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DIREITO AMBIENTAL I

Paula Danese

INTRODUÇÃO
O direito ambiental nasceu de uma visão antropocêntrica, ou seja, ele fora criado pensando no
bem-estar e necessidades do homem (e não na do meio ambiente, de fato). Apesar de ser um
tema “novo” ainda não há corte internacional para o meio ambiente.

Na Constituição Federal de 1988, a regulação ambiental começa a partir do artigo 170, o qual
prevê que:

“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,


tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado


conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;

[...]

Paragrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade


econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.”

Percebe-se que, apesar da previsão do parágrafo único transcrito acima, sempre que o
consumo afetar o meio ambiente, a defesa ao meio ambiente poderá intervir no livre exercício
da atividade econômica. Ainda assim, é importante ter em mente que o consumo destrói o
meio ambiente.

Ao pensarmos do direito ambiental devemos lembrar que todas as questões climáticas


também são reguladas por ele, isso quer dizer que o primeiro problema existente é o
aquecimento global. Atualmente, os ambientalistas estão lutando para que as questões
climáticas e o direito ambiental permaneçam unificados.

INTRODUÇÃO HISTÓRICA
A primeira “regulação ambiental” surgiu em meados do século XX e se deu por um tratado
firmado entre Inglaterra e Noruega que visava a proteção das focas. Ainda assim, a real
intenção desse tratado era garantir o uso da pele das focas para que o setor econômico não
fosse afetado. Percebe-se, portanto, a visão antropocêntrica citada anteriormente, bem como
que a primeira regulação era voltada para uma parcela da fauna, de forma que a regulação da
flora surgiu anos depois.

Em 1987, uma fábrica de fertilizantes localizada em Bhopal (Índia) afetou o solo indiano
quando seus fertilizantes entraram em contato com a água e causou a morte de muitas
pessoas. Após esse acontecimento, o mundo percebeu a necessidade da criação de um
documento voltado para a proteção ambiental, bem como notou que o impacta ambiental é
difuso, ou seja, não se restringe ao local onde ocorreu e as pessoas que estão próximas desse
local.
Nasce, então, o Tratado de Brundtland, o qual fora intitulado de Nosso Futuro Comum e visava
a limitação da ordem econômica para a proteção ambiental. Apesar da necessidade do
documento muitos países se opuseram a sua adesão, fato que levou a criação de uma
responsabilidade compartilhada, mas limitada .
A partir da década de 90 o mundo passou a ter convenções sobre o meio ambiente.

A Rio 92 objetivava a criação de instrumentos para que os Estados cumprissem com a proteção
ambiental. Importante destacar que esses instrumentos vão além dos documentos judiciais,
podemos citar como exemplo a Convenção de Haia que nasceu de uma arbitragem entre
Canadá e Estados Unidos.

O direito ambiental, apesar de necessário, não é vinculante, isto quer dizer que não existem
sanções para quem não cumpre com a proteção ambiental. Apesar da Rio 92 tentar trazer tais
sanções, elas não foram aprovadas. Este fato nos traz a atual fase do direito ambiental que
podemos chamar de litigância do meio ambiente.

Sendo assim, existem 03 problemas principais que devemos lembrar ao falar de direito
ambiental: (i) o aquecimento global; (ii) o fato de que o impacto é para todos; e (iii) a
possibilidade de alguns países poderem optar por não participar de determinadas convenções
e, consequentemente, se absterem de determinadas responsabilidades.

Vale destacar, ainda, que as comunidades ribeirinhas (indígenas, por exemplo) são sempre as
mais afetadas quando ocorre alguma afronta/impacto no meio ambiente.

EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL


Importante destacar que, como o direito ambiental fala em declarações e conferências, ou
seja, documentos que têm uma força menor que a reconvenção, estamos falando de soft law.

A internacionalização dos direitos humanos ganha corpo em 1945, mas o direito ambiental não
participa dessa incorporação, na realidade, eles só aparecem na chamada Primavera
Silenciosa. Na década de 60 surge o Clube de Roma (1968) que, basicamente, trouxe o
“vamos nos preocupar com o meio ambiente?”.

O Clube de Roma começa a se preocupar com a poluição e o impacto do crescimento


populacional (The Limits to Growth). Na época em que o Clube de Roma surgiu não existia um
trabalho sustentável e a preocupação do momento, em relação ao meio ambiente, também
não englobava isso.

Em 1972 aconteceu a Conferência de Estocolmo, a qual caracteriza a principiologia


intergeracional e o desenvolvimento sustentável. Dentre as discussões que aconteceram nessa
conferência podemos destacar como principais as mudanças climáticas; a diminuição de
metais; qualidade da água; soluções para reduzir desastres; desenvolvimento sustentável e o
problema dos pesticidas.

