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Florianópolis
2022
Natan Mario Krutzsch
Florianópolis
2022
Ficha de identificação da obra
Natan Mario Krutzsch
Entre a privação de liberdade e a liberdade de aprender: a construção histórica
do sentido da educação no cárcere brasileiro entre 1984-2019
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi
julgado adequado para obtenção do título de mestre em História.
____________________________
Coordenação do Programa de Pós-Graduação
____________________________
Prof. Dr. Adriano Luiz Duarte
Orientador
Florianópolis, 2022.
Este trabalho é dedicado a todos que acreditam na capacidade de ser mais do ser
humano.
AGRADECIMENTOS
The present work sought to historically investigate the meaning attributed to education in spaces
of deprivation of liberty in Brazil, with emphasis on the case of Santa Catarina, during the
period from 1984 to 2019, having the legislation as a historical source and analyzing it from the
understanding that this is presented as a synthesis of the process of articulating subjects in
certain material conditions placed on them by the context. In general, education has acquired,
in the legal sphere, a fundamental role for resocialization, in addition to being an inalienable
right of the human being. Throughout the analysis, it is possible to perceive that from the
expansion of rights, as well as the democratic regime, after 1984, and the struggles waged by
the working class, progress is made in the defense of education as a right for all, including
people deprived of freedom, such a struggle has meant the expansion of access to education
even if not its universalization. It was also observed in this period the regulation of education
in spaces of deprivation of liberty within the legal frameworks.
CE - Ceará
CF – Constituição Federal
DF – Distrito Federal
ES – Espirito Santo
MG – Minas Gerais
MJ – Ministério da Justiça
PR - Paraná
RJ – Rio de Janeiro
RO - Rondônia
SC – Santa Catarina
SP – São Paulo
APRESENTAÇÃO 15
1 - PREMISSAS E PERSPECTIVAS 21
1.1 - As Prisões 22
1.1.1 - O sentido geral das prisões 22
Transição entre o binômio prisão-custódia para prisão-pena 22
As prisões com a ascensão da burguesia e a formação do Estado Moderno 24
1.1.2 - A ressocialização 32
1.1.3 - As prisões no Brasil 37
1.2 - A Educação 40
1.2.1 - O direito à educação 41
1.2.2 - A Educação de Jovens e Adultos 42
1.2.3 - A Educação para a Emancipação Humana 48
2 - A EDUCAÇÃO NO CÁRCERE BRASILEIRO: ENTRE O DIREITO E A
RESSOCIALIZAÇÃO 54
2.1 - Lei de Execuções Penal de 1984 57
2.2 - As primeiras experiências educacionais no cárcere 59
2.2.1 - Experiências díspares de educação no cárcere brasileiro 59
2.2.2 - Ensaios locais para uma política educacional (1984-2005) 60
2.3 - Uma experiência de educação nacional institucionalizada (2005-2011) 64
2.4 - A efetivação da remição de pena pelo estudo em 2011 67
2.5 - Os anos pós institucionalização: a educação de 2011 a 2019 68
3 - A EDUCAÇÃO EM PRESÍDIOS DE SANTA CATARINA 76
3.1 - A Educação Prisional em SC: primeiras aparições legais 76
3.2 - As Diretrizes operacionais para a Educação em Presídios - 2012 79
3.3 - O Plano Estadual de Educação em Prisões de SC 2015-2016 81
3.4 - O Plano Estadual de Educação em Prisões de SC 2016-2026 89
3.5 - O PPP do CEJA - Rio do Sul e os dados da educação em SC entre 2015 e 2019 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS 101
REFERÊNCIAS 104
ANEXO A – Programação do curso e seminários estaduais de educação em
prisões de 2010 e 2014. 113
15
INTRODUÇÃO
1
Daqui decorre a postura de não utilização do conceito de “apenado” utilizado por alguns autores, pela
compreensão de que apenado diz respeito ao sujeito condenado dentro do devido processo legal.
percentual chega a 13%, sendo 9% no ensino escolar e outros 4% em atividades educacionais
complementares. A educação, atrelada à ressocialização nos marcos legais, é direito inalienável
do ser humano, mas vem efetivamente sendo ofertada nesse espaço para uma parcela muito
pequena dessa população. Ou seja, a análise dos dados nos leva a observar que a educação não
tem sido resguardada como direito. O conceito de ressocialização, sendo assim, nos parece
fundamental, pois carrega em sua gênese o deslocamento do presídio da realidade, como se o
mesmo fosse um espaço a-social.
A política de resolução de conflitos, por vezes sociais, no Brasil, passa pela privação de
liberdade e encarceramento em massa2 , sobretudo nos últimos anos, algo que tende a se manter
elevado e mesmo se ampliar frente a atual conjuntura/crise econômica e política do país. Sendo
assim, ou passamos a garantir o direito e acesso das pessoas à educação e com isso fomentamos
o processo de socialização e desenvolvimento humano ou essa continua a ser colocada como
um “privilégio”3 de poucos dentro do sistema carcerário.
O recorte temporal deste trabalho se alicerça na compreensão de que a pena privativa
de liberdade assume uma nova função no capitalismo neoliberal, pois nesse se dá a passagem
de um Estado Social para um Estado Penal, conforme analisado por Wacquant (2001; 2003).
Na legislação brasileira, colaboram para tal tese a Lei de Crimes Hediondos de 1990 e a Lei de
Drogas de 2006 que tiveram como resultado o substancial aumento da população carcerária.
A questão penal no país, entretanto, tem como principal marco moderno o ano de 1984,
quando se dá a promulgação da Lei de Execuções Penais (LEP), nº 7.210 de 11 de julho. Tal
lei, que será analisada adiante, além de dispor sobre os objetivos da execução penal, decreta os
direitos dessa população e confere a possibilidade de remição de pena pelo trabalho, que servirá
de base para a remição de pena pelo estudo instituída a partir da lei 12.433/11, que altera a LEP
equiparando o trabalho ao estudo para fins de remição.
Em síntese, este trabalho de pesquisa teve como objetivo examinar a legislação e os
marcos regulatórios da educação em presídios com destaque para o caso catarinense. Buscou-
se observar quais as concepções e o sentido atribuído à educação nesses espaços, seguido de
um diálogo entremeado pelos dados da atual situação dessa população que demonstram a não
efetivação da educação como direito inalienável do ser humano. Ao buscar uma leitura histórica
da concepção de educação apresentada nos documentos normativos, bem como na legislação,
2
Para uma visão mais completa sobre o conceito, inserido na realidade brasileira atual consultar: BORGES,
Juliana. O que é encarceramento em massa?. Letramento, 2018.
3
Quando um direito não é garantido o mesmo se torna um privilégio se visto por outro que dele não dispõem.
19
4
A crítica documental historiográfica se desenvolve em especial a partir da Escola dos Annales. Marc Bloch em
Apologia da História se torna, neste sentido, uma excelente referência inicial sobre o assunto.
21
1 - PREMISSAS E PERSPECTIVAS
Ao se pensar a educação em presídios é fundamental discutir esse espaço singular para
uma maior compreensão da prática nele proposta. Neste sentido, o presente capítulo discute os
aspectos gerais sobre o cárcere e a educação nele, a qual é tema central da análise apresentada
nos capítulos subsequentes, e encontra-se dividido em dois eixos fundamentais para nossa
análise: o espaço e a ação, ou seja, as prisões e a educação.
1.1 - AS PRISÕES
Esta primeira parte do capítulo diz respeito às premissas e perspectivas referentes ao
espaço que se busca analisar, os presídios. Assim, três questões nos parecem fundamentais:
primeiro, o sentido geral das prisões, sua formação histórica e a relação com o sistema
capitalista, bem como os desdobramentos disso decorrente; segundo, o aspecto ressocializador
tido como um dos sentidos da pena privativa de liberdade no estado moderno e vinculado nos
documentos legais e nos discursos à educação; terceiro, um breve histórico das prisões no
Brasil, seus aspectos específicos e que dialogam diretamente com nossa sociedade.
Com a crise social e política na Europa, em fins do século XVII e início do XVIII, a
quantidade de pobres e “delinquentes” começa a aumentar consideravelmente. É naquele
momento que o Castelo de Bridwell (Bitencourt, 2001, p.38), por exemplo, passa a ser utilizado
para “reformar os criminosos” na Inglaterra. Cabe destacar que, durante aquele período, outro
sistema de punição bastante utilizado foram as galés5, tendo existido até a segunda metade do
século XVIII, inclusive com a venda de presos para potências marítimas da época por parte de
países da periferia do sistema.
O modelo prisional com caráter reeducacional ou de ressocialização tem origem no
final do século XVI com a criação de Casas Correcionais para homens e mulheres,
como a pioneira House of Correction, com a transformação do Castelo de Bridewell
em prisão (1553), próximo a Londres, Inglaterra, para disciplinar delinquentes. Um
pouco depois (1596) em Amsterdã (Holanda) foi criada a prisão de Rasphuis,
destinada a homens. E entre 1597 e 1600 criou-se a Spinhis para mulheres, com seções
especiais para meninas. (ALMEIDA, 2016, p. 2)
5
Galés é um tipo de embarcação. Muito utilizada na antiguidade foi já no período moderno espaço para o
cumprimento de penas de trabalhos forçados.
6
Tal descrição aparece na obra “Bandidos” de Eric Hobsbawm publicada em 1969.
A mudança de um sistema baseado nos suplícios para a criação de um sistema prisional
com a finalidade da pena, para Foucault (2001), não se sustenta em uma maior humanização da
punição, mas na limitação do poder do soberano e principalmente numa nova política do poder,
com novos saberes sobre o crime e principalmente sobre os "delinquentes". Punir melhor é a
chave de interpretação, de forma menos severa, porém mais universal.
Bitencourt (2001) ao analisar as teorias absolutas ou retributivas da pena, durante o
Estado Absolutista, coloca que a prisão e a pena ainda eram vistas como um "castigo com o
qual se expiava o mal (pecado) cometido.". Era um mal contra o próprio soberano e contra
Deus. O que vai ao encontro do analisado por Foucault. Assim, a mudança do Estado
Absolutista para o Estado Moderno irá alterar também as linhas de argumentação sobre a forma
e o objetivo da pena de prisão.
Quanto à reforma do sistema prisional, para o autor, a função econômica que a prisão
desenvolve é múltipla e segue em pelo menos duas frentes:
A alternância é clara: mão de obra barata, quando há trabalho e salários altos; e, em
períodos de desemprego, reabsorção dos ociosos e proteção social contra a agitação e
os motins. Não esqueçamos que as primeiras casas de internamento aparecem na
Inglaterra nos pontos mais industrializados do País: Worcester, Norwich, Bristol”.
(BITENCOURT, 2001, p.50)
7
Tal pressuposto é conhecido como “less eligibility” e foi uma política do governo britânico aprovada na Lei de
Emenda à Lei dos Pobres de 1834. Aparece em diversos estudos como presente ainda hoje de forma velada na
cultura punitiva. Para uma visão sobre a presença dela no Brasil ver: CASTILHO Et Al. A less eligibility e a sua
presença velada no sistema político-criminal brasileiro como forma de seletividade social. In: Anais do II
Congresso em Pesquisa em Ciências Criminais. São Paulo - SP, 2018. p. 278-299
levando à extinção formal no século XIX das penas de suplício por desconsiderar a
humanidade do condenado. Data desse período histórico o desenvolvimento de
estudos e reflexões sobre o que veio a se constituir como sistema penitenciário, com
destaque para Jean Mabillon (Reflexões sobre as prisões monásticas – 1695), Cesare
Beccaria (Dos Delitos e das Penas – 1764) e John Howard (O Estado das Prisões na
Inglaterra e no País de Gales – 1776). (ALMEIDA, 2016, p. 3)
Destas propostas e reformas das prisões surgem diferentes sistemas penitenciários pelo
mundo, dentre os quais destaco:
1 - Modelo da Filadélfia ou celular: surgido no ano de 1790, na prisão de Walnut Street,
Filadélfia, Estados Unidos da América. Sua concepção parte de uma moral reformadora para a
punição.
