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CAMBONO

O Inicio

Geralmente, nas maiorias dos casos, o cambono inicia a


sua vida espiritual em um terreiro, visitando, indo tomar
um passe, ou porque algum conhecido vai no terreiro e
este começa a ir também.
Ele será assistido por alguma entidade e esta entidade o
informará que tem mediunidade e que a sua missão
nesta vida é a de trabalhar (desenvolver) a sua
espiritualidade. No começo, pânico total. É a coisa mais
comum para as pessoas iniciantes na religião sentir
pânico quando a mesma fica sabendo que tem o dom da
mediunidade e que está nesta encarnação com a missão
de trabalhar a espiritualidade e ajudar tantas pessoas
que necessitam. É comum ao certo, que quando a
pessoa vai em um terreiro de Umbanda a primeira vez
vai sem saber o que ali acontecerá. A maioria já pensa
nas matanças de animais e no sangue jorrando, já pensa
nas imagens de exu tão comum com chifres e outros
adereços, ou seja, só pensam em bobagens do folclore
brasileiro. “Eu me lembro a primeira vez que minha irmã
de sangue, atualmente uma exemplar mãe de santo e
yabasse, me disse que ela estava freqüentando um
terreiro e o preto-velho havia dito a ela que era para eu ir
no terreiro que ele queria conversar comigo, na hora eu
estava dirigindo e estávamos parado em um semáfaro e
por conhecidendia tinha um senhor negro no portão de
uma empresa trabalhando de segurança com seus novos
cabelos brancos e eu perguntei a minha irmã se podia
ser aquele “preto-velho” ou tinha que ser o outro mesmo,
ela riu, eu também ri e continuamos.” Isso é para ilustrar
que a dúvida, a falta de crença e a ingenuidade da nossa
formação pode nos levar a quaisquer caminhos que
sejam. O pior acontece quando se chega no terreiro pela
primeira vez e não se entende e tenta-se adivinhar o que
esta acontecendo naquele local. Na maioria das vezes
tem uma cortina que separa a assistência do conga e é
aí que se começa a questionar o que se passa lá dentro.
Ah, é agora que contam os meus problemas para a
pessoa que irá me atender para ela poder me enganar
depois ? Ah eles fazem isso para poder trocar as
informações que os outros “guias” já passaram ? Ou
seja, novamente só bobagem. Não estou dizendo que
acontece com um ou com outro. Isso acontece com
todos. Todos que estão pela primeira vez onde se
transcende o real para o sagrado, o profano para o
divino, a insegurança pela caridade, isso acontece com
todos que pisam em um terreiro de Umbanda pela
primeira vez, aconteceu comigo, aconteceu com meus
familiares, meus amigos, meus desconhecidos, ou seja,
até cair a ficha o do porque você esta aqui, passa muita
coisa na sua cabeça. Será que a polícia vai chegar e irá
todo mundo preso ? Não isso nunca irá acontecer nesta
bendita terra chamada Brasil, nosso direito de expressar
a nossa religião e nossa fé está declarada na
Constituição Brasileira. Em nossa Carta Magna, no Titulo
II, artigo 5º, parágrafo VI, diz: “É inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”, ou
seja, a polícia está aqui para nos defender e não nos
agredir.
O inicio na religião normalmente é um romper de
barreiras. Na maioria dos casos o neófito vem de outra
religião e em sua vida social é muito complicado se
declarar Umbandista. Quando a pessoa se declara
Umbandista em seu ambiente familiar ou em seu
ambiente profissional ela logo será tachada de
macumbeira, de feiticeira, de pai ou mãe de santo e tudo
isso da forma mais pejorativa que significa. Não saberá e
nem estará atento ao verdadeiro significado da palavra
ou da religião Umbandística. É natural então que o
iniciado se sinta sozinho e perdido no meio de tanta
informação nova e que parece ser de certa forma
proibida. A nossa cultura e a nossa tradição tende a ser
muito preconceituosa no que diz respeito ao tratamento
com os espíritos, tudo isso parece ser muito oculto e
proibido.
Fico me lembrando das perguntas que fiz, das duvidas e
dos medos a qual passei em minha iniciação. Tudo era
muito estranho, sempre fui um convencido ateu,
humanista por princípio, e de repente estava deparado
com o sagrado da forma mais ampla possível. Era difícil
entender o processo da incorporação ou até mesmo
conversar com o ser incorporado. Era difícil distinguir
médium de entidade, entidades de entidades, santos de
Orixás, lembro uma vez que perguntei ao meu cunhado,
hoje meu pai de santo, porque Oxossi havia morrido todo
fleichado amarrado em uma árvore (me referindo a
estátua de São Sebastião santo católico sincretizado). E
ele me explicou sobre o sincretismo religioso, que aquela
imagem se referia a um santo católico o qual a religião
afro-descendente adotou como ilustração para o seu
Orixá Oxossi. Esta passagem é para ilustrar um pouco o
inicio da vida como cambono ou cambone. A pessoa vai
pedir ajuda, ou por curiosidade, chega em um terreiro de
Umbanda. O guia incorporado, o que já é estranho, diz
que ela tem mediunidade (o que é isso ? será que ele diz
isso a todas as pessoas ? ), e esta é convidada a
começar a desenvolver os seus guias, e após um tempo
de desenvolvimento esta é chamada para entrar na gira,
entrar no terreiro, vestir branco, servir o santo ou
simplesmente virar um cambono. E ae ? O que fazer ? O
que é ser um cambono ?
O começo na vida de um cambono deve ser levado como
um marco em sua história na religião. O que vestir no
primeiro dia ? Como será dançar no ritual ? Com quem
irei ficar nos trabalhos ? Como devo me proceder com os
pais ou mães de santo ? Como devo me proceder com
os guias chefes da casa ? São tantas as dúvidas que
giram na cabeça de um cambono que as vezes o
cambono se esquece qual é o verdadeiro papel dele na
religião, o real porque dele estar ali. Tentarei explicar do
inicio o como fazer, o porque fazer e quando se deve
fazer. As experiências aqui descritas foram me
ensinadas pelas entidades a quem servi e se referem as
regras dos templos que eu trabalhei. Elas podem variar
de casa para casa e não tem a intensão de ser a
verdade em hipótese alguma e sim apenas uma
referencia para o neófito no cumprimento de sua missão.
Como se inicia na religião como cambono ?

