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SUSTENTABILIDADE E

ARQUITETURA:
Histórico e abordagem do estado
da arte

Prof. Leopoldo Bastos


Prof.Cláudia Barroso-Krause

PROARQ-FAU-UFRJ www.fau.ufrj.br/proarq
PROARQ novembro 2005
FAU/UFRJ
Breve Histórico
„ Roma antiga
„ Vitruvius (Séc. I a.C.): O papel do sol e do vento na escolha da
implantação e traçados de cidades e edifícios;
„ Imperador Ulpiano (Séc. II d.C.): Heliocaminus (locação de
cidades no trajeto do sol), Calidarium (aquecimento de água),
Ipocausto (túnel subterrâneo para aquecer o ar)
„ Revolução Industrial (Séc. XIX)
„ Carvão mineral, ferro, aço, gás, petróleo – os ciclos naturais são
rompidos
Breve Histórico
„ Século XX
„ Estilo internacional (caixas de vidro) – Multiplicação da iluminação
elétrica, sistemas artificiais, climatização, elevador etc. Multiplicam-
se os custos energéticos da edificação. A relação do homem com
meio ambiente é descaracterizada.

„ Crise do Petróleo (década de 70) – Retorno a busca por sistemas


passivos e aproveitamento do clima e da natureza.
Breve Histórico

„ Desenvolvimento Sustentável (a partir da década de 90)


„ Marco da Eco´92

“ A humanidade deve ser capaz de tornar o ´desenvolvimento sustentável`, de


garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas.”
“ No que se refere ao rendimento energético, cabe apenas esperar que o mundo
formule vias alternativas de baixo consumo energético com base em fontes
renováveis, que deverão ser o alicerce da estrutura energética global do século
XXI” (Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992).
Breve Histórico
„ O desafio urbano
„ Quase metade da humanidade vive em cidades

“ Na maioria das cidades do Terceiro Mundo as pressões


contínuas por moradia e serviços desgastaram as edificações
urbanas. ... É comum haver edifícios públicos em franca
decadência, necessitando reformas. O mesmo acontece com a
infra-estrutura essencial da cidade” (Comissão Mundial Sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992).
Breve Histórico
„ Os edifícios – ambientes internos
„ Década de 80 – OMS definiu a Síndrome do Edifício Doente (sintomas
gerais de ocupantes de ambientes fechados) e posteriormente a
Doença do Ambiente Interno (estado mórbido ligado a condições de
ambientes internos).
„ A renovação de ar nos ambientes elimina grande parte dos poluentes
(radônio,ozônio, benzeno, NO2, HCFC, HCHO,...) provenientes de
granitos, tintas, colas, ar condicionado etc.
„ OMS, EPA, ACGIH, OSHA, ANVISA (RE nº 9 16/01/2003), ABNT
(NBR6401), MTE (NR 9 ,15, 17) – listam poluentes e estabelecem
limites de exposição prolongada e de curta duração.
Breve Histórico
„ Os edifícios – impacto sobre “½” Ambiente

„ Indústria da construção: atividade humana de maior impacto sobre o


meio ambiente;
„ As construções alteram áreas urbanas e rurais;
„ Atividades ligadas a construção, consomem recursos e geram resíduos
em proporções superiores a maioria das outras atividades econômicas.
„ Alguns destes efeitos são transitórios, como ruído e poeira gerados
durante a construção, e outros são persistentes ou até permanentes,
como os do CO2 de combustão liberado para atmosfera.
ENERGETIC CONSUMPTION IN EUROPE (1992)
TOTAL CONSUMPTION: 782 Mtoe

40

35

30

25
310 Mtoe 246 Mtoe 226 Mtoe
% 20

15

10

0
Building Transport Industry

Consumo energético total na Europa - 1992 ( EEC, em GAUDIN, 2002).


