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EXPECTATIVAS RACIONAIS

Mario Henrique Simonsen '*

1 - Macroeconomia, estocástica e expectativas racionais

A combinaçã.o da t�oria aceleracionista da curva de Phillips com a


.
hipótese de expectativas inflacionárias adaptativas, conseguiu decifrar um dos mais
perturbadores enigmas da macroeconomia neoclássica: porque a prosperidade é a
companheira dos primeiros passos da inflação, e porque a pol ítica anti-inflacionária
costuma exigir uma temporada de recessão. Na medida em q ue a demanda agregada
se descreva por um jogo de curvas IS e LM, explicam-se também os efeitos das mu­
danças de política monetária sobre as taxas de juros e sobre a velocidade-renda da
moeda.
Apesar desses méritos, a h ipótese de expectativas adaptativas, bem
como qualquer outra que estabeleça que a taxa de infl ação esperada é função das
taxas de inflação observadas no passado, encen a cais graves defeitos: primeiro, ela
abre a possibilidade de o Governo sempre enganar os agentes econômios, manten­
do a inflação efetiva acima da esperada, e com isso sustentando o produto acima de
seu nível potencial (Essa possibilidade, aliás, é a origem do termo "aceleracionista"
associado à hipótese da taxa natural de desemprego). Em segundo lugar ela dissocia
as expectativas de infl ação das previsões de política econômica: a inflação esperada
é a mesma q uer se se preveja 10% ao ano ou 1 00% ao ano de expansão dos meios de
pagamento.
A teoria das expectativas racionais supõe que as previsões das variá­
veis endógenas resultem das previsões quanto ao comportamento das variáveis exó­
genas. Trata-se de um avanço metodológico, em relação à hipótese das expectativas
adaptativas, mas é preciso explic;tar como se projetam as variáveis exógenas. A
idéia central é que os agentes econômicos usem toda a informação disponível para
construir essas projeções da melhor maneira possível, mas é necessário transformar
essa idéia num critério de estimação bem definido. I sso se faz em três etapas.
A primeira consiste em tratar como aleatórias todas as variáveis,
tanto as exógenas como as endógenas. Esse é ponto fundamental da macroeconomia
estocástica, e que resulta da suposição de que toda variável possa ser perturbada por

* Da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE ), da Fundação Getulio Vargas (FGV ). \


6 REVISTA D E ECONOM E T R I A

por choques. A melhor maneira de formalizar a questão consite em construir um


espaço vetorial H de variáveis aleatórias (possivelmente de dimensão infinita), ao
qual pertençam todas as variáveis econômicas que possam interessar ao problema.
Como as constantes costumam figurar nas relações econômicas, suporemos e}ue o
conjunto dos reais seja um subespaço de H . Define-se o produto escaléjr de dois
vetores de H como sendo a esperança matemática de seu produto, isto é,
(x, y) = E ( x y ), o símbolo E indicando "esperança matemática",
A segunda etapa formaliza a idéia de conjunto de informações. Abs­
tratamente, um conjunto de informações L é um subespaço de dimensão finita de
H que contenha o conjunto dos números reais. A caracterização dos conjuntos de
informações como subespaços de dimensão finita de H tem uma explicação sim­
ples: os arquivos estatísticos são finitos, mas quem conhece um conjunto de variá­
veis aleatórias pode calcular qualquer de suas combinações lineares. Supõe-se, quan­
to ao mais, que qualquer agente econômico, por menos bem informado que seja,
conheça o conjunto dos números reais.
A terceira etapa estabelece como projetar uma variável econômica V
( isto é, um ponto de H) a partir de um conjunto de informações L. Admitiremos
que a projeção y dessa variável seja o estimador linear não tendencioso de V, de
mínima variância em L. Prova-se facilmente que, com a definição de produto esca­
lar adotada, y é a projeção ortogonal E LV de V sobre o subespaço L. Essa con­
clusão estabelece uma salutar correspondência entre os conceitos geométrico e esta­
tístico de projeção. Prova-se também que, se V está ligado a uma base ( 1 , x 1 ' x2'
.. . , xp ) de L por uma distribuição normal múltipla, então y = E LV é a espe­
rança matemática de y condicional a ( x 1 ' x2' . . . , xp l.
Essa terceira etapa estabelece um critério geral de projeção, tanto
para as variáveis exógenas do modelo quanto para as endógenas. Como o sentido
econômico da teoria das expectativas racionais é projetar as últimas a partir das
primeiras, é preciso provar que o critério de estimação proposto é consistente, isto
é, que as projeções ortogonais sobre o conjunto de informações L das variáveis
endógenas e exógenas se combinam de acordo com as equações do modelo. Essa
consistência demonstra-se imediatamente desde que se suponham lineares as equa­
ções do modelo. Com efeito, se qualquer relação entre as variáveis z 1 ' z 2' . . . , z
m
(vetores de H) for da forma:

sendo a 1 ' a2 ' ... , a , c constantes reais, então, como EL é um operador


m
linear, e como E L c = c (já que toda constante pertence a qualquer conjunto de
informações) :
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A álg ebra das ex pectativ as racionais será desenv olv ida na seção 2 .
T rat a-se de uma simplificação est ilizada da teoria orig inalmente sug erida por M ut h
em 196 1. Na v ersão orig inal, a ex pectativ a de umav ariáv el aleatória considerav a-se
racional quando coincidisse com a esperança matemát ica dessa v ariáv el, condicional
à s informações disponív eis. Em seus ex emplos, t odav ia, M uth admitiu que as rela­
ções econômicas fossem lineares e que os choques fossem todos normalmente dis­
tribuidos, simplificações sem as quais a t eoria orig inal das ex pect at iv as racionais se
torna matematicamente intrag áv el. C om essas simplificações, a t eoria de M ut h equi­
v ale à que se apresentará na seção 2 .
A seção 3 ex emplifica o mé todo das ex pect at iv as racionais com um
modelo macroeconômico muit o simples, em que a oferta ag reg ada se descrev e por
uma curv a de P hillips obtida pelas hipóteses contrat uais de Gray e Fischer, e onde a
demanda agreg ada se det ermina pela t eoria quantitativ a da moeda. A seção 4 chama
a at enção para a possibilidade de equilíbrios mú lt iplos com ex pect at iv as racionais.
Essa possibilidade está quase sempre present e quando a demanda ag reg ada se des­
crev e por um jog o de curv as I S e LM : a presença, nas equações macroeconômicas,
de ex pectat iv as quant o aos preços futuros é a razão para essa indet erminação do
equilíbrio. P ara lev ant ar a indet erminação é preciso ex plicit ar condições de estabili­
dade que descartem a v iabilidade de um surto inflacionári por combust ão espon­
tânea.
O s modelos das seções 3 e 4 admit em que as relações macroeconô­
micas dependam, em cada período, de um único conjunto de informações, comum
a t odos os ag ent es econômicos. Essa é uma suposição que simplifica, mas que
t ambé m empobrece os ex ercí cios sobre ex pect at iv as racionais, pois os modelos mais
int eressantes são just ament e aqueles que combinam diferentes conjuntos de infor­
mações. Um ex ercí cio famoso, o problema da ex tração do sinal, resolv e-se na
seção 6. A solução desse problema inspirou a teoria de Lucas da curv a de P hillips,
apresentada na seção6.
Embora concebida por M ut h em 1 96 1 , a teoria das ex pectativ as
racionais só se incorporou à análise macroeconômica na dé cada de 1970. O s primei­
ros art igos sobre a maté ria procuraram associar ex pect ativ as racionais a neutralidade
da moeda: nem mesmo a curto prazo as v ariações prev istas da pai ít ica monetária
poderiam afet ar o produt o real. A seção 7 descrev e essa teoria da neut ralidade, a
qual, entre outras coisas, condena a política anticí clica e acena com a possibilidade
de um combate indolor à inflação. Na realidade, a t eoria depende da hipót ese de
que os contrat os salariais sejam surpreendent ement e curtos: sua duração não pode
ex ceder o período necessário à absorção de nov as informações pelas Autoridades
M onetárias.
S em essa hipót ese, ou alg uma out ra ig ualmente irrealist a (como a de
que os contratos salariais sejam condicionais a todos os estados da natureza, como
no modelo de Arrow-Debreu com incert eza) , cai por terra a teoria da neutralidade.
8 REV ISTA D E ECONOM E T R I A

El a não se apli ca, por e xe mplo, a o mode lo dos contratos salariai s justapostos,
de se nv olvi do na se ção 8. O model o abre o campo para o ativ i smo mone tá rio, mos­
tando que os choque s de ofe rta são o pomo da di scórdiae ntre as pai í ti cas de e sta­
bi li zação do e mpre go e de e stabi li zação dos pre ços. A se ção 9, usando a re lação de
P hill i ps do model o dos contratos sal ari ai s justapostos, mostra que a hi póte se de
e xpe ctativ as rac;.)nai s ê capaz de de screve r, com e xtre ma ri que za de porme nore s, os
e fei tos col ate rai s da políti ca de combate à infl ação, sobre o produto, o e mpre go e as
taxas de j uros.
Embora re pre se nte m um av anço, e m rel ação à hi póte se adaptativ a de
formação das e xpe ctativ as, os mode l os de e xpe ctativ as raci onai s não ape nas supõe
que um conj unto de e quaçõe s li gue a proje ção das v ariávei se ndóge nas à dase xóge ­
nas. Admite m também que e ssas e quaçõe s se jam todas li ne are s e que todos os
age nte s e conômicos, além de as conhe ce r, nel as acre dite m. Esse é o cal canhar de
Aqui le s da te ori a.