Provavelmente o neófito é atendido por uma entidade e


esta entidade o chamou para a vida do sacerdócio de
cambono.
Sim, ser cambono é um sacerdócio. A partir do momento
que você se torna um cambono você esta se dispondo a
ouvir os problemas dos outros, ajudar os necessitados e
acima de tudo, guardar segredo dos problemas alheios.
Entre o atendimento prestado pela entidade até o
chamado para o iniciado se tornar um cambono, pode
decorrer dias, meses ou anos e pode neste tempo o
mesmo ser chamado para já desenvolver as suas
entidades ou não variando isso de terreiro para terreiro.
Em alguns casos a pessoa iniciada tem o privilégio de no
primeiro dia que pisar em um terreiro ser chamada para
trabalhar como cambono, isso é raro, mas acontece.
Lembrando que o cambono é geralmente o primeiro
estágio que um médium passa dentro de um terreiro.
Ou em alguns casos o cambono pode ser parente do
pai/mãe de santo e este é teoricamente obrigado a
trabalhar como cambono no terreiro.
O cambono é o primeiro estagio que passa o neófito
dentro de um terreiro de Umbanda com
responsabilidades dentro da casa, com as entidades e os
consulentes. A roupa que o cambono deve utilizar nos
trabalhos varia de casa para casa mas o básico é a
roupa branca. Em alguns terreiros é necessário fazer
uma roupa que a própria casa fornece ao novo cambono.
Em outros terreiros a roupa deve ser branca e
observando a cor do guia do trabalho. A melhor coisa a
fazer é tentar se informar com a direção da casa qual a
melhor roupa para utilizar nos trabalhos.
Um outro ponto que o cambono se preocupa é com
quem ele irá ficar dentro da gira. Geralmente o cambono
ajudará as próprias entidades que o trouxeram para
dentro da corrente. Em alguns casos para o cambono
será determinado auxiliar outras entidades que este
então não conhecia, tudo depende dos guias chefes da
casa mas qualquer que seja a opção o cambono deve
respeitar e aceitar a sua vida como um cambono.
Ser cambono é um estágio na sua vida espiritual. Quase
todos os grandes médiuns primeiro aprenderam a ser
cambonos para depois serem médiuns. Sempre ouvi que
um bom cambono será um bom médium. Acho que isso
resume a vida de cambono. Quanto melhor você for,
mais você se dedicar, mais você estiver atento, mais
você servir, mais preparado você se tornará um médium
de passe, um médium de atendimento. Salvo em alguns
casos que o neófito tem que passar por outros estágios
para se tornar um médium de passe. A hora da dança,
abertura da gira de algumas casas, também é um grande
tormento na cabeça do novo cambono, mas tudo isso é
detalhe que se aprende com a duplicação e com a
repetição do movimento. É muito comum não entender o
que esta acontecendo na gira, no padê, na defumação,
nos pontos, no bate-cabeça e outros detalhes que o
cambono executa mas sem saber o porque disso ou
daquilo. A melhor opção é relaxar e dar tempo ao tempo.
Tentar identificar quem na corrente tem o conhecimento
que necessita e ir atrás, buscar o conhecimento. Um
bom começo é conhecer o Estatuto Social que rege o
terreiro ao qual você irá ou já estará fazendo parte. Este
estatuto trás as normas e as diretrizes que a casa segue
sob as orientações dos guias chefes da casa. É muito
importante conhecer tais normas e ficar por dentro da
conduta certa que se deve ter em cada terreiro. Uma
coisa importante que o neófito tem que entender é que
por mais que o terreiro seja uma casa filantrópica sem
fins lucrativos o mesmo precisa de recursos financeiros
para se manter. Alugueis, despesas com manutenção,
papelaria, documentos, contador e demais despesas tem
que ser pagas como qualquer empresa que busca lucro
mesmo o terreiro não buscando o lucro. As pessoas
confundem lucro com subsistência. A entidade
filantrópica a qual você fará ou já faz parte depende de
dinheiro para continuar a funcionar e ajudar cada vez
mais e normalmente o novo cambono deverá assumir a
sua contribuição mensal com o terreiro a qual estiver
fazendo parte.
Um outro ponto importante é o novo cambono tentar
entender qual a hierarquia material e espiritual que o
terreiro esta sujeito. Buscar conhecer os Pais e Mães de
Santo (Babalorixá e Yalorixá), os Pais-pequenos e
Mãespequenas (Babaquequere e Yaquequere), os Ogãn
do
Terreiro, os dirigentes espirituais do terreiro, os dirigentes
materiais do terreiro, a respeito das contribuições que o
cambono deverá assumir, não só em espécie (dinheiro)
mas também em material de limpeza, velas,
defumadores, bebidas, comidas, a limpeza do terreiro
(geralmente cada casa tem uma escala de limpeza a ser
cumprida) e outros detalhes que o neófito geralmente
não esta atento quando entra para uma gira de um
terreiro. É importante saber que a comunidade do terreiro
está lá para se ajudar em tudo o que diz respeito a
manutenção do templo. Entender o seguinte: -
Geralmente o terreiro é formado por um local que será
dedicado ao culto, este terreiro é dirigido por um Pai ou
Mãe de Santo o qual tem como missão ajudar as
pessoas necessitadas, você como um cambono
necessita de um espaço para estar recebendo os seus
guias, desenvolver a sua espiritualidade e cumprir a sua
missão. Então entenda que o terreiro também será seu
local sagrado de orações e devoções e por isso você
deve zelar por ele e também colaborar com a
manutenção da casa. Passando os detalhes
“administrativos” vamos começar a explanar um pouco
sobre cada passo na gira de umbanda e como o
cambono deve se comportar.
Pontos de energia da casa.
Todos os terreiros de umbanda (pelo menos os que se
prezam) tem os seus pontos de energia. Cada terreiro é
formado geralmente por ordem de uma ou mais
entidades e estas entidades dizem aos fundadores do
terreiro quais serão os pontos de energia necessários
para o bom funcionamento da casa, os chamados
assentamentos.

