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Formação em Teologia

Volume 10

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Formação em Teologia

Livros Históricos: Livro de Reis - o início da monarquia em


Israel e a divisão do reino
O Livro de Reis não é apenas um registro da história dos reis de Israel, como
bem adianta o seu título, mas uma narrativa reveladora sobre a condição e as
consequências de governos e governantes que andaram por conta própria,
desprezando a direção e a vontade de Deus. O livro inicia mostrando os últimos
dias de Davi e a ascensão de seu filho Salomão, ao reinado, e sua grandeza diante
de Deus e dos homens:

“Reis narra a história de Israel começando com a transmissão do poder


de Davi para Salomão (c. 931 a.c.; lRs 1.1-2.12) e terminando com a
libertação de Joaquim da prisão durante o jugo babilônico (562-561
a.C. 2Reis 25: 27-30).” ¹

Após vinte anos, o governo de Salomão entra em fase de declínio, pois ele se
permitiu contaminar pelas mulheres, costumes e por toda sorte de religiosidade
profana dos outros povos e suas culturas questionáveis, abrindo as portas para o
fim da era de paz, inaugurada nele mesmo, e para a queda do reino.
Veremos a ruptura do reino, numa divisão vista sob duas perspectivas: Norte
e Sul. Infelizmente, a maioria dos governantes reinou de maneira inadequada,
desagradando ao Senhor e trazendo sérias consequências à nação. Mas, apesar da
desobediência generalizada, de monarcas e do povo, e de seus efeitos desastrosos,
nesse livro Deus que revela que a história ainda não chegou ao fim, encorajando as
pessoas a prosseguir.
Todavia, para se saber em que terreno estamos pisando, pode ser útil fazer
duas paradas: uma na história de Israel e outra em sua geografia.

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I História
• Patriarcas - 2.000 a.C.;

• Egito / Êxodo - 1.400 a.C.;

• O Reino unido (monarquia) - 1.030 a.C.;

• Esdraelom dividida em três seções: Planície Marítima, banhada pelos rios Quisom
e Belus; Planície Central, que forma a parte principal de Esdraelom (Essa é a
planície de Megido, relatada na Bíblia em Zacarias 12:11; Vale de Jezreel (Bate Seã
era a principal cidade desse vale e se acha a 6 km de distância do rio Jordão.
Referência ao local em 2 Samuel 4:4).

O Livro de Reis é uma continuação direta dos Livros de Samuel. O contexto é de


um reino unificado, cujos três primeiros reis foram respectivamente:

• Saul, 40 (quarenta) anos de reinado;

• Davi, 40 (quarenta) anos de reinado;

• Salomão, 40 (quarenta) anos de reinado.

Após o mandato de Salomão, o reino é dividido, e a partir de agora encontramos


as histórias dos Reinos do Norte e do Sul. Lembrando que as datas dos eventos em
estudo são todas aproximações:

• Queda do Reino do Norte. 722 a.C. Israel foi conquistada pela Assíria, que tinha
como estratégia ocupar o território de interesse, despojar, destruir e abandonar.

• Queda do Reino do Sul pela Babilônia. 587 a.C. A estratégia babilônica difere da
assíria pois capturavam o povo derrotado, com fins de empregá-los como mão-de-
obra, e abandonavam os territórios conquistados.

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II Geografia e clima
Enfatizamos a importância da geografia de Israel pois nos possibilita
localizar personagens e fatos ao longo das épocas, contextos históricos e
referências bíblicas, para podermos chegar num panorama mais apurado dos
eventos. Entre montanhas, planícies, vales e desertos, destacamos os principais
lugares retratados no Livro de Reis:

Planície da Palestina Ocidental


• Genesaré. Planície amena e fértil na Alta Galileia, produzia figos e uvas
(Mateus 14: 34);

• Zebulom. Localizado na Galileia Central, possuía prados verdes e férteis;

• Sarom. Localizada ao sul do Monte Carmelo, se estende por 75 km para


Jope (Cantares 2: 1,2. Isaías 35: 2);

• Planície ou Vale do Jordão. Região extremamente fértil, próxima à Jericó


(Gênesis 13: 10-11).

Planície da Palestina Oriental

• Haurã. Terra plana e fértil denominada o “celeiro de Damasco”.

Vale - É uma depressão alongada entre montes. Abaixo, alguns vales de israelitas:

• Siquém (Juízes 9: 7 e Josué 20: 7);

• Aijalom. À 18 km de Jerusalém, área regularmente devastada por filisteus


(Js 10: 12);

• Soreque. Atravessado por um rio que tem o mesmo nome (Juízes 16: 4);

• Arcor. Fez fronteira com Judá. Onde Acã foi morto a pedradas (Js 7:24-26);

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• Refaim. Fronteira setentrional de Judá (2 Samuel 5: 18-25);

• Escol. Onde os espias colheram uvas gigantes para levá-las a Moisés


(Números 13-24);

• Sucote (Genesis 33: 17).

Planalto da Judeia - Longe do litoral, surgem diversos montes, localizados em


maiores altitudes. A própria Bíblia chama a região de Canaã de “terra de montes e
vales” (Dt 11: 11).

Desertos de Israel - Nas Escrituras, de acordo com o novo dicionário da Bíblia, os


vocábulos traduzidos como “deserto” incluem, não somente os desertos estéreis de
dunas de areia ou de rocha, mas igualmente designam terras planas e estepes, e
terras de pastagem - essas últimas apropriadas à criação de gado. O vocábulo
“deserto” é encontrado pelo menos 358 vezes em toda a Bíblia, este termo é
derivado do substantivo hebraico “midbar”. Abaixo uma lista de alguns desertos:

• Tecoa (Amós 1: 1);

• Judéia (1 Samuel 17: 28); • Berseba (Gênesis 21: 14);

• En-Gedi (1 Samuel 24 :1-23); • Betsaida (Lucas 9: 10).