O ponto central da Conferência de Estocolmo foi além de analisar as consequências


ambientais, ela preocupou-se em “defender e melhorar o meio ambiente para as futuras
gerações”, percebeu-se a irreversão dos danos ambientais e a necessidade de cuidado e
preservação.

Em 1981 cria-se, no Brasil, a “ Política Nacional do Meio Ambiente” (Lei 6.938/81); a


criação dessa lei ocorre no meio da consolidação da política internacional.
Em 1987 veio o Relatório Brutland que defende o “novo futuro comum”. Este relatório é
importante, pois traz o desenvolvimento sustentável e mostra que devemos refletir sobre o
que leva a desigualdade, visto que a crise ambiental está interconectada com muitas outras
(como a econômica, por exemplo).

Posteriormente, surge a atual Constituição Federal do Brasil, a qual é conhecida como


“constituição verde”. O capítulo VI deste texto legal versa sobre o meio ambiente, mas existem
alguns artigos que merecem destaque, o artigo 225 coloca o meio ambiente como um direito
fundamental e define que um meio ambiente ecologicamente equilibrado é necessário para
que possamos exercer os direitos definidos no artigo 5º da Constituição Federal.

“Artigo 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

[...]”

A Constituição Federal define, ainda, que o meio ambiente é um patrimônio cultural, ou seja,
contribui para a cultura brasileira, é necessário para a ordem econômica e, por estes motivos,
necessita de políticas de desenvolvimento urbano (vide artigos 216, 170 e 182,
respectivamente e ambos da Constituição Federal).

A Convenção 169 da OIT, por sua vez, e apesar de versar sobre trabalho, requer transparência
em construções que podem vir afetar os indígenas, o que envolve, diretamente, o meio
ambiente.

(IMPORTANTE) Em 1992 o mundo sediou a chamada Cúpula da Terra (ou Eco 92), a qual
mostrou que existe a necessidade de criação de freios para que a sustentabilidade se
concretize. A Cúpula da Terra foi responsável pela instituição de passos e metas que vieram a
criar a “Agenda 2021”, e a partir dela os governos passam a delimitar programas detalhadas.

Um dos motivos pelos quais surge essa preocupação e essas metas pode ser explicado através
de um dos princípios basilares da Eco 92, o qual diz que o direito ambiental é direito de
solidariedade. Naquela época já existia a necessidade de prevenir a poluição da água e do ar, o
combate ao desmatamento e a detenção a destruição de peixes.

O desenvolvimento sustentável deve ser economicamente ativo e ambientalmente equilibrado


para que se atinja a justiça social.

Posteriormente, em 2012, ocorre, no Rio de Janeiro a Rio +20 e ela vem para ver os resultados
daquilo que fora instituído na Eco 92. A partir dela cria-se: (i) o PNUD – Programa das Nações
Unidas para Desenvolvimento; e (ii) o PNUMA – Programa das Nações Unidas de Proteção ao
Meio Ambiente.

A Rio +20 teve como principais temas a economia verde (que pode ser definida como a não
poluição, utilização de produtos recicláveis etc.) e a estrutura institucional para
desenvolvimento sustentável . Também se discutiu a aplicabilidade de desenvolvimento
sustentável no acordo para a erradicação da pobreza e a criação de novos mecanismos para a
regulação das diretrizes ali estabelecidas, por parte da ONU.
Essa conferência marcou os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (a Rio-92), bem como contribuiu para definir a agenda do
desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E O BEM AMBIENTAL

“Artigo 225 Constituição Federal – Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]”

O direito ambiental é um direito fundamental de terceira geração, pois esta visava a


solidariedade, e caracteriza-se como um direito de interesse difuso (ou seja, abrange pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstância de fato).

Considerando que a terceira geração dos direitos fundamentais preza pela solidariedade se faz
de grande valia destacar que a solidariedade intergeracional instiga uma relação de
cooperação entre as presentes e futuras gerações, sua ideia, para o direito ambiental, é
impactar o menos possível para que as futuras gerações também possam usufruir dos recursos
naturais.

Através do Recurso Extraordinário 654.833, o Supremo Tribunal Federal chegou à conclusão de


que a pretensão de reparação do dano ambiental é imprescritível para o desdobramento do
direito à vida.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

Os princípios jurídicos constituem o mandamento nuclear do sistema normativo, já que além


de servirem de critério para a interpretação de todas as normas jurídicas eles têm a função de
integrar e de harmonizar todo o ordenamento jurídico transformando-o efetivamente em um
sistema. (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo.
Revista dos Tribunais, 1980, p. 230).

