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Análise e dimensionamento de elementos

de membrana em concreto estrutural

Rafael Alves de Souza


Maringá, 23/10/2015
Rafael Alves de Souza é engenheiro Civil formado pela Universidade
Estadual de Maringá em 1999. Mestre em Engenharia de Estruturas pela
Universidade Estadual de Campinas em 2001. Doutorado-Sanduíche em
modelagem computacional (análise não-linear), análise experimental e
dimensionamento de elementos especiais de concreto na Universidade
do Porto, Portugal, em 2003. Doutor em Engenharia de Estruturas pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 2004. Pós-doutor
pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Estados Unidos, em
2006. Pós-doutor pela University of Massachusetts Amherst, Estados
Unidos, em 2015. Em 2011, realizou estágios de curta duração em nível
de pós-doutorado na École Politécnique Fédérale de Lausanne (Suíça) e
na Technologic University of Delft (Holanda) com ênfase na análise e
dimensionamento de estruturas especiais de concreto estrutural utilizando o “Stress Fields
Method” e o “Stringer-Panel Method”. Foi agraciado com a Primeira Menção Honrosa para
Teses de Doutorado em Estruturas no ano de 2006, em concurso promovido pelo Instituto
Brasileiro do Concreto. É Professor da Universidade Estadual de Maringá desde 2002, tendo
ministrado as disciplinas de Resistência dos Materiais, Mecânica das Estruturas, Sistemas
Estruturais, Estruturas em Concreto Armado e Protendido, Estruturas Pré-Moldadas e Projetos.
Autor de projetos estruturais, consultor em modelagens estruturais, laudos e ensaios
experimentais. Autor de diversos artigos científicos nacionais e internacionais, publicados tanto
em congressos quanto periódicos indexados. Membro do Conselho Editorial da Revista Acta
Scientiarum e revisor da revista internacional ACI Structural Journal (Estados Unidos). Atua em
perícias estruturais, tendo participado em 2006, junto com colegas da University of Illinois, de
laudo complementar sobre o colapso do Cassino Tropicana, Atlantic City, New Jersey, em
1994. Em 2008, participou do laudo sobre a queda frágil das 15 sacadas do Edificio Don
Gerônimo, em Maringá-PR. É membro do grupo de pesquisa GDACE/UEM (Grupo de
Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural Universidade Estadual de Maringá -
http://www.gdace.uem.br). Ex-coordenador da área de Estruturas da Universidade Estadual de
Maringá e ministrante de mini-cursos sobre concepção estrutural, estruturas pré-moldadas,
análises numéricas com o Método dos Elementos Finitos (ADINA, DIANA e ATENA) e
dimensionamento utilizando o Método das Bielas. É Membro do Instituto Brasileiro do
Concreto desde 2002 e membro do American Concrete Institute desde 2006, participando dos
comitês 445 - Shear and Torsion e 447- Finite Element Analysis of Reinforced Concrete
Structures. É Membro do Comitê CT301 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, desde
2007, com objetivo de Revisão da NBR6118 (Projeto de Estruturas de Concreto -
Procedimento). Membro da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural
(ABECE). Pesquisador Nível 1-D (Bolsa Produtividade) do CNPq e Assessor do Comitê de
Engenharias da Fundação Araucária desde 2009. Entre 2008 a 2010 foi Chefe Adjunto do
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá. Entre 2010 e 2011 foi
Diretor de Cultura da Universidade Estadual de Maringá. É sócio-diretor da Engracon
Engenharia e Arquitetura Ltda e Engrafix Construções Ltda.
Rafael
Análise e dimensionamento de elementos de membrana em
concreto estrutural
1. Introdução 1
1.1 Desenvolvimento histórico dos modelos de treliça 3
1.2 Organização do trabalho 9

2. Análise de tensões em elementos de membrana 13


2.1 Estado plano de tensões 13
2.2 Tensões em planos inclinados (equações de transformações de tensões) 15
2.3 Determinação das tensões normais principais 18
2.4 Determinação das tensões máximas de cisalhamento 21
2.5 Tensões em função das tensões principais 23
2.6 Círculo de Mohr para tensão plana 23
2.7 Exemplo de aplicação 28

3. Análise de deformações em elementos de membrana 33


3.1 Deformação plana versus tensão plana 33
3.2 Equações de transformação para deformação plana 35
3.3 Deformações principais 46
3.4 Deformações em função das deformações principais 44
3.5 Círculo de Mohr para deformação plana 47
3.6 Exemplo de aplicação 49

4. Equilíbrio de elementos de membrana em concreto armado 55


4.1 Introdução 55
4.2 Equilíbrio de elementos sujeitos a cisalhamento puro 59
4.3 Orientação da fissuração diagonal 66
4.4 Armaduras mínimas para elemento sujeito a cisalhamento puro 69
4.5 Elementos de membrana sujeitos a forças normais e forças cortantes 70
4.6 Determinação das armaduras e limite para tensão máxima de compressão 83
4.7 Armaduras mínimas para elementos de membrana 79
4.8 Círculo de Mohr para elementos de membrana em concreto armado 87
4.9 Exemplos de dimensionamento 89

5. Método dos Elementos Finitos (MEF) 103


5.1 Histórico 103
5.2 Fundamentos básicos do Método dos Elementos Finitos 108
5.3 O que dizem os códigos normativos sobre o método? 103
5.4 Análise de estruturas de concreto utilizando o Método dos Elementos 110
Finitos
5.4.1 Modelo de fissuração distribuída 113
5.4.1.1 Modelos total strain 116
5.4.1.2 Modelos incrementais ou plásticos 122
5.4.2 Modelagem das armaduras 123
5.4.3 Modelagem do concreto armado 125
5.4.4 Aspectos complementares 126
5.5. Verificação da segurança utilizando o MEF 129
5.6 Exemplo de dimensionamento utilizando o Método dos Elementos Finitos 131
5.7 Exemplo de análise não-linear de elementos de membrana 136
5.7.1 Descrição das principais dificuldades 136
5.7.2 Descrição dos resultados experimentais de Xie (2009) 138
5.7.3 Descrição das simulações computacionais utilizando Atena 142

6. Resultados experimentais de elementos de membrana 149


6.1 Abrandamento da resistência à compressão do concreto 149
6.2 Obtenção da relação constitutiva com abrandamento 151
6.3 Principais ensaios experimentais realizados 153

7. Compression Field Theory (CFT) 157


7.1 Introdução 157
7.2 Conceitos gerais 159
7.3 Equações de equilíbrio 162
7.4 Equação adicional (compatibilidade de deformações) 165
7.5 Abrandamento da resistência à compressão das escoras 166
7.6 Parcelas de contribuição do concreto e do aço para força cortante 167
7.7 Exemplo de cálculo para viga protendida 170

8. Mohr Compatibility Truss Model (MCTM) 177


8.1 Introdução 177
8.2 Equações de equilíbrio e de compatibilidade 177
8.3 Variações do Mohr Compatibility Truss Model 178
8.4 Análise utilizando o Mohr Compatibility Truss Model 180
8.5 Dimensionamento utilizando o Mohr Compatibility Truss Model 182
8.6 Exemplo de análise 183

9. Modified Compression Field Theory (MCFT) 187


9.1 Introdução 187
9.2 Equações de compatibilidade 189
9.3 Equações de equilíbrio 191
9.4 Relações constitutivas 193
9.5 Transmissão de cisalhamento entre fissuras 195
9.6 Descrição do procedimento “crack check” no MCFT 200
9.7 Emprego do MCFT acoplado ao Método da Rigidez Secante 207
9.8 Fluxograma de cálculo para elementos de membrana 210

10. Softened Truss Model (STM) 215


10.1 Introdução 215
10.2 Equações de equilíbrio e compatibilidade 215
10.3 Equações constitutivas 216
10.4 Solução para o caso de aumento proporcional de carregamento 219
10.5 Relações complementares de compatibilidade 222
10.6 Procedimento iterativo de solução 224
11. Referências bibliográficas 227
Apêndice A: Código MATLAB para Dimensionamento de 237
Elementos de Membrana
Apêndice B: Código MATLAB para Análise com a Compression 241
Field Theory
Apêndice C: Código MATLAB para o Método Secante 249
Apêndice D: Dedução das Equações da Modified Compression 251
Field Theory
Apêndice E: Código MATLAB para Análise com a Modified 261
Compression Fiels Theory
Apêndice F: Código MATLAB para Análise com o Softened Truss 269
Model
Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

1. Introdução
O presente trabalho tem como objeto de estudo a resposta de elementos retangulares de
concreto armado, submetidos a forças normais e cortantes no plano, isto é, elementos de
membrana. Esses elementos podem ser utilizados para modelar os mais diversos tipos de
estruturas, conforme ilustra a Figura 1 e, dessa maneira, métodos de análise e
dimensionamento racionais são necessários para obtenção de respostas confiáveis. Entre os
elementos estruturais cujo comportamento pode ser aproximado com o auxílio de elementos
de membrana encontram-se as vigas-parede, as almas de vigas de pontes e viadutos, os
reservatórios e paredes estruturais, submetidas aos mais diversos tipos de geometria.

Figura 1 – Estruturas idealizadas como sendo um conjunto de elementos de membrana.

A maioria das soluções conhecidas e utilizadas para o dimensionamento de elementos de


membrana foi obtida por meio da verificação das condições de equilíbrio e de resistência,
conduzindo a um dimensionamento seguro, baseado no Teorema Inferior da Teoria da
Plasticidade. Dentro dessa linha, merecem destaque as publicações de Gupta (1984, 1986),
Nielsen (1984), Fialkow (1991), CEB-FIP Model Code 1990 (1993), Lourenço e Figueiras
(1993, 1995) e Regan (1999).

Apesar de o problema de dimensionamento estar bem resolvido, deve-se ressaltar que as


alternativas de solução não são suficientemente conhecidas entre os engenheiros projetistas.
Além disso, o problema de verificação de elementos de membrana, isto é, a análise do
comportamento de um elemento plano armado e sujeito a ações no próprio plano, não é um
problema trivial como aparenta ser a princípio.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Collins et al (1985) relatam que numa competição internacional, com a participação de 43


líderes mundiais em pesquisa sobre simulações numéricas aplicadas ao concreto estrutural,
não foi possível prever o comportamento carga versus deslocamento de painéis retangulares,
armados com uma margem de erro inferior a 15%.

Ficou evidente que o insucesso das previsões era fortemente dependente das relações tensão-
deformação empregadas, as quais basicamente ignoravam a resistência à tração do concreto e
outros efeitos complementares, tais como intertravamento entre grãos e transmissão de
tensões de compressão e cisalhamento na interface de fissuras.

Com base nos resultados experimentais da competição realizada, Vecchio e Collins (1986)
propuseram a Teoria Modificada do Campo de Compressão (“Modified Compression Field
Theory”), de maneira que simulações mais realistas do ponto de vista numérico passaram a
ser obtidas. Apesar de verificada grande evolução na previsão do comportamento dos
elementos de membrana, deve-se observar que ainda não se chegou a um consenso sobre o
assunto.

De acordo com Vecchio e Collins (1986), a análise de um elemento de membrana é


dificultada pelo fato de que novas fissuras podem ser formadas, fissuras pré-existentes
podem se propagar e até mesmo se fechar, e um sistema estrutural, constituído por corpos de
concreto conectados pelas barras das armaduras, tende a se formar sob a ação de
determinados carregamentos. Além disso, os corpos de concreto podem se tocar nas
superfícies rugosas existentes na interface das fissuras, podendo assim transmitir
cisalhamento e compressão nos pontos em contato, conforme mencionado anteriormente.

Um modelo que faz frente à Teoria Modificada do Campo de Compressão, proposta por
Vecchio e Collins (1986), é o Modelo de Treliça Flexibilizado (“Softened Truss Model”),
proposto por Hsu (1993). Trata-se de um método de análise não-linear de elementos de
membrana que envolve a resolução simultânea de um grande número de equações, tal como
se observa na Teoria Modificada do Campo de Compressão. Na verdade, vários outros
métodos também estão disponíveis, porém observa-se na literatura que os dois métodos, ora
aqui abordados, são os mais difundidos.

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Quando além dos esforços de membrana (Nx, Ny e Nxy) existem os esforços decorrentes da
Teoria das Placas Delgadas, isto é, aqueles esforços associados com a flexão do elemento
(Mx, My, Mxy), podem-se generalizar as soluções citadas anteriormente, tornando a situação
de análise ainda mais complexa. Para maiores informações sobre o dimensionamento de
armaduras em elementos de casca, recomenda-se a leitura dos trabalhos de Gupta (1984),
Lourenço (1992), Lourenço e Figueiras (1993, 1995), CEB-FIP Model Code 1990 (1993),
Regan (1999), Marti (1999) e Della Bella e Cifú (2000).

1.1 Desenvolvimento histórico dos modelos de treliça

O conceito de se utilizar o concreto à compressão e o aço à tração tem sua origem no


"Modelo de Treliça", que, mais tarde, ao ser generalizado, passou a ser denominado "Método
das Bielas", "Modelo de Escoras e Tirantes" ou ainda "Método das Bielas e Tirantes".

Deve-se observar que, em várias publicações nacionais do assunto e mesmo na NBR 6118
(2003), costuma-se denominar o método de “Bielas e Tirantes”. Neste trabalho, apesar da
tendência já existente quanto à nomenclatura do método, prefere-se utilizar a denominação
geral de “Método das Bielas” e a denominação específica de “Modelo de Escoras e
Tirantes”.

A palavra “biela”, de origem francesa (“bielle”), é um termo genérico que se refere a certo
volume de material, que pode estar sendo tracionado ou comprimido. Se a biela estiver sendo
tracionada, ela é denominada de “tirante”, e, se ela estiver sendo comprimida, ela é
denominada de “escora”.

Conforme a definição anterior, acredita-se que a denominação “modelo de bielas e tirantes”


seja redundante, pois biela é um elemento que pode estar sendo tracionado ou comprimido.
Além disso, a tradução do termo “strut”, normalmente utilizado em inglês para referir-se ao
modelo “strut-and-tie”, significa escora. Os portugueses também costumam denominar o
modelo como sendo de “escoras e tirantes”. Além disso, Langendonck (1967) há muito já
definia que “uma escora é uma barra reta em que os esforços solicitantes predominantes são
forças normais de compressão e um tirante é uma barra reta em que os esforços solicitantes

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predominantes são forças normais de tração”. Em homenagem a este que foi um dos maiores
nomes na história do concreto estrutural nacional procurou-se preservar tal terminologia.

Acredita-se que o método fica mais bem definido se for denominado de “Método das
Bielas”, “Modelo de Escoras e Tirantes” ou “Generalização da Analogia de Treliça”,
substituindo-se a tradição da nomenclatura já estabelecida por respeitados pesquisadores
nacionais.

Conforme mencionado, no "Método das Bielas" as escoras comprimidas de concreto e os


tirantes de aço tracionado formam uma treliça capaz de resistir às cargas aplicadas. Desde
que Joseph Monier, um jardineiro francês, utilizou malhas de ferro para armar vasos em
1857, os modelos de escoras e tirantes têm sido utilizados intuitivamente por engenheiros
para armar as estruturas em concreto em todo o mundo.

A ideia de uma treliça resistente foi facilmente ajustada para as vigas de concreto armado.
Sob flexão, as tensões de compressão, na parte superior de uma viga simplesmente apoiada,
são resistidas pelo concreto na forma de uma escora horizontal (banzo comprimido) enquanto
as tensões de tração na parte inferior são absorvidas por um tirante horizontal (banzo
tracionado). As forças no concreto e no aço devem estar em equilíbrio e dessa maneira
formam um binário capaz de resistir ao momento externo aplicado. A distribuição de tensões
ao longo da seção transversal não pode ser determinada apenas com base nas relações de
equilíbrio e, por isso, devem-se empregar condições de compatibilidade de deformações bem
como relações constitutivas dos materiais, de maneira a relacionar as deformações com as
tensões.

A condição de compatibilidade de deformações para flexão é assumida como aquela


representada pela "Hipótese de Bernoulli", que essencialmente estabelece que uma seção
plana permanecerá plana após a ocorrência da flexão, isto é, a seção permanecerá
perpendicular ao seu eixo quando fletida. A aplicação simultânea da "Hipótese de Bernoulli",
das equações de equilíbrio e das relações constitutivas dos materiais para a análise de vigas
de concreto armado deu origem ao “Bernoulli Compatibility Truss Model”, “Bending
Theory” ou simplesmente "Teoria de Viga", cujos maiores detalhes podem ser obtidos em
Hsu (1993).

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Embora o "Modelo de Viga" não seja claramente documentado, tal ideia já vem sendo
utilizada desde o começo do século XIX, servindo como base fundamental para o
entendimento do comportamento das estruturas em concreto armado. Deve-se observar que o
modelo de treliça utilizado para momento fletor em vigas foi mais tarde adaptado para
situações que envolvem momento fletor e carga axial, situação típica de pilares. Observa-se
que, nos primeiros trabalhos, apenas as tensões normais foram levadas em conta.

A primeira aplicação do "Modelo de Treliça", para resistir à tensões de cisalhamento, foi


proposta por Ritter (1899) e Morsch (1908), por meio da aplicação do modelo para vigas
sujeitas a momento fletor e força cortante. Sob o ponto de vista desses pesquisadores, uma
viga de concreto armado se comportará como uma treliça de banzos paralelos. Pelo momento
fletor, a escora horizontal de concreto, próxima à face superior da viga, funcionará como um
banzo superior, enquanto o tirante horizontal, próximo à face inferior da viga, atuará como
um banzo inferior.

Em função das tensões de cisalhamento, a região da alma poderá desenvolver fissuras


inclinadas de um ângulo θ em relação à armadura longitudinal. Essas fissuras poderão
separar o concreto em uma série de escoras diagonais. De maneira a resistir às tensões de
cisalhamento após a fissuração, as armaduras transversais da alma deverão suportar tensões
de tração, enquanto as diagonais de concreto deverão resistir às forças de compressão. As
armaduras transversais funcionarão, portanto, como elementos da alma tracionados, enquanto
as escoras de concreto funcionarão como elementos de alma comprimidos.

O modelo de treliça plana para vigas foi estendido por Rausch (1929) para a análise de
elementos submetidos à torção. Do ponto de vista do pesquisador, um elemento de concreto,
submetido à torção, pode ser idealizado como uma treliça espacial, formada por uma série de
treliças planas, capazes de resistir à ação do cisalhamento. As tensões de cisalhamento
circulatórias, desenvolvidas na seção transversal da treliça espacial, formam um momento de
torção interno, capaz de resistir à torção externa aplicada.

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Embora Ritter, Morsch e Rausch tenham contribuído significativamente para o entendimento


do comportamento do concreto estrutural, os modelos de treliça criados por esses
pesquisadores não eram capazes de explicar alguns mecanismos complementares ao
comportamento de treliça, como, por exemplo, a contribuição ao cisalhamento propiciada
pelo intertravamento dos agregados e o efeito pino exercido pelas armaduras longitudinais.

Dando maior abrangência e fundamentação às pesquisas realizadas por Ritter, Morsch e


Rausch, Nielson (1967) e Lampert e Thurlimann (1968, 1969) chegaram às três equações de
equilíbrio para cisalhamento, baseando-se na "Teoria da Plasticidade", sendo que Elfgren
(1972) posteriormente elucidou as relações interativas entre momento fletor, força cortante e
torção. Tais teorias ficaram conhecidas como “Plasticity Truss Models” ou "Modelos
Plásticos" uma vez que foram desenvolvidas, baseando-se na condição de escoamento das
armaduras. Uma versão simplificada desses modelos ficou conhecida como “Equilibrium
(Plasticity) Truss Model” e leva em consideração apenas as condições de equilíbrio.

Um passo importante no desenvolvimento dos "Modelos de Treliça" ocorreu com as


pesquisas de Collins (1978), a partir da determinação do ângulo de inclinação das escoras de
concreto por meio de uma equação de compatibilidade de deformação obtida para um
elemento sujeito a cisalhamento. Uma vez que esse ângulo é assumido como coincidente
com o ângulo de inclinação das tensões e deformações principais de compressão, tal teoria
passou a ser conhecida como “Compression Field Theory” ou "Teoria do Campo de
Compressão". Alguns autores, como, por exemplo, Hsu (1993), preferem denominar essa
teoria como “Mohr Compatibility Truss Model”, uma vez que as deformações médias
satisfazem as condições de compatibilidade existentes no Círculo de Mohr.

A introdução da condição de compatibilidade de deformações baseadas no Círculo de Mohr


para a análise de cisalhamento foi um importante avanço no desenvolvimento das teorias
mais refinadas existentes atualmente. Na realidade, três equações de compatibilidade podem
ser estabelecidas geometricamente, a partir do Círculo de Mohr, conforme será visto adiante.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Antes de 1972, a relação tensão-deformação assumida para o concreto tinha comportamento


semelhante ao daquela obtida de ensaios uniaxiais com corpos de prova cilíndricos. Essa
hipótese levava a uma série de imprecisões na avaliação da resistências de peças submetidas
à força cortante e momento torçor, normalmente se superestimando a resistência dos
elementos ensaiados.

Robinson e Demorieux (1972) observaram que um painel de concreto armado, submetido a


compressão em uma direção, sofria perda de resistência pela ocorrência de tensões de tração
na direção perpendicular. Esse efeito, que ficou conhecido como “softening” ou
"abrandamento do concreto devido à tensões transversais", foi quantificado posteriormente
por Vecchio e Collins (1986), que por sua vez propuseram uma relação constitutiva,
incorporando o referido efeito.

Por meio da combinação de equações de equilíbrio, equações de compatibilidade de


deformações e relações constitutivas não-lineares, obtidas por meio de ensaios
experimentais, Vecchio e Collins (1986) propuseram a Teoria Modificada do Campo de
Compressão enquanto Hsu (1993), também com base experimental, propôs o Modelo de
Treliça Flexibilizado. Na realidade, tais teorias são muito semelhantes e a diferença básica
está nas relações constitutivas assumidas para o concreto sob compressão e tração.

Tanto a Teoria Modificada do Campo de Compressão quanto o Modelo de Treliça


Flexibilizado podem prever com grande eficiência o comportamento de elementos
submetidos à força cortante e ao momento torçor, incluindo o comportamento carga versus
deformação após a fissuração. O desenvolvimento das referidas teorias possibilitou o
aumento de precisão na análise de estruturas em concreto armado em que a força cortante é
dominante e cuja dificuldade de simulação numérica é enorme. Dessa maneira, apesar da
falta de consenso existente, já é possível se obter maior precisão na análise de estruturas com
alto nível de cisalhamento.

Deve-se observar que todas as teorias referidas anteriormente para a análise de força cortante
e momento torçor, isto é, “Equilibrium (Plasticity) Truss Model”, “Mohr Compatibility Truss
Model”, “Modified Compression Field Theory” e “Softened Truss Model”, são baseadas em
uma hipótese fundamental que não é exatamente correta. Em tais modelos, assume-se que a

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direção das fissuras é coincidente com a direção das tensões principais e das deformações
principais após a fissuração. Com o aumento do carregamento, fissuras adicionais ocorrerão
e a direção dessas fissuras adicionais tenderá a rotacionar em direção à direção das tensões
principais após a fissuração. Dessa maneira, tais modelos para força cortante e momento
torçor são conhecidos como “Rotating Crack Angle”. Na realidade, a direção da primeira
fissura é determinada pela direção das tensões principais antes da fissuração, o que, por sua
vez, é em geral diferente da direção das tensões principais após a fissuração.

Os modelos referidos anteriormente possuem ainda outra deficiência em comum. Todos eles
são incapazes de prever a chamada “contribuição do concreto”. Ensaios experimentais têm
revelado que a resistência ao cisalhamento de um elemento de membrana é formada de duas
parcelas principais: a primeira e maior delas é atribuída ao aço enquanto a menor parcela é
atribuída ao concreto. A existência da menor parcela é aparentemente causada pelo fato de
que a direção em que atuam as tensões principais antes da fissuração é em geral diferente
daquela assumida para as tensões e deformações principais após a fissuração.

Modelos para força cortante e torção, baseados na direção da primeira fissura (direção essa
assumida como diferente da direção das tensões principais após a fissuração), são
denominados de “Fixed Crack Angle”. De maneira geral, modelos baseados nessa diretriz
são capazes de quantificar a contribuição do concreto, porém são bem mais complicados do
que os modelos do tipo “Rotating Crack Angle” no que se refere à implementação
computacional.

A complexidade dos modelos "Fixed Crack Angle" é decorrente do fato de que tais modelos
devem incorporar uma relação constitutiva, associando as tensões de cisalhamento com as
deformações de cisalhamento na direção das fissuras. Adicionalmente, as equações de
equilíbrio e de compatibilidade se tornam bem mais complexas, e algoritmos eficientes são
necessários para a resolução das equações. Hsu (1993) propôs alguns modelos baseados
nessa ideia, porém a dificuldade de implementação levou tais modelos a um segundo plano
no presente trabalho.

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Na realidade, o ângulo de inclinação das diagonais de concreto na ruptura está em uma


posição intermediária entre aquelas definidas pelo “Rotating Crack” e pelo “Fixed Crack".
Dessa maneira, pode-se estimar que a carga de ruptura real esteja no limite definido entre os
dois modelos, caso se tenha interesse em se obter uma estimativa realista do comportamento
de determinada estrutura cujo comportamento não seja conhecido ("blind simulation").

1.2 Organização do trabalho

Tendo-se em vista a dificuldade do meio profissional em obter respostas, tanto na análise


quanto no dimensionamento de elementos de membrana, o presente trabalho tem como
principal objetivo apresentar de maneira didática a obtenção de soluções para os referidos
elementos. Dessa maneira, o livro foi subdividido em nível crescente de complexidade,
objetivando facilitar o aprendizado do leitor.

O capítulo 2 procura apresentar a obtenção das tensões principais em elementos de


membrana sujeitos a estado plano de tensões bem como a representação gráfica a partir do
Círculo de Mohr. Deve-se observar que os fundamentos normalmente apresentados nos
cursos de Resistência dos Materiais são aqui revisados, de maneira a possibilitar ao leitor
uma base sólida para o entendimento de questões mais complexas que serão abordadas
adiante.

No capítulo 3 ilustram-se a obtenção das deformações principais de um elemento de


membrana em estado plano de deformações bem como a representação das deformações
através do Círculo de Mohr. Mais uma vez, recorre-se à revisão dos conceitos de Resistência
dos Materiais para que se entenda com precisão os fundamentos utilizados na obtenção das
equações de compatibilidade, normalmente utilizadas em elementos de membrana.

No capítulo 4, o problema de cisalhamento em estruturas de concreto é abordado. Tal


problema continua em aberto e há mais de um século busca-se um consenso quanto ao
comportamento de elementos de concreto armado perante tal solicitação. Nesse sentido, são
apresentadas as formulações de equilíbrio para um elemento sujeito a cisalhamento puro,
com o avanço da teoria para um elemento sujeito ao estado de membrana. Discute-se ainda a

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formulação para armaduras mínimas em elementos de membrana, observando-se que várias


normas de destaque recomendam uma armadura aquém daquela efetivamente necessária.

No capítulo 5 são apresentados vários conceitos e sugestões práticas para a análise e


dimensionamento de estruturas de concreto que utilizam o Método dos Elementos Finitos.
Conforme é sabido, o método tem revolucionado a maneira de se analisar o concreto
estrutural, propiciando uma espécie de laboratório virtual. Evidentemente, procura-se
apresentar apenas conceitos básicos do método e a maneira como elementos de membrana
podem ser analisados com o auxílio de tal metodologia.

No capítulo 6 são apresentados os principais resultados experimentais existentes para


elementos de membrana. Tais ensaios foram fundamentais para a quantificação dos efeitos
de "compression softening" e "tension stiffening", possibilitando assim a obtenção de
relações constitutivas mais realistas para o concreto. Em especial, procura-se apresentar os
resultados produzidos na Universidade de Toronto e na Universidade de Houston,
objetivando-se fornecer ao leitor um entendimento completo do comportamento de
elementos de membrana. Adicionalmente, tal capítulo é escrito, objetivando-se constituir um
banco de dados, de maneira que, caso exista intenção de se implementar computacionalmente
os métodos de análise disponíveis, o leitor possa encontrar as informações que se façam
necessárias para simulações de comprovação de performance.

O capítulo 7 apresenta a formulação da "Compression Field Theory" enquanto o capítulo 8


descrever o "Mohr Compatibility Truss Model". Na realidade são duas abordagens quase que
idênticas para o mesmo problema, sendo que em ambas a formulação é baseada em equações
constitutivas lineares.

Na sequência, as equações constitutivas lineares são substituídas por equações constitutivas


não-lineares, de maneira que modelos mais complexos que acoplam equações de equilíbrio e
de compatibilidade de deformações são abordados. No capítulo 9, o modelo conhecido como
"Modified Compression Field Theory" é abordado, enquanto o capítulo 10 apresenta o
"Softened Truss Model". Novamente, os modelos são basicamente idênticos, modificando-se
apenas as equações constitutivas para os materiais, que por sua vez são oriundas de
diferentes ensaios experimentais.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 10


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Ao final do livro, na seção de Apêndices, são apresentados diversos códigos computacionais,


escritos especificamente para a plataforma MATLAB versão 7.8.0.347(R2009a). Os códigos
computacionais contemplam os modelos abordados no livro, facilitando a implementação
computacional daqueles interessados em avançar na modelagem que utiliza elementos de
membrana.

O Apêndice A apresenta um código base para o dimensionamento de elementos de


membrana, enquanto o Apêndice B apresenta um código para análise que utiliza a
"Compression Field Theory". O Apêndice C apresenta um código que ilustra didaticamente
os fundamentos do Método Secante para o caso unidimensional, enquanto o Anexo D
apresenta a dedução formal das equações contidas na "Modified Compression Field Theory".
Finalmente, os apêndices E e F fornecem os códigos base para implementação da "Modified
Compression Field Theory" e do "Softened Truss Model", respectivamente.

Espera-se que o presente trabalho, direcionado para pesquisadores, estudantes de pós-


graduação e engenheiros com conhecimentos avançados sobre análise estrutural, possa
contribuir de maneira relevante no projeto de estruturas complexas, bem como no
desenvolvimento de ferramentas computacionais avançadas, baseadas na formulação
elementos de membrana em concreto estrutural ora aqui apresentada.

O presente trabalho é fruto de diversas pesquisas realizadas pelo autor em países como
Estados Unidos, Holanda, Portugal e Suíça e infelizmente aguardou quase dois anos o
processo de revisão necessário para publicação em formato físico por uma editora. Tendo-se
em vista a não concordância do autor com questões de formatação, que prejudicariam o
entendimento da obra, decidiu-se por bem publicar essa obra em seu formato original, de
maneira virtual e gratuita. Espera-se que as versões físicas se tornem realidade a partir dos
leitores e que assim se multipliquem.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 11


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 12


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2. Análise de tensões em elementos de membrana


2.1 Estado plano de tensões

As condições de tensão atuantes em um ponto de um corpo qualquer podem ser estudadas


com o auxílio de um elemento infinitesimal em tamanho, normalmente esboçado na forma de
um cubo ou um paralelepípedo retangular, conforme ilustra a Figura 2.1 (a). Observa-se que
o estado de tensões em um ponto é caracterizado por seis componentes de tensões
independentes, sendo três tensões normais e três tensões cisalhantes, atuantes nas faces do
elemento infinitesimal. Conforme se observa, os eixos xyz são paralelos às arestas do
elemento, e as faces do elemento são designadas pelas direções de suas normais.

Figura 2.1 (a) estado geral de tensão, (b) estado plano de tensões e (c) estado plano de tensões (vista
bidimensional).

(a) (b) (c)

Na maioria dos casos, observa-se que o aparecimento de todas as tensões com um mesmo
nível de intensidade é raro em problemas de engenharia, de maneira que simplificações
podem ser assumidas. Tais simplificações permitem que um problema tridimensional possa
ser reduzido para um problema bidimensional, facilitando assim a análise de tensões em um
ponto. Nesse caso, pode-se dizer que o material estará sujeito a um estado plano de tensões.

Imagine-se, por exemplo, o caso de não haver carga sobre uma das superfícies de um corpo.
Nesse caso, as componentes normal e tangencial das tensões serão nulas na face de um
elemento referente a um ponto dessa superfície. Consequentemente, pelo princípio de ação e
reação, as componentes de tensão correspondentes à face oposta também serão nulas, de
maneira que o material nesse ponto estará sujeito a um estado plano de tensões. Assim, o

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 13


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

estado plano de tensões em um ponto será representado pela combinação de duas


componentes de tensões normais, σx e σy, e uma componente de tensão cisalhante τxy, que
atuam nas quatro faces do elemento, conforme ilustra a Figura 2.1 (b). Embora a Figura
2.1(c) seja adequada para mostrar as tensões que atuam em um elemento, deve-se ter em
mente que o elemento é um corpo sólido com uma espessura perpendicular ao plano da
figura.

Quando o material está em tensão plana no plano xy, apenas as faces x e y do elemento estão
submetidas a tensões e todas as tensões agem paralelalemente aos eixos x e y. Essa condição
de tensão é muito comum, pois existe na superfície de qualquer corpo tensionado, exceto em
pontos em que cargas externas agem na superfície.

Uma tensão normal σ tem um subscrito que identifica a face em que a tensão age. Assim, a
tensão σx age na face x do elemento, e a tensão σy age na face y do elemento. Uma vez que o
elemento é infinitesimal em tamanho, tensões normais iguais atuam em faces opostas. A
convenção de sinais é a convencional, ou seja, a tração é considerada positiva e a compressão
é considerada negativa.

A tensão de cisalhamento τ possui dois subscritos. O primeiro subscrito denota a face em que
a tensão age e o segundo fornece a direção da face. Dessa maneira, a tensão τxy age na face x
na direção do eixo y e a tensão τyx age na face y na direção do eixo x. O sinal da tensão de
cisalhamento é considerada positiva quando age em uma face positiva de um elemento na
direção positiva do eixo e é negativa quando age em uma face positiva de um elemento na
direção negativa de um eixo. Similarmente, em uma face negativa do elemento, uma tensão
de cisalhamento é positiva quando age na direção negativa de um eixo.

A convenção de sinais para cisalhamento é consistente com o equilíbrio do elemento, uma


vez que as tensões de cisalhamento em faces opostas de um elemento infinitesimal devem ser
iguais em magnitude e opostas em direção. Dessa forma, de acordo com a convenção de
sinais, as tensões τxy agem para cima na face positiva e para baixo na face negativa. De
maneira similar, as tensões τyx, agindo nas faces superior e inferior do elemento, são
positivas, embora tenham direções opostas.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 14


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2.2 Tensões em planos inclinados (equações de transformações de tensões)

Dado certo estado de tensões num ponto, associado a dado sistema de coordenadas (ver
Figura 2.2 (a)), é importante que se determinem os valores dessas mesmas tensões caso o
sistema de coordenadas associado seja rotacionado (ver Figura 2.2 (b)). A questão que ora
aqui se formula consiste em se determinar as tensões normais (σx e σy) e tangenciais (τxy),
originalmente associadas ao quadrado infinitesimal do sistema de coordenadas xy, quando o
quadrado infinitesimal estiver associado ao sistema de coordenadas x’y’, rotacionado de um
ângulo θ.

Figura 2.2 (a) estado de tensão no sistema original, (b) estado de tensão para um sistema rotacionado,
(c) triângulo para determinação das tensões na direção x' e (d) triângulo para determinação das
tensões na direção y'.

De forma a responder à questão anterior, ao invés de se trabalhar com o quadrado


infinitesimal, é mais conveniente cortar triângulos conforme ilustram as Figuras 2.2 (c) e 2.2
(d). Dessa maneira, têm-se as hipotenusas alinhadas com as direções x' e y’ do sistema de
coordenadas rotacionado, no sentido anti-horário, de um ângulo θ. Nessas faces, devem
estar associadas as tensões normais σx’ e σy’ bem como a tensão tangencial τx’y’.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 15


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Como o estado de tensões está em equilíbrio, as forças associadas a todas as tensões têm que
se equilibrar também nas direções x’e y’. É necessário, portanto, que se passem as tensões
para forças, multiplicando-as por suas áreas de atuação. Sendo a área da hipotenusa do
triângulo adotada como ∆A, a área dos catetos deve valer ∆Acosθ e ∆Asinθ.

Conhecidas as forças que atuam em cada face dos triângulos (prismas de base triangular),
pode-se proceder com a determinação das equações de equilíbrio em cada direção
transformada. Para a direção x’ tem-se que

σ x ' .∆A − (σ x .∆A. cos θ ) cos θ − (σ y .∆A.senθ ).senθ − (τ xy .∆A. cos θ ).senθ − (τ xy .∆A.senθ ). cos θ = 0

ou seja:
σ x ' = σ x . cos 2 θ + σ y .sen 2θ + 2.τ xy .senθ . cos θ (Equação 2.1a)

ou
σ x ' = σ x . cos 2 θ + σ y .sen 2θ + τ xy .sen 2θ (Equação 2.1b)

Para a direção y’ tem-se que

σ y ' .∆A − (σ x .∆A.senθ ) senθ − (σ y .∆A. cos θ ). cos θ + (τ xy .∆A. cos θ ).senθ + (τ xy .∆A.senθ ). cos θ = 0

ou seja:

σ y ' = σ x .sen 2θ + σ y . cos 2 θ − 2.τ xy .senθ . cos θ (Equação 2.2a)

ou
σ y ' = σ x .sen 2θ + σ y . cos 2 θ − τ xy .sen 2θ (Equação 2.2b)

Para a direção x’y’ tem-se que

τ x ' y ' .∆A + (τ xy .∆A.senθ ).senθ + (σ x .∆A. cos θ ).senθ − (τ xy .∆A. cos θ ). cos θ − (σ y .∆A.senθ ). cos θ = 0

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 16


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Ou seja:
τ x ' y ' = (σ y − σ x ).senθ . cos θ + τ xy .(cos 2 θ − sen 2θ ) (Equação 2.3)

As equações para σx’, σy’ e τx’y’, encontradas anteriormente, constituem-se nas expressões que
possibilitam as transformações de qualquer tensão normal e tangencial, respectivamente, de
um sistema xy para um sistema x’y’, rotacionado de um ângulo θ qualquer. Essas expressões
podem ser reescritas de forma matricial, conforme abaixo:

 σ x '   cos 2 θ sen 2θ sen 2θ  σ x 


    
σ y'  =  sen 2θ cos θ − sen 2θ .σ y  (Equação 2.4)
2

τ x ' y '   − sen θ . cos θ


 sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  τ xy 

De maneira alternativa, novas equações podem ser escritas a partir das seguintes relações
trigonométricas:

sen 2θ = 2.senθ . cos θ (Equação 2.5)

1 − cos 2θ
sen 2θ = (Equação 2.6)
2
1 + cos 2θ
cos 2θ = (Equação 2.7)
2

Dessa maneira, a partir da substituição das relações trigonométricas, tem-se que

σx +σ y σx −σ y
σ x' = + cos 2θ + τ xy .sen 2θ (Equação 2.8)
2 2
σx +σy σx +σy
σ y' = + cos 2θ + τ xy .sen 2θ (Equação 2.9)
2 2
σx −σy
τ x' y' = − sen 2θ + τ xy . cos 2θ (Equação 2.10)
2

Algumas vezes, pode ser útil obter as tensões no sistema original a partir do sistema
rotacionado, observando-se que

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 17


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

sen ( −θ ) = − senθ (Equação 2.11)

cos ( −θ ) = cos θ (Equação 2.12)

E, substituindo-se θ = -θ na Equação 2.4, podem-se estabelecer novas relações:

σ x   cos 2 θ sen 2θ sen 2θ   σ x' 


    
σ y  =  sen 2θ cos 2 θ − sen 2θ . σ y '  (Equação 2.13)
τ xy  − sen θ . cos θ
 sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  τ x ' y ' 

2.3 Determinação das tensões normais principais

As expressões anteriores não são muito práticas, uma vez que elas apenas fornecem infinitos
valores para as tensões normais e tangenciais em um ponto para uma infinidade de ângulos
de rotação possíveis para o sistema de coordenadas. É natural que, da infinidade de valores a
serem encontrados com essas expressões, existam valores máximos e mínimos associados.
Derivando-se a Equação 2.8 em relação a θ, tem-se que

dσ x '
= −(σ x − σ y ).sen 2θ + 2.τ xy . cos 2θ (Equação 2.14).

Igualando-se a Equação 2.14 a zero (lembrando que os valores máximos e mínimos ocorrem
nos pontos onde a derivada é zero) e desenvolvendo-se a expressão até se isolar o ângulo θ,
obtêm-se os ângulos em que ocorrem as tensões principais (valores máximos e mínimos):

2.τ xy
tan 2θ p = (Equação 2.15).
σx −σy

Dois valores do ângulo 2θp no intervalo entre 0 até 360o podem ser obtidos a partir da
Equação 2.15. Esses valores diferem de 180o, com um valor entre 0 e 180o e outro entre 180
e 360o. Por isso, o ângulo θp tem dois valores que diferem por 90o, um valor entre 0 e 90o e
outro entre 90 e 180o. Os dois valores de θp são conhecidos como ângulos principais. Para
um desses ângulos, a tensão normal σx’ é uma tensão principal máxima enquanto para o outro

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 18


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ângulo é uma tensão principal mínima. Como os ângulos principais diferem por 90o, deduz-
se que as tensões principais ocorrem em planos mutuamente perpendiculares.

As tensões principais podem ser calculadas, substituindo-se cada um dos dois valores de θp
na primeira equação de transformação de tensão (Equação 2.1b) e resolvendo-se σx’.
Determinando-se as tensões principais dessa maneira, não apenas se obtêm os valores das
tensões principais, mas também descobre-se qual tensão principal está associada com cada
ângulo principal. Adicionalmente, as expressões de seno e cosseno de θ associadas à
Equação 2.15 e podem ser obtidas a partir da interpretação da Figura 2.3.

Figura 2.3 - Equações complementares para os planos de tensões máximas e mínimas.

Observa-se que os triângulos da Figura 2.3 são construídos a partir da Equação 2.15. O
primeiro triângulo é dado pela inclinação θp1 enquanto o segundo triângulo é dado pela
inclinação θp2. Para cada um dos triângulos, pode-se deduzir que a hipotenusa é dada, a partir
do Teorema de Pitágoras, por

σ −σ y
2

R =  x  + τ 2 xy (Equação 2.16).
 2 

A grandeza R é sempre um número positivo e, como os outros lados dos triângulos, também
possui unidade de tensão. Da análise dos triângulos, obtêm-se duas relações adicionais:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 19


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

σx −σy
σx −σ y
cos 2θ p1 = 2 = (Equação 2.17).
σ x −σ y  2. R
2

  + τ 2 xy
 2 
τ xy τ xy
sen 2θ p1 = = (Equação 2.18).
σx −σ y  R
2

  + τ 2 xy
 2 

Substituindo-se as Equações 2.17 e 2.18 na Equação 2.8, obtém-se o maior valor algébrico
das duas tensões principais, denotado por σ1:

σx +σy σx −σ y
σ1 = σ x' = + cos 2θ p1 + τ xy .sen 2θ p1
2 2
σx +σy σx −σ y σx −σ y  τ 
σ1 = σ x' = +   + τ xy . xy 
2 2  2.R   R 

Após se substituir o valor de R, dado na Equação 2.16, e fazer algumas manipulações


algébricas, obtém-se:

σx +σy σ −σ y
2

σ1 = +  x  + τ xy2 (Equação 2.19).
2  2 

A menor das tensões principais, denotada por σ2, pode ser encontrada a partir da condição de
que a soma das tensões normais em planos perpendiculares é constante, ou seja,

σ 1 + σ 2 = σ x + σ y (Equação 2.20).

Substituindo-se a Equação 2.19 na Equação 2.20 e resolvendo-se para σ2, tem-se que:

σx +σy σ −σ y
2

σ2 = −  x  + τ xy2 (Equação 2.21).
2  2 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 20


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Observa-se que a Equação 2.19 é idêntica à Equação 2.21, diferindo apenas pelo sinal
negativo antes da raiz quadrada. Dessa maneira, as equações anteriores podem ser
combinadas em uma única fórmula para o cálculo das tensões principais, conforme a seguir:

σx +σy σ −σ y
2

σ 1, 2 = ±  x  + τ xy2 (Equação 2.22).
2  2 

2.4 Determinação das tensões máximas de cisalhamento

Uma característica importante dos planos principais pode ser obtida a partir da equação de
transformação para as tensões de cisalhamento (Equação 2.10). Se τx1y1 for atribuído igual a
zero na Equação 2.10, obtém-se a Equação 2.14. Dessa maneira, os ângulos em relação aos
planos de tensão de cisalhamento nulo são os mesmos que os ângulos em relação aos planos
principais. Assim, pode-se concluir que as tensões de cisalhamento serão nulas nos planos
principais.

Por outro lado, uma vez que são conhecidas as tensões principais e suas direções para um
elemento em tensão plana, podem-se obter as tensões máximas de cisalhamento e os planos
em que elas agem. Tomando-se a derivada da Equação 2.10 em relação a θ e igualando-se o
resultado a zero, de maneira a obter os valores máximos e mínimos, tem-se

dτ x ' y '
= −(σ x − σ y ) cos 2θ − 2.τ xy .sen 2θ = 0 .

De que se obtém

σx −σy
tan 2θ s = − (Equação 2.23).
2.τ xy

A Equação 2.23 fornece um valor para θs entre 0 e 90o e outro entre 90o e 180o. Além disso,
esses valores diferem por 90o e, por isso, as tensões de cisalhamento máximas ocorrem em
planos perpendiculares. Como as tensões de cisalhamento em planos perpendiculares são

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 21


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

iguais em valor absoluto, as tensões de cisalhamento máximas positiva e negativa diferem


apenas em sinal. Comparando-se a Equação 2.15 com a Equação 2.23, tem-se que

1
tan 2θ s = − = − cot 2θ p (Equação 2.24.a).
tan 2θ p

ou
tan 2θ s − cot 2θ p = 0 (Equação 2.24.b).

Desenvolvendo-se a Equação 2.24b, tem-se que

sen 2θ s cos 2θ p
+ =0
cos 2θ s sen 2θ p

sen 2θ s .sen 2θ p + cos 2θ s . cos 2θ p = 0

cos(2θ s − 2θ p ) = 0 (Equação 2.25).

De maneira que

2θ s − 2θ p = ±90o ou θ s = θ p ± 45o (Equação 2.26).

Dessa maneira, a Equação 2.26 demonstra que os planos de tensão de cisalhamento com
valores máximos ocorrem a 45o em relação aos planos principais. As tensões de cisalhamento
máximas contêm tensões normais, que por sua vez podem ser calculadas a partir das
equações de transformação. Manipulando-se a Equação 2.26 e as equações de transformação,
pode-se demonstrar que a tensão máxima de cisalhamento é dada por

σ −σ y
2

τ max =  x  + τ xy2 (Equação 2.27)
 2 
ou
σ1 − σ 2
τ max = (Equação 2.28).
2

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2.5 Tensões em função das tensões principais

Uma situação que pode surgir, quando da análise e dimensionamento de elementos de


membrana em concreto estrutural, refere-se à descrição das tensões σx , σy e τxy em função
das tensões principais σ1 e σ2. Recorrendo-se à Equação 2.13, tem-se que

σ x   cos 2 θ sen 2θ sen 2θ   σ x' 


    
σ y  =  sen 2θ cos 2 θ − sen 2θ . σ y '  (Equação 2.13).
τ xy  − sen θ . cos θ
 sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  τ x ' y ' 

Levando-se em conta que a tensão de cisalhamento τx'y' para um plano principal é nula, de
maneira que σ1 = σx' e σ2 = σy', tem-se

σ x   cos 2 θ sen 2θ sen 2θ  σ 1 


    
σ y  =  sen 2θ cos θ − sen 2θ .σ 2  (Equação 2.29)
2

τ xy  − sen θ . cos θ


 sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ   0 

ou
σ x = σ 1 cos 2 θ + σ 2 sen 2θ (Equação 2.30).

σ y = σ 1 sen 2θ + σ 2 cos 2 θ (Equação 2.31).

τ xy = (σ 1 − σ 2 ).sen θ . cos θ (Equação 2.32).

2.6 Círculo de Mohr para tensão plana

As Equações de Transformação para tensão plana podem ser representadas graficamente pelo
Círculo de Mohr. Essa representação é extremamente útil uma vez que permite visualizar as
relações entre as tensões normais e de cisalhamento, agindo em vários pontos inclinados.
Para a obtenção das equações do Círculo de Mohr, basta rearranjar as Equações 2.8 e 2.10,
conforme a seguir:

σx +σy σx −σy
σ x' − = cos 2θ + τ xy .sen 2θ (Equação 2.33).
2 2

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σx −σy
τ x' y' = − sen 2θ + τ xy . cos 2θ (Equação 2.34)
2

Dos conhecimentos de geometria analítica, pode-se reconhecer que as equações anteriores


representam um círculo na forma paramétrica. O ângulo 2θ é o parâmetro, e as tensões σx1 e
τx1y1 são as coordenadas do círculo. Elevando-se ao quadrado ambos os lados das Equações
2.33 e 2.34 e na sequência somando-se as duas equações, pode-se eliminar o ângulo 2θ,
conforme a seguir:

σ +σy σ −σ y
2 2
  
 σ x1 − x  + τ x21 y1 =  x  + τ xy2 (Equação 2.35).
 2   2 

A Equação 2.35 pode ser reescrita de maneira mais simples se forem relembradas as
seguintes condições:
σx +σy
σ med = (Equação 2.36).
2

σ −σ y
2

R =  x  + τ xy2 (Equação 2.37).
 2 

Dessa maneira, a Equação 2.35 pode ser reescrita como

(σ x1 − σ med )2 + τ x21 y1 = R 2 (Equação 2.38).

Observa-se que a Equação 2.38 representa a equação de um círculo na forma algébrica


padrão, em que as coordenadas são σx1 e τx1y1, o raio é R, e o centro do círculo tem
coordenadas σx1 = σmed e τx1y1 = 0.

O Círculo de Mohr pode ser traçado a partir das Equações 2.33 e 2.34 bem como a partir da
Equação 2.38. Algumas possibilidades de notação se apresentam no que se refere ao sinal da
tensão de cisalhamento. Na primeira forma do Círculo de Mohr, a tensão normal σx1 positiva
é traçada para a direita e a tensão de cisalhamento τx1y1 positiva é traçada para baixo. A
vantagem em se traçar as tensões de cisalhamento positivas para baixo é que o ângulo 2θ no

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 24


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Círculo de Mohr será positivo, quando atuante no sentido anti-horário, o que está de acordo
com a direção positiva de 2θ na dedução das equações de transformação.

Na segunda alternativa, para se traçar o Círculo de Mohr, a tensão de cisalhamento τx1y1


positiva é traçada para cima, mas o ângulo 2θ fica agora positivo no sentido horário, o que é
contrário à sua direção positiva usual. Observa-se que ambas as formas de se representar o
Círculo de Mohr são matematicamente corretas.

A despeito das duas possibilidade de traçado, observa-se que a primeira alternativa é mais
atrativa. Tal fato se deve à mais fácil visualização da orientação do elemento de tensão se a
direção positiva do ângulo 2θ for a mesma no Círculo de Mohr. Além disso, uma rotação no
sentido anti-horário está de acordo com a regra da mão direita, habitualmente utilizada para
rotação. Dessa maneira, no presente trabalho, será escolhido o traçado do Círculo de Mohr
em que a tensão de cisalhamento positiva é traçada para baixo e o ângulo 2θ positivo é
traçado no sentido anti-horário.

Uma terceira alternativa ainda é encontrada em algumas publicações, mas cujo efeito é na
verdade igual ao Círculo de Mohr apresentado na primeira opção. Nessa convenção, a
direção de uma tensão de cisalhamento, agindo em um elemento do material, é indicada pelo
sentido da rotação que ela tende a produzir. Se a tensão de cisalhamento tende a girar o
elemento de tensão no sentido horário, ela é desenhada para cima. Se a tensão de
cisalhamento tende a girar o elemento de tensão no sentido anti-horário, ela é desenhada para
baixo no Círculo de Mohr.

Conforme mencionado, essa maneira de se convencionar o sinal das tensões produz um


círculo idêntico àquele apresentado na primeira alternativa abordada. A razão é que a tensão
de cisalhamento positiva τx1y1 é também uma tensão de cisalhamento anti-horária e ambas
são traçadas para baixo. Uma tensão de cisalhamento negativa τx1y1 é uma tensão de
cisalhamento horária e ambas são traçadas para cima.

Assim, conclui-se que essa convenção de sinal alternativa fornece apenas um ponto de vista
diferenciado, mas que produz o mesmo resultado da alternativa que ora aqui será adotada
para a construção do Círculo de Mohr. Em vez de se pensar no eixo vertical como o que tem

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tensões de cisalhamento negativas traçadas para cima e tensões de cisalhamento positivas


para baixo (o que vai contra o habitual), pode-se pensar no eixo vertical como o que tem
tensões de cisalhamento horárias traçadas para cima e anti-horárias traçadas para baixo.

