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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO E A SUA CONSTITUCIONALIDADE SOB


O ENFOQUE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

THE DIFFERENTIATED DISCIPLINARY REGIME AND ITS CONSTITUTIONALITY


UNDER THE FOCUS OF THE PRINCIPLE OF THE DIGNITY OF THE HUMAN
PERSON

MATEUS SANTOS FREITAS

JOÃO PESSOA-PB
2021
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MATEUS SANTOS FREITAS

O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO E A SUA CONSTITUCIONALIDADE SOB


O ENFOQUE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

THE DIFFERENTIATED DISCIPLINARY REGIME AND ITS CONSTITUTIONALITY


UNDER THE FOCUS OF THE PRINCIPLE OF THE DIGNITY OF THE HUMAN
PERSON

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Graduação em Direito do Centro
Universitário de João Pessoa (UNIPÊ),
como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel(a) em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Bruno Texeira de


Paiva

JOÃO PESSOA-PB
2021
4

FICHA CATALOGRÁFICA
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MATEUS SANTOS FREITAS

FOLHA DE APROVAÇÃO

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito do Centro Universitário de João
Pessoa (UNIPÊ), como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel (a).

Atribuição de nota: ______________________

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Professor Dr. Bruno Texeira de Paiva
Orientador

________________________________________
Membro da Banca Examinadora

________________________________________
Membro da Banca Examinadora

João Pessoa, ___ / _______________ / _____.


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O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO E A SUA CONSTITUCIONALIDADE SOB


O ENFOQUE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

THE DIFFERENTIATED DISCIPLINARY REGIME AND ITS CONSTITUTIONALITY


UNDER THE FOCUS OF THE PRINCIPLE OF THE DIGNITY OF THE HUMAN
PERSON

Mateus*

RESUMO

Este trabalho aborda o estudo da constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado


à luz do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, enfatizando os debates
travados pela doutrina a respeito dessa questão. O objetivo geral da pesquisa é
justamente analisar o embate que cerca o estudo da constitucionalidade do Regime
Disciplinar Diferenciado sob o enfoque do princípio da dignidade da pessoa humana,
tendo em vista os recorrentes debates sobre o seu papel no real alcance da
ressocialização do preso, já que poderia tratar-se de um modo desumano de
cumprimento de pena. A metodologia adotada pelo estudo é a de natureza exploratória,
por meio de uma abordagem do tipo qualitativa, através da análise de livros, artigos
publicados em revistas, trabalhos acadêmicos e também, da legislação penal brasileira
pertinente ao tema, assim como, o posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal a
respeito do assunto. Os resultados que são esperados com o desenvolvimento do
trabalho são precipuamente destacar os principais argumentos doutrinários a favor e
também contra a constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, além de
explanar qual o posicionamento do Supremo Tribunal a respeito, fazendo com que o
contexto social, acadêmico e profissional, possam extrair o máximo de informações
possíveis acerca deste relevante tema que é de interesse, não somente do público
carcerário, mas também da sociedade em geral.

Palavras-chave: Processo Penal; Constitucionalidade; Regime disciplinar diferenciado;


Dignidade da pessoa humana.


Discente do Curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail:
mateussantos29036@gmail.com
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ABSTRACT

This work addresses the study of the constitutionality of the Differentiated Disciplinary
Regime in light of the fundamental principle of human dignity, emphasizing the debates
held by the doctrine regarding this issue. The general objective of the research is precisely
2

to analyze the clash surrounding the study of the constitutionality of the Differentiated
Disciplinary Regime under the focus of the principle of human dignity, in view of the
recurrent debates about its role in the real scope of the prisoner's resocialization. that it
could be an inhumane way of serving a sentence. The methodology adopted by the study
is exploratory in nature, through a qualitative approach, through the analysis of books,
articles published in magazines, academic works and also, the Brazilian criminal
legislation relevant to the topic, as well as the current position Federal Supreme Court on
the matter. The results that are expected with the development of the work are mainly to
highlight the main doctrinal arguments in favor and against the constitutionality of the
Differentiated Disciplinary Regime, in addition to explaining the position of the Supreme
Court in this regard, causing the social, academic and professional, can extract as much
information as possible about this relevant topic that is of interest, not only to the prison
public, but also to society in general.

Keywords: Criminal Procedure; Constitutionality; Differentiated disciplinary regime;


Dignity of human person.

1 INTRODUÇÃO

O estudo da constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado decorre das


regras que lhes são inerentes, visto que se trata de um modo diferente de cumprir a pena
em regime fechado, onde o apenado fica isolado, sem comunicação com o mundo
externo e limitado a receber visitas e sair da cela, fazendo com que surgissem dúvidas a
respeito da sua constitucionalidade, principalmente à luz do princípio da dignidade da
pessoa humana.
O objetivo geral da pesquisa é analisar a constitucionalidade do Regime Disciplinar
Diferenciado sob a ótica do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, visto
que esse modo de cumprimento de pena, acaba inserindo o detento em um local
relativamente insalubre para a sobrevivência humana, limitando, inclusive, o contato do
preso com familiares e com o ambiente externo ao cárcere.
No tocante aos objetivos específicos, o presente trabalho estudará os aspectos
gerais do Regime Disciplinar Diferenciado, enaltecendo o seu conceito, previsão legal e
outros fatores que o caracteriza, além disso, irá apresentar algumas notas acerca do
princípio da dignidade da pessoa humana, com o propósito de demonstrar a sua
importância para o homem e ainda, averiguar os principais posicionamentos a respeito
da constitucionalidade ou não do Regime Disciplinar Diferenciado sob a ótica do princípio
da dignidade da pessoa humana, tendo em vista os recorrentes debates sobre o seu
papel no real alcance da ressocialização do preso.
Na presente pesquisa, será apresentado os aspectos mais relevantes que
circundam o Regime Disciplinar Diferenciado à luz da legislação penal correlata e os
principais pensamentos doutrinários a respeito, enfatizando que citado regime apresenta
particularidades que o difere do cárcere comum, sendo um local menor e que impede o
apenado de manter contato com o ambiente externo.
A par disso, também será estudado o princípio constitucional da dignidade da
pessoa humana, destacando a sua importância para todos os indivíduos, sendo o
3

fundamento último da ordem jurídica brasileira, de observância obrigatória por parte do