Os princípios têm como função criar leis e princípios (função basilar), bem como auxiliar na
interpretação das leis (função de forma).

(IMPORTANTE) - Princípio da prevenção, neste princípio os riscos do perigo são conhecidos. A


prevenção consiste em impedir a superveniência de danos ao meio ambiente por meio de
medidas apropriadas, ditas preventivas, antes da elaboração de um plano, da realização de
uma obra ou atividade.

Atualmente não há dúvida sobre o risco iminente, ou seja, não existe dúvidas de que
determinadas situações trazem um dano ambiental. O dano inerente, por sua vez, é aquele
que deve ser quantificado, ou seja, deve ser estipulado e estudado o quão danoso ele poderá
ser se o risco se tornar real, bem como se faz necessário expor como é possível reparar o dano
caso ele ocorra.

(IMPORTANTE) - Princípio da precaução, este princípio diz que na dúvida é melhor tomar
medidas drásticas para se evitar danos futuros (indubio pro ambiente – a incerteza cientifica
pautada de potencial lesivo). A precaução tende à não autorização de determinado
empreendimento, se não houver certeza cientifica de que ele não causará no futuro um dano
irreversível (GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 3ª edição – Revista e
Atualizada. São Paulo. Atlas 2014).

Na hipótese prevista neste princípio, não é possível medir o dano, por não sabermos se ele vai
ou não ocorrer, ainda assim, a precaução é importante para garantirmos um dano maior que o
previsto ou irreparável.

- Princípio do poluidor pagador, este princípio envolve a responsabilidade administrativa, a


penal e a civil. O usuário pagador é aquele que paga pela utilização do meio ambiente, mas
não pode ser confundido com “aquele que paga para poder poluir”.

A responsabilidade de Estado, de taxar o uso dos recursos naturais caso exista dano, deve ser
sempre analisada e este tema fora discutido na Rio-92.

“Artigo 225 §3º da Constituição Federal – As condutas e atividades consideradas


lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.”

Dentro deste princípio, encontramos com subprincípio o Usuário Pagador, o qual versa sobre
o uso autorizado de determinado recurso natural, desde que observados os padrões fixados
pela legislação. “Trata-se de pagar pelo uso privativo de um recurso ambiental de natureza
pública, em face de sua escassez, e não como uma penalidade decorrente de ilícito”
(GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 3ª edição – Revista e Atualizada. São
Paulo. Atlas 2014).

Podemos exemplificar o subprincípio supra mencionado com a cobrança pela utilização de


recursos hídricos. Percebe-se que o usuário pagador é aquele que paga pela utilização do meio
ambiente.

- Princípio do protetor recebedor, este princípio é, basicamente, o inverso do princípio do


usuário-pagador, ou seja, visa a implementação de algum tipo de privilégio para aquele que
contribui para a preservação do meio ambiente como, por exemplo, uma isenção tributária. O
protetor recebedor é aquele que recebe pela proteção do meio ambiente.

- Princípio da função socioambiental da propriedade, para entendermos este princípio


devemos ter em mente que nenhum direito fundamental é absoluto, portanto, é necessário
que se realize uma ponderação diante da análise do caso concreto. O direito de propriedade é
exercido dentro de certos limites, pois as normas ambientais limitam o direito de propriedade.

- Princípio da participação social, este princípio implica no respeito às normas ambientais e


está previsto na Constituição Federal. A sociedade civil organizada começa a atuar de modo
expressivo reivindicando a sua participação nos processos decisórios, inclusivos naqueles
relativos ao meio ambiente (GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 3ª edição –
Revista e Atualizada. São Paulo. Atlas 2014).

“Artigo 225 da Constituição Federal - Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

[...]”
- Princípio da proibição do retrocesso, de acordo com este princípio, uma vez alcançado
determinado grau de proteção ambiental não há possibilidade de retroceder. Isto quer dizer
que as normas infraconstitucionais que coloquem em risco a proteção ambiental, estabelecida
constitucionalmente, podem ser objeto de ADIN.

A manutenção das normas protetores do meio ambiente está estabelecida nos artigos 225 e
170 da Constituição Federal, ambos já citados nesta matéria.

- Princípio da Informação e da Educação, este princípio é derivado do princípio da participação


e está previsto na Constituição Federal:

“Artigo 225 da Constituição Federal - Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a


conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

[...]”

- Princípio da Cooperação, este princípio pode ser resumido como a somatória de esforços
para garantir a proteção ambiental, ou seja, os Estados devem atuar de modo coordenado
para que isso seja possível.

