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Volume II
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
(organizadoras)
Supervisão
Clarissa Bengtson
Douglas Henrique Perez Pino
Revisão Linguística
Letícia Moreira Clares
Paula Sayuri Yanagiwara
Editoração Eletrônica
Bruno Prado Santos
Capa
Jéssica Veloso Morito
Colaboradores
Clarissa Galvão Bengtson
Joana Darc de Castro Ribeiro
Roseli Zen Cerny
Apoio Técnico
Eliciano Pinheiro da Silva
Comissão Científica
Karine Nunes de Moraes – Universidade Federal de Goiás
Marcos Macedo Fernandes Caron – Universidade Federal de Mato Grosso
Odorico Ferreira – Universidade Federal de Mato Grosso
Célia Regina Teixeira – Universidade Federal da Paraíba
Joelina Souza Menezes – Universidade Federal de Sergipe
Maria Cecília Luiz – Universidade Federal de São Carlos
Priscila Tavares dos Santos – Universidade Federal Fluminense
Rolf Ribeiro de Souza – Universidade Federal Fluminense
PREFÁCIO
1 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-11/extrema-pobreza-e-desigualdade-crescem-
-ha-4-anos-revela-pesquisa
pobreza monetária, a de renda, o Brasil teve o pior quadro dos últimos qua-
tro anos. Foram contabilizadas 13,5 milhões de pessoas, em 2018, vivendo
com até 145 reais, representando 6,5% do total da população brasileira, com
o indicativo de 72% serem pessoas pretas ou pardas.
Fica evidente que qualquer recuperação econômica não é igualitária
para os diversos segmentos sociais e isso nos leva a pensar: como a educa-
ção tem refletido sobre esta situação? Ou, como ela pode fazê-lo? Por isso,
no decorrer da leitura, perguntamos mais do que damos respostas, o que
nos faz pensar na urgência de mais estudos e pesquisas na área.
Esta coletânea, também, tem a finalidade de documentar o que foi a Ini-
ciativa Educação, Pobreza e Desigualdade Social (EPDS) em suas dimensões
estruturais, pois, teve um diferencial, além de oferecer formação continuada
em cursos de especialização e aperfeiçoamento, possibilitou o desenvol-
vimento de pesquisas acadêmicas. Neste contexto, esta mobilização, que
começa com a extinta Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI), hoje denominada Secretaria de Modalida-
des Especializadas de Educação do Ministério da Educação (MEC), orga-
nizou várias ações em parceria com as Instituições Federais de Educação
Superior (IFES) e obteve mais de 26 pesquisas acadêmicas, com presença e
articulação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), a partir de 4.000, e
de Trabalhos Finais de Curso (TFC), a partir de 6.000.
Os três volumes da coletânea são divididos em: Volume 1, que tem o
foco maior em sintetizar a implantação do Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social (EPDS), com parceria de quinze Universidades Federais
que iniciaram o projeto, além de reflexões sobre o processo de formação
continuada (Curso de Especialização EPDS). O Volume 2 enfatiza os resulta-
dos das pesquisas elaboradas no âmbito da Iniciativa Educação, Pobreza e
Desigualdade Social; e, o Volume 3 aborda as produções elaboradas no âm-
bito dos Cursos de especialização do EPDS, especificamente dos Trabalhos
de Conclusão de Curso (TCC), considerando as relações estabelecidas com
o Programa Bolsa Família (PBF) e com as temáticas indígena, quilombola,
educação para as relações etnicorraciais, campo, educação especial, juven-
tude, EJA, alfabetização e educação em direitos humanos.
Ao refletirmos sobre essas temáticas tão desafiadoras, evidentemente
nos preocupamos muito mais com a questão da fome e do abandono, do
que com notas escolares de estudantes pobres. No entanto, a ausência de
qualidade no ensino e na aprendizagem se tornou um dos principais efeitos
da pobreza no Brasil, pois não tem como evitarmos esta ligação direta entre
a educação e a situação socioeconômica. Um dilema que nos faz buscar
soluções que não podem ser negligenciadas.
As crianças e jovens brasileiros ficam dentro da escola entorno de quatro
a cinco horas diárias, sendo que 70% deles frequentam escolas públicas, e
estas são regidas por políticas públicas diferentes que resultaram em dis-
crepâncias entre os currículos de várias instituições. Por isso, levando em
conta que a palavra "prefácio" em latim, significa "dito (fatio) antes (prae)",
finalizamos este prefácio com uma frase do Herbert de Souza, o sociólogo
Betinho, que tanto se empenhou para erradicar a fome no Brasil:
Essas crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar con-
denado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram
destruídas. Estão nas ruas porque nos omitimos. Estão nas ruas, e estão
sendo assassinadas.
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
SUMÁRIO
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Apresentação
Simone Medeiros
Maria Cecília Luiz
1
cada vez maior de oficinas mecânicas e lava a jato que utilizam a mão de obra
infanto-juvenil.
Entre uma série de consequências sociais indesejáveis do trabalho infan-
til, a mais grave é o prejuízo que o trabalho causa à educação escolar das
crianças (ALBERTO et al., 2010; ARROYO, 2015; SILVA; FERREIRA, 2014), dado
que as inovações tecnológicas têm requerido um novo tipo de trabalhador.
Assim, a escola acaba tendo uma importância muito maior para o desenvol-
vimento cognitivo das crianças do que em outros tempos.
O nível de escolaridade e a qualidade do ensino constituem-se pré-
-requisitos para a entrada no seletivo mercado de trabalho (ALBERTO et
al., 2010). Desse modo, não se pode admitir que lugar de criança seja no
trabalho. Ao contrário, lugar de criança é na escola, com uma educação de
qualidade.
É nesse contexto que a política de erradicação do trabalho infantil está
centralizada, o que significa que qualquer ação que tenha como objetivos o
combate e a eliminação do trabalho infantil deve ter essa meta inscrita em
seu horizonte. A escola desempenha um papel importante na futura capa-
citação, na socialização e na abertura de horizontes dos jovens, enquanto
a família desempenha um papel vital na estruturação psíquica e afetiva, na
formação do caráter e dos valores de uma pessoa.
A partir de uma perspectiva sócio-histórica, a intervenção pedagógica
realizada pela escola é de extrema importância na construção dos processos
psicológicos dos sujeitos. É, sobretudo, a escola, cuja função é a instrução
deliberada, que vai ativar seu desenvolvimento. Nesse sentido, a sistemati-
zação presente na escola cria estruturas, a interação e a orientação entre os
sujeitos nesse ambiente, promovendo o desenvolvimento mental (ALBERTO
et al., 2010).
Para Arroyo (2015), o reconhecimento da infância e do trabalho na infân-
cia pela escola poderia ajudar a entender de maneira mais pedagógica, mais
humana e justa realidades tão preocupantes como a evasão, o absenteísmo
e o desinteresse pelos estudos. Ainda conforme o autor, avançar na compre-
ensão da tensa e complexa exploração da força de trabalho infanto-juvenil,
da contribuição para a renda familiar para sobreviver e do processo de es-
colarização indicaria caminhos para entender os percursos escolares de vida
e trabalho de tantas crianças e adolescentes, estigmatizados como lentos,
desinteressados e sem hábitos de estudo, que, socializados nos valores do
O trabalho infanto-juvenil em oficinas mecânicas e lava a jato no Tocantins e seus impactos na... | 19
trabalho, são segregados nas escolas como "sem valores do trabalho" (AR-
ROYO, 2015, p. 26).
No campo dos direitos humanos, houve inegavelmente um avanço no
século XX, por meio de novas convenções que especificaram os direitos a
serem protegidos como resposta a violações que passaram a ser supervi-
sionadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) dentro dos Estados.
Apesar desses avanços, a efetivação dos direitos humanos ainda se dá de
forma lenta, principalmente se considerarmos o quadro da sociedade bra-
sileira, que se caracteriza por desigualdades, exclusão econômica e social,
de modo que as políticas públicas priorizaram os direitos civis e políticos em
detrimento dos direitos econômicos, sociais e coletivos.
Assim, a legislação brasileira sobre o trabalho infanto-juvenil tem como
premissa a doutrina da proteção integral à criança e ao adolescente, ga-
rantindo seus direitos com prioridade absoluta (BRASIL, 1990). O Brasil é
signatário dos principais atos referentes à temática, destacando-se a Decla-
ração sobre os Direitos da Criança (1923), a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948), a Segunda Declaração Universal dos Direitos da Criança
(1959), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), a Declaração de
Viena (1993) e a Convenção n. 132 e n. 182 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT).
A legislação nacional a respeito do assunto orienta-se pelos princípios
estabelecidos na Constituição Federal de 1988. No seu art. 227, determina
que são deveres da família, da sociedade e do Estado:
Metodologia
Para o desenvolvimento da pesquisa aqui discutida, primeiramente se
fez uma territorialização na cidade de Tocantinópolis (TO) para a identifi-
cação de oficinas mecânicas e lava a jato. Posteriormente, houve contato
com os trabalhadores precoces, e, em seguida, aplicação de questionário
aos sujeitos que se encontravam em situação de trabalho nesses ambientes.
As questões versavam sobre dados sociodemográficos, família, atividade de
trabalho, escolaridade, riscos e perspectivas de futuro.
Após a aplicação do questionário, fez-se sua leitura e releitura para
cuidadosa identificação e correção dos possíveis erros e categorização das
respostas. Para a análise dos dados, utilizou-se o SPSS, um software para
contagem de frequências e percentuais. Foi feita, então, a construção de um
banco de dados para o tratamento destes.
Resultado e discussão
Foram identificadas 20 oficinas mecânicas e 5 lava a jato na cidade de
Tocantinópolis quando da realização da pesquisa, e, desse total, 4 oficinas
mecânicas e 1 lava a jato continham crianças e adolescentes exercendo ativi-
dade. Foram entrevistadas 10 crianças e adolescentes, 50% delas trabalhan-
do em oficinas mecânicas e 50% em lava a jato. A faixa etária desses sujeitos
variava entre 11 e 17 anos, mas a idade predominante na pesquisa foi de 17
anos, totalizando 60% dos entrevistados.