2 _. A Álgebra das expectativas racionais

Conforme se e xpl icou na se ção pre ce de nte , o pri mei ro passo para a
construção de um model o de e xpe ctativ as racionais consiste e m construi r um
e spaço ve tori al re al H de v ariáve is ale atórias. Toda v ariáve l e conômica que possa
i nte re ssar ao mode lo deve pe rte nce r a H, e o conjunto dos re ais deve e star contido
e m H.
Supore mos que todos os pontos de H se jam v ariáveis ale atóri as
(e ntre as quais as constante s se consi de ram um caso particul ar) que admi tam mo­
me ntos fini tos de pri me ira e se gunda orde m. Em suma, se y E H, Ey e Ey2
e xiste m, por hipóte se . Essa suposi ção pode se r substi tuida pe la de que e xi sta uma
base de H cuj os e le me ntos possuam mome ntos fini tos de prime ira e se gunda
orde m. Isto posto, pode - se asse gurar que , dados doi s e le me ntos quaisque r x e y
de H, E ( XV ) e xiste, poi s:

2 E (XV) =E ( x+V ) 2 - Ex2 - EV2

De fi ni re mos um produto i nte rno e m H pe la re gra ( x, V) =E ( xV ) .


Essa de fi nição ate nde aos re qui sitos bá sicos de um produto i nte rno:

i) (x, V+ z) = (x, V) + (x, z) ;

ii) (Oé x, V) = Oé (x, V) (Oé re al) ;

iii) (x, V) = (V, x) ;


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iv l ( x, xl > O;

vi ( x, xl = O se e some nte se x = o.

Como conse qüênci a de ssa de fi ni ção, a norma de um pont o de H


e xpri me -se por II x 11 = � e a dist ânci a e nt re doi s pont os de H por
d ( x, yl = II x - y II = vi E ( x - y1 2 .

Um conjunt o de i nformaç õe s L é um sube spaço de dime nsão fi nit a


de H que conte nha o conjunt o dos re ais. As conside raçõe s he urísti cas que condu­
ze m a e ssa de fini ção já foram e xpl icadas na se ção 1. De signare mos por EL a proje ­
ção ort ogonal sobre o conjunt o de i nformaçõe s L. O conjunt o R dos re ais é o
me nor dos conjunt os de i nformação possíve is. Ve ri fi ca- se facil me nte que a proje ção
ort ogonal de um pont o de H sobre R é a sua e spe rança mate máti ca, ist o é , que
ER = E. Com e fe it o, se ja z um pont o de H e i sua proje ção ort ogonal sobre R.
Ent ão i é um nú me ro re al t al que z z se ja ort ogonal a t odo nú me ro re al. Isso
-

i mpl i ca:

( z -2, 11 = E ( z - 21 = O

Como i ER z é nú me ro re al, Ei
::::: z. Se gue -se que Ez = ER z,
:::::

qual que r que se ja z E H .


Se ja ( 1, xl . x2 ' " ', xp) uma base do conjunt o de informaçõe s
L e h um pont o qual que r de H. P rove mos que o e st imador li ne ar não te nde n­
ci oso de ml' nima v ariânci a y = aO+ a, xl + a2 x2+ . . + ap xp de y é proje ção .

ort ogonal y = ELY de y sobre L. Com e feit o:

a) se y é um e sti mador l ine ar para y const ruido a parti r da base


( 1 , Xl, x2 ' . . . , xpl de L, e nt ão y é um pont o de L;

l
b) Y = ELY é ume sti mador não te nde ncioso para y. Com e fei ­
t o, y - Y é ort ogonal at odo e le me nt o de L. Como 1 E L,
( y -y, l l = E ( y -yl = O;

cl y = E LY é o (ú nicol pont o de L à mínima dist ânci a de y.


Tendo e m vi st a a de fini ção de di st ânci a, isso signi fi ca que y é
2
o pont o de L que mi ni miza E( y -y) ; como y é um e sti ­
2
mador não te nde ncioso de y, E( y - y) é a v ariância do
e st imador, a qual port ant o é mínima para y = ELy.

Se ( y, x1' x2 , . . . , xpl e st ão l i gados por uma di st ribui ção con­


junt a de probabili dade s t al que a e spe rança mate mátiv a de y, condici onal a
10 REVISTA DE ECONOMETRIA

(Xl , x 2 , . . . , x pl sej a uma função l ine ar de x " x 2 . .. . , x p' isto é, se

E (y I x l , x 2 ' . . . , x pl = aO+ al x l + a2 x 2 + . . .+ apx p ( 1I

e nt ão ELy é a e spe rança mate mát ica de y condicional a (x , _ x 2 . x p).


Com e fe it o E (y j x l . x 2 , " ' , x pl é o e st imador não te nde ncioso de mínima
v ariância para y const�uido a partir de (X" x 2 , " ' , x p) {Essa é uma ve ne rável
proprie dade da média, e que se de monst ra e m qualque r text o e le me nt ar de e st atís­
t ical. No caso ge ral não se pode afirmar que E (y I x " x 2 , " ', x pl sej a função
l ine ar de (Xl , x 2 , .. . , x pl. Cont udo, quando se ve rifica ae quação ( 1 I. pode · se
afirmar que a e spe rança mate má tica de y condicional a (x " x 2 ' " ', x n ) é o
e st imador l ine ar não te nde ncioso de mínima v ariância para y construido a part ir
de (Xl , x 2 , . . . , x pl. ou sej a, pe lo que se prov ou acima, E (yIx l , x 2 , . . . ,
x pl = ELy·;
É fá cil de monst rar que , para a e quação ( 1 I se ve rifique , isto é,
para que ae spe rança mate má tica de y condicional a (X" x 2.. . . , x pl sej a igual
a ELy é suficie nte (e mbora não ne ce ssá rio) que (V, x 1 , x 2 , " ', x p ) e stej am
ligados por uma dist ribuição normal múlt ipla.Com e fe it o, a de nsidade de probabi­
lidade s, no caso, de screve · se por uma função dot ipo:

2
9 (y, X l , x 2 ' . .. , x p l = k e -ay - by - c

onde k e a indicam re ais positiv os: b = bO + b1 x 1 + b2 x 2 + . .. + bpx p é


uma função ,l ine ar de (x 1, x 2 , .. . , x p); c é uma função do se gundo grau de ssas
v ariá veis (isto é, uma forma quadrá tica, mais uma função line ar homogêne a mais
uma const ante ). No caso:

+=

� �g (y, x l , x 2 ' . . . , x pl dy
- b 12 a
�� (y,.x l ' x 2 ' · ·· , x pl dy

o que nos lev a ime diat ame nte à e quação ( 1 ).


Se (1 , x l , x 2 , . . . , x pl é uma base do conj unt o de informaçõe s
L , e se y é um ponto qualque r de H , as coorde nadas aO, a 1' a2 , . . . , ap de

de te rminam- se pe lae quação de Gram:


NOVEMBRO DE 1 98 1 '1

EX1 EX2 Ex p "O Ey

EX1 EX f EX1 x 2 Ex , x p ", Eyx ,

2
EX2 EX2 x , Ex 2 EX2 x p "2 Eyx 2

. . . . . . .. . . . . . . .. .... ... . ...


