fugitivas e
famintas morreram na floresta, mas uma deusa levou-as para o céu e transformou-as em estrelas;
função organizativa, o mito organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de trocas,
de sexo, de identidade, de poder, etc.) de modo a legitimar e garantir a permanência de um sistema
complexo de proibições e permissões. Ex.: o mito de Édipo existe em várias sociedades e tem a
função de garantir a proibição do incesto. O castigo destinado a quem não obedece às regras
funciona como intimidação; e, por fim, uma função compensatória, o mito narra uma situação
passada, que é a negação do presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma
perda como para garantir-lhes que um erro passado foi corrigido no presente, de modo a oferecer
uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. O mito nos ajuda a se
acomodar no meio em que vivemos. Segundo Lévi-Strauss, o “pensamento selvagem” não é o
pensamento dos “selvagens” ou dos “primitivos” (em oposição ao “pensamento ocidental”), mas o
pensamento em estado selvagem, isto é, o pensamento humano em seu livre exercício, um exercício
ainda não-domesticado em vista da obtenção de um rendimento. O pensamento selvagem não se
opõe ao pensamento científico como duas formas ou duas lógicas mutuamente exclusivas. Sua
relação é, antes, uma relação entre gênero (o pensamento selvagem) e espécie (o pensamento
científico). Ambas as formas de pensamento se utilizam dos mesmos recursos cognitivos; o que as
distingue é o nível do real ao qual eles se aplicam: o nível das propriedades sensíveis (caso do
pensamento selvagem), e o nível das propriedades abstratas (caso do pensamento científico). O
pensamento “selvagem” não é menos lógico do que o pensamento do “civilizado”. O mito é
frequentemente considerado como o espaço da fantasia e da arbitrariedade. Esse pensamento está
equivocado, pois o mito ordena, classifica e dá sentido aos fenômenos. Os mitos de diversas
sociedades, geralmente binários e opositivos (herói e vítima, amigo e inimigo, pai e mãe, cru e
cozido...) são aparentemente diversos e sem vinculações, mas podem sim ser agrupados e
ordenados. Existe, portanto, uma lógica nos mitos.
Do mito ao logos. A Filosofia como uma ciência que estuda as inquietações humanas e visa
explicá-las de maneira racional, surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C, época em que
basicamente tudo era explicado e tinha suas origens na mitologia. Fenômenos como um raio, por
exemplo, eram tidos como uma manifestação da ira de Zeus, o comandante de todos os outros
deuses. Essa explanação “divino-mitológica” para a realidade se chamou, então, cosmogonia.
Porém, os pensadores inquietos da época quiseram responder e explicar fenômenos e perguntas
como essas de maneira racional e lógica, o que foi identificada como cosmologia. Começa-se, então,
a se distinguir o mito da lógica, o que antes era unido (mitologia ou lógica do mito) passa a ser
separado, para se entender e se abordar a lógica do fato e/ou fenômeno, o que a filosofia
caracteriza como o período de transição “do mito ao logos”, ou seja, da explicação por meio de
histórias oralmente repassadas (mitos) para a explicação racional e lógica da coisas (logos). Os
precursores da Filosofia foram os pré-socráticos, filósofos que buscavam a origem natural do
universo e das coisas através de explicações lógicas e fundamentadas na observação e estudo da
realidade; eram, em geral, monistas, ou seja, acreditavam que o universo tinha sido gerado através
de um único elemento ou fenômeno. Os pré-socráticos, como o próprio nome alude, antecederam a
Sócrates. Eles eram naturalistas, buscavam a essência e o princípio das coisas, o que chamavam de
arché.
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A alegoria da caverna de Platão. O que é filosofia? Qual é a tarefa


