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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
BACHARELADO EM ADMISTRAÇÃO PÚBLICA

IVANI RODRIGUES PANFERRO


TARCÍSIO JOSÉ FERREIRA

A CAPOEIRA NA ESCOLA: A LEI 10.639/2003 COMO POLÍTICA PÚBLICA


AFIRMATIVA

ÁGUAS LINDAS
2013
IVANI RODRIGUES PANFERRO
TARCÍSIO JOSÉ FERREIRA

A CAPOEIRA NA ESCOLA: A LEI 10.639/2003 COMO POLÍTICA PÚBLICA


AFIRMATIVA

Monografia apresentada ao curso de


Graduação em Administração Pública da
Universidade Estadual de Goiás (UEG),
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Administração Pública.

Orientador: Prof° Esp. Wagner Rodrigues


dos Santos

ÁGUAS LINDAS
2013
Monografia de autoria de Ivani Rodrigues Panferro e Tarcísio José Ferreira,
intitulada A CAPOEIRA NA ESCOLA: A LEI 10.639/2003 COMO POLÍTICA
PÚBLICA AFIRMATIVA, apresentada como requisito parcial de avaliação para a
obtenção do grau de Bacharel em Administração Pública, pela Universidade
Estadual de Goiás (UEG), em 13 de Dezembro de 2013, defendida e aprovada pela
banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________________
Prof. Esp. Wagner Rodrigues dos Santos
Orientador

______________________________________________
Prof. Esp. Neyde Maria Silva
Arguidor

_____________________________________________
Prof. Esp. Alberto Damião Lopes de Souza
Arguidor

ÁGUAS LINDAS
2013
DEDICATÓRIA

Dedico a minha família, especialmente a minha


família que deu-me toda força e coragem para
que eu continuasse nessa caminhada, a minha
mãe e meu pai que me ajudou a manter-me
firme todo esse tempo nessa dura caminhada,
todas as minhas irmãs, meu irmão e meu
cunhado, que me incentivaram a nunca parar
de estudar; dedico também a meu companheiro
de caminha Tarcísio José Ferreira que me
ajudou e incentivou-me a sempre seguir em
frente; e por fim dedico a todos os meus
amigos que me apoiaram, compreenderam e
ajudaram-me quando precisei e aos mestres
que compartilharam todo o conhecimento.

Ivani Rodrigues Panferro

Dedico a minha família, especialmente a minha


avó e meu avô que deu-me toda força e
coragem para que eu continuasse nessa
caminhada, a minha amada mãe que me
ajudou a manter-me firme todo esse tempo
nessa dura caminhada, todas as minhas tias e
meus tios, que me incentivaram a nunca parar
de estudar; dedico também a minha
companheira Ivani Rodrigues Panferro que
juntos fomos nessa caminhada até o final, e por
fim dedico a todos os meus amigos que me
apoiaram, compreenderam e ajudaram-me
quando precisei e aos mestres que
compartilharam todo o conhecimento.

Tarcísio José Ferreira


AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pelo apoio dado durante todo o decorrer do curso
para enfrentar todas as dificuldades que apareceram nesse período. A minha mãe
Zilda, minha avó Ana e meu avô José, que nunca deixaram de acreditar em mim e
que me incentivaram todo o tempo, fazendo com que eu chegasse ao final dessa
longa caminhada com êxito. As minhas Tias: Ivaneide, Liliane, Lêda, Ivani e
Elisabete; meus tios José Carlos e Vinícius e as minhas primas.

Aos professores que com muita paciência e sabedoria transmitiram-me todo o


conhecimento necessário para que eu chegasse até o final dessa caminhada e
tornar-me um profissional de excelência. Ao meu amigo Cleverson Domingos, José
JabreBaroud e todos aqueles que de alguma forma ajudaram para a conclusão
desse curso.

Aos meus amigos de classe da UEG, que nos momentos em que precisei da
colaboração, nunca deixaram de ajudar-me e foram compreensivos comigo,
principalmente na reta final. A Dulcinéia como Tutora, Professora, Coordenadora,
Secretária e todas as funções que desempenhou para nos ajudar

E Por fim, o mais importante, Deus, o Todo Poderoso, que a ele sempre pude
recorrer nas horas mais difíceis e pedi-lhe toda a sabedoria e entendimento para
findar esse curso.

Tarcísio José Ferreira


AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família pelo apoio dado durante todo o decorrer do curso
para enfrentar todas as dificuldades que apareceram nesse período. A minha mãe
Ana, e meu pai José, que nunca deixaram de acreditar em mim e que me
incentivaram todo o tempo, fazendo com que eu chegasse ao final dessa longa
caminhada com êxito. As minhas irmãs: Zilda, Ivaneide, Liliane, Lêda, e Elisabete;
meu irmão e meu cunhado José Carlos e Vinícius José.

Aos professores que com muita paciência e sabedoria transmitiram-me todo o


conhecimento necessário para que eu chegasse até o final dessa caminhada e
tornar-me um profissional de excelência. Aos meus amigos e todos aqueles que de
alguma forma ajudaram para a conclusão desse curso.

Aos meus amigos de classe da UEG, que nos momentos em que precisei da
colaboração, nunca deixaram de ajudar-me e foram compreensivos comigo,
principalmente na reta final. A Dulcinéia como Tutora, Professora, Coordenadora,
Secretária e todas as funções que desempenhou para nos ajudar

E Por fim, o mais importante, Deus, o Todo Poderoso, que a ele sempre pude
recorrer nas horas mais difíceis e pedi-lhe toda a sabedoria e entendimento para
findar esse curso.

Ivani Rodrigues Panferro


“A democracia... é uma
constituição agradável, anárquica
e variada, distribuidora de
igualdade indiferentemente a
iguais e a desiguais.”
Platão
RESUMO

PANFERRO, Ivani Rodrigues; FERREIRA, Tarcísio José. A capoeira na escola: a


lei 10.639/2003 como política pública afirmativa. 2013. 80 folhas. Monografia –
Bacharelado em Administração Pública, Unidade Universitária de Educação à
Distância, Universidade Estadual de Goiás, Cidade do polo presencial, 2013.

A capoeira por muito tempo foi marginalizada e criminalizada, contudo, ao passar do


tempo esta foi ganhado timidamente o seu espaço, e expandindo silenciosamente
até ganhar sua Certidão de Registro da Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural
Brasileiro, proferido em 2008. A prática da capoeiragem, como também é conhecida,
quando bem dirimida, pode trazer bons frutos e, esta, associada às práticas
assistenciais e as políticas públicas trazem modificações espantosas, quanto ao
resgate de crianças e adolescentes. Também nesse trabalho foram abordadas as
políticas públicas afirmativas que visam a afirmação de grupos minoritários e/ou em
desvantagens históricas, além de uma política educacional inclusiva e menos
preconceituosa a luz da Lei 10.639/2003. Os capítulos tratam basicamente da
história da capoeira, retratando desde o seu surgimento até a atualidade;as políticas
públicas sócio-assistencialistas e como política pública afirmativa e educacional.

Palavras-chave: Capoeira. Política Pública. Afirmativa. Assistenciais. Educacionais


ABSTRACT

Capoeira has long been marginalized and criminalized, however, the passage of time
this was tentatively won their space, and expanding silently to gain their Certificate of
Registration of Capoeira as a Brazilian Cultural Heritage, delivered in 2008. The
practice of capoeira, as it is also known, when properly resolved, can bring forth good
fruit, and this, associated care practices and public policies bring amazing changes,
as the rescue of children and adolescents. Also in this work affirmative public policies
aimed at the affirmation of minority and / or historical disadvantages groups were
addressed, as well as an inclusive and less judgmental light of Law 10.639/2003
educational policy. The chapters are basically the history of capoeira, portraying from
its inception until today, the social-welfare and affirmative as public education policy
and public policy.

Keywords: Capoeira. Public Policy. Affirmative. Relief. Educational


LISTA DE SIGLAS

BA – Bahia

CDC – Direito da Criança

CNSS – Conselho Nacional de Serviço Social

EC – Emenda Constitucional

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexual, Travesti, Transgênero e Transexual

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social

MinC – Ministério da Cultura

PEC – Proposta de Emenda à Constituição

PPA – Plano Plurianual

Prouni – Programa Universidade para Todos

s/d – Sem Data

SIC – Segundo Informações Cedidas

SP – São Paulo

SUAS – Sistema Único de Assistência Social


SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................... 11

2. Metodologia.............................................................................................. 13

3. Breve Histórico da Capoeira................................................................... 16

3.1 O Surgimento da Capoeira............................................................ 16

3.2 A Capoeira no Brasil República.................................................... 21

3.3 A Prática da Capoeira na Atualidade............................................ 26

4. As Políticas Públicas Sócio-Assistenciais............................................ 32

4.1 Políticas Públicas para Infância e Juventude................................ 39

5. Políticas Públicas Afirmativas e Educacionais..................................... 47

5.1 Conceito de Política Pública.......................................................... 48

5.2 Política Afirmativa.......................................................................... 53

5.3 A Capoeira na Escola.................................................................... 64

6. A Capoeira como Objeto de Inclusão Social......................................... 67

Considerações Finais.............................................................................. 72

Referências Bibliográficas.......................................................................... 75
11

Introdução

Apesar de ser um tema com uma escassez considerável de trabalhos


realizados, a capoeira chama a atenção para uma gama de conteúdos que este traz
em seu escopo e sua importância na cultura, esporte e ao longo da história,
inclusive, da formação do povo brasileiro. Desde os primórdios até a presente data,
há uma dificuldade na aceitação da capoeira por uma grande parte da população
brasileira, além de uma grande parte dos trabalhos utilizando a capoeira serem
executados nas comunidades carentes, porém, mesmo assim, esta está presente
em quase todos os países.

Por essa razão os profissionais de Administração Pública têm uma


importância fundamental no desenrolar das atividades correlacionadas à aplicação
da capoeira nos espaços escolares, assim como a manutenção de tais atividades,
avaliação e o ciclo de seu funcionamento, bem como as políticas públicas. Também
cabe ao Administrador Público avaliar se está dentro da legalidade, da legislação e
padrões. Assim torna-se atraente conhecer sobre essa ramificação do trabalho do
Administrador Público. Desse modo questiona-se: Qual a importância da prática
da capoeira nos espaços educacionais como política afirmativa e como parte
integradora da Lei 10.639/2003?

O presente estudo traz como foco principal os ditos de Silva e Heine (2008),
onde diz que, a capoeira também pode dar às pessoas um sentido de dignidade
para a vida, esperança e força para lutar e construir um futuro melhor para todos.
Além de inclusão a capoeira também traz consigo outros valores, entre eles o fato
de o indivíduo se perceber como sujeito de sua própria vida e não como objeto e a
agregar valores para a sua vida e levá-los ao seu contexto social. O cotidiano dos
treinos de capoeira gerou nos jovens cumplicidade e companheirismo acentuado. O
que se viu foi à agressividade, a hostilidade e a desconfiança transformarem-se em
amizade, respeito, compreensão, alegria e apoio mútuos. Crianças que tinham
dificuldades em sentar em uma roda para uma conversa ao final da aula entenderem
o sentido da disciplina e organização que grassam na realização de uma roda de
capoeira. (2008, p. 32). Assim, este é o olhar do assistente social que busca por
meio da capoeira alcançar as pessoas e trabalhar com elas seus direitos, sua
cidadania. Também apresenta como objetivo principal, mostrar a importância da
12

prática da capoeira no espaço escolar, como política afirmativa e parte integradora


da Lei 10.639/2003, afim de trazer para a discussão a aplicabilidade da lei nos
espaços educacionais.

Os objetivos específicos estão elencados em: Trazer o processo histórico da


capoeira; analisar as políticas sócio-assistenciais; avaliar a importância das políticas
públicas afirmativas nos espaços educacionais e apresentar a capoeira como objeto
de inclusão social.

A monografia está dividida em Introdução, cinco capítulo e considerações


finais; onde o primeiro capítulo traz um breve histórico da capoeira; o segundo as
políticas sócio-assistencias; o terceiro apresenta as políticas públicas afirmativas e
educacionais; o quarto mostra a capoeira como objeto de inclusão social e, o quinto,
que apresenta a metodologia apresentado ao trabalho.

A metodologia aqui desenvolvida foi a bibliográfica, tendo em vista o tempo


disposto para o desenvolvimento do trabalho. Foi utilizado num universo de
matérias, livros, artigo, sites, e uma gama de fontes de pesquisa em materiais
diversos para a construção de tal trabalho.

Assim, esta abordou aspectos diferentes de uma mesma linha de raciocínio, a


capoeira, dessa forma torna a presente pesquisa mais enriquecida e amplifica a
visão que se tem com relação à capoeira e a Administração Pública. De uma forma
geral, a capoeira está presente em vários locais, com isso, se faz necessário
estudos com uma abordagem maior para tal demanda e necessidade.
13

2. Metodologia

Como parte essencial dos trabalhos acadêmicos, a metodologia, aqui utilizada


será a bibliográfica, tendo em vista o agrupamento e a complementação de ideias
adquiridas. Para Santos (2002 p. 38), “a monografia sendo um texto analítico tem
como objeto o tema que visa o aprofundamento do estudo, a matéria-prima do
raciocínio são os dados obtidos por meio de estudos”. Michaliszyn e Tomasini (2006
p.67) acrescentam que “monografia é a exposição exaustiva de problema ou
assunto específico e investigado com base em critérios e método científico”.

Santos (2002) ainda diz que “a pesquisa científica pode ser caracterizada
como atividade intelectual intencional que visa responder às necessidades
humanas”. Percebe-se, neste trecho, qual a importância de uma pesquisa no meio
acadêmico e sua necessidade para a formação do indivíduo. Michaliszyn e Tomasini
(2006) consideram o projeto de pesquisa como “ponto de partida e elemento
fundamental em todo e qualquer processo de pesquisa científica”.

Diferentemente das pesquisas acadêmicas, a pesquisa de ponta tem uma


visão mais ampla sobre um mesmo assunto;

(...) o profissional de nível superior é naturalmente convidado a integrar-se


na pesquisa “de ponta”, a lidar com a problematizarão, a solução e a
resposta às necessidades que ainda perduram, seja porque simplesmente
não respondidas, seja porque não satisfatoriamente trabalhadas. Desta
forma, a pesquisa “de ponta” caracteriza-se como atividade típica do
indivíduo que, tendo dominado as respostas comuns, já incorporadas à
rotina de uma ciência ou profissão, parte em busca do novo, do ignorado,
com intenção e método. A pesquisa “de ponta” é tentativa de
negação/superação científica e existencial, a oferta de um dado novo para a
Humanidade (SIC). (SANTOS, 2002 p. 25).

A pesquisa bibliográfica trata da pesquisa desenvolvida a partir de referências


teóricas que apareçam em livros, artigos, documentos, etc. faz-se necessário
também a utilização de materiais não tratados analiticamente para fundamentar a
pesquisa (MICHALISZYN e TOMASINI, 2006). Esta pesquisa será a referência deste
trabalho, na pesquisa bibliográfica há uma valiosa fonte de informação além de
encabeçar qualquer trabalho científico que se inicie.

Para Oliveira (1999), “a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as


diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado
14

assunto ou fenômeno”. Este trabalho tem como objetivo maior servir de fonte de
referência para futuros trabalhos acadêmicos e, quem sabe, servir de fonte primária
para futuras pesquisas de campo. Santos (2000) reforça: “cada avanço científico é
um pequeno pedaço da história de uma necessidade humana, dividida e
reconhecida por meio dos diferentes nomes com que se identificam as diversas
ciências”. Depreende-se desse pensamento que a pesquisa científica para nascer
necessita de um pensamento inicial, de um estímulo, para que outros possam
desenvolver os pensamentos em todas as áreas possíveis.

A pesquisa bibliográfica, segundo Oliveira (2000, p. 119)

(...) possibilita o encontro de uma série de informações para comprovar a


existência ou não de uma determinada hipótese que é ou foi objeto de
estudo de outros pesquisadores e que, a partir dali, o pesquisador passa a
somar uma série de informações, com a finalidade de elaborar o seu projeto
de pesquisa.

Pesquisar, ler, informar-se são partes fundamentais de qualquer trabalho


científico/acadêmico de cunho bibliográfico. Um pesquisador que tem em mente
propor a iniciar um trabalho como este também tem que estar disposto a interar-se
com a leitura; Santos (2000) ainda complementa: “a pesquisa bibliográfica tem como
instrumento essencial a habilidade de leitura. Isto é, a capacidade de extrair
informações (...)”. Essa habilidade de leitura requer muita prática, um hábito constate
e uma contínua leitura, habilidade essa que é gradual. Santos (2000) também
acrescenta: “o objetivo maior de qualquer movimento intelectual é sempre atingir a
ponta, isto é, chegar ao estágio da oferta de respostas a uma necessidade humana.
Este estágio, porém, depende de passos intermediários (...)” [grifo nosso].

Segundo Marconi e Lakatos (2011 p. 269), o método qualitativo “preocupa-se


em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do
comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações,
hábitos, atitudes, tendências, de comportamento etc.” Para desenvolver aspectos
mais completos o método qualitativo se torna mais conveniente para tal trabalho
científico.

Gil (2009) Acrescenta que o conhecimento proporcionado pelas ciências


sociais não autoriza empreende um estudo sem que se possa previamente antecipar
o comportamento humano nas mais diversas situações. Dessa maneira torna-se
15

previsíveis atos e atitudes da natureza humana deixando-o vulnerável.

Neste trabalho será apenas de cunho bibliográfico por não dispor de tempo
suficiente para ir a campo, captar dados e tabular os mesmo, porém não menos
importante que outros métodos, o bibliográfico requer uma leitura, minuciosa e mais
detalhada. Para tal, foi dependido horas e horas para a obtenção de tal
consideração.
16

3. Breve histórico da capoeira

A capoeira, assim como o carnaval, samba e o futebol, faz parte do contíguo


dos grandes ícones da atualidade representativos da identidade cultural brasileira. A
capoeira é originária da experiência sociocultural de africanos e seus descendentes
no Brasil. Descreve em sua trajetória histórica a força da obstinação contra a
servidão e a síntese da expressão de diversas analogias étnicas de ascendência
africana.

