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VOTO

OFENSIVO
























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VOTO OFENSIVO


RAPHA ËL LIMA




















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ÍNDICE


INTRODUÇÃO .............................................................................. 4

O QUE LEGITIMA O ESTADO .............................................. 10


ESTRATÉGIAS POLÍTICAS ................................................... 28
ABSTENÇÃO ............................................................................... 28
DIRETAS E INDIRETAS ......................................................... 32
AS BASES LIBERTÁRIAS ...................................................... 38
A EDUCAÇÃO ............................................................................. 38
O TRABALHISMO ..................................................................... 49
O EMPRESARIADO E O EMPREENDEDOR .................... 54
A CARIDADE .............................................................................. 57
CANDIDATURAS LIBERTÁRIAS – METODOLOGIA E
MENSAGEM ............................................................................... 61
O FREE STATE PROJECT ...................................................... 74
A VITÓRIA FINAL – CONSIDERAÇÕES FINAIS ........... 77

INTRODUÇÃO

Sejamos francos: a política estatal é um
empreendimento nojento. Atualmente todos os
dias políticos de todos os partidos se reúnem em
suas câmaras para decidir o que será feito da vida
das outras pessoas, quanto dinheiro delas será
tomado, e em que será gasto. Em todos os anos
eleitorais vemos promessas de mudanças, mas isto
inevitavelmente resulta em mais roubo da
propriedade dos eleitores, maior enriquecimento
da classe política e seus amigos e mais
deterioração da sociedade humana na direção do
planejamento completo da ação humana. O
sistema político é complexo, com seus vários
poderes, câmaras e leis, transformando-se em uma
máquina onde nada é feito sem que um bando de
outros políticos esteja de acordo, o que
naturalmente causa acordos repulsivos,
capitulações ideológicas e uma corrida na direção
do medíocre, do complexo e do inútil.
Não surpreende que isto tenha inspirado o
Agorismo de Konkin, que propõe como resposta a
tirania estatal o uso de ações contra-econômicas,
ações que não colaboram com o estado, não o
sustenta e não usam sua estrutura, ações de livre
comércio e cooperação numa sociedade comercial
libertária e pacífica, com seus próprios sistemas de
proteção a propriedade e resolução de disputas, a
Agora. Abandone-se o estado e vamos ao mercado.
Se queremos uma sociedade livre, vamos viver
nela desde já. Onde o estado atrapalha e rouba,

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criando muros, estruturas devem ser criadas para
o comércio e a colaboração, fornecendo uma
escada.
É difícil imaginar como esta proposta deve
ter soado em 1980, quando computadores tinham
menos poder de computação do que uma batata, a
União Soviética ainda era uma ameaça, a África
estava coberta em guerras civis fomentadas por
partidos comunistas e a américa latina estava
coberta de ditaduras militares. É triste que Konkin
não tenha vivido para ver o que a era digital nos
trouxe.
Hoje podemos trabalhar muito mais livres
das amarras do estado via aplicativos de todos os
tipos, o que tem trazido grande dor de cabeça para
governos pelo mundo todo. Podemos
comercializar com milhões em segundos usando
uma enorme gama de sites de comércio que
exigem praticamente nenhuma burocracia, o que
criou toda uma economia informal viva e forte, que
por sua vez barateou muito o custo de
mercadorias de vários tipos, contribuindo para a
qualidade de vida de seus clientes. Podemos
transmitir informação a custo quase negligenciável
via internet e nela criar veículos de mídia e
educação independentes da sanção, fiscalização e
censura do estado, o que deu luz a uma mídia
inteira paralela a mídia regulamentada pelo estado
e um sistema de educação inteiro paralelo ao
estado. Uma criptomoeda nova chamada Ethereum
permite inclusive a elaboração de contratos
automáticos dentro de uma rede digital
descentralizada e um país já foi fundado dentro
dela, a Bitnation. Tudo isso teria soado como a

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mais pura loucura 20 anos atrás, mas hoje é uma
realidade. As implicações e futuras evoluções
destes sistemas são imensas, basta ver que estas
possibilidades surgiram anos após a publicação do
Novo Manifesto Libertário de Konkin e adicionar a
isto o que podemos ter daqui mais 36 anos.
Mas o estado ainda existe. A política ainda
existe, os políticos ainda existem. O estado
apanhou, mas também aprendeu e começou a usar
estas ferramentas digitais para reforçar seu
domínio sobre a população. O conflito entre o
estado e a humanidade ainda existe, o que ocorreu
foi uma escalada na complexidade das armas.
A tecnologia é uma fantástica porta de
combate contra o estado e sua pilhagem, e
certamente é uma ferramenta muito bem vinda
dado que apenas algumas décadas atrás o único
jeito imaginável de afetar ou combater o estado
era operar dentro de sua estrutura, uma
proposição demorada, complexa, nojenta e
enfadonha. O Agorismo teve a visão de uma nova
alternativa e tática, mas seu ponto problemático
do Agorismo é sua completa rejeição da política
partidária, da atuação dentro do estado e da
participação em eleições via voto. O motivo dado
por Konkin é, acima de tudo, que esta participação
legitima o estado perante os outros e compromete
a pureza da ideia libertária de não agressão e de
uma sociedade livre e horizontal.
Entendo, e eu mesmo já fui publicamente
um grande defensor deste argumento. No ciclo de
eleições de 2016 busquei examinar a teoria
política libertária, a aplicação da política e as
implicações morais disso, no intuito de sepultar

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totalmente qualquer ideia de participação
libertária na política. E nisso descobri que estava
errado. Acontece, e é bom.
Não há duvida alguma que a política
partidária e estatal como feita hoje é um pântano
de imoralidade, corrupção, agressão e decadência
humana, porém a participação neste ambiente por
parte dos libertários não é necessariamente
imoral, nem legitima o estado. Embora a
participação da política, das eleições e a eventual
operação dentro da estrutura do estado sejam
ferramentas antiquadas e ineficientes, são mais
uma das ferramentas que o libertário dispõe. Se
são moralmente aceitáveis, embora indesejáveis,
não podemos descarta-la sem um exame mais
completo. Precisamos aprender com o erro dos
que riram da proposta de Konkin 36 anos atrás,
risos que o tempo transformou em silêncio, e
perceber que hoje não podemos rir da política, já
que pequenas ações estão calando críticos. Konkin
viu o potencial do desenvolvimento tecnológico
para a defesa contra a crescente invasão estatal,
mas infelizmente não viu como estas mesmas
ferramentas poderiam ser usadas para a invasão
da estrutura estatal, e obviamente não poderia ver
esta aplicação no sistema brasileiro. Os tempos
mudaram, as regras mudaram, as armas mudaram,
e precisamos nos adaptar.
Possivelmente o maior defeito da teoria
política atual é que foi praticamente toda escrita
por defensores do estado, embora de formas
diferentes de estado, e por isso é tão repugnante.
Avanços na teoria política libertária foram feitos
por alguns importantíssimos pensadores, porém a

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enorme maioria estava confinada ao sistema
político americano, e antes da era digital. A lista é
longa, mas vem desde Jefferson até Rothbard,
embora atualmente poucos pensadores se
devotem em grande peso a estas questões.
Mais escassa ainda é qualquer literatura
sobre como a atuação política libertária pode ser
posta em prática, e a literatura existente é
predominantemente americana, tendo pouca
aplicação direta ao sistema eleitoral e político
brasileiro. Este é em minha opinião o problema
mais grave que o libertarianismo enfrenta hoje no
campo teórico, e também na transformação de
teoria em prática. Um grande fator que também faz
falta é a experimentação e a observação. Como
praticamente não existe ação política liberal no
Brasil e a ação libertária está em seus primeiros
arrastos antes do engatinhar, falta experiência e
método para inspirar teorias. Em português claro:
praticamente não temos ideia do que fazer.
Disso resulta que a maioria dos
movimentos e grupos liberais e libertários estão
ou tentando praticamente tudo que é possível
tentar ou copiando metodologias bem sucedidas já
empregadas pela esquerda, e onde não encontram
sucesso, encontram aprendizados.
A resposta a este cenário não é abandonar
o empreendimento político como um todo, mas
sim começar os primeiros experimentos e
aprender com o tempo, experiência e erros. Não é
razoável esperar acertos e sucessos imediatos e
definitivos, e sim esperar erros, aprendizados e
aceitar que algumas fortes trapalhadas podem
acontecer no processo. O movimento libertário

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está enfrentando uma das estruturas mais
profundamente enraizadas na mente e na práxis
humana, o estado. Não devemos esperar uma
batalha curta nem fácil.
Em suma, uma teoria política libertária
para o Brasil no século 21 se faz necessária.

Pretendo demonstrar que a atuação
política não é uma legitimação do estado, assim
com o voto não é uma legitimação e em verdade
significa absolutamente nada, e para isso preciso
examinar o que realmente legitima a estrutura
estatal.
Mapeados estes, vamos a como o
movimento libertário já está se infiltrando nas
bases de legitimação do estado, por que isto é
importante e como pode ser utilizado para uma
amplificação da mensagem libertária, culminando
com a necessária candidatura de libertários para
cargos dentro do estado e um ensaio sobre a forma
destas candidaturas.

O QUE LEGITIMA O ESTADO



O que defendo como libertário é a
interpretação literal de John Locke: o governo
legítimo governa com o consentimento dos
governados. Vamos conversar sobre o que
exatamente significa consentimento, e que ações
podem ser entendidas como tal. A maior forma de
consentimento é o explícito, racional e livre, e esta
forma desautoriza e é superior qualquer outra
forma de consentimento implícito inferior. Uma
vítima de estupro que repetidamente grita por
socorro e pede que seu atacante pare está
claramente não consentindo com o processo, e
seria um absurdo completo argumentar que como
ela não se defendeu fisicamente por medo de ser
morta, consentiu com o ataque.
Para mim, Locke está falando do livre-
mercado, o lugar onde nós, governantes de nossos
próprios corpos, interagimos voluntariamente e
trocamos a governança de nossas propriedades de
maneira livre e consentida, estabelecendo
contratos e relações para mútuo ganho. O
resultado disso é uma sociedade de laços entre
indivíduos, laços que nos protegem, nos ajudam a
alcançar nossos objetivos e que refletem as
necessidades da população. Governa a minha
propriedade quem eu consentir explicita e
livremente que o faça.
No entanto, a maior parte das pessoas
entende a frase incorretamente, imaginando a
ideia de um estado democrático. O que a enorme

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maioria das pessoas não percebe é que a escolha
que é imposta pelo estado é análoga à escolha que
um estuprador, ladrão ou assassino impõe a sua
vítima: obedeça-me ou morra. Não há
consentimento. Nenhuma ação que o libertário
tome em resposta a esta ameaça travestida de
contrato social pode ser considerada como forma
de aceitação do estado.
O libertário explicitamente não consente
com o estado. O libertário explicitamente condena
o estado como um agressor, o imposto como
roubo, o exercício de seu poder como escravização
em massa, sua manipulação da moeda e da
economia como fraudes e suas diversas iniciativas
de um suposto “bem estar social” como compra de
votos e responsável pela erosão dos laços sociais
pacíficos. Apenas duas ações poderiam ser
consideradas como apoio ao estado: agredir ou
defender agressão, isto é, o exercício de um
suposto poder estatal para efetuar agressão, ou a
alegação explícita, racional e livre de que tal
exercício é moral, legítimo ou necessário. Como o
libertário, por definição, não faz o segundo, apenas
o primeiro precisa ser analisado.
O ponto importante é o uso de recursos do
estado e a participação em sua estrutura. Se algum
libertário usa um serviço que foi pago com
dinheiro roubado da população via impostos, ele
não legitimou o estado, assim como uma vítima de
sequestro que aceita ser alimentada não aceitou
ser sequestrada. Entre estes serviços estão coisas
como usar as calçadas e ruas, universidades
públicas, serviços de empresas estatais, votar e
ocupar cargos públicos. Certamente seria

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preferível evitar estar na situação onde se torna
necessário usar a estrutura do estado, e ainda mais
óbvia é a necessidade de criação de estruturas
alternativas e contra-econômicas como propôs
Konkin, e até a necessidade de redes de apoio
entre libertários para situações de desemprego e
outras necessidades, mas existem situações onde
usar a estrutura estatal é inevitável, e se omitir de
usar estes serviços não fará com que o dinheiro
seja devolvido às pessoas que foram roubadas pelo
estado, nem fará com que os serviços deixem de
existir e muito menos fará com que o estado
decida se extinguir.
Se um libertário usa eletricidade que é
fornecida por uma agência estatal, ele não
concordou com o estado, assim como se ele se
filiar a um partido, eleger-se ou até deter um cargo
governamental, nenhum consentimento com o
estado foi explicitamente dado. Pessoas não
familiarizadas com a filosofia libertária podem se
confundir e achar tais ações incongruentes, mas
isto não é um problema das ações e sim revela uma
necessidade de mais divulgação sobre o
libertarianismo e sobre a real natureza do estado.
Também existem aqueles que não se importam
com a verdade e usarão argumentos tortos para
dizer que libertários não podem cursar
universidades públicas, andar nas calçadas ou usar
agua encanada da empresa estatal, mas desonestos
sempre existirão e não devemos pautar nossas
ações primariamente com base naqueles que estão
prontamente dispostos para distorcê-las. A
campanha do Brexit foi encampada pelo UKIP
mesmo sob todos os tipos de calúnias e distorções,

