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JOÃO PESSOA-PB
2021
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JOÃO PESSOA-PB
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FICHA CATALOGRÁFICA
(SOLICITAR O MODELO DE FICHA CATALOGRÁFICA À BIBLIOTECA CENTRAL
- NO CASO DE TRABALHO ENTREGUE EM ARQUIVO DIGITAL, COLOCAR ESTA
FICHA NA LAUDA SUBSEQUENTE À FOLHA DE ROSTO)
(ELEMENTO PRÉ-TEXTUAL)
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Professor Dr. Bruno Texeira de Paiva
Orientador
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
Mateus*
RESUMO
Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail:
mateussantos29036@gmail.com
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ABSTRACT
This work addresses the study of the constitutionality of the Differentiated Disciplinary
Regime in light of the fundamental principle of human dignity, emphasizing the debates
held by the doctrine regarding this issue. The general objective of the research is precisely
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to analyze the clash surrounding the study of the constitutionality of the Differentiated
Disciplinary Regime under the focus of the principle of human dignity, in view of the
recurrent debates about its role in the real scope of the prisoner's resocialization. that it
could be an inhumane way of serving a sentence. The methodology adopted by the study
is exploratory in nature, through a qualitative approach, through the analysis of books,
articles published in magazines, academic works and also, the Brazilian criminal
legislation relevant to the topic, as well as the current position Federal Supreme Court on
the matter. The results that are expected with the development of the work are mainly to
highlight the main doctrinal arguments in favor and against the constitutionality of the
Differentiated Disciplinary Regime, in addition to explaining the position of the Supreme
Court in this regard, causing the social, academic and professional, can extract as much
information as possible about this relevant topic that is of interest, not only to the prison
public, but also to society in general.
1 INTRODUÇÃO
foi somente em 2003 que o Regime Disciplinar Diferenciado foi inserido no texto da lei nº
7.210/1984 pela lei nº 10.792, criando assim, o art. 52, que passou a prevê os seus
requisitos e hipóteses de aplicação. (GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Todos esses fatos, infelizmente são decorrentes do falho Sistema Penitenciário do
Brasil que ainda não conseguiu adotar medidas efetivas para conter o avanço da
criminalidade, dentro e fora dos estabelecimentos carcerários, pois mesmo com a criação
do Regime Disciplinar Diferenciado, as organizações criminosas ainda atuam de modo
firme.
Assim sendo, o estudo da fase de cumprimento da pena revela-se desafiador na
sociedade atual, em razão da crise que o Sistema Penitenciário ainda sofre,
principalmente pela falta de estrutura condizente com os mandamentos constitucionais e
legais que seria apta ao alcance da ressocialização do apenado. Por isso que, muitos
acreditam que as rebeliões que acontecem dentro das unidades prisionais, seriam
decorrentes da incapacidade do Estado de impor medidas eficazes de reinserção social
do preso.
Infelizmente, o Sistema Penitenciário Brasileiro revela-se gravemente deficiente,
apresentando ambientes desumanos e superlotações que decorrem precipuamente pelo
excessivo número de presos provisórios, violando profundamente os direitos humanos.
(CNMP, 2016) Essa situação, infelizmente, acaba agravando o índice de criminalidade,
fora e dentro dos presídios, incentivando contendas e rebeliões nesses
estabelecimentos.
Nesse diapasão, infere-se que, a escolha do estabelecimento penal para
cumprimento de pena será determinada pela sentença judicial que condenar o sujeito
pelo crime praticado, indicando o juiz o regime inicial que o apenado cumprirá a sua pena,
pois ao longo da execução o mesmo poderá progredir ou regredir de regime, conforme o
seu comportamento carcerário. (BRITO, 2020)
É justamente nessa fase de execução penal que entra em cena o Regime
Disciplinar Diferenciado, que apesar de não se tratar de uma nova forma de cumprimento
de pena em regime fechado, possui particularidades que o diferenciam do cárcere
comum, sendo, de certa forma, uma forma mais rígida de cumprir-se a pena, pelo qual o
apenado permanece a maior parte dos dias, enclausurado de maneira individual, sem
possuir contato algum com os outros detentos.
A par disso, um dos principais vetores para a sua criação, conforme já citado, foi
o crescente número de facções que vinham surgindo do interior das penitenciárias do
país, provocando graves rebeliões, confrontos e o aumento da criminalidade fora do
ambiente prisional, através de comandos advindos das unidades carcerárias, pois
normalmente o cumprimento da pena dá-se de maneira coletiva, onde vários detentos
passam a conviver diariamente.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso
provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal,
ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração
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máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie; II - recolhimento em cela individual; III - visitas
quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações
equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da
família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas)
horas; IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho
de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com
presos do mesmo grupo criminoso; V - entrevistas sempre monitoradas, exceto
aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir o contato
físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário;
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência; VII - participação em
audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a
participação do defensor no mesmo ambiente do preso. (BRASIL, 1984)
Tal regime foi instituído pela lei n° 10.792/2003, considerando-se como uma
sanção disciplinar ao preso que cometer alguma infração grave, conforme o caput do art.
