Para algo existir mesmo – um deus, um bicho, um universo, um anjo... – é preciso que alguém tenha
consciência dele. Ou simplesmente que o tenha inventado (Mário Quintana).
1
Jerome Stolnitz, A esthetics and Philosophy of Art Criticism: A Critical Introduction , Boston: Houghton Mifflin, 1960.
Tradução de Desidério Murcho. Extraído de: http://blog.domingosfaria.net/2012/01/filosofiacriticadasnossascrencas.html.
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no pólo oposto, praticar o amor cristão abnegado. Descrevi as crenças que a filosofia critica dizendo
que são "importantes e comuns". Será óbvio, a partir dos exemplos, que tais crenças são realmente
comuns. Virtualmente todos os seres humanos adultos, seja qualquer for a cultura ou período
histórico em que viveram, tiveram uma crença de um tipo ou outro sobre cada uma destas questões.
Se o estudante pensar durante uns momentos, descobrirá que isto é verdade também relativamente
a si próprio, por mais que as suas crenças sejam vagas ou inseguras. Mas não podemos
compreender a importância das crenças estudadas pela filosofia até considerarmos o significado das
crenças em geral. As crenças não são como que outras tantas coisas nas prateleiras dos nossos
armazéns intelectuais, geralmente sem qualquer uso, mas a que ocasionalmente limpamos o pó e
tiramos da prateleira — para conversar de trivialidades, por exemplo. As crenças são muito mais
importantes do que isto. Pois controlam e dirigem o curso das nossas vidas. Estamos sempre a agir
à luz das nossas crenças. O que tomamos como verdadeiro sobre o mundo e sobre nós mesmos é
crucial para a nossa decisão de agir de uma maneira e não de outra, para a prossecução de um dado
objetivo e não de outro. As suas crenças sobre si próprio determinam a sua escolha de uma
determinada área de estudos; as suas crenças sobre os outros determinam a sua escolha da pessoa
que convida para sair. Assim, muitas coisas dependem da solidez das nossas crenças. A ação não
será geralmente compensadora nem terá sucesso a não ser que se baseie em crenças fidedignas. A
ação que não conte com a lucidez da crença verdadeira está condenada a ser incerta e fútil. É o
produto da superstição, do "palpite" ou da inércia. As crenças estudadas pela filosofia são as que
subjazem ao nosso comportamento em áreas centrais da experiência humana. No caso da ética, a
filosofia não se ocupa tanto de decisões morais específicas — deverei dizer uma mentira para
ganhar mais nesta transação comercial? — mas antes dos princípios do correto e do incorreto nos
quais a decisão se baseia. Um homem cujos princípios morais não são sólidos irá agir de maneira
mesquinha e repreensível. A situação é semelhante na área de experiência de que nos ocuparemos
— a criação e apreciação artísticas. O prazer que temos com a arte — se o temos — depende das
nossas crenças sobre a sua natureza e valor. Também neste caso, como veremos
pormenorizadamente, as crenças falsas conduzem ao comportamento infrutífero.
O que significa, especificamente, dizer que a filosofia faz a "crítica" das nossas crenças? Para
começar, admitamos que a maior parte das nossas crenças sobre questões vitais como a religião e a
moralidade são manifestamente acríticas. Faça uma vez mais uma pausa para avaliar as suas
crenças sobre estas questões, perguntando-se por que razão veio a ter as crenças que tem. Na
maior parte dos casos, podemos afirmar com segurança, irá descobrir que não "veio a ter" tais
crenças em resultado de uma reflexão prolongada e séria sobre elas. Pelo contrário, aceitou-as com
base em alguma autoridade, isto é, um indivíduo qualquer, ou instituição, que lhe transmitiu essas
crenças. A autoridade pode ser os seus pais, professores, igreja ou amigos. Muitas das nossas
crenças são tomadas de assalto pelo que chamamos vagamente "sociedade" ou "opinião pública".