A cangira ou tronqueira ou casinha do Exu

A cangira ou tronqueira ou casinha do Exu é onde está


firmado o Exu da casa, geralmente neste local preparado
com alguns objetos pertencentes e significantes
enterrados no chão. Geralmente tem ali colocado as
imagens dos guardiães da esquerda (Exus, Pombagiras,
Exus-Mirim) que foram cruzadas e solicitadas pelas
entidades. Neste local é oferendado o Padê e o Marafo
comida e bebida ritualística do Exu afim de saciar a sua
fome e sua sede. Com um Exu na cangira bem tratado
não entra forças negativas para dentro do terreiro o que
poderia atrapalhar os trabalhos espirituais da casa. O
Padê geralmente é oferendado nos inícios dos trabalhos
espirituais. O novo cambono deve saber saudar o Exu da
casa de acordo com as normas da casa, a saudação
mais praticada nos terreiros é da seguinte forma: Chega-
se a cangira, cruza-se os dedos das mãos com as
palmas viradas para baixo e diz Larôie Exu, Laroie Exu
Mojuba, o que significa ------- seguido de suas presses
para um bom trabalho e proteção.

A porteira do Terreiro.

Entende-se por Porteira do Terreiro a linha delimitadora


da área de trabalhos espirituais e a área da assistência
(consulentes). Normalmente esta área esta separada por
uma cortina, cerca, mureta ou outros objetos
delimitadores. Estas Porteiras representam a separação
do mundo profano para o mundo sagrado. Nelas também
são enterrados, objetos e aparatos significativos dos
guias chefes da casa para que a energia do local seja
resguarda e mantida. Nesta Porteira o novo cambono
deve pedir licença todas as vezes que por ela passar,
pedindo a Oxalá que de licença para poder entrar em
contato com o sagrado.
O Conga (Altar)

É no Conga (Altar) onde é colocado todas as imagens


referentes aos Orixás e aos Guias espirituais do Terreiro.
Nele também é colocado o Assentamento dos Orixás
Patronos do terreiro. Em baixo do Conga normalmente
se enterra objetos e aparatos referente aos Orixás que
protegem e guardam a casa. Neste ponto estará a força
maior do Terreiro, a força de todos os guias que ali
trabalham e são cultuados é este ponto, não o mais
importante porque todos são importantes, mas o ponto
principal de um terreiro de umbanda. É ali que o Guia
Chefe vem firmar o seu ponto é ali que ele deposita o
seu Axé para que todos os necessitados. É neste local
que o cambono deve ter o maior respeito, fazer suas
orações e agradecimentos, fazer a sua vigília, acender
suas velas votivas, enfim é no Conga que se deve ter a
maior devoção. O cumprimento no Conga deve ser feito
da seguinte maneira Deita-se no chão com a cabeça
voltada para o Conga e as mãos no chão acima da
cabeça direcionadas também ao Conga, agradece a
permissão de estar ali naquele momento, pede proteção
aos Orixás e pede que os problemas sejam resolvidos e
que o trabalho seja bem proveitoso. Geralmente este
ritual é precedido de uma volta em torno do próprio corpo
em pé em frente ao Conga.

A Curimba ou Atabaques (Tambores)

A Curimba ou Atabaques (que significa conjunto de


tambores), é o ponto responsável em fazer a energia se
movimentar em um terreiro. É na Curimba que será
definido qual energia trazer para determinando Guia. É
papel do Ogãn (tocador do Tambor,maestro dos Orixás)
tocar o ponto certo para cada entidade que será saudada
ou trabalhada na casa. É ele quem faz os espíritos
(entidades) baixarem no terreiro e incorporarem em seus
guias. É na Curimba que será equilibrada todas as
energias para que o trabalho transcorra da melhor
maneira possível. É na Curimba que se movimenta a
energia, se movimenta o Axé. Normalemte a Curimba é
formada por no mínimo três tambores, um grande (Rum),
um médio (Rumpi) e um menor (Lê) que juntos, cada um
em sua toada, emana toda a energia que os guias e
orixás necessitam para um ótimo trabalho. A forma mais
tradicional de se cumprimentar a Curimba é muito
parecida com a de cumprimentar o Conga. Chega-se em
frente a Curimba, da uma volta em torno do próprio corpo
e deita-se no chão com os braços abertos para a frente,
virado para a Curinba, ali se pede aos guias que logo
estarão incorporados as suas bênçãos e proteção e que
o trabalho transcorra muito bem. Aqui um ponto
importante, não se deve tocar de forma alguma o couro
do tambor com as mãos, o couro foi tratado
especialmente para o tambor pelo Ogãn poder trabalhar
a sua energia, caso queira cumprimentar os tambores
com as mãos toque na parte de madeira do mesmo, mas
nunca no couro.
Todos estes pontos de energia, são comuns na maioria
das casas de Umbandas, algumas têm apenas o Conga
outras tem muito mais do que estes pontos, mas estes
são os principais e todos eles estão interligados para que
a energia da casa seja a melhor possível. Alguns pontos
estão para limpar possíveis energias negativas e outros
estão disponíveis para nos trazer energia e para renovar
o nosso Axé.
Antes da Gira.