Assim como relata Oliveira e Leal (2009, p. 44), “A história da capoeira foi
marcada por perseguições policiais, prisões, racismo, e outras formas de controle
social que os agentes dessa prática cultural experimentaram em suas relações com
o Estado Brasileiro”. Além disso, a história da capoeira como a história do Brasil é
cheia de controvérsias e falta de documentos comprobatórios de suas práticas, suas
ações, suas falhas e tantos outros que necessitam para se ter uma consistência
tanto documental como histórica.

Oliveira e Leal (2009, p. 18) faz uma síntese do capoeira e da sua


persistência como praticante dessa arte-luta:

O capoeira não tem lugar nesta galeria de heróis nacionais. Bêbado, vadio,
ocioso, mestiço, baderneiro, desordeiro, vicioso, vadio, era o paradigma da
escória urbana, pior que o preto africano ou que o índio puro. Mas como um
fantasma ele percorre em espectro as páginas do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, lugar privilegiado de construção de uma memória
nacional, em uma espécie de elogio invertido, onde a nobre classe dos
historiadores do Império usa os subterrâneos dos pés de páginas para dar
vazão aos seus “instintos mais primitivos.

Mas o capoeira nem sempre foi tratado dessa maneira como escória da
sociedade, ou como um vadio, ocioso como descrito dentre tantos adjetivos
degradantes, estes tiveram seus dias de glória e honra e deixaram suas marcas
como grandes homens e mulher cravadas na história do povo brasileiro.

3.1 O surgimento da capoeira

Muito se fala sobre o surgimento da capoeira, se ouve muito que esta prática
nasceu na África e fora trazida para o Brasil, outros autores dizem que esta nasceu
entre os escravos que aqui se encontravam ou, dos escravos que queriam fugir das
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senzalas e para isso necessitariam defender-se dos feitores. Porém, não há


documentos que diz onde esta prática surgiu, nasceu ou fora criada e, nem se sabe
ao certo se a capoeira nasceu na África ou no Brasil.

Para Moura (2009 p. 9), este diz que: “trazida pelos negros que vinham da
África, e talvez aqui aperfeiçoada, a capoeiragem, no dizer de Melo Moraes, era
nada mais nada menos do que um jogo de destreza (...)”. Daí pode-se perceber que
o autor já caracteriza a capoeira como prática africana e aperfeiçoada aqui no Brasil.

Esse mesmo autor se contradiz em suas palavras quando este diz:

Adolfo Morales de Los Rios Filho, em O Rio de Janeiro Imperial, livro


respaldado em acuradas pesquisas, que comprovam, os seus dotes de
notável historiador, enfeixa elucidativos dados de importância primordial
para o observador interessado em desvendar a gestão da capoeiragem no
Rio de Janeiro: “Primitivamente, capoeiro era o nome dos grandes cestos,
destinado a transporte de aves, fechados na parte superior por uma espécie
de cúpula feita com cipó entrelaçado. Por extensão, homens dos capoeiros
eram os respectivos carregadores; os escravos que transportavam à cabeça
esses cestos. Em pouco tempo,a denominação de capoeiros se estendeu a
todos os carregadores desse tipo de cestos, inclusive os trabalhadores na
estiva das embarcações, porquanto esse também, transportavam a granel,
com o auxílio de cestos, um sem número de produtos. Nos momentos de
folga, os negros estivadores – agilíssimos, gesticuladores e barulhentos –
procuravam demonstrar, uns aos outros, habilidades superiores às já
exibidas nas horas de serviços, e, assim, eram instintivamente criados
outros passos, trejeitos, brincadeiras e rudes cumprimentos. Os visados por
tais golpes tomavam atitudes e guardavam posições que os punham a salvo
de quedas e situações cômicas. E daí, do simulacro de uma luta, de
destreza e de defesa pessoal, genuinamente nacional [grifo nosso].
Nascida na antiga Peaçava – sopé do morro do Castelo – no descanso das
embarcações veleiras que ali existira, a brincadeira chamada dos capoeiros
degenerou em capoeira e, portanto , em capoeiragem – exercício, luta,
defesa dos capoeiras -, e se desenvolveu pelas praias, varadouros,
embarcadouros, mercados e trapiches. Desses lugares, ela se estendeu
pelos becos, travessas e largos próximo ao mar. Os corredores das casas
de sobrado constituíam, por sua vez, recintos muito apreciados para
ensaios e aprendizagem dos neófitos. (MOURA, 2009, p.12)

Nesse parágrafo abordado pelo autor acima citado, nos traz reflexões
consideráveis de onde realmente a capoeira surgiu e se podemos considerá-la como
objeto nacional. De fato, são elementos que requer uma atenção especial, como
também relatam Oliveira e Leal (2009, p. 11), “um tema, por isso, cheio de
armadilhas e riscos (inclusive morais) para quem deseja abordá-lo”. Faz-se
necessário ter um conhecimento relativamente aprofundado para desenvolver este
tema ou pode-se cometer o erro de colocar as opiniões particulares dentro de um
assunto dúbio como o surgimento da capoeira.
18

Segundo Conde (2007 p. 27) “As pesquisas sobre a história da capoeira


apresentam longos hiatos, sejam na história oral, seja na história documentada”.
Nessas palavras pode-se perceber que a prática da capoeiragem desde os
primórdios, uma parte de sua história fora suprimida, talvez por vergonha ou
simplesmente por os negros não terem valor significante para aquela época.

Segundo Vieira e Assunção (1998 apud Conde 2007), diversos mitos e


controvérsias são oriundos das versões sobre a história da capoeira que
circulam no interior de sua comunidade. Dentro desse processo os autores
classificam diferentes níveis de mitificações. Um deles é o mito construído
sem nenhuma referência a uma história documentada, nem proveniente dos
ensinamentos dos antigos mestres. Esses mitos geralmente são utilizados
para legitimar certas posições ideológicas, porém muito difíceis de traçar
sua origem.

Outra versão se mune de informações parciais e omissões fundamentais,


muito utilizadas nos enfrentamentos ideológicos acerca da história da
capoeira. Certas controvérsias se assemelham a uma discussão, entre dois
contendores, a base de monólogos, em que um lado ignora a argumentação
do outro.

A partir desse fragmento tem-se uma ideia de que uma parte das histórias,
contada sobre a capoeiragem, são oriundas de ficcionismo ideológico, a fim de
explicar algo desconhecido ou omitir algo indesejável, tanto a prática da omissão,
quanto invencionismo pode dificultar aspectos historiográficos da origem da
capoeira, porém, esses fragmentos também podem ser úteis para estudos
antropológicos do surgimento da capoeira.

Ainda Conde (2007 p. 27) diz que: “já a história baseada nos documentos
parece alongar o espaço e o tempo, al[em (SIC) de fragmentar a capoeira,
retratando-a como um grande quebra-cabeça no qual faltam diversas peças”.

Mais sabe-se que Rui Barbosa, Ministro da Fazendo no período de 1888,


mandou queimar todos os documentos que relatavam a compra e venda de
escravos, a fim de limpar a honra dos negros e a história da formação do Brasil.
Contudo, essa queima de arquivos importantes para a documentação da
historiografia do Brasil deixou uma lacuna imensa e relevante em muitos aspectos
que não atingiu somente a formação do povo brasileiro mais também diversas
culturas e povos.

Por esse motivo afirmam Oliveira e Leal (2009, p. 27), “A história da capoeira,
19

por muito tempo, teve como referencial de investigação os trabalhos de


memorialistas do século XIX e primeira metade do século XX, interessados nas
tradições populares de matrizes africanas”. Ou seja, muito se pensou que a origem
da capoeira fora africana; talvez seja africana ou, seja nacional.

Uma outra linha de pensamento apresentada por Moura (2009, p. 25) em


seus escritos, vai de encontro a outras apresentadas anteriormente pelo mesmo e
por outros autores aqui apresentado, onde este diz que os africanos, da raça
congolesa, de estatura elevada e pernas finas, foram exímios capoeiras de outrora.
A origem desse nome comporta duas interpretações diferentes: o fato de seus
jogadores, muitos deles escravos fugidos, habitarem as capoeiras então existentes
nas proximidades da antiga cidade do Rio de Janeiro. Ou, por analogia com os
movimentos das pernas, semelhantes ao movimento da foice roçando a capoeira.

Essa linha de pensamento também traz consigo uma pergunta intrigante, se a


capoeira é nacional ela nasceu na Bahia ou no Rio de Janeiro? Muitos documentos
e livros relatam que a capoeira nasceu no Rio de Janeiro e não na Bahia como se
pensa.

Moura (2009, p. 30) diz que a capoeiragem disseminada entre os congoleses


transportados para o Brasil, era uma dança guerreira. Foram os integrantes dessa
nação, introduzidos no Rio de janeiro [grifo nosso], que propagaram os cucumbís
nessa capital. Os escravos nativos do Congo, que foram trazidos para a Bahia,
Sergipe e Pernambuco, trouxeram para estes estados as congadas.

Essas controvérsias sobre de onde nasceu à capoeira é mais difícil de se


explicar do que se pensa, pois, foram trazidos muitos escravos de diferentes partes
do continente Africano da mesma forma que eles foram introduzidos no Brasil em
vários estados diferentes, fazendo assim com que suas práticas culturais fossem
arraigadas de forma lenta e gradativa na sociedade brasileira.

Mas, Conde (2007, p. 27) contradiz os ditos de Mora dizendo que “(...) sua
origem sempre retorna à Bahia, e o seu destino final é Salvador”. Como se pode ver
é um jogo de contradições que, infelizmente está longe de se chegar ao fim; mas
Oliveira e Leal (2009, p. 41) resume bem o impasse de muitos autores dizendo:
20

“Não escapou aos historiadores identificar em suas pesquisas os capoeiras


relacionados à criminalidade das ruas, vinculado à vagabundagem, às
práticas de capoeiragem política nas diferentes sociedades. Identificaram-se
também, nestes estudos, os capoeiras manifestando identificações culturais
diferenciadas. No Rio de Janeiro, o capoeira se confundia com o malandro,
tipo social do samba carioca. Em Belém do Pará, os capoeiras se
confundiam com os não menos valentes mestres do Boi-Bumbá. Em
Salvador, se destacava o universo da religião afro-brasileira, encontrando
em muitos capoeiras seus Ogãs de sala e obedientes filhos de santo. Pois,
foi como consequência dessa experiência histórica que a capoeira se tornou
símbolo de nacionalidade, juntamente com outras manifestações da cultura
afro-brasileira, a exemplo do samba e do carnaval. E assim se tem
constituído no Brasil uma historiografia para capoeira.”

A esse respeito, Conde (2007, p. 28) ressalta o seguinte: “Alguns livros sobre
a capoeira fazem uma certa mixórdia histórica, apresentando um aspecto evolutivo
da cultura da capoeira, unindo a história oral a documentos históricos”. Lembrando
que na história oral há uma perda substancial e relevante dos fatos e na
documentada há lacunas imensas por consequência dos atos políticos da época.

Rosa (2009) sintetiza a prática da capoeiragem dizendo:

Depois que os portugueses tomaram posse do país, trouxeram da África


muitos negros para trabalhar como escravos. Eles trouxeram suas músicas,
suas danças, suas línguas, sua religião e muitos outros costumes. Esses
costumes se misturaram com os dos índios que aqui moravam e com os dos
portugueses. Passou muito tempo. Vários dos costumes dos negros viraram
partes importantes da cultura do país, mas muita gente não se lembra de
que eles foram trazidos pelos escravos.

Consentindo com o citado acima, pode-se dizer que a capoeira é brasileira,


trazida pelos escravos como forma de dança ou ritos religiosos e transformada no
Brasil em uma luta/dança guerreira que, fora incorporada a nossa cultura/costumes
e assim desenvolvida e transformada ao passar dos anos e das necessidades de
seus praticantes. Apesar de não ter nenhum documento comprobatório do
surgimento da capoeira, sabe-se que ela é originária do Brasil e talvez o único
documento, ou o mais antigo que se tenha sobre essa prática é a gravura de
Rugendas na obra Voyage Pittoresque Dans Le Brésil1 (1821 – 1825), essa gravura
recebe o nome de Danse de la Guerre2.

A capoeira mais tarde no Brasil República, ganhou aspectos criminosos e sua


prática fora abolida pelas autoridades, onde havia lavrado um documento que

1
Viagem Pitoresca Através do Brasil
2
Dança da Guerra
21

especificava a prática da capoeiragem como crime. Além desses feitos, a capoeira


passou a ser praticada por criminosos, e seu objetivo já não era mais o mesmo de
outrora, agora viam o capoeira como inimigo da sociedade e delituoso; estes eram
utilizados por políticos como capangas e cabos eleitorais, e os praticantes passaram
a rivalidade entre eles e a formação de maltas.

3.2 A capoeira no Brasil República

A capoeira no Brasil República ganha aspectos divergentes da capoeira do


Brasil Império, onde esta prática já modificada e aperfeiçoada ganha traços próprios,
de malandragem e sua pratica, na maioria das vezes, são para fins delituosos.
Nascem assim as maltas de capoeiras, as rivalidades e ao mesmo tempo a difusão
da mesma, chegando a ser praticada não mais por negros, mais por grandes
personalidades da sociedade brasileira da época.

Segundo Soares (2001 apud Conde 2007 p. 32), “Ao longo do século XIX, tal
virtualidade acabou por se transformar em campo de ação: a capoeira passou a ser
vislumbrada apenas como uma luta perigosa que transformava o corpo em uma
potente arma de desferir golpes mortais, principalmente com a cabeça e com os
pés”. Pode-se perceber que a capoeira não mais tem seus elementos iniciais e sim
ganha a malícia das ruas passando a ser temida.

Os capoeiristas também ganham aspectos próprios e sociais além de serem


estereotipados pela sociedade da época como descreve a seguir:

Com efeito, a expansão da cultura do jogo da capoeira e a eficácia de sua


luta, associadas ao olhar das instituições repressoras, acabaram por
permitir à capoeira forjar um tipo social, “o capoeira”, que se constituiu de
modo singular através da (re)significação da vestimenta, do andar, da
postura corporal e da conduta ética, colaborando desta maneira, com a
“descoisificação” de sua condição de escravo (CONDE, 2007, p. 33).

Essa mesma descrição é abordada por outros autores que descrevem o


capoeira como Conde, enfatizando ainda que este ande sempre acompanhado com
sua navalha ou cacete alem do seu chapéu.

De acordo com o Código Penal de 1890, esse que teve a capoeira em um de


seus artigos como prática criminosa, descreve essa prática como:
22

(...) exercício de agilidade e destreza corporal feitos em ruas e praças


públicas e, de modo mais específico, em andar em correrias, com armas ou
instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto
ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor ou
3
algum mal . (OLIVEIRA, LEAL 2009, p.151).

No artigo citado acima, foram encontrados muitos relatos e casos que


se enquadraram neste, porém, de acordo com Oliveira e Leal (2009), o artigo 402 do
Código Penal, que tratava da criminalização da capoeira, na Bahia, não foi
encontrado, até o momento, nenhum caso que nele se enquadrasse. Capadócio,
valentões, bambas, navalhistas, entre outros, podem ser observado como
referências produzidas pelas visões dos diversos grupos sociais sobre a cultura da
capoeiragem, nas ruas de Salvador, reconheceu os capoeiristas como valentes e
desordeiros.

Contudo, vale ressaltar que além do artigo 402, os artigos 403 e 404 também
tratavam-se sobre a criminalização da prática da capoeiragem no Brasil.

Para Moura (2009, p. 51), em seu trabalho, relata que “exímios cultivadores
da capoeiragem, autênticos campeões, os mestiços concomitantemente também
contribuíram para sua desvirtuação, pois foram os responsáveis pela introdução de
armas na capoeira, o que não se registrava nas suas primitivas manifestações”.
Esses mestiços como eram chamados os capoeiras, eram os filhos dos negros que
outrora foram escravos, estes, já com um porte físico mais desenvolvido e com
agilidade superior ao dos seus mestres; essa herança genética se deu, talvez, pela
miscigenação da população.

Mas nem todos os capoeiristas eram vagabundos ou vadios, ainda o autor


(2009) diz “o capoeira que se prezava tinha ofício ou emprego, vestia com apuro e,
se defendia uma causa, como aconteceu com a do abolicionismo, não o fazia como
mercenário”. Assim, pode-se dizer que as maltas eram formadas basicamente por
sua maioria de mestiços e capoeiristas mais novos, não excluído os mais velhos.

Oliveira e Leal (2009), dizem que a capoeira ganhou esse aspecto criminoso
por ser:

3
BRASIl. Decretos do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil. Décimo
fascículo de 01 a 301 de outubro de 1890, capítulo XIII. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1890. p.
2734-2735. Arquivo Público do Estado do Pará.
23

Uma história que trata de certos indivíduos que estariam sendo apontados
como marginais em determinado momento – portanto, excluídos da
sociedade devido às suas qualificações “negativas” – e que seriam
“assimilados” em outra ocasião, graças aos benefícios que poderiam trazer
à mesma sociedade ou a grupos particulares.

E continua suas palavras dizendo que “poucas vezes ela foi compreendida
como uma prática cultural pertinente à sociedade brasileira”. E que diz que a
criminalização da capoeira no ano de 1890, “tratava-se de uma criminalização
política tanto quanto social”. Nas palavras do autor, subentende que o Estado queria
o embranquecimento da cultura brasileira e a supressão da cultura africana. Assim,
o único meio de imobilizá-los era criminalizando-os.

Porém, nem só os negros da época praticaram a capoeiragem, grandes


nomes desse período foram considerados exímios capoeiristas, como nos revela
Moura (2009, p. 72). Nessa época alguns vultos salientes na política, no magistério,
nas forças armadas, também praticavam esportivamente a capoeiragem, como
Duque Estrada Teixeira, o capitão Ataliba Nogueira, os tenentes Lapa e Leite
Ribeiro, Antonico Sampaio, aspirante da Marinha, e o grande diplomata, José Maria
da Silva Paranhos Filho, Barão do Rio Branco.