2
Ex p Ex px , Ex px 2 . . . Ex p "p Eyx p

Como de hábito, essa equação se obtém especifican do que y -ELy


deve ser ortogonal a cada um dos vetores da base de L. A equação ex plicita o que é
preciso conhecer, em matéria de momentos de primeira e segun da ordem, para se
calcular a projeção ortogonal de y sobre L. O bom senso daI' infere que a teoria
das ex pectativas racion ais só pode fun cion ar em termos de "tudo se passa como se
fosse. . . .
"

Se I in dica o operador iden tidade no espaço H , a equação

desdobra a variável aleatória y em duas compon en tes ortogon ais: a parcela ELy,
que é a componente prevista com base n o con jun to de in formações L; e a compo­
n ente imprevista (I - EL)Y' Se c é uma constan te, ELe = c, pois qualquer real
c pertence ao conjun to de in formações L. Logo, { I - EL)c = O, isto é, a com­
ponente imprevista de uma constan te é igual a zero.
Genericamente,

indica a variância da componen te imprevista de V (M omento de segun da ordem e


variância coin cidem, n o caso, pois ELV é um estimador não tenden cioso de V.).
No caso particular em que se verifica a equação ( 1 ),

representa a variância de V condicion al ao con junto de informações L.


Em muitos problemas de ex pectativas racion ais precisaremos associar
diferentes con juntos de informações.Como ponto de partida para a análise, sejam
L e M dois conjun tos de in formações tais que L C M . Designemos por W o
conjun to dos vetores de M ortogonais a qualquer vetor de L, isto é:
12 REVISTA DE ECONOMETRIA

w = {w I x E M; Iw, xl = O para todo x E L }


W é u m su bespaço de H , pois toda combin ação lin ear de elemen tos de W per­
ten ce a H (Não se trata, porém, de u m con ju n to de in formações, pois o con ju n to
dos reais n ão está con tido em W l . I n diqu emos por R = EW a proj eção ortogon al
sobre W . N otemos em primeiro lu gar qu e, como W e L são ortogon ais:

121

O bserv emos agora qu e todo v etor z E M decompõem-se n a forma


z = EL z + Rz. Com efeito, z = ELz + 11 - EL l z. 1I ELl z éu m v etor de M
-

ortogon al a todo v etor de L, e portan to perten ce a W . Logo

Rz -REL z = Rz.

P rov aremos a segu ir qu e E M EL + R, isto é:

131

P ara isso basta demon strar qu e, se y é u m v etor qu alqu er de H,


( E L + RIy perten ce a M e y -( EL + Rl y é ortogon al a qu alqu er v etor de z de
M. Como L e W estão con tidos em M, é imediato qu e (El + R) y perten ce a
M. P or ou tro lado, se z = ELZ + Rz éu m v etor qu alqu er de M:

Já qu e as qu atro parcelas do segun do membro são produ tos escalares


v etores ortogon ais.
A equ ação ( 3 ) in terpreta o operador R como rev isor de proje­
ções: se o conjun to de in formações se amplia de L para M, a projeção de u ma
v.ariáv el aleatória y mu da de E Ly para EMy, isto ê, sofre u ma rev isão igu al a
Ry IEM - EL )y.

Das relações ( 2 ) e ( 3 ) dedu z·se imediatamen te a chamada "lei


das proj eções iteradas":

14)
NOVEMBRO DE 1981 13

N ot e-se t am bém qu e, para qu alqu er con st ant e C, EM c


e qu e port ant o:
Rc = O ( 51

Um caso part icu lar im port ant e é aqu ele em qu e M t em exat am ent e
um a dim en são a m ais do qu e L.Especificam ent e, su ponham os qu e M seja o su b­
{ }
espaço de H gerado por L } U { z , on de z é um v et or n ão pert en cent e a L.
No caso, o con ju nt o W dos v et ores de M ort ogon ais a L expressa- se por:

W= {'" ( z -ELzl I'" real


}
Daí se segu e qu e, parat odo y E H :

A con st ant e {Xy pode ser det erm in ada lem bran do-se qu e

dev e ser ort ogon al a z .

e qu e, port ant o:

[ ( I - EL l y.
Ry ( 61
[ ( I - EL l z .

Essa é a fórmu la da,


do problem a da ext ração do sin al e n a dedu ção da t eoria de Lu cas da cu rv a de
P hillips.

3 - Um modelo macroecon ômico com ex pect at ivas racion ais

Ilu st rem os com um m odelo m acroecon ôm ico bast ant e sim ples o
·
mét odo das expect at iv as racion ais. Su pon ham os qu e a ofert a agregada de um a
econ om ia, n o perí odo t, se descrev a pela relação log-lin ear:

Yt =
at + b ( Pt - wt ) + ut ( 7I
14 REVISTA DE ECONOMETRIA

onde Yt, P t e wt indicam, re spe ctivame nte , os logaritmos do produ to re al, do


ní ve l ge ral de pre ços e do salário nominal; at e b são constante s, a prime ira po­
de ndo variar de u m pe rí odo para outro; Ut é um choque ale ató rio de ofe rta tal
que :

(8 )

Et--1 indicando a proje ção ortogonal sobre o conjunto de informaçõe s Lt-1 dis­
poní ve l no inicio do pe ríod o 1.
Admitamos que os salários nominais se jam contratados no iní cio do
pe rí odo de modo a igu alar a ofe rtae a procu ra "e x-ante de mão de obra":

(9)

Yt indicando o logaritmo do produ to re al a ple no e mpre go.


na ve rsão Gray-Fische r da cu rva de Phillips que os salários nominais sigam a re gra
contratual acima, e que o e mpre go e fe tivo se de te rmine pe la curva de de manda
"ex -post" de mão de obra. Isso implica que o produ to e os pre ços e fe tivos se
combine m de acordo com a curva de ofe rta agre gada ( 7). Su btraindo·se as e qu a­
çõe s ( 7) e ( 9 l. che ga-se à re lação de P h illips:

( 10 )

Um choque de ofe rta pode de sviar o produ to a ple no e mpre go do


se u valor e spe rado. O de svio te m o me smo sinal do choque , mas é amorte cido por
um coe ficie nte que de pe nde da nature za do choque. Admitire mos que :

se ndo c u ma constante positiva mas infe rior a 1.


Qu anto à de manda agre gada, admitire mos que e la se de scre ve pe la
e quação quantitativa:

( 12 )

onde mt indica o logaritmo da ofe rta de moe da, y uma constante ( logaritmo da
ve locidade ·re ndae spe rada)e e t um choque de de manda tal que :

( 13 )

Comple te mos a apre se ntação do mode lo. T rate mos de re solvê·lo,


NOVEMB RO DE 1 981 15

exprim in do as vá riáv eis en dóg en as Y t e Pt em fun ção das v ariáv eis exóg en as, a
oferta de moeda, o produ to a pl en o empreg o e os c hoqu es.
técn ic a c on siste em c alcul ar separadamen te as c ompon en tes esperada e in esperada
do produ to e dos preços, e depois somar os resu l tados,
Aplican do o operador Et-1 às equ ações I 1 0 I e 11 2 I e l em­
bran do qu e toda projeção ortog on al é in depen den te, isto é,


E _l = Et_1 :

En tran do c om a equ ação ( 1 1 ) , segu e-se qu e:

I 14 I

I 15I

Apl iqu emos ag ora às equ ações 11 0 I e I 1 2 I o operador I- Et 1


-
( também idempoten te):

(I- Et_1 1 Y t = bll - Et:-1 1 Pt + u t

I I - Et _1 Imt + et =
I I - Et_1 Ip t + II- Et_1 IY t

Resolv en do o sistema de equ ações ac ima, enc on tra-se:

be t+ bll -Et_1 1 mt+ u t


1 1 6I
1+ b

e t+ 1 1- Et _1 1 mt+ u t
11 7 1
1+ b

Soman do as c ompon en tes esperadas e in esperadas dos preços e do


produ to, obtém-se fin almen te:

1 18 I
16 REVISTA DE ECONOMETRIA

11 9 )

Duas observações devem ser ext raídas desses result ados. ,Em primeiro
l ug ar a pai
(I - Et - 1) mt ,
mesmo con junt o de in formações, (I Et -1) mt in dica um erro acident al n a con ·
-

dução da pai
é a in spiração do t eorema da n eut ralidade que será discut ido n a seção 7.
Em seg un do l ug ar, como seria de se prever, os choques de deman da
afet am produt o e preços n o mesmo sent ido, os de ofert a em sent idos opost os.
C ont udo n ão é cert o a priori que 1 - c (1 + bl seja posit ivo. Se esse coeficient e for
n eg at ivo, o desvio do produt o em relação ao plen o empreg o t erá sin al cont rá rio ao
do choque de ofert a. Em suma, um desl ocament o imprevist o para cima n a curva de
ofert a ag reg ada pode t razer o produt o abaix o do plen o empreg o. A ex plicação
econ ômica para essa aparent e an omal ia é a seg uint e: se a curva de ofert a ag reg ada
sofre um deslocament o imprevist o para cima, o produt o a plen o empreg o será
subest imado, n o moment o da cont rat ação dos salá rios.C omo os preços são projet a­
dos a part ir da equação quant it at iva, n a medida em que os ag ent es econ ômicos
prevejam corret ament e a ofert a de moeda, a subest imat iva do produt o implica a
superest imat iva dos preços, a qual se t an smit e aos salá rios n omin ais cont rat ados.
A curva de deman da de mão de obra t ambé m se desloca para cima, com o choque
favorá vel de ofert a. M as pode acont ecer que esse desl ocament o n ão seja suficient e
para compen sar o efeit o, sobre os salá rios n omin ais, da superest imat iva dos preços
n o moment o em que se firmam os cont rat os de t rabalho.
A discussão acima dest aca o papel fun dament al da con st an t e c da
equação ( 1 1 ) , a qual correl acion a as alt eraçãoes do produt o a plen o empreg o aos
deslocament os da curva de ofert a ag reg ada. Se supusermos que o choque de ofert a
prové m de um desl ocament o imprevist o n a fun ção de produção ag reg ada, t eremos:
c � 11 + li) / 11 + li + b) on de li in dica a elast icidade da ofert a de mão de mão de
obra em relação ao salá rio real. V alores posit ivos para essa elast icidade t orn am
n eg at ivo o coeficient e 1 - c ( 1 + b) .