do filósofo? Platão, com a alegoria da caverna, utilizou a linguagem
mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas
crendices e superstições. A história narra a vida de alguns homens que
nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam voltados para o
fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no
fundo da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos habitantes
resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo ficou cego
devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com
natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou para a caverna
para narrar o fato aos seus amigos, mas eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o
mataram. O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz
respeito à importância do conhecimento e da educação como forma de superação da ignorância, isto
é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o
conhecimento filosófico-científico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas
não no acaso, mas na causalidade. Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da
consciência, isto é, do conhecimento abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia
e pístis) e o domínio das ideias (diánoia e nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das
ideias - um mundo real e verdadeiro - e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no
mundo das coisas sensíveis - este mundo, no grau da apreensão de imagens (eikasia), as quais são
mutáveis, não são perfeitas como as coisas no mundo das ideias e, por isso, não são objetos
suficientemente bons para gerar conhecimento perfeito. Assim, o ser humano deveria procurar o
mundo da verdade. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser
a realidade absoluta. Os prisioneiros somos nós que, segundo as nossas tradições e hábitos,
estamos acostumados com as noções sem que delas reflitamos para fazer juízos corretos, mas
apenas acreditamos e usamos como nos foi transmitido. A caverna é o mundo ao nosso redor, físico,
sensível em que as imagens prevalecem sobre os conceitos, formando em nós opiniões por vezes
errôneas e equivocadas, (pré-conceitos, pré-juízos). Quando começamos a descobrir a verdade,
temos dificuldade para entender e apanhar o real (ofuscamento da visão ao sair da caverna) e para
isso, precisamos nos esforçar, estudar, aprender, querer saber. O mundo fora da caverna
representa o mundo real que, para Platão, é o mundo inteligível por possuir Formas ou Ideias que
guardam consigo uma identidade indestrutível e imóvel, garantindo o conhecimento dos seres
sensíveis. O inteligível é o reino da matemática e é o modo como apreendemos o mundo e
construímos o saber humano. A saída da caverna é a vontade ou a obrigação moral que o homem
esclarecido tem de ajudar os seus semelhantes a saírem do mundo da ignorância e do mal para
construírem um mundo (Estado) mais justo, com sabedoria. O Sol representa a Ideia suprema de
Bem - ente supremo que governa o inteligível - que permite ao homem conhecer de onde deriva
toda a realidade (o cristianismo o confundiu com Deus). Todo conhecimento é uma recordação.
Sócrates ensinava que sábio é aquele que sabe que não sabe. Mas, então, como é possível o
conhecimento? Se as ideias não nascem das experiências sensíveis, de onde se originam? Platão
exclui a hipótese de que as ideias derivam dos sentidos: elas são pura visão intelectual, uma
representação da tela da mente. Para resolver o problema da origem das ideias, o filósofo recorre à
doutrina da reminiscência, segundo a qual conhecer é, para a alma, lembrar o que já sabia antes de
encarnar em um corpo. O que torna possível o conhecimento? Como conseguimos empregar os
conceitos gerais, ou seja, classificar os objetos segundo a classe a que pertencem? O processo que
leva à formação dos conceitos não nasce da experiência: de fato, não formamos a ideia de cavalo
observando muitos cavalos. Platão resolve o dilema propondo a teoria do inatismo: a alma conhece
as coisas recuperando a lembrança adormecida daquilo que viu no mundo extraterreno antes de
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reencarnar. O pensamento se estrutura a partir de esquemas conceituais inatos, potenciais quando


do nascimento e desenvolvimento depois por meio da aprendizagem sensorial.
Pirâmide platônica. Ciência: busca a unidade na multiplicidade. Filosofia: pretensão metafísica
do conhecimento e busca dos princípios últimos de todas as coisas (busca a unidade de tudo). Para
os gregos, ciência (episteme) é toda espécie de saber e se contrapunha ao chamado saber vulgar
(doxa). Ciência é todo saber culto, especulado, teórico. Na Idade Média, o termo prossegue com o
mesmo significado. Somente na Idade Moderna, a ciência passa a ter como objeto fatos reais.
Dialética. Diálogo constante entre uma tese e uma antítese gerando uma síntese. Para a
dialética, os objetos são analisados não de forma fixa, mas em movimento. Nada está acabado,
podendo sempre se transformar. Desenvolver o fim do processo é sempre iniciar um novo processo.
O método dialético é aquele que procura apreender o mundo dos fenômenos por meio das relações e
conflitos entre eles ou em suas contradições internas e das mudanças na natureza ou na sociedade
que são o resultado desses choques. Há quatro leis fundamentais para a aplicação do método
dialético: a) “tudo está ligado”, ou seja, ações e reações recíprocas, unidade na diversidade; b)
“tudo muda”, ou seja, o processo de mudança dialética, a negação da negação; c) “salto qualitativo”,
ou seja, a quantidade produz a mudança na qualidade; d) “choque dialético”, ou seja, a
interpenetração entre tese e antítese, a luta dos contrários que traz o novo. Esse método é bastante
utilizado na área jurídica: exposição de argumentos favoráveis e desfavoráveis acerca de uma
problemática.