2 - Sistema Auburniano: surgido em 1823, em Nova Iorque, que previa o trabalho
comum em silêncio e solitária à noite.
3 - Sistemas progressivos: surgidos na Inglaterra e de forte influência na Irlanda, o mark
system, busca a medida da duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta, tal
sistema, disperso pelo mundo, teve diversas vertentes. Parece, neste sentido, ser nos sistemas
progressivos que encontramos a gênese da remissão de pena, como veremos adiante.
4 - A experiência de Manuel Montesinos e Molina: não se configura como um sistema.
Entretanto, cabe destacar que, ao ser nomeado em 1835 para gerir o presídio de Valência na
Espanha, Molina reduz as taxas de reincidência de mais de 30% para 1%, chegando a zero em
alguns períodos. Montesinos acaba por pedir demissão em 1854, após fortes ataques da
sociedade ao seu trabalho, especialmente por parte de industriais, pois os produtos produzidos
internamente no presídio de Valência apresentavam ótima qualidade e possuíam baixos preços
em comparação aos dos artesãos da cidade, os quais tinham ainda de pagar taxas sobre sua
produção.
Como podemos perceber, no decorrer do século XIX emergem diversos sistemas que
buscavam abarcar a, cada vez maior, taxa de encarceramento, especialmente nos países em
franco desenvolvimento de suas forças produtivas. Ao analisar a obra de Foucault sobre as
prisões, Gaulia (2013) aponta que a grande pergunta que se coloca é: como pôde a detenção
tornar-se uma das normas mais gerais dos castigos, mesmo não tendo alcançado o objetivo de
ressocialização? A resposta estaria em tal sistema, organizar o trabalho penal auferindo ganhos
econômicos. Neste sentido, afirma, a partir do Foucault, que "a disciplina aumenta as forças do
corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos
de obediência)", assim se vê “o sujeito submetido ao esquema prisional como sujeito obediente,
27
submisso e dobrado as regras e hábitos, que visam a reinseri-lo no pacto social dos "homens de
bem." (GAULIA, 2013 p. 21).
Tal processo se dá pelo que Foucault chamou de "nova microfísica do poder", por
"arranjos sutis'', dispositivos que “levaram à mutação do regime punitivo, no limiar da época
contemporânea" (GAULIA, 2013, p. 21). Para o autor, a disciplina busca a imposição do poder
e fortalece o controle para a "utilização do homem pelo homem" (GAULIA, 2013, p. 21).
Surgem assim conceitos como cerca, clausura (cada um no seu lugar), localização funcional,
fila, entre outros, e também o maior controle das atividades com horários definidos para toda
tarefa, elaboração temporal de cada ato, a noção de que corpos e gestos inúteis devem ser
descartados, uma nova relação corpo-objeto, a utilização máxima do tempo e, por fim, um "bom
adestramento" de todos no sistema (ideologia). Emerge assim o castigo disciplinar (coercitivo)
e a gratificação (positivo). Por fim, ao diferenciar os indivíduos e examiná-los "concilia-se as
técnicas da hierarquia que vigia, e as da sanção que normaliza" (GAULIA, 2013, p. 23).
Como podemos observar, tais elementos das prisões analisados por Foucault se
assemelham em muito a de outras instituições daquele período como as fábricas, as escolas, os
conventos. Não há, neste sentido, nada mais parecido com as ideias de prisão-pena trazidas pelo
autor do que uma fábrica ou grande empresa. Assinala ele:
Minha hipótese é que a prisão esteve, desde sua origem, ligada a um projeto de
transformação dos indivíduos. Habitualmente se acredita que a prisão era uma espécie
de depósito de criminosos, depósito cujos inconvenientes se teriam constatado por seu
funcionamento, de tal forma que se teria dito ser necessário reformar as prisões, fazer
delas um instrumento de transformação dos indivíduos. Isto não é verdade: os textos,
os programas, as declarações de intenção estão aí para mostrar. Desde o começo a
prisão devia ser um instrumento tão aperfeiçoado quanto a escola, a caserna ou o
hospital, e agir com precisão sobre os indivíduos. O fracasso foi imediato e registrado
quase ao mesmo tempo que o próprio projeto. Desde 1820 se constata que a prisão,
longe de transformar os criminosos em gente honesta, serve apenas para fabricar
novos criminosos ou para afundá-los ainda mais na criminalidade. Foi então que
houve, como sempre nos mecanismos de poder, uma utilização estratégica daquilo
que era um inconveniente. A prisão fabrica delinquentes, mas os delinquentes são
úteis tanto no domínio econômico como no político. Os delinquentes servem para
alguma coisa. (FOUCAULT, 1998, p. 75.)
Esta nova prisão e forma de controle social se estabelece como norma nos mais diversos
países, reservadas as suas especificidades, no decorrer do século XIX e XX. Neste sentido,
Bitencourt (2001) é feliz ao definir:
[...] que a uma concepção de Estado corresponde uma de pena, e a esta, uma de
culpabilidade. [...] Estado, pena e culpabilidade formam conceitos dinâmicos inter-
relacionados." (p. 113-114). Para o autor "[...] a pena é um mal que se impõe por causa
da prática de um delito: conceitualmente, a pena é um castigo. (p. 117)
de gênero que se estabelecem nesse espaço, entre outros pontos, interessa-nos aqui que a
reforma do sistema, alavancada por outros autores, é colocada em xeque ao se observar o
surgimento da prisão como uma reforma dos sistemas punitivos.
Dentre os exemplos do terror que os presídios representam, o abuso sexual sofrido por
mulheres nas prisões femininas talvez seja o mais funesto. Afirma a autora, “o abuso sexual é
incorporado às escondidas a um dos aspectos mais habituais do encarceramento feminino: a
revista íntima.” (DAVIS, 2020, p.87).
É, neste sentido, que
[…] a demanda por abolir a prisão como a forma dominante de punição não pode
ignorar que a instituição da prisão armazenou ideia e práticas que, espera-se, se
aproximam da obsolescência na sociedade geral, mas que retêm toda sua horrenda
vitalidade por trás dos muros da prisão. (DAVIS, 2020, p.89).
A autora não fica só na crítica, passando a elencar uma série de medidas chamadas
“alternativas abolicionistas”, e destaca que para a abolição dos presídios “o primeiro passo,
portanto, seria deixar de lado o desejo de encontrar um único sistema alternativo de punição
que ocupasse o mesmo raio de ação do sistema prisional.” (DAVIS, 2020, p. 115). Segundo, é
necessário compreender e desestruturar as ligações entre punição-lucro e isto passa por uma
nova sociedade e pela
[...] desmilitarização das escolas, a revitalização da educação em todos os níveis, um
sistema de saúde que ofereça atendimento físico e mental gratuito para todos e um
sistema de justiça baseado na reparação e na reconciliação em vez de punição e na
retaliação. (DAVIS, 2020, p. 116)
instituições que, de alguma forma, impõem barreiras às relações sociais com o mundo externo
a elas, onde tudo se desenvolve internamente. Goffman (1961) destaca outras instituições
semelhantes, como asilos, manicômios e conventos. Alguns aspectos centrais destas instituições
são: possuem um mesmo local e uma única autoridade; se compõem de um grupo de pessoas;
possuem horários; e, por fim, buscam redesenhar toda a história de vida do interno. Além disso,
o meio interno é diferente do meio externo, o contato é por vezes restrito, a diária não é
governada pelos internos, se vive de uma cultura aparente, há, muito provavelmente,
desculturamento e mudanças radicais na carreira moral.
Diferente de outras instituições totais, entretanto, afirma Bitencourt (2001), as prisões
formam um terceiro grupo destas. Esse grupo é composto por instituições nas quais se busca
proteger a comunidade contra aqueles que lhe são perigosos intencionalmente e é uma
instituição que não tem como finalidade direta o bem estar dos internos como em outros casos,
a exemplo dos hospitais e asilos.
Almeida (2016) segue uma linha semelhante afirmando que "A burocratização das
condições de vida e as limitações à liberdade pessoal são contornos inevitáveis do
encarceramento” (p.14). O autor coloca ainda que nenhuma reforma modificou o fato de que
nos presídios a condição de vida deveria ser inferior à vida em liberdade; ou seja, que se busca
os “efeitos dissuasivos da punição”. Para o autor, esses dois conceitos de dissuasão e
reabilitação são contraditórios e antagônicos, sendo ainda reflexo da própria sociedade na qual
são construídos.
Outro elemento destacado, tanto por Goffman (1961), quanto por Bitencourt (2001), é
o que o primeiro chama de “mortificação do eu”: “Na linguagem exata de alguma de nossas
mais antigas instituições totais, começa uma série de rebaixamentos, degradações, humilhações
e profanações do eu. O seu eu é sistematicamente, embora muitas vezes não intencionalmente,
mortificado.” (GOFFMAN, 1961, p. 24). Ou seja, elemento fundamental para um convívio
social, ao ser mortificado, o eu, acaba por afunilar o indivíduo ao romper com o diálogo com a
realidade, daí, em parte, os altos índices de problemas psicológicos causados pela prisão.
Julião (2009) destaca que a perspectiva de uma instituição total hoje encontra seus
limites de forma bastante clara, florescendo por outro lado a ideia de incompletude do sistema,
nesse sentido afirma o autor que:
[...] o conceito de ressocialização e reinserção social se deterioram, emergindo o de
socialização. Ambos os conceitos (ressocialização e reinserção social), ao contrário
da socialização, estão impregnados da concepção político-pedagógica de execução
penal que compreende o cárcere como instituição total/instituição completa, em que
o indivíduo é capturado da sociedade, segregado totalmente da comunidade livre.
Com esta nova concepção, compreende-se o sistema penitenciário como uma
instituição social como tantas outras, reconhecendo a sua incompletude tanto
institucional, quanto profissional, valorizando uma maior interseção das demais
instituições com o cárcere, de outros profissionais extra-muros com os agentes
operadores da execução. Cria-se uma nova dinâmica política e ideológica que prima
pela não segregação total do indivíduo, pela compreensão de que o ser humano vive
em um constante processo de socialização. Assim, reconhece-se que o papel do
sistema de privação de liberdade é de socio educar: do compromisso com a segurança
da sociedade; e de promover a educação do delinquente para o convívio social.
(JULIÃO, 2009, p. 77)
Tal movimento de ampliação nos debates acerca da ressocialização, como colocado por
Almeida (2014; 2016), se expande na esteira do processo de redemocratização do país, em
partes signatárias das discussões colhidas do Estado de Bem Estar Social, vivenciado na
Europa. Loïc Wacquant (2001), ao analisar tal questão, tem como conclusão que tais
características, como o foco na ressocialização, começam a desmoronar na Europa,
especialmente, com a ascensão do Estado Neoliberal. Assim, diversos autores, da sociologia à
criminologia, ao analisar o Brasil, têm se alicerçado nas teses de Wacquant observando que, no
caso brasileiro, as políticas neoliberais se postam juntamente a debates de forma vinculadas ao
Estado de Bem Estar Social europeu. Neste sentido, as contradições se apresentam ainda mais
claras na sociedade brasileira, que não vivenciou tal processo.
