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Monografia apresentada
a faculdade de ciências sócias e
Humanidade como requisito parcial
a obtenção do título de licenciatura
Dedico este trabalho à pomba que me fez cria, a senhora minha mãe Inês Lerías da Silva
Chinemero e ao senhor meu saudoso pai, Fernando Castigo Chinemero, pois juntos, cada
um ao seu jeito, sempre apontaram a escola como o melhor caminho a trilhar ao sucesso
pessoal.
ii
AGRADECIMENTO
No Defluir dos cinco anos de preparação deste trabalho muitas pessoas entraram e
outras tantas saíram da minha vida, porque a distância ou as circunstâncias assim o ditaram.
Contudo, a todas devo um intrínseco obrigado, cada uma teve, a dado momento, um papel
crucial e inesquecível em cada linha escrita neste trabalho, seja a nível académico, ou
pessoal. Todas contribuíram para a sua conclusão.
Em primeiro lugar, agradeço ao nosso altíssimo Deus por nunca ter me desamparado,
por me dar força interior para superar as dificuldades, por ter me colocado em seus braços e
ter me carregado nos momentos em que pensei em desistir, por mostrar os caminhos nas
horas incertas e me suprir em todas as minhas necessidades. E pela minha fé que Deus
bruniu o meu caminho por isso em tudo dou Graças a Deus (Tessalonicenses 5:18). Aos
meus pais, irmãos, conselheiros e amigos endereço calorosos abraços. Contudo, para
algumas pessoas, em particular, seria injusto não dirigir uma palavra expressa de
agradecimento.
A Mestre Stela Santos minha prezada Orientadora, ao Dr. Augusto Paulino, fonte de
inspiração, ao Dr. Domingos Cachepe meu Benemérito conselheiro, ao Dr. Paulo da Graça,
fonte de inspiração, ao Mestre Carlos Bacalecane Figo meu amigo pessoal, a minha colega
Sofia Machatine Poio, Dr. Francisco Bonga, e ao Professor Doutor Júlio Pacheco meu Tio.
iii
DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE
Eu, Arnaldo da Silva Fernando Chinemero, declaro por minha honra que o presente
trabalho é fruto da minha pesquisa, foi elaborado em conformidade com o Regulamento
vigente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanidade da Universidade Zambeze, e que
nunca foi apresentado em nenhuma Instituição de ensino para a obtenção de qualquer grau
académico, muito menos submetido à qualquer avaliação curricular, constituindo,
portanto, resultado da minha investigação, cujas referências dão a indicação das fontes por
mim utilizadas para a sua elaboração.
Arnaldo Chinemero
___________________________________________
(Arnaldo da Silva Fernando Chinemero)
iv
RESUMO
No tocante a prisão preventiva fora do flagrante delito rege-se pelo disposto no art.º
291.º do Código do processo Penal (CPP), desde que, cumulativamente, se trate de crime
doloso punível com pena superior a um ano; quando haja fortes suspeitas de cometimento
do crime pelo arguido e quando a liberdade provisória não for admissível.
Em face dos pressupostos retro mencionados que a prisão preventiva só é admissível nos
processos de processo de polícia correccional, previstos nos artigos 64 e 65 do CPP, a cujos
crimes corresponde a moldura penal de 3 dias a 2 anos de prisão, prevista no n. 1 do artigo
56 do CPP, assim como nos processos de querela, previstos no artigo 64 do CPP, a que
corresponde crimes puníveis com pena de prisão maior, cuja moldura penal mínima é de 2
a 8 anos de prisão.
Por exclusão de partes, nas situações em que a moldura penal aplicável é a pena de prisão
até um ano, que correm sob forma de processo sumário, a prisão preventiva só é aplicável
quando o arguido for detido em flagrante delito.
v
Índice
Dedicatória…………………………………….………………………………..…ii.
Agradecimento……………………………………………….……………………iii
Declaração de autenticidade…………………………………….…………………iv
Resumo…………………………………………………………………………..…v
Índice………………………………………………….…….……….…...……….vi
vi
2.5.2 Função cautelar das medidas de coacção e de garantia patrimonial e o respeito dos
valores……………………….………………………………………………….…..29
Legislação………………………………………………………………….….……...51
vii
CAPITULO I - INTRODUÇÃO
Para esta temática a doutrina aborda de forma concisa mais iremos procurar
transmitir as bases essenciais que permitem a sua compreensão. Não podemos
prescindir de uma análise de todas as questões envolvidas na temática.
Na concepção deste empreendimento irá se recorrer uma abordagem dedutiva-nor
mativa que se fará uma análise da ciência e terminara com análise da norma
8
(ciência/norma). Ter-se-á como fonte de pesquisas doutrinárias, diversos manuais:
direito processual penal, direitos fundamentais, direito constitucional entre autor
pertinentes.
Quando não haja responsabilidade criminal ou seja quando não haja elementos
suficientes para a imputabilidade do crime o indiciado é libertado. Na mesma senda,
suscita algumas dúvidas porque nas prisões preventivas têm havido casos em que o
processo criminal sob autoridade do Ministério público, na fase de instrução
preparatória constata-se insuficiência de prova e o indiciado é libertado.
Como prevenir a prisão preventiva aos indiciados que não reúnem elementos
suficientes de prova na fase de instrução? Visto que a Honra do indiciado foi denigrida
por virtude da prisão.
9
Ora, se o órgão que decreta a prisão preventiva aplicasse os meios de coacção
menos gravosos tais como liberdade vigiada, termo de identidade e de residência, aos
indiciados poderemos prevenir a prisão preventiva e a restrição de outros direitos
fundamentais, visto que vale a pena aplicar uma liberdade vigiada para investigar o
indiciado, do que prender preventivamente para depois soltar os mesmos pela falta de
elementos suficientes de provas.