2. POSITIVISMO (PRÉDIO DE DESCARTES)

Revolução Científica Moderna (séc. XVI/XVII). É a ruptura das ciências particulares (ciências
naturais como a física, a química e a biologia) com a filosofia. Somente no séc. XIX é que as ciências
humanas e sociais são criadas por meio do positivismo. O método científico utilizado é o indutivista
e a imagem que resume essa ciência é o prédio cartesiano. Com isso, há a superação da ciência
metafísica grega que tinha a imagem da pirâmide platônica como modelo.
Racionalismo de Descartes. O racionalismo ensina que a razão é a fonte do conhecimento.
Descartes recomendava que desconfiássemos das percepções
sensoriais, responsabilizando-as pelos frequentes erros do
conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas
externas devia ser conseguido através do trabalho lógico da mente.
Nesse sentido, considerava que só os matemáticos puderam encontrar
algumas razões certas e evidentes. Descartes afirmava que, para
conhecermos a verdade, é preciso, de início, colocarmos todos os
nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para
criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que
possamos ter plena certeza. Fazendo uma aplicação metódica da dúvida,
o filósofo foi considerando como incertas todas as percepções
sensoriais, todas as noções adquiridas sobre os objetos materiais. E
prosseguiu colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que constitui a realidade e o próprio
conteúdo dos pensamentos. Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de
dúvidas era a seguinte: meus pensamentos existem. E a existência desses pensamentos se
confundem com a essência da minha própria existência como ser pensante. Disso decorre a
conclusão: Cogito ergo sum (Penso, logo existo). Para Descartes, essa é a verdade absolutamente
firme, certa e segura, que, por isso mesmo, deveria ser adotada como princípio básico de toda a
filosofia. As características do prédio cartesiano e, portanto, da ciência indutivista moderna, são as
seguintes: mecanicismo, determinismo, atomismo, a-histórico, hierárquico, dogmático, linear, rígido,
estático, fundacionista (infalibilidade: positivismo).
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Dedutivo e indutivo. 1. Indutivo: o raciocínio indutivo se caracteriza pelo fato de suas