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e caso o UKIP e seus apoiadores tivessem se
importado com a opinião alheia, ainda estariam
presos ao projeto de super-estado da União
Europeia.
Como dito antes, a única ação do libertário
que poderia ser interpretada como apoio ao estado
seria a agressão usando o poder estatal, mas isso
não está atrelado necessariamente a estar dentro
da estrutura estatal. Digamos que alguém construa
um lago em sua propriedade e lá comece a criar
peixes. Para fazer o lago o sujeito precisaria de
autorização governamental, e para isso precisaria
pagar uma taxa, mas ele não o fez, afinal esta é
uma regulação invasiva a propriedade de alguém
que não consentiu com esta governança. Se um
fiscal do estado encontrar o lago e emitir uma
multa ao proprietário, ele estará legitimando o
estado, afinal está sendo um veículo de iniciação
de agressão contra alguém pacífico. Emitir multas,
impostos, confiscar propriedades, prender pessoas
por “crimes” sem vítima, proibir empreendimentos
e tantas outras ações agressivas são uma
legitimação do estado, pois são exercícios do seu
suposto poder.
Agora digamos que alguém na cidade do
exemplo do lago reporte o suposto criminoso ao
estado. Esta é uma ação que legitimaria o estado.
Digamos que alguém diga para seus amigos ou
filhos que a multa foi correta e que o estado pode
sim regulamentar uma propriedade da qual não é
dono e punir desobedientes. Esta ação também
legitimaria o estado. Digamos que um professor
numa escola dessa cidade use este evento para
“ensinar” a seus alunos que isto é correto e

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necessário. Este professor também está
legitimando o estado. Também é culpado o
advogado que aceitar trabalhar para o estado e
processar o construtor do lago, o professor de
direito que “ensina” a seus alunos que esta lei é
correta e deve ser defendida, e tantos outros que
ou colaborarem para esta agressão ou que
ensinarem que ela é correta ou necessária, e que
os agredidos pelo estado não deveriam se
defender, afinal merecem ser agredidos.
Isto pode parecer uma acusação contra
todas as pessoas que trabalham dentro do estado e
dizem que ele é necessário e bom, mas tais pessoas
não deveriam ser necessariamente vistas como
inimigos, pessoas desprezíveis ou agentes
doutrinadores. A triste verdade é que a maioria
das pessoas que age para a glória e doutrinação do
estado, inclusive uma parte dos políticos, não faz
ideia do que ele realmente é, nem do que está
realmente defendendo. Desconhecer é certamente
uma tragédia, mas nunca um crime. Se soubessem
aquilo que libertários sabem, provavelmente
mudariam o jeito que atuam dentro destas
organizações estatais ou as abandonariam
completamente, e a realidade nos mostra que este
é o trajeto cursado pelos servidores públicos de
todos os tipos que se tornam adeptos do
libertarianismo. Servidores públicos não devem
ser odiados nem agredidos verbal ou fisicamente, e
sim educados sobre a estrutura da qual
participam, e naturalmente uma resistência
grande será oferecida, pois é de se esperar que um
humano normal resista a ideia de que está, sem
saber, participando de uma organização que

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pratica roubo, fraude e sequestros
sistematicamente.
Agora, caso um libertário se encontre em
qualquer uma destas posições e atue como um
libertário, seja no cargo de um advogado do estado
que se recusa a processar pessoas pacíficas, de um
professor do estado que não ensina qualquer coisa
a favor do estado e sim ensina a filosofia do
libertarianismo, seja ele a pessoa que avista o lago
e não o denuncia, e mesmo seja ele o fiscal que
avista o lago e não multa o sujeito, desobedecendo
assim ordens do estado de agredir pessoas
pacíficas, nada de imoral foi feito. De fato, muito
bem seria feito a toda a sociedade se todos os
cargos de fiscais da receita fossem ocupados por
libertários que estão eternamente em greve, ou se
todos os juízes de uma região fossem libertários e
simplesmente se recusassem a emitir sentenças
favoráveis ao estado, ignorando completamente a
constituição e emitindo decisões embasadas
apenas na lei natural. O mesmo vale para um cargo
político. Libertários como Rothbard e Block
defende que se um libertário em exercício de um
cargo eleitoral ou não eleitoral decidir não fazer
valer as leis imorais do estado e se comprometer a
apenas prejudicar o estado em todas as ocasiões
possíveis, votando contra qualquer lei que o
expanda e votando a favor de qualquer lei que o
reduza, atuando diariamente para reduzir o poder
estatal e denunciando-o sempre, esforçando-se
para acordar seus colegas para a realidade da
agressão estatal, nada de imoral foi feito, nem em
momento algum qualquer tipo de consentimento
foi dado ao estado. Só porque alguém entrou na

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igreja não quer dizer que o sujeito virou cristão.
Para isso é preciso ajoelhar, rezar e acreditar na
oração.
Novamente concedo que operar dentro da
estrutura mais intima do estado, especialmente
dentro da política eleitoral é um trabalho
desgastante e que colocará o libertário
diariamente em contato com algumas das piores
personalidades e ideias que a humanidade pode
oferecer, mas nem tudo que cai no esgoto é dejeto,
embora certamente venha a ficar cercado deles.
Uma analogia comum feita como
argumento contrário ao envolvimento na política é
de que usar eleições para destruir o estado seria
como infiltrar um grupo terrorista para destruí-lo
por dentro, e é uma analogia correta, embora
tenha suas limitações como todas as analogias.
Caso alguém se infiltre num grupo terrorista e lá
faça absolutamente nada de útil, se
comprometendo apenas a sabotar todas as
iniciativas dos terroristas, nada de errado está
sendo feito. Ninguém toma o fato de que agências
de inteligência estatais infiltram organizações
terroristas como uma validação do terrorismo
pelos agentes estatais. A falha na analogia é
assumir que a atuação política e infiltração no
estado é a única maneira de destruí-lo, o que não é
verdade. Assim como existem várias maneiras
diferentes de combater o terrorismo, existem
diversas maneiras de combater o estado. O limite
da analogia é que a infiltração tem implicações,
dificuldades e outras características mais muito
diferentes entre a política e a célula terrorista. O
ponto aqui colocado é que a participação na

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máquina do estado não é imoral e é apenas uma
das várias ferramentas disponíveis aos libertários.
Sua eficácia, aplicação, tempo para sucesso e
tantas outras coisas podem ser discutidas, mas não
é imoral per se.
Resolvido o problema da operação dentro
do estado, ficamos então com o problema do voto
em si, e ele não pode ser entendido como uma
legitimação do estado nem como uma agressão.
Lysander Spooner já encerrou a questão em seu
livro “A Constituição de Nenhuma Autoridade” de
1867, onde ele argumenta (e aqui resumo) que:

(Nota: nesta citação o termo “constituição”
pode perfeitamente ser entendido como “estado”.
Mantive a grafia apenas por apreço a forma
original).

1) O voto só pode criar um vínculo entre o
eleitor e a constituição do país, e como
nem todos podem votar isto implica
que os “não eleitores” não estão
obrigados a apoiar ou defender a
constituição.
2) Dos que podem votar, nem todos
votam, e muitos dos que podem nunca
vão votar. E quando estes votam, estão
declarando apoio apenas pelo tempo
do mandato em questão, não
eternamente.
3) E nem por votar pode ser dizer que o
eleitor escolheu apoiar a constituição, a
não ser que o ato de votar seja
voluntário, mas votar não pode ser

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considerado voluntário, pois quer vote
ou não, o estado vai agredir o eleitor
quer ele consinta ou não. Quem vota vê
na eleição uma possibilidade de se
defender num conflito que foi imposto
a ele. Para que o voto fosse voluntário,
a proposta deveria ser “se você não
votar o estado não alegará autoridade
sobre você”, o que evidentemente
jamais é o caso, ou seja, não é possível
afirmar que todos os votos dados são
consentimentos com a constituição.
4) Como taxação é imposta em todas as
pessoas, muitos votam para evitar
serem roubados. Tomar a propriedade
de uma pessoa sem consentimento e
inferir seu consentimento porque a
pessoa votou para evitar que seja
roubado não é prova de consentimento.
5) Em quase todas as eleições votos são
dados a vários candidatos para o
mesmo cargo. Não é possível supor que
votaram a favor da constituição, pois
podem ter votado apenas para evitar o
outro candidato, portanto pode-se
supor que estes votaram contra a
constituição.
6) Muitos votos são dados a candidatos
que certamente não serão eleitos.
Quem votou nestes candidatos pode
não ter votado em apoio à constituição,
mas para obstrui-la.
7) Como os votos são secretos, não há
modo de saber quem votou contra ou a

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favor da constituição, ou seja, votar não
prova consentimento de qualquer
individuo em particular. Como não há
prova alguma que um indivíduo sequer
apoia a constituição, não pode ser dito
que alguém a apoia.
8) Como não há prova das intenções dos
eleitores, elas podem ser apenas alvo
de conjecturas. É possível então que
muitos dos que votam querem apenas
usar a constituição contra seus
oponentes, mas caso seus oponentes
vençam, os primeiros deixariam de
apoiar a constituição.
9) Como todos votam secretamente e não
podem ser responsabilizados pelos
atos dos eleitos, não se pode dizer que
alguém apoia a constituição ao votar.
Apenas o consentimento público e
voluntário, e a aceitação de
responsabilidade pelos seus eleitos,
desde que atuem dentro dos limites
dados, pode ser entendida como
consentimento.
10) Como o voto é secreto, e como todo
governo é secretamente um bando de
ladrões, tiranos e assassinos, o fato de
que o governo é feito através do voto
secreto só prova que existe entre nós
um bando oculto de ladrões, tiranos e
assassinos, cujo propósito é escravizar
e matar dissidentes conforme
necessário. A existência deste bando

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não prova nada sobre o consentimento
com a constituição.

Ou seja, do jeito que eleições são realizadas
hoje, votar significa absolutamente nada, nem
prova qualquer tipo de coisa. É um ato sem sentido
lógico próprio, um ritual aleatório que não liga
causa e efeito, assim como civilizações antigas
sacrificavam pessoas na crença de que isso faria o
sol nascer. Para que o voto pudesse ser
considerado uma legitimação do estado ele
precisaria ser um contrato não anônimo,
voluntário e com regras e duração definida, porém
se os diferentes governos se limitassem apenas a
governar quem livre e explicitamente assinasse
este contrato, não seriam estados, afinal o estado é
definido pela imposição violenta de uma
governança.
Vale observar também que o voto em um
político em específico não significa absolutamente
nenhuma relação contratual entre político e
eleitor, já que o político pode simplesmente fazer o
que bem entender e não sofrerá sanções por isso.
Argumentar que votar é participar da agressão
estatal é inferir que o voto tem alguma relação
com o exercício de poder pelo estado, e como
vimos isto é completamente falso.
Só respeitamos o voto por uma crença sem
fundamento de que ele pode autorizar o estado a
fazer certas coisas, mas como poderia isso ser
verdade? Como podemos transferir, via voto, um
poder que não temos, nomeadamente o poder de
decidir quem será agredido e quem será
beneficiado com isso? Se nenhum de nós pode

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cobrar impostos, invadir propriedades, encarcerar
pessoas ou recruta-las para nossa defesa, nem
nenhuma ação que o estado faz, como podemos
então autoriza-lo a cometer estes atos? Assim
como é impossível vender uma propriedade que
não é sua, é impossível autorizar o estado a
agredir, pois este não é um direito seu para ser
transferido.
O estado somente é legitimado, em última
análise, pela crença popular de que certas pessoas
podem agredir outras pessoas, ou seja, que
existem superiores e inferiores, e os inferiores não
devem ter o direito de se revoltar contra seus
superiores. Ao longo da história existiram
discordâncias apenas sobre o método pelo qual
estes supostos superiores seriam encontrados:
vitórias em guerras, assassinato do superior
anterior, um suposto apontamento divino ou,
como hoje se acredita: o voto através de um
“processo democrático”.
A enorme maioria das pessoas não percebe
que acredita que é perfeitamente normal que o
estado mande em nossas vidas, tome nossa
propriedade via impostos e puna com multa,
prisão ou morte caso alguém resista este acordo
supostamente tão benéfico. Curiosamente, se a
mesma relação fosse imposta por uma gangue de
mafiosos armados ou uma empresa, organização
ou religião, reconheceríamos isso imediatamente
como uma exploração criminosa e escravagista,
mesmo se esta gangue limpasse as ruas, nos
presenteasse com barras de chocolate uma vez por
semana ou presumisse poder ensinar sua versão
de filosofia para nossos filhos.