Gelson de Almeida (2014), ao discorrer sobre a formação dos presídios no Brasil e sua
relação com o sentido da pena, destaca algumas permanências e rupturas desse processo, desde
o período colonial até nossos dias. Dentre esses aspectos, coloca que em 1830 o Império
Brasileiro adotou pela primeira vez um Código Criminal revogando as Ordenações Filipinas8,
mas mantiveram, entretanto “[...] a pena de morte para os que liderassem insurreições escravas,
roubos com agravantes e homicídios, mantendo ainda as galés temporárias e perpétuas. Para os
“homens bons” surgiram as penas pecuniárias e de prisão, nitidamente com caráter mais brando
que para escravos e pobres." (p. 1-2).
Nesse contexto, e influenciado pelos ideais de reforma, o Estado Imperial introduz a
pena de prisão com trabalho “destacando o duplo objetivo de reprimir e reabilitar.”. Porém, tal
perspectiva se consolida efetivamente com a construção no século XIX da Casa de Correção da
Corte. Segundo o autor:
As primeiras unidades prisionais buscavam a reprodução integral ou parcial do
modelo arquitetônico panóptico e o sistema adotado era uma forma híbrida dos
sistemas de Filadélfia e Auburn, com crescente influência deste último. No primeiro,
o preso deveria receber uma cela individual, primando pelo isolamento, silêncio
absoluto, vigilância permanente, orações e penitências visando o arrependimento e
incluía castigos físicos para os casos de transgressão das regras. No segundo, o
silêncio e a vigilância permaneciam, mas havia contato com os demais presos e a
preocupação central com a realização do trabalho produtivo. (ALMEIDA, 2014, p. 2)
8
Promulgada em 1603, foi um código legal criado por Portugal que definiu crimes e punições. Destaca-se que o
mesmo ficou vigente no Brasil até 1917.
39
Almeida (2014) destaca que durante a década de 1940 houve um esforço por parte do
governo Vargas em modernizar o sistema prisional brasileiro, com discussões acerca do
“regime vigente, do salário e trabalho do preso, entre outras. Questões sem dúvida de enorme
relevância para o sistema penitenciário brasileiro.” (p. 23). Por outro lado, as contradições
inerentes ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil ficam evidentes, o crescimento das
cidades e o êxodo rural levam às prisões grande contingente de pessoas e as prisões passam a
ser vistas como “depósito de presos”. E nesse sentido, como destaca o autor, o êxodo rural pode
ser compreendido como herança do período escravocrata.
É nesse momento que as prisões se modificam ainda mais, pois:
Não cumpriria mais o papel de disciplinador e formador de mão de obra, ou ao menos
não seria mais essencial, posto que a própria mão de obra não-qualificada não seria
apenas excedente ou de reserva, mas “supérflua” e “descartável”. A crise do sistema
prisional a partir da década de 1960, presente em grande parte da Europa e dos EUA,
encontra-se instalada também no Brasil. Agravada por nossas contradições internas,
tal é o desafio que se apresenta em nossos dias. (ALMEIDA, 2014, p. 26)
Como pudemos perceber, o Brasil tem seguido, em grande parte, os debates sobre a
função das prisões vindos da Europa e EUA. Esse movimento, entretanto, é complexificado
pelas questões internas da sociedade brasileira, em especial as heranças da escravização e o
processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Como veremos melhor adiante, mas já
brevemente anunciado aqui, a partir da década de 1960 instaura-se uma nova crise do sistema
prisional brasileiro. A superlotação dos presídios, bem como o avanço nos debates sobre
direitos humanos desta população, força a reestruturação, ao menos em seus termos legais, do
sistema prisional. Neste sentido, a LEP de 1984 materializa tais disputas e processos na forma
de lei.
1.2 - A EDUCAÇÃO
Parte-se agora para a análise dos debates que se estruturam em torno da educação. Para
isso, a segunda parte está subdividida em três: em “O direito à educação”, busca-se retomar os
debates que constroem a noção da educação enquanto direito, em âmbito geral e seu percurso
de institucionalização no Brasil. Em “A Educação de Jovens e Adultos” (EJA), apresenta-se o
sentido da EJA na sociedade brasileira e as especificidades desta modalidade de ensino. Por
fim, a “Educação para a Emancipação Humana” discutirá tal compreensão de educação tendo
em vista sua apresentação como norteadora dos documentos analisados no terceiro capítulo.
9
Tal perspectiva fica bastante elucidada no livro “Visões do Cárcere” de Sandra Jatahy Pesavento. Nesta obra
Pesavento analisa as notas do criminologista Sebastião Leão, que inspirado pelos métodos de Lombroso e
Lacassagne, busca analisar a partir da fisiognomonia os detentos da Casa de Correção da cidade de Porto Alegre.
41
confunde com o espaço social reservado aos setores populares” (p. 221). Assim, por vezes, na
história da EJA, e ainda hoje, encontramos discursos que colocam tal modalidade como de
menor valor, inferior, entre outros adjetivos. A educação de jovens e adultos nasceu da
educação popular, como destaca Arroyo (2008): “A educação popular, um dos movimentos
mais questionadores do pensamento pedagógico, nasce e se alimenta de projetos de educação
de jovens e adultos colados a movimentos populares nos campos e nas cidades, em toda a
América Latina” (p. 222). Dentre os maiores exemplos desta perspectiva, se destaca a
experiência de alfabetização de adultos promovida por Paulo Freire em 1963 em Angicos (RN).
Nesse sentido, a EJA no Brasil carrega uma herança acumulada nas últimas décadas,
especialmente a partir de 1960. Tais características ainda hoje se apresentam como
fundamentais de serem pensadas com esses sujeitos excluídos social e economicamente na
sociedade capitalista. Assim, Arroyo (2008) destaca que a EJA nomeia os sujeitos de sua
aprendizagem, para sua condição humana, característica marcante especialmente na EJA
Prisional, como observado no segundo capítulo.
Ao analisar a educação em contextos de privação de liberdade, Godinho (2019) assegura
que muitas das questões da EJA como um todo nela aparecem. Os sujeitos de tal modalidade,
de maneira geral, são pessoas que têm suas vidas marcadas por condições precárias de
existência, desempregados ou subempregadas, tais sujeitos são ainda marcados pela exclusão
da educação básica, ou pela falta de acesso, ou pelas dificuldades de permanência, as quais em
geral se ligam a suas condições social e econômica.
Tais características da EJA, apesar de marcantes, não foram compreendidas de forma
direta, mas construídas historicamente. Gadotti (2013) destaca que a compreensão do que é a
educação de adultos começa a ser desenhada, a nível internacional, em 1949, logo após a
Segunda Guerra Mundial, na I Conferência Internacional de Educação de Adultos, na qual, a
perspectiva de educação para tal grupo caminhava no sentido de uma “educação moral”,
“paralela” e “alternativa” à educação tradicional e , neste sentido, seu “objetivo seria contribuir
para com o respeito aos direitos humanos e para a construção de uma paz duradoura, que seria
uma educação continuada para jovens e adultos, mesmo depois da escola.” (p. 15).
É, entretanto, na IV Conferência Internacional de Educação de Adultos, em 1985, que
a concepção de Educação de Adultos, conforme Gadotti (2013), é “implodida”, derivando dela
uma gama de conceitos como: alfabetização de adultos, pós-alfabetização, educação rural,
educação familiar, educação da mulher, educação em saúde e nutrição, educação cooperativa,
educação vocacional, educação técnica.
Por fim, a V Conferência Internacional de Educação de Adultos, realizada em
Hamburgo em 1997, aprovou a “Declaração de Hamburgo” e adotou uma “Agenda para o
futuro”, na qual foi incluída a “Década Paulo Freire da Alfabetização”:
[...] entendendo a Educação de Adultos como um direito de todos e destacando a
importância de diferenciar as necessidades específicas das mulheres, das comunidades
indígenas e dos grupos minoritários. Essa Declaração realçou a importância da
diversidade cultural, os temas da cultura da paz, da educação para a cidadania e o
desenvolvimento sustentável. Vários temas fizeram parte da agenda: a educação de
gênero, a educação indígena, das minorias, a terceira idade, a educação para o
trabalho, o papel dos meios de comunicação e a parceria entre Estado e sociedade
civil. (GADOTTI, 2013, p. 16)
qualidade para todos, forçando a implementação de políticas públicas para jovens e adultos
dentro de uma perspectiva crítica que pressupõe o reconhecimento desses sujeitos e de suas
singularidades. Conforme o autor, "é mediante o reconhecimento dessa diversidade que jovens,
indígenas, mulheres, trabalhadores da cidade e do campo passam a ser alvo de políticas
educacionais específicas no âmbito da educação de jovens e adultos.” (AGUIAR, 2019, p. 102).
Dentre os avanços nas discussões sobre a EJA destaca-se a superação dos processos
formais de transmissão de conteúdos, ou seja, se busca os diferentes saberes e processos,
superando a ideia de um “público alvo”, conotado como passivo, ou ainda a lógica mercantil
da educação. Esta questão é ainda mais clara quando falamos de uma população carcerária, na
qual as individualidades buscam ser subtraídas dentro do sistema. Entretanto, como sugere
Aguiar (2009), “[...] o que impede que os homens se transformem em “mortos-vivos” é
justamente a diferença individual, a identidade única do indivíduo.” (p. 103).
Assim sendo, a participação da sociedade civil, nas suas mais diversas formas de
organização, é desde os primórdios da educação de jovens e adultos elemento central para sua
elaboração e efetivação. No Brasil, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº.
9.394/96), o campo da educação de jovens e adultos passa a ser trabalhado como política
pública. Seu artigo 37, parágrafo 1º, coloca que os sistemas de ensino devem assegurar
gratuitamente aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade regular
oportunidades apropriadas e exames. Além disso, a LDB territorializa a EJA a fim de resguardar
as especificidades de cada lugar, assim os Estados têm relativa autonomia para a elaboração e
oferta de educação.
Arroyo (2008) destaca que a LDB carrega, em parte, a herança da educação popular ao
se referir à educação de jovens e adultos, diferente do que acontece com a infância, adolescência
e juventude, as quais a palavra educação e a nomeação dos sujeitos, é subtraída de sua
nomenclatura, passando para ensino fundamental e médio. Não só os sujeitos, mas a ação
também nos diz muito sobre as disputas e construções históricas da EJA e o respeito às
condições dos indivíduos. Arroyo (2008) argumenta que não se fala em educação das diferentes
fases de desenvolvimento dos sujeitos, mas de ensino:
[...] quando se refere a jovens e adultos, nomeia-os não como aprendizes de uma etapa
de ensino, mas como educandos, ou seja, como sujeitos sociais e culturais, jovens e
adultos. Essas diferenças sugerem que a EJA é uma modalidade que construiu sua
própria especificidade como educação, com um olhar sobre os educandos. (p. 224)
É nesse caminho que outra questão aparece como um traço da EJA, a de ter como
problema pedagógico, o ser humano e sua humanização. Característica esta que é incorporada
inclusive por pensadores, diretrizes e regulamentos do ensino regular. A EJA se construiu
pensando na formação integral dos sujeitos de forma totalizante enquanto “ser humano com
direito a se formar como ser pleno, social, cultural, cognitivo, ético, estético, de memória…”
(ARROYO, 2008, p. 226).