Clima de Israel - O relevo palestino produz uma variada superfície, com regiões
baixas e elevadas, originando todo tipo de clima, desde o tropical Jordão até o
intenso frio no Hermom (2.815 metros de altura). No litoral a temperatura média é
de 21 graus, e em janeiro chega a 4 graus. É devido a essa variedade de clima que
a Palestina usa toda espécie de cultura agrícola. Tendo visto os locais e suas
referências bíblicas, observe os mapas abaixo:

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O Mar da Galileia (localizado ao norte), também é chamado de Lago de


Tiberíades (ou Lago de Genesaré), é o maior lago de água doce de Israel, cujo
comprimento máximo chega aos 19 km, e a largura máxima alcança até 13 km.
Também temos o Mar Morto (ao sul), encontrado a 400 metros abaixo do nível do
mar, corresponde a um lago de água salgada. E da ligação entre esses dois lagos
surge o Rio Jordão (150 metros abaixo do nível do mar).
Os elementos da geográficos surgem do litoral para o continente: a planície
costeira, o planalto da Judéia e a depressão, onde ficam o Mar da Galileia, o Rio
Jordão e Mar Morto. Filisteus e cananeus geralmente se situavam nas planícies,
sendo que as guerras ocorriam geralmente na junção entre a planície e o planalto,
ou entre o planalto de Israel e o planalto onde hoje se situa a Jordânia. Havia duas
cidades cananitas fortificadas, criando um corte horizontal no mapa de Israel:
Megido e Bete Seã. Isso nos leva a entender duas questões básicas:

• Quando a Bíblia fala em “destruir completamente”, o texto está usando uma


hipérbole. Um exemplo está nas cidades cananitas. Apenas no período de
Salomão essas regiões ficaram sob o domínio de Israel, pois logo após o
término do reinado dele, voltaram ao comando dos cananeus.

• A presença dessas cidades entre o reino do Norte e o reino do Sul influenciou


diretamente no distanciamento entre os reinos, mesmo não sendo fronteiras
diretas com os mesmos.

As Doze Tribos – A localização das doze tribos no escopo geográfico nos ajudará
a entender o contexto dos personagens e sua respectiva tribo. Além disso, é
fundamental reconhecermos a configuração geopolítica das tribos, especialmente
no período de divisão dos reinos, então listaremos as tribos de acordo com seus
fundadores. Jacó foi o pai do grupo de homens que deu origem às tribos, esses
filhos, por sua vez, vieram de diferentes mães biológicas. Observe:

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Filhos de Lia Filhos de Raquel Filhos de Zilpa


• Rúben • José • Gade
• Simeão • Benjamim • Aser
• Judá •
• Issacar Filhos de Bila *Filhos de José
• Zebulom
• Diná • Dã • Efraim
• Naftali • Manassés

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Observação – Lembre-se que Efraim e Manassés são filhos de José, não de Israel.
José foi tão importante que seus filhos deram origem a duas tribos. Também vale
lembrar que Levi era filho de Israel, mas sua tribo não recebeu herança em terra
pois foi consagrada ao sacerdócio, cabendo às outras tribos sustentá-la:

III Salomão
Filho de um relacionamento que começa da pior forma possível: um caso de
adultério e assassinato. A misericórdia de Deus é a causa dessa história ter
capítulos felizes. Diz a Palavra que Bate-Seba convenceu Davi a instaurar Salomão
como rei, cumprindo a promessa que fizera a ela:

“E foi Bate-Seba ao rei na sua câmara; e o rei era muito velho;


e Abisague, a sunamita, servia ao rei. E Bate-Seba inclinou a
cabeça, e se prostrou perante o rei. E disse o rei: Que tens? E
ela lhe disse: Senhor meu, tu juraste à tua serva pelo Senhor
teu Deus, dizendo: Salomão, teu filho, reinará depois de mim,
e ele se assentará no meu trono. E agora eis que Adonias
reina; e tu, ó rei meu senhor, não o sabes”. (1 Rs 1: 15-18)

O início da jornada de Salomão é marcado pelo seu pedido por sabedoria,


um de seus pontos altos, e a seguir, analisaremos os momentos de auge, e também
de declínio, do seu reinado:

“E Salomão amava ao Senhor, andando nos estatutos de Davi


seu pai; somente nos altos sacrificava e queimava incenso. E
foi o rei a Gibeom para sacrificar, porque aquele era o alto
maior; mil holocaustos sacrificou Salomão naquele altar. E
em Gibeom apareceu o Senhor à Salomão de noite em
sonhos e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê.

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E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu


servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em
verdade, em justiça, e em retidão de coração, perante a tua
face; e guardaste-lhe esta grande beneficência, e lhe deste
um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste
dia. Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizeste reinar a teu
servo em lugar de Davi meu pai; e sou apenas um menino
pequeno; não sei como sair, nem como entrar. E teu servo
está no meio do teu povo que elegeste; povo grande que nem
se pode contar, nem numerar pela sua multidão. A teu servo,
pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para
que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque
quem poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta
palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão
pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não
pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem
pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti
entendimento, para discernires o que é justo; eis que fiz
segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio
e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti
igual não se levantará.” (1 Rs 3:3-13)

A construção do templo - O projeto demandou que Israel se aliasse a Hirão, rei de


Tiro, na Fenícia, o que possibilitou o acesso à artesãos habilidosos na construção
de templos (1 Rs 13-14. Vide o Livro de Crônicas) e material para a construção, a
qual teve início no quarto ano do reinado de Salomão (966 a.C). No total, a obra
precisou de sete anos e meio e muitos trabalhadores de Israel (1 Rs 5: 13-1):