Estado, ainda mais quando decidir impor medidas em face das pessoas reclusas
criminalmente, na fase de execução penal.
Por conseguinte, a fim de enfrentar o ponto central do estudo, será averiguada a
constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado à luz do princípio da dignidade da
pessoa humana, tendo em vista os embates doutrinários que cercam essa problemática,
contribuindo assim, para com um melhor aprofundamento sobre o assunto.
Os principais motivos e os mais relevantes fatores que influenciaram na escolha
do tema foi precipuamente a sua importância para o contexto social, acadêmico e
profissional, já que aborda o estudo do Regime Disciplinar Diferenciado, destinado ao
isolamento de presos considerados de grande periculosidade carcerária e também social,
abrindo espaço para o enfrentamento da sua constitucionalidade em razão das regras
que lhes são inerentes.
A problemática da presente pesquisa tem o propósito de responder à seguinte
indagação: o Regime Disciplinar Diferenciado seria uma afronta ao princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana, sendo, pois, uma medida de natureza
inconstitucional?
É forçoso reconhecer que essa indagação gera muitas dúvidas e entraves de
natureza doutrinária, já que por conta das suas regras mais rígidas, o Regime Disciplinar
Diferenciado poderia tornar-se uma afronta ao texto constitucional, impondo um regime
fechado de cumprimento de pena mais gravoso e desumano ao preso, já que permanece
completamente isolado na cela.
A metodologia de pesquisa a ser utilizada no enfrentamento do tema será a de tipo
exploratória, através de levantamentos bibliográficos especializados no assunto, de
forma a averiguar a constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado sob o
enfoque do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
A técnica de pesquisa será precipuamente de natureza bibliográfica, por meio da
análise de livros, artigos publicados em revistas, trabalhos acadêmicos e também, da
legislação penal brasileira pertinente ao tema, assim como, o posicionamento do
Supremo Tribunal Federal a respeito do assunto.
No que concerne ao objetivo geral, mediante uso da pesquisa exploratória, o
trabalho vai analisar com maior ênfase a respeito da constitucionalidade do Regime
Disciplinar Diferenciado à luz do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana,
fundamento de todo o país.
Já, no tocante aos objetivos específicos levantados, por intermédio de uma
abordagem qualitativa, a pesquisa vai estudar os aspectos gerais do Regime Disciplinar
Diferenciado, enaltecendo o seu conceito, previsão legal e outros fatores que o
diferenciam do regime fechado comum de cumprimento de pena.
E ainda, utilizando-se da mesma abordagem e tipo de pesquisa, o estudo
apresentará algumas notas acerca do princípio da dignidade da pessoa humana, com o
propósito de demonstrar a sua importância para o homem e destacar a sua observância
obrigatória por parte do Estado, de forma a assegurar uma vida digna a todos os
indivíduos, estejam estes reclusos ou não.
A par disso, para uma melhor compreensão sobre o tema ora estudado, o artigo
será dividido em capítulos, trazendo os principais posicionamentos a respeito da
constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado sob a ótica do princípio da
dignidade da pessoa humana, tendo em vista os recorrentes debates sobre o seu papel
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no real alcance da ressocialização do preso, já que poderia tratar-se de um modo


desumano de cumprimento de pena.

2 DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

Antes de adentrar-se no estudo minucioso sobre o Regime Disciplinar


Diferenciado, faz-se necessário tecer algumas considerações a respeito do seu contexto
histórico, de forma a esclarecer como se deu a origem da lei nº 10.792/2003 que fez
inserir as suas regras no corpo textual da lei nº 7.210/1984, destacando os principais
fatores que contribuíram para a sua previsão na legislação brasileira de caráter nacional.
Dessa forma, inicialmente será destacado os fatos que contribuíram para a
elaboração da lei nº 10.792/2003, que deu origem ao Regime Disciplinar Diferenciado e
após, as suas características intrínsecas previstas atualmente na lei nº 7.210/1984,
também conhecida como Lei de Execução Penal, que sofreu atualizações em seu art. 52,
incisos e parágrafos pela lei nº 13.964/2019.

2.1 NOTAS SUCINTAS SOBRE A SUA ORIGEM HISTÓRICA

O surgimento do Regime Disciplinar Diferenciado deu-se após uma série de


acontecimentos que foram decisivos para que a sua inserção na legislação brasileira
fosse concretizada, destacando-se as grandes rebeliões que vinham acontecendo nos
estabelecimentos penais em algumas regiões do país, logo no início dos anos 2000, que
acabaram incentivando para com a rápida criação da lei nº 10.792/2003, prevendo, pois,
medidas mais duras de cumprimento de pena.
Inicialmente, antes mesmo de estar previsto em lei federal de caráter nacional, o
Regime Disciplinar Diferenciado foi estabelecido no Estado de São Paulo em 2001, por
meio da Resolução nº 26 da Secretaria da Administração Penitenciária, por conta de uma
grande rebelião que aconteceu neste mesmo ano em uma das unidades carcerárias do
Estado, através de comandos de facções criminosas, que acabou alastrando as
contendas para outros presídios, chegando à alcançar 29 estabelecimentos prisionais.
(GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Após um ano dessa grande rebelião no Estado de São Paulo, o presídio estadual
de Bangu 1 no Estado do Rio de Janeiro, foi espaço para mais um rebelião entre facções
criminosas, incentivando o ataque a policiais, roubos a bancos e outros delitos a serem
praticados nos Bairros da Cidade; esse fato acabou ocasionando a morte de diversos
líderes das organizações dos Amigos dos Amigos, do Comando Vermelho e do Terceiro
Comando. (RIBEIRO, 2019)
Nota-se que tais acontecimentos foram, de fato, meios propulsores para a previsão
legal do Regime Disciplinar Diferenciado no país, haja vista o crescente número de
rebeliões que vinham acontecendo dentro das unidades prisionais, que além de pôr em
risco a vida e integridade dos outros detentos, também gerou consequências nefastas
para toda a sociedade.
Por conseguinte, em 2002, o Congresso Nacional acabou rejeitando a Medida
Provisória nº 28, que previa o Regime Disciplinar Diferenciado como sanção para aqueles
encarcerados que praticassem crimes dolosos no interior das unidades prisionais, porém,
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foi somente em 2003 que o Regime Disciplinar Diferenciado foi inserido no texto da lei nº
7.210/1984 pela lei nº 10.792, criando assim, o art. 52, que passou a prevê os seus
requisitos e hipóteses de aplicação. (GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Todos esses fatos, infelizmente são decorrentes do falho Sistema Penitenciário do
Brasil que ainda não conseguiu adotar medidas efetivas para conter o avanço da
criminalidade, dentro e fora dos estabelecimentos carcerários, pois mesmo com a criação
do Regime Disciplinar Diferenciado, as organizações criminosas ainda atuam de modo
firme.
Assim sendo, o estudo da fase de cumprimento da pena revela-se desafiador na
sociedade atual, em razão da crise que o Sistema Penitenciário ainda sofre,
principalmente pela falta de estrutura condizente com os mandamentos constitucionais e
legais que seria apta ao alcance da ressocialização do apenado. Por isso que, muitos
acreditam que as rebeliões que acontecem dentro das unidades prisionais, seriam
decorrentes da incapacidade do Estado de impor medidas eficazes de reinserção social
do preso.
Infelizmente, o Sistema Penitenciário Brasileiro revela-se gravemente deficiente,
apresentando ambientes desumanos e superlotações que decorrem precipuamente pelo
excessivo número de presos provisórios, violando profundamente os direitos humanos.
(CNMP, 2016) Essa situação, infelizmente, acaba agravando o índice de criminalidade,
fora e dentro dos presídios, incentivando contendas e rebeliões nesses
estabelecimentos.
Nesse diapasão, infere-se que, a escolha do estabelecimento penal para
cumprimento de pena será determinada pela sentença judicial que condenar o sujeito
pelo crime praticado, indicando o juiz o regime inicial que o apenado cumprirá a sua pena,
pois ao longo da execução o mesmo poderá progredir ou regredir de regime, conforme o
seu comportamento carcerário. (BRITO, 2020)
É justamente nessa fase de execução penal que entra em cena o Regime
Disciplinar Diferenciado, que apesar de não se tratar de uma nova forma de cumprimento
de pena em regime fechado, possui particularidades que o diferenciam do cárcere
comum, sendo, de certa forma, uma forma mais rígida de cumprir-se a pena, pelo qual o
apenado permanece a maior parte dos dias, enclausurado de maneira individual, sem
possuir contato algum com os outros detentos.
A par disso, um dos principais vetores para a sua criação, conforme já citado, foi
o crescente número de facções que vinham surgindo do interior das penitenciárias do
país, provocando graves rebeliões, confrontos e o aumento da criminalidade fora do
ambiente prisional, através de comandos advindos das unidades carcerárias, pois
normalmente o cumprimento da pena dá-se de maneira coletiva, onde vários detentos
passam a conviver diariamente.