conclusões apresentarem conteúdo de maior abrangência que suas premissas. Assim, se opera uma
generalização a partir de algumas observações particulares (ou menos abrangentes) para uma lei
universal (ou mais abrangente). Podemos resumir a posição indutivista da seguinte forma: Se um
grande número de As foi observado sob uma ampla variedade de condições, e se todos esses As
observados possuíam sem exceção a propriedade B, então todos os As têm a propriedade B. O
argumento indutivo é aquele em que, estando de posse de enumerações de indivíduos ou de
qualidades, chegamos a uma sentença que de algum modo engloba esta enumeração. Duas condições
são necessárias: grande quantidade e ampla variedade. 2. Dedutivo: o raciocínio dedutivo se
caracteriza pelo fato de suas premissas apresentarem conteúdo de maior abrangência que suas
conclusões. Partindo de leis e teorias universais, é possível derivar delas várias consequências que
servem como explicações e previsões; por exemplo, dado o fato de que os metais se expandem
quando aquecidos, é possível derivar o fato de que trilhos contínuos de ferrovias não interrompidos
por pequenos espaços se alterarão sob o calor do Sol.
Positivismo. A revolução industrial mudou radicalmente o modo de vida na Europa. Os
entusiasmos se cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e social irrefreável, uma vez
que possuíam os instrumentos para a solução dos problemas que afligem a humanidade. Esses
instrumentos eram, na concepção de época, a ciência e suas aplicações na indústria, bem como o
livre intercâmbio e a educação. Dessa forma, a era do positivismo é perpassada por um otimismo
geral, que brota da certeza de progresso rumo a condições de bem estar generalizado em uma
sociedade de “ordem e progresso”. Nessa nova sociedade, o processo de industrialização e o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia constituem os pilares do meio sociocultural que o
positivismo interpreta, exalta e favorece. O positivismo reivindica o primado da ciência: nós
conhecemos somente aquilo que as ciências nos dão a conhecer, pois o
único método de conhecimento é o das ciências naturais. A
positividade da ciência e a divinização do fato, onde o dado social e
político é tudo, leva a mentalidade positivista a combater as
concepções idealistas e espiritualistas da realidade, concepções que os
positivistas rotulavam como metafísicas, embora mais tarde ele mesmo
caiu em uma metafísica igualmente dogmática. Para Comte (1798-
1857), o ser humano passa por três estágios: todo homem é teólogo,
na infância; é metafísico, em sua juventude; e é físico em sua
maturidade. Com a lei dos três estágios, Comte constrói uma grandiosa
filosofia da história, que se apresenta como o esquema de toda a
evolução da humanidade. O estágio atual, para Comte, é o estágio positivo. Os métodos teológicos e
metafísicos não são mais empregados por ninguém. Considerando a evolução da sociedade, o
progresso social também segue a dinâmica dessas três leis: ao estágio teológico, corresponde a
supremacia do poder militar (feudalismo); ao estágio metafísico, corresponde a revolução (que
começa com a Reforma Protestante e termina com a Revolução Francesa); ao estágio positivo,
corresponde a sociedade industrial. Dessa forma, o verdadeiro homem, que superou as
superstições, as crenças e as idealizações, acredita somente no poder da ciência que, aliada à
tecnologia, conduzirão a humanidade, enfim, a um reino de bem-estar. Esse bem-estar será
marcado pelo fim dos problemas materiais fundamentais que afligem a humanidade. A ciência
positivista abandona a causa primeira e valoriza o estado atual dos fenômenos, ou seja, não
interessa à ciência como foi e o porque é, mas sim o como é. A evolução e progresso são
inexoráveis e seguem uma linha evolutiva. O método defendido é o indutivo: as leis gerais que
regem os fenômenos de toda ordem são descobertas a partir da observação sistemática. A teoria é
extraída do real – indução - e não o contrário – dedução. A ciência é a autoridade legítima acima da
política e religião e ela trata apenas do observável e do fato. Do positivismo surgiu o cientificismo,
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que é uma crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo. A ciência é o espelho da
realidade. Ideologia da ciência: crença no progresso e na evolução dos conhecimentos científicos
que, um dia, explicarão totalmente a realidade e permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites
para a ação humana. Mitologia da ciência: crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado
sobre as coisas e os homens, dando-lhes o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um
conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis. Disso criou-se a ilusão
da neutralidade da ciência, porém a ciência imparcial não existe, pois quando o cientista escolhe
uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos
resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas.