De acordo com a Constituição Federal e o ECA (BRASIL, 1988, 1990), a
partir dos 14 anos, na condição de aprendiz, quando o trabalho é permitido,
este não pode ser noturno, perigoso ou insalubre, e não deve prejudicar
a frequência ou o rendimento escolar do adolescente. No entanto, dos 10
sujeitos entrevistados, nenhum estava legalmente empregado e todos se-
guiam sendo explorados sem a proteção que está prevista na Constituição,
O trabalho infanto-juvenil em oficinas mecânicas e lava a jato no Tocantins e seus impactos na... | 21
Conclusões
A pesquisa em debate indica que o trabalho infanto-juvenil em oficinas
mecânicas e lava a jato é realizado na sua totalidade por meninos negros
com idade entre 14 e 17 anos, que pertencem a famílias de classe baixa e
que têm pouco incentivo à educação. Outro detalhe importante observado
tem relação com os tipos de atividades exercidos nesse trabalho, que levam
a um cansaço físico do corpo e ao contato com substâncias tóxicas, o que
contribui para o desgaste físico e psicológico, causando sérios danos a esses
sujeitos.
Outro aspecto que prevaleceu nos dados foi a defasagem escolar da
maioria dos sujeitos entrevistados, o que leva a questionamentos: até que
ponto a escola está preparada para receber esses sujeitos? Qual o compro-
misso social da escola? Como ignorar essas vivências do trabalho infanto-
-juvenil na agenda escolar? Há um contingente de crianças e adolescentes
24 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Referências
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2
1 Para o governo brasileiro, as famílias extremamente pobres são aquelas que têm renda
mensal de até R$ 89,00 por pessoa (BRASIL, 2018) e as famílias pobres são as com renda
mensal entre R$ 89,01 e R$ 178,00 por pessoa.
2 Portal da Transparência: 8442 – Transferência de Renda Diretamente às Famílias em
Condição de Pobreza e Extrema Pobreza (Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004 (BRASIL,
2004a)) – Valor/2017: R$ 26.565.145.475,00.
3 O CadÚnico é um instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das
famílias brasileiras de baixa renda a ser obrigatoriamente utilizado para seleção de
beneficiários e integração de programas sociais do Governo Federal voltados ao aten-
dimento desse público (BRASIL, 2007, art. 2º).
30 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
A condicionalidade da educação
No que diz respeito ao acompanhamento da condicionalidade da educa-
ção, o manual do usuário para o sistema de acompanhamento da frequência
escolar do Programa Bolsa Família (BRASIL, 2011) permite identificar os ob-
jetivos implícitos à exigência da frequência escolar dos alunos beneficiários:
4 Nos anos anteriores (2004 e 2005), a frequência escolar foi monitorada pela Caixa Eco-
nômica Federal.
34 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Cadastradas no %
Origem Étnica Beneficiárias
CadÚnico Atendida
Famílias Quilombolas 577 212 36,74
Famílias Indígenas 16.901 12.644 74,81
Famílias de Pescadores
843 465 55,16
Artesanais
Famílias Ribeirinhas 677 395 58,34
Famílias Assentadas da
11.982 4.456 37,18
Reforma Agrária
Famílias Acampadas 11.336 2.150 18,96
Gráfico 1 – Famílias inscritas no CadÚnico no Mato Grosso do Sul entre 2007 e 2016
Fonte: elaboração própria a partir dos dados de famílias beneficiárias atendidas pelo PBF
entre 2005 e 2016 obtidos no site do Data Social.
Gráfico 2 – Famílias beneficiárias do PBF no Mato Grosso do Sul entre 2005 e 2016
Fonte: elaboração própria a partir dos dados de famílias beneficiárias atendidas pelo PBF
entre 2005 e 2016 obtidos no site do Data Social.
Fonte: Relatórios de Informações Sociais - Bolsa Família e Cadastro Único Jan/2018, referente
a última coleta de 2017.
Quadro 3 – Famílias beneficiárias do PBF no Mato Grosso do Sul por tipo de benefício
Fonte: Relatórios de Informações Sociais - Bolsa Família e Cadastro Único Jan/2018, referente
a última coleta de 2017.
Eu acho que é um direito das famílias receber todo mês, por causa das
suas necessidades (T/UAK17).
No meu ponto de vista, é um direito que elas têm de receber todos os
meses, porque a gente vê que as pessoas, principalmente em nosso
município, que é pequeno, carente, necessitam dessa bolsa família para
Educação, pobreza e desigualdade social: a percepção dos professores sobre o Programa Bolsa... | 43
comprar até alimento. Não vou dizer que vão comprar só material para as
crianças, mas vão usar até mesmo para alimentação (J/JA9).
Sobre as alterações na vida da família após o PBF, a maioria (13) dos pro-
fessores acredita que de fato houve mudanças e auxílio na estrutura familiar
dos beneficiários, pois houve atendimento às necessidades básicas, ascen-
são econômica, permanência das crianças na escola, tirando as mesmas da
rua e capacitando-as em progressão dos estudos. Os demais professores
afirmaram não haver mudança nenhuma na vida dessas pessoas.
Ah, dá para a gente perceber que a criança se preocupa mais em vir para
a escola, os pais estão mais presentes na escola, porque muitas vezes,
por mais que seja uma renda baixa e tal, há muitas famílias carentes que
precisam disso. A gente vê que antes as crianças não vinham, não tinham
um calçado para usar, às vezes não tinham uma alimentação mais ade-
quada, e hoje em dia já é diferente. A gente vê que as crianças já vêm
mais vestidas para a escola, com calçado e tal [...] (P/Dr MS).
Acredito que sim, né, a gente vê com clareza a pessoa mudar um pouco
de hábito, de alimentação, de vestuário, essas coisas. Ela tenta usar um
pouco mais do que na comunidade a gente não tem, principalmente, ela
tenta buscar um pouco mais de melhorias de vida no dia a dia dela, né
(AJ/ET).
Sim, porque até mesmo o aluno passa a ter... não é um valor considerá-
vel, não é um valor que ele vá suprir todas as necessidades, porém ele
passa a vir com um chinelo melhor, um tênis melhor, que muitas vezes
até mesmo a gente tinha que doar, a gente fazia um brechó ali, trazia, os
colegas traziam e a gente doava para eles... Uma melhora. Eu acho que
uns 70% sim, porque, como eles vivem na região nossa aqui da escola,
uma região muito violenta, então há ainda influência, o meio influencia e
Educação, pobreza e desigualdade social: a percepção dos professores sobre o Programa Bolsa... | 45
muitos vão muito pela influência de amigos, colegas que estão no mun-
do aí perdidos na violência, nas drogas (C/CP).
Não, nessa escola não, não consigo identificar (C/DB).
Olha, elas têm que cuidar para o filho não faltar às aulas e frequente-
mente ou mensalmente, não sei, têm que levar essas crianças para pesar,
têm que estar com a carteira de vacinação em dia. Eu sei bem dessas
aí porque toda vez que tem eles veem aqui na escola, deixam os bilhe-
tinhos, as crianças avisam hoje, as mães avisam "tenho que pegar meu
filho mais cedo porque é dia de pesar, pôr as vacinas em dia". Se elas dão
conta eu não sei, mas que elas procuram cumprir, elas procuram... pelo
menos com os alunos, com as crianças que estudam aqui, eu vejo essa
preocupação das mães [...] (DIB/F/p1).
É a questão da frequência escolar, da saúde e da vacinação, parece...
vacina de prevenção [...] (P/Dr MS).
Olha, a única obrigação que eu sei é que eles têm de mandar a criança
para a escola. Agora, se existe outra obrigação, eu não conheço (T/C).
Eu não tenho certeza de todas as obrigações, principalmente da obri-
gação escolar com os filhos, com o andamento escolar dos seus filhos,
até na aprendizagem. Até ajuda, mas a gente vê que são poucos que se
interessam (CS/FSR p1).
46 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Percebe-se que não houve mais muita evasão escolar, a progressão dos
estudos do Ensino Fundamental para o Ensino Médio e uma inserção
dos alunos no Ensino Superior têm números bastante significativos.
Então esse programa ajudou bastante em relação a isso, né, porque as
crianças não tiveram que trabalhar mais, não tiveram que abandonar a
escola, então em relação ao sucesso foi bastante positivo. E como hoje
a gente já tem outros projetos também fora da bolsa família, também da
faculdade, acho que o aprimoramento desses programas seria bom para
a mobilidade social dos alunos (CS/p2).
Referências
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3
O que coloca os seres humanos da ilha das flores depois dos porcos na
prioridade da escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro nem
dono. (FURTADO, 1989)
1 O trabalho com esses eixos contou com a participação das alunas bolsistas de Inicia-
ção Científica (PIBIC) Lohana Reblin de Oliveira, Bruna dos Santos Sena e Nina Soares
Rocha.
A educação dos pobres em questão: políticas e práticas | 51
natureza global e local dos fenômenos, bem como das políticas que visam
combatê-las. Na sequência, o tópico educação, pobreza e desigualdade so-
cial: contextos e relações traz argumentos para a compreensão do papel da
educação formal nesse processo, problematizando a própria constituição da
política educacional.
Em seguida, são abordados aspectos da inclusão escolar e perspectiva
intersetorial envolvidos nos programas de combate à pobreza, com base na
indagação de como a concretude da pobreza se faz presente nas políticas,
nos entendimentos e nas relações, na escola e em sala de aula. O último
tópico, repercussões do EPDS nos municípios e escolas, traz considerações
sobre o contexto de elaboração, execução e avaliação da política poder ser
um divisor de águas entre o sucesso ou o insucesso do PBF e possibilidades
de alteração da vida das pessoas que vivem e trabalham com a pobreza e as
que vivem na pobreza.
2 Alguns autores afirmarão que as primeiras obras de Paulo Freire apresentam certa sim-
patia pelo nacional-desenvolvimentismo proposto pelo Iseb.
A educação dos pobres em questão: políticas e práticas | 55
nas regiões mais pobres do país (periferias dos grandes centros e zonas de
seca prolongada). Suas fragilidades e contradições são logo percebidas e
novas políticas são propostas influenciadas por esse contexto (BALL, 2011).
O processo histórico das políticas indica na sequência a criação, por
meio de lei, de políticas de Estado, o que demarca um novo estágio no
cuidado com a justiça social e a criação do bem-estar social, mas ainda não
se trata de políticas explicitamente redistributivas e de combate à pobreza
e à fome. As políticas criadas são de dois tipos: a) protetivas da infância e
da adolescência, da velhice, do consumidor etc.; b) promotoras de direitos
sociais – saúde, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como direito
universal; educação, com o reconhecimento da educação básica como direi-
to; assistência social, com a criação do Sistema Único de Assistência Social
(Suas) etc.