4·- Curvas 18 e LM e equilíbrios múltiplos com expectativas racionais

M ant enhamos a descrição da oferta do modelo ant erior, a qual se


resume n as equações já vist as:

1 10 )
NOVEMBRO DE 198 1 17

I 11 I

mas su bst itu amos a descrição qu ant it at iv a da demanda ag reg ada pelo par de cu rv as
IS e LM:

ICu rv a ISI 12 0 I

I Cu rv a LMI I 21 I

onde as l et ras maiú scul as indicam const ant es (o coeficient e Ct da cu rv a I S po­


dendo desl ocar-se no t empo) , onde rt represent a a t ax a nominal de ju ros no perla­
do t , onde elt e e2t indicam o choqu e real de demanda e o choqu e monetá rio,
respect iv ament e. Su poremos qu e t odos os choqu es sejam imprev ist os, ist oé :

12 2 1

A dmit amos qu e o Gov erno administ re a ofert a monetá ria como


v ariáv el de poHt ica, deix ando flutu ar liv rement e a t ax a de ju ros. El iminando rt
ent re as equ ações ( 2 0 ) e ( 2 1 ) cheg a-se a u ma equ ação do t ipo:

12 3 I

onde as constant es A e V t obt êm-se imediat ament e a part ir de Ct , O; F e B,


e onde et é u ma combinação linear dos choqu es elt e e2 r
A s component es inesperadas do produt o e dos preços calcu lam-se
facilment e. A pl icando o operador I - Et _1 às equ ações I 10 I e 12 3 I, ob­
té m-se:

de onde se segu e qu e:

bll - Et _11 mt + bet + u t


12 4 1
1+ A b

Ii -Et _11 mt + et -A Ut
12 5 1
1+Ab
18 REVISTA DE ECONOMETRIA

A componente prevista do produto real também se determina facil­


mente. Como na seção anterior, chegamos a:

( 1 41

A complicação surge agora com a componente esperada dos preços.


Aplicando-se o operador Et-1 à equação ( 23 1 obtém-se:

o que indica que a expectativa de preços para o período t não depende apenas de
m , mas também do nível de preços esperado para o período t + 1. Este último
t
dependerá da expectativa de preços para o período t + 2 , e assim sucessivamente.
Estamos diante de uma equação estocástica de diferenças finitas que
precisa ser resolvida para a frente. Para isso, avancemos inicialmente de i perrodos
a equação monetária (23 I:

Admitamos agora que a informação passada não se perca, e que, por


isso, o coniunto de informações no início do pedodo t + i contenha o conjunto de
informações do início do período t. Pela lei das projeções iteradas (4) ,

Aplicando o operador E t _
1 à equação acima, segue-se que:

Lembremos agora que pela equação ( 101 avançada de i períodos:

sendo E1:+i-1 u t+i = O. Mais uma vez, pela lei das projeções iteradas:

Introduzamos agora, para simplificar a notação, a variável auxiliar:

( 28 1
NOVEMBRO DE 1981 19

Das considerações acima e das equações (26)' e (27), conclui-se


que:

m =( 1 + B) E BE _ Pt+1
E
t-1 t t_1 Pt - t 1

m E BE
E
t_1 t+1 = (1 + B) t_1 Pt+1 - t_1 Pt+2

. . . . . . . . . . . " . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E _ m 1 + B ) E _ Pt BE _
t 1 t+n= ( t 1 +n - t 1 Pt+n+1

E, por tanto:

(29)

A chamada "solução estável" para o problema se obtém associando à


equação acima duas hipóteses adicionais:

I
B
a série E
( ) E
t_1 mt + i converge;
_

a) --
B+1
i=
�O -

n
b)
lim
( !)
B 1
E
t_1 Pt + n = O (30)

Neste caso, passando ao limite a equação (29), chege-se à expres­


são da solução estável:

(B+1 ) E p
t-1 t = .
I= O
; ( )-L
B+1
i
Et-1 mt+1 (31 )

A título de exemplo, se se supõe Et_1 mt+i=m, para todo i ;;. O,


.
chege-se a Et-1 Pt = m.
Como Pt indica o logaritmo do nível geral de preços, a condição de
transversalidade ( 30) se verifica desde que se admita que: i) Et_1 Pt existe;
jj} as taxas esperadas de variação de preços são limitadas, isto é, existe um número
real M tal que, para todo i ;;. O:
20 REVISTA DE ECONOMETRIA

Com efeito, dessa desigualdade resulta:

o que implica:

lim
n �oo
( )
_B_ n
B+1
Et - 1 pt + n = O.

Desde que o espaço H das variáveis aleatórias seja completo (isto é,


um espaço de Hilbert), uma hipótese análoga quanto às variações esperadas de
fÍlt + 1 assegura a convergência da série:

Por mais plausíveis que sejam essas considerações, elas se baseiam em


hipóteses adicionais à de expectativas racionais. Matematicamente, se o modelo
admjte uma solução estável descrita pelo processo estocástico p { }
t
(determinado
pela soma das equações (25 ) e (31), qualquer que seja a constante K, o pro·
cesso estocástico:

Pt =
Pt + K
( )
B+1
-B-
t
(32 )

'satisfaz às equações do modelo. A equação acima descreve a possibilidade de uma


combustão espontânea da inflação (ou da deflação), de origem puramente psicoló­
gica, mas que é perfeitamente compatível com as equações do modelo e com a
hipótese de expectativas racionais. Fica assim demonstrada a possibilidade de equi­
IIbrios múltiplis com expectativas racionais. No caso, ao invés da condição de trans­
versalidade (30) temos:

lim
n -+00
( ) B
B+1
n
Et_1Pt + n -
_ _
( )
B+1 t
-B-

Fora a possibilidade de equilíbrios múltiplos, resta uma outra ainda


mais dramática: a de inexistência do equil(brio. Basta, para tanto, que o segundo
membro da equação (29 ) não convirja.
NOVEMBRO DE 19B1 21

Até agora supusemos que o Governo fixasse a oferta de moeda como


variável de política, deixando que o mercado determinasse a taxa de juros. Supo­
nhamos que o Governo faça o contrário, fixando a taxa de juros em r (cbnstante
no tempo, para simplificar a análise), e deixando que a oferta de moeda corra como
variável endógena.
No caso, a evolução do produto e dos preços se descreve pelas equa­
ções de oferta ( 10 ) e ( 11 ) e pela curva IS (2 0 ) . A curva LM serve apenas
para determinar, como variável endógena, a oferta de moeda.
Mais uma vez, o produto e a componente imprevista dos preços se
determinam facilmente. Com os algebrismos de praxe chega-se a :

( 33 )

e1t - u
t
( I- Et-1) Pt= (34 )
b

A complicação surge novamente com a componente esperada dos


preços. Aplicando o operador Et-1 à equação (2 0 ) e, lembrando que

E t_1 Yt = Et_1 Yt:

D Et_1 (Pt+l - Pt) = Et_1 Yt + Dr - Ct

Resolvendo para a frente essa equação de diferenças finitas, che-


ga·se a:

n
� ( Ct+1- r - Et _1 Yt+1) ( 35 )
i=O

Não há, no caso, como estabelecer uma condição de transver­


sabilidade econômica razoável, a qual exigiria que se estipulasse um limite para
E 1Pt+n. Mais uma vez estamos diante de um problema com equilfbrios múlti·
t-
pios. Nenhuma solução se distingue no caso como estável: se o processo estocástico
{ }
pt { }
soluciona o problema, e se Z t é um outro processo estocástico taJ que