52 da Lei de Execução Penal, contudo, a finalidade precípua desta lei foi particularmente
inibir a violência carcerária e impedir o desenvolvimento de organizações criminosas, pois
muitos crimes eram cometidos no seio social sob o comando de presidiários,
principalmente de participantes de facções criminosas. (GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Visto que, a grande maioria dos crimes cometidos, dentro e fora das unidades
prisionais do país, são decorrentes de comandos originários de organizações criminosas,
sendo, pois, o Regime Disciplinar Diferenciado, um mecanismo capaz de frear a atuação
delituosa desses grupos altamente perigosos para a sociedade e para o público
carcerário.
Segundo explicitado, as características do Regime Disciplinar Diferenciado estão
expostas no art. 52, incisos I a IV da Lei de Execução Penal, entre elas, a duração máxima
de 360 dias, recolhimento em cela individual, entre outras. Cabe ressaltar que a inserção
do sujeito nesse regime diferenciado, depende necessariamente de decisão prévia e
fundamentada do juiz competente, mediante requerimento da administração
penitenciária ou até mesmo, do Ministério Público. (AVENA, 2018)
Convém ressaltar nesse momento, que a autoridade judiciária não poderá decretar
de ofício tal regime mais rigoroso, devendo somente agir, caso haja algum requerimento
do próprio estabelecimento penitenciário ou a pedido do representante do Ministério
Público, devendo, pois, sempre fundamentar a sua decisão pela inserção do preso em
tal regime.
Por conseguinte, imperioso salientar que a lei nº 10.792 de 2003, que instituiu o
Regime Disciplinar Diferenciado na Lei de Execução Penal, fez inserir no parágrafo único
do art. 87 deste diploma legal, uma permissão legal para que a União, Estado e Distrito
Federal possam construir penitenciárias destinadas exclusivamente aos condenados na
situação retratada pelo art. 52. (BRITO, 2020)
Art. 87: [...] Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os
Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos
presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao
regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. (BRASIL, 1984)
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com o fito de preservar a integridade e a vida do detento inserido nesse regime, visto que
diante da sua rigorosidade, é necessário que maiores cuidados em relação à pessoa do
preso sejam realizados.
Até porque, a Constituição Federal de 1988 expõe que o Estado Brasileiro possui
como fundamento absoluto a dignidade da pessoa humana, não importando se o
indivíduo se encontra preso ou não, pois no atual ordenamento jurídico brasileiro, a
valorização do ser humano ultrapassa qualquer outro interesse que possa existir.
Seguindo essa premissa, o estudo passa agora a análise do princípio da dignidade
da pessoa humana, sendo o fundamento da República Federativa do Brasil e garantia
basilar de toda a ordem jurídica brasileira, que elenca a valorização humana ao mais alto
patamar jurídico.
A centralidade da pessoa humana, tratada não como meio, mas como fim
da ordem jurídica e do Estado, revela-se logo na organização da Lei Maior.
Se as constituições anteriores começavam disciplinando a estrutura
estatal e só depois enunciavam os direitos fundamentais, a Carta de 88
faz o oposto, principiando pela consagração dos direitos das pessoas. A
inversão não foi gratuita. Trata-se de modelo adotado em diversas
constituições europeias do 2o pós-guerra, que indica a absoluta prioridade
dos direitos fundamentais em nosso sistema jurídico. Tal prioridade, por
outro lado, se entrevê também na elevação dos direitos fundamentais à
qualidade de cláusulas pétreas (art. 60, §4o, inciso IV, CF), o que ocorreu
pela primeira vez na história de nosso constitucionalismo. Como cláusulas
pétreas, os direitos são garantidos como “trunfos”, postos ao abrigo da
vontade das maiorias políticas, mesmo as mais qualificadas.
(SARMENTO, 2016, p. 72)
desumano ou cruel, impondo que os entes políticos adotem, por exemplo, penalidades
conforme a gravidade do delito praticado e as características do acusado, não deixando
de lado o respeito à sua condição humana.
Por isso que, do princípio da dignidade da pessoa decorre o princípio da
humanização da pena, que destaca o alcance pela ressocialização do preso e não
apenas como uma medida retributiva carreada de vingança ou castigos excessivos.
(LEVORIN, 2016)
Sendo um direito fundamental que nasce da própria condição humana (DANTAS,
2017), tal princípio limita a atuação do Poder Público e se trata de um atributo inerente à
condição humana, devendo aquele respeitar os direitos fundamentais garantidos aos
indivíduos, além de proporcionar uma existência digna para todos, de modo a suprir as
necessidades vitais que o homem precisa para viver e para ter uma boa qualidade de
vida. (GUIMARÃES; MOCHO, 2017)
Assim, ao reprimir delitos, o Estado não pode infringir os princípios constitucionais,
pondo em risco as condições mínimas de sobrevivência de todo o ser humano, sob pena
de estar agindo contra a Constituição Federal, devendo dessa forma, executar
penalidades conforme os preceitos fundamentais ligados à pessoa humana. (SHIMADA;
PANCOTTI, 2019)
Infere-se que acerca do Regime Disciplinar Diferenciado ora estudado, como uma
nova forma de cumprir-se a pena em regime fechado, em razão da dureza das suas
regras, poderia ocasionar um certo questionamento a respeito da sua constitucionalidade
ou não, pois limita demasiadamente a liberdade e o exercício das funções básicas que o
ser humano precisa para sobreviver.