O Regime Disciplinar Diferenciado foi instituído no sistema da execução


penal como uma forma de suprir a anarquia do sistema carcerário
brasileiro. O Estado precisava dar alguma resposta aos cidadãos, e
optaram pela instalação de um regime duro e rigoroso sob o condenado,
obtendo para o país um meio ineficaz para combater a criminalidade,
andando na contramão da ressocialização do preso. (ARAGÃO, 2019, p.
24)
6

Destaca-se que, o Regime Disciplinar Diferenciado não se trata de mais uma


modalidade de cumprimento de pena privativa de liberdade, sendo apenas uma forma
especial de cumprir-se a pena em regime fechado, mediante colocação do preso em cela
individual, com mitigação do direito de visitas e maiores restrições no direito de saída da
cela. (AVENA, 2018)
Seria uma maneira de afastar o detento dos outros, a fim de barrar o seu intento
delituoso, pois geralmente, aquele apenado que comete alguma falta grave ou que
participe de alguma facção criminosa, demonstra certa periculosidade, devendo dessa
forma, manter-se isolado por alguns dias.
O Regime Disciplinar Diferenciado está atrelado às características dispostas no
art. 88 da Lei de Execução Penal, que estabelece a alocação do apenado em cela
individual, com dormitório, aparelho sanitário e lavatório, devendo para tanto, serem
observados os requisitos mínimos de salubridade do ambiente, adequados à existência
humana. (MARCÃO, 2019)
Além disso, nesse regime são proibidas visitas de crianças e, somente é permitida
a visita de duas pessoas adultas, porém, não há direito à visita íntima. Nesses locais, o
apenado fica isolado, com acomodações precárias, com acesso apenas aos objetos
essenciais que todo ser humano precisa (SANTOS,2018), diferindo, pois, das celas
comuns onde são acomodados coletivamente, os presos.
De fato, nesse regime, há maior rigorosidade no cumprimento da pena, havendo,
inclusive, uma maior fiscalização do apenado para que as regras do Regime Disciplinar
Diferenciado venham a ser devidamente cumpridas pela Administração Penitenciária,
fazendo com que o preso se mantenha distante dos outros presidiários.
Percebe-se que, o Regime Disciplinar Diferenciado não se trata de uma medida
que põe em risco a vida ou a integridade do preso, impondo apenas um local mais
reservado e seguro, de forma a impedir a comunicação do apenado com outros detentos,
a fim de frear o avanço de facções e cometimento de delitos dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais.
Desse modo, passa-se a análise da sua previsão legal e principais característica
que o diferencia de outros modos de cumprimento de pena em regime fechado, com o
intuito de trazer um melhor entendimento sobre as suas regras legais, com o fito de,
posteriormente, ser estudado os posicionamentos que defendem ou não a sua
constitucionalidade dentro da ordem jurídica brasileira.

2.2 PREVISÃO LEGAL E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O Regime Disciplinar Diferenciado está previsto atualmente na lei nº 7.210/1984 –


Lei de Execução Penal – que em seu art. 52, caput e incisos, apresentando as hipóteses
de cabimento e as características de tal regime, atualizados pela lei nº 13.964/2019.
Segue transcrição literal do mencionado art. 52, caput e incisos, da Lei de
Execução Penal, nesses termos:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso
provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal,
ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração
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máxima de até 2 (dois) anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie; II - recolhimento em cela individual; III - visitas
quinzenais, de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas em instalações
equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da
família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas)
horas; IV - direito do preso à saída da cela por 2 (duas) horas diárias para banho
de sol, em grupos de até 4 (quatro) presos, desde que não haja contato com
presos do mesmo grupo criminoso; V - entrevistas sempre monitoradas, exceto
aquelas com seu defensor, em instalações equipadas para impedir o contato
físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário;
VI - fiscalização do conteúdo da correspondência; VII - participação em
audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a
participação do defensor no mesmo ambiente do preso. (BRASIL, 1984)

Tal regime foi instituído pela lei n° 10.792/2003, considerando-se como uma
sanção disciplinar ao preso que cometer alguma infração grave, conforme o caput do art.
52 da Lei de Execução Penal, contudo, a finalidade precípua desta lei foi particularmente
inibir a violência carcerária e impedir o desenvolvimento de organizações criminosas, pois
muitos crimes eram cometidos no seio social sob o comando de presidiários,
principalmente de participantes de facções criminosas. (GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Visto que, a grande maioria dos crimes cometidos, dentro e fora das unidades
prisionais do país, são decorrentes de comandos originários de organizações criminosas,
sendo, pois, o Regime Disciplinar Diferenciado, um mecanismo capaz de frear a atuação
delituosa desses grupos altamente perigosos para a sociedade e para o público
carcerário.
Segundo explicitado, as características do Regime Disciplinar Diferenciado estão
expostas no art. 52, incisos I a IV da Lei de Execução Penal, entre elas, a duração máxima
de 360 dias, recolhimento em cela individual, entre outras. Cabe ressaltar que a inserção
do sujeito nesse regime diferenciado, depende necessariamente de decisão prévia e
fundamentada do juiz competente, mediante requerimento da administração
penitenciária ou até mesmo, do Ministério Público. (AVENA, 2018)
Convém ressaltar nesse momento, que a autoridade judiciária não poderá decretar
de ofício tal regime mais rigoroso, devendo somente agir, caso haja algum requerimento
do próprio estabelecimento penitenciário ou a pedido do representante do Ministério
Público, devendo, pois, sempre fundamentar a sua decisão pela inserção do preso em
tal regime.
Por conseguinte, imperioso salientar que a lei nº 10.792 de 2003, que instituiu o
Regime Disciplinar Diferenciado na Lei de Execução Penal, fez inserir no parágrafo único
do art. 87 deste diploma legal, uma permissão legal para que a União, Estado e Distrito
Federal possam construir penitenciárias destinadas exclusivamente aos condenados na
situação retratada pelo art. 52. (BRITO, 2020)

