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DIREITO PENAL:

CRIMES CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA,
ADMINISTRAÇÃO DA
JUSTIÇA E CONTRA
AS FINANÇAS
PUBLICAS

Professor Eduardo Ivar

Petrolina-PE
E então chegamos ao último título do Código
Penal!

Pegando o gancho, a título de informação, sobre


ter sido este o último título, a quem entenda se tratar de
pequena importância conferida pelo legislador a esta
temática, o que se infere das curtas penas a delitos tão
graves. Porém, a doutrina majoritária explica que isso se
deu em razão do critério adotado pelo CP para a organização
dos tipos penais, que é o critério individualista, protegendo
primeiro interesses individuais e, apenas ao final,
interesses coletivos, como a administração pública.

Como demonstração de importância, destacam,


inclusive, que crimes contra a administração pública, por
quem está a seu serviço, estão sujeitos à
extraterritorialidade incondicionada e que a condição para
que um condenado por crime contra a administração pública
progredir de regime é a reparação de dano.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Esses são os chamados “crimes funcionais”,


também chamados de “delicta in officio”. São crimes
praticados por funcionários públicos contra a Administração
Pública, no exercício da função ou em razão dela. Não basta
ser crime praticado por funcionário público, tem que haver
o nexo funcional entre a função e o crime praticado. O
sujeito ativo, em regra, necessariamente deve ser
funcionário público.
São duas espécies de crimes funcionais:

 Crimes funcionais próprios ou propriamente


dito: a condição de funcionário público é essencial à
tipicidade do fato. Assim, faltando a qualidade de servidor
do agente, o fato passa a ser um indiferente penal/fato
atípico. Ex: prevaricação, prevista no art. 319 do CP.

 Crimes funcionais impróprios: Faltando a


qualidade de servidor do agente, o fato deixa de configurar
crime funcional, gerando crime comum. Ou seja, a ausência da
condição de funcionário público leva à desclassificação para
outro crime. Ex: concussão, pois se cometido por particular,
vira extorsão.


TODO crime funcional caracteriza improbidade,
MAS NÃO é todo ato de improbidade que caracteriza crime
funcional.

Obs.: Existem crimes funcionais previstos fora


do Capítulo I, do Título XI, da Parte Especial do CP (arts.
312 a 326). Exemplo: art 300 do CP (crime de falso
reconhecimento de firma ou letra – “reconhecer, como
verdadeira, no exercício de função pública, firma letra que
não seja”. Geralmente é crime praticado por tabelião); art
301 do CP (crime de certidão ou atestado ideologicamente
falso – “Atestar ou certificar falsamente, em razão da função
pública, fato ou circunstância que habilite alguém...”)

O sujeito ativo é próprio (funcionário


público). O sujeito passivo desses crimes é a Administração
Pública e, em segundo lugar, eventual pessoa lesada pela
conduta.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS

Funcionário público típico ou propriamente


dito:
*Art. 327 - Considera-se funcionário público,
para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Funcionário público atípico ou por equiparação:


§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública.

O art. 327, caput, do CP prevê o funcionário


público típico, que é aquele que exerce cargo, emprego ou
função pública, embora transitoriamente ou sem remuneração.
Ao passo que o §1º do art. 327 tipifica o funcionário público
atípico, que é aquele que exerce cargo, emprego ou função em
entidade paraestatal ou que trabalha em empresa prestadora
de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.

Cuidado!

 O sujeito tem que trabalhar em empresa que


execute atividade TÍPICA da administração, ou seja,
atividade que vise o bem do administrado.

 Não abrange, portanto, as empresas


contratadas ou conveniadas para a execução de atividade
atípica.
Ademais, trata-se de exemplo de norma penal
explicativa, interpretação autêntica/legislativa.
Cargo público X Múnus público (encargo público)
– Não se confundem. Administradores judiciais da falência,
inventariante judicial, tutores e curadores, por exemplo,
que exercem múnus público, não são equiparados a funcionários
públicos para fins penais. É uma “prestação de favor”, um
encargo e não uma função pública.

SÃO CONSIDERADOS “FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS” PARA


FINS PENAIS:

Diretor de organização social

O diretor de organização social pode ser


considerado funcionário público por equiparação para fins
penais (art. 327, § 1º do CP). As organizações sociais que
celebram contratos de gestão com o Poder Público são
consideradas “entidades paraestatais”.
STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).

Administrador de Loteria

Administrador de Loteria é equiparado a


funcionário público para fins penais porque a Loteria
executa atividade típica da Administração Pública que lhe
foi delegada por regime de permissão.
STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018.

Advogados dativos

O advogado que, por força de convênio


celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em
defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da
assistência judiciária gratuita, enquadra-se no conceito de
funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a
funcionário público, é possível que responda por corrupção
passiva (art. 317 do CP).
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info
579).
Razão: faz o papel da defensoria, há convênio
com o poder público e recebe do poder público.

Médico de hospital particular


credenciado/conveniado ao SUS (após a Lei 9.983/2000)

Somente depois da Lei nº 9.983/2000, que


alterou o § 1º do art. 327 do CP, é que o médico
credenciado ao SUS pode ser equiparado a funcionário
público para efeitos penais.
Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº
9.983/2000 não pode retroceder alcançar situações
praticadas antes de sua vigência.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel.
Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012.

Estagiário de órgão ou entidade públicos

Estagiário de órgão público que, valendo-se


das prerrogativas de sua função, apropria-se de valores
subtraídos do programa bolsa-família, subsume-se
perfeitamente ao tipo penal descrito no art. 312, § 1º, do
Código Penal (peculato- furto), porquanto estagiário de
empresa pública ou de entidades congêneres se equipara,
para fins penais, a servidor ou funcionário público, em
decorrência do disposto no art. 327, § 1º, do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012.

Cuidado. Depositário judicial NÃO é considerado


funcionário público Depositário judicial não é funcionário
público para fins penais, porque não ocupa cargo público,
mas a ele é atribuído um munus, pelo juízo, em razão do
fato de que determinados bens ficam sob sua guarda e zelo.

STJ. 6ª Turma. HC 402.949-SP, Rel. Min. Maria


Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623).

Causa de aumento de pena:

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte


quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público.

 Justificativa: maior reprovabilidade.

 STF: A causa de aumento de pena prevista no §


2º do art. 327 do CP aplica-se ao Chefe do Poder Executivo
(ex.: Governador do Estado) e aos demais agentes políticos.
STF. Plenário. Inq 2606/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
4/9/2014 (Info 757).

 O §2º foi omisso com relação às autarquias,


assim, o Diretor de uma autarquia não terá a sua pena
aumentada de 1/3. Nesse sentido:
STF: A causa de aumento prevista no § 2º do art.
327 do Código Penal não pode ser aplicada aos dirigentes de
autarquias (ex: a maioria dos Detrans) porque esse
dispositivo menciona apenas órgãos, sociedades de
economia mista, empresas públicas e fundações. STF. 2ª
Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
3/9/2019 (Info 950).

Segundo o STF, o simples fato de o réu exercer


um mandato popular não é suficiente para fazer incidir a
causa de aumento do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que
ele ocupe uma posição de superior hierárquico (Inf. 816).

* CUIDADO COM O PREFEITO! Há norma própria


prevendo crimes funcionais, que é o DL 201/67, de modo que,
frente a um conflito aparente de normas entre os crimes a
serem estudados aqui e os do decreto, prevalecerá o segundo,
em razão do princípio da especialidade – Ex.: peculato
apropriação e desvio.

1.2 CONCURSO DE PESSOAS X CRIMES FUNCIONAIS.

É possível que um particular seja


responsabilizado por um crime de peculato, por exemplo? Se
ele agir sozinho, não. No entanto, se houver concurso de
pessoas com quem detenha a condição especial de funcionário
público – sabendo o particular desta condição, este poderá
sim responder pelo mencionado delito, por força do artigo
30 do CP, tendo em vista que, embora o fato de “ser
funcionário público” seja uma condição pessoal, se
comunicará a todos os agentes, por ser elementar dos delitos
funcionais.
Exceção: nos crimes de concussão e de corrupção
passiva, por exemplo, também pode ser sujeito ativo quem
está prestes a assumir função pública, ou seja, se é “quase”
funcionário público, ainda é particular.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRIMES FUNCIONAIS

a) Vitimização difusa: os crimes contra a


Administração Pública ofendem um bem jurídico difuso.
Ofendem o patrimônio público, tendo como vítima toda a
coletividade. Ex.: dinheiro que era para ser empregado na
segurança pública e é desviado, prejudicando toda a
coletividade (não possuem uma vítima determinada).
 Efeito boomerang: os crimes contra a
coletividade têm o efeito boomerang. Esse efeito boomerang é
visualizado quando o autor de um crime também é prejudicado
pelo crime por ele prejudicado.

b) Não existe crime funcional hediondo ou


equiparado. Para muitos autores isso é um erro da lei dos
crimes hediondos.

c) Elemento subjetivo: Em Regra, os crimes


funcionais são crimes dolosos. No entanto, há um crime
funcional que admite a modalidade culposa - PECULATO.

d) Princípio da Insignificância: Há divergência


jurisprudencial acerca da aplicação do princípio da
insignificância aos crimes contra a administração pública:

STF – admite aplicação do princípio da


insignificância nos crimes funcionais: A prática de crime
contra a Administração Pública, por si só, não inviabiliza
a aplicação do princípio da insignificância, devendo haver
uma análise do caso concreto para se examinar se incide ou
não o referido postulado.

STJ – NÃO admite a aplicação do princípio da


insignificância nos crimes funcionais, ainda que o valor da
lesão possa ser considerado ínfima. No entanto, admite o
princípio nos crimes praticados por particulares contra a
Administração Pública

Súmula 599, STJ - O princípio da


insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública. (2017)

O princípio da insignificância pode ser


aplicado aos crimes contra a Administração Pública?

Para o STJ, não. Não se aplica o princípio da


insignificância aos crimes contra a Administração Pública,
ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo.
Segundo o STJ, os crimes contra a Administração Pública têm
como objetivo resguardar não apenas o aspecto patrimonial,
mas, principalmente, a moral administrativa. Logo, mesmo que
o valor do prejuízo seja insignificante, deverá haver a
sanção penal considerando que houve uma afronta à moralidade
administrativa, que é insuscetível de valoração econômica.

O STF concorda com a Súmula 599 do STJ?

NÃO. No STF, há julgados admitindo a aplicação


do princípio mesmo em outras hipóteses além do descaminho,
como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 26/04/2011 e do HC 112388, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar
Peluso, julgado em 21/08/2012.
Segundo o entendimento que prevalece no STF, a
prática de crime contra a Administração Pública, por si só,
não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância,
devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar
se incide ou não o referido postulado.

* ATENÇÃO: O STJ admite o princípio da


insignificância ao crime de descaminho (art. 334 do CP),
que, topograficamente, está inserido nos crimes contra a
administração pública. O STF também tem decisões aplicando.
A regra é de que não, mas ambos comportam exceções em suas
decisões, então o candidato deve analisar a redação da
questão.

e) A progressão de regime do cumprimento da pena


nos crimes contra a Administração Pública está condicionada
à reparação do dano ou restituição do produto do crime, nos
termos do art. 33, § 4º, do CP. Aquim, além de ter cumprido
1/6 da pena, para haver a progressão de regime deve o
condenado reparar o dano.

§ 4o O condenado por crime contra a


administração pública terá a progressão de regime do
cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que
causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado,
com os acréscimos legais. (Incluído pela Lei nº 10.763,
de 12.11.2003).

f) Efeitos da condenação: A perda do cargo,


função ou mandato é um dos efeitos da condenação.
 Efeito secundário, específico e não
automático.

 Quando aplicada pena privativa de liberdade


por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública

g) Extraterritorialidade incondicionada da lei


penal brasileira: Nos termos do art. 7°, 1, e, do CP, ficam
sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro,
os crimes contra a administração pública, por quem está a
seu serviço.

2 DOS CRIMES FUNCIONAIS EM ESPÉCIE

PECULATO

Peculato

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário


público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos,


e multa.

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o


funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que
lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato culposo

§ 2º - Se o funcionário concorre
culposamente para o crime de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior,


a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade
a pena imposta.

a) Bem jurídico tutelado:

O bem jurídico protegido, no crime de peculato,


é a Administração Pública, em seus aspectos material e moral.
Aqui nesse aspecto material temos a preservação do erário
(erário público é redundância! Erário já é público). No
aspecto moral temos tutela da lealdade e probidade dos
agentes públicos.

O crime de peculato pode tutelar também o


patrimônio de particulares? Resposta: Sim. Também existe o
crime de peculato quando se tutela o patrimônio de
particulares, no caso de quando o patrimônio do particular
estiver sob a custódia, sob a guarda da Administração Pública
(não é todo e qualquer patrimônio de particular). Ex.: se
o seu carro é apreendido pela polícia rodoviária e o policial
vai e se apropria do aparelho de som do seu carro (bem
particular que está sob a custódia da Administração Pública).
Aqui é sim crime de peculato.

Obs.: Peculato Malversação é aquele que atinge


bens particulares que estão sob a custódia da Administração
Pública.

a) Objeto Material: O art. 312 fala em


dinheiro, valor, ou qualquer bem móvel público ou
particular.
Esse dinheiro pode ser nacional ou estrangeiro,
não fazendo o CP qualquer distinção.
Quando se fala em “bem móvel” atenta-se para o
fato de que os “bens imóveis”, por expressa exclusão legal,
não podem ser objeto do crime de peculato.

Obs.: em regra, a prestação de serviços não é


considerada bem móvel para ser objeto material de peculato,
pois não tem natureza jurídica de bem móvel. O agente público
que utiliza mão de obra pública para fins particulares não
há crime de Peculato, mas sim de improbidade administrativa
(enriquecimento ilícito). No entanto, se o agente público
que utiliza indevidamente o serviço público é o prefeito o
crime não será de improbidade, mas sim o crime previsto no
referido Decreto lei.

b) Elemento Subjetivo:

 Dolo – consciência e vontade de apropriar-se


ou desviar.

 Elemento subjetivo especial – em proveito


próprio ou alheio.

c) Espécies:
Nomenclatura Conduta nuclear

PECULATO Apropriar-se
APROPRIAÇÃO
PECULATO DESVIO Desviar

PECULATO FURTO S o c p q
ubtrair u oncorrer ara ue eja
subtraí
do
PECULATO CULPOSO Concorrer
culposamente
PECULATO MEDIANTE Apropriar-se após
ERRO DE ter recebido por erro de outrem
OUTREM (PECULATO-
ESTELIONATO)
PECULATO - Inserir ou
ELETRÔNICO facilitar inserção; e alterar
ou excluir dados;
- Modificar
sistema ou programa.

Além disso, o peculato pode ser:

 Peculato Próprio: É o peculato do caput, que


abrange o peculato apropriação e o desvio.

 Peculato Impróprio: É o peculato do § 1º, e,


portanto, é sinônimo peculato furto.

2.1.1 Peculato apropriação (art. 312, caput,


primeira parte do CP)

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público


de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Para que haja peculato – apropriação ou desvio


– o objeto material tem que estar na posse do funcionário
público em razão do cargo ocupado. Isso significa que deve
estar entre as atribuições do agente a posse da coisa. Neste
sentido, não basta uma posse por ocasião do cargo; deve haver
um nexo entre a posse e as suas atribuições
O funcionário público pode praticar o crime em
concurso com outras pessoas, inclusive com quem seja estranho
aos quadros da Administração Pública, desde que conhecedor
da qualidade de funcionário público, conforme explicado
acima. Se desconhecer tal qualidade, responderá por
apropriação indébita.

Consumação: O crime se consuma a partir do


momento em que o funcionário público se apropria da coisa
agindo como se dono fosse, ou seja, no momento em que passa
a externar os poderes de proprietário da coisa, tratando-se
de crime material, sendo desnecessário, no entanto que o
agente ou terceiro efetivamente obtenham vantagem com a
prática do delito.
Exige-se a intenção de não devolver o objeto
material, de ter a coisa como sua, bem como, especial fim de
agir: “em proveito próprio ou alheio” (dolo específico).

Peculato desvio (art. 312, caput, segunda parte


do CP)

O funcionário confere destinação diversa à


coisa, em proveito próprio ou de outrem.
Consumação: alteração do destino original, em
proveito próprio ou alheio (tratando-se de crime material).
Segundo o STF, é dispensável a efetiva obtenção de vantagem
para a consumação.

Diferença de peculato desvio para o delito de


emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315 do
CP) – enquanto no peculato desvio a destinação diversa é
para atender interesses particulares, neste a destinação
ainda será para atender interesse público, porém, diversa da
prevista em lei (há possibilidade de alegação de estado de
necessidade). Nesse sentido:

STF: Secretária de Estado que desvia verbas


de convênio federal que tinha destinação específica e as
utiliza para pagamento da folha de servidores não pratica
o crime de peculato (art. 312 do CP), mas sim o delito de
emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315).
STF. 2ª Turma. Inq 3731/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 2/2/2016 (Info 813).

Situação diversa ocorre quando o


Município/Estado retém empréstimos consignados para o
pagamento de despesas da Administração, hipótese que
configura o crime de peculato desvio.

Diversos servidores municipais tinham


empréstimos consignados cujos valores eram descontados da
folha de pagamento. O Prefeito ordenou que fosse feita a
retenção, mas que tais valores não fossem repassados à
instituição e sim gastos com o pagamento de despesas do
Município. Isso foi feito no último ano do mandato do
Prefeito, quando não havia mais recursos para pagar o banco,
o que só foi feito no mandato seguinte. O STF entendeu
que, nesta situação, restou configurada a prática de dois
delitos: arts. 312 e 359-C do Código Penal. STF. 1ª Turma.
AP 916/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/5/2016
(Info 826).

Pratica o crime de peculato-desvio o


Governador que determina que os valores descontados dos
contracheques dos servidores para pagamento de empréstimo
consignado não sejam repassados ao banco, mas sim utilizados
para quitação de dívidas do Estado
O administrador que desconta valores da folha
de pagamento dos servidores públicos para quitação de
empréstimo consignado e não os repassa a instituição
financeira pratica peculato-desvio, sendo desnecessária a
demonstração de obtenção de proveito próprio ou alheio,
bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo.
Peculato-desvio é crime formal para cuja consumação não
se exige que o agente público ou terceiro obtenha vantagem
indevida mediante prática criminosa, bastando a
destinação diversa daquela que deveria ter o dinheiro.
Caso concreto: diversos servidores estaduais possuíam
empréstimos consignados. Assim, todos os meses a
Administração Pública estadual fazia o desconto das
parcelas do empréstimo da remuneração dos servidores e
repassava a quantia ao banco que concedeu o mútuo. Ocorre
que o Governador do Estado determinou ao Secretário de
Planejamento que continuasse a descontar mensalmente os
valores do empréstimo consignado, no entanto, não mais os
repassasse ao banco, utilizando essa quantia para
pagamento das dívidas do Estado. Esta conduta configurou
o crime de peculato-desvio (art. 312 do CP), gerando a
condenação do Govenador, com a determinação, inclusive,
de perda do cargo (art. 92, I, do CP). STJ. Corte Especial.
APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd.
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/11/2019 (Info
664).

Fique atento à recente jurisprudência sobre o


tema:

Configura o crime de peculato-desvio o


fomento econômico de candidatura à reeleição por
Governador de Estado com o patrimônio de empresas estatais
Governador do Estado que desvia grande soma
de recursos públicos de empresas estatais, utilizando esse
dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o
crime de peculato-desvio. As empresas estatais gozam de
autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-
se dizer que o Governador tem a posse do dinheiro neste
caso? É possível. Isso porque a posse necessária para
configuração do crime de peculato deve ser compreendida
não só como a disponibilidade direta, mas também como
disponibilidade jurídica, exercida por meio de ordens.
STJ. 5ª Turma. REsp 1776680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 11/02/2020 (Info 666).

STF recebeu denúncia contra o Senador Renan


Calheiros em razão de ter desviado recursos públicos da
verba parlamentar para pagamento de pensão alimentícia à
filha

O Ministério Público ofereceu denúncia contra


o Senador Renan Calheiros pelas seguintes condutas: • o
denunciado teria desviado recursos públicos da chamada
verba indenizatória (destinada a despesas relacionadas ao
exercício do mandato parlamentar) para pagar pensão
alimentícia à filha. Com isso, teria praticado peculato
(art. 312 do CP). • além disso, ele teria inserido e feito
inserir, em documentos públicos e particulares,
informações diversas das que deveriam ser escritas, com o
propósito de alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante (sua capacidade financeira para custear
despesas da referida pensão). Isso porque o parlamentar,
ao prestar contas dos valores recebidos a título de verba
indenizatória, teria apresentado notas fiscais fictícias,
ou seja, de serviços que não teriam sido prestados.
Ademais, ele teria apresentado livros-caixa de suas
atividades como pecuarista com informações supostamente
falsas. Por conta desses fatos, foi denunciado pelos crimes
de falsidade ideológica (art. 299) e de uso de documento
falso (art. 304). Quanto ao art. 312 do CP, a denúncia foi
recebida porque o STF entendeu estarem presentes indícios
de autoria e materialidade minimamente suficientes. No
que tange aos arts. 299 e 304 do CP, a denúncia foi
rejeitada em virtude de os delitos imputados estarem
prescritos. STF. Plenário. Inq 2593/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 1º/12/2016 (Info 849).