Tais modificações nas políticas mostram, para além de sua historicida-
de, que as condições objetivas e subjetivas de sua produção se relacionam
muito diretamente com as transformações experienciadas pela sociedade,
pois o período pós-constituição de 1988 se caracteriza como de ampliação
da vivência democrática. Assim, o que podemos inicialmente demarcar é
que cada momento histórico gesta políticas em acordo com a vida social,
econômica, cultural e ético-política, conforme afirma Stephen Ball (2011).
Percebemos também na construção e na organização das políticas um mo-
vimento de crescimento da sistematização/formalização que as torna, como
políticas de Estado, mais duradouras e menos suscetíveis às intempéries das
mudanças de orientação ideológica dos governos.
As constatações apresentadas indicam não só a correlação das políticas
com o tempo, o espaço e a vida do país, mas também de seus municípios
e estados federados. Os exemplos mobilizados nos incitam a concluir que
o combate à pobreza não se faz somente com distribuição direta de dinhei-
ro ou de víveres aos que precisam, mas também e principalmente com a
ampliação de direitos de cidadania que, por sua vez, ampliam o acesso à
riqueza produzida socialmente.
Assim, oferecer cobertura vacinal, pré-natal ou remédios de uso contí-
nuo é uma forma de combate a um dos subprodutos da pobreza, que é a
falta de saúde. O exemplo serve também para a Assistência Social com o
Suas. Esses casos efetivados por meio de um SUS ou Suas compatibilizam
três níveis de responsabilidade, gestão e execução de política: o macro, da
federação, o meso, das unidades federadas, e o micro, do poder local.
56 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
4 Pessoas negras, indígenas, pobres, mulheres etc. são grupos socialmente considerados
"minorias". Assim como são discriminados e excluídos na escola, isso também ocorre a
tais grupos em outros âmbitos da vida social, principalmente com relação à garantia de
direitos e ao acesso a estes (EPDS, 2016, módulo III).
62 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
deles fica claro o baixo nível de aceitação deles por professores e outros
estudantes. Portanto, o caminho da inclusão parece ainda longo e cheio de
contradições.
Adicionalmente, podemos concluir que abordar o direito à educação
escolar é muito mais complexo do que aparenta e se relaciona a variáveis
que não unicamente o acesso (matrícula), passando necessariamente pelo
debate da inclusão da camada mais pobre da sociedade (SPOSITO, 1984). O
acesso, contudo, é condição sine qua non do processo inicial de inclusão e
se constitui como uma das condicionalidades do PBF.
Essa inclusão deve ser efetivada no interior de cada escola, ressaltando-
-se a necessidade de criar possibilidades de incluir os pobres e extremamen-
te pobres no exercício da cidadania. A cidadania é um direito preconizado
na constituição e vivê-la requer também que toda a cidade (município) se
preocupe em ser inclusiva.
Considerações finais
As análises permitem concluir que os operadores e gestores do PBF
envolvidos no processo do curso EPDS passam a entendê-lo como ação
inovadora que busca a redução da pobreza e da pobreza extrema, além de
combater a fome. Mudando um pouco suas concepções iniciais, passam a
entender que o PBF significa também possibilidade de construção de alter-
nativas de geração de renda e de acesso a serviços públicos.
Dessa perspectiva, entendem que a escola pode desempenhar papel
importante no processo de promoção da cidadania dos sujeitos agentes
beneficiários do programa. Apostam, esperançosamente, nas ações de co-
laboração intersetoriais coordenadas e envolvendo a assistência social e na
oferta de qualificação para o trabalho, indicando que têm produzido efeitos
positivos.
Ao demonstrar seus aprofundamentos de compreensão, os cursistas
destacam e corroboram falas dos beneficiários do PBF que indicam vicissi-
tudes no programa, ao explicitarem, por exemplo, o entendimento de que
A educação dos pobres em questão: políticas e práticas | 69
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em: 11 nov. 2019.
70 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
coleta dos dados da TALP foi realizada de uma só vez durante a aula inaugu-
ral ocorrida em 28 de agosto de 2015. Foram entregues 377 questionários,
número correspondente ao total de presentes (embora houvesse 400 matri-
culados), mas somente 301 preencheram o instrumento.
Os dados indicam que o grupo pesquisado é composto majoritariamen-
te de profissionais da área de Serviço Social (42%), seguidos de profissionais
da área da Educação (26%). No entanto, também foram identificados profis-
sionais com formação em Nutrição, Psicologia, licenciados em Geografia, em
Letras, em Matemática, em História, em Ciências Biológicas e ainda cientis-
tas agrários, cientistas sociais e gestores públicos, embora em percentuais
muito baixos.
De modo geral, todos atuam no contexto da pobreza e da desigualdade
social. Os profissionais da área de Serviço Social atuam na implementação
de políticas e programas de assistência social, tais como o Bolsa Família,
atuando igualmente em espaços ocupacionais como o Centro de Referência
em Assistência Social (Cras) ou o Centro de Referência Especializado em
Assistência Social (Creas), enquanto os da área de Educação atuam direta-
mente nas escolas públicas e se defrontam com as expressões da pobreza
em seu cotidiano de trabalho, por meio do contato direto com os alunos que
se encontram nessa condição.
O perfil do grupo indica também que todos se graduaram durante a dé-
cada de 2000 e que o curso de Especialização em Educação, Pobreza e De-
sigualdade social tem sido, para a grande maioria, a primeira oportunidade
de pós-graduação. As razões para cursar a referida especialização, conforme
explicitado nas "cartas de intenções", documento requerido quando da ins-
crição no curso, estão ligadas diretamente à atuação profissional e puderam
ser agrupadas em duas categorias básicas: 1) Melhorar a atuação seja na
docência, seja na implementação de políticas e programas de assistência
social; 2) Contribuir para a melhoria das condições de vida dos beneficiários
de programas e políticas de educação e assistência social.
Vale destacar, ao tomar as cartas como uma fonte de dados visando
caracterizar a população, que estas são um documento escrito com a finali-
dade de convencer os avaliadores das "intenções" do candidato, portanto
com forte teor retórico. A análise do seu conteúdo, por isso mesmo, exige
um rigor epistemológico mais acurado, quando, por exemplo, são estas
confrontadas com outras fontes de dados. Além dessas justificativas, os can-
didatos alegaram também o interesse em "aprimorar-se intelectualmente",
76 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Polo/turma n. %
Caicó 37 12%
Caraúbas 26 9%
Currais Novos 25 8%
Grossos 13 4%
Macau 15 5%
Martins 24 8%
Natal 1 33 11%
Natal 2 38 13%
Natal 3 35 12%
Nova Cruz 33 11%
Parnamirim 22 7%
Total 301 100%
Fonte: dados obtidos por meio do questionário da TALP e das fichas de identificação dos
cursistas.
[...] uma experiência de desqualificação dos pobres por suas crenças, seu
modo de expressar-se e seu comportamento social, sinais das "qualida-
des negativas", em que o pobre não sofre apenas "privações materiais",
mas também desqualificação social, alcançando o plano espiritual, moral
e político dos indivíduos submetidos aos problemas de sobrevivência.
Pobreza/
A pobreza como privação de capaci-
oportunidades e Amartya Sem
dades básicas.
capacidades
Polo/
Discurso
Questionário
(Natal 3/320) Falta de oportunidades, porque essa condição limita o sujeito a
diversas perspectivas: ir, vir, dinheiro limitado necessário para a
prioridade alimentação, por exemplo, condições insalubres de
vida, a questão alimentar abaixo do necessário para o ser huma-
no, e essas condições subumanas fazem com que as doenças
físicas e psicológicas se instalem. E, por fim, falta de políticas
públicas efetivas que tragam resultados positivos
(Natal 2/268) O acesso a serviços, renda, programas, benefícios, oportunida-
des etc. garante uma maior possibilidade de melhoria da quali-
dade de vida. A população em geral podendo acessar direitos
básicos de sobrevivência e mínimos sociais abrirá caminhos
para…
(Natal 2/280) Pobreza é ausência de mínimos necessários que garantam a
dignidade humana. Essa ausência se caracteriza como exclusão,
negação e violação de direitos humanos, que atingem crianças,
adolescentes, jovens, adultos, idosos. A pobreza caracteriza-se
pela falta tanto na dimensão econômica como na condição de
cidadão, sujeito de direitos.
(Natal 2/252) Desemprego. Porque a falta de trabalho está condicionada à
falta de alimento, moradia, às condições de vida e ao sofrimen-
to, e sem isso a pessoa está submetida a uma situação precária
de desigualdade social.
Definição de pobre
Sem voz e sem vez Pouco esclarecido sobre seus direitos
Privado de direitos Pouco educado
Vulnerável Sem conhecimentos
Discriminado Sem oportunidades
Desamparado Excluído
Que não tem vez/direitos África no Brasil
Classes menos favorecidas Camadas menos favorecidas
Carente/mais carentes Classe média baixa/classes populares
Desfavorecido Privado de direitos
Marginalizado Os que não (em contraponto dos que têm)
Diante desses dados, podemos afirmar que se apresenta nas falas a ideia
de que o pobre é um sujeito que se encontra em situação de desvantagem
social, ficando implícito que não é reconhecido como um cidadão portador
de direitos. Em algumas entrevistas, fica explícita a ideia de que os pobres,
por vezes, são responsáveis pela sua condição de pobreza.
Assim, a pesquisa mostra uma tendência de culpabilização do indivíduo
pela sua condição de pobreza. Nessa visão, a pobreza seria resultado de
alguns fatores de responsabilidade do indivíduo. No entanto, uma entrevis-
ta se destaca ao apontar a responsabilidade do Estado quanto à reprodu-
ção da pobreza, bem como seu dever na provisão de condições sociais de
enfrentá-la.
No Quadro 4, vemos um apanhado desses discursos:
Quadro 4 – Pobreza e culpabilização do indivíduo
Polo/Questionário Discurso
(Natal 3/272) Exclusão – acredito que essa palavra seria a mais importante,
pois, além de a sociedade excluir as próprias pessoas que
vivem nessa área de pobreza, elas mesmas se excluem. Não
é preciso que outros o façam, excluindo-se as oportunidades
não irão surgir.
(Natal 1/239 ) Entre as palavras abordadas, escolhi exclusão, pois acredito
que a pobreza se insere dentro de um contexto de negações
de uma política efetiva que contemple a promoção de direitos
humanos fundamentais. Nesse sentido, a palavra exclusão
representa essa falta de engajamento e mobilização para uma
política de ruptura da desigualdade social.