Art. 87: [...] Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os
Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos
presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao
regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. (BRASIL, 1984)
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Assim, seja na esfera federal, estadual ou distrital, poderão ser criados


estabelecimentos com as diretrizes traçadas pelo já citado art. 52 da Lei de Execução
Penal, ou seja, local propício para que seja cumprida a pena em regime fechado de
maneira diferenciada, com acomodações mais restritas e visitação limitada.
Caso não venham a ser criadas instalações correlatas às regras do Regime
Disciplinar Diferenciado, os detentos que forem inseridos nesse regime, poderão ficar
isolados em celas comuns ou outro local mais reservado, desde que respeitadas as
condições mínimas de salubridade do ambiente.
Além disso, frisa-se que a natureza do Regime Disciplinar Diferenciado é de
sanção disciplinar ou de medida cautelar, sendo neste último caso, nas ocasiões em que
o preso se apresenta de alto risco para o estabelecimento carcerário e para a sociedade
ou aquele que esteja envolvido em organizações criminosas. (AVENA, 2018)
Nota-se que, o Regime Disciplinar Diferenciado pode consistir em uma retribuição
pela falta grave, prevista legalmente, cometida pelo preso dentro da unidade carcerária
ou pelo simples dele participar de alguma organização ou facção criminosa. Nesta última
situação, a intenção do legislador foi combater o avanço da criminalidade que decorre
normalmente desses grupos altamente perigosos para toda a sociedade.
No entanto, para que seja aplicado o Regime Disciplinar Diferenciado ao preso
envolvido em participação de organização criminosa, deve-se haver prova robusta de sua
inserção nessas atividades, além de ser duradoura e estável, não sendo possível a
aplicação desse regime mais gravoso nas hipóteses de tentativa. (ARAGÃO, 2019)
E também, não há necessidade de o apenado ser o líder ou comandante da
facção, bastando que seja membro permanente e assíduo dos seus intentos criminosos,
aderindo aos seus projetos com o fito de subverter a ordem prisional ou imputar o medo
no seio social.
Por outro lado, o art. 60, caput, segunda parte, da Lei de Execução Penal, permite
a inclusão temporária do preso no Regime Disciplinar Diferenciado, sem necessidade de
prévia oitiva do Ministério Público e da Defesa, não podendo ultrapassar dez dias de
isolamento nesse setor, devendo o juiz se manifestar após decorrido esse prazo,
mantendo-o no regime ou restabelecendo a sua condição normal de encarcerado.
(AVENA, 2018)
Dessa maneira, a manutenção ou não do preso nesse regime, após decorrido o
citado lapso temporal, vai depender do seu comportamento carcerário, pois mesmo
ficando isolado em uma cela, será possível verificar se ele ainda apresenta perigo para o
estabelecimento penal.
Desse modo está escrito o art. 60, caput e o seu parágrafo único, da Lei de
Execução Penal:

Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do


faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar
diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de
despacho do juiz competente. Parágrafo único. O tempo de isolamento ou
inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no período
de cumprimento da sanção disciplinar. (BRASIL, 1984)

Dessa forma, infere-se que o Regime Disciplinar Diferenciado possui


características próprias e que devem ser rigorosamente observadas pelo Poder Público,
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com o fito de preservar a integridade e a vida do detento inserido nesse regime, visto que
diante da sua rigorosidade, é necessário que maiores cuidados em relação à pessoa do
preso sejam realizados.
Até porque, a Constituição Federal de 1988 expõe que o Estado Brasileiro possui
como fundamento absoluto a dignidade da pessoa humana, não importando se o
indivíduo se encontra preso ou não, pois no atual ordenamento jurídico brasileiro, a
valorização do ser humano ultrapassa qualquer outro interesse que possa existir.
Seguindo essa premissa, o estudo passa agora a análise do princípio da dignidade
da pessoa humana, sendo o fundamento da República Federativa do Brasil e garantia
basilar de toda a ordem jurídica brasileira, que elenca a valorização humana ao mais alto
patamar jurídico.

3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA

O princípio da dignidade da pessoa humana é, de fato, o fundamento da República


Federativa do Brasil, que deve basear toda decisão, planos ou projetos estatais com o
fim de respeitar a pessoa humana, em qualquer situação jurídica ou de fato que se
encontre. Assim, modernamente, a figura do homem passou a ser o centro protetor da
ordem constitucional brasileira, sendo, pois, considerado um sujeito de direitos.
Desde o tempo das civilizações antigas, a filosofia cristã disseminou o
entendimento de que o homem não deveria ser considerado como um meio para se
atingir algo, mas sim, como o fim de todas as coisas, corroborando-se com o pensamento
do filósofo Kant que argumentava que a dignidade humana não necessitava ser
positivada em uma norma jurídica, visto que era algo intrínseco ao ser humano, devendo
este último ser tratado como sujeito de direitos. (RIBEIRO, 2019)
Contudo, foi com a Revolução Francesa em 1789 e a criação da Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão que a dignidade da pessoa humana foi elevada a um
reconhecimento de cunho internacional, pois a valorização do homem passou a ser o
princípio basilar de todo Estado Democrático de Direito. (RIBEIRO, 2019)
Nesse período, o Brasil ainda não possuía uma Constituição Cidadã como a de
hoje, somente prevendo expressamente tal garantia com a atual lei maior, que foi
promulgada em 1988, elencando a dignidade da pessoa humana como fundamento de
todo o Estado Brasileiro, priorizando dessa forma, os interesses do homem.
Sabe-se que, a Constituição Federal de 1988 foi promulgada em um cenário de
pós-ditadura e sob o manto da indispensabilidade da humanização e solidariedade entre
os povos, inaugurando uma nova fase da garantia dos direitos fundamentais da pessoa
humana, sendo resultado de um longo processo de lutas até o alcance dessas liberdades
em 1988. (SCHLAUCHER & MANGANELLI, 2018)
Tal princípio possui diversas funções na ordem jurídica do Brasil, entre elas, a de
servir de parâmetro para o controle de validade dos atos estatais e ponderação de
interesses conflitantes em algum caso concreto, impondo ao Estado que atue impelido
pelo sentimento de democracia e pelo respeito aos direitos humanos. (SARMENTO,
2016)
Assim, por exemplo, o Poder Legislativo, ao elaborar leis de caráter penal ou
processual penal, deve observar os parâmetros determinados pela Constituição Federal,
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no que concerne ao respeito aos direitos e garantias individuais e coletivos,


principalmente se atendo à dignidade da pessoa humana, criando normas que não
venham a violar os interesses fundamentais da pessoa humana.
Essa garantia fundamental encontra respaldo no art. 1º, III, da Constituição
Federal, assim: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; [...]”
Tal previsão consiste em uma verdadeira mudança no cenário constitucional
brasileiro, tendo em vista que as Constituições Brasileiras anteriores não expressaram
essa proteção como fundamento de toda a ordem jurídica implantada, inovando a
Constituição Federal nesse sentido.

