Você está na página 1de 4

DESPACHO DO RELATOR

Agravo Regimental - Nrº: 1


Número do Processo :0006970-42.2014.8.22.0000
Processo de Origem : 0011278-70.2005.8.22.0701

Agravante: Ivo Narciso Cassol


Advogado: Thiago Fernandes Becker(OAB/RO 6839)
Agravado: Ministério Público do Estado de Rondônia
Relator:Des. Roosevelt Queiroz Costa

Vistos.

Trata-se de embargos infringentes interpostos contra acórdão


que, por maioria, negou provimento ao Agravo Regimental interposto Por Ivo
Narciso Cassol contra decisão monocrática que reconhecera a decadência do
direito de ajuizar a rescisória e indeferiu a inicial, extinguindo o processo sem
resolução do mérito.

A decisão outrora agravada, afirmou a decadência da ação


rescisória considerando que o trânsito em julgado da decisão rescindenda deu-
se em 21/06/2006 e a ação rescisória foi protocolada em 09/07/2014, depois,
portanto, de transcorrido o prazo decadencial de dois anos estabelecido pelo
art. 495 do CPC, para a propositura da rescisória. Outrossim, a decisão
agravada assentou não subsistir a alegação do requerente de que, por não ter
sido parte do processo, o prazo teria início a partir de sua intimação para
pagamento/cumprimento da decisão, ou seja, 04/12/2013. A decisão agravada
ainda consignou que o agravante assinou mandado de intimação para
apresentar documentos e informações sobre a data de cumprimento da
decisão judicial para fins de cálculo da multa e juntou procuração nos autos em
08/07/2010.

Irresignado, o requerente interpôs agravo regimental


sustentando, que a ação civil pública fora ajuizada contra o estado de
Rondônia, representado pelo agravante, e não contra o Estado de Rondônia e
de Ivo Narciso Cassol na qualidade de parte ou terceiro, havendo confusão do
representante do Estado (Governador) com a figura da pessoa do
representante. Disse ainda, que o Estado foi representado pela respectiva
Procuradoria-Geral. Também quanto à intimação referida na decisão
agravada, argumentou ter sido cientificado o Governador do Estado e não Ivo
Cassol e que a juntada de procuração não demonstra sua inequívoca ciência
da decisão, pois não fazia referência àquele processo. Ressaltou, que o prazo
para a propositura da ação deve ser visto de forma diferente, visto que nunca
fora citado validamente na ação rescisória, tendo seu nome incluído somente

Documento assinado digitalmente em 31/03/2016 09:37:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001.


Signatário: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA:1010298 Pág. 1 de 4
Número Verificador: 2000.6970.4220.1482.2000-0448521
em decisão de segundo grau. Dessa forma, entendeu que sua citação pessoal
ocorrera somente 04/12/2013.

O acórdão embargado resolveu o caso nos seguintes termos:

Agravo regimental. Ação rescisória. Biênio. Decadência. Carência


da ação. Falta de interesse-adequação. Extinção do processo
sem resolução do mérito. Querela nulitatis. Rediscussão da
matéria após o prazo decadencial da ação especial.

Nos termos da legislação processual vigente, o direito de propor


ação rescisória extingue-se em dois anos contados do trânsito
em julgado da última decisão proferida na ação, da qual não
caiba mais recurso, sendo este prazo de natureza decadencial.
No acórdão constou expressamente “acréscimo na decisão para
estabelecer que as cobranças e pagamentos das multas sejam
feitos pelos agentes políticos citados na inicial da ação civil
pública, em eventual execução do julgado”, e deste teor o
referido agente, então Governador, pessoa física, foi intimado,
inclusive para “interpor recurso cabível”, contando-se o prazo a
partir de então, sendo este seu marco inicial.
Ultrapassado o biênio decadencial sem recurso, passou a fluir o
prazo de opor ação autônoma de impugnação, de natureza
constitutiva negativa quanto ao juízo rescindendo, objetivando
reparar injustiças contidas em decisões transitadas em julgado,
de modo a impor o reconhecimento, na espécie, da carência da
ação rescisória, por enquadrar-se em flagrante ausência de
legítimo interesse processual, na modalidade adequação.
A jurisprudência do STJ é cristalina no sentido de que a nulidade
por falta de citação deve ser suscitada por meio de ação
declaratória denominada querella nullitatis, que não possui prazo
para sua propositura. Com esse entendimento, extinguiu-se a
ação rescisória sem julgamento de mérito, ficando, portanto, em
aberto a rediscussão da matéria.

Por sua vez, o voto vencido divergiu dos demais apenas quanto a
possibilidade de encaminhar ao juízo de primeiro grau a ação rescisória para
que fosse lá processada como querella nullitatis.

Baseando-se no referido voto divergente, prolatado pelo Des.