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A ideia de democracia representativa
encontrou solo fértil nas mentes infantilizadas das
pessoas acostumadas com a existência do estado e
nas mentes perversas que visavam elas serem as
detentoras do poder. Nos vários casos onde
estados anteriores foram destituídos, por exemplo,
a revolução francesa, independência americana,
brasileira ou de qualquer outro país, a queda da
união soviética e tantos outros, certos grupos
interessados em serem os novos donos do poder
precisavam convencer a população a aceita-los
como governantes, e uma das alternativas para
fazê-lo é invocar a ilusão do voto, isto é, a ideia de
que se uma porção da população nos aceitar, os
outros devem se calar e aceitar também, reduzindo
o problema de aceitação do novo estado a um
mero suborno de parte da população com poder e
riquezas. A população acostumada com a ideia
ilógica de que um estado precisa ou deve existir
aceitou esta ideia, pois se cria uma ilusão de que
ela detém mais poder agora do que antes, ou de
que de alguma forma bizarra este novo estado é,
na verdade, propriedade do povo quando o
contrário é o correto, isto é, o povo é propriedade
do estado, assim como sempre foi em todos os
outros esquemas de organização estatal da
história.
Esta fraude intelectual se mantém viva
primariamente por dois motivos, embora vários
outros menores existam: doutrinação e subornos.
A formatação da educação moderna foi criada na
Prússia por monarcas sanguinários que
precisavam normalizar e domesticar a população
de regiões anexadas, evitar revoltas internas, criar

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uma relação de adoração da monarquia pelo povo,
incentivar a participação nas forças militares,
semear desconfiança e aversão a outras nações e
povos e genericamente falando criar uma
mentalidade nacionalista e patriótica (Rothbard,
Educação Livre e Compulsória). Embora a Prússia
não exista mais, seu modelo de educação estatal
compulsória foi amplamente copiado na Europa,
América e América Latina, pois era extremamente
eficiente no que se pretendia e governantes de
todos os tipos a reconheceram como um excelente
sistema de domesticação em massa.
No Brasil, assim como em vários lugares do
mundo, a educação como um todo é
regulamentada pelo estado direta e indiretamente,
e seu currículo e vários outros detalhes são
obrigatórios e fiscalizados, ou seja, a população é
obrigada a comparecer as escolas para lá aprender
o que o estado quer que elas aprendam. Como um
adicional temos o ENEM, que cobra no fim do
ensino médio o que os seus criadores resolverem
cobrar, e como o exame é estruturado dentro do
MEC, o governo pode desviar significativamente do
currículo convencional e inserir perguntas de forte
conteúdo ideológico na prova, mesmo que em
pequena quantidade, assim sinalizando para as
escolas que devem ensinar a ideologia que o
governo defende, ou seus alunos terão um
desempenho fraco na prova. Filósofos e ideólogos
de vários tipos também se prestam a escrever
livros exaltando o estado, mas estão ou em sua
folha de pagamento e o fazem por ganância ou
pior, agem por crença de que de fato existem
pessoas superiores que devem controlar as

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inferiores. O resultado disso é que a educação
estatal não ensina conhecimentos realmente úteis
para o trabalho, o empreendedorismo ou uma vida
moral, mas praticamente todos os alunos saem do
sistema escolar com baixíssimas capacidades de
pensamento crítico, pouquíssimo conhecimento
sobre história, uma aceitação passiva e
normalizada com a autoridade imposta e um
flagrante desconhecimento sobre direitos naturais.
Isto foi recentemente temperado no Brasil com um
molho adicional de doutrinação socialista, pois era
conveniente aos que controlavam o estado.
A mídia também opera como um veiculo de
doutrinação, afinal seus repórteres e editores
também são formados na educação estatal, e
portanto são incapazes de perceber o estado como
raiz dos vários problemas que jornais de todos os
tipos reportam no dia-a-dia. Culpa por crimes,
crises e desastres é atribuída a qualquer entidade,
organização, ideia ou pessoa, e até mesmo é
atribuída ao governo atual que não exerceu seu
poder de coerção de maneira “correta”, mas jamais
o estado é questionado, ocasionalmente
frequentemente por pura incapacidade dos
repórteres e editores de identificar este problema,
mas muito frequentemente por suas orientações e
alianças políticas. Ademais governos rapidamente
reconheceram que a mídia possui amplos poderes
de convencimento e se empreenderam em cooptar
e censurar mídias de todos os tipos, criando
autorizações e licenças de todos os tipos que
podem ser revogadas a praticamente qualquer
momento e oferecendo benefícios a jornalistas que
estejam dispostos a glorificar o status-quo, seja lá

24
qual for. Finalmente, no caso Brasileiro, vimos no
governo do PT como dinheiro de empresas estatais
ou dinheiro desviado de esquemas de corrupção
não só financiava bases políticas, mas também era
orientado para uma estrutura de mídia digital que
exaltava as ações do governo e atacava seus
opositores, embora obviamente esta estratégia não
tenha sido criada pelo PT em si.
O segundo método é o simples suborno.
Num governo qualquer haverá os que o apoiam, os
que não o apoiam e os indecisos, e este governo
fará a coisa mais lógica imaginável: usar uma
perversão da lei para roubar dos que não o apoiam
para distribuir o esbulho entre seus apoiadores e
caso seja necessário num ano eleitoral, entre os
indecisos também. Na mente do estatista os que
não apoiam o governo atual nem estão dispostos a
vender seu apoio não importam, pois não possuem
poder algum. Opositores não precisam
necessariamente ser vistos como parte da
população e sim como a fonte de riqueza que será
“redistribuída” entre os apoiadores do governo, já
que os opositores também estão domesticados a
aceitar passivamente que o estado tem autoridade
para roubar a quantia que quiser. Os que o apoiam
recebem benesses na forma de serviços, cargos,
poder de agressão ou em vários casos pagamentos
diretos, garantindo assim que continuarão
defendendo o governo atual.
Este modelo de doutrinação e suborno
para manutenção do poder já é velho. Já foi feito
por uma combinação do clero como doutrinador e
exército como repressor, de divisão de terras e
feudos como suborno, de expansão do governo

25
para abrigar apoiadores em cargos diversos e, via
repressão e fuzilamento de opositores e no
sistema democrático atual, com a monopolização
do ensino e o suborno via o “estado de bem-estar
social”.
Adicionado a estes dois métodos temos no
Brasil o trabalhismo de Vargas, a implantação de
sindicatos nas profissões mais cruciais – e
eventualmente em todas as profissões – e a
obrigatoriedade de filiação e sustentação destas
organizações, restringindo o acesso ao trabalho
honesto e pacífico e criando mais uma camada de
controle entre o estado e a população
domesticada. É interessante como hoje sindicatos
de todos os tipos são análogos a uma concessão
feudal, onde um grupo de pessoas tem o direito de
explorar o trabalho de “inferiores” e os
trabalhadores não possuem direito de contestar
esta estrutura. Assim sendo, estes sindicatos farão
o lógico: ao invés de representar os trabalhadores
daquela classe, se empreenderão em fazer alianças
políticas para continuar vivendo do trabalho
alheio e para estender sua capacidade de controle.
Para isso precisarão gastar amplas somas, quase
sempre confiscadas dos próprios trabalhadores
que eles alegam defender, para enganar seus
filiados com ideias protecionistas e mercantilistas,
criando uma virtual abominação do livre-mercado
e uma necessidade narcótica de proteção estatal.
A infiltração destas estruturas (educação,
mídia, sindicatos e política) por libertários não é
uma violação do princípio de não-agressão e pode
fazer muito para destruir sua influência e ligação
com o estado, libertando as pessoas submetidas a

26
elas, sejam eles estudantes de audiência cativa e
presença obrigatória, leitores desavisados que são
enganados por mídias estatistas, sindicatos que
buscam criar uma mentalidade permanente de
Síndrome de Estocolmo e, no ponto mais alto da
pirâmide, a população escravizada e domesticada
pela classe política e seus associados.


27
ESTRATÉGIAS POLÍTICAS

ABSTENÇÃO

Antes de analisar que possíveis medidas e
ações políticas podem ser tomadas, vamos analisar
a proposta de abstenção completa e suas possíveis
implicações.
Em 2014 nas eleições presidenciais 34,4
milhões de pessoas votaram nulo ou se abstiveram
do processo. Mais 4,4 milhões votaram em branco,
mas é difícil avaliar estes números já que muitos
não sabem a diferença entre um voto branco ou
nulo. Somados, temos 38,8 milhões de pessoas, ou
27% do eleitorado. Isto conta apenas pessoas que
podem votar, os 143 milhões de eleitores de 200
milhões de habitantes, ou seja, 38,8 milhões de
pessoas que podem votar escolheram nada, e mais
57 milhões sequer podem escolher alguma coisa,
resultando em 95,8 milhões de pessoas,
praticamente metade da população brasileira.
Um em cada quatro eleitores desprezou o
processo e apenas uma em cada dois brasileiros
escolheu algum político. Apenas uma em quatro
escolheu Dilma Rousseff, indicando que 75% da
população não votaram a favor do governo atual. O
numero é ainda menor quando se leva em conta de
que muitos que votaram pelo governo atual
somente o fizeram por medo do seu concorrente, e
não porque aprovavam o projeto que venceu o
pleito. O verdadeiro número de eleitores do
governo atual pode bem ser 15% da população ou
menos. O estado se incomodou com isso?

28
Absolutamente não. O assunto sequer foi erguido,
e os 38,8 milhões que escolheram ninguém são um
número extremamente expressivo, maior que os
34,9 milhões de votos que Aécio Neves teve no
primeiro turno da eleição, e ainda assim o segundo
turno foi Dilma versus Aécio, e não Dilma versus
ninguém ou versus a abolição do estado.
Quanto aos deputados federais, 8,8
milhões de pessoas votaram em branco e 7,8
milhões votaram nulo. Somados aos 27,7 que nem
sequer foram votar, temos 44,3 milhões de
eleitores, ou 31% do eleitorado. Se somarmos aos
que não podem votar, temos 101,3 milhões de
pessoas, a maioria da população brasileira.
Eleições para deputado usam o truncado
coeficiente partidário, então é impossível dizer
exatamente quantos deputados teriam sido eleitos
pelo partido do “dane-se”, mas os 70 deputados do
PT somados aos 66 do PMDB são 26% dos
deputados totais, ou seja, o partido do “dane-se”
muito provavelmente seria uma fortíssima
bancada na câmara. Ainda assim, isto não é levado
em consideração, nem as votações dos deputados
são corrigidas para levar este fator em conta,
forçando leis a serem aprovadas por uma maioria
real, ou seja, os a favor contra os contrários mais
os que escolheram nada. O partido do “dane-se”,
por regimento da câmara, seria presidente, vice-
presidente ou relator na maioria das comissões do
legislativo, e talvez até conseguisse eleger um
presidente da câmara, tornando-se capaz de ditar
o andamento dos projetos, aceitar ou recusar
pedidos de Impeachment e estar na linha
sucessória a presidência. Novamente pergunto: em

29
algum momento isto incomodou o estado ou
levantou alguma palha de dúvida sobre se ele
deveria existir ou é legítimo?
Nos estados unidos, onde o voto é opcional,
a situação é mais bizarra ainda: 45,1% das pessoas
que podem votar simplesmente não votaram. Em
algum momento isto trouxe um pingo de incômodo
aos poderes do estado americano? De maneira
alguma. Apenas 126 milhões de americanos
votaram em 2012, de uma população de 320
milhões, ou seja, 60% da população votaram em
absolutamente ninguém, e tudo continua como
sempre. O atual presidente Obama foi eleito com
20% dos votos da população do país, e novamente
preciso lembrar que enorme parte deles votou não
em Obama, mas contra seus concorrentes,
reduzindo o numero de apoiadores do governo
Obama a algo na ordem de 10% da população,
talvez menos.
Estes números mostram um fato: o estado
simplesmente não se importa se você vota ou não,
ou se você aceita ele ou não. Ele continuará seu
processo e continuará alegando propriedade sobre
você, confiscando seu dinheiro via impostos e
punindo você por evadir as arbitrariedades
agressivas do estado. Não me parece fazer sentido
especular que o estado se incomodaria se as
abstenções não fossem 60% mas sim 80% ou 90%
da população. E mesmo se tais números de
abstenção fossem alcançados, governantes podem
resolver que dado que a maioria das pessoas não
vota e aparenta não se importar com o processo,
talvez seja mais prático simplesmente cancelar as
eleições e governar eternamente os mesmos

30
cargos, o que resultaria ou em aceitação por parte
da população ou manifestações massivas pedindo
o poder de voto, o que por sua vez não mudaria
muito a situação atual.
A abstenção que de fato exerceria um
enorme efeito no estado é a abstenção de
tributação, isto é, se o estado não consegue captar
dinheiro da população que controla, não consegue
se sustentar já que não consegue manter suas
estruturas de doutrinação e suborno. O problema é
que a estrutura do estado que tende a ser mais
eficiente, rápida e violenta é seu departamento de
receita, ou seja, existe enorme desincentivo para
que pessoas não paguem seus impostos já que o
estado cada vez melhor monitora nossas vidas e
cada vez mais rápido nos pune por não aceitar ser
seu escravo. É evidente que ações contra-
econômicas como o uso de moedas digitais,
aplicativos de trabalhos que conectam indivíduos
sem intermediadores, comércio on-line e outros
sistemas podem ajudar a libertar pessoas e devem
ser fortemente incentivadas, mas é mais correto
dizer que elas usarão estas iniciativas não para
acabar com o estado, mas para se proteger dele,
assim como quem usa um agasalho quer se
aquecer, e não exterminar o frio. De qualquer
forma não existe sentido em exigir que libertários
se abstenham completamente de pagar todos os
impostos e sejam encarcerados ou mortos, até
porque o confisco de sua propriedade, ato que será
conjunto a prisão, acabará por dar ainda mais
recursos ao estado, e o movimento libertário se
jogará no suicídio rapidamente, muito para a
conveniência do estado.

31
Se libertários completamente se
ausentarem da ação política e da infiltração da
estrutura do estado, dedicando-se a converter
todos os outros ao libertarianismo e ao abandono
da política, é de se imaginar que ficarão dentro do
estado apenas os mais ferrenhos defensores da
agressão estatal, especialmente os socialistas e
comunistas. Conceder todo o poder do estado a
eles por desistência implica que eles poderão
doutrinar a população como quiserem e criar seus
grupos cada vez mais militarizados, como vimos
no caso da Venezuela. A implicação disso é que
eventualmente podemos chegar num cenário onde
o estado, tomado pelos piores socialistas e
comunistas, passa leis que ordenam a perseguição,
confisco de propriedade, prisão e execução de
libertários, liberais ou mesmo qualquer um que
não abertamente se declare socialista ou
comunista. Não faltam exemplos históricos. Já
existem grupos hoje que defendem tais políticas, e
abandonar o estado para estes grupos resultará
em enorme violência.
A política estatal é nojenta, mas não
podemos deixa-la para os piores dos estatistas.