(Natal 3/312) Desinformação – a escolha dessa palavra acontece porque
parte da miséria que assola a nossa sociedade se dá por
motivo de desconhecimento de seus direitos embasados na
Constituição e garantidos também por meio das políticas
públicas existentes.
(Parnamirim/389) Se uma pessoa não tem uma meta, um sonho que a leve a
pensar nas suas "perspectivas de vida", ela ficará presa a
limites pequenos. Não evolui, vive presa no mesmo lugar, es-
perando "milagres" para sobreviver à margem da sociedade
"privilegiada".
tipo de dado deve ser problematizado, tendo em vista a falta de críticas dos
entrevistados a essa situação, o que indica também uma atitude passiva e
tolerante quanto ao contexto de pobreza (Quadro 5).
Quadro 5 – Pobreza como uma condição histórica e estrutural
Polo/Questionário Discurso
(Natal 1/204) A sociedade mundial atravessa constantes mudanças, que
determinam certas consequências a todos os indivíduos
globais. Como vivemos num intenso domínio social – o
modo de produção capitalista – que é extremamente
injusto, antagônico e produtor das maiores desigualdades
sociais no século XXI, ou seja, determina a condição de
pobreza e/ou pobreza extrema, e justifica a minha escolha
pela palavra injustiça.
(Natal 1/231) Historicamente, o Brasil é um país marcado pela má
distribuição de renda, de modo simples, porém menos
importante, temos muitos vivendo em péssimas condições
de vida e uma pequena minoria que vive em condições
abundantes. Temos um país com uma dívida social difícil
de saldar, porque em tudo que se volta para as classes
populares se percebe um atraso, a exemplo disso podemos
destacar a Reforma Agrária, a Abolição da Escravidão,
entre outros. Enfim, a má distribuição de renda perpassa as
outras questões elencadas.
(Natal 1/218) A pobreza é uma condição ou situação de necessidade da
lógica capitalista, pois organiza os indivíduos de uma socie-
dade na perspectiva de geração e manutenção da riqueza.
Necessidade também no sentido de carências diversas
(cidadania, educação, material), desenvolvimento.
(Natal 1/205) Considero vulnerabilidade a palavra mais importante
devido ao grande número de brasileiros que vivem em
situação de vulnerabilidade social. Tal estado (condição) faz
com que parte da sociedade brasileira viva sem o mínimo
considerável de dignidade humana.
Polo/Questionário Discurso
(Natal 3/322) A pobreza é um estado que tem vários fatores que
contribuem para que se permaneça nele. Porém, o mais
importante é acreditar que ele pode ser superado, e, para
tanto, é preciso o desejo de mudá-lo.
(Natal 3/319) Atualmente, vivemos numa sociedade em que cada vez
mais cresce a vulnerabilidade social, e isso ocorre devido
à falta de políticas públicas efetivas. Para o seu enfrenta-
mento, é necessário que haja uma ampliação do sistema
educacional, o que seria um começo e tanto.
(Natal 1/208) Porque através da educação a condição de pobreza pode
ser mutável. É papel do professor desenvolver compe-
tências e habilidades que permitam ao educando, que
também é um cidadão, transformar seu quadro social.
(Natal 1/214) Diante do atual cenário mundial, em que há por parte da
sociedade a naturalização das diversas formas de violações
de direitos humanos e sociais, faz-se necessária a reflexão
diária sobre nossas intenções profissionais, principalmente
no que tange ao nosso comprometimento em formular
estratégias de enfrentamento da pobreza no Brasil.
Um aspecto que se fez presente na visão dos cursistas foi associar a edu-
cação como estratégia de resolução da pobreza, ressaltando um pretenso
potencial da educação como elemento de transformação social (Quadro 7).
Por fim, fizemos algumas reflexões acerca dessas informações. Seria pos-
sível uma resposta ao complexo fenômeno da pobreza por meio de ações
apenas no campo da educação? As condições atuais das políticas educa-
cionais, sobretudo aquelas voltadas para a população mais pobre, seriam
capazes de retirar os pobres de sua condição?
90 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Polo/Questionário Discurso
(Natal 2/253) A desigualdade é produto da inexistência de políticas
votadas à educação com ênfase no desenvolvimento social,
que tem também como fonte social a estabilidade no
contexto em tela. O emprego e a renda são consequência
desse recorte. Por isso, a educação ainda é ferramenta dis-
ponível para combater essa desigualdade que assola nossa
sociedade.
(Natal 1/226) Na minha opinião, a pobreza existe devido a exclusões dos
direitos básicos e de informação, de modo que os excluídos
se tornam a grande maioria da população.
(Natal 3/303) A falta de acesso à educação básica, para mim, é conside-
rada a mais importante, por ser por meio do conhecimento
que conseguimos ser capazes de alcançar uma qualidade
de vida digna e adquirirmos conhecimentos sobre nossos
direitos e deveres como cidadãos.
(Natal 3/302 ) A pobreza pode ser considerada miséria, carência de recur-
sos mínimos para sobrevivência de milhões de pessoas que
vivem em condição de miserabilidade, que são excluídas
da sociedade. A educação é um dos instrumentos mais
importantes para minimizar os efeitos da pobreza, sendo
necessária a articulação de diversos atores e políticas, de
modo a atenuar essa desigualdade e promover a inclusão
social.
Considerações finais
A trajetória da pesquisa aqui discutida foi realizada considerando dos
objetivos essenciais: 1) Conhecer o perfil sociográfico da população matri-
culada na Especialização Pobreza e Desigualdade Social no Rio Grande do
Norte; 2) Conhecer os conteúdos discursivos (opiniões, imagens, percep-
ções, conceitos) utilizados por essa população para explicar o fenômeno da
pobreza.
No que se refere ao primeiro objetivo, foi possível identificar que o uni-
verso dos entrevistados é composto de um grupo heterogêneo formado por
profissionais de Serviço Social e da área de Educação. Estes se encontram
atuando nos contextos de pobreza, seja por meio da política de educação,
seja pela política de assistência social.
Os profissionais desafiados pelas circunstâncias geradas pela pobre-
za e desigualdade social buscaram, por meio do curso de especialização,
aprimorar seus conhecimentos e melhorar sua atuação. Daí concluímos que
a atuação em determinados contextos de ampliação da pobreza e da de-
sigualdade social desafia os profissionais em termos teóricos, bem como
gera grandes desafios no tocante às formas de intervenção nos referidos
contextos.
Em se tratando do segundo objetivo, a pesquisa destacou os principais
discursos expressos pelos entrevistados quanto ao fenômeno da pobreza.
Assim, foram identificadas as seguintes tendências: a) a pobreza está rela-
cionada às condições básicas-biológicas de sobrevivência (alimentação, já
que a pobreza aparece, em alguns casos, associada à fome); b) a culpabili-
zação do indivíduo por sua condição de pobreza; c) a pobreza como uma
condição histórica e estrutural do capitalismo e, portanto, insuperável; d) a
possibilidade de superar a pobreza, bem como a existência de estratégias
para seu enfrentamento; e) a educação como estratégia de resolução da
pobreza, ressaltando um pretenso potencial da educação como elemento
de transformação social.
A pesquisa ainda identificou distintas concepções sobre o pobre, as
quais demonstram falta de consenso sobre as definições de pobre e neces-
sidade de aprofundamento teórico para desvendar o contexto da pobreza
e sua reprodução social. Diante dessas tendências, o estudo demonstra o
quão complexo é o fenômeno da pobreza e que a imersão dos profissionais
em tal contexto requer momentos de formação e aprofundamentos, para
que eles enxerguem a direção de suas ações e como suas concepções se
92 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
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Paulo: Cortez, 2013.
Educação, Pobreza e Desigualdade Social no Rio Grande do Norte: a pesquisa e suas... | 93
panhamento-da-frequencia-escolar-de-criancas-e-jovens-em-vulnerabilidade-condi-
cionalidade-em-educacao-do-programa-bolsa-familia-pbf-novo.
98 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
temiam que os alunos "falassem o que não devia". Não temos a pretensão
de generalizar as conclusões apresentadas, mas sim de compartilhar uma
experiência que ultrapassou os muros da Universidade e radicalizou o olhar
de mais de cinco mil pessoas que, de alguma forma, foram perpassadas por
essa ação de ensino, pesquisa e extensão.
A forma de exposição segue, portanto: os primeiros movimentos de
aproximação com o tema (seguindo as diretrizes nacionais); a delimitação
da pesquisa a partir da participação dos cursistas como pesquisadores e o
olhar que possuem sobre as formas de pensar, sentir e agir das crianças e
adolescentes; o percurso metodológico, com destaque para as atividades
de reflexão-ação propostas ao longo dos módulos (com destaque para as
oficinas de "Sonhos e Educação Financeira"); e os resultados, em termos
quantitativos e qualitativos, incluindo a análise da equipe de pesquisadores
e dos cursistas em um total de 258 artigos de conclusão de curso.
É necessário perceber que a pobreza nos cerca: ela persiste dentro das
escolas, nos noticiários e em diversos estudos sociais. Nas salas de aula,
essa realidade fica evidenciada pelos corpos famintos e empobrecidos
de milhões de crianças e adolescentes que chegam às escolas, as quais
são, em muitos casos, igualmente pobres (ARROYO, 2014, p. 07).
O que eu quero para meus filhos quando crescer, eu quero que eles se
formem, sejam pessoas boas, não precisa ser nenhum doutor, só não
quero que roubem, que virem assassinos, pois o mundo tá cheio disso,
eles precisam ser pessoas boas, porque eu crio eles sozinha, e todo dia,
falo: meus filhos estudem, sejam homens direitos e moça de família, e eu
também quero que eles cuidem de mim quando eu tiver velha, porque
estou aqui cuidando deles agora mas, na frente, eu que vou precisar ser
cuidada por eles (Fragmento de Entrevista – famílias com alunos benefi-
ciários do PBF).
as crianças menores de sete anos devem estar com o calendário de vacinação e com o
acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento em dia; mulheres grávidas en-
tre 14 e 44 anos devem fazer acompanhamento pré-natal. Na área da Educação, crianças
e adolescentes entre seis e 15 anos devem ter frequência escolar mensal de 85%, e jovens
entre 16 e 17 anos devem ter frequência de 75%. Na área da assistência social, crianças e
adolescentes de até 15 anos em risco ou retirados do trabalho infantil devem participar
de serviços socioeducativos com frequência mensal de 85%. Com informações do MDS,
disponíveis no seguinte endereço: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2018/
janeiro/beneficiarios-do-bolsa-familia-devem-informar-mudanca-de-escola-dos-filhos.