í
entãp P + Z } também é solução do problema. E m suma, concluimos, na linha de
t t
l
wickse l, que o controle da taxas de juros leva à indeterminação dos preços.
22 REVISTA DE ECONOMETRIA

5 - O problema da extração de sinal

Façamos um breve interlúdio para examinar a mais elementar das


aplicações da fórmula de revisão recursiva (6): o problema da extração do sinal.
Uma variável aleatória observável z decompõe-se num sinal y e
num ruido u :

z= y + U (36)

Tanto o sinal como o ruído têm esperança matemática zero e são não
correlacionados:

E y = E u = Euy = O (37 )

Conhecem-se as variânoias Ey2 e Eu2 do sinal e do ruido_ Essas


hipóteses implicam Ez = O e Ez2 = Ey2 + Eu2.
O problema da extração do sinal consiste em estimar y a partir da
observação de z. Para tanto basta aplicar a fórmula (6), feitas as seguintes obser­
vações:

a) antes da observação de z, E z = ELY = O;


L

b) isto posto, a estimativa EzV de y a partir de z é igual à revisão


Ry da projeção de y pelo conhecimento de z. Assim, pela fórmula da revisão
recursiva:

Ry � z
( z, z )

Notando que

( y, z ) = ( y, y+ u ) = Ey 2

e que

( z, z )

obtém-se:

Ey2 z (38 )
Ey 2+Eu2
NOVEMBRO D E 198 1 23

que é a famosa fórmula da extração do sinal. Ela indica que o sinal estimado a partir
da observação de z é uma fração de z igual à relação entre as variâncias de y e z.
Essa fração é tanto maior quanto menor for a relação entre a variância do ruído e a
do sinal.
O problema é a inspiração da versão de Lucas da curva de Phillips
que será discutida na próxima seção.

6 - - O modelo de Lucas da curva de Phillips

o modelo de Lucas da curva de Phillips imagina uma economia onde


n empresas produzam um mesmo bem, cada uma delas recebendo o preço que o
mercado determinar. Os preços costumam variar de uma empresa para outra, por
causa das imperfeições do sistema de informações.
Supõe-se que, no período t, o logaritmo da capacidade normal de
produção da i-ésima empresa seja V it. A empresa toma suas decisões de produção
após conhecer o logaritmo P it do preço que lhe será pago, embora desconhecendo
os preços contratados com as outras empresas, e portanto o logaritmo Pt do nível
médio de preços. O logaritmo V it da quantidade efetivamente produzida se des­
viará para mais ou para menos de V it de acordo com a curva de oferta:

( 3 9)

L indica o conjunto de informações usado pela empresa i ao tomar as suas deci·


i
sões de produção para o período t. Supõe·se que Li se obtenha acrescentando,
a um conjunto de informações L comum a todas as empresas, o preço P it co·
nhecido apenas pela i-ésima empresa. Em suma, L é o subespaço gerado por
i
L U {P it }; b e k são constantes positivas, sendo O < k < 1. A presenç.a de
k na equação acima pode justificar·se por custos de ajustamento.
Suponhamos que:

(40)

sendo:

( 41)

No caso, U it indica o estímulo ou desestímulo de preços relativos


recebido pelo I-eslmo produtor. � natural supor E L u = O. A h ipótese de que
it
Pt e U it sejam não correlacionados é aceitável desde que se considere desprezível a
influência de cada empresa no índice médio de preços. Suporemos que a variância
de U it :
24 REVISTA DE ECONOMETRIA

(42 )

sêja conhecida pela i-ésima empresa. Essa é mais uma das hipóteses heróicas do
exerc(cio.
Designemos agora por:

(43 )

a variância da componente inesperada do logaritmo da média dos preços. Supore­


mos que P l pertença ao conjunto L das informações comuns a todas as empre­
t-
sas, e que, portanto

( I - E L ) Pt-1 = O.

Nessas condições. como

52 indica a variância da componente inesperada da taxa de inflação. Se os choques


forem normalmente distribuídos, 52 será a variância da taxa de inflação condicio­
nai a L.
Interessa-nos exprimir a curva de oferta ( 39) em função do sub­
conjunto L de informações comuns a todas as empresas. Para tanto notemos ql;Je
,

E L. pt - E L Pt
I
é a revisão R Pt decorrente da aquisição. pela I-eSlma empresa, de uma única
i
nova informação, o preço ,
revisão recursiva ( 6 ):

R· P =
I t

Introduzindo na fórmula acima a expressão de P dada pelas equa­


it
ções (40) e (41 ) e lembrando que:

( EL Pt, Uit ) = ( Pt , EL Uit ) = O

(I -E L ) Pit = Pit - EL Pt
NOVEMBRO DE 1981 25

obtém-se:

e, por conseguinte:

Agregemos a relação acima. Para tanto atribuamos pesos positivos de


soma unitária ( a1, a2 , " ', 8n ) às diversas empresas, e suponhamos que

seja o mesmo para todas elas. Entendendo que os (ndices de preços e produto real
se calculam pelas fórmulas geométricas:

n n
L a i P it; L ai Vit
i = 1 i= ,

chega*se à relação de Phillips na versão de Lucas:

( 44 )

Lucas implicitamente supõe que a variância dos preços relativos, 02


seja independente da variância da componente inesperada da taxa de inflação, 52,
A primeira, presumivelmente, reflete mudanças reais na economia. A segunda de­
pende primordialmente da instabilidade monetária. Isto posto, obtêm-se as seguin­
tes conclusões:
a) a resposta dos agentes econômicos aos estímulos de preços é tanto
menor quanto mais instável for a faixa de inflação. Ao receber as propostas de
preços, cada agente trata de distinguir o sinal (variação no preço relativo do seu
produto) do ruído (variação da taxa de inflação). O �proveitamento do estímulo é
tanto menor quanto maior a imprevisibilidade da taxa de inflação ;
b) a inclinação da curva de Phillips não é um parâmetro estrutural da
economia, mas uma variável dependente da política econômica. Quanto maior a
imprevisibílidade da taxa de inflação, menor o efeito sobre o produto real de um
26 REVISTA DE ECONOMETRIA

ponto percentual de inflação imprevista;


c) as estimativas econométricas da relação de Phillips subentendem
um certo padrão de pol ítica econômica, ao qual se associa determinada variância da
componente imprevista da taxa de inflação. Assim sendo, elas se tornam incapazes
de fornecer previsões aceitáveis no momento em que a mudança da política econô­
mica altera a estimativa de 52,

7 - Teoremas da ortogonalidade e neutralidade

Aos modelos econômicos lineares com expectativas racionais aplica­


-se um teorema geral bastante importante, o da ortogonalidade, e que pode ser
enunciado nos seguintes termos: "seja L o maior conjunto de informações com
base no qual o Governo possa tomar decisões de pai ítica econômica para o período
t ; então, qualquer que seja a variável endógena xt relativa a esse perfodo,
(1- E L ) xt independe das decisões de política econômica adotadas.
Para a demonstração do teorema basta lembrar que o modelo deve

determinar cada variável endógena x t como função linear dos choques e das deci­
sões de pol ítica econômica, passadas, presentes e esperadas para o futuro. Por hipó­
tese, todas essas decisões de pol ítica pertencem ao subespaço L. Logo, se z indica
uma qualquer entre elas, (I - E L ) Z = O. Isso significa que nenhuma delas pode
afetar ( I - E L ) xt.
O teorema não exclui a possibilidade de os erros acidentais na execu­
ção da pai ítica afetarem a componente inesperada de alguma variável endógena.
A t ítulo de exemplo, no modelo discutido na seção 3, ( I - E t_ 1 ) m t afeta tanto
(I - E t_ 1 ) Yt quanto ( 1- E t _ 1 ) p!' como se explicita nas equações ( 1 6 ) e
( 1 7 ) . Apenas esses erros acidentais, pela própria definição, nada têm a ver com as
decisões de pol ítica.
O teorema da ortogonalidade não suscita controvérsias, l imitando-se
a afirmar que o esperado não pode influir sobre o imprevisto. Bem mais ambicioso
é o teorema da neutralidade, o qual pretende demonstrar que, com expectativas
racionais, não há l ugar para a pol ítica anticíclica. O teorema não exclui a possibili­
dade de que a pai ítica fiscal possa alterar o curso do produto potencial. Mas descar­
ta a hipótese de alguma ação do Governo ser capaz de afetar o hiato Yt - Yt .
Como se disse na seção 1 , para provar o teorema da neutralidade não
oasta supor que as expectativas sejam racionais no sentido de Muth : é preciso recor­
rer a hipóteses complementares bem mais ousadas. Na versão mais extremada admi­
te-se que todos os contratos sejam condicionais aos estados da natureza, tal como
nO" modelo de Arrow-Debreu com incerteza. Nessa versão, as expectativas não
desempenham qualquer papel nos contratos, e portanto nem precisam ser racionais.
Embora muito elegante, a hipótese é por demais irrealista, não só por causa dos
problemas de incerteza moral, mas sobretudo pelos custos de especificar todos os
NOVEMBRO DE 1981 27

possíveis estados da natureza e posteriormente verificar qual deles ocorreu.