Para que haja melhor compreensão dos assuntos que se seguem, abordaremos no
concernente o conceito e as funções do Ministério Publico, analisando sua aplicação e
seus efeitos diante da função que é estabelecida pelas normas processuais penais, bem
como será demonstrada a sua importância para a persecução penal.
10
De modo conclusivo no quarto capítulo, abordaremos no concernente a conclusões
e sugestões.
1
Marquês de Beccaria transformou, em toda a Europa, a forma de execução das penas, através de sua
obra – Dos Delitos e das Penas – a qual podemos afirmar que foi o marco inicial do carácter humanitário
da pena, afastando a pena de morte como punição.
2
ROCHA, João Luís de Moraes. Ordem pública e liberdade individual – um estudo sobre a prisão
preventiva. Coimbra: Editora Almedina.
3
ROCHA, loc. cit.
4
BRANDÃO, Nuno. Medidas de coação: o procedimento de aplicação na revisão do código de processo
penal. Revista portuguesa de ciências criminais. Coimbra: Editora Coimbra, n. 1, p. 82, jan./mar. 2008.
11
Conforme nos referimos anteriormente, a aplicação do instituto da prisão preventiva
consiste na restrição do direito à liberdade de uma pessoa, em nome daquilo que se crê
serem os interesses da comunidade.
12
CAPITULO II – REVISÃO DA LITERATURA
2.1 PRISÃO PREVENTIVA EM FLAGRANTE DELITO E FORA DE FLAGRANTE
DELITO
Nos termos do artigo 287 do Código de Processo Penal 5 é flagrante delito todo o
facto punível que se está cometendo ou que se acabou de cometer. Reputa-se também
flagrante delito o caso em que o infractor, logo após a infracção, perseguido por
qualquer pessoa, ou foi encontrado a seguir a prática da infracção com objectos ou
sinais que mostrem que a cometeu ou nela participou.
No tocante a prisão preventiva fora do flagrante delito rege-se pelo disposto no art.º
291.º do Código do processo Penal (CPP), desde que, cumulativamente, se trate de
crime doloso punível com pena superior a um ano; quando haja fortes suspeitas de
cometimento do crime pelo arguido e quando a liberdade provisória não for admissível.
5
Código de processo penal de Moçambique 2 Edição, Revista 2016
13
dos seus agentes pelas autoridades de administração de justiça penal, concretamente o
Ministério Público e o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC)
responsáveis pela instrução preparatória, conforme resulta dos artigos 14 e seguintes do
Decreto-Lei n°. 35007, de 15 de Outubro de 1945.
Nos termos conjugados da al. c) do n°. 1 do artigo 291.º do CPP e da al. a) do §
2.°, do mesmo artigo, a prisão preventiva é aplicável sempre que sobre arguido recaísse
a forte suspeita da prática de um crime punido uma pena superior a de 2 a 8 anos de
prisão, pelo facto de nesses casos ser inadmissível a liberdade provisória.
Em face do descrito, é exequível que este pressuposto da prisão preventiva é
incompatível com a natureza cautelar da prisão preventiva que proíbe a sua utilização
com a finalidade de punir antecipadamente o indiciado ou o réu.
Na perspectiva do Silva (2002, p.302)6, o não dever da prisão preventiva ser decretada
sempre que possa ser aplicada outras medidas de coacção significa que desde que
qualquer das outras medidas seja adequadas para acautelar os fins processuais que se
pretendem alcançar com a imposição de uma medida de coacção, deve ser sempre
aplicada a menos grave e a prisão preventiva e a mais grave de todas, entretanto não
pode nunca duvidar-se que o principio de presunção de inocência é uma garantia
fundamental, e por isso a imposição de limitações a liberdade só pode-se admitir na
medida da sua estrita necessidade para a realização dos fins do processo. O modo como
6
SILVA, Germano Marques, Curso de Processo Penal, 3ª ed. Revista e actual, Lisboa: Verbo, 2002, V.I
14
no processo penal se aplicam medidas de coacção mormente as privativas de liberdades,
traduz bem a medida do culto de liberdade de um povo e por isso também do grau de
implantação na sociedade dos ideais democráticos.
7
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Processo Penal 32.ed.,rev.tual.Sao Paulo:Saraiva,2010.v3
8
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. rev. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, p.505.2002.
9
Ibid pg 512
15
Fazendo uma ponte de ideia de Valente (2010,p.298)10 quanto a Prisão preventiva,
entende que, a prisão preventiva como medida de coacção, torna-se necessárias de
forma a salvaguardar ou conservar os meios de provas, de maneira a poderem ser
acarreados para o processo-crime os elementos probatórios capazes e suficientes a
induzir o titular do processo à uma decisão fundada na verdade material.
Em face das abordagens acima, constata-se que há uma certa convergência das
ideias do Guedes e Pinho em torno da Prisão preventiva. E há divergência nas ideias de
outros autores, visto que a ideia de Pinho (2009,p.59)11 está inclinada no texto que a lei
estabelece, ou seja é conforme a lei Moçambicana. Contrariamente da ideia de Marques
(2002,p.254)12 que vai mais além ao permitir que qualquer das medidas adequadas para
acautelar os fins processuais devem ser sempre aplicada a menos grave, e a prisão
preventiva é a mais grave, assim sendo, para concretização dos objectivos específicos
deste projecto de pesquisa são imprescindíveis as Doutrinas do Marques (2002,p.
254).13
10
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Processo Penal, Tomo I, 3Edicao.Coimbra,Almedina, 2010.
11
DE PINHO, David Valente, Da acção Penal- tramitação e fórmula, 2009
12
SILVA, Germano Marques, Curso de Processo Penal, 3ª ed. Revista e actual, Lisboa: Verbo, 2002, V.I
13
Ibdim
14
SILVA, Germano Marques da. Curso de processo penal. 5. ed. rev. e atual. Lisboa: Editora Verbo,
2011, p. 349. v. II.
