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XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.

IMPACTOS AMBIENTAIS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL: ANÁLISE DA
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM
UMA OBRA EM PETROLINA - PE
Isabela Xavier Cavalcanti
isabellaxavier_@hotmail.com
SAMARA ROCHA DOS ANJOS NASCIMENTO
samararocha.an@gmail.com
VIVIANNI MARQUES LEITE DOS SANTOS
vivianni.santos@univasf.edu.br

Partindo do pressuposto que a construção civil é um dos principais


agentes de transformação do meio ambiente, e que possui uma parcela
significativa no PIB brasileiro. A relevância da análise da gestão de
resíduos encontra-se frente aos inúmeros resíduos gerados por esse
setor e os extensos impactos negativos ao meio ambiente. Nesse
contexto, o presente estudo possui como objetivo analisar a gestão de
resíduos de construção civil, em uma obra na cidade de Petrolina - PE,
com base na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e
Resolução do CONAMA nº 307/2002, possibilitando auxílio e
direcionamento para as empresas atuarem com responsabilidade e
sustentabilidade ambiental. Para o alcance deste objetivo os autores
realizaram estudo bibliográfico, coleta de dados, visitas no local de
estudo e realização da análise SWOT. Sendo assim, observou-se que a
gestão de resíduos é ainda falha, porém possui oportunidades de
melhoria, como por exemplo, através da aplicação de ferramentas da
filosofia Lean e ações voltadas para coleta seletivo dentro do canteiro
de obras.

Palavras-chave: resíduos sólidos, lean, construção civil, gestão de


resíduos
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.

1. Introdução

O ser humano vem, ao longo dos anos, realizando transformações nas paisagens naturais e
impactando negativamente o meio ambiente. Além disso, promove uma geração significativa
de resíduos sólidos provenientes da produção de bens. É inegável a intrínseca relação entre a
humanidade e a construção civil, pois está presente desde os primórdios, sendo considerada,
portanto, uma atividade inerente a sobrevivência do homem.
Nesse contexto, a construção civil se caracteriza por ser o setor de produção que transforma o
meio ambiente em meio construído, em que propicia o desenvolvimento de diversas atividades.
Ainda, essa cadeia produtiva é considerada uma das maiores da economia brasileira (CALDAS
et al., 2000). Dessa forma, uma vez que há investimentos neste setor, a economia do país
encontra-se favorável e crescente, quando não há investimentos, a situação econômica é crítica.
Tal relação e importância, se dá pelo fato de que este ramo de atuação possui uma participação
significativa do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
De acordo com ACMA (2018) a construção civil é responsável por 6,2% do PIB do país, o
mercado corresponde a 34% do total da indústria brasileira. Somado a isto, este segmento
também é marcado pela geração de empregos, fomentando assim a economia. (OLIVEIRA,
2012).
Nesse contexto, diante da relevância da construção civil, vale salientar que, além da utilização
em grande quantidade dos recursos naturais, o setor é considerado um dos maiores geradores
de resíduos, causando gravíssimos impactos ambientais e sanitários negativos. Assim, a
conservação do ambiente e a sustentabilidade passam a ser uma questão estratégica da
organização, fazendo-se necessária uma avaliação de como balancear uma atividade produtiva
e lucrativa com o desenvolvimento sustentável e de conservação ao meio ambiente (CITADIN,
2017).
Frente a este cenário, e considerando um país abundante de recursos naturais e com pouca
fiscalização, segundo Leite (2003), é muito comum, além da extensa gama de resíduos sólidos
gerados, o desperdício de materiais dentro da Construção Civil. Esses desperdícios ocorrem
pela falta de acompanhamento dos processos produtivos dentro de obras.
Para minimizar os impactos resultantes do acompanhamento inadequado durante a execução de
obras, metodologias como o 5S e o lean construction podem ser utilizadas, tais como afirmam
os estudos de Almeida e Picchi (2017). Entretanto, ainda que ocorra a geração de resíduos na
presença de tais ações, o mesmo deve ser tratado de forma correta e sempre haver ações voltadas
para eliminação de resíduos ou minimização em todo o processo de construção.
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Sendo assim, tendo em vista que a ausência ou a má gestão dos resíduos sólidos advindos de
canteiros de obras, bem como uma disposição final inadequada, expõe impactos negativos ao
meio ambiente, o presente trabalho possui como objetivo analisar a gestão de resíduos de
construção civil, em uma obra na cidade de Petrolina - PE, com base na Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) e Resolução do CONAMA nº 307/2002, possibilitando alternativas
para implantação de sistema de gerenciamento e referência para aplicação em outras empresas
que estão buscando atuar com responsabilidade e sustentabilidade ambiental.
A relevância da proposta de estudo se encontra em vista da elevada geração de resíduos sólidos
provenientes da construção civil e seus impactos causados pela má gestão ou inexistência de
destinação final adequada desses resíduos. Dessa forma, analisar e desenvolver boas práticas
de gestão em canteiros de obras contribui para a sociedade e para a empresa com um
desenvolvimento sustentável e responsável do ambiente.