Após a discussão das convenções normalmente utilizadas para a construção do Círculo de


Mohr, será apresentada na sequência uma metodologia para a obtenção do referido círculo,
tendo-se em vista quais tensões são conhecidas e quais tensões devem ser encontradas. Para
se ilustrar as propriedades básicas, considera-se o conhecimento das tensões σx, σy e τxy
agindo nos planos x e y de um elemento em tensão plana, conforme apresenta a Figura 2.4.

Figura 2.4 - Círculo de Mohr para elemento em tensão plana.

A partir dessas tensões, pode-se traçar o círculo de maneira a se obter as tensões σx1, σy1 e
τx1y1 para qualquer rotação θ, bem como podem-se obter as tensões principais e tensões de
cisalhamento máximas. O procedimento para a construção do Círculo de Mohr é o seguinte:

• estabeleça um sistema de coordenadas com σx1 como abscissa (positivo para a direita)
e τx1y1 como ordenada (positivo para baixo ou giro da face em sentido anti-horário);
• marque o centro C do círculo no ponto de coordenadas σx1 = σmedio e τx1y1 = 0;

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• marque o ponto A, representando as condições de tensão na face x do elemento cujas


coordenadas são σx1 = σx e τx1y1 = τxy. Observe que o ponto A no círculo corresponde
a θ = 0o;
• marque o ponto B, representando as condições de tensão na face y do elemento cujas
coordenadas são σx1 = σy e τx1y1 = -τxy. Observe que o ponto B no círculo
corresponde a θ = 90o;
• desenhe uma linha, conectando o ponto A com o ponto B. Essa linha representará o
diâmetro do círculo e passará pelo ponto C. Observe que os pontos A e B estão em
extremidades opostas do diâmetro e representam as tensões em planos defasados de
90o (por isso estão separados de 180o no círculo);
• tomando o ponto C como centro, desenhe um círculo através dos pontos A e B.
Observe que o círculo traçado dessa maneira terá raio R, conforme ilustrado na
Equação 2.37.

Uma vez que o Círculo de Mohr foi desenhado, pode-se partir para a obtenção de tensões em
planos inclinados. Se o ângulo θ for conhecido, mede-se um ângulo 2θ no sentido anti-
horário, a partir do raio CA, uma vez que o ponto A corresponde a θ = 0o e também é o ponto
de referência do qual se medem os giros. O ângulo 2θ fornecerá o ponto D no Círculo de
Mohr, que por sua vez tem coordenadas σx1 e τx1y1. Dessa maneira, o ponto D representa as
tensões na face x1 do elemento.

O ponto D' é diametralmente oposto ao ponto D e está afastado desse mesmo ponto no
círculo de um ângulo de 180o. Dessa maneira, o ponto D' representa as tensões na face do
elemento de tensão a 90o da face representada pelo ponto D. Assim, o ponto D' possuirá
coordenadas σy1 e -τx1y1 na face y1 do elemento de tensão.

A obtenção das tensões principais é sem dúvida a informação mais importante a ser obtida do
Círculo de Mohr. O ponto P1 representa a situação em que a tensão normal atinge seu maior
valor algébrico e por isso é denominado de tensão principal. Observe que para o ponto P1 a
tensão de cisalhamento é nula e o ângulo, a partir do ponto de referência A, é igual a 2θp1,
fornecendo assim o plano principal. O outro plano principal, associado com a tensão
algebricamente menor, é representado pelo ponto P2, diametralmente oposto ao ponto P1.

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Os pontos S1 e S2, representando os planos de tensões de cisalhamento máximas positiva e


negativa, estão localizados na parte mais alta e na mais baixa do círculo, respectivamente.
Esses pontos estão a ângulos 2θ = 90o dos pontos P1 e P2, o que vai de encontro com o fato
de que os planos de tensão de cisalhamentos máximos estão orientados a 45o em relação aos
planos principais. Observar que as tensões de cisalhamento máximas são numericamente
iguais ao raio R do círculo e que as tensões normais para essa situação são iguais ao ponto C,
que é a tensão normal média σmed.

2.7 Exemplo de aplicação

Seja um elemento de membrana sujeito à ação das tensões σx,d = 2,13 MPa (tração),
σy,d = -2,13 MPa (compressão) e τxy,d = 3,70 MPa, conforme ilustra a Figura 2.5. Utilizando
o Círculo de Mohr, determinar as quantidades a seguir: (a) tensões principais, (b) tensões
agindo em um elemento inclinado a um ângulo de 60o e (c) tensões máximas de
cisalhamento.

Figura 2.5 – Elemento de membrana sujeito a tensões normais e cisalhantes.

σx,d = 2,13 MPa


σy,d = -2,13 MPa
τxy,d = 3,70 MPa
h = 12 cm
fyd = 500 MPa
fcd = 20 MPa

a) Cálculo das tensões principais

O primeiro passo para se resolver o problema consiste em fixar os eixos para o Círculo de
Mohr, com σx1 positivo para a direita e τx1y1 positivo para baixo. O centro C do círculo está
localizado no eixo σx1 no ponto em que σx1 é igual à tensão normal média:

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σ x + σ x 2,13 − 2,13
σ med = = = 0 MPa
2 2

O ponto A, representando as tensões na face x do elemento (θ = 0o), tem coordenadas dadas


por σx1 = 2,13 MPa e τx1y1 = 3,70 MPa. De forma similar, as coordenadas no ponto B,
representando as tensões na face y (θ = 90o), têm coordenadas dadas por σx1 = -2,13 MPa e
τx1y1 = -3,70 MPa. Observe que, tendo-se em vista a convenção adotada (tensões normais de
tração positivas e tensões cisalhantes horárias positivas), o ponto A é desenhado abaixo e à
direita enquanto o ponto B é desenhado à esquerda e acima do sistema de eixos. O círculo é
desenhado através dos pontos A e B com centro em C, dado por

 σ − σx   2,13 − (-2,13) 
2 2

R=  x  + τ xy = 
2
 + 3,70 = 4,27 MPa .
2

 2   2 

Dessa maneira, unindo-se os pontos A e B por uma reta que passa pelo centro C, pode-se
obter o Círculo de Mohr conforme a Figura 2.6.

Figura 2.6 - Cálculo das tensões principais pelo Círculo de Mohr.

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Da Figura 2.6, observa-se que as tensões principais são representadas pelos pontos P1 e P2.
Para o exemplo em questão, nota-se que tais tensões serão iguais em módulo e terão
intensidade igual ao valor do raio R, ou seja, σ1 = 4,27 MPa e σ2 = -4,27 MPa. O ângulo em
que a tensão principal σ1 faz com o eixo σx1 pode ser obtido diretamente no próprio círculo
ou por trigonometria, lembrando-se de que o ângulo medido no Círculo de Mohr é sempre o
dobro do ângulo real:

3,69
tan ACP1 = = 1,73 → 2θ p1 = 60o → θ p1 = 30o .
2,13

O ângulo 2θp2 até o ponto P2 no círculo é dado por 60o + 180o = 240o. Dessa forma, o
segundo plano principal é definido pelo ângulo θp2 = 120o no Círculo de Mohr. Lembrando-
se de que o ângulo medido no Círculo de Mohr é sempre o dobro do ângulo real, a rotação
real de θp2 será 60o.

b) Tensões máximas de cisalhamento

As tensões máximas de cisalhamento são representadas pelos pontos S1 e S2 no Círculo de


Mohr, ilustrado na Figura 2.6. Conforme se pode observar, a tensão máxima de cisalhamento
no plano é igual ao raio do círculo, ou seja,

τmax = 4,27 MPa.

O ângulo ACS1 do ponto A até o ponto S1 é igual a 90o + 60o = 150o e, por isso, 2θs1 = 150o.
O ângulo correspondente θs1 ao plano de cisalhamento máximo positivo será, portanto, igual
à metade do valor anterior, ou seja, θs1 = 75o. A tensão de cisalhamento negativa (ponto S2
do círculo) tem o mesmo valor numérico da tensão positiva (4,27 MPa).

Deve-se observar que as tensões normais, agindo nos planos de tensão de cisalhamento
máximo, são iguais a σmed, que, excepcionalmente para o caso em estudo, é igual a zero. É
interessante notar que σmed é sempre igual à abscissa do centro C do círculo e que os planos
de tensão de cisalhamento máximo sempre estarão orientados a 45o dos planos principais
para tensões normais.

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c) Tensões agindo em um elemento inclinado a um ângulo de 60o

As tensões agindo em um plano orientado a um ângulo de 60o são dadas pelas coordenadas
do ponto D da Figura 2.7, que está a um ângulo de 2θ = 120o do ponto A. Para se calcular as
coordenadas do ponto D, é preciso conhecer o ângulo entre a linha CD e o eixo σx1 (ângulo
DCP1), que por sua vez exige o conhecimento do ângulo entre a linha CA e o eixo σx1
(ângulo ACP1).

Figura 2.7 - Cálculo das tensões para um plano orientado a um ângulo de 60o .

Os ângulos mencionados podem ser encontrados a partir da geometria do círculo da seguinte


maneira:
3,69
tan ACP1 = = 1,73 → ACP1 = 60o
2,13

DCP1 = 120 o − ACP1 = 120o − 60o = 60 o .

Conhecendo-se os ângulos anteriores, pode-se determinar as coordenadas do ponto D da


Figura 2.7, conforme a seguir:

σ x1 = − R.cos 60 o = −4,27.cos 60 o = −2,13MPa .

τ x1y1 = − R.sen 60 o = −4,27.sen 60 o = −3,69 MPa .

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De maneira análoga, podem-se encontrar as tensões representadas pelo ponto E, que


corresponde ao plano inclinado a um ângulo θ = 150o (60o + 90o).

σ x1 = R.cos 60 o = 4,27.cos 60 o = 2,13MPa .

τ x1y1 = R.sen 60 o = 4,27.sen 60o = 3,69 MPa .

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3. Análise de deformações em elementos de membrana

As deformações em um ponto de uma estrutura carregada variam de acordo com a orientação


dos eixos, de maneira similar ao caso já visto para as tensões. Do mesmo modo, é possível
deduzir equações de transformação, relacionando as deformações em direções inclinadas
com as deformações nas direções de referência. Deve-se observar que as deformações são
normalmente medidas por extensômetros e, como cada medidor faz a medida em uma
direção particular, as equações de transformação são necessárias para se conhecer as
deformações em outras direções.

3.1 Deformação plana versus tensão plana

Para explicar como a deformação plana está relacionada com a tensão plana, considere-se um
pequeno elemento de material com lados a, b e c nas direções x, y e z, respectivamente,
conforme ilustra a Figura 3.1. Se as únicas deformações são aquelas no plano xy, então três
componentes de deformação podem existir: a deformação normal εx na direção x, a
deformação normal εy na direção y e a deformação de cisalhamento γxy. Um elemento de
material submetido a essas deformações, e apenas a essas deformações, está em Estado de
Deformação Plana.

Figura 3.1 – Componentes de deformação εx , εy e γxy no plano xy (deformação plana).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 33


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Observa-se dessa maneira que um elemento em deformação plana não possui deformação
normal εz na direção z e nenhuma deformação de cisalhamento γxz e γyz nos planos xz e yz,
respectivamente. Dessa maneira, a deformação plana no plano xy é definida, considerando-se
as condições de que εz = 0, γxz = 0 e γyz = 0, sendo que as deformações restantes (εx , εy e γxy)
podem ter valores não nulos.

Assim, pode-se concluir que a deformação plana ocorre quando as faces posterior e anterior
de um elemento de material estão totalmente restringidas contra deslocamentos na direção z,
condição essa que é raramente verificada em estruturas reais (barragens, por exemplo). O
fato de deformações planas serem pouco verificadas não desmerece o estudo das equações de
transformação, uma vez que a dedução das mesmas pode ser profundamente útil para a
determinação das deformações em casos de tensões planas.

Deve-se observar que a definição de deformação plana (εz = 0, γxz = 0 e γyz = 0) é análoga à
definição de tensão plana (σz = 0, τxz = 0 e τyz = 0). Da mesma maneira que as deformações
restantes (εx , εy e γxy) podem ter valores não nulos, as tensões restantes (σx , σy e τxy)
também podem ter valores não nulos. A Figura 3.2 ilustra uma comparação das tensões e
deformações bem como da tensão plana e deformação plana.

Figura 3.2 – Comparações entre tensão plana e deformação plana.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 34


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Deve-se tomar o cuidado de não concluir, a partir das similaridades nas definições de tensão
plana e deformação plana, que ambas ocorrem simultaneamente. De maneira geral, um
elemento em tensão plana será submetido a uma deformação na direção z e, assim, ele não
está em deformação plana. Um elemento em deformação plana usualmente terá tensões σz
agindo nele pela existência de εz = 0 e, por isso, não estará em tensão plana. Portanto, sob
condições normais, a tensão plana e a deformação plana não ocorrem simultaneamente.

Uma exceção ocorre, quando um elemento em tensão plana está submetido a tensões normais
iguais e opostas (isto é, σx = -σy), e a lei de Hooke é válida para o material. Nesse caso
especial, não há deformação normal na direção z e por isso o elemento está em um estado de
deformação plana e tensão plana. Outro caso especial, embora hipotético, é quando o
material possui coeficiente de Poisson igual a zero. Nesse caso, todo elemento de tensão
plana também estará em deformação plana, uma vez que εz = 0.

3.2 Equações de transformação para deformação plana

As equações de transformação de tensão deduzidas no capítulo anterior para tensão plana no


plano xy são válidas mesmo quando uma tensão normal σz está presente. A explicação está
no fato de que a tensão σz não entra nas equações de equilíbrio, utilizadas nas deduções.
Dessa maneira, as equações de transformação para tensão plana podem ser usadas para as
tensões em deformação plana.

As equações de transformação de deformação para o caso de deformação plana no plano xy


serão deduzidas e também poderão ser utilizadas para os casos em que existir εz. A razão
dessa validade é simples e semelhante àquela já explicada para o caso das tensões. No caso
das deformações, observa-se que εz não afeta as relações geométricas usadas nas deduções e,
dessa maneira, as equações de transformação para deformação plana também podem ser
utilizadas para as deformações em tensão plana.

É importante observar que, assim como no caso das tensões, as equações de transformação
para deformações são válidas para qualquer tipo de material, elástico ou não. Dessa maneira,
as equações ora aqui deduzidas podem ser aplicadas a um elemento de membrana em

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 35


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concreto armado, tendo-se em vista que a dedução das equações leva em conta apenas
aspectos de equilíbrio e por isso são válidas para qualquer material.

Para a dedução das equações de transformação para deformação plana será utilizado o eixo
de coordenadas, ilustrado na Figura 3.3. Para tanto, será assumido que as deformações
normais εx , εy e a deformação de cisalhamento γxy, associadas aos eixos xy, são conhecidas.
O objetivo das equações de transformação é determinar deformações normais εx1 , εy1 e a
deformação de cisalhamento γx1y1, associadas aos eixos x1y1, que são rotacionadas no sentido
anti-horário através de um ângulo θ a partir dos eixos. Observa-se que na realidade a
deformação normal εy1 pode ser obtida, a partir da equação obtida para εx1, bastando-se para
isso considerar um ângulo θ + 90o ao invés de θ.

Figura 3.3 - Deformações de um elemento em deformação plana pela (a) deformação normal εx , (b)
deformação normal εy e (c) deformação de cisalhamento γxy.

Para a determinação da deformação normal εx1 na direção x1, considere-se um pequeno


elemento de material, selecionado de forma que o eixo x1 está ao longo de uma diagonal da
face z do elemento e os eixos x e y estão ao longo dos lados do elemento, conforme ilustra a
Figura 3.2 (a). Evidentemente, o elemento ilustrado de maneira bidimensional é na realidade
tridimensional e possui uma dimensão na direção z.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 36


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Considerando-se a deformação normal εx na direção x (Figura 3.3 (a)), observa-se que essa
deformação produz um alongamento na direção x igual a εxdx, sendo que dx é o
comprimento do lado correspondente do elemento. Como resultado desse alongamento, a
diagonal do elemento aumentará em comprimento com o seguinte valor:

ε x dx.cosθ (Equação 3.1).

Da mesma maneira, considerando-se a deformação normal εy na direção y (Figura 3.3 (b)),


observa-se que essa deformação produz um alongamento na direção y igual a εydy, sendo
que dy é o comprimento do lado do elemento paralelo ao eixo y. Como resultado desse
alongamento, a diagonal do elemento aumentará em comprimento com o seguinte valor:

ε y dy.senθ (Equação 3.2).

Finalmente, quanto à deformação γxy no plano xy (Figura 3.3 (c)), observa-se que essa
deformação produz uma distorção do elemento de tal forma que o ângulo no canto esquerdo
inferior do elemento diminui de uma quantidade igual à da deformação de cisalhamento.
Consequentemente, a face superior do elemento move-se para a direita (com relação à face
inferior) de uma quantidade γxy.dy. Essa deformação resulta em um aumento no
comprimento da diagonal igual a

γ xy dy.cosθ (Equação 3.3).

Assim, o aumento total ∆d no comprimento da diagonal será a soma das três equações
anteriores:

∆d = ε x dx.cosθ + ε y dy.senθ + γ xy dy.cosθ (Equação 3.4).

A deformação normal εx1 na direção x1 é igual a esse aumento no comprimento, dividido


pelo comprimento inicial da diagonal, ou seja:

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∆d dx dy dy
ε x1 = = εx .cosθ + ε y .senθ + γ xy .cosθ (Equação 3.5).
ds ds ds ds

Observando-se que dx/ds = cos θ e que dy/ds = sen θ, pode-se obter a equação para a
deformação normal na direção x1:

ε x1 = ε x .cos 2 θ + ε y .sen 2 θ + γ xy cosθ .senθ (Equação 3.6.a).

ou
ε x1 = ε x .cos 2 θ + ε y .sen 2 θ + γ xy cosθ .senθ (Equação 3.6.a).

A deformação normal εy1 na direção y1 pode ser obtida com o mesmo desenvolvimento
apresentado anteriormente para a deformação normal εx1 na direção x1. No entanto, uma
maneira mais simples de se obter a equação para εy1 consiste na substituição do ângulo θ na
Equação 3.6 por θ + 90o. Assim, observando-se as relações entre os quadrantes em que cos
(90º + θ ) = -sen θ e que sen (90º + θ) = cos θ, tem-se que

ε y1 = ε x .cos 2 (θ + 90o ) + ε y .sen 2 (θ + 90o ) + γ xy cos(θ + 90o ).sen(θ + 90 o )

ε y1 = ε x .sen 2 θ + ε y .cos 2 θ − γ xy cosθ .senθ (Equação 3.7).

A deformação de cisalhamento γx1y1 é igual à diminuição no ângulo entre as linhas no


material que estavam inicialmente ao longo dos eixos x1 e y1. De maneira a ilustrar essa
ideia, considere-se a Figura 3.4. Observa-se que o ângulo θ traduz o ângulo existente entre os
eixos x e x1. Sendo Oa uma linha no material que inicialmente estava ao longo do eixo x1,
observa-se que os deslocamentos causados pelas deformações εx , εy e γxy fazem a referida
linha girar através de um ângulo α no sentido anti-horário do eixo x1 até a posição ilustrada
na Figura 3.4.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 38


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Figura 3.4 - Deformação de cisalhamento γx1y1 associada aos eixos x1y1.

Da mesma forma, a linha Ob representa uma linha no material ao longo do eixo y1. Pelas
deformações εx , εy e γxy, essa linha tende a girar de um ângulo β no sentido horário.
Portanto, a partir da determinação dos ângulos α e β, a deformação de cisalhamento γx1y1
pode ser calculada como a diminuição no ângulo entre as duas linhas que estavam
inicialmente em ângulos retos, ou seja:

γ x1y1 = α + β (Equação 3.8).

O ângulo α pode ser encontrado, a partir das deformações ilustradas na Figura 3.3, conforme
a seguir. A deformação εx produz uma rotação no sentido horário da diagonal do elemento
igual a α1, conforme ilustra a Figura 3.3 (a) dada por

dx
α1 = ε x senθ (Equação 3.9).
ds

De maneira similar, a deformação εy produz uma rotação no sentido anti-horário da diagonal


do elemento igual a α2, conforme ilustra a Figura 3.3 (b), dada por

dy
α2 = ε y cos θ (Equação 3.10).
ds

Finalmente, a deformação de cisalhamento γxy produz uma rotação no sentido anti-horário


da diagonal do elemento igual a α3, conforme ilustra a Figura 3.3 (c) dada por

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 39


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dy
α 3 = γ xy senθ (Equação 3.11).
ds

Assim, a rotação resultante da diagonal no sentido horário, igual ao ângulo α é dado por

α = −α1 + α 2 − α 3

dx dy dy
α = −ε x senθ + ε y cos θ − γ xy senθ (Equação 3.12).
ds ds ds

Observando-se novamente que dx/ds = cos θ e dy/ds = senθ, obtém-se

α = −(ε x − ε y ) senθ . cos θ − γ xy .sen 2θ (Equação 3.13).

A rotação da linha Ob, que inicialmente estava 90o em relação à linha Oa, pode ser
encontrada, substituindo-se θ por θ + 90o na Equação 3.13. A expressão resultante é anti-
horária, quando positiva (uma vez que α é anti-horário quando positivo), e dessa forma ela é
igual ao negativo do ângulo β (uma vez que β é positivo quando horário). Logo, tem-se que

β = (ε x − ε y ) sen (θ + 90o ). cos(θ + 90o ) − γ xy .sen 2 (θ + 90o )

β = −(ε x − ε y ) senθ . cos θ + γ xy . cos 2 θ (Equação 3.14).

Dessa maneira, somando-se α e β, tem-se a deformação de cisalhamento γx1y1, que por sua
vez é dada por

γ x1 y1 = −2(ε x − ε y ) senθ . cos θ + γ xy .(cos 2 θ − sen 2θ ) (Equação 3.15.a).

ou
γ x1 y 1 γ xy
= −(ε x − ε y ) senθ . cos θ + .(cos 2 θ − sen 2θ ) (Equação 3.15.b).
2 2

As equações para εx1, εy1 e γx1y1, encontradas anteriormente, constituem-se nas expressões
que possibilitam as transformações de qualquer deformação normal e tangencial,

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 40


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respectivamente, de um sistema xy para um sistema x1y1, rotacionado de um ângulo θ


qualquer. Essas expressões podem ser reescritas de forma matricial, conforme ilustrado
abaixo:

 ε x1   cos 2 θ sen 2θ 2.sen θ . cos θ   ε x 


    
 ε y1  =  sen 2θ cos θ − 2.sen θ . cos θ . ε y  (Equação 3.16).
2

γ x1 y1 / 2  − sen θ . cos θ


 sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  γ xy / 2 

De forma alternativa, novas equações podem ser escritas a partir das seguintes relações
trigonométricas:

1 + cos 2θ
cos 2θ = (Equação 3.17).
2
1 − cos 2θ
sen 2θ = (Equação 3.18).
2
1
senθ . cos θ = .sen 2θ (Equação 3.19).
2

Assim, a partir da substituição das relações trigonométricas, tem-se que

εx + εy εx − εy γ xy
ε x1 = + cos 2θ + .sen 2θ (Equação 3.20).
2 2 2
εx + εy εx − εy γ xy
σ y' = − cos 2θ − .sen 2θ (Equação 3.21).
2 2 2
γ x1 y 1 εx − εy γ xy
=− sen 2θ + . cos 2θ (Equação 3.22).
2 2 2

Algumas vezes, pode ser útil obter-se as tensões no sistema original a partir do sistema
rotacionado. Observando-se novamente que

sen ( −θ ) = − senθ (Equação 3.23).

cos ( −θ ) = cos θ (Equação 3.24).

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E, substituindo-se θ = -θ na Equação 3.16, pode-se estabelecer novas relações:

 ε x   cos 2 θ sen 2θ − 2.sen θ . cos θ   ε x1 


    
 ε y  =  sen θ cos θ 2.sen θ . cos θ . ε y1  (Equação 3.25).
2 2

γ xy / 2  sen θ . cos θ


 − sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  γ x1 y1 / 2 

Observa-se que a matriz que possibilita a transformação de unidades de um sistema de eixos


para outro é denominada de "Matriz de Transformação", sendo a mesma igual tanto no caso
de tensões quanto de deformações.

Adicionalmente, nota-se que as equações de transformação obtidas para deformações planas


(Equação 3.16) são semelhantes às equações obtidas para tensões planas (Equação 2.4). Ao
se comparar as equações, observa-se que εx1 corresponde a σx1, a deformação εy1 corresponde
a σy1 e γx1y1/2 corresponde a τx1y1.

A analogia entre as equações de transformação para tensão plana e aquelas para deformação
plana mostram que todas as observações feitas para o caso de tensão plana, ou seja, tensões
principais, tensões de cisalhamento máximas e Círculo de Mohr, têm sua contrapartida na
deformação plana, conforme visto a seguir.

3.3 Deformações principais

Assim como no caso das tensões, as expressões anteriores fornecem apenas os infinitos
valores das deformações normais e tangenciais em um ponto para uma infinidade de valores
de ângulos de rotação possíveis do sistema de coordenadas. Da infinidade de valores a serem
encontrados com essas expressões, existem valores máximos e mínimos associados, obtidos
a partir da derivada primeira da Equação 3.20 em relação a θ:

dε x 1
= −(ε x − ε y ).sen 2θ + γ xy . cos 2θ (Equação 3.26).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 42


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Igualando-se a Equação 3.26 a zero (valores de máximo ocorrem em pontos onde a derivada
é zero) e desenvolvendo-se a expressão até se isolar o ângulo θ, obtêm-se os ângulos onde
ocorrem as deformações principais (valores máximos e mínimos):
γ xy
tan 2θ p = (Equação 3.27).
εx − εy

Dois valores do ângulo 2θp no intervalo entre 0 até 360o podem ser obtidos a partir da
Equação 3.27. Esses valores diferem de 180o, com um valor entre 0 e 180o e outro entre 180
e 360o. Por isso, o ângulo θp tem dois valores que diferem por 90o, um valor entre 0 e 90o e
outro entre 90 e 180o. Os dois valores de θp são conhecidos como ângulos principais. Para
um desses ângulos, a deformação normal εx1 é uma deformação principal máxima enquanto
para o outro ângulo é uma deformação principal mínima. Como os ângulos principais
diferem por 90o, deduz-se que as deformações principais ocorrem em planos mutuamente
perpendiculares, assim como no caso das tensões.

As deformações principais podem ser calculadas, substituindo-se cada um dos dois valores
de θp na Equação 3.20 e resolvendo-se εx1. Determinando-se as deformações principais dessa
maneira, não apenas se obtêm os valores das deformações principais, mas também descobre-
se qual deformação principal está associada com cada ângulo principal. Adicionalmente, as
expressões de seno e cosseno de θ, associadas à Equação 3.20, podem ser obtidas a partir da
interpretação da Figura 3.5.

Figura 3.5 - Equações complementares para os planos de deformações máximas e mínimas.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 43


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Observe que os triângulos da Figura 3.5 são construídos a partir da Equação 3.20. O primeiro
triângulo é dado pela inclinação θp1 enquanto o segundo triângulo é dado pela inclinação θp2.
Para cada um dos triângulos, pode-se deduzir que a hipotenusa é dada, a partir do Teorema
de Pitágoras, por

2
εx − εy   γ xy 
2

R =   +   (Equação 3.28).
 2 
 2   

A grandeza R é sempre um número positivo e, como os outros lados dos triângulos, também
possui unidade de deformação. Da análise dos triângulos, obtêm-se duas relações adicionais:

εx −εy
εx −εy
cos 2θ p1 = 2 = (Equação 3.29).
2 2. R
εx −εy   τ xy 
2

  +  
 
 2   2 

γ xy
γ xy
sen 2θ p1 = 2 = (Equação 3.30).
2 2R
εx −εy  τ
2

  +  xy 
2  
   2 

Substituindo-se as Equações 3.29 e 3.30 na Equação 3.20, obtém-se o maior valor algébrico
das duas deformações principais, denotado por ε1:

εx + εy εx −εy γ xy
ε 1 = ε x1 = + cos 2θ p1 + .sen 2θ p1
2 2 2
εx + εy ε x − ε y  ε x − ε y  γ xy γ xy
ε 1 = ε x1 = + .  + .
2 2  2R  2 2R

Após se substituir o valor de R dado na Equação 3.28 e fazer algumas manipulações


algébricas, pode-se obter

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 44


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2
εx + εy εx −εy   γ xy 
2

ε1 = +   + 

 (Equação 3.31).

2  2   2 

A menor das deformações principais, denotada por ε2, pode ser encontrada a partir da
condição de que a soma das deformações normais em planos perpendiculares é constante, ou
seja:

ε 1 + ε 2 = ε x + ε y (Equação 3.32).

Substituindo-se a Equação 3.31 na Equação 3.32 e resolvendo-se para ε2, tem-se que:

2
εx + εy εx −εy   γ xy
2

ε2 = −   + 

 (Equação 3.33).

2  2   2 

Observa-se que a Equação 3.33 é idêntica à Equação 3.32, diferindo apenas pelo sinal
negativo antes da raiz quadrada. Dessa maneira, as equações anteriores podem ser
combinadas em uma única fórmula para o cálculo das deformações principais, conforme a
seguir:

2
εx + εy εx − εy   γ xy 
2

ε 1,2 = ±   + 

 (Equação 3.34).

2  2   2 

Observe a grande semelhança que há entre a Equação 3.34, para deformações principais, e a
Equação 2.22 para tensões principais. Da mesma maneira, semelhanças são observadas no
caso das deformações máximas de cisalhamento e nas relações existentes no Círculo de
Mohr.

As deformações de cisalhamento máximas no plano xy estão associadas aos eixos a 45o em


relação às direções das deformações principais. A deformação de cisalhamento
algebricamente máxima (no plano xy) é dada por

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 45


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2
εx − εy   γ xy 
2
γ max
=   +   (Equação 3.35).
 
2  2   2 

A deformação de cisalhamento mínima tem a mesma magnitude da deformação de


cisalhamento máxima, porém é negativa. Nas direções de deformação de cisalhamento
máximo, as deformações normais são dadas por

εx + εy
ε med = (Equação 3.36).
2

Um elemento em tensão plana que está orientado segundo as direções principais de tensão
não possui tensões de cisalhamento que agem em suas faces. Por isso, a deformação de
cisalhamento γx1y1 para esse elemento é zero. Segue-se que as deformações normais nesse
elemento são as deformações principais. Assim, as deformações principais e as tensões
principais ocorrem nas mesmas direções, observação que foi de fundamental importância
para o desenvolvimento de várias teorias para a análise e dimensionamento de elementos de
membrana em concreto estrutural.

3.4 Deformações em função das deformações principais

Uma situação que pode surgir, quando da análise e dimensionamento de elementos de


membrana em concreto estrutural, refere-se à descrição das deformações εx , εy e γxy em
função das deformações principais ε1 e ε2. Isso pode ser feito, levando-se em conta que a
deformação de cisalhamento γx1y1 para um plano principal é nula, de maneira que ε1 = εx1 e
ε2 = εy1. Recorrendo-se à Equação 3.25, tem-se que

 ε x   cos 2 θ sen 2θ − 2.sen θ . cos θ   ε x1 


    
 ε y  =  sen θ cos 2 θ 2.sen θ . cos θ . ε y1  (Equação 3.25).
2

γ xy / 2  sen θ . cos θ


 − sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ  γ x1 y1 / 2 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 46


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

 ε x   cos 2 θ sen 2θ − 2.sen θ . cos θ  ε 1 


    
 ε y  =  sen θ cos θ 2.sen θ . cos θ .ε 2  (Equação 3.37).
2 2

γ xy / 2  sen θ . cos θ


 − sen θ . cos θ cos 2 θ − sen 2θ   0 

ou
ε x = ε 1 cos 2 θ + ε 2 sen 2θ (Equação 3.38).

ε y = ε 1 sen 2θ + ε 2 cos 2 θ (Equação 3.39).

γ xy / 2 = (ε 1 − ε 2 ).sen θ . cos θ (Equação 3.40).

As equações anteriores representam as condições de compatibilidade de elementos de


membrana e por isso são denominadas de "Equações de Compatibilidade". Essas equações
possuem seis variáveis, de maneira que, quando três variáveis são informadas, as variáveis
restantes podem ser facilmente obtidas.

3.5 Círculo de Mohr para deformação plana

Conforme mencionado, o Círculo de Mohr para deformações será semelhante ao Círculo de


Morh para tensões, isto é, o procedimento é basicamente o mesmo, mudando-se apenas as
variáveis. Para se ilustrar as propriedades básicas do círculo para deformações, considere-se
o conhecimento das deformações εx, εy e γxy que agem nos planos x e y de um elemento em
deformação plana, conforme ilustra a Figura 3.6.

Figura 3.6 - Círculo de Mohr para Deformação Plana.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 47


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

A partir dessas deformações, pode-se traçar o círculo de maneira a se obter as tensões εx1, εy1
e γx1y1 para qualquer rotação θ, bem como podem-se obter as tensões principais e tensões de
cisalhamento máximas. O procedimento para a construção do Círculo de Mohr para
deformações é o seguinte:

• estabeleça um sistema de coordenadas com εx1 como abscissa (positiva para a direita)
e γx1y1 como ordenada (positivo para baixo);
• marque o centro C do círculo no ponto de coordenadas εx1 = εmedio e γx1y1 = 0;
• marque o ponto A, representando as condições de deformação na face x do elemento,
cujas coordenadas são εx1 = εx e γx1y1 = γxy / 2. Observe que o ponto A no círculo
corresponde a θ = 0o;
• marque o ponto B, representando as condições de deformação na face y do elemento,
cujas coordenadas são εx1 = εy e γx1y1 = -γxy / 2. Observe que o ponto B no círculo
corresponde a θ = 90o;
• desenhe uma linha, conectando o ponto A com o ponto B. Essa linha representará o
diâmetro do círculo e passará pelo ponto C. Observe que os pontos A e B estão em
extremidades opostas do diâmetro e representam as tensões em planos defasados de
90o (por isso estão separados de 180o no círculo);
• tomando o ponto C como centro, desenhe um círculo através dos pontos A e B.
Observe que o círculo traçado dessa maneira terá raio R, conforme ilustrado na
Equação 3.28.

Uma vez que o Círculo de Mohr foi desenhado, pode-se partir para a obtenção de
deformações em planos inclinados. Se o ângulo θ for conhecido, mede-se um ângulo 2θ no
sentido anti-horário, a partir do raio CA, uma vez que o ponto A corresponde a θ = 0o e
também é o ponto de referência do qual se medem os giros. O ângulo 2θ fornecerá o ponto D
no Círculo de Mohr, que por sua vez tem coordenadas εx1 e γx1y1 / 2. Dessa maneira, o ponto
D representa as tensões na face x1 do elemento.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 48


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O ponto D' é diametralmente oposto ao ponto D e está afastado desse mesmo ponto no
círculo de um ângulo de 180o. Assim, o ponto D' representa as tensões na face do elemento
de tensão a 90o da face representada pelo ponto D. Assim, o ponto D' possuirá coordenadas
εy1 e -γx1y1 / 2 na face y1 do elemento de tensão.

A obtenção das deformações principais é sem dúvida a informação mais importante a ser
obtida do Círculo de Mohr. O ponto P1 representa a situação em que a deformação normal
atinge seu maior valor algébrico e por isso é denominada de deformação principal. Observe
que, para o ponto P1, a deformação de cisalhamento é nula e o ângulo, a partir do ponto de
referência A, é igual a 2θp1, fornecendo assim o plano principal. O outro plano principal,
associado com a deformação algebricamente menor, é representado pelo ponto P2,
diametralmente oposto ao ponto P1.

Os pontos S1 e S2, representando os planos de deformações de cisalhamento máximas


positiva e negativa, estão localizados na parte mais alta e mais baixa do círculo,
respectivamente. Esses pontos estão a ângulos 2θ = 90o dos pontos P1 e P2, o que vai de
encontro com o fato de que os planos de deformação de cisalhamentos máximos estão
orientados a 45o em relação aos planos principais. Observe que as deformações de
cisalhamento máximas são numericamente iguais ao raio R do círculo e que as deformações
normais para essa situação são iguais à abscissa do ponto C, que é a deformação normal
média εmed.

3.6 Exemplo de aplicação

Um elemento submetido a um estado de deformação plana apresenta as seguintes


deformações: εx = 480 x 10-6, εy = 220 x 10-6 e γxy = 180 x 10-6, conforme ilustra a Figura
3.7. Pede-se para se determinar as quantidades a seguir: (a) as deformações para um
elemento orientado a um ângulo θ = 30o; (b) as deformações principais; e (c) as deformações
de cisalhamentos máximas. Considerem-se apenas as deformações no plano e mostrem-se
todos os resultados em elementos orientados de forma apropriada.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 3.7 - Elemento sujeito à deformação plana.

a) Elemento orientado a um ângulo de 30o

Podem-se obter as deformações para um elemento orientado a um ângulo θ em relação ao


eixo x a partir das Equações (3.20) e (3.22). De maneira a se otimizar os cálculos, as
seguintes parcelas podem ser previamente quantificadas:

εx +εy
=
(480 + 220) × 10 −6 = 350 × 10 −6
2 2
εx −εy
=
(480 − 220) × 10 −6
= 130 × 10 −6
2 2
γ xy 180 × 10 −6
= = 90 × 10 −6
2 2

Substituindo-se os valores anteriores nas Equações (3.20) e (3.22), tem-se

εx + εy εx − εy γ xy
ε x1 = + cos 2θ + .sen 2θ
2 2 2
ε x1 = (350 × 10 −6 ) + (130 × 10 −6 )(cos 60º ) + (90 × 10 −6 ).( sen 60º )

ε x1 = 492,942 × 10 −6

γ x1 y 1 εx − εy γ xy
=− sen 2θ + . cos 2θ
2 2 2
γ x1 y 1
= −(130 × 10 −6 )( sen 60º ) + (90 × 10 −6 ).(cos 60º )
2

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 50


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

γ x1 y 1
= −67,583 × 10 −6
2

Assim, a deformação de cisalhamento é dada por

γ x1 y1 = −135,167 × 10 −6

A deformação εy1 pode ser obtida, a partir da Equação (3.32), da seguinte maneira:

ε y1 = ε x + ε y − ε x1

ε y1 = (480 + 220 − 492,942) × 10 −6 = 207,058 × 10 −6

As deformações εx1, εy1 e γx1y1 para um elemento orientado a um ângulo θ = 30º são
ilustradas na Figura 3.8.

Figura 3.8 - Deformações para elemento orientado em um ângulo de 30o.

b) Deformações principais

As deformações principais podem ser determinadas, a partir da Equação (3.34), da seguinte


maneira:
2
εx + εy εx − εy   γ xy 
2

ε 1,2 = ±   +  
 2 
2  2   

ε 1, 2 = 350 × 10 −6 ± (130 × 10 ) + (90 × 10 )


−6 2 −6 2

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ε 1, 2 = 350 × 10 −6 ± 158,114 × 10 −6

Dessa forma, as deformações principais são dadas por

ε 1 = 508,114 × 10 −6 ε 2 = 191,886 × 10 −6

Em que ε1 corresponde à deformação principal algebricamente maior e ε2 à deformação


algebricamente menor. Os ângulos das direções principais podem ser obtidos a partir da
Equação (3.27):

γ xy 180
tan 2θ p = = = 0,6923
ε x − ε y 480 − 220

Resolvendo, tem-se que os valores de 2θp entre 0 e 360º são de 34,6952º e 214,6952º e, por
isso, os ângulos em relação às direções principais são dados por

θ p = 17,3476º e 107,3476º .

Para se determinar o valor de θp associado com cada deformação principal, substitui-se θp =


17,3476º na Equação (3.20) e resolve-se para as deformações:

εx + εy εx − εy γ xy
ε x1 = + cos 2θ + .sen 2θ
2 2 2
ε x1 = (350 × 10 −6 ) + (130 × 10 −6 )(cos 34,6952º ) + (90 × 10 −6 ).( sen 34,6952º )

ε x1 = 508,114 × 10 −6

Esse resultado mostra que a maior deformação principal ε1 está no ângulo θp = 17,3476º. A
menor deformação ε2 age a 90º a partir dessa direção (θp = 107,3476º). Dessa forma:

ε 1 = 508,114 × 10 −6 e θ p1 = 17,3476º

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ε 2 = 191,886 × 10 −6 e θ p 2 = 107,3476º

As deformações principais são ilustradas na Figura 3.9. Evidentemente, não existem


deformações por cisalhamento nos planos principais, conforme já mencionado ao longo da
apresentação teórica das deformações principais.

Figura 3.9 - Deformações principais do elemento.

c) Deformação de cisalhamento máxima

A deformação de cisalhamento máxima é calculada a partir da Equação (3.35):

2
εx −εy   γ xy
2
γ max 
=   +  
2  
 2   2 

γ max
2
= (130 × 10 ) + (90 × 10 )
−6 2 −6 2
= 158,114 × 10 −6

γ max = 79,057 × 10 −6
O elemento que possui as deformações de cisalhamento máximas está orientado a 45º em
relação às direções principais. Por isso, θs = 17,3476º + 45º = 62,3476º e 2θs = 124,6952º.
Substituindo-se o valor de 2θs na Equação (3.22), pode-se determinar o sinal da deformação
de cisalhamento associada com essa direção. Dessa maneira, tem-se que

γ x1 y 1 εx − εy γ xy
=− sen 2θ + . cos 2θ
2 2 2
γ x1 y 1
= −(130 × 10 −6 )( sen 124,6952º ) + (90 × 10 −6 ).(cos 124,6952º )
2

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 53


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

γ x1 y 1
= −158,114 × 10 −6
2

Esse resultado mostra que um elemento orientado a um ângulo θs = 62,3476º possui a


deformação de cisalhamento máxima negativa. Pode-se chegar ao mesmo resultado,
observando-se que o ângulo θs1 em relação à direção de deformação de cisalhamento máxima
positiva é sempre 45º menor do que θp1. Assim:

θ s1 = θ p1 − 45º = 17,3476º −45º = −27,6524º

θ s 2 = θ s1 + 90º = −27,6524º +90º = 62,3476º

As deformações de cisalhamento são correspondentes a θs1 e θs2 são γmax = 79,057 x 10-6 e
γmin = -79,057 x 10-6, respectivamente. As deformações normais no elemento, tendo as
deformações de cisalhamento máximas e mínimas, são

ε med =
εx +εy
=
(480 + 220 ) × 10 −6
= 350 × 10 −6
2 2

Um esboço de um elemento, tendo as deformações de cisalhamento máximas no plano, é


mostrado na Figura 3.10. Finalmente, observa-se que todos os resultados ora aqui
apresentados também podem ser obtidos facilmente a partir do Círculo de Mohr para as
deformações.

Figura 3.10 – Elemento com deformação de cisalhamento máxima.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 54


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4. Equilíbrio de elementos de membrana em concreto armado


4.1 Introdução

Com trabalhos baseados na Teoria da Plasticidade, Nielsen (1967), Lampert e Thurlimann


(1968, 1969) apud Hsu (1993) chegaram às três equações fundamentais de equilíbrio para
força cortante. Posteriormente, Elfegren (1972) elucidou a interação entre flexão, força
cortante e momento torçor, sendo que a soma desse trabalho com aqueles mencionados
anteriormente passou a ser conhecida como “Equilibrium (Plasticity) Truss Model”.

O “Plasticity Truss Model” é baseado na hipótese de que tanto a armadura longitudinal


quanto a transversal escoarão antes da ruptura do concreto. De maneira a assegurar esse
modo de colapso (dúctil), os elementos submetidos a cisalhamento puro são classificados em
subarmados e superarmados.

O estado que divide os elementos subarmados dos superarmados é chamado de “condição


balanceada”. Para os elementos subarmados, o escoamento das armaduras (ou da que ainda
falta escoar) se dá simultaneamente ao esmagamento do concreto, para uma tensão efetiva
assumida como ξfck. Para os elementos superarmados o concreto se rompe antes de qualquer
uma das armaduras escoarem.

De acordo com o CEB-FIP MODEL CODE (1978), o coeficiente de abrandamento ξ pode


ser tomado como 0,6. Mais adiante, será demonstrado que esse coeficiente é dependente das
tensões transversais de tração atuantes nas diagonais comprimidas, conforme recomendam a
“Modified Compression Fiel Theory” e o “Softened Truss Model”.

De acordo com Hsu (1993), o “Equilibrium (Plasticity) Truss Model” foi desenvolvido,
baseando-se na Teoria da Plasticidade, e leva em consideração as condições de equilíbrio e
de escoamento das armaduras. As condições de compatibilidade bem como as relações
constitutivas dos materiais não são levadas em conta nesse modelo, de maneira que algumas
deficiências são identificadas, conforme a seguir:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 55


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

• o “Equilibrium (Plasticity) Truss Model” não leva em consideração condições de


compatibilidade de deformações e, dessa maneira, não possibilita a obtenção das
deformações de cisalhamento pela força cortante atuante em um elemento de
membrana;
• o “Equilibrium (Plasticity) Truss Model” não possibilita a previsão de deformações
no aço ou no concreto, de maneira que o escoamento das armaduras ou a ruptura das
escoras não podem ser racionalmente encontrados. Esse fato dificulta a obtenção do
modo de ruína;
• o “Equilibrium (Plasticity) Truss Model” está focado principalmente na análise e
dimensionamento em estado limite último de regiões B, isto é, regiões que seguem a
Hipótese de Bernoulli de seções planas com distribuição linear de deformações ao
longo da seção transversal.

Apesar das deficiências mencionadas anteriormente, o “Equilibrium (Plasticity) Truss


Model” é um modelo muito simples de ser programado computacionalmente. Graficamente
também o modelo é muito interessante, uma vez que as condições de equilíbrio satisfazem
plenamente as relações do Círculo de Mohr. Além disso, o modelo possibilita uma visão
bastante clara sobre a interação existente entre flexão, força cortante, torção e força axial
atuantes em elementos de concreto armado.

Antes de se dar continuidade à apresentação das equações de equilíbrio deduzidas para


elementos de membrana, é de fundamental importância a identificação de regiões B e regiões
D em uma estrutura. Como se sabe, a “Hipótese de Bernoulli” facilita muito o
dimensionamento de elementos de concreto armado, pois é possível assumir que a
distribuição de deformações ao longo da altura da seção transversal seja mantida linear,
desde o início do carregamento até a ruptura, conforme ilustra a Figura 4.1.

Figura 4.1 – Distribuição linear de deformações em uma viga de concreto armado.


εc

h Linha Neutra

εs

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 56


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Nessa hipótese, costuma-se desprezar as deformações de distorção provocadas pela força


cortante, o que permite um dimensionamento funcional e seguro para a maioria dos
elementos estruturais. Porém, essa hipótese simplificadora não pode ser estendida para todos
os tipos de elementos estruturais, ou mais especificamente, para todas as regiões de um
elemento estrutural.

Em pontos de aplicação de cargas ou em regiões com irregularidades geométricas, pode-se


mostrar com o recurso de métodos numéricos o aparecimento de singularidades de
deformação em regiões bem definidas, que impedem a adoção de deformações lineares,
conforme pressupõe a “Hipótese de Bernoulli”.

Nessas regiões de perturbação, as deformações provocadas pela força cortante apresentam


valores significativos, o que obriga a sua consideração no dimensionamento do elemento
estrutural. Portanto, para essas regiões, a aplicação dos métodos convencionais de análise e
dimensionamento pode conduzir a soluções inseguras.

De acordo com Schäfer & Schläich (1988, 1991), pode-se dividir uma estrutura em regiões
contínuas (“Regiões B”, em que a “Hipótese de Bernoulli” de distribuição linear de
deformações ao longo da seção transversal é válida) e regiões descontínuas (“Regiões D”, em
que a “Hipótese de Bernoulli” não pode ser aplicada, isto é, onde a distribuição de
deformações ao longo do elemento é não-linear).

Em geral as “Regiões D” se manifestam a partir de perturbações de ordem estática (causadas


pela presença de cargas) e geométrica (causadas por mudanças bruscas na geometria), sendo
que o comprimento dessas regiões pode ser definido aproximadamente, a partir da altura do
elemento estrutural, conforme ilustram os trechos cinzentos da Figura 4.2.

Em uma “Região B” a força de tração na armadura longitudinal varia ao longo do elemento,


de maneira a balancear o momento fletor aplicado, mantendo o braço de alavanca interno
relativamente constante. Por outro lado, em uma “Região D” a força de tração na armadura
tende a permanecer constante, o braço de alavanca interno sofre variação e o elemento se
comporta como se fosse um arco atirantado, com o esforço cortante sendo transmitido por
compressão através de escoras inclinadas (“strut action”).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 57


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 4.2 – Exemplos de “Regiões D” e seus contornos.


(Fonte: ACI-318 (2002)).

Como exemplos de “Regiões D” parciais ou generalizadas podem ser citados os casos dos
dentes Gerber, das áreas de aplicação de protensão, dos consolos e das cargas próximas de
apoios, das vigas-parede, das sapatas e dos blocos rígidos de fundação sobre estacas. Dessa
maneira, a análise e dimensionamento estrutural desses elementos devem ser feitos,
recorrendo-se a modelos que levem em consideração as deformações por esforço cortante.
A maioria dos pesquisadores têm recomendado para essa atividade o uso de ferramentas
como o Método dos Elementos Finitos e o Método das Bielas.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 58


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4.2 Equilíbrio de elementos sujeitos a cisalhamento puro

O elemento ilustrado na Figura 4.3(a) está sujeito a um fluxo de cisalhamento q, possui


espessura h e comprimento unitário nas direções x e y. As barras da direção horizontal (x)
possuem espaçamento uniforme sx enquanto as barras na direção vertical (y) possuem
espaçamento sy.

Figura 4.3 - (a) Elemento em concreto armado sujeito a cisalhamento puro e fissuras diagonais,
formando série de diagonais de concreto comprimidas (b).

(a) (b)

Após a fissuração, o concreto é separado por fissuras diagonais, formando uma série de
diagonais comprimidas, conforme ilustra a Figura 4.3(b). Observa-se que as diagonais de
concreto comprimido, as barras longitudinais e as barras transversais formam uma treliça
capaz de resistir ao fluxo de cisalhamento q. A Figura 4.4 procura ilustrar o equilíbrio na face
vertical e na face horizontal do elemento.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 59


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 4.4 - Equilíbrio de forças nas faces vertical e horizontal do elemento.

Observar que nx é definido como a força longitudinal no aço por unidade de comprimento,
isto é, asx.fsx/sx , onde asx é a área de uma barra longitudinal e fsx é a tensão atuante nas barras.
Deve-se notar ainda que asx / sx é exatamente igual a Asx / 1,0 m, ou seja, a armadura
necessária por m linear. Assim, observa-se que o equilíbrio é dado em força por unidade de
comprimento, ou seja:

kN
cm 2 .
a .f cm 2 = kN/m (Equação 4.1).
n x = sx sx =
sx m

A partir do equilíbrio do triângulo de forças na direção vertical da Figura 4.4, pode-se obter o
fluxo q a partir da armadura longitudinal, isto é:

q = n x .tan θ' (Equação 4.2).

De maneira similar, pode-se fazer o equilíbrio na direção horizontal da Figura 4.2. Dessa
maneira, o fluxo q, a partir da armadura transversal, é dado por

q = n y .cot θ' (Equação 4.3).

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O fluxo cisalhante q pode ser relacionado à tensão diagonal no concreto σd a partir de


qualquer um dos triângulos de força apresentados na Figura 4.4. A partir da geometria,
obtém-se

q = (σ d .h).sen θ'. cos θ' (Equação 4.4).

Assumindo-se que o escoamento ocorrerá para as armaduras nas duas direções, tem-se que

a sx .f sxy a sy .f syy
n xy = (Equação 4.5) e n yy = (Equação 4.6).
sx sy

Igualando-se a Equação 4.3 com a Equação 4.4, tem-se que

n xy .tan θ' = n yy .cotg θ'

n yy
n xy .tan θ' =
tan θ'

n yy
tan 2 θ' =
n xx

n yy
tan θ' = (Equação 4.7).
n xx

Multiplicando-se a Equação 4.3 pela Equação 4.4, de maneira a se eliminar θ', tem-se

1
q 2y = n xy .n yy .tan θ'
tan θ'

q y = n xy .n yy (Equação 4.8).

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A Equação 4.8 mostra que o ângulo θ' no escoamento depende apenas da razão entre as
forças de escoamento das armaduras nas direções horizontal e vertical. Estabelece ainda que
qy é igual à raiz quadrada do produto da força de escoamento por unidade de comprimento
nas duas direções.

Em projetos, o objetivo é determinar as quantidades de armadura que entrarão em


escoamento nos dois sentidos (nxy e nyy) para o estado limite último. Ao mesmo tempo, deve-
se garantir que a tensão σd no concreto não ocorra antes do referido escoamento de
armaduras, de maneira a se obter condições de ductilidade. Assim, as Equações 4.2, 4.3 e 4.4
podem ser reescritas como

n xy = q y .cotg θ' (Equação 4.9),

n yy = q y .tg θ' (Equação 4.10),

qy
σd = (Equação 4.11).
h.sen θ'.cos θ'

Observar que as equações anteriores estão escritas em termos de q, nx e ny que por sua vez
representam forças por unidade de comprimento. De maneira a se transformar as equações
em termos de tensões, basta-se definir as tensões distribuídas no aço, isto é:

a sx .f sx n x
ρ x .f sx = = (Equação 4.12);
s x .h h

a sy .f sy ny
ρ y .f sy = = (Equação 4.13).
s y .h h

Dividindo-se as Equações 4.9, 4.10 e 4.11 por h e substituindo-se as Equações 4.12 e 4.13
nas manipulações, tem-se que

ρ x .f sx = τ xy .cotg θ' (Equação 4.14);

ρ y .f sy = τ xy .tg θ' (Equação 4.15);

1
σ d = τ xy . = τ xy (tan θ'+ cotg θ' ) (Equação 4.16).
cos θ'.sen θ'

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As Equações 4.14, 4.15 e 4.16 podem ser expressas em termos da tensão σd atuante no
concreto. Substituindo-se τxy da Equação 4.16 nas Equações 4.14 e 4.15, tem-se que

ρ x .f sx = σ d .cos 2 θ' (Equação 4.17);

ρ y .f sy = σ d .sen 2 θ' (Equação 4.18);

τ xy = σ d .cos θ'.sen θ' (Equação 4.19).

