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Universidade Federal da Bahia - Escola Politécnica

Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais


(Setor de Geotecnia)

MECÂNICA DOS SOLOS I


Conceitos introdutórios
Autores: Sandro Lemos Machado e Miriam de Fátima C. Machado
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MECÂNICA DOS SOLOS I


Conceitos introdutórios

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO AO CURSO. 4
1.1 Importância do estudo dos solos 4
1.2 A mecânica dos solos, a geotecnia e disciplinas relacionadas. 4
1.3 Aplicações de campo da mecânica dos solos. 5
1.4 Desenvolvimento do curso. 5

2. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS. 6


2.1 Conceituação de solo e de rocha. 6
2.2 Intemperismo. 6
2.3 Ciclo rocha - solo. 8
2.4 Classificação do solo quanto a origem e formação. 11

3. TEXTURA E ESTRUTURA DOS SOLOS. 20


3.1 Tamanho e forma das partículas. 20
3.2 Identificação táctil visual dos solos. 21
3.3 Análise granulométrica. 23
3.4 Designação segundo NBR 6502. 26
3.5 Estrutura dos solos. 27
3.6 Composição química e mineralógica 28

4. FASES SÓLIDA - ÁGUA - AR. 31


4.1 Fase sólida. 31
4.2 Fase gasosa. 31
4.3 Fase líqüida. 31

5. LIMITES DE CONSISTÊNCIA. 32
5.1 Noções básicas 32
5.2 Estados de consistência. 32
5.3 Determinação dos limites de consistência. 33
5.4 Índices de consistência 36
5.5 Alguns conceitos importantes. 36

6. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS. 39


6.1 Classificação segundo o Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS).
40
6.2 Classificação segundo a AASHTO.
45
6.3 Classificação Geotécnica segundo a MCT 50

7. ÍNDICES FÍSICOS. 56
7.1 Introdução. 56
7.2 Relações entre volumes. 56
7.3 Relação entre pesos e volumes - pesos específicos ou entre massas e volumes -
massa específica. 56
7.4 Diagrama de fases. 58
2

7.5 Utilização do diagrama de fases para a determinação das relações entre os diversos 
índices físicos. 59
7.6 Densidade relativa 59
7.7 Ensaios necessários para determinação dos índices físicos. 60
7.8 Valores típicos. 61

8. DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NO SOLO 63


8.1 Introdução. 63
8.2 Tensões em uma massa de solo. 63
8.3 Cálculo das tensões geostáticas. 65
8.4 Acréscimos de tensões devido à cargas aplicadas.
67

9. COMPACTAÇÃO. 84
9.1 Introdução 84
9.2 O emprego da compactação 84
9.3 Diferenças entre compactação e adensamento. 84
9.4 Ensaio de compactação 85
9.5 Curva de compactação. 85
9.6 Energia de compactação. 87
9.7 Influência da compactação na estrutura dos solos. 88
9.8 Influência do tipo de solo na curva de compactação 89
9.9 Escolha do valor de umidade para compactação em campo 89
9.10 Equipamentos de campo 90
9.11 Controle da compactação. 93
9.12 Índice de suporte Califórnia (CBR). 96

10. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO. 100


10.1 Introdução. 100
10.2 Métodos de prospecção geotécnica. 101
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NOTA DOS AUTORES

– Este trabalho foi desenvolvido apoiando-se na estruturação e ordenação de


tópicos já existentes no Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais
(DCTM), relativos à disciplina Mecânica dos Solos. Desta forma, a ordenação
dos capítulos do trabalho e a sua lógica de apresentação devem muito ao material
desenvolvido pelos professores deste Departamento, antes do ingresso do
professor Sandro Lemos Machado à UFBA, o que se deu em 1997.
– Vale ressaltar também que o capítulo de origem e formação dos solos, cujo
conteúdo é apresentado no volume 1 deste trabalho, tem a sua fundamentação no
material elaborado, com uma enorme base de conhecimento regional, pelos
professores do DCTM e pelo aluno Maurício de Jesus Valadão, apresentado em
um volume de notas de aulas , de grande valor didático e certamente referência
bibliográfica obrigatória para os alunos que cursam a disciplina Mecânica dos
Solos.
4