2.Referencial Teórico

2.1 Gestão de Resíduos Sólidos

Os resíduos sólidos, de acordo com a definição da Política Nacional de Resíduos Sólidos


(BRASIL,2010), é qualquer:
Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em
sociedade, a cuja destinação final se procede nos estados sólido ou semissólido, bem
como, gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável
o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso
soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível.

Dessa forma, considera-se resíduos sólidos os produtos resultantes de atividades de origem


doméstica, ações públicas, industriais, serviços de saúde, comercial e agrícola. Além disso, o
Plano Nacional de Resíduos Sólidos atribui a classificação de resíduos oriundos de prestação
de serviço, saneamento básico e da construção civil. Sendo, portanto, este último definido a
partir da realização de construção, reforma e demolição, além dos produtos originados da
preparação e terraplanagem dos terrenos de obras civis (BRASIL, 2010).
Diante do exposto, uma vez que o crescimento da população atrelado à urbanização acelerada
aumenta de forma significativa o uso de recursos naturais, o planejamento correto e eficiente
para o descarte dos resíduos apresenta-se como um grande desafio. Devido a falha ou
inexistência desse tipo de planejamento, grande parte dos resíduos gerados são descartados no
meio ambiente, acarretando em impactos negativos em âmbitos ambientais, sociais e
econômicos (MAZZER; CAVALCANTI, 2004). Nesse contexto, o gerenciamento dos resíduos
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vem ocupando um espaço importante nas organizações, tendo em vista que, principalmente as
pressões da sociedade exige delas uma postura de responsabilidade social. Nesse sentido, para
empresas que almejam uma posição de destaque no mercado, faz-se necessária a inclusão da
gestão e práticas que envolvam a redução dos impactos dos resíduos ao meio ambiente em
âmbitos estratégicos.
A gestão de resíduos sólidos, portanto, é definida de acordo com VIANA (2018) apud US EPA
(1989) como “o uso de práticas administrativas de resíduos, com manejo seguro e efetivo, fluxo
de resíduos sólidos urbanos, com o mínimo de impactos sobre a saúde pública e o ambiente”.
Nesse contexto, de acordo com o estudo desenvolvido em âmbitos da construção civil, o
objetivo de uma boa gestão de resíduos, além do cumprimento da legislação, abrange a
qualidade e produtividade, segurança no trabalho e redução de custos de produção e de
destinação de resíduos. Sendo assim, para que haja resultado de uma gestão eficaz através da
redução de resíduos e menor utilização dos recursos naturais, torna-se necessária atenção desde
o treinamento do colaborador até a fase de coleta e destinação final dos resíduos
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DRYWALL, 2012)

2.2 Política nacional de resíduos sólidos (PNRS)

A Lei 12,305/10 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), com princípios,
objetivos e instrumentos importantes para lidar com os principais impactos ambientais, sociais
e econômicos resultantes do incorreto ou inadequado manuseio dos resíduos sólidos. De acordo
com o Ministério do Meio Ambiente (2011), tal política instituída em 2010, veio com intuito
de:

Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática


de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o
aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor
econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).

Apesar da existência de normas que tratam dessa temática, especialmente Resoluções do


Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, ainda faltava no País um instrumento legal
que estabelecesse diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos sólidos, com o objetivo de orientar
os Estados e os Municípios no correto gerenciamento dos resíduos (MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE, 2011). O Quadro 1 contém a classificação dos resíduos gerados pela construção
civil, segundo a Resolução do CONOMA nº 307.

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Quadro 1 – Classificação dos Resíduos de acordo com a Resolução CONAMA n° 307/2002.