8 A íntegra do referido trabalho está disponível no seguinte endereço: http://www.
joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo4/a-condicionalidade-de-educacao-do-
-programa-bolsa-familia-um-dialogo-sobre-limites-e-possibilidades.pdf.
114 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
(A) (B)
(A) (B)
No CONHECIMENTOS/CAPACIDADES %
85% Sim
Capacidade de ler palavras ou textos de gêneros e temáti-
01 12% Parcial
cas variadas
3% Não
78% Sim
Capacidade de escrever palavras em diferentes estruturas
02 13% Parcial
silábicas, atento para algumas convenções ortográficas
9% Não
75% Sim
Capacidade de compreender textos orais de gênero, temá-
03 16% Parcial
ticas e vocabulários familiares
9% Não
55% Sim
Capacidade de produzir pequeno texto, argumentando e
04 32% Parcial
compreendendo a sua função social
13% Não
Conhecer a hipótese de escrita em que os alunos/as se 85% Alfa
encontram: Pré-Silábica (PS); Silábica Sem Valor Sonoro 6% Salfa
05
(SSVS); Silábica Com Valor Sonoro (SCVS); Silábica Alfabéti- 6% SCVS
ca (Salfa) e/ou Alfabética (Alfa) 3% PS
Capacidade de compreender a função social dos números,
bem como a noção de espaços e de medidas de compri- 91% Sim
06 mento utilizando vocabulário pertinente nos jogos, nas 6% Parcial
brincadeiras e nas diversas situações nas quais ela se faz 3% Não
necessária
85% Sim
Resolver situações problema que envolvem as noções de
07 9% Parcial
adição, subtração, multiplicação e divisão
6% Não
97% Sim
08 Capacidade de compreender a função social do dinheiro 0% Parcial
3% Não
(2015), Mendonça (2015), Leite (2015), entre outros, pelo embasamento teó-
rico fornecido à pesquisa e pelo longo período de leitura durante o Curso.
A pesquisa bibliográfica "[...] consiste no exame desse manancial, para le-
vantamento e análise do que já se produziu sobre determinado assunto que
assumimos como tema de pesquisa científica" (RUIZ, 2011, p. 58), conforme
realizado neste trabalho. Na segunda parte, deu-se a pesquisa de campo, a
partir da qual se fez contato com o local e com os indivíduos pesquisados,
com observações sobre como funciona a dinâmica do ambiente escolar e
com acesso à opinião dos discentes. As observações seguiram um roteiro
pré-elaborado, detalhado a seguir. Por outro lado, foram feitas anotações
pessoais de forma aleatória, conforme o acontecimento dos fatos. Além das
observações e anotações pessoais aplicou-se, com os alunos, uma atividade
que pertencia à oficina que fez parte do programa da especialização. Nessa
oficina foram coletados dados sob a forma de fotos, produções de textos,
desenhos e entrevistas informais. Para a interpretação dos dados reunidos
nesta coleta foi utilizado o método de análise de conteúdo, de acordo com
o que prevê Bardin (2009). Neste caso, a análise não reside apenas no texto
escrito, mas também nas falas, no conhecimento implícito à comunicação
humana.
Foram obedecidas, assim, três etapas: 1) a de pré-análise – que objetiva
uma leitura flutuante do material coletado, transcrevendo-o; 2) a de explo-
ração do material – em que o material coletado foi selecionado consideran-
do o objetivo da pesquisa, realizando-se uma organização sob a forma de
quadros, tabelas etc., que facilite a interpretação; e 3) a de tratamento dos
dados – de interpretação das informações, fazendo descobertas e buscando
responder as questões da pesquisa.
A pesquisa foi realizada com 28 alunos, com idades entre 10 e 14 anos,
sendo 19 do sexo masculino e nove do sexo feminino, todos da turma do 6o
ano D de uma escola do município de São Bernardo-MA, no turno matutino.
No geral, a investigação deu-se sob a forma de observação do ambiente
escolar, dos alunos e das atividades respondidas nas oficinas aplicadas com
os discentes. A escola localiza-se centrada em área comercial e funciona nos
três períodos do dia, e sua escolha decorreu do fato de ser a maior institui-
ção de Ensino Fundamental II (do 6o ao 9o ano) do município, além do fato
de abranger tanto alunos da sede municipal quanto dos povoados vizinhos.
Já a escolha pela turma de 6o ano se justifica por ser a era em que os alunos
estão em fase de descoberta do novo: é o ano em que estão entrando para
126 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Frequência
do sonho Sonho Importância do sonho
mencionado
"Porque ela é muito importante para as
Natureza
pessoas"
Muito Ter um carro "Porque quero viajar nele com minha família"
Ser jogador de "Porque sempre gostei de jogar futebol e
futebol quero ganhar dinheiro"
"Porque vai ser meu trabalho e vou ganhar
Ser advogado
dinheiro"
Ser professora "Porque estudar é muito importante"
Moderado
"Porque é a coisa mais importante na vida de
Ter uma casa
uma pessoa"
Ser cantor "Porque quero ter uma carreira profissional"
Ser fazendeiro "Porque quero ser dono de gado"
Ser bombeiro "Porque salvam vidas"
Ter um paredão "Para fazer festa"
"Porque foi com esse desenho que eu fiz uma
Goku
amizade muito importante"
Baixo
Ser dentista e "Porque quero ajudar os necessitados e dar
ajudar as pessoas um lar"
Ser pediatra "Porque eles cuidam das pessoas"
"Porque é tão ruim ficar doente, eles cuidam
Ser médica
das pessoas"
O que faz essas crianças sonharem com ser jogador de futebol, ter um
carro ou acreditarem que a natureza é algo muito importante para a vida
das pessoas? Em que a escola contribuiu para que elas pudessem ter esses
sonhos? Como a escola pode influenciar a vida dessas crianças a ponto de
interferir no futuro delas, seja no âmbito social, cultural ou econômico?
Sabemos que a família exerce influência no ambiente escolar, assim
como a escola exerce influência na vida do ser humano. Essas crianças
não escolheram determinados sonhos por acaso, mas sim porque eles fa-
zem parte, em alguma medida, de suas vivências, estão presentes no seu
dia a dia. Quem escolheu "ser jogador de futebol" não o fez somente por-
que gosta de jogar bola, mas também porque deseja poder ter uma vida
A pesquisa no Curso de Especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social no Maranhão | 129
Referências
ARAÚJO, M. S. S. As formas de pensar, sentir e agir de crianças e adolescentes de escolas públicas
do maranhão, sob a condicionalidade da educação: ponderações a partir das ferramentas analíti-
cas de Pierre Bourdieu. Módulo V, texto de apoio. São Luís, 2015.
ARROYO, M. G. Pobreza, Desigualdades e Educação. Módulo Introdutório (2014). Disponível em:
http://catalogo.egpbf.mec.gov.br/modulos/pdf/intro.pdf. Acesso em: jan. de 2020.
CONSEPE. Resolução nº 1198, de 06/11/2014. Curso de especialização em Educação, Pobreza e
Desigualdade Social.
MARANHÃO. Projeto político pedagógico de curso de pós-graduação lato sensu – especialização
Educação, pobreza e desigualdade social. Universidade Federal do Maranhão. 2015.
PROJETO DE PESQUISA. Modos de vida e processos pedagógicos na relação educação, pobreza
e desigualdade social no Maranhão. São Luís, 2015.
Links Consultados
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/perguntas_e_respostas/Per-
guntasFrequentesSCFV_032017.pdf>.
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo4/a-condicionalidade-de-educacao-do-
-programa-bolsa-familia-um-dialogo-sobre-limites-e-possibilidades.pdf.
http://cod.ibge.gov.br/1FHF
6
Indicadores cen-
BRASIL Piauí Floriano Parnaíba Teresina
sitários (2010)
Densidade demo-
22,43 12,40 16,92 334,51 584,94
gráfica (hab./km²)
Município
Homens
ativas ativas
Total
Fonte: elaboração própria, com base nos dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2011).
3 Percentual da PEA por faixa etária que estava desocupada, ou seja, que não estava
ocupada na semana anterior à data do Censo, mas havia procurado trabalho ao longo
do mês anterior à data dessa pesquisa.
4 A Lei 12.852, de 5 de agosto de 2013 – que promulga o Estatuto da Juventude – consi-
dera jovens as pessoas entre 15 e 29 anos de idade. Seu artigo 14 afirma o seguinte: "O
jovem tem direito à profissionalização, ao trabalho e à renda, exercido em condições de
liberdade, equidade e segurança, adequadamente remunerado e com proteção social"
(BRASIL, 2013).
144 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
5 BRASIL. Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universida-
des federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível superior e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 ago. 2012. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 10 dez.
2019.
148 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Famílias de rendimento nominal mensal familiar per capita (em salários mínimos)
Zona rural Zona urbana
Município Mais Sem Mais Sem
Até
Total de ¼ rendi- Total Até ¼ de ¼ rendi-
¼
até ½ mento até ½ mento
Freq. 104 23 18 63 1082 304 480 298
Floriano
% 100 22,12 17,31 60,58 100 28,10 44,36 27,54
Freq. 322 125 52 145 4.110 1.386 1.390 1.334
Parnaíba
% 100 38,82 16,15 45,03 100 33,72 33,82 32,46
Freq. 876 312 295 269 17.076 3.953 7.226 5.897
Teresina
% 100 35,62 33,68 30,71 100 23,15 42,32 34,53
Fonte: elaboração própria, com base nos dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2011).
Legenda: Freq. = Frequência.
8 Renda per capita: razão entre o somatório da renda de todos os indivíduos residentes
em domicílios particulares permanentes e o número total desses indivíduos. Valores
em reais de 01 de agosto de 2010. Renda per capita dos pobres: média de renda do-
miciliar per capita das pessoas com renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$
140,00 mensais, segundo valores de agosto de 2010. O universo de indivíduos é limita-
do àqueles que vivem em domicílios particulares permanentes. Renda per capita dos
extremamente pobres: média de renda domiciliar per capita das pessoas com renda
domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 70,00 mensais, segundo valores de agosto de
2010. O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios particulares
permanentes.