A condição humana (1933), pintura de


René Magritte.
Ao olharmos essa obra, temos a
impressão inical de que sobre o cavalete
há uma tela representando fielmente a
paisagem externa. Podemos comparar
essa ilusão à mesma ilusão daqueles que
veem a ciência como espelho da
realidade.
Ciências Humanas. A situação das ciências humanas é especial. Em primeiro lugar, porque o
homem como objeto científico é uma ideia surgida apenas no séc. XIX, segundo Foucault. Até então
tudo quanto se referia ao humano era estudado pela Filosofia. Em segundo lugar, porque elas
surgiram depois que as ciências matemáticas e naturais estavam constituídas e já haviam definido a
ideia de cientificidade, de métodos e conhecimentos científicos, de modo que as ciências humanas
foram levadas a imitar e copiar o que aquelas ciências haviam estabelecido, tratando o homem como
uma coisa matematizável e experimentável. Essa visão de ciência é positivista. Como tratar o
homem como um objeto matematizável e experimentável? Por isso, no séc. XX, o positivismo foi
duramente criticado por várias teorias, mas continuou vigorando em várias ciências (até os dias
atuais). Exemplos: psicologia positivista: o seu objeto não é o psiquismo como consciência, mas o
comportamento observável que pode ser tratado com o método experimental-indutivista das
ciências naturais; a sociologia positivista estuda a sociedade como fato afirmando que o fato social
deve ser tratado como uma coisa à qual são aplicados os procedimentos de análise e síntese criados
pelas ciências naturais.
Mecanicismo e Deus. Diante da concepção mecanicista do universo, própria do positivismo /
cientificismo, pergunta-se: Deus ainda tem espaço? Você acredita em Deus? Se sim, em um Deus
imanente ou transcendente? Levemos, então, a sério a ideia do espectro de probabilidades e
coloquemos ao longo dele os juízos humanos sobre a existência de Deus, entre dois extremos de
certezas opostas. O espectro é contínuo, mas pode ser representado por sete marcos: 1 Teísta
convicto. Probabilidade de 100% de que Deus existe. “Eu não acredito, eu sei”. (Jung). 2 Teísta de
facto. Probabilidade muito alta, mas que não chega aos 100%. “Não tenho como saber com certeza,
mas acredito fortemente em Deus e levo minha vida na pressuposição de que ele está lá”. 3
Tecnicamente agnóstico, mas com uma tendência ao teísmo. Maior que 50%, mas não muito alta.
“Tenho muitas incertezas, mas estou inclinado a acreditar em Deus”. 4 Agnóstico completamente
imparcial. Exatamente 50%. “A existência e a inexistência de Deus têm probabilidades exatamente
iguais”. 5 Tecnicamente agnóstico, mas com uma tendência ao ateísmo. Inferior a 50%, mas não
muito baixa. “Não sei se Deus existe, mas estou inclinado a não acreditar”. 6 Ateu de facto.
Probabilidade muito baixa, mas que não chega a zero. “Não tenho como saber com certeza, mas
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acho que Deus é muito improvável e levo minha vida na pressuposição de que ele não está lá”. 7
Ateu convicto. “Sei que Deus não existe, com a mesma convicção com que Jung 'sabe' que ele
existe”. (Deus, um delírio, de Richard Dawkins). Qual é o seu número?

Questões
1. a) Leia os trechos que seguem: “O recurso a causas ou princípios não acessíveis ao método da
ciência não dá origem a conhecimentos; a metafísica, que recorre a tal método, não tem nenhum
valor”. (...) “O método da ciência é puramente descritivo, no sentido de descrever os fatos e
mostrar as relações constantes entre os fatos expressos pelas leis, que permitem a previsão dos
próprios fatos” (Nicola Abaggano). Identifique e caracterize a concepção filosófica subjacente a
estes trechos, explicitando seus pressupostos; b) O espírito humano, até hoje, fez uma trajetória que
se iniciou nas superstições e nas crenças infantis, passando por idealismos juvenis e finalmente
culmina no espírito positivo. Quais são os três estágios da humanidade, segundo Comte? Explique-
os; c) Explique as características da ciência indutivista moderna a partir da imagem do prédio
cartesiano. Além disso, demonstre a superação da ciência moderna à ciência metafísica grega que
tinha como imagem a pirâmide platônica; d) O seu curso (ciência) é positivista ou não-positivista?
Justifique.

2. Classifique os seguintes argumentos em indutivos ou dedutivos.


a. Jânio Quadros renunciou à presidência em circunstâncias excepcionais. Ora, todo aquele que
renuncia à presidência em circunstâncias excepcionais pretende ser reconduzido triunfalmente ao
poder. Portanto, o que Jânio pretendia era isso: ser reconduzido triunfalmente ao poder.
(a) indutivo (b) dedutivo
b. 73% da mão-de-obra na África do Norte está voltada para a agricultura. O mesmo ocorre com
76% dela na África Negra, 62% na América Central, 55% na América do Sul, 70% no Sudoeste da
Ásia, 74% na Ásia Meridional e 71% na Ásia Oriental. Por conseguinte os países subdesenvolvidos
se caracterizam pela grande proporção da população empregada na agricultura.
(a) indutivo (b) dedutivo
c. 92% das exportações da Venezuela e do Iraque são de petróleo; o café representa 80% das
exportações da Colômbia. Em porcentagens semelhantes se encontram o cobre nas exportações do
Chile e o estanho, nas da Bolívia. Assim, a dependência econômica dos países subdesenvolvidos se
caracteriza pelo fato de que frequentemente suas exportações são orientadas para um número
reduzido de produtos.
(a) indutivo (b) dedutivo
d. Os países subdesenvolvidos apresentam graves deficiências, dentre elas, deficiências na
alfabetização. A Índia, o Peru e a Bolívia são países cujo índice de analfabetismo é acima do normal.
(a) indutivo (b) dedutivo
e. Os professores do departamento de educação realizam suas avaliações de forma ajuizada e
equitativa e obtém, por parte dos alunos, grande aceitação. Os professores do departamento de
física e de história são coerentes em suas avaliações e também têm grande aceitação por parte dos
alunos. É fato que, se o professor realiza a avaliação de forma justa e coerente, encontra alunos
satisfeitos.
(a) indutivo (b) dedutivo
f. Sabe-se que disciplinas teóricas têm, normalmente, pouca aceitação dos alunos de áreas exatas.
As disciplinas de teoria da ciência e teoria da ética são disciplinas teóricas, portanto, disciplinas de
pouca aceitação por alunos de contabilidade e engenharia mecânica.
(a) indutivo (b) dedutivo
g. Elabore dois argumento: um dedutivo e outro indutivo.
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3. FALSIFICACIONISMO (QUEBRA-CABEÇA DE POPPER E DE KUHN)