É por isso que, a pena não pode ser vista como uma reação desmedida, somente
como retribuição pelo mal praticado, devendo também, olhar o delinquente como um
sujeito da pena, ou seja, garantindo respeito à sua dignidade enquanto pessoa
(SHIMADA; PANCOTTI, 2019), chamando a atenção para o fato de que no Regime
Disciplinar Diferenciado, o apenado acaba sofrendo maiores restrições à realização das
funções que necessita para viver.
Dessa maneira, no próximo tópico será estudado a presente questão, que consiste
no ponto central do trabalho, de forma a verificar se o Regime Disciplinar Diferenciado
fere ou não o princípio da dignidade da pessoa humana, tendo em vista os seus aspectos
legais já estudados no capítulo anterior, apresentando os principais posicionamentos
doutrinários a respeito e o atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal.
pondo à prova se tal regime condiz com as garantias de cunho constitucional. (ARAGÃO,
2019)
Há casos noticiados, inclusive, que alguns detentos, ao cumprirem pena no
Regime Disciplinar Diferenciado, tentam diversas vezes o suicídio, seja por não aceitar
tal forma de execução penal ou pela impossibilidade de locomover-se e receber parentes
próximos, como filhos menores de idade, já que nesse sistema a visita de crianças é
proibida.
Contudo, é forçoso reconhecer que a aplicação do Regime Disciplinar
Diferenciado algumas vezes se torna altamente necessária, com o fito de manter a paz
entre os próprios detentos e também, na prevenção de delitos, visto que nesse regime,
ingressam apenas aqueles presidiários mais perigosos.
Essa ação representa, de certa forma, uma resposta ao clamor dos apenados que
passaram a estar submissos ao novo regime, mais rígido e capaz de mitigar
sobremaneira o exercício dos seus direitos fundamentais como pessoa humana, fazendo
com que a Ordem dos Advogados do Brasil interpusesse citada ação com o fito de fazer
valer os direitos e garantias fundamentais da pessoa encarcerada.
Tal Ação Direta de Inconstitucionalidade ainda se encontra em andamento perante
o Supremo Tribunal Federal, assim, até o presente momento, as últimas movimentações
aconteceram apenas em 2017, quando em 26 de setembro deste ano, foi indeferido o
pedido realizado pela Defensoria Pública da União, pedindo a sua admissão como
amicus curiae no processo, sendo o mesmo negado pela Ministra Rosa Weber.
Segue trecho da respeitável decisão prolatada pela Ministra Rosa Weber,
indeferindo o pedido de admissão como amicus curiae, realizado pela Defensoria Pública
da União.
[...] Não obstante a configuração desses pressupostos, entendo, por outro lado,
que o requisito legal da representatividade adequada não se apresenta. Isso
porque os requerentes têm como pretensão principal trazer argumentação de
oposição ao quanto sustentado na petição inicial desta ação direta. As
informações e/ou justificativas afirmadas não caracterizam dados técnicos e/ou
relevantes que possam contribuir de maneira diferenciada e agregativa com a
ampliação do debate sobre o problema jurídico. Os requerentes atuam como
interessados e não como expert da questão. 5. Por estes motivos, entendo que
não está configurado o requisito da representatividade adequada exigido para a
sua intervenção, assim como a utilidade e a conveniência da sua atuação no
oferecimento de justificativas técnicas. 6. 6. Ante o exposto, indefiro o pedido de
admissão no feito na qualidade de amicus curiae.
sopesar os interesses que estão em conflito, fazendo com que o órgão jurisdicional
decida qual direito que deve prevalecer.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AVENA, Norberto. Execução penal. - 5 ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2018.
BRITO, Alexis Couto de. Execução penal. - 6 ed. - São Paulo: Saraiva Educação,
2020.
DANTAS, José Angelino Luz. RDD: anotações sobre sua (in) constitucionalidade a
partir de uma leitura sob o prisma dos direitos fundamentais. 2017. 26 f. Artigo
19
LEVORIN, Marco Polo. Regime disciplinar diferenciado. – São Paulo: Paco Editorial,
2016.
MARCÃO, Renato. Curso de execução penal. - 17 ed. - São Paulo: Saraiva Educação,
2019.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. – 36 ed. – São Paulo: Atlas, 2020.
SHIMADA, Maria Fernanda Paci Hirata; PANCOTTI, Heloisa Helena Silva. Análise da
(in)constitucionalidade do regime disciplinar diferenciado e o princípio da
dignidade da pessoa humana. Revista Brasileira de Direitos e Garantias
Fundamentais, Goiânia. v.5, n.1, p. 77-98, jan./jun., 2019.