Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO – IE
PRÓGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA – PPGPSI
Seropédica | 2021
MULHERES PERIFÉRICAS: CARTOGRAFIAS DA VIOLÊNCIA
INTERSECCIONAL.
Resumo
O presente projeto de pesquisa tem como objetivo analisar os processos de subjetivação na vida
das mulheres do território da baixada fluminense. Pretende-se compreender no território -
utilizando-se da ótica dos teóricos Michel Foucault, Gilles Deleuze e Felix Guattari - a relação
desses processos com as negligências sociais encontradas pela problemática das desigualdades
interseccionais e quais são as suas consequências para a vida dessas mulheres. Será utilizado o
método cartográfico para acompanhar os processos de produção de subjetividade em rodas de
conversas semanais, totalizando dez encontros, com duração de uma hora e trinta minutos e
com no máximo dez participantes, fomentando temas relacionados a experiência de ser mulher
na baixada fluminense. Os encontros ocorrerão nos Centros de Referência de Assistência Social
na baixada fluminense de modo presencial, entretanto, poderão ser realizados de forma remota,
caso sejam impossibilitados por determinação sanitária para prevenção da COVID-19, através
da plataforma Meet, por chamada de vídeo. Os temas propostos nas rodas de conversa serão
construídos com o equipamento da Secretaria Municipal de Assistência Social de acordo com
a demanda relacionada a violência estrutural de gênero e interseccionalidade e servirão como
questões disparadoras permitindo a discussão do que seja importante para o grupo em cada
encontro. Espera-se com o estudo dar visibilidade as violências interseccionais e valorizar as
potências das mulheres na reivindicação por políticas públicas que reverberem na
transformação dos cenários da violência social.
2
PERIPHERAL WOMEN: CARTOGRAPHIES OF INTERSECTIONAL VIOLENCE.
Abstract
This research project aims to analyze the processes of subjectivation in the lives of women in
the Baixada Fluminense of Rio de Janeiro. It is intended to understand in the territory - using
the perspective of theorists Michel Foucault, Gilles Deleuze and Felix Guattari - the relationship
of these processes with the social negligence found by the problem of intersectional inequalities
and what are its consequences for the lives of these women. The cartographic method will be
used to monitor the production processes of subjectivity in weekly conversation circles, totaling
ten meetings, lasting one hour and thirty minutes and with a maximum of ten participants,
promoting themes related to the experience of being a woman in the Baixada Flumiense of Rio
de Janeiro. The meetings will take place in the Social Assistance Reference Centers in the city
of Rio de Janeiro, presencial, however, they may be held remotely, in case they are prevented
by sanitary determination to prevent COVID-19, through the Meet platform, by video call. The
themes proposed in the conversation circles will be constructed with the equipment of the
Municipal Social Welfare Department according to the demand related to structural gender
violence and intersectionality and will serve as triggering questions allowing for the discussion
of what is important to the group at each meeting. It is hoped that the study will give visibility
to intersectional violence and value the powers of women in the demand for public policies that
reverberate in the transformation of social violence scenarios.
3
Introdução
4
“aceitável” determinados modos de ser e estar no mundo em detrimento de outras formas de
existência.
Além das experiências com o trabalho prático voltado às mulheres, meu trabalho de
conclusão de curso teve enfoque no estudo do processo de construção da diferença sexual e sua
capacidade de produzir subjetividades, o que me gerou forte interesse em dar continuidade ao
tema. Por meio deste processo pessoal, me senti convocada ao potente exercício de investigar
e analisar os processos de produção de subjetividades nestes espaços de contato com este
território, localizado aos redores dos grandes centros urbanos com suas demandas sobre o
1
O PAIF é um serviço da proteção social básica que tem como objetivo prevenir o rompimento dos vínculos
familiares e a violência no âmbito das relações, garantindo o direito à convivência familiar e comunitária. É de
cumprimento obrigatório e exclusivo do CRAS, consiste na oferta de ações e serviços socioassistenciais de
prestação continuada por meio do trabalho social com famílias em situação de vulnerabilidade social. (Lei nº
12.435, Art24-A, 2011)
5
assunto, tecendo compartilhamentos da experiência dessas mulheres periféricas, ao instigar
provocações através de diálogos de estreitamento.