Uma das minhas maiores dúvidas no inicio da minha vida


como neófito era o que eu deveria e poderia fazer antes
do trabalho e o que eu não deveria fazer. Coisas como,
não brigar, beber demais, comer demais e outros
exageros devem ser evitados. Cada um tem o seu
motivo. Brigar é um pouco óbvio. Você vai trabalhar a
sua espiritualidade, vai trabalhar a caridade, irá mudar a
energia de seu corpo para poder receber uma entidade,
então deve procurar não se chatear, ficar tranqüilo,
relaxar a sua mente. Beber demais é um assunto muito
complicado. O guia que irá vir trabalhar com você
precisará de você inteiro, com a cabeça concentrada no
trabalho, então deve-se evitar a bebida antes do
trabalho. Comer demais, vai te deixar empanturrado,
cansado, sonolento, o guia precisará demais da sua
energia corporia você precisará estar bem. Não é
aconselhável, após comer dois pratos de uma suculenta
feijoada ir trabalhar com o seu guia. Entenda que estas
coisas são exageros humanos e não que isto irá te
causar algum dano espiritual durante o trabalho. Alguns
dizem para não fazer sexo antes das giras eu não vejo
nenhum problema, desde que não atrase a gira.
E com o tempo cada um vai desenvolvendo o seu próprio
ritual antes da gira. Vou colocar dois exemplos que eu
vivo geralmente. Como o nosso trabalho é no sábado eu
tento reservar o sábado só para as atividades espirituais.
Acordo tranqüilo, me alimento tranqüilamente, vou atrás
de algumas ervas para banho (tento sempre buscar
alguma erva condizente com o guia que irei trabalhar na
gira), na hora de preparar o banho, eu lavo as ervas,
massero as ervas no pilão dos pretos-velhos, nisso já
vou fazendo minhas orações, nesse tempo limpo a
cangira e faço o Pade para o Exu que me guia e me
protege, neste tempo o banho deu uma esfriada com as
ervas, faço o banho, me arrumo e vou para o terreiro.
Ritual simples, porém que adotei a minha realidade. O
importante é entrar no terreiro com a cabeça
concentrada, com a sua energia boa, trazendo boas
vibrações. Importante buscar chegar no terreiro sempre
30 minutos antes da gira começar, para começar
tranqüilo e sem correrias.

Chegando no terreiro.

No início parece que tem muita coisa para decorar e


aprender, parece que a gente não vai conseguir dar
conta, mas com o tempo a gente vai pegando o jeito da
coisa. Chegando no terreiro deve primeiramente
cumprimentar a cangira ou casinha do Exu, ir saúdá-lo é
uma demonstração da devoção que se tem com o Orixá,
existe um Itâ (lenda do Orixá) que diz que Exu vivia junto
com Oxalá e todos os outros Orixás vinham até Oxalá
em busca de uma palavra de sabedoria e conforto só
que eles atrapalhavam Oxalá que estava muito ocupado
em fazer os homens. Então Oxalá chamou Exu que
morava junto com Oxalá e com ele aprendeu também a
fazer o homem e ordenou que Exu fosse morar na
encruzilhada que ia para sua casa e que a partir daquele
dia todos que fossem falar com Oxalá falassem com Exu
antes e todos que levasse oferendas a Oxalá deveriam
também levar para Exu, assim Exu se tornou o
mensageiro dos Orixás com Oxalá. Por esse itâ você já
sente a importância de sempre estar saudando o Exu na
Cangira e cuidar sempre muito bem do Exu. Após saudar
a Cangira deve se preparar para entrar no Conga. Se
vestir se for o caso, colocar suas roupas ritualísticas, as
guias e outros, cumprimentar as pessoas, dar uma
passadinha no banheiro, ir fumar o último cigarro e
demais atividades que não deverão transcorrer com o
trabalho em andamento. Deve-se observar que uma vez
dentro do Conga deve evitar ficar saindo de lá até o
encerramento do trabalho. Entrando no Conga pede-se
licença para a porteira e diriga-se ao Conga (Altar) para
cumprimenta-lo como acima descrito ou de acordo com
as normas de sua casa. Após o cumprimento ao Conga
(Altar), deve-se cumprimentar a Curinba também
conforme descrito acima ou o custume da casa. Neste
ínterim deve se cumprimentar o Pai e Mão de Santo
pedindo a sua benção e permissão para o trabalho.
Neste ponto me perguntam muito como se deve
cumprimentar o Pai ou Mãe de Santo, isso depende
muito da casa e das raízes da casa, os mais comuns é o
cumprimento pedindo a benção “Sua benção Meu Pai
ou Sua benção Minha Mãe” ou o cumprimento em língua
Yorubá “Okolofê Babá ou Okolofé Yá” que significa Sua
benção meu pai e sua benção minha mãe
respectivamente. O Pai ou a Mãe de Santo responde
Deus Abençoe ou Okolofê Olorum. Em algumas casas
onde o Ogãn (maestro dos Orixás) foi preparado no
santo (fez os assentamentos e camarinhas para Alebé)
costuma-se a pedir a sua benção também pois o mesmo
está em um grau na hierarquia no mesmo patamar que o
Pai e a Mãe de Santo em referência aos cambonos e
demais filhos de santo. Após os cumprimentos deve-se
começar a preparar o material para a gira, este material
varia muito de casa para casa e de guia para guia
perceba que no início fica complicado saber o que o guia
irá utilizar durante o trabalho e até mesmo saber qual
guia você irá cambonar, mas algumas coisas são
básicas, por exemplo, locais para se depositar o lixo,
locais para se jogar as cinzas dos cachimbos e charutos,
algumas casas utilizam um “cuspidor” que seria um
recipiente preparado para receber o “cuspe” do médium
uma vez que ele pode não estar acostumado a fumar
então será necessário ele eliminar a saliva produzida
pelo charuto ou cachimbo, suporte para as velas, veja
bem que aqui não está relacionado os materiais que o
guia utiliza durante o trabalho como as velas, os charutos
e cachimbos e as bebidas, pois isso é de
responsabilidade de cada médium levar e ofertar aos
seus guias, papel e caneta para fazer as anotações que
serão passadas aos consulentes, água para o médium
se necessário e outros materiais importantes para o bom
andamento dos trabalhos.
Providenciado isso o certo é aguardar os inícios dos
trabalhos espirituais em silencio fazendo a sua prece
com concentração e fé.
O início dos trabalhos.

