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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA CURSO DE
DOUTORADO ACADÊMICO

RELATÓRIO DE LEITURA DE TEXTO

BOURDÉ, Guy. “A Escola dos Annales”. In: BOURDÉ, Guy; MARTIN,


Hervé. As Escolas Históricas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018, pp.
119-135.

Relatório de texto apresentado à disciplina


“História política: novas perspectivas de
abordagem” como requisito parcial para
conclusão da disciplina.

Aluno: Renato Peterli Camargos

Matricula: DO2110378

Professor: Alex Varela

Rio de Janeiro

2021
Esse relatório de texto trata de observar o capítulo chamado “A Escola
dos Annales”, parte integrante da obra “As Escolas Históricas”, texto abordado
na disciplina “História política: novas perspectivas de abordagem”, ministrada
pelo professor Alex Varela no curso de doutorado em História da UERJ.

O texto possui 27 páginas onde são apresentadas características da


Escola dos Annales, importante movimento na historiografia. A Escola dos
Annales surge em 1929, com Lucien Febvre e March Bloch e ganha
protagonismo a partir da década de 1930. A Escola dos Annales se insurgiu,
principalmente, a então chamada “história política” que predominou durante
boa parte do século XIX e início do século XX. Uma das principais críticas a
esse movimento que era a história política feita pela Escola dos Annales é
trazida à tona por Jaques Juliard, onde o escritor descreve o que os Annales
pensavam da história política:

A história política é psicológica e ignora os


condicionamentos; é elitista, talvez biográfica, e ignora a
sociedade global e as massas que a compõem; é
qualitativa e ignora as séries; o seu objetivo é particular e,
portanto, ignora a comparação; e narrativa e ignora a
análise; é idealista e ignora o material; é ideológica e não
tem consciência de sê-lo; é parcial e não o sabe; prende-
se ao consciente e ignora o inconsciente; visa os pontos
precisos, e ignora o longo prazo; em uma palavra, já que
esta palavra tudo resume na linguagem dos historiadores,
é uma história factual.1

Como se percebe, os Annales foram muito críticos do movimento


passado, sugerindo novas formas de se fazer historiografia. Essa nova forma
de se fazer história deveria dar mais atenção ao econômico e ao social,
reunindo algumas características, como, por exemplo: eliminar o espírito de
especialidade e promover a pluridisciplinariedade, onde exista o diálogo com
outras disciplinas, favorecendo a união das ciências humanas, visando atingir
uma totalidade da história. Então, para o trabalho do historiador, Febvre sugere

1
JULLIARD, Jacques. A política. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (dir.). História: novas
abordagens. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. p.180-181.
o seguinte: “Historiadores, sejam geógrafos. Sejam juristas, também, e
sociólogos, e psicólogos”2.

Essa Nova História, originada a partir das abordagens de historiadores


franceses filiados à Escola do Annales a partir das décadas de 1920 e 1930,
fez com que a perspectiva de história não se limite mais às fontes oficiais nem
tampouco se restringe à vida dos reis e autoridades políticas. A Revolução que
os Annales proporcionaram deu novo rumo à história e abriu um leque de
possibilidades que visam dialogar com temas das mais variadas disciplinas
buscando o resgate de todas as atividades humanas.

Antes dos Annales, as análises dos acontecimentos históricos se dava,


principalmente, pelas ações tomadas pelos grandes personagens históricos,
por grandes líderes políticos. Geralmente, essas ações eram vistas e
observadas pela história de forma separada da sociedade e dos problemas que
a compunham. Em oposição à essa forma de ver os acontecimentos históricos,
a Escola dos Annales também sugere uma história problema, onde os fatos
históricos devem ser observados como continuidades de outros problemas
sociais. Peter Burke chega mesmo a dizer, ao reconstituir o movimento dos
Annales, que a sugestão dos Annales é que ocorra “a substituição de uma
história tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema”3.

Outra característica importante da Escola dos Annales é a ampliação


dos documentos. Se a escola positivista considerava, como documentos,
apenas os escritos e relatos oficiais, os Annales sugerem que se busquem
outras fontes para construção do conhecimento histórico, como, por exemplo,
os achados arqueológicos. Assim, a história passa a dialogar com outras
disciplinas, o que propicia um alargamento no campo de estudos. É a chamada
multidisciplinariedade, que os Annales sugerem.

Ao buscar outros dados e outras fontes, a história também se aprofunda,


fazendo emergir características que só são percebidas quando se observa um
período de tempo maior. É o que vai sugerir outro personagem importante da

2
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da historiografia.
São Paulo. Fundação Editoria da UNESP, 1997. p. 12.
3
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989):... p 12.
Escola dos Annales, Fernand Braudel. Braudel sugere que se se observe um
período de tempo ainda maior do que alguns anos ou décadas, mas sim, os
séculos. De acordo com esse autor, características da mentalidade só podem
ser percebidas com as análises das grandes estruturas, que são a base para
os eventos econômicos e políticos. A principal obra de Fernand Braudel foi “O
Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II”, obra em que o
autor pretendia contar sobre a Espanha no século XVI, mas o que acabou
fazendo foi visitar aspectos econômicos desde a Antiguidade até o século XX,
o que lhe fez visitar aspectos mais profundos da sociedade, aspectos mentais
que duram séculos, o que veio a se tornar uma quebra de paradigma para os
estudos históricos.

Fernand Braudel encontrou culturas e modos de lidar


com a terra que pouco mudaram desde a Antiguidade até
a década de 1940, quando escreveu o livro. Um exemplo
é o caso da transumância, um tipo de migração feita
todos os anos em partes da Europa. Nela, os
camponeses descem com seus rebanhos de animais
para as planícies a fim de fugir do rigor do inverno nas
terras altas, fazendo um movimento regular que articula a
montanha e as terras mais baixas.4

Após mencionar e analisar a importância de Fernand Braudel para o


conhecimento histórico, o capítulo dedicado aos Annales, na obra “As Escolas
Históricas”, termina com um subtítulo que faz referência às produções
históricas, dizendo que a Escola dos Annales inaugurou a história econômica a
partir de 1930, onde são citadas importantes obras que analisam os
acontecimentos históricos na França pós-revolução principalmente pelos meios
econômicos.

O texto termina dizendo que os Annales também descobriram o domínio


da história demográfica a partir da Segunda Guerra Mundial, onde os
historiadores passam agora, também, a se debruçar sobre quantidade
populacional, números de casamentos, nascimentos e falecimentos, por
exemplo.

4
SALLES, Silvana. Livros que fazem nossa cabeça: O Mediterrâneo de Braudel. Jornal da USP. São
Paulo. 14 de setembro de 2017. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/livros-
que-fazem-nossa-cabeca-o-mediterraneo-de-braudel/. Acesso em: 20 de outubro de 2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

BOURDÉ, Guy. “A Escola dos Annales”. In: BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé.
As Escolas Históricas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018, pp. 119-135.

BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da


historiografia. São Paulo. Fundação Editoria da UNESP, 1997.

JULLIARD, Jacques. A política. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (dir.).


História: novas abordagens. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
p.180-181.

SALLES, Silvana. Livros que fazem nossa cabeça: O Mediterrâneo de


Braudel. Jornal da USP. São Paulo. 14 de setembro de 2017. Disponível em:
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/livros-que-fazem-nossa-cabeca-
o-mediterraneo-de-braudel/. Acesso em: 20 de outubro de 2021.

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