Assim a EJA se aproxima do campo dos direitos e consequentemente da educação
enquanto direito humano, conforme Miguel Arroyo, “não podemos esquecer que as
experiências mais radicais de EJA nascem, alimentam-se e incentivam movimentos sociais ou
sujeitos coletivos constituindo-se como sujeitos de direitos.” (2008, p. 229).
É nesse percurso de construção da EJA que em 2000 é aprovado pelo Conselho Nacional
de Educação as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos
(Resolução CNE/CEB 01/2000), parecer nº 11. Aguiar (2009) destaca que tais diretrizes
contribuíram para “eliminar o caráter compensatório dessa modalidade e para que ela seja vista
como um direito inalienável de todo cidadão”. Ou seja, se passa a compreender a dívida social
e se busca reverter as desigualdades ao reconhecer as especificidades do público da EJA.
Conforme o autor “... [A EJA] deve considerar as situações, os perfis dos estudantes, as faixas
etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação
[...] e na proposição de um modelo pedagógico próprio.” (p. 105).
O Plano Nacional de Educação – Lei nº 10.172, de 2001, que tem por objetivo elevar o
nível de escolaridade da população, reforçou o direito ao ensino fundamental para todos e
definiu, como veremos no capítulo 2, meta específica para educação em prisões. O que podemos
observar é que, ao longo da regulamentação legal, os aspectos teóricos e de mobilização de
diferentes agentes vão sendo incorporados na legislação a fim de resguardar a diversidade do
público da EJA.
Outro marco importante nesse processo acontece em 2010, quando são aprovadas, pelo
Conselho Nacional de Educação, as diretrizes operacionais para a educação de jovens e adultos
nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para o ingresso; idade mínima para
certificação nos exames; e educação de jovens e adultos desenvolvida por meio da educação a
distância (Resolução CNE/CEB 03/2010).
Apesar de resguardada enquanto direito, os dados apontam que nem todos conseguem
acessar a educação de jovens e adultos, e aqueles que a conseguem, por vezes não encontram
condições de permanência. Tal situação é ainda mais clara quando falamos da educação nos
47
presídios, na qual, a partir dos dados do INFOPEN, apenas 0,9% da população prisional que
não concluiu a educação básica (89% nesses espaços) conseguiu acesso à educação em 2019.
Como observado na primeira parte deste capítulo, o sentido das prisões vai de encontro
à educação nesse espaço, e essa se configura como resistência da dignidade humana em um
lugar reconhecidamente degradante a ela.
Tomando-se por esse ângulo, estamos diante de uma situação paradoxal, e um dos
desafios a ser enfrentado é o de encontrar caminhos para o desenvolvimento de uma
educação emancipadora em um espaço historicamente marcado pela cultura da
opressão e repleto de contradições: isola-se para (re)socializar, pune-se para reeducar.
(ONOFRE, 2015, p. 240-241)
Exemplo disto é a LEP/84, na qual o Estado assegura aos detentos direitos iguais aos
dos cidadãos livres. Em seu 10º e 11º artigo, consta que os detentos e os egressos do sistema
têm direito à assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Entretanto,
o que encontramos na realidade das prisões é diametralmente oposto, celas superlotadas e a não
prestação destas assistências a todos os detentos. Ou seja, a igualdade é formal e não leva em
conta as desigualdades reais da vida. Tasoniero (2018) assinala que “a emancipação humana,
49
ainda que não prescinda da emancipação política, surge da superação de seus limites e se realiza
por meio da negação do cidadão burguês, abstrato, submetido à sociedade de classes e à
propriedade privada.” (p. 49).
Para Tasoniero (2018) não podemos falar de emancipação sem citar as grandes
contribuições do intelectual marxista Antonio Gramsci, para o qual a “emancipação intelectual
e moral” são fundamentais no processo educativo. O autor destaca que a concepção de educação
de Gramsci
se estende a toda população, ‘escola unitária’, deve ser assimilada como um processo
intencional de formação, com atendimento padrão e de qualidade e que, sobretudo,
esteja vinculado a uma formação ampla, que garanta os elementos necessários ao
entendimento e a intervenção na sociedade. (p. 51)
Neste sentido, tal pedagogia é também um processo inconcluso e não finito no qual se
valoriza o sentido dialético da construção do ser humano no mundo, fazendo-o e refazendo-se
enquanto sujeito da história. É uma teoria humana, no sentido de que é feita entre os sujeitos.
Social, ao reconhecer as opressões. De luta, ao buscar superar tais condições. Crítica à educação
tradicional, ao reconhecer o limite e transitoriedade dos conhecimentos. E, por fim, também
propositiva, ao buscar construir uma nova forma de entender e praticar o conhecimento, a
aprendizagem, e a escola.
Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os
homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos
objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os
descreve ou os deposita nos educandos passivos. (FREIRE, 1987, p. 44)
dificuldades e contradições, mas isso não impede a criação de processos educativos pautados
nos princípios da educação popular” (GODINHO Et al. 2020, p. 5).
Dentre os desafios traçados pelas autoras está “o de estabelecer confiança, condição
imprescindível ao diálogo”, porém, nesse processo se encontra como dificuldade a cultura
estabelecida no espaço prisional, a qual foi anteriormente mencionada ao pensarmos a
ressocialização em presídios. Questiona Godinho El al (2020)
como criar vínculos de confiança entre educandos/as e educador/a dentro desta
instituição que é repleta de desconfiança, onde as pessoas têm permanentemente o
receio de que suas palavras sejam incorporadas ao seu “relatório”; onde um colega de
cela pode ser o caguete, que denuncia infrações a um agente ou à Direção. (p.12)
Se os problemas são vários, e até mesmo geram embate entre as diferentes funções que
os presídios executam, o empenho e o recurso humano e financeiro investido também devem
ser. Como destacado, as formações, discussões e até mesmo redefinições dos limites devem ser
pautadas, discutidas, definidas, financiadas, pois, como já destacado, uma educação popular
que se paute na dialogicidade e na superação da realidade desigual e opressora, na qual os
10
Para uma maior elucidação da escola na ou da prisão ver: JULIÃO, Elionaldo. Escola na ou da prisão? Cad.
Cedes, Campinas, v. 36, n. 98, p. 25-42, jan.-abr., 2016.
sujeitos explorados e excluídos do sistema se encontram, passa por questionar as próprias
práticas do sistema, como afirma Godinho Et al:
Dentre os desafios da educação popular em contextos de privação de liberdade,
tomando como base os conceitos de dialogicidade e conscientização, ressaltados por
Freire, destacamos a importância de promover, na escola da prisão, um processo
educativo antagônico às práticas autoritárias e desumanizadoras denunciadas. A
dialogicidade é compreendida como a base de uma educação libertadora. Esta não age
sobre os sujeitos, tomando como objeto os homens e mulheres que dela participam –
e esta é uma importante ruptura em relação à educação bancária, pois tem como
pressuposto que educandos e educandas são sujeitos com experiências e saberes
produzidos nas culturas populares em que estão inseridos. Sem esse reconhecimento,
não poderia existir educação libertadora, no entender de Freire, nem pode existir hoje
a educação popular em contextos de privação de liberdade.” (GODINHO Et al, 2020,
p. 13)
Ou seja, é preciso assumir, ao falarmos das prisões, que as mesmas são espaços sociais
e, portanto, há socialização nesse espaço e a mesma pode e deve ser pensada como “tema
gerador” para a construção de uma educação crítica com vistas a emancipação humana. Assim,
“Embora reconheçamos a prisão como instrumento punitivo, que desestrutura as pessoas, ela
53
própria cria mecanismos de resistência que lhe permitem sobreviver.” (GODINHO Et al, 2020,
p. 16).
Por fim, fica explícito a necessidade de superação de questões que extrapolam os muros
das prisões. Se os presídios se articulam a sociedade e essa, à educação, pensar a superação de
um espaço, o dos presídios, que vai de encontro a humanização, é a única possibilidade da
conquista coletiva da liberdade. Como colocado por Godinho Et al (2020):
Em síntese, elencamos os seguintes desafios: garantir o direito à educação para os
grupos sociais mais vulneráveis e estigmatizados nos dias atuais; avançar no que diz
respeito à qualidade da educação de jovens e adultos; resistir aos ataques de grupos
conservadores contra os direitos humanos; e encontrar brechas no sistema
penitenciário para colocar em xeque esta instituição e avançar na produção de
alternativas ao encarceramento em massa. (p. 17)
É nessa perspectiva e com as questões postadas aqui que nos dispomos a analisar a
educação prisional nos capítulos que se seguem, buscando contribuir para o campo da análise
crítica, não apenas da educação em presídios, mas de nossa própria sociedade e sua potência de
“ser mais”.
2 - A EDUCAÇÃO NO CÁRCERE BRASILEIRO: ENTRE O DIREITO E A
RESSOCIALIZAÇÃO
A questão da segurança pública tem se colocado como campo de disputa entre os mais
diversos atores no Brasil. Se por um lado acredita-se que o aumento e/ou intensidade das penas
(como a defesa da pena morte), em especial a privativa de liberdade, são a solução para a
violência e a criminalidade em nosso país, emerge por outro, a compreensão mais ampla e
diagnóstica das razões pelas quais se vê ampliada a insegurança, o crime e a violência em nossa
sociedade. É, neste sentido, que se busca colaborar ao abordar a questão da educação no cárcere
observando de forma ampla a temática da segurança pública, discutindo a partir do contexto no
qual a luta pela garantia do direito e acesso à educação nas prisões tem sido incorporada à
legislação brasileira compreendendo que essa é fruto da articulação entre sujeitos e forças
sociais.
Assim, ao observar a construção histórica do sentido atribuído à educação no cárcere
brasileiro entre os anos 1984 e 2019, busco compreender o contexto e a sociedade na qual se
insere esse movimento de defesa do direito e acesso à educação e assim tornar possível
compreender o Brasil contemporâneo. Para isso, se faz necessário responder algumas perguntas
chaves como: qual sentido atribuído pela legislação para a educação no cárcere? Como se dá a
inserção da educação no cárcere, especialmente o brasileiro? Como se desenvolveu a
construção da necessidade/direito de educação no espaço do cárcere e de seu sentido
ressocializador? Há contradições inerentes a esse sentido? Há limites da educação vinculada à
ressocialização? Qual é a potência que a educação tem nesse espaço? Quais são as ligações
entre o contexto macroestrutural da sociedade brasileira e essas questões?
Em alguma medida, os debates que ganham força no Brasil a partir da década de 1980,
acerca das questões da educação no cárcere, tem como referência algumas experiências
positivas no processo de ressocialização durante o Estado de Bem Estar Social, especialmente
na Europa, e que, com o processo de abertura política já no final da Ditadura Militar brasileira,
é retomado, assim como muitos dos debates reprimidos durante esse período.
Dentre os discursos que ganham força está o da necessidade de garantir o acesso à
educação para as pessoas privadas de liberdade. Tal questão se respalda, especialmente, em
uma série de tratados em que o Brasil vai se tornando signatário11, além da ascensão do discurso
que relaciona a educação à ressocialização do apenado e a mobilização e organização de presos,
11
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 é a principal, mas dela decorrem diversos outros
tratados.
55
12
A remição pelo estudo é contada na razão de um dia de pena para doze horas de efetivo estudo.