Os dispositivos que os fundamentam são: artigo 23 da Constituição Federal (abrange a União,


Estados, Distrito Federal e Município), o parágrafo único do referido artigo também é de
extrema importância e a Lei Complementar nº 140/2011.

MEIO AMBIENTE NATURAL CULTURA E URBANO

O meio ambiente natural engloba os recursos naturais, ou seja, a fauna, flora, solo e ar.

“Artigo 225 da Constituição Federal - Todos têm direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – promover e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;

[...]

VII – proteger a fauna e a flora, verdeados, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os
animais a crueldade;

[...]”
O meio ambiente cultural implica no patrimônio cultural nacional, ou seja, as relações
culturais turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais, vide artigos 215 e 216, ambos da
Constituição Federal.

“Artigo 216 da Constituição Federal – Constituem patrimônio cultural brasileiro os


bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferente grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I – as formas de expressão;

II – os modos de criar, fazer e viver;

III – as criações cientificas, artísticas e tecnológicas;

IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às


manifestações artístico culturais;

V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,


arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico.

[...]”

O meio ambiente urbano, também conhecido como meio ambiente artificial, por sua vez,
são, essencialmente, as cidades e tudo aqui que é construído pelo homem.

COMPETÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL


Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão ou agente
do Poder Público para emitir decisões. A competência legislativa, por sua vez, é a faculdade
atribuída aos entes públicos para emitirem normas a respeito de determinado assunto.

A competência em matéria ambiental está prevista na própria Constituição Federal, a nossa


Carta Magna é baseada no direito internacional no que diz respeito ao meio ambiente, ainda
assim, ela se importou em trazer regramentos internos.

Desta maneira, a Constituição Federal de 1988 tenta seguir a ideia de federalismo, mas os
Estados, aqui, não têm tanta autonomia, um motivo para fundamentar e exemplificar isso é o
fato de que o Ministério Público pertence a União Federal.

Importante destacar que a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios têm


competência material ambiental comum e que devemos utilizar a Lei Complementar
140/2011 como base ao falarmos deste tema.

A Constituição Federal é a primeira prolação no direito ambiental e ela é dúplice, ou seja,


concorrente e legislativa. Nesse sentido, o artigo 23 da Carta Magna dispõe acerca da
competência que chamamos de comum, e diz que:

“Artigo 23 – É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios:

I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e


conservar o patrimônio público;
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência;

III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e


cultural, os monumentos, paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de


outros bens de valor histórico artístico ou cultural;

V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à


pesquisa e a à inovação;

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições


habitacionais e de saneamento básico;

X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a


integração social dos setores desfavorecidos;

XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e


exploração de recursos hídricos minerais em seus territórios;

XII – estabelecer e implantar politica de educação para a segurança do transito.

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a


União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Dentro da competência concorrente encontramos: (i) a competência suplementar; e (ii) a


competência complementar. A competência complementar ocorre quando já existe lei
federal fixando normas gerais sobre o assunto, cabendo aos Estados e ao Distrito Federal
apenas complementá-la. A competência suplementar ocorre quando não existe lei federal
sobre a matéria e os Estados e o Distrito Federal, provisoriamente, editam normas gerais sobre
o assunto.

O artigo 23 refere-se à “competência para”, ou seja, ela está ligada ao poder de polícia
(devemos somá-la a Lei Complementar 140/2011). O poder de polícia, nesta situação, refere-
se ao dever de administrar algo (multar, por exemplo) e está assegurado a todos os cidadãos,
isto quer dizer que o poder de polícia não se refere a polícia, marinha, entre outros.

A mero título de informação, cabe ação popular para proteger o meio ambiente.

O artigo 24, também da Constituição Federal, reflete o artigo 23, mas, ainda assim, é geral.
Neste artigo, temos a previsão de quais temas competem a determinados órgãos.

“Artigo 24 – Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:

[...]
VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos


de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

[...].

§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a


estabelecer normas gerais.

§2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.

§3º Inexistindo lei federal sobre norma gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§4º A superveniência da lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei
estadual, no que lhe for contrário.”

Percebe-se que a União traz um “guarda-chuva” (sobre o que pode e o que não pode), ainda
assim, a Lei Federal sempre será capaz de se sobrepor (ou seja, sempre que existir uma lei
estadual, por exemplo, que vá contra a Lei Federal, a lei estadual deverá ser revogada, ainda que ela
tenha sido publicada antes da lei federal).

(IMPORTANTE) Em relação a competência concorrente, devemos ter em mente que, se a


União ditar uma regra, nenhum ente federativo pode ir contra ela. As normas que
divergem das impostas pela União devem ser adequadas a ela ou devem ser retiradas.