Estas autoridades, regra geral, não lhe impõem as suas convicções. Ao invés, o leitor absorveu
essas crenças a partir do "clima de opinião" no qual se desenvolveu. Assim, a maior parte das suas
crenças sobre questões como a existência de Deus ou sobre se por vezes é correto mentir são
artigos intelectuais em "segunda mão". Mas isto não significa, claro, que essas crenças sejam
necessariamente falsas ou que não sejam sólidas. Podem perfeitamente ser sólidas. Os artigos em
"segunda mão" por vezes são muito bons. O que está em causa, contudo, é isto: uma crença não é
verdadeira simplesmente porque uma autoridade qualquer diz que o é. Suponha que, perante uma
certa crença, eu lhe perguntava: "Como sabe que isso é verdade?" Certamente que não seria
satisfatório responder "Porque os meus pais (professores, amigos, etc.) me disseram". Isto, em si,
não garante a verdade da crença, porque tais autoridades se enganaram muitas vezes. Verificou-se
que muitas das crenças sobre medicina dos nossos antepassados, que eles transmitiram às gerações
posteriores, eram falsas. E desde que se fundaram as primeiras escolas que os estudantes — graças
aos céus — encontraram erros no que os seus professores diziam e tentaram encontrar por si
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crenças mais sólidas. Por outras palavras, a verdade de uma crença tem de depender dos seus
próprios méritos. Se os seus pais lhe ensinaram que é desastroso abusar de maçãs verdes, então a
asserção deles é verdadeira não porque eles o disseram, mas porque certos fatos (muito
desagradáveis) mostram que é verdadeira. Se o leitor aceitar uma "lei" científica que leu num
manual, essa lei é válida não porque está escrita num manual, mas porque se baseia em provas
experimentais e no raciocínio matemático. Estamos justificados em aceitar uma crença unicamente
quando esta é sustentada por provas e lógica sólida. Mas, a maior parte de nós nunca testa as
nossas crenças desse modo. É aqui que entra a atividade "crítica" da filosofia. A filosofia recusa-se
a aceitar qualquer crença que a prova e o raciocínio não mostre que é verdadeira. Uma crença que
não possa ser estabelecida por este meio não é digna da nossa fidelidade intelectual e é
habitualmente um guia incerto da ação. A filosofia dedica-se, portanto, ao exame minucioso das
crenças que aceitamos acriticamente de várias autoridades. Temos de nos libertar dos preconceitos
e emoções que muitas vezes obscurecem as nossas crenças. A filosofia não aceitará uma crença só
porque tem sido venerada pela tradição ou porque as pessoas acham que é emocionalmente
compensador aceitar essa crença. A filosofia não aceitará uma crença só porque se pensa que é
"simples senso comum" ou porque foi proclamada por homens sábios. A filosofia tenta nada tomar
como "garantido" e nada aceitar "por fé". Dedica-se à investigação persistente e de espírito aberto,
para descobrir se as nossas crenças são justificadas, e até que ponto o são. Deste modo, a filosofia
impede-nos de nos afundarmos na complacência mental e no dogmatismo em que todos os seres
humanos têm tendência para cair.
Check-up filosófico
“Opinião é que nem bunda: cada um tem a sua” (Clint Eastwood).
Concordo Discordo
1. Não existem padrões morais objetivos; julgamentos morais são apenas a
expressão dos valores de culturas específicas.
2. Contanto que não prejudiquem os outros, os indivíduos deveriam ser livres
para perseguir seus objetivos.
3. As pessoas não deveriam usar o carro se pudessem fazer o mesmo trajeto
a pé, de bicicleta ou de trem.
4. É sempre errado tirar a vida de outra pessoa.
5. O direito à vida é tão fundamental que questões financeiras são
irrelevantes em qualquer esforço para salvar vidas.
6. A eutanásia por escolha do próprio paciente deve continuar sendo ilegal.
7. O homossexualismo é errado porque é antinatural.
8. É perfeitamente razoável acreditar na existência de algo mesmo que não
haja possibilidade de prova-la.
9. A posse de drogas para uso pessoal deveria deixar de ser considerada
crime.
10. Existe um bom Deus, todo-poderoso e amoroso.
11. A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra justa.
12. Quando se faz uma escolha, sempre se poderia ter feito a escolha oposta.
13. Nem sempre é correto julgar os indivíduos exclusivamente por seus
méritos.
14. Apreciações sobre obras de arte são puramente uma questão de gosto.
15. Após a morte física, a pessoa continua existindo numa outra forma.
16. O governo não poderia permitir a venda de remédios que não tivessem
sua eficácia e segurança previamente garantidas.
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T1 T2 T3 T4 T5
Q1 Q5 Q10 Q17 Q24
Concordo Concordo Concordo Concordo Concordo
Q27 Q29 Q23 Q28 Q3
Concordo Discordo Concordo Concordo Discordo
T6 T7 T8 T9 T10
Q2 Q26 Q4 Q12 Q19
Concordo Concordo Concordo Concordo Concordo
Q9 Q6 Q11 Q30 Q7
Discordo Concordo Concordo Concordo Concordo
0 tensão: suas opiniões sobre os temas das nossas perguntas são totalmente coerentes.