59
O autor apresenta que uma das primeiras experiências de educação no cárcere de forma
organizada e respaldada por órgãos governamentais ocorreu em 1967 no Estado do Rio de
Janeiro em uma parceria entre a Secretaria de Estado de Justiça e a Secretaria de Estado da
Educação. Além dessa, outras experiências são citadas, ainda que de maneira vaga, entretanto,
poucas são as referências sobre elas. Conforme assinalado:
Poucos são os estudos existentes no país que remontam a história da educação em
espaços de privação de liberdade. Raros são os documentos que possibilitam a
reconstituição desta história, visto que muitas das experiências desenvolvidas nos
estados nunca registraram o trabalho realizado, assim como não mantiveram ao longo
dos anos os parcos documentos, registros produzidos das ações desenvolvidas.
(JULIÃO, 2013, p.2)
que foram se consolidando com o tempo em ações públicas de educação para jovens e adultos
no sistema penitenciário.” (p.27).
Neste sentido, a Constituição Federal de 1988 afirmou o compromisso do país com a
educação com vistas ao desenvolvimento nacional, especificamente em seu Artigo 205, quando
afirma a educação como direito de todos e dever do Estado e da Família. Destaca-se também o
artigo 206 que afirma que a oferta de educação deve se dar em igualdade de condições de acesso
e permanência, e que a mesma deve ser obrigatória e gratuita, incluindo-se a garantia a ela para
aqueles que não tiveram acesso em idade adequada, leia-se EJA, caso da população prisional.
Além disso, cabe destacar que a constituição afirma a busca pela erradicação do analfabetismo
e a universalização da educação básica. Nesse sentido, reafirma, ainda que não explicitamente,
o direito à educação aos privados de liberdade. Para tal compreensão é importante destacar que
as pessoas privadas de liberdade, de maneira geral, perderam apenas seu direito de ir e vir,
sendo consideradas cidadãs e, portanto, devem ter seus direitos sociais, como a educação,
resguardados.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, Lei nº 9.394, nota-
se a ausência de propostas para a educação prisional, entretanto é possível atrelá-la à EJA, a
qual é referenciada no documento. Importante destacar que é a partir da LDB que a EJA passa
a vigorar como política pública no Brasil. Do debate sobre a EJA no país destaca-se ainda, no
campo legal, a resolução da CNE/CEB 01/2000, na qual é colocada como etapa da educação
básica, e a Resolução CNE/CEB 03/2010, que Institui Diretrizes Operacionais para a Educação
de Jovens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso,
certificação e oferta de Educação a Distância. O que podemos observar é que ainda em 1996 a
educação prisional não é inserida de forma explícita no âmbito legal da educação no Brasil.
Tal perspectiva começa a se redesenhar a partir do Plano Nacional de Educação em
2001, no qual se apresenta pela primeira vez a questão da educação no cárcere de forma
orientada, fruto, em alguma medida, do avanço nos debates sobre a EJA e a necessidade de
respeito às especificidades de cada público por ela abarcado. Além disso:
Ao estender a oferta do ensino aos estabelecimentos penais, o Plano [2001] visou
responder aos compromissos firmados na Conferência de Dacar sobre a Educação
para todos em 2000, na Declaração de Hamburgo em 1997 e nos demais documentos
da ONU e da UNESCO referentes à garantia dos direitos humanos" (BOIAGO, 2013,
p. 109)
No plano, a meta nº 17, referente a EJA, afirma a necessidade de implantação de
programas de educação em todas as unidades prisionais, afirmando ainda que para tal
“clientela” seja garantido
[...] em todas as unidades prisionais e nos estabelecimentos que atendam a
adolescentes e jovens infratores, programas de educação de jovens e adultos de nível
fundamental e médio, assim como de formação profissional, contemplando para esta
clientela as metas n° 5 e n° 14.” (BRASIL, 2001, p. 75)
Nesse caminho, em 2007 o STJ, a partir da súmula 341, pacifica o entendimento sobre
remição de pena para quem cursa o ensino fundamental. O Poder Judiciário do Mato Grosso do
Sul parece ser o primeiro a reconhecer a súmula 341 em sua portaria nº002/2008. Segundo
Torres, “até o ano de 2010 o dispositivo jurídico da remição de pena pela educação também
fora acolhido pelo judiciário dos Estados do Rio de Janeiro (RJ), Paraná (PR), Espírito Santo
(ES), Minas Gerais (MG), Rio Grande do Sul (RS), Distrito Federal (DF), Rondônia (RO) e
Ceará (CE) (2017, p, 41).”
O que percebemos é que as experiências individuais e de coletivos antecipam a
institucionalização e a regulamentação legal das práticas de ensino. Cabe destacar também que
movimentos sociais, internos e externos ao sistema prisional no período acabam por contribuir
para a discussão e ampliação dos debates em torno da educação e da remição pelo estudo. Ponto
63
central na tese de Eli Torres (2017), o "dispositivo remição", para a autora, decorre do encontro
de dois movimentos internos ao sistema prisional: o excesso de lotação, que desdobrou-se em
uma série de rebeliões, como a que resultou no massacre do Carandiru em 1992, e por outro
lado, o surgimento de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) em 1993.
Assim, por um lado, as junções destes processos levaram às rebeliões ocorridas no
início dos anos 2000 no país. Esses acontecimentos, que estiveram estreitamente
associados à forte ampliação do encarceramento que teve lugar no Brasil a partir de
1990, coincidem no tempo com o início das mobilizações dos grupos de diferentes
tipos que, ao se articularem, contribuíram para produzir uma “questão carcerária”, ela
própria mobilizadora de outras forças. (TORRES, 2017, p. 92. Grifo meu)
Assim, a questão instaurada internamente parece, no início dos anos 2000, ganhar corpo
de articulação entre o Estado brasileiro e projetos internacionais que debatem e fomentam ações
no campo da educação prisional. Boiago (2013), ao analisar as políticas internacionais e
nacionais sobre a oferta de educação em espaços de privação de liberdade, coloca que “os
debates sobre a educação de jovens e adultos privados de liberdade vêm alcançando contornos
internacionais.” (p.130). O autor refere-se, especialmente, ao desenvolvimento no ano de 2004
do Projeto EUROsociAL no qual o Brasil a partir da SECAD/MEC, que propôs a introdução
da temática da educação prisional nas discussões do projeto. É nos marcos dele, por exemplo,
que é criada a Rede Latino Americana de Educação em Prisões (RedLECE):
[...] criada no âmbito do Projeto EUROsocial de Educação, é financiada pela
Comissão Europeia e dirigida pelo Centro Internacional de Estudos Pedagógicos
(CIEP) do Ministério da Educação Nacional da França. Foi aprovada por ministros e
representantes governamentais de países latino-americanos responsáveis pela política
de educação prisional, reunidos em Belo Horizonte, de 20 a 24 de novembro de 2006.
A RedLECE é constituída pelos seguintes países: Argentina, Brasil, Colômbia, Costa
Rica, Equador, El Salvador, Honduras, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
(REDLECE, 2012 APUD BOIAGO, 2013, p. 131)
Vale destacar que a SECADI13 foi extinta a partir do Decreto nº 9.465, de 2 de janeiro
de 2019 do então empossado Presidente da República Jair Messias Bolsonaro. O decreto
modificou a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das
Funções de Confiança do Ministério da Educação, remanejou cargos em comissão e funções de
confiança e transformou cargos na comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores -
DAS e Funções Comissionadas do Poder Executivo - FCPE. Tal questão é parte da justificativa
para o recorte temporal final desse trabalho no ano de 2019.
Ao analisar o sentido, as funções, bem como, a extinção da SECADI, Jakimiu (2021)
afirma que:
A exclusão da SECADI, significou: a) a invisibilização e naturalização das diferenças
reforçando os preceitos neoliberais e os pressupostos da meritocracia, b) o movimento
de fortalecimento da política de despolitização no sentido atribuído por Girouxe
Figueiredo (2020), c) a negação do direito à educação (para e com a diversidade), e,
13
A diferença na sigla se dá pela adição da Inclusão ao nome da secretaria.
65
Com a aprovação no CNPCP das diretrizes, as mesmas passam a ser avaliadas pela
SECADI, sendo aprovadas em 09 de maio de 2010 e instituídas pela Resolução CNE/CEB nº
67
2, de 19 de maio de 2010. Nas diretrizes, a EJA no sistema prisional fica a cargo das Secretarias
Estaduais de Educação.
Neste sentido:
Logo após a aprovação das Diretrizes Nacionais para Educação nas Prisões, foi
realizado o Seminário Internacional Educação em Prisões: convergências e
perspectivas atividades de reflexão e convergências, em Brasília, entre os dias 07 a 10
de junho de 2010. O evento foi promovido pelo Ministério da Justiça e pelo Ministério
da Educação, em parceria com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).
Reuniu autoridades e especialistas nacionais e internacionais com o propósito de
firmar uma carta de intenções com os compromissos assumidos referentes à educação
no sistema prisional. (BOIAGO, 2013, p. 119)
Por fim, as Diretrizes Básicas para a Arquitetura Penal, elaboradas pelo Ministério da
Justiça em 2011, foram aprovadas e relacionam-se diretamente com as diretrizes anteriormente
explicitadas, pois reafirma a necessidade de criação de salas de aula, bem como, de bibliotecas
para a promoção da educação em espaços de privação de liberdade.
Boiago (2013) destaca, quanto ao projeto Educando para a Liberdade, que:
É enfatizado que a presença da UNESCO na execução do Projeto, juntamente aos
órgãos do governo, possibilitou que a educação nas penitenciárias fosse tratada como
questão mais ampla. A temática foi relacionada com a “[...] realização dos direitos
humanos fundamentais (no caso, o direito à educação) e a construção de uma cultura
da paz [...]” (UNESCO, 2006, p. 16), direitos estes que movimentam os esforços de
toda comunidade internacional. (p. 125)
Fica explícito na fala do então ministro que os presídios encontram sua finalidade em si
mesmos (segregar da comunidade livre), sem a garantia dos direitos dessas pessoas, ou seja só
depois, se possível, será pensado a sua finalidade, que é a ressocialização, segundo a LEP.
Podemos observar, nesse sentido, um descaso na promoção da educação nesses espaços,
mesmo após todos os avanços legislativos, acadêmicos e de organização social. Segundo os
dados divulgados pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN,
2019), o Brasil possui atualmente a terceira maior população carcerária do mundo, em números
absolutos de pessoas (755.274). Sua taxa de encarceramento por habitante (359,4 para cada 100
mil) e o déficit de vagas no sistema (312.925) não para de crescer. Cabe destacar que por volta
de 30% desta população sequer foi sentenciada estando, portanto, privada de sua liberdade sem
uma condenação que respeite o devido processo legal14. Segundo o IFOPEN, a população
carcerária é majoritariamente formada de jovens (44% entre 18 a 29 anos), negros(as) (58%),
solteiros(as) (45%) e de baixa renda.
O perfil da população privada de liberdade, em 2019, similar à de anos anteriores e
posteriores, pode ser observado na tabela abaixo:
Tabela 1- Perfil educacional dos detentos no Brasil em 2019
14
Daqui decorre a postura de não utilização do conceito de “apenado” utilizado por alguns autores, pela
compreensão de que apenado diz respeito ao sujeito condenado dentro do devido processo legal.
71
Em 2016 era apenas 12% da população prisional brasileira que estava de algum modo
envolvida com atividades educacionais (INFOPEN), incluindo-se também nesse percentual
outras atividades educacionais para fins de remição, como remição pela leitura e pelo esporte,
cursos de formação inicial e continuada e cursos profissionalizantes, ou seja, não
necessariamente relacionados à Educação Básica.