Breve Histórico
„ Protocolo de Montreal (1987)
„ Relativo a substâncias que empobrecem a camada de ozônio:
„ Estabelecimento de metas de congelar produção de CFC e calendário para
diminuição de substâncias que degeneram a camada (halon).
„ Protocolo de Kyoto (1992/ 97/99)
„ Sobre mudanças climáticas (GAUDIN, 2002):
„ Os edifícios novos devem reduzir 40% as emissões de CO2.
„ Os edifícios existentes devem reduzir 15% destas emissões. Isto corresponde a
reduzir nos próximos 10 anos, 50% das emissões de CO2, em pelo menos 30%
dos edifícios.
Breve Histórico

„ Agenda 21
„ Plano de ação global, desdobrado em planos locais e setoriais.
No que tange a construção civil:
„ Agenda Habitat II, assinada na Conferência das Nações Unidas
realizada em Istambul, em 1996;
„ CIB5 Agenda 21 on Sustainable Construction (CIB, 1999), que
contempla, entre outros, medidas para redução de impactos através
de alterações na forma como os edifícios são projetados, construídos
e gerenciados ao longo do tempo;
„ CIB/UNEP6 Agenda 21 for sustaninable construction in developing
countries (CIB/UNEP-IETC, 2002)
Evolução do conceito de Arquitetura
Sustentável

„ Arquitetura Solar – a partir dos anos 70


„ Crise do petróleo - conservação de energia;
„ O objetivo de economia de energia foi atingido, mas o do conforto
ambiental nem sempre.
„ Arquitetura Bioclimática (Green Architecture) – a partir
dos anos 80
„ Surgimento dos Laboratórios de Arquitetura Bioclimática;
„ Arquitetura mais equilibrada entre o desempenho energético e o
conforto térmico;
„ Visão de fora para dentro (ambiente edificação) .
Arquitetura Sustentável

„ Arquitetura Eco-Eficiente/ Alta Qualidade Ambiental da


Edificação – a partir de anos 90
„ Uso de fontes alternativas de energia com conciliação do conforto
ambiental;
„ Qualidade da água, do ar, gestão de recursos e de sobras etc;
„ Inclusão da visão de dentro para fora (ambiente edificação).
Arquitetura Sustentável

„ Arquitetura Sustentável – a partir dos anos 2000


„ Sustentabilidade econômica: lucratividade e crescimento através do
uso eficiente de recursos (mão de obra, materiais, água e energia).
„ Sustentabilidade ambiental: evitar efeitos prejudiciais ao ambiente
através de uso cuidadoso de recursos naturais, minimização de resíduos,
proteção e melhoria do ambiente.
„ Sustentabilidade social: responder às necessidades dos “atores sociais”
envolvidos no processo de construção (do planejamento à demolição),
incluindo alta satisfação do cliente e do usuário, fornecedores
comprometidos ambientalmente, respeito aos funcionários e comunidades
locais.
“Arquitetura Sustentável”
(arquitetura ecológica, arquitetura verde,
arquitetura a alta qualidade ambiental)

- Enfoque Holístico
- Triângulo clássico de Vitruvius é alterado para
outro polígono: firmitas, commoditas, venustas +
sostentabilis-ambientalis, economicus et socialis.
- Evolução de antigas nomenclaturas: arquitetura
solar + arquiteura bioclimática + baubiologie
- Dirigir o olhar para a arquitetura vernacular (?)
- Coexistência de conceitos:organicismo,
ambientalismo, funcionalismo, tecnicismo,
contextualismo e historicismo.
Processo do Projeto ao
Desmonte
„ A Qualidade Ambiental que deve ser perseguida pelo
empreendedor em todas as etapas da vida do edifício.
„ Todas as etapas devem responder aos preceitos da
sustentabilidade:
„ Projeto, Obra, Pós-Ocupação, Manutenção, Novo uso, Desmonte;
„ Editais, concorrências e concursos devem estabelecer critérios ambientais
e sociais e metas de desempenho.
Processo do Projeto ao Desmonte

„ Visão de ciclo de vida: “do Berço ao Túmulo”


EXTRAÇÃO DESMONTE

ALTERAÇÕES NA ÁGUA

IMPACTOS AMBIENTAIS

PRESERVAÇÃO
RECURSOS NATURAIS
DESMONTE

SAÚDE
OPERAÇÃO,
MANUTENÇÃO E
SERVIÇOS

CONFORTO
CUSTOS DE
INVESTIMENTOS

Fonte: GAUDIN, 2002 RESÍDUOS


Tema recente, vários métodos.