4.2.1 Elementos normalmente armados (condição balanceada)

Somando-se as Equações 4.17 e 4.18 e observando-se que sen2θ' + cos2θ' = 1, tem-se que

ρ x f sx + ρ y f sy = σ d .sen 2 θ' + σ d .cos 2 θ'


ρ x f sx + ρ y f sy = σ d (Equação 4.20).

Na condição balanceada, fsx = fsy = fy e σd = ξ.fck , logo:

ρ x f sx + ρ y f sy = ξ.f ck (Equação 4.21).

Dividindo-se a Equação 4.21 por ξ.fck, tem-se que

ω x + ω y = 1,0 (Equação 4.22).

Observa-se que, para a “condição balanceada” de elementos submetidos a cisalhamento puro,


três situações podem ocorrer, conforme a seguir:

 ω x = ω y (Caso I)
 θ' = 45o

Condição Balanceada  ω y < 0,5 (Caso II)

ωx + ωy = 1  θ' < 45o
ω x < 0,5 (Caso III)

 θ' < 45o

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Para o Caso I, isto é, quando ωx = ωy , o escoamento das armaduras longitudinal e transversal


se dá simultaneamente com o esmagamento do concreto para o nível de tensão apresentado
na Equação 4.25:

ω x + ω y = 1 → 2ω x = 1 → ω x = 0,5 = ω y (Equação 4.23);

ωy
tan θ' = = 1 → θ' = 45o (Equação 4.24);
ωx

τ xy
= ω x .ω y = ω x .ω x = ω x = 0,5 2 = 0,5 (Equação 4.25).
2

ξf ck

Para o Caso II, isto é, ωy < 0,5, a armadura transversal escoou e a armadura longitudinal
escoará ao mesmo tempo em que se verifica o esmagamento do concreto. Assim:

ω x = 1 - ω y (Equação 4.26);

ωy ωy
tan θ' = = → θ < 45o (Equação 4.27);
ωx (1 − ω y )

τ xy
= ω x .ω y = ω y (1 − ω y ) (Equação 4.28).
ξf ck

Finalmente para o Caso III, isto é, quando ωx < 0,5, a armadura longitudinal escoou e a
armadura transversal escoará ao mesmo tempo em que se verifica o esmagamento do
concreto. Assim:
ω y = 1 - ω x (Equação 4.29);

ωy (1 − ω x )
tan θ' = = → θ' > 45o (Equação 4.30);
ωx ωx

τ xy
= ω x .ω y = ω x (1 − ω y ) (Equação 4.31).
ξf ck

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 64


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4.2.2 Elementos subarmados

Quando ωx + ωy < 1,0, têm-se elementos subarmados em que ambas as armaduras escoam
antes do esmagamento do concreto. Isolando-se cos θ' e sen θ' das Equações 4.17 e 4.18,
tem-se que
ρ x f sx = σ d .cos 2 θ'
ρ f
cos 2 θ' = x sx
σd
ρ x f sx
cos θ' = (Equação 4.32);
σd

e
ρ y f sy = σ d .sen 2 θ'
ρ y f sy
sen 2 θ' =
σd
ρ y f sy
sen θ' = (Equação 4.33).
σd

Substituindo-se cos θ' e sen θ' na Equação 4.19, tem-se que

τ xy = σ d .sen θ'.cos θ'


ρ x f sx ρ y f sy
τ xy = σ d . .
σd σd
τ xy = ρ x fsx .ρ yfsy (Equação 4.34).

Com fsx = fsy = fy = tensão de escoamento das armaduras, tem-se que

τ xy = ρ x .ρ y .f y2
τ xy = f y ρ x .ρ y (Equação 4.35).

Dividindo-se ambos os membros da Equação 4.35 por ξfck, tem-se

τ xy
= ω x .ω y (Equação 4.36).
ξ.f ck

O ângulo θ' para elementos subarmados pode ser obtido, dividindo-se a Equação 4.17 pela
Equação 4.18, conforme a seguir:

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ρ x f sx cos 2 θ'
=
ρ y f sy sen 2 θ'
ρ x f sx
tan 2 θ' =
ρ y f sy
ρ x f sx
tan θ' = (Equação 4.37).
ρ y f sy

Se as tensões de escoamento das armaduras forem iguais nas duas direções, isto é, fsx = fsy =
fy, tem-se que

ρxfy
tan θ' =
ρ yf y
ρx
tan θ' = (Equação 4.38).
ρy

4.2.3 Elementos superarmados

Quando ωx + ωy > 1,0, têm-se elementos em que o concreto se rompe antes de as armaduras
escoarem em uma ou nas duas direções. Não são utilizados elementos com essa
característica, uma vez que o modo de colapso é frágil, isto é, não há o aviso prévio por meio
de um panorama significativo de fissuração do elemento.

4.3 Orientação da fissuração diagonal

Uma questão de muita confusão observada na maioria das publicações refere-se à inclinação
das fissuras nos elementos de membrana. A Figura 4.5 procura ilustrar as possibilidades de
orientação das fissuras, observando que tal comportamento depende da orientação das
tensões de cisalhamento atuantes no elemento.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 66


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 4.5 - Possibilidades de inclinação das fissuras em relação ao cisalhamento atuante.

(a) (b)

Conforme pode-se observar, a Figura 4.5 (a) apresenta as tensões de cisalhamento no


esquema mais usual de orientação das tensões de cisalhamento, isto é, tensões em sentido
anti-horário nas faces verticais e tensões em sentido horário nas faces horizontais. Essa
convenção foi introduzida no capítulo anterior, objetivando facilitar a construção do Círculo
de Mohr.

Conforme pode-se observar pela Figura 4.5 (a), e relembrando-se as convenções


estabelecidas para o Círculo de Mohr, um giro do sistema de eixos no sentido anti-horário
introduz um ângulo θ considerado positivo. Assim, um giro θ' anti-horário, medido entre o
eixo 2 e o eixo horizontal x, será aqui considerado positivo. O eixo 2 é interpretado como o
eixo das tensões principais de compressão e θ' como o ângulo que as fissuras diagonais
fazem com o eixo horizontal x. Assim, será aqui convencionado como positivo um giro anti-
horário do ângulo θ', medido do eixo 2 para o eixo x.

Por outro lado, a Figura 4.5 (b) ilustra a mudança de direção das fissuras diagonais com a
mudança de orientação do sentido de atuação das tensões de cisalhamento. Para o caso da
Figura 4.3 (a), o ângulo θ' medido do eixo 2 para o eixo x atuará em sentido anti-horário
(conforme convenção do Círculo de Mohr) e estará em um intervalo entre 0o e +90o. Por
outro lado, para o caso da Figura 4.3(b), o ângulo θ' medido do eixo 2 para o eixo x atuará
em sentido horário (oposto à convenção adotada para o Círculo de Mohr) e variará em um
intervalo entre 0o e -90o.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 67


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Dessa maneira, levando-se em conta que as equações deduzidas anteriormente tomaram


como referência o sistema de orientação estabelecido na Figura 4.5 (a), devem-se tomar
alguns cuidados quando da atuação de tensões de cisalhamento conforme aquelas
estabelecidas na Figura 4.5 (b). Para que as equações deduzidas continuem válidas para o
caso da Figura 4.5 (b), deve-se ter o cuidado de se utilizar nas equações deduzidas
anteriormente valores negativos de τxy e θ'.

Por outro lado, observa-se que a introdução de valores negativos de τxy e θ' no caso da Figura
4.5 (b) leva à obtenção dos mesmos resultados obtidos no caso da Figura 4.5 (a), com a
diferença de que os sentidos de orientação das fissuras são opostos. Assim, outra forma de se
remediar o problema consiste em se considerar os valores de τxy e θ' em módulo,
independente do sentido de atuação das tensões de cisalhamento.

De maneira a esclarecer melhor o problema, considere-se o elemento de membrana ilustrado


na Figura 4.6. A referida figura apresenta dois elementos de membrana sujeitos a tensões de
cisalhamento atuantes em sentidos opostos, bem como o cálculo das tensões nas armaduras e
no concreto (Equações 4.14 à 4.16), considerando-se um ângulo de inclinação das diagonais
em 35o.

Figura 4.6 - Tensões atuantes em elementos de membrana com tensões de cisalhamento atuantes em
sentidos opostos.

ρ x .f sx = τ xy .cotg θ' = 6.cotg(35o ) = 8,56 MPa ρ x .f sx = −6.cotg(-35o ) = 8,56 MPa

ρ y .f sy = τ xy .tg θ' = 6.tg(35o ) = 4,20 MPa ρ y .f sy = −6.tg(-35o ) = 4,20 MPa

-6
τ xy 6 σd = = 12,77 MPa
σd = = = 12,77 MPa cos ( −35 ).sen ( −35o )
o
cos θ'.sen θ' cos 35 .sen 35o
o

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 68


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Conforme pode-se observar, os resultados de tensão são idênticos, com a diferença de que a
orientação da fissuração diagonal é oposta nos dois painéis. Assim, comprova-se que a
introdução dos valores de τxy e θ' em módulo nas equações ora aqui deduzidas produz maior
comodidade na condução dos cálculos.

4.4 Armaduras mínimas para elemento sujeito a cisalhamento puro

Antes da fissuração, um elemento submetido à tensão pura de cisalhamento τxy produzirá a


tensão de tração σ1 que é igual em magnitude a τxy, isto é, σ1 = τxy, e estará inclinada em um
ângulo de 45o.

Na fissuração, σ1 pode ser assumida como a resistência à tração do concreto fctm, conforme
recomendado no item 8.2.5 da NBR6118 (2003). Substituindo-se τ xy = f ctm = 0,3.f ck2/3 nas

Equações 4.14 e 4.15, tem-se que

ρ x .f sx = f ctm .cotg θ' (Equação 4.39);

ρ y .f sy = f ctm .tg θ' (Equação 4.40).

Somando-se as equações anteriores, tem-se que

f ctm
ρ x .f sx + ρ y .f sy = (Equação 4.41).
sen θ'.cos θ'

A quantidade mínima de armadura para se garantir que as armaduras não escoarão


imediatamente após a fissuração pode ser obtida, assumindo-se o escoamento do aço
fsx = fsy = fyy e observando-se que sen θ'. cos θ' está próximo de 0,5 quando θ' está próximo
de 45o. Assim, tem-se que

f ctm
ρ x .f yy + ρ y .f yy =
0,5

f ctm
f yy .(ρ x + ρ y ) =
0,5

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 69


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2.f ctm
(ρ x + ρ y ) = (Equação 4.42a);
f yy

ou
f ctm
ρx = ρy = (Equação 4.42b).
f yy

A Equação 4.42b fornece a armadura total necessária em cada direção, de maneira que a
Tabela 4.1 apresenta as taxas mínimas para diferentes resistências de concreto. Para a
construção da Tabela 4.1, considerou-se f ctm = 0,3.f ck2/3 e fyy = 500 MPa.

Tabela 4.1 - Taxa de armadura mínima por direção para elementos sob cisalhamento puro.

Concreto (MPa) 20 25 30 35 40 45 50

ρmin (%) 0,44 0,51 0,58 0,64 0,70 0,76 0,81

Levando-se em consideração que a NBR6118 (2003) recomenda uma taxa de 0,10% para
armadura de pele (item 17.3.5.2.3) em cada face, observa-se que a norma brasileira vem
recomendando valores baixos para as armaduras mínimas de estruturas submetidas a
cisalhamento puro.

4.5 Elementos de membrana sujeitos a forças normais e forças cortantes

A Figura 4.7 procura ilustrar um elemento em concreto armado, sujeito a esforços de


membrana, ou seja, forças normais e forças cortantes no plano por unidade de comprimento
(kN/m). Conforme pode-se observar, assume-se que o concreto seja responsável por absorver
tensões normais e de cisalhamento, enquanto as armaduras são projetadas apenas para
absorver tensões normais.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 4.7 - Elemento de concreto armado sujeito a esforços de membrana.

A Figura 4.8 ilustra os ângulos das tensões principais para o elemento em concreto armado e
para o elemento em concreto simples. Conforme pode-se observar, para o elemento em
concreto armado as tensões principais de compressão (eixo 2) formam um ângulo igual a
(90o - θ) com o eixo horizontal x. Por outro lado, para o elemento em concreto simples as
tensões principais de compressão (eixo 2c) estão afastadas de um ângulo θ' em relação ao
eixo horizontal x.

Figura 4.8 - Ângulos das tensões principais em elemento de concreto armado e elemento de concreto
simples

Observa-se que o ângulo θ depende apenas das relações relativas entre as tensões aplicadas
no elemento de membrana em concreto armado. Quando essas tensões aumentam
proporcionalmente, não há mudança do ângulo θ e por isso ele é denominado de “fixed
angle”. Por outro lado, o ângulo θ' depende das quantidades relativas de armadura nas
direções longitudinal e transversal. Quando quantidades diferentes de armadura são

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 71


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

utilizadas, o ângulo θ' tende a rotacionar com o aumento do carregamento, sendo por isso
denominado de “rotating angle”.

Assumindo-se que o concreto possui pouca capacidade de absorver tensões normais de


tração, pode-se admitir que as armaduras isoladas serão responsáveis apenas pela absorção
desse esforço. Por outro lado, assumindo-se que as armaduras não tenham capacidade de
absorver tensões de cisalhamento, o concreto será responsável pela absorção total dessas
tensões bem como pelas tensões normais de compressão.

Para a dedução das equações de equilíbrio de elementos de membrana, devem-se considerar


as diversas possibilidades de carregamento para as quais o elemento de membrana
apresentado na Figura 4.8 (a) pode estar submetido. Para tanto, os casos de carregamento
serão divididos nas seguintes condições:

• caso I – tração das armaduras nas direções x e y;


• caso II – tração das armaduras apenas na direção y e compressão na direção x;
• caso III – tração das armaduras apenas na direção x e compressão na direção y;
• caso IV – compressão das armaduras nas direções x e y.

Deve-se observar que os casos anteriores não podem ser confundidos com os casos para
cisalhamento puro, em que normalmente se verifica o escoamento por tração das barras
longitudinais e transversais. Para os elementos de membrana sujeitos à forças normais e de
cisalhamento, observa-se a possibilidade de compressão em uma ou duas direções, situação
essa não existente no caso de cisalhamento puro.

4.5.1 Caso de Carregamento I

Para o cálculo das resultantes de tração atuantes nas armaduras da direção x, considere-se um
comprimento unitário ao longo da face vertical do elemento de membrana, conforme
ilustrado na Figura 4.9, e despreze-se a resistência do concreto à tração.

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Figura 4.9 - Determinação da resultante de tração nas armaduras da direção x (Caso I).

1
tg θ´= → a = 1/tg θ´
a
1
sen θ´= → b = 1/sen θ´
b

Efetuando-se o equilíbrio das forças horizontais atuantes na Figura 4.9, tem-se que

∑F x =0
1
z x .1 = n x .1 + v xy .
tg θ´
v xy
zx = nx + (Equação 4.44).
tg θ´

Da mesma maneira, para o cálculo das resultantes de tração atuantes nas armaduras da
direção y, considere-se um comprimento unitário ao longo da face horizontal do elemento de
membrana, conforme ilustrado na Figura 4.10.

Figura 4.10 - Determinação da resultante de tração nas armaduras da direção x (Caso I).

1
tg θ´= → a = 1/tg θ´
a
1
cos θ´= → b = 1/cos θ´
b

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Efetuando-se o equilíbrio das forças verticais atuantes na Figura 4.10, tem-se que

∑F y =0
z y .1 = n y .1 + v xy .tg θ´
z y = n y + v xy .tg θ´ (Equação 4.45).

De maneira a se quantificar a compressão diagonal atuante no concreto para o Caso I,


considere-se a Figura 4.11.

Figura 4.11 - Determinação da compressão diagonal no concreto (Caso I).

a
sen θ´= → a = sen θ´
1
b
cos θ´= → b = cos θ´
1
dh
cos θ´= → d h = σ c .h.1.cos θ´
σ c .h.1

Efetuando-se o equilíbrio das forças horizontais, tem-se que

∑F x =0
σ c .h.1.cos θ´+ n x .cos θ´= z x .cos θ´+ v xy .sen θ´ .

Dividindo-se a expressão anterior por cos θ' e tomando-se o valor de zx da Equação 4.44, tem-
se:

σ c .h + n x = z x + v xy .tg θ´
v xy
σ c .h + n x = n x + + v xy .tg θ´
tg θ´
 v xy .(1 + tg θ´ )
2
v xy  1
σ c .h = + v xy .tg θ´= v xy  + tg θ´ =
tg θ´  tg θ´  tg θ´
 cos θ´ sen θ´ 
σ c .h = v xy . + 
 sen θ´ cos θ´ 
 sen 2 θ´+ cos 2 θ´ 
σ c .h = v xy . 
 sen θ´ cos θ´ 

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

v xy v xy (1 + tg 2 θ´ )
σ c .h = = = Rc (Equação 4.46).
sen θ´ cos θ´ tg θ´

Observa-se que o ângulo θ' pode, para o Caso I, ser escolhido livremente entre 15o e 75o,
devendo-se notar que θ' igual a 45 leva à obtenção da menor quantidade de armação. Caso
os esforços se enquadrem nos Casos 2, 3 ou 4, as equações de equilíbrio deixam de ter uma
variável livre, uma vez que o ângulo θ' passa a ser determinado, conforme a seguir.

4.5.2 Caso de Carregamento II

Para esse caso, obrigatoriamente deve-se ter nx < 0 e n x > v xy . Isso é pelo fato de que a

força de cisalhamento pode induzir à necessidade de armaduras nas duas direções ortogonais.
Assim, para que não sejam necessárias armaduras na direção x, a força de cisalhamento
atuante (em módulo) deve ser menor do que a força normal de compressão atuante no eixo x.
Assumindo-se zx = 0 na Equação 4.44, tem-se que

- v xy
tg θ = (Equação 4.47).
nx

Substituindo-se a Equação 4.47 na Equação 4.45, tem-se que

z y = n y + v xy .tg θ´
 - v xy 
z y = n y + v xy . 
 nx 
v 2xy
zy = ny − (Equação 4.48).
nx

Substituindo-se a Equação 4.47 na Equação 4.46, tem-se que

v xy (1 + tg 2 θ´ ) v 2xy
σ c .h = = −n x − = Rc (Equação 4.49).
 v xy  nx
 − 
 n x 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 75


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4.5.3 Caso de Carregamento III

Para esse caso, obrigatoriamente deve-se ter ny < 0 e n y > v xy . Novamente, tais condições

são necessárias pelo fato de que a força de cisalhamento pode induzir à necessidade de
armaduras nas duas direções ortogonais. Dessa maneira, para que não sejam necessárias
armaduras na direção y, a força de cisalhamento atuante (em módulo) deve ser menor do que
a força normal de compressão atuante no eixo y. Assumindo-se zy = 0 na Equação 4.45, tem-
se que
- ny
tg θ' = (Equação 4.50).
v xy

Substituindo-se a Equação 4.50 na Equação 4.44, tem-se que

v xy
zx = nx +
tgθ´
v xy
zx = nx +
 - ny 
 
v 
 xy 
v 2xy
zx = nx − (Equação 4.51).
ny

Substituindo-se a Equação 4.50 na Equação 4.46, tem-se que

v xy v xy (1 + tg 2 θ´ )
σ c .h = =
sen θ´ cos θ´ tg θ´

  - n 2 
v xy 1 +   
y
  v xy  
σ c .h =    
 - ny 
 
v 
 xy 
 n   2

- v xy 1 +   
y
  v xy  
    v 2xy
σ c .h = = −n y − = Rc (Equação 4.52).
 ny  ny
 
v 
 xy 

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4.5.4 Caso de Carregamento IV

Para esse caso, deve-se ter nx < 0, n x > v xy , ny < 0 e n y > v xy , conforme explicações

relacionadas ao cisalhamento nos casos anteriores (se as forças cisalhantes forem maiores em
módulo do que as forças normais, mesmo que estas sejam compressoras e biaxiais, deveriam
existir armaduras resistentes nas duas direções). De maneira a se efetuar o equilíbrio na
situação de compressão biaxial, considere-se a Figura 4.12.

Figura 4.12 - Determinação da compressão diagonal no concreto (Caso IV).

a
sen θ´= → a = sen θ´
1
b
cos θ´= → b = cos θ´
1
dh
cos θ´= → d h = σ c .h.1.cos θ´
σ c .h.1
dv
sen θ´= → d v = σ c .h.1.sen θ´
σ c .h.1

Efetuando-se o equilíbrio das forças horizontais atuantes na Figura 4.12, tem-se que

∑F x =0

σ c .h.1.cos θ´+ n x .cos θ´= z x .cos θ´+ v xy .sen θ´ .

Dividindo-se a Equação anterior por cos θ´, tem-se que

σ c .h + n x = z x + v xy .tg θ´ .

Porém, com zx = 0, tem-se que

σ c .h = − n x + v xy .tg θ´ (Equação 4.53).

Do mesmo modo, efetuando-se o equilíbrio das forças verticais atuantes na Figura 4.12, tem-
se que

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 77


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

∑F y =0

- σ c .h.1.sen θ´+ n x .sen θ´= −z y .sen θ´− v xy .cos θ´ .

Dividindo-se a Equação anterior por sen θ´, tem-se que

v xy
σ c .h + n y = z y + .
tg θ´

Porém, com zy = 0, tem-se que

v xy
σ c .h = − n y + (Equação 4.54).
tg θ´

Isolando-se tg θ´ na Equação 4.53 e substituindo-se na Equação 4.54, tem-se

σ c .h + n x
σ c .h = − n x + v xy .tg θ´ → tg θ´=
v xy
v xy
σ c .h = − n y +
 σ c .h + n x 
 
 v 
 xy 
v 2xy
σ c .h = − n y +
(σ c .h + n x )
σ c .h.(σ c .h + n x ) + n y .(σ c .h + n x ) = v 2xy
(σ c .h )2 + (σ c .h.n x ) + (σ c .h.n y ) + (n x .n y ) − v 2xy = 0
(σ c .h )2 + σ c .h.(n x .n y ) + (n x .n y ) − v 2xy = 0 (Equação 4.55).
Observando-se que a Equação 4.55 encontra-se na forma ax2 + bx + c = 0, tem-se que

a=1
b = (nx + ny)
c = (nx.ny – vxy2).

Aplicando-se a Fórmula de Báskara, tem-se que

- b ± b 2 − 4.a.c
σ c .h = .
2.a

Sendo ∆ = b 2 − 4.a.c , obtém-se

(
∆ = b 2 − 4.a.c = (n x .n y ) − 4.1. n x .n y − v 2xy
2
)
∆ = n + n + 2.n x .n y − 4.n x .n y + 4.v
2
x
2
y
2
xy

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 78


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

∆ = n 2x + n 2y − 2.n x .n y + 4.v 2xy


∆ = (n x − n y ) + 4.v 2xy .
2

Logo, tem-se que

-b± ∆
σ c .h =
2.a
- (n x + n y ) ± (n − n y ) + 4.v 2xy
2

σ c .h =
x

2.1
- (n x + n y ) (n − n y ) + 4.v 2xy
2

σ c .h = ±
x

2 2
- (n x + n y )
± 0,5 (n x − n y ) + 4.v 2xy
2
σ c .h =
2
- (n x + n y ) (n − ny )
2

σ c .h = ± + v 2xy = Rc (Equação 4.55).


x

2 4

4.5.5 Equações de equilíbrio alternativas

As equações apresentadas anteriormente também podem ser escritas de maneira alternativa,


de maneira a facilitar a análise e dimensionamento de elementos de membrana. Para o Caso
I, por exemplo, as equações são dadas pelas Equações 4.44 a 4.46, isto é,

v xy
zx = nx + (Equação 4.44);
tg θ´

z y = n y + v xy .tg θ´ (Equação 4.45);

v xy v xy (1 + tg 2 θ´ )
σ c .h = = = Rc (Equação 4.46).
sen θ´ cos θ´ tg θ´

Isolando-se vxy na Equação 4.46, tem-se que

v xy v xy (1 + tg 2 θ´ )
σ c .h = = = Rc
sen θ´ cos θ´ tg θ´

v xy
= Rc
sen θ´ cos θ´

v xy = Rc .sen θ´ cos θ´ (Equação 4.56).

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Substituindo-se a Equação 4.56 na Equação 4.44, tem-se


v xy
zx = nx +
tg θ´

Rc .sen θ´ cos θ´
zx = nx +
tg θ´

z x = n x + Rc . cos 2 θ´ (Equação 4.57).

Substituindo-se a Equação 4.56 na Equação 4.45, tem-se


z y = n y + v xy .tg θ´
z y = n y + Rc .sen θ´ cos θ´.tg θ´
z y = n y + Rc .sen 2 θ´ (Equação 4.58).

As equações de equilíbrio também podem ser escritas em termos de tensão, bastando-se para
isso dividir as equações apresentadas anteriormente por h (espessura do elemento de
membrana). Relembrando-se as Equações para o Caso I, tem-se, para a direção x,

v xy
zx = nx + (Equação 4.44).
tg θ´

Relembrando-se que zx é uma força atuante por unidade de comprimento (zx/1) e que seu
valor é resultado da multiplicação entre a tensão atuante na armadura e a quantidade de
armadura disponibilizada (zx = Asx.fsx), tem-se que

zx n v xy
= x +
1.h 1.h 1.h.tg θ´
A sx . f sx n x v xy
= +
1.h 1.h 1.h.tg θ´
A sx . f sx n x v xy
= +
Ac A c A c .tg θ´
τ xy
ρ x f sx = σ x + (Equação 4.59).
tg θ´

De maneira análoga, pode-se obter:

ρ y f sy = σ y + τ xy .tg θ´ (Equação 4.60);

τ xy
σc = (Equação 4.61).
sen θ´ cos θ´

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Relembrando-se as Equações 4.56 a 4.58 e efetuando-se a divisão das referidas equações por
h, podem-se ainda obter as seguintes equações:

ρ x f sx = σ x + σ c cos 2 θ' (Equação 4.62);


ρ y f sy = σ y + σ c .sen 2 θ´ (Equação 4.63);
τ xy = σ c .sen θ´ cos θ´ (Equação 4.64).

A Tabela 4.2 procura sintetizar as diversas equações para elementos de membrana em


concreto armado, de maneira a compilar as diversas possibilidades existentes na literatura
técnica sobre o assunto.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Tabela 4.2 - Resumo das equações para elementos de membrana em concreto armado.
v xy τ xy
zx = nx + z x = n x + Rc . cos 2 θ´ ρ x f sx = σ x +
tg θ´ tg θ´ ρ x f sx = σ x + σ c cos 2 θ'
Caso I z y = n y + v xy .tg θ´ ρ y f sy = σ y + τ xy .tg θ´
z y = n y + Rc .sen 2 θ´ ρ y f sy = σ y + σ c .sen 2 θ´
nx > 0 e ny > 0
v xy v xy = Rc .sen θ´ cos θ´ τ xy τ xy = σ c .sen θ´ cos θ´
σ c .h = = Rc σc =
sen θ´ cos θ´ sen θ´ cos θ´
zx = 0
-v zx = 0 ρ x f sx = 0 ρ x f sx = 0
tg θ' = xy
nx -v -τ -τ
Caso II tg θ' = xy tg θ' = xy tg θ' = xy
v 2xy nx σx σx
nx < 0 e n x > v xy zy = ny −
nx ( R .sen θ´ .cos θ' ) 2
τ 2xy (σ c .sen θ´ cos θ' ) 2
2
zy = ny − c ρ y f sy = σ y + ρ y f sy = σ y +
v nx (-σ x ) (-σ x )
σ c .h = − n x − xy
= Rc
nx
zy = 0
- ny zy = 0 ρ y f sy = 0 ρ y f sy = 0
tg θ' =
v xy - ny -σy -σy
Caso III tg θ' = tg θ' = tg θ' =
v 2
v xy τ xy τ xy
ny < 0 e n y > v xy zx = nx − xy
2
ny ( R .sen θ´ .cos θ' )
zx = nx − c
τ 2xy (σ c .sen θ´ cos θ' ) 2
2 ny ρ x f sx = σ x + ρ x f sx = σ x +
v (-σ y ) (-σ y )
σ c .h = − n y − = Rc
xy

ny
zx = 0 zy = 0 ρ x fsx = 0 ρ y f sy = 0
ρ x fsx = 0 ρ y f sy = 0
- (n x + n y )
zx = 0 zy = 0
- (n x + n y ) - (σ x + σ y )
- (σ x + σ y )
Caso IV σ c .h = ±
σ c .h = ± σc = ±
nx < 0, n x > v xy , 2 2 σc = ±
2
(n − ny )
2
(σ −σy )
2

(n − ny )
2
ny < 0 e n y > v xy (σ −σy )
2
+ v 2xy = Rc
x 2
+ τ xy = Rc
x 2
+ v 2xy = Rc
x
+ τ xy = Rc
x 2
4 4 4
4

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 82


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4.6 Determinação das armaduras e limite para tensão máxima de compressão

Uma vez determinadas as forças de tração zx e zy atuantes nas direções x e y, a quantidade de


armaduras por unidade de largura pode ser obtida conforme a seguir:

z x,d γ .z
A sx = = f x (Equação 4.65);
f yd f yk / γ s

z y,d γ f .z y
A sy = = (Equação 4.66).
f yd f yk / γ s

De acordo com o CEB-FIP Model Code 1990 (1993), a máxima tensão de compressão
atuante no concreto deve ser inferior às tensões apresentadas a seguir:

 f ck 
σ c ≤ 0,60.1 − .f cd = f cd2 → Para os Casos 1, 2 e 3 (Equação 4.67);
 250 

 f ck 
σ c ≤ K.0,85.1 − .f cd = K.f cd2 → Para o Caso 4 (Equação 4.68);
 250 
1 + 3,65.α
K= (Equação 4.69);
(1 + α) 2
σ
α = 2 (Equação 4.70).
σ1

Deve-se observar que para o Caso 4, pelo estado de compressão biaxial, a resistência à
compressão é aumentada de um fator K, que relaciona as tensões principais σ1 e σ2.

Para maiores detalhes a respeito da formulação apresentada, recomenda-se consultar os


trabalhos de Lourenço (1992), Lourenço e Figueiras (1993, 1995), Figueiras (2002) e
Figueiras et al. (1994), Bounassar (1995), Pinho (1995), Regan (1999) bem como os códigos
normativos NS 3473-E (1992) e CEB-FIP Model Code 1990 (1993).

Quando além dos esforços de membrana (nx , ny e vxy) existem os esforços decorrentes da
Teoria das Placas Delgadas, isto é, aqueles esforços associados com a flexão do elemento
(mx, my, mxy), podem-se generalizar as soluções citadas anteriormente.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 83


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Para esse caso, a ideia de se equilibrar as forças e momentos aplicados com as forças internas
nas armaduras e no concreto também é adotada pela maioria dos pesquisadores e códigos. No
entanto, ainda existe a falta de um critério consistente e consensual na comunidade científica
para o cálculo das cascas e, por isso, esse tipo de estrutura infelizmente ainda é dimensionada
com muitas incertezas.

Mesmos códigos de referência como o ACI, EUROCODE e CSA deixam de fornecer


informações mais aprofundadas de como quantificar as armaduras, indicando apenas os tipos
de análises a serem utilizadas para a obtenção dos esforços.

Não será aqui apresentada a formulação pertinente ao caso das cascas, por se acreditar que tal
apresentação foge do escopo do presente trabalho. Para maiores informações sobre o
dimensionamento de armaduras em elementos de casca, recomenda-se a leitura dos trabalhos
de Gupta (1986), Lourenço (1992), Lourenço e Figueiras (1993, 1995), CEB-FIP Model
Code 1990 (1993), Regan (1999), Marti (1999) e Della Bella e Cifú (2000).

4.7 Armaduras mínimas para elementos de membrana

Para o caso de elementos de membrana, as armaduras mínimas podem ser calculadas


conforme recomendado por Hoogemboom (1998). Basicamente, para a determinação das
armaduras mínimas, pode-se recorrer ao equilíbrio do elemento de membrana, levando-se em
consideração a resistência à tração do concreto na região de aparecimento da primeira
fissura, conforme ilustra a Figura 4.13.

Figura 4.13 - Determinação das armaduras mínimas em elementos de membrana.

a
cos θ´= → a = L.cos θ´
L
b
sen θ´= → b = L.sen θ´
L

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

A taxa de armadura nas direções x e y são dadas por


A sx A sx
ρx = = (Equação 4.71);
Ac L.sen θ'.h

A sy A sy
ρy = = (Equação 4.72).
Ac L.cos θ'.h

Consequentemente, assumindo-se que ρx = ρy = ρ, as armaduras serão dadas por

A sx = ρ x .L.sen θ'.h = ρ .L.sen θ'.h (Equação 4.73);

A sy = ρ y .L.cos θ'.h = ρ .L.cos θ'.h (Equação 4.74).

Assumindo-se que As = Asx + Asy , pode-se calcular a área efetiva de concreto:

A c = L.h − A s

A c = L.h − A sx .sen θ'− A sy .cos θ'

A c = L.h − ρ.L.h.sen θ'.sen θ'−ρ.L.h.cos θ'.cos θ'

A c = L.h − ρ.L.h.(sen 2 θ'+ cos 2 θ' )

A c = L.h − ρ.L.h = L.h.(1 - ρ) (Equação 4.75).

Efetuando-se o equilíbrio na região fissurada e substituindo-se as Equações 4.73, 4.74 e 4.75,


obtém-se:
A sx .f y .sen θ'+ A sy .f y .cos θ' = A c .f ctm + A sx .σ sx .sen θ'+ A sy .σ sy .cos θ'

ρ .L.sen θ'.h.f y .sen θ'+ ρ .L.cos θ'.h.f y .cos θ' =


(1 − ρ ).L.h.f ctm + σ sx .ρ .L.sen θ'.h.sen θ'+σ sy .ρ .L.cos θ'.hcos θ'

ρ .L.sen 2 θ'.h.f y + ρ .L.cos2 θ'.h.f y = (1 − ρ ).L.h.f ctm + σ sx .ρ .L.sen 2 θ'.h + σ sy .ρ .L.cos2 θ'.h

ρ .sen 2 θ'.f y + ρ .cos2 θ'.f y = (1 − ρ ).f ctm + σ sx .ρ .sen 2 θ'+σ sy .ρ .cos2 θ'

ρ .f y .(sen 2 θ'+cos2 θ' ) = (1 − ρ ).f ctm + ρ .(σ sx sen 2 θ'+σ sy .cos2 θ' )

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ρ .f y = (1 − ρ ).f ctm + ρ .(σ sx sen 2 θ'+σ sy .cos2 θ' ) .

Observando-se que antes da fissuração εc = εx = εy e que a máxima tensão de tração é dada


por εc = ε1= εx = εy, pode-se escrever

ρ .f y = (1 − ρ ).f ctm + ρ .E s (ε x sen 2 θ'+ε y .cos2 θ' )

ρ .f y = (1 − ρ ).f ctm + ρ .E sε 1 .

Tendo-se em vista que ε1= εcr= fctm / Ec , tem-se

f ctm
ρ.f y = (1 − ρ).f ctm + ρ.E s .
Ec

ρ.E s .f ctm
ρ.f y = f ctm − ρ.f ctm +
Ec

f ctm
ρ.f y + ρ.f ctm - ρ.E s . = f ctm
Ec

 E .f 
ρ. f y + f ctm - s ctm  = f ctm
 Ec 

 E .f + E c .f ctm - E s .f ctm 
ρ. c y  = f ctm
 Ec 
E c .f ctm
ρ=
E c .f y + E c .f ctm - E s .f ctm

E c .f ctm
ρ= (Equação 4.76).
E c .(f y + f ctm ) - E s .f ctm

A Equação 4.76 fornece a armadura total necessária em cada uma das direções, de maneira
que a Tabela 4.3 apresenta as taxas mínimas para diferentes resistências de concreto. Para a
construção da Tabela 4.3, considerou-se f ctm = 0,3.f ck2/3 , E c = 5600.f ck1/2 , Es = 210 GPa e fy =
500 MPa.

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Tabela 4.3 - Taxa de armadura mínima para elementos de membrana em cada direção.

Concreto (MPa) 20 25 30 35 40 45 50

ρmin (%) 0,46 0,53 0,60 0,66 0,73 0,79 0,84

Levando-se em consideração que a NBR6118 (2003) recomenda uma taxa de 0,10% para
armadura de pele (item 17.3.5.2.3) em cada face, observa-se que a norma brasileira vem
recomendando baixos valores de armadura mínima para estruturas do tipo parede,
submetidas a esforços de membrana.

4.8 Círculo de Mohr para elementos de membrana em concreto armado

O estado de tensão de um elemento de membrana em concreto armado pela aplicação de σx ,


σy e τxy é ilustrado pelos círculos da Figura 4.14. Nessa figura, pode-se observar que o ponto
A representa a face de referência x, sujeita às tensões σx e τxy, enquanto o ponto B
representa a face de referência y, sujeita às tensões σy e τxy. Observe-se ainda que o Círculo
de Mohr para concreto armado segue a convenção adotada anteriormente, de maneira que o
ponto A possui coordenadas (σx ; -τxy) e o ponto B possui coordenadas (σy ; -τxy).

Figura 4.14 – Círculos de Mohr para elemento de membrana em concreto armado.

As tensões longitudinais e transversais nas armaduras são dadas por ρxfsx e ρyfsy,
respectivamente. Observa-se que não há Círculo de Mohr para as tensões nas armaduras,
uma vez que as barras são assumidas como não suportadoras da força cortante. O estado de
tensão nas diagonais comprimidas é determinado a partir das equações (σx,c = σx - ρxfsx) e

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

(σy,c = σy - ρyfsy), sendo que a tensão principal σ2,c está localizada para um ângulo igual a 2θ',
contado no sentido anti-horário a partir do ponto B.

Uma vez que a tensão σ1,c é normalmente tomada como nula, a tensão de compressão nas
escoras de concreto σ2,c pode ser calculada a partir das tensões σx e σy e a partir das tensões
ρxfsx e ρyfsy, conforme ilustra a Equação 4.71, desenvolvida a seguir:

σ 2,c + σ1,c = σ xc + σ yc

σ 2,c + σ1,c = (σ x - ρ x f sx ) + (σ y - ρ y f sy )

σ 2,c + σ 1,c = σ x + σ y - (ρ x f sx + ρ y f sy )

σ 2,c + 0 = σ x + σ y - (ρ x f sx + ρ y f sy )

σ 2,c = σ x + σ y - (ρ x f sx + ρ y f sy ) (Equação 4.71).

Conforme mencionado anteriormente, o ângulo θ depende apenas das relações entre as


tensões aplicadas no elemento de membrana em concreto armado. Se as tensões aumentam
proporcionalmente, não há mudança do ângulo θ (“fixed angle”). Por outro lado, o ângulo θ'
(“rotating angle”) depende das quantidades relativas entre as armaduras e tende a rotacionar
com o aumento do carregamento. De maneira geral, o ângulo θ ("fixed angle") será igual ao
ângulo θ' ("rotating angle") sempre que a armadura em malha for assumida com quantidades
iguais nas duas direções ortogonais.

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4.9 Exemplos de dimensionamento

4.9.1 Exemplo 1

De uma análise realizada, utilizando-se o Método dos Elementos Finitos, obtiveram-se os


resultados de tensão para o elemento de membrana, ilustrado na Figura 4.15. Utilizando-se o
"Equilibrium (Plasticity) Truss Model", pede-se efetuar o dimensionamento das armaduras
resistentes, verificar a máxima tensão de compressão atuante no concreto e nas armaduras e
representar os resultados no Círculo de Mohr.

Figura 4.15 - Exemplo de dimensionamento de elemento de membrana.

σx,k = 2,23 MPa


σy,k = 14,63 MPa
τxy,k = 3,21 MPa
h = 12 cm
fyk = 500 MPa
fck = 30 MPa

A transformação das tensões características em forças de cálculo por unidade de


comprimento leva aos seguintes esforços de membrana:

n x,d = γ f .σ x, k .h = 1,4.0,23.12 = 3,86 kN/cm = 386,40 kN/m ;


n y,d = γ f .σ y,k .h = 1,4.1,463.12 = 24,578 kN/cm = 2457,84 kN/m ;
v xy,d = γ f .τ xy,k .h = 1,4.0,321.12 = 5,39 kN/cm = 539,28 kN/m .

Uma vez que as forças nas direções x e y são de tração, observa-se que o problema encontra-
se no Caso I, de maneira que o ângulo θ' pode ser livremente escolhido. De maneira a ser
obtido o menor consumo de armaduras, θ' = 45o será adotado, de modo que

v xy,d 539,28
z x,d = n x,d + = 386,40 + = 925,68 kN/m ;
tg θ' tg 45o

z x,d 925,68
A sx = = = 21,28 cm 2 /m ;
f y,d 50/1,15

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 89


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

z y,d = n y,d + v xy,d .tg θ' = 2457,84 + 539,28.tg 45o = 2997,12 kN/m ;
z y,d 2997,12
A sy = = = 68,93 cm 2 /m .
f y,d 50/1,15

ρmin = 0,60 para Concreto C30 (ver Tabela 4.3), logo, As,min = ρ.Ac = (0,60/100).12.100 = 7,2
cm2/m. Assim, como as armaduras calculadas são superiores à mínima, prevalecem as
armaduras calculadas como solução de armação.

A máxima tensão de compressão atuante no concreto é dada por


v xy,d 5,39
σ cd = = o o
= 0,89 kN/cm 2 = 8,90 MPa ;
h.sen θ'.cos θ' 12.sen 45 .cos 45

 f   30  30
f cd2 = 0,60.1 − ck .f cd = 0,601 − . = 11,31 MPa .
 250   250  1,4

Como σcd < fcd2, observa-se que não há possibilidade de ruptura do concreto por compressão
excessiva. Para a representação dos resultados no Círculo de Mohr, considerem-se as tensões
com os seus valores de cálculo, conforme a seguir:

σx,d = γf.σx,k = 1,4.2,23 = 3,12 MPa;


σy,d = γf.σx,k =1,4.14,63 = 20,48 MPa;
τxy,d = γf. τxy,k =1,4.3,21 = 4,49 MPa.

Conforme apresentado em capítulos anteriores, o Círculo de Mohr é desenhado a partir do


posicionamento dos pontos A e B. O ponto A tem coordenadas (3,12;-4,49), enquanto o
ponto B possuirá coordenadas (20,48;4,49). O centro C e o raio R do círculo, bem como os
ângulos principais e as tensões principais, são calculados conforme a seguir:

σ x,d + σ y,d 3,12 + 20,48


σ med = = = 11,8 MPa
2 2

 σ − σ y,d 
2
 3,12 − 20,48 
2

R =  x,d  + τ xy2 =   + 4,49 = 9,77 MPa


2

 2   2 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 90


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2.τ xy ,d 2.4,49
tan 2θ p = = = −0,517
σ x , d − σ y ,d 3,12 − 20,48

2θ p1 = 152,66o → θ p1 = 76,32o ("Fixed Angle")

2θ p 2 = 332,66o → θ p 2 = 166,32o ("Fixed Angle")

σ x , d + σ y ,d σ x , d − σ y ,d
σ1 = + cos 2θ p1 + τ xy ,d .sen 2θ p1
2 2
3,12 + 20,48 3,12 − 20,48
σ1 = + cos 152,66o + τ xy .sen 152,66 o = 21,57 MPa
2 2

σ x ,d + σ y ,d σ x ,d − σ y , d
σ2 = + cos 2θ p 2 + τ xy ,d .sen 2θ p 2
2 2
3,12 + 20,48 3,12 − 20,48
σ2 = + cos 332,66o + τ xy .sen 332,66o = 2,03 MPa
2 2

As tensões de cálculo atuantes nas armaduras são dadas por


ρ x f sx = σ x,d + σ cd cos 2 θ'
ρ x f sx = 3,12 + 8,90.cos 2 45o = 7,57 MPa ;

ρ y f sy = σ y,d + σ cd .sen 2 θ´

ρ y f sy = 20,48 + 8,90.sen 2 45o = 24,93 MPa .

As tensões normais de cálculo atuantes no concreto serão dadas por


σ x,c = σ x,d − ρ x f sx

σ x,c = 3,12 − 7,57 = -4,45 MPa ;

e
σ y,c = σ y,d − ρ y f sy

σ y,c = 20,48 − 24,93 = −4,45 MPa .

A tensão principal de cálculo no concreto será dada por


σ 2,cd = σ x,d + σ y,d - (ρ x f sx + ρ y f sy ) = 3,12 + 20,48 - (7,57 + 24,93) = -8,90 MPa = .

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 91


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Por outro lado, as tensões de cisalhamento de cálculo atuantes no concreto são dadas por
τ xy,d = σ cd .sen θ´ cos θ´

τ xy,d = 8,90.sen 45o cos 45o = 4,45 MPa .

Dessa maneira, podem-se desenhar os círculos ilustrados na Figura 4.16, representando-se as


tensões atuantes no elemento de concreto armado, no concreto e nas armaduras.

Figura 4.16 - Círculo de Mohr para tensões atuantes no concreto armado e tensões atuantes no
concreto e nas armaduras.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 92


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4.9.2 Exemplo 2

De uma análise realizada, utilizando-se o Método dos Elementos Finitos, obtiveram-se os


resultados de tensão para um elemento de membrana ilustrado na Figura 4.17. Utilizando-se
o "Equilibrium (Plasticity) Truss Model", pede-se efetuar o dimensionamento das armaduras
resistentes e a verificação da máxima tensão de compressão atuante no concreto.

Figura 4.17 - Exemplo de dimensionamento de elemento de membrana.

σx,k = -1,58 MPa


σy,k = -12,49 MPa
τxy,k = 6,00 MPa
h = 12 cm
fyk = 500 MPa
fck = 30 MPa

A transformação das tensões característica em forças de cálculo por unidade de comprimento


leva aos seguintes esforços de membrana:

n x,d = γ f .σ x, k .h = 1,4.( −0,158).12 = -2,65 kN/cm = - 265,44 kN/m ;


n y,d = γ f .σ y,k .h = 1,4.( −1,249).12 = −20,98 kN/cm = −2098,32 kN/m ;
v xy,d = γ f .τ xy,k .h = 1,4.0,6.12 = 10,08 kN/cm = 1008 kN/m .

A princípio, pode-se erroneamente supor que o elemento de membrana esteja no Caso IV,
uma vez que as forças atuantes nas direções x e y são negativas, isto é, trata-se de forças de
compressão. Porém, observando-se que o módulo da força cisalhante é maior do que o
módulo da força axial de compressão na direção x e menor do que o módulo da força axial de
compressão na direção y, observa-se que o elemento na realidade encontra-se no Caso III, de
maneira que o ângulo θ' é determinado e somente a direção x exigirá armação. Relembrando-
se as equações para o Caso III, tem-se

- n y,d 2098,32
tg θ' = = = 2,08 → θ' = 64,34o
v xy,d 1008

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 93


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

v 2xy,d 1008 2
z x,d = n x,d − = −265,44 − = 218,78 kN/m
n y,d ( −2098,32)

z x,d 218,78
A sx = = = 5,03 cm 2 /m
f y,d 50/1,15
z y,d 0
A sy = = = 0 cm 2 /m
f y,d 50/1,15

ρmin = 0,60 para Concreto C30 (ver Tabela 4.3), logo, As,min = ρ.Ac = (0,60/100).12.100 = 7,2
cm2/m. Assim, como as armaduras calculadas são inferiores à mínima, prevalecem as
armaduras mínimas como solução de armação para o problema.

A máxima tensão de compressão atuante no concreto é dada por

 v 2xy,d 
σ cd 
= − n y,d −  /h =  - (-20,98) - 10,08  /12 = 1,78 kN/cm 2 = 17,8 MPa ;
 n y,d   (-20,98) 

 f   30  30
f cd2 = 0,60.1 − ck .f cd = 0,601 − . = 11,31 MPa .
 250   250  1,4

Como σcd > fcd2, observa-se que há possibilidade de ruptura do concreto por compressão
excessiva. Nesse caso, deve-se aumentar a espessura da parede ou a resistência à compressão
do concreto utilizado, de maneira que as armaduras escoem antes de o concreto chegar à
ruptura (critério de ruptura dúctil).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 94


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

4.9.3 Exemplo 3

Utilizando-se o "Equilibrium (Plasticity) Truss Model", pede-se efetuar o dimensionamento


das armaduras resistentes e a verificação da máxima tensão de compressão atuante no
concreto para o elemento de membrana da Figura 4.18. Considerem-se soluções com
armaduras iguais e diferentes para as duas direções ortogonais e desenhe-se o Círculo de
Mohr para ambas as soluções.

Figura 4.18 - Exemplo de dimensionamento de elemento de membrana.

σx,k = 2,13 MPa


σy,k = -2,13 MPa
τxy,k = 3,70 MPa
h = 12 cm
fyk = 500 MPa
fck = 35 MPa

Antes de se iniciar o problema, convém transformar as tensões características em forças em


forças de cálculo. Isso pode ser feito, multiplicando-se as tensões atuantes pela largura do
elemento de membrana. Dessa maneira, tem-se que

n x,d = γ f .σ x,d .h = 1,4.0,213.12 = 3,57 kN/cm = 357,84 kN/m


n y,d = γ f .σ y,d .h = 1,4.( −0,213).12 = −3,57 kN/cm = −357,84 kN/m
v xy,d = γ f .τ xy,d .h = 1,4.0,370.12 = 6,21 kN/cm = 621,6 kN/m

Conforme pode-se observar, há uma força de compressão atuando na direção y, o que a


princípio leva à suposição de que essa direção não necessite de armação. No entanto, tendo-
se em vista que o módulo da força cisalhante é maior do que o módulo da força axial de
compressão, o elemento também exigirá armaduras na direção y. Assim, para o carregamento
aplicado, o elemento está sujeito ao Caso I, cujas expressões são relembradas a seguir:
v xy,d
z xd = n x,d +
tg θ'
z yd = n y,d + v xy,d .tg θ'
v xy,d
σ cd = ≤ f cd2
h.sen θ'.cos θ'

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 95


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

 f   35  35
f cd2 = 0,60.1 − ck .f cd = 0,601 − . = 12,90 MPa (CEB-FIP Model Code).
 250   250  1,4

• Solução A (Armaduras Iguais nas Duas Direções)

No caso de armaduras iguais nas direções x e y, observa-se que zxd deve ser igual a zyd. Dessa
maneira, tem-se que
v xy,d
n x,d + = n y,d + v xy,d .tg θ ' .
tgθ '

Isolando-se θ', pode-se chegar à seguinte equação:

 1  n y,d − n x,d
 − tg θ'  = .
 tg θ'  v xy,d

Assim, tem-se que

 1  − 357,84 − 357,84
 − tg θ'  = = −1,15 .
 tg θ'  621,6

Resolvendo-se a equação anterior, tem-se que θ ' = 60o ("rotating angle"), de maneira que as
armaduras serão dadas por

v xy,d 621,6
z xd = n x,d + = 357,84 + = 716,72 kN/m = z yd
tg θ' tg 60 o

z xd 716,72
Asx = Asy = = = 16,48 cm 2 / m
f yd 50 / 1,15

ρmin = 0,66 para Concreto C35 (ver Tabela 4.3), logo, As,min = ρ.Ac = (0,66/100).12.100 =
7,92 cm2/m. Assim, como as armaduras calculadas são inferiores à mínima, prevalecem as
armaduras calculadas como solução de armação.