152 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Considerações finais
A pobreza, enquanto fenômeno social multidimensional, é expressa por
diferentes fatores que implicam na condição social vivida por grupos sociais,
158 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Referências
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caracterização demográfica
da extrema pobreza. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi-data/METRO/metro_
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______. RI Bolsa Família e Cadastro Único: Teresina (PI). SAGI, 2015. Disponível em: http://aplicaco-
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______. RI Bolsa Família e Cadastro Único: Parnaíba (PI). SAGI, 2015. Disponível em: . Acesso em:
11 nov. 2019.
______. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília: MDS, 2005. Disponível em: http://
www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf. Acesso
em: 11 nov. 2019.
______. Lei no 12.852, de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os
direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Na-
cional de Juventude - SINAJUVE. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 ago. 2013. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm. Acesso em: 11 nov. 2019.
CARVALHO, I. M. M.; ALMEIDA, P. H. Família e Proteção Social. São Paulo em Perspectiva, São
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socioeconômico – Floriano. 2013a. Disponível em: http://www.cepro.pi.gov.br/download/201309/
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view/7584/6835. Acesso em: 11 nov. 2019.
TEIXEIRA, S. M. A família na política de assistência social: concepções e as tendências do trabalho
social com famílias nos CRAS de Teresina. Teresina: EDUFPI, 2013.
7
Porém, como alerta Sen (2000), a redução da pobreza medida pela renda
não pode ser o único objetivo de políticas de combate à pobreza – esta,
por sua vez, não pode ser circunscrita somente pela renda e querer justificar
socialmente que os investimentos aplicados em serviços sociais são meios
para a redução de tal, isso é confundir os fins com os meios (SEN, 2000, p.
114). A pobreza, segundo o autor, precisa ser entendida como uma privação
da vida, mas estes indivíduos acometidos de tal privação possuem liberdade
e capacidade humana para sua superação. No entanto, o aumento dessas
capacidades aliado à expansão de produtividades pode ajudar na aquisição
de renda, fazendo com que se diminuam as privações humanas. Uma abor-
dagem de concepção multidimensional do desenvolvimento é vital para Sen
(2000), já que a ampliação e o acesso ao mercado favorecem a oportunidade
social; a visão de diferentes vias distributivas asseguram o acesso a bens
públicos por parte da população carente e, ainda, os subsídios/transferên-
cias de renda visam o auxílio de aprimoramento das capacidades básicas,
especialmente nas áreas de saúde, educação e segurança social.
A concepção de desenvolvimento como liberdade considera três
aspectos:
1. em uma perspectiva liberal, a expansão de liberdades não valoriza
somente uma vida rica economicamente, mas também possibilita que
pessoas sejam socialmente mais plenas, que interajam no e influenciem
o mundo em que vivem – por exemplo, em uma discussão pública, em
que se expandem capacidades básicas de todos os envolvidos, o que
possibilita direitos democráticos e faz com que as "necessidades" sejam
melhor conceituadas em suas variadas dimensões (e não reduzidas à
questão da renda pessoal, familiar ou coletiva);
2. a partir de uma visão crítica do social, mesmo em países financeiramente
ricos, alguns de seus cidadãos sofrem desvantagens nos serviços básicos
de atendimento, como saúde, educação e emprego;
166 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
arbitrária, naturalizando-a. Seus efeitos têm caráter desenvolvido muito mais de forma
psicológica.
2 BRASIL. Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria o Programa Bolsa Família, altera
a Lei no 10.689, de 13 de junho de 2003, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 12 jan. 2004. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
lei/2004/lei-10836-9-janeiro-2004-490604-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 10
dez. 2019.
3 BRASIL. Decreto no 5.209, de 17 de setembro de 2004. Regulamenta a Lei no 10.836, de 9
de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa Família, e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 2004. Disponível em: https://www2.camara.leg.
br/legin/fed/lei/2004/lei-10836-9-janeiro-2004-490604-publicacaooriginal-1-pl.html.
Acesso em: 10 dez. 2019.
Educação e pobreza na Amazônia Paraense: um estudo sobre o Programa Bolsa Família em... | 169
seus efeitos mais importantes foi dar visibilidade ao número de famílias que
vivem em situação de pobreza e extrema pobreza na sociedade brasileira.
A invisibilidade tem subentendida em si o esforço da sociedade autoritária
brasileira (CHAUÍ, 2000) em não reconhecer o indivíduo pobre como sujeito
de direitos (REGO; PINZANI, 2013).
O Programa atribui requisitos em forma de compromisso, no qual estão
abrigadas as áreas da Educação, da Saúde e da Assistência Social. Referi-
dos requisitos precisam ser efetivados para a manutenção do recebimento
mensal e para a continuidade no Programa. Na Educação, a frequência es-
colar mínima deve ser de 85% para crianças e adolescentes entre seis e 15
anos e de 75% para adolescentes entre 16 e 17 anos; na Saúde, deve haver o
acompanhamento do calendário vacinal e do crescimento e desenvolvimen-
to para crianças menores de sete anos e o pré-natal de gestantes e acom-
panhamento de nutrizes4 na faixa etária dos 14 aos 44 anos; na Assistência
Social, deve haver uma frequência mínima de 85% da carga horária relativa
a serviços socioeducativos para crianças e adolescentes de até 15 anos em
risco ou retirados do trabalho infantil.
O PBF visa, dentre seus propósitos, estimular a integração e a oferta
de outras políticas públicas sociais, em especial que atendam as famílias
bolsistas. Estes propósitos são desenvolvidos por meio de ações em progra-
mas complementares e que, em articulação com o Programa, têm como alvo
contribuir para a diminuição de vulnerabilidade social em que essas famílias
se encontram, promovendo sua inclusão social. Dentre alguns programas
complementares articulados com o PBF estão os Programas Luz para Todos,
Brasil Alfabetizado (PBA) e Projovem (ID Jovem). É possível constatar que
o PBF visa enfrentar a pobreza em curto prazo quando oferece alívio ime-
diato para a fome e para a privação de renda e, em longo prazo, o acesso
à educação e aos serviços da saúde por meio de condicionalidades fixadas
pelo Programa, com vistas à promoção de melhores oportunidades de qua-
lificação e consequente inserção futura no mercado de trabalho, gerando
renda sem precisar de transferência direta do governo e rompendo, portan-
to, com um ciclo vicioso (o de que "a pobreza é transmitida de geração em
geração" e de que "nada poder ser feito, pois se você é filho de pobre e vai
continuar sendo pobre", de que "seu filho e as outras gerações serão pobres
também"). Isso se deve, talvez, ao acesso reduzido ao conhecimento e à es-
colaridade, o que causa, também, grande disparidade entre ricos e pobres.
Fonte: IBGE.
Educação e pobreza na Amazônia Paraense: um estudo sobre o Programa Bolsa Família em... | 171
Figura 4 – Pátio Central da E.M.E.F. "José Maria Rodrigues Viegas Junior" em Mel-
gaço-PA
[...] desde seu lançamento o programa não teve, por parte da mídia bra-
sileira, uma cobertura preocupada em constatar se essas janelas estavam
de fato, se abrindo. A maior parte das matérias tratou de destacar irregu-
laridades na execução do programa [...] O impacto do programa sobre o
seu público-alvo recebeu bem menos destaque. [...] Oportunidades para
a população pobre. Essa é uma boa síntese do espírito do Programa
Bolsa Família (WEISSHEIMER, 2006, p. 47).
Fonte: elaboração própria, com base nos dados disponibilizados no Portal do MDS.
Relação com o
Pseudônimo Sexo
Programa Bolsa Família
Representante da Secretaria Municipal de Trabalho e Promo-
E1 F
ção Social
Secretário Municipal de Educação
E2 M
de Melgaço
Diretora de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de
E3 F
Melgaço
E4 M Bolsista do Programa
E5 F Bolsista do Programa
E6 M Bolsista do Programa
E7 M Bolsista do Programa
E8 F Bolsista do Programa
E9 F Bolsista do Programa
E10 F Bolsista do Programa
E11 F Diretora de Escola
E12 M Professor
E13 F Professora
E14 F Professora
E15 F Diretora de escola
Fonte: elaboração própria.
178 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
CATEGORIAS
CRITÉRIOS DE ANÁLISE
EMPÍRICAS
Qual a importância do programa social no combate a minimização
da pobreza?
Pobreza
De que modo a escola e a família contribuem para o enfrentamen-
to da pobreza?
Qual é a sua avaliação acerca da transferência de renda realizada
pelo Programa?
Transferência
de renda O que precisa ser melhorado no Programa?
E5: Sim, porque na nossa comunidade quando não está na época do açaí
é nossa única renda do mês.
E5: Sim, contribui porque se nossos filhos não vai [sic] para a escola a
gente não recebe a bolsa, mas não é só por isso, é para a educação
deles, né?
Educação e pobreza na Amazônia Paraense: um estudo sobre o Programa Bolsa Família em... | 181
E13: Tem aluno que não consegue se desenvolver, mesmo vindo todos
os dias, muito por causa do ambiente em casa, né? Uns chegam na esco-
la e dormem, outros vêm para brincar.
Considerações conclusivas
Questões sociais que envolvem pobreza e desigualdade social são mui-
to latentes e presentes no município estudado. A imersão teórica realizada
permitiu uma análise crítica das respostas coletadas ao alicerçar as análises
na concepção de Sen (2000). A partir de seu livro, Desenvolvimento como
Liberdade, concordou-se com a perspectiva tratada como desenvolvimento
a partir de capacidades e identificou-se que o PBF contém traços desta con-
cepção, já que permite que o bolsista conquiste a capacidade de ser a partir
do acesso aos serviços básicos como saúde e educação (e que são, conco-
mitantemente, condicionalidades de permanência no Programa), a capaci-
dade de ter quando, ao receber o valor referente ao benefício, o indivíduo
consegue adquirir bens materiais e alimentos (ou seja, viver sua cidadania,
movimentando a economia local) e, ainda, a capacidade de poder ao ingres-
sar em espaços de participação e de tomadas de decisão, manifestando-
-se, aí, a capacidade de ser e, enfim, de se sentir cidadão. Apresenta-se ao
indivíduo, assim, uma nova possibilidade de vida e de valorização para a vida
Educação e pobreza na Amazônia Paraense: um estudo sobre o Programa Bolsa Família em... | 185
Referências
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11 nov. 2019.
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Acesso em: 11 nov. 2019.