Segundo dados do Dossiê Mulher realizado pelo Instituto de Segurança Pública do Rio
de Janeiro (ISP 2021), a cada vinte e quatro horas quatro mulheres são vítimas de lesão corporal,
doze são vítimas de estupro, quatro mulheres são vítimas de ameaça e pelo menos uma é vítima
de importunação ofensiva ao pudor. Estes casos são os notificados, o que segundo o mesmo
Instituto a realidade pode revelar um número muito maior devido às subnotificações que já era
um problema e se intensificou com o isolamento social decorrente da COVID-19, dificultando
a vítima a denunciar seus agressores. Do total de casos de feminicídio no estado do Rio,
aproximadamente 25% ocorreram na baixada fluminense, esta que também enfrenta grave
realidade de subnotificação e piorou pela impossibilidade de as mulheres saírem de casa para
denunciar seus agressores com o isolamento social. Estes são crimes cujo impacto é silenciado,
praticados sem distinção de lugar, de cultura, de raça ou de classe, além de ser a expressão
6
perversa de um tipo de dominação masculina, ainda fortemente cravada na cultura brasileira.
Cometidos por homens contra as mulheres, suas motivações são o ódio, o desprezo ou o
sentimento de perda da propriedade sobre elas (AQUINO, 2015, p. 11). Assim sendo, a
diferença de gênero afeta violentamente as subjetividades dessa população.
“o pouco que foi até agora escrito acerca da Baixada Fluminense é insuficiente
para que se possam pensar os problemas daquela periferia urbana como bem
estudados. Diversos aspectos da vida social e política que persistem ali
continuam intocados ou foram extremamente pouco analisados.”
(MONTEIRO, 2005, p.488)
Justificativa
7
– de subjetividades, favorece a provocação de potencialidade e percepção sobre as
possibilidades de compor e gerar movimentos internos e sociais. Promovendo novos processos
e caminhos no território e pelo território, portanto, linhas de forças agenciadoras que podem se
manter, mesclar, criar ou se dissipar. Logo, ao observar os modos de agenciamento e promover
novos encontros e linhas de forças agenciadoras, impulsionar a capacidade de gerar
movimentos outros na sociedade, na comunidade, nas políticas públicas e na saúde coletiva.
Objetivo Geral
Objetivo específico
8
2.Analisar como as construções sociais de gênero e suas interseccionalidades afetam e
produzem as subjetividades femininas.
5. Acompanhar o traçado das linhas de fuga capazes de agenciar movimentos que transformem
a realidade violenta e reacionária das mulheres na baixada fluminense.
Referencial teórico
O caminho escolhido para construção deste projeto de pesquisa foi estruturado pelos
conceitos que permeiam a violência interseccional e a formação da subjetividade. Assim,
abordarei o conceito de interseccionalidade e os processos de estruturação de gênero, raça e
classe, as quais afetam diretamente nas subjetivações sociais. Esse caminho busca destrinchar
os movimentos sociais que produzem as opressões interseccionais e as violências submetidas
às mulheres a fim de criar o arcabouço teórico necessário para avançar na pesquisa. Cabe
ressaltar que foram encontradas poucas referências bibliográficas sobre trabalhos na baixada
fluminense referente aos impactos na subjetividade da mulher. Entretanto, um analisador
importante nos estudos encontrados foi o constante direcionamento à algumas negligências
sofridas pela população da região: a invisibilidade social, as políticas marcadas por ilegalidades
e a violência.
9
mulheres a permanecerem convivendo com seus agressores é a dependência financeira (IPEA,
2019), além da raça, como visto acima, a classe dessas mulheres também se apresenta como
importante aspecto na pesquisa territorial da violência estrutural. Outra informação alarmante
dada pelo boletim do Fórum “Grita baixada” é de que a maior parte dos casos de feminicídios
e violência contra mulheres não chegam a ter registros oficiais. Portanto, além do gênero
enquanto influenciador nos dados de violências, as causas que parecem levar as mulheres a
situações graves de abusos são permeadas pelos eixos de raça e classe. Logo, trata-se de uma
violência consequente das opressões interseccionais (CORRÊA e ZIRBEL, 2021) que
aprofundaremos a seguir.
10
e os limiares históricos para essa construção tornar-se naturalizada, explorados cuidadosamente
pelo psicanalista, também contemporâneo, Joel Birman (2016). Butler (2018) vai além das
críticas levantadas pelas feministas clássicas ao gênero enquanto um constructo social,
questionando a definição da ideia do sexo, fundando assim a teoria queer. Para a autora o
próprio sexo teria interpretações por meio de significados culturais. Sendo assim, o corpo é em
si mesmo uma construção influenciada pelos discursos de relação de poder e o gênero é o que
sustenta o binarismo do sexo. Portanto, a diferença binária do sexo, para Butler, é cultural e já
consiste em submeter o corpo a um conjunto de regulações sociais que imprimem naturalidades
inerentes entre gênero, sexo, prazer e desejo. A partir destas teorias que defendem a produção
cultural do feminino e masculino avançaremos no questionamento das regularizações inscritas
ao feminino e a historicidade do corpo sendo definidor das formas de desejo, prazer e sexo.