A máxima tensão de compressão atuante no concreto será dada por

v xy,d 6,21
σ cd = = o o
= 1,19 kN/cm 2 = 11,95 MPa ≤ f cd2 = 12,90 MPa .
h.sen θ'.cos θ' 12.sen 60 .cos 60

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 96


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O Círculo de Mohr é desenhado, a partir do posicionamento dos pontos A e B, cujas


coordenadas são dadas, respectivamente, por A (2,98; - 5,18) e B (-2,98; 5,18) . O centro C,
o raio R e outros dados fundamentais para traçado do círculo são apresentados a seguir:

σx,d = γf.σx,k = 1,4.2,13 = 2,98MPa


σy,d = γf.σx,k =1,4.(-2,13) = -2,98 MPa
τxy,d = γf. τxy,k =1,4.3,70 = 5,18 MPa

σ x,d + σ y,d 2,98 - 2,98


σ med = = = 0 MPa
2 2

 σ x,d − σ y,d 
2
 2,98 − (-2,98) 
2

R =   + τ xy = 
2
 + 5,18 = 5,97 MPa
2

 2   2 

2.τ xy ,d 2.5,18
tan 2θ p = = = 1,73
σ x ,d − σ y ,d 2,98 − ( −2,98)

2θ p1 = 59,97o → θ p1 = 29,98o ("fixed angle")

2θ p 2 = 239,97o → θ p 2 = 119,98o ("fixed angle")

σ x , d + σ y ,d σ x , d − σ y ,d
σ1 = + cos 2θ p1 + τ xy ,d .sen 2θ p1
2 2
2,98 − 2,98 2,98 − ( −2,98)
σ1 = + cos 59,97 o + 5,18.sen 59,97 o = 5,97 MPa
2 2

σ x ,d + σ y ,d σ x ,d − σ y , d
σ2 = + cos 2θ p 2 + τ xy ,d .sen 2θ p 2
2 2
2,98 − 2,98 2,98 − ( 2,98)
σ2 = + cos 239,97 o + 5,18.sen 239,97 o = −5,97 MPa
2 2

As tensões de cálculo atuantes nas armaduras são dadas por


ρ x f sx = σ x,d + σ cd cos 2 θ'
ρ x f sx = 2,98 + 11,95.cos 2 60 o = 5,98 MPa

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 97


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ρ y f sy = σ y,d + σ cd .sen 2 θ´

ρ y f sy = −2,98 + 11,95.sen 2 60 o = 5,98 MPa

As tensões normais de cálculo atuantes no concreto serão dadas por


σ x,c = σ x,d − ρ x f sx

σ x,c = 2,98 − 5,98 = -3,00 MPa ;

e
σ y,c = σ y,d − ρ y f sy

σ y,c = -2,98 − 5,98 = −8,96 MPa .

A tensões principal de cálculo no concreto será dada por


σ 2,cd = σ x,d + σ y,d - (ρ x f sx + ρ y f sy ) = 2,98 − 2,98 - (5,98 + 5,98) = -11,95 MPa .

Por outro lado, as tensões de cisalhamento de cálculo atuantes no concreto são dadas por
τ xy,d = σ cd .sen θ´ cos θ´

τ xy,d = 11,95.sen 60 o cos 60o = 5,17 MPa .

Dessa maneira, podem-se desenhar os círculos ilustrados na Figura 4.19, representando-se as


tensões atuantes no elemento de concreto armado, no concreto e nas armaduras.

Figura 4.19 - Círculo de Mohr para tensões atuantes no concreto armado e tensões atuantes no
concreto e nas armaduras.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 98


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

• Solução B (Armaduras Diferentes nas Duas Direções)

No caso de armaduras diferenciadas nas duas direções e levando-se em conta que se está no
Caso I de carregamento, pode-se adotar livremente o ângulo θ ' . Levando-se em
consideração que θ ' = 45o ("rotating angle") levará ao menor consumo de armaduras, tem-se

v xy,d 621,6
z xd = n x,d + = 357,84 + = 979,44 kN/m
tg θ' tg 45o

z xd 979,44
Asx = = = 22,52 cm 2 / m
f yd 50 / 1,15

z yd = n y,d + v xy,d .tg θ' = −357,84 + 621,6.tg 45o = 263,76 kN/m

z yd 263,76
A sy = = = 6,06 cm 2 /m
f yd 50/1,15

ρmin = 0,66 para Concreto C35, logo, As,min = ρ.Ac = (0,66/100).12.100 = 7,92 cm2/m. Assim,
como a armadura calculada na direção y é inferior à mínima, deve-se adotar como solução
para o problema Asx = 22,52 cm2/m e Asy = 7,92 cm2/m.

A máxima tensão de compressão atuante no concreto será dada por

v xy,d 6,21
σ cd = = o o
= 1,03 kN/cm 2 = 10,35 MPa ≤ f cd2 = 12,90 MPa .
h.sen θ'.cos θ' 12.sen 45 .cos 45

As coordenadas dos pontos A e B são dadas por (2,98; - 5,18) e (-2,98 ; 5,18). O centro C, o
raio R e outros dados fundamentais para traçado dos Círculo de Mohr são dados por

σx,d = γf.σx,k = 1,4.2,13 = 2,98MPa


σy,d = γf.σx,k =1,4.(-2,13) = -2,98 MPa
τxy,d = γf. τxy,k =1,4.3,70 = 5,18 MPa

σ x,d + σ y,d 2,98 - 2,98


σ med = = = 0 MPa
2 2

 σ x,d − σ y,d 
2
 2,98 − (-2,98) 
2

R =   + τ xy = 
2
 + 5,18 = 5,97 MPa
2

 2   2 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 99


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2.τ xy ,d 2.5,18
tan 2θ p = = = 1,73
σ x ,d − σ y ,d 2,98 − ( −2,98)

2θ p1 = 59,97o → θ p1 = 29,98o ("fixed angle")

2θ p 2 = 239,97o → θ p 2 = 119,98o ("fixed angle")

σ x , d + σ y ,d σ x , d − σ y ,d
σ1 = + cos 2θ p1 + τ xy ,d .sen 2θ p1
2 2
2,98 − 2,98 2,98 − ( −2,98)
σ1 = + cos 59,97 o + 5,18.sen 59,97 o = 5,97 MPa
2 2

σ x ,d + σ y ,d σ x ,d − σ y , d
σ2 = + cos 2θ p 2 + τ xy ,d .sen 2θ p 2
2 2
2,98 − 2,98 2,98 − ( 2,98)
σ2 = + cos 239,97 o + 5,18.sen 239,97 o = −5,97 MPa
2 2

As tensões de cálculo atuantes nas armaduras são dadas por

ρ x f sx = σ x,d + σ cd cos 2 θ'


ρ x f sx = 2,98 + 10,35.cos 2 45o = 8,15 MPa ;

ρ y f sy = σ y,d + σ cd .sen 2 θ´

ρ y f sy = −2,98 + 10,35.sen 2 45o = 2,19 MPa .

As tensões normais de cálculo atuantes no concreto serão dadas por


σ x,c = σ x,d − ρ x f sx

σ x,c = 2,98 − 8,15 = -5,17 MPa ;

e
σ y,c = σ y,d − ρ y f sy

σ y,c = -2,98 − 2,19 = -5,17 MPa .

A tensões principal de cálculo no concreto será dada por


σ 2,cd = σ x,d + σ y,d - (ρ x f sx + ρ y f sy ) = 2,98 − 2,98 - (8,15 + 2,19) = -10,35 MPa .

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 100


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Por outro lado, as tensões de cisalhamento de cálculo atuantes no concreto são dadas por
τ xy,d = σ cd .sen θ´ cos θ´

τ xy,d = 10,35.sen 45o cos 45o = 5,17 MPa .

Dessa maneira, podem-se desenhar os círculos ilustrados na Figura 4.20, representando-se as


tensões atuantes no elemento de concreto armado, no concreto e nas armaduras.

Figura 4.20 - Círculo de Mohr para tensões atuantes no concreto armado e tensões atuantes no
concreto e nas armaduras.

Conforme pode-se observar, para um elemento de membrana que se encontra no Caso I,


pode-se escolher livremente o valor do ângulo θ ' , devendo-se observar que a escolha de
θ ' =45o levará ao menor consumo global de armaduras. Por outro lado, caso se queira impor
a mesma taxa de armação nas duas direções, o ângulo θ ' passará a ser determinado. De
maneira geral, pode-se observar que o ângulo θ ("fixed angle") será igual ao ângulo θ'
("rotating angle") sempre que a armadura em malha for assumida em escoamento e com
quantidades iguais nas duas direções ortogonais.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 101


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 102


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5. Método dos Elementos Finitos (MEF)


5.1 Histórico

De acordo com Rao (1999), as ideias básicas do Método dos Elementos Finitos, como são
conhecidas atualmente, foram apresentadas nos trabalhos clássicos de Turner et al. (1956) e
de Argyris e Kelsey (1955), sendo que o nome do método seria citado pela primeira vez no
trabalho de Clough (1960).

No trabalho de Turner et al. (1956), considerado um dos trabalhos mais relevantes para o
desenvolvimento do Método dos Elementos Finitos, são apresentadas aplicações de
elementos finitos simples, tais como elementos de barra e de elementos triangulares,
utilizados para a análise da estrutura de aviões.

O uso do método, contudo, só se tornaria viável após o surgimento dos computadores, que
puderam fornecer respostas rápidas para o grande número de cálculos envolvidos. Assim,
com o desenvolvimento da velocidade de processamento dos computadores, o método
também pôde se desenvolver de maneira impressionante, sendo aplicado atualmente às mais
diversas áreas do conhecimento.

5.2 Fundamentos básicos do Método dos Elementos Finitos

De acordo com Rao (1999), a ideia básica do Método dos Elementos Finitos é encontrar a
solução de um problema complicado por meio da substituição do problema inicial por vários
outros problemas de simples resolução. É evidente que a solução obtida não é exata, mas, na
falta de um recurso mais poderoso para a análise do problema, o método passa a ser um
procedimento bastante eficaz.

Inicialmente, o problema é discretizado em vários elementos de dimensão bastante reduzida,


denominados de elementos finitos. Os elementos finitos são interconectados através dos nós,
que são pontos onde uma solução aproximada pode ser adotada e equações de equilíbrio
podem ser estabelecidas.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 103


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Uma vez que os valores dos campos desejados (deslocamentos e tensões) não são conhecidos
no interior do meio contínuo, assume-se que a variação desses campos dentro dos elementos
finitos possa ser aproximada por funções de interpolação, capazes de estimar os campos
desejados no interior dos elementos a partir dos valores nodais obtidos.

Quando as equações de equilíbrio para o meio contínuo são definidas e resolvidas,


normalmente através de equações matriciais, os valores nodais dos campos desejados passam
a ser conhecidos. As funções de interpolação são então utilizadas para se descrever o
comportamento de todos os nós da estrutura, obtendo-se assim uma solução aproximada para
o meio contínuo.

De acordo com Rao (1999), a solução geral de um problema estático da área de engenharia
de estruturas, utilizando-se o Método dos Elementos Finitos, pode ser obtida por meio dos
seguintes passos:

Passo 1 – Discretização da estrutura:

O primeiro passo no MEF é dividir a estrutura em vários elementos, sendo que nessa etapa
deve-se decidir sobre o número, o tipo, o tamanho e o arranjo de cada um dos elementos. Os
elementos disponíveis para a discretização do meio contínuo podem ser unidimensionais,
bidimensionais ou tridimensionais. Os elementos normalmente utilizados para concreto são
do tipo isoparamétricos, do tipo Q8 (análise bidimensionais) e BRICK20 (análises
tridimensionais), conforme ilustra a Figura 5.1

Figura 5.1 - Elementos isoparamétricos utilizados para concreto.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 104


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O tamanho dos elementos tem influência significativa na convergência da solução e, por isso,
deve ser escolhido com bastante cuidado. De maneira geral, recomenda-se para elementos
bidimensionais e tridimensionais uma razão unitária entre a maior e a menor dimensão do
elemento.

Deve-se observar que, se o tamanho dos elementos é pequeno, a solução esperada tende a ser
mais precisa. No entanto, deve-se atentar para o fato de que o uso desse tipo de elemento
pode gerar trabalhos computacionais significativos, pelo grande número de elementos
necessários para se descrever o contorno. Regiões com aberturas ou contorno curvos
inevitavelmente demandam a utilização de elementos pequenos, objetivando-se aumentar o
nível de precisão em zonas de descontinuidades.

O número de elementos a ser escolhido geralmente está relacionado com a precisão desejada.
Um acréscimo no número de elementos normalmente conduz a uma melhoria na solução do
problema, no entanto, existe certo limite para o qual a resposta não pode ser mais melhorada.

Para regiões sujeitas a concentrações de tensões, isto é, regiões com tensões


significativamente maiores do que as tensões médias verificadas para o meio em análise, tais
como cantos e reentrâncias, recomenda-se a utilização de malhas refinadas.

Passo 2 – Seleção de um modelo adequado de deslocamento ou interpolação:

A solução dos deslocamentos de uma estrutura complexa sob a ação de forças que atuam em
seu contorno pode ser obtida com precisão, desde que a discretização seja adequada e desde
que as funções de interpolação assumidas sejam apropriadas para aproximar razoavelmente a
solução.

A solução assumida para os elementos deve ser simples do ponto de vista computacional e
deve satisfazer a certos requisitos de convergência. Em geral, as funções de interpolação são
tomadas na forma de equações polinomiais.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 105


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Passo 3 – Obtenção das matrizes de rigidez dos elementos e dos vetores de carga:

A partir do modelo de deslocamento assumido, a matriz de rigidez [K(e)] e o vetor de cargas


[P(e)] do elemento “e” são obtidos, utilizando-se equações de equilíbrio ou princípios
variacionais.

Passo 4 – Montagem da matriz de rigidez e resolução do sistema:

Uma vez que a estrutura é composta de vários elementos finitos, as matrizes individuais de
rigidez de cada elemento são reunidas em uma única matriz, que descreverá o
comportamento global da estrutura. Assim, a equação de equilíbrio da estrutura pode ser
descrita de acordo com a Equação (5.1):

K.φ = P (5.1)

Em que:

K = matriz de rigidez da estrutura;


φ = vetor dos deslocamentos atuantes na estrutura;
P = vetor das forças nodais atuantes na estrutura.

As equações de equilíbrio devem ser modificadas para se levar em conta as condições de


contorno do problema. Para problemas lineares, o vetor φ pode ser obtido por meio de dois
métodos disponíveis para a resolução dos sistemas equações lineares: os métodos diretos e os
métodos iterativos.

Os métodos diretos são aqueles que utilizam um número finito de operações aritméticas para
se encontrar a solução do problema. Por erros de truncamento, o método às vezes não
fornece bons resultados. Os métodos diretos mais utilizados são o “Método de Eliminação
Gaussiana” e o “Método de Cholesky”.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 106


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Os métodos iterativos são aqueles que começam com uma aproximação inicial e após
sucessivas iterações convergem para soluções cada vez mais refinadas. São representantes
dessa classe o “Método de Gauss-Seidel” e o “Método de Newton”.

De acordo com Kotsovos e Pavlovic (1995), em análises não-lineares o sistema não pode ser
resolvido diretamente e, assim, torna-se necessário o emprego de técnicas iterativas, baseadas
em soluções sucessivas de sistemas lineares, até que a convergência seja alcançada. É
importante observar que, na resolução desses sistemas lineares, tanto métodos diretos quanto
métodos iterativos podem ser utilizados.

Os tipos mais frequentes de solução para sistemas de equações não-lineares são obtidos por
meio da utilização do “Método Secante” (“Método Direto” ou “Rigidez Variável”) e do
“Método Tangente” (“Método de Newton-Raphson").

Passo 5 – Cálculo das tensões e deformações nos elementos:

A partir dos deslocamentos nodais obtidos do vetor φ, as deformações e tensões nos


elementos podem ser calculadas utilizando-se equações clássicas da Mecânica dos Sólidos. A
apresentação dessas equações foge do escopo deste trabalho e pode ser encontrada nos
trabalhos de Rao (1999) e Silva (1999).

Para a aproximação que utiliza o MEF, com o auxílio de computadores, um grande número
de programas está disponível no mercado. Tais programas são capazes de gerar malhas
automaticamente e também fornecer resultados gráficos significativos, comportando-se como
um verdadeiro laboratório virtual.

Geralmente os programas de elementos finitos são constituídos de um pré-processador


(descrição dos elementos finitos, carregamentos e restrições de apoio), de um processador
(resolução do sistema de equações, cálculo de deslocamentos e tensões) e de um pós-
processador (visualização dos resultados).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 107


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Dentre os programas computacionais baseados no MEF e mais procurados no mercado,


podem ser citados os seguintes “softwares”: ATENA, ADINA, DIANA, NASTRAN,
ABAQUS, ANSYS, ROBOT MILLENIUM e SAP2000, entre tantos outros milhares de
programas existentes.

Atualmente, também podem-se encontrar, nos programas baseados no MEF, módulos


adicionais que contêm recursos de Mecânica da Fratura, tais como propagação de fissuras
(discretas e distribuídas) e recursos de análise não-linear, que possibilitam tratar o concreto
estrutural, de maneira realista. Investigações que utilizam essas potencialidades de alguns
programas foram efetuadas por Souza (2001, 2004).

5.3 O que dizem os códigos normativos sobre o método?

O CEB-FIP Model Code 1990 (1993), nos seus itens 5.5, 5.6 e 5.7, recomenda o uso do
MEF, assim como de outros métodos numéricos, tais como o “Método dos Elementos de
Contorno” e “Método das Diferenças Finitas”. O MEF pode ser aplicado para a análise de
elementos como lajes, vigas-parede, paredes estruturais, cascas e placas, sendo que as
análises são válidas tanto para o estado limite de utilização quanto para o estado limite
último.

A norma canadense CSA (1994), em seu item 9.5, indica a utilização do MEF, ou de outra
técnica numérica, como um método alternativo para a análise de estruturas. A utilização do
método visa principalmente obter as diferenças entre o comportamento real da estrutura e o
comportamento utilizado na análise para dimensionamento.

A norma canadense cita que os efeitos de fissuração devem ser levados em conta na análise
e que os padrões de malha e as condições de contorno devem ser consistentes com a
geometria, com o carregamento e com as restrições de apoio da estrutura. Cuidados também
devem ser tomados de maneira a assegurar o comportamento realista do tamanho e da rigidez
dos elementos.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 108


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Ainda em relação à norma canadense, existe a recomendação de que a armadura a ser


utilizada, obtida de uma análise em que se utiliza o MEF, deva estar concentrada em bandas
ou em tirantes alinhados em mais ou menos 15° em relação à direção das tensões principais
de tração.

O projeto de revisão do EUROCODE 2 (1999) recomenda a utilização do MEF para a


análise de lajes planas e para casos de geometria de ordem complexa, conforme relata o
parágrafo a seguir, extraído na íntegra da referida norma:

“Na maioria dos casos, análises serão utilizadas para estabelecer a distribuição de forças
internas e momentos, no entanto, para certos elementos complexos o método de análise
utilizado (isto é, uma análise por elementos finitos) fornecerá tensões, deformações e
deslocamentos, que são melhores do que forças internas e momentos. Métodos especiais são
necessários para a utilização destes resultados, visando obter as áreas de armaduras
apropriadas”.

A norma espanhola EHE (1999) recomenda implicitamente a utilização do MEF -


principalmente para as “Regiões D” - ao sugerir um “método numérico adequado”, em seu
item 24.2.3. De acordo com a norma espanhola, as análises podem ser lineares e não -
lineares e, para ambos os casos, devem ser satisfeitas as condições referentes ao estado limite
de utilização e ao estado limite último do elemento estrutural.

A NBR 6118 (2003) recomenda a utilização do MEF para a análise de elementos especiais,
principalmente para elementos do tipo parede com furos na alma, porém não fornece
diretrizes para a utilização de tal método. Para elementos como consolos, dentes Gerber e
vigas-parede, a norma brasileira recomenda a utilização de “modelos planos elásticos ou não-
lineares”, ou seja, uma recomendação implícita do MEF.

Para elementos como sapatas e blocos de fundação sobre estacas, a NBR 6118 (2003)
recomenda a utilização de “modelos tridimensionais elásticos ou não”. De maneira geral,
apesar de indicar o MEF, a norma brasileira não fornece subsídios para o desenvolvimento
de projetos que utilizam tal metodologia.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 109


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.4 Análise de estruturas de concreto utilizando o Método dos Elementos Finitos

Análises elásticas lineares são caracterizadas pela adoção de relações constitutivas lineares,
ou seja, adoção de um comportamento elástico para os materiais. No caso do concreto
estrutural, o emprego de uma análise elástica linear produzirá bons resultados desde que o
carregamento máximo aplicado não seja capaz de provocar a fissuração. Nesse caso, podem-
se obter boas estimativas para as tensões e deslocamentos da peça em análise.

Para os casos em que o carregamento provoca a fissuração da peça em concreto armado, o


emprego de análises não-lineares se torna fundamental, pois somente a utilização de relações
constitutivas não-lineares pode descrever de maneira apropriada o comportamento após a
ocorrência da fissuração. Além disso, modelos constitutivos que descrevem a interação entre
o concreto e as armaduras, mesmo que de maneira linear, também são fundamentais para a
obtenção de respostas realistas.

Conforme visto, em análises não-lineares o sistema não pode ser resolvido diretamente e, por
isso, existe a necessidade do emprego de técnicas iterativas, baseadas em soluções sucessivas
de sistemas lineares. Trata-se, portanto, de uma análise muito mais complexa e que exige alto
custo computacional.

De acordo com Figueiras (1999), a análise não-linear é um instrumento poderoso que


satisfaz, para qualquer nível de carregamento, as condições de equilíbrio e de
compatibilidade de deformações. Partindo de relações constitutivas realistas para o concreto
e para o aço, o comportamento completo da estrutura, desde o início do carregamento até o
colapso, pode ser traçado, permitindo a verificação da segurança em serviço e no estado
limite último.

Observa-se que no MEF o engenheiro é duramente forçado a desenvolver uma sensibilidade


crítica para a análise de resultados. O engenheiro deve ter maturidade para saber escolher,
entre os milhares de resultados gerados pelos programas baseados no método, quais são
aqueles efetivamente mais relevantes. A partir da análise desses resultados julgados mais
importantes, pode-se fazer uma extrapolação do comportamento global, avaliando-se se as
respostas obtidas estão dentro do comportamento esperado. Somente por meio de muito

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 110


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

treinamento e do aguçamento do senso crítico é possível obter bons resultados, utilizando tal
metodologia, bem como poder de síntese para poder interpretar de maneira rápida a
infinidade de resultados disponibilizados.

A afirmação anterior decorre do fato de o método conter alguns perigos implícitos, tais como
considerações insuficientes por parte do engenheiro na construção do seu modelo de
elementos finitos e até mesmo em possíveis deficiências existentes nos programas
disponíveis no mercado. É preciso, antes de tudo, certificar-se da qualidade do programa a
ser utilizado em uma análise de grande responsabilidade.

Além disso, existem questões sutis que influenciam decisivamente nos resultados finais, tais
como: escolha adequada do melhor elemento finito, domínio sobre as relações constitutivas
dos materiais, discretização da malha, número de elementos, entre tantas outras questões que
surgem no meio do processo e que só podem ser respondidas por um usuário experiente.

Como consequência das deficiências relatadas anteriormente, podem surgir detalhamentos


inadequados de algumas partes da estrutura, sendo que estes detalhamentos podem ser até
mesmo catastróficos, conforme comprovou o colapso da plataforma norueguesa Sleipner em
1991.

Nessa estrutura “off-shore”, constituída por 24 células cilíndricas de concreto armado,


acredita-se que a ruína ocorreu pela escolha indevida de armadura transversal na região de
junção entre as paredes da estrutura. A determinação da armadura transversal foi baseada
numa análise elástica incorreta, gerada por um renomado programa de elementos finitos.

De acordo Selby et al. (1997), as tensões de cisalhamento encontradas no projeto estrutural


estavam subestimadas em 47% com relação às tensões reais, levando assim a um
detalhamento inadequado das células cilíndricas de concreto.

Outra dúvida na utilização do MEF refere-se à economia, pois os processadores disponíveis


normalmente determinam a armadura necessária pelos pontos de integração de um elemento,
a partir das tensões elásticas de tração resultantes nessa posição. Isso pode levar à adoção de
uma armadura antieconômica.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 111


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Por exemplo, no caso de uma viga esbelta fletida, a distribuição de tensões elásticas é linear
ao longo de sua altura e o braço de alavanca entre a resultante das tensões de tração e a
resultante das tensões de compressão é aproximadamente igual a dois terços da sua altura.
Um pós-processador padrão baseará a disposição das armaduras nessa posição.

Na realidade, um calculista posicionaria toda a armadura tracionada tão longe quanto fosse
possível, empregando um grande braço de alavanca interno. Isso resulta em uma redução de
aproximadamente 25% da armadura e, partindo desse princípio, os pós-processadores nem
sempre darão os melhores resultados.

O MEF ganha potencialidade quando o comportamento de uma estrutura é complexo, ou


seja, quanto esta apresenta uma distribuição não-linear de deformações ao longo da seção
transversal. Nesses elementos, conforme relatado anteriormente, não podem-se desprezar as
deformações provocadas pela força cortante e, consequentemente, a “Hipótese de Bernoulli”
não pode ser aplicada.

Nesse caso, a hipótese anterior, de posicionar os elementos principais no centro de gravidade


dos diagramas de tensão, é bastante razoável, fornecendo um critério racional para o
calculista. No entanto, conforme citado anteriormente, a experiência do engenheiro de
estruturas com o método é fator fundamental para o sucesso em projetos que envolvam o
dimensionamento de geometrias complexas.

Figueiras (1999), por exemplo, apresenta algumas aplicações práticas que utilizam os
recursos de análise não-linear, disponíveis no MEF. De acordo com o pesquisador, esse tipo
de análise é bastante justificável em casos em que não exista ainda experiência suficiente
adquirida ou quando a importância da obra justificar.

Ainda de acordo com Figueiras (1999), o estudo das causas de deterioração e a verificação de
segurança de estruturas reforçadas são outros dos campos de aplicação prática do Método
dos Elementos Finitos e da análise não-linear. Foster (1998) recomenda que os resultados
numéricos sejam analisados com extremo cuidado e sugere também que quase sempre tais
resultados devem ser vistos com ceticismo, principalmente quando se detalham estruturas
com comportamento complexo, tais como as estruturas especiais de concreto.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 112


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5.4.1 Modelo de fissuração distribuída

Como é sabido, o comportamento das estruturas de concreto é caracterizado por uma redução
na capacidade de resistência com acréscimo de deformações depois de atingido certo limite
de carga. Esse comportamento global é causado por um comportamento do material,
denominado “strain softening”, que ocorre tanto para esforços de tração quanto para esforços
de compressão.

Por esse efeito de abrandamento, as deformações tendem a se manifestar em uma região


localizada da estrutura e, dessa maneira, os resultados obtidos, utilizando-se o Método dos
Elementos Finitos, podem ser dependentes da discretização adotada para a malha nessa
região. Essa deficiência pode ser normalmente superada com a introdução de conceitos de
Mecânica da Fratura e de Mecânica do Dano.

Para a simulação do processo de fraturamento no concreto, normalmente se emprega o


modelo de fissuração discreta (“discrete crack model”) ou o modelo de fissuração distribuída
(“smeared crack model”). No modelo de fissuração discreta, a fissura é tratada de maneira
real, de modo que uma nova malha é gerada conforme a fissura se propaga.

No presente trabalho dar-se-á ênfase apenas ao modelo de fissuração distribuída, por se


julgar que tal modelo apresenta maiores facilidades para simulação numérica das estruturas
de concreto. Para maiores informações a respeito do modelo de fissura discreta, recomenda-
se consultar, por exemplo, o trabalho de Rots e Blaauwendraad (1989).

No modelo de fissuração distribuída o material danificado ainda é considerado um meio


contínuo, e as notações de tensão e deformação ainda podem ser aplicadas sem a necessidade
de se construir uma nova malha enquanto as fissuras se propagam. Com essa hipótese, o
dano pode ser representado por um parâmetro k, que está relacionado com um comprimento
equivalente da energia dissipada por unidade de área fissurada, Gf.

Dessa maneira, os parâmetros relacionados com a Mecânica da Fratura, introduzidos no


modelo de fissuração distribuída, são a energia de fraturamento, o comprimento equivalente

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 113


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(“equivalent length”) e a banda de fissuras (“crack band”). A relação tensão-deformação,


tanto na compressão como na tração, também pode ser descrita em termos energéticos.

De acordo com Feenstra e De Borst (1993), a energia de fraturamento à compressão Gc em


ensaios experimentais tem variado de 10 a 25 Nmm/mm², o que corresponde a mais ou
menos 50 a 100 vezes a energia de fraturamento na tração, Gf. A energia de fraturamento à
compressão é obtida do diagrama tensão-deslocamento, conforme ilustra a Figura 5.2.

Figura 5.2 – Energia de fraturamento à compressão.

(Fonte: Feenstra e De Borst (1993)).

Além da representação da relação constitutiva em termos energéticos, podem-se empregar


relações constitutivas, recomendadas por códigos normativos. Evidentemente, a formulação
em termos energéticos é muito mais interessante do ponto de vista computacional, tendo em
vista a independência da malha adotada.

A energia de fraturamento, denotada por Gf, representa a quantidade de energia liberada por
unidade de área fissurada, ou melhor, a energia que é necessária para uma fissura se
propagar. O valor de Gf pode ser obtido de um teste de tração com deformação controlada,
calculando-se a área do diagrama tensão versus abertura de fissura.

A energia de fraturamento é assumida como um parâmetro do material que está relacionado


com a resistência à compressão e com o tamanho máximo do agregado. De acordo com o
CEB-FIP Model Code 1990 (1993), pode-se determinar Gf por meio da Equação (5.3).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 114


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

G f = G F0 (f cm /f cm0 )0,7 [Nmm/mm²] (5.3);

f cm = f ck + 8 [N/mm²] (5.4).

Sendo fcm0 = 10 [N/mm²] e o valor de GF0 dependente do máximo tamanho do agregado,


dmáx, conforme a Tabela 5.1.

Tabela 5.1 - Valores de GF0 em função de dmáx.

dmax(mm) GF0(Nmm/mm²)
8 0,025
16 0,030
32 0,058

O comprimento equivalente, denotado por h, deve corresponder a uma dimensão


representativa dos elementos da malha, sendo dependente do tipo do elemento e de sua
forma. De acordo com Feenstra e De Borst (1993), o comprimento equivalente pode ser
relacionado com a área do elemento, por meio da Equação (5.5).

h = αh . Ae (5.5)

O fator αh é um fator de modificação que é igual a 1,0 para elementos quadráticos e igual a
1,41 para elementos lineares. O comprimento equivalente, quando calculado pela Equação
(5.5), é adequado quando a malha não é muito distorcida e quando a maioria das fissuras
estão alinhadas com as linhas da malha. Trata-se de uma equação que fornece boas
aproximações para a maioria das situações práticas.

Com base nos parâmetros anteriores, pode-se definir um parâmetro gf que representa o
trabalho inelástico, conforme a Equação (5.6). Esse parâmetro representa a quantidade de
energia que deve ser dissipada em um elemento da malha de elementos finitos para que
ocorra um dano irreversível do material. Essa ideia é utilizada tanto em tração como em
compressão, podendo capturar o “softening” do material.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 115


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Gf (5.6).
gf =
h

5.4.1.1 Modelos total strain

Na formulação dos “Modelos Total Strain” recorre-se unicamente a uma relação constitutiva,
dependente das deformações em dado instante, o que fornece facilidades de implementação
numérica. Dessa maneira, o grande atrativo dessa formulação é a sua simplicidade
conceitual, sendo essa vertente representada pelo “Rotating Crack Model” e pelo “Fixed
Crack Model”.

O “Rotating Crack Model” permite que a fissura mude de direção enquanto se propaga,
enquanto o “Fixed Crack Model” armazena o ângulo de abertura da primeira fissura e faz
com que a propagação mantenha esse ângulo, mudando de direção somente quando for
registrada uma variação de 90o em relação ao ângulo gravado no início do processo.

De acordo Feenstra e De Borst (1993), Rots et al. (1985) e Rots e Blaauwendraad (1989), o
“Rotating Crack Model” tende a apresentar cargas de ruína inferiores àquelas obtidas com o
“Fixed Crack Model”.

Nos modelos de fissuração distribuída, normalmente se encontra implementada uma rotina


para reduzir a resistência à compressão do concreto após a fissuração na direção paralela à
direção das fissuras, de maneira semelhante àquela proposta por Vecchio e Collins (1986).
Adicionalmente, o efeito de contribuição à tração do concreto entre fissuras (“tension
stiffening”) pode ser utilizado, sendo que a rigidez é disponibilizada para concreto não-
fissurado ou fissuras não totalmente abertas por meio de um processo de localização de
deformações.

No Modelo de Fissuração Fixa (“Fixed Crack Model”), a direção da fissura é dada pela
direção da tensão principal no momento da iniciação da fissura, sendo que para
carregamentos posteriores essa direção é fixa e representa o eixo de ortotropia do material.
De acordo com Cervenka et al. (2005), as direções principais de tensão e de deformação são
coincidentes apenas para o caso de concreto não-fissurado, pela hipótese de isotropia. Após a

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 116


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

fissuração, a hipótese de ortotropia é assumida, de maneira que o eixo m1 é normal à direção


de fissuração e o eixo m2 é paralelo à direção das fissuras, conforme ilustra a Figura 5.3.

Figura 5.3 – Modelo de Fissuração Fixa (“Fixed Crack Model”).

No caso geral, os eixos principais de deformação ε1 e ε2 podem rotacionar e não precisam


coincidir com os eixos de ortotropia m1 e m2, Dessa maneira, tensões de cisalhamento serão
geradas nas faces do elemento, conforme ilustra a Figura 5.2. As tensões σc1 e σc2 denotam
as tensões normal e paralela ao plano da fissura e, pela tensão de cisalhamento, elas não se
constituem em tensões principais. Após a fissuração, o módulo de elasticidade transversal é
reduzido de acordo com a proposta de Kolmar (1986).

No Modelo de Fissuração Variável (“Rotated Crack Model”), mesmo após a fissuração, as


direções das tensões principais continuam coincidindo com as direções das deformações
principais e, dessa maneira, não ocorre cisalhamento no plano da fissura. Se os eixos das
deformações principais rotacionarem durante o carregamento, as direções das fissuras
também rotacionarão. Esse modelo é baseado nos trabalhos de Vecchio e Collins (1986) e
Crisfield e Wills (1989), sendo que apenas duas tensões normais precisam ser definidas,
conforme ilustra a Figura 5.4.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 117


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.4 – Modelo de Fissuração Variável (“Rotated Crack Model”).

A entrada de dados para os “Modelos Total Strain” compreende duas partes: (a) entrada de
propriedades básicas tais como o módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, resistência
à tração e compressão e (b) definição do comportamento do material à tração, compressão e
cisalhamento.

Para o comportamento do material à tração podem ser empregadas relações pré-definidas,


baseadas na energia de fraturamento e na banda de fissuras do elemento, que é estimada
automaticamente em função da área ou do volume do elemento. A Figura 5.5 ilustra algumas
relações constitutivas para tração, incluindo em algumas delas o efeito de “tension
softening”.

Figura 5.5 - Relações disponíveis para tension-softening no programa DIANA.

(Fonte: TNO (2001)).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 118


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Os modelos de abrandamento à tração são baseados em dois parâmetros principais, tratados


no programa como propriedades do material: energia de fraturamento (Gf) e abertura de
fissura (w). A abertura crítica de fissura (wc) é normalmente calculada por meio de
expressões que envolvem a energia de fraturamento e a resistência à tração.

A abertura de fissura (w) é calculada por meio da introdução do comprimento de banda de


fissura (“crack band length”), que tem por objetivo eliminar duas deficiências que podem
ocorrer quando da utilização do modelo com o Método dos Elementos Finitos: efeito escala
(“size effect”) e dependência de orientação do elemento (“element orientation effect”).

O comprimento de banda à tração (Lt) é a projeção do elemento utilizado na malha de


elementos finitos, conforme ilustra a Figura 52 (b), e serve para reduzir a dependência
relacionada com o tamanho do elemento adotado (“element size effect”). Por meio desse
parâmetro é possível calcular a abertura de fissura dos elementos da malha de elementos
finitos, conforme ilustra a Equação (5.8).

w = ε cr .γ .L t (5.8).

Deve-se notar que εcr é a deformação pela abertura de fissura (“crack opening strain”), isto é,
a deformação normal à direção da fissura após a liberação do estado de tensão necessário
para se abrir totalmente a fissura. Após a ocorrência desse estado de tensão (“complete stress
release”), a fissura continua se abrindo, porém sem a ocorrência de tensão.

De acordo com Gomes (2001), pela fissuração do material, a rigidez ao cisalhamento é


normalmente reduzida. Essa redução é normalmente conhecida no meio técnico como
retenção ou conservação do cisalhamento. Encontram-se nos programas comerciais
normalmente três tipos de relações para tratar esse efeito: retenção completa do
cisalhamento, retenção constante do cisalhamento e retenção variável do cisalhamento.

No caso de uma retenção completa do cisalhamento, o módulo de elasticidade transversal G


não é reduzido, o que implica que a rigidez ao cisalhamento secante da fissura é infinita. No
caso da redução da rigidez de cisalhamento, o fator de retenção do cisalhamento β é menor
do que um mas maior do que zero, sendo normalmente tomado igual a 0,2.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 119


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

A rigidez de cisalhamento de um material fissurado depende geralmente da abertura da


fissura. Esse fenômeno pode ser levado em consideração por meio da retenção variável de
cisalhamento, por meio um fator de retenção de cisalhamento que é função da deformação da
fissura.

O comportamento à compressão normalmente é descrito como uma função não-linear entre


tensões e deformações em determinada direção. A Figura 5.6 ilustra algumas possibilidades
para a relação constitutiva do concreto sujeito à compressão, disponíveis no programa
DIANA. Conforme pode-se observar, os modelos podem ser constituídos por simples retas
(modelo elástico linear, elástico-plástico, elástico com enrijecimento, multilinear) até
modelos com expressões mais complexas, tais como parábolas.

Figura 5.6 - Exemplos de relações constitutivas para compressão no programa DIANA.

(Fonte: TNO (2001)).

De acordo com Rots et al. (1985), em problemas de fraturamento por cisalhamento que
utilizam programas de elementos finitos, o estabelecimento de uma carga limite genuína é
complicado e problemas de convergência são muito frequentes tendo-se em vista a
complexidade do problema. Para um exemplo simples, que envolvia ruptura por fissuras
diagonais, provocadas por cisalhamento, os pesquisadores demonstraram que em um
primeiro momento a análise numérica parecia ser incapaz de reproduzir totalmente o
complexo mecanismo de fratura do elemento.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 120


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Apesar de o mecanismo de fraturamento ser reproduzido com grande precisão, a análise


numérica realizada não conseguia revelar uma carga limite de maneira clara, uma vez que a
curva carga-deslocamento não apresentava nenhum pico visível ou um ramo horizontal. Rots
et al. (1985) observaram que tal problema poderia ser decorrência da utilização de um
processo de solução pouco eficiente. Hoje a realidade já é outra, sendo que já há várias
opções para se superar o problema.

Adicionalmente, Rots et al. (1985) comentam que, para problemas em que as fissuras
provocadas por cisalhamento são críticas, o fator de retenção ao cisalhamento (β) deve ser
cuidadosamente escolhido, uma vez que parece influenciar decisivamente o problema. Em
pesquisas em que varia esse parâmetro os pesquisadores concluíram que altos valores
(β=0,99, simulando superfícies de fissuras totalmente intertravadas) levam a fissuras de
cisalhamento mais distintas e localizadas em faixas mais estreitas.

Para baixos valores (β = 0,001, que simulam superfícies de fissuras praticamente sem
fricção), os pesquisadores concluíram que não é possível chegar totalmente a uma fissuração
diagonal, e, além de tudo, obtém-se uma resposta carga-deslocamento muito pobre,
caracterizada por diversas irregularidades.

De maneira geral, observa-se que, para o Modo de Fraturamento I (abertura de fissura


predominantemente por flexão), os modelos de fissuração distribuída têm apresentado um
desempenho altamente satisfatório, gerando resultados de acordo com os resultados
experimentais, não só nas situações de pré-pico como também nas situações de pós-pico.

De acordo Rots e Blaauwendraad (1989) para problemas no Modo de Fraturamento II


(abertura de fissura predominantemente por cisalhamento), as linhas de fraturamento se
desviam demasiadamente das linhas da malha, de maneira que a fratura se propaga em
zigzag.

Esse desalinhamento acaba complicando o cálculo das tensões na ponta da fissura e pode
levar a um travamento total das tensões (“stress-lock”), produzindo uma solução inadequada
para o problema investigado.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 121


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.4.1.2 Modelos incrementais ou plásticos

Na formulação dos “Modelos Incrementais” costuma-se recorrer aos conceitos da “Teoria da


Plasticidade”, preferindo-se dividir as deformações em duas parcelas: elásticas (reversíveis) e
plásticas (irreversíveis). Dessa maneira, pode-se fazer uma combinação transparente com
outros fenômenos não-lineares, tais como a fluência, retração e carregamentos não-
proporcionais.

Os modelos incrementais são caracterizados por modelar o material, combinando um


modelo especial de fissuração distribuída (“smeared crack model”) para tração com um
modelo plástico para compressão. A ruptura por tração é identificada quando em algum
ponto a tensão principal de tração ultrapassa a resistência do material. Para maiores
informações sobre esses modelos, recomenda-se consulta à TNO (2001).

Os modelos incrementais constituem, na verdade, um modelo de fissuração distribuída com


um comportamento intermediário entre o “Fixed Crack Model” e o “Rotating Crack Model”.
Esse modelo permite abrir várias fissuras em um mesmo ponto e, dependendo do valor da
definição de um dos seus parâmetros (“treshold angle”), pode-se chegar aos dois modelos
apresentados anteriormente.

O parâmetro denominado de “treshold angle”, normalmente disponível no conjunto de


parâmetros de configuração dos programas computacionais destinados à análise não-linear
do concreto estrutural, é definido como o ângulo existente entre uma fissura já formada em
um ponto e sua possível rotação nesse mesmo ponto. Essa possibilidade se baseia no fato de
que durante o processo de simulação a orientação da fissura pode ser modificada com o
acréscimo de carga e por meio desse parâmetro o usuário pode decidir se aceita ou não a
rotação da referida fissura no ponto em análise. Normalmente, o "treshold angle" é assumido
como 60°, isto é, admite-se efetivamente a mudança de direção da fissura se a mesma atingir
o valor definido anteriormente. Teoricamente, se esse parâmetro for modificado para 90°,
pode-se obter o desempenho semelhante ao do “Fixed Crack Model” e, se for mudado para
0°, obtém-se desempenho semelhante ao do “Rotating Crack Model”.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 122


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Conforme relatado, os “Modelos Incrementais” são normalmente acoplados à Teoria da


Plasticidade, visando capturar o comportamento à compressão do concreto. Para o tratamento
da compressão podem ser utilizados os modelos clássicos de ruptura de Tresca, von Mises,
Mohr-Coulomb e Drucker-Prager, conforme ilustra a Figura 5.7.

Figura 5.7 - Modelos plásticos disponíveis no programa DIANA.

(Fonte: TNO (2001)).

5.4.2 Modelagem das armaduras

De acordo com Feenstra e De Borst (1993), a modelagem das armaduras que utiliza o
Método dos Elementos Finitos tem sido feita de três maneiras distintas: representação
distribuída, representação incorporada (“embedded”) e representação discreta.

Na representação distribuída a armadura é assumida como a que é distribuída no elemento de


concreto, seguindo determinada orientação. Na representação incorporada são introduzidas
barras cujos deslocamentos são os mesmos do elemento “pai”. Finalmente, na representação
discreta, elementos uniaxiais são introduzidos nas interfaces dos elementos de concreto com
conexões rígidas ou com elementos de interface, capazes de modelar a aderência.

Nas duas primeiras maneiras descritas anteriormente, isto é, na representação distribuída e na


representação incorporada, normalmente se considera uma aderência perfeita entre o
concreto e as armaduras, ou seja, elimina-se a possibilidade de ruptura por escorregamento
das armaduras.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 123


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Para o aço normalmente se adota o modelo de ruptura de von Mises, com a equação
constitutiva do material, seguindo um modelo elasto-plástico perfeito ou elasto-plástico com
endurecimento. As curvas são normalmente obtidas de ensaios uniaxiais e são iguais tanto na
tração quanto na compressão.

Nos programas comerciais normalmente estão disponíveis as seguintes leis constitutivas para
a modelagem das armaduras: Modelo Linear (“Linear Law”), Modelo Elasto-Plástico
Perfeito (“Bilinear Law”), Modelo Multilinear (“Multilinear Law”) e Modelo cíclico (“Ciclic
Reinforcement Model”). Adicionalmente é possível modelar a aderência das armaduras com
o concreto através do modelo especificado pelo CEB-FIP Model Code 1990 (1993). A Figura
5.8 apresenta algumas leis constitutivas, normalmente adotadas para o aço no programa
DIANA. Observar que um diagrama constitutivo simétrico na tração e na compressão pode
ser empregado para a modelagem das armaduras, sendo que no caso da compressão a
flambagem deve ser avaliada com cuidado.

Figura 5.8 – (a) Modelo elasto-plástico perfeito e (b) Modelo multilinear empregados para
modelagem das armaduras.

a) b)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 124


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.4.3 Modelagem do concreto armado

O concreto armado submetido à tração pode ser tratado por meio de uma superposição do
modelo para concreto simples com “tension softening”, com o modelo elasto-plástico para o
aço dotado de uma rigidez adicional pelo efeito de “tension stiffening”.

No concreto armado, pela aderência entre o concreto e as armaduras, um grande número de


fissuras tende a se desenvolver. Com o desenvolvimento contínuo dessas fissuras, o concreto
perde a sua capacidade de suportar tensões de tração e acaba transferindo essas tensões para
as armaduras. Esse efeito é denominado de “tension stiffening” e está profundamente
relacionado com o efeito de “tension softening”, conforme ilustra a Figura 5.9.

Figura 5.9 – Elemento de concreto armado sob tração.

Deve-se observar que o efeito “tension stiffening” só tem validade se a armadura incorporada
à estrutura for superior à armadura mínima necessária. Se a armadura for inferior à armadura
mínima, quando surgir a primeira fissura, a estrutura chegará ao colapso de maneira frágil,
sem apresentar “tension stiffening”.

De acordo com Feenstra e De Borst (1993), a energia de fraturamento que representa a


transição de comportamento do concreto simples para o concreto armado pode ser tomada
como uma parcela da energia de fraturamento do concreto simples e do espaçamento médio
entre fissuras (“crack band”), conforme a Equação (5.9).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 125


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

 h
G fRC = min G f , G f .  (5.9)
 ls 

A distância média entre fissuras pode ser estimada de acordo com o CEB-FIP Model Code
1990 (1993) por meio da Equação (5.10).

 φ 
ls = 2/3 50 + s  (5.10)
 α .ρ s 

Em que φs é o diâmetro da armadura, α = 4,0 para barras corrugadas e igual a 2,0 para barras
lisas e ρs = As /Ac. Para elementos de placa, chapa e casca, Feenstra e De Borst (1993)
apresentam as recomendações para a definição do espaçamento médio entre fissuras.

5.4.4 Aspectos complementares

Para superar alguns problemas que normalmente surgem em análises não-lineares,


normalmente se dispõe de recursos adicionais tais como o método de busca linear (“line
search”) e o método de comprimento de arco (“arc length control”).

O método de busca linear acelera a convergência do processo iterativo através do cálculo de


um multiplicador ótimo para o campo dos deslocamentos incrementais e é extremamente útil
quando os processos ordinários de iteração não são suficientes.

O método de comprimento de arco ("arc lenght method") resolve as deficiências dos


processos incrementais e iterativos, possibilitando capturar o comportamento pós-pico da
estrutura, uma vez que permite a introdução de incrementos decrescentes no processo
iterativo. Com a ativação desse controle, podem-se capturar os efeitos de “snap-back” e
“snap-through”, conforme ilustra a Figura 5.10.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 126


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

De maneira resumida, pode-se dizer que a resposta com "snap-through" combina um


abrandamento, depois de atingida a primeira carga limite (ponto L na Figura 5.10), com
posterior enrijecimento da segunda carga limite até se atingir a ruptura (ponto F Figura 5.10).
A resposta entre as duas cargas limites (L) possui rigidez negativa e por essa razão é instável,
isto é, se procedimentos avançados não são empregados para capturar tal comportamento, a
tendência é de que não se capture o comportamento de abrandamento e enrijecimento depois
de atingida a primeira carga limite.

Por outro lado, pode-se dizer de maneira simplificada que o comportamento de "snap-back" é
um comportamento "snap-through" exagerado, no qual a curva tem uma tendência de voltar
para trás, apresentando dois pontos de mudança da rigidez (pontos T na Figura 5.10), isto é,
ora a rigidez se torna positiva (primeiro ponto T após a primeira carga limite L) e
posteriormente volta a apresentar rigidez negativa (segundo ponto T até atingir a segunda
carga limite L). O equilíbrio entre os dois pontos de transição (pontos T na Figura 5.10) pode
ser estável e fisicamente possível.

Figura 5.10 - Comportamentos de “snap-back” e “snap-through” possíveis de ser obtidos quando se


utiliza a opção “arc lenght method”.

Na condução de análises também é necessário estabelecer critérios de convergência que


permitam obter a solução com uma precisão julgada adequada ao problema proposto.
Normalmente, as seguintes opções são disponibilizadas nos programas comerciais:

• critério de convergência formulado em termos de deslocamentos;


• critério de convergência formulado em termos de forças;
• critério de convergência formulados em termos energéticos.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 127


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

De acordo com Gomes (2001), o critério em termos energéticos é o mais atrativo entre as três
opções, pois leva em conta simultaneamente o efeito das forças e dos deslocamentos.
Geralmente, em problemas estruturais, uma tolerância (ou erro relativo) igual a 10-4, em
termos energéticos, conduz a soluções confiáveis.

Observa-se que é necessário testar a sensibilidade da solução ao critério de convergência


adotado, sendo o número 10-4 apenas uma referência inicial. Adicionalmente, sempre será
preferível adotar tolerâncias relativamente pequenas, desde que o processo iterativo e o
condicionamento do problema não-linear permitam essa atitude.

Um detalhe que se faz muito importante na utilização e na interpretação dos resultados


obtidos pelo processamento de programas comerciais se refere à maneira como o sistema de
equações não-lineares é terminado durante a análise. O programa costuma indicar que a
solução convergiu ou divergiu.

Deve-se observar que a divergência ou falha de convergência, no qual um procedimento de


iteração numérica não consegue convergir, não tem nenhuma relação com o colapso real da
estrutura. Por isso, recomenda-se muita atenção na interpretação dos resultados obtidos que
utiliza programas baseados no MEF.

A melhor maneira de se interpretar a resposta obtida é através do diagrama carga versus


deslocamento de algum ponto notável da estrutura. A partir do momento em que a estrutura
atinge o seu pico de resistência, podem-se introduzir decréscimos de carregamento, de
maneira a se obter o trecho descendente dessa curva.

Um diagrama carga-deslocamento que apresenta o abrandamento da resposta da estrutura


indica de maneira bastante clara a carga de colapso da estrutura. Se o trecho descendente do
diagrama carga-deslocamento não for obtido, o sistema pode ter divergido, antes de se atingir
a carga máxima, e o usuário pode erroneamente ser conduzido a uma dedução precipitada da
carga de colapso. Para visualizar esse problema, considere novamente os aspectos já
discutidos em relação aos comportamentos de "snap-throught" e "snap-back", previamente
ilustrados na Figura 5.10.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.5. Verificação da segurança utilizando-se o MEF

O problema da verificação da segurança de estruturas, utilizando-se o Método dos Elementos


Finitos acoplado à análise não-linear, ainda é pouco documentado na literatura e
completamente ausente na maioria dos códigos de concreto estrutural. Essa tarefa é da maior
importância e não deve ser deixada unicamente sob a responsabilidade dos desenvolvedores
de softwares de elementos finitos.

Atualmente, a base da maioria dos formatos de segurança encontra-se elaborada em termos


probabilísticos. A maioria das normas tem preconizado o formato semiprobabilístico, que
corresponde a algoritmos simplificados de dimensionamento, baseados em fatores parciais de
segurança que afetam os valores característicos e de cálculo.

A análise elástica para a determinação dos esforços internos e de leis constitutivas não-
lineares para o aço e para o concreto, visando ao dimensionamento das seções transversais,
tem sido empregada com frequência pela maioria das normas direcionadas às estruturas em
concreto. Além disso, coeficientes de segurança parciais são aplicados de maneira a majorar
as ações solicitantes e minorar a resistência dos materiais. A segurança é considerada
adequada se a capacidade resistente da seção transversal for superior ao esforço solicitante.

De acordo com Lourenço (1992), o simples fato de se considerarem os materiais com as


propriedades de cálculo ou características em análises não-lineares pode conduzir com
frequência a resultados inesperados. De acordo com o pesquisador, a análise não-linear deve
incluir uma componente probabilística, de modo a permitir um formato de segurança
consistente.

Ainda de acordo com Lourenço (1992), o formato de segurança atual e os respectivos fatores
de segurança resultam de décadas de experiência, observação e dimensionamento de acordo
com o cálculo elástico e, por isso, não faz sentido transpor a filosofia existente para a análise
não-linear.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 129


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figueiras et al. (1990, 2002) têm preconizado a utilização de um formato de segurança


simplificado para a verificação de segurança no estado limite último, utilizando a análise não
-linear e essa filosofia também tem sido seguida por Lourenço (1992). A rotina dessa
verificação é apresentada a seguir:

• A estrutura é dimensionada, utilizando-se os processos correntes, ou seja, aplica-se a


análise linear para a obtenção dos esforços e em seguida dimensionam-se as seções
transversais através de equações constitutivas não-lineares para o aço e para o
concreto;

• a estrutura dimensionada é analisada de maneira não-linear, sendo que as relações


constitutivas são definidas com base nos valores médios das propriedades dos
materiais que determinam a rigidez da estrutura e com base nos valores
característicos para as propriedades que determinam a capacidade de resistência
última da estrutura;

• as cargas são definidas pelos valores característicos Fk, sendo incrementadas até que
se atinja o estado de colapso da estrutura Fu. Dessa maneira, pode-se determinar um
valor para o fator de carga último dado por λu = Fu/Fk.