Conde (2007, p. 33), enumera e descreve as categorias de praticantes da


capoeiragem: A capoeiragem era apresentada por três tipos básicos de
praticantes: o “aprendiz”, formado por todos os iniciantes, que abrangia um
universo diversificado de faixa etária, de etnia e de classe social, e se
caracterizava principalmente pelos “moleques de rua”, que aprendiam com
um capoeira mais experiente para, mais tarde, integrarem uma malta; o
“amador”, o capoeira que dominava a técnica da capoeira, mas não
pertencia a nenhuma malta, utilizando-a apenas de forma independente,
sendo este grupo formado, entre outros, por jovens da elite social;
finalmente o “profissional”, que, tendo passado pelo processo de
aprendizagem e de posso da navalha e do chapéu, partia para a realização
da sua primeira “missão” como integrante de uma malta.

Outro fato intrigante são os relatos de Oliveira e Leal (2009, p. 118), onde
dizem “São poucos os registros de memória que identificam mulheres capoeiras
neste período. Há uma vasta documentação que identifica mulheres portadoras de
características semelhantes a Salomé4, no que se refere à sua valentia; talvez
muitos desses casos se referissem a mulheres capoeiras”. Confrontando as palavras

4
Salomé, que segundo o Mestre Antenilo, era o nome de uma mulher formosa por freqüentar rodas
de capoeira. Ao lembrar da capoeiragem das décadas de 1920 e 1930, afirmava que Salomé
“cantava no samba e jogava capoeira”. O mestre era enfático ao salientar na bravura da valente
mulher: “você encostava, ela passava a rasteira e te botava de pernas para o ar. Entrava no Batuque
e lhe derrubava duas três, vezes. E era valente!” (Oliveira e Leal; 2009, p. 117/118).
24

de Oliveira e Leal, Moura (2009, p. 150), “acrescenta também, que as mulheres


continuavam alheias, não cultivavam a capoeiragem”. Faz-se necessário levar em
consideração que as pesquisas de Moura, são relacionadas ao Rio de Janeiro, e as
de Oliveira e Leal tem como foco o estado do Pará, porém, um não isenta o outro
nas suas palavras e pesquisas realizadas sobre o mesmo tema.

Também como descreve os autores supracitados, que “é no norte do Brasil


que as evidências mais antigas sobre a participação da mulher na arte-luta são mais
conhecidas até o momento”.

No período Republicano do Brasil, poucos nomes do gênero femininos


apareceram como praticantes da capoeiragem, mais como citado anteriormente por
Moura, alguns relatos de mulheres que poderiam ser praticantes da capoeira. Mas,
alguns nomes podem ser citados como mulheres capoeiras do período republicano
além da citada Salomé, como Jerônima, em Belém do Pará, ganhando destaque
como “Que mulher capoeira!” nas páginas do jornal local; Adelaide Presepeira, uma
desordeira; Anna Angélica, a endiabrada, valentona; Maria Isabel e Zeferina de tal,
ambas conhecidas por empunhar a navalha; dentre outras como Almerinda,
Menininha, Chica, que compunham uma malta, Antônia de tal, apelidada Cattú.

A não identificação de mulheres capoeiras na documentação policial e


jornalística não descarta a possibilidade de sua existência. Ao contrário,
uma vez identificada sua presença no universo social da capoeiragem, a
partir das referidas fontes, ficam reforçadas as informações deixadas pela
tradição oral nos registros de memória, a exemplo das cantigas e dos
manuscritos dos mestres capoeiras. (OLIVEIRA E LEAL; 2009, p.135).

As mulheres não estavam isentas da prática da capoeira ou das páginas


policiais, talvez apenas camufladas ou maquiadas como desordeiras e outros
adjetivos. “A convivência com os capoeiras poderia representar para elas a própria
aprendizagem das habilidades com o corpo e das utilizações de instrumentos de
capoeiragem. Era desse modo que se formava a mulher capoeira, especialmente no
uso que fazia do próprio corpo”.

Os capoeiras não tiveram somente papéis de mercenários, bandidos e


desordeiros, também tiveram a sua parcela de participação na construção da
autonomia do Brasil enquanto país, como lembra Conde (2007, p. 42 apudQuerino;
1955, p. 78), “A Guerra do Paraguai, além de reformular a estrutura do exército
25

brasileiro, ofereceu à capoeira uma trincheira social. Grande parte da infantaria


convocada para a Guerra era formada por libertos, dentre os quais muitos eram
capoeiras”. Moura (2009) reforça esses ditos e acrescenta que muitos desses
soldados não iam a guerra por vontade própria; e diz que a linha de frente de
batalha era formada por negros e grande parte praticantes da capoeira o que deu
vantagem na luta corporal.

Além da Guerra do Paraguai, também existiu exímios capoeira de honrosa


valentia e digníssima postura, como a do paraense Francisco Xavier da Veiga
Cabral, conhecido como Cabralzinho, teve uma participação ativa e destacada na
história política e social paraense. (OLIEIRA; LEAL, 2009). E outros heróis como
descreve Moura (2009, p. 66).

Continuando a discorrer sobre o assunto enfocado, escreve Coelho Neto: “A


tais heróis sucederam outros: Augusto Melo, o cabeça de ferro; Zé Caetano,
Braga Doutor, Caixeirinho, Ali Babá e, sobre todos o mais valente, Plácido
de Abreu, poeta, comediógrafo e jornalista, amigo de Lopes Trovão,
companheiro de Pardal Mallet e Bilac no O Combate, que morreu, com
heroicidade de amouco, fuzilado no túnel de Copacabana, e só não
dispersou a treda escolta, apesar de enfraquecido, como se achava, com os
longos tratos na prisão, porque recebeu a descarga pelas costas, quando
caminhava na treva, fiado na palavra de um oficial de nome romano”.

Essa arte marcial brasileira como fora conhecida, também soube sobressair
de episódios constrangedores e com pomposas congratulações por seus feitos e por
demonstrar a sua superioridade por outra arte marcial estrangeira, como por
exemplo, o combate entre Ciríaco, exímio capoeira e SadaMiako, lutador de jiu-jítsu
e nipônico. Depois de derrotar o nipônico com o rabo-de-arraia, Ciríaco ganhou fama
nas páginas dos jornais e nas ruas. Mas, Ciríaco não foi o primeiro a ganhar de um
nipônico, há relatos anterior de um marinheiro que em terras nipônicas, combatera,
no cais, alguns nipônicos e sozinho utilizando do rabo-de-arraia e a rasteira vencera
os mesmos.

Porém, nem sempre houveram dias bons para os capoeiras, onde estes
também foram perseguidos, presos e condenados como diz Moura:

O embate de Ciríaco da Silva com SadaMiako contribuiu decisivamente


para a credibilidade, a difusão, o renascimento da capoeiragem, que
atravessava uma fase de declínio, de ostracismo, desde os tempos da
ofensiva desencadeada pelo Dr. João Batista de Sampaio Ferraz, o primeiro
Chefe de Polícia do Rio de Janeiro republicano. (2009, p. 127).
26

João Batista de Sampaio Ferraz, também conhecido como Sampaio Ferraz,


fora um perseguidor de praticantes da capoeiragem e, também conhecido como o
homem com pôs ordem na cidade do Rio de Janeiro.

Dunshee de Abranches, nas Atas e Atos do Governo Provisório, informa


que o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, foi o mentor das ações
coercitivas contra os capoeiras, que eram os responsáveis pelos tumultos e
agressões registrados nas festas populares, realizadas na cidade do Rio de
Janeiro. Ficou combinado que a desolada, inóspita ilha de Fernando de
Noronha, seria o local do desterro desses elementos que ameaçavam a
segurança dos transeuntes. (MOURA; 2009, p. 89).

Contudo, a capoeira ao longo dos anos veio sofrendo mudanças, depois de


perseguidos, usados como capangas e assassinos, presos e maltratados, muitos
capoeiristas voltaram com pensamentos distintos a sociedade, a fim de serem
aceitos novamente, porem, dessa vez com honradez e graças a essas pequenas
mudanças, a prática da capoeiragem não chegou ao fim, e assim nasceram as
academias e estes passaram a praticá-las nestas.

3.3 A prática da capoeira na atualidade

A capoeira já na década de 1930, ganha novos aspectos e sai da


informalidade, passando para outro patamar da sociedade, recebendo assim uma
credibilidade que outrora fora tirada e marginalizada. Essa capoeira fora reformulada
e remodelada, recendo uma nova caricatura e uma nova finalidade em sua prática,
assim como a seus praticantes.

Oliveira e Leal (2009) descrevem que na década de 1930, Mestre Bimba5 e


Mestre Pastinha6 reinventam a capoeira, reordenando o seu lugar na ordem social,
tirando-a do crime para o campo da educação física, antiga reivindicação de parte

5
Manoel dos Reis Machado (1900-1974), capoeirista baiano conhecido por mestre Bimba, foi
responsável pela criação do Centro de Cultura Física e Regional da Bahia, onde ensinava a capoeira.
Protagonista de uma das mais importantes transformações sofridas pela prática da capoeira nas
décadas de 1930 e 1940. Representa nos dias de hoje um dos mais significativos símbolos da cultura
afro-brasileira. (OLIVEIRA; LEAL. 2009, p. 22).

6
Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889. No ano de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira
Angola, situado no Largo do Pelourinho. Pastinha trabalhou bastante em prol da Capoeira,
representando o Brasil e a Arte Negra em vários países. Em Abril de 1981, participou da última roda
de Capoeira de sua vida. Numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, Mestre Pastinha se despede
desta vida aos 92 anos, cego e paralítico, vítima de uma parada cardíaca fatal. (CARNEIRO; 2012).
27

da primeira geração republicana. Essa mudança fora crucial para a (re) aceitação da
capoeira novamente na sociedade.

Conde (2007, p. 55) diz que:

O surgimento de Mestre Bimba foi, talvez, um fator de aceleração deste


processo. Ao incorporar à capoeira elementos do antigo Batuque, que lutas
asiáticas (visando “resgatar” a sua potencialidade de arte marcial), bem
como ao criar novos andamentos rítmicos para o jogo e um método de
ensino sistematizado, com níveis de graduação, Bimba foi referenciado
como a antítese do que era “tradicional” à capoeira.
O mestre, além de transferir a prática da capoeira da rua para uma
academia (recinto fechado), criou um método que sistematizou e
fragmentou o seu ensino, ou seja, formalizou a transmissão do saber da
capoeira, entre outras, com as populares “seqüências”.

Nesse pequeno relato, pode-se identificar o ressurgimento da capoeira, hoje


conhecida como capoeira regional, ou capoeira de Mestre Bimba. Além de ser um
grande precursor da capoeira, Mestre bimba conseguiu levar a capoeira das ruas
para as academias e transformá-la em um elemento da educação física, assim,
regulamentando-a e transmitindo-a a uma nova geração de capoeiristas que nascia
naquele momento.

Moura (2009, p. 149-150) traz um relato de quão perseguida e desprezada


fora a capoeira no âmbito nacional, pouco antes de sua ascensão.

Gomes Carmo prossegue, destacando que a capoeiragem, no seu tempo,


era cultivada mormente nas camadas inferiores do povo carioca, e aproveita
o ensejo, para fazer um apelo a fim de que a capoeiragem fosse
disseminada, incorporada às classes mais elevadas da comunidade
brasileira, insistindo que ainda ninguém em condições de valorizar, de
impulsionar a capoeiragem a este estágio de primazia, tinha aparecido para
tomar essa iniciativa, projetando um jogo oriundo da raça e do meio,
característico das terras brasileiras.
(...) a capoeiragem deveria ser ministrada nos estabelecimentos de ensino,
nas frotas brasileiras e nos quartéis, tecendo comentários sobre os
resultados positivos desta ginástica no corpo humano (...)
O consagrado escritor patrício, recorda que em 1910, juntamente com
Germano Hasslocher e Luís Murat, esteve propenso em remeter a Câmara
dos Deputados, um projeto relativo à obrigatoriedade da inclusão da
capoeiragem nos cursos ministrados nos quartéis e nos institutos
governamentais. Desistiu, porém, desta iniciativa, por que constatou que
não era receptivas para elementos que a consideravam ridícula, pelo fato de
não ser estrangeira, ser nacional.

A partir desse relato, percebe-se que foram necessários mais 20 anos para
que a capoeiragem tivesse seu espaço tímido e sufocado, como um pontapé inicial
para a sua expansão e aceitação. Conde (2007) acrescenta “um ponto sobre os
28

projetos de Bimba que parece consensual entre seus alunos è a sua tentativa de
ampliar o universo da capoeira. Possibilitar que a prática rompessem barreiras
sociais e étnicas, no que parece ter obtido pleno sucesso”.

Mestre Bimba buscou arquitetar uma capoeira que pudesse ser introduzida
socialmente, fugindo do estigma marginal, e para isso usou subsídios ligados à
influência do positivismo na educação física brasileira, a saber: o treinamento
sistematizado, a fragmentação e uniformização da técnica e uma plástica mais
retilínea. Tudo isto acompanhando a uma maior preocupação com a eficiência e
eficácia da luta. De forma análoga, Mestre Pastinha buscou edificar uma capoeira
que pudesse ser inserida socialmente, que fosse desmarginalizada, e para isso
também a institucionalizou, tirando a sua prática das ruas e criando os centros
esportivos, como sistematização do ensino, uniformes – como os abadás, camisas e
cordas -, estatutos, porém, amparada em um discurso de valorização dos antigos
fundamentos e da tradição da capoeira. Onde nasce a capoeira Regional, do Mestre
Bimba e a capoeira Angola, do Mestre Pastinhas.

Conde (2007, p. 59-60) acrescenta:

Os alunos de Pastinha que se tornaram mestres fortaleceram esses


aspectos, buscando ampliar a penetração da Capoeira Angola. Dessa
maneira surge uma “convergência com segmentos do crescente Movimento
Negro, interessado no resgate das tradições afro-brasileiras como estratégia
afirmativa. A prática de capoeira passou a ser considerada então um veículo
adequado para a conscientização étnica e social” (Assunção e Vieira, 1998:
p.106). A Capoeira Angola também passa a ter a sua imagem aderida a
idéia de resistência à cultura de massa, homogeneizante, de fácil
assimilação e descartável. A “tradição” e “pureza” da capoeira Angola a
partir dos anos 1970 começa a encontrar um nicho na contra cultura.

A Capoeira Angola traz consigo elementos da negritude, e resistência,


resgatando elementos como as ladainhas, o lamento, a capoeira rasteira, as
chamadas de angola, e outros elementos que, hoje, ainda são utilizados em respeito
e memória dos negros, que para aqui foram trazidos, assim como, a memória do seu
criador, Mestre Pastinha.

Esta mesma capoeira que fora perseguida, reerguida e, recriada também


ganhou seu espaço nas páginas de livros, revistas, periódicos e tantos outros meios
de comunicação, mais, o que mais se sobressaiu foram nas páginas das literaturas
onde este ganhou várias facetas e personagens diversificados.
29

Oliveira e Leal (2009, p. 48), destacam alguns autores que abordavam o tema
capoeiragem: “(...) (destacam-se nesse aspecto os trabalhos de Arthur Ramos,
Edson Carneiro e Gilberto Freyre). Posteriormente, a capoeira também seria
resgatada como cultura nacional, a partir das obras de Jorge Amado, Carybé e
Pierre Verger”. Pode-se perceber que a capoeira já estaria conseguindo o seu
espaço na literatura e consequentemente como cultura nacional, perdendo assim, o
título de marginalização.

O capoeira, como personagem, também ganhou seu espaço nas páginas


literárias, destacando-se como “Firmo, o famoso capoeira de O cortiço, de Aluisio de
Azevedo, celebrizou nacionalmente as características do capoeira carioca do final do
século XIX. (OLIVEIRA; LEAL. 2009, p. 98)”. Além de “o cortiço” também houveram
outras grandes obras que apresentavam a presença da capoeiragem sendo ela
exposta ou velada, “a obra, Batuque, do poeta Bruno de Menezes, cuja evidência de
africanidade revela múltiplas características de ação capoeiral no poema Pai João.
(OLIVEIRA; LEAL. 2009, p. 100)”.

Depois de muito lutar, a capoeira, assim como, o capoeira, ganhou o seu


espaço na legalidade definitivamente assim como disse Oliveira e Leal (2009), a
capoeira faz pouco tempo abandonou os pés de páginas dos compêndios mais
importantes da história nacional para adquirir vida própria, tornando-se ela mesma
tema de intensos trabalhos, que desvelam planos e horizontes antes absolutamente
desconhecidos da nossa historiografia. Ainda o autor relata como tal prática saiu da
informalidade e passou a ser a patrimônio cultural do Brasil:

(...) ela é uma rica expressão da cultura afro-brasileira, tanto no Brasil como
no exterior. A maior prova disso foi o registro da capoeira, em 2008, como
bem da cultura imaterial do Brasil, por indicação do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, órgão do Ministério da Cultura (IPHAN/MinC).
Seu registro foi votado no dia 15 de julho de 2008, em Salvador, capital da
Bahia, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN, conselho
este constituído por 22 representantes de entidades e da sociedade civil, e
que tem o poder de deliberar a respeito dos registros e tombamentos do
7
patrimônio cultural brasileiro . O registro possibilita o desenvolvimento de
medidas governamentais de suporte à comunidade da capoeira, a exemplo
de um plano de previdência social para os velhos mestres da capoeiragem;
programas de incentivo para o desenvolvimento de políticas pelos próprios

7
As informações sobre a cerimônia de tombamento da capoeira, ocorrida em salvador, BA, tem como
fonte as notícias veiculadas na imprensa nacional e local, a exemplo dos jornais Folha de São Paulo
(SP), A Tarde (BA) e Correio da Bahia (BA), assim como o site oficial do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
30

grupos de capoeiras com o auxílio do Estado. Além disso, há do ponto de


vista de uma política estrutural para capoeira, a intenção do IPHAN, por
consequência do tombamento, de criar um Centro Nacional de Referência
da Capoeira.
Entretanto, no contexto de seu reconhecimento, pouco espaço foi reservado
na mídia para a exposição ou debate acerca da história da capoeira (...). A
história da capoeira foi marcada por perseguições policiais, prisões, racismo
e outras formas de controle social que os agentes dessa prática cultural
experimentaram em sua relação com o Estado brasileiro. (OLIVEIRA; LEAL.
2009, p. 43-44).