Normalmente, a lei federal é uma “moldura” e tudo aquilo que fica de fora dessa moldura, não
poderá ser feito.

A União, portanto, altera normas gerais e ela deve pensar sempre de acordo com a
Constituição Federal, bem como com os compromissos do exterior (aqueles assumidos por
meio de tratados internacionais).

Os Estados e o Distrito Federal, por sua vez, devem usar uma lei suplementar (ou seja,
concorrente E suplementar), sendo necessário que se respeite o que a União impõe (vide
artigos 20 e 22 da Constituição Federal que definem seus bens).

Conforme se bem observa no artigo 24, transcrito acima, a União tem o poder sobre o solo, ou
seja, a utilização dele – bem como de seus recursos – depende de sua alteração e regulação, o
mesmo ocorre com as terras indígenas, por exemplo.

Lei Complementar 140/2011

A Lei Complementar 140/2011 é a ferramenta utilizada para instituir a cooperação dos entes
federativos. Ela se pauta no artigo 225 da Constituição Federal (já transcrito neste resumo), o
qual garante um meio ambiente ecologicamente equilibrado e atribui ao poder público e a
coletividade a responsabilidade de guarda e preservação deste.
Importante destacar que, as situações que englobam, por exemplo, rios que passam em
muitos municípios/cidades, requerem uma política pública sobre o tema. (IMPORTANTE PARA
A1 E A2)

SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (SISNAMA)

O Sistema Nacional do Meio Ambiente institui que devemos ter uma governança ambiental
estruturada de forma a envolver, inclusive, a população.

Conforme o artigo 6º da Lei 6.938/81 – que dispões sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providencias – o
SISNAMA é o conjunto de órgãos que determina políticas públicas ambientais.

Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos


Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o
Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

 I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente


da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para
o meio ambiente e os recursos ambientais;

 II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente


(CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos
naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia
qualidade de vida;           

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a


finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a
política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;      

IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos


Naturais Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer
executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de
acordo com as respectivas competências;                            

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução


de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de
provocar a degradação ambiental;                  

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e


fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições;               

§ 1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição,


elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio
ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA.

§ 2º O s Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,


também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.
§ 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo
deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando
solicitados por pessoa legitimamente interessada.

§ 4º De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a criar uma


Fundação de apoio técnico científico às atividades do IBAMA.

O órgão superior do SISNAMA é o Conselho do Governo, representado pelo Casa Civil e


responsável por auxiliar a gerir e fiscalizar o meio ambiente. O exército também atua na
preservação ambiental, assim como a marinha e a aeronáutica.

E a sua estrutura completa está reduzida no organograma abaixo:

Órgão Superior
(Conselho do Govero)

Órgão Constitutivo e Órgãos Locais


Órgão Executor (órgãos ou entidades
Deliberativo IBAMA municipais responsáveis
CONAMA pelo Meio Ambiente)

Órgãos Seccionais
Órgão Central
MMA (órgãos ou entidades
(Ministério do Meio estaduais responsáveis
Ambiente) pelo Meio Ambiente)

Estrutura do SISNAMA

Na estrutura do SISNAMA existem alguns órgãos que são considerados fundamentais e


disciplinados desde 1998.

O órgão superior é o Conselho de Governo, ou seja, alguém que assessora o Presidente da


República e ele é responsável por dirimir projetos para proteção ambiental, levar informações
ao presidente sobre a questão ambiental, entre outros.

Um dos órgãos que mais tem impacto para a construção do meio ambiente é o CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), que tem um intuito consultivo, mas ao mesmo tempo
detém de autonomia para refletir sobre questões ambientais, bem como normativo (por meio
de portarias e diretrizes públicas). Ele também apresenta propostas ao IBAMA para estudo de
impacto ambiental, entre outros.

O CONAMA tem alguns órgãos internos, com organização objetivando a proteção. No esquema
do SISNAMA ele é um órgão deliberativo.
O órgão central é o Ministério do Meio Ambiente, ele é um órgão executor e trabalha em
conjunto com o IBAMA e com o Instituto Chico Mendes. Portanto, tudo se concentra entre o
CONAMA e o Ministério do Meio Ambiente.

Temos, ainda, os órgãos seccionais, que vem depois do CONAMA e do IBAMA (que detém de
poder de polícia, ou seja, de aplicar sanções). Eles são entidades atreladas aos órgãos
estaduais que possibilitam e auxiliam na fiscalização do meio ambiente.