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“E Salomão mandou dizer a Hirão, rei de Tiro: Como fizeste


com Davi meu pai, mandando-lhe cedros, para edificar uma
casa em que morasse, assim também faz comigo. Eis que
estou para edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus,
para lhe consagrar, para queimar perante ele incenso
aromático, e para a apresentação contínua do pão da
proposição, para os holocaustos da manhã e da tarde, nos
sábados e nas luas novas, e nas festividades do Senhor nosso
Deus; o que é obrigação perpétua de Israel. E a casa que
estou para edificar há de ser grande; porque o nosso Deus é
maior do que todos os deuses. Porém, quem seria capaz de
lhe edificar uma casa, visto que os céus e até os céus dos céus
o não podem conter? E quem sou eu, que lhe edificasse casa,
salvo para queimar incenso perante ele? Manda-me, pois,
agora um homem hábil para trabalhar em ouro, prata,
bronze, ferro, púrpura, carmesim e em azul; e que saiba
lavrar ao buril, juntamente com os peritos que estão comigo
em Judá e Jerusalém, os quais Davi, meu pai, preparou.
Manda-me também madeiras de cedro, de cipreste, e alguns
do Líbano; porque bem sei eu que os teus servos sabem
cortar madeira no Líbano; e eis que os meus servos estarão
com os teus servos. E isso para prepararem muita madeira;
porque a casa que estou para fazer há de ser grande e
maravilhosa. E eis que a teus servos, os cortadores, que
cortarem a madeira, darei vinte mil coros de trigo malhado,
vinte mil coros de cevada, vinte mil batos de vinho e vinte mil
batos de azeite. E Hirão, rei de Tiro, respondeu por escrito
que enviou a Salomão, dizendo: ...

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... Porque o Senhor tem amado o seu povo, te constituiu sobre


ele rei. Disse mais Hirão: Bendito seja o Senhor Deus de
Israel, que fez os céus e a terra; o que deu ao rei Davi um filho
sábio, de grande prudência e entendimento, que edifique
casa ao Senhor, e para o seu reino. Agora, pois, envio um
homem sábio de grande entendimento, a saber, Hirão Abiú.
Filho de uma mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem
de Tiro; este sabe trabalhar em ouro, prata, bronze, ferro, em
pedras e madeira, em púrpura, azul, linho fino, em carmesim,
e é hábil para toda a obra do buril, e para toda a espécie de
invenções, qualquer coisa que se lhe propuser, juntamente
com os teus peritos, e os peritos de Davi, meu senhor, teu pai.
Agora, pois, meu senhor, mande para os seus servos o trigo,
a cevada, o azeite e o vinho, de que falou; E nós cortaremos
tanta madeira no Líbano, quanta houveres mister, e ta
traremos em jangadas pelo mar até Jope, e tu a farás subir a
Jerusalém. E Salomão contou todos os homens estrangeiros,
que havia na terra de Israel, conforme o censo com que os
contara Davi seu pai; e acharam-se cento e cinquenta e três
mil e seiscentos. E designou deles setenta mil carregadores,
e oitenta mil cortadores na montanha; como também três mil
e seiscentos inspetores, para fazerem trabalhar o povo.”
(2 Crônicas 2: 3-18)

O Auge - A dedicação do templo foi o auge do reinado de Salomão, da presença de


Deus no meio do povo e da confirmação da aliança com a casa de Davi:

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“E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma


nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam
permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem,
porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor.”
(1 Rs 8: 10,11)

Israel prospera, e a expansão do reino se dá em termos nunca vistos, de


forma que o favor do Senhor é notável, não somente entre o Seu povo, mas por
todos os reinos vizinhos. A rainha de Sabá é testemunha, e referência do espanto e
fascínio de outros reinos, ao notar as dimensões e o alcance do reinado de Salomão.

“Vendo, pois, a rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão,


e a casa que edificara, e a comida da sua mesa, e o assentar
de seus servos, e o estar de seus criados, e as vestes deles, e
os seus copeiros, e os holocaustos que ele oferecia na casa
do Senhor, ficou fora de si. E disse ao rei: `Era verdade a
palavra que ouvi na minha terra, dos teus feitos e da tua
sabedoria.’” (1 Rs 10: 4-6)

O Declínio - Para além da óbvia prosperidade material, o reinado de Salomão foi


marcado por suas decisões justas e de sabedoria ímpar. Não obstante, o que
imperava era a vontade do Senhor, expressa em Sua constante presença. No
entanto, esse reinado, de prosperidade, sabedoria e presença divina, sofreu uma
queda gradual de seus padrões de conduta até chegar ao paganismo, como
consequência dos pecados cometidos por seu rei. A Bíblia é clara ao mostrar o
gatilho dessa decadência:

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“O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da


filha do faraó. Eram mulheres moabitas, amonitas, edomitas,
sidônias e hititas. Elas eram das nações sobre as quais o
Senhor tinha dito aos israelitas: "Vocês não poderão tomar
mulheres dentre essas nações, porque elas os farão desviar-
se para seguir os seus deuses". No entanto, Salomão apegou-
se amorosamente a elas. Casou com setecentas princesas e
trezentas concubinas, e as suas mulheres o levaram a
desviar-se. À medida que Salomão foi envelhecendo suas
mulheres o induziram a voltar-se para outros deuses, e o seu
coração já não era totalmente dedicado ao Senhor, o seu
Deus, como fora o coração do seu pai Davi. Ele seguiu os
postes sagrados, a deusa dos sidônios, e Moloque, o
repugnante deus dos amonitas. Dessa forma Salomão fez o
que o Senhor reprova; não seguiu completamente o Senhor,
como o seu pai Davi. No monte que fica a leste de Jerusalém,
Salomão construiu um altar para Camos, o repugnante deus
de Moabe, e para Moloque, o repugnante deus dos amonitas.
Também fez altares para os deuses de todas as suas outras
mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam
sacrifícios a eles. O Senhor irou-se contra Salomão por ter-
se desviado dEle, o Deus de Israel, que lhe havia aparecido
duas vezes. Embora ele tivesse proibido Salomão de seguir
outros deuses, Salomão não obedeceu à ordem do Senhor.
Então o Senhor disse a Salomão: "Já que essa é a sua atitude
e você não obedeceu à minha aliança e aos meus decretos,
os quais lhe ordenei, certamente lhe tirarei o reino e o darei
a um dos seus servos.” (1 Rs 11: 1-11)