1. INTRODUÇÃO AO CURSO

1.1. Importância do estudo dos solos

Quase todas as obras de engenharia têm, de alguma forma, de transmitir as cargas


sobre elas impostas ao solo. Mesmo as embarcações, ainda durante o seu período de
construção, transmitem ao solo as cargas devidas ao seu peso próprio. Além disto, em
algumas obras, o solo é utilizado como o próprio material de construção, assim como o
concreto e o aço são utilizados na construção de pontes e edifícios. São exemplos de obras
que utilizam o solo como material de construção os aterros rodoviários, as bases para
pavimentos de aeroportos e as barragens de terra, estas últimas podendo ser citadas como
pertencentes a uma categoria de obra de engenharia a qual é capaz de concentrar, em um só
local, uma enorme quantidade de recursos, exigindo para a sua boa construção uma
gigantesca equipe de trabalho, calcada principalmente na interdisciplinariedade de seus
componentes. O estudo do comportamento do solo frente às solicitações a ele impostas por
estas obras é portanto de fundamental importância. Pode-se dizer que, de todas as obras de
engenharia, aquelas relacionadas ao ramo do conhecimento humano definido como
geotecnia (do qual a mecânica do solos faz parte), são responsáveis pela maior parte dos
prejuízos causados à humanidade, sejam eles de natureza econômica ou mesmo a perda de
vidas humanas. No Brasil, por exemplo, devido ao seu clima tropical e ao crescimento
desordenado das metrópoles, um sem número de eventos como os deslizamentos de
encostas ocorrem, provocando enormes prejuízos e ceifando a vida de centenas de pessoas a
cada ano. Vê-se daqui a grande importância do engenheiro geotécnico no acompanhamento
destas obras de engenharia, evitando por vezes a ocorrência de desastres catastróficos.

1.2. A mecânica dos solos, a geotecnia e disciplinas relacionadas.

Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma
direta da intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento
depende de uma série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. A
mecânica dos solos é o estudo do comportamento de engenharia do solo quando este é
usado ou como material de construção ou como material de fundação. Ela é uma disciplina
relativamente jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em
1925, após trabalho publicado por Terzaghi (Terzaghi, 1925), que é conhecido, com todos os
méritos, como o pai da mecânica dos solos. Um entendimento dos princípios da mecânica
dos sólidos é essencial para o estudo da mecânica dos solos. O conhecimento e aplicação de
princípios de outras matérias básicas como física e química são também úteis no
entendimento desta disciplina. Por ser um material de origem natural, o processo de
formação do solo, o qual é estudado pela geologia, irá influenciar em muito no seu
comportamento. O solo, como veremos adiante, é um material trifásico, composto
basicamente de ar, água e partículas sólidas. A parte fluida do solo (ar e água) pode se
apresentar em repouso ou pode se movimentar pelos seus vazios mediante a existência de
determinadas forças. O movimento da fase fluida do solo é estudado com base em conceitos
desenvolvidos pela mecânica dos fluidos. Pode-se citar ainda algumas disciplinas, como a
física dos solos, ministrada em cursos de agronomia, como de grande importância no estudo
de uma mecânica dos solos mais avançada, denominada de mecânica dos solos não
saturados. Além disto, o estudo e o desenvolvimento da mecânica dos solos são fortemente
amparados em bases experimentais, a partir de ensaios de campo e laboratório.
A aplicação dos princípios da mecânica dos solos para o projeto e construção de
fundações é denominada de "engenharia de fundações". A engenharia geotécnica (ou
geotecnia) pode ser considerada como a junção da mecânica dos solos, da engenharia de
5

fundações, da mecânica das rochas, da geologia de engenharia e mais recentemente da


geotecnia ambiental, que trata de problemas como transporte de contaminantes pelo solo,
avaliação de locais impactados, proposição de medidas de remediação para áreas
impactadas, projetos de sistemas de proteção em aterros sanitários, etc.

1.3. Aplicações de campo da mecânica dos solos.

Fundações: As cargas de qualquer estrutura têm de ser, em última instância,


descarregadas no solo através de sua fundação. Assim a fundação é uma parte essencial de
qualquer estrutura. Seu tipo e detalhes de sua construção podem ser decididos somente com
o conhecimento e aplicação de princípios da mecânica dos solos.

Obras subterrâneas e estruturas de contenção: Obras subterrâneas como


estruturas de drenagem, dutos, túneis e as obras de contenção como os muros de arrimo,
cortinas atirantadas somente podem ser projetadas e construídas usando os princípios da
mecânica dos solos e o conceito de "interação solo-estrutura".