Uma segunda versão do teorema presume uma relação de Phillips que
condensa as equações ( 8 ) , ( 10) e ( 11 ):

(45)

e admite que todas as decisões de pol(tica com efeitos no período t pertençam ao


conjunto de informações Lt_ 1 associado a essa relação. Isso equivale a supor que a
duração dos contratos salariais seja igual ao período de apreensão e digestão de
novas informações pelas Autoridades.
No caso, o teorema da neutralidade é conseqüência imediata do
teorema· da ortogonalidade: o segundo membro da equação ( 45 ) é ortogonal a
qualquer decisão de política. O teorema não apenas assegura a impotência da pol(�
tica antic(clica, como a possibilidade de combater a inflação sem qualquer recessão
temporária.
" plausível supor que todos os hiatos passados

Yt-1 - Yt-1 (i ;;. 1)

pertençam ao conjunto de informações L t-1 e, com essa hipótese complementar,


a relação de Phillips (45) gera uma conclusão ainda mais radical: as flutuações do
produto e do emprego são não correlacionadas serialmente. Isso equivale a reduzir a
teoria do ciclo econômico à dos ruidos brandos e a atribuir a Grande Depressão da
década de 1930 a uma gigantesca epidemia de preguiça.
Como essa conclusão é profundamente indigesta. os partidários do
teorema da neutralidade preferem trabalhar com uma relação de Phillips da forma:

onde se supõe O < k < 1 . A questionável presença da constante k costuma


atribuir·se aos custos de ajustamento da produção e do emprego. O teorema da
neutralidade se obtém, no caso, resolvendo para trás a equação de diferenças finitas
acima. Supondo:

lim kn ( ) O
Yt-n - Yt-n =
n""�

chega-se a:
=

� ki (1- Et-i-1 ) [bPt _i + (1 - c) ut-1 ]


i = O
28 REVISTA DE ECONOM ETRIA

o teorema da neutralidade prova-se, no caso, notando que não há


pai ítica econôm ica que possa afetar

( I - Et-i-1 ) [ bPt_i+ ( 1 - c ) ut_i J ; ( i> O).

A política anticíclica continua impotente, assim como continua provável a cura


indolor da inflação. Apenas a constante k é agora capaz de gerar um ciclo econô­
mico para o qual não existe terapia.
Toda essa construção se baseia numa hipótese extremamente irrealis­
ta, a de que a duração dos contratos salariais não exceda o período de absorção de
novas informações pelas Autoridades. Sem essa hipótese cai por terra o teorema da
neutralidade. Admitamos, no modelo da seção 3 , que o Governo possa agir sobre o
período t com base num conjunto de informações L mais amplo do que Lt- 1 e
designemos por R o revisor d. projeções R = E L - Et-1 . Lembrando que
R Et-l = O, e aplicando o operador R às equações ( 1 8) e ( 1 7) , obtém-se:

bRe +bRmt+ R [ 1 - c ( 1 +b ) J u
t t ( 47 )
l+b

(48 )

Está agora aberto o campo para a pai ítica monetária ativista, quer no
sentido de estabilizar o produto, quer no sentido de estabilizar preços. A razão é
que os salários nominais, sendo temporariamente rígidos, podem·se desviar, com os
choques de demanda e oferta, da posição de equilíbrio compatível ou com o pleno
emprego ou com a realização dos preços previstos. Na medida em que os choques
são percebidos, as autoridades monetárias podem indiretamente agir sobre os salá­
rios reais, ou de modo a estabilizar o emprego ou de modo a minimizar a imprevisi­
bilidade dos preços.
Suponhamos que o objetivo do Governo seja estabilizar o emprego,
minimizando a variância de Yt - Yt' Desdobrando o hiato do produto nas compo­
nentes ortogonais:

segue�se, pelo teorema de Pitágoras, que:


NOVEMBRO DE 1981 29

Como L, por hipótese, é o maior conjunto de informações com base


no qual as Autoridades podem agir para o período t, não há pcl ítica capaz de
controlar a primeira parcela do segundo membro, de acordo com o teorema da
ortogonal idade. Assim, a polftica que minimiza a flutuação do emprego é a que
minimiza 11 R ( Yt - Yt ) 11. Adotando a regra de política monetária:

(49 )

consegue·se tornar R (yt - \'t) = O. A regra equ ivale a absorver na política monetá·
ria todos os choques de demanda, e repassar os choques de oferta percebidos para
os preços, não deixando que eles afetem o hiato do produto.
Suponhamos agora que o objetivo do Governo seja minimizar a im­
previsibilidade dos preços, ou seja, a variância de (I - Et-1 ) P Por um raciocínio
r
semelhante ao desenvolvido acima se conclui que a regra ótima de política monetá­
ria é aquela que torna RPt O, ou sej a :
=

(5 0 )

a qual neutraliza os choques dê demanda pela política monetária, repassando os


choques de oferta para o produto.
Se é preferível minim izar as flutuações do emprego, a imprevisibili·
dade dos preços, ou misturar os dois objetivos em alguma média ponderada, eis uma
questão de juízo de valor. O importante na discussão acima é sublinhar a fragilidade
das h ipóteses que geram o teorema da neutralidade.

8 - Contratos salariais justapostos

Pelo que se discute na seção anterior, o calcanhar de Aquiles do


teorema da neutralidade é a hipótese de que a duração dos contratos salariais não
exceda o período necessário à absorção de novas informações pelas Autoridades.
Como acertar os ponteiros entre patrões e empregados custa um fator escasso, o
tempo, os contratos salariais costumam estender·se por prazos bem mais longos.
I sso é verdade ainda que todos os agentes econômicos partilhem das mesmas infor­
mações acessíveis ao Governo, como freqüentemente se supõe nos modelos de
expectativas racionais. Uma econom ia onde se renegociassem os contratos de traba­
lho cada vez que mudassem os conjuntos de informações precisaria mais do que u m
leiloeiro walrasiano: exigiria um leiloeiro que prestasse serviços instantâneos e
gratúitos.
Tomemos, pois, como unidade de tempo, o perl'odo necessário para
que o Governo e demais agentes econômicos absorvam novas informações, e supo-­
nhamos que os contratos salariais se estendam por n períodos.
30 REVISTA DE ECONOMETRIA

Para simplificar, suponhamos inicialmente que todos os contratos


salariais se firmem nas mesmas datas. I maginemos que o início do período k + 1
seja uma dessas datas, quando Governo e setor privado partilham do conjunto de
informações L k' A projeção ortogonal sobre esse conjunto de informações será
indicada, como de hábito, por E k' Suponhamos, como na seção 3, que a oferta
agregada da economia se descreva pela relação log-linear:

e que os salários sejam contratados de modo a equilibrar, ex-arrte, a oferta e a


procura de mão de obra em cada período. I sso significa que os salários nominais dos
períodos k + 1 , k + 2, . . . , k + n serão determinados pelas equações:

E k Yk + 1 ak +l + b(E k Pk+l - wk+l) + E k u k +1

E k Yk + 2 ak +2 + b(E kPk+2 - wk+2) + Eku k +2

A regra acima sugerida de contratação salarial parece algo estranha,


já que ele prevê reajustes período a período dos salários nominais. Por certo esses
reajustes já estariam especificados no contrato, dispensando novas negociações.
Ainda assim, o mais comum é a fixação de u m salário nominal u niforme durante
todo o período de vigência do contrato. Pode-se admitir que essa uniformidade
resulte de uma operação financeira implícita entre a empresa e os seus empregados:
calcula-se o salário u niforme de modo a que o valor atual de suas n prestações
coincida com o dos n pagamentos determ inados pelas equações acima.
Como no modelo de G ray� Fischer, suponhamos que os acordos
salariais se cumpram à risca, e que o emprego se determine ex-post pela curva de
procura efetiva de mão de obra. Chega-se à ,elação de Phillips:

Lembrando que os choques de oferta podem desviar o produto


potencial dos níveis projatos, de acordo com a relação:

chega-se à equação:
NOVEMBRO DE 1981 31

onde t-n < k < t, e onde o operador E k muda de n em n períodos.