Classe A São os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:


a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras
obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edifi cações: componentes
cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e
concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em
concreto (blocos, tubos, meio-fi os etc.) produzidas nos canteiros de obras;

Classe B São os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,
papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

Classe C São os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou


aplicações economicamente viáveis que permitam a sua
reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;

Classe D São resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas,
solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde
oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas,
instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais
que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.
Fonte: Resolução n° 307 do CONAMA (2002)

Nesse contexto, a PNRS requer dos serviços públicos e privados transparência na gestão de
seus resíduos, exigindo também a existência da preocupação em conhecer a destinação final e
correta dos seus resíduos. Além disso, requisita a divisão das responsabilidades entre os
diversos participantes de uma produção, forçando o envolvimento das partes na preocupação
ambiental e, consequentemente, na busca de soluções (ECYCLE, 2016).

2.3. Redução, reutilização e reciclagem

Com a grande quantidade de resíduos geradas na execução das atividades da construção civil,
as políticas públicas, voltadas ao gerenciamento desses resíduos, procuram estimular uma nova
postura gerencial e uma implantação de condutas que buscam a diminuição da quantidade de
resíduos produzidos (SENAI, SEBRAE, GTZ, 2007).
As novas formas de gerir os resíduos precisam ter o foco no correto manuseio, buscando a
redução, a reutilização, a reciclagem e, só por último, o descarte dos resíduos (KARPINSKI et
al., 2009). Ainda segundo os autores:

A principal ação efetiva em termos legais, para a superação dos problemas ambientais,
foi a criação da Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

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de 2002, que definiu responsabilidades e deveres, justificando um novo sistema de


gestão, o qual obriga os geradores a reduzir, reutilizar e reciclar, tratar e dispor os
resíduos de construção e demolição (RCD).

Essa prática, conhecida como o princípio dos 3R’s, é classificada de acordo com o Ministério
do Meio Ambiente (2012) da seguinte forma:

● Reduzir: significa diminuir o consumo de produtos e dar preferência aqueles que


oferecem um menor potencial para geração de resíduos e possuem maior durabilidade.
● Reutilizar: é utilizar novamente algo que já foi usado em algum processo.
● Reciclar: refere-se a transformação dos materiais para produção de matéria-prima que,
posteriormente, será utilizada em outros produtos. Esse processo pode ocorrer por meios
industriais ou artesanais.

Além destes, existe um quarto R (Repensar) - ao qual deve ser praticado antes dos 3R's
originais, com o intuito de refletir sobre as formas de consumos e os respectivos impactos.

3. Metodologia

O objeto de pesquisa é uma construtora de pequeno porte localizada em Petrolina-PE. A


construtora de prédios residências atua na área da construção civil a aproximadamente 25 anos
e produziu nesses anos, cerca de 8 prédios na cidade.
O prédio do estudo de caso conta, atualmente, com 23 funcionários. Entretanto, em época de
pique de suas atividades, chega a contratar aproximadamente 49 funcionários.
Os trabalhos do local de estudo iniciaram-se em outubro de 2014 e tem como previsão de
término dezembro de 2019.
A caracterização do estudo foi realizada quanto à natureza da pesquisa, objetivos, abordagem e
procedimentos, conforme subitens 3.1 a 3.4 a seguir.

3.1 Quanto a natureza da pesquisa

O trabalho desenvolvido possui, quanto a natureza, uma pesquisa do tipo aplicada, visto que
busca a geração de conhecimento para resolução de problemas específicos. Envolve, a partir de
uma aplicação prática e de interesses locais, a busca da verdade (PRODANOV E FREITAS,
2013)

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3.2 Quanto aos objetivos da pesquisa

O presente trabalho tem como objetivo uma pesquisa do tipo exploratória e descritiva. Sendo
exploratória à medida que objetiva a familiaridade com o problema, visando torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses acerca do assunto (GIL, 2007), e descritiva, ao passo que
pretende relatar os fatos e fenômenos de uma determinada realidade (TRIVIÑOS, 1989).

3.3 Quanto à abordagem

Com relação a abordagem, o presente estudo é qualitativo, uma vez que abrange a obtenção de
dados descritivos, sendo obtidos do contato direta dos responsáveis pelo estudo com o local
analisado e enfatizando mais o processo do que o produto (BOGDAN E BIKLEN, 2003).

