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futuro?
Não podemos falar em inclusão sem antes percebermos do que trata este conceito.
Assim sendo, de acordo com Correia (2003, p.11) o conceito de inclusão, ou seja, a inserção do
aluno com NEE, em termos físicos, sociais e académicos nas escolas regulares, ultrapassa em
muito o conceito de integração, uma vez que não pretende posicionar o aluno com NEE numa
“curva normal, mas sim assumir que a heterogeneidade que existe entre os alunos é um factor
muito positivo, permitindo o desenvolvimento de comunidades escolares mais ricas e mais
profícuas. Também o Decreto-Lei nº54/2018, de 6 de julho, “estabelece os princípios e as
normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa responder à diversidade das
necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos, através do aumento da
participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade educativa” (nº1 do
artigo 1º).
Mas será assim tão simples? Será que nos encontramos no caminho certo? Será que os
nossos profissionais têm formação adequada e suficiente? E será que as nossas escolas se
encontram preparadas? Sinto que a educação em Portugal se tornou permeável a modelos de
ensino, de avaliação e de organização que frequentemente se opõem a uma igualdade de
oportunidades para todos, como sejam quadros de mérito e rankings de escolas.
Inclusão… que futuro?
De acordo com Pereira (2018, p.11) “Na reflexão sobre as escolas, não podemos
ignorar a necessidade de estas se afirmarem como espaços culturalmente mais significativos,
associando a dimensão do significado cultural que aí tem lugar à dimensão inclusiva. Isto
significa que as especificidades cognitivas, culturais e experienciais dos alunos deverão ser
entendidas como condição necessária, mas não suficiente, para configurar uma escola que se
afirme como inclusiva. ”ou seja, é necessário apostar numa gestão contextualizada e flexível
do currículo que promova a cooperação entre os alunos, a sua autonomia e a participação em
decisões quotidianas dos mais diversos níveis. Ainda de acordo com Pereira (2018, p.12) “A
gestão do tempo deverá romper com o pressuposto de que se deve ensinar tudo a todos como
se todos fossem um só.”.
grupos de alunos cada vez mais heterogéneos”. É fundamental proporcionar aos professores
conhecimentos para uma prática inclusiva e sublinha-se na Declaração de Salamanca(1994,
p.27) que “As competências necessárias para satisfazer as necessidades educativas especiais
devem ser tidas em consideração na avaliação dos estudos e na certificação dos professores”.
Seguindo esta linha de pensamento compreendemos que a inclusão implica mudanças não só
ao nível da organização das escolas como também ao nível das atitudes e da prática
pedagógica dos professores. Neste sentido a Declaração de Salamanca(1994, p.11) refere “(…)
reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos alunos, adaptando vários estilos e ritmos
de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de
currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de
utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades.”. Nos dias de
hoje a inclusão de todas as crianças no ensino regular implica tarefas acrescidas de
diagnóstico, planificação e avaliação, que exigem ser realizadas em colaboração com o
professor de ensino especial. Acresce ainda dizer que a diversidade de NEE implica um
trabalho de reflexão acrescido e que os professores podem não ter
conhecimentos/competências suficientes (Estrela, 2002).
Não quero com isto dizer que o processo de inclusão em Portugal se trata de uma
mera utopia, de acordo com o DGEEC e com um inquérito realizado a 3 de Janeiro de 2018,
entre os anos lectivos 2016/2017 e 2017/2018 o número de crianças com Necessidades
Educativas Especiais, com Programa Educativo Individual, a frequentarem escolas regulares
aumentou 7%, como podemos verificar no gráfico abaixo.
30.000
25.000
20.000
Educação pré-escolar
1.º ciclo
2.º ciclo
15.000
3.º ciclo
Ensino secundário
10.000
5.000
0
2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016 2016/2017 2017/2018
Em suma chego à conclusão que embora a inclusão em Portugal seja uma realidade
cada vez mais proeminente, existe ainda um caminho muito longo a percorrer. Trata-se de um
grande desafio tanto do presente como do futuro e é da responsabilidade de todos nós
enquanto cidadãos. Temos tido uma evolução muito positiva a todos os níveis, mas
principalmente ao nível da legislação. Sei à partida que a legislação não é suficiente para
garantir a sustentabilidade das mudanças sendo também imprescindível as competências e o
empenho de todas as pessoas envolvidas (pais, profissionais, membros da comunidade), no
entanto, a relevância que a legislação tem como base do sistema educativo é indiscutível. É
por isso necessário continuar a legislar, apostar na formação dos profissionais, investir nos
centros de apoio e de recursos, deixar de lado os estigmas e mudar mentalidades.
Legislação
Decreto-lei nº54/2018 de 6 de julho
Declaração de Salamanca
Sites de Internet
https://www.dgeec.mec.pt/np4/dgeec/ consultado em 29 de Dezembro de 2020