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IV Divisão dos reinos Norte e Sul


A fim de melhor explicar os acontecimentos pós reinado de Salomão,
lançamos mão das lições valiosas abaixo:

“Depois da narrativa sobre o reinado de Salomão (1 Reis 2: 12-11; 43), o


escritor relata os eventos relacionados ao cisma (1 Reis 12-14). A maior
parte da narrativa é dedicada, então, à história dos dois reinos, na qual
o escritor se move para frente e para trás, através das narrativas dos
reinados sobrepostos em cada um dos países (1 Reis 15; 2 Reis 17). O
relato do reinado de um determinado reino é acompanhado pela história
do governo do outro reino, cuja mudança de monarca ocorreu durante
aquele reinado. Por exemplo, a narrativa do reinado de Asa em Judá (1
Reis 15: 9-24) é seguida pelos reinados do Norte: Nadabe, Baasa, Elá,
Zinri, Onri e Acabe (1 Reis 15: 25; 16: 34); todos que ascenderam ao trono
durante o reinado de Asa. O reinado de Josafá (1 Reis 22: 41-50), o rei
que sucedeu Asa em Judá, é comentado somente depois do relato da
morte de Acabe. A narrativa alterna-se entre os reinos do Norte e do Sul
até que o reino do norte é levado para o exílio pelos assírios. Judá
permanece isolada no sul como sucessora espiritual dos reinos de Israel
(2 Reis 18-25) e sua história é narrada até a conquista babilônica, a
destruição de Jerusalém e a libertação de Joaquim do cativeiro.” ²

Motivos para a divisão de Israel – O início da ruptura está nas atitudes de


Salomão, cuja idolatria e alianças equivocadas tiveram um peso determinante.
Depois temos seu filho, Roboão, influenciado por maus conselhos, o monarca perde
a oportunidade de reduzir os impostos, um ato que restauraria a confiança do povo,
mas faz o oposto, e tanto a fala quanto a postura de Roboão, de endurecimento
ante a reação do povo, concretizaram a separação em dois reinos. Veja:

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“Roboão foi a Siquém, onde os israelitas se reuniram para coroá-


lo. Assim que Jeroboão, filho de Nebate, que estava no Egito
fugindo de Salomão, soube, voltou. E mandaram chamá-lo. Então
ele e toda a assembleia de Israel foram à Roboão e disseram: Teu
pai pôs sobre nós jugo pesado, mas agora diminui o trabalho
árduo e o jugo pesado, e te serviremos. Roboão respondeu: Voltem
em três dias. Então o povo se foi. O rei Roboão perguntou às
autoridades que serviram seu pai Salomão durante a vida dele:
Como vocês aconselham a responder ao povo? Eles responderam:
Se hoje fores servo desse povo e servi-lo, dando-lhe uma resposta
favorável, sempre serão teus servos. Mas Roboão rejeitou o
conselho das autoridades e consultou os jovens que cresceram
com ele e o serviam. Perguntou-lhes: Qual é o conselho de vocês?
Como devemos responder a este povo que me diz: Diminui o jugo
que teu pai pôs sobre nós? Os jovens que haviam crescido com ele
responderam: A este povo que te disse: Teu pai pôs sobre nós jugo
pesado; torna-o mais leve — dize: Meu dedo mínimo é mais grosso
que a cintura do meu pai. Pois bem, meu pai pôs pesado jugo; eu
tornarei mais pesado. Meu pai castigou com simples chicotes; eu
castigarei com chicotes pontiagudos.” (1 Rs 12:1-11)

Após esse episódio, Roboão reinou apenas sobre a região sul, e assim, outro
personagem importante surge, é Jeroboão. Ainda no primeiro Livro de Reis, alguns
inimigos se levantaram contra a casa de Davi, o primeiro adversário foi Hadade, da
linhagem real de Edom, ainda menino sobreviveu ao ataque devastador do general
de Davi, chamado Joabe. Hadade fugiu para o Egito, onde foi bem acolhido, mas,
quando soube da morte de Davi e do seu general, resolveu voltar a sua terra natal.

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O segundo inimigo que se levantou contra Salomão foi Rezom, que se tornou
rei da Síria. A Bíblia relata que enquanto Salomão viveu “trouxe-lhe muitos
problemas, além dos causados por Hadade” (1 Rs 11: 25).
O terceiro inimigo que se levantou contra Salomão foi justamente quem se
tornou o rei de Israel (reino do Norte), Jeroboão era da tribo de Efraim, além de um
dos oficiais de Salomão:

“...quando Salomão viu como ele fazia bem o seu trabalho,


encarregou-o de todos os que faziam trabalho forçado,
pertencentes às tribos de José.” (1 Rs 11: 28)

O Profeta Aías profetizou sobre ele dizendo que seria o próximo rei de Israel
sobre 10 tribos. Infelizmente, ao assumir o reino do norte como dádiva do próprio
Deus, Jeroboão se desvia inclinando-se à idolatria.
A monarquia unificada durou cerca de cento e vinte anos. Lembrando que,
após a divisão, o reino do Sul, sediado na capital Jerusalém, ficou sob comando de
Roboão, enquanto o reino do Norte, cuja capital era Samaria, foi governado por
Jeroboão. A citação abaixo deixa claro o quanto a narrativa bíblica priorizava a
conduta do rei, e o quanto esta ditava o comportamento de todo o povo:

“Havendo a nação se dividido em Norte e Sul, certamente uma das


primeiras medidas de Jeroboão, no reino do Norte, foi erguer
santuários concorrentes em Dã e Betel, a fim de afastar os
sentimentos religiosos das tribos do Norte para longe de
Jerusalém, o lugar que Deus havia escolhido (1 Reis 12: 25-30).
Essa transgressão inicial do reino do Norte é usada para avaliar
quase todos os futuros reis de Israel. E quase todos são
condenados por seguirem ‘os pecados de Jeroboão’ (...). [...]