3.4 Quanto aos procedimentos

Quanto aos procedimentos, a pesquisa se configura como bibliográfica, buscando referências


teóricas publicadas com o objetivo de coletar informações ou conhecimentos prévios do assunto
exposto, e estudo de caso, visando compreender a fundo o como e o porquê de uma determinada
situação (FONSECA, 2002).

3.5 Estratégia

Finalmente, para o desenvolvimento deste estudo foi elaborada a estratégia que se reflete na
realização das seguintes etapas:

a) Estudo bibliográfico;
b) Coleta de dados com profissionais da área da construção civil e de meio ambiente;
c) Visita na obra analisada;
d) Aplicação da ferramenta SWOT (strengths, opportunities, weaknesses, threats), que,
segundo Chiavenato e Sapiro (2003), permite rápida visualização das ameaças (threats)
e oportunidades (opportunities) que são externas, bem como as forças (strengths) e
fraquezas (weaknesses), que são fatores internos;
e) Descrição da gestão de resíduos até então praticada na empresa;
f) Proposição de ações para implantação de sistema de gerenciamento.

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4. Resultados e discussão

De acordo com os dados obtidos, a empresa analisada não faz uso de coleta seletiva em seu
canteiro, possuindo apenas alguns depósitos de lixo, em formato pequeno, dentro do canteiro
(Figura 1) e uma caçamba (Figura 2), localizada fora do canteiro, com capacidade de 5 metros
cúbicos.
A empresa reutiliza, na própria obra, uma pequena parte dos resíduos, tais como:

● Pedaços de cano de PVC e eletrodutos: utilizados no serviço de encanação como


emenda;
● Sobra de argamassa: depositada como reaterro no canteiro;
● Pedaços de madeira: usados na execução de pequenas fôrmas, escoras ou algum
travamento;
● Sobra de piso cerâmico: utilizada para corte de rodapé.

No caso da sobra de piso cerâmico, os excessos são doados para reaproveitamento externo,
dado que a construtora executa obras em paralelo.

Figura 1 - Layout do canteiro

Fonte: autores (2019)

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Figura 2 - Local de depósito dos resíduos

Fonte: autores (2019)

Para adequada análise foi elaborado fluxograma para destinação dos resíduos sólidos dentro da
empresa (Figura 3). Como pode-se observar, a maior parte dos resíduos segue para
armazenamento temporário em caçamba de entulho, os quais são recolhidos por uma empresa
terceirizada, responsável por realizar a destinação final dos resíduos gerados pela construtora.
Nesse caso, a empresa terceirizada se compromete a realizar a destinação conforme separação
e composição do entulho. No caso de materiais como plásticos e papéis, verificou-se que o
material é enviado para cooperativas que realizam coleta seletiva e que os demais são enviados
para compactação.
A retirada da caçamba (Figura 2) ocorre, sistematicamente, duas vezes por semana. No entanto,
em épocas onde os serviços em execução geram maior volume de resíduos, essa retirada chega
a ocorrer até seis vezes na semana. Verificou-se que o total coletado até fevereiro de 2019 (fase
final da obra), com base na retirada de duzentas e trinta e sete (237) caçambas de entulhos, foi
de, aproximadamente, mil e duzentos metros cúbicos de resíduos (~1.185 m-3). Adicionalmente,
ressalta-se que estes resíduos encontram-se, em sua maioria, na classe A, segundo a
classificação de resíduos da CONAMA.

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Figura 3 - Fluxo de destinação dos resíduos

Fonte: autores (2019)

Com intuito de analisar a atual situação da obra, os autores desse estudo realizaram, junto a
administração da obra, a análise do ambiente interno e externo, com relação as suas forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças (SWOT). Na figura 4, pode-se observar todos os pontos
indicados na análise.
Dado o encaminhamento dos resíduos para empresas terceirizadas que se comprometem a
adequada destinação dos resíduos, verifica-se que a empresa está atenta a ameaça relativa a
possibilidade de fiscalização (Figura 4). Entretanto, a análise SWOT também permite
identificar que há conhecimento sobre processos de reutilização e reciclagem e também
recursos financeiros para implantação de sistema de gestão ambiental, logo há oportunidade
para ganhos estratégicos oriundos da implantação de sistema de gestão ambiental.