A segurança da estrutura é considerada satisfeita, desde que λu ≥ λc = γf.γm , sendo γm ditado


pelo aço (γm = γs = 1,15 = coeficiente de ponderação da resistência do aço) ou pelo concreto
(γm = γc = 1,40 = coeficiente de ponderação da resistência do concreto), conforme o tipo de
ruína esperado. Dessa maneira, para que uma estrutura investigada, utilizando-se a análise
não-linear, seja considerada segura, os limites das Equações (5.11) e (5.12) devem ser
verificados, tomando-se por base os coeficientes de ponderação propostos pela NBR 6118
(2003):

λu ≥ λc = γf.γm = 1,4.1,4 = 1,96 se o colapso for atribuído ao concreto (5.11)

λu ≥ λc = γf.γm = 1,4.1,15 = 1,61 se o colapso for atribuído ao aço (5.12)

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5.6 Exemplo de dimensionamento utilizando o Método dos Elementos Finitos

Seja dimensionar a viga-parede ilustrada na Figura 5.11, utilizando-se o Método dos


Elementos Finitos e a formulação apresentada para elementos de membrana. A viga-parede
apresenta uma espessura de 50 cm e as placas de aplicação dos carregamentos e as placas de
apoio possuem dimensões de 45 x 50 cm. A resistência à compressão característica para o
concreto é de 25 MPa e a resistência característica do aço é de 500 MPa, sendo o
carregamento último dado por 1.600 kN.

Figura 5.11 – Viga-parede comumente classificada como viga comum pelos códigos.

1600 kN 1600 kN

200

40 200 200 cm 200 40

O programa de elementos finitos DIANA foi escolhido para a condução da análise elástica
linear da viga-parede. Esse programa possibilita a obtenção automática dos esforços de
membrana, não sendo necessário multiplicar as tensões pela largura da estrutura para obtê-
los.

As condições de contorno foram estabelecidas de maneira a se obter uma viga biapoiada, e a


malha de elementos finitos foi elaborada, utilizando-se elementos quadráticos de oito nós do
tipo CQ16M com dimensões uniformes. Adicionalmente, definiu-se o coeficiente de Poisson
como sendo igual a 0,2 e o módulo de elasticidade do concreto como sendo igual a 28 GPa.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 131


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

A Figura 5.12 e a Figura 5.13 apresentam as tensões σxx e σyy , bem como seções de interesse
introduzidas para a quantificação das armaduras resistentes. A seção vertical AA tem por
objetivo determinar a armadura horizontal, enquanto a seção vertical BB tem por objetivo
determinar a armadura vertical da viga-parede.

Figura 5.12 - Tensões σxx para a viga-parede utilizando DIANA.

Figura 5.13 - Tensões σyy para a viga-parede utilizando DIANA.

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Tabela 5.2– Determinação das armaduras nas seções AA e BB utilizando o MEF.


Propriedades do Elemento de Chapa
fck(MPa) fyd(MPa) Espessura(cm) fcd2(kN/cm²)
25 435 50 1,28
Determinação das Armaduras Horizontais - Seção AA
Determinação das Armaduras Resistentes Utilizando os Esforços de Membrana Obtidos do Método dos Elementos Finitos
Nx Ny Nxy Nsx Nsy Asx Asy Compressão Altura
Nó (kN/m) (kN/m) (kN/m) Caso (kN/m) (kN/m) (cm²/m) (cm²/m) (kN/cm²) (m)
513 -4493,00 -4,50 -0,71 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,001 0,00
618 -4056,00 1,67 0,57 2 0,00 1,67 0,00 0,04 -0,811 0,13
514 -3632,00 7,71 3,64 2 0,00 7,71 0,00 0,18 -0,726 0,25
619 -3117,00 -19,87 2,25 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,004 0,38
515 -2590,00 -54,10 1,97 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,011 0,50
620 -1991,00 -91,92 0,52 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,018 0,63
516 -1392,00 -129,70 -0,92 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,026 0,75
621 -755,70 -144,60 -0,95 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,029 0,88
517 -125,80 -157,10 -1,12 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,025 1,00
622 -125,60 -155,40 -1,22 4 0,00 0,00 0,00 0,00 -0,025 1,13
518 1148,00 -124,90 -0,80 3 1148,01 0,00 26,40 0,00 -0,025 1,25
623 1794,00 -94,00 -0,73 3 1794,01 0,00 41,26 0,00 -0,019 1,38
519 2443,00 -66,11 -0,51 3 2443,00 0,00 56,19 0,00 -0,013 1,50
624 3115,00 -39,63 -0,47 3 3115,01 0,00 71,65 0,00 -0,008 1,63
520 3789,00 -15,70 -0,31 3 3789,01 0,00 87,15 0,00 -0,003 1,75
625 4499,00 -5,83 -0,19 3 4499,01 0,00 103,48 0,00 -0,001 1,88
521 5209,00 2,92 -0,01 1 5209,01 2,93 119,81 0,07 0,000 2,00

Determinação das Armaduras Verticais - Seção BB


Determinação das Armaduras Resistentes Utilizando os Esforços de Membrana Obtidos do Método dos Elementos Finitos
Nx Ny Nxy Nsx Nsy Asx Asy Compressão Altura
Nó (kN/m) (kN/m) (kN/m) Caso (kN/m) (kN/m) (cm²/m) (cm²/m) (kN/cm²) (m)
79 -93,68 13,68 1,65 2 0,00 13,71 0,00 0,32 -0,02 0,00
132 -176,20 -35,17 122,80 2 0,00 50,41 0,00 1,16 -0,05 0,13
80 -236,20 -91,96 249,40 1 13,20 157,44 0,30 3,62 -0,10 0,25
133 -225,60 -196,30 363,70 1 138,10 167,40 3,18 3,85 -0,15 0,38
81 -214,90 -300,60 477,90 1 263,00 177,30 6,05 4,08 -0,19 0,50
134 -166,80 -437,10 565,60 1 398,80 128,50 9,17 2,96 -0,23 0,63
82 -130,50 -573,70 641,90 1 511,40 68,20 11,76 1,57 -0,26 0,75
135 -62,22 -739,60 705,70 3 611,13 0,00 14,06 0,00 -0,28 0,88
83 -19,13 -904,70 742,00 3 589,43 0,00 13,56 0,00 -0,30 1,00
136 94,96 -1095,00 669,40 3 504,18 0,00 11,60 0,00 -0,30 1,13
84 142,80 -1320,00 522,20 3 349,39 0,00 8,04 0,00 -0,31 1,25
137 368,30 -1712,00 838,40 3 778,88 0,00 17,91 0,00 -0,42 1,38
85 299,70 -2053,00 901,20 3 695,30 0,00 15,99 0,00 -0,49 1,50
138 473,40 -2545,00 -292,00 3 506,90 0,00 11,66 0,00 -0,52 1,63
86 -269,50 -3552,00 -2275,00 3 1187,60 0,00 27,31 0,00 -1,00 1,75
139 -305,80 -7901,00 5026,00 3 2891,35 0,00 66,50 0,00 -2,22 1,88
87 -6120,00 -10880,00 8422,00 3 399,31 0,00 9,18 0,00 -3,48 2,00

A Tabela 5.2 apresenta os esforços de membrana e as armaduras determinadas em nós


pertencentes às seções AA e BB. Observar que existem certos nós (139 e 87) que têm o
limite de resistência à compressão ultrapassados, no entanto, esses valores podem ser
desprezados, uma vez que se tratam de pontos singulares.

Para a quantificação da armadura horizontal, determinou-se a resultante de armaduras


necessárias na seção AA, conforme ilustra a Figura 5.14. A armadura principal, 52,11 cm²
(17φ20mm), é dada pela resultante do triângulo de base 119,81 cm²/m e altura igual a 87 cm
e deve ser distribuída na zona efetivamente tracionada da viga-parede.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 133


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.14 – Resultantes de tração nas seções AA e BB.

Armadura Resultante Horizontal Armadura Resultante Vertical


A B A

Asv = 6,12 cm²


4,08 cm²/m

87 cm Ash = 52,11 cm²


300 cm
B A
A 119,81 cm²/m

Acima do tirante principal deve ser posicionada uma armadura mínima para o controle de
fissuração, por face da viga-parede, igual a

As,min = 0,15%.b.h = 0,0015.50.100 = 7,5 cm²/m → φ 12,5 mm c/14 cm por face.

A armadura vertical também é calculada, tomando-se por base a Figura 5.14, utilizando-se a
seção vertical AA em conjunto com a seção vertical BB. Dessa maneira, obtém-se uma
resultante aproximada de 6,12 cm², dada pela área de um triângulo de base igual a 3,0 m e
altura igual 4,08 cm²/m. Essa armadura conduz a uma taxa de estribos de 2,04 cm²/m,
inferior à taxa mínima recomendada:

As,min = 0,15%.b.h = 0,0015.50.100 = 7,50 cm²/m → φ 10,0 mm c/20 cm por face.

A Figura 5.15 apresenta o detalhamento das armaduras para a viga-parede dimensionada,


sendo que foi considerado um cobrimento de armadura de 3,0 cm.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 134


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.15 – Detalhamento de armaduras obtido para a viga-parede utilizando o MEF.

674
41
8 Ø 12,5 mm c/14 cm C=1455 cm

87 cm

Armaduras Horizontais Tirante Principal = 17 Ø 20,0mm

188

44
Armaduras Verticais 34 Ø 10,0 mm c/20 cm C = 489 cm

A técnica de ler os esforços de membrana e tratá-los em uma planilha, como a apresentada na


Tabela 5.2, acaba sendo bastante trabalhosa. Uma solução interessante seria a implementação
da formulação de dimensionamento dos elementos de membrana em um programa de
elementos finitos, de maneira a se obter automaticamente as taxas de armação em seções
julgadas importantes.

Lourenço e Figueiras (1993) implementaram a formulação em um programa de elementos


finitos e por meio dessa rotina os pesquisadores têm obtido muito rapidamente respostas para
o dimensionamento de estruturas do tipo parede com irregularidades geométricas. O pós-
processador do programa criado permite visualizar automaticamente a quantidade de
armaduras necessárias em qualquer ponto da estrutura

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 135


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.7 Exemplo de análise não-linear de elementos de membrana


5.7.1 Descrição das principais dificuldades

O acesso aos resultados experimentais, obtidos para painéis de concreto submetidos a


esforços de membrana, não é uma atividade fácil. Dessa maneira, tendo-se em vista que o
trabalho de Xie (2009) apresenta a descrição do ensaio experimental de seis painéis de
concreto armado de maneira bastante completa, o mesmo será utilizado como base para a
realização de simulações computacionais, utilizando-se o programa ATENA. Além disso,
Xie (2009) realizou simulações, aplicando os programas MEMBRANE 2000 e Vector2, de
maneira que há boa base para comparação dos resultados.

Uma questão pouco discutida na literatura específica sobre a simulação computacional dos
referidos painéis concentra-se nas condições de contorno a serem adotadas nas simulações
numéricas. Tanto nos ensaios clássicos, realizados na Universidade de Toronto, quanto nos
ensaios realizados na Universidade de Houston, os painéis são colocados com um ângulo de
45o em relação ao dispositivo de ensaio. Tal dispositivo, denominado "Membrane Tester",
foi especialmente desenvolvido por Vecchio e Collins (1979) e pode combinar a aplicação de
forças normais de compressão e de tração nas faces dos painéis. Dessa maneira, tendo-se em
vista o posicionamento inclinado do elemento no interior do dispositivo, podem-se gerar
indiretamente forças cortantes nas faces dos painéis.

Na realidade, deve ser entendido que os ensaios de painéis procuram simular apenas uma
região de uma peça de concreto armado, como, por exemplo, a alma de vigas submetidas a
forças normais e cortantes. Dessa maneira, fazendo-se um paralelo com a análise numérica,
um painel de concreto, sujeito a esforços de membrana e ensaiado experimentalmente,
representa na realidade um único elemento, isto é, a malha de elementos finitos, para simular
esse painel, deverá ser constituída por um único elemento finito.

As condições de apoio e de aplicação dos carregamentos deve ser feita de maneira que seja
gerado um estado de tensão uniforme no interior do elemento finito, tal como ocorre no
ensaio experimental. A Figura 5.16 (a) ilustra a maneira como o ensaio experimental é
realizado, enquanto a Figura 5.16 (b) ilustra como a simulação computacional pode ser
conduzida.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 136


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.16 - (a) Ensaio experimental de elementos de membrana e (b) malha de elementos finitos no
ensaio computacional de elementos de membrana.

(a) (b)

Conforme pode-se observar, o carregamento aplicado nas faces do elemento no caso


experimental pode ser substituído por carregamentos aplicados pontualmente nos nós do
elemento finito utilizado, caso o mesmo seja do tipo Q4. Adicionalmente, a utilização de
apoios simples permite que o estado de deformação do elemento finito seja idêntico àquele
obtido no ensaio experimental. A situação de carregamento ilustrada na Figura 5.16 (b), por
exemplo, apresenta as reações indicadas na Figura 5.17 (a), de maneira que no ensaio
experimental o elemento estará submetido ao estado de carregamento da Figura 5.17 (b).

Figura 5.17 - (a) Elemento finito com forças aplicadas nos nós e (b) correspondência com o ensaio
experimental de placas sujeitas a esforços de membrana.

a) b)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 137


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

5.7.2 Descrição dos Resultados Experimentais de Xie (2009)

A Tabela 5.3 apresenta os principais resultados obtidos para o ensaio experimental de Xie
(2009), observando-se que as propriedades dos materiais serão descritas detalhadamente na
Tabela 6.5, do item 6.3 do presente trabalho.

Tabela 5.3 - Resumo dos resultados experimentais obtidos por Xie (2009).
PL4 PL1 PL2 PL5 PL3 PL6
fx/v -2,8 -2,0 -1,0 0 1,0 3,0
vcr (MPa) 3,41 3,84 2,36 1,747 1,186 0,754
fxcr(MPa) -9,48 -7,69 -2,38 0 1,18 2,35
vu (MPa) 4,81 4,31 3,21 3,21 3,04 2,47
fxu(MPa) -13,24 -8,66 -3,22 0 3,05 7,36

Conforme pode-se observar pela Tabela 5.3, o painel PL4 apresentou uma relação entre as
forças axiais na direção horizontal e a força cortante numa taxa igual a -2,8. De acordo com
Xie (2009), essa era a máxima taxa que poderia ser aplicada pelo equipamento de ensaio,
tendo-se em vista a qualidade do concreto e a quantidade de armaduras utilizadas. A primeira
fissura foi registrada para uma carga de 3,41 MPa, conforme ilustra a Figura 5.18 (a), e foi
quase paralela à direção de aplicação da força axial de compressão, com uma abertura em
torno de 0,5 mm. Quase ao mesmo tempo surgiu outra fissura paralela à primeira fissura,
porém com uma abertura mais reduzida, em torno de 0,05 mm.

Conforme o carregamento foi sendo aumentado, não se registrou o aparecimento de novas


fissuras, e a maioria das deformações se concentraram na abertura da primeira fissura. O
painel rompeu para a carga de 4,81 MPa pela ruptura da armadura transversal e pelo
escorregamento na fissura, conforme ilustra a Figura 5.18 (b).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 138


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.18 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL4 ensaiado por XIE (2009).

(a) (b)

No painel PL1 a relação entre as forças axiais e as forças cortantes foi -2,0, sendo que as
primeiras fissuras se deram para uma tensão de cisalhamento de 3,84 MPa, conforme ilustra
a Figura 5.19 (a). As múltiplas fissuras apareceram simultaneamente para um ângulo de
inclinação entre 20 e 30o e possuíam abertura em torno de 0,7 mm. Conforme as forças foram
sendo aumentadas, mais fissuras paralelas foram se desenvolvendo, sempre de maneira
distribuída pelo painel. Para a tensão de cisalhamento de 4,31 MPa o painel finalmente
chegou à ruína, tendo-se em vista a ruptura da armadura transversal e o deslizamento das
partes ao longo da fissura crítica, que ao final do processo teve cerca de 1,7 mm de abertura.
A Figura 5.19 (b) ilustra a ruína do painel PL1.

Figura 5.19 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL1 ensaiado por Xie (2009).

(a) (b)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 139


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

No painel PL2 a relação entre as forças axiais e as forças cortantes foi -1,0. As primeiras
fissuras foram verificadas para uma tensão de cisalhamento de 2,07 MPa, com abertura em
torno de 0,1 mm e inclinação de aproximadamente 50o. Acredita-se que essa fissura tenha
sido provocada por momentos acidentais ao invés dos carregamentos intencionais de
membrana. Conforme as tensões foram sendo aumentadas, uma nova fissura com inclinação
de 30o e abertura de 0,1 mm apareceu para uma tensão de cisalhamento em torno de 2,96
MPa, conforme ilustra a Figura 5.20 (a). Com o aumento do carregamento, novas fissuras
paralelas a esta última foram sendo desenvolvidas. A maior fissura foi registrada para a carga
de 2,67 MPa no centro do painel e a mesma continuou a se abrir até que foi registrada a ruína
do painel. O painel PL2 chegou à ruptura para a tensão de cisalhamento de 3,21 MPa, pela
ruptura da armadura transversal. A abertura de fissura antes da ruína foi superior a 1,4 mm e
a inclinação, em torno de 30o. A fissuração no momento da ruína é ilustrada na Figura 5.20
(b).

Figura 5.20 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL2 ensaiado por Xie (2009).

(a) (b)

O painel PL5 foi submetido a cisalhamento puro, e a primeira fissura foi registrada para a
tensão cisalhante de 1,747 MPa, numa inclinação de 35o e abertura em torno de 0,4 mm.
Com o aumento do carregamento, novas fissuras se desenvolveram, porém com um ângulo
em torno de 45o, conforme ilustra a Figura 5.21 (a). Essas fissuras eram paralelas e
acompanhadas de fissuras secundárias. No final do ensaio as fissuras se uniram de maneira a
formar a fissura de ruína ao cisalhamento, para uma tensão em torno de 3,21 MPa e
inclinação de 40o. A ruína, ilustrada na Figura 5.21 (b), mais uma vez foi pela ruptura da
armadura transversal, com uma abertura máxima de fissura em torno de 1,05 mm antes da
ruína.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 140


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 5.21 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL5 ensaiado por Xie (2009).

(a) (b)

No painel PL3 a relação entre as forças axiais e as forças cortantes foi 1,0 e o painel estava
pré-fissurado antes do ensaio, possivelmente por fissuras de retração e momentos acidentais
ocorridos durante a instalação. A abertura dessas fissura era de aproximadamente 0,15 mm,
para uma inclinação em torno de 45o, conforme ilustra a Figura 5.22 (a). Com o aumento do
carregamento, mais fissuras foram se desenvolvendo, sempre para ângulos maiores ou iguais
a 45o. Finalmente, as fissuras se uniram, de maneira a formar uma fissura maior, que
originou a ruína do painel por cisalhamento. A ruína foi registrada para a tensão de
cisalhamento de 3,04 MPa, para uma inclinação de 45o e abertura de 1,1 mm anteriormente à
ruptura, conforme ilustra a Figura 5.22 (b).

Figura 5.22 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL3 ensaiado por Xie (2009).

(a) (b)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 141


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

No painel PL6 a relação entre as forças axiais e as forças cortantes foi 3,0. As primeiras
fissuras foram verificadas nos primeiros estágios de carregamento e eram praticamente
perpendiculares à direção de aplicação das forças axiais. Conforme o carregamento foi sendo
aumentado, Figura 5.23 (a), a inclinação das fissuras, que era de 45o, começou a diminuir.
Finalmente, para a tensão cisalhante de 2,47 MPa foi registrada a ruína do painel, Figura 5.23
(b), pela ruptura da armadura transversal. A abertura de fissura previamente à ruína foi
superior a 1,0 mm e a inclinação da fissura principal foi de 45o. Finalmente, a armadura
longitudinal estava severamente solicitada no momento da ruptura.

Figura 5.23 - (a) Fissuração inicial e (b) ruptura do painel PL6 ensaiado por Xie (2009).

(a) (b)

5.7.3 Descrição das simulações computacionais utilizando ATENA

Uma vez entendido o processo de definição das condições de contorno e dos mecanismos
envolvidos na fissuração e ruína experimental dos painéis, partiu-se para a construção dos
modelos numéricos no programa ATENA 2D. Caso o leitor tenha interesse em se aprofundar
nesse tipo de simulação, utilizando-se elementos simples do tipo Q4, recomenda-se a leitura
dos trabalhos de Xie (2009) e Lee (2009).

De acordo com Lee (2009), na análise numérica de estruturas de concreto é frequentemente


difícil a obtenção do ponto exato de ruína, especialmente se o elemento estrutural apresentar
um modo de colapso dúctil. Essa ambiguidade tem origem em duas razões principais.
Primeiramente, a magnitude do carregamento máximo é dependente do método de solução
numérico adotado. Por exemplo, em algumas situações em que o Método de Newton-

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 142


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Raphson falha para encontrar a solução, o Método do Comprimento de Arco pode se


apresentar eficaz. Em segundo lugar, no modo de colapso dúctil o critério de convergência
não é normalmente satisfeito nos últimos passos de carga aplicados. Isso ocorre quando uma
ruptura localizada acontece, e as tensões que não podem ser absorvidas por essa parte são
redistribuídas para regiões menos danificadas.

Ainda de acordo com Lee (2009), o primeiro problema pode ser resolvido, tomando-se o
máximo nível de carregamento calculado por qualquer método de solução numérica como
sendo a carga de ruína. Por exemplo, se o Método de Controle de Arco fornece uma carga
máxima superior ao mesmo tempo em que o Método de Newton-Raphson não consegue
encontrar uma solução, assume-se que a maior carga fornecida pelo Método do
Comprimento de Arco seja a carga de ruína.

A segunda questão é um pouco mais complicada, uma vez que envolve questões subjetivas
na seleção da carga de ruína. No entanto, esse tipo de problema é mais pronunciado na
análise de sistemas estruturais na qual a ruína local não está diretamente relacionada com a
ruína do sistema. Uma vez que os painéis pertencem a determinado domínio ao invés de um
sistema estrutural, esse não é um problema tão grave. Dessa maneira, a carga de ruína pode
ser selecionada com base no estágio de carregamento que não demanda mudança
significativa nos fatores de convergência.

Xie (2009) simulou numericamente os painéis, ora aqui investigados, utilizando os softwares
Membrane 2000 e Vector2. O pesquisador revela que, para os painéis submetidos à
compressão, o programa Vector 2 fornece previsões superiores àquelas obtidas com o
programa Membrane 2000. No programa Membrane 2000, quando um painel está solicitado
por tensões de cisalhamento superiores a 3,0 MPa, a carga máxima prevista pós-fissuração é
menor do que a carga que propiciou as primeiras fissuras, tal como ocorre no ensaio
experimental com deformações controladas. No caso do programa Vector2, a resistência pós-
fissuração não pode ser obtida quando a mesma é inferior à carga que provocou as primeiras
fissuras, uma vez que a simulação é feita com carregamento controlado.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 143


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

No caso do programa ATENA2D, a ser utilizado na sequência, a aplicação dos


carregamentos é feita por meio de carregamento controlado, de maneira que não será
possível obter cargas de ruptura inferiores às cargas que propiciaram a fissuração. Dessa
maneira, para fins de comparação com os resultados obtidos experimental e numericamente
por Xie (2009), será considerado que a carga de fissuração dos painéis é a carga máxima que
pode ser assumida para os mesmos. A Figura 5.24 ilustra a malha de elementos finitos, isto é,
o elemento único utilizado para modelar os painéis.

Figura 5.24 - Elemento finito utilizado no programa ATENA2D para simular os painéis.

Conforme pode-se observar pela Figura 5.24, o elemento finito possui quatro nós, sendo que
os mesmos são utilizados para se definir os carregamentos e as reações de apoio. Observa-se
que foi adotado um apoio de segundo gênero para o nó 1 e um apoio de primeiro gênero para
o nó 2. A Tabela 5.4 apresenta as coordenadas nodais e suas respectivas restrições, enquanto
a Tabela 5.5 apresenta os carregamentos nodais aplicados para cada situação ensaiada
experimentalmente. A Tabela 5.6, por sua vez, apresenta as definições utilizadas na definição
do modelo constitutivo.

Tabela 5.4 - Coordenadas nodais definidas no programa ATENA2D.


Nó X (m) Y (m) Vinculação
1 0,00 0,00 Restrição em X e Y
2 0,89 0,00 Restrição em Y
3 0,89 0,89 Livre
4 0,00 0,89 Livre

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 144


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Tabela 5.5 - Carregamentos nodais definidos no ATENA2D.


PL4 PL1 PL2 PL5 PL3 PL6
Fx (kN) -1,9 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 1,0
Nó 2
Fy (kN) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Fx (kN) -0,9 -0,5 0,0 0,5 1,0 2,0
Nó 3
Fy (kN) 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5
Fx (kN) 1,9 1,5 1,0 0,5 0,0 -1,0
Nó 4
Fy (kN) -0,5 -0,5 -0,5 -0,5 -0,5 -0,5

Tabela 5.6 - Definição do modelo constitutivo do programa ATENA2D.


Regime Comportamento Modelo
Pre-Peak Response CEB-FIP 90
Post-Peak Response Crush Band (van Mier)
Compressão
Critical Compressive
0,0005 mm
Displacement
Tensile Strenght ft = 0,24.(fc/0,85)(2/3)
Tension Stiffening Não considerado
Tração
Tension Softening Exponencial
Fracture Energy Gf = 0,000025.ft
Biaxial Tension-Compression Interaction Linear
Fissuração Crack Model Rotating Crack Model

Após a definição das propriedades dos materiais, das condições de contorno, dos estados de
carregamento e da malha de elementos finitos, partiu-se para a simulação computacional dos
painéis ensaiados por Xie (2009). A Tabela 5.7 procura apresentar a comparação dos
resultados obtidos por Xie (2009), bem como por meio de simulações, utilizando-se os
programas ATENA, Membrane e Vector2.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 145


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Tabela 5.7 - Resultados de fissuração e ruína para os painéis ensaiados por Xie (2009).
PL4 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 3,41 5,40 6,28 4,51
fx,fissuração -9,48 -15,08 -17,58 -11,43
vúltimo 4,81 4,82 6,28 4,51
fx,último -13,24 -13,59 -17,58 -11,43
PL1 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 3,84 4,29 4,61 3,72
fx,fissuração -7,69 -8,55 -9,22 -6,66
vúltimo 4,81 3,76 4,61 3,72
fx,último -8,66 -7,56 -9,22 -6,66
PL2 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 2,36 3,09 3,19 2,81
fx,fissuração -2,38 -3,12 -3,19 -2,51
vúltimo 3,21 3,09 3,19 2,81
fx,último -3,22 -3,12 -3,19 -2,51
PL5 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 1,747 2,71 2,64 -
fx,fissuração 0 0,00 0,00 -
vúltimo 3,21 2,71 2,64 1,94
fx,último 0 0,00 0,00 0,00
PL3 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 1,186 2,63 2,42 1,34
fx,fissuração 1,180 2,61 2,40 1,21
vúltimo 3,04 2,63 2,42 1,34
fx,último 3,05 2,61 2,40 1,21
PL6 Experimental Membrane Vector2 ATENA
vfissuração 0,754 2,05 2,04 -
fx,fissuração 2,35 6,16 6,18 -
vúltimo 2,47 2,05 2,04 1,90
fx,último 7,36 6,18 6,18 7,04
* Unidades em MPa.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 146


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Conforme pode-se observar pela Tabela 5.7, os programas Vector2 e ATENA não
conseguem obter uma carga de ruína inferior à carga que propiciou a fissuração, uma vez que
o carregamento é controlado. Nesse caso, assume-se que a carga que provocou fissuração é a
carga de ruína para os casos em que não pode ser obtida uma carga superior àquela que
provocou a fissuração. Observa-se que é dificil tomar os resultados após a fissuração, uma
vez que o painel deixa de apresentar tensões uniformes e diferentes valores aparecem nos nós
do elemento de malha adotado.

Verifica-se que o estado de tensão aplicado nos painéis é uniforme até a ocorrência da
fissuração. Após isso, observa-se uma modificação significativa nos níveis de tensão internos
ao elemento de malha. A Figura 5.25 procura apresentar o estado de tensão de cisalhamento
para o Painel PL4, para passos de carga antes e após a ocorrência da fissuração. Conforme
pode-se observar, a fissuração gera um estado de tensão não uniforme no elemento finito.

Figura 5.25 - Painel (a) antes da fissuração e (b) após a fissuração.

(a) (b)

Para algumas situações, foi possível obter a aplicação de carregamentos superiores àqueles
que provocaram a fissuração. No entanto, a interpretação dos resultados é dificultada, tendo-
se em vista a grande variação dos valores de tensão nos nós do elemento de malha, conforme
ilustra a Figura 5.25 (b). Essa situação demonstra o quanto é difícil a interpretação de
resultados provenientes de análises numéricas, especialmente no caso de painéis submetidos
a esforços membranais.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 147


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 148


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6. Resultados experimentais de elementos de membrana


6.1 Abrandamento da resistência à compressão do concreto

De acordo com Diaz (2007), uma das questões mais importantes para o desenvolvimento de
um modelo capaz de simular o comportamento do concreto se fundamenta na escolha
adequada das equações constitutivas. Conforme mencionado, o concreto armado apresenta um
comportamento resistente, extremamente complexo, não só pelo concreto, mas também pela
interação deste com as armaduras. Por esse motivo, a maioria dos modelos constitutivos
desenvolvidos até o presente momento possuem um forte embasamento experimental.

A previsão de comportamento de elementos estruturais que utiliza a “Analogia de Treliça”


normalmente conduz a respostas superestimadas em relação à resistência de elementos
estruturais à força cortante e ao momento torçor. Em alguns casos o erro pode até exceder
50%, como é o caso de algumas paredes de cisalhamento (shear walls). Essa dificuldade em
prever o comportamento ao cisalhamento vem desafiando pesquisadores desde o começo do
século XX e até hoje a discussão permanece em aberto.

De acordo com Hsu (1993), as primeiras informações significativas em relação a esse mistério
foram fornecidas por Robinson e Demorieux em 1972. Os referidos pesquisadores
perceberam que um elemento de membrana em concreto armado, submetido a tensões de
cisalhamento puro, é na realidade o mesmo elemento estrutural submetido a tensões biaxiais
de tração e compressão para um ângulo de 45o.

Imaginando a ação do cisalhamento como um problema bidimensional, Robinson e


Demorieux descobriram que a resistência à compressão em uma direção é reduzida pela
fissuração pela tração na direção perpendicular. Aplicando esse efeito de abrandamento
(“softnening”) para as escoras de concreto de oito vigas de seções I, ensaiadas
experimentalmente, os referidos pesquisadores foram capazes de explicar o equilíbrio de
tensões de acordo com a “Analogia de Treliça”.

Aparentemente, o erro cometido na aplicação “Analogia de Treliça” até o ano de 1972 estava
no fato de se considerar até então a relação tensão versus deformação do concreto à
compressão, a partir dos ensaios clássicos de corpos de prova cilíndricos, sem considerar o

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 149


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

efeito bidimensional de abrandamento (“softening”). Infelizmente, tendo-se em vista a


dificuldade técnica de se ensaiar biaxialmente painéis de concreto, os ensaios de Robinson e
Demorieux não foram suficientes para levantar as variáveis que governam o problema do
abrandamento.

O efeito de abrandamento só pôde ser efetivamente avaliado, quando Vecchio e Collins


(1981) desenvolveram uma série de ensaios em um equipamento especial, denominado “shear
rig”, que foi especialmente projetado para o ensaio biaxial de grandes painéis de concreto
armado, conforme ilustra a Figura 6.1. Baseando-se no ensaio de 17 painéis quadrados de 89
cm de largura e 7 cm de espessura, os pesquisadores propuseram um coeficiente de
abrandamento (“softening coefficient”), governado pela relação entre a deformação principal
de tração e a deformação principal de compressão.

Figura 6.1 – Equipamento “Shear Rig”, especialmente desenvolvido para o ensaio de elementos de
membrana em concreto armado.

(Fonte: Xie (2009)).

A descoberta e a quantificação do efeito de abrandamento das escoras de concreto


comprimido em função de tensões transversais de tração possibilitaram um avanço
significativo no entendimento da resistência de peças de concreto estrutural, sujeitas às
tensões de cisalhamento (cortante e torçor). Atualmente, equipamento semelhante ao “Shear
Rig”, inicialmente desenvolvido, já pode ser encontrado no Japão, Estados Unidos e Canadá.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 150


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

6.2 Obtenção da relação constitutiva com abrandamento

Conforme pode-se observar pela Figura 6.1, o equipamento “Shear Rig” consiste de um
pórtico de aço com três barras rígidas e 37 macacos hidráulicos com 100 kN de capacidade à
tração. Basicamente, os corpos de prova são colocados com um ângulo de 45o em relação à
direção dos macacos. Em seguida, os painéis são tracionados ou comprimidos nas direções
vertical e horizontal. Dessa maneira, por meio da combinação das forças aplicadas nos
macacos, podem-se obter combinações de forças de cisalhamento, forças de tração e forças de
compressão atuando nos painéis (fx, fy e νxy). Essas forças são aplicadas incrementalmente e
registradas até que se obtenha a ruína dos painéis.

Figura 6.2 – Relação constitutiva do concreto à compressão, considerando-se o efeito de


abrandamento.

(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

O procedimento descrito anteriormente possibilita a obtenção de uma relação constitutiva para


o concreto à compressão, considerando-se o efeito de abrandamento, conforme ilustra a
Figura 6.2. De acordo com Vecchio e Collins (1986) e Hsu (1993), a obtenção da relação
constitutiva do concreto, incluindo-se o efeito de abrandamento, pode ser feita da seguinte
maneira:

• nos ensaios, os valores de tensão aplicados (fx, fy e νxy) são conhecidos e registrados em
um Círculo de Mohr;
• para cada estágio de carregamento, as deformações médias são medidas em quatro
direções (εx, εy, ε1, ε2), de maneira que um Círculo de Mohr, exclusivo para deformações,
pode ser desenhado. Na realidade, apenas três deformações seriam necessárias para a

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 151


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

obtenção do referido Círculo de Mohr; a quarta deformação é redundante e visa apenas


aumentar a precisão do processo. Do Círculo de Mohr desenhado para as deformações,
podem-se obter a deformação principal εd e o ângulo de inclinação das escoras comprimidas;
• a partir das deformações médias registradas nas armaduras (εx e εy), as tensões médias nas
mesmas armaduras (ρsxfsx e ρsyfsy) podem ser determinadas por meio das relações
constitutivas do aço. A partir do equilíbrio de tensões nas direções longitudinal e transversal,
podem-se obter as tensões no concreto para as referidas direções: σ1 e σ2. Utilizando-se as
tensões σ1 e σ2, bem como a tensão νxy, um Círculo de Mohr para as tensões no concreto pode
ser desenhado, obtendo-se, inclusive, a tensão principal σd;
• a partir da deformação εd e da tensão σd, um par de pontos é obtido dentro da relação
constitutiva com abrandamento. Repetindo o procedimento descrito para todos os estágios de
carga, uma relação constitutiva completa, incluindo-se o efeito de abrandamento, pode ser
obtida.

Figura 6.3 – Círculos de Mohr para tensões e deformações em elemento de concreto armado.

(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 152


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O procedimento anterior basicamente deu início ao MCFT proposto por Vecchio e Collins
(1986). Basicamente, observa-se que a obtenção da relação constitutiva do concreto,
incluindo-se o efeito de abrandamento, consiste na divisão adequada das forças a serem
resistidas pelo aço e pelo concreto em um elemento estrutural. A Figura 6.3 apresenta de
maneira simplificada os Círculos de Mohr, descritos no procedimento anterior.

6.3 Principais ensaios experimentais realizados

A Tabela 6.1 apresenta uma série de ensaios realizados na Universidade de Toronto por
Collins et alli (1985), em que podem-se visualizar as características dos elementos ensaiados
e a solicitação aplicada. Basicamente foram ensaiados painéis quadrados de concreto armado
com 89 cm de largura e 7 cm de espessura, com resistência à compressão que variava entre 11
a 31 MPa. Na maioria dos casos o carregamento foi aplicado monotonicamente até se atingir
o esgotamento (esmagamento do concreto ou ruptura da armadura). No entanto, os elementos
PV4, PV5 e PV6 foram submetidos a ciclos de carga e descarga com valores inferiores
àqueles capazes de provocar a ruptura, para posteriormente se aplicar o carregamento de
esgotamento.

Tabela 6.1 – Resultados experimentais obtidos por Collins et alli (1985).


Carga φx φy ρx ρy fc εo fyx fyy τfissuração τruina
Painel -3
(fxy,fx, fy) (mm) (mm) (%) (%) (MPa) (10 ) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
PV1 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,68 34,5 2,20 483 483 2,21 >8,02
PV2 1:0:0 2,03 2,03 0,18 0,18 23,5 2,25 428 428 1,10 1,16
PV3 1:0:0 3,30 3,30 0,48 0,48 26,6 2,30 662 662 1,66 3,07
PV4 1:0:0 3,45 3,45 1,06 1,06 26,6 2,50 242 242 1,79 2,89
PV5 1:0:0 5,79 5,79 0,74 0,74 28,3 2,50 621 621 1,73 > 4,24
PV6 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,79 29,8 2,50 266 266 2,00 4,55
PV7 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,79 31,0 2,50 453 453 1,93 > 6,81
PV8 1:0:0 5,44 5,44 2,62 2,62 29,8 2,50 462 462 1,73 > 6,67
PV9 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,79 11,6 2,80 455 455 1,38 > 3,74
PV10 1:0:0 6,35 4,70 1,79 1,00 14,5 2,70 276 276 1,86 3,97
PV11 1:0:0 6,35 5,44 1,79 1,31 15,6 2,60 235 235 1,66 3,56
PV12 1:0:0 6,35 3,18 1,79 0,45 16,0 2,50 469 469 1,73 3,13
PV13 1:0:0 6,35 0,00 1,79 0,00 18,2 2,70 248 0 1,73 2,01
PV14 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,79 20,4 2,23 455 455 1,93 > 5,24
PV15 0:-1:0 4,09 4,09 0,74 0,74 21,7 2,00 255 255 - > 19,6
PV16 1:0:0 4,09 4,09 0,74 0,74 21,7 2,00 255 255 2,07 4,12
PV17 0:-1:0 4,09 4,09 0,74 0,74 18,6 2,00 255 255 - 21,30
PV18 1:0:0 6,35 2,67 1,79 0,32 19,5 2,00 431 412 2,00 > 3,04
PV19 1:0:0 6,35 4,01 1,79 0,71 19,0 2,20 458 299 2,07 3,95

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 153


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

PV20 1:0:0 6,35 4,47 1,79 0,89 19,6 2,15 460 297 2,21 4,26
PV21 1:0:0 6,35 5,41 1,79 1,30 19,5 1,80 458 302 2,35 5,03
PV22 1:0:0 6,35 5,87 1,79 1,52 19,6 1,80 458 420 2,42 6,07
PV23 1:-0,39:-0,39 6,35 6,35 1,79 1,79 20,5 2,00 518 518 3,73 8,87
PV24 1:-0,83:-0,83 6,35 6,35 1,79 1,79 23,8 2,00 492 492 4,97 > 7,94
PV25 1:-0,69:-0,69 6,35 6,35 1,79 1,79 19,2 1,90 466 466 4,14 9,12
PV26 1:0:0 6,35 4,70 1,79 1,01 21,3 1,80 456 463 2,00 5,41
PV27 1:0:0 6,35 6,35 1,79 1,79 20,5 1,90 442 442 2,04 6,35
PV28 1:0,32:0,32 6,35 6,35 1,79 1,79 19,0 1,85 483 483 1,66 5,80
PV29 1:-0,29:-0,29 6,35 4,47 1,79 0,89 21,7 1,80 441 324 2,21 5,87
PV30 1:0:0 6,35 4,70 1,79 1,01 19,1 1,90 437 472 1,55 > 5,13
Observações: Painéis quadrados de 89 cm de largura e 7 cm de espessura, diâmetro máximo do agregado de 6 mm e
módulo de elasticidade das armaduras de 200 GPa.

Bhide e Collins (1989) também ensaiaram elementos de membrana em concreto armado


retangulares com largura de 79 cm e espessura de 7 cm. No entanto, as armaduras foram
dispostas em uma única direção, sendo que na direção transversal a tração é resistida
exclusivamente pelo concreto. As características dos elementos ensaiados são apresentadas
na Tabela 6.2.

Tabela 6.2 – Resultados experimentais obtidos por Bhide e Collins (1989).


Carga φx φy ρx ρy fc εo fyx fyy τfissuração τruina
Painel
(fxy,fx, fy) (mm) (mm) (%) (%) (MPa) (10-3) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
PB11 1:0:0 6,0 0,0 1,09 0,0 25,90 2,00 433 0,0 1,19 1,27
PB12 1:0:0 6,0 0,0 1,09 0,0 23,10 1,50 433 0,0 1,32 1,53
PB4 1:1:0 6,0 0,0 1,09 0,0 16,40 1,90 423 0,0 0,81 1,16
PB6 1:1:0 6,0 0,0 1,09 0,0 17,70 1,90 425 0,0 0,85 1,15
PB7 1:1,9:0 6,0 0,0 1,09 0,0 20,20 2,20 425 0,0 0,74 0,86
PB8 1:3:0 6,0 0,0 1,09 0,0 20,40 2,00 425 0,0 0,52 0,79
PB10 1:5,9:0 6,0 0,0 1,09 0,0 24,00 1,90 433 0,0 0,31 0,56
PB15 1:0:0 6,0 0,0 2,02 0,0 38,40 3,20 485 0,0 1,80 1,96
PB16 1:2:0 6,0 0,0 2,02 0,0 41,70 3,20 502 0,0 0,98 1,45
PB14 1:3:0 6,0 0,0 2,02 0,0 41,10 2,80 489 0,0 0,78 1,54
PB17 1:5,9:0 6,0 0,0 2,02 0,0 41,60 3,10 502 0,0 0,54 1,22
PB18 1:0:0 6,0 0,0 2,20 0,0 25,30 2,20 402 0,0 1,62 1,70
PB19 1:1:0 6,0 0,0 2,20 0,0 20,00 1,90 411 0,0 1,23 1,28
PB20 1:2:0 6,0 0,0 2,20 0,0 21,70 1,90 424 0,0 0,94 1,42
PB28 1:2:0 6,0 0,0 2,20 0,0 22,70 2,00 426 0,0 0,84 1,53
PB21 1:3,1:0 6,0 0,0 2,20 0,0 21,80 1,80 402 0,0 0,73 1,42
PB22 1:6,1:0 6,0 0,0 2,20 0,0 17,60 2,00 433 0,0 0,44 1,03
PB29 1:2:0 6,0 0,0 2,02 0,0 41,60 2,60 496 0,0 0,75 1,49
PB30 1:3:0 6,0 0,0 2,02 0,0 40,40 2,60 496 0,0 0,74 1,48
PB31 1:5,9:0 6,0 0,0 2,02 0,0 43,40 3,00 496 0,0 0,44 1,15
Observações: Painéis quadrados de 89 cm de largura e 7 cm de espessura, diâmetro máximo do agregado de 9,5
mm e módulo de elasticidade das armaduras de 200 GPa.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 154


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Vecchio et alli (1994) ensaiaram elementos de membrana com concreto de alta resistência,
com resistência à compressão variando entre 43 a 72 MPa, conforme ilustra a Tabela 6.3.
Novamente foram ensaiadas placas quadradas com 89 cm de largura e 7 cm de espessura.
Basicamente, os elementos foram submetidos a solicitações monotônicas de cisalhamento
puro (PHS1, PHS2, PHS3, PHS8, PA1, PA2) e combinação cisalhamento-tração (PHS4,
PHS5, PHS10) e cisalhamento-compressão (PHS6, PHS7, PHS9).

Tabela 6.3 – Resultados experimentais obtidos por Vecchio et alli (1994).


Carga φx φy ρx ρy fc εo fyx fyy τfissuração τruina
Painel -3
(fxy,fx, fy) (mm) (mm) (%) (%) (MPa) (10 ) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
PHS1 1:0:0 8,00 5,72 3,23 0,00 72,20 2,68 606 521 2,54 2,95
PHS2 1:0:0 8,00 5,72 3,23 0,41 66,10 2,48 606 521 1,94 6,66
PHS3 1:0:0 8,00 5,72 3,23 0,82 58,40 2,44 606 521 2,28 8,19
PHS4 1:0,25:0,25 8,00 5,72 3,23 0,82 68,50 2,60 606 521 2,39 6,91
PHS5 1:0,25:0,25 8,00 5,72 3,23 0,41 52,10 2,58 606 521 1,62 4,81
PHS6 1:-0,25:-0,25 8,00 5,72 3,23 0,41 49,70 2,25 606 521 2,25 9,89
PHS7 1:-0,25:-0,25 8,00 5,72 3,23 0,82 53,60 2,10 606 521 2,25 10,26
PHS8 1:0:0 8,00 5,72 3,23 1,24 55,90 2,17 606 521 2,15 10,84
PHS9 1:-0,25:-0,25 8,00 5,72 3,23 0,41 56,00 2,68 606 521 2,22 9,37
PHS10 1:0,25:0,25 8,00 5,72 3,23 1,24 51,40 2,45 606 521 2,13 8,58
PA1 1:0:0 5,72 5,72 1,65 0,82 49,90 2,09 522 522 2,19 6,34
PA2 1:0:0 5,72 5,72 1,65 0,82 43,00 1,99 522 522 1,88 6,22
Observações: Painéis quadrados de 89 cm de largura e 7 cm de espessura, diâmetro máximo do agregado de 10 mm e
módulo de elasticidade das armaduras de 200 GPa.

Pang e Hsu (1995) submeteram dez painéis de concreto armado a carregamentos de


cisalhamento puro e, inclusive, calcularam as aberturas de fissuras para as cargas de serviço
(metade da carga de ruína). Os painéis eram quadrados com 13,97 cm de largura e possuíam
17,8 cm de espessura. A Tabela 6.4 apresenta os resultados obtidos dos ensaios
experimentais.

Tabela 6.4 – Resultados experimentais obtidos por Pang e Hsu (1995).


Carga φx φy ρx ρy fc εo τruina
Painel -3
fyx (MPa) fyy (MPa)
(fxy,fx, fy) (mm) (mm) (%) (%) (MPa) (10 ) (MPa)
A1 1:0:0 10 10 0,596 0,596 42,2 2,13 444 444 2,27
A2 1:0:0 15 15 1,193 1,193 41,2 2,10 462 462 5,37
A3 1:0:0 20 20 1,789 1,789 41,6 1,94 446 446 7,65
A4 1:0:0 25 25 2,982 2,982 42,4 2,20 469 469 11,31
B1 1:0:0 15 10 1,193 0,596 45,2 2,15 462 444 3,96
B2 1:0:0 20 15 1,789 1,193 44,0 2,35 446 462 6,13
B3 1:0:0 20 10 1,789 0,596 44,9 2,15 446 444 4,35

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 155


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

B4 1:0:0 25 10 2,982 0,596 44,7 2,05 469 444 5,06


B5 1:0:0 25 15 2,982 1,193 42,8 2,20 469 462 7,15
B6 1:0:0 25 20 2,982 1,789 42,9 2,20 469 446 9,14
Observações: Painéis quadrados de 140 cm de largura e 17,8 cm de espessura, diâmetro máximo do agregado de 19 mm e módulo de
elasticidade das armaduras de 210 GPa.

Mais recentemente, Xie (2009) ensaiou seis painéis submetidos a diferentes combinações de
força axial e força cortante. A relação entre a força normal aplicada e a força cortante foi o
único parâmetro estudado e a quantidade de armaduras foi escolhida, de maneira a simular o
comportamento de vigas, isto é, a armadura longitudinal era bem mais expressiva que a
armadura transversal. A Tabela 6.5 apresenta um resumo dos resultados obtidos.

Tabela 6.5 – Resultados experimentais obtidos por Xie (2009).


Carga φx φy ρx ρy fc εo fyx fyy τfissuração τruina
Painel -3
(fxy,fx, fy) (mm) (mm) (%) (%) (MPa) (10 ) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
PL4 -2,8:1:0 8,0 4,0 1,649 0,1934 43,1 2,31 604 529 3,41 4,81
PL1 -2,0:1:0 8,0 4,0 1,571 0,1842 38,5 1,89 604 529 3,84 4,31
PL2 -1,0:1:0 8,0 4,0 1,582 0,1855 38,2 2,10 604 529 2,36 3,21
PL5 0:1:0 8,0 4,0 1,575 0,1847 38,1 1,89 604 529 1,747 3,21
PL3 1:1,0:0 8,0 4,0 1,571 0,1842 42,0 2,27 604 529 1,186 3,04
PL6 3:1:0 8,0 4,0 1,584 0,1857 43,5 2,15 604 529 0,754 2,47
Observações: Painéis quadrados de 89 cm de largura e 7 cm de espessura, diâmetro máximo do agregado de 10,0 mm
e módulo de elasticidade das armaduras de 200 GPa.

Além dos resultados apresentados, outros ensaios também foram realizados por outros
pesquisadores com o intuito de se obter o comportamento de elementos de concreto armado
ao cisalhamento. Tendo-se em vista o registro apenas dos resultados experimentais mais
expressivos, recomenda-se a leitura dos trabalhos de Yamaguchi et alli (1988), Andre (1987)
e Zhang e Hsu (1998) para a obtenção de resultados complementares.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 156


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

7. Compression Field Theory (CFT)


7.1 Introdução

A segurança de construções complexas, tais como plataformas off-shore, usinas nucleares,


edifícios esbeltos e vigas de grandes pontes, dependem basicamente da habilidade do
engenheiro em entender como tais estruturas se comportarão mediante ações extremas,
aplicadas pelo meio ambiente e pelo homem.

De maneira a facilitar o processo de entendimento dessas complexas estruturas, normalmente


se admite que o todo seja formado por um conjunto de elementos simples cujo
comportamento físico seja bem conhecido. Assim, a interação entre as respostas obtidas para
os diversos elementos isolados pode fornecer uma resposta racional e bastante precisa para o
todo em função da discretização empregada.

Dentro desse panorama, o presente capítulo tem por objetivo analisar o comportamento de
elementos retangulares em concreto estrutural, submetidos no seu próprio plano à ação de
força cortante e força axial. Apesar de esses elementos, denominados de elementos de
membrana, serem utilizados para modelar os mais complexos tipos de estruturas, essa análise
não é tão trivial como aparenta a princípio.

Anos de prática profissional têm atestado que a formulação existente para a análise e
dimensionamento à flexão simples é praticamente consensual e apresenta uma boa
performance quando se procura confrontar resultados teóricos com resultados experimentais.
O mesmo não pode ser dito sobre as teorias existentes para o dimensionamento e
principalmente a análise de estruturas sujeitas à força cortante. Observa-se uma falta de
consenso quanto ao melhor modelo e com frequência discrepância entre as previsões dos
modelos teóricos e os resultados obtidos experimentalmente.

A determinação das parcelas efetivas que cabem ao concreto e às armaduras na contribuição


para resistência de uma seção sujeita à força cortante tem intrigado pesquisadores há mais de
um século. Fatores como intertravamento dos grãos dos agregados, efeito pino exercido pela
armadura longitudinal, tensões transversais de tração atuantes nas escoras, possibilidade de

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 157


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

transmissão de compressão entre as faces de fissuras, entre outros efeitos, tornam o problema
extremamente complexo.

Entre os vários modelos existentes, observa-se que o modelo denominado de "Teoria do


Campo de Compressão" ("Compression Field Theory" ou simplesmente "CFT"), introduzido
por Vecchio e Collins na década de 1980, ganhou grande aceitação e possibilitou a obtenção
de um método um pouco mais preciso para a determinação da resistência à força cortante de
vigas em concreto armado e protendido.

A Teoria do Campo de Compressão foi desenvolvida a partir do modelo de treliça com


ângulo variável e faz uma analogia entre as vigas de concreto armado e as vigas metálicas de
seção esbelta. Como no caso do modelo de treliça convencional, o modelo de treliça com
ângulo variável associa a zona de concreto comprimido e a armadura longitudinal tracionada
pela flexão aos banzos superiores e inferiores de uma treliça, respectivamente. Os estribos,
por sua vez, atuam como membros verticais tracionados, enquanto o concreto comprimido
entre as fissuras inclinadas da alma representam as diagonais de uma treliça.

O nome "Compression Field Theory" é baseado em um problema análogo de resistência pós-


flambagem que ocorre na alma de vigas metálicas de parede fina. Nessa vigas, após a
flambagem da alma pela compressão diagonal causada pelo cisalhamento, verifica-se que a
alma não é capaz de suportar mais nenhuma tensão de compressão. A partir desse momento,
observa-se que o cisalhamento passará a ser resistido por um campo diagonal de tração,
conforme ilustra a Figura 7.1.