A partir desse relato, pode-se perceber que a capoeira foi formalizada a


pouco mais de três anos, ou seja, tiveram que atuar na informalidade por toda uma
vida até ganhar a sua carta de alforria no século XXI, após a globalização. Seria
como saldar uma dívida com a história brasileira e com muitos, que dela, ganharam
sua liberdade, sustento, fama e outros.

Tudo isso se deu graças a Mestre Pastinha e Mestre Bimba, que lutaram e
idealizaram uma capoeira diferente daquela praticada outrora por criminosos
políticos e marginais, resgatando a capoeira de “raiz”, aquela que um dia fora
praticado por escravos, que lutavam e buscavam a sua liberdade em terras
desconhecidas longe de suas casas.

Essas mesmas capoeiras produzidas por Bimba e Pastinha, que se tornaram


hegemônicas, chegaram às academias, fundaram tradições, se institucionalizaram e
se legalizaram. Tanto Bimba como Pastinha idealizaram um capoeirista longe da
criminalidade e uma capoeira que atendesse aos anseios de ordem e progresso,
tentando romper com o estigma de uma prática marginal em que a malandragem e a
vadiação deveriam ser substituídas pela malícia e a ginga. (CONDE; 2007p. 63).

O discurso atual sobre a história da capoeira ainda parece ser desempenhado


com forte influência de Bimba e Pastinha no que se refere ao desejo de
desmarginalização dos que querem construir o orgulho de ser capoeira ou até
mesmo do orgulho da afro-descendência. Segundo o relato de Conde (2007):

A trajetória da capoeira tem a inscrição de autores que pelejaram


politicamente a seu favor, que lutaram para desmarginalizá-la e que
apresentaram o capoeira como escravo oprimido, que treinava nas
senzalas, campos e fazendas para com a capoeira alcançar sua liberdade.
No entanto, os “heroificadores” da capoeira também são atravessados por
versões como a do historiador Carlos Eugênio Soares (1999), que encontra
registros históricos, remontando à capoeira uma gênese urbana,
caracterizada por uma guerra entre maltas compostas de escravos, libertos
31

e portugueses, e que matavam uns aos outros brutalmente em garantia de


um posicionamento territorial, identitário e social. (p. 66)

Ainda o autor, descreve os tipos de capoeiras que durante a historiografia da


mesma surgiram e seus adjetivos. Além de, subentender a sua importância no
processo de construção do povo brasileiro e sua identidade como cidadão.

O capoeira que roubava, o capoeira que matava por encomenda, o capoeira


que salvava escravos, o capoeira capanga de político, o capoeira que lotou
na Guerra do Paraguai, o capoeira que venceu a legião de estrangeiros
amotinados no Rio, o capoeira que lutou contra a República, o capoeira que
lutou pela abolição, o capoeira que lutou contra outros capoeiras, o capoeira
que temia lutar, o capoeira que só brincava de capoeira, o capoeira que
enfrentava vários policiais na busca de justiça, o capoeira que vadiava, o
capoeira... São todos estruturados pela capoeira e estruturantes desta
mesma capoeira. (CONDE; 2007, p. 67)

Esses capoeiras descritos trouxeram nos seus feitos, uma gama de


benefícios para a nossa cultura, hoje, chamada afro-brasileira, onde enriqueceu o
nosso saber, acrescentando incondicionalmente as suas raízes as nossas e assim,
formando o que hoje chamamos de povo brasileiro, cultura brasileira, arte brasileira,
etc. esses mesmos que outrora foram caçadas, discriminados e executados, hoje,
nos traz orgulhos e prazer em sua arte, além de ser também um fator de inclusão
social e psicomotor para a cidadania, essa também chamada de capoeira.
32

4. As Políticas Públicas Sócio-Assistencias

As desigualdades sociais e regionais; a pobreza extrema; a grande


concentração de fluxo de renda e estoques de riquezas; a insegurança no trabalho e
nas ruas; as discriminações de raça, gênero e idade; a baixa qualidade dos serviços
públicos, entre outros problemas relevantes da realidade social brasileira, são
fenômenos inaceitáveis. No entanto, embora muito se tenha avançado na sua
compreensão, ainda não é possível vislumbrar uma clara concentração de
interesses que rompa rápida e estruturalmente com as mazelas econômicas e
sociais que assolam o cotidiano no país.

Para analisar a Política de Assistência Social é fundamental investigar a sua


trajetória. A Constituição Federal é um marco fundamental nesse processo porque
reconhece a assistência social como política social que, junto com as políticas de
saúde e de previdência social, compõe o sistema de seguridade social brasileiro.
Portanto, pensar esta área como política social é uma possibilidade recente. Mas, há
um legado de concepções, ações e práticas de assistência social que precisa ser
capturado para análise do movimento de construção dessa política social.

Segundo Rossi e Jesus (2009, p. 2-3), elas dizem que:

A intervenção do Estado conhecida como medida de políticas sociais


consistia na implantação de assistência social, de prestação de serviços
sociais, que contemplava uma diversidade de informações e ações, como
adoção, internamento, reabilitação, consultas médicas, atendimento
psicossocial, reinserção social. As medidas jurídicas também eram
compreendidas como política social; por exemplo, a proteção do
consumidor e normatividade dos procedimentos educativos. Além dessas,
também eram consideradas medidas de políticas sociais a construção de
equipamentos sociais e de subsídios.

Até a Constituição de 1988, a política social brasileira se caracterizou por


oferecer cobertura aos que se encontravam no mercado de trabalho. Fora do
mercado de trabalho só havia a caridade privada ou algumas esmolas públicas
precária na forma de auxílio. Outra característica dessa política é o fato de que os
períodos em que se podem observar efetivos progressos na legislação social
coincidem com a existência de governo autoritário. Destaca-se nesse sentido a era
Vargas e o pós 66.

Reafirmando o proferido acima, Rossi e Jesus (2009, p. 21 apud Vieira 2004,


33

p. 69) dizem:

(...) que o “primeiro período de controle político” corresponde à ditadura de


Getúlio Vargas e ao populismo nacionalista, com influência para além de
sua morte, em 1954. O “segundo período de política do controle” cobre a
época da instalação da ditadura militar em 1964 até à conclusão dos
trabalhos da Constituição de 1988. Nesses dois períodos, a política social
brasileira compõe-se e recompõe-se, conservando em sua execução o
caráter fragmentário, setorial e emergencial, sempre sustentada pela
imperiosa necessidade de dar legitimidade aos governos que buscam bases
sociais para manter-se e aceitam seletivamente as reivindicações e até as
pressões da sociedade.

No Brasil, até 1930, não havia uma compreensão da pobreza enquanto


expressão da questão social e quando esta emergia para a sociedade, era tratada
como “caso de polícia” e problematizada por intermédio de seus aparelhos
repressivos. Dessa forma a pobreza era tratada como disfunção individual.

A primeira grande regulação da assistência social no país foi a instalação do


Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS – criado e 1938.

O Conselho é criado como um dos órgãos de cooperação do Ministério da


Educação e Saúde, passando a funcionar em uma de suas dependências, sendo
formada por figuras ilustres da sociedade cultural e filantrópica e substituindo o
governante na decisão quanto às quais organizações auxiliar. Transita, pois, nessa
decisão, o gesto benemérito do governante por uma racionalidade nova, que não
chega a ser tipicamente estatal, visto que atribui ao Conselho certa autonomia.

Dessa forma, é nesse momento que se selam as relações entre o Estado e


segmentos da elite, que vão avaliar o mérito do Estado em conceder auxílios e
subvenções (auxílio financeiro) a organização da sociedade civil destinada ao
amparo social. O conceito de amparo social neste momento é tido como uma
concepção de assistência social, porém identificado com benemerência; Rezende e
Cavalcanti (2009, p. 85), relatam o seguinte: “historicamente, aos excluídos, sempre
restou abenevolência do Estado”.

Nesse contexto, o conjunto das políticas sociais brasileiras vive há anos sob
forte embate entre duas correntes, que envolvem orientações teórico-metodológicas
e ideológicas distintas. De um lado, reconhece-se o aumento da cobertura e do perfil
redistributivo da política social, desde que os dispositivos infraconstitucionais da
34

Carta de 1988 começam a ser implementados; do outro, são atribuídas às políticas


sociais e ao gasto público ali comprometido as causas para inúmeros males da
economia brasileira, desde a pífia performance econômica da última década até o
aumento da carga tributária e do custo - Brasil. Rezende e Cavalcanti (2009, p. 21)
acrescenta que (...) embora antes do fim daquela década, 1980, já existissem
numerosas propostas para reformular a concepção recém-impressa na Carta
Magna.

Portanto, o CNSS foi à primeira forma de presença de assistência social na


burocracia do Estado brasileiro, ainda que na função subsidiária de subvenção às
organizações que prestavam amparo social. Iamamoto (2011, p. 30-31) diz: “a
criação dessas grandes instituições tem como pano de fundo um período marcado
pelo aprofundamento do modelo corporativista de Estado e por uma política
econômica favorecedora da industrialização”.

Historicamente, as mobilizações da sociedade civil receberam diferentes


tratamentos. Segundo Rezende e Cavalcanti (2009, p. 12-13 apud Iamamoto e
Carvalho, 1982), elas falam que “assim, é correto afirmar que sob essa primeira
idade do modo de produção capitalista o Estado não desenvolveu políticas sociais, e
com freqüência a questão social foi tratada como caso de polícia, visto que o
proletariado era considerado classe perigosa”. No período anterior a 1930, os
movimentos sociais eram tratados como “caso de polícia”, com forte repressão. As
manifestações ocorridas no período de 1930 a 1964 ficaram conhecidas como
populismo e elas reivindicavam a reforma de base e melhores condições de vida
para a classe trabalhadora do campo e da cidade. Antes de 1964, no período
ditatorial, a atuação das camadas populares no âmbito econômico, político e cultural
sofreu restrições redefinindo, portanto, o Estado e sua relação com a sociedade.

Desde o período colonial, o Estado brasileiro desenvolveu ações


fragmentadas na área social. A assistência ficava a cargo de irmandades religiosas,
das sociedades de auxílio mútuo e às Santas Casas de Misericórdia. A partir de
1930, no contexto da política populista de Getúlio Vargas, surge um moderno Estado
de bem-estar social. Entra em cena a Previdência Social com os seus mecanismos
de controle das classes subalternas e principalmente das classes operárias,
tentando superar a crise da hegemonia que vinha sofrendo o Estado oligárquico.
35

Neste período criou-se o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e uma vasta


legislação trabalhista e previdenciária. A integração corporativista da Previdência
Social no cenário político já era um meio de incentivo e fortalecimento dos
mecanismos do mercado, facilitando, desse modo, a realização econômica do
liberalismo no Brasil.

Na década de 1970, com o projeto desenvolvimentista em evidência, a noção


de progresso e de crescimento econômico mantém a hegemonia do modelo urbano-
industrial, aguçando a contradição capital/trabalho, fazendo emergir um cenário
social caótico, sobretudo nos grandes centros industriais como a capital de São
Paulo. Na década de 1980, a hegemonia deste modelo de acumulação convive com
uma significativa expressão contra-hegemônica da sociedade civil que se manifesta
por meio de movimentos sociais e demais forma de organização e participação
política.

Rossi e Jesus (2009, p. 103-104) relatam que:

No período de crescimento econômico mais forte, durante a década de


1970, o aumento da desigualdade foi tolerado na medida em que era
recebido como fenômeno passageiro e inevitável, em face das novas
necessidades de mão de obra e do conseqüente desequilíbrio no mercado
de trabalho. A expansão do PIB acompanhada de rápida modernização
produtiva, resultou em demanda por trabalhadores qualificados,
aumentando mais acentuadamente seus rendimentos em relação à grande
massa de mão de obra pouco qualificada. Entre 1986 e 1989, o grau de
desigualdade apresentou crescimento acelerado, atingindo níveis extremos
no auge da instabilidade macroeconômica de 1989.

Esta década foi denominada pelos economistas da época de “década


perdida”, devido ao decréscimo do índice do Produto Interno Bruto, PIB,
concomitante à emergência de um processo de redemocratização, sobretudo a partir
da Nova República. Os anos 90 iniciam com a marca no neoliberalismo com sua
proeminente força ideológica, não encontrando dificuldades para fortalecer a
hegemonia do modelo de acumulação até então vigente.

Segundo Draibe (1992), o período que compreende os anos de 1964 a 1977 é


identificado como o período da consolidação do sistema de proteção social,
superando a forma fragmentada e a sociabilidade seletiva do período anterior,
abrindo espaços para tendências universalizantes e políticas de massa com uma
cobertura relativamente ampla. A autora conclui, a partir de tais características, que,
36

até meados de 1970, o padrão das políticas sociais brasileira poderia ser
classificado como meritocrático particularista, reproduzindo o sistema de
desigualdade sociais já existentes, com aspectos redistributivo e igualitários restritos
à educação básica e à saúde de emergências. No final da década de 1970 e a partir
de 1980, os programas assistenciais voltam-se para a “distribuição gratuita de bens
e serviços sociais”, atribuído a estes programas o estigma de “face pobre da política
social”, fértil campo para as práticas assistencialistas e clientelistas.

Nesse contexto, a Constituição de 1988 surgiu como um marco na história da


política social brasileira, ao ampliar legalmente a proteção social para além da
vinculação com o emprego formal. Trata-se de uma mudança qualitativa na
concepção de proteção que vigorou no país até então, pois inseriu no marco jurídico
da cidadania os princípios da seguridade social e da garantia dos direitos mínimos e
vitais à reprodução social. Nesse sentido, houve uma verdadeira transformação
quanto ao status das políticas sociais relativamente as suas condições pretéritas de
funcionamento. Em primeiro lugar, as novas regras constitucionais romperam com a
necessidade do vínculo empregatício-contributivo na estrutura e concessão de
benefícios previdenciários aos trabalhadores oriundos do mundo rural. Em segundo
lugar, transformarão o conjunto de ações assistencialistas do passado em um
embrião para a construção de uma política de assistência social amplamente
inclusiva. Em terceiro, estabeleceram o marco institucional inicial para a construção
de uma estratégia de universalização no que se refere às políticas de saúde e à
educação básica. Além disso, ao propor novas e mais amplas fontes de
financiamento – alteração esta consagrada na criação do Orçamento da Seguridade
Social – estabeleceu condições materiais objetivas para a efetivação e preservação
dos novos direitos de cidadania inscritos na ideia de seguridade e na prática da
universalização.

A assistência social tem um papel fundamental para o desenvolvimento de


uma nação, pois sabe-se que todos são iguais perante a constituição, porém, na
prática isso não funciona como deveria. O papel das políticas de assistencialismo
não é apenas para amenizar a pobreza ou para ajudar os mais necessitados,
também serve de alavanca/trampolim, para que o indivíduo passa se ver novamente
como ser sociável, capaz de viver em sociedade, de mudar suas condições
37

precárias e procurar saídas para mudar principalmente a realidade em que vive.


Mas, Santini (2009, p. 16) diz: “(...) para usufruir os direitos da assistência social, a
sociedade reconhece os usuários como necessitados ou desamparados”.

A ordem social, presente na Constituição, é uma parte específica para cuidar


das questões inerentes à organização social brasileira, esse capítulo está
subdividido em: seguridade social; saúde; previdência social; assistência social;
educação, cultura e desporto; ciência e tecnologia; comunicação social; meio
ambiente; família, criança, adolescente, idoso e índios. Ou seja, a própria
Constituição abrange como um todo, tudo que diz respeito à ordem social e toda a
comunidade chamada nação brasileira.

Dessa maneira as ações governamentais na área da assistência social serão


realizadas com recursos do orçamento de seguridade social, previstos no artigo 195
– que compreende as disposições gerais da seguridade social –, além de outras
fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: (EC nº 42/2003), que são
as alterações do artigo já citado (Brasil, 2005).

A ordem social, como diz a Constituição, tem como base o primado do


trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça social. Por esse motivo é
gigantesco o trabalho a ser desenvolvido pelos profissionais de Serviço Social e
pelos cidadãos, haja vista que a responsabilidade é de todos e todas. Contudo, isso
não isenta as responsabilidades do Estado e suas obrigações para com a população
como um todo.

Os beneficiados pela Assistência Social de alguma maneira têm os seus


direitos resguardados, e o Estado tem como obrigação assegurar esses direitos
como reza a Constituição (2005, p. 135), artigo 203, Seção IV; da Assistência Social:
“A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social (...)”.

Ou seja, o Estado é responsável pelas garantias mínimas de assistencialismo


para toda a população desde, independentemente de qualquer coisa ou em qualquer
circunstância.

A partir dos princípios da dignidade da pessoa humana, o indivíduo pode se


38

firmar como um autor da sua própria história e não como objeto passivo da mesma,
assim este pode ter o mínimo de dignidade assegurado para que os outros sejam
conquistados.

Segundo Moraes (apud Lima) diz sobre os princípios da dignidade que:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à


pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por
parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que
todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas
excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos
fundamentais, mais sempre sem menosprezar a necessária estima que
merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (LIMA).

Esse trecho retirado do artigo de Lima relata sucintamente o que são os


Princípios da Dignidade da Pessoa Humana, além de tudo, fala algo muito
importante que, deixa subentendido, que o Estado, de alguma forma tem que
garantir o exercício desses direito, e não suprimi-los que é o mais visto hoje.

A trajetória da afirmação da Assistência Social como política social,


demonstra que as inovações legais estabelecidas na Constituição Federal, na
LOAS, na Políticas Nacional de Assistência Social e na Norma Operacional
Básica/SUAS, por si só, são incapazes de modificar de imediato o legado das
práticas de assistência social sedimentadas na ajuda, na filantropia e no
clientelismo. As mudanças propostas precisam ser compreendidas, debatidas,
incorporadas e assumidas por todos os níveis da federação. Obviamente, também
dependem do contexto econômico e político e de movimentos de pressão e
negociação permanentes. Esse processo é contraditório, lento e gradual e requer a
coordenação dos Estados e da União.