Falsificacionismo de Popper. Segundo Popper, o valor da ciência não está na comprovação


experimental das teorias científicas por meio do acúmulo de proposições de observação singulares
que confirmem a hipótese, mas na possibilidade de provas experimentais poderem falsear os seus
enunciados científicos. Os fatos nunca podem provar
positivamente que uma teoria é verdadeira; podem, porém,
falseá-la. O que caracteriza o conhecimento científico é essa
possibilidade de se provar que uma teoria científica está errada
e de se a corrigir ou substituir por outra melhor. O método
adotado consiste em identificar os problemas de investigação,
que surgem através de dúvidas que não encontram respostas
nas teorias vigentes, propondo hipóteses ousadas (quanto mais
falseável for uma teoria, mais científica será) e, através de
testes experimentais que busquem a falseabilidade e a crítica
intersubjetiva (modus Tollens), localizar os possíveis erros
dessas hipóteses e teorias. À medida que se vai provando que
algumas idéias são falsas, cria-se a necessidade de produzir
outras melhores que não contenham as falhas das anteriores. É
dessa forma que o conhecimento científico cresce, por um processo de substituição ou renovação de
suas teorias, e não pela acumulação de certezas.
Do indutivismo (positivismo) ao hipotético-dedutivo (falsificacionismo). Como passar da
experiência à teoria? Para o indutivismo, deve-se promover a transição justificada de enunciados
singulares – ancorados na observação – para enunciados universais que vão além do que foi
constatado. Tudo está em saber que formas de generalização são confiáveis. Mesmo porque o que
extrapola indevidamente o observado carece de sustentação epistêmica. Já o modelo hipotético-
dedutivo surgiu para superar o indutivismo. Por exemplo, tome-se a aparição de um rato morto
junto à geladeira. Para explicar esse fato, deve-se formular explicações conjecturais ou hipotéticas,
tais como: morreu de causa natural, esbarrou em fio desencapado embaixo da geladeira e outras
hipóteses ainda mais imaginativas. Um levantamento cuidadoso do que pode ter acontecido –
investigação no local, perguntas aos moradores da casa – leva à informação de que na noite anterior
uma isca de queijo envenenado fora colocada sob a geladeira. O leigo se daria por satisfeito se lhe
fosse dito que o rato morreu por ter ingerido queijo envenenado. Só que, em ciência, a explicação só
é completa quando se pode contar com uma lei geral ou uma hipótese universal. A hipótese fica
assim: “Todo rato que ingerir dose superior a 3 mg do veneno “x” morre em fração de minutos”.
Caso suceda o que foi previsto, a explicação é corroborada. Do contrário, é refutada.

INDUTIVISMO FALSIFICACIONISMO
A ciência começa com a observação. A ciência começa com problemas.
Teorias científicas são formadas por Teorias científicas são conjecturas que visam
generalização indutiva a partir de responder os problemas propostos.
proposições de observação.
Teorias científicas podem ser verificadas Teorias científicas não podem ser verificadas, mas
(critério da verificabilidade) ou falsificadas. somente falsificadas.

