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A relação do casal com o dinheiro começa mesmo antes do casamento, ela se

inicia no namoro, por exemplo, quando o casal sai para jantar, ir ao cinema, na 24
compra de presentes, na compra das alianças, na festa de noivado, casamento e lua de
mel, ou seja, em todas as ações que envolvam custos (GONÇALVES, 2016). Vale
ressaltar que cada família formada, vivenciará de maneira diferente a fase de aquisição,
tendo em comum o objetivo de adquirir e construir juntos um futuro (CERVENY;
BERTHOUD 2010)
Segundo Guimarães (2007), vivemos em uma sociedade capitalista, e viver a
dois é saber viver com todas as influências midiáticas tentadoras de produtos e serviços
que são oferecidos nos dias hoje, onde o consumo tem como função principal satisfazer
mais os desejos do que as necessidades
A forma como cada casal lida com o dinheiro tem fortes influências das famílias
de origem, pois as primeiras relações com o dinheiro se dá na infância e perdura pela
vida toda, ou seja, as experiências vivenciadas com o dinheiro e as regras aprendidas
sobre ele vão ser carregadas para a vida adulta e consequentemente para a vida a dois,
podendo ver nos casamentos repetições dos modelos familiares em relação ao dinheiro
(MANFREDINI, 2019) Para Poletto, Manfredini e Grandesso (2015), mesmo quando
os pais não falam abertamente com os filhos sobre educação financeira, eles acabam
ensinando mesmo que seja por exemplos. Manfredini e Ceverny (2012) afirmam que,
quando o modelo causa algum desconforto, o indivíduo que vivenciou aquilo tenta
evitar sua repetição, partindo para o antimodelo.
De acordo com Cerbasi (2004), o casal pode fazer uso em conjuntos do dinheiro,
para isso é preciso construir um plano financeiro em conjunto, com metas e objetivos
que comprometam financeiramente ambos. Segundo Guimarães (2007), o dinheiro tem
uma forte ligação na intimidade do casal, podendo essa relação ser de poder, controle e
até questões de sexualidade.
Frankel (2006) aponta que é fundamental que entre o casal haja conversa sobre
como o dinheiro será gasto, investido, sobre dívidas, divisão de contas, e essa conversa
deve ocorrer antes de partirem para uma vida a dois, e durante a relação. Muitas vezes,
o diálogo sobre dinheiro na conjugalidade é evitado porque pode representar apenas a
“ponta do iceberg” dos conflitos existentes na relação, estando subjacentes questões
relacionadas a poder, controle, ideais românticos, crenças, valores e fidelidade
aprendidos nas famílias de origem de cada cônjuge (Guimarães, 2010).
Nessa busca por ter dinheiro, bens e possibilidade econômica de acesso aos
serviços oferecidos pela sociedade de consumo, os cônjuges deparam-se com conflitos e
dilemas relacionados às finanças que podem, em maior ou menor grau, influenciar a
qualidade da relação conjugal (Kirchler, Winter & Penz, 2016).
A vida a dois movimenta-se por distintas experiências que são, ao mesmo
tempo, a causa e o resultado da relação, como apoio mútuo, humor, comunicação,
diálogo, carinho, opiniões, acordos, críticas, conflitos, conforto nas dificuldades e
vivência de ambivalências. Além de todas essas experiências, para uma relação conjugal
ser plena, é preciso que o casal tenha disposição em ceder e isso significa, muitas vezes,
abrir mão do controle em favor da relação (Silveira, 2007). Para um casamento ser
considerado saudável e estável, é necessário um nível de interação positiva e diálogo,
entretanto, nem todos os casais que se julgam saudáveis têm clareza sobre seus conflitos
conjugais (Driver, Tabares, Shapiro & Gottman, 2016).
Um estudo com base em uma pesquisa feita na Inglaterra por Pahl (1989) in
Burgoyne (1990), e Pahl (2005), definiu-se dois estilos como forma de administrar o
dinheiro pelos casais, sendo eles o individual, e/ou coletivamente usado. A
administração independente do dinheiro acontece de maneira individualizada, onde cada
um administra seu dinheiro e suas responsabilidades, as contas são individuais, e os
cônjuges não tem acesso à conta do outro parceiro, não precisam de permissão para
gastos e não se sentem na obrigação de dar satisfação ao outro parceiro. Já o sistema
parcialmente de administração do dinheiro, se dá quando cada cônjuge paga sua conta
de forma separada, porém eles mantem uma conta conjunta onde ambos fazem
depósitos iguais ou proporcionais para cobrir despesas como compra de casa, carro, e os
dois têm acesso.
A infidelidade ocorre de diferentes formas na conjugalidade. Ela não está
relacionada somente a amor, sexo ou paixão, pois também contempla, na sua
complexidade, a infidelidade financeira cometida por casais (Hart, Mosmann & Falcke,
2016). Para as autoras, essa forma de traição referente às finanças do casal ocorre no
casamento quando um dos cônjuges, ou os dois, omitem ou alteram informações sobre
gastos, investimentos ou dívidas.
A infidelidade é marcada pela mentira, o ocultamento de informações e o
envolvimento do cônjuge com uma terceira pessoa, tanto de forma física como
emocional (Cury & Ribeiro, 2013; Haack & Falcke, 2013). Groisman (2013b)
acrescenta que a infidelidade é uma característica de um casamento em crise, de um
desequilíbrio conjugal, da perda da intimidade e do interesse sexual.
Ainda assim, é importante lembrar que, em uma relação conjugal, existem os
limites de um e do outro e é aprendendo a lidar com esses limites que o casal construirá
uma vida compartilhada e poderá melhor vivenciar a qualidade conjugal (Whitaker,
1990).
Todos os aspectos mencionados pela literatura e pelos estudos encontrados
mostram o quanto a relação conjugal está permeada por diversos fatores que não agem
sozinhos, mas estão interligados. Nesse sentido, não só o dinheiro, mas a forma como os
casais o manejam também pode se refletir na qualidade conjugal.
Entende-se que os problemas em relação às finanças geralmente dizem respeito à
forma como os cônjuges querem gerenciá-las (Cezar-Ferreira, 2007). As questões
financeiras em um relacionamento são bastante complexas, pois enquanto o bem-estar
econômico pode prover aspectos positivos na qualidade conjugal, por outro lado as
dificuldades podem instigar o conflito (Hardie & Lucas, 2010).
Em situações de dificuldades financeiras, o casal pode passar a ter conflitos por
divergirem em opinião quanto ao uso do dinheiro, desencadeando inúmeras brigas e
desentendimentos que, inclusive, nada tem a ver com a questão do dinheiro em si
(Perguer, 2010)
Entretanto, é importante salientar que as questões financeiras não podem ser
avaliadas separadamente do contexto como um todo, pois, como Gottman (1998) e
Féres-Carneiro, Ziviani e Magalhães (2011) mencionam, a dificuldade financeira não é
um fator que, por si só, influencia negativamente o casamento. Também não é capaz de
predizer a sua manutenção ou dissolução (Paraguassú, 2005). É uma avaliação subjetiva
do sujeito, e não a medida objetiva da situação financeira, que afeta o humor e a
interação dele com os outros (Kinnunen & Feldt, 2004; Price, Choi, & Vinokur, 2002),
podendo refletir na sua relação conjugal.

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