DIRETAS E INDIRETAS

Até 2016 defensores da liberdade foram
forçados a tarefa humilhante de escolher qual
candidato destruiria a sociedade mais
vagarosamente. A escolha de um candidato dentro
da lógica do voto defensivo é um dos maiores
exercícios em futilidade imagináveis, já que é uma

32
certeza dada que o candidato escolhido não
defende valores libertários e será uma enorme
decepção, mesmo para quem tiver baixas
expectativas. Como podemos esperar que os
políticos atuais sejam amigáveis a ideias contrárias
a estrutura do estado se em muitas ocasiões
sequer são amigáveis as próprias ideias que eles
defendem e aos partidos que os acolhem?
Obviamente somos forçados a este recorrente
debate quando nenhuma opção libertária se
apresenta, mas não é uma estratégia que dará
algum resultado além de um retardo da
implantação do totalitarismo, onde os libertários
serão apenas mais uma frente de idiotas úteis que
avaliza candidatos estatistas, embora em menor
grau.
Outra possibilidade é a tentativa de
influenciar candidatos perifericamente,
estabelecendo estruturas de educação e
informação, promovendo uma visão libertária dos
problemas que se apresentam aos governantes e
criando uma base de pessoas interessadas em
propostas de redução e eliminação do estado,
simultaneamente sinalizando a políticos propostas
libertárias, apresentando uma grande base
popular que as apoiaria e direcionando o voto
destas pessoas para políticos que já defendem
ideias mais liberais. Esta estratégia tem mostrado
alguma capacidade de influência já que nos
últimos anos, ou em mais verdade nos últimos
meses, vemos mais e mais políticos citando mídias
libertárias, inclusive apresentando-as em
discursos e em propostas de lei.

33
A limitação desta estratégia é que
fundamentalmente trata-se de vitória por
conversão, e rapidamente fica evidente que não
podemos esperar derrotar os maiores defensores
do estatismo via conversão por mídias
majoritariamente digitais, além do fato de que tal
estratégia só encontra espaço nos políticos já
céticos do tamanho do estado e que sentem falta
de orientação, já que os socialistas, os
nacionalistas paternalistas, os protecionistas e os
políticos que se elegem com o puro intuito de
comércio de poder dificilmente darão ouvidos a
causa libertária.
Estas duas estratégias chamo de indiretas,
pois nelas os libertários estão fora do sistema
eleitoral de maneira completa, porém sua
aplicação não pode ser o centro do método já que
como vimos estão fadadas ao fracasso, devendo
ser utilizadas como estepes, como posições
indesejáveis na ausência de um envolvimento
direto. Aprendi desde cedo que se você realmente
se importa com algo, faça você mesmo, e que não é
razoável esperar que outros se importem tanto
com a sua causa tanto quanto você. O caminho
político direto, embora não seja simples, é a de
candidaturas de libertários, sejam elas dentro de
um partido de ideologia libertária ou não, porém
não podemos imaginar que essas candidaturas
podem acontecer sozinhas, num vácuo social
quase perfeito, e sim devem ser entendidos como
uma ponta de lança de um corpo libertário maior.
Se esperarmos apenas o período eleitoral para
propor candidatos, expor ideias e provocar
debates no curtíssimo tempo permitido, levaremos

34
milênios para conseguir alguma coisa. Segue-se
que precisamos compreender qual é este corpo
que embasa um partido, como este corpo funciona
e onde podemos operá-lo.
Felizmente já temos uma pequena
experiência para aprender. Até o ano de 2016 era
inimaginável propor candidatos libertários já que
o estabelecimento político não os aceitaria e a
criação de um partido no Brasil é extremamente
difícil, mas o cenário mudou. Uma piada recorrente
hoje é que todos os libertários do Brasil antes de
2010 caberiam dentro de uma Kombi, sentados.
Saímos desta situação para em 2016 apresentar
candidatos a vereador em ao menos quatro
partidos diferentes, vários com chance de eleição,
e uma candidatura a prefeitura de Porto Alegre,
mesmo que todas as campanhas estejam sendo
organizadas com praticamente zero experiência
eleitoral e financiamento.
E de onde veio este crescimento explosivo
que em alguns poucos anos saiu de um punhado de
libertários declarados para hoje um numero mais
próximo de 100mil, ou talvez mais? Ora, do recém
nascido mas crescente corpo libertário brasileiro.
É importante compreender as bases deste corpo e
suas chaves para sucesso especialmente
comparado ao desastre que foi o Partido Libertário
americano por muito tempo. O Partido Libertário
foi fundado nos EUA em 1971 com virtualmente
nenhuma base, estrutura ou organização libertária
no país, e o próprio Murray Rothbard, criador do
termo “Anarcocapitalismo” e maior teórico vivo do
libertarianismo abertamente fez troça ao fato de
que o partido, com seus menos de 100 afiliados, o

35
convocou para ser candidato a presidência com o
que Rothbard chamou de um “dilúvio de 5 cartas e
telefonemas”. Algumas décadas precisaram se
passar para que o PL tivesse maior projeção e
capacidade, e isto só ocorreu quando organizações
libertárias em outras instituições libertárias
surgiram para sustenta-lo, já que até então era
uma cabeça sem corpo, uma mente que não tinha
pernas para andar. Ninguém sabia o que era
Libertarianismo nem se interessava porque, antes
de tudo, não haviam libertários suficientes para
explicar o tema calmamente.
Um partido não é uma organização fechada
em si, mas sim parte de uma rede maior que
promove educação e divulgação das ideias, uma
rede que conecta instituições pessoas que estão
nas diferentes organizações da sociedade, entre
elas a educação básica e superior, a arte, a mídia,
os sindicatos, as forças armadas, os clubes e
associações comunitárias, e mais recentemente na
internet. A esquerda ocupa praticamente todos
estes espaços e por isso não é surpresa sua
enorme influência, já que transforma este corpo
numa arma extremamente letal de atuação política
e eleitoral, provocando o que é chamado de uma
morte por mil cortes. Libertários no Brasil
conseguiram encontrar um espaço muito
importante no veículo mais potente para estrutura
estatal no longo prazo: a educação, e estão
encontrando outro lugar na mídia. Além destes
também precisamos entender o papel do
trabalhismo e o sindicalismo que estão enraizados
no pensamento do trabalhador, o curioso caso do
setor empresarial que pede mais intervenção

36
estatal e a ação social de caridade. A limitação a
estes cinco casos não quer dizer que são os únicos,
mas os que são mais influentes hoje no aparato
político.

37
AS BASES LIBERTÁRIAS

A EDUCAÇÃO

Nossa situação educacional atual encontra
vários paralelos com a reforma da linguagem
descrita por Orwell em 1984: o governo do livro
estava alterando a linguagem e apagando palavras
para evitar que as pessoas fossem capazes de
pensar sobre certos conceitos e questionar o que
estava acontecendo. Similarmente a enorme
maioria dos brasileiros toma a estrutura do estado
como absolutamente necessária e inquestionável,
uma obviedade tão forte que sequer lhes ocorre
refletir sobre isso. Esta situação não é uma criação
da esquerda atual, já que ela na verdade apenas
tomou o controle da educação da mão dos
positivistas e estatistas de diferentes tipos, e assim
como Orwell aponta que quem controla o presente
controla o passado, e quem controla o passado
controla o futuro, os estatistas, positivistas e
depois a esquerda apagaram do passado brasileiro
a tradição liberal, pintaram os governantes
trabalhistas como a salvação da população e
retrataram o período monárquico como uma
ditadura escravocrata. A história comercial do
Brasil é retratada como uma história de
exploração, onde primeiro éramos roubados por
Portugal, depois pela Inglaterra e atualmente
somos roubados pelos Americanos. O período de
desenvolvimento forçado e intervencionista que
dominou a primeira parte do século 20 é retratado
como bem intencionado e bem sucedido, embora

38
não tenha sido intervencionista o suficiente, e a
grande inflação da época e enorme atraso em
relação a outros países que adotavam políticas
liberais é simplesmente ignorada. A cereja do bolo
é o suposto neoliberalismo que supostamente
destruiu o Brasil na presidência de Fernando
Henrique Cardoso, provando de uma vez por todas
que qualquer tentativa de política fora do
populismo intervencionista certamente matará a
população inteira de fome em menos de 6 meses.
Com uma visão tão distorcida da história a
conclusão sequer precisa ser dita para os
estudantes. Segue-se logicamente que o país
deveria nacionalizar praticamente tudo, eleger
presidentes mais intervencionistas, atacar o livre
comércio e regulamentar pesadamente o
empreendedorismo e colocar o empresariado
maligno de joelhos para a glória do trabalhador
explorado. Se existe um problema, este problema
deve ser imediatamente resolvido pelo governo,
afinal a iniciativa privada, embora bem
intencionada, é incapaz de coordenar coisas
sozinha e explorará a população inteira através de
monopólios e salários irrisórios.
Tal nível de condicionamento, cegueira
histórica e econômica significa que os conceitos
mais básicos terão que ser ensinados, que palavras
terão que ser aprendidas e reaprendidas, e que
alguns entenderão a ideia rapidamente e outros
não. Isto significa que libertários precisarão
exercitar extensivamente sua paciência e
habilidades de comunicação. Estamos tentando
derrubar uma cadeia de montanhas de proporções
continentais de filosofia estatista, intervencionista

39
e socialista, e onde antes da internet só tínhamos
um cinzel e uma picareta como ferramentas, agora
temos dinamite, mas ainda é um trabalho árduo e
por vezes muito frustrante que demorará muito
tempo a ser concluído.
Felizmente este trabalho já está em
andamento, embora em seus primeiros ensaios.
Com o advento da internet uma porta dos
fundos para a educação foi aberta, e por ela
entraram os libertários. Antes disso a presença na
educação poderia se dar somente com aval
governamental ou, no caso da esquerda durante o
regime militar, a doutrinação em universidades.
Quando os militares se retiraram do poder a
esquerda já havia treinado duas gerações de
professores, estes que depois se espalharam por
toda a rede de educação básica e de outras tantas
disciplinas do ensino superior, criando uma
hegemonia de pensamento que dominou o sistema
formal de educação até recentemente. Esta
hegemonia recebeu grande ajuda do excelente
trabalho empreendido pelo regime militar em
destruir quase todas as bases, organizações e
partidos conservadores e liberais de longa
tradição, enquanto deixou florescer a ação
socialista na educação, especialmente no nível
superior. Finalmente há de se reconhecer que o
positivismo nacionalista e intervencionista
característico da ditadura foi um bom ponto de
partida para a doutrinação e condicionamento que
se seguiram nos anos após o regime, já que
educadores socialistas não precisaram demonizar
o capitalismo nem o empreendedor, pois os
militares já tinham feito isso.

40
Esta hegemonia pedagógica da esquerda só
foi desafiada quando a porta dos fundos da
internet trouxe vários veículos diferentes de
divulgação libertária, e com a determinada ação de
divulgação de alguns libertários que correram o
país dando palestras, fomentando grupos e
promovendo debates contra as outras escolas
econômicas, políticas e históricas, além da vital
participação do Estudantes Pela Liberdade, uma
organização internacional dedicada a treinar e
educar estudantes para serem lideres na defesa da
liberdade.
Estas vozes encontraram ouvidos naqueles
que sentiam um cheiro estranho no ideário
socialista mas não sabiam o que era, que ainda
mais sofriam com a crença de estarem sozinhos,
imersos numa aparente hegemonia absoluta da
esquerda, quando em verdade os dissidentes eram
uma grande massa silenciosa, órfã de ideias,
sozinha em seu silêncio. Tão fértil era o solo que
rapidamente estes veículos saltaram para milhões
de acessos mensais, palestras e eventos aparecem
mais e mais e grupos de estudo começaram a se
formar nas universidades e escolas de ensino
médio em várias regiões do Brasil.
Estes grupos concorreram a eleições e
começaram a capturar Centros Acadêmicos, e
mesmo onde não ainda o fizeram estão sendo
capazes então de reverter a doutrinação e
condicionamento socialista e estatista,
promovendo uma educação mais livre e trazendo
pensadores liberais e libertários para dentro das
salas de aula. Este evento não pode de maneira
alguma ser subestimado, afinal justamente no

41
ponto mais forte da doutrinação estatista os
libertários encontraram um porto onde atracar.
Destes grupos e associações mais e mais veículos
surgiram, como sites de notícias completamente
libertários, ou mesmo apenas defensores do livre-
mercado, grupos locais com reuniões recorrentes
não ligadas a atividade acadêmica e hoje
apresentam candidatos e bases eleitorais.
Fora da educação formal a capacidade de
divulgação via internet encontrou muito solo nos
ouvidos dos “revoltados sem respostas”, as
milhões de pessoas que sabiam quase
instintivamente que algo fundamental estava
errado, exigem respostas e mudanças, mas não
fazem ideia de como consertar o sistema. Ao
oferecer uma nova explicação, uma explicação
diferente, coesa e filosoficamente embasada, uma
explicação com propostas simples e que atacam
diretamente a raiz do problema, muitos puderam
finalmente ver que é na estrutura do estado que
devemos buscar a origem dos problemas que hoje
se manifestam na sociedade. Foi com uma
mensagem simples e clara que luz foi jogada onde
antes só havia enrolação, politicagem e repetição
de tentativas falhas. Ao ouvir que “Imposto é
roubo”, “o estado é uma gangue de criminosos”,
“tudo deve ser privatizado” e tantas coisas mais, a
mente de muitas pessoas se abriu para uma nova
possibilidade que nunca é questionada, o que por
sua vez cada vez mais está forçando políticos e
estatistas de todos os tipos a defender suas
posições com relação a impostos, a CLT, restrições
de comércio, burocracias e bloqueio de aplicativos.