16
A existência deste requisito tende a estreitar o juízo de probabilidade da prática dos
fatos com a certeza, uma vez que na verdade para ser considerado arguido se faz
suficientes que recaiam simples suspeitas sobre este.
15
Como expõe Barros, (2010 p.423 e 425) nunca ninguém poderá ser preso
preventivamente só porque é arguido, posto que “o critério dos fortes indícios é um
conceito aberto, só sendo legítima a sua ponderação perante o concreto; não
comportando, nomeadamente, presunções”.
Nesse aporte, para que constitua determinado indivíduo como arguido tem que
existir a prova da materialidade e os indícios de autoria, ou seja, tem que se demonstrar
primeiramente o cometimento do delito e cumulativamente a demonstração de indícios
de que o arguido contribuiu para o facto delitivo .
17
emergiu a necessidade de se romper com os paradigmas que sustentavam o sistema
processual penal inquisitório, de base romano- canônica, que vigia desde o século XII;
foi o momento em que se viu a necessidade de resguardar o indivíduo em face do
arbítrio do Estado, pois aquele era, até então, desprovido de toda e qualquer garantia.
Rangel (2014, p. 24).18
Silva (1987 p.164)20 afirma que neste princípio é dever do Ministério Público
comprovar todas as provas de que disponha, sejam estas favoráveis ou não ao arguido.
18
RANGEL, Paulo. A coisa julgada no processo penal brasileiro como instrumento de garantia. São
Paulo: Atlas, 2012.
19
BECCARIA, Cesare (2006). Dos Delitos e das Penas. 3. ed. rev.da tradução de J. CretellaJr.
20
SILVA, Germano Marques da. Princípios gerais do processo penal e constituição da república
portuguesa. Direito e justiça, v. III, p. 164 e SS., 1987-1988.
18
2.2.3 Princípio da proporcionalidade
O sub princípio da máxima da necessidade, por seu turno, determina que o Estado
deva optar que, dentre dois meios aproximadamente adequados para atingir determinado
21
SILVA, Virgílio Afonso da. O proporcional e o razoável. Revista dos Tribunais, ano 91, n. 798. São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 29, abr. 2002.
22
Ibid p. 28.
23
ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales,
1993, p. 111-112.
24
BECCARIA, Cesare (2006). Dos Delitos e das Penas. 3. ed. rev.da tradução de J. CretellaJr. e Agnes
Cretella. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006.p.32
19
fim, seja escolhido aquele que intervenha de modo menos intenso no direito
fundamental atingido 25
Por fim, a terceira regra é a da proporcionalidade em sentido estrito, que tem como
escopo determinar que os actos estatais devam ser avaliados sob a relação e benefício,
de maneira que uma norma de direito fundamental colidindo com um princípio
antagónico, deverá haver, para a realização jurídica dessa norma, um só pensamento26.
O renomado doutrinário Ferrajoli (2002 p.79) 27 assevera que se trata de uma regra
semântica que identifica o direito vigente como objecto exaustivo e exclusivo da ciência
penal, fundando que somente as leis (e não também a moral ou outras fontes externas)
expõem o que é delito e que as leis tão-somente dizem o que é delito (e não também o
que é pecado)
20
esteja presente uma vinculação subjectiva do indivíduo com o fato, dentre outras
condicionantes. Sendo assim, o legislador, em princípio, só deverá criar leis que estejam
em conformidade com o Estado Democrático de Direito, observando, assim, as
garantias materiais.
É ululante que no processo penal o réu seja o mais fraco, e um dos pontos do
garantismo é a busca por essa protecção, criando freios e limites ao poder de punir,
primando sempre pela liberdade.
Assim, este axioma tem na legalidade a legitimação jurídica formal, como forma de
fiscalizar a vigência das normas produzidas, e material, no que se refere ao facto de as
normas estarem condicionadas à tutela dos direitos fundamentais
Ferrajoli (2002 p.125) 29 entende que as proibições penais são normas “regulativas”
com a finalidade pragmática de orientá-los e condicioná-los; não privando a vontade
humana que é livre e incondicionada, de modo que todos os seres racionais, desde que
imputáveis, devem ser responsabilizados por suas acções.
28
MUÑOZ CONDE, Francisco. Teoria geral do delito. Tradução de Juarez Tavares e Luiz Régis Prado.
Porto Alegre: Sergio Fabris, 1988, p. 128.
29
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. rev. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002.
21
O axioma exposto por Ferrajoli (2002 p. 215) 30 teve sua definição dividida em dois
sentidos, um sentido lato e outro estrito. No que se refere ao sentido lato, o autor afirma
que para haver culpa obrigatoriamente esta deve ser reconhecida em juízo. Já no que se
refere ao sentido estrito, além da necessidade de ser reconhecida a culpa em juízo, faz-
se imprescindível a existência da acusação com provas e sujeita à contestação da defesa,
sob pena de se considerar ilegítimo em juízo.
Todavia a detenção distingue se da prisão preventiva uma vez que esta resulta de
decisão judicial interlocutória devendo observar os prazos no artigo 311 do Código de
Processo Penal (CPP).
Isto é, a detenção tem como propósito, que no prazo máximo de 48 horas, que o detido
seja presente a julgamento sob a forma sumaria, presente ao juiz competente para o
primeiro interrogatório judicial.
Findo o prazo de 48 horas sem que nenhum dos referidos actos tenha lugar, se a
detenção tenha sido efectuada por erro sobre a pessoa ou a própria medida seja
desnecessária, o detido deve imediatamente ser colocado em liberdade.
31
A prisão preventiva de acordo Valente (2010, p. 113) como medida de coacção,
torna-se necessárias de forma a salvaguardar ou conservar os meios de provas, de
maneira a poderem ser acarreados para o processo-crime os elementos probatórios
capazes e suficientes a induzir o titular do processo à uma decisão fundada na verdade
material.