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[...] Fica claro que o escritor de Reis não estava muito interessado
nos sucessos militares ou políticos dos reis, mas antes na
fidelidade individual do rei aos mandamentos de Deus.” ³

IV O período dos reis e a relação cronológica


Ao todo, vinte reis governaram em Judá e dezenove em Israel. Todos os
dezenove reis do Norte demonstraram um péssimo desempenho em sua função,
especialmente do ponto de vista espiritual, sendo reprovados por Deus. O desvio
do caminho do Senhor e a idolatria, foram decisivos para queda. Em contrapartida,
no do Sul, oito reis foram aprovados e doze reprovados. Enfatizamos, uma vez mais,
que o declínio ou ascensão dos reis estavam condicionados à relação que estes
possuíam com os altares que existiam entre o povo nesse período. O templo era o
lugar adequado para se prestar culto, porém, com a divisão do reino, centenas de
altares se multiplicaram no meio do povo, abrindo margem para a apostasia
idólatra. Todos os altares alternativos foram rejeitados por Deus.
Por mais que, no reino do Sul, vejamos a casa de Davi sendo preservada,
não foi simples o caminho de Judá. Sobre isso Dillard e Longman II comentam:

“Poderíamos pensar que a obediência à ordem para a adoração


centralizada teria sido fácil no reino do Sul, pois, afinal de contas, o
templo de Jerusalém se localizava em sua capital. O que poderia fazer
frente ao templo no sentimento religioso de Judá? No entanto, havia
muitos rivais. Embora Deuteronômio 12 tenha ordenado a destruição de
todos os altares e outros locais de adoração dos cananeus, estes
continuaram a florescer e competir com o templo de Jerusalém. (...) Os
altares desviaram o coração do próprio Salomão (1 Reis 11: 7-13), o que
consequentemente lhe custou o reino. Os que sucederam a Salomão
também foram seduzidos, até que por fim o reino de Judá foi destruído.

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Do mesmo modo que os altares rivais de Jeroboão foram usados pelo


autor para avaliar os reis de Israel, assim os altares se tornaram o
padrão de medida no julgamento dos reis de Judá. Dois reis (Ezequias
e Josias) agiram corretamente: eles não apenas foram fiéis ao templo de
Jerusalém, como ainda eliminaram os altares. Outros tantos fizeram
individualmente o que era certo aos olhos do Senhor, mas os altares
continuaram prosperando durante os seus reinados.” ⁴

Cronologia - Visto que a maioria dos reis incorreu em graves pecados, não é de se
admirar que um ministério profético tenha ganhado vigor nessa época, mas antes
desse tópico, veja a cronologia dos reinos e suas respectivas quedas:

• Reino unificado (1030 a.C.)

• Assíria invade e domina o reino do Norte, tomando sua capital, Samaria (732 a.C.).

• Babilônia invade e domina o reino do Sul (587 a.C.).

V O Nascimento do ministério profético

“A Bíblia hebraica seguiu um sistema diferente de classificação. Ela


foi dividida em três seções: a lei, os profetas e os escritos. Os
"profetas" foram ainda subdivididos em profetas "anteriores" e
"posteriores". Os anteriores são formados por Josué, Juízes, Samuel
e Reis, que por sua vez são seguidos pelos "profetas posteriores", uma
divisão que inclui todos os livros associados a profetas (com exceção
de Daniel e Lamentações, ambos ficaram na terceira divisão, os
escritos). Para aqueles acostumados ao modo como os livros se
agrupam nas traduções modernas, à primeira vista causa certa
surpresa encontrar Josué-Reis classificados entre os profetas.

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Esses livros de narração histórica são literariamente bastante


diferentes dos outros livros caracterizados como proféticos. Porém,
sob uma nova consideração, não é difícil entender porque Reis foi
classificado desse modo na Bíblia hebraica. (l) Os atos e as
realizações de um grande número de profetas estão registrados em
Reis. Ali, lemos sobre Natã, Aías, Jeú, Micaías, Isaías, Hulda e vários
profetas não nomeados, sem falar da extensa cobertura dos
ministérios de Elias e Eliseu (1 Rs 17; 2 Rs 13).” ⁵

Os profetas nascem como atalaias para denunciar o pecado da nação e


chamá-los ao arrependimento, e eram guardiões da aliança feita no Sinai, vigiando
e denunciando a idolatria e as injustiças, tanto dos reis como do povo.

Elias - Desenvolveu seu ministério no reino do Norte, durante a maior crise religiosa
de Israel. Num contexto desolador, Acabe e Jezabel tentam fazer do reino do Norte
uma nação pagã, onde Israel cultuasse a Baal e a Aserá. Tendo em vista que Baal
era considerado deus da vegetação e da chuva, Elias anuncia uma grande seca:

“Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para


que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três
anos e meio. Orou outra vez, e o céu enviou chuva, e a terra
produziu os seus frutos.” (Tiago 5: 17,18)

A intenção do profeta foi mostrar que Deus, e não Baal, detinha a verdadeira
autoridade, pois a seca era um franco desafio à religião de Baal. Durante o período
da estiagem, Elias morou na casa de uma viúva e do filho dela, em Sarepta, que se
localizava na Fenícia, terra da própria Jezabel, esposa do rei Acabe e principal
promotora do culto a Baal.