42
Este é outro ponto que não pode ser
subestimado. Creio fortemente que milhões de
brasileiros prontamente se identificariam como
libertários se soubessem que a proposta de fechar
o estado, abolir os impostos e privatizar tudo é
possível, válida e melhor do que o sistema atual e
não só um pensamento que nos ocorre em
momentos de raiva e revolta.
Onde na época de Konkin a educação era
extremamente centralizada e verticalizada,
praticamente imune a influências exteriores, e no
caso do Brasil onde praticamente inexistem
influenciadores que não sejam do campo socialista,
hoje temos uma superfície extremamente porosa a
ideias externas e avessas ao programa
governamental e ao controle de professores. Antes
da internet alunos dissidentes precisariam
empreender uma enorme pesquisa para encontrar
algum livro de qualidade capaz de contradizer a
doutrina socialista, mas hoje artigos de todos os
níveis de complexidade, vídeos, livros traduzidos e
mídias sociais permitem um acesso facílimo ao
contraditório. Se alguém quisesse criticar as ações
do Banco Central, por exemplo, precisaria possuir
livros e manuais de outros países e outras
vertentes econômicas, mas como isso seria
possível se praticamente ninguém os conhecia
também? Onde você começaria a procurar, sendo
que nem imagina o que está procurando? Como
poderíamos chegar a uma forma diferente de
conhecimento se os livros precisariam ser
traduzidos por editoras que dificilmente o fariam,
já que não havia incentivo financeiro para tal? Os
que não viveram esta era já estão acostumados

43
com o fato de que podemos divulgar a custo
negligenciável quase toda a bibliografia da Escola
Austríaca de Economia, os livros de liberais
clássicos como Mill e Locke, os tratados mais
obscuros de Oakeshott, Burke e Tockeville, e
finalmente autores extremamente
contemporâneos como Hoppe, de Soto e Block.
Mais importante ainda, temos acesso praticamente
gratuito e imediato a milhares de horas de
palestras de economistas, filósofos, historiadores e
tantos mais via YouTube. Sem esta revolução
digital seria impensável uma infiltração libertária
na educação, mas hoje o acesso é tão fácil que se
torna quase banal.
Vamos colocar este esforço e resultado em
perspectiva. O estado gasta dezenas de bilhões de
reais todos os anos com a doutrinação de sua
população jovem, e a décadas implanta no sistema
de educação uma mentalidade intervencionista,
anti-capitalista, anti-empreendedorismo e
infantilizadora. Os socialistas controlam este
aparato já a algumas décadas e já foram
hegemônicos. Eles possuem dezenas, talvez
centenas de milhares de professores direta ou
indiretamente, consciente ou inconscientemente
treinando jovens para o pensamento socialista.
Com a ação dedicada de algumas centenas de
pessoas e poucos recursos ao longo de cinco anos
nós libertários já abrimos um grande buraco na
hegemonia socialista, conquistamos milhares de
alunos e estamos em franco crescimento. Mais e
mais professores aderem as ideias liberais e
libertárias, e cada vez mais possuem mais material
e fontes para ensinar adequadamente seus alunos.

44
Assim como o Uber quebrou o monopólio dos
táxis, a infiltração libertária está quebrando o
monopólio das escolas. A assimetria de resultados
é brutal, e demonstra assim a eficácia e eficiência
destes métodos.
Contrário a situação do Partido Libertário
americano, temos cada vez mais pessoas educadas
no libertarianismo e com capacidade de divulga-lo
e defende-lo, e esta é a base mais fundamental
para uma ação política de sucesso e para servir
como incubadora para futuros candidatos
libertários. A penetração cada vez maior das ideias
de livre-mercado e direitos naturais na educação,
especialmente sua crescente presença na academia
transforma-as em ideias cada vez mais aceitáveis,
sendo portanto uma enorme força para mover a
janela de Overton para longe das ideias socialistas
e na direção de mais liberdade.
A participação política de libertários e o
aumento das chances de que sejam eleitos está
fundamentalmente ligada a educação, seja ela
formal ou a educação disponível fora das salas de
aula. Ajudar uma é ajudar a outra.


A MÍDIA

A queda da hegemonia da mídia tradicional
é mais uma das grandes portas abertas pela
revolução digital e pelo advento das mídias sociais.
Emitir opinião costumava ser um trabalho duro e
visto por poucos. Para publicar em um jornal
precisa-se vencer o crivo de dois editores e
potencialmente dos patrocinadores do veículo,

45
resultando que discordantes eram reduzidos a
jornais locais, facilmente censuráveis e de custo
relativamente alto. A televisão e sua devoção
maníaca pela mediocridade então eram um veículo
inalcançável, e o máximo de crítica dissidente do
status-quo poderia ser emitido em uma ou duas
novelas, ou numa reportagem sobre um fato
qualquer que desagradasse o governo. O sistema
passado gerava uma opinião homogênea e rasa,
facilmente influenciada por políticos e ideólogos
que controlavas as prensas e as câmeras, mas hoje
pequenas pessoas podem discordar fortemente do
status-quo, afinal com um celular ou um
computador qualquer um se torna um veículo de
mídia, e isto é um enorme perigo para o estado e
uma enorme oportunidade para libertários.
Adicione isto a uma pesquisa recente da FGV que
indicou que 45% das pessoas confiam na mídia
impressa e 34% confiam na televisão, ou seja, 55%
não confiam nos jornais e revistas e um brutal
66% não confiam na televisão, e vemos que existe
um enorme espaço vazio na comunicação de
eventos e narrativas.
Uma verdadeira guerra de narrativas foi
empreendida na campanha presidencial de 2014,
com o lado socialista vermelho do PT e seus
aliados pintando um país lindo e melhorando,
enquanto o lado socialista azul do PSDB e seus
aliados pintava um país e declínio e risco. A
narrativa dos vermelhos acabou por ganhar, mas a
duras penas e talvez apesar da narrativa que
tentaram retratar. Veículos de todos os tipos
questionavam a narrativa empreendida pelo
governo com dados de uma crise iminente, e isto

46
forçou o governo a se explicar e tentar desviar do
que posteriormente seria provado como realidade.
Obviamente teria sido mais fácil para o governo
sustentar sua narrativa fantástica do Brasil se
ainda estivesse no campo mais controlado dos
anos 80 ou 90. Tanto é verdade que o governo
empreendeu grandes quantias de dinheiro para se
fazer presente no espaço digital para tentar
rebater as acusações que sofria, e posteriormente
foi revelado e provado como usava dinheiro
oriundo de esquemas de corrupção para financiar
blogs que o apoiassem.
O perigo das mídias digitais é ainda maior
por sua capacidade de potencializar uma
mensagem. Um pequeno vídeo pode alcançar
milhões de pessoas, um artigo bem escrito em um
site razoável pode eliciar respostas de veículos
maiores. O Instituto Mises Brasil com seu humilde
site, alguns colunistas dedicados e traduções bem
escolhidas lançou uma nova vertente de
pensamento econômico no país, agora começando
a estabelecer parcerias com universidades para ter
influência no meio acadêmico, algo que
dificilmente aconteceria caso seus defensores
apenas tivessem pedido educadamente sem uma
massa de centenas de milhares de acessos
mensais. Sites como o Spotniks e o Mercado
Popular ofereceram uma narrativa libertária
menos acadêmica e mais popular, cativando
milhões de leitores todos os meses e se tornando
referencia até para o discurso de deputados e
senadores. Seus artigos são agora parte influente
da mídia digital e também estão sendo grande
incômodo para a estrutura estatal. Embora não

47
seja uma iniciativa libertária, O Antagonista hoje
atinge dezenas de milhões de visualizações todos
os meses e embora a mídia convencional resista
fortemente em valida-lo, se tornou referencia
entre aqueles que buscam saber sobre a política
brasileira, e forçou os políticos a mudarem seus
discursos várias vezes, e isso sendo que um dos
seus criadores sequer está no país.
A mídia digital é uma arma ainda maior em
campanhas eleitorais, já que o tempo convencional
alocado para partidos pequenos e emergentes é
praticamente nulo, uma estrutura desenhada para
manter o status-quo e forçar ideias menores a se
reduzirem e entrarem em acordos medíocres com
poderes maiores. Hoje uma campanha pode ser
feita quase inteiramente pela internet via vídeos e
textos, a um custo muito inferior do que a
panfletagem clássica de não mais que dez anos
atrás. O estado criou um muro contra novas ideias,
e agora temos uma escada. Possivelmente a maior
demonstração atual disso no Brasil seja o
fenômeno Bolsonaro, que embora tenha uma
mensagem longe do ideal libertário, mostrou como
uma ideia diferente pode ir longe com um público
que espontaneamente o defende e divulga. Nos
Estados Unidos a campanha de Gary Johnson
conseguiu sair de 1% de votos em 2012 para uma
presença de 12% nas pesquisas até agora, e
embora isso possa ser em parte atribuído ao
completo desastre que são seus oponentes, não se
pode negligenciar o fato de que sua presença
digital e a capacidade de gerar mídia de maneira
irrestrita e relativamente barata também tem um
efeito forte.

48
É notório o dizer de Mises que somente
ideias podem iluminar a escuridão, e a assimetria
de forças com mídias digitais transforma nossas
tochas em verdadeiros incêndios, forçando assim o
conflito de ideias que antes era evitado com o
acobertamento de opositores. Agora podemos ser
ouvidos. Aproveitem para falar.


O TRABALHISMO

A politização e estatização da estrutura
sindical, quase totalmente infiltrada por socialistas
ou mesmo comunistas dos tipos mais antiquados, é
uma fortíssima base para a expansão do poder
estatal e a disseminação da influencia socialista
contra a sociedade. Não é por acidente. Durante a
segunda guerra mundial o Reino Unido mobilizou
fortemente sua população, organizando brigadas
de trabalho e sindicatos e criando várias leis que
os davam vastos poderes. O resultado foi que
apenas dois meses após a rendição da Alemanha
nazista, Winston Churchill e o partido conservador
foram derrotados por uma margem de 11% nas
eleições nacionais, o que colocou o partido
trabalhista no poder, e o Reino Unido sofreu a
estagnação brutal do sindicalismo e o
planejamento central por três décadas até que
Margaret Tatcher finalmente desafiou o poder dos
sindicatos. Nos Estados Unidos os sindicatos de
professores controlam a educação do país,
garantindo seus empregos de maneira quase
eterna em detrimento da qualidade de educação,
além de serem abertamente de esquerda.

49
O Brasil não foge a regra, e o uso do
sindicalismo como uma base de poder do governo
Vargas, e sua mecanização como ferramenta
estatal foi fortalecida junto com a criação da CLT.
As leis sindicais e trabalhistas foram elaboradas ou
por influência do fascista Vargas ou por influência
de pensadores abertamente socialistas e
comunistas. É óbvio que o intuito desta estrutura é
o controle da população, a nacionalização das
relações e um forma de estender o poder federal e
infiltra-lo para dentro de todas as empresas.
Sindicatos possuem tantas regalias que
frequentemente me refiro a eles como as
capitanias hereditárias modernas. A chamada
“contribuição sindical” nada mais é do que um
imposto destinado a sustentar a classe dos
dirigentes de sindicato, confiscando 3,1 bilhões de
reais dos trabalhadores brasileiros apenas em
2015, recursos que ou foram desperdiçados por
sindicatos parasíticos ou pior, usados para erodir
ainda mais a liberdade de trabalho, e
recentemente as organizações sindicais
propuseram ainda mais uma taxação no
trabalhador, embora o projeto esteja longe de ser
aprovado. Todo mês uma nova profissão é
“regulamentada” e colocada embaixo da asa de um
sindicato que poderá fazer desta profissão
praticamente o que bem entender, estes sindicatos
novos se tornam braços de partidos e veículos de
financiamento político, divulgação de ideias,
pressão política e centros de treinamento e
promoção de futuros políticos socialistas.
Vários sindicatos agem para imobilizar
profissões regulamentando salários e fechando

50
recém formados para fora do trabalho,
encarecendo o acesso ao serviço fornecido e
piorando a vida de praticamente todos os
envolvidos, ou seja, não agem para proteger o seu
representado, mas para proteger os profissionais
já inseridos no mercado contra a competição de
novos trabalhadores. Um caso notório é o sindicato
dos bancários, que faz greve todos os anos com dia
marcado mesmo que a maioria dos bancários seja
contra e considere o ato todo uma enorme
palhaçada, furando as greves, trabalhando
“clandestinamente” e frequentemente pedindo
desculpas aos clientes pelas politicagens de um
grupo que não identificam como seus “defensores”.
Os resultados são que alguns recebem um pequeno
aumento que é pago pela demissão de funcionários
e aumento de taxas para os clientes, e mais e mais
empregos são cortados pelos bancos que
progressivamente enxergam seus funcionários
como problemas em potencial.
Outra influência nefasta dos sindicatos é a
quase incansável defesa dos supostos benefícios
da CLT, que na verdade nada mais é do que um
conjunto de impostos, a reserva de mercado, o
encarecimento do trabalho e portanto aumento
forçado do desemprego e a obrigatoriedade de
participação num esquema de pirâmide chamado
INSS.
Praticamente nenhum político ousa atacar
os sindicatos e suas quase infinitas fontes de renda
e poder, resultando que o poder sindical apenas
cresce e torna-se cada vez mais um partido político
se encaminhando para status de quarto poder.