Projeto de pavimentos: o projeto de pavimentos pode consistir de pavimentos


flexíveis ou rígidos. Pavimentos flexíveis dependem mais do solo subjacente para
transmissão das cargas geradas pelo tráfego. Problemas peculiares no projeto de pavimentos
flexíveis são o efeito de carregamentos repetitivos e problemas devidos às expansões e
contrações do solo por variações em seu teor de umidade.

Escavações, aterros e barragens: A execução de escavações no solo requer


freqüentemente o cálculo da estabilidade dos taludes resultantes. Escavações profundas
podem necessitar de escoramentos provisórios, cujos projetos devem ser feitos com base na
mecânica dos solos. Para a construção de aterros e de barragens de terra, onde o solo é
empregado como material de construção e fundação, necessita-se de um conhecimento
completo do comportamento de engenharia dos solos, especialmente na presença de água. O
conhecimento da estabilidade de taludes, dos efeitos do fluxo de água através do solo, do
processo de adensamento e dos recalques a ele associados, assim como do processo de
compactação empregado é essencial para o projeto e construção eficientes de aterros e
barragens de terra.

Transporte de massa: Os conceitos obtidos do estudo do fluxo de água em solos


podem ser estendidos para a análise do transporte de poluentes miscíveis ou não miscíveis
em subsuperfície. A mecânica dos solos é uma das importantes ferramentas na realização de
atividades de diagnóstico, prognóstico e proposição de medidas corretivas para problemas
ambientais, no que mais recentemente se convencionou chamar de geotecnia ambiental.

1.4. Desenvolvimento do curso.

Este curso de mecânica dos solos pode ter sua parte teórica dividida em duas partes:
uma parte envolvendo os tópicos origem e formação dos solos, textura e estrutura dos solos,
análise granulométrica, estudo das fases ar-água-partículas sólidas, limites de consistência,
índices físicos e classificação dos solos, onde uma primeira aproximação é feita com o tema
solos e uma segunda parte, envolvendo os tópicos tensões geostáticas e induzidas,
compactação, permeabilidade dos solos, compressibilidade dos solos, resistência ao
cisalhamento, estabilidade de taludes e empuxos de terra e estruturas de contenção, onde um
tratamento mais fundamentado na ótica da engenharia civil é dado aos solos.
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2. ORIGEM E FORMAÇÃO DOS SOLOS.

2.1. Conceituação de solo e de rocha

Quando mencionamos a palavra solo já nos vem a mente uma idéia intuitiva do que
se trata. No linguajar popular a palavra solo está intimamente relacionada com a palavra
terra, a qual poderia ser definida como material solto, natural da crosta terrestre onde
habitamos, utilizado como material de construção e de fundação das obras do homem. Uma
definição precisa e teoricamente sustentada do significado da palavra solo é contudo
bastante difícil, de modo que o termo solo adquire diferentes conotações a depender do
ramo do conhecimento humano que o emprega. Para a agronomia, o termo solo significa o
material relativamente fofo da crosta terrestre, consistindo de rochas decompostas e matéria
orgânica, o qual é capaz de sustentar a vida. Desta forma, os horizontes de solo para
agricultura possuem em geral pequena espessura. Para a geologia, o termo solo significa o
material inorgânico não consolidado proveniente da decomposição das rochas, o qual não
foi transportado do seu local de formação. Na engenharia, é conveniente definir como rocha
aquilo que é impossível escavar manualmente, que necessite de explosivo para seu
desmonte. Chamamos de solo, em engenharia, a rocha já decomposta ao ponto granular e
passível de ser escavada apenas com o auxílio de pás e picaretas ou escavadeiras.
A crosta terrestre é composta de vários tipos de elementos que se interligam e
formam minerais. Esses minerais poderão estar agregados como rochas ou solo. Todo solo
tem origem na desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes intempéricos
ou antrópicos. As partículas resultantes deste processo de intemperismo irão depender
fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Por ser o produto
da decomposição das rochas, o solo invariavelmente apresenta um maior índice de vazios
do que a rocha mãe, vazios estes ocupados por ar, água ou outro fluido de natureza diversa.
Devido ao seu pequeno índice de vazios e as fortes ligações existentes entre os minerais, as
rochas são coesas, enquanto que os solos são granulares. Os grãos de solo podem ainda estar
impregnados de matéria orgânica. Desta forma, podemos dizer que para a engenharia, solo é
um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou outro fluido) e
eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de explosivos.