Segundo o Infopen de 2019, no decurso daquele ano, 14.790 detentos estavam
matriculados na alfabetização, 40.386 no ensino fundamental e 19.077 no ensino médio, ou
seja, pode-se considerar que, inicialmente, 74.253 pessoas privadas de liberdade tiveram acesso
à Educação Básica. A esses somam-se 796 no ensino superior, 345 em cursos técnicos com
mais de 800 horas e 3.634 em cursos de formação inicial e continuada com carga horária acima
de 160h. 26.862 matriculados em projeto de remição de pena pela leitura, 346 pelo esporte e
17.416 em atividades complementares (lazer, videoteca, cultura). No total, essas outras
atividades abarcam 49.399 (6%) da população carcerária.
Ao constatar que, dos 89% da população carcerária que não possui Ensino Básico,
apenas 0,9% se encontravam vinculados à Educação Básica, é possível afirmar que a quantidade
15
Altera o inciso II do art. 4º e o inciso VI do art. 10 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para
assegurar o acesso de todos os interessados ao ensino médio público.
de pessoas envolvidas em processos de educação é muito inferior ao dos que não tiveram acesso
na idade recomendada. Sendo assim, percebe-se um forte desalinhamento entre a legislação e a
prática. Ainda que somados, tanto as atividades de educação básica, quanto as demais atividades
relacionadas à educação, chega-se a 123.652 (16%) da população que de alguma forma se
vinculou à educação. Outro dado do INFOPEN/2019, que cabe destacar, é que 35% dos
presídios brasileiros sequer possuem pessoas estudando. A fala de Osmar Serraglio, então
Ministro da Justiça, parece caminhar no sentido de manutenção desta realidade ao incentivar a
flexibilização das normas técnicas para a construção e reforma de presídios.
Interessante notar que, conforme relatório do Seminário Nacional de Educação em
Prisões, “assim é que, como demonstram dados do Ministério da Justiça, de 240.203 pessoas
presas em dezembro de 2004, apenas 44.167 encontravam-se envolvidas em atividades
educacionais, o que equivale a aproximadamente 18% do total.” (BRASIL, 2006a, p. 3).
Constata-se, a partir disso e dos dados de 2016 e 2019 aqui apresentados, que a parcela da
população carcerária brasileira se tem mantido estável em termos relativos, abarcando 18% em
2004, 12% em 2016 e 16% em 2019. Em números absolutos, entretanto, houve um aumento
significativo na oferta de educação. A explicação para a manutenção no percentual de detentos
com acesso à educação encontra-se no elevado punitivismo do período, o qual fez com que a
população carcerária desse um salto de pouco mais de 240 mil presos em 2004 para mais de
750 mil, em 2019. Tal constatação parece expor as contradições do sistema prisional e o caráter
ideológico da política de segurança pública no Brasil.
À medida que a educação assumiu papel fundamental no processo de ressocialização
das pessoas nesse sistema, no âmbito acadêmico e legal, passou-se a reconhecer legalmente a
educação como direito inalienável do ser humano, porém, a mesma não se efetivou, atendendo
apenas um percentual muito pequeno desta população. Ou seja, a educação não tem sido
resguardada como direito e tampouco pode-se considerar que tenha sido efetivamente posta a
favor do processo de ressocialização.
Mesmo a experiência de acesso à educação mostrada até aqui pode, deve e tem sido
questionada.
Assim, a exposição de índices informados pelos estados não concretiza a afirmação
de que essas pessoas tiveram acesso a uma atividade educacional, pois as matrículas
ou inserção na ação podem não ter se transformado em participação ou permanência,
uma vez que há evasão e alta rotatividade no que concerne à educação de pessoas no
sistema prisional. (TORRES Et al, 2021, p.8)
73
Voltando nossos olhos para os dados divulgados no Infopen (2019), percebemos que
existe um déficit na estrutura física dos presídios. Destaca-se que apenas 65% das unidades
prisionais possuem salas destinadas à educação. No total, são 3.140 salas de aula distribuídas
entre as 947 unidades, ou seja, uma sala de aula a cada 238 presos no sistema. Destaca-se
também que 384 (26%) unidades não possuem atualmente nenhum módulo de educação, sem
salas de aula, sem sala de informática, sem biblioteca. Sem estudo. Diante da falta de estrutura
física, compromete-se ainda mais o acesso e a qualidade da educação daqueles poucos
"incluídos" nesse privilégio que é o acesso à educação no sistema penitenciário brasileiro.
Como destaca Tasoniero:
Entretanto, na realidade das unidades penais, verificamos que a educação escolar é
relegada a um segundo plano. Na prática, há muito mais pessoas presas que poderiam
ser incluídas no sistema educacional e que não o são por sérias limitações, tanto da
estrutura física quanto do próprio funcionamento do sistema penitenciário. A
educação prisional não consegue atender a grande maioria dos apenados. E, mesmo
os poucos matriculados, em sua maioria, não compreendem a educação como
prioridade, tendo em vista que grande parte dos presos, ao coincidir os horários de
escola e trabalho, acabam optando pelo trabalho, dada sua necessidade material de
existência. (TASONIERO, 2018, p. 144)
É a partir disso que podemos afirmar que a educação tem assumido outro caráter que
não o de direito e de fundamento para o processo de ressocialização. Do conceito de
ressocialização podemos, de forma simples, observar o deslocamento do presídio da realidade,
como se o mesmo fosse um espaço a-social ao encarar que aquilo que ali dentro é vivenciado
não é fruto de um processo de socialização ou que aquele ali detido não possui esta capacidade
e, portanto, é necessário ressocializar esse sujeito.
Ademais, a política de resolução de conflitos, por vezes sociais no Brasil, passa pela
privação de liberdade e encarceramento em massa, algo que tende a se manter elevado e mesmo
se ampliar frente a atual conjuntura/crise econômica e política do país, entretanto como já
destacado e observado, tal política não aumenta a segurança da população.
[...] a política educacional é gestada num contexto de crescente encarceramento e de
constantes violações de direitos, fatos que refletem negativamente em todo o processo
educacional. Os dados sobre a questão de superlotação são dramáticos e, em geral, as
unidades prisionais não foram planejadas nem construídas pensando na necessidade
de acomodar uma boa parte da população em sala de aula. (TORRES Et al, 2021, p.
15)
Sendo assim, ou passamos a garantir o direito de acesso das pessoas à educação e com
isso fomentamos o processo de socialização e desenvolvimento humano, ou ela continuará a
ser colocada como um “privilégio” de poucos dentro do sistema carcerário. Em tempos em que
se torna necessário dizer o óbvio, é por meio da educação, enquanto direito, que podemos
promover o desenvolvimento humano social, econômico e cultural e, portanto, o
desenvolvimento do próprio país.
A legislação, no Brasil, com seu discurso articulado e conciliatório, induz à aparente
ideia de ressocialização dos apenados, ou seja, no âmbito da lei, todos os presos vão
encontrar nas prisões a - oportunidade da ressocialização, e a educação emancipatória
é uma das principais ferramentas para essa ressocialização. Entretanto, na prática, o
espaço da prisão impõe severos limites para a liberdade das pessoas presas, privando-
lhes de decisões básicas do cotidiano, como comer, dormir, tomar banho, estudar,
trabalhar, etc, além de condições desumanas de alojamento, alimentação, higiene,
entre tantos outros aspectos degradantes. Isto é, as prisões, na realidade cotidiana,
apenas fomentam a violência, multiplicando ou transformando a quantidade de crimes
e criminosos; um efeito perverso e oposto ao seu objetivo formal de humanização,
ressocialização e emancipação. (TASONIERO, 2018, p. 146)
Ao longo dessa jornada de luta pela educação para a liberdade, os processos de inclusão
da educação no cárcere têm carecido de investimentos, elemento fundamental para a
universalização do acesso à educação:
[...] o caminho para a universalização da educação em prisões no Brasil carece de
maior investimento e fomento por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública
(MJSP), mediante intervenção do Depen, como órgão responsável pela política que
compartilha com os estados a responsabilidade e a regência das diversas fases da
política, do planejamento, passando pela execução (de instruções e investimentos),
até o monitoramento, avaliação e criação de arranjos e rearranjos institucionais com
foco em progressivos investimentos. (TORRES Et al, 2021, p. 16)
Além disso, tal movimento histórico tem servido a ideologias que desgastam o
potencial da educação, tanto em seu sentido específico quanto no sentido de ressocialização
tomado pelo sistema carcerário. Conforme assinala Silva (2012):
No Brasil, sobretudo, o sistema carcerário não cumpre outra função diferente da
imposição de medo e extermínio dirigidos as classes trabalhadoras, em geral
desprovidas dos robustos recursos necessários ao caminho de acesso a justiça
burguesa.
Tal evidência valida à perspectiva de Marx e sua ponderação sobre a relação do
cárcere no processo de exploração capitalista, se agregando a este, seu caráter de
controle social compreendido como controle de povos e mentes, ou seja, sua função
ideológica frente à sociabilidade vigente, que estabelece discursos a favor do
endurecimento penal a fim de justificar o aumento de pessoas levadas ao cárcere,
cunhando um retorno a antiga proposta de força e dominação que se efetiva através
do aprisionamento em massa, salientando a ocorrência de significativa demanda
reprimida - que consiste em um número elevado de mandados de prisão que ainda não
foram cumpridos -, velhos métodos de um homem em busca de afirmação pessoal
pela subjugação do outro aos desígnios de sua arbitrariedade, em campanha pela via
de uma mórbida lógica de medo coletivo. (p.16)
Constatou-se a partir dos dados apresentados e da análise até aqui desenvolvida que
apesar da institucionalização da educação em prisões e os avanços no debate nesses espaços,
em números proporcionais, a parcela da população privada de liberdade com acesso à educação
não sofreu grandes modificações, ao passo que tivemos quase duplicado a quantidade absoluta
de detentos vinculados às atividades educativas. Tal questão encontra resposta no aumento do
punitivismo, ou seja, no aumento substancial do uso da pena privativa de liberdade para a
resolução de conflitos. Conforme assinala Julião (2020) em sua análise das experiências de
educação nas prisões da América do Sul, “ainda há um grande descompasso entre o âmbito
legal e o experienciado no cotidiano da execução penal” (p. 145).
Na prática, o que podemos observar é a tendência punitivista do Estado brasileiro e uma
necessidade de aumento do número de encarcerados, alicerçada em uma visão ideologicamente
orientada pelo aumento da punição, que encontra em si mesmo seu sentido: o de reproduzir a
lógica populista da política nacional, na qual o diálogo entre políticos e a população
amedrontada busca soluções para o problema da violência com respostas simplistas, como a do
aumento do aprisionamento e das penas.
Por outro lado, com a força da sociedade civil organizada junto a intelectuais que
pensam a segurança pública e a educação, foi possível a institucionalização desta como direito
também no âmbito do sistema prisional. As lutas pela educação dos sujeitos privados de
liberdade e por eles, como destacado por Eli Torres, fizeram avançar no âmbito legal as
definições de tal política, mas as mudanças ainda são limitadas e limitadoras. Além disso,
especialmente a partir de 2016, alicerçada em discursos conservadores ideologicamente, é
possível observar um desmonte de instituições e de parte das propostas para a educação em
espaços de privação de liberdade, nesse sentido, as lutas passadas pela institucionalização da
educação no cárcere necessitam agora de novo investimento humano para caminhar rumo à
universalização da educação e, quem sabe um dia, a própria extinção dos presídios da
sociedade.