30
Ibid., p. 496-499.
31
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Processo Penal, Tomo I, 3Edicao.Coimbra,Almedina, 2010.
22
Os Prazos da Prisão Preventiva nos Processos de Polícia Correccional, os prazos de
prisão preventiva são de 20 dias na fase de instrução preparatória (fase de recolha da
prova dirigida pelo Ministério Público, nos termos do art. 14 do decreto lei DL 35007,
de 13 de Outubro de 1945) e de três meses na fase da instrução contraditório (fase de
recolha da prova dirigida pelo Juiz da causa, nos termos do disposto no art. 330 do
CPP), nos termos do disposto no n°. 1, do § 1.° e no n°. 1, do § 2.°, Ambos do art. 308
do CPP, respectivamente.
Nos processos querela, os Prazos de Prisão Preventiva após a Pronúncia, o único caso
em que se faz a pronúncia32do arguido, impõe a manutenção da culpa formada até a
decisão judicial definitiva com consequente manutenção da prisão preventiva salvo se
houver despronúncia ou absolvição, nos termos do que resultava do disposto na norma
constante do § 3º, do art. 308 do Código do Processo Penal.
32
Confirmação dos factos pelos quais o arguido será julgado, nos termos do disposto no art. 365 do CPP.
23
2.3.2 Momento em que a prisão pode ser feita
Nos termos do que resulta do art. 300, do CPP, a prisão preventiva fora de flagrante
delito é sempre permitida durante o dia, para prender o arguido em sua casa ou qualquer
lugar tenha em sua posse, para o prender por um crime punido com pena de prisão
maior, portanto, as penas previstas no art. 61 do Código Penal.
A entrada em casa habitada durante a noite para efeitos de Prisão Preventiva, só será
aceite com a permissão e consentimento dos seus moradores, mediante a mostra da
ordem de captura.
Mesmo tendo em sua natureza o desígnio de ser uma medida cautelar, a aplicação da
prisão preventiva gera alguns efeitos perversos, prejudicando não só o arguido, mas
também a sociedade como um todo.
33
LOPES Junior, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 9. ed. rev. e actual.
São Paulo: Saraiva, 2012, p. 792. 198
24
É importante salientar que o aumento da aplicação da prisão preventiva produz,
também, um aumento de trabalho para os magistrados, o que acaba por impedi-los de
analisar com maior zelo o caso, ou, ainda, porque se busca amenizar a sensação de
impunidade que aflige o país, em razão de que é sabido que a justiça é vagarosa ao
julgar e que a sociedade almeja a prisão, e isso acaba por fomentar a eventual sentença
condenatória com o fim de garantir segurança. E como se não fosse suficiente, existe
um forte efeito da prisão preventiva sobre o julgamento do mérito. De modo que a sua
decretação aumenta sensivelmente para o arguido os riscos de ser condenado ou receber
uma condenação severa, sendo, com frequência, considerado culpado.
A incerteza do seu destino é um dos efeitos que mais lesionam a figura do arguido.
Tal efeito se potencializa quando está presente a dupla incerteza, pois além da dúvida no
desfecho do seu processo, existe em alguns ordenamentos a incerteza de quanto tempo
irá durar sua prisão preventiva.
34
Como acentua Júdice (2004, p. 42) apesar de ser uma medida cautelar, a prisão
preventiva opera, na maioria das vezes, como uma “pré-punição” e mesmo que ocorra
uma posterior absolvição, a sociedade já o tem condenado sumariamente; assim, de
forma consistente.
O renomado autor afirma que muitos podem entrar inocentes nas prisões, mas
delas poucos conseguem sair inocentes 35 E mesmo sem a condenação efectiva, este
instituto representa sempre uma grave supressão dos princípios da liberdade individual e
da presunção de inocência, concebendo, assim, um cruel efeito ao arguido – a
estigmatização. Em princípio, a aplicação da prisão preventiva afecta diversos direitos
fundamental da pessoa humana; além da liberdade pessoal e da presunção de inocência,
esta afecta, também, a igualdade social, pois o estigma que a passagem pela prisão
significa para uma pessoa acaba gerando uma desigualdade ante a sociedade.
34
JÚDICE, José Miguel. Prisão preventiva: um cancro que envergonha. Revista Ordem dos Advogados,
Lisboa, ano 64, 2004.
35
Ibid p. 42.
25
traz ao indivíduo um sentimento de revolta podendo transformá-lo no verdadeiro
delinquente. Teixeira de sá (1999,p.150) 36 afirma que o efeito estigmatizante da prisão
preventiva é bem próximo ao da pena, pois aos olhos do juízo social, se o arguido está
“preso”, então é culpado.
A prisão preventiva, sob certo ponto de vista é mais agressiva que a prisão, até
porque se pode chegar à conclusão que não se cometeu crime nenhum e a ausência da
ressocialização inerente à pena traz aos custodiados danos irreparáveis.
A prisão preventiva originará um dano muito maior no futuro, seja no aspecto pessoal
onde existirá o aviltamento da saúde e bem-estar físico do arguido, como também no
aspecto social, onde o arguido potencializará sua lesividade à sociedade. Sem falar que
esta medida além de retirar a liberdade e a dignidade do processado, causa um abalo
psíquico e moral não só ao arguido, como também a todos que são próximos, inclusive a
37
toda sua família, repercutindo, ainda, como referencia Sanguiné (2003 p.137) , nos
aspectos patrimoniais e profissionais do acusado, os quais nunca retornarão ao estado
anterior, mesmo com sentença absolutória.
Entretanto, mesmo que inspirado nos valores democráticos, de acordo Costa (2003,
p.98) 38 o sistema do processo penal deve primar por seus fundamentos e não agir no
mero clamor da sociedade. E mesmo que a prisão preventiva vise prevenir a prática de
novos delitos, sua aplicação fundada apenas nesse pressuposto, da perigosidade do
agente, deixa de ter o carácter cautelar para ter o carácter punitivo.