51
É justamente por isso que sindicatos
podem ser uma base de atuação para libertários:
para libertar as pessoas desta relação de
exploração travestida de cuidado. Sindicatos
obviamente tem uma função como uma associação
de trabalhadores que busca aumentar seu poder
de negociação e melhorar as condições de sua
profissão. O problema é que esta relação foi
completamente pervertida e imposta
coercitivamente a todos os trabalhadores, sendo
obrigados a sustentar um sindicato que não talvez
não queiram e obedecer regras que talvez achem
estúpidas e desnecessárias. Estes trabalhadores
insatisfeitos com a representação forçada em
muitos casos se sentem isolados, presos ou
abandonados, e caso se oponham são
discriminados, difamados, perseguidos e até
agredidos fisicamente. Existe portanto uma
enorme demanda de milhões de trabalhadores
silenciosos que bem gostariam de ficar com o
dinheiro de sua “contribuição” sindical e trabalhar
nas condições que quiserem, sem sustentar uma
enorme classe política. Libertários precisam ouvir
esta demanda e ajudar a defender estes
trabalhadores da coerção dos sindicatos.
Obviamente é recomendável estar numa
profissão com menos intervenção estatal, e é
verdade que parte do poder sindical está sendo
erodido pela economia digital, mas ainda existem
casos onde isto demorará para acontecer, mas isto
ainda está longe de ser universal e uma grande
massa de pessoas não tem condições de
simplesmente abandonar suas profissões. Caso o
libertários encontrem-se em uma profissão onde

52
sindicatos exercem forte controle, é importante
que busquem unir os dissidentes e tomar este
controle das mãos de intervencionistas e
socialistas, retornando a função original de
representação do trabalhador e associação de
profissionais, reduzindo os custos aos
trabalhadores que anualmente tem um dia de seu
trabalho confiscado.
Sindicatos precisam ser expostos e
denunciados, pois não realmente protegem seus
trabalhadores e sim os utilizam como fonte de
renda e poder político. Isto deve ser feito pelos
trabalhadores libertários, por candidatos
libertários e por políticos libertários eleitos. É de
se esperar que os lideres sindicais nos ataquem
como inimigos dos trabalhadores, mas são eles os
inimigos e devem ser apontados como tal, afinal
são eles que precisam usar o poder coercitivo do
estado para roubar o salário de trabalhadores e
são eles que querem impor suas ideias a força nos
seus supostos representados. É fundamental
quebrar esta relação de doutrinação de defesa dos
supostos direitos dos trabalhadores para que as
massas acordem para o fato de que defendem algo
que os prejudica. Os libertários são os que
realmente defendem os trabalhadores e sua
liberdade de trabalhar, e devem se apresentar
como tal, enquanto os sindicatos defendem apenas
seus líderes e suas ideologias e devem assim ser
denunciados. Devemos perguntar sempre: se
sindicatos são tão importantes e benéficos, por que
tem medo que a filiação e pagamento possam
deixar de ser obrigatórios?

53

O EMPRESARIADO E O EMPREENDEDOR

No capitalismo de compadrio brasileiro já
tradicional de séculos, o empresariado aprendeu
de um jeito ou de outro que seu sucesso está
atrelado a sua colaboração com o governo, e em
específico com os governantes. Logicamente
quanto mais intervencionista a política de um país,
mais valioso é o poder da caneta dos políticos e
mais comercializado ele será. Não surpreende
então a observação de que grande fatia do grande
empresariado brasileiro está na cama com o
governo, de maneira geral pouco importando qual
é o governo, desde que esteja no poder, e que as
campanhas vitoriosas nos recentes ciclos tenham
sido as que mais receberam recursos do grande
empresariado, seja este recebimento legal ou
ilegal. Isto não se confina apenas as relações
absolutamente corruptas expostas nas recentes
operações anti-corrupção, especialmente na Lava
Jato, mas também inclui empresas que empregam
enormes somas de dinheiro em fazer lobby com
políticos, que pedem ou compram mais e mais
regulamentações para sufocar sua concorrência e
menos liberdade de comércio para reduzir sua
concorrência internacional.
Outra influência poderosíssima já foi
descrita: a educação. As escolas e universidades
que treinam nosso empresariado estão de maneira
geral empesteadas de intervencionismo e ideias de
colaboração com o governo, tornando legítima esta
relação naturalmente reprovável e fazendo com
que os próprios empreendedores não vejam o

54
valor do livre-mercado, crendo portanto que eles
precisam ser supervisionados pelo governo. Este
ponto em si já pode ser afetado pela ação libertária
dentro do sistema de educação em vários níveis,
mas devemos lembrar que podemos educa-los
diretamente via consultorias, ações contra
impostos ou de conscientização sobre o peso da
burocracia e tantos outros.
Isto é ainda mais verdade no nível local, ou
talvez no nível estadual, e menos presente no nível
federal, já que as empresas de porte suficiente
para influenciar políticos e políticas em nível
federal são difíceis de alcançar. Doações de
empresas estão proibidas por lei, mas qualquer um
com uma visão mais ampla vê que isto muito
possivelmente pode ser algo temporário, e já
existem pressões para reverter esta lei. Mesmo
que continuem proibidas e empresas não possam
apoiar campanhas e candidatos financeiramente,
ainda podem apoiar iniciativas de educação,
iniciativas de mídia e tantas outras que como
vimos anteriormente possuem um efeito indireto
na promoção política do libertarianismo, e
sabemos que estas ações frequentemente possuem
um custo relativamente baixo e um efeito
assimetricamente forte. Um caso também notório é
o financiamento de campanhas contra a taxação e
contra a burocracia, como personificadas em
eventos como a “Cerveja sem Impostos” realizada
no Brasil já a alguns anos e que capturou
manchetes nacionais, e campanhas maiores para a
conscientização sobre a carga tributária.
Outra influência poderosa do meio
empresarial é sua união em associações de

55
comércio e indústria, associações que são
comumente buscadas pelos candidatos em
períodos eleitorais e mesmo em épocas de votação
de projetos. Tais associações também tem a
capacidade de propor leis, especialmente no caso
de redução de impostos e burocracias, e possuem
grande peso para se fazerem ouvidas. Como vimos
anteriormente é curioso que elas não o façam, mas
em grande parte isto pode ser uma combinação de
não saber o real efeito que o estado tem sobre seus
empreendimentos ou, talvez mais importante
ainda, não saber que tais políticas podem ser
revogadas e o combate contra elas é viável,
especialmente o combate contra as destruidoras
legislações trabalhistas já anteriormente vistas,
que embora prejudiquem todos os envolvidos,
especialmente os trabalhadores, são
ferrenhamente defendidas.
Empresas grandes possam favorecer
candidatos intervencionistas para que deles
possam comprar benefícios, especialmente numa
nova era digital onde aplicativos como o Uber,
Shipify, Home Refill e tantos outros ameaçam a
estabilidade de grandes negócios. Do outro lado, os
libertários podem encontrar no médio, no
pequeno empresariado e especialmente no
microempreendedor uma grande força para a
colaboração em vários níveis diferentes, e também
uma parte da fatia da população que como indiquei
anteriormente poderia rapidamente se identificar
como libertária, afinal sabe bem como o estado
prejudica quase todos para o ganho de poucos.

56
A CARIDADE

Libertários querem o fim do estado gigante
paternalista, e por isso são frequentemente
acusados de não se importar com os mais pobres e
necessitados, assim como qualquer um que quer
reduzir mesmo que apenas um centavo de gasto
estatal é acusado de defender o genocídio das
pessoas mais necessitadas. Liberais, libertários ou
qualquer um que ataque o estado de bem estar são
rapidamente pintados como seres completamente
egoístas, sem coração e que não tem nenhuma
consideração pelos outros. O bom e velho
espantalho emocional. Esta acusação acaba por
colar pelo efeito que chamo de “terceirização
moral”, que ocorre quando o estado toma para si
algo que deveria ser feito pela bondade das
pessoas, e toma esta função por tanto tempo e tão
vigorosamente que a população se esquece que a
caridade pode ser feita de maneira privada.
Geralmente isto é acompanhado pela narrativa de
que antes do estado tentar resolver este problema,
mesmo que normalmente falhe completamente na
tentativa, ninguém tentava resolver este problema
e todas as pessoas eram abandonadas
eternamente. Isto leva muitos a defenderem a ação
estatal e a pesada tributação usando a justificativa
de que o papel do estado é ajudar os pobres,
doentes, deficientes e abandonados.
Como pessoas tem uma tendência a não
trocar o certo pelo incerto e dificilmente
abandonam uma ideia sem uma proposta melhor,
segue-se que é necessário que libertários provem
por demonstração que podem fazer caridade e que

57
a sociedade não precisa de coerção estatal para
faze-lo. Podemos falar longamente sobre ética,
filosofia, economia, incentivos e teorizar
estruturas, mas não é suficiente. Podemos também
expor longamente como a ação estatal age
fortemente contra os pobres e como sua
ineficiência enorme desperdiça vultuosos recursos
sem atingir uma pessoa sequer, mas não basta
apenas mostrar o erro. A verdade é que nada bate
a boa e velha demonstração prática.
É importante ressaltar que isto não é uma
forma de comprar votos via caridade ou que está
apenas sendo feito para enganar pessoas, e sim
pela necessidade urgente de demonstrar que a
caridade privada é moralmente superior, mais
eficiente e, acima de tudo, possível de ser feita sem
o estado. A demonstração de iniciativas de ajuda
aos necessitados, de educação gratuita ou a baixo
custo, de serviços de saúde, de construção de casas
e outras estruturas, bem como iniciativas de
preservação do meio ambiente, são necessárias
para quebrar ilusões e preconceitos longamente
perpetuados sobre praticamente qualquer um que
não é um socialista, e mais ainda necessárias para
acabar com o vinculo de dependência criado entre
o estado e os pobres que ele cultiva como eleitores
permanentes, permitindo que os que estão
atualmente presos no ciclo de infantilização estatal
possam quebra-lo, mesmo que vagarosamente.
Vários projetos de caridade empreendida
por libertários já estão em movimento, mas
estamos longe do numero ideal, qualquer ele seja.
O maior atualmente empreendido é o Ação
Humana, que se desenvolveu dentro do Estudantes

58
Pela Liberdade e hoje atua independentemente,
além de outros projetos pequenos empreendidos
por libertários dedicados por todo o Brasil, várias
com parcerias com o empresariado local,
validando o exposto no ponto anterior sobre a
importância de entender o empresariado como um
potencial aliado para a formação de uma base
libertária.
Precisamos ensinar novamente um
conceito de caridade que aparece nos
ensinamentos cristãos e na filosofia de Ayn Rand: a
verdadeira, moral e boa caridade é só a feita pela
vontade livre e espontânea do indivíduo que
naquilo enxerga um valor maior que seu ganho
financeiro. A suposta caridade empreendida pelo
estado não pode ser entendida como caridade pois
não é opcional, já que os pagadores de impostos
não o fazem por amor ao próximo, mas por medo
do fuzil governamental, porém enquanto o fuzil
governamental for percebido como o monopolista
da virtude, mesmo que falsamente, será defendido
pelos que precisam desta ajuda e pelos que não
enxergam a verdadeira natureza do estado.
Infelizmente cada vez mais recursos são
roubados e absorvidos pelo estado, criando uma
espiral onde cada vez menos produção fica livre
para ser destinada a caridade, o que por sua vez
cria uma escassez e larga pessoas sem ajuda,
pessoas que então são absorvidas pela falsa
caridade do estado. A atuação de libertários dentro
da política, especialmente se eleitos, não pode se
focar apenas no econômico e no cultural e
esquecer de visar quebrar esta relação de
dependência e falsa caridade, visando

59
reestabelecer as verdadeiras relações sociais de
ajuda e socorro aos necessitados, libertando-os
para votar contra a tirania estatal. Enquanto o
estado for entendido como uma rede de segurança,
poucos irão querer retirá-la.