Figura 7.1 - Campo diagonal de tração, verificado em vigas metálicas após flambagem da alma.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 158


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

A abordagem do problema anterior no campo das estruturas metálicas é conhecida como


"Tension Field Theory" e, de maneira inversa, o problema se repete no caso de vigas de
concreto sujeitas à força cortante. No caso das vigas em concreto armado, observa-se que,
após a fissuração diagonal, o cisalhamento não pode ser mais resistido por tração diagonal,
sendo que um campo de compressão diagonal passa a resistir ao cisalhamento.

Enquanto os métodos convencionais, baseados no modelo de treliça, utilizam um ângulo de


inclinação fixo de 45o para as diagonais comprimidas (Modelo de Cálculo I da NBR6118, por
exemplo), assume-se que na "Compression Field Theory" o referido ângulo possa ser variável
(Modelo de Cálculo II da NBR6118). Por esse motivo, o método também é conhecido como
"Variable Angle Truss Model".

Na "Compression Field Theory", o efeito negativo das tensões transversais de tração


existentes nas escoras (abrandamento) também é levado em conta, bem como a influência
direta da força cortante no dimensionamento das armaduras longitudinais.

7.2 Conceitos gerais

De maneira a se entender a complexidade envolvida na análise de resistência de uma peça


sujeita à força cortante, considerem-se as trajetórias das tensões de compressão de uma viga,
sujeita a momento fletor (M), força normal (N) e força cortante (V), conforme ilustrado na
Figura 7.2 (b).

Figura 7.2 - Viga em concreto armado, sujeita a momento, força normal e força cortante: (a) seção
transversal, (b) trajetórias das tensões principais de compressão, (c) deformações longitudinais, (d)
tensões de cisalhamento e (e) tensões longitudinais.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 159


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Para qualquer seção 1-1, a intensidade e a direção das tensões principais de compressão e das
deformações principais de compressão variarão ao longo da altura da seção transversal
(Figura 7.2(c)). Para a face inferior, a inclinação das tensões será de 90o, enquanto para o topo
da seção a inclinação será mínima.

As tensões de cisalhamento também variarão ao longo da altura da seção transversal,


conforme ilustra a Figura 7.2 (d). Para um pequeno elemento A, situado em uma altura y, as
tensões, as deformações e os Círculos de Mohr correspondentes são ilustrados na Figura 7.3.
Observa-se que o concreto é assumido como não tendo resistência à tração e, adicionalmente,
assume-se que as direções das tensões principais e das deformações principais sejam
coincidentes.

Figura 7.3 - Círculo de Mohr para tensões e deformações no elemento A.

Para uma análise adequada, para cada ponto situado ao longo da altura da seção transversal,
três parâmetros precisam ser conhecidos. Esses parâmetros podem ser considerados, por
exemplo, como as deformações principais ε1 e ε2 e o ângulo θ. Adicionalmente, as relações
constitutivas do concreto e das armaduras também precisam ser conhecidas. Com esses
valores, pode-se calcular a tensão principal f2, assumindo-se que a tensão principal de tração
f1 seja nula. Assim, a tensão normal fcx e a tensão tangencial v são calculadas para todos os
pontos ao longo da altura da seção.

A tensão na armadura longitudinal (fs) pode ser calculada, a partir da deformação do aço (εsx),
assumindo-se que as armaduras suportarão apenas forças axiais. Dessa maneira, as
distribuições de tensões normais e cisalhantes ao longo da seção podem ser obtidas conforme
ilustram as Figuras 7.3 (d) e (e). Integrando-se essas tensões ao longo da seção e

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 160


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

multiplicando-se as mesmas pela largura da seção transversal, as resultantes N, M e V podem


ser obtidas.

A partir da deformação na direção transversal (εt), pode-se determinar a tensão de tração na


armadura transversal (fv), observando-se que a tração atuante nessa armadura transversal
(estribo) deve equilibrar a tensão transversal de compressão atuante no concreto (f2) ao longo
de uma região de contribuição (s), conforme ilustra a Figura 7.4.

Figura 7.4 - Equilíbrio entre tensão de tração nos estribos e tensão de compressão nas escoras.

A distribuição das deformações deve ser compatível com a geometria dos deslocamentos.
Dessa maneira, com a hipótese usual de que seções planas permanecerão planas, as
distribuições de ε1, ε2 e θ podem ser tais que a deformação longitudinal correspondente εx
varie linearmente ao longo da altura da seção transversal, conforme ilustrado na Figura 7.2
(c). Evidentemente, assumir valores de ε1, ε2 e θ, para obter tal distribuição linear de
deformações longitudinais, é tarefa extremamente difícil.

Tendo-se em vista o grande número de incógnitas envolvidas, a solução direta do problema


não é possível, sendo que um procedimento iterativo de tentativa e erro deve ser empregado
com as hipóteses simplificadoras, comentadas anteriormente. Dois parâmetros que podem ser
inicialmente assumidos referem-se à distribuição de tensões de cisalhamento e à distribuição
das deformações longitudinais, de maneira que podem-se obter os valores de v e εx para todos
os pontos da seção. Tomando-se valores testes para um terceiro parâmetro, tal como ε1, e
realizando-se sucessivas iterações de maneira a satisfazer o equilíbrio, compatibilidade de
deformações e relações constitutivas, valores apropriados de fcx e v para o elemento A podem
ser encontrados.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 161


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

7.3 Equações de equilíbrio

Para se obter as equações de equilíbrio para o problema, considere-se a viga contínua,


ilustrada na Figura 7.5.

Figura 7.5 - Diagramas de momento fletor e força cortante para viga contínua sujeita a carregamento
uniformemente distribuído.

Considerando-se agora a análise do equilíbrio na seção em que o momento fletor é nulo (M =


0), pode-se obter o esquema ilustrado na Figura 7.6.

Figura 7.6 - Análise do equilíbrio para seção em que M = 0.

Para a Figura 7.6, o parâmetro D representa a força resultante da tensão principal de


compressão (f2). Por outro lado, o parâmetro Nv representa a projeção horizontal da resultante
D, que por sua vez ocasiona um esforço axial de compressão sobre a seção transversal. As
seguintes relações podem ser escritas:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 162


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

D = V / sen θ (Equação 7.1)

N v = D. cos θ (Equação 7.2)

Substituindo-se a Equação (7.1) na Equação (7.2), tem-se que:


V V (Equação 7.3)
N v = D. cos θ = . cos θ =
sen θ tg θ

Caso não exista esforço axial aplicado sobre a seção transversal, o que é normalmente o caso
geral, a força de tração na armadura longitudinal deverá equilibrar Nv. Dessa maneira,

V
N v = Asl f l − =0
tg θ

V (Equação 7.4)
Nv = = Asl f l
tg θ

A "Teoria do Campo de Compressão" faz a hipótese de que as tensões de cisalhamento são


uniformemente distribuídas sobre uma área cuja largura e profundidade efetiva são iguais a bw
e jd, respectivamente. Assim, a tensão principal de compressão (f2) pode ser obtida da
seguinte maneira:

D V
f2 = =
( jd ). cos θ .bw ( jd ). cos θ .senθ .bw

V  1  (Equação 7.5)
f2 =  
bw ( jd )  cos θ .sen θ 

Observando-se que
 1   sen 2θ + cos 2 θ   senθ cos θ   1 
  =   =  +  =  tan θ + 
 cos θ .sen θ   cos θ .sen θ   cos θ senθ   tan θ 

Tem-se que
V  1  (Equação 7.6)
f2 =  tan θ + 
bw ( jd )  tan θ 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 163


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Uma equação adicional de equilíbrio pode ser obtida, a partir da força de tração atuante nos
estribos com a projeção vertical da força de compressão atuante nas diagonais de concreto
comprimido. O equilíbrio vertical da Figura 7.4 exige que

Av f v = ( f 2 .senθ ).s.senθ .bw

Av f v = f 2 .sen 2θ .s.bw

 Av f v  (Equação 7.7)
 = f 2 .sen θ .bw
2

 s 

Substituindo-se a Equação (7.5) na Equação (7.7), pode-se isolar a força cortante V, conforme
a seguir:

 Av f v 
 = f 2 .sen θ .bw
2

 s 

 Av f v  V  1 
 =  .sen 2θ .bw
 s  bw ( jd )  cos θ .sen θ 
 Av f v  V .tgθ (Equação 7.8)
 =
 s  ( jd )

As Equações (7.4), (7.6) e (7.8) constituem as equações de equilíbrio para o problema de


força cortante, aplicada em uma seção transversal de viga. Conforme pode-se observar pelas
referidas equações, os valores de f2, fl , fv dependem da força cortante (V) e do ângulo de
inclinação das escoras (θ), isto é:

f 2 , f l , f v = f (V , θ ) (Equação 7.9)

Logo, pela Equação (7.9) observa-se a existência de apenas três equações de equilíbrio para
quatro incógnitas. Ritter e Mörsch, por volta de 1900, já haviam comentado sobre a
dificuldade de se obter θ, a partir do equilíbrio e, por isso, sugeriram a utilização de um valor
constante de 45o, de maneira a facilitar o problema. Apesar de vários códigos adotarem por
comodidade a adoção de θ = 45o, diversos ensaios experimentais demonstraram que o ângulo
de inclinação das escoras pode variar entre 25 e 65o.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 164


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Geralmente, se a rigidez na direção longitudinal (ρl.El.Al) for maior do que a rigidez na


direção transversal (ρt.Et.At), o ângulo de inclinação das escoras será inferior a 45 o. Por outro
lado, se a rigidez na direção transversal for maior do que a rigidez na direção longitudinal, o
ângulo de inclinação será maior do que 45o.

7.4 Equação adicional (compatibilidade de deformações)

Para se resolver a questão referente ao maior número de incógnitas do que equações


disponíveis, Mitchell e Collins (1974) desenvolveram a "Compression Field Theory", a partir
das observações de Wagner (1929) na "Tension Field Theory", sendo que a estratégia para
superar o problema consistiu na introdução de uma equação adicional, apresentada a seguir:

ε x − ε 2 ε1 − ε t ε1 − ε t ε x − ε t (Equação 7.10)
tan 2 θ = = = =
ε t − ε 2 ε1 − ε x ε t − ε 2 ε1 − ε x

A Equação (7.10) também pode ser escrita de maneira alternativa, objetivando facilitar o
cálculo da deformação transversal εt:

ε 1 + ε 2 . tan 2 θ (Equação 7.11)


εt =
1 + tan 2 θ

A determinação do ângulo θ é feita, assumindo-se que a direção das tensões principais e a


direção das deformações principais são coincidentes, o que possibilita obter uma equação de
compatibilidade a partir do Círculo de Mohr das Deformações. Observando do Círculo de
Mohr, apresentado na Figura 7.3, a deformação principal de tração atuante no concreto será
pela seguinte equação de compatibilidade:

ε x + ε t = ε1 + ε 2
ε1 = ε x + ε t − ε 2 (Equação 7.12)

Adicionalmente, do Círculo de Mohr pode-se obter a seguinte relação para as deformações


de cisalhamento:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 165


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

2.(ε x − ε 2 ) (Equação 7.13)


γ =
tgθ

7.5 Abrandamento da resistência à compressão das escoras

Além das equações de equilíbrio e das equações de compatibilidade, a "Teoria do Campo de


Compressão" requer as equações constitutivas do aço e do concreto utilizados. A curva tensão
versus deformação do concreto nas diagonais comprimidas é semelhante àquela apresentada
na Figura 7.7. Essa figura demonstra que a resistência à compressão não é dada pela mesma
curva obtida do ensaio de cilindros à compressão simples.

Figura 7.7 - Efeito da atuação de tensões transversais na resistência à compressão.

Na realidade, um cilindro submetido à compressão simples se deforma transversalmente


unicamente pelo efeito de Poisson e essa deformação transversal é bem inferior àquela
deformação principal observada em diagonais comprimidas de concreto solicitadas por tração
e compressão.

Se um estado biaxial é aplicado, ocorrerá mudança na resistência à compressão aparente. A


atuação de compressão lateral impede a abertura de fissuras e aumenta a resistência, enquanto
a atuação de tração lateral ajuda as fissuras a se abrirem e leva à diminuição da resistência à
compressão. Para a "Compression Field Theory", a relação constitutiva do concreto à
compressão pode ser assumida como:

  ε   ε 2  (Equação 7.14)
f 2 = f 2 max  2 2'  −  2'  
  εc   εc  
 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 166


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Em que
f c' (Equação 7.15)
f 2 max = ≤ f c'
0,34.ε 1
0,8 −
ε c'
7.6 Parcelas de contribuição do concreto e do aço para força cortante

Antes da "Compression Field Theory", acreditava-se que a força cortante era absorvida pelas
tensões principais de compressão (f2) e pelos tensões de tração atuantes nos estribos (fv).
Mitchell e Collins (1974) observaram que, antes da fissuração do concreto, o cisalhamento na
alma de uma viga é na realidade combatido igualmente pelas tensões principais de tração (f1)
e pelas tensões principais de compressão (f2), conforme ilustra a Figura 7.7. Após a
fissuração, o concreto não pode mais suportar tração (f1 = 0) e, somente a partir daí, a força
cortante passará a ser combatida pelos estribos e pelas tensões principais de compressão.

A capacidade de contribuição do concreto à força cortante tem sido tema de intensa discussão
no meio científico e acredita-se que o concreto possa contribuir, inclusive após a fissuração,
conforme será visto na "Modified Compression Field Theory" e no "Truss Softened Model".

Figura 7.7 - Mecanismo de transmissão da força cortante antes e após a fissuração.

Basicamente, as equações de equilíbrio desenvolvidas anteriormente podem ser rearranjadas


de maneira que as parcelas de contribuição do concreto e do aço para absorção da força
cortante podem ser obtidas. Isolando-se a força cortante da Equação (7.5), pode-se obter a
parcela de contribuição do concreto:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 167


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

V  1 
f2 =  
bw ( jd )  cos θ .sen θ 

V = f 2 .bw ( jd ). cos θ .sen θ = Vc (Equação 7.16)

Por outro lado, isolando-se a força cortante da Equação (7.8), pode-se obter a parcela de
contribuição das armaduras transversais (estribos):

 Av f v  V .tgθ
 =
 s  ( jd )
Av f v ( jd ) (Equação 7.17)
V = = Vs
s.tgθ

Para os casos usuais de estribos a 90o e ângulo de inclinação das escoras igual a 45o, tem-se:

Vc = 0,5. f 2 .bw ( jd ) (Equação 7.18)

Av f v ( jd ) (Equação 7.19)
Vs =
s

As equações anteriores podem ser comparadas com o Modelo de Cálculo I, proposto pela
NBR6118, de maneira a se entender melhor a proposta da norma brasileira. Na NBR6118, a
parcela de contribuição dos estribos é dada por

0,9.d . Asw . f ywd (Equação 7.20)


Vsw =
s

Fazendo-se uma analogia da Equação (7.20) com a Equação (7.19), conclui-se que j=0,9 na
norma brasileira. Assim, a parcela de contribuição do concreto à compressão (7.18) passará a
ser dada por

Vc = 0,5. f 2 .bw ( jd ) = 0,5. f 2 .bw (0,9d ) = 0,45. f 2 .bw .d (Equação 7.21)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 168


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Em relação à parcela de contribuição do concreto à compressão (resistência da diagonal


comprimida), a norma brasileira estabelece que

VRd 2 = 0,27.α v . f cd .bw .d (Equação 7.22)

 f ck  (Equação 7.23)
α v = 1 − ( MPa )
 250 

Adotando-se concreto C20, para fins de comparação, observa-se que a resistência da diagonal
comprimida segundo a NBR6118 (2003) seria dada por

VRd 2 = 0,27.α v . f cd .bw .d

 f 
VRd 2 = 0,27.1 − ck . f cd .bw .d
 250 
 20 
VRd 2 = 0,27.1 − . f cd .bw .d
 250 
VRd 2 = 0,248. f cd .bw .d (Equação 7.24)

Igualando-se a Equação (7.22) com a Equação (7.24), observa-se que a máxima tensão de
compressão nas escoras, no caso do concreto C20, é dada por

0,45. f 2 .bw .d = 0,248. f cd .bw .d


f
f 2,max = 0,55. f cd = 0,55. ck = 0,39. f ck
1,4

Assim, observa-se que a norma brasileira adota limites muito rigorosos para a máxima tensão
de compressão atuantes nas escoras, sendo que esses valores são ainda mais afetados
conforme se aumenta a resistência à compressão do concreto. Nos países europeus, por
exemplo, é prática adotar f2,max ≈ 0,6.fck.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 169


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

7.7 Exemplo de cálculo para viga protendida

Para a viga protendida ilustrada na Figura 7.8, pede-se descrever o comportamento à força
cortante na seção de momento nulo (M = 0 kN.m), utilizando-se a "Compression Field
Theory".

Figura 7.8 - Viga retangular vazada e protendida a ser analisada, utilizando-se a "Compression Field
Theory".

Conforme pode-se observar, trata-se de uma viga retangular vazada, carregada de maneira que
o ponto de momento nulo ocorre no meio do vão intermediário. A referida viga apresenta
cobrimento de armadura igual a 1,3 cm para as faces laterais, enquanto a face superior e a face
inferior apresentam cobrimento de 2,5 cm. A resistência à compressão do concreto utilizado é
de 38,6 MPa, com a máxima deformação de pico em torno de 0,003.

A armação transversal da viga é constituída por estribos de 9,5 mm, espaçados a cada 15,2
cm, com aço de resistência ao escoamento de 367 MPa. As barras longitudinais são
constituídas por seis barras de 9,5 mm, distribuídas ao longo do perímetro, também com
resistência ao escoamento de 367 MPa. Também foram utilizados ter cabos na face superior e
três cabos na face inferior da viga. Cada um dos cabos é constituído por quatro fios de 7 mm,
com resistência ao escoamento de 1450 MPa e resistência à ruptura de 1680 MPa. O módulo
de elasticidade da armadura de protensão é de 197 GPa e a deformação aplicada é de 0,0054.
Deve-se observar que os valores informados diferem-se levemente do padrão brasileiro,
tendo-se em vista que o problema original foi concebido no sistema americano, conforme
pode-se observar no trabalho de Collins e Mitchel (1997).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 170


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

O comportamento da viga, utilizando-se a "Compression Field Theory", é obtido conforme a


seguir:

Passo 1 - Escolher um valor de ε1 para início dos cálculos

Exemplo: ε1 = 0,004

Passo 2 - Estimar um valor para θ

Exemplo: θ = 25o

Passo 3 - Estimar a tensão no estribo (fv)

Exemplo: fv = fy = 367 MPa

Passo 4 - Calcular V a partir da Equação (7.16)

( jd ) = 61 − 2.(5,1) = 50,8 cm
A f ( jd )
V = v v
s.tgθ
( 2.0,71).36,7.(50,8)
V =
15,2.tg 25o
V = 374 kN

Passo 5 - Calcula-se a tensão de compressão diagonal a partir da Equação (7.6)

V  1 
f2 =  tan θ + 
bw ( jd )  tan θ 
bw = 30,5 − 15,2 = 15,3 cm
374  1 
f2 =  tan 25 +
o

15,3.(50,8)  tan 25o 
f 2 = 1,26 kN / cm 2 = 12,6 MPa

Passo 6 - Verificar se f2 é menor do que f2,max da Equação (7.13)

f c'
f 2 max = ≤ f c'
0,34.ε 1
0,8 −
ε c'

f c'
f 2 max = = 30,8 MPa ≤ f c'
0,34.0,004
0,8 −
( −0,003)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 171


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Como f2 = 12,5 MPa < f2,max = 26,08 MPa, a solução é possível. Caso f2 fosse maior do que
f2,max a solução não seria possível e, nesse caso, dever-se-ia retornar ao Passo 2 para escolha
de um ângulo θ maior, que por sua vez levaria à redução de f2.

Passo 7 - Calcular ε2 a partir da relação tensão x deformação

ε 2 = ε ' c (1 − 1 − f 2 / f 2,max )

ε 2 = −0,003.(1 − 1 − 12,5 / 30,8 )


ε 2 = −0,69 x10 −3

Observar que, se houvesse interesse no comportamento pós-pico, a outra raiz deveria ser
usada, isto é, ε 2 = ε ' c (1 + 1 − f 2 / f 2,max )

Passo 8 - Calcular εx e εt a partir das Equações (7.11) e (7.12)

ε 1 + ε 2 . tan 2 θ
εt =
1 + tan 2 θ
0,004 + ( −0,69 x10 −3 ). tan 2 25o
εt =
1 + tan 2 25o
ε t = 3,16 x10 −3

ε1 = ε x + ε t − ε 2
ε x = ε1 + ε 2 − ε t

ε x = (4 + ( −0,69) − 3,16) x10 −3

ε x = 0,15 x10 −3

Passo 9 - Verificar a estimativa de tensão nos estribos

f v = E s .ε t ≤ f vy
f v = 200 x103.3,16 x10 −3 = 632 MPa ≤ 367 MPa
f v = 367 MPa

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 172


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Logo, a estimativa de que os estribos estariam escoando está correta. Se fv, calculado nesse
passo, fosse diferente do valor assumido no Passo 3, então dever-se-ia redefinir o valor de fv e
retornar ao Passo 4.

Passo 10 - Calcular a tensão na armadura longitudinal passiva

f l = E s .ε x ≤ f ly

f l = 200 x103.0,15 x10 −3 ≤ 367 MPa

f l = 30,0 MPa ≤ 367 MPa

f l = 30,0 MPa

Passo 11 - Calcular a deformação na armadura longitudinal ativa

ε p = ε x + ∆ε p

ε p = 0,15 x10 −3 + 5,4 x10 −3

ε p = 5,55 x10 −3

Passo 12 - Calcular a tensão na armadura longitudinal ativa

Assumindo-se uma relação bilinear para o aço de protensão, a tensão correspondente à


deformação calculada no Passo 11 será igual a

f pl = E p .ε p ≤ f py

f pl = 197 x103.5,55 x10 −3 ≤ 1450 MPa

f pl = 1093 MPa ≤ 1450 MPa

f pl = 1093 MPa

Passo 13 - Calcular a força axial resultante na seção

A força axial é obtida, integrando-se as tensões longitudinais no concreto e na armadura


longitudinal ao longo da seção. Logo, tem-se

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 173


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

V
N = As . f l + Ap . f pl − − f c .( Ac − bw .( jd ))
tgθ
374
N = 4,26.30 + 9,26.109,3 − − 0.(1860,50 − 15,3.50,8)
tg 25o
N = 223 kN

O termo (V/tg θ) representa a componente longitudinal da diagonal comprimida atuante sobre


a área efetiva de cisalhamento (bw.jd). Por outro lado, a tensão fc é a tensão longitudinal de
compressão no concreto que se encontra fora da área efetiva de cisalhamento. Se εx é de
tração, logo, fc será igual a zero. No entanto, se εx é de compressão, então fc será dado pela
seguinte equação:

  ε   ε 2 
f c = f . 2 x'  −  x'  
'
c
  εc   εc  
 

Assim, foi assumido que o concreto fora da zona efetiva de cisalhamento, bw.jd, está sujeito
apenas a tensões longitudinais.

Passo 14 - Verificar a carga axial N

Uma vez que a viga não estava sujeita a nenhuma carga axial, a resultante axial N deve ser
zero. Como o valor calculado não é zero, deve-se fazer uma nova estimativa de θ e repetir os
cálculos a partir do Passo 3. Aumentando-se o valor de θ, aumenta-se o valor de N. O
procedimento de tentativa e erro pode ser convenientemente programado computacionalmente
de maneira a facilitar o processo.

Dessa maneira, de cada valor de ε1, podem-se obter os respectivos valores para θ, εt , εx, f2,
f2,max, V e γxy. A Tabela 7.1 ilustra um resumo das previsões do comportamento força cortante
versus deformações de cisalhamento para viga analisada, utilizando-se a "Compression Field
Theory". Por outro lado, a Figura 7.9 ilustra o comportamento de maneira gráfica, objetivando
visualizar com maior detalhes o desenvolvimento das tensões e deformações.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 174


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Tabela 7.1 - Resumo da previsão do comportamento de viga protendida, utilizando-se a "Compression


Field Theory".
ε θ εt εx γ f2 f2,max V
x10-3 (Graus) x10-3 x10-3 x10-3 MPa MPa kN
0,1 7,1 0,09 -0,30 0,16 7,51 38,6 71,2
0,5 14,9 0,44 -0,28 0,45 8,20 38,6 158
1,0 19,4 0,85 -0,24 0,85 9,38 38,6 227
2,0 23,5 1,60 -0,13 1,84 12,30 37,6 347
2,5 24,3 1,97 -0,09 2,35 13,20 35,6 384
3,0 23,9 2,40 -0,08 2,71 13,70 33,9 391
4,0 23,4 3,24 -0,04 3,51 14,20 30,8 402
6,0 22,7 4,95 0,00 5,02 15,00 26,1 415
8,0 22,5 6,64 0,07 6,57 15,30 22,6 419
10,0 22,4 8,32 0,11 8,15 15,40 20,0 421
14,0 22,5 11,61 0,08 11,54 15,30 16,2 419

Figura 7.9 - Curva força cortante versus deformações de cisalhamento para viga protendida analisada,
utilizando-se a "Compression Field Theory".

450

400

350

300
Força Cortante (kN)

250

200

150

100

50

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deformação de Cisalhamento (o/oo)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 175


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 176


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

8. Mohr Compatibility Truss Model (MCTM)


8.1 Introdução

Uma análise rigorosa de elementos de membrana deve satisfazer a condições de equilíbrio


bidimensional, condições de compatibilidade e leis constitutivas biaxiais para os materiais.
No entanto, se equações constitutivas uniaxiais são adotadas e assumidas como lineares, o
equacionamento pode ser profundamente simplificado. Essa teoria simplificada é
denominada de “Mohr Compatibility Truss Model” e pode ser aplicada para cargas
superiores às cargas de serviço e até mesmo para cargas que provocam o escoamento das
armaduras.

Caso as equações constitutivas assumidas para os materiais sejam biaxiais e não-lineares,


então a teoria fica mais refinada, sendo que atualmente dois modelos constituem a linha de
frente na análise de elementos de membrana: “Modified Compression Field Theory” e
“Softned Truss Model”. Ambos os modelos podem ser utilizados para a análise completa de
um elemento de membrana, abrangendo o estado completo de carregamento, desde o início
da aplicação das cargas até a ruptura.

No presente capítulo, apresenta-se a formulação completa do “Mohr Compatibility Truss


Model”, objetivando-se uma preparação sólida para a apresentação dos modelos mais
refinados, comentados anteriormente. Observar-se que, para respeitar a notação utilizada por
Hsu (1993), o ângulo θ foi alterado para α.

8.2 Equações de equilíbrio e de compatibilidade

Conforme apresentado em capítulos anteriores, as equações básicas de equilíbrio para um


elemento de membrana em concreto armado podem ser representadas pelas Equações (8.1) a
(8.3):

σ l = σ d cos 2 α + σ r sen 2 α + ρ l f l (8.1)

σ t = σ d sen 2 α + σ r cos 2 α + ρ t f t (8.2)

τ lt = (−σ d + σ r )sen α.cos α (8.3)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 177


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Da mesma maneira, a partir do estudo das condições de deformação em um elemento de


membrana, Hsu (1993) obteve equações básicas de compatibilidade de deformações, dadas
pelas Equações (8.4) a (8.6):

ε l = ε d cos 2 α + ε r sen 2 α (8.4)

ε t = ε d sen 2 α + ε r cos 2 α (8.5)

γ lt = 2.(−ε d + ε r )sen α.cos α (8.6)

8.3 Variações do Mohr Compatibility Truss Model

Basicamente, no “Mohr Compatibility Truss Model” são satisfeitas as condições de


equilíbrio e de compatibilidade, sendo que as relações constitutivas são definidas, tomando-
se por base a Lei de Hooke, que assume comportamento elástico-linear para os materiais.
Nesse caso, as armaduras longitudinais e transversais são definidas conforme as relações
constitutivas das Equações (8.7) e (8.8):

fl (8.7)
εl =
Es
ft (8.8)
εt =
Es

A equação constitutiva, utilizada para o concreto, é definida de maneira bidimensional, sendo


uma função dependente dos valores σr e σd. A partir do nível de tensão de tração a ser
absorvido pelo concreto, três variações do “Mohr Compatibility Truss Model” podem ser
obtidas: “Simple Truss Model”, “Modified Truss Model” e “Uncracked Elastic Elements”.

No caso do “Simple Truss Model”, a resistência à tração é desprezada na análise de


elementos de membrana já fissurados, da mesma maneira que se costuma fazer na análise de
elementos de concreto armado sob ação de flexão. Assim, a deformação no concreto é
tomada como uma função linear dependente da tensão atuante e do módulo de elasticidade
do concreto empregado, conforme ilustram as Equações (8.9) e (8.10):

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 178


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

σr = 0 (8.9)

σd (8.10)
εd =
Ec

O modelo anterior pode ser refinado, caso a resistência à tração do concreto seja levada em
consideração na análise da seção fissurada. Quando a resistência à tração é assumida como
uma pequena constante, verificada logo após a fissuração do concreto, tem-se o chamado
“Modified Truss Model”. A relação constitutiva para o concreto sob compressão permanece
linear, conforme a Equação (8.10), e o valor de σr deixa de ser nulo e assume valor constante
definido no intervalo da Equação (8.11):

σ r = 0,68 a 1,37 MPa (8.11)

O “Simple Truss Model” e o “Modified Truss Model” são modelos válidos para o estágio em
que o elemento de membrana já experimentou fissuração. Para o caso em que o concreto
ainda não atingiu essa fase, convém-se utilizar o “Uncracked Elastic Elements”, cujas
relações constitutivas são apresentadas a seguir:

(8.12)
εd =
1
(σ d − µσ r )
Ec
(8.13)
εr =
1
(σ r − µσ d )
Ec

Em que µ representa o Coeficiente de Poisson, podendo ser assumido como igual a 0,20 para
o caso do concreto.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 179


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

8.4 Análise utilizando-se o Mohr Compatibility Truss Model

Na prática, uma vez que o valor de σr é normalmente fornecido, recai-se em um sistema de


nove equações (Equações (8.1) a (8.3), (8.4) a (8.6) e (8.10)), envolvendo 14 variáveis. Essas
variáveis incluem seis tensões (σl , σt , τlt , σd , fl e ft), cinco deformações (εl , εt , γlt , εr e εd),
duas propriedades da seção transversal (ρl e ρt) e um parâmetro geométrico (α). Dessa
maneira, para que as equações possam ser resolvidas, um número total de cinco variáveis
deve ser informado.

Normalmente, por meio da condução de análises elásticas, utilizando-se o Método dos


Elementos Finitos, obtêm-se, para os elementos de membrana em estudo, os valores das
tensões (σl , σt e τlt). Assim, apenas duas variáveis adicionais devem ser fornecidas para que
o problema seja totalmente resolvido. Se essas variáveis forem ρl e ρt, têm-se então um
problema de análise estrutural. Caso contrário, isto é, se as variáveis fl e ft são fornecidas,
passa-se a ter um problema de dimensionamento estrutural.

O problema de análise de elementos de membrana recai na busca pela maneira mais eficiente
de se resolver as nove equações, resultantes das condições de equilíbrio, compatibilidade e
leis constitutivas dos materiais. Expressando-se as equações básicas de equilíbrio (Equações
(8.1) a (8.3)) de maneira alternativa e levando-se em consideração que σr = 0, as tensões
atuantes nas armaduras e no concreto serão dadas pelas Equações (8.14) a (8.16):

σ l + τ lt cot α (8.14)
fl =
ρl

σ t + τ lt tan α (8.15)
ft =
ρt

− τ lt (8.16)
σd =
sen α.cos α

Substituindo-se as Equações (8.7), (8.8) e (8.9) nas equações anteriores, podem-se obter as
deformações nas armaduras longitudinais, transversais e no concreto, conforme ilustram as
Equações (8.17) a (8.19):

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 180


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

σ l + τ lt cot α (8.17)
εl =
ρ l .E s

σ t + τ lt tan α (8.18)
εt =
ρ t .E s

1  τ lt  (8.19)
εd =  
E c  sen α.cos α 

As Equações (8.17) a (8.19) ilustram que todas tensões e deformações atuantes nas
armaduras e no concreto são expressas em função de uma única variável desconhecida, α. De
acordo com Hsu (1993), essa variável pode ser determinada a partir da equação de
compatibilidade da Equação (8.20):

εl − εd (8.20)
tan 2 α =
εt − εd

Substituindo-se as deformações da Equação (8.20) pelos valores fornecidos nas Equações


(8.17) a (8.19), pode-se chegar à seguinte expressão:

σt σ (8.21)
ρ l (1 + ρ t n).tan 4 α + ρ l tan 3 α - l ρ t tan α - ρ t (1 + ρ t n) = 0
τ lt τ lt

Em que:

Es (8.22)
n=
Ec

A obtenção do ângulo α, a partir da Equação (8.21), pode ser feita de maneira mais efetiva,
utilizando-se um processo de tentativa e erro. Uma vez que o ângulo α é encontrado, as
tensões (σd , fl e ft) e as deformações (εd , εl e εt) nas escoras de concreto e nas armaduras
podem ser imediatamente obtidas a partir das Equações (8.14) a (8.19). As duas últimas
variáveis, γlt e εr, podem ser obtidas a partir da Equação (8.6) e da Equação (8.23)
apresentada a seguir:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 181


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ε r = εl + ε t − εd (8.23)

8.5 Dimensionamento utilizando-se o Mohr Compatibility Truss Model

O problema de análise de elementos de membrana recai na busca pela maneira mais eficiente
de se resolver as nove equações, resultantes das condições de equilíbrio, compatibilidade e
leis constitutivas dos materiais. Expressando-se as equações básicas de equilíbrio (Equações
(8.1) a (8.3)) de maneira alternativa (Equações (8.14) a (8.16)), assumindo-se o escoamento
das armaduras (fl = fly e ft = fty ) e levando-se em consideração que σr = 0, as taxas de
armadura e a tensão de compressão atuante no concreto serão dadas pelas Equações (8.24) a
(8.26):

σ l + τ lt cot α (8.24)
ρl =
f ly

σ t + τ lt tan α (8.25)
ρt =
f ty

− τ lt (8.26)
σd =
sen α.cos α

Das relações constitutivas lineares assumidas para o aço e apresentadas anteriormente nas
Equações (8.7) e (8.8), tem-se

f ly (8.27)
εl =
Es

f ty (8.28)
εt =
Es

Substituindo a Equação (8.26) na Equação (8.10), obtém-se

1  − τ lt  (8.29)
εd =  
E c  sen α.cos α 

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 182


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Substituindo-se as deformações obtidas das Equações (8.27) a (8.29) na Equação (8.10),


obtém-se

f ly senα . cosα + n.τ lt (8.30)


tan 2 α =
f tysenα . cosα + n.τ lt

8.6 Exemplo de análise

Seja um elemento de membrana com espessura h = 12 cm sujeito à ação das tensões


σl = 2,13 MPa (tração), σt = -2,13 MPa (compressão) e τlt = 3,70 MPa, conforme ilustra a
Figura 8.1 (a). Sabendo-se que o elemento possui taxa de armação longitudinal e transversal
igual a 1,033% (fly = fty = 413,68 MPa), pede-se determinar as condições de tensão e
deformação nos materiais para momento do escoamento das armaduras. Adotar fck = 27,57
MPa, Es = 199.947 MPa, Ec = 24.821 MPa.

Solução:

Primeiramente, o ângulo α (“rotating angle”) deve ser determinado, a partir da utilização da


Equação (8.21) apresentada anteriormente:

σt σ (8.21)
ρ l (1 + ρ t n).tan 4 α + ρ l tan 3 α - l ρ t tan α - ρ t (1 + ρ t n) = 0
τ lt τ lt

Levando-se em consideração que n = Es / Ec = 8,06 e que ρl = ρt, a Equação (8.21) pode ser
reduzida para a seguinte expressão:

1,083.tan 4 α − 0,583.tan 3 α - 0,5773.tan α - 1,0833 = 0

A equação anterior pode ser facilmente resolvida por meio de um processo de tentativa e
erro, conforme ilustra a Tabela 8.1. Nessa tabela, o valor do ângulo α (primeira coluna) é
estimado e os valores de tan α (segunda coluna), tan3 α (terceira coluna) e tan4 α (quarta

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 183


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

coluna) são imediatamente calculados e substituídos na Equação (8.21). Se a Equação (8.21)


resultar em zero, então uma solução é obtida, caso contrário, um novo valor para o ângulo α
deve ser testado.

Tabela 8.1 – Obtenção do ângulo α utilizando-se o "Mohr Compatibility Truss Model".

α (Graus) tan α tan3 α tan4 α Equação (8.21)

60,00 1,7321 5,1961 9,0000 4,6668


55,00 1,4281 2,9129 4,1599 0,9170
52,50 1,3032 2,2134 2,8845 0,0113
52,40 1,2985 2,1895 2,8431 -0,0170
52,45 1,3009 2,2014 2,8638 -0,0028
52,46 1,3013 2,2038 2,8678 -0,0001

Conforme pode-se observar pela Tabela 8.1, após seis ciclos de iteração, pode-se chegar a
um valor bastante preciso com a utilização de α = 52,46°. Observe-se que esse ângulo é
dobrado quando representado no Círculo de Mohr, conforme ilustra a Figura 8.1 (d). Para
esse ângulo α, as tensões são calculadas conforme a seguir:

− τ lt − 3,70
σd = = = −7,65 MPa
sen α.cos α sen 52,46.cos 52,46

σ l + τ lt cot α 2,13 + 3,70.cot 52,46


fl = = = 481,43 MPa > f l y = 413,68 MPa
ρl 0,01033

σ t + τ lt tan α − 2,13 + 3,70.tan 52,46


ft = = = 259,91 MPa < f ty = 413,68 MPa
ρt 0,01033

Conforme pode-se observar, a armadura longitudinal encontra-se em escoamento, enquanto a


armadura transversal ainda está no trecho elástico. No momento do escoamento da armadura
longitudinal, as tensões aplicadas no elemento de membrana devem ser iguais às tensões
iniciais, reduzidas por um fator igual a 413,68 / 481,43 = 0,859. Logo, têm-se as tensões no
concreto armado conforme abaixo, representadas no Círculo de Mohr pela Figura 8.1 (c):

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 184


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

σl = 0,859.2,13 = 1,83 MPa


σt = 0,859.(-2,13) = -1,83 MPa
τlt = 0,859.3,70 = 3,18 MPa

A partir das tensões calculadas anteriormente, podem-se encontrar as tensões nas armaduras
e no concreto, calculadas conforme a seguir e representadas no Círculo de Mohr nas Figuras
8.1 (d) e (e):

σ l + τ lt cot α 1,83 + 3,18.cot 52,46


fl = = = 413,68 MPa ≅ f l y = 413,68 MPa
ρl 0,01033

σ t + τ lt tan α − 1,83 + 3,18.tan 52,46


ft = = = 223,45 MPa < f ty = 413,68 MPa
ρt 0,01033

ρ l f l = σ l + τ lt cot α = 1,83 + 3,18.cot 52,46 = 4,27 MPa

ρ t .f t = σ t + τ lt tan α = −1,83 + 3,18.tan 52,46 = 2,30 MPa

σ l - ρl f l = 1,83 - 4,27 = -2,44 MPa


σ t - ρ t f t = - 1,83 - 2,30 = − 4,13 MPa

− τ lt − 3,18
σd = = = −6,58 MPa
sen α.cos α sen 52,46.cos 52,46

Finalmente, as deformações atuantes na armadura e no concreto, para o instante de


escoamento das armaduras, são calculadas conforme a seguir e representadas no Círculo de
Mohr na Figura 8.1 (b):

σ d − 6,58
εd = = = −0,265x103
E c 24821

fl 413,68
εl = = = 2,068x103
E s 199947

ft 223,45
εt = = = 1,117x103
E s 199947

ε r = ε l + ε t − ε d = 2,068 + 1,117 + 0,265 = 3,45x103

γ lt = 2.( −ε d + ε r ).sen α.cos α = 2.(0,265 + 3,45).sen 52,46.cos 52,46 = 3,58x103

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 185


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Conforme pode-se observar pela Figura 8.1, o ângulo α = 52,46°, verificado no escoamento
das armaduras longitudinais, será modificado para valores superiores, atingindo um valor
máximo α = 60,00° quando do escoamento das armaduras transversais. Esse ângulo final
pode ser facilmente demonstrado por meio da utilização do “Plasticity Truss Model”.

Figura 8.1 – Elemento de membrana analisado, utilizando-se o Mohr Compatibility Truss Model.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 186


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

9. Modified Compression Field Theory (MCFT)


9.1 Introdução

A teoria conhecida como Modified Compression Field (MCFT), ou Teoria do Campo


Modificado de Compressão, tem suas origens na Diagonal Compression Field Theory,
proposta por Mitchell e Collins (1974), bem como na Compression Field Theory (CFT),
proposta por Collins (1978).

A proposta original do MCFT foi lançada por Vecchio e Collins (1982), a partir do ensaio de
30 painéis de concreto armado, submetidos a estados uniformes de deformação. A versão
definitiva da teoria foi publicada por Vecchio e Collins (1986) e desde então apenas
pequenas modificações foram implementadas no modelo original, conforme atesta o trabalho
de Collins e Mitchell (1987). Desde a versão final do modelo, vários outros pesquisadores
têm proposto modelos similares, entre eles, os modelos propostos por Hsu e Zhang (1997),
Zhang e Hsu (1998) e Kaufmann e Marti (1998).

De acordo com Bentz (2000), o MCFT é uma teoria geral para o comportamento carga
versus deformação de elementos bidimensionais de concreto armado fissurados submetidos a
cisalhamento. O comportamento do concreto sob compressão e tração foi confirmado através
de mais de 250 ensaios em equipamentos especialmente desenvolvidos para tal fim.
Equipamentos similares também foram construídos no Japão e nos Estados Unidos, de
maneira que foi possível confirmar a qualidade dos resultados obtidos pela teoria proposta.

A hipótese mais importante assumida no modelo é que o concreto fissurado pertencente a um


elemento de concreto armado pode ser tratado como se fosse um novo material, com uma
curva tensão-deformação definida empiricamente. Esse comportamento é diferente do
comportamento tradicional obtido do ensaio de corpos-de-prova cilíndricos, submetidos à
compressão uniaxial.

As deformações utilizadas consistem em deformações médias, isto é, elas reúnem de forma


acoplada efeitos combinados tais como: deformações locais nas fissuras, deformações entre
fissuras, aderência-escorregamento e escorregamento entre fissuras. Da mesma maneira, as
tensões também são médias, isto é, elas incluem implicitamente as tensões entre fissuras,

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 187


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

tensões nas fissuras, a interface de cisalhamento entre fissuras e o efeito pino propiciado
pelas armaduras. Para que as tensões médias e as deformações médias possam ser
consideradas adequadas, o comportamento médio deve ser medido em distâncias que
incluam poucas fissuras.

De acordo com Bentz (2000), uma verificação explícita deve ser feita de maneira a se
penalizar a utilização de relações tensão-deformação médias, garantindo-se que as tensões
médias sejam compatíveis com a condição de fissuração do concreto. Esse processo,
denominado de “crack check”, é uma etapa crucial no MCFT. O processo de verificação
consiste basicamente na limitação da tensão principal de tração no concreto a um valor
limite, considerando-se a tensão de tração na armadura que atravessa a fissura e a habilidade
da superfície fissurada em transmitir tensões de cisalhamento.

Uma vez que o comportamento geral é baseado em relações médias, melhoradas com o
procedimento de “crack check”, o modelo não requer o cálculo explícito de efeitos
complementares, tais como: efeito pino, tensões de cisalhamento nas fissuras, tensão nas
armaduras nas pontas de fissuras, deformações pelo deslizamento das fissuras e tensões de
aderência. A simplicidade que se tem no modelo, tendo-se em vista a não consideração
explícita dos efeitos complexos mencionados anteriormente, é uma das grandes virtudes da
teoria proposta por Vecchio e Collins (1986).

Conforme será visto a seguir, esse modelo pode descrever completamente o comportamento
de um elemento de membrana em concreto armado, desde o início do carregamento até a
ruptura. Tal potencialidade é obtida pela adoção de relações constitutivas eficazes, para se
simular o comportamento do concreto fissurado, abrangendo-se desde carregamentos biaxiais
até estados de cisalhamento puro. Na sequência, são apresentadas as principais características
da referida teoria.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 188


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

9.2 Equações de compatibilidade

O elemento de membrana, apresentado na Figura 9.1 (a), representa uma pequena região de
uma estrutura em concreto armado. Para esse elemento, de espessura uniforme, admite-se
uma malha ortogonal de armaduras cujos eixos são coincidentes com o sistema cartesiano.
As cargas atuantes nas faces dos elementos são constituídas por tensões normais
uniformemente distribuídas (fx e fy) e tensões uniformes de cisalhamento (vxy). As
deformações dos elementos são assumidas de maneira que os eixos permaneçam paralelos e
planos, sendo que a deformada é definida pelas duas deformações normais (εx e εy) e pela
deformação de cisalhamento (γxy), conforme ilustra a Figura 9.1 (b).

Figura 9.1 – Elemento de membrana.

(a) (b)
(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

De maneira a se responder como as tensões (fx , fy e vxy) estão relacionadas com as


deformações (εx , εy e γxy), as seguintes hipóteses são consideradas:

• para cada estado de deformação só existe um único estado de tensão, sendo que casos
com histórico de carregamento não são tratados;
• tensões e deformações podem ser consideradas em termos de valores médios, quando
consideradas atuando em regiões suficientemente largas, de maneira a conter várias
fissuras;

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 189


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

• concreto e armaduras possuem aderência perfeita nas fronteiras do elemento, ou seja,


não se admite escorregamento das armaduras;
• as armaduras longitudinais e transversais são uniformemente distribuídas ao longo do
elemento.
• tensões e deformações de tração são tratadas como quantidades positivas enquanto
tensões e deformações de compressão são tratadas como quantidades negativas.

Uma vez que assume-se que as armaduras são perfeitamente aderidas ao concreto, existe a
necessidade de que qualquer deformação experimentada pelo concreto seja simultaneamente
experimentada pelas armaduras. Assim, a deformação da armadura será idêntica à
deformação do concreto adjacente, conforme ilustram as Equações (9.1) e (9.2).

ε sx = ε cx = ε x Equação (9.1)

ε sy = ε cy = ε y Equação (9.2)

Se as três componentes de deformação εx, εy e γxy são conhecidas (Figura 9.2 (a)), então as
deformações em qualquer direção podem ser determinadas por geometria ou
simplificadamente com a utilização do Círculo de Mohr para deformações, conforme ilustra
a Figura 9.2 (b). Observar que o ângulo θ é paralelo às fissuras e segue o campo das tensões
principais de compressão no concreto.

Figura 9.2 – (a) Deformações médias em elemento fissurado e (b) Círculo de Mohr para deformações
médias.

(a) (b)
(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 190


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Várias relações importantes podem ser obtidas, a partir do Círculo de Mohr para
deformações, conforme ilustram as Equações (9.3) a (9.5). Nessas equações ε 1 representa a
tensão principal de tração e ε 2 , a tensão principal de compressão no concreto.

2.(ε x − ε 2 )
γ xy = (9.3)
tan θ
ε x + ε y = ε1 + ε 2 (9.4)

ε x − ε 2 ε1 − ε y ε1 − ε y ε x − ε 2
tan 2 θ = = = = (9.5)
ε y − ε 2 ε1 − ε x ε y − ε 2 ε1 − ε x

9.3 Equações de equilíbrio

As forças aplicadas ao elemento de membrana são resistidas pelo concreto e pelas armaduras,
conforme ilustra o diagrama de corpo livre da Figura 9.3 e as Equações (9.6) e (9.7), a
seguir:
Figura 9.3 – Diagrama de corpo livre de elemento de membrana em concreto armado.

(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

∫A
f x dA = ∫ f cx dAc + ∫ f sx dAs
Ac As
(9.6)

∫A
f y dA = ∫ f cy dAc + ∫ f sy dAs
Ac As
(9.7)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 191


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Desprezando-se a pequena redução na seção transversal de concreto pela presença das


armaduras, pode-se chegar às seguintes expressões:

f x = f cx + ρ sx . f sx (9.8)
f y = f cy + ρ sy . f sy (9.9)

ν xy = ν cx + ρ sx .ν sx (9.10)

ν xy = ν cy + ρ sy .ν sy (9.11)

Assumindo-se que ν cx = ν cy = ν cxy , as tensões atuantes no elemento de membrana podem ser

completamente definidas desde que as parcelas f cx , f cy e ν cxy sejam conhecidas. O Círculo

de Mohr para tensões, ilustrado na Figura 9.4 (b), fornece as seguintes equações para o
problema:

ν cxy
f cx = f c1 − (9.12)
tan θ c

f cy = f c1 − ν cxy . tan θ c (9.13)

f c 2 = f c1 − ν cxy .(tan θ c + 1 / tan θ c ) (9.14)

Figura 9.4 – (a) Tensões médias e principais em elemento fissurado e (b) Círculo de Mohr para tensões
médias.

(a) (b)
(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 192


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

9.4 Relações constitutivas

As equações constitutivas são essenciais para se fazer a conexão entre as tensões médias e as
deformações médias tanto para o concreto quanto para as armaduras. Essas relações
constitutivas médias do tipo tensão-deformação podem ser significativamente diferentes
daquelas obtidas em ensaios simples, utilizando-se corpos de prova cilíndricos. Além disso,
as relações tensão-deformação médias para o concreto e para as armaduras não são
completamente independentes, embora isso seja assumido para se manter a simplicidade do
modelo.

A tensão normal nas armaduras é assumida como dependente apenas da deformação axial e
adicionalmente se assume que as armaduras não absorvam cisalhamento, ou seja,
ν sx = ν sy = 0 . A relação constitutiva, adotada para as armaduras, é baseada em um modelo
uniaxial bilinear, regido pelas Equações (9.15) e (9.16):

f sx = E s .ε x ≤ f yx (9.15)

f sy = E s .ε y ≤ f yy (9.16)

De acordo com Bentz (2000), o MCFT assume que o comportamento médio das barras de
aço possa ser aproximado pelo comportamento de uma barra de aço simples. Essa é uma
excelente hipótese somente antes da verificação do primeiro escoamento da armadura de
maneira localizada em uma fissura. Isso é pelo fato de que a armadura tende a escoar em uma
fissura pelo acréscimo de tensões de tração em regiões de concreto ainda não fissuradas. De
acordo com Bentz (2000), a tentativa de se modelar de forma adequada do comportamento
médio das armaduras é que leva à complexidade verificada nos outros modelos que fazem
frente ao MCFT.

Em relação ao concreto, assume-se que as direções das tensões principais e das deformações
principais sejam coincidentes, conforme ilustra a Equação (9.17). Vecchio e Collins (1986)
demonstraram que essas direções não são na verdade coincidentes, porém a simplificação
proposta é bastante razoável e facilita demasiadamente o problema.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 193


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

θc = θ (9.17)

A tensão principal de compressão no concreto ( f c 2 ) é função da deformação principal de

compressão ( ε 2 ), bem como da tensão principal de tração ( ε 1 ). Assim, elementos de


concreto, submetidos a altas deformações de tração na direção normal ao campo das
compressões, tendem a apresentar resposta menos rígida ("compression softening") em
relação corpos de prova de concreto cilíndricos, testados em ensaios convencionais de
compressão simples. A relação sugerida para o problema é apresentada na Equação (9.18):

f c'  ε  ε2 
2

f c2 = .2 2´ − ´
 ε

  (9.18)
0,8 + 170.ε 1   ε c   c  

De acordo com Bentz (2000), no MCFT assume-se que o concreto íntegro sob compressão
siga inicialmente o comportamento típico de uma curva tensão versus deformação típica de
um ensaio de compressão uniaxial de um corpo de prova cilíndrico. A relação tensão-
deformação, ilustrada na Equação (9.18), é uma parábola, que por sua vez é calculada em
função da deformação principal de compressão (ε2) e da deformação principal de tração (ε1).
A deformação principal de tração modela a perda de resistência à compressão quando o
concreto se encontra transversalmente fissurado (abrandamento do concreto fissurado
transversalmente).

A relação entre a tensão média principal de tração no concreto e a deformação média


principal de tração é aproximadamente linear antes da fissuração. Após a fissuração,
observam-se valores decrescentes de f c1 com o acréscimo dos valores de ε 1 . Antes da

fissuração, tem-se ε 1 ≤ ε cr e as Equações (9.19) e (9.20) podem ser utilizadas para se


modelar o problema:

f c1 = E c .ε 1 (9.19)

f c´
E c = 2.
ε c´ (9.20)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 194


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Após a fissuração, tem-se que ε 1 > ε cr e a Equação (9.21) é sugerida para se modelar o
problema.

f cr
f c1 = (9.21)
1 + 500.ε 1

De acordo com Bentz (2000), no MCFT assume-se que o concreto é capaz de desenvolver
toda sua capacidade de resistência previamente à fissuração. Após a fissuração, as tensões de
tração atuantes no concreto íntegro entre fissuras continuam a enrijecer a resposta do
concreto ("tension stiffening"), porém vão diminuindo gradualmente com o aumento das
deformações.

De maneira a se modelar a grande dispersão referente ao comportamento pós-fissuração do


concreto, a Equação (9.21) normalmente é assumida. O decréscimo das tensões médias logo
após a fissuração representa a perda de aderência, a formação de novas fissuras e outros
mecanismos de dano.