11
decisão, logo, não é um termo fixo e estático. As circunstâncias históricas da raça ligadas a
esses dispositivos têm como agenciamento a constituição política e econômica da sociedade.
A psicóloga Grada Kilomba (2020) faz uma análise sensível deste processo de uso da
raça como ponto-chave para naturalização da prática colonizadora. Segundo a autora, o racismo
constrói a ideia de discursos, imagens, gestos, ações e olhares que colocam o sujeito negro e as
Pessoas de Cor como o “Outro”, assim como a ideia de Outridade – que ela entende como
resultado da projeção dos aspectos reprimidos na sociedade branca. Essa concepção de
Outridade se refere a processos que projetam para fora – para o Outro – partes cindidas da
psique. Esse movimento acontece como mecanismo de defesa do ego, quando somente a parte
“boa” do ego é reconhecida e considerada como “eu” (self) e o resto, a parte “indesejada” e
“má”, é rejeitada e projetada como algo externo sobre o “Outro”.
No projeto de colonização, isso ficou claro nos discursos que validaram o domínio e o
extermínio de pessoas racializadas. A partir da fantasia de que o sujeito negro quer possuir e
tomar algo que pertence ao “senhor” branco (cana-de-açúcar, fruto, cacau), legitima-se a ideia
12
de dominar e explorar os negros, embora toda a produção e plantação, pertencesse, de fato, aos
colonizados que a produzia. É nesse processo que o sujeito branco afirma algo sobre o “Outro”
(negro) que ele, branco, se recusa – em negação – a reconhecer em si próprio (problemático,
difícil, perigoso, preguiçoso, exótico, incomum, secularizado, agressivo e “sujo”). Com isso, o
sujeito negro se transforma em inimigo intrusivo e o branco torna-se a vítima compassiva, ou
seja, o opressor torna-se oprimido e o oprimido, o tirano. Essa repressão e projeção permite ao
branco esconder a historicidade de sua opressão e se construir e legitimar como civilizado e
decente, enquanto os “Outros/as” racializados se tornam as/os incivilizadas/os, agressivos e
selvagens, naturalizando-se, assim, o domínio dos “Outros/as”. Diante da estrutura traçada, os
autores Silvio Almeida (2019) e Grada Kilomba (2020) analisam as práticas presentes na
sociedade contemporânea reprodutoras dessa lógica racista: o racismo estrutural, institucional
e cotidiano.
Assim como a estrutura da raça, a classe também é uma das estruturas que submete
interseccionalmente as mulheres a violências, dessa vez na estrutura econômica com a divisão
sexual do trabalho. Silvia Federici (2017) analisa e relaciona o extermínio da Caça às bruxas,
na Europa do século XVI com a acumulação primitiva – início da instauração do capitalismo -
e a demarcação dos espaços público e privado. Na divisão dos espaços destinou-os o privado
às mulheres e o público para os homens. Com isso, camponesas foram expulsas de suas terras,
que eram fonte do seu sustento, a pobreza tomou conta da Europa e aqueles que tinham capital
para sustentar financeiramente a propriedade privada tiveram suas funções delimitadas com a
divisão sexual do trabalho. As mulheres, então, cuidariam da casa e dos filhos, enquanto os
homens cuidariam dos negócios nos espaços públicos. Na divisão, a “função da mulher” teve
legitimidade embasada na ideia de essência feminina e, além disso, a importância do trabalho
reprodutivo realizado no âmbito doméstico exercido pelas mulheres na acumulação do capital
foi invisibilizada e desvalorizada, estando na ideia de “não trabalho”.
Além da função restrita ao espaço privado, as mulheres que possuíam saberes empíricos
sobre as ervas ou sobre o controle da reprodução, maior liberdade sexual, ou mesmo as
parteiras, se não demonstrassem serem “boas católicas”, além de terem essas práticas ancestrais
proibidas, eram nomeadas de bruxas. Isso porque esses saberes e práticas eram considerados
místicos e ameaçadores, vistos como desafiando a hegemonia do poder do capital. A bruxa,
portanto, era toda mulher desviante que não se submetia a lógica do espaço privado, a
13
maternidade, que discutia, que tinha a vida sexual livre e não somente dedicada à procriação e
ao casamento, a mendiga e a mulher que não chorava sob tortura (FEDERICI, 2017).