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Formação em Teologia

Na casa da viúva, Elias realizou o milagre do “azeite na botija", provendo o


alimento necessário àquela família. Esse tempo de penúria também marca um
grande milagre do profeta, que ressuscita o filho da viúva após orar três vezes. Esse
milagre destaca-se por seu significado, resumida em dois aspectos: 1) Trata-se de
uma ressurreição. 2)Por ter ocorrido na Fenícia, terra de Baal, mostrou a guerra
entre as duas religiões e que Deus é soberano em qualquer território.
O próximo grande evento foi o embate contra os profetas de Baal. O desafio
de Elias tinha como objetivo atingir o coração do povo, a fim de que entendesse
quem era o verdadeiro Deus e porque deveria servi-Lo:

“Elias dirigiu-se ao povo e disse: Até quando vocês vão


oscilar entre duas opiniões? Se o Senhor é Deus, sigam-no;
mas, se Baal é Deus, sigam-no. Mas o povo nada respondeu.”
(1 Rs 18: 21)

Importante notar que até o último minuto, no momento em que o fogo veio
do céu, o povo ainda não havia aprendido quem eram os verdadeiros profetas e o
verdadeiro Deus. Continuavam se deixando seduzir pela idolatria, mas esse incrível
acontecimento demonstra que o fogo é a validação do ministério de Elias.
Seguindo a narrativa bíblica, depois que Elias derrota os profetas de Baal, a
chuva cai sobre a terra, exatamente como havia profetizado. Seguindo o estilo dos
eventos miraculosos que marcaram sua jornada em Israel, o ministério desse
profeta termina quando ele é levado aos céus num redemoinho:

“De repente, quando caminhavam e conversavam, apareceu


um carro de fogo, puxado por cavalos de fogo, que os
separou, e Elias foi levado aos céus num redemoinho.”
(2 Rs 2: 11)

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Eliseu - Também profetizou no Reino do Norte. Discípulo de Elias, ficou conhecido


por “receber porção dobrada” de seu antecessor, o que o levou a realizar vários
milagres, e sua vida ministerial foi marcada por muitos acontecimentos, que
veremos brevemente na lista abaixo:

• 2 Reis 2: 21. Eliseu restaura as águas contaminadas e a terra estéril.

• Reis 2: 23-24. Amaldiçoa jovens perversos que zombavam dele, insistindo


para que Eliseu subisse ao céu como Elias. Assim, duas ursas saíram do
bosque e devoraram 42 daqueles jovens.

• Reis 3: 1-27. Jorão, filho de Acabe, reinava sobre Israel e Josafá reinava
sobre Judá. Os moabitas se rebelaram contra Israel, fazendo com que
Josafá e Jorão se unissem para lutar contra eles, mas no caminho para a
batalha não achavam água para seu exército e o gado, então resolveram
consultar um profeta sobre as decisões que deveriam tomar na guerra.
Eliseu os instruiu como proceder e venceram a batalha.

• 2 Reis 4 :1-7. Uma mulher passava por uma situação difícil e constrangedora
após a morte do marido, por conta das muitas dívidas da mulher, o credor
estava exigindo os filhos dela como escravos, Eliseu multiplicou o azeite da
viúva, que foi vendido para pagar as dívidas.

• 2 Reis 4:8-37. Sunamita abrigou o profeta e, por gratidão, ele ora a Deus,
que concede um filho a ela. Tempos mais tarde, a criança morre, mas por
meio da oração do profeta, o menino revive (como fez Elias).

• 2 Reis 4: 38-41. Em Gilgal, Eliseu purificou uma comida envenenada feita


por uma pessoa que não conhecia a região e havia colocado uma erva
venenosa na refeição.

• Reis 4: 42- 44. Alimentou milagrosamente cem homens com vinte pães
(como fez Jesus).

• 2 Reis 5:1-27. Curou Naamã, comandante do rei da Síria, da lepra. Eliseu se


recusou a receber qualquer presente em função do milagre, mas Geazi,
movido por cobiça, deteve Naamã para pedir dinheiro, e em função disso,
Eliseu o condenou a contrair a lepra de Naamã.

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• 2 Reis 6:1-7. Os discípulos de Eliseu decidiram ir ao Jordão para fazer ali


um local de reuniões. Então foram até lá e cortaram toras de madeira.
Enquanto um dos discípulos cortava a árvore, o ferro do machado deslocou-
se da madeira e caiu na água. Eliseu interveio, fazendo com que o ferro do
martelo flutuasse.

• 2 Reis 6:24-33 e 7:1-20. Ben Hadade cercou a capital do reino do norte até
haver fome. Eliseu profetiza a ação de Deus para livrar o povo.

• 2 Reis 8: 11-13. Eliseu profetiza que Hazel será o novo rei da Síria e que
provocará muitos males a Israel.

• 2 Reis 13: 14-19. Eliseu profetiza 3 vitórias de Jeoás, rei de Israel, sobre a
Síria.

• 2 Reis 13: 20,21. A morte de Eliseu e a ressurreição de um homem que caiu


morto sobre os ossos de Eliseu.

VI A queda de Samaria (reino do Norte)


Tendo em mente que a Bíblia relata os acontecimentos do reino do Norte e
do Sul de forma simultânea, é importante o foco nos estudos. Judá, reino do Sul,
era governado por Acaz, no décimo segundo ano deste reinado, Oséias, filho de Elá,
assumiu como o rei do Norte, em Samaria, ficando no poder durante nove anos. A
Bíblia conta que Oséias era um desses casos de “líder reprovado” pelo Senhor,
porém, suas atitudes o diferenciavam de seus antecessores.
Salmaneser, rei da Assíria, foi atacar Oséias, que fora seu vassalo e lhe
pagara tributo. Mas o rei da Assíria descobriu que Oséias era um traidor, pois havia
mandado emissários a Sô, rei do Egito, e já não pagava mais o tributo como
costumava fazer a cada ano. Por isso, Salmaneser mandou lançá-lo na prisão,
invadiu todo o país, levou seu exército a marchar contra Samaria, a sitiando por
três anos. No nono ano do reinado de Oséias, o rei assírio conquistou Samaria e
deportou os israelitas para Hala, Gozã (rio Habor) e para as cidades dos medos.