Além disso, não foi pequeno o preço cobrado pelos caminhos que foram
adotados pela política macroeconômica, principalmente os que recaíram sobre a
política social, que se encontrava em processo de afirmação e construção. Essas
políticas se viram forçadas e tensionadas a tratar com uma ampliação das
contradições sociais e com a conseqüente expansão das necessidades sociais
insatisfeitas, advindas da queda do rendimento e do nível do emprego formal e da
ampliação da pobreza, entre outras mazelas sociais.
39

Avaliar os impactos da Política de Assistência Social na vida dos cidadãos é


condição igualmente importante em função da escassez de conhecimento e dados
referentes à população que recorre a Assistência Social para satisfazer suas
demandas históricas e socialmente produzidas, pois trata-se de uma população
destituída de poder, trabalho, informação, direitos, oportunidades e esperança.

4.1 Políticas Públicas para a Infância e Juventude

No dia 13 de julho de 1990, foi sancionada a lei n° 8069, documento que


dispõe sobre os direitos de crianças e adolescentes. A realidade de muitos jovens
mudou ao longo dos 17 anos de existência do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), mas casos de trabalho infantil, exploração e violência contra a infância e
juventude ainda existem.

O Estatuto se divide em 2 livros: o primeiro trata da proteção dos direitos


fundamentais a pessoa em desenvolvimento e o segundo trata dos órgãos e
procedimentos protetivos.

Encontram-se os procedimentos de adoção (Livro I, capítulo V), a aplicação


de medidas sócio-educativas (Livro II, capítulo II), do Conselho Tutelar (Livro II,
capítulo V), e também dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes.

Desde sua criação, o Estatuto da Criança e do Adolescente influencia as


práticas educativas dirigidas à criança e ao jovem. Apesar desse aparente,
reconhecimento, sua compreensão efetiva — enquanto marco e referencial para
uma mudança estrutural das práticas educativas — é ainda uma possibilidade a ser
desvelada. Godoi et al (2009, p. 91), diz “o ECA é uma lei inovadora, é uma lei de
proteção, a qual assegura os direitos e estabelece deveres compatíveis à condição
social da criança e do adolescente”.

Com o peso de mais de um milhão de assinaturas, que não deixavam sombra


de dúvida quanto ao anseio da população por mudanças e pela remoção daquilo
que se tornou comum denominar “entulho autoritário” – que nessa área se
identificava com o Código de Menores – a Assembléia Nacional Constituinte
referendou a emenda popular que inscreveu na Constituição Brasileira de 1988 o
artigo 227, do qual o Estatuto da Criança e do Adolescente é a posterior
40

regulamentação (PAIVA, 2004, p. 2). Mais do que uma mudança pontual na


legislação, circunscrita à área da criança e do adolescente, a Constituição da
República e, depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente são a expressão de um
novo projeto político de nação e de País.

A década de 1960 foi mundialmente marcada pelo surgimento de inúmeros


movimentos sociais em defesa dos direitos da criança e do adolescente. Isso
ocorreu uma vez que, após a Segunda Guerra Mundial, o adolescente passou a
ocupar uma posição determinada no cenário da violência quando a necessidade da
mão-de-obra feminina nas fábricas deixou as crianças em situação de abandono, as
quais, mais tarde, já adolescentes, constituíram-se como gangues marcadas por
atitudes de revolta e violência.

No Brasil, duas categorias distintas de crianças e adolescentes. Uma a dos


filhos socialmente incluídos e integrados, a que se denominava crianças e
adolescentes. A outra, a dos filhos dos pobres e excluídos, genericamente
denominados menores, que eram considerados crianças e adolescentes de segunda
classe. A eles se destinava a antiga lei, baseada no direito penal do menor e na
doutrina da situação irregular. Para Rezende e Cavalcanti (2009, p. 106), relatam
que “era fundamental que as crianças e os adolescentes deixassem de ser vistos
como menores em situação irregular – e, portanto, objeto de medidas judiciais – e
passassem, pelo menos no plano legal, a ser considerados sujeitos de direitos,
portanto cidadãos”.

Essa doutrina definia um tipo de tratamento e uma política de atendimento


que variavam do assistencialismo à total segregação e onde, via de regra, os
menores eram simples objetos da tutela do Estado, sob o arbítrio inquestionável da
autoridade judicial. Essa política fomentou a criação e a proliferação de grandes
abrigos e internatos, onde ocorriam toda a sorte de violações dos direitos humanos.
Uma estrutura verdadeiramente monstruosa, que logrou cristalizar uma cultura
institucional perversa cuja herança ainda hoje se faz presente e que temos
dificuldade em debelar completamente.

No Brasil, porém, esse caminho foi lento, tendo seu início em 1979 com a
criação do Código de Menores. Somente em 1989 a Convenção Internacional dos
41

Direitos da Criança das Organizações das Nações Unidas marcou definitivamente a


transformação das políticas públicas voltadas a essa população, culminando assim
na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA.

A partir da Constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente,


as crianças brasileiras, sem distinção de raça, classe social, ou qualquer forma de
discriminação, passaram de objetos a serem sujeitos de direitos, considerados em
sua peculiar condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve assegurar
prioridade absoluta na formulação de políticas públicas e destinação privilegiada de
recursos nas dotações orçamentárias das diversas instâncias político-administrativas
do País.

Não são mais entendidas ou vistas como simples objetos, por parte da
Família e do Poder Público. Não são mais os menores sociais em situação
irregular, possuem direitos tais como os adultos, mas que lhes são
peculiares. A política de atendimento fundamentada pelo art. 87 do ECA,
retrata a concepção de situação irregular para um grupo considerado
minoria para a doutrina de proteção integral extensiva a todas as crianças e
adolescentes. (GODOI et al: 2009, p. 90).

Outros importantes preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente, que


marcam a ruptura com o velho paradigma da situação irregular são: a prioridade do
direito à convivência familiar e comunitária e, conseqüentemente, o fim da política de
abrigamento indiscriminado; a priorização das medidas de proteção sobre as
socioeducativas, deixando-se de focalizar a política da infância nos abandonados e
delinqüentes; a integração e a articulação das ações governamentais e não-
governamentais na política de atendimento; a garantia de devido processo legal e da
defesa ao adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional; e a
municipalização do atendimento; só para citar algumas das alterações mais
relevantes.

Outra conseqüência dos avanços trazidos pela Constituição da República


(1988), pela Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e pelo próprio Estatuto
da Criança e do Adolescente (1990) e, no âmbito local, também pela Lei Orgânica
do Distrito Federal (1993) é a substituição do termo menor por criança e
adolescente. Isso porque a palavra menor traz uma idéia de uma pessoa que não
possui direitos.
42

Assim, apesar de o termo menor ser normalmente utilizado como abreviação


de menor de idade, foi banido do vocabulário de quem defende os direitos da
infância, pois remete à doutrina da situação irregular ou do direito penal do menor,
ambas superadas.

Além disso, possui carga discriminatória negativa por quase sempre se referir
apenas a crianças e adolescentes autores de ato infracional ou em situação de
ameaça ou violação de direitos. Os termos adequados são criança, adolescente,
menino, menina, jovem.

O conceito de criança adotado pela Organização das Nações Unidas abrange


o conceito brasileiro de criança e adolescente. Na Convenção Sobre os Direitos da
Criança, entende-se por criança todo ser humano menor de 18 anos de idade, salvo
se, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada
antes (art. 1º – BRASIL. Decreto 99.710, de 21 de novembro de 1990: promulga a
Convenção Sobre os Direitos da Criança. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, 22 nov. 1990. Seção I, p. 22256).

Nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se criança,


para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre 12 e 18 anos de idade (art. 2°). Dessa forma, os efeitos pretendidos,
relativamente à proteção da criança no âmbito internacional, são idênticos aos
alcançados com o Estatuto brasileiro.

A Emenda Constitucional 45, de 8 de dezembro de 2004, acrescentou o § 3º


ao artigo 5º da Constituição Federal, com esta redação: § 3º Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Se antes dessa modificação não era exigido quorum especial de aprovação,


os tratados já incorporados ao ordenamento jurídico nacional anteriormente à
Emenda 45, em razão dos princípios da continuidade do ordenamento jurídico e da
recepção, são recepcionados pela Emenda 45 com status de emenda constitucional.
43

O Estatuto criou mecanismos de proteção nas áreas de educação, saúde,


trabalho e assistência social. Ficou estabelecido o fim da aplicação de punições
para adolescentes, tratados com medidas de proteção em caso de desvio de
conduta e com medidas socioeducativas em caso de cometimento de atos
infracionais.

Institui-se como política de atendimento as políticas sociais básicas, tais


como educação, saúde, trabalho, lazer, habitação, segurança; compreende
as políticas de assistência social, atenção especial de prevenção,
atendimento médico e psicossocial compreendida às crianças em situação
de risco pessoal e social, vítimas de maus-tratos, negligência, exploração,
abuso sexual e trabalho infantil. (GODOI et al 2009, p. 90).

Vida, saúde, alimentação, educação, esporte, cultura, dignidade, respeito.


Esses são apenas alguns dos direitos assegurados pelo estatuto. Nascido de forte
mobilização social, na época em que o Brasil se redemocratizava, o estatuto
determina que todas as crianças e adolescentes, independentemente da classe
social, religião ou etnia a que pertencem, sejam tratados de forma igualitária.

Segundo o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clovis


Boufleur, o ECA é um marco na história da luta pelos direitos da infância e
juventude. “O Brasil é reconhecido como um dos países com legislação mais
avançada nessa área, porém a distância entre o que é descrito na lei e a realidade
de milhões de crianças e adolescentes ainda é grande”. A Pastoral da Criança é
uma das entidades que mais se destacam no País em atividades de inclusão ligadas
à infância.

O Estatuto, em seus 267 artigos, garante os direitos e deveres de cidadania a


crianças e adolescentes, determinando ainda a responsabilidade dessa garantia aos
setores que compõem a sociedade, sejam estes a família, o Estado ou a
comunidade. Ao longo de seus capítulos e artigos, o Estatuto discorre sobre as
políticas referentes a saúde, educação, adoção, tutela e questões relacionadas a
crianças e adolescentes autores de atos infracionais.

Mesmo sendo referência mundial em termos de legislação destinada à


infância e à adolescência, o Estatuto necessita ainda ser compreendido de forma
legítima. Um longo caminho deve ser trilhado pela sociedade civil e pelo Estado para
que seus fundamentos sejam vivenciados cotidianamente.
44

As escolas e seus educadores devem conhecer essa legislação, assim como


os órgãos de apoio presentes na comunidade, como é o caso dos chamados
Conselhos Tutelares — entidades públicas presentes obrigatoriamente em cada
município e formadas por conselheiros da comunidade, cujo objetivo é receber
denúncias de violação do ECA e assegurar seu cumprimento.

O Estatuto ECA, por si só, não proporcionará uma modificação de concepção


na sociedade, na esfera pública, nos agentes sociais que se encontram engajados
nesse processo de mudança, nesse novo modo de olhar e entender as crianças e os
adolescentes. A transformação de concepção vem propor o conceito da criança e do
adolescente como sujeito de direitos e não como menores sociais em situação
irregular. (GODOI, etat 2009)

Apesar das conquistas, o Estatuto da Criança e do Adolescente possui


diversos desafios a serem superados. A sociedade civil deverá estar cada vez mais
articulada e atenta às ações governamentais para exigir que os recursos sejam
previstos no orçamento e bem aplicados. A iniciativa privada e os demais atores
sociais podem investir mais e compartilhar seus conhecimentos para que todos
tenham meios de desenvolver seus potenciais.

A implantação integral do ECA sofre grande resistência de parte da sociedade


brasileira, que o considera excessivamente paternalista em relação aos atos
infracionais cometidos por crianças e adolescentes. Tais setores consideram que o
estatuto, que deveria proteger e educar a criança e o adolescente, na prática, acaba
deixando-os sem nenhum tipo de punição ou mesmo educação. Alegam, por
exemplo, que o estatuto é utilizado por grupos criminosos para livrar-se de
responsabilidades criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa pelos
crimes. Não raro, propõem a diminuição da maioridade penal e tratamento mais duro
para atos infracionais. Além disso, embora o Estatuto impute a responsabilidade
pela proteção à criança e ao adolescente ao Estado, à sociedade e à família, estas
instituições têm falhado muito em cumprirem sua obrigação legal. São frequentes os
casos de crianças abandonadas, morando na rua, ou deixadas em casa, sozinhas,
por um longo período de tempo.

Parte da sociedade ainda é resistente à concepção do ECA e, por serem


estas concepções de ordem cultural, isso tem nos impedido de realizar uma
45

reflexão crítica dessa legislação, garantindo uma conclusão técnica de


caráter conclusivo e avaliativo acerca dos avanços e retrocessos que
remetem a um quadro comparativo acerca do cumprimento dos artigos do
ECA, seja por parte das ações do Estado ou da sociedade em relação ao
Código de Menores de 1979. (GODOI et al: 2009, p. 91).

Avaliação divulgada pela Associação Nacional dos Centros de Defesa


(Anced) mostra que a violência institucional, aquela cometida pelo próprio Estado, é
um dos grandes desafios na área dos Diretos da Criança e Adolescente no Brasil. A
conclusão faz parte do segundo relatório sobre a situação dos direitos da criança e
do adolescente no país.

De acordo com o documento lançado pela associação, o atendimento médico


para crianças indígenas chega a demorar oito meses. Em uma lógica simples, esse
espaço de tempo pode levar a morte por desassistência.

O mesmo relatório denuncia ainda a falta de atenção do Estado à situação


das crianças e dos adolescentes que vivem em regiões de risco. Em determinado
ponto diz que as estratégias das políticas governamentais não atendem a esse
segmento. O relatório exemplifica a atuação da polícia carioca em comunidades
pobres. Godoi (et al 2009, p. 91), diz a esse respeito que:

O processo de transição para a implantação das políticas de atendimento


preconizadas pelo ECA inspira uma visão negativa, deficitária, pouco
provável de ser construída. Consequentemente, atribui-se a culpa ao
processo da implantação do novo pensar, da nova perspectiva de
vislumbrar a criança e o adolescente como sujeitos; não se consegue ver
que o caótico está na ausência de participação efetiva dos então agentes
sociais, responsável pela divulgação enquanto agentes de mudança de
paradigma e de concepção acerca da lei que fundamenta os direitos e
deveres da criança e do adolescente, na sua essência.

O levantamento, que foi produzido com o apoio de organizações que atuam


pelos direitos infanto-juvenis, é dividido por eixos temáticos: Sistema Geral de
Proteção; Medidas Gerais de Implementação da CDC; Homicídios, Atentados à
Vida, à Integridade Física, Tortura e Punições Corporais; Convivência Família e
Comunitária; Violência Sexuais e Exploração Econômica; Direito à Saúde, Direito à
Educação e Justiça Juvenil. Apesar de prever recursos em torno de R$ 2,9 bilhões
até 2010 em quatro projetos para a criança e o adolescente, o governo precisa
efetivar as ações como políticas públicas para colher resultados. Segundo Rezende
e Cavalcanti (2009, p. 117), eles dizem a respeito da implantação e execução do
ECA que:
46

Como podemos perceber, não é suficiente instalar os mecanismos jurídicos


e sociais previstos na ECA para implementarmos uma política pautada na
universalização dos direitos, ampliação da cidadania e fortalecimento da
democracia. É necessário e fundamental que não se reproduzam nestes
mecanismos a gramática do clientelismo, burocratismo e corporativismo,
assim como não é possível manter em nome da proteção à infância ações
públicas de orientação higienista, moralizadora, assistencialista e
repressiva, seja via Poder Executivo, seja via Poder Judiciário, seja na
intervenção cotidiana dos profissionais. Portanto, no caso da
implementação d ECA, formas e conteúdos caminham juntos para uma
efetiva proteção integral à criança e ao adolescente. (SIC).

Análises indicam tendências dos municípios brasileiros na implementação do


Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), revelando o quanto as políticas
públicas ainda precisam avançar para efetivar a garantia dos direitos desse
segmento populacional, principalmente no que se refere ao orçamento. Por exemplo,
há municípios que investem a irrisória quantia de R$ 75 por criança/ano na
assistência social.

Ao se trabalhar o Estado, os Poderes e a Sociedade civil para melhor


implantar o ECA na sociedade como um todo, poder-se-ia chegar a um denominador
comum a esse respeito, com implementações de políticas publicas onde todos esses
supracitados tivessem um papel a desenvolver nesse sistema e esse papel fosse
executado de forma a não parar a engrenagem desse sistema e assim não fosse um
entrave no andamento do mesmo. Assim, pode-se dizer que o andamento e o
funcionamento do ECA estaria sim sendo executado de maneira proveitosa, eficiente
e eficaz, como por exemplo no uso dessa ferramenta para a implantação da
capoeira nas escolas, bairros como política de inclusão social, cidadania e
desenvolvimento cooperativo, motor e psicossocial.
47

5. Políticas Públicas Afirmativas Educacionais

As políticas públicas são de extrema importância para que o Estado possa de


alguma forma abarcar àqueles que delas necessitam ou estão em zona de
vulnerabilidade social trazendo à discussão elementos que possam servir de apoio
para a efetivação de tal política.

Também se têm os indicadores sociais que servem para orientar a formulação


de programas sociais e políticas públicas de modo a oferecer à população aquilo de
que ela realmente necessita e para indicar se o que foi implantado tem apresentado
os resultados pretendidos. É possível pensar que a avaliação de um programa
possa se dar mediante observação, apenas, mas se essa observação não for
orientada de forma precisa, também ela pode não cumpri seu objetivo. E, nesse
caso, está se perdendo muito mais do que tempo e entusiasmo. Estão perdendo
dinheiro público, gerado por e para a população.

Segundo Januzzi (2001, p. 15) um indicador social é conceituado como:

(...) uma medida em geral quantitativa dotada de significado social


substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um
conceito social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou
pragmático (para formulação de políticas). É um recurso metodológico,
empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade
social ou sobre mudanças que estão se processando na mesma.

Em outras palavras, o autor nos afirma que o indicador social é útil para a
pesquisa acadêmica na área social, pois permite o estabelecimento de relações
entre a teoria estudada e os fenômenos sociais observados, servindo de instrumento
para que a academia aprofunde seus estudos sobre a realidade social, e para as
sociedades e seus respectivos governos, uma vez que é de grande utilidade no
monitoramento das condições de vida da população, podendo embasar a
formulação ou o ajuste de políticas públicas.