Conama

O princípio da participação social está atrelado as audiências públicas, a possibilidade de um


cidadão entrar com ação pública para pleitear por tutela ambiental e, dentro do CONAMA, há
um número de representados de diversos setores dos Estados e Munícipios.

Quem preside o CONAMA é o Ministério do Meio Ambiente e, também, existem 05 (cinco)


acentos para estados e municípios.

Órgãos Locais - Munícipios

O município deve, preferencialmente, ter uma secretária própria para o meio ambiente. Se o
município não tiver um órgão ambiental não é possível efetivar o licenciamento e, nesta
hipótese, sua competência é levada para o Estado.

DIREITO AMBIENTAL CONSITUCIONAL E O SISNAMA

Licenciamento Ambiental

O licenciamento ambiental é uma autorização, sempre relacionada com o poder de polícia e


estabelecida a partir dos impactos que o meio ambiente terá em face de tal construção. Ele
consiste em um procedimento administrativo com diversas etapas e órgãos envolvidos, ele é
um ATO ADMINISTRATIVO.

“Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental;  

III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção


de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público


federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante
interesse ecológico e reservas extrativistas;  

 VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;


IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado


anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA;                    

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-


se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;            

 XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou


utilizadoras dos recursos ambientais.                

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro


ambiental e outros.”

Na política nacional do meio ambiente (PINAMA) temos como instrumento o licenciamento


ambiental, alguns deles estão listados no artigo acima. Quando temos a revisão listada acima,
a nossa legislação impõe a necessidade de fiscalização destas questões.

O licenciamento ambiental é considerado um dos instrumentos que nós temos, pois a partir
dele, podemos estabelecer uma fiscalização, exercer controle sobre o que está sendo feito ou
não. Desta forma, precisamos de um aspecto científico para essa licença, além do direito
ambiental, de forma a embarcar licenças, que detenham de caráter precário (que precisam ser
revistos), por exemplo.

A nossa legislação estabelece um Sistema Nacional de Informação do Meio Ambiente (inciso


VII, do artigo transcrito acima). Ele faz uma coleta de dados, em âmbito nacional, bem como a
divulgação destes. A partir dele, se pautam algumas políticas públicas.

De acordo com o inciso X, há a obrigação de divulgação do Relatório de Qualidade do Meio


Ambiente, que deve ser feito de forma anual e divulgado pelo IBAMA. Deve-se existir uma
garantia de que essas informações relativas ao meio ambiente são reais e cumpridas.

Nota-se que a legislação ambiental cria obrigações gerais e especificas, estando, as especificas,
relacionadas e divididas nos órgãos do organograma mostrado acima.

“Art. 2o – Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se: 

I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar


atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental; 

[...]”

Para o próprio licenciamento ambiental há uma repartição de competência. A competência


está atrelada ao impacto local (município), aos limites do município (caso em que vira
estadual), e o impacto nacional (momento em que o IBAMA e a esfera federal passam a atuar).

Portanto, se a questão diz respeito, somente, ao município, posso ter a licença apenas dele,
mas tal licença não poderá, de forma alguma, ir contra a legislação federal.
TUDO QUE ESTÁ ATRELADO A IMPACTO DO MEIO AMBIENTE DEVE TER UMA LICENÇA.

Previsão Constitucional

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

[...]”

Apesar de existir responsabilidade por parte da sociedade, o poder público tem um papel
muito importante e uma responsabilidade muito maior em relação a esta proteção, pois
devemos levar em consideração quem autorizou determinada situação (ou seja, concedeu tal
licença).

Quando o artigo acima menciona referido inciso, temos os princípios da precaução e da


prevenção, os quais trazem um estudo prévio do impacto ambiental. O termo dar publicidade
ali empregado mostra a possibilidade de se demonstrar todos os tramites legais, bem como
garantir a participação social na tomada de decisões.

Qualquer empreendimento exige o estudo de impacto ambiental (chamado de EIA/RIMA), ou


seja, este documento é essencial e interdisciplinar (precisa de engenheiros, biólogos etc.), pois
ele mostra e faz um estudo sobre o impacto que este empreendimento pode causar. Ele é uma
necessidade decorrente do desenvolvimento sustentável, no sentido de conciliar o
desenvolvimento econômico e de preservação ao meio ambiente.

Assim como o EIA/RIMA, o licenciamento ambiental tem uma natureza técnica. Dentro do
artigo 170 da Constituição Federal, inciso VI, temos uma limitação que busca um equilíbrio
entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental e, para isso, temos alguns
instrumentos para equilibrá-lo, dentre eles o licenciamento.