14
domésticos, e até hoje, por ainda precisarem lutar para alcançar direitos iguais de gênero. E
ainda, muitas sem autonomia financeira acabam sendo agenciadas ainda mais por relações
violentas profissionais, domésticas e familiares.
Através das análises estruturais dos eixos opressores que fazem parte das violências
interseccionais é possível observar que são violências engendradas na estrutura política,
econômica, histórica e simbólica da sociedade que se manifesta por meio da dominação e
exploração (CORRÊA e ZIRBEL, 2021). Nesse sentido, são consideradas como violências
estruturais fomentadoras das desigualdades sociais e das práticas de dominação,
marginalização, abandono e descaso atravessando diretamente na formação da subjetividade
das mulheres periféricas. Processo no qual irei aprofundar adiante com o objetivo de demarcar
os instrumentos que utilizo de observação, experiência e estudo nesta pesquisa.
Diante disso, Guattari afirma que a subjetividade circula nos conjuntos sociais sendo
em sua essência social, assumida e vivida nas existências particulares/singulares. Partindo deste
princípio, há formas diferentes de viver assumindo os atravessamentos sociais da produção
subjetiva, uma é de forma alienada, outra é de forma criativa e singular. A primeira, caracteriza-
se quando o indivíduo se submete à subjetivação tal como a recebe, alheio a si próprio e a um
conhecimento de si muitas vezes de forma opressora. A segunda, o indivíduo, em uma relação
de expressão e criatividade, se reapropria dos componentes da subjetividade de forma
consciente, assumindo lugar ativo no processo de subjetivação.
Com isso, as formas diferentes de subjetivação demarcadas por Guattari (1996) nos
revelam que a provocação criativa à essas estruturas bem estabelecidas socialmente são capazes
de gerar situações de crises. Um momento transitório de desconstruções dos processos de
15
opressões já estabelecidos e normalizados: micro revoluções. Essas situações, para Guattari,
caracterizam-se como micropolíticas, correspondentes ao que o teórico chama de molecular, às
forças instituintes e móveis, “às questões de uma analítica das formações do desejo no campo
social” (GUATTARI e ROLNIK, 1996, p. 127). Além da micropolítica o teórico também define
a macropolítica: aquilo que é instituído, estratificado, o Estado e conjuntos sociais instituídos,
portanto, desta vez correspondente ao molar. O psicólogo social Domenico U. Hur (2019)
explora os conceitos de Guattari e acrescenta a potencialidade das revoluções moleculares
enquanto movimento de transmutação das estruturas psicossociais e molares. A revolução
molecular atuaria, segundo o psicólogo, como rachaduras no instituído, criando novos
movimentos e fluxos de autoanálise e autogestão em corpos que pareciam ordenados e
esvaziados, logo, alienados.
Por último, é importante demarcar o que, neste trabalho, compreende-se como violência
interseccional, violência que apresenta traços históricos estruturais como mencionado acima.
Essa violência é definida como uma ruptura de qualquer forma da integridade – física, moral,
psíquica ou sexual - de uma pessoa, podendo ser explícita ou velada (SAFFIOTI, 2004). Seus
efeitos podem ser múltiplos como morte e anulação da autonomia da mulher, minando seu
potencial como pessoa e membro da sociedade, além de provocar repercussões intergeracionais
(MENDES e GOMES, 2013). As consequências desse problema social e de saúde pública
podem impactar essas mulheres de diversas formas, deixando-as mais expostas a situações
negligentes de saúde pública, como prostituição sem nenhum tipo de direito, uso de drogas,
gravidez indesejada, doenças, suicídio, danos físicos e questões psicológicas. Podem ser
expressas em atitudes visíveis como comportamentos e atos violentos ou as sutis e legitimadas
por estruturas históricas e culturais, por vezes, difíceis de serem detectadas (CORRÊA e
ZIRBEL, 2021).
16
Além disso, a violência de gênero – eixo opressor interseccional - promove a
despotencialização das mulheres as reduzindo a meros objetos, inclusive por elas mesmas.
Segundo Saffioti (2004/2019), devido a organização social de gênero, as impunidades dos
agressores das mulheres e as violações normatizadas no dia a dia, as mulheres são destituídas
de poder para mudar a situação de violência. E ainda, com as múltiplas estruturas de opressão,
“No que tange a violência de gênero, não é difícil observar que a mulher é considerada um mero
objeto não apenas por seu agressor, mas por ela mesma. Faz parte do discurso da vítima
considerar-se somente objeto, ou seja, não sujeito” (SAFFIOTI, 2019, p. 151). Nota-se, então,
a importância do diálogo sobre o tema, com o objetivo de análise atenta e de pôr em prática as
provocações de fendas e rachaduras analisadas por Domenico U. Hur (2019) que convidam à
análise do cotidiano e a possibilidade de transmutações sociais e subjetivas.