1 ou 2 tensões: você parece ser um pensador de admirável coerência, ainda que não inteiramente.
3 a 5 tensões: suas convicções não são tão consistentes.
6 ou mais tensões: ou você é um pensador incrivelmente refinado ou é um mar de contradições.
Mitologia. O mito narra como a partir da vontade dos Seres Sobrenaturais (deuses) uma
realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Universo, ou apenas um fragmento: uma ilha,
uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. Outra função do mito consiste em
revelar os modelos exemplares de todas as atividades humanas significativas: alimentação,
casamento, trabalho, educação, arte, como cozer certo cereal ou caçar um animal com auxílio do
cajado, etc. Todas as culturas (povos, civilizações) têm os seus próprios mitos. Muitos mitos
criaram rituais. Através da repetição dos rituais, nasceram as religiões. Mito e religião (politeístas e
monoteístas), portanto, estão intimamente relacionados.
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Funções do mito. Lévi-Strauss, antropólogo do séc. XX, criador do método estrutural, estudou
os povos ditos primitivos, contestando o racismo e a noção de primitivo. Ele comparou etnografias
realizadas em todos os continentes. A sua grande contribuição foi a de que os chamados selvagens
não são atrasados, menos evoluídos e primitivos, apenas operam com o pensamento mítico (magia).
O mito e o rito não são simples lendas fabulosas, mas uma organização da realidade a partir da
experiência sensível enquanto tal. O mito tem três funções principais: função explicativa, o presente
é explicado por alguma ação que aconteceu no passado, cujos efeitos não foram apagados pelo
tempo, como por exemplo, uma constelação existe porque, há muitos anos, crianças fugitivas e
famintas morreram na floresta, mas uma deusa levou-as para o céu e transformou-as em estrelas;
função organizativa, o mito organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de trocas,
de sexo, de identidade, de poder, etc.) de modo a legitimar e garantir a permanência de um sistema
complexo de proibições e permissões. Ex.: o mito de Édipo existe em várias sociedades e tem a
função de garantir a proibição do incesto. O castigo destinado a quem não obedece às regras
funciona como intimidação; e, por fim, uma função compensatória, o mito narra uma situação
passada, que é a negação do presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma
perda como para garantir-lhes que um erro passado foi corrigido no presente, de modo a oferecer
uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária. O mito nos ajuda a se
acomodar no meio em que vivemos. Segundo Lévi-Strauss, o “pensamento selvagem” não é o
pensamento dos “selvagens” ou dos “primitivos” (em oposição ao “pensamento ocidental”), mas o
pensamento em estado selvagem, isto é, o pensamento humano em seu livre exercício, um exercício
ainda não-domesticado em vista da obtenção de um rendimento. O pensamento selvagem não se
opõe ao pensamento científico como duas formas ou duas lógicas mutuamente exclusivas. Sua
relação é, antes, uma relação entre gênero (o pensamento selvagem) e espécie (o pensamento
científico). Ambas as formas de pensamento se utilizam dos mesmos recursos cognitivos; o que as
distingue é o nível do real ao qual eles se aplicam: o nível das propriedades sensíveis (caso do
pensamento selvagem), e o nível das propriedades abstratas (caso do pensamento científico). O
pensamento “selvagem” não é menos lógico do que o pensamento do “civilizado”. O mito é
frequentemente considerado como o espaço da fantasia e da arbitrariedade. Esse pensamento está
equivocado, pois o mito ordena, classifica e dá sentido aos fenômenos. Os mitos de diversas
sociedades, geralmente binários e opositivos (herói e vítima, amigo e inimigo, pai e mãe, cru e
cozido...) são aparentemente diversos e sem vinculações, mas podem sim ser agrupados e
ordenados. Existe, portanto, uma lógica nos mitos.
Do mito ao logos. A Filosofia como uma ciência que estuda as inquietações humanas e visa
explicá-las de maneira racional, surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C, época em que
basicamente tudo era explicado e tinha suas origens na mitologia. Fenômenos como um raio, por
exemplo, eram tidos como uma manifestação da ira de Zeus, o comandante de todos os outros
deuses. Essa explanação “divino-mitológica” para a realidade se chamou, então, cosmogonia.