A centralidade da pessoa humana, tratada não como meio, mas como fim
da ordem jurídica e do Estado, revela-se logo na organização da Lei Maior.
Se as constituições anteriores começavam disciplinando a estrutura
estatal e só depois enunciavam os direitos fundamentais, a Carta de 88
faz o oposto, principiando pela consagração dos direitos das pessoas. A
inversão não foi gratuita. Trata-se de modelo adotado em diversas
constituições europeias do 2o pós-guerra, que indica a absoluta prioridade
dos direitos fundamentais em nosso sistema jurídico. Tal prioridade, por
outro lado, se entrevê também na elevação dos direitos fundamentais à
qualidade de cláusulas pétreas (art. 60, §4o, inciso IV, CF), o que ocorreu
pela primeira vez na história de nosso constitucionalismo. Como cláusulas
pétreas, os direitos são garantidos como “trunfos”, postos ao abrigo da
vontade das maiorias políticas, mesmo as mais qualificadas.
(SARMENTO, 2016, p. 72)

A dignidade da pessoa é o valor supremo do ser humano, um fundamento que


serve de base para todos os outros princípios previstos na Constituição Federal de 1988
e que possui a finalidade primordial de preservar o bem estar da pessoa, em toda e
qualquer situação (ARAGÃO, 2019), nota-se que o respeito ao ser humano prevalece
sobre qualquer assunto ligado aos seus bens materiais, pois o que se quer proteger é a
vida e a condição humana.
A par disso, a Constituição Federal determina que ninguém será submetido a
tratamento degradante ou cruel, não importando se o sujeito está detido ou não, pois em
decorrência da dignidade da pessoa humana, em toda e qualquer circunstância que essa
se encontre, a pessoa deverá ter preservada a sua condição de ser humano. (ARAGÃO,
2019)
Atualmente, sob a égide da atual Constituição Federal, os direitos fundamentais
da pessoa humana, de forma geral, criam uma blindagem contra intervenções
excessivas, humanizando o cumprimento da pena, ou seja, buscando precipuamente a
ressocialização do apenado e não apenas alcançar o castigo em si. (LEVORIN, 2016)
A dignidade da pessoa humana é, em verdade, um princípio supraconstitucional,
sendo o fundamento da República Federativa do Brasil, devendo consistir o objetivo
máximo do Estado Democrático de Direito, em proteger a condição humana em todas as
suas formas. (MARTINS, 2018)
E por buscar uma melhor qualidade de vida para todos os indivíduos, é que o
fundamento da dignidade da pessoa humana tem o condão de barrar qualquer tratamento
11

desumano ou cruel, impondo que os entes políticos adotem, por exemplo, penalidades
conforme a gravidade do delito praticado e as características do acusado, não deixando
de lado o respeito à sua condição humana.
Por isso que, do princípio da dignidade da pessoa decorre o princípio da
humanização da pena, que destaca o alcance pela ressocialização do preso e não
apenas como uma medida retributiva carreada de vingança ou castigos excessivos.
(LEVORIN, 2016)
Sendo um direito fundamental que nasce da própria condição humana (DANTAS,
2017), tal princípio limita a atuação do Poder Público e se trata de um atributo inerente à
condição humana, devendo aquele respeitar os direitos fundamentais garantidos aos
indivíduos, além de proporcionar uma existência digna para todos, de modo a suprir as
necessidades vitais que o homem precisa para viver e para ter uma boa qualidade de
vida. (GUIMARÃES; MOCHO, 2017)
Assim, ao reprimir delitos, o Estado não pode infringir os princípios constitucionais,
pondo em risco as condições mínimas de sobrevivência de todo o ser humano, sob pena
de estar agindo contra a Constituição Federal, devendo dessa forma, executar
penalidades conforme os preceitos fundamentais ligados à pessoa humana. (SHIMADA;
PANCOTTI, 2019)
Infere-se que acerca do Regime Disciplinar Diferenciado ora estudado, como uma
nova forma de cumprir-se a pena em regime fechado, em razão da dureza das suas
regras, poderia ocasionar um certo questionamento a respeito da sua constitucionalidade
ou não, pois limita demasiadamente a liberdade e o exercício das funções básicas que o
ser humano precisa para sobreviver.
É por isso que, a pena não pode ser vista como uma reação desmedida, somente
como retribuição pelo mal praticado, devendo também, olhar o delinquente como um
sujeito da pena, ou seja, garantindo respeito à sua dignidade enquanto pessoa
(SHIMADA; PANCOTTI, 2019), chamando a atenção para o fato de que no Regime
Disciplinar Diferenciado, o apenado acaba sofrendo maiores restrições à realização das
funções que necessita para viver.
Dessa maneira, no próximo tópico será estudado a presente questão, que consiste
no ponto central do trabalho, de forma a verificar se o Regime Disciplinar Diferenciado
fere ou não o princípio da dignidade da pessoa humana, tendo em vista os seus aspectos
legais já estudados no capítulo anterior, apresentando os principais posicionamentos
doutrinários a respeito e o atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal.