Walter Waltemberg Silva Junior, pretende o embargante: a) que os embargos
infringentes sejam convolados como ação declaratória, por se tratar de
nulidade absoluta, ausência de citação e ilegitimidade de parte do embargante
nos autos da ação civil pública, requerendo a remessa dos autos a origem
como “actio querella nullitatis insanabilis”; b) apreciação da preliminar de
ilegitimidade de parte do embargante, por não configurar no polo passivo da

Documento assinado digitalmente em 31/03/2016 09:37:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001.


Signatário: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA:1010298 Pág. 2 de 4
Número Verificador: 2000.6970.4220.1482.2000-0448521
ação civil pública, ocorrendo a nulidade absoluta que torna inexistente a ação
civil pública, por não possuir os pressupostos previstos no art. 282 do CPC, c)
para que seja adotado o voto divergente para determinar a remessa dos autos
ao 1º Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Porto Velho, com vista,
após a convolação, ao julgamento dos embargos infringentes como ação
declaratória de nulidade da ação civil pública, levando-se em consideração que
“a nulidade da citação constitui espécie de vício transrescisório e, por isso,
pode ser reconhecida a qualquer tempo, até mesmo após escoamento do
prazo para a propositura da ação rescisória, mediante simples alegação da
parte interessada” (fls. 683/691).

Parecer da Procuradoria de Justiça, da lavra do Procurador


Charles Tadeu Anderson, preliminarmente, pelo não conhecimento do recurso,
e no mérito, pelo não provimento (fls. 696/704).

É o relatório.

Decido.

Tendo em vista a deliberação do Tribunal Pleno Administrativo


desta Corte, em sessão realizada em 22/02/2016, que resolveu que a data de
vigência do Novo Código de Processo Civil seria 18/03/2016, aplico nestes
embargos infringentes, quanto ao seu cabimento, o disposto no Código de
Processo Civil anterior, vigente à época da interposição do presente recurso
(27/01/2016).

Pois bem.

Preconiza o art. 530, do CPC:

Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não


unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de
mérito, ou houver julgado procedente a ação rescisória. Se o
desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria
objeto da divergência.

Quanto ao cabimento dos embargos infringentes, Araken de


Assis preceitua:

Os embargos infringentes só cabem contra acórdãos. Assim se


designam, a teor do art. 163, os pronunciamentos dos órgãos dos
tribunais. É o que resulta da parte inicial do dispositivo (“Cabem
embargos quando o acórdão...”). A exigência de que haja
acórdão se explica facilmente. Prende-se à falta de unanimidade
mo julgamento. Somente nas resoluções tomadas por órgão
fracionários dos tribunais – Câmara, Turma, Seção, Grupo ou

Documento assinado digitalmente em 31/03/2016 09:37:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001.


Signatário: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA:1010298 Pág. 3 de 4
Número Verificador: 2000.6970.4220.1482.2000-0448521
Órgão Especial, pois cada, segundo o art. 101, § 4º., da LC
35/1979, funcionará “como Tribunal distinto”, relativamente aos
demais órgãos porventura existentes na Corte – participarão, no
mínimo, três de seus membros (art. 101, § 1º., da LC 35/1979),
ensejando o aparecimento do voto vencido e do julgamento por
maioria (não unânime).
[…]
Não é embargável, porém, qualquer acórdão – somente os
proferidos em apelação e em ação rescisória, naturalmente
respeitados os demais pressupostos. (Manual dos Recursos,
Editora Revista dos Tribunais, pág. 573).

Outrossim, outro requisito que restringe a interposição do recurso


de embargos infringentes, diz respeito tratar-se apenas em relação à matéria
de mérito. Dessa forma, estão fora do cabimento do âmbito de cabimento do
aludido recurso as questões processuais ou prejudiciais votadas no acórdão.

Disso resulta que são incabíveis embargos infringentes contra


acórdão não unânime proferido em agravo regimental, cuja matéria diz
respeito à decadência do direito de ingressar com ação rescisória por ser
absolutamente processual, como o caso dos autos.

Ademais, vale mencionar que parte da doutrina defende a


possibilidade de interposição de embargos infringentes no acórdão de agravo
interno interposto contra decisão monocrática do relator do recurso de
apelação que se utilizando do art. 557, § 1º-A do CPC, reforma a sentença de
primeira instância em razão de estar em manifesto confronto com súmula ou
com jurisprudência dominante do STF ou de tribunal superior. Isso porque o
acórdão proferido no agravo interno corresponde ao acórdão do recurso de
apelação, que não foi julgado porque o relator decidiu monocraticamente.
Esse, entretanto, definitivamente não é o caso dos autos.

Em face do exposto, por não preencher os requisitos do art. 530


do CPC, não conheço dos embargos infringentes.

Decorrido prazo legal, arquive-se.

Publique-se, intimem-se e cumpra-se.

Porto Velho 31 de março de 2016


Des. ROOSEVELT QUEIROZ COSTA
Relator

Documento assinado digitalmente em 31/03/2016 09:37:54 conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/06/2001.


Signatário: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA:1010298 Pág. 4 de 4
Número Verificador: 2000.6970.4220.1482.2000-0448521

Você também pode gostar