Porém, os pensadores inquietos da época quiseram responder e explicar fenômenos e perguntas
como essas de maneira racional e lógica, o que foi identificada como cosmologia. Começa-se, então,
a se distinguir o mito da lógica, o que antes era unido (mitologia ou lógica do mito) passa a ser
separado, para se entender e se abordar a lógica do fato e/ou fenômeno, o que a filosofia
caracteriza como o período de transição “do mito ao logos”, ou seja, da explicação por meio de
histórias oralmente repassadas (mitos) para a explicação racional e lógica da coisas (logos). Os
precursores da Filosofia foram os pré-socráticos, filósofos que buscavam a origem natural do
universo e das coisas através de explicações lógicas e fundamentadas na observação e estudo da
realidade; eram, em geral, monistas, ou seja, acreditavam que o universo tinha sido gerado através
de um único elemento ou fenômeno. Os pré-socráticos, como o próprio nome alude, antecederam a
Sócrates. Eles eram naturalistas, buscavam a essência e o princípio das coisas, o que chamavam de
arché.
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Revolução Científica Moderna (séc. XVI/XVII). É a ruptura das ciências particulares (ciências
naturais como a física, a química e a biologia) com a filosofia. Somente no séc. XIX é que as ciências
humanas e sociais são criadas por meio do positivismo. O método científico utilizado é o indutivista
e a imagem que resume essa ciência é o prédio cartesiano. Com isso, há a superação da ciência
metafísica grega que tinha a imagem da pirâmide platônica como modelo.
Racionalismo de Descartes. O racionalismo ensina que a razão é a fonte do conhecimento.
Descartes recomendava que desconfiássemos das percepções
sensoriais, responsabilizando-as pelos frequentes erros do
conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas
externas devia ser conseguido através do trabalho lógico da mente.
Nesse sentido, considerava que só os matemáticos puderam encontrar
algumas razões certas e evidentes. Descartes afirmava que, para
conhecermos a verdade, é preciso, de início, colocarmos todos os
nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para
criteriosamente analisarmos se existe algo na realidade de que
possamos ter plena certeza. Fazendo uma aplicação metódica da dúvida,
o filósofo foi considerando como incertas todas as percepções
sensoriais, todas as noções adquiridas sobre os objetos materiais. E
prosseguiu colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que constitui a realidade e o próprio
conteúdo dos pensamentos. Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de
dúvidas era a seguinte: meus pensamentos existem. E a existência desses pensamentos se
confundem com a essência da minha própria existência como ser pensante. Disso decorre a
conclusão: Cogito ergo sum (Penso, logo existo). Para Descartes, essa é a verdade absolutamente
firme, certa e segura, que, por isso mesmo, deveria ser adotada como princípio básico de toda a
filosofia. As características do prédio cartesiano e, portanto, da ciência indutivista moderna, são as
seguintes: mecanicismo, determinismo, atomismo, a-histórico, hierárquico, dogmático, linear, rígido,
estático, fundacionista (infalibilidade: positivismo).
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que é uma crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo. A ciência é o espelho da
realidade. Ideologia da ciência: crença no progresso e na evolução dos conhecimentos científicos
que, um dia, explicarão totalmente a realidade e permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites
para a ação humana. Mitologia da ciência: crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado
sobre as coisas e os homens, dando-lhes o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um
conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis. Disso criou-se a ilusão
da neutralidade da ciência, porém a ciência imparcial não existe, pois quando o cientista escolhe
uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos
resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas.
acho que Deus é muito improvável e levo minha vida na pressuposição de que ele não está lá”. 7
Ateu convicto. “Sei que Deus não existe, com a mesma convicção com que Jung 'sabe' que ele
existe”. (Deus, um delírio, de Richard Dawkins). Qual é o seu número?
Questões
1. a) Leia os trechos que seguem: “O recurso a causas ou princípios não acessíveis ao método da
ciência não dá origem a conhecimentos; a metafísica, que recorre a tal método, não tem nenhum
valor”. (...) “O método da ciência é puramente descritivo, no sentido de descrever os fatos e
mostrar as relações constantes entre os fatos expressos pelas leis, que permitem a previsão dos
próprios fatos” (Nicola Abaggano). Identifique e caracterize a concepção filosófica subjacente a
estes trechos, explicitando seus pressupostos; b) O espírito humano, até hoje, fez uma trajetória que
se iniciou nas superstições e nas crenças infantis, passando por idealismos juvenis e finalmente
culmina no espírito positivo. Quais são os três estágios da humanidade, segundo Comte? Explique-
os; c) Explique as características da ciência indutivista moderna a partir da imagem do prédio
cartesiano. Além disso, demonstre a superação da ciência moderna à ciência metafísica grega que
tinha como imagem a pirâmide platônica; d) O seu curso (ciência) é positivista ou não-positivista?