Na formulação original de Vecchio e Collins (1986), o termo ilustrado como 500.ε 1 era

dado por 200.ε 1 . A mudança do coeficiente de 200 para 500 foi sugerida por Collins e
Mitchell (1987), após analisar novos e numerosos resultados experimentais de elementos de
membrana.

9.5 Transmissão de cisalhamento entre fissuras

De acordo com Vecchio e Collins (1986), as formulações de tensão e deformação são


descritas em termos de valores médios e não fornecem informações sobre variações locais.
Nos pontos de concentração de fissuras, as tensões nas armaduras são maiores do que os
valores médios, enquanto que na região entre fissuras as tensões são menores.

A tensão de tração no concreto, por outro lado, será igual a zero em um ponto fissurado e terá
valor maior que a média em regiões contidas entre fissuras. Essas variações locais são

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 195


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

importantes, uma vez que a capacidade última de elementos carregados biaxialmente pode
ser controlada pela capacidade das armaduras transmitirem tração nos pontos de fissuração.

A Figura 9.5 (a) compara as tensões médias no elemento (Plano 1) com as tensões locais em
uma fissura (Plano 2). A direção crítica de fissuração é assumida como normal à direção da
deformação principal de compressão. Enquanto a tensão de cisalhamento média calculada no
Plano 1 é zero (em termos de tensões médias esse é um plano principal), a tensão de
cisalhamento local (Plano 2) pode ser diferente de zero (ver Figuras 9.5 (b) e (c),
respectivamente). Essas tensões de cisalhamento, νci podem estar acompanhadas de pequenas
tensões de compressão fci ao longo da fissura.

Figura 9.5 – a) Tensões aplicadas em um elemento fissurado, (b) tensões médias no Plano 1 e (c)
tensões locais no Plano 2.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 196


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Uma vez que as tensões externas aplicadas fx, fy e νxy são fixas, o conjunto de tensões
apresentado na Figura 9.5 (a) deve ser estaticamente equilibrado. Assumindo-se uma área
unitária tanto para o Plano 1 quanto para o Plano 2 e tendo-se em vista a necessidade de que
as tensões produzidas nas armaduras sejam iguais nas direções x e y, tem-se

ρ sx f sx senθ + f ci senθ = ρ sx f sxcr senθ − f ci senθ − ν ci cos θ (9.22)


ρ sy f sx cos θ + f ci cos θ = ρ sx f sycr cos θ − f ci cos θ − ν ci senθ (9.23)

As Equações (9.22) e (9.23) podem ser rearranjadas, conforme a seguir:

ρ sy ( f sycr − f sy ) = f c1 + f ci − ν ci tan θ (9.24)

ρ sx ( f sxcr − f sx ) = f c1 + f ci − ν ci / tan θ (9.25)

O equilíbrio das Equações (9.24) e (9.25) pode ser satisfeito sem tensões de cisalhamento e
tensões de compressão na fissura apenas se

ρ sy ( f sycr − f sy ) = ρ sx ( f sxcr − f sx ) = f c1 (9.26)

No entanto, as tensões nas armaduras na fissura não podem ultrapassar a tensões de


escoamento, conforme ilustram as Equações (9.27) e (9.28):

f sxcr ≤ f yx (9.27)

f sycr ≤ f yy (9.28)

O cálculo dos termos fsxcr e fsycr define o procedimento denominado como “crack check” no
MCFT. Observe que são definidas duas equações, uma para cada direção de armadura,
derivada como a soma das forças nas direções x e y localmente na fissura. Evidentemente, a
tensão limite nas armaduras em uma fissura deve ser inferior a algum limite, geralmente
dado pela tensão de escoamento das armaduras.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 197


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Assim, se a tensão média calculada em ambas as armaduras for alta, pode-se não obter a
satisfação da Equação (9.26). Nesse caso, o equilíbrio requererá tensões de cisalhamento na
fissura. Para a maioria dos concretos, a fissuração ocorrerá na interface entre a pasta de
cimento e os agregados. As fissuras resultantes podem transmitir cisalhamento por
intertravamento dos agregados, conforme ilustra a Figura 9.6.

Figura 9.6 – Transmissão de tensões de cisalhamento ao longo das fissuras pelo intertravamento dos
agregados.

(Fonte: Vecchio e Collins (1986)).

As relações existentes entre as tensões de cisalhamento ao longo da fissura νci, a abertura de


fissura w e a tensão de compressão na fissura fci foi estudada experimentalmente por
Walraven (1981), que sugere a Equação (9.29) para quantificação da tensão de cisalhamento:

0,18. f c´ (9.29)
ν ci ≤
0,31 + 24w/(a + 16)
w = ε 1 .sθ (9.30)

1 (9.31)
sθ =
senθ cosθ
+
s mx s my

s mx = 1,5.d x (9.32)

s my = 1,5.d x (9.33)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 198


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Nas equações anteriores, “a” é a máxima dimensão do agregado em milímetros e as tensões


são dadas em MPa. A abertura média de fissura é dada por “w”, calculada como o produto
entre a deformação principal de tração (ε1) e o espaçamento diagonal médio entre fissuras
(sθ). Os valores smx e smy são indicadores das características de controle da fissuração nas
direções x e y, sendo que dx e dy representam o afastamento médio entre as barras nas
direções x e y, respectivamente.

Assume-se que uma tensão de cisalhamento limite (νci) pode ser transmitida entre as faces de
uma fissura antes que a mesma comece a deslizar. Essa tensão limite de cisalhamento é
maior para concretos mais rígidos e agregados maiores. Com o aumento das aberturas de
fissuras, verifica-se um decréscimo na máxima capacidade de transmissão de cisalhamento
entre as faces da fissura. Deve-se observar que a tensão de cisalhamento na interface das
fissuras, vci, não é uma tensão média, mas sim uma tensão localizada.

Lembrando-se que o MCFT calcula a força total de um elemento utilizando-se tensões


médias para determinado ângulo θ e levando-se em consideração que a tensão de
cisalhamento calculada na fissura é resistida por uma fissura também imaginada para o
referido ângulo θ, é de se esperar que haja um desvio local no ângulo das tensões principais
na fissura se realmente existirem tensões de cisalhamento na referida fissura.

Dessa maneira, quando da checagem das condições de tensão na superfície da fissura, uma
combinação entre tensões de cisalhamento (νci) e tensões normais de compressão (fci) devem
ser determinadas para a satisfazer as Equações (9.24) a (9.31). Se pelo escoamento da
armadura na fissura, uma solução não é possível, então a tensão média principal de
compressão (fc1) deve ser reduzida até que uma solução seja possível.

A Figura 9.7 procura apresentar de maneira reduzida as relações envolvidas no MCFT para o
caso bidimensional. O painel da esquerda apresenta as equações de equilíbrio, baseadas nas
equações do Círculo de Mohr para tensões. O painel intermediário apresenta as condições de
deformação, também resumidas através do Círculo de Mohr. Deve-se observar que no MCFT
o ângulo da tensão principal no concreto é tomado como igual ao ângulo da deformação
principal. O painel da direita ilustra as relações constitutivas para os materiais,

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 199


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

nomeadamente aço e concreto. Finalmente a base de cada painel ilustra as componentes de


verificação localizada na fissura, de maneira que as tensões médias possam ser transmitidas.

Figura 9.7 – Resumo das equações utilizadas no modelo MCFT.

(Adaptado de Bentz (2000)).

9.6 Descrição do Procedimento “Crack Check” no MCFT

O procedimento “crack check” representa uma verificação explícita e necessária para


assegurar que níveis de tensão médios possam ser resistidos localmente em uma fissura. De
acordo com Bentz (2000), tornou-se evidente que no passado muitos pesquisadores
implementaram o MCFT sem a devida inclusão do procedimento “crack check”, propiciando
assim respostas inadequadas e potencialmente perigosas. A importância do procedimento
“crack check” pode ser demonstrada, utilizando-se o prisma de concreto armado tracionado
da Figura 9.8.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 200


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 9.8 – Prisma em concreto armado submetido à tração.

(Fonte: Bentz (2000)).

A força total atuante no prisma é dada pela Equação (9.34):

N = Nc + Ns (9.34)

Em que:

N = força axial total;


Nc = parcela da força total absorvida pelo concreto = f1.Ac;
Ns = parcela da força total absorvida pelas armaduras = fsx.As = ρ.fsx.Ac.

As relações tensão-deformação para o concreto e para as armaduras podem ser definidas,


utilizando-se as equações propostas no MCFT e apresentadas em maiores detalhes na Figura
9.9.

Figura 9.9 – Comportamento médio para (a) concreto e (b) armaduras submetidos à tração.

(a) (b)
(Fonte: Bentz (2000)).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 201


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Uma análise equivocada do problema pode produzir o diagrama tensão versus deformação,
apresentado na Figura 9.10 (a). Esse resultado é considerado inadequado, uma vez que as
forças carregadas pelo concreto e pelas armaduras foram somadas ao longo de todo o
processo de deformação do prisma, o que é particularmente incorreto.

Figura 9.10 – (a) Comportamento inadequado de deformação do prisma e (b) diagrama de corpo livre
na fissura para elemento unidimensional.

(a) (b)
(Fonte: Bentz (2000)).

Considere-se agora o diagrama de corpo livre ilustrado na Figura 9.10 (b), sendo que pelo
lado esquerdo são consideradas as relações médias utilizadas pelo MCFT e pelo lado direito
são consideradas tensões locais na fissura sem que haja a participação do concreto à tração.
Analisando-se o diagrama de corpo livre, fica evidente que pelo lado direito a tensão fsx deve
ser limitada pela tensão de escoamento das armaduras e que f1 = 0. A garantia de que a tensão
local na fissura não superará a tensão de escoamento do aço é basicamente o procedimento
denominado de “crack check” no MCFT. Utilizando-se a verificação de “crack check”, pode-
se chegar a um diagrama mais realista do comportamento tensão versus deformação do
elemento prismático de concreto armado submetido à tração, conforme ilustrado na Figura
9.11.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 202


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 9.11 – Comportamento tensão versus deformação de prisma de concreto armado, considerando-
se o procedimento de “crack check”.

(Fonte: Bentz (2000)).

Assim, a explanação anterior dá origem ao procedimento de “crack check” para o caso


unidimensional. A dedução de equilíbrio de forças, apresentada na Equação (9.35), possibilita
estabelecer o procedimento “crack check” para o prisma ilustrado na Figura 9.8:

fsx.As + f1.Ac = fsx-crack.As


f1 = ( fsx-crack.As - fsx.As ) / Ac (9.35)
f1 ≤ (fsx-crack – fsx) .ρ

Para o caso bidimensional, o procedimento “crack check” torna-se um pouco mais complexo.
Primeiramente, uma verificação uniaxial deve ser feita em cada uma das direções das
armaduras, acompanhada de uma verificação adicional, objetivando-se responder se há
possibilidade de transmissão de cisalhamento na interface da fissura.

Basicamente, assume-se que a fissura não pode transmitir nenhuma tensão axial de tração.
Também assume-se que as direções das tensões principais possam rotacionar localmente na
fissura e, dessa maneira, o aparecimento de cisalhamento poderá ocorrer na interface da
fissura caso as condições de equilíbrio conduzam a essa condição. Implicitamente, assume-se
que o concreto está tentando manter a máxima capacidade de resistência à tração quanto
possível, sendo que esse valor máximo obedece à equação constitutiva de “tension stiffening”.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 203


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Considere-se agora o diagrama de corpo livre da Figura 9.12, em que um elemento


bidimensional de concreto armado é analisado na interface fissurada. Deve-se observar que o
corte foi feito na direção do ângulo θ, o mesmo ângulo das fissuras e das direções principais
de tensão e deformação no concreto de acordo com o MCFT.

Figura 9.12 – Diagrama de corpo livre na fissura para elemento bidimensional.

(Fonte: Bentz (2000)).

Conforme pode-se observar pela Figura 9.12, a tensão principal de compressão no concreto
(f2) é irrelevante para o equilíbrio. As tensões de importância na fissura são basicamente as
tensões locais nas armaduras (fsx-crack e fsy-crack), bem como o cisalhamento em potencial na
interface fissurada (vci). Como há três resultantes de tensão e apenas duas equações de
equilíbrio disponíveis, o problema pode apresentar mais de uma solução no que se refere ao
equilíbrio na fissura.

O procedimento utilizado no MCFT consiste em se assumir que o mecanismo de resistência


das armaduras é mais rígido do que o mecanismo de cisalhamento na fissura, de maneira que
o cisalhamento na fissura é minimizado. A importância dessa hipótese é pequena em
comparação a uma hipótese alternativa que considera que o ângulo das deformações
principais é mantido localmente na fissura. Por outro lado, deve-se lembrar de que o ângulo
das tensões principais, em contraste, provavelmente rotacionará localmente na fissura, quando
comparado com a direção média, pelo comportamento não-linear das armaduras.

De acordo com Bentz (2000), a hipótese de se minimizar o cisalhamento na interface da


fissura tem o efeito de usar toda a capacidade portante do aço na direção mais fraca antes que

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 204


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

qualquer tensão de cisalhamento na fissura seja requerido. Uma vez que esse comportamento
está acontecendo apenas localmente na fissura, esse efeito não terá influência na resposta
global tensão versus deformação.

Somando-se as forças nas direções x e y da Figura 9.12, podem-se obter as equações que
garantem o procedimento “crack check” para o caso bidimensional. Seguindo-se os passos
indicados, pode-se garantir que a tensão na fissura não ultrapassará a tensão de escoamento
das armaduras nas direções x e y. Adicionalmente, pode-se garantir que a tensão de
cisalhamento na fissura será menor do que um limite máximo calculado em função da
abertura de fissura. O fluxograma de cálculo é apresentado a seguir:

a) inicialmente se calculam a tensão principal de tração (f1a), o máximo cisalhamento possível


na interface fissurada (vcimax = vci1) e as tensões médias nas armaduras (fsx,fsy);

b) calcula-se a reserva de capacidade nas direções x e y para as armaduras (f1cx, f1cy).


Basicamente, f1cx e f1cy são as tensões extras necessárias para que ocorra o escoamento das
armaduras nas direções x e y:

f1cx = ρx (fyx – fsx) (9.36)


f1cy = ρy (fyy – fsy) (9.37)

Observe-se que as Equações (9.36) e (9.37) constituem o procedimento “crack check”, caso se
imponha na Equação (9.35) que fsx-crack = fyx = fyy;

c) calcula-se a condição de escoamento biaxial sem a presença de cisalhamento na fissura


(f1b). Essa verificação garante basicamente que a carga necessária para causar o escoamento
biaxial das armaduras na fissura não será ultrapassada:

f1b = f1cx.sen2θ + f1cy.cos2θ (9.38);

d) calcula-se a tensão máxima de cisalhamento na fissura para que ocorra o escoamento


biaxial (vci2) das armaduras:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 205


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

vci2 = f1cx – f1cy . senθ. cosθ (9.39);

e) calcula-se a máxima tensão de tração permitida para o equilíbrio nas direções x (f1c) e y
(f1d):

f1c = f1cx + min (vci1 , vci2) cot θ (9.40)


f1d= f1cy + min (vci1 , vci2) tan θ (9.41);

f) seleciona-se o menor valor entre as tensões de tração calculadas:

f1 = min (f1a, f1b, f1c, f1d) (9.42);

g) para o cálculo da tensão de cisalhamento na interface da fissura (vci), deve-se utilizar os


procedimentos descritos na Tabela 9.1. Deve-se realçar que o cálculo não pode ser feito de
maneira direta, uma vez que há mais incógnitas do que equações disponíveis para o problema;

Tabela 9.1 – Tensão de cisalhamento máxima na fissura de acordo com Bentz (2000).
Tensão de
Condição Significado
Cisalhamento
f1cx = 0 e f1cy = 0 Escoamento Médio Biaxial vci = 0
Direção x dominante com escoamento da armadura na
f1cx > f1cy e f1cy < f1 vci = (f1 – f1cy).cot θ
fissura
Direção y dominante sem escoamento da armadura na
f1cx > f1cy e f1cy > f1 vci = 0
fissura
Direção x dominante com escoamento da armadura na
f1cx < f1cy e f1cx < f1 vci = (f1cx – f1).tan θ
fissura
Direção x dominante sem escoamento da armadura na
f1cx > f1cy e f1cx > f1 vci = 0
fissura

h) finalmente, as tensões nas armaduras na interface fissurada podem ser calculadas,


tomando-se por base a tensão de cisalhamento calculada anteriormente:

fsx-crack= (f1 + vci.cot θ)/ρx + fsx (9.43)


fsy-crack= (f1 + vci.tan θ)/ρy + fsy (9.44).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 206


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9.7 Emprego do MCFT acoplado ao Método da Rigidez Secante

A técnica de solução proposta por Vecchio e Collins (1986) é um tanto quanto sofisticada e
requer o uso de estratégias apropriadas para a implementação numérica. Assim, será
apresentada na sequência uma estratégia para implementação do MCFT, tomando-se proveito
de matrizes apropriadas e técnicas numéricas, baseadas no Método da Rigidez Secante.
Maiores detalhes da implementação ora aqui apresentada podem ser encontrados nos
trabalhos de Vecchio (1989, 1990), Bentz (2000) e Hoogenboom e Voskamp (2004).

De acordo com Bentz (2000), uma das maneiras mais eficientes de se obter o estado de
deformação, a partir de um estado de tensão conhecido, é por meio do emprego do Método da
Rigidez Secante, em que qualquer curva tensão versus deformação pode ser representada pela
Equação (9.45). A Figura 9.13 procura ilustrar a definição de módulo secante e módulo
tangente para o concreto e para barras de aço, de acordo com Krpan (1974).

σ = Esecante (ε) . ε (9.45)

Figura 9.13 – Módulos secante e tangente para (a) concreto e (b) barras de aço.

(a) (b)
(Fonte: Bentz (2000)).

Basicamente, o vetor das deformações (ε) pode ser relacionado ao vetor das tensões (σ)
através da matriz D, definida como a Matriz de Rigidez Secante e apresentada na Equação
(9.46). Utilizando-se essa matriz, a solução para qualquer termo desconhecido pode
facilmente encontrada com grande estabilidade. Deve-se observar que a Matriz de Rigidez
Secante é simétrica e totalmente povoada.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 207


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

[D]{ε } = {σ } (9.46)

{ε } = {ε x , ε y , γ xy } (9.47)

{σ } = {f x , f y , v xy } (9.48)

Basicamente, uma estimativa de deformações é efetuada para dado estado de carregamento. A


relação é então verificada, utilizando-se o método anterior para se calcular as tensões com o
emprego da Matriz de Rigidez Secante. Uma nova estimativa para o vetor das deformações é
então proposta a partir da Matriz de Rigidez Secante. O procedimento é então repetido até que
ocorra a convergência desejada para o nível de carregamento desejado.

De acordo com Selby (1993), a Matriz de Rigidez Secante, apresentada na Equação (9.46), é
calculada em função das direções principais e posteriormente rotacionada para o sistema de
eixos cartesiano. A matriz é basicamente constituída por componentes pelo concreto [Dc] e
pelas armaduras [Ds], conforme ilustra a Equação (9.49):

[D] = [Dc ] + Σ[Ds ] (9.49)

Para a determinação da matriz [Dc], é necessário calcular a mesma nas direções principais e
depois rotacionar a mesma para o sistema cartesiano. Esse procedimento pode ser feito,
empregando-se a Equação (9.50):

[Dc ] = [T ]T [Dc ]' [T ] (9.50)

A Matriz de Transformação [T] para o caso bidimensional é composta pelos seguintes termos,
descritos nas equações a seguir. Deve-se observar que a Matriz de Transformação é descrita
em função do ângulo θ, que é o ângulo principal de tensão e deformação para o concreto.

 k12 l12 k1 .l1 


[T ] =  k 22 l 2
2 k 2 .l 2 

(9.51)
2.k1 .k 2 2.l1 .l 2 k1 .l 2 + k 2 .l1 

k1 = cos(π − θ ) (9.52)

k 2 = − sen(π − θ ) (9.53)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 208


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

l1 = sen(π − θ ) (9.54)

l 2 = cos(π − θ ) (9.55)

A Matriz [Dc]’ é a matriz de rigidez do concreto na direção principal para o caso


bidimensional e é definida pela equação (9.56):

 E c1 0 0 
 
[Dc ] '
= 0 Ec 2 0  (9.56)
 0 0 Gc12 .

E c1 = f 1 / ε 1 (9.57)

Ec2 = f 2 / ε 2 (9.58)

Ec1 .Ec 2 (9.59)


Gc12 =
E c1 + Ec 2

Uma vez que as armaduras são responsáveis somente pela absorção de força normal, a matriz
[Ds] total para as direções x e y será dada pela Equação (9.60):

 ρ x .E sx 0 0 (9.60)
[ Ds ] =  0 ρ y .E sy 0
 0 0 0

f sx (9.61)
E sx =
εx
f sy (9.62)
E sy =
εy

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 209


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

9.8 Fluxograma de cálculo para elementos de membrana


• Dados de Entrada:

ρx = Taxa de armadura na direção x;


ρy = Taxa de armadura na direção y;
φx = Diâmetro das barras na direção x;
φy = Diâmetro das barras na direção y;
fyx = Tensão de escoamento da armadura na direção x;
fyy = Tensão de escoamento da armadura na direção y;
Esxi = Módulo de elasticidade da armadura na direção x;
Esyi = Módulo de elasticidade da armadura na direção y;
fc = Resistência à compressão do concreto;
φag = Diâmetro máximo do agregado;
fx = Tensão normal aplicada na direção x;
fy = Tensão normal aplicada na direção y;
vxy = Tensão de cisalhamento aplicada.

• Cálculo das distâncias entre fissuras nas direções x e y:

s mx = (2 / 3).(φ x / 3,6.ρ x )
s my = (2 / 3).(φ y / 3,6.ρ y )

• Cálculo das propriedades do concreto:

ε c ≅ 0,002 (Deformação de Pico do Concreto à Compressão)


f t = 0,33. f c (Resistência à Tração do Concreto)
fc
E c = 2. (Módulo de Elasticidade do Concreto)
εc
ft
ε cr = (Deformação Limite para Fissuração)
Ec

• Inicialização das deformações e tensões principais:

 ε xm  0
   
ε m =  ε ym  = 0
γ  0
 xym   
f1 = 0
f2 = 0

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 210


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

“Loop Utilizando-se o Método Secante”

• Escolha do Vetor das Deformações e das Tensões Principais:

ε x = ε xm
ε y = ε ym
γ xy = γ yxm
f _ 1g = f1
f _ 2g = f 2

• Cálculo das Deformações Principais a partir do Círculo de Mohr:

(ε y − ε x ) 2 + γ xy2
arad = (Raio do Círculo)
2
(ε x + ε y )
acen = (Centro do Círculo)
2
e_ 1a = arad + acen (Deformação Principal de Tração)
e _ 2 a = acen − arad (Deformação Principal de Compressão)

• Determinação do ângulo de inclinação da deformação principal de compressão:

 0,5.γ xy 
θ a = arc tan  
 (ε y − ε x ) 

• Cálculo da Matriz de Rigidez do Concreto nas Direções Principais:

Se f _ 1g ≤ 0,0001 → Ec1 = Ec
Se f _ 1g > 0,0001 → E c1 = f _ 1g / ε _ 1a

Se f _ 2 g ≤ 0,0001 → E c 2 = E c
Se f _ 2 g > 0,0001 → E c 2 = f _ 2 g / ε _ 2 a

E c1 .E c 2
Gc12 =
E c1 + E c 2
 E c1 0 0 
[Dc ] =  0 Ec 2 0 

 0 0 Gc12 .

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 211


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

• Cálculo da Matriz de Rigidez das Armaduras:

 E sxi

E sx = min  f yx
 εx

 E syi

E sy = min  f yy
ε
 y

 ρ x .E sx 0 0
[ D s ] =  0 ρ y .E sy 0
 0 0 0

• Matriz de Transformação, Matriz de Transformação Transposta e Matriz Total de Rigidez:

ψ = 180 − θ a

 cosψ 2 senψ 2 cosψ 2 .senψ 2 


[T ] =  senψ 2 cosψ 2

− cosψ 2 .senψ 2 
− 2. cosψ 2 .senψ 2 2. cosψ 2 .senψ 2 cosψ 2 − senψ 2 

 cosψ 2 senψ 2 − 2. cosψ 2 .senψ 2 


 
[T ]T =  senψ 2 cosψ 2 2. cosψ 2 .senψ 2 
cosψ 2 .senψ 2 − cosψ 2 .senψ 2 cosψ 2 − senψ 2 

[D ] = [T ]T [Dc ] [T ] + [ Ds ]
• Cálculo das Novas Deformações:

 ε xm   fx 
  −1  
 ε ym  = [ D]  f y 
γ xym  v xy 
   

• Cálculo das Deformações Principais a partir do Círculo de Mohr:

(ε ym − ε xm ) 2 + γ xym
2

rad =
2
(ε xm + ε ym )
cen =
2
e1 = rad + cen

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 212


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

e2 = cen − rad

• Cálculo do Novo Ângulo Theta:

 0,5.γ xym 
θ = arc tan  
 (ε ym − ε xm ) 

• Cálculo das Tensões nas Armaduras para o Novo Estado de Deformação:

f sxa = E s .ε x ≤ f yx
f sya = E s .ε y ≤ f yy

• Cálculo da Tensão de Compressão no Concreto para o Novo Estado de Deformação:

fc
f 2,max, a =
0,8 + 170.ε 1
f
f 2 ,max ≥  2, max, a
 fc
 ε  ε 
2

f 2 = f 2, max .2 2  −  2  
  ε c   ε c  

• Cálculo da Tensão de Tração no Concreto para o Novo Estado de Deformação:

Se ε 1 < ε cr → f 1a = ε 1 .E c
f cr
Se ε 1 ≥ ε cr → f1a =
1 + 500.ε 1

• Aplicação do Procedimento “Crack Check” para Limitar a Tensão Principal de Tração:

1
s mθ =
senθ cosθ
+
s mx s my

w = ε 1 .s mθ

0,18. f c
ν ci ,max,a ≤
0,31 + 24w/(φa + 16)

f1cx = ρ x .( f yx − f sx )

f1cy = ρ y .( f yy − f sy )

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 213


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

f 1b = f 1cx .sen 2θ + f 1cy . cos 2 θ

ν ci ,max,b ≤ f1cx − f1cy senθ . cos θ

f1c = f1cx + min(ν ci ,max,a ,ν ci , max,b ). tan θ

f1d = f1cy + min(ν ci ,max,a ,ν ci ,max,b ). tan θ

f 1 = min( f 1a , f 1b , f 1c , f 1d )

• Resultados Finais de Tensão:


f1 − f 2
rads =
2
f + f2
cens = 1
2
f x _ new = cens − rads. cos 2θ + ρ x . f sx
f y _ new = cens − rads. cos 2θ + ρ y . f sy
v xy _ new = rads.sen2θ

• Verificação do Critério de Convergência:


 fx 
 
f =  fy 
v xy 
 
 f x _ new 
 
f new =  f y _ new 
 v xy ,new 
 

 f x   f x _ new 
   
Se Tol =  f y  −  f y _ new  < 0,00001 → Convergência Obtida (STOP)
v xy   v xy ,new 
   

 f x   f x _ new 
   
Se Tol =  f y  −  f y _ new  > 0,00001 → Efetuar novo loop, assumindo:
v xy   v xy ,new 
   
ε x = ε xm
ε y = ε ym
γ xy = γ yxm
f _ 1g = f1
f _ 2g = f 2

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 214


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

10. Softened Truss Model (STM)


10.1 Introdução

Conforme mencionado, uma formulação que faz frente ao “Modified Compression Field
Theory (MCFT)" é o “Softened Truss Model (STM)”, proposto por Hsu (1993). O “Softened
Truss Model” é um avanço em relação ao “Mohr Compatibility Truss Model”, pela
introdução de relações constitutivas não-lineares dos materiais por meio de observações
experimentais, realizadas na Universidade de Houston.

De acordo com Hsu (1993), a relação tensão versus deformação do concreto deve apresentar
duas características. A primeira é a relação não -linear entre as tensões e as deformações. A
segunda característica, e talvez a mais importante, é o efeito de abrandamento no concreto
em compressão, ocasionado pela fissuração na direção perpendicular por tensões de tração.
Dessa maneira, um coeficiente de abrandamento (“softening coefficient”) deve ser
incorporado à relação constitutiva do concreto.

A seguir, apresentam-se as principais características de uma das teorias que fazem frente ao
"Modified Compression Field Theory". É de se observar, no entanto, que o fundamento dos
dois métodos são semelhantes, existindo apenas algumas diferenças em relação ao modelos
constitutivos. Deve-se observar novamente que, de maneira a manter a respeitar a notação
utilizada por HSU (1993), o ângulo θ (ângulo de inclinação da diagonal comprimida) foi
alterado para α.

10.2 Equações de equilíbrio e compatibilidade

O “Softened Truss Model” é constituído basicamente por equações de equilíbrio, equações


de compatibilidade e equações constitutivas para o concreto (em tração e compressão) e para
o aço. As equações de equilíbrio são dadas por

σ l = σ d cos 2 α + σ r sen 2α + ρ l f l (10.1)

σ t = σ d sen 2α + σ r cos 2 α + ρ t f t (10.2)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 215


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

τ lt = (−σ d + σ r ).senα . cos α (10.3)

As equações de compatibilidade são dadas por

ε l = ε d cos 2 α + ε r sen 2α (10.4)

ε t = ε d sen 2α + ε r cos 2 α (10.5)

γ lt = 2.(−ε d + ε r ).senα . cos α (10.6)

10.3 Equações constitutivas

Para o concreto em compressão, são utilizadas equações constitutivas, afetadas pelo


coeficiente de abrandamento (ζ), bem como pela deformação de pico do concreto na
compressão (εo), conforme ilustram a Figura 10.1 e as equações a seguir:

 ε   εd 
2
 ε  (10.7)
σ d = ζ . f ck .2. d  −    para  d  ≤ 1
  ζε o   ζε o    ζε o 

  ε / ζε − 1  2  ε  (10.8)
σ d = ζ . f ck .1 −  d o
  para  d  > 1
  2 / ζ − 1    ζε o 

0,9 (10.9)
ζ =
1 + 400.ε r

ε o = 0,002 (10.10)

Figura 10.1 – Comportamento do concreto em compressão, influenciado pelo coeficiente de


abrandamento.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 216


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Para o concreto sujeito à tração, adota-se o comportamento ilustrado na Figura 10.2 e


assume-se que a deformação equivalente à fissuração (εr) seja igual a 0,00008. Assim, as
equações utilizadas na presente formulação são dadas por

σ r = Ec .ε s para ε r ≤ 0,00008 (10.11)

 0,00008 
0, 4 (10.12)
σ r = f cr .  para ε r > 0,00008
 εr 

f cr = 0,31. f ck ( MPa) (10.13)

E c = 3875. f ck ( MPa) (10.14)

Figura 10.2 – Comportamento do concreto à tração no modelo “Softened Truss Model”.

Para as armaduras, admite-se um modelo bilinear simplificado, ilustrado na Figura 10.3 e


representado pelas seguintes equações:

f l = E s .ε l para ε l ≤ ε ly (10.15)

f l = f ly para ε l > ε ly (10.16)

f t = E s .ε t para ε t ≤ ε ty (10.17)

f t = f ty para ε t > ε ty (10.18)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 217


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Figura 10.3 – Comportamento bilinear do aço no modelo “Softened Truss Model”.


fs
fy

Es
−ε y ε
1
εy

− fy

Na realidade, Hsu (1993) recomenda para o aço um co mportamento mais complexo em que é
definida uma espécie de escoamento aparente propici ada pela interação com o concreto. Na
realidade, o comportamento das armaduras, quando ci rcundadas por concreto, tende a ser um
pouco mais rígido. No entanto, de maneira a se faci litar a implementação do modelo, será
considerado no presente trabalho o comportamento si mples e isolado das barras de aço,
tendo-se em vista que os erros cometidos são pequen os.

Ainda de acordo com Hsu (1993), se uma estrutura es tá sujeita a cargas estáticas e a
deformação da estrutura não é relevante, então pode -se assumir com segurança o
comportamento bilinear simples das barras de aço e σr = 0. Basicamente, do ponto de vista
de resistência, o erro cometido com a hipótese não conservadora de comportamento simples
das barras de aço cancela o erro assumido com a hip ótese conservadora de que o concreto
não possa absorver tensões de tração. Nesse caso, a s deformações tenderão a ser
superestimadas, uma vez que o efeito de enrijecimen to das barras pelo concreto está sendo
negligenciado.

Por outro lado, o uso simultâneo do comportamento b ilinear do aço (Equações 10.15 a 10.18)
com o comportamento do concreto à tração (Equações 10.11 a 10.14) introduz um erro
conceitual. Esse tratamento conduz a um falso enrij ecimento do concreto, reduzindo
corretamente as deformações mas levando a um acrésc imo de resistência que não pode ser
garantido. Assim, caso não sejam implementadas as c urvas de comportamento do aço
enrijecidas pela aderência ao concreto, recomenda-s e que seja utilizado σr = 0.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 218


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

10.4 Solução para o caso de aumento proporcional de carregamento

O estado de tensão descrito pela tensões σl, σt e τlt , conforme ilustra a Figura 10.4, também
pode ser expresso em termos de três variáveis principais de tensão, nomeadamente σ1, S e
α2.
Figura 10.4 – Relação entre as tensões aplicadas e as tensões principais.

(Fonte: Hsu (1993))

Essas variáveis principais são definidas conforme a seguir:

σ1 = maior tensão principal, sempre positiva e em tração;


S = σ2 / σ1 = razão entre a menor tensão principal (compressão) e a maior tensão principal
(tração), sendo positiva, quando σ2 está em tração, e negativa, quando σ2 está em
compressão;
α2 = ângulo entre a menor tensão principal (compressão) e o eixo longitudinal.

De acordo com Hsu (1993), quando um elemento está sujeito a um aumento de carregamento
proporcional entre as tensões σl, σt e τlt , a tensão principal σ1 sofre um aumento, enquanto as
variáveis S e α2 permanecem constantes. Dessa maneira, as tensões externas aplicadas σl, σt
e τlt podem ser definidas em função da tensão principal σ1, conforme a seguir:

σ l = ml .σ 1 (10.19)

σ t = mt .σ 1 (10.20)

τ lt = mlt .σ 1 (10.21)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 219


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Nas equações anteriores, os coeficientes ml , mt e mlt permanecem constantes enquanto a


tensão principal σ1 aumenta perante carregamentos proporcionais.

Conforme observa-se pelas Equações (10.19) a (10.21), os coeficientes ml , mt e mlt são


simplesmente as tensões externas aplicadas, normalizadas pela tensão principal σ1. As
relações entre os coeficientes anteriores e as variáveis S e α2 são dadas por

ml = S . cos 2 α 2 + sen 2α 2 (10.22)

mt = S .sen 2α 2 + cos 2 α 2 (10.23)

mlt = (− S + 1).senα 2 . cos α 2 (10.24)

Conforme pode-se observar pelas Equações (10.22) a (10.24), se as variáveis S e α2 são


fornecidas os coeficientes ml , mt e mlt podem ser imediatamente obtidos. Assim, aplicando-
se as Equações (10.19) a (10.21) nas Equações (10.1) a (10.3), novas equações de equilíbrio
em função dos coeficientes ml , mt e mlt e da tensão principal σ1 podem ser obtidas:

ml σ 1 = σ d cos 2 α + σ r sen 2α + ρ l f l (10.25)

mt σ 1 = σ d sen 2α + σ r cos 2 α + ρ t f t (10.26)

mlt σ 1 = (−σ d + σ r ).senα . cos α (10.27)

De acordo com Hsu (1993), o comportamento de um elemento de membrana perante


carregamento proporcional pode ser descrito apenas pela tensão principal σ1. Para se isolar
σ1, basta-se eliminar o ângulo α das Equações (10.25) a (10.27). Utilizando-se a relação
sen 2α + cos 2 α = 1 e rearranjando-se os termos das equações anteriores, tem-se:

− mlσ 1 + σ r + ρ l f l = (−σ d + σ r ). cos 2 α (10.28)

− mtσ 1 + σ r + ρ t f l = (−σ d + σ r ).sen 2α (10.29)

mlt σ 1 = (−σ d + σ r ).senα . cos α (10.30)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 220


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Multiplicando-se a Equação (10.28) pela Equação (10.29), obtém-se

(−ml σ 1 + σ r + ρ l f l ).(− mt σ 1 + σ r + ρ t f t ) = (−σ d + σ r ) 2 .sen 2α . cos 2 α (10.31)

Por outro lado, elevando-se a Equação (10.30) ao quadrado, obtém-se

(mlt σ 1 ) 2 = (−σ d + σ r ) 2 .sen 2α . cos 2 α (10.32)

O ângulo α pode ser finalmente eliminado, igualando-se os membros do lado esquerdo das
equações (10.31) e (10.32):

( −ml σ 1 + σ r + ρ l f l ).( − mt σ 1 + σ r + ρ t f t ) = (mlt σ 1 ) 2 (10.33)

Fazendo-se as multiplicações necessárias na Equação (10.33) e reagrupando-se os termos de


maneira adequada, pode ser obtida uma equação quadrática para σ1, conforme a seguir:

(ml .mt − mlt2 ).σ 12 − [ml .(σ r + ρ t f t ) + mt .(σ r + ρ l f l )].σ 1 + (10.34)


(σ r + ρ l f l ).(σ r + ρ t f t ) = 0

Conforme pode-se observar, a Equação (10.34) é um tanto quanto extensa. De maneira a se


simplificar tal equação, podem-se assumir as seguintes expressões auxiliares:

A = (ml .mt − mlt2 ) (10.35)

B = [ml .(σ r + ρ t f t ) + mt .(σ r + ρ l f l )] (10.36)

C = (σ r + ρ l f l ).(σ r + ρ t f t ) (10.37)

Em que a obtenção de σ1 pode ser finalmente calculada por


1 (10.38)
σ1 = ( B ± B 2 − 4. A.C )
2A

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 221


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

10.5 Relações complementares de compatibilidade

Para facilitar o procedimento iterativo que será apresentado adiante, convém definir a
deformação εl em função da tensão fl, bem como a deformação εt em função da tensão ft. A
deformação longitudinal εl pode ser exprimida em função da tensão fl, eliminando-se o
ângulo α das Equações (10.1) e (10.4). Da Equação (10.1), pode-se obter:

− σ l + σ r + ρl fl (10.39)
cos 2 α =
σr −σd

Inserindo-se ε r .sen 2α = ε r − ε r . cos 2 α na Equação (10.4), tem-se:

εl −εr (10.40)
cos 2 α =
εr −εd

Igualando-se as Equações (10.39) e (10.40), obtém-se

εr −εd (10.41)
εl = εr + (σ l + σ r − ρ l f l )
σ r −σ d

Relembrando que, para carregamentos proporcionais, σl pode ser descrito em função de ml e


σ1, conforme a Equação (10.19), pode-se obter a seguinte expressão:

εr −εd (10.42)
εl = εr + ( ml σ 1 + σ r − ρ l f l )
σ r −σ d
Da mesma forma, a deformação transversal εt pode ser exprimida em função da tensão ft,
eliminando-se o ângulo α das Equações (10.2) e (10.5). Da Equação (10.2), pode-se obter:

− σ t + σ r + ρt ft (10.43)
sen 2α =
σr −σd

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 222


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Inserindo ε r . cos 2 α = ε r − ε r .sen 2α na Equação (10.5), tem-se

−εt + εr (10.44)
sen 2α =
εr −εd

Igualando-se as Equações (10.43) e (10.44), obtém-se

εr −εd (10.45)
εt = εr + (σ t − σ r − ρ t f t )
σ r −σ d

Novamente, relembrando que para carregamentos proporcionais σt pode ser descrito em


função de mt e σ1, conforme a Equação (10.20), pode-se obter a seguinte expressão:

εr −εd (10.46)
εt = εr + ( mt σ 1 − σ r − ρ l f l )
σ r −σ d

Somando-se as Equações (10.4) e (10.5), pode-se ainda obter a deformação εr, conforme a
seguir:

εr = εl + εt − εd (10.47)

Finalmente, o ângulo α pode ainda ser obtido, a partir das Equações (10.4) e (10.5), e
possuirá o seguinte valor:

εl − εd (10.48)
tan 2 α =
εt − εd

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 223


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

10.6 Procedimento iterativo de solução

As equações apresentadas anteriormente e que governam o comportamento de elementos de


membrana apresentam 14 incógnitas, sendo sete incógnitas relacionadas à tensão (σl, σt ,τlt ,
σd , σr , fl , ft), cinco incógnitas relacionadas à deformação (εl , εt , γlt , εd , εr) e duas
incógnitas restantes, relacionadas ao ângulo α e ao coeficiente ζ.

Figura 10.5 – Procedimento iterativo para análise de elementos de membrana utilizando-se o


“Softened Truss Model”, proposto por Hsu (1993).

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 224


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Nos casos em que há aumento proporcional das tensões externas aplicadas (σl, σt e τlt),
costuma-se selecionar a variável εd , uma vez que a mesma varia monotonicamente desde
zero até um valor máximo, possibilitando-se assim traçar o comportamento completo da
estrutura em análise. Para que se possa resolver o problema de maneira iterativa, há
necessidade de se assumir os valores de εr e σ1 e num procedimento iterativo procura-se
fazer com que os valores assumidos se igualem ao valores calculados. Para resolver o
procedimento iterativo, aplica-se o fluxograma apresentado na Figura 10.5.

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 225


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 226


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

11. Referências bibliográficas

ANDRE, H.. “Toronto/Kajima Study on Scale Effect in Reinforced Concrete Elements”.


MASc thesis, Department of Civil Engineering, University of Toronto, Toronto, Ontario,
Canada, 1987.

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Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 235


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 236


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE A
(Código MATLAB para o Dimensionamento de Elementos de Membrana)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 237


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
% %
% Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural %
% Versão iniciada em 25 de Fevereiro de 2009 por Rafael Alves de Souza %
% %
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% (##### Descrição dos Parâmetros #####)
%
% Nx = Força normal característica na direção x (kN/m);
% Ny = Força normal característica na direção y (kN/m);
% Nxy = Força de cisalhamento característica (kN/m);
% h = Espessura do painel (m);
% fck = Resistência característica do concreto à compressão (MPa);
% fcd = Resistência de cálculo do concreto à compressão (MPa);
% fyk = Resistência característica das armaduras à tração (MPa);
% fyd = Resistência de cálculo das armaduras à tração (MPa);
% gama_c = Coeficiente de minoração do concreto;
% gama_s = Coeficiente de minoração do aço;
% gama_f = Coeficiente de majoração dos carregamentos;
% Nxx = Força característica na armadura na direção x (kN/m);
% Nyy = Força característica na armadura na direção x (kN/m);
% Nc = Força característica no concreto (kN/m);
% fc_max = Máxima tensão de cálculo suportada pelo concreto (MPa);
% theta = ângulo de inclinação da escora (graus);
% As_x = Armadura necessária na direção x (cm2/m);
% As_y = Armadura necessária na direção y (cm2/m);
% As_min = Armadura mínima necessária (cm2/m);
% Es = Módulo de elasticidade das armaduras (MPa);
% Ec = Módulo de elasticidade do concreto (MPa);
% fcr = Tensão de fissuração do concreto à tração (MPa)

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Clear screen
clc
clear

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Dados de Entrada
Nx = -189.6;
Ny = -1498.8;
Nxy = 720;
h = 0.12;
fck = 30;
fyk = 500;
gama_c = 1.4;
gama_s = 1.15;
gama_f = 1.4;

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Levantamento dos Esforços
% Caso 1
% Asx e Asy Necessários
if Nx >= -abs (Nxy) && Ny >= -abs(Nxy)
Caso = 1;
theta = 45;
Nxx = Nx + abs(Nxy);
Nyy = Ny + abs(Nxy);
Nc = (-2*abs(Nxy));
fc_max = 0.6*(1 - fck/250)*(fck/gama_c);
end

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 238


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Caso 2
% Só Asy Necessário
if Nx < -abs (Nxy) && Ny >= ((Nxy)^(2))/(Nx)
Caso = 2;
theta = atand(-Nx/Nxy);
Nxx = 0;
Nyy = (Ny - (((Nxy)^2)/(Nx)));
Nc = (Nx + (((Nxy)^2)/(Nx)));
fc_max = 0.6*(1 - fck/250)*(fck/gama_c);
end

% Caso 3
% Só Asx Necessário
if Nx > (((Nxy)^2)/(Ny)) && Ny < -abs (Nxy)
Caso = 3;
theta = atand(-(Nxy/Ny));
Nxx = Nx - (((Nxy)^2)/Ny);
Nyy = 0;
Nc = (Ny + (((Nxy)^2)/(Ny)));
fc_max = 0.6*(1 - fck/250)*(fck/gama_c);
end

% Caso 4
% Asx e Asy Desnecessários
if Nx < -abs (Nxy) && Ny < ((Nxy)^(2))/(Nx)
Caso = 4;
theta = atand(-Nx/Nxy);
Nxx = 0;
Nyy = 0;
Nc1 = ((Nx + Ny)/2)- sqrt(((Nx - Ny)/2)^(2)+ ((Nxy)^(2)));
Nc2 = ((Nx + Ny)/2)+ sqrt(((Nx - Ny)/2)^(2)+ ((Nxy)^(2)));
Nc_list = [Nc1 Nc2];
Nc = min (Nc_list);
a = Nc2/Nc1;
k = (1 + 3.65*a)/((1+a)^2);
fc_max = 0.85*(1 - fck/250)*(fck/gama_c)*k;
end

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Dimensionamento das Armaduras
% Cálculo das Armaduras Mínimas
% Armadura Mínima Convencional
As_min1 = (0.15*h*100);
% Armadura Mínima Segundo Hoogenboom
Es = 210000;
Ec = 5600*(fck)^(1/2);
fcr = 0.33*sqrt(fck);
As_min2 = (((Ec*fcr)/(Ec*(fyk + fcr)- Es*fcr))*100)*h*100;
As_min_list = [As_min1 As_min2];
As_min = max(As_min_list);

% Cálculo das Armaduras Necessárias


fyd = fyk/gama_s;
Asx = (gama_f*Nxx)/(fyd*0.10);
Asy = (gama_f*Nyy)/(fyd*0.10);

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Tensão Atuante no Concreto CEB-FIP MC90
fc_d = abs((gama_f*Nc*0.001)/h);

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 239


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%%%%%% Impressão dos Resultados
fprintf ('********** DIMENSIONAMENTO DE ELEMENTOS DE MEMBRANA
***********');
fprintf ('\n');
fprintf ('(((Software Desenvolvido por Rafael Alves de Souza, 2011)))');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf
('*****************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('******************* Resumo dos Dados de Entrada
*****************');
fprintf ('\n');
fprintf
('*****************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('Força Nx (kN/m)= %2.2f \n', Nx);
fprintf ('Força Ny (kN/m)= %2.2f \n', Ny);
fprintf ('Força Nxy (kN/m)= %2.2f \n', Nxy);
fprintf ('Resistência Característica do Concreto à Compressão (MPa)= %2.2f
\n', fck);
fprintf ('Resistência Característica ao Escoamento das Armaduras (MPa)=
%2.2f \n', fyk);
fprintf ('Coeficiente de Minoração do Concreto = %2.2f \n', gama_c);
fprintf ('Coeficiente de Minoração do Aço = %2.2f \n', gama_s);
fprintf ('Coeficiente de Majoração das Ações = %2.2f \n', gama_f);
fprintf ('\n');
fprintf ('*************************************************************
*');
fprintf ('\n');
fprintf ('****************** Resultados do Dimensionamento
**************');
fprintf ('\n');
fprintf
('***************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('Caso de Carregamento = %2.0f \n', Caso);
fprintf ('Ângulo Theta (Graus)= %2.2f \n', theta);
fprintf ('Armadura Calculada na Direção X, Asx(cm2/m)= %2.2f \n', Asx);
fprintf ('Armadura Mínima na Direção X, As_min_x(cm2/m)= %2.2f \n',
As_min);
fprintf ('Armadura na Direção Y, Asy(cm2/m)= %2.2f \n', Asy);
fprintf ('Armadura Mínima na Direção Y, As_min(cm2/m)= %2.2f \n', As_min);
fprintf ('Tensão de Cálculo Atuante no Concreto, fc_d(MPa)= %2.2f \n',
fc_d);
fprintf ('Tensão Limite no Concreto, fc_max(MPa)= %2.2f \n', fc_max);
if fc_d >= fc_max
fprintf ('fc_d > fc_max, Risco de Ruptura por Compressão!!!');
else
fprintf ('fc_d < fc_max, Não Há Risco de Ruptura por Compressão!!!');
end
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('**************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 240


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE B
(Código MATLAB para Análise com a Compression Field Theory)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 241


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
% %
% Análise de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural %
% Modelo de Cálculo: Compression Field Theory %
% Versão iniciada em 25 de Fevereiro de 2009 por Rafael Alves de Souza %
% %
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
clc % Limpa a tela de comando
clear % Remove todas as variáveis da área de trabalho
%
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Input Data
%
rhox = 2.195/100; % Taxa de armadura na direção x
dx = 8; % Diâmetro das barras na direção x (mm)
fyx = 402; % Tensão de escoamento das barras na direção x (MPa)
Esxx = 200; % Módulo de elasticidade das barras na direção x (GPa)
rhoy = 2/100; % Taxa de armadura na direção y
dy = 8; % Diâmetro das barras na direção y (mm)
fyy = 403; % Tensão de escoamento das barras na direção y (MPa)
Esyy = 250; % Módulo de elasticidade das barras na direção y (GPa)
fcp = 21.8; % Resistência à compressão do concreto (MPa)
agg = 6; % Diâmetro máximo dos agregados (mm)
fx = 1; % Tensão normal na direção x (MPa)
fy = 2; % Tensão normal na direção y (MPa)
gxy = 1; % Tensão de cisalhamento no plano xy (MPa)
load_steps = 10; % Número de passos de carga
load_factor = 1; % Fator de carga
%
% Observação:
% O fator de carga deve ser menor do que o número de passo de carga!
%
% Inicialização das variáveis
%
i = 0; %
graph = [0.0000 0.0000];
graph_steel_x = [0.0000 0.0000];% Inicialização do gráfico da armadura x
graph_steel_y = [0.0000 0.0000];% Inicialização do gráfico da armadura y
smx = (2/3)*((dx)/(3.6*rhox)); % Distância média de fissuras na direção x
smy = (2/3)*((dy)/(3.6*rhoy)); % Distância média de fissuras na direção y
%
if fx == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
fx = 0.000001;
end
%
if fy == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
fy = 0.000001;
end
%
if gxy == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
gxy = 0.00001;
end
%
% Propriedades do concreto calculadas a partir dos dados de entrada
%
ft = 0.33*sqrt(fcp); % Resistência à tração do concreto
Ec = ((2*(fcp))/0.002)/1000; % Módulo de elasticidade do concreto
ecr = ft/Ec; % Deformação limite à tração do concreto
%

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 242


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Impressão dos dados de entrada


fprintf ('**************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('***ANÁLISE DE ELEMENTOS DE MEMBRANA EM CONCRETO ESTRUTURAL****');
fprintf ('\n');
fprintf ('Software desenvolvido por Rafael Alves de Souza, 2012');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('************** Resumo dos Dados de Entrada *******************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('Porcentagem de armadura na direção x = %2.2f \n', rhox*100);
fprintf ('Diâmetro das barras na direção x (mm) = %2.2f \n', dx);
fprintf ('Resistência ao escoamento na direção x(MPa) = %2.2f \n', fyx);
fprintf ('Espaçamento médio de fissuras na direção x(mm) = %2.2f \n', smx);
fprintf ('Porcentagem de armadura na direção y = %2.2f \n', rhoy*100);
fprintf ('Diâmetro das barras na direção y (mm) = %2.2f \n', dy);
fprintf ('Resistência ao escoamento na direção y(MPa) = %2.2f \n', fyy);
fprintf ('Espaçamento médio de fissuras na direção y(mm) = %2.2f \n', smy);
fprintf ('Resistência à compressão do concreto(MPa) = %2.2f \n', fcp);
fprintf ('Resistência à tração do concreto(MPa) = %2.2f \n', ft);
fprintf ('Diâmetro máximo dos agregados(mm) = %2.2f \n', agg);
fprintf ('Tensão normal na direção x(MPa) = %2.2f \n', fx);
fprintf ('Tensão normal na direção y(MPa) = %2.2f \n', fy);
fprintf ('Tensão de cisalhamento no plano xy(MPa) = %2.2f \n', gxy);
fprintf ('Número de passos de carga = %2.2f \n', load_steps);
fprintf ('Fator de carga = %2.2f \n', load_factor);
fprintf ('\n');

% Inicialização dos Passos de Carga

for m = 1:load_steps

% Inicialização das Deformações e Tensões Principais


ex = 0.0; %Deformação axial inicial na direção x
ey = 0.0; % Deformação axial inicial na direção y
exy = 0.00001; % Deformação cisalhante inicial em xy
f_1g = 0.0000001; % Tensão principal inicial na direção principal 1
f_2g = 0.0000001; % Tensão princial inicial na direção principal 2