Qual sistema de Qualidade


Ambiental para projeto de
edificações mais adequado ao
Brasil?
Métodos para Avaliação / Certificação

„ Os aspectos ambientais podem ser caracterizados por conjunto de


parâmetros interdependentes, que representam indicadores de
desempenho a serem monitorados, tais como emissões, resíduos,
consumo energético etc.

„ A definição do conjunto de indicadores, a medição destes parâmetros na


edificação e seus resultados pode ser utilizada para avaliar o estado da
edificação em relação ao seu desempenho ambiental.
Avaliação de Desempenho
Ambiental

„ Medições e avaliações de desempenho dos componentes


arquitetônicos e sistemas;
„ Avaliação do desempenho ambiental global da edificação;
„ Definição dos parâmetros e procedimentos de avaliação periódica
para declarações anuais de desempenho;
Avaliação de Desempenho
Ambiental de Edifícios
Avaliação de Desempenho
Ambiental de Edifícios

Energy Budget
Budget Item Reference building '97 Case building
SHADING SUMMER empty kW h/m 2yr W/m 2 kW h/m 2yr W/m 2
Heating 29 22 20 30
Ventilation 38 14 9 5
Domestic hot water 22 15 11 10
Fans and pumps 10 1 19 2
Lighting 17 3 17 3
Various 28 4 28 4
Cooling (AC) 0 0 0 0
Sum 144 empty 104 empty

SHADING SPRING/ FALL

SHADING WINTER
Métodos para Avaliação /
Certificação
„ Diversos métodos vêm sendo desenvolvidos no mundo,
desde o início da década de 90, com o objetivo de avaliar
o desempenho ambiental de edificação, em função de
referenciais estabelecidos, de forma a orientar ações que
levem à melhoria deste desempenho.

„ Os métodos existentes vão desde etapas de


programação, orientando para o planejamento de
edifícios sustentáveis, passando por simuladores de
desempenho que apóiam as etapas de projeto básico e
projeto executivo, até métodos de avaliação do edifício já
em operação.
Nome BREEAM BEPAC HQE GBC LEED TM CASBEE

Ano 1990 1993 1993 1996 1999 2002


Consórcio Internacional
País / Região Reino Unido Canadá França Estados Unidos Japão
(iniciado pelo Canadá)
Comerciais Comerciais Comerciais Comerciais Comerciais Comerciais
Escolares Escolares Escolares
Tipologias de Casas Casas Residenciais Multi-residenciais Multi-residenciais
edifícios Unidades industriais Administrativos Institucionais
Supermercados (todo tipo de edifício). Hotéis
Outros
Programação
Planejamento
Projeto novos edifícios Projeto novos edifícios Projeto novos edifícios Projeto novos edifícios Projeto novos edifícios Projeto novos edifícios
Etapas do
Execução novos edifícios Execução novos edifícios Execução novos edifícios Execução novos edifícios Execução novos edifícios Execução novos edifícios
empreendimento
Projetos de reabilitação Pós-projeto
Edifícios existentes em uso e Edifícios Existentes Edifícios existentes
desocupados

Sensibilização de projetistas Apoiar a decisão de projetos Pressionar para cima o Ser uma ferramenta simples
para questão ambiental; para a escolha integrada de desempenho dos edifícios; que apóie práticas de projeto
Objetivos técnicas ambientalmente e construção
amigáveis; ambientalmente
responsáveis;
Especificação de Definir parâmetros de Criar Benchmarks de Definir limites do sistema
desempenho; desempenho ambiental desempenho; analisado (edifícios);
(ressalta aplicação em
concursos de projetos);
Mensuração de desempenho; Avaliar impactos ambientais Relacionar o projeto físico Realizar o levantamento e
em função do uso de ao meio ambiente; balaço entre impactos
energia; Integrar a questão energética positivos e negativos ao
Avaliar conservação de e ambiental desde o início longo do ciclo de vida do
recursos e do projeto, gerenciando o edifício.
proteção da camada de consumo energético do
ozônio; projeto e os custos
ambientais;
Preservar os recursos
naturais mediante a
otimização de seu uso;
Melhorar qualidade Avaliar a qualidade do ar Garantir a qualidade do ar
ambiental interior e saúde interior; interior, para garantir um
dos ocupantes; ambiente saudável p/ os
usuários;
Avaliar as relações do Controlar o impacto sobre o
edifício com o sitio e entorno exterior do edifício;
entorno;
Avaliar impactos relativos
ao transporte;
Alertar quanto à edifícios c/ Promover uma troca de Incentivar outros segmentos
grande impacto ambiental; informações, idéia e da indústria da construção a
tecnologias entre os diversos desenvolver produtos e
Início países envolvidos; serviços de maior qualidade
ambiental.
Anterior Estimular o
desenvolvimento de
Próximo avaliações com Planilha 2
características locais;
Nome BREEAM BEPAC HQE GBC LEED TM CASBEE