Justifique.
INDUTIVISMO FALSIFICACIONISMO
A ciência começa com a observação. A ciência começa com problemas.
Teorias científicas são formadas por Teorias científicas são conjecturas que visam
generalização indutiva a partir de responder os problemas propostos.
proposições de observação.
Teorias científicas podem ser verificadas Teorias científicas não podem ser verificadas, mas
(critério da verificabilidade) ou falsificadas. somente falsificadas.
paradigma tendem a ser ignorados por eles, pois acreditam fortemente que o seu paradigma tem a
resposta para os problemas levantados. Somente em casos críticos, quando os problemas se
acumulam e viram anomalias (momentos de crise/revolução), é que podem abandonar uma teoria (o
paradigma) e a substituir por outra melhor. Os cientistas mudam de paradigma, abandonando-o,
apenas quando o novo que surgir for mais forte, não contendo as falhas do anterior e dando-lhes
maiores possibilidades explicativas. Em geral, quem funda um novo paradigma são pessoas de fora,
isto é, pertencem a outra área de conhecimento. Os cientistas aderem por conversão ou persuasão
ao que consideram ser o melhor paradigma para continuar a fazer ciência. O quadro da progressão
da ciência pode ser assim descrito: Pré-ciência – ciência normal (paradigma) – crise-revolução –
nova ciência normal (paradigma). A ciência não caminha numa via linear, contínua e progressiva,
mas por saltos e revoluções.
• 1. A ciência se desenvolve a partir de descobertas da comunidade científica (e não individual) e
se constitui através da aceitação de paradigmas (métodos e visões de mundo; padrão, um modelo,
uma regra que estabelece limites). A ciência é um produto histórico.
• 2. O paradigma é o campo no qual a CIÊNCIA NORMAL trabalha, sem crise. Fazer ciência normal
significa resolver QUEBRA-CABEÇA, isto é, problemas definidos
pelo paradigma. A ciência normal é cumulativa. Insucessos na
resolução do quebra-cabeça é um insucesso do pesquisador e
não do paradigma.
• 3. As anomalias são problemas que a comunidade científica
tem de enfrentar e que determina a CRISE do paradigma. Com a
crise inicia-se o período da ciência extraordinária. Para
solucionar anomalias pontuais utiliza-se hipóteses ad hoc.
• 4. As REVOLUÇÕES são momentos de ruptura e de criação de
novas teorias. A mudança de paradigmas pode ser comparado a
mudança gestáltica. É um período não-cumulativo.
• 5. Após, surge uma NOVA CIÊNCIA NORMAL. A ciência não
caminha numa via linear, contínua e progressiva, mas por saltos
e revoluções. A evolução da ciência é ateleológica.
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Questões
2. Para fazer parte da ciência, uma hipótese deve ser falsificável. Eis alguns exemplos:
a. Nunca chove às quartas-feiras.
b. Todas as substâncias se expandem quando aquecidas.
c. Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da superfície da Terra, caem
diretamente para baixo se não forem impedidos.
d. Quando um raio de luz é refletido de um espelho plano, o ângulo de incidência é igual ao ângulo
de reflexão.
e. Ou está chovendo ou não está chovendo.
f. Uma planta é uma planta.
g. Todos os pontos num círculo euclidiano são equidistantes do centro.
h. A sorte é possível na especulação esportiva.
i. Deus existe.
Quais proposições são falsificáveis e quais não são falsificáveis? Quais são verdadeiras e falsas? O
que isso significa?
3. Quanto mais falsificável (grau de falsificabilidade) for uma teoria melhor ela será. Quanto mais
uma teoria afirma, mais oportunidade potencial haverá para mostrar que o mundo de fato não se
comporta da maneira como mostrado pela teoria. Exemplo: 1. Marte se move numa elipse em torno
do Sol; 2. Todos os planetas se movem em elipse em torno de seus sóis. Qual, no exemplo acima, é
a teoria mais falsificável e, portanto, mais científica? Por quê?
SEMINÁRIOS:
1. O nome da rosa (Umberto Eco);
2. A vida de Galileu;
3. O desafio de Darwin;
4. Freud além da alma;
5. Cobaias;
6. Óleo de Lourenzo;
7. Ela.