36
SÁ, Pedro Jorge Teixeira de. Fortes indícios de ilegalidade da prisão preventiva. Revista de direito
comparado Português e Brasileiro, tomo XLVIII, n. 277/279, jan./jun. 1999.
37
SANGUINÉ, Odone. Prisión provisional y Derechos Fundamentales. Valência: Tirant lo Blanch, 2003,
38
COSTA, Eduardo Maia. Prisão preventiva: medida cautelar ou pena antecipada? Revista do Ministério
Público,, out./dez. 2003 p.98
26
2.5 MINISTÉRIO PÚBLICO
27
Ao Ministério Público cabe, ainda, a Direcção da Instrução Preparatória de
processos-crime, conforme decorrer, quer do Estatuto Orgânico, quer do Decreto-Lei
35.007; assim como controlar a legalidade das detenções e a observância dos
respectivos prazos.
39
Sobre este tema, vide Cuna, Ribeiro. O Ministério Público de Moçambique. Editora Escolar, Maputo,
2013.
40
Constituição de 2004, art. 234, n. 1.
41
Constituição de 2004, art. 237.
42
A defesa da legalidade refere-se ao papel pro-activo de fiscalização do Ministério Público, para
assegurar a legalidade do exercício do poder público.
43
Lei Orgânica da Procuradoria-Geral da República, Lei n.o 6/89, art.1, n.o 2: A Procuradoria-Geral da
República, no exercício das suas funções de Ministério Público, cabe, nomeadamente, defender a
legalidade, promover a observância geral da lei, representar o Estado junto dos tribunais, dirigir a também
a Constituição de 2004, art. 236.
44
Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, Lei n.o 10/92, art. 12.
28
A Lei Orgânica da Procuradoria-Geral da República prevê a existência de um
Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, responsável pela gestão e
disciplina do Ministério Público 45 Embora a Constituição de 2004 estabeleça que este
Conselho deve incluir membros eleitos pela Assembleia da República, bem como pelo
Ministério Público 46
45
Lei Orgânica da Procuradoria-Geral da República, Lei n.o 6/89. Também a Constituição de 2004, art.
238, n.o 2.
46
9 Constituição de 2004, art. 238, n.o 1.
47
Ibid., art. 239, n.o 1.
48
As acusações particulares foram abolidas pelo decreto-lei n.o 35007 de 1945, que estabeleceu o
princípio de que os crimes eram punidos pelo estado, e não por indivíduos privados (art.1). Veja-se
também a Constituição de 2004, art. 236. 296 decreto-lei n.o 35007 de 1945, art.2.
49
Puníveis com uma pena até um ano de prisão.
50
SILVA, Germano Marques, Curso de Processo Penal, 3ª ed. Revista e actual, Lisboa: Verbo, 2002, V.I
29
tempo por vezes longo. Importa investigar a notícia do crime (inquérito),
comprovar a decisão no tempo do inquérito (instrução) proceder ao julgamento
e apreciar os recursos interpostos, só então sendo firme a decisão, se iniciará
no caso de condenação a fase de execução.
Para evitar esses riscos o Código do Processo Penal (CPP) dispõe uma série de
medidas cautelares de natureza pessoal, patrimonial com o fim de impor limitações a
liberdade pessoal e patrimonial dos arguidos e assegurar os fins do processo quer para
garantir a execução da decisão final condenatória para assegurar o desenvolvimento do
procedimento.
51
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (disponível lem http://www.gddc.pt/direitos-
humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/cidh-dudh-direitos-civis.html, acessado no dia 16 de
Maio de 2019)
30
A lei admite a aplicação ao arguido de certas medidas cautelares restritivas dos seus
direitos fundamentais, medidas que formula em abstracto ponderando também em
abstracto da sua adequação necessidade e proporcionalidade, mas prescreve também
que nenhuma dessas medidas pode ser aplicada em concreto não se verificar a sua
necessidade para acautelar os fins que importam prosseguir 52 conforme o artigo 64 n°. 2
da CRM.
Partindo de uma análise quanto aos pontos de semelhança entre as várias relações,
podemos unificá-las, de acordo com determinados critérios, em espécies de que nada
mais serão do que sistemas. Segundo entendimento, Sampaio (1976 p.9) 54 em sua obra
Conceito de Sistema no Direito, assim define sistema: O estudo etimológico indica que
o termo sistema tem origem grega e deriva de synistemi, que significa o composto, o
construído, sendo que, no decorrer da história da humanidade, seu uso continuado
52
DE PINHO, David Valente Borges, Da acção penal-tramitação e fórmula, 2009, pág. 59
53
SILVA, Germano Marques, Curso de Processo Penal, 3ª ed. Revista e actual, Lisboa: Verbo, 2002, V.I,
pág. 290
54
FERRAZ Júnior, Tércio Sampaio. Conceito de Sistema no Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1976, p. 9.
31
configurou uma acepção mais restrita, que faz referência à noção de ordem, organização
e modelo.
Coutinho (2001 p.16 e 17) 56 por sua vez, aponta os sistemas como um conjunto de
temas jurídicos que, colocados em relação por um princípio unificador, formam um
todo orgânico que se destina a um fim.
Dessa forma, os nossos sistemas processuais penais são criados diante da unificação
de elementos que se vinculam em torno de uma premissa. Devido à classificação entre
os sistemas processuais penais, é permitida uma abordagem comparativa, admitindo-se
desse modo um estudo aprofundado acerca dos sistemas.