Desta forma, é necessário analisar de que forma estudaremos e prosseguiremos com o pedido
do licenciamento ambiental, portanto qualquer empreendimento exige o estudo de impacto
ambiental (EIA/RIMA). Ele é uma necessidade decorrente do desenvolvimento sustentável, no
sentido de conciliar o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente.

Quando analisamos os instrumentos de proteção do meio ambiente, a licença ambiental é


uma das mais importantes, pois é a partir dela que saberemos se um empreendimento
respeitou todas as fases necessárias para a sua construção.

A licença ambiental também decorre do poder de polícia do Estado, ou seja, é necessário que
o Estado continue analisando e fiscalizando os impactos causados por aquela obra. É desta
forma que se define o órgão competente para tal fiscalização, a extensão do empreendimento
também influencia na competência, ou não, da União (nos casos em que o empreendimento
se expande para mais de um Estado, a competência passa a ser da União).

Portanto, tudo é definido e delimitado por meio de um procedimento administrativo, também


conhecido por licenciamento ambiental.

Resolução CONAMA nº 237 de 1997

Essa resolução traz algumas definições, portanto, o CONAMA estabelece que o impacto
ambiental será considerado como regional sempre que invadir o território de dois ou mais
Estados. A partir desta resolução conseguimos entender o que nosso ordenamento entende
por impacto ambiental, portanto, ela dá uma diretriz de como o licenciamento (e suas regras
gerais) devem funcionar.

Referida Resolução possui características normativas para elaboração de normas técnicas, por
isso, ela é importante para o EIA/RIMA.

Aqui entendemos o que são os impactos ambientais diretos, sendo estes aqueles que
decorrem de causa e efeito, sendo o efeito o impacto causado ao meio ambiente. O STF
entende que essa Resolução é constitucional.

A questão do ar é de extrema importância para esta resolução, pois é impossível mensurá-lo, o


impacto ambiental causado no ar não nos possibilita a previsão de para onde ele vai.

Nesta resolução o impacto ambiental é considerado como qualquer alteração nas questões
físicas, químicas e biológicas e, por conta disso, ele só será considerado quando for causado
por uma atividade humana (ou seja, não se enquadram os fenômenos naturais).

Para requerer esta licença temos algumas fases: a licença prévia, de instalação e operação.
Através delas analisamos os riscos e atividades, para isso levamos em consideração os recursos
ambientais, a capacidade de se causar danos ambientais e quais danos.

Art. 8º, Resolução CONAMA 237- O Poder Público, no exercício de sua competência
de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a
viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem
atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade


de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos
aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da
qual constituem motivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento,


após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores,
com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a
operação.
Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou
sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do
empreendimento ou atividade.

A licença prévia é sempre preliminar ao empreendimento e, neste sentido, nosso poder


público deve ter uma preocupação sobre as informações necessárias para a concessão desta
licença, tais como, mas não se limitando a: como vai utilizar recursos, quanto, quando... Nada
impede que o poder público solicite informações para essa concessão.

A licença de instalação trata-se da colocação do empreendimento, portanto é a autorização


para o início da implementação. Referido empreendimento só poderá operar depois deste
estudo e da concessão da Licença de Operação, ou seja, uma vez autorizada, após as
verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento podem ser ou não
autorizados.

Supõe-se, portanto, a existência de uma licença anterior. Ainda assim, as licenças são distintas
o que quer dizer que ter uma não garante que você conseguirá a próxima. Elas podem ser
expedidas de forma isolada ou sucessivamente.

A licença ambiental possui uma estabilidade temporal, ou seja, não assegura ao


empreendedor o retorno ao estado anterior (status a quo ante) do tempo da expedição da
licença.

As licenças têm prazo e são revistas. A concessão de uma licença prévia, por exemplo, não
garante a licença de instalação.

Art. 14, Lei Complementar 140/2011 -  Os órgãos licenciadores devem observar os


prazos estabelecidos para tramitação dos processos de licenciamento. 

§ 1o  As exigências de complementação oriundas da análise do empreendimento ou


atividade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma única vez ao
empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos. 

§ 2o  As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos


feitas pela autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a
fluir após o seu atendimento integral pelo empreendedor. 

§ 3o  O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental,


não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou
decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15. 

§ 4o  A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência


mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade , fixado na
respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação
definitiva do órgão ambiental competente. 

Percebe-se que o §3º bloqueia a possibilidade de concessão de licença tácita, não obstante, se
o prazo da licença estiver vencendo, o empreendedor detém do prazo de 120 (cento e vinte)
dias para solicitar nova licença.