Cuidado! O servidor público (ex: um Deputado


Federal) que se utiliza do trabalho de outro servidor público
(ex: assessor parlamentar) para lhe prestar serviços
particulares pratica crime de peculato (art. 312 do CP)?

 Situação 1. Servidor público que se utiliza


da mão-de-obra de outro servidor público (normalmente seu
subordinado) para, em determinados momentos, fazer com que
este preste serviços particulares a ele. Esta conduta não
configura peculato nem qualquer outro crime.

Atenção: se o indivíduo que se utilizou do


servidor público for Prefeito, ele cometerá o delito do art.
1º, II, do DL 201/67.

 Situação 2. Servidor público que utiliza a


Administração Pública para pagar o salário de empregado
particular. Aqui o chefe contrata um indivíduo supostamente
para ser servidor público (cargo comissionado), mas, na
verdade, ele manda que a pessoa contratada preste
exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Esta
conduta, em tese, configura peculato. Isso porque o dinheiro
público está sendo desviado para o pagamento de um "servidor"
que, formalmente está vinculado à Administração Pública, mas
que, na prática, apenas executa serviços para outro servidor
público no interesse particular deste último.
Caso concreto: o Deputado Federal Celso
Russomanno (PRB-SP) contratou para o cargo de secretária
parlamentar, com remuneração paga pela Câmara dos Deputados,
a senhora "SJ". Ocorre que, de acordo com a acusação, "SJ"
trabalhava, na verdade, não na Câmara, mas sim na
produtora de vídeo do Deputado, em São Paulo. Assim, para
o MP, o Deputado utilizou a assessora para o exercício de
atividade privada, embora recebendo pelos cofres públicos.
A 2ª Turma do STF absolveu o réu. Segundo ficou decidido,
"SJ", ainda que tenha exercido algumas atividades de
interesse particular do Deputado na produtora, dedicou-
se preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar
no escritório político de Celso Russomano em São Paulo,
atendendo cidadãos que se sentiam lesados em suas relações
de consumo. Assim, a prova dos autos demonstrou que “SJ”
exercia as atribuições inerentes ao cargo de assessora
parlamentar, ainda que também, algumas vezes,
desempenhasse outras atividades no estrito interesse
particular do parlamentar. Dessa forma, pela prova colhida,
a conduta do Deputado foi penalmente atípica, uma vez que
consistiu no uso de funcionário público que, de fato,
exercia as atribuições inerentes ao seu cargo para, também,
prestar outros serviços de natureza privada. Em outras
palavras, o caso de Russomano se enquadrou na situação 1
acima explicada. STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min.
Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).

Obs.: Depositário judicial que vende os bens


não pratica peculato.
O depositário judicial que vende os bens sob
sua guarda não comete o crime de peculato (art. 312 do
CP). O crime de peculato exige, para a sua consumação,
que o funcionário público se aproprie de dinheiro, valor
ou outro bem móvel em virtude do “cargo”. Depositário
judicial não é funcionário público para fins penais,
porque não ocupa cargo público, mas a ele é atribuído um
munus, pelo juízo, em razão do fato de que determinados
bens ficam sob sua guarda e zelo. STJ. 6ª Turma. HC 402949-
SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
13/03/2018 (Info 623). Obs: vale ressaltar que o STJ
decidiu apenas que a conduta do depositário judicial que
vende os bens sob sua guarda não comete o crime de peculato,
pois não é funcionário público e não ocupa cargo público.
No entanto, a depender das peculiaridades do caso
concreto, a conduta pode configurar, em tese, os tipos
penais dos arts. 168, § 1º, II, 171 ou 179 do Código Penal.

Obs.: Os valores apropriados possuem natureza


semelhante a de tributos, devendo ser suspensa a ação penal
enquanto perdurar o parcelamento da dívida

A ação penal que apura a prática de crime de


peculato de quantia de natureza sui generis com estreita
derivação tributária, por suposta apropriação, por Tabelião,
de valores públicos pertencentes a Fundo de
Desenvolvimento do Judiciário deve ser suspensa enquanto
o débito estiver pendente de deliberação na esfera
administrativa em razão de parcelamento perante a
Procuradoria do Estado. STJ. 6ª Turma. RHC 75768-RN, Rel.
Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 15/8/2017 (Info
611).
Peculato Furto (artigo 312, §1º)

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o


funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade
que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

É a subtração de coisa sob guarda ou custódia


da administração. O agente não tem a posse da coisa, mas se
vale da facilidade que a condição de funcionário lhe concede
para subtrair a coisa do ente público ou de particular sob
custódia da Administração.
Aqui, no peculato-furto, existem 2 núcleos:

1º - SUBTRAIR - inverter a posse do bem. O


funcionário público não estava na posse do bem, mas sim a
Administração e o funcionário público “vai lá” e inverte a
posse do bem. Aqui o funcionário público é o executor direto
da subtração.
2º - CONCORRER para a subtração - Aqui
quem subtrai o bem é o terceiro e não o funcionário público
(o funcionário público colabora dolosamente para a subtração
de terceiro).

 Nessa modalidade nós temos um crime de


concurso necessário, reclamando a presença de ao menos 2
pessoas: o terceiro que subtrai e o funcionário público que
concorre dolosamente para a essa subtração.
E se o funcionário público concorreu
culposamente para a subtração de terceiro? Ex. o funcionário
público sai apressado e deixa a porta da repartição aberta,
colaborando culposamente para a subtração praticada por
terceiro. Se a colaboração foi culposa, porém, termos o
peculato culposo para o funcionário público e outro crime,
normalmente o furto, para o terceiro. Nessa hipótese, do
peculato culposo, NÃO há concurso de pessoas entre o
funcionário público e terceiro, cada qual respondendo pelo
seu crime (peculato culposo e furto, p.ex.).

Se consuma com a subtração.

Obs.: As modalidades do caput (peculato


apropriação e desvio) são consideradas “peculato próprio”.
Já a do §1º (peculato furto) é considerado “peculato
impróprio”. Mas atenção: NÃO CONFUNDA isso com o fato de
serem crimes funcionais impróprios, já que, todos os três,
em sendo retirada a qualidade de funcionário público, haverá
outra tipificação correspondente.

Peculato desvio e apropriação: Há regramento


próprio para prefeito no DL 201/67.

Peculato furto: não há regramento próprio,


prefeito pode praticar.

Os núcleos de exigem animus de apoderamento


definitivo. Pergunta-se então: há peculato de uso? Ex.:
Servidor público que utiliza temporariamente bem público
para satisfazer interesse particular, sem a intenção de se
apoderar ou desviar definitivamente a coisa, comete crime

Para responder, vamos relembrar os requisitos


do furto de uso
 Intenção, desde o início, de uso momentâneo
da coisa subtraída;

 Coisa não consumível;

 Restituição imediata e integral à vítima.

Temos, portanto, que diferenciar as seguintes


situações:

 Se o bem é infungível e não consumível: NÃO


haverá crime

Ex.: é atípica a conduta do servidor público


federal que utilizar carro oficial para levar seu cachorro
ao veterinário.
Ex.2: é atípica a conduta do servidor que usa o
computador da repartição para fazer um trabalho escolar.

 Se o bem é fungível ou consumível: SIM – há


crime

Ex.: haverá fato típico na conduta do servidor


público federal que utilizar dinheiro público para pagar
suas contas pessoais, ainda que restitua integralmente a
quantia antes que descubram.

Obs.: mão de obra é serviço, não é coisa. Assim,


não há peculato de serviço.

Exceção: quando o sujeito ativo for o PREFEITO,


tendo em vista que há disposição própria no DL 201/67:
 O decreto lei 201/67, no art. 1º, II tipifica
o peculato de uso prevendo criminosa a conduta de “ utilizar,
indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas
ou serviços públicos.
 Prevê peculato de uso de serviço público, não
se limitando a bens.

Peculato culposo (artigo 312, §2º)

Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente
para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a
um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a
reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
metade a pena imposta.

Trata-se do único crime funcional culposo e,


assim, não admite tentativa. O agente atua com negligência,
imprudência ou imperícia, sendo crime de menor potencial
ofensivo.

Não há concurso de pessoas. O agente público


não sabe que o terceiro vai cometer crime em decorrência da
conduta culposa facilitadora por ele praticada.
A esse respeito, importa salientar que não
basta uma conduta negligente do funcionário público, por
exemplo, para que este crime reste configurado. É preciso
que um terceiro se utilize desta conduta para a prática de
um crime doloso. Se ninguém se aproveitar desta conduta,
este delito não será caracterizado.
O que se entende por “crime de outrem”?
1ª corrente – Majoritária: Numa interpretação
topográfica, “crime de outrem” abrange somente o peculato
doloso do caput e do § 1º do art. 312.

 Peculato apropriação

 Peculato desvio

 Peculato furto.

2ª corrente: A expressão “crime de outrem”


abrange qualquer delito que viole a Administração Pública,
direta ou indiretamente. Ex: o furto.

Momento consumativo é o da prática do crime


doloso praticado por terceiro e não do ato culposo praticado
pelo funcionário público.
Benefício legal para a reparação do dano no
peculato-culposo: A reparação do dano antes do trânsito em
julgado extingue a punibilidade. Se houver a reparação do
dano posterior ao transito em julgado reduz a pena de metade.

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a


reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
metade a pena imposta.

Obs.: A extinção da punibilidade não exclui a


responsabilidade administrativa do funcionário público. Ele
pode ser investigado num processo administrativo, ser réu
num processo de improbidade administrativa, etc.

Obs.: A reparação do dano no peculato doloso


NÃO extingue a punibilidade. Essa reparação do dano no
peculato culposo, dependendo do momento em que ocorrer,
poderá caracterizar o arrependimento posterior do art, 16 do
CP (se a reparação ocorrer antes do recebimento da denúncia);
ou a atenuante genérica do art. 65, III, do CP (se ocorrer
depois do recebimento da denúncia, mas antes da sentença).

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência


ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída
a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por
ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a
dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984).

Art. 65 - São circunstâncias que sempre


atenuam a pena:
III - ter o agente:(Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984);

Peculato mediante erro de outrem (peculato estelionato –


art. 313)

Peculato mediante erro de outrem


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou
qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por
erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Pune-se a candura do agente que inverter, no


exercício do seu cargo, a posse de valores recebidos por
erro de terceiro. O bem apoderado, ao contrário do que
ocorre no peculato apropriação, não está naturalmente na
posse do agente, derivando de erro alheio.
A consumação ocorre no momento em que o agente,
percebendo o erro, não o desfaz, apropriando-se da coisa e
agindo como se dono fosse.

* ATENÇÃO: O erro do ofendido deve ser


espontâneo, pois se provocado pelo funcionário, poderá
configurar crime de estelionato.

PECULATO PECULATO PECULAT


PRÓPRIO IMPRÓPRIO O ESTELIONATO
Previsã Previsã Previsã
o: art. 312, caput, o: art. 312, § 1º, do o: art. 313 do CP.
do CP. CP.
O núcleo O O
verbal é “apropriar- núcleo verbal é núcleo verbal é
se” ou “desviá-lo”. “subtrair ou “apropriar- se”.
concorrer para
que seja
subtraí
do”.
O O O agente
agente tem a posse da agente não tem a tem a posse da coisa.
coisa. posse da
coisa.
Posse é Posse é
legítima, em razão ilegítima, recebida
do por
cargo. erro de
outrem.

2.1.1 Peculato Eletrônico (Artigo 313-A e 313-


B, incluídos pela lei 9.983/00)
* ATENÇÃO À REDAÇÃO:

Inserção de dados falsos em sistema de


informações

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o


funcionário autorizado, a inserção de dados falsos,
alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos,
e multa.

Somente poderá ser praticado pelo funcionário


público autorizado, isto é, aquele que estiver lotado na
repartição encarregada de cuidar dos sistemas informatizados
ou banco de dados da Administração Pública.

Caso o funcionário NÃO autorizado, exclua, por


exemplo, dados do sistema, o crime será de falsidade
ideológica.

Tem fim especial de agir.

Modificação ou alteração não autorizada de


sistema de informações

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário


(não se exige que seja funcionário autorizado), sistema de
informações ou programa de informática sem autorização ou
solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois)
anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de
um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o
administrado.

Não tem fim especial de agir.

Art. 313-A x 313-B:

Art. 313-A: Pune-se a inserção ou sua


facilitação de dados falsos ou alteração ou exclusão indevida
de dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de
dados da Administração Pública. Admite concurso, podendo ser
particular.
Tem semelhança com a falsidade ideológica, já
que o sistema é verdadeiro e os núcleos do tipo recairão
sobre os dados.

Art. 313-B: O que se coíbe é a ação física de


modificar ou alterar o próprio sistema ou programa de
informática. Naquele o agente não ingressa no sistema
operacional (software), mas apenas falsifica os arquivos do
programa. Neste o funcionário altera a própria programação
de modo a modificar o meio e modo de geração e criação de
arquivos e dados. Tem semelhança com a falsidade material,
já que é o próprio sistema que vai ser modificado ou alterado
indevidamente.
ARTIGO 313-A ARTIGO 313-B
Funcionário Funcionário no
sentido amplo do art. 327
público do CP.
S
AUTORIZADO a Não exige
ujeito realizar que seja funcionário
ativo operações nos autorizado
sistemas
informatizados da
Administração. (não é
qualquer funcionário
público, isto é, no
sentido amplo do art. 327
do CP).
SP primário: SP primário:
Administração Pública. SP Administração Pública. SP
S secundário: secundário: pessoa
ujeito pessoa eventualmente prejudicada
passivo eventualmente pelo comportamento do
prejudicada pelo agente.
comportament
o do agente.
Pune a Pune modificar
C
conduta de inserir ou alterar sistema ou
onduta (ou programa.
facilitar),
alterar ou excluir dados.

Extravio, Sonegação e Inutilização de Livro ou


Documento (Art. 314)

Extravio, sonegação ou inutilização de livro


ou documento
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer
documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-
lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o
fato não constitui crime mais grave.
Art. 305. Art.
Supressão de documento 314. Extravio,
público sonegação ou
inutilização de livro
ou documento
O Crime contra a Crime
bjetividade fé pública contra a
jurídica Administração Pública
S Qualquer pessoa Funcioná
ujeito ativo (crime comum) rio público (crime
próprio)

Destruir, Extravia
suprimir ou ocultar r, sonegar ou
C
documento público ou inutilizar livro
onduta
particular verdadeiro oficial ou qualquer
documento de que tem
guarda em razão do
cargo
T Há Nãos e
ipo subjetivo finalidade exige
específica de qualquer
tirar proveito próprio facilidade específica
ou de outrem, ou
visando causar
prejuízo alheio
Reclusão de 2 a Reclusão
P6 anos, e multa, se o , de 1 a 4 anos, se
ena documento é público, e o fato não constitui
reclusão, de 1 a 5 anos, e crime mais grave.
multa, se o documento é
particular

2.1 E
mprego Irregular de Rendas ou Verbas Públicas (Art.
315)

Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas


aplicação diversa da estabelecida em lei (norma penal em
branco):
Pena - detenção, de um a três meses, ou
multa. (Crime de menor potencial ofensivo).

a) Emprego irregular de verbas públicas x


peculato- desvio:

Peculato: O sujeito ativo desvia o dinheiro,


valor ou outro bem móvel em proveito próprio ou alheio,
satisfazendo interesses particulares;
Desvio de verbas ou rendas: o autor emprega
o objeto material em benefício da própria Administração
Pública.

Competência: Será da Justiça Federal nas


hipóteses do art. 109, IV, da CF, ou seja, se as verbas
transferidas forem federais, enquanto não se incorporarem
ao patrimônio do ente recebedor.

Concussão
É uma extorsão qualificada pela qualidade de
funcionário público.

Art. 316 - EXIGIR, para si ou para outrem,


direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena
- reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
PENA DO CRIME DE CONSUSSÃO

Antes da L. Depois da L.
13964/19 13964/19
Reclusão de 2 a Reclusão de 2 a
8 anos, e multa. 12 anos, e multa.
Novatio
legis in
pejus
(irretroativa).

Com o aumento da pena máxima cominada, a


reprimenda do crime de concussão passa a ser a mesma dos
crimes de corrupção passiva (art. 317) e corrupção ativa
(art. 333).

d) Bem jurídico tutelado:

Moralidade administrativa

Regular desenvolvimento da Administração


pública

Patrimônio do particular prejudicado – de


forma mediata.

e) Sujeito ativo: Conforme se infere do caput,


o sujeito ativo pode ser:

Funcionário público no exercício da função;


Funcionário público fora do exercício da
função, mas em razão dela (ex.: férias);
Particular na iminência de assumir função
pública (entende a doutrina que, neste caso, só podem faltar
as etapas burocráticas/administrativas para a investidura do
cargo – ex.: falta marcar a posse). É UMA EXCEÇÃO EM QUE UM
PARTICULAR PODE PRATICAR SOZINHO UM CRIME FUNCIONAL.

* ATENÇÃO:

É imprescindível que o funcionário público, ao


exigir, faça crer que o poder em razão de seu cargo cause
medo em terceiro.

* PERTINÊNCIA TEMÁTICA: Para o STF, apesar de


a qualidade de funcionário público ser elementar da
concussão, quando esta conduta é praticada por policial a
reprovabilidade é maior, sendo possível a exasperação da
pena base com este fundamento sem que caracterize bis in
idem.

* CUIDADO COM PREVISÕES ESPECIAIS EM RAZÃO DO


SUJEITO ATIVO, EX.:

Fiscal de rendas, art. 3º, II da Lei 8.137/90;

- Militar, art. 305 do CPM.

Condutas punidas: Exigir para si ou para


outrem, direta ou indiretamente, vantagem indevida. A
conduta é intimidativa, coercitiva.

Não se confunde com mero pedido. Havendo mero


pedido, o crime é de corrupção passiva.
Para si ou para outrem: O “para outrem” pode
ser o próprio ente público.
Direta ou indiretamente: Pelo próprio
funcionário público ou por interposta pessoa.
Explicita ou implicitamente: Explicita é a
exigência clara e a implícita é a exigência velada.

A vantagem tem que ser INDEVIDA.

 Se a vantagem é devida: o crime pode ser


abuso de autoridade ou o de excesso de exação
A exigência de vantagem indevida a ser
revestida para a própria Administração Pública pode
caracterizar crime de excesso de exação.
 Funcionário deve estar ciente da origem
indevida da vantagem, sob pena de erro de tipo.

Art. 316 (…)


§ 1º - Se o funcionário EXIGE tributo ou
contribuição social que sabe ou deveria saber indevido
(dolo direto ou eventual e o tributo é indevido), ou,
quando devido, EMPREGA NA COBRANÇA MEIO VEXATÓRIO OU

GRAVOSO que a lei não autoriza (norma penal


em branco): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos,
e multa

A exigência da vantagem indevida deve ser


realizada em razão da função pública exercida pelo agente,
de modo que o agente público deve ter competência ou
atribuição para a prática do mal prometido. Faltando-lhe
poderes para tanto, mesmo que servidor, caracteriza o crime
de extorsão. Ex.: Promotor que exige vantagem de outro com a
ameaça de que irá prendê-lo; somente que pode prender
preventivamente é a autoridade judiciária)
OBS: Diferença de concussão para extorsão: O
primeiro é praticado sem violência ou grave ameaça, por
funcionário público, podendo ser qualquer vantagem indevida.
O segundo, com violência ou grave ameaça, vantagem indevida
econômica, crime comum.

a) Momento consumativo – STJ: No crime de


concussão, a situação de flagrante delito configura-se no
momento da exigência da vantagem indevida (e não no instante
da entrega). Isso porque a concussão é crime FORMAL, que se
consuma com a exigência da vantagem indevida. Assim, a
entrega da vantagem indevida representa mero exaurimento do
crime que já se consumou anteriormente. Ex: funcionário
público exige, em razão de sua função, vantagem indevida da
vítima; dois dias depois, quando a vítima entrega a quantia
exigida, não há mais situação de flagrância considerando que
o crime se consumou no momento da exigência, ou seja, dois
dias antes. STJ. 5ª Turma. HC 266460-ES, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 11/6/2015 (Info 564). (Via
Dizer o Direito)

Excesso de Exação – Art. 316, §§1º e 2º

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição


social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso,
que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137,
de 27.12.1990) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito)
anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de
27.12.1990)
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito
próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
b) Sujeitos do delito:

 Sujeito ativo - Crime próprio – funcionário


público, ainda que não tenha a atribuição de arrecadar
tributos.

 Sujeito passivo:

SP primário – é o Estado

SP secundário – particular que foi lesado.

f) Condutas:

 Exigência indevida: Exigência de tributo ou


contribuição social indevido (que sabe ou deveria saber ser)

 Cobrança vexatória ou gravosa: Exigência de


tributo ou contribuição social devida, porem com meio
executório vexatório ou gravoso, não autorizado por lei.
Em ambos os casos, o agente público, apesar de
empregar uma cobrança indevida ou por meio indevido, ele
recolhe o que arrecadou aos cofres públicos.
Se o que ele recolheu indevidamente for
desviado, não sendo destinado aos cofres públicos, incide a
qualificadora.

Observações:

 Na exigência indevida, o tipo penal prevê o


dolo direito e o dolo indireto (devia saber).