O exercício acima parte da hipótese pouco plausível de que todos os
acordos salariais se firmem na mesma data. Mais realista é distribuí-los uniforme­
mente no tempo, dividindo a economia em n partes iguais, cada uma com sua
época própria de negociação dos salários. Como estamos trabalhando com relações
log-lineares, as partes devem agregar-se por índices geométricos. Chega-se assim à
relação de Phillips do modelo dos contratos salariais justapostos:

a qual estende o resultado inicialmente apresentado, em 1977 , por Stanley Fischer.


Admitamos, como de hábito, que a informação passada não se perca
e que, como tal,cada conjunto de informações contenha o precedente, isto é :

L_
t n c.: ... C � -2 CLt_I·

I sto posto, definamos os operadores de revisão:

(i�I, . . . ,n-l) (52 )

os quais permitem reapresentar a relação (51 ) na forma:

(5 3 )

onde:

ai � (n-i) / n

Completemos o modelo com a equação quantitativa:

e tratemos de exprimir Yt - Yt e Pt em função das variáveis de politica monetá·


ria, do produto potencial e dos choques.
Para resolver o sistema, observamos inicialmente que:

(55 )
32 REVISTA DE ECONOMETRIA

é uma decomposição do operador identidade em operadores idempotentes e mutua­


mente ortogonais IA identidade ( 55 ) decorre trivialmente da definição dos ope­
radores de revisão; todas as parcelas do segundo membro são projeções e, portanto,
são idempotentes; e o produto de duas quaisquer entre elas é nulo, como facilmente
se verifica com a lei das projeções iteradas (4 ) ).
Isto posto, apliquemos os diversos operadores do segundo membro
da identidade acima à equação de Phillips e à relação quantitativa: com os algebris­
mos de praxe, condujose que:

(56.a I

(56.b I

(56.c I

_1_ R mt + e - [ c +a {1-cl] u (56.d I


t_i { t i t
}
1 +a i b

Definindo Rt = I - Et_1 e tomando aO = 1, as duasúltimas ex·


pressões fornecem as fórmulas de cálculo de (1- Et-11Yt e (1- Et-1 )pt. Daíse
obtém as soluções do sistema:

n-1
L
i= O
n -j
n+ b(n - il Rt_i 1 b(m t + etl + [ l-c (1 + b)] u
t } (57 .a )

n-1
Pt Et_n lmt +et -CU ) + V-Y +CU L
t t t
+
j =0
=

A equação ( 5 3 I desdobra o hiato do produto Y - i\ em duas


t
partes

A primeira ortogonal a Lt_1 que, por hipótese, é o maior conjunto de informa-


NOVEMBRO DE 1981 33

ções com base no qual asAutoridades podem adotar medidas com efeitos no perío­
do t. E ssa componente, portanto, não pode ser afetada pela pai ítica econômica.
Contudo, a segunda componente pertence a Lt_1 e, como tal. pode ser adminis­
trada pelo Governo.
Suponhamos que o objetivo do Governo seja minimizar as flutuações
do emprego, ou seja, a variância de Vt -Vt, Usando a identidade (55 ) e o teo­
rema de Pitágoras:

n-1 2
2 2
2 11 L IIRt_iIYCVt)11 + IIE t_nIYt-vt)11
Ilyt-Ytll =1111-Et_1)(YCYt) +
i=1

Notemos agora que, pela equação (53), Et_ n IYt -Vt) =O e que,
pelo teorema da ortogonalidade, ( I - Et-1) IY t - Vt) independe da política eco·
nômica.Daí se segue que, se o objetivo do Governo é estabililar o emprego, a pai í­
tica econômica ótimaé aquela que tornar:

li=1, ..., n-1) 158 )

o sentido dessa equaçãoJ o seguinte: presume-se que, com a devida antecedência, o


Governo tenha anunciado as suas decisões de política para o perfodo t. Na medida
em que se percebam choques de oferta ou demanda que irão exercer seus efeitos no
período t, essas decisões devem ser explicitamente revistas de modo a neutralizar
impacto desses choques sobre o hiato do produto. No caso de a demanda agregada
se descrever pela equação quantitativa.

a equação (56.c ) fornece a regra monetária ótima:

159 )

a qual generaliza a fórmula 14 9 I .


Admitamos agora que o objetivo do Governo seja minimizar a impre­
visibilidade dos preços, isto é (I - Et-n)P Por um argumento semelhante ao
e
acima utilizado, conclui-se que a política econômica deve, no caso, neutralizar os
efeitos dos choques percebidos sobre as previsões dos preços, rstoé :

1i=1, ... , n�1) 160 )

Caso a demanda agregada se descreva pela equação quantitativa, a


34 REVISTA DE ECONOMETRIA

relação ( 56.d ) leva à regra ótima de pai ítica monetária para minimização da im*
previsibilidade dos preços:

( 61 )

o ativismo monetário agora se justifica pela rigidez temporária dos


salários nominais. Na ausência de choques de oferta, qualquer objetivo leva à regra
ótima Rt-i mt = - Rt-i et isto é, os choques de demanda percebidos devem ser
neutralizados pela pol(tica monetária. Os conflitos de poJ (tica surgem diante dos
choques de oferta: se o objetivo é estabilizar o emprego eles devem ser integralmen­
te repassados para os preços, e vice-versa. Segundo Lucas, a opção de pai ítica pode
afetar os parâmetros da curva de Phillips.
Uma prescrição trivial do modelo é que as Autoridades devem evitar
os erros de pai ítica monetária, tratando de conseguir que Et-1 m mt . Supon­
t
=

do, como é plausível, que o erro monetário (I - E t_ 1 )mt e as componentes im­


previs(veis (I - Et_ 1 )et e ( I - Et-1 )u t sejam variáveis aleatórias não correlacio­
nadas, conclui-se que o primeiro aumenta inutilmente a variância de ambos, o hiato
do produto e a taxa de inflação.
Nem o hiato do produto nem ( I - Et-n )pt dependem, no modelo,
da expectativa inicial Et_ n Pt do logaritmo dos preços. Na realidade, a regra
( 61 ) não estabiliza os preços, mas apenas minimiza a componente imprevista da
taxa de inflação (tornando a inflação perfeitamente previsível na ausência de erros
de política monetária, isto é, caso m = E _ 1 mt) . Como não há razão para se
t t
desejar, a priori, uma instabilidade previsível dos preços que nada acresce ao produ­
to e ao emprego, é plausível completar o modelo com a condição adicional:

( 62 )

onde p independe do tempo. Pela equação ( 56.b ), isso implica:

Supondo n = 1 (isto é, que a du ração dos contratos salariais seja


igual à da absorção de novas informações pelas Autoridades) e E _ e
t n t
=0, a
equação acima justifica uma pai (tica monetária com uma taxa de expansão rigoro­
samente constante, na linha friedmaniana. Sucede que n 1 implica o teorema da
=

neutralidade, que inutiliza o ativismo monetário. Para n > 1 a regra de Friedman


só pode ser encarada como uma simpl ificação sem maior fundamento teórico.
NOVEMBRO DE 1 981 35

9 _. Pol ít ic a anti -inflac ionár ia e ex pect at iv asr ac ionais

Uma rec essão t emporáriac ost uma ser o preço do c ombat e à in fl ação,
e isso pode ser explic ado por duas raz ões.Primeiro, é possív el que o Gov ern o an un ­
c ie sua disposição det reiar a alt a de preços, mas que n in gué m n el a ac redit e.Esseé o
probl ema da c redibil idade. S egun do, ain da que t odos admit am a firmez a de propó ­
sit os do Gov ern o, muit os c ont rat os de mé dio e l on go prazos, assin ado s n o passado,
c ont in u arão regidos pel as ant igas expect at iv as de in fl ação.,Esse é p problem a da
rigidez in flac ion ária. Ambas as raz ões podem ser escl arec idas pel o modelo de c on ­
t rat os sal ariais just apost osc om expect at iv as rac ion ais.
E: c laro que os c hoques de ofert a e deman da podem amen izar ou
ac ent uar os efeit os de uma mudan ça da pai ít ic a mon et ária.Cont udo, c omo n osso
int eresse se rest rin ge em an al isar os efeit os dessa mudan ça, c on st ruiremos um mode­
l o que abst rai a possibil idade dec hoques. t: import ant e examin ar t ambé m os efeit os
t emporários da polít ic a ant i-in fl ac ion ária sobre a t axa de juros e sobre a v el oc ida­
de-rend a da moeda. P or isso, ao in vé s de desc rev er a deman da agregada pel a equação
quant it at iv a, usaremos um jogo de c urv as I S e LM.
O model o se baseará n a rel ação de Phil l ips do model o de c ont rat os
sal ariais just apost os ( 53 ) e n as c urv as 15 e LM ( 20 ) e ( 2 1 I , c om a el imin a­
ção dos c hoques, ec om as seguint es simpl ific ações:

i) in dic aremos por ht =Yt Yt o hiat o do produt o;