60
CANDIDATURAS LIBERTÁRIAS –
METODOLOGIA E MENSAGEM

Chegamos ao ponto que devemos nos
perguntar então como elaborar e realizar a
candidatura de libertários e as posições que devem
defender. Antes de qualquer coisa precisamos
reconhecer duas dificuldades inerentes a esta
proposta. A primeira é que não podemos prever a
ação humana e planejar centralmente qual será a
ação mais eficiente e mais bem recebida por
milhões de pessoas com ideias, desejos e
conhecimentos diferentes. Seria arrogante de
qualquer humano elaborar exatamente uma
plataforma com um suposto sucesso garantido, e
ao invés disso devemos reconhecer como bons
defensores do livre-mercado a importância da
descentralização, do aprendizado pelo erro, da
competição e da importância do marketing. Deste
primeiro ponto nasce o segundo: enquanto uma
empresa pode testar vários produtos em vários
mercados e alterar sua proposta com grande
velocidade, candidaturas podem ocorrer apenas a
cada dois anos, e dado que são para postos
diferentes, pode-se considerar até um período de
quatro anos. Isto significa que avançaremos em
habilidade de vender nossa mensagem de
liberdade com uma velocidade semelhante a uma
empresa que pode apenas propor um produto
novo a cada dois ou quatro anos, sem poder fazer
modificações pequenas no processo.
Devemos também reconhecer que a base
filosófica de um princípio de não agressão nos

61
proíbe completamente de propor, endossar ou
aprovar leis e projetos que aumentem o estado.
Isto não é negociável. Princípios não podem ser
traídos e devem sempre tomar precedência sobre
o pragmatismo, a elegibilidade ou até a
popularidade de uma mensagem. Esta linha vital
com um princípio filosófico e um objetivo maior é
absolutamente fundamental para evitar que a
proposta libertária se degenere em mais
intervencionismo bem intencionado ou
pragmatismo barato, e é esta linha vital que nos
diferencia dos políticos convencionais e seu esgoto
moral. A liberdade precisa ser defendida por ser
liberdade, por seu mérito moral acima de tudo,
mas também por seu histórico fantástico de
contribuição para o desenvolvimento humano.
Esta defesa contínua de um princípio
oferece a primeira de várias diferenças
importantes entre a proposta libertária e a
proposta dos outros partidos: coerência e
confiabilidade. Uma das coisas mais aversivas para
o humano é o risco e a incerteza, e a capacidade de
oferecer uma direção clara e confiável tem um
enorme valor, mesmo que o avanço nessa direção
não seja tão veloz. Muitos dos partidos mais
convictamente socialistas abandonaram seus
ideais e fizeram acordos em benefício da
mediocridade, e estra traição de suas bases
degenerou sua força, partindo seus partidos e
atrasando seus objetivos. Foi precisamente esta
confiança numa coerência filosófica interna que
manteve o Partido dos Trabalhadores no poder,
pois muitos de seus membros e defensores
simplesmente não conseguiam acreditar que o

62
partido se renderia a corrupção, aos acordos
espúrios e a politicagem, mas uma vez destruída
esta farsa o partido perdeu força muito
rapidamente e hoje se encontra em estado de
debandada, muitos fugindo para as asas do
curiosamente nomeado Partido Socialismo e
Liberdade, já que este ainda mantém sua imagem
de coerência e confiabilidade. A política é um jogo
nojento, mas se eleitores conseguirem enxergar
como a mensagem libertária é diferente e confiar
nesta mensagem, aí temos uma base
importantíssima.
E é por este apreço a liberdade por ser
liberdade que devemos rejeitar o discurso de um
estado mais eficiente ou de uma administração
“melhor”, pois esta é uma ideia antagônica a
proposta libertária. Não existe tamanho eficiente
do estado assim como não existe tamanho
eficiente do roubo ou do homicídio, e não é
possível administrar o estado “melhor” assim
como não faz sentido falar em melhorar a
qualidade do sequestro ou da extorsão. Pode ser
praxeologicamente deduzido que a redução da
intervenção estatal beneficiará a população no
longo prazo, mas não por mérito da qualidade da
intervenção, como prega o eficientismo, e sim por
sua ausência, assim como uma redução no numero
de homicídios seria bem vinda não porque
supostamente apenas as pessoas certas estariam
morrendo, mas simplesmente porque menos
pessoas estão morrendo.
O problema da defesa do eficientismo é
que ela esquece de criticar a imoralidade inata da
ação do estado e acaba por valida-la, já que admite

63
implicitamente que existe um nível de roubo
justificável, o que é um absurdo completo.
Podemos propor a redução parcial de um
programa estatal se a completa abolição dele
estiver fora da capacidade do candidato ou
realisticamente fora do que ele poderá fazer se
eleito, e podemos inclusive argumentar
praxeologicamente que um grande corte pode ser
feito e ainda sim um melhoramento do serviço
pode ser verificado como uma consequência
secundária já que a iniciativa privada atenderá a
demanda, mas o que restar do programa jamais
pode ser defendido como algo bom, necessário ou
como um objetivo, e sim como um limite da
capacidade política do momento.
Digamos que candidatos libertários a
deputados federais se elejam com a proposta de
extinguir o imposto de renda. Estes candidatos não
devem defender o fim do imposto de renda com
base na eficiência da tributação ou com o
argumento de que outros impostos podem ser
aumentados e provocariam menos interferência na
economia, mas sim porque o imposto de renda
força pessoas a produzirem provas contra si
mesmas, força-as a trabalhar como coletoras de
impostos para o governo sem remuneração, força-
as a estilhaçar sua privacidade e a privacidade de
outros, força-as a denunciar seus amigos e
associados e acima de tudo é um roubo, como
qualquer outro imposto. Se outros impostos forem
mantidos, estes candidatos libertários devem
ataca-los também, deixando claro que a parte
restante deveria ser abolida também e só não foi

64
pois não houve tempo ou capacidade política para
tal, embora vontade não faltasse.
Outro ponto forte da proposta libertária
que pode muito bem ser levantado em
candidaturas é que somos os únicos capazes de
apontar uma direção concreta e clara, um projeto
que pode ser defendido honestamente e
abertamente: a abolição de impostos, o fim do
poder político e portanto o fim da corrupção, a
liberdade econômica com a prosperidade que a
segue, uma sociedade realmente capaz de tratar a
todos igualmente, e acima de tudo uma sociedade
moral e onde cada indivíduo está livre para buscar
sua definição de felicidade desde que não agrida os
outros. Isto aparece em forte contraste com o fato
de que a maioria dos partidos não tem uma visão
de longo prazo, apenas propostas locais e
remendos genéricos sem nenhuma visão de longo
prazo que seja admirável. Os partidos de esquerda
possuem uma visão definida em sua literatura,
porém poucos deles a defendem abertamente, já
que sabem que quase todos rejeitariam a proposta
imediatamente, especialmente frente as recentes
demonstrações brutais do plano socialista
executado na Venezuela. Nós libertários somos o
único grupo que pode propor um futuro mais
próspero, temos um longo currículo da aplicação
da liberdade para mostrar seu efeito, e podemos
entregar a promessa enquanto os outros partidos
podem apenas prometer mediocridade e
estagnação, e mesmo assim falhar na
mediocridade e entregar uma crise devastadora.
Assim como não devemos jamais
subestimar a capacidade mobilizadora de um

65
sonho que pode se tornar realidade, nem devemos
subestimar ou esquecer a importância de
comunicar este sonho de maneira clara e concisa.
Muitos dos libertários são acadêmicos da
economia ou do direito, e este ambiente acadêmico
não valoriza a comunicação clara e sim a
comunicação pomposa, a linguagem científica, as
longas elaborações os argumentos mais
complexos, enquanto o discurso político tem tons
muito mais próximos ao do contador de histórias.
Imagino que muitos libertários podem entender
esta proposta como uma diluição da mensagem
libertária ou uma degeneração do brilhantismo
das teorias de Mises, Hoppe, Rothbard e tantos
outros, mas comunicação não é sobre reduzir uma
mensagem e sim sobre transmiti-la. A simples
verdade é que a enorme maioria das pessoas não
sabe nem se importa em saber as complexidades
do funcionamento de um sistema de previdência
estatal, de como ele é afetado pela manipulação de
moeda empreendida pelo banco central, de suas
vulnerabilidades à corrupção nem de sua natureza
de esquema de pirâmide, mas estão interessadas
em receber suas pensões e saber que seu futuro
está assegurado, e muito mais provavelmente
ouvirão uma mensagem simples como “Se o estado
não cuida de você hoje, não vai cuidar de você no
futuro”.
Milton Friedman atingiu notoriedade não
por suas teorias, mas por sua capacidade de
comunicar clara e habilmente a importância do
livre mercado. Ayn Rand elevou o libertarianismo
para além de uma teoria e a transformou numa
história, em emoções e em cenas literárias, além de

66
sua habilidade de explicar clara e
apaixonadamente o perigo do socialismo. Thomas
Sowell ficou famoso por suas frases de efeito,
histórias ilustrativas e por sua escrita concisa e
popular sobre os danos do intervencionismo. Ron
Paul conseguiu boa parte de seu sucesso por frases
como “Não roube, o governo odeia concorrência” e
“Não é coincidência que o século da guerra total
coincidiu com o século dos bancos centrais”. Os
autores fundamentais ao desenvolvimento da
liberdade jamais devem ser esquecidos, porém sua
mensagem precisa ser melhor comunicada, e este é
um atual e importante desafio aos libertários.
Também precisamos comunicar a
mensagem da liberdade de maneira positiva, e não
apenas como uma crítica eterna, e isto é parte de
oferecer uma visão de futuro para a sociedade.
Frequentemente ficamos presos em criticas ao
estado, ao intervencionismo e aos socialistas e
tantas coisas mais, mas precisamos também
exaltar o valor e importância da liberdade.
Tomemos como exemplo o atual debate da lei
“Escola Sem Partido”. A proposta foi recebida
como um ataque a educação por várias pessoas
que normalmente defenderiam a liberdade de
educação, mas como a proposta contém apenas
uma pauta negativa – a proibição de ensino de
certos conteúdos considerados como doutrinação
política – fica aos defensores da proposta o ônus
da prova de por que esta proibição deve ser
instituída, e os que estão de fato doutrinando seus
alunos posam como defensores da educação, além
do fato de que esta não é uma proposta libertária
já que restringe o direito de expressão. Uma

67
alternativa libertária seria um “Escola Sem
Estado”, um projeto que busca dar maior liberdade
e diversidade ao ensino através da
desregulamentação e desburocratização do serviço
de educação. O projeto incluiria: a) desobrigação
de seguir o currículo educacional mandado pelo
estado via Ministério da Cultura, transformando-o
em apenas uma recomendação ou preferivelmente
abolindo-o completamente b) eliminaria qualquer
lei que ordena que pais enviem seus filhos para as
escolas, permitindo então a educação domiciliar e
qualquer outro formato de educação dentre os
vários que estão em desenvolvimento e c)
extinguiria o ENEM, já que ele opera indiretamente
como uma regulamentação do ensino. A proposta
liberta enormemente a educação pois permite que
formas de ensino via plataformas digitais sejam
utilizadas, iniciativas como a Khan Academy ou as
milhares de horas-aula que estão disponíveis
gratuitamente no YouTube e plataformas
similares, cobrindo todo o currículo escolar atual e
muito mais com muito mais qualidade. Frente a
um projeto positivo como esse, que visa apenas
abrir a educação para a inovação, reduzindo o
poder do estado e como consequência disso
reduzindo sua influencia doutrinadora, opositores
se veriam forçados ao ônus da prova, isto é, por
que então a educação não deveria ser livre? Por
que então o modelo atual deve ser forçado? Por
que sindicatos querem me obrigar a dar meus
filhos a eles? Por que os pais não podem ter
controle sobre o que seus filhos estudam?
Como dito anteriormente, devemos evitar
a armadilha do eficientismo mas devemos também

68
defender com muita paixão e criatividade as
virtudes e possibilidades da liberdade. É possível
defender a desburocratização e
desregulamentação da saúde porque beneficiaria
puramente com base no argumento de que o
estado financia este serviço com dinheiro roubado,
mas também podemos argumentar
praxeologicamente que este aumento de liberdade
elimina distorções estatais e assim permite o
verdadeiro mercado do serviço de saúde,
melhorando a qualidade e acesso especialmente
para a população mais pobre e assim quebrando
então a relação de dependência com o estado.
Podemos defender a liberdade de comércio pois
qualquer intervenção estatal necessariamente
envolve coerção, mas podemos adicionar que
logicamente o efeito de maior liberdade de
comércio é comprovadamente a redução brutal da
miséria e da pobreza. Tais argumentos não são
dados como o motivo para se defender liberdade, e
sim como consequências lógicas de sua
restauração como um sistema moralmente
correto. A liberdade é de fato o único sistema
moral e racionalmente defensável, mas não há
nada de errado em também defender sua beleza,
desde que tal defesa não seja enrolada no manto
do eficientismo ou de uma suposta melhor
administração, e sim como um mérito natural da
liberdade e um defeito natural do estado.
E precisamente porque a liberdade é tão
bela, deve ser defendida abertamente. O ano de
2016 viu o inicio de candidaturas libertárias via
alguns partidos, mas em muitos casos estes
candidatos pareciam resistentes a se identificar

69
como tal ou se diferenciar mais fortemente do
bando medíocre que é a política convencional
estatista. Num “mercado” tão saturado quanto o de
candidatos políticos onde é praticamente
impossível diferenciar um partido de outro, onde
todas as propostas convergem para uma direção
muito semelhante, certamente é uma vantagem
poder se diferenciar e chamar atenção justamente
por isso. Não deve haver vergonha ou segredo ao
redor de afirmar que impostos são roubo, que a
máquina estatal não é sustentável, que ela
distribui privilégios para poucos aos custos de
muitos ou que ela não deveria existir pois
necessariamente rouba como um meio sustento. A
própria Margaret Thatcher, muito longe de ser
libertária, abertamente falava que o governo não
tem dinheiro algum, apenas o dinheiro das
pessoas, uma frase que poderia facilmente ter
saído do mais radical dos libertários, e ainda assim
Thatcher foi Primeira Ministra do Reino Unido por
11 anos. Não deve haver medo ou vergonha
alguma em revelar nosso objetivo de fechar o
estado completa e eternamente, e sim bons e
simples argumentos para defender esta posição,
afinal posições veladas e objetivos ocultos não
ficam ocultos eternamente, e não existe
necessidade em ocultar algo que seria benéfico
para toda a população salvo os maiores dos
parasitas que hoje controlam o estado.
E finalmente a plataforma libertária faria
muito bem em recuperar causas furtadas por
partidos de esquerda, afinal sabe-se bem que
historicamente a defesa da igualdade e da
liberdade é uma pauta liberal e libertária, sendo

70
antagônica a proposta da esquerda. Devemos
afirmar claramente que somos nós que
verdadeiramente defendem a sociedade humana
como um todo, e não a soberania de um indivíduo
sobre outro. Foi a filosofia liberal que
fundamentou a abolição dos escravos, a igualdade
entre homens e mulheres e, logicamente,
fundamenta a igualdade de direitos de todos os
indivíduos independentemente de suas diferenças.
A causa do feminismo e a causa LGBT foi
transformada em arma, mas é compreensível que
estes que hoje são usados como massa de manobra
pela esquerda tenham sido atraídos por ela, já que
a esquerda foi a única que se colocou abertamente
como defensora destas causas, mesmo que com
segundas intenções. Igualmente deveríamos exigir
a restituição do título de “defensores dos pobres”
furtada pela esquerda, já que a base filosófica e
econômica que vem sistematicamente erradicando
a pobreza é o liberalismo e não o socialismo, além
do intervencionismo que no Brasil só produziu
décadas perdidas e inflações gigantescas.
A causa libertária é a única que
verdadeiramente é a causa de todos, e deve se
apresentar orgulhosamente como tal, não
permitindo que outros se apropriem
indevidamente daquilo que não fizeram, ou pior,
daquilo que lutaram contra.

