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O futuro já começou

A primeira letra que começa essa frase só foi impressa graças à Física do
século 20. A máquina de escrever só foi aposentada na década de 1990 porque a
Física abriu caminho para o computador. O microondas na sua cozinha, a bomba
atômica, o celular, a sonda Huygens, - que pousou em Titã, uma das luas de
Saturno, em 2005 - a simples radiografia de um dente cariado e até mesmo o seu
parto, ou foram fortemente influenciados, ou são um resultado direto dos avanços da
ciência que revolucionou a maneira de se viver.

O futuro já começou. A física moderna comemora seu centenário com razões


suficientes para se orgulhar de ter mudado a face do planeta. É como se a forma de
ver o mundo se dividisse em duas eras: AE (antes de Einstein) e DE (depois de
Einstein).

Mas, 2005: Ano Internacional da Física é dedicado ao reconhecimento


de Einstein, que se firmou como a personalidade de maior destaque no
desenvolvimento e popularização dos conceitos científicos modernos. Em
1905, o "ano milagroso", o mundo foi surpreendido com cinco descobertas
inacreditáveis. O gênio irreverente, marcado pela imagem caricata de cabelos
desgrenhados e língua para fora, responsável por elas, tinha à época apenas
26 anos.

E hoje, 100 anos depois, é com base em suas descobertas, como o


efeito fotoelétrico (que faz a porta do shopping ou do elevador se abrir e
fechar quando alguém se aproxima), que a UnB ganhará um de seus mais
modernos laboratórios (ver matéria abaixo). Sem contar, as pesquisas nas
áreas de nanotecnologia, plasma, atômico-molecular, relatividade, matéria
condensada e muitas outras.

Por isso, a Física no Brasil, e não só na UnB, tem, sim, o que


comemorar. Apesar das dificuldades, como a quantidade de recursos para
investimento, a política do governo federal nem sempre adequada às
necessidades e a baixa oferta de bolsas para pesquisadores, o presidente da
Sociedade Brasileira de Física (SBF), Adalberto Fazzi, acredita que nem tudo
está perdido.

Assim como a Física, outras áreas do conhecimento enfrentam iguais


atropelos, que, não raras vezes, desestimulam o cientista. E o resultado disso
é que o Brasil perde parte desse importante contingente acadêmico. "Este
ano, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
destinará quase R$ 50 milhões a mais para a Física", argumenta. "É ainda
muito pouco para a demanda".

Adalberto Fazzi, 54 anos, é uma das personalidades da atualidade


científica brasileira que têm no currículo o nome da UnB na formação. Ele
será um dos articulares da pauta de debates sobre a ciência no país. A SBF,
cuja sede é em São Paulo, coordena a programação de 2005, a ser realizada
em várias capitais brasileiras. (veja detalhes no site
www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/amf/ ).

"No Brasil, hoje, 200 doutores em Física são titulados a cada ano e
precisam ser absorvidos pelo mercado de trabalho, seja acadêmico ou não",
contabiliza Fazzi. Pelas estimativas da SBF, existem no país cerca de três mil
cientistas, sem contar os mais de 750 bacharéis e 600 licenciados que saem
das universidades anualmente. "Ainda não dá", garante, antevendo um déficit
profissional em salas de aula do ensino médio da ordem de 30 mil
professores nos próximos cinco ou seis anos.

Na sua opinião, é fundamental traçar um paralelo entre a academia e o


conhecimento científico do cidadão comum, que tem o direito de
compreender, por exemplo, que tipo de benefício para sua vida poderá lhe
trazer a nanotecnologia. Durante o Ano Internacional da Física, essa será
uma das prioridades a serem debatidas.

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