Esses elementos, segundo Andrade (2008 p.31) 57 são divididos em elementos fixos
e elementos variáveis. Os elementos fixos são considerados imprescindíveis aos
sistemas jurídicos, como sendo a “base axiológica” destes, posto que qualquer alteração
que ocorra nesse núcleo provocará a necessária extinção do sistema jurídico original, e o
nascimento de outros sistemas jurídicos diferentes do anterior. Já os elementos variáveis
participam de vários sistemas jurídicos distintos ou mesmo de nenhum deles, sem que
esses sistemas deixem de existir.
55
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 657.
56
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Crítica à Teoria Geral do Direito Processual Penal. Rio de
Janeiro: Renovar, 2001, p. 16-17.
57
ANDRADE, Mauro Fonseca. Sistemas processuais penais e seus princípios reitores. Curitiba: Editora
Juruá, 2008, p. 31.
32
Tanto o sistema inquisitório quanto o acusatório surgiram a lume, como se tem
ciência, por razões políticas. Outras, de ordem teológica, económica, filosófica e
jurídica, foram altamente proeminentes, entretanto, decididamente secundárias ou, pelo
menos, sempre estiveram submissas àquelas políticas. Como exemplo tem-se o Código
de Napoleão 1808 (Code d´Instruction Criminelle), que se pode considerar como um
marco histórico do ingresso desses sistemas nos ordenamentos jurídicos dos países
europeus, prevendo a divisão do ordenamento em duas fases, sendo uma inquisitória e
outra acusatória.
Conforme Lopes Jr. (2006 p.168) 58, no decurso do século XIII foi criado o Tribunal
da Inquisição ou Santo Ofício, para reprimir a heresia e tudo que fosse contrário ou que
pudesse criar dúvidas acerca dos Mandamentos da Igreja Católica.
A confissão era a prova máxima do sistema inquisitivo; dessa forma a prisão era
uma regra, porque, assim, o acusado ficava à disposição do inquisidor para torturá-lo até
alcançar a pretendida confissão.
58
LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal: Fundamentos da Instrumentalidade
Constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 168
33
Sendo assim, o inquisidor instituía a hipótese acusatória, de forma secreta, e
procurava os fundamentos probatórios que a comprovassem. Dessa maneira, inclusive
os mortos que fossem denunciados por heresia poderiam ser processados e, caso fossem
condenados, a pena incidia sobre seus filhos, sendo estes considerados infames e
privados de qualquer privilégio.
Silva (2010 p.73) 59 relata que o processo inquisitório, nasceu com o aparecimento do
absolutismo, de maneira que sua estrutura é baseada na busca da verdade e pela defesa
da sociedade, sendo esta última mais importante que a garantia da pessoa do acusado,
tratando, assim, o acusado como um objecto da persecução e não como sujeito de
direitos60.
61
Fundamentado no direito romano Coutinho (2001 p.57) advoga que o Sistema
Acusatório surge na Inglaterra durante o reinado de Henrique II, entre os anos de 1154 e
1181. Esse sistema teve como um dos principais fundamentos a valorização da
igualdade entre as partes, sobrepondo-se a eles, como órgão imparcial de aplicação da
lei, como uma espécie de juiz.
34
rei, emitia ordens escritas (writ) aos representantes reais (locais), ditos sherif”. Mas em
1166 foi criado Trial By Jury – possuindo um Grand Jury, composto por 23 cidadãos e
um Petty Jury composto por 12 membros – onde ocorria um julgamento popular
dividido em duas fases, uma responsável por admitir a acusação e outra por aplicar o
direito material ao caso.
Ferrajoli (2014, p.519 e 520) 63 explica que acusatório é todo sistema processual que
tem o juiz como sujeito imparcial separado das partes, tendo, assim, um julgamento
como um debate paritário. Este é iniciado pela acusação, à qual compete o ônus da
prova, tendo, em seguida, o contraditório público e oral, sendo, por fim, decidido pelo
juiz com embasamento na sua livre convicção
64
O sistema acusatório, para Silva (2010 p.94) procura equidade de poderes de
actuação processual entre a acusação e a defesa, deixando o magistrado independente,
responsável, apenas, na apreciação do caso que lhe é apresentado pela acusação.
Pimenta (2003, p.235) 65 assevera que o princípio do acusatório possui duas versões
antagónicas sendo uma forte e outra fraca. A primeira afirma que é proibida ao tribunal
a introdução de “frases” substantivas que fazem parte da previsão das “normas
incriminadoras”, dos “factos instrumentais” e que este não possa tomar iniciativa na
obtenção de “frases probatórias”.
Já no que se refere à segunda admite que o tribunal fundamente suas sentenças com
“frases referentes a novos factos instrumentais que ele próprio introduz e/ou com base
em frases probatórias que ele próprio toma iniciativa de colher”. Esta segunda versão é
também chamada de princípio acusatório mitigado ou “com princípio da investigação”.
62
Ibid.
63
FERRAJOLI, 2014, p. 519 e 520
64 64
SILVA, Germano Marques da. Curso de processo penal. 6. ed. ed. rev. e actual. Lisboa: Verbo, 2010,
p.94
65
PIMENTA, José da Costa. Processo penal: sistema e princípios. Lisboa: Livr. Petrony, D. L., 2003, p.
235.
35
2.6.3. Sistema misto
66
PIMENTA, José da Costa. Processo penal: sistema e princípios. Lisboa: Livr. Petrony, D. L., 2003, p.
247
36
CAPITULO III. SISTEMA APLICADO NO ORDENAMENTO JURÍDICO
MOÇAMBICANO.
Há, nessa fase, uma atribuição ao magistrado de uma quase total discricionariedade
cognitiva dentro do tema que lhe seja proposto pela acusação.
Dias (2004.p.155) 68 afirma, ainda, que o sistema processual não se cinge apenas no
sistema acusatório mitigado, ou mesmo de um sistema misto, mas sim, de um sistema
acusatório com o princípio da investigação, através do qual se pretende manifestar o
poder-dever que ao tribunal pertence de esclarecer e instruir autonomamente – é
independentemente das contribuições da acusação e da defesa – o facto sujeito a
julgamento, criando ele próprio a base necessária à sua decisão.