Revoluções científicas em Kuhn. Para Kuhn, os cientistas, normalmente, procuram resolver


os problemas e desenvolver o potencial de suas teorias e, assim, comprovar que estão corretas e
conforme ao paradigma vigente. Mesmo que encontrem alguns casos ou provas falseadoras, custam
a abandonar suas teorias. Os fatos, provas e casos novos que conflitam com as teorias vigentes do
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paradigma tendem a ser ignorados por eles, pois acreditam fortemente que o seu paradigma tem a
resposta para os problemas levantados. Somente em casos críticos, quando os problemas se
acumulam e viram anomalias (momentos de crise/revolução), é que podem abandonar uma teoria (o
paradigma) e a substituir por outra melhor. Os cientistas mudam de paradigma, abandonando-o,
apenas quando o novo que surgir for mais forte, não contendo as falhas do anterior e dando-lhes
maiores possibilidades explicativas. Em geral, quem funda um novo paradigma são pessoas de fora,
isto é, pertencem a outra área de conhecimento. Os cientistas aderem por conversão ou persuasão
ao que consideram ser o melhor paradigma para continuar a fazer ciência. O quadro da progressão
da ciência pode ser assim descrito: Pré-ciência – ciência normal (paradigma) – crise-revolução –
nova ciência normal (paradigma). A ciência não caminha numa via linear, contínua e progressiva,
mas por saltos e revoluções.
• 1. A ciência se desenvolve a partir de descobertas da comunidade científica (e não individual) e
se constitui através da aceitação de paradigmas (métodos e visões de mundo; padrão, um modelo,
uma regra que estabelece limites). A ciência é um produto histórico.
• 2. O paradigma é o campo no qual a CIÊNCIA NORMAL trabalha, sem crise. Fazer ciência normal
significa resolver QUEBRA-CABEÇA, isto é, problemas definidos
pelo paradigma. A ciência normal é cumulativa. Insucessos na
resolução do quebra-cabeça é um insucesso do pesquisador e
não do paradigma.
• 3. As anomalias são problemas que a comunidade científica
tem de enfrentar e que determina a CRISE do paradigma. Com a
crise inicia-se o período da ciência extraordinária. Para
solucionar anomalias pontuais utiliza-se hipóteses ad hoc.
• 4. As REVOLUÇÕES são momentos de ruptura e de criação de
novas teorias. A mudança de paradigmas pode ser comparado a
mudança gestáltica. É um período não-cumulativo.
• 5. Após, surge uma NOVA CIÊNCIA NORMAL. A ciência não
caminha numa via linear, contínua e progressiva, mas por saltos
e revoluções. A evolução da ciência é ateleológica.
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15

Questões

1. Compare as concepções positivista e falsificacionista em relação aos seguintes tópicos: a) ao modo


como é concebido o ponto de partida do método científico; b) à concepção das hipóteses ou teorias;
c) ao critério de cientificidade; d) à importância da indução; e) à atitude do cientista em relação às
suas teorias.

2. Para fazer parte da ciência, uma hipótese deve ser falsificável. Eis alguns exemplos:
a. Nunca chove às quartas-feiras.
b. Todas as substâncias se expandem quando aquecidas.
c. Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da superfície da Terra, caem
diretamente para baixo se não forem impedidos.
d. Quando um raio de luz é refletido de um espelho plano, o ângulo de incidência é igual ao ângulo
de reflexão.
e. Ou está chovendo ou não está chovendo.
f. Uma planta é uma planta.
g. Todos os pontos num círculo euclidiano são equidistantes do centro.
h. A sorte é possível na especulação esportiva.
i. Deus existe.
Quais proposições são falsificáveis e quais não são falsificáveis? Quais são verdadeiras e falsas? O
que isso significa?

3. Quanto mais falsificável (grau de falsificabilidade) for uma teoria melhor ela será. Quanto mais
uma teoria afirma, mais oportunidade potencial haverá para mostrar que o mundo de fato não se
comporta da maneira como mostrado pela teoria. Exemplo: 1. Marte se move numa elipse em torno
do Sol; 2. Todos os planetas se movem em elipse em torno de seus sóis. Qual, no exemplo acima, é
a teoria mais falsificável e, portanto, mais científica? Por quê?

SEMINÁRIOS:
1. O nome da rosa (Umberto Eco);
2. A vida de Galileu;
3. O desafio de Darwin;
4. Freud além da alma;
5. Cobaias;
6. Óleo de Lourenzo;
7. Ela.

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