Espécie de Licença Atividade Duração


Licença prévia Planos e programas Até 05 anos
ambientais
Licença de instalação Cronogramas de obras do Até 06 anos
empreendimento
Licença de operação Planos de controle ambiental Até 10 anos

Suspensão e Cancelamento da Licença

Art. 19, Resolução CONAMA 237 - O órgão ambiental competente, mediante decisão
motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e
adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:

I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.

II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a


expedição da licença.

III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Existem 03 (três) questões envolvidas para a suspensão ou o cancelamento da licença


(conforme os incisos transcritos acima), portanto, o órgão competente pode estabelecer novas
medidas de controle da equação caso ache que os já estabelecidos não são suficientes; o órgão
competente pode perceber que o empreendedor não está cumprindo com o seu dever e,
ainda, o órgão competente pode ver que não haverá como conter os riscos e danos e que
aquela licença não detém de possibilidade de ser revista, apenas cancelada.

Descumprimento do Licenciamento

Artigo 17 da Lei Complementar 140/2011 - Compete ao órgão responsável pelo


licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou
atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para
a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou
atividade licenciada ou autorizada. 

§ 1o  Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental


decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se
refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. 

§ 2o  Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o


ente federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para
evitá-la, fazer cessá-la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão
competente para as providências cabíveis. 

§ 3o  O disposto no caput  deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos
da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e
atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais
com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental
lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se
refere o caput. 
Este artigo traz uma regra geral e, posteriormente, atribui a responsabilidade de denunciação
em casos de poluição, degradação ambiental entre outros.

Por este motivo temos a Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) os artigos 66, 67, 68 e 69
trata da omissão da esfera administrativa em face da concessão de determinadas licenças.

Fases da licença

A LC 140/2011 traz algumas divisões do que cada ente deveria fazer. O município pode
promover o licenciamento de atividades ambientais ou empreendimento que possa causar
impactos em determinado local, deve ainda analisar o porte, o potencial poluidor e se o
empreendimento está localizado em unidades de conservação instituídas pelo próprio
município. Portanto, para o município licenciar ele deve ter um órgão e conselhos ambientais.

Competência Ambiental

Para que se defina um órgão licenciado, a Lei Complementar 140/2011 utiliza um critério
misto, de forma que analisa: (i) a amplitude do impacto; (ii) a localização e (iii) o domínio.

Ações do Município

Art. 9º, da Lei Complementar XIV/LC 140/2011 - São ações administrativas dos
Municípios:

XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas nesta Lei
Complementar, promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme


tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente,
considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade;

b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em


Áreas de Proteção Ambiental (APAs); (PROVA)

Importante destacar que, para que o município possa licenciar há a exigência legal de que este
tenha um órgão e conselhos ambientais.

Ações do Estado

Art. 8º, Lei Complementar 140/2011 - São ações administrativas dos Estados:

XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos utilizadores


de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º;

Ações da União

Art. 7º da Lei Complementar 140/2011 - São ações administrativas da União:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;

b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na


zona econômica exclusiva;

c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;


d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;

f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos termos de ato


do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Armadas,
conforme disposto na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

g) destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e


dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em
qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (Cnen); ou

h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de


proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um
membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os
critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;
Regulamento

Licenciamento por um único ente

Art. 13 da Lei Complementar 140/2011 - Os empreendimentos e atividades são


licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente federativo, em
conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.

§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão


responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os
prazos e procedimentos do licenciamento ambiental.

§ 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada


pelo ente federativo licenciador.

§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins


devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do
serviço prestado pelo ente federativo.

Natureza jurídica do licenciamento ambiental

Atualmente, há uma divergência doutrinaria sobre a natureza jurídica do licenciamento


ambiental. De acordo com Hely Lopes Meirelles, ele possui a característica fundamental de ato
vinculando, pois, via de regra, é preciso que sejam preenchidos alguns requisitos,
independente da escolha do poder público.

No entanto, a autorização é discricionária e, sendo assim, o agente público pode ser valer dos
critérios de conveniência e oportunidade. A doutrina diz que a licença ambiental tem um grau
de discricionariedade, pois o cumprimento dos requisitos não é garantia de que a licença será
concedida.

Importante destacar que ela é um ato administrativo híbrido.

Sendo assim não há de se falar, portanto, no caso das licenças ambientais, em atos
essencialmente vinculados, por serem da categoria das licenças, mas atos que podem ser
vinculados se todos os parâmetros a serem considerados constarem objetivamente das
normas. Podem, todavia, ser discricionários, se a própria norma estatuir a possibilidade de
escolha, pelo administrador, dentre as alternativas legais fixadas.

ESTUDOS AMBIENTAIS E LICENCIAMENTO

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