2.2. Intemperismo

Intemperismo é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos pelos quais a


rocha se decompõe para formar o solo. Por questões didáticas, o processo de intemperismo é
freqüentemente dividido em três categorias: intemperismo físico químico e biológico. Deve
se ressaltar contudo, que na natureza todos estes processos tendem a acontecer ao mesmo
tempo, de modo que um tipo de intemperismo auxilia o outro no processo de transformação
rocha-solo. Os processos de intemperismo físico reduzem o tamanho das partículas,
aumentando sua área de superfície e facilitando o trabalho do intemperismo químico. Já os
processos químicos e biológicos podem causar a completa alteração física da rocha e alterar
suas propriedades químicas.

2.2.1. Intemperismo físico

É o processo de decomposição da rocha sem a alteração química dos seus


componentes. Os principais agentes do intemperismo físico são citados a seguir:
Variações de Temperatura - Da física sabemos que todo material varia de volume
em função de variações na sua temperatura. Estas variações de temperatura ocorrem entre o
dia e a noite e durante o ano, e sua intensidade será função do clima local. Acontece que
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uma rocha é geralmente formada de diferentes tipos de minerais, cada qual possuindo uma
constante de dilatação térmica diferente, o que faz a rocha deformar de maneira desigual em
seu interior, provocando o aparecimento de tensões internas que tendem a fraturá-la. Mesmo
rochas com uma uniformidade de componentes não têm uma arrumação que permita uma
expansão uniforme, pois grãos compridos deformam mais na direção de sua maior
dimensão, tendendo a gerar tensões internas e auxiliar no seu processo de desagregação.

Repuxo coloidal - O repuxo coloidal é caracterizado pela retração da argila devido à


sua diminuição de umidade, o que em contato com a rocha pode gerar tensões capazes de
fraturá-la.
Ciclos gelo/degelo- As fraturas existentes nas rochas podem se encontrar
parcialmente ou totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das condições
locais, pode vir a congelar, expandindo-se e exercendo esforços no sentido de abrir ainda
mais as fraturas preexistentes na rocha, auxiliando no processo de intemperismo (a água
aumenta em cerca de 8% o seu volume devido à nova arrumação das suas moléculas
durante a cristalização). Vale ressaltar também que a água transporta substâncias ativas
quimicamente, incluindo sais que ao reagirem com ácidos provocam cristalização com
aumento de volume.
Alívio de pressões - Alívio de pressões irá ocorrer em um maciço rochoso sempre
que da retirada de material sobre ou ao lado do maciço, provocando a sua expansão, o que
por sua vez, irá contribuir no fraturamento, estricções e formação de juntas na rocha. Estes
processos, isolados ou combinados (caso mais comum) "fraturam" as rochas continuamente,
o que permite a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos efeitos aumentam a
fraturação e tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores.

2.2.2. Intemperismo químico

É o processo de decomposição da rocha com a alteração química dos seus


componentes. Há várias formas através das quais as rochas decompõem-se quimicamente.
Pode-se dizer, contudo, que praticamente todo processo de intemperismo químico depende
da presença da água. Entre os processos de intemperismo químico destacam-se os seguintes:
Hidrólise - Dentre os processos de decomposição química do intemperismo, a
hidrólise é a que se reveste de maior importância, porque é o mecanismo que leva a
destruição dos silicatos, que são os compostos químicos mais importantes da litosfera. Em
resumo, os minerais na presença dos íons H+ liberados pela água são atacados, reagindo
com os mesmos. O H+ penetra nas estruturas cristalinas dos minerais desalojando os seus
íons originais (Ca++, K+, Na+, etc.) causando um desequilíbrio na estrutura cristalina do
mineral e levando-o a destruição.
Hidratação - Como a própria palavra indica, é a entrada de moléculas de água na
estrutura dos minerais. Alguns minerais quando hidratados (feldspatos, por exemplo) sofrem
expansão, levando ao fraturamento da rocha.
Carbonatação - O ácido carbônico é o responsável por este tipo de intemperismo. O
intemperismo por carbonatação é mais acentuado em rochas calcárias por causa da
diferença de solubilidade entre o CaCO3 e o bicarbonato de cálcio formado durante a reação.
Os diferentes minerais constituintes das rochas originarão solos com características
diversas, de acordo com a resistência que estes tenham ao intemperismo local. Há, inclusive,
minerais que têm uma estabilidade química e física tal que normalmente não são
decompostos. O quartzo, por exemplo, por possuir uma enorme estabilidade física e química
é parte predominante dos solos grossos, como as areias e os pedregulhos.
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2.2.3. Intemperismo biológico