% Definição do Vetor de Cargas e das Tolerâncias para Aceitar Convergência


F = [fx ; fy; gxy]; % Vetor de tensões
F = (F/load_factor)*m; % Vetor de tensões para o passo de carga corrente
F_new = [0; 0; 0]; % Novo vetor de tensões
tol1 = abs(F(1) - F_new(1)); % Tolerância de erro para tensão axial em x
tol2 = abs(F(2) - F_new(2)); % Tolerância de erro para tensão axial em y
tol3 = abs(F(3) - F_new(3)); % Tolerância de erro para tensão cisalhante
i = 1; %Passo de carga inicial

while abs(tol1)> 0.000001 & abs(tol2) > 0.0000001 & abs(tol3) > 0.0000001

n = i;

% Estado de Deformação
arad = sqrt(((ey - ex)^2) + (exy^2)) /2; % Raio do círculo para deformação
acen =(ex + ey)/ 2; % Centro do circulo para deformação
e_1a = acen + arad; % Deformação principal inicial na direção 1
e_2a = acen-arad; % Deformação principal inicial na direção 2

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 243


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Rotina para evitar indefinicão de theta


if (ey - ex) == 0;
theta_a = 45;
else
theta_a = 0.5*atand((exy)/(ey - ex));
end

% Rotina para deixar theta sempre positivo


if theta_a < 0
theta_a = 90 + theta_a;
end

% Solução através do Método Secante


% Calculo da Rigidez Secante dos Materiais em Função da Deformação

%Rigidez secante para concreto na direção principal 1


if abs(f_1g) < 0.0001;
Ec_1 = Ec;
else
Ec_1 = f_1g/e_1a;
end

if abs(f_1g) == 0.0001
Ec_1 = 0.0000001;
end

% Rigidez secante para concreto na direção principal 2


if abs(f_2g) < 0.0001;
Ec_2 = Ec;
else
Ec_2 = f_2g/e_2a;
end

% Rigidez secante transversal


Gc = (Ec_1*Ec_2) /(Ec_1 + Ec_2);

% Rigidez secante para armadura na direção x


if ex == 0.0;
Esx = Esxx;
else
Esx = (min(Esxx*ex,fyx))/ex;
end

% Rigidez secante para armadura na direção x


if ey == 0.0;
Esy = Esyy;
else
Esy =(min(Esyy*ey,fyy))/ey;
end

% Matriz secante para concreto nas direções principais


Dc = [Ec_2 0 0 ; 0 Ec_1 0; 0 0 Gc];

% Matriz secante para as armaduras


Ds = [rhox*Esx 0 0; 0 rhoy*Esy 0; 0 0 0];

% Matriz de transformação para concreto para os eixos x e y


psi = 180 - theta_a;
T = [cosd(psi)^2 sind(psi)^2 cosd(psi)*sind(psi);

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 244


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

sind(psi)^2 cosd(psi)^2 -cosd(psi)*sind(psi);


-2*cosd(psi)*sind(psi) 2*cosd(psi)*sind(psi) ((cosd(psi)^2)-
(sind(psi)^2))];
TT = transpose (T);

% Matriz de Rigidez Total (Concreto + Armaduras)


D = ((TT * Dc) * T) + Ds;

% Cálculo do novo estado de deformação


New_Strain = (inv (D))* F; % Novas deformações
exm = New_Strain (1); % Deformação axial em x
eym = New_Strain (2); % Deformação axial em y
exym = New_Strain (3); % Deformação cisalhante

% Cálculo das deformações principais a partir do Círculo de Mohr's


rad = sqrt(((eym - exm)^2) + (exym^2)) /2; % Raio do circulo
cen =(exm + eym)/ 2; % Centro do círculo
e_1 = cen + rad; % Deformação principal na direção 1
e_2 = cen - rad; % Deformação principal na direção 2

% Cálculo do novo ângulo theta


if (eym - exm) == 0;
theta = 45;
else
theta = 0.5*atand((exym)/(eym - exm));
end

% Rotina para manter theta sempre positivo


if theta < 0
theta = 90 + theta;
end

% Cálculo das novas tensões em função das novas deformações

% Tensão atuante nas armaduras da direção x


fsxa = 200*exm; % Tensão elástica
fsx = min (fsxa, fyx); % Mínimo entre tensão elástica e de escoamento

% Tensão atuante nas armaduras da direção y


fsya = 200*eym; % Tensão elástica
fsy = min (fsya, fyy); % Mínimo entre tensão elástica e de escoamento

% Máxima tensão de compressão atuante no concreto


f2maxa = -fcp /(0.8 + 0.17*e_1); % Softening para compressão
f2max = max (f2maxa,-fcp); % Escolha do valor de pico
f_2 = f2max*(-e_2-(e_2/2)^2); % Máxima compressão

% Tensão de tração atuante no concreto


f1_u = e_1*Ec; % Tensão elástica para tração
f1_c = 0.0001; % Equação com Softening para tração
if e_1 < ecr
f_1a = f1_u;
else
f_1a = f1_c;
end

f_1 = f_1a;

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 245


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Espaçamento médio das fissuras


smth = 1/(sind(theta)/smx + cosd(theta)/smy);

% Abertura média de fissuras


w = smth*e_1/1000;

% Resultados finais de tensão, deformação e tolerâncias

rads = (f_1 - f_2)/2; %Raio do circulo de Mohr


cens = (f_1 + f_2)/2; % Centro do círculo de Mohr
fx_new = cens - rads*cosd(theta*2)+ rhox*fsx; % Nova tensão fx
fy_new = cens + rads*cosd(theta*2)+ rhoy*fsy; % Nova tensão fy
gxy_new = rads*sind(theta*2); % Nova tensão gxy
F_new = [fx_new; fy_new; gxy_new]; % Novo vetor de tensões

ex = exm; % Deformação na direção x


ey = eym; % Deformação na direção y
exy = exym; % Deformação na direção xy

f_1g = f_1; % Tensão principal na direção 1


f_2g = f_2; % Tensão principal na direção 2

tol1 = abs(F(1) - F_new(1)); % Tolerância calculada tensão axial em x


tol2 = abs(F(2) - F_new(2)); % Tolerância calculada tensão axial em y
tol3 = abs(F(3) - F_new(3)); % Tolerância calculada tensão cisalhante

% Imprime resultados para cada passo de carga e iteração

fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('Passo de Carga Número = %2.2f \n', m);
fprintf ('Iteração Número = %2.2f \n', i);
fprintf ('SigmaX (MPa) = %2.2f \n', F(1));
fprintf ('SigmaY (MPa) = %2.2f \n', F(2));
fprintf ('TalXY (MPa) = %2.2f \n', F(3));
fprintf ('EpsilonX (mm/m) = %2.2f \n', ex);
fprintf ('EpsilonY (mm/m) = %2.2f \n', ey);
fprintf ('GamaXY (mm/m) = %2.2f \n', exy);
fprintf ('Theta (degrees) = %2.2f \n', theta);
fprintf ('Espaçamento entre fissuras (mm) = %2.2f \n', smth);
fprintf ('Abertura média de fissuras (mm) = %2.2f \n', w);
if fsx >= fyx
fprintf ('fsx (MPa) = %2.2f \n', fsx);
fprintf ('***Armadura Longitudinal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('fsx (MPa) = %2.2f \n', fsx);
end
if fsy >= fyy
fprintf ('fsy (MPa) = %2.2f \n', fsy);
fprintf ('***Armadura Transversal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('fsy (MPa) = %2.2f \n', fsy);
end
fprintf ('Tensão principal de tração f1 (MPa) = %2.2f \n', f_1g);
fprintf ('Tensão principal de compressão f2 (MPa) = %2.2f \n', f_2g);
graph (m+1,1)= F(3);
graph (m+1,2)= exy;
graph_crack (m+1,1)= F(3);

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 246


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

graph_crack (m+1,2)= w;
graph_steel_x (m+1,1)= gxy_new;
graph_steel_x (m+1,2)= fsx;
graph_steel_y (m+1,1)= gxy_new;
graph_steel_y (m+1,2)= fsy;
FR = F(3)/gxy;
fprintf ('Fator de segurança ao cisalhamento) = %2.2f \n', FR);
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');

i = n + 1; % Contador para próxima iteração

% Rotina para interromper o processo após 10.000 iterações


if i >= 10000
break
end
end

% Imprime aviso quando convergência não é possível


if i >= 10000
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('Passo de Carga Número = %2.2f \n', m);
fprintf ('\n');
fprintf ('Não foi possivel atingir a convergência após 10.000 iterações');
fprintf ('\n');
fprintf ('Provavel Ruina do Elemento de Membrana em Concreto Armado');
fprintf ('\n');
fprintf ('Aumente o fator de carga e o número de passos de carga');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
end
end

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus deformação cisalhante


figure(1);
subplot(2,2,1)
X = graph(:,1);
Y = graph(:,2);
Z = gxy;
grid on;
line(Y,X,'color','b','linewidth',2);
line([0 Y(length(Y))],[Z Z],'color','k','linewidth',2);
ylabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
xlabel ('Deformação de Cisalhamento (mm/m)');
title ('\bfTensão Cisalhante versus Deformação Cisalhante');

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus tensão na armadura x


subplot(2,2,2)
A = graph(:,1);
B = graph_steel_x(:,2);
grid on;
line(A,B,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura na Direção x (MPa)');
title ('\bfTensão de Cisalhamento versus Tensão na Armadura x');

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 247


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus tensão na armadura y


subplot(2,2,3);
C = graph(:,1);
D = graph_steel_y(:,2);
grid on;
line(C,D,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura na Direção y (MPa)');
title ('\bfTensão de Cisalhamento versus Tensão na Armadura y');

% Desenha o gráfico tensão na armadura x versus tensão na armadura y


subplot(2,2,4);
E = graph(:,1);
F = graph_crack(:,2);
grid on;
line(E,F,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Abertura de Fissuras (mm)');
title ('\bfTensão Cisalhante versus Abertura de Fissuras');

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 248


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE C
(Código MATLAB para o Método Secante)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 249


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
% %
% Exemplo de Utilização do Método Secante %
% Relação Constitutiva do Concreto à Compressão %
% Versão iniciada em 25 de Fevereiro de 2009 por Rafael Alves de Souza %
% %
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

clear all
clc
hold all

% Definição da Deformação de Pico (micro strain)


elc = 2;

% Definição da Tensão de Pico (MPa)


flc = 30;

% Definição da Relação Tensão Versus Deformação (Modelo Parabólico)


y = 'flc*(((2.*x)/(elc))-((x./elc).^2))';

% Definição da Tensão Alvo (MPa)


sol_y = 25;

% Desenho da Relação Constitutiva com a Tensão Alvo


figure(1);
x = [0:0.0001:2];
yy = eval(y);
line(x,yy,'color','r','linewidth',2);
line([0 x(length(x))],[sol_y sol_y],'color','k','linewidth',1);
xlabel ('Deformações (o/oo)');
ylabel ('Tensões(MPa)');
title ('\bfMétodo Secante-Relação Constitutiva do Concreto à Compressão');

% Initialização
clear x yy; % Limpeza de valores
dy = 30; % Inclinação Inicial (Módulo de Elasticidade, GPa)
x = sol_y/dy; % Solução Inicial
del_y = sol_y - eval(y); % Erro Inicial
tol = 0.001; % Tolerância

% Plotagem da Primeira Linha Secante


line([0 x x],[0 sol_y eval(y)]);

% Resolução Utilizando o Método Secante


while (abs(del_y) > tol)
dy = eval(y)/x; % Atualização da Rigidez Secante
x = sol_y/dy; % Atualização de x (Tensão)
del_y = sol_y - eval(y); % Determinação do Erro Corrente

% Plotagem das linhas secantes subsequentes


line([0 x x],[0 sol_y eval(y)]);
end

fprintf('Tensão Alvo(MPa) =%2.2f \n', sol_y);


fprintf('Deformação para a Tensão Alvo(o/oo) =%2.2f \n', x);

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 250


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE D
(Dedução das Equações da Modified Compression Field Theory)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 251


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Seja o elemento em concreto armado fissurado apresentado na Figura D.1. Conforme pode-se
observar, podem ser deduzidas equações para as regiões entre fissuras (tensões médias, seção
1) e para as regiões na interface da fissuração (tensões locais, seção 2).

Figura D.1 - Elemento de membrana analisado com a Modified Compression Field Theory

1. Equilíbrio das tensões médias (seção 1)

∑F x =0

− f x ⋅ senθ ⋅ h − v ⋅ cos θ ⋅ h + f sx . Asx ⋅ senθ + f 1 ⋅ 1 ⋅ h ⋅ senθ = 0

Asx
− f x ⋅ senθ − v ⋅ cos θ + f sx . ⋅ senθ + f 1 ⋅ senθ = 0
h
− f x ⋅ senθ − v ⋅ cos θ + f sx ⋅ ρ x ⋅ senθ + f1 ⋅ senθ = 0

f sx ⋅ ρ x ⋅ senθ = f x ⋅ senθ + v ⋅ cos θ − f 1 ⋅ senθ

ρ x ⋅ f sx = f x + v ⋅ cot θ − f 1 (1)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 252


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

∑F y =0

− f y ⋅ cos θ ⋅ h − v ⋅ senθ ⋅ h + f sy . Asy ⋅ cos θ + f 1 ⋅ 1 ⋅ h ⋅ cos θ = 0

Asy
− f y ⋅ cos θ − v ⋅ senθ + f sy . ⋅ cos θ + f 1 ⋅ cos θ = 0
h
− f y ⋅ cos θ − v ⋅ senθ + f sy .ρ y ⋅ cos θ + f 1 ⋅ cos θ = 0

f sy ⋅ ρ y ⋅ cos θ = f y ⋅ cos θ + v ⋅ senθ − f1 ⋅ cos θ

ρ y ⋅ f sy = f y + v ⋅ tgθ − f 1 (2)

∑F y =0

v ⋅ 1 ⋅ h − f 2 ⋅ cos θ ⋅ senθ ⋅ h − f 1 ⋅ senθ ⋅ cos θ ⋅ h = 0

v − f 2 ⋅ cos θ ⋅ senθ − f 1 ⋅ senθ ⋅ cos θ = 0

− f 2 ⋅ cos θ ⋅ senθ = −v + f1 ⋅ senθ ⋅ cos θ

v
f2 = − f1
cos θ ⋅ senθ
senθ cos θ sen ²θ + cos ²θ 1
Sabendo-se que tan θ + cot θ = + = = , tem-se que:
cos θ senθ senθ . cos θ senθ . cos θ
f 2 = v ⋅ (tan θ + cot θ ) − f 1 (3)

2. Equilíbrio das tensões locais (seção 2)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 253


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Enquanto a tensão média de cisalhamento é zero na Seção 1 (em termos de tensões médias
esse é um plano principal), na Seção 2 ocorrerá a tensão vci, que pode ser acompanhanda por
uma pequena compressão fci, normalmente tomada como zero. O equilíbrio leva às seguintes
equações:

∑F x =0

− f x ⋅ senθ ⋅ h − v ⋅ cos θ ⋅ h + f sxcr . Asx ⋅ senθ − vci ⋅ 1 ⋅ h ⋅ cos θ = 0

Asx
− f x ⋅ senθ − v ⋅ cos θ + f sxcr . ⋅ senθ − vci ⋅ cos θ = 0
h
− f x ⋅ senθ − v ⋅ cos θ + f sxcr .ρ x ⋅ senθ − vci ⋅ cos θ = 0

f sxcr ⋅ ρ x ⋅ senθ = f x ⋅ senθ + v ⋅ cos θ + vci ⋅ cos θ

ρ x ⋅ f sxcr = f x + v ⋅ cot θ + vci ⋅ cot θ (4)

∑F y =0

− f y ⋅ cos θ ⋅ h − v ⋅ senθ ⋅ h + f sycr . Asy ⋅ cos θ + v ci ⋅ 1 ⋅ h ⋅ senθ = 0

Asy
− f y ⋅ cos θ − v ⋅ senθ + f sycr . ⋅ cos θ + vci ⋅ senθ = 0
h
− f y ⋅ cos θ − v ⋅ senθ + f sycr .ρ y ⋅ cos θ + vci ⋅ senθ = 0

f sycr ⋅ ρ y ⋅ cos θ = f y ⋅ cos θ + v ⋅ senθ − vci ⋅ senθ

ρ y ⋅ f sycr = f y + v ⋅ tgθ − vci ⋅ tgθ (5)

3. Escoamento biaxial

Da Equação (1), tem-se que:

ρ x ⋅ f sx = f x + v ⋅ cot θ − f 1

∴ f x = ρ x ⋅ f sx − v ⋅ cot θ + f 1 (6)

Substituindo fx na Equação (4), tem-se que:

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 254


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ρ x ⋅ f sxcr = f x + v ⋅ cot θ + vci ⋅ cot θ

ρ x ⋅ f sxcr = ρ x ⋅ f sx − v ⋅ cot θ + f 1 + v ⋅ cot θ + vci ⋅ cot θ

ρ x ⋅ f sxcr = ρ x ⋅ f sx + f 1 + v ci ⋅ cot θ (7)

Da Equação (2), tem-se que:

ρ y ⋅ f sy = f y + v ⋅ tgθ − f 1

∴ f y = ρ y ⋅ f sy − v ⋅ tgθ + f 1 (8)

Substituindo fy da Equação (8) na Equação (5), tem-se:

ρ y ⋅ f sycr = f y + v ⋅ tgθ − vci ⋅ tgθ

ρ y ⋅ f sycr = ρ y ⋅ f sy − v ⋅ tgθ + f + v ⋅ tgθ − vci ⋅ tgθ

ρ y ⋅ f sycr = ρ y ⋅ f sy + f 1 − vci ⋅ tgθ (9)

Multiplicando-se a Equação (7) por sen²θ e a Equação (9) por cos²θ tem-se:

ρ x ⋅ f sxcr ⋅ sen²θ = ρ x ⋅ f sx ⋅ sen²θ + f 1 ⋅ sen²θ + vci ⋅ senθ ⋅ cos θ


 ⊕
ρ y ⋅ f sycr ⋅ cos ²θ = ρ y ⋅ f sy ⋅ cos ²θ + f 1 ⋅ cos ²θ − vci ⋅ senθ ⋅ cos θ

Somando-se as expressões anteriores, tem-se:

ρ x ⋅ f sxcr ⋅ sen²θ + ρ y ⋅ f sycr ⋅ cos ²θ = ρ x ⋅ f sx ⋅ sen²θ + f1 ⋅ sen²θ + ρ y ⋅ f sy ⋅ cos ²θ + f1 ⋅ cos ²θ

f1 = ρ x ⋅ f sxcr ⋅ sen ²θ + ρ y ⋅ f sycr ⋅ cos ²θ − ρ x ⋅ f sx ⋅ sen ²θ − ρ y ⋅ f sy ⋅ cos ²θ

f 1 = ρ x ⋅ ( f sxcr − f sx ) ⋅ sen ²θ + ρ y ⋅ ( f sycr − f sy ) ⋅ cos ²θ (10)

Como as tensões fsxcr e fsycr devem ser no máximo iguais as suas respectivas tensões de
escoamento, tem-se que:
f 1 ≤ ρ x ⋅ ( f sxcr − f sx ) ⋅ sen ²θ + ρ y ⋅ ( f sycr − f sy ) ⋅ cos ²θ (11.a)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 255


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Ou ainda, de maneira alternativa:

f 1 ≤ f 1cx ⋅ sen ²θ + f1cy ⋅ cos ²θ (11.b)

4. Tensão de cisalhamento na fissura

A tensão de cisalhamento na fissura não deve ultrapassar a máxima tensão de cisalhamento


permitida, isto é:

0,18 ⋅ f 'c
v ci ≤ v ci ,max = (12) (Unidades em MPa e mm)
24 ⋅ w
0,31 +
a g + 16

w = ε 1 ⋅ s mθ

1
smθ =
senθ cos θ
+
smx smy

2 φx 2 φy
smx = ⋅ e smy = ⋅
3 3,6 ⋅ f x 3 3,6 ⋅ f y

Além disso, recorrendo-se às Equações (7) e (9), pode-se encontrar uma expressão
apropriada para vci. Multiplicando a Equação (7) por senθ.cosθ e a Equação (9) por
(-senθ.cosθ), tem-se:

ρ x ⋅ f sxcr = ρ x ⋅ f sx + f 1 + v ci ⋅ cot θ (7)

ρ y ⋅ f sycr = ρ y ⋅ f sy + f 1 − vci ⋅ tgθ (9)

ρ x ⋅ f sxcr ⋅ senθ ⋅ cos θ = ρ x ⋅ f sx ⋅ senθ ⋅ cos θ + f1 ⋅ senθ ⋅ cos θ + vci ⋅ cos ²θ


 ⊕
− ρ y ⋅ f sycr ⋅ senθ ⋅ cos θ = − ρ y ⋅ f sy ⋅ senθ ⋅ cos θ − f1 ⋅ senθ ⋅ cos θ + vci ⋅ sen ²θ

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 256


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Somando-se as duas expressões anteriores, tem-se que:

ρ x ⋅ f sxcr ⋅ senθ ⋅ cosθ − ρ y ⋅ f sycr ⋅ senθ ⋅ cosθ = ρ x ⋅ f sx ⋅ senθ ⋅ cos θ − ρ y ⋅ f sy ⋅ senθ ⋅ cos θ + vci

Isolando-se a tensão de cisalhamento, tem-se:

vci = (ρ x ⋅ f sxcr − ρ y ⋅ f sycr ) ⋅ senθ ⋅ cos θ − ρ x ⋅ f sx ⋅ senθ ⋅ cosθ + ρ y ⋅ f sy ⋅ senθ ⋅ cos θ

vci = ρ x ( f sxcr − f sx ) ⋅ senθ ⋅ cosθ − ρ y ⋅ ( f sycr − f sy )⋅ senθ ⋅ cosθ


14 4244 3 144244 3
f1cx f1cy

vci = f1cx ⋅ senθ ⋅ cosθ − f1cy ⋅ senθ ⋅ cosθ

vci = ( f1cx − f1cy )⋅ senθ ⋅ cosθ (13)

A Equação (13) representa a máxima tensão de cisalhamento para que ocorra o escoamento
biaxial das armaduras. Por outro lado, a máxima tensão de cisalhamento pode ser obtida
graficamente a partir da figura a seguir:

f 1cx
.co
sθ.
n²θ

sen
θ
.se

θ
f 1cx

f 1cy
.co
sθ. f 1cx.senθ
se nθ
θ
f 1cy.cosθ

s²θ
. co
f 1cy
θ

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 257


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

f 1cx − f 1cy
v ci ,max,b = v ci, 2 = f 1cx − f 1cy ⋅ senθ ⋅ cos θ =
tan θ + cot θ

Relembrando as Equações (7) e (9), tem-se:

ρ x ⋅ f sxcr = ρ x ⋅ f sx + f 1 + v ci ⋅ cot θ (7)

ρ y ⋅ f sycr = ρ y ⋅ f sy + f 1 − vci ⋅ tgθ (9)

Que podem ser reescritas como:


f 1 = ρ x ⋅ f sxcr − ρ x ⋅ f sx − vci ⋅ cot θ

f 1 = ρ y ⋅ f sycr − ρ y ⋅ f sy + vci ⋅ tgθ

f 1 = ρ x ⋅ ( f sxcr − f sx ) − vci ⋅ cot θ

f 1 = ρ y ⋅ ( f sycr − f sy ) + v ci ⋅ tgθ

f 1c = f 1cx + min(vci ,max, a ; v ci ,max,b ) ⋅ cot θ (14)

f 1d = f1cy + min(v ci ,max, a ; vci , max,b ) ⋅ tgθ (15)

5. Resumo do crack-check

A tensão de tração no concreto ocorre entre fissuras e nessas fissuras ela cai a zero,
acontecendo portanto uma transferência desta tensão de tração para as armaduras. Desta
forma, as tensões nas armaduras aumentam nas fissuras e f1 fica limitado pela seguinte
expressão.

f 1 = min( f 1,a ; f 1,b ; f1,c ; f 1,d ) ⋅ tgθ (17)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 258


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

a) Cálculo de f1,a

f 1a = ε 1 ⋅ Ec se ε 1 < ε cr

f cr
f 1a = se ε 1 ≥ ε cr
1 + 500 ⋅ ε 1

b) Cálculo de f1,b

f 1b = f 1cx ⋅ sen ²θ + f 1cy ⋅ cos ²θ (Equação (11), condição de escoamento biaxial sem presença

de cisalhamento na fissura)
f 1cx = ρ x ⋅ ( f yx − f sx )

f 1cy ≤ ρ y ⋅ ( f yy − f sy )

c) Cálculo de f1,c

0,18 ⋅ f 'c
v ci ≤ v ci ,max =
24 ⋅ w
0,31 +
a g + 16

vci ,max,b ≤ f 1cx − f1cy ⋅ senθ ⋅ cos θ (ver Equação (13))

f 1c = f 1cx + min(vci ,max, a ; v ci ,max,b ) ⋅ cot θ (Equação (14), máxima tensão com escoamento em x

considerando cisalhamento)

d) Cálculo de f1,c

f 1d = f1cy + min(v ci ,max, a ; vci , max,b ) ⋅ tgθ ( Equação (15), máxima tensão com escoamento em y

considerando cisalhamento)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 259


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 260


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE E
(Código MATLAB para Análise com a Modified Compression Field
Theory)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 261


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
% %
% Análise de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural %
% Modelo de Cálculo: Modified Compression Field Theory %
% Versão iniciada em 25 de Fevereiro de 2009 por Rafael Alves de Souza %
% %
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
clc % Limpa a tela de comando
clear % Remove todas as variáveis da área de trabalho
%
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Input Data
%
rhox = 2.195/100; % Taxa de armadura na direção x
dx = 8; % Diâmetro das barras na direção x (mm)
fyx = 402; % Tensão de escoamento das barras na direção x (MPa)
Esxx = 200; % Módulo de elasticidade das barras na direção x (GPa)
rhoy = 0; % Taxa de armadura na direção y
dy = 8; % Diâmetro das barras na direção y (mm)
fyy = 0; % Tensão de escoamento das barras na direção y (MPa)
Esyy = 0; % Módulo de elasticidade das barras na direção y (GPa)
fcp = 21.8; % Resistência à compressão do concreto (MPa)
agg = 6; % Diâmetro máximo dos agregados (mm)
fx = 3.1; % Tensão normal na direção x (MPa)
fy = 0; % Tensão normal na direção y (MPa)
gxy = 1; % Tensão de cisalhamento no plano xy (MPa)
load_steps = 100; % Número de passos de carga
load_factor = 10; % Fator de carga
%
% Observações:
% O fator de carga deve ser menor do que o número de passo de carga!
% Para passo de carga único definir load_steps = 1 e load_factor = 1
% O carregamento indicado será dividido pelo load_factor e serão dados
% incrementos com esse valor num número total de load_steps.
%
%
% Inicialização das variáveis
%
i = 0; %
graph = [0.0000 0.0000];
graph_steel_x = [0.0000 0.0000];% Inicialização do gráfico da armadura x
graph_steel_y = [0.0000 0.0000];% Inicialização do gráfico da armadura y
smx = (2/3)*((dx)/(3.6*rhox)); % Distância média de fissuras na direção x
smy = (2/3)*((dy)/(3.6*rhoy)); % Distância média de fissuras na direção y
%
if fx == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
fx = 0.000001;
end
%
if fy == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
fy = 0.000001;
end
%
if gxy == 0; % Evita problemas de processamento para variáveis nulas
gxy = 0.00001;
end
%
% Propriedades do concreto calculadas a partir dos dados de entrada
%

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 262


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

ft = 0.33*sqrt(fcp); % Resistência à tração do concreto


Ec = ((2*(fcp))/0.002)/1000; % Módulo de elasticidade do concreto
ecr = ft/Ec; % Deformação limite à tração do concreto
%
% Impressão dos dados de entrada
fprintf ('**************************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('***ANÁLISE DE ELEMENTOS DE MEMBRANA EM CONCRETO ESTRUTURAL****');
fprintf ('\n');
fprintf ('Software desenvolvido por Rafael Alves de Souza, 2012');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('************** Resumo dos Dados de Entrada *******************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('Porcentagem de armadura na direção x = %2.2f \n', rhox*100);
fprintf ('Diâmetro das barras na direção x (mm) = %2.2f \n', dx);
fprintf ('Resistência ao escoamento na direção x(MPa) = %2.2f \n', fyx);
fprintf ('Espaçamento médio de fissuras na direção x(mm) = %2.2f \n', smx);
fprintf ('Porcentagem de armadura na direção y = %2.2f \n', rhoy*100);
fprintf ('Diâmetro das barras na direção y (mm) = %2.2f \n', dy);
fprintf ('Resistência ao escoamento na direção y(MPa) = %2.2f \n', fyy);
fprintf ('Espaçamento médio de fissuras na direção y(mm) = %2.2f \n', smy);
fprintf ('Resistência à compressão do concreto(MPa) = %2.2f \n', fcp);
fprintf ('Resistência à tração do concreto(MPa) = %2.2f \n', ft);
fprintf ('Diâmetro máximo dos agregados(mm) = %2.2f \n', agg);
fprintf ('Tensão normal na direção x(MPa) = %2.2f \n', fx);
fprintf ('Tensão normal na direção y(MPa) = %2.2f \n', fy);
fprintf ('Tensão de cisalhamento no plano xy(MPa) = %2.2f \n', gxy);
fprintf ('Número de passos de carga = %2.2f \n', load_steps);
fprintf ('Fator de carga = %2.2f \n', load_factor);
fprintf ('\n');

% Inicialização dos Passos de Carga

for m = 1:load_steps

% Rotina para interromper o processo após 5.000 iterações


if i >= 5000
break
end

% Inicialização das Deformações e Tensões Principais


ex = 0.0; %Deformação axial inicial na direção x
ey = 0.0; % Deformação axial inicial na direção y
exy = 0.00001; % Deformação cisalhante inicial em xy
f_1g = 0.0000001; % Tensão principal inicial na direção principal 1
f_2g = 0.0000001; % Tensão princial inicial na direção principal 2

% Definição do Vetor de Cargas e das Tolerâncias para Aceitar Convergência


F = [fx ; fy; gxy]; % Vetor de tensões
F = (F/load_factor)*m; % Vetor de tensões para o passo de carga corrente
F_new = [0; 0; 0]; % Novo vetor de tensões
tol1 = abs(F(1) - F_new(1)); % Tolerância de erro para tensão axial em x
tol2 = abs(F(2) - F_new(2)); % Tolerância de erro para tensão axial em y
tol3 = abs(F(3) - F_new(3)); % Tolerância de erro para tensão cisalhante
i = 1; %Passo de carga inicial

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 263


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

while abs(tol1)> 0.000001 & abs(tol2) > 0.0000001 & abs(tol3) > 0.0000001

n = i;

% Estado de Deformação
arad = sqrt(((ey - ex)^2) + (exy^2)) /2; % Raio do círculo para deformação
acen =(ex + ey)/ 2; % Centro do circulo para deformação
e_1a = acen + arad; % Deformação principal inicial na direção 1
e_2a = acen-arad; % Deformação principal inicial na direção 2

% Rotina para evitar indefinicão de theta


if (ey - ex) == 0;
theta_a = 45;
else
theta_a = 0.5*atand((exy)/(ey - ex));
end

% Rotina para deixar theta sempre positivo


if theta_a < 0
theta_a = 90 + theta_a;
end

% Solução através do Método Secante


% Calculo da Rigidez Secante dos Materiais em Função da Deformação

%Rigidez secante para concreto na direção principal 1


if abs(f_1g) <= 0.0001;
Ec_1 = Ec;
else
Ec_1 = f_1g/e_1a;
end

% Rigidez secante para concreto na direção principal 2


if abs(f_2g) <= 0.0001;
Ec_2 = Ec;
else
Ec_2 = f_2g/e_2a;
end

% Rigidez secante transversal


Gc = (Ec_1*Ec_2) /(Ec_1 + Ec_2);

% Rigidez secante para armadura na direção x


if ex == 0.0;
Esx = Esxx;
else
Esx = (min(Esxx*ex,fyx))/ex;
end

% Rigidez secante para armadura na direção x


if ey == 0.0;
Esy = Esyy;
else
Esy =(min(Esyy*ey,fyy))/ey;
end

% Matriz secante para concreto nas direções principais


Dc = [Ec_2 0 0 ; 0 Ec_1 0; 0 0 Gc];

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 264


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Matriz secante para as armaduras


Ds = [rhox*Esx 0 0; 0 rhoy*Esy 0; 0 0 0];

% Matriz de transformação para concreto para os eixos x e y


psi = 180 - theta_a;
T = [cosd(psi)^2 sind(psi)^2 cosd(psi)*sind(psi);
sind(psi)^2 cosd(psi)^2 -cosd(psi)*sind(psi);
-2*cosd(psi)*sind(psi) 2*cosd(psi)*sind(psi) ((cosd(psi)^2)-
(sind(psi)^2))];
TT = transpose (T);

% Matriz de Rigidez Total (Concreto + Armaduras)


D = ((TT * Dc) * T) + Ds;

% Cálculo do novo estado de deformação


New_Strain = (inv (D))* F; % Novas deformações
exm = New_Strain (1); % Deformação axial em x
eym = New_Strain (2); % Deformação axial em y
exym = New_Strain (3); % Deformação cisalhante

% Cálculo das deformações principais a partir do Círculo de Mohr's


rad = sqrt(((eym - exm)^2) + (exym^2)) /2; % Raio do circulo
cen =(exm + eym)/ 2; % Centro do círculo
e_1 = cen + rad; % Deformação principal na direção 1
e_2 = cen - rad; % Deformação principal na direção 2

% Cálculo do novo ângulo theta


if (eym - exm) == 0;
theta = 45;
else
theta = 0.5*atand((exym)/(eym - exm));
end

% Rotina para manter theta sempre positivo


if theta < 0
theta = 90 + theta;
end

% Cálculo das novas tensões em função das novas deformações

% Tensão atuante nas armaduras da direção x


fsxa = 200*exm; % Tensão elástica
fsx = min (fsxa, fyx); % Mínimo entre tensão elástica e de escoamento

% Tensão atuante nas armaduras da direção y


fsya = 200*eym; % Tensão elástica
fsy = min (fsya, fyy); % Mínimo entre tensão elástica e de escoamento

% Máxima tensão de compressão atuante no concreto


f2maxa = -fcp /(0.8 + 0.17*e_1); % Softening para compressão
f2max = max (f2maxa,-fcp); % Escolha do valor de pico
f_2 = f2max*(-e_2-(e_2/2)^2); % Máxima compressão

% Tensão de tração atuante no concreto


f1_u = e_1*Ec; % Tensão elástica para tração
f1_c = ft/(1 + sqrt(0.5 * e_1)); % Equação com Softening para tração
if e_1 < ecr
f_1a = f1_u;
else

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 265


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

f_1a = f1_c;
end

% Procedimento de "crack check" para limitar f1

% Espaçamento médio das fissuras


smth = 1/(sind(theta)/smx + cosd(theta)/smy);

% Abertura média de fissuras


w = smth*e_1/1000;

% vci max
vcimaxa = 0.18 * sqrt(fcp)/(0.3 + 24 * w /(agg + 16));

% f1cx - Reserva de capacidade das fissuras na direção x


f1cx = rhox*(fyx-fsx);

% f1cy - Reserva de capacidade das fissura na direção y


f1cy = rhoy*(fyy-fsy);

% Crack check 1: Escoamento biaxial


f_1b = f1cx*sind(theta)^2 + f1cy*cosd(theta)^2;

% Crack check 2a : Escorregamento/Escoamento para max vci


vcimaxb = abs((f1cx - f1cy)/(sind(theta)*cosd(theta)));

% Crack check 2b : min f1 para direção x


f_1c = f1cx + min(vcimaxa,vcimaxb)/tand(theta);

% Crack check 2c : min f1 para direção y


f_1d = f1cy + min(vcimaxa,vcimaxb)* tand(theta);

% Valor final de f1 após "crack check"


f_1_list = [f_1a f_1b f_1c f_1d];
f_1 = min(f_1_list);

% Resultados finais de tensão, deformação e tolerâncias

rads = (f_1 - f_2)/2; %Raio do circulo de Mohr


cens = (f_1 + f_2)/2; % Centro do círculo de Mohr
fx_new = cens - rads*cosd(theta*2)+ rhox*fsx; % Nova tensão fx
fy_new = cens + rads*cosd(theta*2)+ rhoy*fsy; % Nova tensão fy
gxy_new = rads*sind(theta*2); % Nova tensão gxy
F_new = [fx_new; fy_new; gxy_new]; % Novo vetor de tensões

ex = exm; % Deformação na direção x


ey = eym; % Deformação na direção y
exy = exym; % Deformação na direção xy

f_1g = f_1; % Tensão principal na direção 1


f_2g = f_2; % Tensão principal na direção 2

tol1 = abs(F(1) - F_new(1)); % Tolerância calculada tensão axial em x


tol2 = abs(F(2) - F_new(2)); % Tolerância calculada tensão axial em y
tol3 = abs(F(3) - F_new(3)); % Tolerância calculada tensão cisalhante

% Imprime resultados para cada passo de carga e iteração

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 266


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('Passo de Carga Número = %2.2f \n', m);
fprintf ('Iteração Número = %2.2f \n', i);
fprintf ('SigmaX (MPa) = %2.2f \n', F(1));
fprintf ('SigmaY (MPa) = %2.2f \n', F(2));
fprintf ('TalXY (MPa) = %2.2f \n', F(3));
fprintf ('EpsilonX (mm/m) = %2.2f \n', ex);
fprintf ('EpsilonY (mm/m) = %2.2f \n', ey);
fprintf ('GamaXY (mm/m) = %2.2f \n', exy);
fprintf ('Theta (degrees) = %2.2f \n', theta);
fprintf ('Espaçamento entre fissuras (mm) = %2.2f \n', smth);
fprintf ('Abertura média de fissuras (mm) = %2.2f \n', w);
if fsx >= fyx
fprintf ('fsx (MPa) = %2.2f \n', fsx);
fprintf ('***Armadura Longitudinal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('fsx (MPa) = %2.2f \n', fsx);
end
if fsy >= fyy
fprintf ('fsy (MPa) = %2.2f \n', fsy);
fprintf ('***Armadura Transversal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('fsy (MPa) = %2.2f \n', fsy);
end
fprintf ('Tensão principal de tração f1 (MPa) = %2.2f \n', f_1g);
fprintf ('Tensão principal de compressão f2 (MPa) = %2.2f \n', f_2g);
graph (m+1,1)= F(3);
graph (m+1,2)= exy;
graph_crack (m+1,1)= F(3);
graph_crack (m+1,2)= w;
graph_steel_x (m+1,1)= gxy_new;
graph_steel_x (m+1,2)= fsx;
graph_steel_y (m+1,1)= gxy_new;
graph_steel_y (m+1,2)= fsy;
FR = F(3)/gxy;
fprintf ('Fator de segurança ao cisalhamento) = %2.2f \n', FR);
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');

i = n + 1; % Contador para próxima iteração

% Rotina para interromper o processo após 5.000 iterações


if i >= 5000
break
end
end

% Imprime aviso quando convergência não é possível


if i >= 10000
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('Passo de Carga Número = %2.2f \n', m);
fprintf ('\n');
fprintf ('Não foi possivel atingir a convergência após 10.000 iterações');
fprintf ('\n');
fprintf ('Provavel Ruina do Elemento de Membrana em Concreto Armado');
fprintf ('\n');

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 267


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

fprintf ('Aumente o fator de carga e o número de passos de carga');


fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('*********************************************************');
fprintf ('\n');
fprintf ('\n');
end
end

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus deformação cisalhante


figure(1);
subplot(2,2,1)
X = graph(:,1);
Y = graph(:,2);
Z = gxy;
grid on;
line(Y,X,'color','b','linewidth',2);
line([0 Y(length(Y))],[Z Z],'color','k','linewidth',2);
ylabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
xlabel ('Deformação de Cisalhamento (mm/m)');
title ('\bfTensão Cisalhante versus Deformação Cisalhante');

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus tensão na armadura x


subplot(2,2,2)
A = graph(:,1);
B = graph_steel_x(:,2);
grid on;
line(A,B,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura na Direção x (MPa)');
title ('\bfTensão de Cisalhamento versus Tensão na Armadura x');

% Desenha o gráfico tensão de cisalhamento versus tensão na armadura y


subplot(2,2,3);
C = graph(:,1);
D = graph_steel_y(:,2);
grid on;
line(C,D,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura na Direção y (MPa)');
title ('\bfTensão de Cisalhamento versus Tensão na Armadura y');

% Desenha o gráfico tensão na armadura x versus tensão na armadura y


subplot(2,2,4);
E = graph(:,1);
F = graph_crack(:,2);
grid on;
line(E,F,'color','b','linewidth',2);
xlabel ('Tensão de Cisalhamento (MPa)');
ylabel ('Abertura de Fissuras (mm)');
title ('\bfTensão Cisalhante versus Abertura de Fissuras');

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 268


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

APÊNDICE F
(Código MATLAB para Análise com o Softened Truss Model)

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 269


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
% %
% Análise de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural %
% Modelo de Cálculo: Softened Truss Model %
% Versão iniciada em 25 de Fevereiro de 2009 por Rafael Alves de Souza %
% %
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Limpeza das Variáveis do Sistema
clc
clear
%
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Parâmetros de Entrada Definidos pelo Usuário
%
sigmal = 2.13;
sigmat = -2.13;
tallt = 3.70;
fck = 27.57;
fyk = 413.685;
Es = 199947.961;
rol = 1.033;
rot = 1.033;
%
% sigmal -- Tensão normal atuante na direção longitudinal ou x (MPa);
% sigmat -- Tensão normal atuante na direção transversal ou y (MPa);
% tallt -- Tensão de cisalhamento atuante no plano xy (MPa);
% fck -- Resistência à compressão do concreto (MPa);
% fyk -- Resistência à tração das armaduras (MPa);
% Es -- Módulo de elasticidade das armaduras (MPa)
% rol -- Taxa de armadura na direção longitudinal ou x (%);
% rot -- Taxa de armadura transversal ou na direção y (%);
%
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Definição dos Parâmetros Complementares
%
% sigma1 -- Maior tensão principal (sempre positiva e em tração)
% sigma2 -- Menor tensão principal (pode ser positiva ou negativa);
% S -- Relação entre a menor e a maior tensão principal (positivo quando
% sigma 2 é tração e negativa quando sigma2 é compressão)
% alfa2 -- Ângulo entre a direção da menor tensão principal e o eixo
% longitudinal
% ml -- Coeficiente para a tensão normal longitudinal;
% mt -- Coeficiente para a tensão normal transversal;
% mlt -- Coeficiente para a tensão cisalhante;
% ed -- Deformação de compressão na direção d (Assumido);
% er -- Deformação de tração na direção r (Assumido);
% qsi -- Coeficiente de abrandamento do concreto;
% eo -- Deformação de compressão de pico (geralmente 0.002);
% sigmad -- Tensão de compressão no concreto na direção d;
% sigmar -- Tensão de tração no concreto na direção r;
% Ec -- Módulo de elasticidade do concreto;
% fcr -- Tensão de fissuração do concreto;
% fl -- Tensão normal atuante na armadura longitudinal;
% ft -- Tensão normal atuante na armadura transversal;
% el -- Deformação normal da armadura longitudinal;
% et -- Deformação normal da armadura transversal;
% alfa -- Ângulo de inclinação entre as direções l e d directions
% gamalt -- Deformação de cisalhamento no plano lt;

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 270


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

%
%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%
%
% Início do Processamento
% Cálculo das Tensões Principais
%
sigma1 = ((sigmal + sigmat)/2) + sqrt((((sigmal - sigmat)/2)^2) +
((tallt)^2));
sigma2 = ((sigmal + sigmat)/2) - sqrt((((sigmal - sigmat)/2)^2) +
((tallt)^2));
S = sigma2/sigma1;
%
% Cálculo do Ângulo Alfa2
if sigmal == sigmat
alfa2 = acotd ((0.00000001)/(2*tallt));
else
alfa2 = acotd ((-sigmal + sigmat)/(2*tallt));
end
%
% Cálculo dos Coeficientes m
ml = sigmal/sigma1;
mt = sigmat/sigma1;
mlt = tallt/sigma1;
%
% Impressão dos Dados de Entrada e Resultados Iniciais
fprintf ('\n');
fprintf ('***Análise de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural***
\n');
fprintf ('***Modelo de Cálculo: Softened Truss Model (STM)*** \n');
fprintf ('***Código implementado por Prof. Dr. Rafael Alves de Souza***
\n');
fprintf ('\n');
fprintf ('###Dados de Entrada \n');
fprintf ('Tensão Longitudinal (MPa) = %2.2f \n', sigmal);
fprintf ('Tensão Transversal (MPa) = %2.2f \n', sigmat);
fprintf ('Tensão de Cisalhamento (MPa) = %2.2f \n', tallt);
fprintf ('Resistência à Compressão do Concreto (MPa) = %2.2f \n', fck);
fprintf ('Resistência à Tração das Armaduras (MPa) = %2.2f \n', fyk);
fprintf ('Módulo de Elasticidade das Armaduras (MPa) = %2.2f \n', Es);
fprintf ('Taxa de Armadura Longitudinal = %2.2f \n', rol);
fprintf ('Taxa de Armadura Transversal = %2.2f \n', rot);
fprintf ('\n');
fprintf ('###Tensões Principais \n');
fprintf ('sigma1 = %2.2f \n', sigma1);
fprintf ('sigma2 = %2.2f \n', sigma2);
fprintf ('S = %2.2f \n', S);
fprintf ('alfa2 = %2.2f \n', alfa2);
fprintf ('\n');
fprintf ('###Coeficientes m \n');
fprintf ('ml = %2.2f \n', ml);
fprintf ('mt = %2.2f \n', mt);
fprintf ('mlt = %2.2f \n',mlt);
fprintf ('\n');
%
% Inicialização dos Vetores Gráficos
j = 1;
graph_gama = [0.0000 0.0000];
graph_tal = [0.0000 0.0000];
graph_steel_x = [0.0000 0.0000];
graph_steel_y = [0.0000 0.0000];
%

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 271


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

% Seleção da Deformação de Compressão ed


for ed = -0.0001:-0.0001:-0.0035

% Escolha da deformação de tração er


er = 0.00001 ;
ernovo = er;

% Escolha da Tensão Sigma1


sigma1_assumed = 0.001;

tol_t = 1;
branch = 0.1;
sigma1_calculated = sigma1_assumed;

while tol_t > 0.0000001

sigma1_assumed = sigma1_calculated;
er = ernovo;

% Cálculo do Coeficiente de Abrandamento


qsi = 0.9 / sqrt(1 + (600*er));
eo = -0.002;
branch = ed /(qsi*eo);

% Calculo da Tensão de Compressão na Direção d


if branch < 1
sigmad = qsi*(-fck)*((2*(ed/(qsi*eo))) - ((ed/(qsi*eo))^2));
else
sigmad = qsi*(-fck)*(1 - ((((ed/(qsi*eo))-1)/((2/qsi)-1))^2));
end

% Calculo da Tensão de Tração na Direção r


Ec = 3875*sqrt(fck);
fcr = 0.31*sqrt(fck);

% Calculo da Deformação de Tração na Direção r


if er <= 0.00008
sigmar = Ec*er;
else
sigmar = fcr*(0.00008/er)^0.4;
end

% Cálculo da deformação longitudinal el


rol_p = rol/100;
rot_p = rot/100;
a = (er - ed)/(sigmar - sigmad);
el_1 = (er + a*ml*sigma1_assumed - a*sigmar) / (1 + a*rol_p*Es);
el_2 = (er + a*ml*sigma1_assumed - a*sigmar - a*rol_p*fyk);
if el_1 >= el_2
el = el_1;
else
el = el_2;
end

% Cálculo da deformação longitudinal el


et_1 = (er + a*mt*sigma1_assumed - a*sigmar) / (1 + a*rot_p*Es);
et_2 = (er + a*mt*sigma1_assumed - a*sigmar - a*rot_p*fyk);
if et_1 >= et_2
et = et_1;

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 272


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

else
et = et_2;
end

% Cálculo de er
ernovo = el + et - ed;

% Conferência de Sigma1
en = fyk/Es;
if el <= en;
fl = Es*el;
else
fl = fyk;
end

if et <= en;
ft = Es*et;
else
ft = fyk;
end

B = ml*(sigmar + rot_p*ft)+ mt*(sigmar + rol_p*fl);


C = (sigmar + rol_p*fl)*(sigmar + rot_p*ft);
sigma1_calculated = (1 /(2*S))*(B - (sqrt((B^2) - (4*S*C))));

% Cálculo do ângulo Alfa


alfa = atand(sqrt((el - ed)/(et - ed)));

% Cálculo da Tensão de Cisalhamento


tallt_i = (-sigmad + sigmar)*sind (alfa)*cosd(alfa);

% Cálculo da Deformação de Cisalhamento


gamalt = ((-ed + er)*sind (alfa)*cosd(alfa))*2;

% Cálculo das Tensões Aplicadas


sigmal_novo = ml*sigma1_assumed;
sigmat_novo = mt*sigma1_assumed;
tallt_novo = mlt*sigma1_assumed;

%Precisão dos Valores Assumidos no Processo


tol_t = abs(tallt_i - tallt_novo);
end

% Impressão dos Resultados


if branch > 1
break
else
fprintf ('#####Iteração Número:%2.0f \n',j);
fprintf ('\n');
fprintf ('ed = %2.7f \n',ed);
fprintf ('er = %2.7f \n',er);
fprintf ('Sigma1 (MPa) = %2.2f \n',sigma1_calculated);
fprintf ('qsi = %2.4f \n',qsi);
fprintf ('branch = %2.4f \n',branch);
fprintf ('sigmad (MPa) = %2.2f \n',sigmad);
fprintf ('sigmar (MPa) = %2.2f \n',sigmar);
fprintf ('a = %2.7f \n',a);
fprintf ('el = %2.7f \n',el);
fprintf ('et = %2.7f \n',et);

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 273


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

fprintf ('er_checked = %2.7f \n',ernovo);


if er > 0.00008
fprintf ('***Concreto Fissurado! \n');
end
if fl >= fyk
fprintf ('fl = %2.5f \n',fl);
fprintf ('***Armadura Longitudinal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('fl = %2.5f \n',fl);
end
if ft >= fyk
fprintf ('ft = %2.5f \n',ft);
fprintf ('***Armadura Transversal em Escoamento!');
fprintf ('\n');
else
fprintf ('ft = %2.5f \n',ft);
end
fprintf ('alfa = %2.5f \n',alfa);
fprintf ('tallt = %2.5f \n',tallt_i);
fprintf ('gamalt = %2.5f \n',gamalt);
fprintf ('sigmal_novo = %2.1f \n',sigmal_novo);
fprintf ('sigmat_novo = %2.1f \n',sigmat_novo);
fprintf ('tallt_novo = %2.1f \n',tallt_novo);
FR = tallt_novo/tallt;
fprintf ('Fator de Resistência ao Cisalhamento = %2.2f \n', FR);
fprintf ('\n');
graph_tal (j+1,1)= tallt_novo;
graph_gama (j+1,2)= gamalt;
graph_steel_x (j+1,2)= fl;
graph_steel_y (j+1,2)= ft;
j = j+1;
end
end

% Geração dos Gráficos Ilustrativos


% Gráfico Tensão de Cisalhamento Versus Deformação de Cisalhamento
figure(1);
subplot(2,2,1)
X = graph_tal(:,1);
Y = graph_gama(:,2);
Z = tallt;
grid on;
line(Y,X,'color','r','linewidth',2);
line([0 Y(length(Y))],[Z Z],'color','k','linewidth',2);
xlabel ('Deformação de Cisalhamento (mm/m)');
ylabel ('Tensão Tangencial (MPa)');
title ('\bfDiagrama Tensão Tangencial Versus Deformação de Cisalhamento');

% Gráfico Tensão de Cisalhamento Versus Tensão na Armadura Longitudinal


subplot(2,2,2)
A = graph_tal(:,1);
B = graph_steel_x(:,2);
grid on;
line(A,B,'color','r','linewidth',2);
xlabel ('Tensão Tangencial (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura - Direção X (MPa)');
title ('\bfDiagrama Tensão Tangencial Versus Tensão na Armadura da Direção
X');

% Gráfico Tensão de Cisalhamento Versus Tensão na Armadura Transversal

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 274


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

subplot(2,2,3);
C = graph_tal(:,1);
D = graph_steel_y(:,2);
grid on;
line(C,D,'color','r','linewidth',2);
xlabel ('Tensão Tangencial (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura - Direção Y (MPa)');
title ('\bfDiagrama Tensão Tangencial Versus Tensão na Armadura da Direção
y');

% Gráfico Tensão na Armadura Longitudinal Versus Tensão na Armadura


Transversal
subplot(2,2,4);
C = graph_steel_x(:,2);
D = graph_steel_y(:,2);
grid on;
line(C,D,'color','r','linewidth',2);
xlabel ('Tensão na Armadura - Direção X (MPa)');
ylabel ('Tensão na Armadura - Direção Y (MPa)');
title ('\bfDiagrama Tensão na Armadura X Versus Tensão na Armadura Direção
Y');

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 275


Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural

Análise e Dimensionamento de Elementos de Membrana em Concreto Estrutural 276

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