Durante o inicio dos trabalhos o ideal é relaxar. Os


pontos serão novidades, a dança será novidade, o ritual
será novidade. Então o certo é observar as pessoas que
tem mais tempo de terreiro e duplicar as suas atitudes,
preste atenção que duplicar é diferente de imitar.
Normalmente os terreiros de umbanda iniciam a sua gira
com o Pade, alguns chamam de despachar o Exu, eu
prefiro chamar de saudação aos Exus. O Pade é
necessário para que o Exu, guardião da casa, seja bem
tratado e louvado. O Pade normalmente é uma mistura
de farinha de trigo com cebolas e óleo de dendê e é
servido ao Exu com a sua bebida preferida, cachaça.
Com esta louvação e tratamento realizado com fé e
devoção você terá certeza que o trabalho transcorrerá
sem interferências de espíritos obsessores atrapalhando
o trabalho, ou seja, uma casa que realiza o ritual do
Pade no inicio de seus trabalhos dificilmente terá
descarregos de cargas negativas durante os trabalhos
espirituais. Após o Pade os terreiros seguem os
trabalhos saudando os Orixás patronas da casa,
normalmente após o Pade ou melhor o Exu ser saudado
o próximo Orixá a ser saudade é sempre Ogum seguidos
pelos outros. Pois cabe a Ogum a abertura dos
caminhos. Em várias casas se canta um ponto para cada
Orixá e outras casas fazem uma abertura mais simples
com pontos mais genéricos. Após os Orixás serem
saudados cantasse os pontos para os guias que viram
trabalhar na gira, se a gira é de caboclos de Oxossi,
cantase pontos de caboclos, se for de pretos-velhos
canta-se pontos de pretos-velhos, e assim por diante.
Após os pontos é comum ter uma oração realizada pelas
lideranças das casas, alguns rezasse o Pai Nosso e a
Ave Maria, é muito comum se cantar o Hino da
Umbanda. Em todos esses pontos, se dança de uma
forma diferente, se comporta de uma forma diferente, no
começo como eu já disse a coisa parece complicada,
mas depois com o tempo a coisa fica muito mais simples.
Depois disso vem o ritual da defumação que consiste em
preparar todo aquele ambiente para a chegada das
entidades e também purificar o ambiente e as pessoas
que estão no local. No momento da defumação o
cambono deve se comportar como as tradições da casa
e respeitar os locais onde serão defumados, congo,
curimba e porteiras, sempre prestando atenção e
concentrado no ritual. Após a defumação tem o ritual de
pemba onde se assopra pemba para o alto afim de
mostrar para as entidades que estão ali presentes que
aquela é uma casa que trabalha sob a bandeira branca
de Pai Oxalá, o cambono também deve prestar a
atenção e sua concentração também é muito importante
neste momento.
Na chegada dos guias-chefes dos terreiros é muito
comum que os filhos de santo se ajoelhem no chão e
cantam juntos acompanhando nas palmas aguardando a
incorporação no médium da entidade chefe. Quando esta
entidade chega em terra o correto é bater com a cabeça
no chão em sinal de respeito e devoção neste momento
o cambono do guia chefe cumprimenta-o e começa a
serví-lo com seus aparatos. O ritual de bate cabeça é um
dos ritos mais importantes que existe na Umbanda.
Consiste exatamente em se deitar no chão esticado com
a cabeça voltada para os pés da entidade e com as
mãos tocar levemente os pés da entidade e pedir a sua
benção. É lógico que quando chega a entidade no
terreiro é praticamente impossível todos os filhos de
santo realizarem este ritual então simbolicamente se
abaixa e bate com a cabeça no chão no próprio lugar em
sinal de respeito e devoção.
Com o transcorrer dos trabalhos o guia chefe chama os
outros guias para trabalhar e é aí que começa realmente
o trabalho dos cambonos. O cambono tem que estar
atento ao guia que irá auxiliar, então com a chegada
deste guia em terra o cambono deve com calma ir ao seu
auxilio, primeiramente cumprimentá-lo realizando o ritual
do batecabeça e em seguida servi-lo com seu charuto ou
cachimbo, sua bebida, seus adereços, cocares, chapéus
e outros paramentos que o guia utiliza. O guia em terra
irá benzer e limpar o seu cambono preparando-o para os
trabalhos que virão a frente. Neste momento o cambono
aproveita também para conversar com o guia. É muito
comum o novo cambono achar que terá todo o tempo do
mundo para poder conversar com a entidade, mas é
completamente o oposto, antes quando o cambono
estava na assistência ele tinha um tempo só dele com o
guia e agora não tem mais. O cambono está lá para
trabalhar e auxiliar o guia e começa a ficar escasso o
tempo para conversar com o guia. Mas preste a atenção:
O fato de você estar dentro da corrente faz com que
você seja muito mais ajudado pelas entidades, tanto
pelas entidades que você auxiliará bem como pelas suas
entidades que estarão com um maior contato com você.
Então aproveite todo o tempo do mundo que você estiver
para conversar, tirar as suas duvidas que com certeza
são muitas e prestar muito a atenção no trabalho, no
que o guia utiliza, nas mirongas que ele irá passar para
cada consulente, lembre-se você é o porta-voz do guia,
muitos consulentes não entendem o que os guias falam
então o cambono fica como uma espécie de tradutor da
entidade para a pessoa e viceversa, anote tudo que tiver
que anotar, se tiver dúvidas pergunte ao guia, tente
aprender as correspondências das cores das velas com
cada Orixá, bem como o dia que é cultuado o Orixá. E o
fator mais importante na hora das consultas: Tudo que
você ouvir dentro do terreiro, que os consulentes dizem
aos guias é segredo absoluto. Tudo o que você ouve
dentro do conga fica lá, não saí de lá. Os problemas que
você ouvir esqueça assim que você sair do terreiro para
que isso não venha atrapalhar a sua vida, para que você
não fique pensando nos problemas dos outros, não se
envolva com os problemas dos outros fora do terreiro,
deixe que as entidades trabalhem isso, elas sabem o que
fazem e não a gente. Por mais dó que tenhamos não
estamos preparados para absorver todos os problemas