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Figura 4 - Análise de SWOT

Fonte: autores (2019)

Diante do exposto, propõe-se aos responsáveis pelo canteiro de obras a abordagem de


construção enxuta e sustentabilidade, pois segundo Almeida e Picchi (2017) esses conceitos
fundamentam métodos e ferramentas para minimizar os problemas no setor da construção civil
em relação, inclusive, ao meio ambiente. Sendo assim, elaborou-se a figura 5, que permite
visualização prática acerca da possibilidade de reutilização dos resíduos, de acordo com cada
fase do processo de construção. A ideia é tornar sua aplicação imediata, diante dos benefícios
estratégicos para a empresa.
Como exemplo de reutilização dos resíduos pela construtora, pode-se destacar o uso de
cerâmicas não selecionadas para etapa de acabamento em uma obra como material para a
construção de escritórios para novos canteiros de obras.

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Figura 5 - Análise de reutilização de resíduos

Fonte: adaptado de VALOTTO (2007)

Dessa forma, uma ferramenta que possui potencial para um desenvolvimento sustentável e
promoção da saúde e segurança dos colaboradores é o 5S. A ferramenta tem por objetivo a
melhoria contínua e, segundo Kalkmann (2002), corresponde aos 5 sensos de: utilização,
ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina.

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A proposta então é, de acordo com os 5 sensos, manter no ambiente de trabalho apenas o


necessário e em uso, sempre promovendo ações de reutilização dos resíduos, obedecendo ao
fluxograma descrito na figura 6.

Figura 6 - Fluxograma do senso de utilização

Fonte: Adaptado de CIS Eletronica Ind e Com Ltda (2016)

Além disso, manter o ambiente de trabalho sempre limpo, organizado e padronizado. Dessa
forma, realizando, também, a coleta seletiva dos resíduos sólidos. Somado a isso, a ferramenta
auxilia também no desenvolvimento da autorresponsabilidade do colaborador, incentivando
ações que fomentem a segurança e qualidade de vida. Sendo assim, os autores apresentaram as
etapas para uma implantação da ferramenta 5S que alcance o objetivo proposto, de forma eficaz
e eficiente (Figura 7).

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Figura 7 - Etapas para implantação do 5S

Fonte: Autores (2019)

Ademais, embora o processo de implantação do 5S (Figura 7) necessite de um plano de ação


previamente analisado e apoiado pelos tomadores de decisão e a participação/conscientização
de todos os setores da organização, pode-se verificar que a visão proporcionada pelo estudo
permitiu que os gestores tomassem conhecimento das falhas ou incipiência na gestão de
resíduos e, principalmente, das alternativas estratégicas e ganhos a serem obtidos a partir da sua
implementação.

5. Considerações finais

Partindo do pressuposto da realização de uma gestão de resíduos eficiente para a redução na


geração de resíduos sólidos e desenvolvimento de ações sustentáveis, o canteiro de obras
analisado na cidade de Petrolina - PE, possui, ainda, uma gestão falha. Principalmente, tendo-
se em vista que maior geração de resíduos sólidos é pertencente a classe A, de modo que
possuem possibilidade de reutilização ou reciclagem. Para o caso em estudo com possibilidade
de reutilização interna.
A partir das análises do ambiente interno e externo à empresa, foi observado que, embora haja
uma terceirização do recolhimento de resíduos, visando uma destinação adequada, há
alternativas de melhoria sob a perspectiva de redução de desperdícios e utilização eficiente dos
recursos que possibilitem não só a diminuição de resíduos sólidos, mas também redução de
custos de materiais e com a empresa terceirizada, aumento da produtividade de mão de obra e,
consequentemente, melhoria na saúde e segurança dos stakeholders.

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Isto posto, foram identificadas oportunidades estratégicas para a empresa, com grande
possibilidade de redução de custos. Além disso, espera-se que a experiência de implementação
de ações para gestão de resíduos promova a inovação organizacional na Construtora, permitindo
estudos de diagnóstico e monitoramento nas demais construções sob sua responsabilidade.

REFERÊNCIAS

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do crescimento. Disponível em: <http://www.acma.eng.br/blog/construcao-civil-e-importante-para-o-pib-
brasileiro/ >. Acesso em 24 de abril de 2019.

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Construído. Porto Alegre, 2018.

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