 De forma minoritária, existem autores que


defendem a previsão culposa na expressão “deveria saber”

g) Consumação:

 Exigência indevida - Crime formal -


consumação no momento em que a vitima toma ciência da
exigência, sendo indiferente o pagamento do tributo.

 Cobrança vexatória ou mais gravosa - Crime


formal - consumação com o emprego do meio vexatório ou mais
gravoso, sendo indiferente o recebimento do tributo.

FORMA QUALIFICADA - §2º:

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito


próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Punição do agente público que, em vez de


recolher aos cofres públicos o tributo que recebeu
indevidamente, ele desvia esse dinheiro em proveito próprio
ou alheio.

Obs.: Só há excesso de exação se o agente, antes


de recolher, desvia. Se o agente primeiro recolheu e depois
desviou, em tese, configura crime de peculato-desvio.

Corrupção Passiva

Também conhecida por “peita ou “suborno”.

Art. 317 - SOLICITAR ou RECEBER, para si ou


para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou ACEITAR PROMESSA de tal vantagem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos,
e multa.
Causa de aumento:

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em


consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional.
Mas atenção: Quando a prática (ou não) do ato
configurar crime autônomo será aplicada a majorante e sim
concurso material entre corrupção passiva e o outro
delito, em razão da vedação ao “bis in idem”.

Figura privilegiada:

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de


praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena
- detenção, de três meses a um ano, ou multa (infração
de menor potencial ofensivo e NÃO HÁ vantagem indevida).

“Favores administrativos”. É crime material.

h) Roubo x extorsão x concussão x corrupção


passiva:

R EXT C CORRUPÇ
OUBO ORSÃO ONCUSSÃO ÃO PASSIVA
S Con E Solicit
ubtrair stranger xigir ar Receber
(Violência (Violência ou (Coercitivo) Aceitar
ou grave grave ameaça) promessa (Condutas
ameaça) mais brandas)
* ATENÇÃO: O particular só será vítima
secundária (a ADM é a principal) se a corrupção partir do
funcionário corrupto. Se o particular oferecer ou prometer
vantagem, responderá por corrupção ativa (art. 333 do CP),
um caso típico de exceção pluralista à teoria monista ou
unitária do concurso de pessoas (art. 29 do CP).

Assim, a corrupção PASSIVA não pressupõe a


corrupção ATIVA, nem o contrário. São crimes autônomos /
independentes.

Inf. 551, 5ª T. STJ - O reconhecimento da


inépcia da denúncia em relação ao acusado de corrupção
ativa (art. 333 do CP) não induz, por si só, ao trancamento
da ação penal em relação ao denunciado, no mesmo processo,
por corrupção passiva (art. 317 do CP). Prevalece o
entendimento de que, via de regra, os crimes de corrupção
passiva e ativa, por estarem previstos em tipos penais
distintos e

autônomos, são independentes, de modo que a


comprovação de um deles não pressupõe a do outro.

i) Conduta:

Pune o solicitar, o receber ou o aceitar


promessa de vantagem indevida em razão da função pública
exercida.
 Para si ou para outrem.

 Direta ou indiretamente.
Para a posição majoritária, a vantagem na
corrupção, a exemplo do que já ocorre na concussão, não
precisa ser necessariamente econômica, desde que indevida.

A corrupção passiva retrata mercância do agente


com a função pública. Nas palavras de Bento de Farias, é a
“prostituição da pureza do cargo pela parcialidade ou pelo
interesse”.

ART. 317 DO CP – ART. 333 DO CP –


CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA
Pune o Pune o prometer
solicitar, o receber e o e o oferecer, mas não
aceitar
promessa. pune o “dar”,
que é o verbo
correspondente ao
“solicitar”.

j) Corrupção passiva própria e imprópria:

 Própria: O ato comercializado infringe dever


funcional, sendo ilegítimo. Ex: solicitar vantagem para
facilitar fuga de preso.

 Imprópria: O ato comercializado é legítimo,


não infringindo o dever funcional. Ex: solicitar vantagem
para votar com o governo. É o caso do Mensalão.

k) Corrupção passiva antecedente e consequente:

 Antecedente: O agente primeiro solicita,


recebe ou aceita a promessa para, no segundo momento,
concretizar o comportamento comercializado.

 Consequente: O sujeito primeiro concretiza o


ato a ser, no futuro, comercializado. Em segundo momento o
agente solicita, recebe ou aceita a promessa.

l) A consumação será analisada de acordo com os


núcleos do tipo:

S Crime formal – no momento


olicitar da solicitação. Dispensa a efetivação do
que foi solicitado.
R Crime material - precisa
eceber efetivamente receber a indevida
vantagem.
A Crime formal.
ceitar
Promessa

a) Insignificância: conforme jurisprudência mais


consolidada, o crime de corrupção passiva não comporta a
aplicação do princípio da insignificância, constituindo a
quebra da integridade moral do funcionário público e não
preenchendo o requisito de reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento, se enquadrando na súmula 599 do STJ.

CORRUPÇÃO PASSIVA MAJORADA - §1º:

Art. 317, § 1º - A pena é aumentada de um


terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de
ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

A causa de aumento é aplicável quando o


funcionário público, em virtude da vantagem indevida
auferida, ainda afronta a dever funcional.
O que seria mero exaurimento do crime, passou a
ser considerado causa de aumento de pena. Aqui, o agente
cumpre o prometido realizando a pretensão do corruptor.

Obs.1: dispositivo somente incide na corrupção


passiva própria, pois a execução do ato viola o dever
funcional. Não incide na imprópria, pois o ato do agente não
viola o dever funcional.

Obs.2: Se a violação comercializada e praticada


pelo agente público constituir, por si só, um novo crime,
haverá concurso material entre corrupção passiva e o novo
crime, não incidindo o §1º do art. 317 do CP, para evitar
bis in idem. Ex.: Servidor solicita dinheiro para facilitar
fuga de preso. Ele solicitou dinheiro e nesse momento, o
delito do art. 317, do CP já está consumado. Depois, o
servidor efetivamente facilita a fuga: nesse caso, não se
aumenta a pena do art. 317, do CP, pois facilitar fuga
configura o art. 351, do CP. Então, o agente responderá pelo
art. 317, do CP c/c art. 351, do CP, na forma do art. 69, do
CP. E não haverá a majoração do art. 317, do CP, para se
evitar o bis in idem.

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA - §2º:

Art. 317, § 2º - Se o funcionário pratica, deixa


de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

 Não há a violação de dever funcional buscando


obter uma vantagem indevida. Há violação do dever funcional
para realizar um “favor administrativo”, buscando atender a
um pedido ou ceder a influência de alguém.

 Ou seja: o sujeito desse crime não solicita,


não recebe, nem aceita promessa de vantagem, mas cede diante
de pedido ou influência de outrem. É o caso dos famigerados
FAVORES ADMINISTRATIVOS (pune-se o funcionário “quebra-
galho”).
O “corruptor” não oferece uma vantagem
indevida, apenas pedirá um favor ou se tratará de uma pessoa
influente. Ele não comete nenhum delito.

Jurisprudências relacionadas:

Deputado Federal que recebe propina para apoiar


permanência de diretor de estatal comete crime de corrupção
passiva

É possível que se configure o crime de


corrupção passiva (art. 317 do CP) na conduta de Deputado
Federal (líder do seu partido) que receba vantagem
indevida para dar sustentação política e apoiar a
permanência de determinada pessoa no cargo de Presidente
de empresa pública federal. STF. 1ª Turma. Inq 3515/SP,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).
STF: O crime de corrupção passiva praticado
por Senador da República, se não estiver relacionado com
as suas funções, deve ser julgado em 1ª instância (e não
pelo STF). Não há foro por prerrogativa de função neste caso.
O fato de o agente ocupar cargo público não gera, por si
só, a competência da Justiça Federal de 1ª instância. Esta
é definida pela prática delitiva. Assim, se o crime não foi
praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas (inciso IV do art. 109 da CF/88) e não estava
presente nenhuma outra hipótese do art. 109, a competência
para julgar o delito será da Justiça comum estadual. STF. 1ª
Turma. Inq 4624 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
8/10/2019 (Info 955)

STJ: O crime de corrupção passiva consuma-se


ainda que a vantagem indevida esteja relacionada com atos
que formalmente não se inserem nas atribuições do
funcionário público.

O crime de corrupção passiva consuma-se ainda


que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou
a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada
com atos que formalmente não se inserem nas atribuições do
funcionário público, mas que, em razão da função pública,
materialmente implicam alguma forma de facilitação
da prática da conduta almejada. Ao contrário do que
ocorre no crime de corrupção ativa, o tipo penal de
corrupção passiva não exige a comprovação de que a
vantagem indevida solicitada, recebida ou aceita pelo
funcionário público esteja causalmente vinculada à
prática, omissão ou retardamento de “ato de ofício”.
A expressão “ato de ofício” aparece apenas no
caput do art. 333 do CP, como um elemento normativo do
tipo de corrupção ativa, e não no caput do art. 317 do CP,
como um elemento normativo do tipo de corrupção passiva.
Ao contrário, no que se refere a este último delito, a
expressão “ato de ofício” figura apenas na majorante do
art. 317, § 1.º, do CP e na modalidade privilegiada do §
2.º do mesmo dispositivo.
STJ. 6ª Turma. REsp 1745410-SP, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, julgado
em 02/10/2018 (Info 635).

STF: Pratica corrupção passiva o Deputado que


concede apoio político à permanência de Diretor da
Petrobrás em troca do recebimento de propina.

Determinado Deputado Federal integrava a cúpula


de um partido de sustentação do governo federal.
Como importante figura partidária, ele
exercia pressão política junto à Presidência da República
a fim de que Paulo Roberto Costa fosse mantido como Diretor
de Abastecimento da Petrobrás.
Como “contraprestação” por esse apoio, o
Deputado recebia dinheiro do referido Diretor, quantia
essa oriunda de contratos ilegais celebrados pela
Petrobrás. O STF entendeu que esta conduta se enquadra no
crime de corrupção passiva (art. 317 do CP).
Obs: foi a primeira condenação do STF
envolvendo a chamada “operação Lava Jato”. STF. 2ª Turma.
AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018
(Info 904).

STF: Não se deve reconhecer a consunção entre


corrupção passiva e lavagem quando a propina é recebida
no exterior por meio de transação envolvendo offshore na
qual resta evidente a intenção de ocultar os valores.
Eduardo Cunha foi condenado pelos crimes de corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, por ter
solicitado e recebido dinheiro de uma empresa privada para
interferir em um contrato com a Petrobrás. A propina teria
sido acertada entre o indivíduo chamado “IC”, proprietário
da empresa beneficiada, e “JL”, ex-Diretor Internacional
da Petrobrás. O pagamento foi realizado mediante
transferências para contas secretas no exterior. O STF
entendeu que não se podia reconhecer a consunção entre a
corrupção passiva e a lavagem, considerando que não houve
simples pagamento da propina para interposta pessoa, mas
sim pagamento mediante utilização de contas secretas no
exterior em nome de uma offshore, de um lado, e de um trust,
de outro, e da realização de transação por meio da qual a
propina foi depositada e ocultada em local seguro. Logo,
ficou demonstrada da autonomia entre os delitos. STF. 2ª
Turma. HC 165036/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
9/4/2019 (Info 937).

A obtenção de lucro fácil e a cobiça


constituem elementares dos tipos de concussão e corrupção
passiva (arts. 316 e 317 do CP), sendo indevido utilizá-
las para aumentar a pena base alegando que os “motivos do
crime” (circunstância judicial do art. 59 do CP) seriam
desfavoráveis. STJ. 3ª Seção. EDv nos EREsp 1.196.136-RO,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/5/2017
(Info 608).

Facilitação de Contrabando ou Descaminho

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever


funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art.
334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos,
e multa.

Aqui o sujeito ativo é o funcionário público que


tenha por dever a prática de impedir o crime de contrabando
ou descaminho.

Caso a facilitação seja praticada por


funcionário público que não tinha o dever de impedir o
contrabando ou descaminho, responderá pelo próprio tipo de
contrabando ou descaminho, na condição de partícipe.

Trata-se de mais uma exceção pluralista à


teoria monista.

Não é necessário que o contrabando ou


descaminho por terceiro se concretize, bastando a conduta
facilitadora do agente.

Prevaricação
Art. 319 - RETARDAR ou DEIXAR DE PRATICAR,
indevidamente, ato de ofício, ou PRATICÁ-LO contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e


multa. (Menor potencial ofensivo)

m) Sujeito ativo:

 Crime próprio - o tipo penal exige que seja


funcionário público.

 O particular (extraneus) pode ser coautor ou


partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do
outro agente (art. 30 do CP).

Muita atenção:

(1)Para ser autor do crime de prevaricação, o


funcionário deve ser competente para a realização do ato de
ofício, bem como estar no exercício de suas funções.
(2)O Jurado pode ser responsabilizado
criminalmente por prevaricação, conforme previsão do art.
445 do CPP: “o jurado, no exercício da função ou a pretexto
de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos
termos em que o são os juízes togados".
 Tipo objetivo: O crime consiste em retardar
ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Condutas típicas:

 Retardar ato de ofício (crime omissivo);

 Deixar de realizar ato de ofício (crime


omissivo);

 Realizar ato de ofício contra disposição


legal (crime comissivo).

(1)Trata-se de tipo misto alternativo - se o


agente, no mesmo contexto fático, praticar todas as condutas
típicas, haverá um só crime.
(2)Objeto material do crime é o ato de ofício.

 Esse ato de ofício que o funcionário público


retarda, deixa de realizar ou realiza em contradição com a
lei deve se encontrar no âmbito de competência do funcionário
público.
 Inclui o ato administrativo, o legislativo e
o judicial.

n) Dolo especial: A conduta é punida com dolo,


que é acrescido do seguinte elemento subjetivo: para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal (ódio, amor,
vingança, preguiça e outros). Se o interesse for financeiro
pode configurar o crime de corrupção.
 Interesse pessoal - está relacionado à
obtenção de uma vantagem (patrimonial ou não).

 Sentimento pessoal - diz respeito ao estado


afetivo ou emocional do agente (vingança, amor, ódio, etc.).

o) Consumação e Tentativa

 Crime formal - estará consumado no momento em


que o autor retarda ou deixa de praticar o ato de ofício, ou
quando o pratica contra disposição expressa de lei, sendo
dispensável que o agente satisfaça sua finalidade de
satisfação de interesse pessoal.

 A tentativa é admitida na modalidade


comissiva – “praticar ato de ofício contra disposição de
lei”

 Não admite nas modalidades omissivas –


“retardar ou de praticar ato de ofício”

p) Corrupção passiva privilegiada x


prevaricação:

Art. 317 § 2º. Art. 319 –


Corrupção passiva Prevaricação
privilegiada
Cede a pedido O funcionário age
ou influência de espontaneamente.
outrem.
O funcionário O funcionário
não busca satisfazer busca satisfazer interesse ou
interesse ou sentimento sentimento próprio.
pessoal, mas sim busca
satisfazer interesse
de outrem.

Ex.: o Delegado que deixa de instaurar um


inquérito contra um amigo pratica o crime de PREVARICAÇÃO,
pois não sofre pedido ou influência de ninguém, mas deixa de
agir espontaneamente, satisfazendo seu interesse ou
sentimento pessoal.

q) Distinção

 Art. 345, Código Eleitoral

“Não cumprir a autoridade judiciária, ou


qualquer funcionário dos órgãos da justiça Eleitoral, nos
prazos legais, os deveres impostos pelo Código Eleitoral,
se a infração não estiver sujeita a outra penalidade”

 Art. 10, §4º da Lei de Crimes contra a


Economia Popular

§ 4°. A retardação injustificada, pura e


simples, dos prazos indicados nos parágrafos anteriores,
importa em crime de prevaricação (art. 319 do Código
Penal)":

Art. 23 da Lei dos Crimes contra o Sistema


Financeiro Nacional (Lei n. 7.492/86).

Omitir, retardar ou praticar, o funcionário


público, contra disposição expressa de lei, ato de ofício
necessário ao regular funcionamento do sistema financeiro
nacional, bem como a preservação dos interesses e valores da
ordem econômico- financeira: art. 23 da Lei dos Crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei n. 7.492/86).

Art. 319 do CPM (Decreto-Lei n. i.001/69).

Retardar ou deixar de praticar. indevidamente,


ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de
lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: art.
319 do CPM.

Prevaricação Imprópria ou Especial

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária


e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso
o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo.

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)


ano. (Menor potencial ofensivo)

ATENÇÃO AO CONFLITO INTERTEMPORAL: O crime


do art. 319-A

foi acrescentado ao Código Penal pela Lei n.


11.466/07.

r) Sujeito ativo: Funcionário público que tenha


o dever de vedar a entrada de aparelhos de comunicação.
Funcionários que não exerçam tal função poderão
ser coautores ou partícipes, desde que conheçam a qualidade
de agente público do sujeito ativo e também o seu dever legal
de vedar ao preso o acesso a telefones, rádios e similares
(art. 30 do CP).

Apesar do tipo apenas falar em “diretor de


penitenciária”, demais diretores de estabelecimentos penais
como colônia agrícola, industrial ou similar, casa de
albergado, etc. também são considerados sujeitos ativos uma
vez que se enquadram no conceito genérico de “agente público”
O diretor de hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico não entra no conceito de “diretor de
penitenciária ou agente público”, pois o tipo penal se limita
ao “preso” de modo que o inimputável internado ou em
tratamento não está no alcance do tipo.

O particular responsável por ingressar,


promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de
aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou
similar, sem autorização legal, em estabelecimento
prisional, responderá pelo crime do art. 349- A do CP,
acrescentado pela Lei n. 12.012/09.

s) Conduta do preso: O preso surpreendido


portando tais objetos não é sujeito ativo deste crime, mas
comete falta grave, de acordo com a LEP.

t) Tipo objetivo: Trata-se de crime omissivo


puro ou próprio - caracteriza-se pela desobediência a uma
norma mandamental (não fazer o que a lei determina).

E se o funcionário, ao invés de apenas permitir


o acesso ao aparelho, pessoalmente entregá-lo ou, então,
deixar de retirar do preso aparelho que já está em sua posse?
Pratica o crime do art. 319-A do CP?
Posição do NUCCI: Defende a tipicidade nos 2
casos, argumentando que a expressão acesso ao aparelho não
deve ser interpretada restritivamente.

"Ao contrário, merece ser dada à expressão o


seu real alcance. Portanto, se o funcionário público
deixar de retirar o celular das mãos de um preso, esteja
o aparelho em uso ou não, constitui o crime previsto no
art. 319-A. Do mesmo modo, se ele mesmo, servidor público,
fizer chegar às mãos do preso o referido aparelho. Embora
o tipo penal seja omissivo (deixar de cumprir seu dever
de vedar o acesso), a partir do momento em que se fornece
o aparelho (atitude comissiva), está-se, logicamente,
deixando de vedar o acesso ao mesmo. Em suma, o agente
público deve fiscalizar, revistar, buscar e impedir que
presos tenham ou usem qualquer meio de comunicação
telefônico, de rádio ou similar. A famosa vista grossa, que
significa fingir não ver o aparelho ou sua utilização é
suficiente para, quando houver dolo, gerar o crime previsto
no novo tipo penal.".

a) Elemento subjetivo: apenas dolo. Não há aqui


exigência de especial fim de agir, ao contrário da
prevaricação própria que precisa ser para satisfação de
interesse ou sentimento pessoal.

b) São objetos materiais do crime - aparelho


telefônico, aparelho de rádio e aparelhos similares (ex.:
computadores ou smartphones que possibilitem o acesso à
internet), que permitam a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.

c) Consumação e tentativa:

Trata-se de crime de mera conduta que estará


consumado no momento da omissão, ou seja, quando o sujeito
ativo deveria ter vedado o acesso ao preso do telefone, rádio
ou similar, e não o fez
De acordo com doutrina amplamente majoritária,
por se tratar de um crime omissivo puro ou próprio, é
incabível a tentativa

Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por
indulgência, de responsabilizar SUBORDINADO que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte
competência, não levar o fato ao conhecimento da
autoridade competente:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou


multa.
(Menor potencial ofensivo)

u) Sujeito ativo

Crime próprio - o tipo penal exige que o


sujeito ativo seja o funcionário público hierarquicamente
superior àquele que cometeu a falta funcional.
 Obs.: tipo penal contém a elementar
subordinado, de modo que é exigível a relação de hierarquia
nas duas modalidades.

Outros agentes públicos, que não detenham


atribuição para a responsabilização do infrator, podem
participar do crime na forma dos artigos 29 e 30 do Código
Penal.

v) Condutas típicas: Ocorre quando o superior


hierárquico é condescendente com a conduta criminosa de seu
servidor subordinado
Deixar de responsabilizar o subordinado que
cometeu infração no exercício do cargo; e
levar o fato praticado pelo subordinado
ao conhecimento da autoridade competente, desde que a
iniciativa para tal apuração não seja sua.

w)Elemento subjetivo: Tipo doloso, sem previsão


da modalidade culposa.

– consciência e vontade de deixar de


responsabilizar subordinado ou, quando lhe falte
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente.