4 ANÁLISE DA CONSTITUCIONALIDADE DO REGIME DISCIPLINAR


DIFERENCIADO À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Devido as suas características rígidas, o Regime Disciplinar Diferenciado acabou


sendo alvo de diversos debates doutrinários a respeito da sua possível
inconstitucionalidade dentro da ordem jurídica brasileira, incentivando, inclusive, a
propositura de uma ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal
Federal, que ainda continua em andamento desde 2008.
De pronto, sabe-se que a separação de presos nas unidades carcerárias, decorre
do respeito à dignidade da pessoa humana e do princípio da individualização da pena,
de forma a contribuir positivamente para com a manutenção da ordem e disciplina
12

carcerária e no alcance da ressocialização (MARCÃO, 2019), visa também, dedicar


respeito e consideração a cada detento, conforme o crime por ele praticado e as suas
características pessoais, de forma a fazer valer o respeito à sua dignidade.
Nesse ínterim, deve haver certo equilíbrio entre a execução penal e o cumprimento
da dignidade da pessoa humana, devendo nesta fase, ser oportunizado ao detento de, a
cada dia, ver respeitada a sua dignidade, já que acima de tudo, trata-se de uma pessoa
humana. (ARAGÃO, 2019)
Quando o assunto é o cumprimento da pena em Regime Disciplinar Diferenciado,
o princípio da dignidade da pessoa humana pode encontrar-se, de certo modo, mitigado,
tendo em vista que nesse tipo de regime fechado, o apenado fica completamente isolado,
sem comunicação alguma com outra pessoa, imerso em um ambiente pequeno e sem
muitas acomodações.
Dessa maneira, o levantamento do debate acerca da constitucionalidade ou não
desse regime, ocorreu devido à sua condição mais rude de cumprimento de pena para
aqueles que cometem alguma infração grave dentro do estabelecimento prisional ou,
aquele que simplesmente participe de alguma organização criminosa. A jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal ainda não tem um entendimento firmado sobre o assunto
e, os demais tribunais, na maioria dos julgamentos de casos concretos, têm admitido a
constitucionalidade de tal regime. (WINCK & DALL”ALBA MACIEL, 2018)
Assim, os principais argumentos adotados pelos juízes e tribunais do país – de
forma incidental – quando se deparam com casos envolvendo a inserção ou não do preso
ao Regime Disciplinar Diferenciado, são basicamente aqueles que tratam tal regime
como devidamente constitucional, que não expõe o apenado à tratamento desumano ou
cruel, sendo um regime que observa a preservação da dignidade da pessoa humana e
de outros direitos assegurados constitucionalmente ao detento.
Por isso que muito se discute acerca da constitucionalidade ou não do Regime
Disciplinar Diferenciado, principalmente por possivelmente ferir o princípio da dignidade
da pessoa humana. Contudo, os entendimentos a favor da sua constitucionalidade,
revelam que tal regime apenas agrava o cerceamento da liberdade do condenado, não
pondo-o a tratamentos vexatórios ou torturantes ou ainda, inserindo-o em celas
insalubres. (AVENA, 2018)
Seguindo esse pensamento, infere-se que o Regime Disciplinar Diferenciado
apenas adota uma forma diferente de cumprimento de pena em regime fechado,
colocando presos altamente perigosos, isolados, para que não venham subverter a
ordem interna dos presídios e nem incentivam à prática delitiva, dentro e fora das
unidades prisionais.
Desse modo, o Regime Disciplinar Diferenciado não impõe ao detento medidas de
natureza vexatória em desrespeito à sua dignidade, tendo como objetivo precípuo manter
a ordem e a disciplina no interior das prisões, sendo esse um dos principais argumentos
a favor da sua constitucionalidade. (MARTINS, 2018)
Complementando esse posicionamento, destaca-se que tal regime não difere
muito das celas comuns dos estabelecimentos prisionais, pois normalmente são espaços
pequenos, mas que abarcam um número excessivos de presos e no Regime Disciplinar
Diferenciado, o detento fica apenas isolado e limitado a receber visitas e sair da cela.
Outro ponto a elucidar, sobre a constitucionalidade do Regime Disciplinar
Diferenciado é que, devido ao isolamento mais rigoroso, o detento poderá adquirir
transtornos mentais ou outras doenças psíquicas no decorrer do cumprimento da pena,
13

pondo à prova se tal regime condiz com as garantias de cunho constitucional. (ARAGÃO,
2019)
Há casos noticiados, inclusive, que alguns detentos, ao cumprirem pena no
Regime Disciplinar Diferenciado, tentam diversas vezes o suicídio, seja por não aceitar
tal forma de execução penal ou pela impossibilidade de locomover-se e receber parentes
próximos, como filhos menores de idade, já que nesse sistema a visita de crianças é
proibida.
Contudo, é forçoso reconhecer que a aplicação do Regime Disciplinar
Diferenciado algumas vezes se torna altamente necessária, com o fito de manter a paz
entre os próprios detentos e também, na prevenção de delitos, visto que nesse regime,
ingressam apenas aqueles presidiários mais perigosos.

Vale ressaltar que a medida é embasada na proporcionalidade, pois o


RDD acaba denotando um cumprimento individualizado da pena. Frente a
isso, destaca-se que a sanção só é vista como uma alternativa última para
aquele preso que transgredir as normas, cometer falta grave e colocar a
ordem da instituição penal em xeque. Mesmo que se fale em crime doloso
para a inclusão no RDD, este pode não ser considerado, basta que o preso
coloque em risco a sociedade ou os demais presos. (MARTINS, 2018, p.
26)

O Regime Disciplinar Diferenciado também visa proteger o interesse público e


impor a tranquilidade nos ambientes prisionais, evitando apenas que o apenado se
comunique com outros detentos ou incentive rebeliões e outros problemas que poderiam
agravar todo o Sistema Penitenciário em si. (SANTOS, 2018)
No entanto, apesar de o presente estudo posicionar-se a favor da
constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, é preciso trazer à pesquisa os
principais argumentos contrários que prezam pela sua inconstitucionalidade, fazendo
com que haja uma melhor compreensão acerca do tema principal proposto.
A posição doutrinária que considera o Regime Disciplinar Diferenciado
inconstitucional, aponta que tal regime impõe uma pena cruel ao presidiário, agredindo a
sua integridade física e psíquica, pois destina o preso ao isolamento social pelo período
de 360 dias, violando dessa maneira, a sua dignidade como pessoa humana.
(GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
E ainda, essa parte da doutrina enfatiza que esse isolamento excessivo posto pelo
Regime Disciplinar Diferenciado, acaba sendo desumano sob o enfoque dos princípios
previstos pelas Regras Mínimas Para o Tratamento de Prisioneiros da Organização das
Nações Unidas, que exigem um acompanhamento médico ao detento destinado à tal
regime, de forma a verificar o seu estado de saúde. (LEVORIN, 2016)
Desse modo, o Regime Disciplinar Diferenciado acaba possuindo um contraste de
cunho internacional, sendo, inclusive, matéria da Organização das Nações Unidas,
apresentando-se como um problema a ser enfrentado internamente por cada Estado-
parte que o prevê em sua legislação, contudo, se faz necessário um acompanhamento
mais rigoroso do preso inserido nesse regime, mediante inspeção corriqueira da sua
saúde física e emocional.
Além disso, imperioso enfatizar que essa corrente doutrinária afirma que o Regime
Disciplinar Diferenciado aplica a Teoria do Direito Penal do Inimigo, já que o considera
14

totalitário e destoante ao Estado Democrático de Direito, pelo qual algumas pessoas