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Tudo isso aconteceu porque os israelitas haviam pecado contra o Senhor, que
os tirara do poder do faraó, rei do Egito. Eles prestaram culto aos outros deuses e
seguiram os costumes das nações que o Senhor havia expulsado de diante deles,
bem como os costumes que os reis de Israel haviam introduzido, praticaram o mal
secretamente contra Deus, desde torres de sentinela até cidades fortificadas, eles
mesmos construíram altares idólatras em todas as suas cidades:

“O Senhor advertiu Israel e Judá por meio de seus profetas e


videntes: "Desviem-se de seus maus caminhos. Obedeçam às
minhas ordenanças e decretos, segundo toda a Lei que ordenei a
seus antepassados que obedecessem e que lhes entreguei pelos
meus servos, os profetas". Mas não ouviram e foram obstinados
como seus antepassados, que não confiaram no Senhor seu Deus.
Rejeitaram seus decretos; o corpo da aliança que tinham feito com
seus antepassados e suas advertências. Seguiram ídolos inúteis,
tornando-se eles mesmos inúteis. Imitaram as nações ao redor,
embora o Senhor tivesse ordenado: "Não as imitem". Abandonaram
todos os mandamentos do Senhor, e fizeram dois ídolos de metal na
forma de bezerros e um poste sagrado. Inclinaram-se diante de
todos os exércitos celestes e prestaram culto a Baal. Queimaram
seus filhos e filhas em sacrifício. Praticaram adivinhação e feitiçaria,
e venderam-se para fazer o que o Senhor reprova, provocando-o à
ira. Então, o Senhor indignou-se muito contra Israel e os expulsou
da sua presença. Só a tribo de Judá escapou, mas nem ela obedeceu
aos mandamentos do Senhor seu Deus. Seguiram os costumes que
Israel introduziu. Por isso, o Senhor rejeitou todo o povo de Israel;
ele o afligiu e o entregou nas mãos de saqueadores, até expulsá-lo
da sua presença.” (2 Rs 17:13-20)

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VII A queda de Jerusalém (reino do Sul)


Após a queda de Samaria, o reino do Sul ainda sobreviveu por cem anos,
Josias e Ezequias fizeram reformas significativas até Judá conhecer Manassés, o
rei que decretou os últimos dias de Judá/Jerusalém por sua perversidade:

“Então, no nono ano do reinado de Zedequias, no décimo dia do


décimo mês, Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra
Jerusalém com todo o seu exército, acampou em frente à cidade e
construiu rampas de ataque ao redor dela. A cidade foi mantida
sob cerco até o décimo primeiro ano do reinado de Zedequias. No
nono dia do quarto mês, a fome na cidade havia se tornado tão
severa que não havia nada para o povo comer. Então o muro da
cidade foi rompido, e todos os soldados fugiram à noite pela porta
entre os dois muros próximos ao jardim do rei, embora os
babilônios estivessem em torno da cidade. Fugiram na direção da
Arabá, mas o exército babilônio perseguiu o rei e o alcançou nas
planícies de Jericó. Todos os seus soldados o abandonaram e ele
foi capturado. Foi levado até o rei babilônio, em Ribla, onde
pronunciaram a sentença contra ele. Executaram os filhos de
Zedequias na sua frente; depois furaram seus olhos, prenderam-
no com algemas de bronze e o levaram para a Babilônia. No sétimo
dia do quinto mês do décimo nono ano do reinado de
Nabucodonosor, Nebuzaradã, comandante da guarda imperial e
conselheiro do rei da Babilônia, foi a Jerusalém. Incendiou o
templo do Senhor, o palácio real, todas as casas de Jerusalém e
todos os edifícios importantes. Todo o exército babilônio, que
acompanhava Nebuzaradã, derrubou os muros de Jerusalém.

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E ele levou para o exílio o povo que sobrou na cidade, os que


passaram para o lado do rei da Babilônia e o restante da
população. Mas alguns dos mais pobres do país o comandante
deixou para trás, para trabalharem nas vinhas e nos campos.”
(2 Rs 25:1-12)

VIII Elias e Eliseu - João Batista e Jesus


Mateus traça paralelos entre as vidas de Elias e Eliseu e as de João Batista
e Jesus. João é apresentado como o cumprimento da profecia de Malaquias (4:5),
de que Elias voltaria. Se Elias foi sucedido por alguém com porção dobrada, João
Batista teve o sucessor perfeito, o próprio Cristo. É provável que os judeus do tempo
de Jesus esperassem que Elias ressurgisse literal e fisicamente, e sobre isso, as
escrituras nos informam que, quando João Batista foi questionado se era Elias, a
resposta foi "Não sou" (João 1: 21). Aparentemente, João Batista parece não estar
consciente de que cumpria o papel do Elias esperado, pelo menos não no início de
seu ministério, por outro lado, Jesus descreveu João como o “Elias que estava para
vir" (Mateus 11:14; 17:12). Acompanhe abaixo, quatro argumentos de Dillard e
Longman II, no livro Introdução ao Antigo Testamento, que apontam a relação entre
Elias-Eliseu/João-Jesus:

• Elias era conhecido pelo modo peculiar de se vestir. Quando Acazias enviou
mensageiros para consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom, os emissários se
depararam no caminho com uma figura misteriosa que os mandou de volta
ao rei. Quando o rei lhes perguntou: "Qual era a aparência do homem que
vos veio ao encontro?", os mensageiros responderam: "Era homem vestido
de pelos, com os lombos cingidos de um cinto de couro" (2 Rs 1: 7,8). A partir
dessa mínima descrição, o rei soube imediatamente que seus enviados
haviam se encontrado com Elias. Quando João Batista começou sua
pregação, Mateus o apresentou dizendo: "Usava João vestes de pelos de
camelo e um cinto de couro" (Mt 3:4). Essa singular vestimenta evocava a
memória de Elias.

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• Ao longo de suas vidas, Elias e João Batista enfrentaram um poder político


hostil, em particular, o principal antagonista de ambos foi uma mulher que
atentou contra suas vidas. Para Elias, fora Jezabel (1 Rs 19: 2,10,14), para
João foi Herodias (Mt 14: 3-12).