Há dolo específico - o agente deve praticar o


crime "por indulgência” ou seja, por tolerância ou clemência.
 Se a omissão se dá por sentimento diverso do
de indulgência, poderá haver outro crime, como por exemplo,
prevaricação.

x) Trata-se de crime omissivo próprio ou puro -


nos dois casos se está diante de uma omissão administrativa
praticada por funcionário público (omissão do dever
funcional de promover, ou apurar, a responsabilidade
administrativa de agente público subalterno).
Estará consumado no momento da omissão, ou
seja, quando o sujeito ativo deveria ter tomado a providência
(responsabilização do subordinado ou comunicação à
autoridade competente) e não o fez.

to,
que o subordinado seja condenado pela infração que cometeu
no exercício do cargo.
Advocacia Administrativa:
Art. 321 - Patrocinar, direta ou
indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.


Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além
da multa.
(Menor potencial ofensivo nas duas modalidades)

y) Conduta:

O crime consiste em patrocinar, direta ou


indiretamente, interesse privado perante à Administração
Pública, valendo-se da qualidade de funcionário.

Em outras palavras: O funcionário público,


valendo-se de sua condição (amizade, prestígio junto a outros
funcionários), defende interesse alheio, legítimo ou
ilegítimo, perante a Administração Pública, sendo
desnecessário que o fato ocorra na própria repartição em que
trabalha o agente, podendo valer-se de sua qualidade de
funcionário para pleitear favores em qualquer esfera da
Administração.
Patrocinar - significa advogar, facilitar,
defender, proteger.

(de particular) perante a Administração Pública,


independentemente de ser ou não, legítimo.
 Não configura o delito o patrocínio de
interesse público.

 Não existe infração se o funcionário


patrocina interesse próprio.

 O fato de o interesse ser legítimo não afasta


o crime, mas influi na fixação da pena (que será a do caput,
menos severa). Vale dizer: é crime sendo o interesse privado
legítimo ou ilegítimo.

Espécies de patrocínio:

 Formal e explícito - realizado por meio de


petições, razões, requerimentos;

 Dissimulado - realizado por meio de


acompanhamento de expedientes, pedidos ao funcionário
encarregado de decidir, etc.;
 Direto - o agente público age sem interposta
pessoa;

 Indireto - o funcionário se vale de terceiro


para alcançar seus interesses.

Obs.: Não é necessário que o crime seja cometido


por advogado.

z) Elemento subjetivo: Tipo doloso, sem previsão


da modalidade culposa.

Dolo – consciência e vontade de patrocinar


interesse privado perante a Administração Pública.
Elemento subjetivo especial do tipo

 A forma simples (caput) - não exige que o


sujeito ativo vise a qualquer fim específico (vantagem,
interesse ou sentimento pessoal).
 Já na forma qualificada (parágrafo único)
- o agente deve ter ciência da ilegitimidade do interesse.
aa) Consumação e Tentativa:

 Crime formal - estará consumado no momento em


que o agente realizar o primeiro ato que denote o patrocínio
de interesse alheio perante a Administração Pública, sendo
desnecessário que alcance o resultado pretendido

 Delito plurissubsistente – a tentativa é


possível, embora de difícil configuração.

Violência Arbitrária
Art. 322 - Praticar violência, no exercício
de função ou a pretexto de exercê-la: Pena - detenção, de
seis meses a três anos, além da pena correspondente à
violência. (Médio potencial ofensivo)

Tanto o STF quanto o STJ possuem decisões no


sentido de que tal crime não foi revogado pela lei de abuso
de autoridade, já que os bens jurídicos tutelados são
diferentes. Porém, a doutrina majoritária entende que houve
sim revogação tácita.
A violência, como o nome diz, deve ser
arbitrária. Se for lícita, não há o delito.

Abandono de Função

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos


casos permitidos em lei (norma penal em branco):
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e


multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido
na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos,
e multa.

Caput e §1º - Menor potencial ofensivo;

§2º - Médio potencial ofensivo.

Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou


Prolongado

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública


antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a
exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente
que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa.

Violação de Sigilo Funcional


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos,
ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
326 – Tacitamente revogado pelo art. 94 da L.
8666/93.

3 CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR, CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM GERAL

São crimes comuns.

Importa observar que, aqui, é possível que,


eventualmente, a vítima seja também um funcionário público.
Ex.: desacato.

Ressalta-se que nos crimes praticados por


particular, deve-se utilizar o conceito restrito de
funcionário público, não podendo ser valer do disposto no
art. 327 do CP com suas figuras equiparadas, uma vez que este
é utilizado para definir o sujeito ativo de crimes e não
sujeito passivo, o que poderia caracterizar analogia in
malam partem. Ex.: gerente do Banco do Brasil não pode ser
vítima de desacato, pois, tendo em vista ser funcionário
público por equiparação, não pode ser sujeito passivo.

Usurpação De Função Pública

Art. 328 - Usurpar o exercício de função


pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere
vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

O agente deve efetivamente exercer a função,


não basta dizer que a exerce.

Diferença para o delito de exercício funcional


ilegal: no do art. 328, via de regra, o agente não possui
qualquer vínculo com a administração pública, sendo
totalmente estranho a ela ou, caso possua, suas funções são
absolutamente estranhas à função usurpada.

Não é crime habitual, mas caso a conduta se


prolongue no tempo, tratar-se-á de delito permanente.
A vantagem do §ú pode ser de qualquer natureza.

Resistência

Art. 329 - OPOR-SE à execução de ato legal,


mediante violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena -
detenção, de dois meses a dois anos (menor potencial
ofensivo).
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não
se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos (médio


potencial ofensivo).
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem
prejuízo das correspondentes à violência (cúmulo material).

a) Sujeitos:

 Sujeito ativo:

Funcionário público pode ser sujeito ativo,


desde que contra ele haja uma execução de atol legal.

O sujeito ativo pode ser pessoa alheia à


execução do ato legal. Ex: Pai que resiste à prisão de filho
com violência ou ameaça.
 Sujeito passivo

SP imediato – é o Estado.

SP mediato – o funcionário público executor do


ato e eventual terceiro particular que presta auxílio.

b) Tipo Objetivo: Pune a oposição, mediante


violência ou ameaça, à execução de um ato legal implementada
por um funcionário público competente para executá-lo. O
ato deve ser legal (substancial e formalmente, conforme a
lei), ainda que injusto.
Consequentemente, trata-se de norma penal em
branco.

A violência ou grave ameaça deve ser contra


pessoa, se for contra coisa não há o crime.
* ATENÇÃO: Se o agente descumpre ordem legal de
funcionário público pacificamente, ou seja, SEM violência ou
ameaça ao funcionário ou a quem o auxilie será crime de
DESOBEDIÊNCIA e não de resistência.

Não configura resistência a eventual fuga,


recusa em fornecer o nome, recusa em abrir a porta, eventual
xingamento (ainda que aqui possa configurar de desacato, por
exemplo), por si sós.

O emprego de violência ou ameaça contra 2 ou


mais servidores não desnatura a unidade do crime, devendo o
juiz observar essa circunstância na fixação da pena base.
O ato legal deve ser executado por funcionário
público competente para a sua prática. Particulares apenas
podem prestar auxílio ao funcionário.
Ex.: Quem com violência ou de ameaça a prisão
em flagrante executada por particular, de maneira exclusiva
e espontânea, não pratica este crime, pois não se trata de
funcionário público, nem de auxiliar deste – pode ser outro
delito.

c) Elemento subjetivo:

Dolo – vontade de empregar violência ou ameaça


a funcionário público ou pessoa que o auxilia.
Para a doutrina majoritária existe um elemento
subjetivo especial – agir para impedir a execução do ato
legal.

d) Consumação:

É crime formal. Consumado no momento em que


empregar a violência ou a ameaça contra o funcionário
público, ainda que não consiga evitar a execução do ato.
Se o ato, de fato, não se executar, é
qualificado.

§1 - (Note que aqui é um dos exemplos em que o


exaurimento se mostra relevante, vez que qualifica o crime).

e) Concurso de Crimes

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis


sem prejuízo das correspondentes à violência.

 Há concurso material entre a resistência e


violência empregada.
 A contravenção penal vias de fato fica
absorvida.

Desobediência

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de


funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses,
e multa (menor potencial ofensivo).

c) Sujeito ativo do crime

Servidor público pode ser sujeito ativo deste


crime? Prevalece que sim, desde que a ordem recebida não se
refira ao exercício das suas funções, pois, nesta hipótese,
o delito a ser reconhecido será outro, como prevaricação,
por exemplo.

d) Tipo objetivo: Pune o descumprimento de


ordem legal emitida por funcionário público.

 Desobedecer nada mais é do que uma forma


passiva e pacífica de resistir à ordem legal.

 Deve haver uma ORDEM. Se for mera solicitação


ou pedido, não restará configurado o presente delito.

 Pressupostos:

 Descumprir uma ordem – não basta mera


solicitação ou pedido

 Uma ordem legal – substancial e formalmente


legal, ainda que injusta.

 Uma ordem emitida por funcionário público


competente

 Uma ordem emitida a quem tenha o dever


jurídico de obedecê-la

 Não existir sanção extrapenal prevista em lei


para o seu descumprimento, salvo se houver ressalva legal.
Obs.1: Se, em razão do descumprimento da ordem,
a lei já comina penalidade administrativa ou civil, prevalece
que não haverá o presente delito, vez que o direito penal
deve atuar como última ratio, quando outras esferas não são
capazes de tutelar o bem jurídico. Se a conduta constitui
tipo penal autônomo em algum caso específico também não.

Ex.: os tribunais superiores entendem que


descumprimento de medida protetiva da LMP não configura este
delito por já ter outras consequências previstas (hoje, há
inclusive um tipo penal específico para isso, restando
pacificada a divergência). Outro exemplo: se a vítima deixa
de atender a uma intimação judicial para comparecimento na
audiência, não haverá o delito, pois há previsão de condução
coercitiva. Ex. de previsão específica: estatuto do idoso.
Para o STJ, não configura o crime de
desobediência a conduta de Defensor Público Geral que deixa
de atender à requisição judicial de nomeação de defensor
público para atuar em determinada ação penal (Inf. 586).

DELEGADO DE POLÍCIA QUE


NÃO CUMPRE DILIGÊNCIAS REQUISITADAS PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO:

Prevalece que, em regra, não haverá o delito.


No entanto, tal descumprimento deve ser fundamentado, pois,
caso seja doloso e sem razoabilidade o crime se
caracterizará. (O tema é bem divergente!)
c) Consumação:

Se determina uma omissão: o crime se consuma no


momento da ação.

Se determina uma ação, duas hipóteses podem


ocorrer: se a ordem fixou prazo para a ação, o crime se
consumará com o decurso desse prazo, mas, se a ordem não
ficou qualquer prazo, o crime estará consumado com o decurso
de um tempo juridicamente relevante a ser analisado no caso
concreto. (Enquanto a ordem não for cumprida após o período
devido, o agente se encontrará em situação flagrancial).

d) Especialidade:

 Art. 359, CP - Desobediência a decisão


judicial sobre perda ou suspensão de direito

Art. 359 - Exercer função, atividade,


direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou
privado por decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos,
ou multa.

 Art. 301, CPM - Desobedecer a ordem legal de


autoridade militar

 Art. 26, Lei de MS - Descumprimento das


decisões proferidas em mandado de segurança:

Art. 26. Constitui crime de desobediência,


nos termos do art. 330 do Decreto- Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, o não cumprimento das decisões
proferidas em mandado de segurança, sem prejuízo das sanções
administrativas e da aplicação da Lei no 1.079, de 10 de
abril de 1950, quando cabíveis.

 Art. 307, CTB - Violar a suspensão ou a


proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor imposta com fundamento no Código
de Trânsito.

Fique atento à jurisprudência sobre o tema!

Comete crime de desobediência o indivíduo que


não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião
do cumprimento de mandado de entrega de veículo Comete
crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que
não atende a ordem dada pelo oficial de justiça na ocasião
do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido
no juízo cível. O indivíduo, depositário do bem, recusou-
se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa
conduta configura ato atentatório à dignidade da justiça
(art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa
processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma
expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo
de responsabilização na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC
169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

Desacato

Art. 331 - Desacatar funcionário público no


exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa (menor potencial ofensivo).

e) Sujeito ativo:

 Crime comum - o sujeito ativo pode ser


qualquer pessoa.

 Um funcionário público pode ser sujeito


ativo?

1ª posição: Sim. Funcionário Público pode


praticar o delito do art. 331 do CP, pois o tipo penal não
exige nenhuma qualidade específica e nem exclui qualquer
pessoa.
Nesse sentido: STJ, 6• T., HC 104.921, j.
21/05/2009.

STJ (HC 104.921/SP, j. 21/05/2009): “O crime


em questão, de natureza comum, pode ser praticado por
qualquer pessoa, inclusive, funcionário público, seja ele
superior ou inferior hierárquico à vítima. Isto porque o
bem jurídico a ser tutelado é o prestígio da função pública,
portanto, o sujeito passivo principal é o Estado e,
secundariamente, o funcionário ofendido”.

2ª posição: O funcionário público não pode


praticar desacato, já que se trata de crime praticado por
particular contra a administração. Entretanto, essa posição
admite que, se o funcionário não estiver agindo no exercício
das suas funções, pode responder pelo delito. Deve-se lembrar
de que, uma vez despedido da qualidade de funcionário, o
agente público equipara-se ao particular para fins legais.
3ª posição: Bittencourt e Hingria:
Funcionário Público pode figurar como sujeito ativo se for
inferior hierárquico. Se for superior, não.

b) Tipo objetivo

A conduta típica consiste em desacatar


funcionário público no exercício da função ou em razão dela.
Desacatar significa ofender, humilhar, desprestigiar o
funcionário público.
Observações importantes:

 Trata-se de crime de forma livre – o desacato


pode ser praticado por qualquer meio de execução (agressão
física, ameaça, gritos, gestos, expressões injuriosas etc.).

 É essencial que a ofensa seja praticada na


presença do funcionário público ofendido. Caso contrário,
não há desacato, mas apenas crime contra a honra, como, por
exemplo, em situações em que o insulto é feito pelo telefone
ou pela imprensa.

 O desacato tem que ocorrer no exercício da


função ou em razão dela.

c) Elemento subjetivo:

Trata-se de tipo doloso, sem previsão de


modalidade culposa.

 Dolo – consciência e vontade de desacatar o


funcionário público, devendo o agente ter ciência de que o
servidor público está no exercício da função ou de que a
ofensa seja em razão dela.
 Exige-se o elemento subjetivo especial -
intenção de de menosprezar a função pública exercida pelo
funcionário ofendido.

d) Consumação e tentativa

Crime formal - a consumação ocorre no momento


em que o sujeito ativo pratica o ato ofensivo (agride ou
ameaça a vítima, profere expressões injuriosas, exterioriza
gestos obscenos etc.), não existindo a necessidade de que o
funcionário público se sinta ofendido com a conduta do autor.
A admissibilidade da tentativa está
condicionada ao modus operandi, já que se trata de crime de
forma livre. Ex.: Desacato verbal – inadmissível a tentativa,
por se tratar de delito unissubsistente. Nada impede, no
entanto, de haver o fracionamento do iter criminis (ex.: o
autor é impedido por terceiros no momento em que se preparava
para jogar lixo no funcionário vítima), hipótese em que será
possível o conatus.

e) Desobediência x Resistência x Desacato

No desacato o agente tem a intenção de


ofender o funcionário, enquanto na desobediência e na
resistência a intenção é de descumprir ordem ou ato legal
Caso a desobediência ou o desacato sejam
praticados como forma de resistência, serão por ela
absorvidos, em razão da consunção.

f) É ação penal pública incondicionada.

Desacato e descriminalização (ou não)


Ao final de 2016 a quinta turma do STJ proferiu
a seguinte decisão: crime de desacato não mais subsiste em
nosso ordenamento jurídico por ser incompatível com o artigo
13 do Pacto de San José da Costa Rica.
Contudo, em 2017, foi proferida pela terceira
seção do STJ – que é a junção da 5ª e da 6ª turma, que são
as turmas que normalmente julgam os processos criminais,
decisão firmando entendimento em sentido diverso, entendendo
pela tipicidade do delito: Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela continua a ser crime,
conforme previsto no art. 331 do Código Penal (HC
379.269/MS).

Em 2018, também o STF se manifestou sobre o


tema, pacificando a questão: “O crime de desacato é
compatível com a Constituição Federal e com o Pacto de São
José da Costa Rica. A figura penal do desacato não tolhe o
direito à liberdade de expressão, não retirando da cidadania
o direito à livre manifestação, desde que exercida nos
limites de marcos civilizatórios bem definidos, punindo-se
os excessos”. (HC 141949/DF)

O crime de desacato é compatível com a


Constituição Federal e com o Pacto de São José da Costa Rica.
A figura penal do desacato não tolhe o direito à liberdade
de expressão, não retirando da cidadania o direito à livre
manifestação, desde que exercida nos limites de marcos
civilizatórios bem definidos, punindo-se os excessos. STF.
2ª Turma.HC 141949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
13/3/2018 (Info 894). Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela continua a ser crime,
conforme previsto no art. 331 do Código Penal. STJ. 3ª
Seção. HC 379.269-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, Rel. para acórdão Min. Antônio Saldanha Palheiro,
julgado em 24/5/2017 (Info 607).

Em 2020, o Plenário virtual do Supremo Tribunal


Federal negou provimento à ação que pedia a
inconstitucionalidade do crime de desacato. A ação foi levada
ao Supremo pelo Conselho Federal da OAB, segundo o qual a
tipificação do desacato viola os princípios constitucionais
fundamentais da liberdade de expressão, da legalidade, da
igualdade, do Estado Democrático de Direito e o princípio
republicano. A decisão confirma a jurisprudência já pacífica
de ambas as turmas do STF: consideram o desacato compatível
com a Convenção Americana de Direitos Humanos, que proíbe a
censura e o cerceamento, ainda que indireto, à liberdade de
expressão, e da qual o Brasil é signatário. A tese aprovada,
portanto, foi: "foi recepcionada pela Constituição de 1988
a norma do artigo 331 do Código Penal, que tipifica o crime
de desacato".

Tráfico de Influência

Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter,


para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada da
metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
também destinada ao funcionário.

a) Tipo objetivo

A conduta típica consiste em solicitar, exigir,


cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função.
Observações:

 Trata-se de tipo misto alternativo - ainda que


o agente pratique, no mesmo contexto tático, mais um verbo
nuclear, haverá crime único.

 O agente “exige, cobra ou obtém” vantagem ou


processa de vantagem a pretexto de influenciar funcionário
público.
 O agente não irá influenciar o funcionário
público, mas passa a informação que irá, vale dizer, simula
uma situação. O sujeito usa manobras fraudulentas, como a
mentira, para induzir a vítima em erro (trata-se de uma forma
especial de estelionato).
 O terceiro, enganado pela conversa do agente,
se dispõe a entregar-lhe a vantagem em troca do ato que o
agente pode levar o funcionário a praticar.
 Se o agente realmente gozar de influência e
fizer uso, haverá outro crime, como corrupção ativa e
passiva.
 Não é necessário que o funcionário público
que supostamente será influenciado pelo sujeito ativo seja
determinado e competente.

Se o agente visa vantagem patrimonial a


pretexto de influir especificamente em juiz, jurado, órgão
do MP, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete
ou testemunha, o crime é o de exploração de prestígio (art.
357, CP).
Vamos esquematizar?
ESTELION TRÁFICO EXPLORAÇ
ATO DE INFLUÊNCIA ÃO DE PRESTÍGIO
Crime Crime Crime
contra o patrimônio. contra a contra a
Administração Administração da
Pública. Justiça.
Consiste Consiste Solicita
em obter vantagem em solicitar, exigir, r ou receber
ilícita em prejuízo cobrar ou obter (dinheiro ou
alheio mediante vantagem ou promessa utilidade) a pretexto
fraude. de vantagem a de influir em juiz,
pretexto de influir jurado, órgão do
em ato praticado por Ministério Público,
funcionário público. funcionário da
Justiça, perito,
tradutor, intérprete
ou testemunha.
O agente O agente O agente
visa obter vantagem visa obter vantagem visa obter vantagem
ilícita em ilícita. ilícita.
prejuízo
alheio.
Consuma- Consuma- Consuma-
se com o duplo se com a solicitação, se com a solicitação
resultado: vantagem exigência, cobrança ou o recebimento.
ilícita e prejuízo ou com a
alheio. obtenção
de vantagem.

b) Elemento subjetivo - Tipo doloso, sem


previsão de modalidade culposa.

 Dolo – consciência e vontade do sujeito ativo


de executar o núcleo do tipo, fazendo a vítima acreditar que
irá influenciar em ato praticado por funcionário público.

 Exige o dolo específico - na expressão "para


si ou para outrem".

 Cuidado! A finalidade de influenciar


funcionário público é somente aparente. Caso houvesse,
realmente, esse fim especial, haveria provável crime de
corrupção.

c) Consumação e Tentativa

O momento consumativo depende do núcleo verbal.

 “Solicitar, exigir e cobrar” – CRIME FORMAL -


o delito alcança seu momento consumativo com a simples ação
do sujeito ativo. Eventual recebimento da vantagem prometida
representará exaurimento do delito, podendo influenciar
quando da fixação da pena-base (art. 59 do CP).