69
Por outro lado, Pimenta (2003 p.236) afirma que o sistema processual penal
deve caracterizar-se pelo uso do princípio acusatório, pois admite o tribunal utilizar
frases relativas a novos factos instrumentais, unificando deste modo aos princípios da
investigação.
67
Vide art. 174,250,252,253,254, e 425 ambos do código de processo penal CPP
68
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual Penal. Coimbra: Coimbra Editora, edição 1974,
reimpressão 2004.
69
PIMENTA, José da Costa. Processo penal: sistema e princípios. Lisboa: Livr. Petrony, D. L.2003.p.236
37
Definindo a figura do juiz, Dias (2004.p.159) 70 assegura que, na fase processual, seja
a instrução ou o julgamento, este actua como entidade exclusivamente competente para
praticar, ordenar e autorizar determinados actos, os quais se revelam em ataques a
direitos, liberdade e garantias constitucionalmente protegidos.
Entretanto, não obstante a sua função activa na persecução penal, o magistrado deve
agir com independência e imparcialidade, para atingir as finalidades, próprias do
processo, de descoberta da verdade e realização da justiça 71 devendo, então, integrar a
estrutura acusatória por um princípio de investigação, não podendo deixar nas mãos das
partes.
Verificamos que o Meritíssimo não tem apenas o papel de julgar, mas sim o, de
investigar, investigação essa que tem como escopo a descoberta da verdade material
nestes termos o nosso sistema processual é misto.
70
DIAS, Jorge Figueiredo. Sobre os sujeitos processuais no novo Código de Processo Penal. In:
CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, Jornadas de Direito Processual Penal – O novo Código de
Processo Penal. Coimbra: Almedina, 1995, p. 15-16
71
Ibid., p. 22
72
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na constituição portuguesa de 1976. 5. ed.
Coimbra: Coimbra, 2012.
38
humana, foram estabelecidos por um “núcleo restrito”posto a todo e qualquer
ordenamento jurídico. Assim, com a mutação histórica e a constante evolução, os
direitos fundamentais foram divididos em dimensões fundamentais no período dos
Estados Liberais e Sociais.
Partindo do ponto que os direitos, na sua concepção natural, “são absolutos,
imutáveis e intemporais”, inerentes à dignidade humana, foram estabelecidos por um
“núcleo restrito” posto a todo e qualquer ordenamento jurídico. Assim, com a mutação
histórica e a constante evolução, os direitos fundamentais foram divididos em
dimensões.
Os primeiros direitos a serem positivados, chamados de primeira dimensão, nascem
da Revolução Americana de 1776 e da Revolução Francesa de 1879, envolvendo o
direito à vida, à liberdade e à propriedade, torna-se evidente a busca por proteger o
indivíduo diante do Estado73. Tais declarações permitiram o reconhecimento dos
direitos humanos de carácter económico e social.
Como alega o doutrinador Comparato (2010 p.60) 74 “ As declarações de direitos norte-
americanos, juntamente com a Declaração Francesa de 1789, representaram a
emancipação histórica do indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se
submeteu: a família, o clã, o testamento, as organizações religiosas”.
Fazendo uma ponte com as ideias de Miranda (2004 p.150) 75 quanto a definição do
direitos fundamentais Propõe-se uma outra definição, formal de direitos fundamentais
que ilustra o seguinte:
«os direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual
ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição
formal, seja na Constituição material».
Na mesma senda são tidas os direitos fundamentais as normas revestidas de
vinculatividade imediata dos poderes públicos constituindo deste modo parâmetros
materiais de escolhas decisões acções de controlo dos órgãos legislativos
administrativos e conforme pode-se vislumbrar com o teor do art.º 56.º/1 da CRM.
73
Ibid p. 19.
74
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7. ed. São Paulo: Editora,
Saraiva, 2010
75
MIRANDA, Jorge Manual de Direito Constitucional, IV, 2004.
39
Procurando viabilizar a materialização desses direitos e assegurar sua tutela
jurisdicional, a Declaração de Virgínia e a Declaração Francesa, orientam que antes de
qualquer organização política, os homens possuem direitos naturais e inalienáveis.
Contudo sua tutela jurisdicional, orienta que antes de qualquer organização política, os
homens possuem direitos naturais inalienáveis e sagrados. O reconhecimento desses
direitos passou a determiná-los como fundamentais, considerada uma verdadeira
conquista da sociedade moderna ocidental76.
Quanto aos direitos de segunda dimensão desde logo, são referentes à prestação
positiva estatal, de modo que os direitos sociais, económicos e culturais, baseados no
princípio da igualdade, são almejados através da prestação de serviços estatais,
primando pela diminuição das desigualdades sociais. Sendo assim, ao contrário dos
direitos de primeira dimensão, os de segunda não buscam uma abstenção estatal, mas
uma actuação positiva do Estado.
77
Vieira (2014, p. 12) afirma que os direitos da terceira dimensão, ao contrário dos
anteriores, não estão relacionados ao homem individualmente, e, também não, a
determinada classe social. Tais direitos estão direccionados ao destino da humanidade,
pressupondo a solidariedade, a paz, ao meio ambiente, à qualidade de vida, ao
desenvolvimento e ao respeito ao consumidor, à preservação do património histórico-
cultural. A terceira dimensão busca contribuir de forma sólida para o nascimento de
uma consciência jurídica colectiva, isto é, os direitos difusos.
78
Ferrajoli (2002.p.29) advoga que a tutela dos direitos fundamentais constitui o
objectivo justificante do Direito Penal, apesar de sua satisfação, na maioria das vezes
tende a ir de encontro dos interesses da sociedade. É justamente a garantia dos direitos à
dignidade, liberdade entre outros já estudados que torna aceitável por todos, inclusive
pela minoria formada pelos réus e pelos imputados, o Direito Penal e o próprio princípio
maioritário.