Assim sendo, é absolutamente necessário que pessoas envolvidas com


formulação, implantação e avaliação de programas sociais e políticas públicas,
dominem o conceito de indicadores, saibam construí-los em seu cotidiano, pois,
cada vez mais, eles têm sido usados para balizar os serviços de ordem social.
48

Dessa maneira, pode-se perceber que as políticas nem sempre abarcarão a


todo o público alvo, ás vezes faz-se necessário políticas focalizadoras, políticas que
abarcam um subgrupo dentro de um grupo, uma minoria marginalizada pela maioria
ou, um grupo isoladamente que não se enquadram nos demais. Essas políticas
focalizadoras se fazem necessárias para manutenção do aparato do poder público.

Essas políticas tem sido eficazes no tocante de (re)distribuição de renda,


afirmações, e empoderamento de classes, grupos e minorias que passam a ter uma
visibilidade e importância para o Estado e sendo cuidados por este afim de
minimizar a sua fragmentação.

5.1 Conceituando Política Pública

O conceito de política pública faz-se necessário para que se possa entender o


contexto atual do Estado e o seu papel para dirimir os recursos e trazer para o
contexto atual as minorias e grupos menos favorecidos de alguma maneira.

Teixeira (2002 p.2) define política pública como:

As políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder


público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e
sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, neste
caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos
(leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que
normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre
porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade
e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-
ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois
representam opções e orientações dos que ocupam cargos.

As definições do autor trazem uma visão mais abrangente não focalizada,


porém, este retrata exatamente os interesses coletivos ou de um determinado grupo
específico,não esquecendo também das não-ações que são uma forma de fazer
política.

Neste mesmo viés, Heilborn et al (2010) diz que “a definição do que sejam
políticas públicas ainda é um campo em discussão”. Pois, as políticas estão sempre
em mutação, modificando-se para poder atender às necessidades desses grupos
que dela necessitam. E ainda acrescentam que “diferentes autores/as ressaltam o
crescimento desta área do conhecimento e têm produzido teorias sobre o tema”.
49

Essas teorias diversificadas podem ser um grande ganho para a população pois,
a cada definição está englobando um grupo diferenciado de minorias que forma
excluídos ou marginalizados pela sociedade.

Para Rua (2007), política pública são definidas como:

As políticas públicas (policies), por sua vez, são outputs, resultantes da


atividades política (politics) : compreendem o conjunto das decisões e ações
relativas à alocação imperativa de valores. Nesse sentido é necessário
distinguir entre política pública e decisão política. Uma política pública
geralmente envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações
estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas. Já
uma decisão política corresponde a uma escolha dentre um leque de
alternativas, conforme a hierarquia das preferências dos atores envolvidos,
expressando - em maior ou menor grau -uma certa adequação entre os fins
pretendidos e os meios disponíveis. Assim, embora uma política pública
implique decisão política, nem toda decisão política chega a constituir uma
política pública. Um exemplo encontra-se na emenda constitucional para
reeleição presidencial. Trata-se de uma decisão, mas não de uma política
pública. Já a privatização de estatais ou a reforma agrária são políticas
públicas.

Na fala da autora pode-se perceber que nesta definição, ela traz uma
diferenciação, porém interligada com decisões políticas, onde nem todas as
decisões são políticas públicas, como nem toda política pública derivam de decisões
políticas, assim, fica clara a ideia de que nem sempre as políticas estão ligadas ás
decisões governamentais.

Para Giovanni e Nogueira (s/d) o conceito de política pública pode ser


definido como:

Fatos complexos, dinâmicos e multifocais. Não podem ser reduzidos ao


momento “administrativo”. São formas de exercício do poder e resultam da
abrangente interação entre Estado e sociedade. Trata-se de uma
intervenção estatal, de uma modalidade de regulação política e de um
expediente como qual se travam lutas por direitos, justiça social e espaços
políticos. Sobre elas, pesam diferentes aspectos da economia, da estrutura
social, do modo de vida, da cultura e das relações sociais.

Os autores já trazem uma visão mais dinâmica do que seja às políticas


Públicas, não mais que atinjam a população, como uma visão generalista, mais
multifocal, vendo cada grupo como sendo organismos diferentes e únicos, agora são
como células e que tem identidade própria.

A participação da sociedade civil tem um papel fundamental para a


manutenção das políticas públicas apresentadas à sociedade, também é um
50

termômetro que mede a aplicabilidade das mesmas e se elas estão de fato sendo
eficazes. Apartir da participação social, consequentemente virá o reconhecimento e
nem sempre à justiça. Há muitas razões para isso, mas, ao tentar simplificar, deve-
se insistir no fato que a própria nação supõe uma avaliação das situações em função
de realidade externa. Enquanto isso a nação exige que os parâmetros adotados
levem em conta realidade internas, inerentes à distribuição em classes da população
de cada país, considerando isoladamente. (SANTOS, 1979, p.77).

Com relação ao reconhecimento, desde os primórdios já se lutavam por


reconhecimento de classes inferiores e legislação ou condições específicas às
mesmas. No Brasil, (REZENDE, CAVALCANTI, 2009, p. 21) o marco de expansão
das políticas sociais foi a Constituição de 1988, que articulou a política de
seguridade social e dotou-as de fonte de financiamento. Com a Constituição Cidadã,
as classes puderam se organizar de modo legal e munir-se da legislação para a
obtenção de um reconhecimento por parte do Estado e posteriormente, tratar dos
direitos individuais e coletivos. O reconhecimento do cidadão/ã foi escrito com
sangue e suor e, até hoje, essa escrita continua, pois, constantemente deparamo-
nos com lutas frequentes, mobilizações e outros, afim de obtenção de direitos
mínimos e garantias constitucionais que são negadas a uma parcela relevante da
população.

A questão mais complicada e conflitante entre as classes é a justiça social,


onde o que é justo para uns, nem sempre é justo para outros e essa luta é
constante, porém, houve um avanço significante com a implantação de políticas
públicas direcionadas que tornaram facilitadores para esse processo de
reconhecimento das individualidades e de grupos sociais. Exceções, retrocessos
pontuais e inúmeras contradições à parte, instituições que ao longo da história foram
comparativamente muito mais restritivas – hegemonicamente nacionalistas,
etnocêntricas, racistas, patriarcais, misóginas e homofóbicas – avançam hoje em
direção a universalização dos direitos modificando ou minimizando as
socioperspectivas restritivas e excludentes que antes carregavam. (VENTURI, 2010,
p.11).

A questão da justiça social é uma briga ferrenha e constante Veturi (2010, p.


13) diz:
51

E se mundo afora ainda são cotidianas as relações sociais discriminatórias


por diferentes motivações, inclusive as de ordem institucional – ou seja,
praticadas por juízes, profissionais de saúde, professores, policiais e outros
que em observância a suas próprias Constituições nacionais deveriam tratar
a todos os cidadãos com igual respeito –, não é de pouca importância que,
por força de conquistas históricas de movimentos sociais feministas, de
combate ao racismo e à discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais e
transgêneros (LGBT), entre outros, tais práticas venham sendo legal e/ou
moralmente coibidas.

O mesmo ainda acrescenta:

Práticas discriminatórias sem sustentação legal e preconceitos sem


legitimidade moral, uma vez desnudados e expostos em sua desrazão,
passam a ter dificuldades para ser defendidos abertamente na esfera
pública e tendem ao declínio. E no sentido inverso, os direitos conquistados
e institucionalizados tendem à consolidar e à irreversibilidade, ao menos em
contextos de democracia.

Vê-se que há muito que se trabalhar com relação à aceitação do outro, ou dos
outros, percebe-se que todos os indivíduos perpassam por muitos grupos sociais,
alguns são aceitos e outros não. Essa diversidade de grupos é o que vai formando a
identidade dos indivíduos. Porém, essa identidade não se consolida ou abstêm
somente a um grupo específico. Os grupos em que são inseridos e repelidos
também são os que deixam marcas e estas, leva-se para toda a vida ou apenas um
curto espaço de tempo. Contudo, o fato de serem repelidos por alguns grupos
sociais ou serem aceitos, podem gerar confrontos, desconfortos ou até mesmo
preconceitos por parte dos outros. E aí que nasce o problema com a aceitação da
diversidade.

Silva (1995 p. 249) diz:

O popular é percebido como um campo pluriclassista, mas homogeneizado


pela exploração econômica e subordinação política a que seus integrantes
são submetidos e, como tal, é percebido como portador de um projeto
político, dito histórico, que ostenta, necessariamente, a transformação
social.

Merlucci (1980) diz que "há outros fatores, além da exploração da força de
trabalho, que devem ser considerados na compreensão da acumulação e da
produção de desigualdade".

Quando esse problema ganha dimensões maiores e proporções que não


conseguimos mais domar, entra o Estado para poder minimizar essa questão e eis
52

mais um desafio. Daí nascem as políticas públicas, uma forma de minimizar as


tensões e destoâncias criadas por esses grupos e uma forma de garantir os direitos
dessas minorias, porém, não exigindo a aceitação dos mesmos, o que gera uma
nova demanda e assim sucessivamente. Esses desafio com relação a diversidade
tende acrescer e nunca a diminuir, pois, a todo momento são criados novos grupos e
posteriormente e consequentemente novos problemas sociais. “Muitas vezes, em
nosso cotidiano, responsabilizamos exclusivamente as pessoas, sem levar em conta
o poder da situação sobre seu comportamento” (RODRIGUES, 2012 p. 18). Mas
paralelo a isso, têm-se a sociedade civil, que vem para se organizar e fazer o papel
de apaziguador.

Os maiores desafios encontrados com relação a diversidade são a falta de


tolerância, o racismo, sexismo, a truculência e inúmeros outros, o direito não é
reservado a um indivíduo, mais a todos, contudo, a quantidade de brechas que se
tem na legislação atual, pode-se chamar de cannion, pois, nem todos são iguais
perante a lei, e a penalidade que se aplica a um não se aplica a todos, a mesma
coisa são os direitos e essa segregação judicial está se tornando um problema
generalizado. Rezende e Cavalcanti (2009, p. 21) dizem:

A política social como uma intermediação essencial ao trato da questão


social não esgota a relação do Estado com as lutas e as demandas das
classes, pois, nunca é demais lembrar, variadas formas de coerção que
incluem desde o uso explícito da violência até as manipulações político-
ideológicas também operam nesse campo.

Há que se respeitar os espaços de cada indivíduo assim como de cada grupo


e dos espaços em comum, levando em conta que um mesmo indivíduo esteja em
grupos distintos ele, mesmo assim, terá que respeitar as limitações de cada grupo
social e seus espaços. Por esse motivo vê-se as minorias se ajudando e
aglomerando-se para poder tornar-se uma potência e assim poder falar de igual para
igual com as outras que já se encontram. Quando houver a tolerância acredita-se
que já não será mais necessário as políticas públicas.

Percebe-se que a justiça social é a que precisa de um olha crítico e minucioso


em relação à população e as diferentes classes. A participação social juntamente
com o reconhecimento que trará a justiça social. Com o nascimento dessa
necessidade criam-se algumas políticas focalizadoras como as políticas para o
53

público LGBT, para as mulheres e as políticas afirmativas são algumas dessas para
públicos específicos.

5.2 Políticas Afirmativas

Vê-se que o preconceito está presente em quase tudo que se vê ou se ouve,


porém, existem uns mais latentes que outros. Uma grande parte da formação do
povo brasileiro retrata uma disparidade muito grande de raça e gênero, sim, porque
ser negro e homem tem-se retratado os dotes corporais, músculos e as questões
fisiológicas do homem. Porém, se fossem mulheres essas quase sempre eram com
idade mais avançada, carregando algo na cabeça e retratada como sendo sempre
empregada.

O Brasil precisa melhorar muito com relação à tolerância, tanto religiosa, raça,
gênero, políticas e em todos os aspectos, a formação pode até contribuir para isso,
porém, não justifica que até hoje se valem disso para justificar atos delituosos com
relação a intolerância, pois se colocar tais questões a prova, se vê que se
perpassapor vários grupos diferentes e que linhagens puras também não existem.

Há de se ter a necessidade abrir mais o horizonte dos pensamentos e ver por


óticas distintas, a aceitação começa a partir de cada indivíduo e não do outro.

Heilborn et al (2010) diz que:

Na verdade, não há uma única definição dessas políticas, já que esse


mecanismo de gestão das desigualdades cobre vastas áreas da atividade
social, incorporando o mercado de trabalho, a representação política, as
oportunidades educacionais, entre outras. Todavia, pode-se dizer que há
um consenso conceitual, independente do contexto social do qual as
políticas afirmativas emergem: elas se constituem em mecanismos de
diminuição de desigualdades historicamente construídas ou destinam-se a
prevenir que novas desigualdades se estabeleçam no tecido social, tendo
por base condições de gênero, raça, orientação sexual, participação política
e religiosa.

Assim como a definição de política pública, as políticas afirmativas também


não se têm uma definição unilateral e sim multifocal, pois abarcam um vasto leque
de áreas, porém essas políticas têm por objetivo atingir um público específico
diferentemente das políticas públicas que são generalistas.
54

Segundo Heilborn et al (2010) as políticas afirmativas no setor público e


privado recebem nomenclaturas diferenciadas, onde no setor público apresenta-se
como ações afirmativas, já no setor privado podem variar como política de inclusão,
diversidade, além de serem voluntárias estas não são monitoradas por órgão da
esfera pública.

Diversos autores têm estudado sobre a temática e trazem diferentes


conceitos sobre a temática, esses conceitos podem variar de acordo com processos
específicos de desigualdade.

Heilborn et al (2010) elenca-os dessa forma:

Celso Antônio Bandeira (2003) define que as ações afirmativas:


[...] são medidas temporárias e especiais, tomadas ou determinadas pelo
Estado, de forma compulsória ou espontânea, com o propósito específico
de eliminar as desigualdades que foram acumuladas no decorrer da história
da sociedade. Estas medidas têm como principais “beneficiários os
membros dos grupos que enfrentaram preconceitos” (Bandeira, 2003: 47-48
apud Vilas-Bôas, 2003: 29).
No entender da advogada Renata Malta Vilas-Bôas:
No caso brasileiro, a ação afirmativa visa garantir, dessa forma, a igualdade
de tratamento e principalmente de oportunidades, assim como compensar
as perdas provocadas pela discriminação e a marginalização decorrentes
dos mais variados motivos inerentes à sociedade brasileira (Vilas-Bôas,
2003: 29).
Já FlorisaVerucci, define que:
As ações afirmativas devem emergir como a construção da igualdade posta
em movimento, e têm por objetivo um equilíbrio que efetive a igualdade de
oportunidades, nunca em desfavor das minorias, mas sempre com a
preocupação de limites garantidores da participação das minorias, do
rompimento dos preconceitos, e não da criação de novos (Verucci, 1998: 1).
A advogada Celi Santos expande um pouco essas definições para incluir:
Todas as práticas positivas, com vistas a promover a proteção dos
excluídos e dos desamparados, as mudanças comportamentais arraigadas
por culturas ultrapassadas, o pleno exercício dos direitos e as garantias
fundamentais, bem como os demais direitos inscritos na Constituição de
1988, cuja efetividade destas ações será realizada pelo Estado em parceria
com a sociedade civil (Santos, 1998: 44).
Por outro lado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),
JoaquimBarbosa Gomes, afirma que:
Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de
políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou
voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de
gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes
da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização
do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a
educação e o emprego. Diferentemente das políticas governamentais
antidiscriminatórias baseadas em leis de conteúdo meramente proibitivo,
que se singularizam por oferecerem às respectivas vítimas tão somente
instrumentos jurídicos de caráter reparatório e de intervenção ex post facto,
as ações afirmativas têm natureza multifacetária, e visam evitar que a dis-
criminação se verifique nas formas usualmente conhecidas – isto é,
formalmente, por meio de normas de aplicação geral ou específica, ou
55

através de mecanismos informais, difusos, estruturais, enraizados nas


práticas culturais e no imaginário coletivo. Em síntese, trata-se de políticas e
de mecanismos de inclusão concebidos por entidades públicas, privadas e
por órgãos dotados de competência jurisdicional, com vistas à
concretização de um objetivo constitucional universalmente reconhecido – o
da efetiva igualdade de oportunidades a que todos os seres humanos têm
8
direito (Gomes, 2001: 40-41) .

De todas as citações a que melhor descreve a definição de políticas


afirmativas é do então Ministro Joaquim Barbosa, onde este traz uma visão mais
ampla e profunda do que é de fato e, para que serve as políticas afirmativas.

A desigualdade perdura há anos nas sociedades, desde antes mesmo do


período colonial, nas sociedades mais antigas como a Grécia, a Roma e a China, já
se tinham registros de submissões de indivíduos, desigualdades, e formas de
discriminações.

Segundo Santos (2013):

A discriminação e a exclusão não são fatos de origem recentes, infelizmente


a história narra fatos de subserviência, humilhação, motivados por
insensibilidade, intolerância, de vários tipos. Percebemos pelas leituras
desta semana e a vivência de situações no dia a dia, que passamos por
período de construção de um ideário de democracia racial que perpassa na
conscientização, no comprometimento, de quem hoje detém o poder público
e da sociedade de forma geral, romper barreiras de racismo por vezes
velados para adesconstrução do preconceito, da falta de oportunidade, da
inferioridade é o que se faz de urgente quando nos deparamos com
reportagens e artigos como de Mariana Tokarnia, Repórter da Agência
Brasil, sobre pesquisas onde a “cor da pele” é fator determinante de futuro
fracasso, intitulada: “Estudantes negros têm maior probabilidade de
insucesso na escola”.

As questões pontuada pela autora mostram uma preocupação com a questão


de raça e etnia, onde traz uma preocupação e um questionamento sobre a cor da
pele que pode influenciar no insucesso do negro. Isso não está muito diferente nos
dias atuais, onde outrora, o Brasil, fora palco de uma enorme escravidão, hoje, se vê
o mesmo mais de uma forma diferenciada e até mesmo institucionalizada.

Os trabalhos informais, os prestadores de serviços e àqueles que trabalham


para o sustento da família que não possui uma escolaridade básica ou nenhuma
escolaridade pode ser comparado ao escravo ou índio do período colonial do Brasil.