 “Obter” – CRIME MATERIAL - o delito se consuma


no momento em que o sujeito ativo obtém a vantagem ou a
promessa.
Tentativa: Somente será possível na forma
plurissubsistente do delito (ex.: quando a solicitação, a
exigência ou a cobrança se dá por meio escrito, sendo a carta
interceptada antes de chegar às mãos da vítima).
Veja a jurisprudência sobre o tema:

STF: Mero fato de o Ministro ter pedido vista


do processo sem saber que estava impedido, devolvendo na
sessão seguinte e declarando seu impedimento, não
configura indício de que ele tenha praticado tráfico de
influência (art. 332, caput, do Código Penal). STF. 1ª
Turma. Inq 4075/DF, rel orig. Min. Edson Fachin, red. p/
o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 10/9/2019 (Info
951).

Corrupção Ativa

Art. 333 - OFERECER ou PROMETER vantagem indevida a


funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir
ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos,
e multa. (Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
Parágrafo único - A pena é aumentada de um
terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
dever funcional.

a) Tipo objetivo

A conduta típica consiste em oferecer ou


prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
O corruptor do funcionário público é sujeito
ativo do crime de corrupção ativa, ao invés de ser vítima do
delito de corrupção passiva. Trata-se de exceção dualista à
teoria monista - não há concurso de pessoas entre corruptor
e corrompido, devendo cada um responder por crime distinto.

CORRUPÇÃO CORRUPÇÃO ATIVA (ART.


PASSIVA (ART. 317) 333)
Solicitar (neste Oferecer ou prometer
núcleo a corrupção parte do vantagem indevida a funcionário
agente corrupto e não do público.
particular corruptor) Conduta do particular
Receber corruptor.
Aceitar promessa
Note que “dar”
vantagem indevida, quando esta é
solicitada pelo funcionário, por
exemplo, não constitui núcleo do
tipo. A conduta aqui deve partir
do particular.

O delito de concussão é INCOMPATÍVEL com a


figura da corrupção ativa. Na concussão, o verbo é EXIGIR,
havendo, portanto, coerção, de modo que o particular será
também vítima do delito, além do fato de que, como já
mencionamos, “dar” vantagem indevida quando a conduta parte
do funcionário público não caracteriza crime para o
particular, pois não constitui núcleo do tipo.

b) Elemento subjetivo - Tipo doloso, sem a


previsão da modalidade culposa.

 Dolo – consciência e vontade de oferecer ou


prometer a vantagem, devendo o agente ter ciência de que
esta é indevida e endereçada a funcionário público.

 Exige uma especial finalidade do agente -


consistente na expressão "para determiná- lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício".
 Percebe-se que não será o oferecimento de
qualquer vantagem que configurará o delito de corrupção
ativa. A vantagem deve ser com o intuito de impedir o
funcionário público de desempenhar suas funções, ou de
determinar que o faça contrariando as normas vigentes.
 Um gesto de liberalidade, muitas vezes fruto
de agradecimento ou reconhecimento, ainda que possa
representar uma imoralidade, não constituirá crime de
corrupção ativa.

c) Consumação e Tentativa

É crime formal que se consuma no momento em que


a oferta ou a promessa de vantagem indevida chega ao
conhecimento do funcionário público, ainda que exista recusa
por parte do agente público.

 A corrupção ativa subsequente não é punida -


se a vantagem é oferecida ou prometida ao funcionário público
depois que ele praticou o ato funcional, não haverá o crime
do art. 333 do CP.

A possibilidade da tentativa depende do modus


operandi escolhido pelo corruptor. Será possível na
modalidade plurissubsistente (ex.: oferta realizada por
carta)

d) Corrupção ativa majorada

Caso o ato de ofício seja (ou não), de fato,


praticado, incidirá a causa de aumento. A oferta ou promessa
deve ser anterior à prática do ato.

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

STJ: O pagamento da diferença do imposto


devido, antes do recebimento da denúncia, não extingue a
punibilidade pelo crime de corrupção ativa atrelado ao de
sonegação fiscal. (Info 631 - 2018)

STJ: O reconhecimento da inépcia da denúncia


em relação ao acusado de corrupção ativa (art. 333 do CP)
não induz, por si só, ao trancamento da ação penal em
relação ao denunciado, no mesmo processo, por corrupção
passiva (art. 317 do CP). Prevalece o entendimento de que,
via de regra, os crimes de corrupção passiva e ativa, por
estarem previstos em tipos penais distintos e autônomos,
são independentes, de modo que a comprovação de um deles
não pressupõe a do outro. STJ. 5ª Turma. RHC 52465-PE,
Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/10/2014 (Info 551).

Menor de 18 anos como sujeito ativo: caso um


menor de 18 anos ofereça vantagem indevida a um funcionário
público, sabe-se que não responde pelo crime de corrupção
ativa, mas por ato infracional análogo. Todavia, caso o
funcionário aceite a vantagem indevida, responderá por
corrupção passiva.

Descaminho

A Lei n° 13.008/2014 alterou o Código Penal no


tocante aos crimes de contrabando e descaminho, separando-
os, vez que antes eram tipificados no mesmo artigo, passando
o contrabando para o 334-A.

Art. 334. ILUDIR, no todo ou em parte, o


pagamento de direito ou imposto devido pela ENTRADA, pela
SAÍDA ou pelo CONSUMO de mercadoria Pena - reclusão, de 1
(um) a 4 (quatro) anos (médio potencial ofensivo).
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos
casos permitidos em lei; II - pratica fato assimilado, em
lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,

mercadoria de procedência estrangeira que


introduziu clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução
clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou
acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
§ 2o Equipara-se às atividades comerciais,
para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
inclusive o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de
descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.

A intenção do agente no descaminho é burlar a


legislação tributária para não pagar direito ou imposto
devido pela entrada, saída ou consumo da mercadoria no país.
Não será caracterizado o delito caso não haja
a exigência do pagamento, como por exemplo, em relação a
livros – situação em que há imunidade tributária (art. 150,
III, d, da Constituição Federal).

É crime comum, via de regra, podendo ser


praticado por qualquer pessoa.
Nos incisos III e IV do §1º é crime próprio,
sendo praticado por quem exerce atividade comercial ou
industrial.

Só é punido a título de dolo.

a) Hipóteses:

 Quando a pessoa traz para o Brasil (importa)


uma mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, engana as
autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido;
ou

 Quando a pessoa manda para fora do Brasil


(exporta) uma mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, engana
as autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido.
É crime tributário material ou formal? Para o
ajuizamento da ação penal, é necessária a constituição
definitiva do crédito tributário? Aplica-se a Súmula
Vinculante 24 ao descaminho?

Antes o STJ entendia que o crime de descaminho


era material. Ocorre que, em 2013, a Corte decidiu rever sua
posição e passou a decidir que o descaminho é delito FORMAL.
Essa é a posição que vigora atualmente tanto no STJ como no
STF. Logo: o descaminho É CRIME FORMAL.
É dispensada a existência de procedimento
administrativo fiscal com a posterior constituição do
crédito tributário para a configuração do crime de
descaminho (art. 334 do CP), tendo em conta sua natureza
formal.
STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
No entanto, atenção: Ainda que o descaminho
seja delito de natureza formal, a existência de decisão
administrativa ou judicial favorável ao contribuinte —
anulando o auto de infração, o relatório de perdimento e o
processo administrativo fiscal — caracteriza questão
prejudicial externa facultativa, que autoriza a suspensão do
processo penal (art. 93 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp
1413829/CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 11/11/2014 (Info 552).

O pagamento integral da dívida tributária é


causa de extinção da punibilidade? Não, o art. 9º da Lei n.
10.684/2003 e o art. 83 da Lei n. 10.684/2003 preveem a
extinção da punibilidade pelo pagamento dos débitos fiscais
apenas no que se refere aos crimes contra a ordem tributária
e de apropriação ou sonegação de contribuição previdenciária
– arts. 1º e 2º da Lei 8.137/1990, 168-A e 337-A do CP. Se
o crime de descaminho não se assemelha aos crimes acima
mencionados, em razão de defenderem bens jurídicos
diferentes, mostra-se inviável a aplicação, por analogia,
dessas leis ao descaminho.

Se o agente, para iludir as autoridades, faz


declaração ideologicamente falsa (ex: declara ao auditor
fiscal que não está trazendo do exterior nenhuma mercadoria
sujeita à tribução), ele responderá por descaminho em
concurso com o crime de falsidade ideológica (art. 299)?
NÃO. O agente responderá apenas pelo crime de
descaminho se a declaração falsa foi feita com o exclusivo
fim de iludir o pagamento do tributo. Aplica-se o princípio
da consunção, considerando que a declaração falsa foi apenas
o meio necessário para a prática do descaminho. Logo, nesse
contexto, a falsidade fica absorvida pelo descaminho. STJ.
5ª Turma. RHC 31.321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 16/5/2013 (Info 523).

Compete à Justiça Federal a condução do


inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no
art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda
de mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de
pagamento de imposto de importação.
STJ. Plenário. CC 159680-MG, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info
631).

Compete à Justiça Federal o julgamento dos


crimes de contrabando e de descaminho, ainda que
inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 26/09/2018 (Info 635).

Súmula nº 151 do STJ: A competência para o


processo e julgamento por crime de contrabando ou
descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do
lugar da apreensão dos bens.

Art. 144, §1º, II da CF/88: A polícia federal,


instituída por lei como órgão permanente, estruturado em
carreira, destina-se a: (...) prevenir e reprimir o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária
e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência.

Como já vimos no material de princípios,


APLICA-SE ao descaminho o princípio da insignificância,
tendo como teto o valor de 20 mil reais e, atualmente, de
forma pacífica, tanto para o STF, quanto para o STJ.
Ainda não está ligad@ na divergência anterior?
Clica aí no link do rodapé e deixe o Dizer o Direito te

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Contrabando

Importar ou exportar MERCADORIA PROIBIDA: Pena - reclusão,


de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei
especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente
mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização
de órgão público competente;
III - reinsere no território nacional
mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em
depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei
brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais,
para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
inclusive o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de
contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.

a) Hipóteses:

 Quando a pessoa traz para o Brasil (importa)


uma mercadoria proibida; ou

 Quando a pessoa manda para fora do Brasil


(exporta) uma mercadoria proibida.

Trata-se de norma penal em branco, vez que


depende de outra norma para definir quais são as mercadorias
proibidas.

b) Inaplicabilidade do princípio da
insignificância: É inaplicável o princípio da
insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem
juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do
imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de
impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos
em território nacional (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp
342.598/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 05/11/2013).

c) Consumação:

 Passagem pelos órgãos alfandegários: consuma


se com a transposição da barreira fiscal.

 Passagem por meios ocultos/clandestinos:


Consuma se com a transposição das fronteiras do país.

 Por navio ou avião: Necessário que atraque ou


pouse em território nacional.

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

STJ: O art. 334, § 3º, do Código Penal prevê


a aplicação da pena em dobro, se ‘o crime de contrabando
ou descaminho é praticado em transporte aéreo". Ainda,
nos termos da jurisprudência desta Corte, se a lei não
faz restrições quanto à espécie de voo que enseja a
aplicação da majorante, não cabe ao intérprete restringir
a aplicação do dispositivo legal, sendo irrelevante que
o transporte seja clandestino ou regular” (HC 390899/SP
– Rel. Min. Ribeiro Dantas – Quinta Turma - DJe
28/11/2017).

STF: Configura contrabando (e não descaminho)


a conduta de importar, à margem da disciplina legal, arma
de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola.
A importação de arma de pressão está sujeita à autorização
prévia da Diretoria de Fiscalização de Produtos
Controlados do Exército Brasileiro e só pode ser feita
por colecionadores, atiradores e caçadores registrados no
Exército. Além disso, deve se submeter às normas de
desembaraço alfandegário previstas no Regulamento para a
Fiscalização de Produtos Controlados. Logo, trata-se de
mercadoria de proibição relativa, sendo a sua importação
fiscalizada não apenas por questões de ordem tributária,
mas outros interesses ligados à segurança pública. Não é
possível aplicar o princípio da insignificância mesmo que
a arma de ar comprimido importada seja de calibre inferior
a 6 mm, já que este postulado é incabível para
contrabando. STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015. STJ. 6ª Turma.
REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura,
julgado em 14/10/2014 (Info 551). STF. 2ª Turma. HC
131943/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, julgado em 7/5/2019 (Info 939).

STJ: Configura crime de contrabando a


importação de colete à prova de balas sem prévia
autorização do Comando do Exército. A importação de colete
à prova de balas não se enquadra em nenhum tipo penal
previsto no Estatuto do Desarmamento. Aquele que poderia
gerar algum tipo de dúvida seria justamente o art. 18.
Ocorre que colete à prova de balas não pode ser considerado
acessório. Isso porque a palavra "acessório" mencionada no
art. 18 é acessório de arma de fogo, ou seja, algo que
complementa, que se agrega à arma de fogo para melhorar
o seu funcionamento ou desempenho. Exs: silenciador, mira
telescópica etc. O colete à prova de balas é uma proteção
contra armas de fogo e não um acessório desta. STJ. 6ª
Turma. RHC 62851-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 16/2/2016 (Info 577).
ATENÇÃO – CTB (artigo incluído em 2019):

Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo


para a prática do crime de receptação, descaminho,
contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
condenado por um desses crimes em decisão judicial transitada
em julgado, terá cassado seu documento de habilitação ou
será proibido de obter a habilitação para dirigir veículo
automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei
nº 13.804, de 2019)

§1º O condutor condenado poderá requerer sua


reabilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à
habilitação, na forma deste Código. (Incluído pela Lei nº
13.804, de 2019)

§2º No caso do condutor preso em flagrante na


prática dos crimes de que trata o caput deste artigo, poderá
o juiz, em qualquer fase da investigação ou da ação penal,
se houver necessidade para a garantia da ordem pública, como
medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público OU AINDA MEDIANTE REPRESENTAÇÃO DA AUTORIDADE
POLICIAL, decretar, em decisão motivada, a suspensão da
permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor,
ou a proibição de sua obtenção. (Incluído pela Lei nº 13.804,
de 2019).

CONTRABANDO DESCAMINHO
“ o e m “Iludir, no
Importar u xportar ercadori todo ou em parte,
a o
p pagamento de
roibida” direito ou imposto devido
.
pela entrada,
pela saída ou pelo consumo
de mercadoria”.
Corresponde à Corresponde à
conduta de importar ou entrada ou à saída de
exportar produtos
mercadoria PROIBIDA. PERMITIDOS,
todavia
elidindo o
pagamento do
imposto
devido.

3.9 Impedimento, perturbação ou fraude de


concorrência

Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar


concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida
pela administração federal, estadual ou municipal, ou por
entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou


multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se


abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
oferecida.

Inutilização de edital ou de sinal

Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma,


inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Subtração ou inutilização de livro ou documento

Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou


parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado
à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de
particular em serviço público:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato


não constitui crime mais grave.

Sonegação de contribuição
previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Art. 335 – Impedir, perturbar ou fraudar


concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida
pela administração federal, estadual ou municipal, ou por
entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena – detenção, de seis meses a dois
anos, ou multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único – Incorre na mesma pena


quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
oferecida.

Substituído por lei especial no art. 90, 93 e


96 da lei 8.666. (pelo princípio da especialidade este artigo
foi revogado tacitamente).

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste,


combinação ou qualquer outro expediente, o caráter
competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de
obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da
adjudicação do objeto da licitação: Pena – detenção, de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a


realização de qualquer ato de procedimento licitatório:Pena
– detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda


Pública, licitação instaurada para aquisição ou venda de
bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:

I – elevando arbitrariamente os preços;

II – vendendo, como verdadeira ou perfeita,


mercadoria falsificada ou deteriorada;

III – entregando uma mercadoria por outra;

IV – alterando substância, qualidade ou


quantidade da mercadoria fornecida;

V – tornando, por qualquer modo, injustamente,


mais onerosa a proposta ou a execução do contrato:

Pena – detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos,


e multa.
Inutilização de edital ou de sinal

Art. 336 – Rasgar ou, de qualquer forma,


inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:

Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.

O objeto jurídico é a administração pública.


A ação nuclear descrita no tipo consubstancia-se em
“rasgar”, “inutilizar” ou “conspurcar” (macular ou sujar)
edital; “violar” ou “inutilizar” selo ou sinal de
identificação ou cerrar (encobrir) qualquer objeto.
Ressalta-se que uma vez passado o prazo de validade dos
editais, não pode mais ser objeto deste delito. O sujeito
ativo pode ser qualquer pessoa, uma vez que se trata de crime
comum. O sujeito passivo é o Estado. O elemento subjetivo é
o dolo. O momento de consumação se dá com a realização das
ações típicas, independente do resultado naturalístico.
Trata-se de crime formal. Admite tentativa.

Subtração ou inutilização de livro ou documento

Art. 337 – Subtrair, ou inutilizar, total ou


parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado
à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de
particular em serviço público:

Pena – reclusão, de dois a cinco anos, se o fato


não constitui crime mais grave.

O objeto jurídico é a administração pública.


A ação nuclear descrita no tipo consubstancia-se em
“subtrair” ou “inutilizar” livro oficial, processo, ou
documento confiado à custódia de funcionário público ou de
particular em serviço público. O sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa, uma vez que trata-se de crime comum.
O sujeito passivo é o Estado. O elemento subjetivo é o dolo.
O momento de consumação se dá com a realização das ações
típicas, independente do resultado naturalístico. Trata-se
de crime formal. Admite tentativa.

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição


social previdenciária e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento
de informações previsto pela legislação previdenciária
segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou
trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem
serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da
contabilidade da empresa as quantias descontadas dos
segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de
serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos
geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Trata-se de tipo penal inserido no Código Penal


por meio da Lei nº 9.983/2000.

Quanto às teses do STJ, são as seguintes:

1) O crime de sonegação de contribuição


previdenciária, previsto no art. 337-A do CP, não exige dolo
específico para a sua configuração (AgRg no AREsp 840609/SP,
Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, Julgado em
14/03/2017, DJE 22/03/2017).

COMENTÁRIO: como se sabe, os elementos


subjetivos puníveis são o dolo e a culpa, sendo vedada a
responsabilização penal objetiva.
No que concerne ao crime de sonegação de
contribuição previdenciária, inexiste previsão de tipo penal
culposo, razão pela qual apenas é criminosa a conduta dolosa.

Quanto ao dolo, a doutrina reconhece, de modo


geral, o dolo genérico – consciência e vontade – e o dolo
específico, que consiste em uma intenção especial do agente.

Pois bem. Para o crime em comento, a


jurisprudência do STJ considera exigível apenas o dolo
genérico, não sendo necessária a aferição de alguma intenção
ou finalidade especial.

2) O crime de sonegação de contribuição


previdenciária é de natureza material e exige a constituição
definitiva do débito tributário perante o âmbito
administrativo para configurar-se como conduta típica (RHC
044669/RS, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Julgado em
05/04/2016, DJE 18/04/2016).

COMENTÁRIO: ao contrário do crime de


descaminho, que o STJ considera de natureza formal e que
independe de constituição definitiva do débito tributário,
o crime de sonegação de contribuição previdenciária é
considerado material, assim como os crimes tributários
previstos no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/1990.

3) Aplica-se o princípio da insignificância ao


crime de sonegação de contribuição previdenciária quando o
valor do tributo ilidido não ultrapassa o patamar de R$
10.000,00 (dez mil reais) previsto no art. 20 da Lei n.
10.522/2002 (HC 269800/SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti
Cruz, Julgado em 26/04/2016, DJE 02/05/2016).

COMENTÁRIO: de forma semelhante aos crimes


contra a ordem tributária e de descaminho, o STJ considera
aplicável o princípio da insignificância ao crime de
sonegação de contribuição previdenciária.
O valor de R$10.000,00 não é aleatório. Trata-
se do valor máximo para o arquivamento, sem baixa na
distribuição, mediante requerimento do Procurador da Fazenda
Nacional, dos autos de execução fiscal de débitos inscritos
como dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional ou por ela cobrados, nos termos do art. 20 da Lei
nº 10.522/2002.

Ocorre que esse valor foi atualizado para o


patamar de R$20.000,00 por meio das Portarias nº 75 e nº
130/2012.

4) O delito de sonegação de contribuição


previdenciária não exige qualidade especial do sujeito
ativo, podendo ser cometido por qualquer pessoa, particular
ou agente público, inclusive prefeitos (RHC 043741/RJ, Rel.
Ministro Nefi Cordeiro, Julgado em 10/03/2016, DJE
17/03/2016).

COMENTÁRIO: o crime de sonegação de


contribuição previdenciária é um crime comum, isto é, pode
ser praticado por qualquer pessoa, não havendo necessidade
de qualidade especial do agente.

Diferencia-se, portanto, dos crimes próprios,


que exigem uma qualidade especial do sujeito ativo. Ex.:
peculato.

5) O crime de falso, quando cometido única e


exclusivamente para viabilizar a prática do crime de
sonegação de contribuição previdenciária, é por este
absorvido, consoante diretrizes do princípio penal da
consunção (AgRg no AREsp 386863/MG, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Julgado em 06/08/2015, DJE 26/08/2015).

COMENTÁRIO: trata-se de mais um dos


entendimentos que, de modo semelhante ao disposto na súmula
17 do STJ (referente ao crime de estelionato), aplica o
princípio da consunção em relação à falsidade, considerando
esta um meio de execução para outro crime.