76
WOLKMER, António Carlos. Introdução aos fundamentos de uma teoria geral dos “novos” direitos. In:
LEITE, José Rubens Morato; WOLKMER, Antonio Carlos (Coord.). Os novos direitos no Brasil:
natureza e perspectivas: uma visão básica das novas conflituosidades jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 3.
77
VIEIRA, Juliana Porto ,Prisão preventiva sob a égide do garantismo penal: um comparativo luso
brasileir,Coimbra, 2014, p. 12.
78
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 4. ed. rev. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2002.
40
Fazendo uma leitura objectiva ou seja uma análise minuciosa constataremos que os
direitos que mais afectam o tema em estudo são os direitos da primeira geração que têm
um acolhimento constitucional no artigo 56 e seguinte
79
Ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua,
posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição
física ou mental”.
41
O efeito prático da identificação destes critérios – que são apenas os mais frontalmente
repudiados pelo legislador constituinte – é o de criar uma presunção de arbitrariedade
(elidível mediante justa fundamentação) em relação às leis que os apliquem.
Acresce que, mais do que um direito fundamental, o direito à liberdade está inserido
no catálogo dos direitos liberdades e garantias, gozando por isso do regime próprio
aplicado a estes, nomeadamente no que concerne à sua força vinculativa e
aplicabilidade directa.
Sobre este direito à liberdade urge ainda reforçar que, enquanto direito fundamental, o
mesmo assenta na defesa dos cidadãos e da sua dignidade perante os poderes do Estado,
estando assim amplamente influenciado por uma série de princípios constitucionais que
o fundamentam e suportam.
Não poderemos ainda, no que ao direito à liberdade diz respeito, deixar de mencionar
o princípio da igualdade, constitucionalmente consagrado no art. 35º da CRM, que se
80
MIRANDA, Jorge – Manual de Direito Constitucional , IV , Direitos Fundamentais , op. cit. , p. 162.
81
CANOTILHO, Gomes In “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, Almedina, 2000 – p. 378.
42
concretiza pela proclamação de uma igualdade em duas vertentes distintas: na criação
do direito, que tem como destinatários os órgãos políticos e legislativos; e na aplicação
do direito, dirigido aos órgãos administrativos e aos Tribunais.
82
Jorge MIRANDA – Manual de Direito Constitucional , IV , Direitos Fundamentais , op. cit. , p.640,642
43
CAPITULO IV. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
4.1 CONLUSÕES:
Desta forma, ficou para nós demonstrado que a prisão preventiva, constituindo uma
restrição total de um direito fundamental como é o direito à liberdade, obriga a que se
verifique a existência de um rigoroso leque de requisitos e que se respeitem uma série
de princípios essenciais para a defesa desses direito.
44
Do que foi dito podemos concluir que a prisão preventiva consiste numa privação da
liberdade anterior à condenação penal transitada em julgado com fins essencialmente
processuais elencados no artigo 286 e seguintes do CPP. Sendo uma medida coactiva,
não pode ser entendida e nem imposta com um sentido punitivo, mormente com
antecipação do cumprimento da pena que lhe possa vir a ser aplicada. Deve, antes, ser
percebida como uma opressão necessária do direito à liberdade do arguido, enquanto
este constituir uma ameaça grave e séria para a própria liberdade e segurança de
terceiros.
Com vista a garantir o respeito pelo cumprimento das finalidades das medidas
privativas, a Organização das Nações Unidas estabeleceu duas normas internacionais
para a protecção de pessoas acusadas da prática de crimes e/ou privadas da liberdade
pelas autoridades do seu país: a Declaração Universal dos Direitos do Homem e o Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Com o intuito de garantir que ninguém
poderá ser sujeito a tortura ou detido arbitrariamente e que todos têm direito a um
processo equitativo e à presunção de inocência perante qualquer acusação da prática de
uma infracção penal de que sejam objecto.
45
Relativamente ao Ministério Publico concluímos que no domínio da administração
da justiça criminal, o Ministério Público é o titular da acção penal, por força do artigo 5
do Código de Processo penal e do artigo 1 do Decreto-Lei n. 35.007, de 13 de Outubro
de 1945, cabendo-lhe a atribuição de acusação criminal em nome do Estado, no âmbito
da instrução preparatória. Ao Ministério Público cabe, ainda, a Direcção da Instrução
Preparatória de processos-crime, conforme decorrer, quer do Estatuto Orgânico, quer do
Decreto-Lei 35.007; assim como controlar a legalidade das detenções e a observância
dos respectivos prazos.
Quanto aos sistemas processuais, concluímos que os mesmos devem sempre tutelar a
dignidade do ser humano, a sua integridade física, sua honra – concomitantemente com
os princípios da legalidade, proporcionalidade de sua aplicação, assegurando, também, a
presunção de inocência e consequentemente o direito à ampla defesa e ao contraditório.
Partimos do ponto em que o Estado Democrático de Direito exerce a função de guardião
dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, vistos inicialmente através dos
princípios norteadores do sistema do processo penal.
46
Quanto aos direitos fundamentais a CRM consagra um regime de direitos, liberdades e
garantias fundamentais favorável à protecção dos direitos de reclusos preventivos e
compatível com os padrões internacionais de direitos humanos na medida em que a sua
interpretação e integração deve ser feita de harmonia com DUDH.
4.2 SUGESTÕES:
47
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50
LEGISLAÇÃO:
Lei n°. 3/97 de 13 de Março (Lei que regula o consumo e tráfico de estupefacientes
vulgo suruma)
Lei 22/2007, de 1 de Agosto (lei que aprova Estatuto Orgânico do Ministério Público)
JURISPRUDÊNCIA:
51