8
Citações retiradas de: HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (Org.). Gestão
de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Brasília; Secretaria de Políticas Públicas para as
Mulheres: Rio de Janeiro, CEPESC, 2010. p. 97-98.
56

Vê-se algumas empregadas domésticas que são tidas como escravas dentro
da casa dos seus patrões, porém, estas se submetem a tal vida por medo ou receio
de não achar ou ser aceita em outra casa por conta da sua baixa escolaridade. Não
só as empregadas têm-se caseiros, prestadores de serviços, faxineiros e tantos
outros.

A realidade é que em vez da sociedade progredir, venha a regredir com tais


pensamentos racistas e classicistas fazendo com que ricos e brancos sejam
hegemonizados enquanto as demais raças são sobrepostas e colocadas em
segundo plano nas questões de igualização sociais.

Para Boaventura (apud Lima), “No capítulo sobre a “construção intercultural


da igualdade e da diferença” Boaventura comenta que “pela primeira vez na história,
a igualdade, a liberdade e a cidadania são reconhecidos como princípios
emancipatórios da vida social” (p. 279)”. Vemos hoje, que para poder alcançar
patamares mais altos, há que se ter o reconhecimento e consequentemente, a
redistribuição, para que assim, todos possam ter os mesmos direitos.

Ainda o autor “o século XIX foi palco da modernidade e do capitalismo, onde a


desigualdade e a exclusão se evidenciaram.” Ou seja, vê-se que ocorrera o oposto,
o que era para ser um processo contínuo de inclusão se tornou um processo
hegemônico de exclusão de indivíduos, grupos, comunidades, etc.

Ainda pode ser percebido que “o racismo e o sexismo combinam os princípios


de desigualdade apontados por Marx e os princípios de exclusão percebidos por
Foucault”.

Para Heilborn e Barreto (2010), na etimologia da palavra “raça” encontramos


os termos linhagem ou cepa que relacionam raça à ideia de grupo de
descendência.Povo e raça aparecem assim como termos intercambiáveis (...)”. Os
movimento sociais veem o conceito de raça muito parecido, pois raça e povo estão
relacionados a grupos sociais e essa visão acaba sendo inter-relacionadas e
interligadas.

Na música de Clara Nunes, “Canto das três raças”, é perceptível, que as


raças que aparecem são as que foram submissas aos brancos colonizadores do
57

Brasil.

Para Gomes (2012 p. 731):

“Como discurso e prática social, a raça é ressignificada pelos sujeitos nas


suas experiências sociais. No caso do Brasil, o movimento negro
ressignifica e politiza afirmativamente a ideia de raça, entendendo-a como
potência de emancipação e não como uma regulação conservadora;
explicita como ela opera na construção de identidades étnico-raciais”.

Nessa perspectiva social vendo a ressignificação da raça como positivo, traz


traços positivo e uma forma de unificação do movimento para a luta de um bem
comum, além de mostrar a força do movimento e seus ideais, que são favoráveis a
estas questões.

As questões que apropriação e ressignificação de raça, são para indagar a


própria história do Brasil e explicar como o racismo brasileiro opera tanto na
população, seja ela individual ou coletiva, quanto na estruturação do Estado.
Também, vem sendo como algo que beneficie a construção democrática e sua
afirmação.

O racismo institucional está presente em muitos lugares e algumas das vezes


legitimados por ações e política pública que alimenta e justifica tais atos e
atrocidades às minorias. Boneti (2012) retrata o papel regulador das políticas
públicas que ao mesmo tempo em que são benéficas também são cruéis, pois,
regular ações que excluem aqueles que mais precisam do Estado e que tentam
sanar essa falta com políticas públicas focalizadas.

Se houvesse a inserção das minorias ou o abarcamento de pelo menos


oitenta por cento dos grupos desde lá em cima com o PPA – Plano Plurianual, até
com a realocação dos indivíduos teríamos uma sociedade mais justas e menos
segregada.

Jaccoud (2003), traz para a discussão o papel do Estado nas questões


afirmativas, onde este têm o papel de regular sobre as políticas de inserção e de
combater essas desigualdades, ouso dizer que essas políticas afirmativas, no
Brasil, nasce com as questões educacionais, a partir de programas de formação
continuada e acesso a formação superior como o Prouni, também com as escolas
58

de ensino fundamental e médio com uma revisão dos conteúdos, onde foram
inseridos a formação sócio histórica do Brasil trazendo as questões de africanidades
e negritude para o discurso.

Não somente no campo da educação mais também do trabalho Jaccoud


(2003) retrata que houve um crescimento mesmo que mínimo, porém, significativos
das expressões de raça e gênero no campo da aceitação e inserção destes,
recentemente vimos reafirmação e um passo mesmo que tímido da legitimação dos
direitos a partir da PEC 66/12, ou PEC das domésticas.

A partir da perspectiva acima compreende-se o racismo institucional, também


denominado racismo sistêmico, como mecanismo estrutural que garante a exclusão
seletiva dos grupos racialmente subordinados - negros, indígenas, ciganos, para
citar a realidade latino-americana e brasileira da diáspora africana - atuando como
alavanca importante da exclusão diferenciada de diferentes sujeitos nestes grupos.
Trata-se da forma estratégica como o racismo garante a apropriação dos resultados
positivos da produção de riquezas pelos segmentos raciais privilegiados na
sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a fragmentação da distribuição
destes resultados no seu interior.

O racismo institucional ou sistêmico opera de forma a induzir, manter e


condicionar a organização e a ação do Estado, suas instituições e políticas públicas
– atuando também nas instituições privadas, produzindo e reproduzindo a hierarquia
racial. Ele foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras
StokelyCarmichael e Charles Hamilton em 1967, como capaz de produzir:

A falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e


profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem
étnica.(Carmichael, S. e Hamilton, C. Black power: thepoliticsofliberation in
America. New York, Vintage, 1967, p. 4).

Atualmente, já é possível compreendermos que, mais do que uma


insuficiência ou inadequação, o racismo institucional é um mecanismo performativo
ou produtivo, capaz de gerar e legitimar condutas excludentes, tanto no que se
refere a formas de governança quanto de accountability. Ou, nas palavras de Sales
Jr:
59

O “fracasso institucional” é apenas aparente, resultante da contradição


performativa entre o discurso formal e oficial das instituições e suas práticas
cotidianas, sobretudo, mas não apenas informais. Esta contradição é (...)
fundamental para entender os processos de reprodução do racismo, em
suas três dimensões (preconceito, discriminação e desigualdade
étnicoraciais), no contexto do mito da democracia racial. (Sales Jr, mimeo,
2011).

O racismo institucional é um dos modos de operacionalização do racismo


patriarcal heteronormativo - é o modo organizacional - para atingir coletividades a
partir da priorização ativa dos interesses dos mais claros, patrocinando também a
negligência e a deslegitimação das necessidades dos mais escuros. E mais, como
vimos acima, restringindo especialmente e de forma ativa as opções e
oportunidades das mulheres negras no exercício de seus direitos.

Assim, pode-se perceber que anos após anos sempre houve e haverá lutas
por reconhecimento em todo o mundo, e que essas se fazem importantes para a
manutenção e discussões na sociedade, afim de trazer melhorias e ajustes a esta.

Heilborn (2010) traz uma questão interessante que são as políticas de


inclusão tendo um papel fundamental para o desenvolvimento das minorias onde a
grande parte dessas políticas são feitas principalmente pela sociedade civil e o papel
do Estado com as políticas públicas afirmativas, afim de, reforçar esta inclusão e a
(re) afirmação faz nos titubear sobre o papel do Estado para tais políticas. O papel
do Estado de resguardar os indivíduos, que já sabemos que é falho, pode ser
mudado a partir das ações destes quando mudadas.

Carneiro (2004), ainda acrescenta que ser mulher, negra e pobre é muito pior,
com relação ao preconceito, do que ser homem, ou seja, o “camaleonismo” do
preconceito atinge camadas diferentes de uma mesma classe, raça, gênero e
quanto mais adjetivos tem uma indivíduo, maior o preconceito sofrido por este e
mais o Estado deveria [grifo nosso] ampará-lo.

Às vezes é necessária uma visão ufanista para poder viver e ter sonhos, pois,
com tantas posturas que se ver em relação às questões de raça e etnia algumas
vezes traz sensações de desmoronamento, e outras força de vontade de lutar por
questões afirmativas com mais afinco.
60

Percebe-se que as políticas públicas afirmativas têm que ser mais expansivas
e necessita de um olhar mais clínico nas questões de desenvolvimento e
permanência. Também, se faz necessário uma política de continuidade das já
existentes, onde muitos indivíduos que conseguiram ingressar, por exemplo, nas
universidades, através das políticas afirmativas, tem extrema dificuldade na sua
permanência e continuidade na mesma, onde muitos são absorvidos pelo mercado e
poucos conseguem alcançar patamares almejados.

Já a Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano, garante a reserva


de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38
institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente
do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos.
Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência.

Frase, dizia que a política de igualdade também é uma política de


reconhecimento, também pensa-se nessa política descrita por Frase, e acrescento
ainda que tem que ser distributiva, o que faz jus a questão das cotas.

Como dizia Santos: a desigualdade e a exclusão têm na modernidade um


significado totalmente distinto do que tiveram nas sociedades do antigo
regime. Pela primeira vez na história, a igualdade, a liberdade e a cidadania
são reconhecidos como princípios emancipatórios da vida social. A
desigualdade e a exclusão têm, pois, de ser justificadas como excepções ou
incidentes de um processo societal que lhes não reconhece legitimidade,
em princípio. E, perante elas, a única política social legítima é a que define
os meios para minimizar uma e outra. (1999, p.1) (SIC).

Acredita-se, que nesse programa há interseccionalidade de raça, gênero,


porém, não há a de classe, pois, há uma distinção entre as mesmas. A avaliação
que faço sobre tal política é que faz-se necessário a manutenção da mesma e
paralela a esta uma manutenção das escolas públicas e sua eficiência e eficácia
com relação a educação pública para que no futuro não haja a necessidade dessa
segregação institucionada.

Sempre houve e pelo que se vê sempre haverá um recorte de gênero e raça


na sociedade como um todo. Percebe-se que esse recorte dependendo da região,
cultura, país e outros, podem ser positivas ou negativas, contudo, vale ressaltar que
esse cenário, muda a cada dia, o que nos remete a pensar, se esse mesmo cenário
chegará um dia ao respeito mútuo com relação às diferenças de gênero e raça.
61

Com o destaque nas relações de raça e gênero, houveram também as


segregações dos mesmos, onde se iniciou uma guerra/luta de sobreposição destas,
posteriormente a aceitação e hoje a igualdade destas. Se vê todos os dias lutas
constantes pela igualdade, porém, às vezes, parece uma luta interminável.

É interessante pensar nas lutas e suas consequências, pois, graças a muitas


destas temos uma maior legislação que protege grupos minoritários na sociedade;
exemplo disso tem-se a Lei 11.340/2006, que visa o direito a integridade da mulher,
Lei também conhecida como a Maria da Penha.

Essa Lei que assegura o direito a integridade da mulher diz que “(...)
disseminar boas informações nos ambientes de convívio, para que cidadãs e
cidadãos tomem consciência do quanto certas ações individuais fazem a diferença
em favor do todo”. Ou seja, o indivíduo precisa enxergar-se enquanto autor da sua
vida, e quando se tornar um indivíduo ativo, consequentemente também se torna na
sociedade.

Na questão de raça e gênero, principalmente em raça, temos, por exemplo, o


grupo baiano Olodum, que há muito grita pelo reconhecimento dos espaços pelos
negros, discriminação, violência e tantas outras mazelas vividas e sofridas ao povo
baiano. Em suas músicas, são claras as menções aos antepassados e suas lutas, a
países que sofreram com a desigualdade de gênero e raça dentre outras tantas.

Assim como vemos nas letras das músicas de Ary barroso, Aquarela do
Brasil, Elza Soares, a carne e de Candeias, dia de graça algo em comum sendo o
negro como forma de força de poder e a reafirmação e reconhecimento destes no
tocante ao poder, e suas dificuldade no enfrentamento das desigualdades sociais,
sempre achando meios de combater a exploração e a violência cotidiana.

Para Fraser (2001),

A luta pelo reconhecimento tornou-se rapidamente a forma paradigmática


de conflito político no fim do século XX. Demandas por “reconhecimento das
diferenças” alimentam a luta de grupos mobilizados sob as bandeiras da
nacionalidade, etnicidade, raça, gênero e sexualidade. Nesses conflitos
“pós-socialistas”, identidades grupais substituem interesses de classe como
principal incentivo para mobilização política. Dominação cultural suplanta a
exploração como a injustiça fundamental. E reconhecimento cultural desloca
a redistribuição socioeconômica como o remédio para injustiças e objetivo
62

da luta política.

Percebe-se na fala da autora que as lutas de reconhecimento cresceram em


comparação aos séculos que antecederam ao descrito pela mesma, porém a luta
não é mais somente reconhecimento, agora também pela redistribuição o que
reafirma a condição de aceitação interina destas lutas.

Barbosa ainda acrescenta:

Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de


políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou
voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de
gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes
da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização
do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a
educação e o emprego.

O autor complementa a fala acima de Fraser, porém com uma política


afirmativa, onde a consolidação dos direitos seja exercida na integra, sem alguma
distinção.

No filme, Cidade de Deus, de Fernando Meireles, mostra a precariedade do


Estado em relação à efetivação das políticas de reconhecimento descritas por Frase
e das políticas afirmativas descritas por Barbosa, onde o tráfico se faz Estado, e as
leis são da comunidade. A exemplo disso, vemos e vivemos e muitos lugares no
mundo.

Assim torna-se clara a evidência por políticas públicas afirmativas que


consolidem os diretos de todos independente de ração, gênero, etnia, etc. e sua
aplicabilidade para que se tenha uma sociedade mais justa e igualitária, havendo
assim o acesso a todos nos espaços e que esses possam usufruir dos seus direitos
sem que sejam quitados dos mesmos.

Percebe-se que está ocorrendo esse reconhecimento a passos curtos, mais


ocorrendo. Hoje, tem-se uma série de políticas públicas que estão direcionadas a
um público que outrora fora excluído e muitas das vezes massacradas pela
hegemonia das classes dominantes. Contudo, vê-se esse processo sendo
cristalizado de formar agressiva aos diretos adquiridos.

Segundo Bento (p. 167), ela diz que:


63

Uma forma comum utilizada por aqueles que criticam as cotas é iniciar o
artigo com um discurso aparentemente favorável a elas, ou “politicamente
correto”, como, por exemplo, ressaltando a gravidade e a “inaceitabilidade”
da situação de precariedade dos negros no Brasil, para em seguida afirmar
que, apesar disso... é contrário à adoção das cotas.

Indo de encontro ao que disse a autora, nem sempre o que se pensa negativo
a respeito das cotas são cem por cento de forma a macular ou uma forma de
discriminação como afirmou esta, mas também, uma forma de melhorar para que
futuramente todos possam usufruir de tal recurso.

As políticas de reconhecimento como reforça as palavras supracitadas, Fraser


(p. 263), diz que “(...) “raça”, como gênero, não é apenas economia política.
Também tem dimensões culturais-valorativas, o que traz para o universo do
reconhecimento”. Nessa fala da autora pode-se perceber que pode sim pensar em
reconhecimento sem necessariamente está vinculada a questão econômica.

Mesmo assim, ainda se vê que uma política de reconhecimento pode ir aos


palcos das discussões, sem ser vinculado à questão econômica, o que dessa
maneira reafirmaria a questão da necessidade do reconhecimento, e
consequentemente viria por si só a questão da redistribuição.

Talvez, dessa maneira as minorias consigam alcançar espaços de poder ou


cargos de gestão sem a necessidade de pensar instantaneamente na questão da
redistribuição. Percebe-se que a redistribuição é consequência do reconhecimento o
que leva a pensar na questão da ocupação dos espaços de poder.

Barbosa (2001) ainda acrescenta:

Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de


políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou
voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de
gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes
da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização
do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a
educação e o emprego.

Ou seja, a ocupação desses espaços tão disputados, porém elitizados, só se


fará mediante uma política de reconhecimento, consequentemente de redistribuição
e por fim não mencionada de manutenção à igualdade só assim poder-se-á andar
lado a lado e em comunhão a todos.
64

Um desses espaços tão disputados é a educação onde, como já mencionada


por Barbosa é um espaço onde estão propícias grandes discussões e a efetiva
prática da igualdade de oportunidades poderá ser alcançada. A educação é um
espaço onde pode se efetivar as políticas de maneira mais efetiva.

5.3 A Capoeira na Escola

A escola é um espaço de inclusão e de discussões acerca do que corre não


somente em uma determinada localidade, mais do que ocorre em todo o mundo.
Dessa forma a escola torna-se um espaço de convívio de realidades e mundos
diferentes, abarcando uma comunidade escolar totalmente heterogenia e suas
multiplicidades. A cultura que se faz presente neste espaço não é somente a de um
determinado povo, tribo, sociedade, porém, ali, se faz presente uma série de
culturas expostos em livros, vídeos, nos usuários e em todo o corpo docente,
discente e comunidade escolar.

Nesse contexto, a cultura afro também tem seu espaço no ambiente escola,
contudo, esse espaço se torna restrito ao ensino de história, a capoeira, com suas
apresentações esporádicas e ao dia 20 de novembro, dia da consciência negra. Não
obstante, eventuais apresentações podem ocorrer decorrentes de trabalhos de
disciplinas em salas fechas com grupo de alunos restritos.

A partir disso, a Lei 10.639/2003, veio com o intuito de realocar o local do


negro na educação, trazendo à tona sua história, lutas e conquistas em solo
brasileiro, porém, essa conquista com tal lei foi restrita, mais uma vez, a uma parte
específica do amplo universo educacional: “§ 2o Os conteúdos referentes à História e
Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.”(SIC)

Dessa forma, pode-se perceber que o texto da lei, está restrito as áreas de
educação artística, a literatura e a história, não abrangendo a geografia, com os
espaços e sua distribuição geográfica, onde se localizam, por exemplo, as
comunidades Quilombolas, os Calungas e outros poucos restantes. Não
contemplando a Educação Física, com a capoeira, arte genuinamente brasileira,
dando espaços para artes, não menos importantes, porém excluindo a nossa como
65

sendo inferior. A biologia, que por sua vez, poderia fornecer dados importantes
sobre a biodiversidade local de tais comunidades e o porquê de escolher as
mesmas; e assim com outras disciplinas tão importantes que as deixaram de fora.