que ouvimos e presenciamos. Então nunca se esqueça,
sigilo absoluto. No inicio, o neófito, fica bastante perdido
em relação aos trabalhos, nunca sabe exatamente o que
cada entidade utiliza, então é comum errar e dar um
charuto para o preto-velho que fuma cachimbo por
exemplo, e esta entidade irá orientar o novato para pegar
o cachimbo corretamente. Lembre-se as entidades estão
lá para trabalharem juntas com você e você junto a elas,
elas irão ensinar a você todos os macetes e de como
elas preferem que sejam servidas, como o tempo você já
estará aguardando o caboclo chegar com o seu charuto
preferido já aceso, irá esperar o preto-velho com o seu
cachimbo já preparado e assim por diante. No meu ponto
de vista um dos maiores trabalhos que o cambono irá
desenvolver é justamente na hora do atendimento dos
consulentes, parafraseando o grande Pai Antonio do
Toco, preto-velho que tenho a honra de servir como
“cavalo”, o cambono esta lá para dar amor material as
pessoas que estão indo lá buscar o conforto espiritual. É
comum uma pessoa que se senta a primeira vez em
frente a um preto-velho estar lá toda angustiada,
preocupada e as vezes até com medo do que irá ser dito
ou irá acontecer lá, então o cambono deve ajudar a esta
pessoa a se acalmar, a conseguir se expressar e explicar
que aquela entidade está lá para ajudá-la a resolver
aqueles problemas, afinal você como um novo cambono
irá se lembrar que a pouco tempo atrás era você quem
estava sentado lá a primeira vez todo encolhidinho e
acabrunhado com aquela situação. A sua experiência vai
ajudar a outras pessoas passarem pela mesma situação
que você já passou. O mais engraçado em tudo isso é
todos querem aprender e trabalhar no terreiro mas
ninguém quer deixar de ser cuidado. Vou explicar: já vi
varias vezes isso acontecer, a pessoa não vê a hora de
colocar branco e entrar para a corrente, quando isso
acontece ela diz ah como era gostoso poder sentar aqui
e conversar com a entidade aqueles 5 ou 10 minutos, aí
quando a pessoa vira um médium passe ela diz ah que
saudades eu tenho do tempo que eu era cambono, ou
seja, a gente sempre vai querer ir pra frente e sempre
teremos saudades do que deixamos pra trás. O melhor a
fazer é viver cada momento de uma vez. Se esta como
cambono tente aproveitar o melhor possível este
momento, tente aprender com as entidades, tente
escutar e gravar a maior quantidade de informação
possível, faça anotações, tenha um caderno em casa
para anotar sempre as coisas novas que aprendeu, o
que a entidade receitou para determinado problema, as
ervas de defumação utilizadas para limpar o ambiente,
para trazer dinheiro, para resolver os problemas, as
cores das velas e os respectivos santos que as utilizam,
as preses, as magias, as mirongas e as historias. Ah.. as
historias, é bom lembrar disso. Quando acontece a
seguinte situação de que um consulente retorna com o
guia semanas depois do seu atendimento e diz ter
recebido aquela graça impossível de ter sido alcançada,
aquela que até mesmo você quando ouviu ficou com
pena do consulente e a entidade disse que ia ajudar, e
realmente ajudou, eu sei que a vontade de contar isso
para todos fora do terreiro é muito grande, vontade até
mesmo por inexperiência, tentar mostrar para os outros
como aquela entidade é boa, é forte e resolveu o
problema daquele consulente, as vezes a gente
pensando estar fazendo uma “grande propaganda”
daquele guia nós podemos estar prejudicando seus
trabalhos, então sempre se lembre o que acontece
dentro do terreiro fica dentro do terreiro, ninguém mais
alem de você, o consulente e o guia tem que saber, isso
é muito importante. Duas situações que ocorrem muito
entre os guias e o cambono. A primeira é quando o
cambono nada fala, não se comunica com o consulente,
e o guia tem que toda hora ficar “chamando a atenção”
do cambono. É obvio que quem tem que prestar o
atendimento é o guia, mas a interação guia-
cambonoconsulente é importante para que o consulente
realmente entenda tudo o que o guia está falando,
explicando como se faz um banho, como se acende as
velas, como se saúda um Orixá e outros detalhes do
nosso culto. A segunda é quando o cambono fala
demais, atravessando o que o guia fala, pulando na
frente do guia e atrapalhando o atendimento, isso
também acontece e tem que ser bem analisado, o guia
geralmente respeita o cambono nesta situação e não irá
adverter o cambono em frente ao consulente, mas o
importante é o cambono prestar a atenção e falar o que
for necessário sem ficar muito calado e sem cortar a
frente do guia. Ou seja, o bom senso prevalece nestas
situações.
Outra questão que o cambono deve observar bem em
relação ao atendimento é a tempo disponível para
atendimento de cada consulente. Em algumas casas se
trabalha com horários para atendimento e um número de
fichas limitado por médium atendente, então em alguns
casos é necessária a intervenção do cambono para que
o guia atende a todos com prestesa porem sem se
alongar muito no tempo, o certo é pedir licença a
entidade e informar que a mesma está com o tempo
limitado e é necessário atender um pouco mais rápido.
Esta situação deve ser bem observada, pois cansei de
ver guia correndo e depois ficar sem fazer nada
esperando os outros guias dar os atendimentos, então
antes de apressar o guia deve-se observar se as coisas
estão caminhando bem ou não e ver como esta o
andamento dos trabalhos. Uma outra coisa que com o
tempo o cambono começa a aprender e melhora a
sintonia do trabalho, é saber o que o guia irá precisar,
por exemplo, se o consulente chega e pede para o guia
cruzar (benzer) uma imagem o cambono, através da
experiência, sabe que o guia irá utilizar pemba e água de
cheiro (geralmente alfazema) então o ele não tem que
ficar esperando o guia pedir para pegar o material ele
pode ser mais rápido e já pegar o que o guia irá utilizar
(como dito acima isso é apenas um exemplo).