Urge salientar que, caso a falsidade seja


utilizada para outros fins criminosos, e não apenas para o
crime de sonegação, afasta-se a aplicação do princípio da
consunção, havendo, na verdade, crimes autônomos.

4 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA

O Código Penal, no art. 337-B, introduzido pela


Lei n. 10.467, de 11.6.2002, define o delito de corrupção
ativa nas transações comerciais internacionais como o fato
de "prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente,
vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício
relacionado à transação comercial internacional",
impondo penas de reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e
multa.

A Lei nº 9.613/98, que dispõe sobre os crimes


de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores, prevê,
em seu art. 1º, VIII, que os crimes praticados por particular
contra a administração pública estrangeira – entre eles o do
art. 337-B do Código Penal – estão sujeitos as suas
ordenações.

2.2 AÇÃO NUCLEAR

Promete aquele que se obriga verbalmente ou por


escrito a fazer ou dar alguma coisa; oferece quem apresenta
ou propõe para que seja aceito; e dá aquele que cede,
presenteia ou doa. Todas essas condutas devem estar pautadas
em vantagem indevida: prometer, oferecer ou dar vantagem
indevida.
2.3 OBJETO JURÍDICO

O interesse protegido pela norma penal


incriminadora sob apreciação é a lealdade no comércio
exterior [09]. Damásio, em ensaio sobre o tema, lembra que,
embora se encontre no capítulo referente aos crimes contra
a administração pública, o delito de corrupção ativa em
transação comercial internacional não se trata de uma
infração que atenta contra a Administração Pública
brasileira, uma vez que o funcionário público corrompido é
o estrangeiro e não o brasileiro. Assim, se se tratasse de
proteger a Administração Pública, esta seria, em tese, a
estrangeira. Mas nem esta poderia ser a titular do bem
jurídico: um país não pode atribuir-se a tarefa de proteger
a Administração Pública de outro (MANFRONI). Estamos, na
verdade, diante de um novo bem jurídico, a lealdade no
comércio internacional, interesse que pertence a todos os
países e cuja proteção penal, punindo seus nacionais, cabe
a eles próprios, individualmente e por intermédio de suas
legislações internas (MANFRONI).

2.4 SUJEITOS

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime


de corrupção ativa, até mesmo o funcionário público que aja
como particular. O "sujeito passivo é a administração pública
do país ou do estrangeiro com relação às transações
comerciais internacionais." [11]

2.5 ELEMENTO SUBJETIVO

É a intenção do corrompedor de que o funcionário


corrompido omita, retarde ou pratique ato de ofício
relacionado à transação comercial.

2.6 MOMENTO CONSUMATIVO


As condutas
de prometer e oferecer caracterizam modalidade de crime
formal. Basta sua prática para que se consume o delito. Mesmo
tratando-se de crime formal admite-se a tentativa, v. g., se
a promessa ou oferecimento se der por escrito.

A conduta dar implica em alteração do mundo


naturalístico, configurando o crime em sua modalidade
material, sendo possível, portanto, a tentativa.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Traz o parágrafo único do art. 337-B que "A pena


é aumentada de 1/3, se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de
ofício, ou o pratica infringindo dever funcional." Em poucas
palavras, se o sujeito ativo atinge o objetivo específico
descrito no caput do artigo, deve ter sua pena exasperada.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL


INTERNACIONAL

Conceito Legal

O crime de tráfico de influência em transação


comercial internacional vem disciplinado no art. 337-C do
Código Penal com a seguinte redação: "Solicitar, exigir,
cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto
de influir em ato praticado por funcionário público
estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado à
transação comercial internacional".

A Lei nº 9.613/98, que dispõe sobre os crimes


de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores, prevê,
em seu art. 1º, VIII, que os crimes praticados por particular
contra a administração pública estrangeira – entre eles o do
art. 337-C do Código Penal – estão sujeitos as suas
ordenações.

O delito em questão tem cominação legal de pena


de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

3.2 AÇÃO NUCLEAR

Solicitar, exigir e cobrar têm sentidos


parecidos que diferem só quanto à intensidade ou o modo do
pedido. Obter já denota um aspecto material de conseguir o
que se pede.

3.3 OBJETO JURÍDICO

O tipo penal sob enfoque busca a proteção "à


comunidade internacional no que tange às transações
internacionais"

ELEMENTO SUBJETIVO

É a conduta dolosa de solicitar, exigir, cobrar


ou obter vantagem ou promessa de vantagem com o pretexto de
influir em ato de funcionário público estrangeiro
relacionado à transação comercial.

3.6 MOMENTO CONSUMATIVO

As condutas de solicitar,
exigir e cobrar caracterizam modalidade de crime formal.
Basta sua prática para que se consume o delito. Mesmo
tratando-se de crime formal admite-se a tentativa, v. g., se
a exigência ou a cobrança se der por escrito.

A conduta obter implica em repercussão no mundo


naturalístico, configurando o crime em sua modalidade
material, sendo possível, portanto, a tentativa.

3.7 CAUSA DE AUMENTO DE PENA


Dispõe o parágrafo único do art. 337-C do Código
Penal que "A pena é aumentada da metade, se o agente alega
ou insinua que a vantagem é também destinada a funcionário
estrangeiro". A justificativa é que o fato traria mácula
maior à administração pública estrangeira, sujeito passivo
desse delito.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTRANGEIRO

Os crimes tipificados nos arts. 337-B e 337-C


do Código Penal fazem referência a funcionários públicos
estrangeiros, que o art. 337-D cuida de conceituar dizendo
que são os que, ainda transitoriamente ou sem remuneração,
exercem cargo, emprego ou função pública em entidades
estatais ou em representações públicas internacionais.

No seu parágrafo único, o referido artigo cria


também a figura do funcionário público estrangeiro por
equiparação: "quem exerce cargo, emprego ou função em
empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo
Poder Público de país estrangeiro ou em organizações públicas
internacionais."

Cotejando as equiparações legais de


funcionários públicos nacionais (CP, art. 327, § 1º) e
estrangeiros (CP, art. 337-D, parágrafo único), interessante
lição de Damásio:

esas estatais controladas pelo Poder Público de


país estrangeiro ou em organizações públicas não nacionais.
Em face disso, não alcança profissionais ou empregados de
empresas privadas estrangeiras, ainda que atuem em
representação, por contrato ou convênio, de Estado
estrangeiro. [...] Não incluiu, como o fez na regra do art.
327, § 1.º, parte final, do CP, os particulares que exercem
atividades típicas da Administração Pública e vinculados por
contrato ou convênio ao Poder Público.
DOS CRIMES CONTRA AS ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Denunciação Caluniosa
Art. 339. DAR CAUSA à instauração de
investigação policial, de processo judicial, instauração
de investigação administrativa, inquérito civil ou ação
de improbidade administrativa contra alguém, IMPUTANDO-
LHE CRIME DE QUE O SABE INOCENTE:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.


§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o
agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a
imputação é de prática de CONTRAVENÇÃO.

a) Bem jurídico tutelado:

• Bem jurídico imediato - é a regular


Administração da Justiça;

• Bem jurídico mediato - é a honra da pessoa da


vítima.

b) Condutas punidas: dar causa contra alguém que


sabe inocente.

• Investigação policial: A maioria da doutrina


entende que o inquérito policial é DISPENSÁVEL, bastando
dar causa à investigação ainda que informal;
• Processo judicial;
• Investigação administrativa: Deve estar
vinculada com a imputação de um crime; EXEMPLO: imputar a
conduta ao agente que fica dormindo durante o trabalho, não
pode dar origem ao crime de denunciação caluniosa porque não
está relacionada a crime;
• Inquérito civil: também deve ser configura a
instauração com a alegação de uma conduta que configura
crime;
• Ação de improbidade administrativa: Apuração
de ato ímprobo e ao mesmo tempo criminoso.
• E CPI? Prevalece que não, pois não foi
expressamente prevista, o que caracterizaria analogia in
malam partem.

Obs.: Na denunciação caluniosa o agente dá


causa a procedimento oficial injusto mediante calúnia. Por
isso, esse crime também é chamado de CALÚNIA QUALIFICADA.

II) Pressupostos:

 Sujeito passivo determinado;

 Imputação de crime;

 Conhecimento da inocência do acusado.

Haja vista o termo utilizado: “SABE” ser


inocente, a doutrina majoritária entende só ser possível
dolo direto.

É necessária a efetiva INSTAURAÇÃO de


procedimento investigatório, seja policial ou
administrativo, ou instauração de processo judicial. No
entanto, não é necessário que o procedimento injustamente
instaurado se conclua para que o MP

denuncie o agente autor da denunciação


caluniosa, tendo em vista que a prova da inocência da vítima
não depende do encerramento do procedimento e que a ação
penal do delito em questão é pública incondicionada.
Prevalece que o crime não se configura se o fato
criminoso que o agente imputa à outra pessoa já não é mais
considerado crime (houve abolitio criminis), ou se já foi
extinta a punibilidade. Assim, não se pune a denunciação
caluniosa contra os mortos, já que, neste caso, já estaria
extinta a punibilidade em relação ao fato falsamente imputado
ao morto.

No mesmo sentido, dar causa à uma ação de


improbidade em relação a fato que não corresponde a uma
infração penal também pode ser crime, mas será tipificado na
própria Lei de Improbidade, em seu art. 19. Ex.: peculato de
uso.

Art. 19. Constitui crime a representação por


ato de improbidade contra agente público ou terceiro
beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.

c) Denunciação caluniosa x comunicação falsa de


crime ou contravenção x autoacusação falsa
 Denunciação caluniosa: Há acusação contra
pessoa determinada, movimentando ilegitimamente a
administração da justiça. Ferimento da honra por intermédio
da máquina judiciária.
 Comunicação falsa de crime: Não há acusação
contra pessoa alguma. É um FATO falso.

 Autoacusação falsa: Denunciado e denunciante


são a mesma pessoa. O crime não ocorreu ou se ocorreu não foi
ele quem praticou.

 Denunciação caluniosa x calúnia: A
denunciação caluniosa absorve a CALÚNIA pelo princípio da
consunção, e dela se distingue, porque naquela a imputação
falsa de fato definido como crime é levada ao conhecimento
da autoridade, motivando a instauração de investigação
policial ou de processo judicial. Por isso, parte da doutrina
o chama de “calúnia qualificada”. Trata-se de crime
progressivo, já que para que se consume, necessariamente o
agente deve passar por outro delito.

ADVOGADO: pode ser sujeito ativo.

Apenas tem imunidade contra injúria e


difamação. Não está protegido em situação de calúnia ou
denunciação caluniosa.

Desacato: a lei previa, mas foi submetida à


ADIN, tendo o STF declarado a inconstitucionalidade da
expressão, de modo que também responderá o advogado caso
pratique o mencionado delito.

Tentativa: Possível, quando, por exemplo a


queixa ou denúncia é rejeitada, quando a autoridade policial
não dá início a qualquer procedimento investigatório, quando
a denúncia é feita por escrito e este escrito é interceptada
antes de chegar ao conhecimento da autoridade, dentre outras
situações.

Competirá à Justiça Federal julgar denunciação


caluniosa quando o delito falsamente imputado foi pela
Justiça Federal apurado, ou quando o servidor federal foi
acusado da prática de um delito funcional.
Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção
Se consuma com o início da ação da autoridade.

Art. 340 - Provocar a ação de autoridade,


comunicando-lhe a ocorrência de CRIME ou de CONTRAVENÇÃO
que sabe não se ter verificado:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa


(menor potencial ofensivo).

Dirige-se a fato, não a pessoa.

ATENÇÃO!!! Prevalece que a comunicação falsa de


crime perante policiais militares NÃO configura o delito em
questão, tendo em vista que os policiais militares não são
autoridade para estes fins (instauração de investigação).

Consumação: quando a autoridade, em razão da


comunicação falsa, pratica algum ato, sendo dispensável a
instauração de inquérito.

Autoacusação Falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade,
de crime inexistente ou praticado por outrem:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou


multa (menor potencial ofensivo).

Não comete este crime aquele que assume sozinho


a autoria por um crime do qual participou em concurso de
agentes.
Se foi sob coação, não haverá crime para o
agente, mas poderá haver para o coator. Não engloba
contravenção penal.
Consumação: quando a autoridade toma
conhecimento da autoacusação falsa, não dependendo de
qualquer providência.

Falso Testemunho ou Falsa Perícia

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a


verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela
Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um
terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for
parte entidade da administração pública direta ou
indireta.

Extinção da punibilidade pela retratação:

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da


sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.

a) Bem jurídico tutelado - O bem jurídico que se


busca tutelar é o prestígio da Justiça

b) Alteração da Pena:

O legislador aproveitou a Lei 12.850/13


(Organização Criminosa) para alterar a pena do crime de falso
testemunho e falsa perícia, antes punido com reclusão de 1
a 3 anos, agora com 2 a 4 anos (mudança, obviamente,
irretroativa), posto que a pena anterior sendo infração de
menor potencial ofensivo, admitia os institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95.
Atualmente, trata-se de infração penal de maior
potencial ofensivo, não admite suspensão condicional do
processo, salvo, na modalidade tentada.

c) Sujeito ativo: Crime de mão própria. Somente


pode ser a testemunha, o perito, o contador, o tradutor ou
o intérprete.

Nesse sentido, Rogério Sanches ensina “estamos


diante de um crime de mão própria (ou de atuação pessoal ou
conduta infungível), só podendo ser praticado por quem,
reunindo qualidade especiais, esteja em condições de
realizar imediata e corporalmente a conduta típica dentro de
um processo judicial ou administrativo, inquérito policial
ou juízo arbitral. Dessa forma, autor imediato do delito do
art. 342 do CP será somente testemunha, perito, contador,
tradutor e interprete.

 Vítima pode ser sujeito ativo?

R.: Não, pois não é testemunha. Apenas presta


declarações. Ela pode, eventualmente, ser autora do crime de
denunciação caluniosa (art. 339, CP)

 A testemunha informante (não compromissada,


arts. 206 e 207 do CPP pratica o crime em questão?
1ª Corrente: pode praticar crime, pois a
prestação do compromisso ao é elementar do tipo. Qualquer
pessoa que se dispuser a prestar depoimento na condição de
testemunha, se faltar com a verdade, pratica o crime do art.
342, CP. Ademais, inobstante não tenho o compromisso, o juiz
não estará isento de ser influenciado pelo seu depoimento.
2ª Corrente: se a lei não as submete ao
compromisso de dizer a verdade, as testemunhas informantes
não podem cometer o crime do art. 342 do CP.

Prevalece que no crime de falso testemunho não


se admite coautoria, apenas participação. No entanto, o STF
tem decisão admitindo coautoria, como no caso do advogado
que instrui a testemunha a mentir.
O STF, adotando a teoria do domínio do fato,
admitiu coautoria do advogado que instrui testemunha. Assim,
segundo o STJ e STF, o advogado que instrui a testemunha a
mentir atua como coautor do delito, sob a teoria do domínio
do fato. (STF RHC 81327 e HC 75037 e STJ REsp 402.783/SP)

 Já o crime de falsa perícia admite ambos, já


que mais de um perito pode realizar a perícia, por exemplo.

 Tipo objetivo: Trata-se de crime de ação


múltipla, que comporta as seguintes ações nucleares:
 Fazer afirmação falsa: o agente distorce a
verdade com o intuito de beneficiar ou prejudicar alguém. É
a chamada falsidade positiva.
 Negar a verdade: o agente sabe a verdade real
dos fatos, mas, quando indagado nega saber.
 Calar a verdade (reticência): diferentemente
das condutas anteriores, aqui, o agente, sabendo da verdade,
não inventa e nem nega, apenas sobre ela se pronuncia.

Obs1: O fato narrado no falso testemunho deve


ser falso? Não. É possível falso testemunho de fato
verdadeiro, desde que o que foi narrado pela testemunha não
corresponda com o que ela realmente tem ciência. Caso outra
pessoa tenha presenciado um fato e a testemunha conte aquilo
que esta outra pessoa presenciou como se estivesse no local,
mesmo não estando ou não tendo visto, por exemplo, restará
configurado o delito. O que se observa é se o que é dito
corresponde ao que a testemunha sabe/viveu.

Obs.2: Falso testemunho para não produzir


provas contra si mesmo: fato atípico, pois decorre o
princípio da não autoincriminação.

Obs.3: Ensina a maioria da doutrina que somente


restará caracterizado o crime se a falsidade incidir sobre
episódio relevante, que possa influenciar no momento
decisório, o que não significa que o falso se caracteriza
somente quando exerça influência sobre qualquer decisão.

Obs.4: Há discussão na doutrina se testemunha


que falta com a verdade a respeito da sua qualificação
(identidade) comete o crime de falso testemunho.

1ª posição – Magalhaes Noronha: Sim. A


qualificação é formalidade substancial do ato (art. 203,
CPP) que influi no mérito e valor que serão dados ao
depoimento. Sua falsidade ofende, do mesmo modo, diversos
interesses em litigio e atenta contra a Administração da
Justiça ferindo-a em sua atuação normal e na eficácia da
realização.
2ª posição – Mirabete e Fragoso: Não. O crime
de falso testemunho não se trata de falsidade que recai sobre
fatos da causa. A falsidade que recai sobre a condição
pessoal da testemunha configura o crime do art 307, CP.

Obs.5: Havendo o falso testemunho perante


Comissão Parlamentar de Inquérito, a conduta é tipificada de
acordo com o disposto no art. 4°, II, da Lei 1.579/52, que
a regulamenta.
d) Elemento subjetivo

 Dolo - vontade consciente de fazer afirmação


falsa, negar ou calar a verdade, devendo o agente ter ciência
de que está praticando uma falsidade

 É fundamental a vontade consciente de fazer


afirmação falsa, negar ou calar a verdade. O agente deve ter
plena consciência de que prática um dos núcleos do tipo,
buscando abalar o curso normal do procedimento em que presta
depoimento.

e) Consumação e Tentativa

 O falso testemunho (ou perícia) é delito


formal ou de consumação antecipada, não exigindo para a sua
caracterização ato ou evento posterior.

 Desse modo, o delito se consuma no momento


em que o agente faz a declaração ou perícia falsa, não
dependendo de qualquer resultado. Por exemplo, não é preciso
que o juízo seja enganado com a conduta, bastando a
potencialidade lesiva

STJ, HC 315456 – 2016:


O crime de falso testemunho é de natureza
formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a
respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-
se quando encerrado o depoimento.
5ª T, STJ, AgRg no AREsp 603.029/SP – 2017:
É pacífico o entendimento desta Corte
Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é
de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação
falsa a respeito de fato juridicamente relevante,
aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, podendo,
inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito.

É controversa a admissão da tentativa nos casos


de falso testemunho. Em regra, é inadmissível. O delito é
unissubsistente. Porém, é possível a tentativa no falso
testemunho prestado por escrito, caso em que o crime passa a
ser plurissubsistente.
Observações importantes:

 Sendo o falso testemunho ou a falsa perícia


praticados em reclamação trabalhista, o processo e
julgamento do crime do art. 342 do CP é da Justiça Federal
Comum.
O falso testemunho se consuma no local em que
foi prestado o depoimento.

Em carta precatória, o crime se consuma no


JUIZO DERECADO, ou seja, , no
juízo em que foi ouvido a testemunha mentir).
Excepcionando a regra de competência do art. 70 do CPP, o
STJ decidiu que é competente para o julgamento o local do
juízo deprecante, isso porque é nele que a prova vai ser
analisada, podendo influenciar no julgamento.

FALSO TESTEMUNHO X CARTA PRECATÓRIA: De quem é


a competência, deprecante ou deprecado? Segundo o artigo 70
do CPP, que prevê que a competência será, de regra,
determinada pelo lugar em que se consumar a infração, caso
a conduta tenha sido praticada por testemunha ouvida
mediante carta precatória, o órgão competente para processar
e julgar será o juízo deprecado.

f) Forma majorada:

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um


terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for
parte entidade da administração pública direta ou
indireta.

 Aumento de 1/6 a 1/3

1) Praticado mediante suborno

2) Cometido com o fim de obter prova destinada a


produzir efeito em processo penal,

3) Cometido em processo civil em que for parte


entidade da administração pública direta ou indireta

 Em que pese o silêncio legal, a doutrina


entende que o aumento compreende também o falso prestado em
inquérito policial, pois nele igualmente se produz prova com
finalidade de gerar efeito em processo penal.

 Se o crime é cometido mediante suborno e o


agente é um perito oficial (funcionário público), afasta-se
a forma majorada, punindo-o por: crime de falso
testemunho/perícia + crime de corrupção passiva (art. 317,
CP)

g) Retratação extintiva da punibilidade

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes


da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.
Observações importantes:

 Retratar-se não significa confessar (por


exemplo, pratiquei falso testemunho), mas escusar-se,
retirar do mundo o que afirmou, retroceder na mentira,
revelar o que ocultou.
 A retratação só extingue a punibilidade se
ocorrida antes da prolação da sentença.

 Prevalece que a retratação de um agente se


estende aos demais, tendo em vista que fato deixa de ser
punível.

 Além disso, a retratação deve ocorrer dentro


do processo em que fora prestado o falso testemunho ou
realizada a falsa perícia, e não em eventual processo
instaurado para punir o infrator.