Programa de avaliação Programa de avaliação Programa de avaliação Programa de avaliação Programa de avaliação Programa de avaliação
voluntária; voluntária; voluntária, podendo ser voluntária; voluntária; voluntária;
obrigatória em caso de
Avaliação orientada para Avaliação orientada para Avaliação orientada para Avaliação orientada para Avaliação orientada para
concursos;
o mercado, realizada por pesquisa, realizada por pesquisa; o mercado; o mercado;
auditores independentes auditores treinados pelo Recomendações para
Não dirigido à Baseia-se em certificação Baseia-se em certificação
treinados pelo BRE1; BEPAC ou que projeto e/ou certificação
certificação, mas a perfil (4 níveis) válida por (5 níveis);
demonstrem HQE
Classificação em índice de desempenho, incluindo cinco anos;
conhecimento em todos Introduz o conceito de
de desempenho vinculado Associação de aspectos pontuação e indicadores
os campos avaliados; Estruturado a partir de Eficiência Ambiental do
à certificação (4 níveis); arquitetônicos a 14 alvos de desempenho
créditos para o Edifício;
Pode ser avaliação ambientais; comparados com
Sistema baseado em atendimento de critérios
interna; benchmarks. Trabalha com 4
categorias com diversos Considera critérios e pré-estabelecidos;
ferramentas, sendo
critérios; Classificação de indicadores; Caracteriza-se por ciclos
Classifica o desempenho específicas para cada
desempenho vinculada à sucessivos de pesquisa e
Estes recebem créditos, Trabalha no cruzamento ambiental dos edifícios de etapa do projeto ou pós-
a um certificado que difusão de resultados;
que são pontuados e dos aspectos forma global, através de projeto;
relaciona créditos obtido
ponderados2, para arquitetônicos com os Comparação de valores pontuações, considerando
em relação a um valor Trabalha com categorias
obtenção de um índice de alvos ambientais, gerando de medições do objeto de os preceitos do “Green
máximo; de Qualidade Ambiental
desempenho; recomendações. estudo com valores de Building”.
(aspectos positivos) e
Desempenho definido referência, segundo uma
A pontuação é feita cargas Ambientais
pelo conjunto de lista de indicadores de
segundo escala de (aspectos negativos);
desempenho potencial e sustentabilidade
gradação permitindo
práticas de gestão da ambiental; Trabalha com pontuação
Estrutura / comparação relativa com
operação; ponderada dentro das
características benchmarks certificados Avaliação através de
categorias;
pelo sistema; Definição de um edifício- acesso a informações
base, segundo o qual, o técnicas, econômicas e de Classifica o desempenho
O índice de desempenho
objeto de estudo será manutenção do edifício e ambiental em cinco
obtido relaciona à
comparado; avaliação de como o níveis, desde positivos até
certificação em uma das
edifício está se negativos.
classes previstas. Categorias de impacto
comportando, frente a
incluindo critérios
Edifícios existentes uma série de critérios;
globais, locais e do
avaliados segundo
ambiente interior; Comparação de maneira
práticas de gestão e
absoluta o desempenho
Operação (O&M). Conjunto de critérios de
de um edifício com
avaliação, divididos em
benchmarks com
essenciais, importantes ou
características e
suplementares;
condições ambientais
Pontuações com semelhantes;
ponderação dentro de
Pontuação3 segundo
cada categoria;
escala de gradação de –2
O certificado é concedido a +5, em comparação
em função do número de com benchmarks;
créditos obtidos por
Ponderação entre
categoria, em comparação
categorias.
com o valor máximo
possível. Planilha 1
Vários métodos: Qual sistema de qualidade
ambiental nas edificações seguir?

Classificação climática Precipitação anual

Fatores energético-ambientais

Temperatura média Consumo de energia per capita

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