O desenvolvimento

Normalmente os terreiros tem regras diferentes para o


desenvolvimento mediúnico do cambono. Em algumas
casas se fazem giras específicas para esse fim em
outras faz o desenvolvimento logo após o atendimento
dos consulentes. Independente disso tentarei explicar um
pouco sobre o desenvolvimento mediúnico do cambono.
É natural o cambono ter alguns receios antes de
começar realmente a deixar a sua entidade trabalhar. O
medo de incorporar, de não saber o que é exatamente
isso pode atrapalhar na hora do desenvolvimento, outro
aspecto que atrapalha bastante o desenvolvimento é a
vergonha que o neófito tem de ficar parado com várias
pessoas olhando para ele e ficar precionando para que o
“santo abaixe”. As reações das pessoas na incorporação
varia de pessoa para pessoa. Cada um tem um jeito de
lidar com o processo da incorporação, eu conheço
pessoas que o
queixo começa a bater, outras que tremem como se
estivessem com frio, outras começam a balançar o corpo
de um lado para outro, outras giram, ou seja, não existe
um modelo específico. O correto nesta hora é confiar no
guia que esta te desenvolvendo, seguir os passos que
ele está te orientando, relaxar e deixar que sua mente se
conecte com o astral. Um grande mito que tem em torno
do processo incorporatório é o de possessão. Uma
entidade na tem a necessidade de possuir ninguém, ela
irá se comunicar com o médium através do
subconsciente e do inconsciente, ela estará como se
assoprando as vontades na cabeça do médium. Você irá
começar sentir a vontade fazer determinadas coisas
(dançar, bater as mãos no peito, soltar gritos de guerra,
girar, tremer o corpo, falar, escrever, desenhar) e irá
achar que tudo isso é da sua cabeça, pois as vontades
realmente pareceram suas. O médium esta aí justamente
para isso, para ser o mediador desta entidade, e não ser
possuído como muitos pensam. É natural a comparação
com outros desenvolvidos, mas é
insignificante. Você nunca deve se comparar ou
comparar outra pessoa com você no quesito
desenvolvimento mediúnico, cada um tem o seu tempo,
cada um tem a sua dedicação. Quanto a você achar que
é você ou o guia que esta fazendo as coisas, dançando
por exemplo, deixe que as entidades que estão te
desenvolvendo analise isso. Se você estiver travando a
sua entidade ou se você tiver atravessando a sua
entidade o guia que esta trabalhando com você irá te
pedir para ter mais concentração, para deixar o guia
trabalhar com você e para te ter mais firmeza. Outra
questão que começa a acontecer é a dúvida do que dar
a sua entidade se ela irá querer beber, fumar, o que
beber e o que fumar, se vai poder riscar o ponto ou não,
como riscar o ponto, essas coisas se faz com a
necessidade do próprio guia, quando você melhorar a
sintonia com o guia que estiver incorporando não restará
dúvidas em sua cabeça, ele realmente vai pedir sua
cerveja, seu cigarro de palha, pedir a pemba para fazer
seu ponto riscado, ele irá te conduzir neste processo da
melhor maneira possível, é só você confiar em você,
confiar em seus guias, confiar em seu desenvolvimento.
O guia do médium que estiver realizando o seu
desenvolvimento irá orientar a sua entidade nas atitudes
a serem tomadas dentro do terreiro. No mundo espiritual
tem uma hierarquia de trabalho como no mundo carnal e
a entidade que estiver começando a incorporar em você
também seguirá as regras espirituais estabelecida. Na
hora que você começar a deixar a entidade a riscar o
ponto por exemplo, você irá notar que mais que a sua
mente idealize uma imagem um desenho, ele irá ser
riscado como a entidade desejar e não a sua cabeça.
Você irá começar a sentir um conflito (no bom sentido)
em sua cabeça e começará a perceber que tem uma
outra força, uma outra energia trabalhando com seu
corpo. É natural todo esse espanto no começo, você
vibrar por sentir a energia de sua entidade no seu corpo,
acabar o desenvolvimento e dizer: - Nossa como foi com
o meu desenvolvimento hoje. Quando mais você
incorporar, mais você terá vontade de incorporar e
trabalhar estas energias. É engraçado como os estágios
da incorporação são muito parecidos de pessoas para
pessoas. Quando você começa a desenvolver você acha
que é tudo a sua cabeça, tudo a sua mente, logo depois
você começa a pegar a firmeza do guia e começa a ficar
confiante, após a confiança ser obtida você começa a
achar que seu desenvolvimento ficou mais “fraco”, você
não está mais sentindo a sua entidade como estava
antes, mas isso é normal não é que você não está mais
sentido a sua entidade, é que você está começando a
acostumar com sua energia, a sua interação com a
entidade esta começando a ficar muito boa, agora é
começar a curtir o processo do desenvolvimento,
começar a ouvir o nome da entidade, começar a se
comunicar com ela, deixar ela conversar com as
pessoas, é hora de realmente deixar as entidades
trabalharem. Com o tempo passando é natural a
anciedade começar a fazer parte da sua vida como
cambono em desenvolvimento. Você começa a achar
que todo trabalho será o trabalho que a entidade chefe
irá lhe “promover” a médium passista. Mas relaxe,
porque este ponto é muito flutuante ou seja, muda muito
de médium para médium, de entidade para entidade,
você certamente vai ver pessoas que começaram na gira
após você se tornar médium passista antes que você,
então não deixe a vaidade humana torturar a sua cabeça
com bobeiras, entenda que cada um tem um processo
de aprendizado, cada um tem uma estrada diferente para
passar, cada um tem o seu tempo o seu ritmo, faça as
coisas necessárias sem pensar em cobrar os outros,
faça a sua parte com o seu guia e deixe que dos outros
cuidem eles.
Com o tempo as entidades que trabalham com você irão
começar também a pedir as suas guias de contas
(miçangas), isso é um sinal da ligação entre a entidade e
o neófito e a proteção da entidade.
As outras partes dos trabalhos, encerramento dos
trabalhos, presses finais cada casa tem o seu método, o
seu desfecho e geralmente não foge muito do que já
falamos lá trás. Normalmente se bate cabeça para as
entidades que estão subindo e se agradece a
oportunidade de trabalho que tivemos no dia de hoje.
Agradecemos as bênçãos alcançadas e a proteção
divina. Desejamos que todos retornem bem a seus lares
e que o plano espiritual continue protegendo a todos que
estiveram presentes e todos os nossos irmãos de fé.
Off-Topic