• Elias e João Batista ungiram seus sucessores no rio Jordão. Eliseu


acompanhou Elias ao Jordão e pediu-lhe que uma porção dobrada do
espírito de Elias também repousasse sobre si (2 Rs 2: 9-14). Quando João
batizou Jesus no Jordão, ele viu os céus se abrindo e o Espírito de Deus
descendo sobre o Filho de Deus (Mt 3: 13,17). Elias foi o precursor de Eliseu,
da mesma forma que João Batista foi de Jesus. Lucas também trabalha esse
tema: quando o nascimento de João Batista foi predito a seu pai, Zacarias,
o anjo Gabriel disse que João viria "adiante do Senhor, no espírito e poder
de Elias" e que João cumpriria a missão atribuída a Elias por Malaquias:
"Para converter o coração dos pais aos filhos" (Lucas 1: 17; Malaquias 4: 6).

• Talvez não exista nenhuma outra parte do Antigo Testamento tão farta em
milagres quanto à narrativa de Eliseu, após conceder a porção dobrada de
espírito pedida pelo profeta, Deus demonstrou sua aprovação a Eliseu e
testificou a mensagem por ele proclamada através dos milagres que
acompanharam o seu ministério. Do mesmo modo se deu a multiplicação de
milagres quando Deus testificou o ministério do seu próprio Filho (Hebreus
2: 3,4). Supunha-se que o aparecimento de Elias inauguraria aquele grande
e terrível dia do Senhor, o dia em que Deus julgaria o mal, enquanto
preservaria o seu povo. Durante sua prisão, João Batista ouviu que Jesus
estava ensinando e pregando na Galileia.

“Por causa disso, João enviou mensageiros para que


perguntassem a Jesus: És tu aquele que estava para vir ou
havemos de esperar outro? E Jesus respondeu-lhes: Ide e
anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos
vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os
surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres
está sendo pregado o evangelho." (Mt 11: 4,5)

Interessante notar que este último tópico remete ao paralelo entre Eliseu e
Jesus, pois em grande parte, é a lista dos milagres de Eliseu:

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Ele restabeleceu visão a um cego (2 Rs 6); curou a lepra (2 Rs 5); trouxe um morto
à vida (2 Rs 4; 8:4; 13:21) e trouxe boas-novas ao destituído (2 Rs 1-7; 7: 1-2; 8: 6).
Tal lista de milagres de Eliseu se confunde com a do Servo prometido do Senhor
(Is 61: 1-3). Jesus, com efeito, estava dizendo a João, "O sucessor de Elias chegou.
Eu sou aquele que você está procurando".

IX Elias e Moisés
Na esteira dos paralelos, devemos notar a associação da figura de Moisés
(lei) e Elias (profetas), com a própria ideia de que o messias viria para restaurar
Israel. Elias e Moisés aparecem juntos no texto bíblico, nas referências ao Dia do
Senhor (Ml 4:4,5), no Monte da Transfiguração (Mt 17:3-4; Mc 9:4-5; Lc 9:30-33)
e em Apocalipse (Ap 11:3-6), e isso acontece pois eles são testemunhas de Jesus.

X Conclusão
De um lado a idolatria traz um desfecho inevitável: Canaã, que mana leite e
mel, deixa de ser experimentada. A promessa ainda tem valor, mas o povo perde
seu direito de usufruto. A idolatria os afasta da promessa e dos direitos que vêm
com a terra. Foi assim com o reino do Norte, com o reino do Sul, e assim é conosco.
Por outro lado, vemos o escritor do Livro de Reis demonstrar a fidelidade de Deus,
relatando as promessas feitas a Davi e o registro ininterrupto da dinastia davídica,
enfatizando a história de Judá (reino do Sul) por mais de três séculos.
O Livro de Reis se revela uma batalha, a mesma que ainda hoje travamos no
coração: a idolatria luta contra a graça de Deus – vencedora em si e garantida pelo
Senhor. Por isso esse livro termina com esperança, revelando que nem o exílio ou a
dominação estrangeira, nem as circunstâncias mais terríveis são suficientes para
impedir que a graça alcance os descendentes do Israel de Deus, nem que Suas
promessas se cumpram, pois agindo Deus, nada impedirá Seu amor e providência.

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Notas:
Todas as notas de 1 a 4 foram extraídas da obra Introdução ao Antigo Testamento de
Dillard e Longman

Bibliografia sugerida:
MONEY, Netta Kemp. Geografia Histórica do Mundo Bíblico (Tradução: Etuvino Adiers-
São Paulo Editora Vida. 2002)

PRICE, Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ Randall Price e H Wayne
House. Tradução: Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas Nelson. 2020)

KLEIN, William W. HUBBARD, JR Robert L. BLOMBERG, Craig L. Introdução à


Interpretação Bíblica (Tradução: Maurício Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro:
Thomas Nelson, 2017)

Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery; tradução: Lucy Yamakami. Hans
Udo Fuchs, Robinson Malkomes. - São Paulo: Edições Vida Nova,2001)

DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento (Raymond B. Dillard, Tremper


Longman III. Tradução: Sueli da Silva Saraiva.- São Paulo: Vida Nova, 2006)

BROWN, Raymond. Entendendo o Antigo Testamento: esboço, mensagem e aplicação de


cada livro (Shedd Publicações)

CARSON, G. K. BEALE. E D. A. Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo


Testamento

BUSH, Frederic W. HUBBARD, David A. LASOR, Willians. Introdução ao Antigo


Testamento.

DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. (São Paulo: JUERP, s/d)

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Formação em Teologia

DOUGLAS, J. O Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo: Edições Vida Nova, 1986)

Insight on the Scriptures, 2 vols. (EUA: Watch Tower, 1988)

RAWLINSON, George. The Historical Evidence of the Truth of the Scripture Records
(1892)

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