Não presumirei capacidade de ditar quais
causas e projetos são prioritários para candidatos
libertários, afinal isto não pode possivelmente ser
planejado por apenas uma pessoa, especialmente
fora da época e situação política onde virão a ser

71
propostas. Creio que uma reforma na educação é
urgente, e sempre foi urgente desde o primeiro dia
que o estado enlameou a educação com suas patas,
mas no cenário político e econômico atual é difícil
escapar das propostas de reformas econômicas.
Ademais, nunca se sabe quando um movimento
acerta tão bem sua mensagem que é capaz de criar
sua própria causa, afogando o cenário político. O
exemplo mais feliz atual é o Brexit provocado pelo
United Kingdom Independence Party (UKIP), que
conseguiu pautar nas eleições gerais britânicas a
participação do país na União Europeia, o que
forçou líder do partido conservador a propor um
referendo como tentativa de reter votos
conservadores que poderiam desertar para o
UKIP. O resultado foi que o referendo foi realizado
e as ações do UKIP conseguiram provocar a
separação, jogando o projeto de super-estado
europeu inteiro em dúvida. O exemplo menos feliz,
mas que merece ser citado, é Donald Trump e
como conseguiu trazer para pauta central a
imigração, assunto que anteriormente ficava
relegado ao porão político americano.
Estes exemplos mostram uma noção
relativamente contra-intuitiva: não é necessário
vencer uma eleição para conseguir que sua ideia
seja implantada. O UKIP teve apenas 12,7% dos
votos, ganhando apenas dois assentos num
parlamento de 650 deputados, mas forçou a
votação para saída da União Europeia em 2016 e
venceu. A presença crescente de libertários
atacando a política e o estado eventualmente
forçará o debate sobre o assunto, sendo que já
existe interesse cada vez maior no tamanho da

72
carga tributária, na complexidade do estado e na
corrupção inerente de suas ações. Mesmo um
candidato a cargo executivo com expressão
pequena, digamos 5% ou 10% do eleitorado, já
pode forçar um debate no segundo turno sobre sua
pauta principal, afinal os candidatos restantes
terão interesse em colher eleitores de outras
vertentes. Mesmo que vitórias demorem para ser
encontradas, devemos pensar que apenas
provocar o debate em si já é uma vitória e pode
apenas nos beneficiar.
Ações mais específicas exigem antes de
tudo um entendimento profundo da estrutura do
estado a ser atacado, seja ele municipal, estadual
ou federal. Exige criatividade em pensamento e em
propostas, exige coragem e dedicação, e acima de
tudo exige paciência. O UKIP levou 23 anos para
conseguir a separação tão desejada, e ainda dois
anos levarão para que o processo seja completo.
Dado que estamos enfrentando um monstro ainda
maior, penso que seria muito otimismo acreditar
que conseguiríamos atingir tão cedo o objetivo
final de encerrar o estado, mas não deixo de
acreditar que existe uma possibilidade, mesmo
que mínima. Coisas mais bizarras já aconteceram.

73
O FREE STATE PROJECT

Antes de irmos as conclusões finais, existe
uma estratégia em particular que merece nota
especial. Em seu livro “O que deve ser feito” Hans
Hermann Hoppe fala sobre uma revolução de
baixo para cima, usando a democracia e o voto
como um meio defensivo para atingir métodos não
democráticos, como a restituição da soberania do
indivíduo, o controle de sua propriedade e a
liberdade de comércio. Ele argumenta que não
devemos gastar muitos recursos ou energias em
eleições federais, e sim focar os esforços no local,
especialmente em locais particulares onde
libertários sejam uma grande fatia da população
ou onde a população esteja mais aberta a ideias de
redução do estado.
Um projeto de libertários americanos
levou esta ideia a um novo patamar. Se existem
muitos libertários no país, mas estão dispersos e
seu poder de voto é diluído pela maioria estatista,
por que não concentrar libertários em um estado
ou em algumas cidades e lá, atuando na política
local, reduzir o estado o máximo possível? Esta
iniciativa foi chamada de Free State Project, um
projeto de migração política. Tratava-se de um
contrato entre libertários, concordando que se 20
mil pessoas o assinassem, todas se mudariam para
um estado de New Hampshire, escolhido por sua
pequena população e cultura mais similar a
proposta libertária. O contrato conseguiu 20 mil
assinaturas em fevereiro de 2016 e as mudanças
começaram, embora possam levar ainda mais
cinco anos.

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Em concepção trata-se de um plano genial
e simples para criar uma maioria local de
libertários, e mesmo antes de sua instalação alguns
defensores do projeto conseguiram se eleger para
cargos estaduais, já atuando para a redução da
intervenção estatal nos direitos naturais dos
indivíduos, e provavelmente resultados ainda
melhores serão obtidos quando mais e mais
libertários começarem a povoar o estado,
influenciar seus vizinhos e colegas e mudar a
cultura local de baixo para cima.
Tal estratégia terá sucesso mais
rapidamente nos Estados Unidos do que no Brasil,
afinal a legislação americana dá muito mais
autonomia e poder aos estados individuais e as
câmaras municipais, enquanto a legislação
brasileira restringe governadores e transforma
prefeitos e vereadores ao equivalente político de
guardinhas de parque, ficando o grosso do poder
centralizado na federação. Isto não quer dizer que
tal estratégia não funcionaria jamais por aqui, mas
que encontraria mais dificuldades, embora não
possamos deixar que estas dificuldades nos
desanimem.
De qualquer forma a formação de uma
massa libertária local e forte pode ter grande
influência na política local, resultando na remoção
de políticos corruptos e intervencionistas e sua
substituição por políticos libertários que se
devotarão as desmanche do poder e da estrutura
estatal. Como Hoppe indica, tal estratégia
eventualmente resultaria numa separação prática,
já que o governo local irá colaborar cada vez
menos com o governo central. Tal distanciamento

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pode eventualmente culminar numa separação de
fato, tornando soberana a região e por conseguinte
tornando soberanos os libertários lá, o que levaria
rapidamente a extinção do estado naquela
localidade.
Não há dúvidas que este processo de
liberação, embora seja inevitavelmente gradual,
trará prosperidade a região e colocará em cheque
as promessas do estado de fornecer bem estar e
tantas coisas mais. Como indiquei anteriormente, a
elaboração teórica da liberdade é extremamente
importante, mas muitos ouvirão o gritante
exemplo da manifestação prática de uma redução
contínua do estado, e políticos intervencionistas
cada vez mais terão dificuldade de justificar seu
poder.

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A VITÓRIA FINAL –
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Primeiramente, vamos examinar alguns
argumentos que podem ser usados pelos críticos
ao envolvimento libertário na política.
Existe o argumento de que o estado
mínimo se torna agradável ou imperceptível, e que
a estratégia política irá falhar porque conforme o
estado for reduzido, sua invasão será cada vez
mais tolerada e o objetivo final não será alcançado.
É verdade que nenhuma sociedade até hoje aboliu
o estado permanentemente e que muitos que
vivem em estados mínimos ou estados bem
disfarçados estão acomodados com esta relação,
mas também é verdade que existem estados
extremamente vorazes e gigantescos que possuem
uma população igualmente domesticada. Não
podemos atribuir o costume e tolerância do estado
ao seu tamanho e sim a ideologia de sua
população, e nenhuma população até hoje teve
ideais fortemente libertários de rejeição completa
do estado, ou seja, o exemplo histórico de estados
pequenos não é válido pois não fatora que não
existia a ideia de que o estado não deveria existir.
Outro argumento que pode ser erguido
contra a política é acusação de que é
inerentemente gradualista, porém isto não é
necessariamente verdade. Um policial que prenda
alguns criminosos mas não consegue prender
outros está defendendo que certa quantidade de
crime deve existir? Certamente não. Embora o
envolvimento político resulte numa mudança

77
necessariamente gradual afinal não é realista
imaginar que o estado será encerrado em apenas
uma eleição, isto não significa necessariamente
que estes políticos libertários não aboliriam o
estado completamente caso pudessem. Eu
certamente o faria caso pudesse, mas se fosse
impedido por forças fora do meu controle,
eliminaria tudo que estivesse dentro do possível. É
verdade que alguns libertários de fato defendem
que a mudança deve ser gradual e não instantânea,
e isto é um erro pois valida o estado no mínimo
como uma ferramenta de transição e compromete
a aderência ao princípio de não agressão, mas não
significa logicamente que a pecha de gradualismo
deve ser lançada em cima de qualquer libertário
que se envolva com a política.
A ineficiência de uma candidatura política
também é um ponto importante, um que eu
mesmo já fui grande defensor, isto é, a ideia de que
enormes recursos humanos e financeiros são
empregados em campanhas que podem não ser
vitoriosas, ou que mesmo vitoriosas podem não
alcançar nada em seus mandatos. O problema
deste argumento é que é impossível quantificar
qual realmente é o retorno investido nestas ações,
já que um libertário em um cargo político pode não
conseguir fazer nada, mas impedir um grande
numero de iniciativas que certamente seriam
destrutivas. Como podemos precificar este
resultado? O outro problema deste argumento é
que não necessariamente todos os recursos
empregados em uma campanha política seriam
empregados em iniciativas contra econômicas,
afinal muitas pessoas podem achar que a eleição

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trará mais resultados do que o desenvolvimento
de moedas digitais, por exemplo. Devemos então
alienar completamente uma massa que deseja
contribuir com uma iniciativa apenas porque
preferimos outra? Esta não é uma mentalidade de
livre mercado. Algumas pessoas podem escolher
devotar suas energias e recursos a política, outros
ao desenvolvimento de aplicativos, outros irão
preferir a educação e muitos farão combinações
diferentes destes meios.
Isto nos leva ao ponto final deste livro, que
é a mentalidade de livre mercado na interpretação
e concepção de candidaturas políticas. Embora já
tenhamos exemplos de estratégias diferentes,
devemos sempre ter claramente em nossas mentes
que não temos como realmente saber qual
estratégia será a vitoriosa, ou se a vitória final e o
estabelecimento de uma sociedade
verdadeiramente livre virá não de uma estratégia
em particular, mas da interação entre várias
estratégias de maneiras que não podemos prever.
É uma verdade inegável que as práticas
contra econômicas descritas por Konkin tem um
grande poder de reduzir o poder e controle estatal,
especialmente em pontos locais e bem motivados,
mas também é verdade que os estados estão
reconhecendo esta ameaça e progressivamente
atacando a liberdade conforme ela evolui. Isto tem
se dado na proibição de aplicativos que contornam
as regulamentações estatais, maior
monitoramento no comércio digital e as
movimentações de países para regulamentar
fortemente ou proibir o uso de moedas digitais.
Podemos especular que de fato estas tecnologias

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podem ser o que virá a colocar o estado em
implosão, porém pode ser que isto apenas ocorra
porque alguns libertários atuaram fortemente
dentro da máquina estatal para impedir que estas
estruturas contra econômicas fossem reguladas,
monitoradas ou proibidas.
Podemos também especular que a vitória
política venha a ser alcançada e libertários tomem
o controle da máquina do estado em vários níveis
e prosseguindo com seu desmonte, mas que este
controle será alcançado apenas porque pessoas
irão entender o valor da liberdade por exerce-la
através de medidas contra econômicas, e ao
entender que o estado as atrapalha, se colocarão
dispostas a votar a favor de seu fim. É igualmente
possível que o fim do estado se dê via educação de
vários tipos, mas que esta educação só seja
possível porque a atuação de políticos liberais
manteve o ensino cada vez mais longe das patas
imundas do estado, permitindo então a divulgação
de ideias libertárias e a subsequente
desmoralização do estado. É inteiramente possível
também que todas estas ferramentas e outras
ideias e métodos novos que ainda não podemos
conceber venham a ser o prego final no caixão do
estado.
Devemos pensar a produção da liberdade
como pensamos a produção de qualquer outro
bem ou serviço via o livre mercado, estimulando o
maior numero possível de concorrentes, a maior
troca possível de informações e sem descartar
nenhuma opção moral disponível, pois não
podemos prever sua interação. Iniciativas podem
passar anos ou décadas sem chegar a lugar algum,

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apenas para exercer um papel decisivo no caminho
de outra, e iniciativas podem ser extremamente
promissoras apenas para repentinamente
entrarem em um beco sem saída. Devemos acima
de tudo receber de braços abertos qualquer um
que queira contribuir para a causa libertária de
maneira moral e pacífica, independentemente de
sua metodologia ou capacidade, e buscarmos
juntos a vitória final e duradoura da liberdade.

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