3 - A EDUCAÇÃO EM PRESÍDIOS DE SANTA CATARINA
Esse último capítulo analisa a construção do sentido da educação em presídios de Santa
Catarina, como parte da investigação até aqui apresentada, observando que se trata de um
recorte a nível estadual, mas que é signatário de um processo histórico nacional e mesmo
internacional. Nesse sentido, o subdividimos em cinco partes: A Educação Prisional em SC:
primeiras aparições legais; A regulamentação da Educação em Presídios - 2012; O Plano
Estadual de Educação em Prisões de SC (2015-2016); O Plano Estadual de Educação em
Prisões de SC (2016-2026); O PPP do CEJA - Rio do Sul e os dados da educação em SC entre
2015 e 2019. Para tal análise utilizamos a legislação, bem como o Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (INFOPEN).
Ainda de acordo com a lei nº 529 de 2011, em seu artigo 24, se afirma que:
São instrumentos de tratamento penitenciário, entre outros:
I - a assistência material, à saúde, jurídica, social, religiosa e educacional;
II - o trabalho;
III - a disciplina; e
IV - a assistência do egresso. (p. 10)
Assim, o parágrafo segundo afirma que: “A educação tem por fim transmitir conceitos
éticos e sociais, nela estando incluído o lazer prisional.” (2011, p. 11). A seção III, “Da
Assistência Educacional”, não sofre alterações significativas em relação ao já afirmado
anteriormente, seu texto é modificado apenas quanto à nomenclatura, substituindo-se o “ensino
de primeiro grau” por “Ensino Fundamental” (2011, p.16).
Interessante notar que acerca das “prerrogativas fundamentais inerentes à personalidade
do preso” é destacado que “V - o dever de trabalhar, de se dedicar a atividades educativas e o
condicionamento disciplinar não serão convertidos em exigências constrangedoras da
personalidade, mas organizados como expedientes de ressocialização e de preparação do
interno para a vida do homem livre.” (2011, p. 43). Ou seja, no âmbito do penal novamente é
reafirmada a educação para a ressocialização.
Quanto ao Regimento das Penitenciárias do Estado de Santa Catarina (DECRETO n°
4.600, de 22 de Junho de 1994), no que diz respeito à educação, sua seção III, “Da Gerência
dos Serviços de Saúde, Ensino e Promoção Social”, afirma que tal gerência tem como
competência “I - supervisionar, controlar e fiscalizar as atividades da Escola da Penitenciária”
(1994, p. 15), compete ainda a partir do artigo 19, para além do disposto no artigo 39, “oferecer
79
Por outro lado, percebemos avanços no que diz respeito a programas de formação
continuada para professores, apregoado no artigo 10º da resolução. Entretanto, a rotatividade
de profissionais da educação nos presídios, como observado nos dados ao final deste capítulo,
dificulta o processo de avanço das práticas educativas a partir de tais formações.
O artigo 11º da resolução define a SJC como responsável pela disponibilização de
espaços físicos para as práticas educativas:
A Secretaria de Estado da Justiça deverá, conforme previsto nas Resoluções do
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, propiciar espaços físicos
adequados às atividades educacionais, esportivas, culturais, de formação profissional
e de lazer, integrando-as às rotinas dos estabelecimentos penais, evitando improvisos
e mudanças constantes.
Por fim, o artigo 13º afirma que: “A Secretaria de Estado da Educação deverá tornar
público, por meio de relatório anual, a situação e as ações realizadas para a oferta de Educação
de Jovens e Adultos, em cada estabelecimento penal sob sua responsabilidade.”.
81
Construção do PEEP
O PEEP/SC, de 2015, é uma proposição para a obtenção de apoio financeiro pelo Plano
de Ações Articuladas e/ou do Fundo Penitenciário Nacional, que tem por objetivo promover a
ampliação e a qualificação da oferta de educação em estabelecimentos penais. O plano é
executado pela SED/SC e SJC-SC, a partir da proposição do Governo do Estado. Sua
construção se dá na esteira da regulamentação nacional, especialmente a partir da aprovação do
Plano Diretor do Sistema Penitenciário de 2008 e da Resolução nº 2 da CNE, de 19 de maio de
2010, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação no Sistema Prisional,
anteriormente aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)
em 2009. Tais resoluções, analisadas no segundo capítulo desta dissertação, provocam os
Estados a elaborarem seus planos de ação no que diz respeito à educação em presídios.
O Plano Estadual de Educação em Prisões de SC é elaborado a partir de 2010, mais
especificamente a partir de agosto desse ano, quando acontece, conforme o Anexo A, o Curso
Educação em Prisões (I Seminário Estadual de Educação em Prisões16). É nesse momento, que
se formula a primeira versão do plano. O curso aconteceu de 23 a 27 de agosto, em
Florianópolis, e foi elaborado pela SED em parceria com a SJC e envolveu agentes
16
Fonte: https://www.policiapenal.sc.gov.br/index.php/noticias/321-seminario-estadual-de-educacao-em-prisoes
penitenciários, professores e técnicos. O curso e as discussões foram construídos especialmente
a partir da LDBEN e da LEP, ou seja, contemplando e integrando o âmbito educacional e penal.
Destaca-se no próprio PEEP, lançado em 2015, a dificuldade de elaborar em poucos dias uma
proposta para a educação em presídios.
Segundo o PEEP/2015, as discussões “foram marcados por dois parâmetros muito
objetivos: legalidade para fortalecer a cultura de direitos, na qual se insere esse Plano, e
exequibilidade para que os esforços não resultem em frustrações pela impossibilidade de
concretizar as propostas.” (p. 8).
Interessante notar que o PEEP/2015 destaca que foi preciso uma definição precisa do
papel da educação, afirmando que:
A atividade finalística da Educação não é converter pessoas nem melhorar os
indicadores penitenciários, mas sim ofertar o acesso ao processo de escolarização
formal para homens e mulheres privados de liberdade no sentido de exercerem os
direitos da cidadania e para usufruir das oportunidades gestadas no âmbito da própria
sociedade. (p. 8)
Neste sentido, se faz notar a necessidade de que a EJA prisional possua especificidades
ainda que seu público-alvo seja, assim como a EJA regular, jovens e adultos. Reafirma também,
o aspecto legal, alicerçado na legislação acerca da educação e do sistema penal, bem como a
busca por contemplar tanto os “interesses dos presos, das unidades prisionais, do Estado e da
sociedade.” (PEEP, 2015, p. 12).
Conforme afirma o PEEP/2015: “A concepção pedagógica defendida neste Plano é de
uma pedagogia integral, integrada e integradora; que possibilite a otimização dos recursos
existentes tanto no sistema penitenciário como no sistema público de ensino.” (p.12). Se
destacam daí duas questões fundamentais, uma quanto ao aspecto conceitual/pedagógico
idealizado e do outro a concepção de exequibilidade, ao reafirmar a necessidade de “otimização
dos recursos existentes”.
Quanto à orientação e concepção, o plano tem como chave para sua construção o
conceito de Cidade Educadora, ao compreender esse como um importante elemento para a
construção de políticas públicas. No PEEP o conceito é reformulado e significado para Prisão
que Educa, tal conceito para o PEEP é análogo ao primeiro. Entretanto pouco é explorado,
resumindo-se ao uso para afirmar a necessidade de explorar as “potencialidades explícitas e
implícitas”, a participação de todos os atores envolvidos, para além dos da educação, integrando
e responsabilizando pelo processo também os trabalhadores do sistema penal. É a partir dessa
integração e responsabilização que se afirma, no PEEP, a necessidade da interdisciplinaridade,
conceito que novamente se resume a ser citado, mas não explorado.
O PEEP reconhece que, no que diz respeito aos sujeitos da EJA prisional, “falharam
todas as instâncias tradicionais de socialização” (p. 12). Para o plano, esses “tem na prisão uma
última oportunidade para completar seu processo de desenvolvimento humano.” (p.12). Neste
sentido, é possível observar que tal compreensão dá corpo a necessidade anteriormente exposta
de adequação da EJA no/para o sistema prisional, por outro lado, no entanto, na grande maioria
das vezes a prática é apenas transposta da EJA regular para a prisional. Destaca-se ainda que se
coloca a prisão como fim desses sujeitos, como último espaço possível de educação, ao qual
esse aparece aprisionado.
A concepção pedagógica, apresentada no plano, termina por compreender que a
concepção de prisão que educa se aproxima do conceito de Educação Integral sem, novamente,
adentrar a esse vínculo e tampouco definir a educação integral defendida.
A partir disso, o plano passa, no que diz respeito à construção de fundamento e “norte”,
a discutir as especificidades do sistema prisional, elencando também proposições baseadas na
concepção pedagógica brevemente apresentada e acima elucidada. Neste sentido, destaca como
condicionantes das especificidades: “espaço, tempo, contexto, perfil dos presos, natureza das
experiências individuais, a condição de confinamento e os imperativos de segurança e disciplina
que lhe são característicos.” (p. 13). Destaca ainda, alguns fatores que acabam por intervir no
processo educativo, como “a estrutura do Sistema Prisional de cada Estado, a Cultura prisional
predominante, a violência, a insegurança e o medo.” (p. 113). Por fim, cita a necessidade de se
levar em conta a relação “preso x agente”, trabalho x educação e as limitações de espaços
físicos.
A partir desses fatores, destaca a necessidade de
nomenclatura própria na carreira do magistério, à proposta de formação continuada e
em serviço, ao desenvolvimento de material didático específico, à integração entre
saberes formais e não formais, à formulação de indicadores de avaliação próprios e ao
concurso das instituições não escolares. (PEEP, 2015, p. 13)
a reafirmar o que está na LDB quanto à orientação para cada “modelagem”, especialmente no
que diz respeito às três primeiras.
Importante destacar que termos e conceitos substanciais da concepção são pouquíssimos
ou nada elaborados (educação integral, interdisciplinaridade, ressocialização). Se apresenta
também uma contradição entre a relação educação e ressocialização que: hora usando-se da
segunda busca reafirmar a primeira, ora busca distanciar a finalidade da primeira do objetivo
do processo penal disposto na segunda.
Novamente aqui, pudemos observar que as concepções se voltam para a exequibilidade
da proposta, concluindo tal parte do documento afirmando que: “A fundamentação desta
concepção de EJA Prisional prima por seu baixo custo, - não impondo ao Estado e ao
contribuinte novos investimentos – pela exequibilidade - por potencializar recursos existentes
na Educação e no Sistema Penitenciário.” (PEEP, 2015, p. 17).
Por fim, podemos definir que, de maneira geral, o PEEP/2015, busca caminhar na
construção de uma proposta que vise a educação integral e interdisciplinar a partir do conceito
de prisão que educa, sendo este, para o plano, análogo ao de cidade educadora. Esse conceito
é buscado especialmente para afirmar a necessidade de explorar todos os espaços e sujeitos
envolvidos no espaço prisional, não apenas os da educação e dos detentos. Neste sentido, o
PEEP, reconhece determinados limites impostos pelo sistema prisional à construção da
proposta de educação apresentada, especialmente no que diz respeito às características próprias
do sistema e que, por vezes, vão de encontro a finalidade da educação.