Corrupção Ativa de Testemunha, Perito, Contador, Tradutor


ou Intérprete
Art. 343. DAR, OFERECER OU PROMETER dinheiro
ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação
falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia,
cálculos, tradução ou interpretação: (Redação dada pela
Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de três a
quatro anos, e multa.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de
28.8.2001)
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um
sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em
processo civil em que for parte entidade da administração
pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº
10.268, de 28.8.2001)
Lembrando que a testemunha ou os outros agentes
previstos que cometem o crime nesta condição de recebimento
de vantagem indevida respondem pelo delito anterior na forma
majorada.
Trata-se de crime é formal, que se consuma com
o oferecimento ou a promessa de vantagem, não sendo
necessário que a testemunha, perito ou intérprete
necessariamente venham a mentir, negar ou calar a verdade.

Coação no Curso do Processo


Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça,
com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona
ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou
administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.

a) Tipo objetivo:
O crime consiste em usar de violência ou grave
ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio,
contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que
funciona ou é chamada a intervir em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral.
Ex.: depois de ser preso em flagrante, e
visando a influenciar o resultado da investigação, o agente
ameaça a vítima e as testemunhas (STJ, HC 152.526, j.
06/12/2011).

Observações:

 Crime de forma vinculada - somente pode ser


praticado mediante violência (vis absoluta ou corporalis) ou
grave ameaça (vis relativa ou compulsiva).
 Contra autoridade, parte, ou qualquer outra
pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo
judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral
- é imprescindível que a violência ou grave ameaça seja
direcionada à autoridade (Juiz, Delegado de Polícia), à parte
(membro do Ministério Público, autor, réu, litisconsorte
etc.) ou a qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a
intervir em processo judicial, policial ou administrativo,
ou em juízo arbitral (escrivão, perito, jurado, testemunha,
tradutor, intérprete etc.).
 Presença do coagido - não é necessária para a
caracterização do delito previsto no art. 344 do CP (ex.:
ameaça transmita por recado de terceiro).

 Se ainda não iniciou o inquérito policial ou


o processo - não há o crime do art. 344 do CP.

b) Elemento subjetivo: Tipo doloso, sem previsão


de modalidade culposa.

 Dolo - consciente e vontade de usar de


violência ou grave ameaça contra uma das pessoas indicadas
no tipo.

Elemento subjetivo especial = expressão "com o


fim de favorecer interesse próprio ou alheio".

Obs.: O interesse deve estar relacionado com o


objeto do processo ou inquérito (ex.: buscar uma declaração
favorável de testemunha presencial), podendo ter natureza
material ou moral.

Obs.: O crime do art. 344 do Código Penal


caracteriza-se como delito de intenção ou de tendência
interna transcendente, já que o agente busca um resultado
compreendido no tipo, que não precisa ser alcançado para a
sua consumação.

c) Consumação e Tentativa:

 Crime formal – aperfeiçoado no momento em que


o sujeito ativo emprega a violência ou grave ameaça, sendo
dispensável o alcance do fim buscado (se ocorrer, mero
exaurimento

 Crime plurissubsistente – admite tentativa

d) Concurso de Crimes

Dispõe o preceito secundário do art. 344 do CP:


"Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena
correspondente à violência". '
 Haverá concurso material entre a coação no
curso do processo e a violência física empregada pelo agente
(homicídio ou lesão corporal).

 O crime de ameaça e a contravenção de vias de


fato ficarão absorvidos.

Exercício Arbitrário das Próprias Razões

Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para


satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa, além da pena correspondente à violência (cúmulo
material).

Parágrafo único - Se não há emprego de


violência, somente se procede mediante queixa. (Exemplo de
ação penal secundária, já que a depender da situação será
transformada em ação penal privada, que só se procede
mediante queixa).

Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou


danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro
por determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.

a) Tipo Objetivo: O crime consiste em fazer


justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
embora legítima, salvo quando a lei o permite.
 Crime de forma livre - pode ser praticado por
qualquer meio de execução (violência física, ameaça, fraude
etc.).

 Se a pretensão for ILEGÍTIMA, o crime não


será este.

 O sujeito ativo tem que saber que a pretensão


é legítima ou imaginar que a mesma seja legítima (estar de
boa-fé). Se o agente sabe que a pretensão é ilegítima, não
há o crime do art. 345 do CP, mas outro crime a depender das
especificidades do caso concreto (ex.: invasão de domicílio,
ameaça, lesão corporal, furto, roubo, extorsão etc.)

a) Consumação e Tentativa: Há duas posições


sobre o momento consumativo do delito:

1ª posição – Hungria, Fragoso, Mirabete,


Greco: Crime material. O crime de exercício arbitrário das
próprias razões consuma- se com a efetiva satisfação da
pretensão.
2ª posição – Noronha, Regis Prado, Damásio:
Trata-se de crime formal de modo que a sua consumação ocorre
com o emprego do meio arbitrário, ainda que a pretensão não
seja satisfeita.

Para o STJ, a prostituta maior de idade e não


vulnerável que, considerando estar exercendo pretensão
legítima, arranca cordão do pescoço de seu cliente pelo fato
de ele não ter pago pelo serviço sexual combinado e praticado
consensualmente, pratica o crime de exercício arbitrário das
próprias razões e não roubo (inf. 584).

Análise do art. 346:

 O crime consiste em tirar, suprimir, destruir


ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro
por determinação judicial ou convenção.

 Condutas típicas:

 Tirar (subtrair);

 Suprimir (fazer desaparecer);

 Destruir (inutilizar); e

 Danificar (estragar).

 Trata-se de tipo misto alternativo - se o


sujeito ativo, no mesmo contexto fático, praticar mais de
uma conduta típica, haverá um único crime.

 O objeto material - é a coisa própria, móvel


ou imóvel, que se encontra em poder de terceiro por
determinação judicial (ex.: depósito de bem penhorado) ou
convenção (ex.: comodato, locação).
 Não exige especial fim de agir – o motivo pelo
qual pratica o crime é irrelevante.

 Crime material - estará consumado no momento


em que o sujeito ativo pratica uma das condutas previstas no
tipo (subtrai, suprime, destrói ou danifica o objeto
material).

Crime de Fraude Processual


Art. 347 - Inovar artificiosamente, na
pendência de processo civil ou administrativo, o estado
de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a
erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a
produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado,
as penas aplicam-se em dobro.

a) Tipo objetivo: O crime consiste em inovar


artificiosamente, na pendência de processo civil ou
administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
 Inovar - significa mudar, substituir,
alterar. + Artificiosamente - com ardil, artifício, fraude.

 O agente inova artificialmente o estado de


lugar, de coisa ou de pessoa

 O agente inova artificialmente na pendência


de processo civil ou administrativo ou inova buscando
produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado,
hipótese em que as penas se aplicam em dobro.
 É necessário que o processo judicial - civil
ou administrativo - já tenha sido instaurado e não tenha
ainda sido encerrado.
 Em se tratando de processo penal - não é
necessário que a ação penal já tenha sido proposta, bastando
elementos no sentido de que será iniciada (art. 347,
§ único)

 O agente inova artificialmente com o intuito


de induzir a erro o juiz ou o perito

Logo - A conduta do agente, ao buscar inovar


artificiosamente, tem que ter idoneidade suficiente para
ludibriar o juiz ou o perito, sob pena de caracterização
de crime impossível em face da impropriedade absoluta do
meio.

Atenção às situações em que incide cada um


destes crimes:
De Fa C F
nunciação lso testemunhooação no curso raude
caluniosa ou falsa períciado processo processual

In Pr P P
vestigação ocesso rocesso rocesso
administrativa, judicial, ou judicial, civil ou
inquérito civil administrativo, policial ou administrati
ou ação de inquérito administrativo vo.
improbidade policial, ou em , ou em juízo
ad juízo arbitral. arbitral.
ministrativa.

a) Elemento subjetivo: Tipo doloso, sem previsão


de modalidade culposa.

 Dolo – consciência e vontade de inovar


artificiosamente o estado de lugar, de coisa ou de pessoa,
devendo o agente estar ciente da pendência do processo civil
ou administrativo.
 Elemento subjetivo especial - "com o fim de
induzir a erro o juiz ou o perito".

b) Consumação e Tentativa:

 Crime formal - estará consuma do no momento


em que o autor executa a inovação artificiosa, ou seja,
realiza a fraude, não sendo necessário que venha,
efetivamente, a induzir a erro o juiz ou o perito.
 Crime plurissubsistente – admissível a
tentativa.

5.9 Favorecimento Pessoal

Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de


autoridade pública AUTOR de crime a que é cominada pena de
reclusão:

Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.


§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de
reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e
multa.

- Menor potencial ofensivo nas duas


modalidades. Escusa absolutória:

§2º - Se quem presta o auxílio é ascendente,


descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de
pena.

a) Sujeito ativo: Crime comum - pode ser


qualquer pessoa.

 Coautor ou partícipe do crime anterior não


pratica favorecimento pessoal.
 Aquele que, antes ou durante a execução de um
delito, promete auxílio ao comparsa, responderá pelo mesmo
fato na forma do art. 29 do CP (coautoria ou participação,
conforme o caso), e não por favorecimento pessoal.
 Autofavorecimento não configura o crime de
favorecimento pessoal, já que este pressupõe benefício
apenas a terceira pessoa.

 O advogado embora não tenha o dever de revelar


o paradeiro do cliente, não poderá ajudá-lo a fugir ou mesmo
escondê-lo da ação da autoridade, sob pena de praticar o
crime de favorecimento pessoal.

b) Tipo objetivo: O crime consiste em auxiliar a


subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a
que é cominada pena de reclusão.
 Pune o agente que presta assistência, de
qualquer forma (idônea e eficiente) a quem acaba de cometer
um crime, objetivando subtraí-lo à ação da autoridade,
obstando as atividades judiciárias.

 Crime comissivo ou crime comissivo por


omissão. Não há modalidade de crime omissivo.

 Requisito indispensável para a configuração


- Prática de crime anterior

 É imprescindível que anteriormente tenha sido


praticado um crime, seja ele doloso, culposo, tentado ou
consumado, de menor potencial ofensivo.
 Trata-se de crime acessório, parasitário ou
de fusão, pois é necessária a comprovação de um crime
anterior.
 Não haverá favorecimento pessoal em caso de
contravenção penal ou em caso de ato infracional.
c) Consumação e Tentativa:

 Crime material - estará consumado no momento


em que o favorecido, em face do auxílio prestado pelo sujeito
ativo, consegue subtrair-se à ação da autoridade pública,
ainda que por tempo breve.

 Admite tentativa

d) Escusa absolutória

Art. 348, § 2° "Se quem presta o auxílio é


ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso,
fica isento de pena".

1) Ascendente do criminoso

2) Descendente do criminoso

3) Cônjuge do criminoso

4) Irmão do criminoso

Favorecimento Real – Art. 349


rt. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria
ou de receptação, auxílio destinado a TORNAR SEGURO O
PROVEITO DO CRIME: Pena - detenção, de um a seis meses, e
multa (menor potencial ofensivo).

O crime consiste em prestar a criminoso, fora


dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado
a tornar seguro o proveito do crime.
Trata-se de crime de forma livre - o agente
pode prestar auxílio de maneira direta ou indireta, moral
ou materialmente.
Esse auxílio prestado não pode configurar caso
de coautoria - se o auxílio foi prometido antes do crime
anterior, ou realizado durante a sua prática, haverá
participação no delito original, e não favorecimento real.
O crime de favorecimento real é um delito
acessório, parasitário ou de fusão - é necessária a
comprovação de um crime anterior

O objeto material é o proveito do crime – isto


é: a vantagem ou utilidade de cunho material ou moral.

CRIME DE RECEPTAÇÃO (ART. 180, CP) X CRIME DE


FAVORECIMENTO REAL (ART. 349, CP)

FAVORECIMENTO REAL X RECEPTAÇÃO: No primeiro,


o agente recebe ou oculta a coisa em proveito do autor do
crime antecedente. No segundo, o agente recebe ou oculta a
coisa em proveito próprio ou de terceiro (diferente do
autor do crime antecedente).
CRIME DE CRIME DE
RECEPTAÇÃO (ART. FAVORECIMENTO REAL
180, CP) (ART. 349, CP)
O agente pratica O agente atua
a conduta em proveito próprio unicamente em benefício do autor
ou de terceiro, que não o do crime precedente, no sentido de
autor do tornar seguro
crime precedente o proveito do crime;
O agente busca O tipo penal não
vantagem econômica contém como elementar a
obtenção de nenhuma
vantagem, embora o agente possa
visar alguma

CRIME DE FAVORCIMENTO REAL (ART. 349) X CRIME


DE FAVORECIMENTO PESSOAL (ART. 348)
FAVORECIM FAVORECIM
ENTO PESSOAL (ART. 348) ENTO REAL (ART. 349)
Objet Autor de Proveito
o material crime anterior de crime anterior
Quant Crime Crime
o ao resultado material (prevalece) formal
Escus Ascendent Não é
a absolutória e, previsto.
descenden
te, cônjuge, irmão ou
convivente

FAVORECIMENTO REAL IMPRÓPRIO – ART. 349-A

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar,


auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização
legal, em estabelecimento prisional.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano.

O crime consiste em ingressar, promover,


intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem
autorização legal, em estabelecimento prisional.

 Trata-se de tipo misto alternativo – crime de


ação múltipla ou de conteúdo variado. Assim, se o agente, no
mesmo contexto lático, praticar mais de um verbo nuclear,
haverá um único delito.
 Trata-se de Exceção pluralista à teoria
monista - o funcionário público que deixar de cumprir seu
dever de vedar ao preso o acesso a aparelho celular ou similar
não pratica o crime do art. 349-A do CP, mas sim prevaricação
imprópria (art. 319- A do CP).

Embora o tipo penal não determine expressamente


um elemento subjetivo especial, parte da doutrina entende que
é necessária a finalidade especial (dolo específico) de
querer que o objeto material chegue às mãos do detento. Caso
contrário o juiz, o membro do Ministério Público ou o
advogado que ingressasse no estabelecimento prisional
portando um celular ou um iPad, sem a intenção de fornecê-
lo ao preso, deveria responder pelo crime.

 Crime de mera conduta - estará consumado no


momento em que o autor praticar o núcleo do tipo, ainda que
o objeto material não chegue às mãos do preso
 Delito plurissubsistente – é admitida a
tentativa.

5.10 C
rime de Exploração de
Prestígio

Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou


qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz,
jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de
justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Parágrafo único - As penas aumentam-se de um
terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
utilidade também se destina a qualquer das pessoas
referidas neste artigo.

Tipo Objetivo:

O crime consiste em solicitar ou receber


dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir
em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de
justiça, perito, tradutor intérprete ou testemunha.
 Trata-se de tipo misto alternativo - se o
agente, no mesmo contexto fático, solicitar (pedir,
requerer) e também receber (aceitar, obter) dinheiro ou outra
vantagem, a pretexto de influir em uma das pessoas indicadas
no art. 357 do CP, haverá crime único.
 “A pretexto de” - o agente não irá influenciar
o juiz, jurado, órgão do MP, funcionário da Justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha, mas passa a informação
que irá, vale dizer, simula uma situação.
 O objeto material é o dinheiro ou qualquer
outra utilidade (material ou moral).

 O tipo penal refere-se, expressamente, a


juiz, jurado, órgão do MP, funcionário da justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha. O rol é taxativo e não
pode ser ampliado, sob pena de analogia in matam partem.

Consumação e Tentativa:

1) Modalidade solicitar - crime formal: estará


consumado com a simples solicitação, ainda que exista recusa
da outra parte

2) Modalidade receber – crime material: se


consuma no momento da obtenção do dinheiro ou utilidade
(crime material).

3) A Tentativa será sempre possível na


modalidade plurissubsistente (ex.: solicitação por carta,
que vem a ser interceptada), e inadmissível na modalidade
unissubsistente (ex.: solicitação verbal).

DEMAIS DELITOS: leitura do código.

ART. 351, CP - FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA


A MEDIDA DE SEGURANÇA

Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de


pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança
detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada,
ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a
pena é de reclusão, de dois a seis anos.
§ 2º - Se há emprego de violência contra
pessoa, aplica-se também a pena correspondente à
violência.
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro
anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
ou guarda está o preso ou o internado.
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido
da custódia ou guarda, aplica- se a pena de detenção, de
três meses a um ano, ou multa.

ART. 352, CP - EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA


A PESSOA

Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o


preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano,
além da pena correspondente à violência.

ART. 353, CP - ARREBATAMENTO DE PRESO

Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-


lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da
pena correspondente à violência.

ART. 354, CP - MOTIM DE PRESOS

Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando


a ordem ou disciplina da prisão: Pena - detenção, de seis
meses a dois anos, além da pena correspondente à
violência.

ART. 355, CP - PATROCÍNIO INFIEL

Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou


procurador, o dever profissional, prejudicando interesse,
cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e
multa. Patrocínio simultâneo ou tergiversação

Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo


o advogado ou procurador judicial que defende na mesma
causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

ART. 356, CP - SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO


DE VALOR PROBATÓRIO

Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente,


ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou
procurador:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e
multa.

ART. 358, CP - VIOLÊNCIA OU FRAUDE EM


ARREMATAÇÃO JUDICIAL

Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar


arrematação judicial; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou
multa, além da pena correspondente à violência.

ART. 359, CP - DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL


SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO
Art. 359 - Exercer função, atividade,
direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou
privado por decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos,
ou multa.

CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS.