-

ii) admit iremos que a t axa real de juros c ompatív el c om o pl en o


emprego seja c on st ant e n o t empo. Isso equiv al e a admit ir, n a equação ( 20 ) que a
c on st ant e Ct =C + Yt '
Isso post o, as rel ações do model o expressam- se por:

( 64 )

( 65 )

( 66 )

Como n o mod el o da seção ( 4 ) , é oport un o elimin ar at axa n omi­


n al de juros rt ent re essas duasúlt imas equações. O bté m-se:

( 67 )

on de:

( 68 .a )
36 R EVISTA DE ECONOMETRIA

(68 .b )

Su ponham os que, até o fin al do pe rin do O , a e con om ia v iv a num


reg ime de t ax a const ante e pe rfe it amente es pe rada de in flação: m t e Pt cres cem
em prog ress ão aritmét ica de razão k, igu al àt ax a de in flação. O produt o e qu il ibra­
-se a plen o em preg o, ist o é, ht = O . Pel a re l ação (65 ), a t ax a re al de ju ros
m antém -se estáve l em C/O . Log o, a t ax a n om in al t am bém se m antém in alte rad a
em k + C/O . Pe lae qu ação (67 l . in t = Pt -B k .
N o pe rí odo O o Gove rn o anun cia su a de cis ão de est abil izar os
pre ços a part ir do pe ríodo 1 , m anten do Pt :::: P o para t � 1 , e n inguém d\Jv ida
de que o Gove rn o re aU zará os seus propós it os. Ess a de cis ão é acom pan hada do
anún cio de um prog ram a m onetá rio cons istente com a est abiliz ação dos pre ços , o
qu alse rá ex am in ado m ais adiante.
O anún cio da polJ'tica de est abilização prov oca, n o pe rí odo O , um a
rews ão das proje ções dos pre ços a part ir do pe rí odo 1 . Antes se es pe rav a que o seu
log aritm o cres cesse em prog ress ão aritmét ica de razão k . Ag orase adm ite que eles
se est abil izem em po' Tem -se , ass im :

-kt (69 )

parat odo t ;;' 1.


Ess a rev is ão é a razão de se r dos e fe it os tem porá rios da polít ica de
com bate à in fl ação s obre o produ t o e o em preg o pois , até o pe rí odo n - 1, cont i­
nu am em v ig or cont rat os s al ariais firm ados com base n as ant ig as ex pe ct at iv as in fla­
cioná rias. A plican do o ope rador Rt _i à e qu ação ( 64 ) con clu i-se que

F azen do

Lem bran do que ht = Roht e ent ran do com as rel ações ( 54 ) e (69 ):

ht = - b kt(n -t) ,. (7 0 )
n

Ess a fórmul a dimens ion a o s acrifí cio de com bate à in flação: a re ces ­
s ão se aprofun da até o pe rí odo n/ 2 , e daí por diante se abran da; a part ir do pe río­
do n , a e con om iav ol t a a fun cion ar em plen o em preg o.
Vej am os ag ora qu al o prog ram a m onetá rio cons istente com a pol ít i-
NOVEMBRO DE 1981 37

c a an ti-i n flaci on ária traçad a.P ara t > O, Pt


L og o, pela equ ação (67 ) :

A bk t (n - t)
po _
para 1 ,.ç t� n- 1
n
( 71 )
para t � n

Essa pol ític a m on etária c on segu e a estabil ização d os preços preten­


did a d esd e qu e se v eri fi qu e a c ondi ção d e tran sv ersabil id ad e ( 3 0 ) . É in teressan te
examin ar o sin ald asv ari açõesd e rT\:

i) n o perí od o 0 , m o = P o -Bk , porc au, a d a an tig a expec tativ a


infl ac ion ári a.Log o:

m1 - m o = ��
/ [ nB -A b ( n - 1 ) 1

expressão qu e t orn a am bígu o o sin al d e m 1 -m o' H áum ac om pon en te posi tiv a,


poi s a qu ed a d a expec tativ a infl aci on ári a aum en ta a d em and a d e m oed a, e um a
c om pon en te n eg ativ a, poi s a ec on om ia en tra em rec essão n o perí od o 1 , o qu e
diminui a d em and ad e m oed a:

ii) para 1 < t < n -l :

m t 1 -m t =- [ A bk ( n - 2 t -1 ) I I n
+

Daí se c onclui qu e til t c ai en qu an to a rec essão se aprofund a, e x­


pandind o- se n o períod o d e recu peração;

iv ) m n - m o = B k : n o total, o prog ram a d e c om bate à inflação


c om porta um aum en to d e m ei os d e pag am en to c orrespond en te à expan são d a d e­
m and a d e m oed a pela qu ed a d a taxa esperad a d e inflaç ão.
V ej am os ag ora os efeitos d o prog ram a sobre as taxas d e ju ros. Pel'a
equ ação ( 65 ) a taxa real d e ju ros aum en ta en qu an to se aprofund a a rec essão, isto
é , en qu an to n - 2 t + 1 é posi tiv o, c aind o n a fase su bsequ en te d e recu peração.
A partir d o perí od o n , a taxa real v olta ao n ív el d e equ i l í brio a plen o em preg o
C / O. A tem porad a d e rec essão d ev e-se ao fato d e qu e, en tre o perí od o 1 e o
período n-- 1, a taxa real se m an tém ac im a d e C / O . Qu an to à taxa n om in al , a
su a v ariação d o per!' od o O para o períod o 1 resu l ta d a su perposição d ed oi s efei -
38 REVISTA DE ECONOMETRIA

tos de sinais opostos. Um, baixista, correspondente à diminu ição da taxa esperada
de inflação. Outro, altista, associado ao aumento da taxa real de juros. A partir do
período 1 . as variações da taxa nominal acompanham as da taxa real. Do período
n em diante, a taxa nominal se estabiliza em C/O. Ao longo de todo o programa,
isto é, entre o perfodo O e o período n, a taxa nominal cai o meSmo que a taxa de
inflação, evoluindo da posição inicial k + C I D para a final C I D. Pela equação
(65 ) conclui-se que, para 1 .;;; t .;;; n - 1 :

t se e'xpressa pela fórmula (7 0 ).


onde h
Até agora examinamos os efeitos colaterais de um programa de com­
bate à inflação que contasse com a total credibilidade dos agentes econômicos. Os
efeitos temporários sobre o emprego e sobre as taxas reais de juros resultavam da
necessidade de respeitar contratos salariais baseados nas antigas expectativas infla­
cionárias.
Suponhamos que ninguém acreditasse na firmeza dos propósitos do
Governo, imaginando que a inflação e a pol ítica monetária mantivessem seu antigo
curso, embora as Autoridades efetivamente seguissem a pol (tica monetária expressa
na equação (7 1 ). No caso, o anúncio da nova pol ítica não teria qualquer impacto
sobre as expectativas, que continuariam modeladas pelas regras

Et_ 1 m p o + k(t - B l ,
t
=

Teríamos, no caso:

tln-t)
( I - Et- 1 )i\)t = B k - kt _ Abk ; para 1 � t � n-1 (72 )
n

'
isto é, a ação estabilizadora do Governo seria con fundida com mero erro de exe­
cução da polftica monetária. Os efeitos de um tal erro determinam-se facilmente
aplicando o operador I - Et_ 1 às equações (64 ) e (67 ) . Com os algebrismos
de praxe, conclui-se que:

1
( I - E t- 1 ) Pt = __ ( I - E t_ 1 ) m t
1 + Ab

I ntroduzamos nessas expressões o valor de ( 1 - E t_ 1 ) Fh t indicado


NOVEMBRO DE 1981 39

pela equação ( 72 ) e lembremos que, por hipótese,

Conclui-se que:

ht =
_
b
_ Bk
1 + Ab
1 {\ _
kt _ Abkt (n-t)
n
)
p
t
=
p
o
+ __ k
l + Ab
B + Abt
(
\, n
2
) ( 1 .;; t .;; n- 1 )

E m suma, por falta de credibilidade na pol ítica do Governo, os


preços continuariam subindo. E, para todo período t tal que t2 / n > B, a
recessão seria mais profunda do que a indicada pela equação ( 70 ). Todo esse
exercício sublinha um ponto da maior importância: o êxito de uma pol ftica de
combate à inflação depende, antes de mais nada, da sua credibil idade.

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