Neste caso, a decomposição da rocha se dá graças a esforços mecânicos produzidos


por vegetais através das raízes, por animais através de escavações dos roedores, da atividade
de minhocas ou pela ação do próprio homem, ou por uma combinação destes fatores, ou
ainda pela liberação de substâncias agressivas quimicamente, intensificando assim o
intemperismo químico, seja pela decomposição de seus corpos ou através de secreções,
como é o caso dos ouriços do mar.
Logo, os fatores biológicos de maior importância incluem a influência da vegetação
no processo de fraturamento da rocha e o ciclo de meio ambiente entre solo e planta e entre
animais e solo. Pode-se dizer que a maior parte do intemperismo biológico poderia ser
classificado como uma categoria do intemperismo químico em que as reações químicas que
ocorrem nas rochas são propiciadas por seres vivos.

2.2.4. Influência do intemperismo no tipo de solo

O intemperismo químico possui um poder de desagregação da rocha muito maior do


que o intemperismo físico. Deste modo, solos gerados em regiões onde há a predominância
do intemperismo químico tendem a ser mais profundos e mais finos do que aqueles solos
formados em locais onde há a predominância do intemperismo físico. Além disto,
obviamente, os solos originados a partir de uma predominância do intemperismo físico
apresentarão uma composição química semelhante à da rocha mãe, ao contrário daqueles
solos formados em locais onde há predominância do intemperismo químico.

2.2.5. Influência do clima no tipo de intemperismo

Conforme relatado anteriormente, a água é um fator fundamental no


desenvolvimento do intemperismo químico da rocha. Deste modo, regiões com altos índices
de pluviosidade e altos valores de umidade relativa do ar tendem a apresentar uma
predominância de intemperismo do tipo químico, o contrário ocorrendo em regiões de clima
seco.

2.3. Ciclo rocha - solo

Como vimos, todo solo provem de uma rocha pré-existente, mas dada a riqueza da
sua formação não é de se esperar do solo uma estagnação a partir de um certo ponto. Como
em tudo na natureza, o solo continua suas transformações, podendo inclusive voltar a ser
rocha. De forma simplificada, definiremos a seguir um esquema de transformações que vai
do magma ao solo sedimentar e volta ao magma (fig. 2.1).
No interior do Globo Terrestre, graças às elevadas pressões e temperaturas, os
elementos químicos que compõe as rochas se encontram em estado líqüido, formando o
magma (fig. 2.1 -6).
A camada sólida da Terra pode romper-se em pontos localizados e deixar escapar o
magma. Desta forma, haverá um resfriamento brusco do magma (fig. 2.1 linha 6-1), que se
transformará em rochas ígneas, nas quais não haverá tempo suficiente para o
desenvolvimento de estruturas cristalinas mais estáveis. O processo indicado pela linha 6-1
é denominado de extrusão vulcânica ou derrame e é responsável pela formação da rocha
ígnea denominada de basalto. A depender do tempo de resfriamento, o basalto pode mesmo
vir a apresentar uma estrutura vítrea. Quando o magma não chega à superfície terrestre, mas
ascende a pontos mais próximos à superfície, com menor temperatura e pressão, ocorre um
resfriamento mais lento (fig. 2.1 linha 6-7), o que permite a formação de estruturas
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cristalinas mais estáveis, e, portanto, de rochas mais resistentes, denominadas de intrusivas


ou plutônicas (diabásio, gabro e granito). Denominam-se normalmente de batólitos os
grandes blocos de rocha intrusiva formados em subsuperfície. Por ocasião da ocorrência de
processos erosivos, esses blocos podem vir a aflorar, resultando em belas paisagens.