Para sanar tal “mal entendido” no corpo do texto da lei, foi acrescido de “todo
currículo escolar”, porém sabe-se que há uma exacerbação de conteúdo para serem
ministrado nas escolas que muitos não são contemplados por falta de tempo para
ministrar tais conteúdos.

Segundo Amorim e Atil (2007), enquadram a capoeira na escola, aplicando


aos quatro pilares da educação, às inteligências múltiplas de Gardner e por fim,
fundamentando a capoeira na matemática, linguística, música, espacial, ecológica e
outras áreas da educação.

Silva e Heine (2008) relatam que:

Desde 1960, a capoeira tem adentrado as portas das escolas, fazendo parte
de uma instituição que, juntamente com a família tem papel central no
processo educativo de crianças e jovens. Nos últimos anos, a inserção da
capoeira nas escolas tem sido um processo bastante significativo nas
principais regiões do Brasil. Da mesma forma, nos diversos países em que
a capoeira se faz presente, observa-se processo semelhante. Frente a esse
fenômeno, ao qual chamamos de capoeira escolar.

Percebe-se que a capoeira adentra os espaços escolares desde muito tempo,


porém, nunca teve espaço que de fato poderia ser chamado de seu, onde há uma
sobreposição do cristianismo, que uma minoria protestante acaba por atrelar os
elementos de matrizes africanas à macumba o que não é a verdade.

Mais Silva e Heine (2008 p. 41) acrescenta que “em algumas escolas de
Educação Infantil, a capoeira é oferecida como única opção de atividade física para
as crianças por se acreditar que a gama de ações motoras presentes na capoeira
possibilita o desenvolvimento integral do aluno”. Assim, torna-se mais fácil crer que
muitas pessoas estão mudando sua concepção de atrelamento a objetos tão
somente religiosos e percebendo os benefícios que a capoeira pode oferecer.

Os autores ainda acrescentam que a “Capoeira torna-se um elo entre a


escola e a comunidade. Afinal a capoeira é do povo, já que foi das camadas mais
populares da sociedade que ela nasceu”. Percebe-se uma maior interação entre a
66

escola e a comunidade minimizando a evasão escolar, as expressões das questões


sociais e combatendo inclusive a criminalidade e a drogadição infanto-juvenil.

Assim tem-se a capoeira como um instrumento de inclusão tanto com relação


aos alunos, alunos-escol, comunidade-escola e várias outras possibilidades, pois, o
ato de trazer a comunidade para dentro da escola já é uma prática da cidadania, e
também pode-se considerar espaços de inclusão e empoderamento da população e
da comunidade escolar.
67

6. A Capoeira como Objeto de Inclusão Social

A inclusão social não está somente na aceitação do outro indivíduo de


condição diferenciada da sua, esta, se abrange em vários aspectos, social,
econômico, racial, étnico, etc., a aceitação, também, é apenas mais um ponto da
inclusão, não esquecendo o respeito, integridade, integração e, muitos outros
adjetivos que esta carrega em seu escopo.

A capoeira, como se sabe, teve seus altos e baixos durante toda a sua
trajetória desde a sua criação até os dias atuais. Esta mesma, também teve o seu
lado sombrio e sua fase de júbilo, mas hoje, depois de reformada e reformulada, a
capoeira ganhou outra cara e outro status dentro do seu contexto e objetivos. Pode-
se dizer que a capoeira é como o camaleão, assim como o nome de um dos seus
movimentos, pois, se adéqua a necessidade exigida nas circunstancias em que se
encontra, inclusive, já fora estudada por alguns autores essa faceta da capoeira e
suas transformações.

Essa capoeira que se modificou ao longo do tempo, com todas as suas


transformações, se adequou a uma forma que hoje se tem, de capoeira inclusiva,
além de ser adaptável ao meio em que se encontra.

Conde (2007, p. 68), relata que:

A capoeira oferece vários recursos, o jogo agressivo/objetivo, o jogo


atlético, o jogo malicioso/mandingueiro, o jogo de são-bento-grande (rápido
e mais em pé), o jogo de angola (lento e mais no chão), o jogo de iúna
(mais técnico e de maior destreza) e outros tantos. Pastinha e Bimba, mais
do que seus contemporâneos, jogavam, à sua maneira, uma capoeira ao
ritmo do contexto social e político, conquistando um novo espaço e abrindo
portas para futuras gerações.

Nessa passagem do autor é possível verificar já uma mudança no tipo e no


contexto do jogo da capoeira e sua adaptação ao meio em que se encontra. Oliveira
e Leal, ainda acrescentam que:

Dessa forma, a experiência social da capoeira é algo que vai bem mais
longe do que uma simples invenção (com o sentido de algo terminado,
acabado) de uma prática cultural. Ela é, na verdade, uma “constante”
reinvenção (algo que está em constante construção). Isso significa que em
cada momento histórico a prática da capoeira possui significados e
características próprias. (2009, p. 52).
68

Muitos autores, senão todos, concordam e relatam ao falar dessa prática


capoeirística de adaptação e transformação da mesma no seu processo histórico e
de aceitação desta na sociedade e por parte da sociedade como prática da cultura
nacional. Porém, esse processo de transformação e adaptação da capoeira não está
no fim, hoje, pode-se dizer que “atualmente, a capoeira passa por um intenso
processo de profissionalização” como afirmam Silva e Heine (2008, p. 23).

Mais é graças a essa constante mutação que a capoeira pode ser praticada
nas ruas, praças, academias, ginásios, se esgueirar pelas favelas, morros, becos e
tantos outros lugares que outras práticas esportivas, talvez, não fosse a tanto. E
também, a essas mudanças que a capoeira pode ser praticada por uma nação de
pessoas de diferentes aspectos em todo o mundo, utilizando-se da integração social
que esta pratica para a sua expansão, o seu convencimento e o seu
reconhecimento.

Essa integração proporcionada pela capoeira, se dá, desde a sua entrada em


um grupo de praticantes até a sua permanência ou não. Pois, um indivíduo que
entra em um grupo de capoeira a primeira coisa que este aprende são os
cumprimentos desse novo grupo social ao qual está sendo inserido, depois passa
pela fase de conhecimento, também a aceitação, que se pode dizer que é imediata,
pelos participantes, e por fim a roda, esta sim é a maior forma de inclusão social que
há na capoeira, pois nesse circulo todos são iguais, todos partilham do mesmo
saber, o coro sendo entoado em conjunto, os instrumentos sendo tocado para
facilitar esse processo de convivência mútua. E é nessa hora, nesse momento que
se mostra a união de um grupo de pessoas e o acolhimento deste para com outros,
seja de outro grupo, visitante, amigo ou ouvintes, fazendo com que sejam um só em
um circulo interminável.

Segundo Silva e Heine (2008), a capoeira também pode dar às pessoas um


sentido de dignidade para a vida, esperança e força para lutar e construir um futuro
melhor para todos. Além de inclusão a capoeira também traz consigo outros valores,
entre eles o fato de o indivíduo se perceber como sujeito de sua própria vida e não
como objeto e a agregar valores para a sua vida e levá-los ao seu contexto social,
como relatam Silva e Heine
69

O cotidiano dos treinos de capoeira gerou nos jovens cumplicidade e


companheirismo acentuado. O que se viu foi a agressividade, a hostilidade
e a desconfiança transformarem-se em amizade, respeito, compreensão,
alegria e apoio mútuos. Crianças que tinham dificuldades em sentar em
uma roda para uma conversa ao final da aula entenderem o sentido da
disciplina e organização que grassam na realização de uma roda de
capoeira. (2008, p. 32).

Essa maneira de disciplina apresentada a partir da prática esportiva, nesse


caso a capoeira, é uma forma de mostrar ao indivíduo, seja ele criança, jovem,
adulto ou velho, também é uma maneira de mostrar-lhes que eles são importantes e
que eles têm/desempenham um papel fundamental em um grupo social. Para Silva e
Heine (2008 p. 50), eles relatam que a capoeira tem como função

De maneira geral, a capoeira deve integrar o indivíduo na sociedade e


buscar o seu desenvolvimento pleno, proporcionando prazer em sua
execução, tornando sua prática um hábito e um ato necessário,
impulsionando as relações, as tomadas de decisões coletivas, a ajuda
mútua e a superação de conflito mediante o diálogo e a cooperação” (SIC).

Nessa palavra está presente qual o papel da capoeira na inserção do


indivíduo e o seu papel a ser desenvolvido na sociedade ou em um grupo social.
Porém, Cypriano (2011), recoloca a capoeira de forma mais profunda e como fator
de inclusão social e integração social em sua obra.

Todos os dias, milhares de crianças e jovens se beneficiam de projetos de


inclusão social e educacional – criados por mestres, professores, e alunos –
bancados do próprio bolso ou com o apoio de governos e empresas. A
prática da capoeira não só atenua as tensões cotidianas, como eleva a
auto-estima e forma indivíduos mais conscientes e integrados. (CYPRIANO,
2011).

E acrescenta:

A integração social se faz naturalmente, pelo próprio espírito democrático


da capoeira. Ela desconhece preconceito ou discriminação – em qualquer
atividade, exige a participação de todos na roda, criando um respeito mútuo
que desenvolve a cidadania. Sua musicalidade fortalece o equilíbrio
emocional como vantagem nas relações com os demais participantes,
aumentando a capacidade de lidar com os outros e suas diferenças.
(CYPRIANO, 2011).

Ou seja, a própria capoeira traz em suas entranhas desde a sua formação um


fator social muito arraigado a seus atos cometidos durante todo o seu processo de
formação, aceitação e até a atualidade. Por mais que no passado houve desacordo
e uma má fama que recaíra sobre a capoeira, seu fator primordial sempre foi o fator
social. Onde Torre e Santos (p.10), diz que a capoeira, uma manifestação afro-
70

brasileira, tem se mostrado, ao longo da sua trajetória, um fenômeno de resistência


singular. Conseguiu sair de circunstâncias demasiadamente desfavoráveis, a
exemplo da marginalização e do Código Penal Brasileiro, resistindo aos Capitães do
Mato, à perseguição policial e, principalmente, à mais perversa das perseguições: a
injúria social.

A capoeira não só trabalha como esporte para atender o tocante da


cidadania, esta, perpassa por tantos outros caminhos e assuntos que é quase
incontável os meios que se usa para adentrar na sociedade. A capoeira se vincula a
cultura, moda, filosofia, sociologia, antropologia, física, dança, música, teatro,
geografia, beleza, estética, e muitos outros meios que/ou juntos, por meio da prática
da capoeiragem, adentram casas, favelas, países, culturas, meios sociais, círculos
sociais, universidades e milhares de lugares levando assim, não somente a cultura
de um povo ou nação, mais um leque de oportunidades para diferentes áreas do
conhecimento de cada indivíduo que a ela tem contato, Silva (2008 p. 57), diz “(...)
que a capoeira, desde sempre, se faz no corpo que faz a capoeira”.

Essa mesma capoeira que é jogada aqui em Brasília é a mesma que é


jogada em Salvador, Rio de Janeiro, no Brasil, na Itália, No Japão e em todo o
mundo, só se muda os objetivos de quem pratica tal arte, e a visão de cada um que
tem contato com a mesma.

Os fatores sociais que movimentam a capoeira e que utilizam dela para se


locomover são inúmeros, assim como esta pode adentrar em grupos sociais
diferenciados. A utilização da capoeira com ferramenta de desenvolvimento social é
muito abrangente, levando o indivíduo a ter um espaço dentro de um grupo social,
vendo a importância do mesmo neste e, seu impacto na sociedade, apresentando
políticas públicas de inclusão, acompanhamento e desenvolvimento infanto-juvenil,
adulto e do idoso.

O campo de abrangência da capoeira se estende em qualquer faixa etária,


classe social, cultura, língua, etc. é uma prática ilimitada trazendo não só benefícios
para si, como para o meio em que se encontra o indivíduo praticante, o espaço em
que se frequenta, o convívio familiar, até mesmo para a inserção no mercado de
trabalho entre outras. Esse campo ilimitado de caminhos que a capoeira pode seguir
71

poderia ser melhor acolhido pelas autoridades e organizações e posta a população


como uma atividade extracurricular, física ou até mesmo como uma válvula de
escape para o estresse do dia a dia. Talvez o que falta seria uma visão melhor da
cultura nacional e sua utilização.
72

Considerações Finais

Aqui foi apresentada a capoeira na escola e a aplicabilidade da Lei


10.639/2003 como uma política pública afirmativa e o que agregou para a profissão
de Administrador Público. Além de mostrar que a capoeira pode abranger áreas
diversificadas do conhecimento e sua aplicabilidade não se restringe a uma área
específica.

Muito se aprende quando utiliza a capoeira; agrega valores, adentra em


novas culturas, conhece outras pessoas; a capoeira, com o seu papel fundamental
de difundir o conhecimento e um pouco da história da formação do povo e cultura
brasileira, nos faz entender que essa ferramenta foi e, é útil para troca de
informações, a defesa da nação brasileira, perpetuação da cultura nacional dentre
outras, conforme visto no capítulo I. Contudo, esta não teve unicamente estas
funções descritas.

A capoeira com suas formas multifacetadas podem adentrar nos mais


diversos campos da sociedade, porém, é nas classes menos abastadas que esta
tem um maior desempenho e uma maior facilidade, talvez por sua formação inicial,
que outrora fora praticado por escravos, ou pela simplicidade que esta traz consigo.
Desse modo a capoeira torna-se uma ferramenta valiosa para o Assistente Social
que, poderá utilizar as benesses para desenvolver uma comunidade, assistir a uma
família em situação de risco e (re)-inserir o indivíduo – criança e/ou adolescente –
em um grupo, sociedade, mercado de trabalho dentre outras.

Com políticas públicas esportivas mais eficientes e incentivos aos esportes


nacionais, o quadro de marginalização da criança e do adolescente, tenderia a
decair, pois, com uma política esportiva e sócio-assistencial muitas famílias sairiam
da zona de risco e se auto sustentaria.

Também há um respeito muito grande com relação aos mestre de capoeira


que, muitas vezes nem a polícia ou as autoridades competentes tem, como nos
casos dos morros, onde o mestre tem acesso livre para desenvolver o seu projeto e
resgatar muitos jovens ali encontrados.
73

Essa prática parece ser melhor vista muitas vezes pelos gringos 9 do que pelo
próprio povo ao qual ela pertence, vendo tal arte sendo aclamada em muitas partes
do mundo e esquecida em seu colo materno.

Percebe-se que a capoeira está mais uma vez tímida e zoneada às periferias,
também está visível que este mesmo esporte que já fora um marco importante na
afirmação da democracia no Brasil, hoje, não é tão bem quista nas classes mais
abastarda da sociedade, dando espaços a outras atividades oriundas do ocidente e
eurocêntricas, desvalorizando as nossas raízes e nossa cultura.

Nas escolas, espaços onde a democracia muitas vezes é exercida


plenamente, percebe-se que ainda há preconceito em alto grau com relação às
práticas culturais africanas, pois as mesmas ainda são vistas relacionadas às
religiões de matriz africana, e consequentemente a magia negra, e todas as formas
de maledicências relacionadas às práticas de tal religião. O que é uma inverdade,
pois, a cultura afro tem o mesmo direito que outras de ocupar os espaços de poder e
ser respeita e reconhecida em sua plenitude por todos sem distinção, pois,
constitucionalmente, somos amparados de forma a não discriminação por cor, raça,
credo ou qualquer outra forma.

A capoeira adentra nesse pacote de preconceito, tendo apenas visibilidade e


reconhecimento apenas no mês de novembro por referenciar Zumbi dos Palmares,
grande líder e revolucionário da libertação do povo negro, contudo, passa-se onze
meses sem sequer ser mencionada ou reconhecida sendo jogada de lado como um
mero marco histórico sem valor algum.

O próprio preconceito escolar começa por aqueles que de fato não deveria
tem nenhum, os atores da escola – professores e gestores –, pois estes quando no
poder, ou de uma sala de aula ou de uma escola, coloca suas crenças e valores
como sendo único e perdendo o espaço onde todos deveriam ser respeitados e
acolhidos.

Precisa-se formar profissionais na educação que veja a escola como um todo


e não como parte fragmentada e seleta, a escola em muitas localidades não

9
Pessoa estrangeira.
74

somente serve como fonte de obtenção de conhecimento, mais também como


espaço de interação, e trocas.

A capoeira, hoje, em muitas dessas cidades , são praticadas em quadras


esportivas comunitárias, em espaços privados, e também, na escola pública, porém,
em horários em que não haja aula ou finais de semana quando não há nenhum ator
da escola – corpo docente, discente, administrativo –. Isso também não deixa de ser
uma represaria por conta de sua prática e se colocarmos a atuação da capoeira num
paralelo entre hoje e no passado veremos que o que mudou dó foi a localidade, pois,
ainda são enclausurados como no passado nas senzalas, tendo como prática
clandestina, sem um reconhecimento de fato, legal apenas como reconhecimento
simbólico.

Contudo, ainda há resistências que durante anos estão lutando pelos espaços
afirmativos da prática da capoeiragem, levando ao mundo e as ruas a importância
da prática desta e seus benefícios com programas e projetos, adentrando espaços
que mesmo sabendo que encontrará barreiras desenvolverá projetos grandiosos
como os grandes mestres do passado que lutaram, hoje, muitos mestres lutarão
para a perpetuação dessa arte, cultura, luta, filosofia.

Enfim, essa importância não está somente no ato de jogar a capoeira ou


desenvolver um trabalho onde quer que seja, a capoeira como um todo é muito
complexa, pois abrange, a cultura, dança, luta, raízes, formação de um povo e
muitas outras coisas em diferentes campos de estudo. Assim, pode-se acrescentar,
que esta obra poderá ser de objeto de estudos futuros, podendo assim, outros
aprofundarem sobre o tema aqui abordado, dando vazão maior para acrescer
conhecimentos e difundir a importância da capoeira.
75

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