8
1 Conferir, a esse respeito, entre outros, os seguintes autores: Oliveira (2000), Silva Junior
e Sguissardi (2001; 2006), Neves (2006), Carvalho (2006), Léda (2007) e Léda e Mancebo
(2009).
192 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
a) Migração/Moradia
Estudantes que se deslocam de seu contexto familiar ao
34,79% 30,5% 65,15%
ingressarem na universidade
Os estudantes que não residem com os pais/cônjuges ou em
casas mantidas pelas famílias e que pertencem às categorias 12,34% 12,4% 47,61%
C, D e E
Defasagem existente entre a demanda potencial e a demanda Sem
9,94% 7,5%
atendida pelas moradias estudantis dados
b) Alimentação
Estudantes que frequentam o restaurante universitário como
19,10% 24,7% 15,03%
necessidade básica
c) Manutenção e Trabalho
Estudantes que exercem atividades não acadêmicas
42% 35,4% 37,63%
remuneradas
Estudantes que exercem atividades acadêmicas remuneradas 16,83% 19,10% 32,68%
d) Meios de Transporte
e) Saúde
73,7%
(menos
Estudantes com menos de vinte anos 21,41% 23,8%
de 23
anos)
f) Acesso à Biblioteca
Sem
Estudantes que utilizam as bibliotecas para consulta acadêmica 79,9% 65,4%
dados
196 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Quadro 1 – Continuação...
Estudantes que buscam atividades relacionadas a lazer e
11,25% 17,2% 2/3
cultura
g) Acesso à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
Sem
Estudantes que leram de um a seis livros por ano 46,7% 62,4%
dados
j) Movimentos Sociais
Sem
Estudantes que participam de movimentos religiosos 24,67% 24,8%
dados
Sem
Estudantes que participam de atividades político-partidárias 7,97% 5,1%
dados
Ano Recurso
2008 125,3 milhões
2009 203,8 milhões
2010 304 milhões
Política nacional de assistência estudantil: contribuição para a permanência de alunos pobres... | 197
RECURSO INVESTIDO
Ano Assistência financeira
Investimento (capital)
(custeio)
2009 R$ 3.357.936,92 ---
2010 R$ 2.294.586,00 ---
2011 R$ 2.100.000,00 R$ 3.000.000,00
2012 R$ 3.135.593,00 R$ 3.000.000,00
2013 R$ 3.767.609,00 R$ 3.200.985,00
2014 R$ 3.074.712,00 R$ 5.648.479,00
2015 R$ 8.381.287,40 ---
Política nacional de assistência estudantil: contribuição para a permanência de alunos pobres... | 199
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados oferecidos pela UFT (2016).
F2: [...] a política deve existir porque ainda não foi implantada. Falta
diagnóstico do que é necessário para efetivar a política, faltam recursos
humanos para implantar a política. Se faz necessário o acompanhamento
dos beneficiados para saber a efetivação dos gastos.
8 O Auxílio Moradia foi implantado pela UFT em 2017 e consiste no valor de R$ 330,00,
pago semestralmente aos estudantes, conforme perfil socioeconômico e disponibilida-
de orçamentária.
204 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
E1: O estudante que não pode contar com ajuda de familiares necessita
de moradia, alimentação, transporte, comprar remédios, roupas, material
escolar e cópias, precisa também de esporte e lazer.
E2: Esse valor está defasado em relação ao custo de vida em Palmas.
E3: Não é suficiente, é paliativo, mas, em regiões interioranas faz uma
diferença maior em relação às capitais. Não deveria ser auxílio, mas ga-
rantia de permanência.
E4: Boa parte dos alunos moram [sic] de aluguel, pagam [sic] transporte e
despesas relativas aos cursos. Esse valor não custeia sequer o pagamen-
to do aluguel, que é caro em Palmas, portanto, é insuficiente para custear
despesas básicas e assim, garantir a permanência, com qualidade.
das conquistas de 1988, num contexto em que foram derruídas até aquelas
condições políticas por meio da expansão do desemprego e da violência"
(BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 147).
11 A UFT não possui, ainda, um Programa de Auxílio Transporte para locomoção do aluno
entre residência/universidade/residência. Estes respondentes provavelmente se referi-
ram ao Programa de Apoio à Participação em Eventos, que está em funcionamento na
instituição.
12 O Programa de Auxílio Emergencial trata-se de uma forma de ingresso diferenciada
nos Programas Auxílio Alimentação e Permanência. Tal ingresso ocorre em caráter
emergencial, com a dispensa de edital, mas mediante comprovação de vulnerabilidade
socioeconômica. O estudante recebe um auxílio financeiro no valor de R$ 400,00 por
um período de, aproximadamente, três meses.
Política nacional de assistência estudantil: contribuição para a permanência de alunos pobres... | 211
13 O Ônibus 9 a que se refere o estudante trata-se de uma linha ofertada pelo transporte
público municipal que isenta os estudantes da UFT do pagamento de tarifa. Referido
Ônibus liga o Campus de Palmas a uma estação de transporte no centro da cidade, que
faz a integração com outras linhas de ônibus. Trata-se de uma conquista do movimento
estudantil da UFT por meio do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade.
212 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
EU21 e EU22: [a bolsa contribui para custeio de gastos com] [...] alimen-
tação aos finais de semana, compra de medicamentos, xerox, água e
energia, transporte, aluguel.
EU2: Não sei, pois meus pais me ajudam um pouco. Porém, não compre-
endem que o valor da bolsa não é suficiente e não me ajudam quando
estou com a bolsa.
EU3: Sim, porém com dificuldades financeiras.
214 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Considerações finais
Neste capítulo, procuramos explicitar a compreensão que existe sobre a
política de assistência estudantil na UFT buscando apreender, da referida po-
lítica, os aspectos potencializadores e dificultadores acerca da permanência
216 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Referências
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218 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Introdução
2 Análises mais detalhadas sobre o objeto da pesquisa foram publicadas em outros arti-
gos e capítulos de livro que serão referenciados no decorrer deste texto.
Educação, pobreza e desigualdade social: das proposições formais aos questionamentos... | 223
6 Uma análise mais detalhada dos PNE consta em Garcia e Hillesheim (2017).
Educação, pobreza e desigualdade social: das proposições formais aos questionamentos... | 225
7 Apenas em uma passagem muito pontual, encontramos, nas DCN de 2013, a seguinte
afirmação: "A educação é, pois, processo e prática que se concretizam nas relações
sociais que transcendem o espaço e o tempo escolares, tendo em vista os diferentes
sujeitos que a demandam. Educação consiste, portanto, no processo de socialização
da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se transformam saberes, conhe-
cimentos e valores" (BRASIL, 2013, p. 16). O problema é que, numa análise mais ampla
226 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
das propostas constantes dessas mesmas diretrizes, essa concepção fica esvaziada na
medida em que as preocupações são canalizadas para a educação formal, escolar.
8 Uma análise mais detalhada sobre os documentos municipais encontra-se em Garcia,
Hillesheim e Krüger (2017a).
Educação, pobreza e desigualdade social: das proposições formais aos questionamentos... | 227
9 No PNE (2001-2010) foi afirmado que o financiamento da educação era concebido como
uma obrigação do Estado e não visto como um problema, pois se tratava de dar concre-
tude a um direito (BRASIL, 2001).
10 Esses percentuais, tendo em vista as medidas de ajustes fiscais e a promulgação da
Emenda Constitucional no 95, de 15 de dezembro de 2016, que prevê a fixação de teto
para os gastos públicos, certamente, não serão observados.
228 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
15 De acordo com o Censo Escolar de 2015, no estado Santa Catarina, o número de pro-
fessores/as efetivos/as era de 36.177 e de temporários/as era de 32.008 (307 na esfera
federal, 13.964 na esfera estadual e 18.670 na esfera municipal) (INEP, 2015).
16 Garcia (2012) propôs essa categorização quando analisou a pobreza a partir da perspec-
tiva social-democrata.
17 Em relação ao PBF, cabe destacar que o valor estabelecido para configurar uma pessoa
como pobre está aquém da linha de pobreza de $ 1,90, mais usada internacionalmente,
e muito mais longe do valor de $ 5,5, estabelecido pelo Banco Mundial para países de
nível médio-alto de desenvolvimento, como os da América Latina. O PBF considera
como extremamente pobres os que têm renda mensal per capita de até R$ 89,00 e
como pobres, R$178,00. Esses valores foram estabelecidos pelo Decreto no 9.396, de
30 de maio de 2018. Considerando a linha de pobreza de U$ 1,90 e o valor do dólar
234 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
em maio de 2018 (R$ 3,63), mês em que o Decreto foi publicado, teríamos que pobre é
quem tem uma renda mensal de até R$ 207. Ou seja, a linha de pobreza adotada pelo
governo federal em maio de 2018 estava R$ 29,00 abaixo do limite, já absurdo, de U$
1,90 e muito longe do valor de U$ 5,5, que não é tão menos absurdo.
Educação, pobreza e desigualdade social: das proposições formais aos questionamentos... | 235
suportar perdas com vistas a garantir uma melhor distribuição, algo sempre
tão propalado por diferentes governos. Sabemos que se a pobreza e a desi-
gualdade social diminuíram no lapso temporal definido pela pesquisa, pelo
menos estatisticamente, considerando as linhas de pobreza adotadas, foi
em razão de uma penalização da classe média do país.18
Se considerarmos as causas da pobreza constantes nos documentos
federais e estaduais, vemos que a mais destacada é a ausência de um pro-
cesso de desenvolvimento sustentável que pudesse garantir, como meta
prioritária, a empregabilidade. Nesse sentido, o estabelecimento de um
círculo virtuoso da economia era fundamental, como já assinalamos. Assim,
o processo de melhoria da economia, conforme defendia o governo fede-
ral, principalmente a partir do que é posto nos PPA 2004-2007 e 2008-2011,
dar-se-ia por meio da ampliação de um mercado de consumo de massa,
indispensável para que tal círculo virtuoso se desenvolvesse de forma contí-
nua e sustentável. Nesse caso, a solução da pobreza, em boa medida, está
ligada à garantia de emprego, que está sempre atrelada à ampliação da
escolaridade e à formação de uma "mão de obra" qualificada tecnicamente,
por isso a importância dada ao ensino técnico e tecnológico, principalmente
nos documentos do governo federal. Portanto, o emprego é tomado como
a forma mais efetiva para a saída da pobreza.