deveriam ser excluídas do direito da pena, ou seja, não devendo ser consideradas como
seres humanos, sem a possibilidade de dialogar com eles por meio da pena.
(MADUREIRA, 2020)
A Teoria do Direito Penal do Inimigo não foi recepcionada pela Constituição
Federal Brasileira, não sendo, pois, aplicável no atual Estado Democrático de Direito, que
prevê a pena como um meio para se atingir a ressocialização do apenado e não como
uma maneira de vingar-se pelo delito por ele cometido.
A Teoria do Direito Penal do Inimigo foi criada pelo professor Gunter Jacobs, em
1985, como uma resposta aos grandes ataques criminosos ocorridos na década de 80.
Essa Teoria assevera que, aqueles indivíduos que cometem atos criminosos de natureza
cruel ou desumana, seriam considerados inimigos do Estado e este, poderia lhes mitigar
o usufruto das garantias constitucionais. (RIBEIRO, 2019)
Apesar de conter resquícios da Teoria do Direito Penal do Inimigo, no Regime
Disciplinar Diferenciado há a previsão legal da necessidade de se proteger a integridade
física e psíquica do apenado, ou seja, o detento continua possuindo o direito fundamental
de defender-se e ver respeitada a sua dignidade como pessoa humana. (RIBEIRO, 2019)
Percebe-se que o posicionamento que defende a inconstitucionalidade do Regime
Disciplinar Diferenciado aduz que o apenado estaria sofrendo uma pena cruel, ferindo a
sua integridade física e psíquica, além disso, o período máximo de 360 dias sem contato
com o ambiente externo, se mostraria demasiadamente longo, ferindo desse modo, a sua
dignidade como pessoa humana que é.
Contudo, respeitando os argumentos contrários, importante ressaltar que, desde
que os limites legais não sejam ultrapassados, o Regime Disciplinar Diferenciado mostra-
se seguro e até certo ponto, justo, visto que acaba impedindo gravames que poderiam
atingir o interesse público, evitando, por exemplo, o contato entre presos pertencentes a
organizações criminosas e o cometimento de crimes no seio social.
Como não se trata de uma forma vexatória e cruel de cumprimento de pena, o
Regime Disciplinar Diferenciado tem contribuído para a amenização de rebeliões e o
avanço do crime e incremento de facções, deixando o detento apenas por alguns dias
recluso, isoladamente, a fim de que o interesse público seja preservado, respeitando da
mesma forma a sua dignidade, já que não há nenhuma medida desumana que seja
aplicada nesse tipo de regime.
De outro modo, torna-se importante trazer ao estudo a Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4162, ajuizada pelo Conselho Federal da OAB, por entender que
o Regime Disciplinar Diferenciado violaria diversos princípios fundamentais do ser
humano, principalmente, a dignidade da pessoa humana, colocando o preso em uma
situação degradante, sem ao menos dar-lhe a oportunidade de exercer o contraditório e
a ampla defesa com a instauração de um processo regular. (GUIMARÃES & MOCHO,
2017)
Protocolada em 2008 pelo Advogado Marcus Vinícius Furtado Coelho,
mencionada ADI 4162 tinha a finalidade de ver declara nula as regras do Regime
Disciplinar Diferenciado, destacando que fere diretamente o princípio da dignidade da
pessoa humana, pedindo assim, que fosse declarada a inconstitucionalidade do art. 52,
caput e incisos, o parágrafo único do art. 57 e do art. 58 e ainda, o art. 60, caput e
parágrafo único, todos da lei nº 7.210/1984. (RIBEIRO, 2019)
15

Essa ação representa, de certa forma, uma resposta ao clamor dos apenados que
passaram a estar submissos ao novo regime, mais rígido e capaz de mitigar
sobremaneira o exercício dos seus direitos fundamentais como pessoa humana, fazendo
com que a Ordem dos Advogados do Brasil interpusesse citada ação com o fito de fazer
valer os direitos e garantias fundamentais da pessoa encarcerada.
Tal Ação Direta de Inconstitucionalidade ainda se encontra em andamento perante
o Supremo Tribunal Federal, assim, até o presente momento, as últimas movimentações
aconteceram apenas em 2017, quando em 26 de setembro deste ano, foi indeferido o
pedido realizado pela Defensoria Pública da União, pedindo a sua admissão como
amicus curiae no processo, sendo o mesmo negado pela Ministra Rosa Weber.
Segue trecho da respeitável decisão prolatada pela Ministra Rosa Weber,
indeferindo o pedido de admissão como amicus curiae, realizado pela Defensoria Pública
da União.

[...] Não obstante a configuração desses pressupostos, entendo, por outro lado,
que o requisito legal da representatividade adequada não se apresenta. Isso
porque os requerentes têm como pretensão principal trazer argumentação de
oposição ao quanto sustentado na petição inicial desta ação direta. As
informações e/ou justificativas afirmadas não caracterizam dados técnicos e/ou
relevantes que possam contribuir de maneira diferenciada e agregativa com a
ampliação do debate sobre o problema jurídico. Os requerentes atuam como
interessados e não como expert da questão. 5. Por estes motivos, entendo que
não está configurado o requisito da representatividade adequada exigido para a
sua intervenção, assim como a utilidade e a conveniência da sua atuação no
oferecimento de justificativas técnicas. 6. 6. Ante o exposto, indefiro o pedido de
admissão no feito na qualidade de amicus curiae.

Percebe-se que se trata de um processo relativamente longo, que aborda um tema


de grande relevância pública, visto que, caso o Regime Disciplinar Diferenciado venha a
ser declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, não haverá mais
possibilidade de ser aplicado na ordem jurídica brasileira.
Por outro lado, faz-se necessário realçar que, atualmente, a doutrina majoritária
defende a constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, sob o argumento de
que tal método mais gravoso de cumprimento de pena, se revela necessário a fim de
preservar o interesse social e também a vida e a integridade dos outros detentos.
(GUIMARÃES & MOCHO, 2017)
Visto que, em pleno Estado Democrático de Direito, o interesse coletivo – em
algumas ocasiões – acaba prevalecendo sob o interesse individual da pessoa, devendo
o Estado garantir que a sociedade usufrua o máximo de paz e tranquilidade, livre da
marginalidade e outros fatos delituosos que possuem o condão de destruir a estrutura
social como um todo.
Assim, enxergando-se por esse lado, o Regime Disciplinar Diferenciado seria
constitucional e totalmente aplicável no atual ordenamento jurídico brasileiro, servindo-
se como um meio de garantir a tranquilidade social e também, a paz nas unidades
prisionais, afastando do convívio coletivo, aqueles detentos mais perigosos que
costumam praticar faltas graves ou que participem de organizações criminosas.
A inserção do preso no Regime Disciplinar Diferenciado revela-se como resultado
da observância do princípio da proporcionalidade, já que este último, tem o condão de
16

sopesar os interesses que estão em conflito, fazendo com que o órgão jurisdicional
decida qual direito que deve prevalecer.