Sendo assim, o plano coloca como fundamental habilitar as unidades de EJA prisional
a fim de possibilitar a captação de recursos juntos às diferentes esferas de organização do Estado
e mesmo para com a iniciativa privada (PEEP, 2015, p.94).
Por fim, apesar de destacada a especificidade do espaço e dos sujeitos da EJA prisional
em relação a EJA regular, e da necessidade de material adequado e adaptado, o que percebemos
é que o material didático utilizado é o mesmo da EJA regular, sendo feito apenas sua
transposição para os espaços de educação nos presídios conforme o próprio PEEP/2015 (p. 84).
A educação em prisões de Santa Catarina, que se dá pela cooperação entre SED e SJC,
carece de normatização até este momento, estando no decurso desse período alicerçada por
termos de convênio de cooperação, válidos por 12 meses. Tais termos estabelecem as normas
e atribuições referentes à oferta de educação de cada secretaria (SJC e SED). Se faz notar, então,
a instabilidade da oferta a partir da transitoriedade do termo, bem como, sua não normatização
permanente. De maneira geral, tais termos têm colocado como responsabilidade da SED as
questões da educação e da SJC questões vinculadas à segurança e a disponibilização de espaço
físico para a prática educacional.
Destaca-se, entretanto, tanto no Convênio firmado em 2014, nº 2014 TN 000573, quanto
no de 2015, nº 2.015 TN 001500, a obrigação da SJC em “IV – Acatar efetivamente as
orientações quanto aos princípios filosóficos que norteiam a ação do governo do Estado,
referente à Educação de Jovens e Adultos.”. Ou seja, apresenta novamente a necessidade do
penal em se nutrir das construções de sentido da educação nesse espaço, questão esta que só
ganha sentido de ser exposta quando não há compreensão por parte desse da função da
educação. Neste sentido, os termos entram em acordo com o PEEP/2017, que se faz proponente
ao elencar ainda que a SJC deve: “X – Garantir aos gestores, técnicos e agentes a participação
em cursos de capacitação integrados aos professores.”.
Interessante notar, nos termos da Lei Complementar nº 675, que Institui o Plano de
Carreira e Vencimentos dos cargos de Agente Penitenciário e Agente de Segurança
Socioeducativo do Quadro de Pessoal da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SJC), a
ausência quanto a função dos agentes penitenciários no que diz respeito à educação, não
constando nenhuma referência à mesma, questão que na função de agente socioeducativo é
apresentada nos termos de “Corresponsabilizar-se pelo processo educacional do adolescente”
(p. 27).
Um avanço significativo, do PEEP/2017 em relação ao PEEP/2015, é a indicação e
orientação em seu capítulo X de: “Práticas Pedagógicas e Atendimento à Diversidade”. Se
alicerçando na Proposta Curricular de Santa Catarina, lançada em 2014 e que aborda a proposta
de trabalho pedagógico para toda a educação estadual, se apresenta a necessidade, a partir do
reconhecimento de que o atendimento prisional é diferenciado, de buscar estabelecer “práticas
pedagógicas diferenciadas” (p. 70), bem como atender às diversidades.
No que diz respeito às práticas pedagógicas, as atividades devem ser pensadas pelos
professores levando em conta as especificidades do sistema prisional anteriormente citadas e
possui como base teórica a concepção histórico-cultural. Neste sentido, afirma o PEEP/2017
que “os professores devem ter condição de repensar tempos, espaços e formas de aprendizagem,
planejando atividades que possibilitem ao aluno analisar a realidade vivida. Muitas são as
atividades que possibilitam essa vivência, como: mostras de trabalho; projetos de arte e cultura;
[...].” (p. 70). Ainda que de forma generalista, e bastante sintética, tal questão influi para a
elaboração de propostas ao lhes conceder legitimidade.
Com relação à diversidade, a análise do PEEP/2017 parte da compreensão de que: “na
prisão, as trocas de saberes e relações interpessoais requerem estratégias pedagógicas
específicas ao aprendizado. O apenado encontra-se inserido em um ambiente social cujas
normas e práticas estão fora do seu controle formal.” (p. 71). Neste sentido, a Educação em
Direitos Humanos apresentada pela Proposta Curricular de Santa Catarina (2014) se posiciona
como chave para a prática educativa. O PEEP/2017 orienta, a partir de tal compreensão, em seu
plano de ação, a elaboração e organização de práticas pedagógicas para o sistema prisional, bem
como a produção de material didático e paradidáticos específicos para a EJA prisional.
Por fim, é apresentado a necessidade de busca pela construção de dados que retratem de
forma real a situação da educação no sistema prisional, neste sentido, afirma o plano que:
“Considera-se necessária a implementação dos indicadores que retratem de forma real a
situação carcerária no estado de Santa Catarina, de forma que se possa migrar os dados do
sistema prisional para o sistema educacional.” (p. 82). Tal questão explicita a deficiência, nos
termos da educação, dos dados apresentados pelo INFOPEN. Dentre os indicadores
apresentados, e que devem ser construídos para uma melhor avaliação da educação em
presídios, se apresentam os seguintes: comportamento da taxa de matrícula; diminuição da taxa
de analfabetismo; taxa de conclusão do ensino fundamental; taxa de conclusão do ensino médio;
taxa de concluintes de cursos técnicos; grau de especialização dos professores para a EJA em
estabelecimentos penais; elevação da escolaridade média da população prisional do estado.
93
3.5 - O PPP DO CEJA - RIO DO SUL E OS DADOS DA EDUCAÇÃO EM SC ENTRE 2015 E 2019
No derradeiro subcapítulo faço uma análise do PPP do CEJA-Rio do Sul, espaço de
minha experiência como professor da EJA no Presídio Regional de Rio do Sul/SC, em 2018. E
utilizando dos dados apresentados pelo INFOPEN para SC no período de 2015 a 2019 busco
expor alguns avanços, continuidades e limitações da educação em presídios do Estado.
Para o CEJA - Rio do Sul, suas principais funções são três: reparadora; equalizadora;
qualificadora. Reparadora no sentido de incluir essas pessoas historicamente marginalizadas no
processo escolar. Equalizadora no que diz respeito a dar cobertura e reinserir esses sujeitos
novamente no processo educativo, a fim de buscar integrá-los no trabalho e vida social. Por
último, a qualificação no sentido de uma educação permanente e que busca o potencializar os
sujeitos e sua cidadania.
Como podemos observar, o PPP do CEJA-Rio do Sul não define um sentido específico
para a educação prisional, mas o engloba na concepção ampla da EJA, historicamente disposta
a garantir o direito à educação de sujeitos marginalizados ao longo da vida e excluídos do
processo regular de ensino, compreendendo que dentre os diferentes grupos desses encontram-
se também as pessoas privadas de liberdade.
No que diz respeito aos espaços destinados à educação dessa população, observamos no
decorrer desses anos um aumento significativo. O número de bibliotecas, bem como de salas
de aula e da capacidade de atendimento, tem aumentado, conforme podemos observar nas
tabelas abaixo.
Tabela 4 - Bibliotecas nos estabelecimentos prisionais por ano
Número de 26 30 35 40 45
Bibliotecas
Podemos notar que, ao longo dos anos analisados, houve um crescimento no número de
presídios com salas de aula, de 84% em 2015 passou para 96% das instituições contempladas
em 2019. O número total de salas também cresceu, passando de 91 em 2015 para 159 em 2019.
Com isso a capacidade de atendimento também se viu aumentada em torno de 40%, atingindo,
neste sentido, a meta estabelecida pelo PEEP/2017: “Construir novos espaços, destinados às
atividades escolares, gradativamente, num prazo de 4 (quatro) anos, a partir da publicação deste
plano, nos estabelecimentos penais.” (p. 78).
Em termos de recursos humanos, a tabela apresentada a seguir demonstra a quantidade
de professores e pedagogos atuando em espaços de privação de liberdade, bem como, o regime
de trabalho ao qual esses estão submetidos.
Tabela 6 - Professores e pedagogos nos estabelecimentos prisionais
Total Pedagogos 3 6 5 12 6
Efetivos 40 29 19 36 29
Terceirizados 21 68 38 32 68
Comissionado 3 0 0 0 0
fonte: INFOPEN. Elaborado pelo autor.
Ao observar a tabela acima, nota-se que a questão apontada anteriormente, pode ser
reafirmada: a falta de professores efetivos vinculados aos espaços de privação de liberdade. Em
termos absolutos, constatamos que o número de professores cresceu, entretanto, na maioria são
professores temporários e que, portanto, possuem condições de trabalho menos estáveis. Tal
característica acarreta em um processo de contínua renovação dos quadros do magistério
atuando nos presídios. A não garantia de permanência dos professores nos presídios prejudica,
em especial, sua formação enquanto docente, bem como a qualidade da oferta, haja vista que
todo ano o quadro de professores se modifica.
A partir da ampliação no número de salas de aula, bem como de docentes, podemos
observar, na tabela a seguir, que nos dados relativos à quantidade de detentos vinculados a
atividades educativas no Estado de Santa Catarina houve crescimento significativo.
Tabela 7- Total de pessoas privadas de liberdade em atividades educacionais
Como já anunciado pelo aumento no número de salas de aula, bem como a capacidade
de atendimento, vemos como reflexo de tais processos o aumento do número de pessoas
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envolvidas na educação básica. Ainda assim, apenas 21% das pessoas que não possuíam
educação básica estiveram vinculados a ela no ano de 2019, ou seja, uma parcela pequena se
comparada com a expectativa de demanda.
Mas não só a educação básica abarcou um maior número de pessoas privadas de
liberdade, conforme tabela a seguir, observamos também o envolvimento em outras atividades
educativas que não a regular básica.
Tabela 9 - Pessoas envolvidas em outros níveis e modelos de educação
CONSIDERAÇÕES FINAIS
modificação do sistema penal e, portanto, se apresenta como empecilho para a oferta do direito
de acesso e garantia do processo educativo.
É a partir desse momento político democrático e da possibilidade de discussão sobre a
função dos presídios, bem como da luta pela garantia de direitos fundamentais, que se viu
legitimada, normatizada e regulamentada a educação em presídios no Brasil. Tal processo teve
como principal resultado a ampliação na oferta e possivelmente em sua qualidade, processo
esse que ainda se encontra em curso.
Ao analisar o caso específico de Santa Catarina, observamos que questões como a
ampliação do debate e dos grupos envolvidos colaboraram na elaboração da proposta de
educação em prisões do Estado. Tal processo, entretanto, não pode ser considerado original no
sentido em que é signatário de uma proposição nacional e internacional de ampliação e
qualificação da oferta de educação em presídios. Observamos também que há ainda algumas
limitações no que diz respeito à proposta de educação em prisões do Estado e de sua
compreensão por parte de atores importantes desse processo. Por outro lado, os dados
analisados nos mostram que houve uma ampliação na oferta de educação, tanto do ensino
regular quanto de outras práticas educativas, tanto em números absolutos quanto percentuais
em relação à população prisional.
Há muito ainda para ser construído a nível nacional e estadual para que a universalização
da educação seja atingida e, também, a ampliação dos debates, bem como a formação dos
sujeitos envolvidos, que nos parece chave central para que se supere a concepção da educação
para a ressocialização num espaço reconhecidamente degradante e excludente. A chave da
educação enquanto direito foi capaz de fomentar tal processo, ampliando a oferta, entretanto, a
mesma encontrará novos percalços ao se projetar em um espaço a ela antagônico e, nesse
sentido, novas análises bem como chaves devem ser construídas para abrir a cela que prende a
liberdade e a educação de todos.
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