Quando o neófito se torna um cambono muitas coisas


começam a alterar em sua vida e vou colocar umas
referencias em algumas partes para que você não se
torne um chato de galocha e comece a ser taxado pelos
outros que você convivia.
A nossa religião bem como os demais cultos
afrodescendentes que existe no Brasil, por mais normal
que isso seja ainda causa muito espanto nas pessoas,
que por falta de informação nos taxam pejorativamente
de macumbeiros, bruxos, seres demoniados e demais
coisas. Perceba que você esta iniciando uma renovação
na sua vida e os outros não são obrigados a se iniciarem
também. Evite ficar falando com qualquer um que você
se tornou um
Umbandista, isso não é negar a sua fé, isso é preservar
a sua fé. Você não tem que converter ninguém para a
religião, você não tem que provar para ninguém que
fazemos apenas o bem, não discuta religião, ou melhor
discuta religião com quem entende de sua religião.
Quando te chamarem de Macumbeiro, explique o que é
macumba. Macumba é um instrumento de percussão
que se toca com uma vareta pressionada entre a parede
e a barriga do executor. Macumbeiro, aquele que toma
macumba. Quando vierem com assunto tipo matanças
de animais, diga que a Umbanda é a vida e que a
Umbanda protege a natureza. Fuja de discussões vazias
e sem fundamentos religiosos, não vale a pena ficar se
desgastando a toa. A Umbanda é uma religião
universalista, ou seja, ela atende a qualquer pessoa sem
distinção de nenhuma raça, credo ou situação financeira,
somos o pronto-socorro espiritual é esse o nosso papel.
O que vejo muito nos “novos” Umbandistas são as
pessoas que se vislumbram com esse “poder” da
incorporação e começam a querem incorporar em
qualquer lugar. Vão na casa da avó e sentem as
energias ruins do ambiente e já começa a sentir fluído do
preto-velho e aí incorpora lá na casa da avó, na frente da
tia evangélica, na frente do tio ateu e assim por diante.
Ou está em uma reunião com os amigos começa a beber
um pouco mais e aí incorpora a pomba-gira e sai
rodando na frente de todo mundo. Veja bem a questão
não é não incorporar fora do terreiro a questão é o
porque e a necessidade de incorporar em um lugar fora
do terreiro. A minha intenção não é ser moralista ao
ponto de falar que eu nunca incorporei fora do terreiro a
minha intenção é orientá-lo para fazer da maneira
correta. Vamos com calma, você terá muito tempo para
incorporar ainda, não tem que provar nada para
ninguém, não tem que provar nada para você. Analise o
seguinte todo o terreiro é preparado para receber estes
guias de luz, o ritual é todo preparado (pontos, tambores,
defumação, pemba) para receber nossos amigos, então
não tem lógica ficar dando “show” a onde você estiver,
você talvez ainda não esteja preparado para as energias
que você irá mexer e isso pode atrapalhar o seu
desenvolvimento e o seu convívio social. Uma vez
aconteceu um caso com uma colega de estar em uma
festa e começar a passar mal. Mas começou a passar
mal por causa da bebida e não por fluído ou outra coisa,
aí foi aquele trabalho que vocês já desconfiam, vai na
casa do Pai de santo, coloca ela no conga e aquela
história toda, quando ela vomitou todo “espírito ruim” que
estava dentro dela ela tomou um banho e melhorou.
Coisas do santo Bhrama. O que quero deixar claro aqui é
que não é porque você descobriu um ótimo caminho
para a sua espiritualidade que você tem que querer que
todos encontrem este caminho também que você tem
que viver incorporado para que todos acreditem no seu
“santo” com estas atitudes só estaremos contribuindo
com a má fama da Umbanda e de nossa religião.
Deixe os guias trabalharem com você dentro do terreiro,
deixe que os guias te conduzam dentro do terreiro.
Coisas que você pode fazer para melhorar.
Algumas coisas você pode fazer para melhorar o seu
desenvolvimento talvez a mais importante seja os
banhos de ervas antecedendo os trabalhos espirituais.
As mais indicadas para os neófitos aumentarem a sua
afinidade com o “santo” são: egenda, manjericão, guiné e
alecrim. Outras ervas podem ser usadas principalmente
as alusivas a linha que irá trabalhar no dia, espada de
São Jorge para Ogum, folha de fogo para Xangô e assim
por diante, vale a pena se informar mais e conhecer um
pouco sobre as ervas e os Orixás. Outra coisa que
melhora o seu desenvolvimento é a defumação. Se você
tiver a oportunidade faça uma defumação com ervas
secas em sua casa antes de ir para os trabalhos, além
de te limpar espiritualmente limpa também o ambiente
das energias ruins trazendo uma nova energia para a
casa. Cultive bons hábitos isso irá te deixar mais
tranqüilo. Acenda a sua vela pessoal, para o seu anjo de
guarda e aos seus Orixás de cabeça (Orixás protetores)
esses Orixás você irá saber com o tempo de iniciação e
será revelado a você através do jogo de búzios.
Coisas que você precisa saber.

Você não está fazendo nada de errado. Você está


apenas conhecendo algo novo, uma nova vida religiosa.
A nossa religião é garantida por Lei como descrita no
inicio deste.
Estamos em busca de um mundo melhor, mais fraterno,
mais amigo e com mais dignidade.
Tenha orgulho de sua religião de Umbanda.
Conheça os Orixás.
Conheça as ervas.
Tenha paciência e perseverança com o aprendizado.
Busque conhecimento em seus orientadores.
Não discuta religião sem fundamentos.
Não se torne um chato fanático religioso.

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