De registro salutar na legislação brasileira,
a Lei Complementar 101/20001 e a Lei 10.028/2000, estabelecem
balizamento para a conduta dos agentes políticos no trato
das finanças públicas.
No campo criminal, a Lei 10.028, de 19 de
outubro de 2000, editado na esteira da Lei Complementar 101,
em seu artigo 2ª, acrescentou o Capítulo IV ao Código Penal,
ao título dos crimes contra a administração pública.
É de registro a ilação de Régis Fernandes de
Oliveira2 de que crescem as frustrações com o comportamento
político. O agente público assume o cargo apenas para
locupletar‐se.
As leis indicadas procuram trazer freios para
os maus administradores públicos, criando tipos penais,
instituindo comportamentos que atentam contra a probidade
administrativa, de forma a coibir o uso desmedido dos
interesses particulares em detrimento do público.
ORDENAR, AUTORIZAR OU REALIZAR OPERAÇÃO DE
CRÉDITO INTERNO OU EXTERNO, SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO
LEGISLATIVA(ARTIGO 359 – A DO CP)
Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar
operação de crédito, interno ou externo, sem prévia
autorização legislativa: (AC)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (AC)
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem
ordena, autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou
externo: (AC)
I - com inobservância de limite, condição ou
montante estabelecido em lei ou em resolução do Senado
Federal; (AC)
II - quando o montante da dívida consolidada
ultrapassa o limite máximo autorizado por lei.
(AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
Trata‐se de norma penal em branco onde para se
ter noção exata de seu conteúdo é preciso saber quais os
limites e condições, os montantes fixados em Lei ou em
Resolução do Senado Federal, a teor do artigo 52, V, da
Constituição Federal. Fala‐se no inciso I, que dita que
incide nas mesmas penas quem ordena, autoriza ou realiza
operação de crédito, interno ou externo, com inobservância
de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou
Resolução do Senado Federal.
O bem jurídico protegido é a probidade
administrativa relativamente às operações realizadas no
âmbito das finanças públicas da União, Estado, Distrito
Federal e Municípios. Protege‐se a regularidade
administrativa e das finanças públicas.
Pode o agente dar ordem para que a operação do
agente seja efetivada, como pode permitir que outra pessoa
o faça, seja executando, seja ordenando. Pode o agente,
finalmente, diretamente concretizar a operação de crédito.
Ordenar significa mandar, determinar a
realização de operação de crédito sem a exigência de
autorização legislativa. Como tal, como acentua Damásio
Evangelista de Jesus3, autorizar é permitir, aprovar,
conceder autorização para a prática de ato.
A existência de autorização legislativa ou
legal torna o fato atípico.
No caso do Prefeito, sabe‐se que há lei
especial, inserindo no artigo 1º, XX, do Decreto‐lei 201/67,
crime de responsabilidade: ordenar ou autorizar, em
desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com
qualquer um dos demais entes da Federação, inclusive suas
entidades da Administração Indireta, ainda que na forma de
novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída
anteriormente. Por novação, como dizia Roberto de Ruggiero4,
não se tinha uma simples transformação de um direito de
crédito pela mudança de um dos seus elementos constitutivos
ou acessórios, mas a constituição de um novo direito de
crédito sobre a base e com a substância de uma precedente
relação obrigatória, que fica extinta ou, ainda, mais
precisamente, com a extinção de uma obrigação mediante a
constituição de uma obrigação nova, que toma o lugar da
precedente. Na novação tem‐se um ato que, substituindo a uma
obrigação existente faz nascer outra nova, operando ao mesmo
tempo a criação de um vínculo obrigatório e a extinção de um
outro, cujo conteúdo o novo absorve no todo ou em parte, mas
do qual é sempre nitidamente distinto e diverso, ainda que
o conteúdo seja totalmente idêntico ao conteúdo do primeiro.
O inciso II, do artigo 359 – A do Código Penal
determina a aplicação das mesmas penas previstas no caput,
quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite
máximo autorizado por lei.
Ora, o conceito de dívida consolidada nos é
dado pelo artigo 29, I, da Lei de Responsabilidade Fiscal:
é o montante total apurado sem duplicidade das obrigações
financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude de
leis, contratos, convênios ou tratados ou da realização de
operações de crédito, para amortização em prazo superior a
doze meses.
Divida flutuante, por sua vez, são dívidas de
longo prazo, obrigações de exigibilidade superior a doze
meses, contraídas para atender a desequilíbrio orçamentário
ou financiamento de obras e serviços públicos.
Damásio Evangelista de Jesus7 ensina que poderá
haver no crime previsto no artigo 359 – A do Código Penal e
nos demais crimes contra as finanças públicas a incidência
da causa de exclusão de ilicitude prevista no artigo 24 do
Código Penal(estado de necessidade). Para Celso Delmanto,
Roberto Delmanto8 haverá ainda a possibilidade de inclusão
nos delitos da inexigibilidade de conduta diversa,
exculpante extralegal. Sabe‐se, aliás, que o Código Penal
não contempla a inexigibilidade de conduta diversa como causa
legal de exclusão de culpabilidade. Na doutrina pátria,
Francisco de Assis Toledo9 admite a causa supralegal desde
que se considere a não‐exigibilidade, em seus devidos termos,
isto é, não como um juízo subjetivo do próprio agente do
crime, mas, ao contrário, como um momento do juízo de
reprovação da culpabilidade normativa, o qual compete ao
juiz do processo.
Consuma‐se o crime, em qualquer de suas
modalidades, com a ordem ou autorização de abertura de
crédito, incorrendo nas irregularidades relacionadas. Com
relação às modalidades ordenar e autorizar somente se
consumam com a efetiva abertura do crédito, nas
circunstâncias mencionadas.
Discute‐se a questão da tentativa. Nas
modalidades ordenar e autorizar, ela não poderá se
concretizar por circunstâncias alheias a sua vontade, uma
vez que pode o agente ser impedido pelo técnico especializado
que o adverte da impossibilidade jurídica da operação ou
ainda pelo ato de não cumprir as determinações recebidas por
observar a falta de requisitos legais. É possível a tentativa
na hipótese da figura realizar, crime material.
ORDENAR OU AUTORIZAR A INSCRIÇÃO EM RESTOS A
PAGAR QUE NÃO TNHA SIDO PREVIAMENTE EMPENHADA OU QUE EXCEDA
LIMITE ESTABELECIDO EM LEI(ARTIGO 359 – B DO CÓDIGO PENAL)
Inscrição de despesas não empenhadas em restos
a pagar (AC)
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em
restos a pagar, de despesa que não tenha sido previamente
empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei: (AC)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos. (AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
Trata‐se de crime de ação múltipla, envolvendo
ordenar, que significa mandar, determinar a inscrição em
restos a pagar de despesa que não tenha sido previamente
empenhada ou que exceda o limite estabelecido em lei. Por
sua vez, ordenar, dar ordem, que se distingue de autorizar,
permitir, aprovar, conceder autorização.
Restos a pagar constituem uma operação do
sistema financeiro de escrituração contábil, sendo a despesa
realizada normalmente pela sua liquidação e lançada como
despesa orçamentária do exercício a pagar. Sendo assim o
saldo orçamentário que existir, porventura, nessa conta no
dia 31 de dezembro será transferido para a conta de restos
a pagar de despesas processadas, após o devido relacionamento
para efeitos de inscrição. São restos a pagar de despesas
processadas aquele cujo empenho foi entregue ao credor, que,
por sua vez, forneceu o material, prestou o serviço ou ainda
executou a obra e a despesa foi considerada liquidada.
Restos a pagar são as despesas empenhadas, que
não forem pagas no exercício financeiro, esgotado de 31 de
dezembro. É dívida flutuante e deve ser registrada em conta
própria. Os restos a pagar são processados e não processados.
As primeiras cumpriram o estágio de liquidação e que deixam
de ser pagas por circunstâncias próprias do exercício
financeiro. As demais que não forem objeto de liquidação são
as não processadas.
Por sua vez, empenho é o comprometimento de
orçamento. É obrigação financeira de caráter contábil,
visando a reserva de numerário para o pagamento de despesa
comprometida dentro de dotação específica. Sendo assim é ato
emanado de autoridade competente que cria para a
Administração obrigação de pagamento pendente ou não de
implemento de condição.
É o que estabelece o artigo 58 da Lei 4.320/64.
O empenho é indispensável, pois é vedada a realização de
despesa que não tenha sido previamente separada do orçamento
para honrar o compromisso assumido, a teor do artigo 60 da
Lei 4.320/64. Assim nenhuma despesa administrativa pode
ser paga sem o prévio empenho, deste modo, a inscrição de
restos a pagar necessita de prévio empenho.
Não se trata de existência ou inexistência de
recursos para honrar a obrigação no ano seguinte, mas de
cumprir o mister de proceder o empenho respectivo.
Liquidação é o estágio em que se verifica o
direito do credor em face dos títulos creditórios. É a
verificação da legitimidade da despesa empenhada10.
O pagamento é o último estágio da realização
da despesa(artigos 62 e 64 da Lei n. 4.320/64).
Entenda‐se que dotação é recurso fixado no
orçamento para atender às necessidades de determinado órgão,
fundo ou despesa. É verba.
É crime próprio e formal, além de instantâneo,
de perigo abstrato(que independe da prova de perigo para as
finanças públicas, bastando a simples realização das
condutas previstas no tipo penal), unissubjetivo(pode ser
cometido por um único sujeito), unissubsistente(praticado
num único ato) ou plurissubsistente(cuja ação é composta por
vários atos, permitindo‐se o seu fracionamento).
Por sua vez, limite estabelecido em lei,
retrata que há uma norma penal em branco, exigindo‐se que se
conheça qual o limite que é fixado em lei.
Exige‐se o dolo, que é representado pela
vontade consciente de ordenar ou autorizar a inscrição em
restos a pagar de despesa que não foi previamente empenhada
ou que exceder o limite legal que foi estabelecido.
Consuma‐se o crime quando a ordem ou
autorização é executada, quando se opera a inscrição em
restos a pagar. Assim tem‐se a tipicidade. Sabe‐se que a
existência de empenho depende de exame prévio e a ordem ou
autorização pode ser genérica, encerrando‐ se quando atingir
o limite estabelecido em lei, ou devendo ser executada após
a realização do respectivo empenho. Sendo assim cabe a
tentativa.
Discute‐se a existência de desistência
voluntária se, depois de ordenada ou autorizada a inscrição
de despesas em restos a pagar, nas condições descritas no
tipo penal. Ora, em que momento estará consumado o ato de
contrair obrigação de despesa? Considera‐ se que tal ato
somente estará perfeito e acabado quando ocorrer a liquidação
da despesa, quando acontecer a verificação do direito, na
forma do artigo 63 da Lei 4.320/64. Há entendimento de que
a Administração, nas fases anteriores – licitação, contrato
e empenho‐, pode desistir do dispêndio, arguindo a supremacia
do interesse público, produzindo, para efeitos criminais, a
denominada desistência voluntária(artigo 15 do CP).
Exige‐se o dolo, que é representado pela vontade
consciente de ordenar ou autorizar a inscrição em restos a
pagar de despesa que não foi previamente empenhada ou que
exceder o limite legal que foi estabelecido.
Consuma‐se o crime quando a ordem ou
autorização é executada, quando se opera a inscrição em
restos a pagar. Assim tem‐se a tipicidade. Sabe‐se que a
existência de empenho depende de exame prévio e a ordem ou
autorização pode ser genérica, encerrando‐ se quando atingir
o limite estabelecido em lei, ou devendo ser executada após
a realização do respectivo empenho. Sendo assim cabe a
tentativa.
Discute‐se a existência de desistência
voluntária se, depois de ordenada ou autorizada a inscrição
de despesas em restos a pagar, nas condições descritas no
tipo penal. Ora, em que momento estará consumado o ato de
contrair obrigação de despesa? Considera‐ se que tal ato
somente estará perfeito e acabado quando ocorrer a liquidação
da despesa, quando acontecer a verificação do direito, na
forma do artigo 63 da Lei 4.320/64. Há entendimento de que
a Administração, nas fases anteriores – licitação, contrato
e empenho‐, pode desistir do dispêndio, arguindo a supremacia
do interesse público, produzindo, para efeitos criminais, a
denominada desistência voluntária(artigo 15 do CP).
ORDENAR A ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÃO NOS DOIS
ÚLTIMOS QUADRIMESTRES DO ÚLTIMO ANO DE MANDATO OU DE
LEGISLATURA CUJA DESPESA NÃO POSSA SER PAGA NO MESMO
EXERCÍCIO FINANCEIRO OU CASO SEJA PAGA NO EXERCÍCIO SEGUINTE,
QUE NÃO TENHA CONTRAPARTIDA SUFICIENTE DE DISPONIBLIDADE DE
CAIXA(ARTIGO 359 – C DO CP)
Assunção de obrigação no último ano do mandato
ou legislatura (AC)
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no
mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga
no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
suficiente de disponibilidade de caixa: (AC)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
(AC)
É crime próprio, formal, instantâneo e de
perigo abstrato.
No crime em análise quer‐se evitar que o
administrador transmita despesa sua ao futuro ocupante do
cargo. Logo, a primeira pare do tipo penal tem por finalidade
abranger a assunção de dívida, que não será paga no mesmo
exercício, sendo complementada pela segunda parte, voltada
a garantir que a dívida, caso reste para o exercício
seguinte, ao menos tenha previsão de caixa suficiente para
satisfazê‐la. Enfim, o artigo 359 – B do Código Penal tem
por fim moralizar a passagem do funcionário, a fim de que
gaste aquilo que pode e está autorizado em lei. Objetiva‐se
impedir que o administrador acabe inviabilizando a próxima
administração em razão do endividamento procedente. Sabe‐se
da triste historia de políticas orçamentárias que geravam
débitos impagáveis pela Administração Pública.
O entendimento é de que deve ser considerado
como disponibilidade de caixa todo o estoque de dívida
existente em 30 de abril, independente do exercício em que
foi gerada. Desse montante, identifica‐se o valor vencido e
a vencer até 31 de dezembro, para fins de projeção da
disponibilidade de caixa naquela data, levando em
consideração que, pela exigência legal da observância da
ordem cronológica de vencimento, estes valores deverão ter
prioridade de pagamento em relação aos novos compromissos a
serem assumidos.
O elemento subjetivo é o dolo, representado
pela vontade livre e consciente de assumir obrigação geradora
da despesa, que necessite ser cumprida de forma total ou
parcial, no próximo mandato ou legislatura. O agente deve
ter consciência de que já se encontra no período depurador
das finanças públicas e que a obrigação a assumir não pode
ser resgatada no mesmo exercício ou de que eventual saldo a
ser honrado no exercício seguinte não tem ¨contrapartida
suficiente de disponibilidade de caixa¨.
Pode‐se elidir a culpabilidade, comprovando‐se
a presença de inexigibilidade de conduta diversa.
A esse respeito, Mizabel de Abreu Derzi11,
tratando da norma limitadora da contratação de obrigação nos
dois últimos quadrimestres do mandato(artigo 42, LRF) diz
que o dispositivo, não obstante, não atinge as novas despesas
contraídas no primeiro quadrimestre do último ano de mandato,
ainda que de duração continuada superior ao exercício
financeiro. Também não deverá alcançar outras despesas
contraídas no final do exercício para socorrer calamidade
pública, para atender as urgências necessárias.
Consuma‐se o crime quando a ordem ou a
autorização é efetivamente executada, quando a obrigação é
assumida dentro do período que a lei proíbe. É possível a
tentativa.
ORDENAR DESPESA NÃO AUTORIZADA POR LEI (ARTIGO
359 – D DO CÓDIGO PENAL)
rt. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por
lei: (AC)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
(AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
O tipo penal é ordenar despesa, mandar, não
autorizada previamente em lei ou não autorizada em lei ou em
desacordo com a autorização legal.
O sujeito ativo é o agente publico que tem
competência para ordenar a despesa.
Trata‐se de crime próprio, formal, comissivo,
excepcionalmente na forma de crime comissivo por omissão,
instantâneo, de perigo abstrato(que independe da forma de
perigo para as finanças públicas, bastando a simples
realização da conduta prevista no tipo penal),
unissubsistente, em que se admite a tentativa. Régis Prado12
fala ainda em crime de mera atividade. Disse ainda ele,
comentado a Lei Complementar, que nos termos do artigo 16,
a criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental
que acarrete aumento da despesa pública será acompanhada de
estimativa de impacto orçamentário‐financeiro.
Se isso não bastasse, o artigo 17 da mesma
norma jurídica dispõe sobre as despesas de caráter continuado
consideradas aquelas que acarretem para o administrador a
obrigação legal de sua execução por um período superior a
dois anos.
Para efeito de despesa não autorizada, diz a
Lei de Responsabilidade Fiscal:
Art. 15. Serão consideradas não autorizadas,
irregulares e lesivas ao patrimônio público a geração de
despesa ou assunção de obrigação que não atendam o disposto
nos arts. 16 e 17.
Art. 16. A criação, expansão ou
aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento
da despesa será acompanhado de:
‐ estimativa do impacto orçamentário‐financeiro
no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois
subseqüentes;
‐ declaração do ordenador da despesa de que o
aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei
orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual
e com a lei de diretrizes orçamentárias.
§ 1º Para os fins desta Lei Complementar,
considera‐se:
‐ adequada com a lei orçamentária anual, a
despesa objeto de dotação específica e suficiente, ou que
esteja abrangida por crédito genérico, de forma que somadas
todas as despesas da mesma espécie, realizadas e a realizar,
previstas no programa de trabalho, não sejam ultrapassados
os limites estabelecidos para o exercício;
‐ compatível com o plano plurianual e a lei de
diretrizes orçamentárias, a despesa que se conforme com as
diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstos nesses
instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições.
§ 2º A estimativa de que trata o inciso I do
caput será acompanhada das premissas e metodologia de cálculo
utilizadas.
§ 3º Ressalva‐se do disposto neste artigo a
despesa considerada irrelevante, nos termos em que dispuser
a lei de diretrizes orçamentárias.
§ 4º As normas do caput constituem condição
prévia para:
I ‐ empenho e licitação de serviços,
fornecimento de bens ou execução de obras; Constituição.
II ‐ desapropriação de imóveis urbanos a que se
refere o § 3º do art. 182 da
Trata‐se de crime próprio, instantâneo e de
perigo abstrato, como afirmou Guilherme de Souza Nucci13.
Logo, ainda que a Administração seja beneficiada pela
liberação de verba não prevista na lei orçamentária ou em
lei específica, o crime está configurado.
Em sentido contrário, temos o que ensinam
Flávio Gomes e Alice Bianchini14 que alertam que pode
ocorrer, entretanto, que a despesa, ainda que não autorizada
por lei, venha a ser plenamente justificada. Para os citados
autores, a inexistência de autorização constitui, tão‐
somente, indício de irregularidade, havendo necessidade para
se criminalizar a conduta, que se verifique, diretamente, a
existência de uma lesão não justificada ao bem jurídico.
Assim, quando devidamente explicável a despesa,
deslegitimada encontra‐se a possibilidade de se punir a
conduta, ao menos penalmente.
Consuma‐se o crime juntamente com a ordem onde
enseja o efetuar determinada despesa, não se admitindo a
tentativa.
PRESTAR GARANTIA EM OPERAÇÃO DE CRÉDITO SEM QUE
TENHA SIDO CONSTITUÍDA CONTRAGARANTIA EM VALOR IGUAL OU
SUPERIOR AO VALOR DA GARANTIA PRESTADA NA FORMA DA LEI(ARTIGO
359 – E DO CÓDIGO PENAL)
Prestação de garantia graciosa (AC)
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de
crédito sem que tenha sido constituída contragarantia em
valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na
forma da lei: (AC)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
(AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
É mais um crime daqueles previstos
anteriormente contra as Finanças Públicas.
É crime de garantia graciosa uma vez que não
se presta garantia em operação de crédito sem que tenha sido
constituída contragarantia em igual valor ou superior à
garantia prestada, na forma da lei.
A pena prevista de 3(três) meses a 1(um) ano
leva o julgamento do ilícito para os Juizados Especiais.
É crime próprio, formal e instantâneo. O dolo
é genérico.
A contragarantia tem a mesma natureza e
extensão da garantia, pois é qualquer caução contraprestada
pelo devedor ao garantidor, terceiro ao vínculo obrigacional
que lhe garantiu o pagamento.
Pode ser financeira ou contratual.
DEIXAR DE ORDENAR, DE AUTORIZAR OU DE PROMOVER
O CANCELAMENTO DO MONTANTE DE RESTOS A PAGAR INSCRITO EM
VALOR SUPERIOR AO PERMITIDO EM LEI(ARTIGO 359 – F DO CÓDIGO
PENAL)
Não cancelamento de restos a pagar (AC)
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou
de promover o cancelamento do montante de restos a pagar
inscrito em valor superior ao permitido em lei: (AC)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos. (AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
O núcleo do tipo e deixar de ordenar, autorizar
ou promover o cancelamento do montante de restos a pagar
inscrito em valor superior ao permitido em lei.
É crime de menor potencial ofensivo, com pena
de 6(seis) meses a 2(dois) anos.
Trata‐se de crime próprio, formal, de perigo
abstrato, omissivo, que pode ser praticado através das
seguintes condutas: deixar de ordenar, ou seja, deixar de
dar, conceder autorização; deixar de promover, deixar de
gerar, provocar.
O objeto material é o cancelamento do valor de
restos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em
lei. Sendo assim é lei penal em branco, sendo que o montante
deve ser objeto de lei orçamentária anual.
Restos a pagar são as despesas empenhadas e não
pagas até 31 de dezembro, distinguindo‐se as processadas e
as não processadas(artigo 36 da Lei 4.320/64). Despesas
processadas são aquelas que, embora liquidadas, não foram
pagas; já as despesas não processadas são as que não forem
nem mesmo liquidadas.
Entende‐se que não há crime se o agente ordena,
promove o cancelamento, autoriza, mas o mesmo não ocorre por
culpa de outrem.
Consuma‐se o crime no momento em que se escoa o
prazo para que o agente ordene, autorize ou promova o
cancelamento.
É crime que exige um dolo genérico e a ser
objeto de pedido de sursis processual, em face da pena
mínima de 1(um) ano.
È crime formal, próprio e instantâneo.
AUMENTO DA DESPESA TOTAL COM PESSOAL NO ÚLTIMO
ANO DO MANDATO OU LEGISLATURA(ARTIGO 359 – G)
Aumento de despesa total com pessoal no último
ano do mandato ou legislatura (AC)
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato
que acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da
legislatura: (AC)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
(AC) (Incluído pela Lei nº 10028 de 19/10/2000)
O objeto jurídico é o equilíbrio das contas
públicas, principalmente no que concerne à administração
seguinte.
É crime próprio, pois somente o agente que
tenha atribuição legal para ordenar, autorizar ou executar
ato que acarrete aumento da despesa total com pessoal pode
praticá‐lo.
São os seguintes os núcleos apontados:
ordenar, que tem o sentido de determinar, mandar; autorizar,
que significa dar, conferir autorização; executar despesa
total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao
final do mandato ou da legislatura.
O aumento que se fala deverá exceder aos
percentuais da receita líquida corrente líquida de 50% para
a União e de 60% para os Estados e Municípios, estabelecidos
pelo artigo 19 da Lei Complementar 101/00, em conformidade
com o disposto no artigo 109 da Constituição Federal.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo,
consumando‐se o crime com o aumento da despesa total com
pessoal, no prazo referido no tipo, tratando‐se de crime
material.
O tipo penal admite concurso de agentes, quando
o não‐funcionário público pode ser coautor ou partícipe desde
conhecedor da qualidade do agente público.
OFERTA PÚBLICA OU COLOCAÇÃO DE TÍTULOS NO
MERCADO(ARTIGO 359 – H)
Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro de
títulos da dívida pública sem que tenham sido criados por
lei ou sem que estejam registrados em sistema centralizado
de liquidação e de custódia: (AC)
O controle da dívida pública, notadamente, é o
objeto jurídico do crime.
Cuida‐se de crime próprio cometido apenas pelo
agente público que tenha atribuição legal para ordenar,
autorizar ou promover oferta pública ou a colocação no
mercado financeiro de títulos da dívida pública.
São núcleos do crime: ordenar, que é
determinar, mandar; autorizar, que significa dar, conferir
autorização; promover, que tem o sentido de gerar, provocar.
Há, portanto, crime se os títulos da dívida pública ou a
colocação do mercado financeiro sem que esses títulos tenham
sido criados por lei; sem que estes estejam registrados em
sistema centralizado de liquidação e de custódia.
Os títulos da divida pública emitidos pela
União, Estados, Municípios constituem dívida pública
mobiliária(artigo 29, II, a Lei Complementar 101/00).
O elemento do tipo é o dolo.
A consumação do crime ocorre com a efetiva
ordem, autorização ou promoção da oferta pública ou da
colocação de títulos da dívida pública no mercado financeiro,
tratando‐ se de crime formal, onde se coloca em perigo as
contas públicas.
Pode haver concurso de agentes, com a
participação de não‐funcionário que saiba da condição da
qualidade do funcionário.

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