Nesse sentido, a perspectiva de que os usuários das políticas de as-
sistência social precisam ser inseridos no mercado de trabalho para que
possam romper com a "dependência" da proteção estatal está sempre
presente nos documentos analisados. Contudo, as proposições nesse sen-
tido desconsideram as condições objetivas de vida desses trabalhadores,
bem como o perfil deles, que não atende às necessidades do mercado de
trabalho, estabelecendo um descompasso entre as iniciativas e as possibi-
lidades de inserção. Também cabe novamente considerar que, mesmo os
18 Dados da Oxfam Brasil, publicados em 2017, no relatório "A distância que nos une: um
retrato das desigualdades brasileiras", mostram que, em 2017, o 1% mais rico da popu-
lação mundial possuía a mesma riqueza que os outros 99%, e apenas oito bilionários
possuíam o mesmo que a metade mais pobre da população no planeta. No Brasil, entre
1988 e 2015 ocorreu uma redução da parcela da população abaixo da linha da pobreza,
de 37% para menos de 10%. Ao mesmo tempo, a concentração de renda no topo se
manteve estável. No início de 2017, os seis maiores bilionários do país, juntos, possuíam
riqueza equivalente à da metade mais pobre da população (OXFAM, 2017).
236 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
20 Sobre a análise dos PPP, objetos da pesquisa, ver também Garcia, Hillesheim e Krüger
(2018).
238 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Considerações finais
A análise do conjunto de documentos que compuseram a amostra da
pesquisa permite-nos fazer algumas sínteses a respeito das concepções e
proposições relativas à educação, à pobreza e à desigualdade social.
Antes, contudo, cabe destacar o fato de os documentos, mais especi-
ficamente os do âmbito municipal, não cumprirem, efetivamente, a função
à qual se destinam, ou seja, de expressar de modo claro e detalhado as
propostas de governo. Entendemos que isso seja expressão da cultura
Educação, pobreza e desigualdade social: das proposições formais aos questionamentos... | 243
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10
Introdução
Sistema de
Informações do Indicadores da pesquisa
MDS
Quantidade de famílias inscritas no Cadastro Único para
Programas Sociais e com renda per capita familiar de até 1/2
salário mínimo.
Quantidade de famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família.
Valores de repasse do Programa Bolsa Família.
Características dos domicílios das famílias cadastradas no
Cadastro Único e das famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Data CAD Família.
Benefício médio mensal por família do Programa Bolsa Família.
Carvalho (2008) e Silva (2016) argumentam que Salvador possui três veto-
res de expansão urbana, que se constituíram a partir do seu centro histórico
colonial: a orla marítima norte, o “miolo” (centro geográfico) e o subúrbio
ferroviário. O primeiro vetor constitui-se na área nobre e valorizada da cida-
de, que concentra as melhores ofertas de serviços e benefícios e, portanto, é
o local de moradia por excelência da população com maior nível de renda. O
segundo vetor, designado de miolo, situado no centro da cidade, apresenta
menor disponibilidade de serviços e concentra os segmentos de menor ren-
da das classes médias e camadas populares. Por fim, o subúrbio ferroviário
é caracterizado pela carência de serviços e benefícios, sendo uma das áreas
mais problemáticas de Salvador em termos de infraestrutura urbana – é tam-
bém onde se concentra boa parte da população pobre da cidade.
Ao analisar a estrutura sócio-ocupacional de Salvador e sua Região Me-
tropolitana, Carvalho (2008) classifica sua população economicamente ativa
em quatro grupos ocupacionais: i) existe um grupo reduzido, com maior nível
de renda, composto dos grandes empresários locais, dirigentes dos setores
público e privado e também dos profissionais autônomos ou assalariados
de nível superior, e esse grupo concentra-se principalmente na Orla Atlân-
tica, área nobre com direitos urbanos mais consolidados; ii) tem-se também
os setores dos médios e pequenos empresários, juntamente a um número
grande de trabalhadores do setor de serviços e assalariados da indústria; iii)
há ainda, em menor proporção, os trabalhadores na agropecuária, que se
concentram nos municípios menos desenvolvidos da Região Metropolitana
de Salvador; iv) por fim, temos um contingente expressivo de trabalhadores
vivenciando situações de subemprego ou desemprego.
Em fevereiro de 2018, conforme aponta a Pesquisa de Emprego e Desem-
prego (PED),4 a taxa de desemprego na Região Metropolitana de Salvador
era de 25,5%, ou seja, 510 mil pessoas residentes em Salvador e sua Região
Metropolitana encontravam-se desempregadas. Já entre os ocupados do
setor privado, a pesquisa revela que, no período de janeiro/2017 a feverei-
ro/2018, houve uma redução de 3% no número de assalariados com carteira
assinada (ou seja, menos 22 mil empregos registrados em carteira de traba-
lho). Ao mesmo tempo, os dados da PED revelam que houve um aumento de
18,4% (mais de 18 mil pessoas) no contingente de trabalhadores sem registro
em carteira e de 24% no número de trabalhadores autônomos (BAHIA, 2018).
Ao analisar os indicadores de pobreza e indigência5 com base no Censo
de 2000, Carvalho (2008) afirma que os pobres e indigentes da cidade de Sal-
vador representam 30,9% da população. Segundo Oliveira (2017), em 2010,
na capital baiana, aproximadamente 27% das famílias (sobre)viviam com uma
renda mensal inferior a um salário mínimo. Essas famílias pobres estão locali-
zadas, fundamentalmente, nas áreas periféricas da cidade de Salvador, onde
o acesso a serviços e direitos urbanos é significativamente restrito.
No tocante às oportunidades educacionais em Salvador, destacamos
dois aspectos analisados por Carvalho (2008): i) o analfabetismo funcional é
baixo no centro de Salvador e na Orla Atlântica, porém, no vetor designado
pela autora como Miolo e nas franjas da cidade, a frequência do analfabetis-
mo funcional aumenta, chegando a atingir o índice de 30% em alguns bairros
mais populares, como Nordeste de Amaralina e Bairro da Paz; ii) embora a
frequência ao ensino fundamental esteja praticamente universalizada, ela é
menor nas favelas ou comunidades populares localizadas no Miolo e nas
franjas de Salvador.
Em relação às desigualdades intrametropolitanas, Carvalho (2008) de-
monstra que há uma grande diferenciação no atendimento educacional às
crianças, revelada por meio dos números relativos à distorção série-idade na
população de 7 a 14 anos,
de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e mais recentemente For-
taleza, constituindo o Sistema PED. O apoio financeiro e o reconhecimento institucional
da PED como parte integrante do Sistema Público de Emprego, por parte do Fundo
de Amparo do Trabalhador (FAT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foram
inestimáveis na consolidação deste novo sistema de produção estatística”. Para mais
informações, acesse o site <https://www.dieese.org.br/analiseped/ped.html>.
5 O indicador de pobreza e indigência agrupa aqueles com renda familiar per capita
abaixo de ¼ do salário mínimo (CARVALHO, 2008).
256 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Se, em Salvador, 26,96% das crianças, na faixa dos 7-14 anos, e 38,56%, na
faixa dos 10-14, apresentavam mais de um ano de atraso escolar, em 2000,
em Madre de Deus esses números correspondiam a 30,54% e 45,03%; em
Lauro de Freitas, a 32% e 46,48%; em Camaçari, a 32,28% e 46,75%; em
Simões Filho, a 32,89% e 47,97%; em Dias D’Ávila, a 33,53% e 48,61%;
em São Francisco do Conde, a 34,4% e 52,61%; em Candeias, a 35,69% e
49,23%; em Itaparica, a 36,32% e 53,5%; por fim, na situação mais desfa-
vorável, encontrava-se Vera Cruz, com taxas de, respectivamente, 40,98%
e 59,52%. E se 43,69% das crianças, entre 10-14 anos, tinham menos de
quatro anos de estudo em Salvador, no ano 2000, esse percentual se
elevava para 49,26% em São Francisco do Conde, 49,85% em Camaçari,
51,02% em Dias D’Ávila, 51,06% em Madre de Deus, 51,77% em Simões
Filho, 52,13% em Candeias, 52,38% em Lauro de Freitas, 55,17% em Vera
Cruz e 55,53% em Itaparica (CARVALHO, 2008, p. 125).
Já nas áreas nobres de Salvador, como Barra, Pituba, Graça, Jardim Api-
pema etc., a adequação entre série-idade é superior a 80% (CARVALHO,
2008).
Fonte: elaborada pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
258 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Fonte: elaborado pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
Gráfico 2 - Perfil das pessoas inscritas no Cadastro Único por cor/raça, Salvador, 2015.
Fonte: elaborado pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
Gráfico 3 - Perfil dos beneficiários do Programa Bolsa Família por raça, Salvador, 2015.
Fonte: elaborado pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
Fonte: elaborada pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
Limites e Possibilidades do Programa Bolsa Família: uma discussão sobre as condicionalidades... | 269
Fonte: elaborada pela equipe da pesquisa EPDS – UFBA/Faced – 2017, com base nos dados
do MDS.
Considerações finais
A pobreza no Brasil é fruto de uma história social e política marcada
por disputas, injustiças e desigualdades, assumindo contornos dramáticos
desde a escravidão, no período colonial. Após muitas lutas, algumas con-
quistas foram alcançadas, e, sem dúvida, o caminho trilhado permitiu que
houvesse, nos dias de hoje, maior visibilidade pública para o absurdo da
fome, da miséria, da extrema pobreza e até mesmo do papel do Estado nes-
sa (re)produção, o que rendeu a proposição de algumas políticas afirmativas
importantes, promotoras de avanços no terreno dos direitos humanos. Em
relação ao combate à pobreza, o PBF tem cumprido um papel notável em
um curto prazo: tirou muitas famílias do mapa da fome.
O PBF é alvo de muitas críticas, o que poderia ser positivo no sentido
de aprimorá-lo. No entanto, as mais comuns carregam consigo alocuções
conservadoras que apontam para o perigo de um paternalismo populista de
Estado, que estaria “dando o peixe ao invés de ensinar a pescar”, como diz o
dito popular, e assim produzindo acomodações por parte de seus beneficiá-
rios. Embora as condicionalidades atreladas a ele tenham a intenção de am-
pliar seu efeito imediatista de alívio da pobreza, pensada em termos mone-
tários, para que de fato venha a garantir o acesso aos direitos fundamentais
272 | Pobreza, Desigualdades e Educação - Volume II
Referências
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