Como não há hierarquia entre os direitos e garantias fundamentais, deve-se


aplicar o princípio da proporcionalidade para sopesá-los e decidir qual direito
deve prevalecer, em um eventual conflito entre eles. Deve haver uma ponderação
de interesses, para que se possa harmonizar o ordenamento jurídico. Neste caso,
o direito à segurança da sociedade e do próprio estabelecimento prisional deveria
prevalecer, por apresentar maior relevância. Não existem direitos fundamentais
absolutos e, desta forma, pode-se haver a relativização de alguns direitos para
se preservar outros de maior relevância. É o que ocorre no Regime Disciplinar
Diferenciado. Alguns direitos fundamentais do preso são relativizados por um
determinado período de tempo, a fim de que se preservem os direitos
fundamentais à vida e à segurança da sociedade e até mesmo dos outros presos
no estabelecimento prisional. (GUIMARÃES; MOCHO, 2017, p. 65)

Dessa forma, o Regime Disciplinar Diferenciado mostra-se devidamente


constitucional, estando em consonância com as garantias fundamentais previstas na
constituição Federal de 1988, precipuamente com o princípio maior da dignidade da
pessoa, pois não impõe ao apenado um tratamento desumano de cumprimento de pena,
apenas isolando-o por alguns dias com o objetivo de manter a ordem interna dos
presídios e alcançar a paz social.
Assim sendo, seguindo o pensamento da doutrina majoritária, defende-se a
constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, pois como visto, levando em
conta o princípio da proporcionalidade, o interesse social prevalece sobre o direito
individual do detento de manter-se fora de tal regime, visto que esse mecanismo somente
é imposto quando de fato, há nítida necessidade e ainda, observando os direitos
fundamentais do homem, principalmente a dignidade da pessoa humana, dedicando ao
preso, um tratamento carcerário conforme as disposições legais e principalmente,
constitucionais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com isso, conforme o que exposto no presente trabalho, a importância do tema é


evidente, visto que analisa uma garantia suprema pertencente a todo o ser humano, que
é o respeito a sua dignidade, além de confrontá-lo com o Regime Disciplinar Diferenciado
que impõe ao condenado uma maneira mais gravosa de cumprir a sua pena privativa de
liberdade.
A pesquisa foi devidamente dividida em capítulos, para um maior entendimento
sobre o assunto proposto, consistindo, cada tópico levantado, um objetivo específico a
ser enfrentado, com a intenção de que o objetivo geral do estudo seja alcançado, que é
analisar a constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado sob o enfoque do
princípio da dignidade da pessoa humana.
Em primeiro capítulo, o trabalho trouxe um aparato de informações acerca do
Regime Disciplinar Diferenciado, enaltecendo de maneira breve, a sua origem história e
também, a sua previsão legal e principais características que lhes são inerentes, que o
faz diferente dos outros modos de cumprimento de pena em regime fechado.
17

No segundo capítulo, o estudo abordou as características gerais do princípio


fundamental da dignidade da pessoa humana, realçando a sua importância e
essencialidade na atual ordem constitucional brasileira, sendo de observância obrigatória
por parte do Poder Público e da sociedade, de forma a assegurar uma vida digna para
todos os seres humanos, estejam estes reclusos ou não.
Já em outro capítulo, a pesquisa apresentou relevantes posicionamentos
doutrinários a respeito do tema central do estudo, que é averiguar a constitucionalidade
ou não do Regime Disciplinar Diferenciado à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana, tendo em vista as características inerentes deste tipo de regime, que chega a
causar certa dúvida acerca da sua constitucionalidade.
Em razão disso, recorrentes debates foram travados em todo o país, destacando
sobre o seu papel no real alcance da ressocialização do preso, chegando a considerar o
Regime Disciplinar Diferenciado, como um modo desumano de cumprimento de pena, ou
seja, contrário aos ditames constitucionais que prezam pelas garantias individuais da
pessoa humana, precipuamente no que diz respeito à sua dignidade.
Torna-se imperioso salientar, que o trabalho se empenhou em trazer o atual
posicionamento do Supremo Tribunal Federal a respeito do assunto ora enfrentado,
enfatizando que há em andamento perante a Corte, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4162, que foi protocolada em 2008 pelo conselho Federal da OAB,
com o fito de ver declarada inconstitucional, os dispositivos legais que tratam do Regime
Disciplinar Diferenciado, previstos na lei nº 7.210/1984.
Conforme foi frisado no desenvolvimento da pesquisa, desde 2017 que citada
ação encontra-se estagnada perante a Corte Suprema Brasileira, fazendo com que paire
uma lacuna no ordenamento jurídico a respeito da constitucionalidade ou não do Regime
Disciplinar Diferenciado, causando dúvidas até mesmo para os magistrados, que
comumente não sabem como agir diante desse silêncio do Supremo Tribunal Federal.
Nesse diapasão, o estudo demonstra seriedade no enfrentamento do tema,
contribuindo soberanamente com o embate doutrinário a respeito da constitucionalidade
ou não do Regime Disciplinar Diferenciado, estudando as suas regras à luz das diretrizes
traçadas pelo princípio da dignidade da pessoa humana.
Dessa maneira, a pesquisa visa incentivar a questão da constitucionalidade do
Regime Disciplinar Diferenciado, enfatizando que o mesmo não agride o princípio da
dignidade da pessoa humana, tratando-se apenas de uma forma mais restrita de
locomoção do detento, em prol da ordem interna dos presídios e da paz social.
Assim sendo, salienta-se que, todos os argumentos levantados pelo
desenvolvimento do presente trabalho, poderão servir de base para outros estudos sobre
o tema, pois os resultados apresentados com essa pesquisa, não se esgotam aqui, visto
que em razão da sua relevância pública, pode ainda ser mais esmiuçada, fazendo com
que a sociedade em geral possa conhecer mais sobre essa problemática, até mesmo, o
público carcerário.
A par disso, é forçoso mencionar que, as principais sugestões para pesquisas
futuras sobre o assunto, seriam direcionadas a enfatizar que o Regime Disciplinar
Diferenciado é dotado de constitucionalidade, tendo em vista as suas regras legalmente
impostas, não agredindo de forma alguma, a dignidade da pessoa humana, servindo,
inclusive, como proteção dos interesses sociais como um todo.
Dessa maneira, futuras pesquisas que venham a abordar este assunto, poderão
levar em conta as posições majoritárias da doutrina, que argumentam a favor da
18

constitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, de forma a encará-lo como um


mecanismo legal posto à disposição do interesse público, que visa precipuamente romper
com os intentos delituosos de facções criminosas e a prática de outros crimes na
sociedade, fazendo com que o contexto social e carcerário, sinta-se mais protegido.
Destacando também, que o Regime Disciplinar Diferenciado não impõe ao
apenado um tratamento cruel ou desumano, mas apenas um modo mais rígido de
cumprimento de pena em regime fechado, isolando-o de modo mais rude em prol da paz
social e tranquilidade das unidades carcerárias.

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