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Documento: 2018240 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 08/02/2021 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2021 (Data do Julgamento).
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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 615.820 - SC (2020/0252778-3)
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 615.820 - SC (2020/0252778-3)
VOTO
Além disso, é ônus da defesa comprová-lo, nos termos do caput do art. 156 do
Código de Processo Penal: "A prova da alegação incumbirá a quem a fizer".
Na hipótese, como bem colocado pela magistrada do primeiro grau, não logrou a
defesa comprovar o alegado. Muito pelo contrário, o conjunto probatório
demonstra claramente que a subtração apenas não se consumou por
circunstância alheia à vontade dos agentes, que não conseguiram romper
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os cadeados que guarneciam a galeria comercial.
Sobre o ponto, a fim de evitar repetição desnecessária, valho-me dos brilhantes
fundamentos lançados na sentença, abaixo:
No que tange à tese de desistência voluntária, igualmente, carece a versão calcada
exclusivamente na fala do próprio denunciado na audiência de instrução, de
respaldo no conjunto das provas e elementos de informação que integram a
presente ação criminal.
Explicitando, no interrogatório judicial, Igor Eufrazio disse que "começou a serrar
o cadeado do estabelecimento comercial e não teve coragem de levar o roubo
adiante, motivo pelo qual mentiu aos seus colegas dizendo que havia avistado uma
viatura policial para que todos saíssem do local dos fatos".
Porém, a versão apresentada pelo acusado – de que teria motivado a desistência
da prática criminosa ao mentir para os outros agentes que tinha visto uma viatura
policial passando no local - não fora em nenhum outro momento relatada pelos
outros coautores do crime, não constando em nenhuma passagem dos
depoimentos prestados pelo adolescentes Carlos Eduardo e Gabriel que o motivo
de terem deixado de prosseguir na subtração do estabelecimento comercial teria
sido a fala do coautor Igor Eufrázio.
Com efeito, o adolescente Gabriel Oliveira Sousa, quando ouvido na fase
investigativa, declarou que serraram os cadeados, mas não conseguiram entrar na
loja e saíram do local porque "não ia dar certo". Aduziu que a porta era muito
forte e, mesmo depois de serrar, perceberam que "não dava pra abrir" e iria
demorar muito, motivo pelo qual se evadiram do local (fls. 24 e 61).
O adolescente Carlos Eduardo Antunes também nada referiu sobre a versão
apresentada pela defesa, reforçando o motivo da saída do local dos fatos que já
tinha sido apontado pelo outro adolescente (5'20'' – 5'40'').
Ademais, se percebe das imagens gravadas na data dos fatos pelas câmeras do
sistema de vigilância da galeria, claramente, que ao não conseguirem abrir o
portão que daria acesso ao interior da loja, cuja subtração era buscada pelos
autores, mesmo após terem cerrado a grade de segurança existente, os três
resolvem se evadir do local.
Logo, a sequência dos eventos dirime qualquer dúvida que poderia implicar o
acolhimento da versão apresentada pelo acusado - de que a fuga foi motivada pela
simulação por ele levada a efeito de quer teria avistado uma viatura policial nas
proximidades do local - sendo facilmente perceptível do conteúdo das
imagens fornecidas pelo equipamento de segurança da galeria, que os três
deixaram o local após constatarem a dificuldade de ingresso no interior do
estabelecimento comercial (fl. 61, vídeo B001, 5'54'' - 6'00'').
Nesse viés, tem-se que a versão apresentada por Igor Eufrazio em juízo no
sentido de que resolveu "mentir" aos coautores do crime que avistou a Polícia,
com vistas a cessar a prática delitiva, é limitada apenas às declarações do próprio
acusado e, assim, desprovida de prova suficiente para o acolhimento da versão
sustentada no ponto, a teor do que enuncia o art. 156 do CPP.
Por conseguinte, se conclui que ao verificarem que as ferramentas levadas
consigo (facas e serra) não seriam suficientes para uma ágil ação e a abertura
efetiva das portas da loja visada, os três autores da conduta delituosa
resolveram se evadir da galeria, de modo que a subtração somente não se
consumou por circunstâncias alheias às suas vontades, o que configura a
hipótese de tentativa (art. 14, II do CP).
Além disso, em relação à intenção de ceifar a vida do vigilante atingido pelo golpe
de faca desferido pelo acusado Igor, a tentativa se lastreia na circunstância alheia
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à vontade do agente, consubstanciada na fuga do local pelo vigilante ferido e no
fato de que mesmo saindo ao encalço da vítima, o acusado e o adolescente
Gabriel não lograram êxito em encontrá-lo, como se apurou.
Assim sendo, vai afastado o reconhecimento da desistência voluntária, nos
termos do art. 15 do CP, que reclama para a sua incidência in concreto que o
agente, possuindo condições de prosseguir com a execução do delito,
abandone-o, por sua liberalidade, deixando de atingir o resultado desejado, em que
pese tivesse perfeitas condições de lograr êxito se persistisse no 'iter criminis' –
na medida em que, no caso, o réu foi impedido de continuar por circunstâncias
que ultrapassavam a sua vontade (conduta da vítima que exitosamente se evadiu
do local e da insuficiência de ferramentas hábeis para violar o sistema de
segurança físico do estabelecimento comercial alvo da subtração pretendida).
Destaca-se, por oportuno, que a tentativa em se tratando de crime de latrocínio,
resta configurada quando o resultado morte não se consuma, apesar da intenção
do agente de atingi-lo, ainda que não se realize a subtração desejada
originariamente, conforme enuncia, aliás, a Súmula 610 do STF (Grifo nosso)
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2020/0252778-3 HC 615.820 / SC
MATÉRIA CRIMINAL
Relator
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ANA BORGES COELHO SANTOS
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
LUDMILA GRADICI CARVALHO DRUMOND - SC036422
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : IGOR EUFRAZIO (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : IGOR EUFRAZIO (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
LUDMILA GRADICI CARVALHO DRUMOND - SC036422
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Laurita Vaz, Sebastião Reis Júnior e
Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.
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