Método
Como método de pesquisa será utilizado a Cartografia, proposto por Deleuze e Guattari
(2004) e utilizado por outros autores na investigação de processo de produção de subjetividade
(Passos, Kastrup e Escóssia, 2014). A escolha desse método ao contrário de privilegiar a
simples coleta e descrição de informações, possibilita acompanhar processos presentes no
território investigado, evidenciando a trama composta pelos discursos e práticas engendrados
pelos atores envolvidos na temática pesquisada. Neste sentido, o método cartográfico não busca
estabelecer um caminho linear e único para investigação frequentemente utilizados em
pesquisas na área das ciências humanas. Sua importância reside, entre outras coisas, à uma nova
forma de perceber o sujeito em suas relações com o mundo. Este passa a ser visto como
múltiplo, com ilimitadas possibilidades de agenciamentos e conexões no seu ambiente. Esta
perspectiva possibilita que o confronto com outras experiências e discursos, tidos como
diferentes, seja um encontro criativo, que amplie a sempre limitada visão que temos de nosso
mundo.
17
Em suma, a cartografia é encarada como processualidade, produção de possibilidades
que decompõe as normas instituídas e compõe novas ordens de múltiplas direções. Essa
perspectiva nos permite pensar a produção histórica de instituições como, gênero, violência,
classe, raça e territorialidade. Incita a romper com as práticas positivistas que acreditam em um
indivíduo uno, com uma essência, e que opera dentro dos regimes de causa e efeito, para
pensarmos os objetos de nossa análise de múltiplas formas, e enquanto acontecimentos que
estão imediatamente junto de nós, diretamente articulados com a materialidade de nossa prática.
18
relacionados a experiência de ser mulher na baixada fluminense. A proposta inicial tem o
objetivo de formar dois grupos abertos de oito a dez mulheres, com dez encontros semanais. A
equipe de pesquisa será formada por três profissionais, eu, como pesquisadora do tema e mais
duas pesquisadoras voluntárias graduandas do curso de psicologia na Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro.
Os registros das rodas de conversa serão feitos através de diário de bordo, o qual será
escrito por todas as pesquisadoras participantes do encontro. Essa construção visa incluir os
pesquisadores e os pesquisados, permitindo a ampliação e publicização da análise das
implicações que se cruzam na pesquisa (BARROS e PASSOS, 2020). Nele abordaremos nossos
afetos, implicações e questões de cada roda a fim de construir uma viagem-intervenção coletiva.
19
Cronograma
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Atividades Período (2021)
Revisão bibliográfica X X X X X X X X X X X X
Elaboração do projeto X X X X X X X X X X
Referências bibliográficas:
_____. Dossiê mulher: 2021 / 16. ed. -- Rio de Janeiro, RJ : Instituto de Segurança Pública,
2021.
ALMEIDA, Silvio Luiz de; Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo : Sueli
Carneiro ; Pólen, 2019.
20
BUTLER, Judith; Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade; 16.ed.,
Civilização brasileira: Rio de Janeiro, 2018.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia. Vol. I. São
Paulo, 34. Ed. 2004.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo:
Elefante, 2017.
FILHO, R., ARAÚJO, R.; Evasão e abandono escolar na educação básica no Brasil: fatores,
causas e possíveis consequências; Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 35-48, jan.-jun. 2017.
FOUCAULT, Michel; História da sexualidade III: O cuidado de Si, ed. 7.; Rio de Janeiro/São
Paulo, Paz & Terra, 2018.
MONTEIRO, Linderval; A Baixada Fluminense em perspectiva; Anos 90, Porto Alegre, v. 12,
n. 21/22, p.487-534, jan./dez. 2005.
21
MOURA, Adriana; LIMA, Maria. A Reinvenção da roda: Roda de conversa: Um instrumento
metodológico possível. Revista Temas em Educação, João Pessoa, v.23, n.1, p. 98-106, jan.-
jun. 2014.
REVEL, Judith; Michel Foucault: conceitos essenciais; São Carlos: Clara Luz, 2005.
SAFFIOTI, H; Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
SPINK, Peter Kevin; RAMOS, Ana Marcia; Rede Socioassistencial do SUAS: configurações e
desafios; O Social em Questão, Ano XIX; nº 36, p. 285-310, 2016.
Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. - Brasília: Rio de Janeiro :
Ipea 2019.
_____. LEI Nº 12.435, de 6 julho de 2011 cria o Art 24-A que institui o Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF).
22