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INIMPUTÁVEL
INIMPUTÁVEL
INIMPUTÁVEL
Neumar Michaliszyn (2014)
da puta me bateu. Nem foi na escola. (pausa) Filha da puta sim. Minha vó era
puta, dessas de zona de estrada. Morreu sifilítica com 35. (pausa) Minha mãe
também era puta. Dava pra qualquer um que quisesse. Afinal, ninguém quer
foder uma gorda. Só os pervertidos fodem gorda. Gente normal não fode.
Não era violento. Nem maldoso. Nenê uma vez quis descer uma ladeira
num carrinho de madeira, tipo rolimã. Deixei. Empurrei por vários metros, à toda.
No fim da ladeira havia um valetão. Ele caiu com a cara contra o barranco. Ficou
muito machucado. Dona Teresa proibiu de brincar comigo. Na escola um menino
maior passou por mim na chegada. Passou a mão em minha bunda, enfiando o
dedo médio no meu cuzinho e dizendo: “Vô te comê hoje, viadinho!” A escola
tinha um pátio com brita. No recreio, peguei o menino por trás. Corri a toda, pulei
com os joelhos nas costas dele, derrubei, e... antes que se recobrasse do susto,
agarrei-o pelos cabelos da nuca e esfolei muito a cara dele nas pedras. Esse
(pausa) nunca mais me incomodou. Os outros me encoxavam. Me mostravam o
pau durante as aulas, bem duro! (pausa) Ficava perturbado. (pausa) Olhava os
meninos com um misto de ódio e repulsa. Justiça. Um dia faria justiça.
Terminado o primeiro grau, fui para um internato militar por quatro; de
lá, direto pro exército, por mais três anos. (Pausa) Sete anos... (Pausa) Sete anos...
(Pausa) Neles, convivendo com meus companheiros de caserna, fazendo
exercícios, refeições, tomando banhos coletivos e dormindo juntos no alojamento
ou em barracas durante os exercícios de campo... (pausa) ajudaram a descobrir o
quanto apreciava, amava, desejava os corpos de outros homens, ao mesmo
tempo que sentia repulsa por suas mentes confusas, desorganizadas, quase
infantis. Também descobri que desprezava em profundidade todas as mulheres,
com suas exigências emocionais egoístas e mesquinhas, seus corpos macios e
despelados. O pior de tudo era aquela gruta de mistérios insondáveis, úmida,
escorregadia (pausa) e fétida. Todos eles, homens e mulheres, corpos feitos para
o prazer. Eles, para o prazer deleitoso. Elas, para o prazer sádico. Minha vingança
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esta mão, pela nuca. Como nos beijos apaixonados dos filmes. Deitei-o com
delicadeza sobre uma grande pedra, embaixo de um salgueiro. Peguei o saco de
estopa que havia deixado atrás de um tronco. Acendi uma pequena fogueira. Do
saco, retirei um grosso pedaço de barra de construção, que coloquei para aquecer
ao rubro. Retirei do saco as cordas, uma marretinha e cinco estacas de madeira.
Despi-o. Deitei-o no caminho da estrada abandonada. Posição de homem
ritruviano. Fixei firmemente as estacas. Uma em cada extremidade da figura.
Ligeiramente inclinadas para fora. Com cada pedaço do grosso sisal dei três voltas
nas extremidades e as prendi firmemente nas estacas. Apliquei uma injeção de
adrenalina. Acordou imediatamente. Com um sorriso no rosto, misto de lascívia e
loucura, tirei do bolso traseiro uma pequena faca de aço carbono. Afiada
cirurgicamente. Cuidadosamente, separei o pau, o saco, a carne peluda que
recobre o púbis, como um troféu. Cauterizei com a barra quente. O garoto entrou
em choque. (Sai do clima pesado, banalizando, comenta animadamente) Afinal, o
objetivo não era que ele se esvaísse em sangue, eu queria, queria muito que ele
visse tudo. (Voltando gradativamente à solenidade inicial) Chupei a cabeça do pau
dele. Tinha um formato estranho, alongado demais, quase metade do tamanho
do pau. Arranquei-a com os dentes, mastiguei, engoli. O restante, joguei dentro
do saco de estopa. Desmaiou.