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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 018.

681/2020-4

DECLARAÇÃO DE VOTO

Trata-se de denúncia, com pedido de medida cautelar, em razão de possíveis


irregularidades na decisão da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários (SNPTA) do
Ministério da Infraestrutura que indeferiu o pleito de prorrogação do Contrato de Arrendamento
DP/16.2000, firmado entre a Marimex Despachos, Transportes e Serviços Ltda. (arrendatária) e a
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), atual Autoridade Portuária de Santos S.A (SPA).
2. Em apertada síntese, o eminente Ministro Vital do Rêgo, relator dos presentes autos, está
propondo em sua minuta de acórdão:
a. conhecer da denúncia e considerá-la parcialmente procedente, confirmando-se os efeitos
da cautelar proferida anteriormente (subitem 9.1);
b. determinar à SNPTA que:
b.1. no prazo de 90 dias, adote as providências para prorrogar o Contrato DP/16.200, de
modo que seu término coincida com o término do Contrato DP/25.2000 (ferrovia atualmente operada
pela Portofer), a fim de minimizar a lacuna temporal de ociosidade da área e de evitar danos aos cofres
da SPA e da União (subitem 9.3.1);
b.2. havendo extinção antecipada do Contrato DP/25.2000, crie plano de transição de
forma a possibilitar que a desocupação da área do Contrato DP/16.2000 seja efetuada em consonância
com a manutenção da eficiência da atividade portuária e da segurança jurídica dos trabalhadores, poder
público e contratado (subitem 9.3.2); e
b.3. formalize no instrumento a ser celebrado junto à atual arrendatária a possibilidade de
acesso à área atualmente operada mediante o Contrato DP/16.2000, por qualquer empresa ou pessoa
autorizada pela SPA, para a realização dos estudos e projetos necessários à implantação da pera
ferroviária e do futuro terminal de fertilizante, se assim for necessário (subitem 9.3.3).
3. Mesmo reconhecendo a qualidade das análises contidas no voto do ilustre relator, peço
vênias para sugerir ajustes na redação dos subitens 9.1 e 9.3.1.
4. A alteração no subitem 9.1 destina-se a revogar a cautelar anteriormente concedida, uma
vez que a determinação proposta no subitem 9.3.1 dará tratamento à forma de minimizar a lacuna
temporal de ociosidade da área ocupada atualmente pela Marimex.
5. A alteração proposta no subitem 9.3.1 tem o propósito de deixar em aberto qual o
instrumento a ser utilizado para formalizar a continuidade do uso da área pelo atual arrendatário do
Contrato DP/16.2000 até, no máximo, o prazo de vigência do Contrato DP/25.2000, ainda que o
ministro relator tenha externado possíveis efeitos negativos da celebração de sucessivos contratos de
transição.
6. Desse modo, acolho, em essência, o voto do relator, trazendo contribuições específicas,
sobretudo a de não entrar na esfera de discricionariedade do gestor quanto à definição do instrumento
adequado para possibilitar a continuidade provisória da operação pela Marimex.
7. Adicionalmente, pondero a favor de uma redação do subitem 9.3.1 que possa evitar a
ociosidade temporária na área operada pela Marimex e, ao mesmo tempo, evitar possíveis impactos
negativos na mudança pretendida no referido porto, relacionadas principalmente à instalação da pera
ferroviária e do terminal de fertilizante, as quais, como bem mencionadas nos votos do relator e do
revisor, são de grande importância para aumentar a eficiência portuária, tanto de exportação dos grãos
quanto de importação de fertilizante.
8. Essa redação que proponho seria no sentido de permitir a operação provisória pela
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Marimex até que um dos seguintes eventos ocorram:


a. início das obras da pera ferroviária;
b. extinção do contrato da Portofer; ou
c. assinatura de contrato de novo terminal, oriundo de licitação de arrendamento para área.
9. Em suma, manifesto-me a favor dessa proposta para a redação do subitem 9.3.1, com a
inclusão desses eventos interruptivos, por considerar que tal ajuste:
a. atenderia o objetivo de manter o terminal operando até que, de fato, ele tenha que ser
desmobilizado, de modo que estaria aderente ao interesse público;
b. respeitaria a margem de discricionariedade do gestor, desde que dentro dos limites
legais; e
c. possibilitaria que a SNPTA, juntamente com a SPA, avaliasse os riscos das alternativas
disponíveis e adotasse a melhor delas para formalizar a continuidade provisória das operações pela
Marimex, sem que tal medida pudesse provocar atrasos na construção da pera ferroviária e instalação
do terminal de fertilizante.
10. A título exemplificativo, cito eventual risco, a ser sopesado pelo Poder Concedente, de
futuros entraves e atrasos nas alterações pretendidas no referido porto, caso a arrendatária busque,
novamente, por meios administrativos ou judiciais, permanecer operando na área atual após o término
do prazo limite, o que, consequentemente, prejudicaria a implementação de tais mudanças no porto.
11. Menciono esse risco porque há informações nos autos, juntadas na fase de comentários dos
gestores (peças 165 a 172), de que a SPA teria tentando diversos contatos com a Marimex para
negociar contrato de transição, sem obtenção de resposta positiva, tendo a arrendatária optado por
adotar providências judiciais para manter a sua operação por longo prazo.
12. Reproduzo, a seguir, trechos dos comentários trazidos aos autos pela SNPTA que trazem
parte dessas informações (peça 169, p. 9-10):
4.93. E por fim, em relação à previsão para a transição contratual da área atualmente
ocupada pela Marimex (e), é importante apontar que a Resolução Normativa nº 7/ANTAQ,
em seu art. 46, dispõe que a administração do porto, mediante prévia autorização da
ANTAQ, poderá pactuar a exploração de uma área ou instalação portuária com o objetivo
de promover a sua regularização temporária enquanto são ultimados os respectivos
procedimentos licitatórios, nas situações em que o interesse público do porto organizado
ou de sua região de influência requeira a manutenção da prestação de um serviço com
essa relevância, ou a continuidade de atividade regida por instrumento jurídico
rescindido, anulado ou encerrado.
4.94. De acordo com os estudos e o cronograma das obras da malha ferroviária, há a
previsão de que serão necessários 18 (dezoito) meses para que as obras da pera
ferroviária sejam iniciadas, tempo semelhante ao necessário para dar prosseguimento ao
procedimento de licitação do terminal de fertilizantes que se pretende instalar na área em
questão, podendo ser a estimativa de um tempo menor.
4.95. Assim, há o indicativo de que a Marimex poderia continuar explorando a área por
cerca de 18 (dezoito) meses mediante a assinatura de contratos de transição firmados
diretamente com a SPA.
4.96. Embora o contrato de transição só seja firmado por um período máximo de 180
(sento e oitenta) dias, é certo que podem ser celebrados sucessivos contratos até que a
condição de exploração transitória da área seja atestada.

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4.97. Importante apontar que a Interessada foi informada da possibilidade de celebrar


contrato de transição para manter a continuidade da exploração da área, oportunidade
em que informou o seu desinteresse em dar prosseguimento às tratavas administravas, eis
que levaria a questão para a análise do poder judiciário, conforme se verifica do
Documento SEI nº 2614641.
4.98. Essa possibilidade de operação transitória foi reconhecida no bojo da Nota Técnica
nº 29/2020/CGGC II/DGCOSNPTA/SNPTA (SEI nº 2373180), onde foi sugerido o
indeferimento do pleito de prorrogação antecipada, expansão de área e reequilíbrio
econômico-financeiro ao contrato de arrendamento nº DP/16.2000 operado pela Marimex,
ao dispor que “[...] inexistem óbices quanto à manutenção desta avença via contrato de
transição, até o momento de consecução da efetiva destinação final da área.”
4.99. Conforme já apontado, a pera ferroviária ocupará apenas parte da área atualmente
operada precariamente pela Marimex.
4.100. O restante da área (aproximadamente 90%) será destinado a um novo terminal de
granéis minerais (...)” (grifos acrescidos)
13. Desse modo, ao meu sentir, o acolhimento dessa proposta, com a inclusão dos eventos
interruptivos, considerando as informações fornecidas pelo gestor, amoldar-se-ia mais ao espírito da
Resolução TCU 315/2020, que dispõe sobre a elaboração de deliberações que contemplem medidas a
serem tomadas pelas unidades jurisdicionadas.
14. Isso porque a referida resolução, especialmente mediante os arts. 13 e 14, busca, sempre
que possível, uma construção participativa das deliberações deste Tribunal, levando-se em conta
informações dos gestores quanto às consequências práticas da implementação das medidas aventadas e
eventuais alternativas, com o propósito de aprimorar a qualidade das deliberações, tornando-as cada
vez mais viáveis, claras, objetivas e com maior potencial de culminar em resultados efetivos para a
administração pública ao menor custo possível.
15. Ante o exposto, com as mais respeitosas vênias ao eminente ministro relator, acompanho a
proposta de acórdão formulada pelo ministro revisor Walton Alencar Rodrigues, uma vez que tal
proposta está mais alinhada com as preocupações que externei nesta declaração de voto.

TCU, Sala das Sessões, em 5 de maio de 2021.

BENJAMIN ZYMLER
Ministro

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