Figura 2.1 - Ciclo rocha - solo

Podemos avaliar comparativamente as rochas vulcânicas e plutônicas pelo tamanho


dos cristais, o que pode ser feito facilmente a olho nu ou com o auxílio de lupas. Cristais
10

maiores indicam uma formação mais lenta, característica das rochas plutônicas, e vice-
versa.
Uma vez exposta, (fig. 2.1-1), a rocha sofre a ação das intempéries e forma os solos
residuais (fig. 2.1-2), os quais podem ser transportados e depositados sobre outro solo de
qualquer espécie ou sobre uma rocha (fig. 2.1 linha 2-3), vindo a se tornar um solo
sedimentar. A contínua deposição de solos faz aumentar a pressão e a temperatura nas
camadas mais profundas, que terminam por ligarem seus grãos e formar as rochas
sedimentares (fig. 2.1 linha 3-4), este processo chama-se litificação ou diagênese.
As rochas sedimentares podem, da mesma maneira que as rochas ígneas, aflorarem à
superfície e reiniciar o processo de formação de solo ( fig. 2.1 linha 4-1), ou de forma
inversa, as deposições podem continuar e conseqüentemente prosseguir o aumento de
pressão e temperatura, o que irá levar a rocha sedimentar a mudar suas características
texturais e mineralógicas, a achatar os seus cristais de forma orientada transversalmente à
pressão e a aumentar a ligação entre os cristais (fig. 2.1 linha 4-5). O material que surge daí
tem características tão diversas da rocha original, que muda a sua designação e passa a se
chamar rocha metamórfica.
Naturalmente, a rocha metamórfica está sujeita a ser exposta (fig. 2.1 linha 5-1),
decomposta e formar solo. Se persistir o aumento de pressão e temperatura graças à
deposição de novas camadas de solo, a rocha fundirá e voltará à forma de magma (fig. 2.1
linha 5-6). Obviamente, todos esses processos. com exceção do vulcanismo e de alguns
transportes mais rápidos, ocorrem numa escala de tempo geológica, isto é, de milhares ou
milhões de anos.
As rochas metamórficas podem se originar também da transformação de rochas
ígneas por níveis de pressão e temperatura elevados. O Gnaisse, por exemplo, é muito
encontrado no Rio de Janeiro (RJ). Este tipo de rocha que constitui o Corcovado e o Pão de
Açúcar. A origem dessa rocha se dá da transformação granito. A fig. 2.2 ilustra o formato
achatado dos grãos de Gnaisse do Arpoador, no Rio de Janeiro

Figura 2.2 – Achatamento e alinhamento dos grãos minerais provocados pelo


processo de metamorfismo (http://www.meioambiente.pro.br/arpoador/rochas.html)

Um dos exemplos mais impressionantes e belos do processo de formação de rochas


ígneas é encontrado na ilha de Staffa, na Irlanda. Neste local, a ocorrência de um derrame de
basalto foi impedido pela existência de uma espessa camada de calcário compacto. Desta
forma, formou-se uma camada de basalto subjacente à camada de calcário, a qual teve
tempo para se resfriar lentamente. Os processos de cristalização e resfriamento produziram a
formação de belíssimas colunas hexagonais de basalto, algumas com mais de 10 metros de
altura. Com os processos erosivos que ocorreram posteriormente, a camada de calcário
diminuiu de espessura, revelando o caráter hexagonal das seções das colunas em alguns
pontos. A fig. 2.2(a) ilustra as colunas de basalto expostas e a fig. 2.2(b) uma caverna
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formada pela intemperização do calcário superficial, cujo teto é sustentado pelas colunas de
basalto nas laterais.

(a) (b)
Figura 2.3 – (a) Colunas hexagonais de basalto expostas na ilha de Staffa, na
Irlanda. (b) Caverna com teto de calcário e colunas de basalto, no mesmo local. (Despertai,
08/11/2005)

2.4. Classificação do solo quanto a origem e formação

Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua


evolução, pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos
vazios, etc. Neste item apresentar-se-á uma classificação genética para os solos, ou seja,
iremos classificá-los conforme o seu processo geológico de formação. Na classificação
genética, os solos são divididos em dois grandes grupos, sedimentares e residuais, a
depender da existência ou não de um agente de transporte na sua formação,
respectivamente. Os principais agentes de transporte atuando na formação dos solos
sedimentares são a água, o vento e a gravidade. Estes agentes de transporte influenciam
fortemente nas propriedades dos solos sedimentares, a depender do seu grau de seletividade.

2.4.1. Solos residuais

São solos que permanecem no local de decomposição da rocha. Para que eles
ocorram é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do que a
velocidade de remoção do solo por agentes externos. A velocidade de decomposição
depende de vários fatores, entre os quais a temperatura, o regime de chuvas e a vegetação.
As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis a degradações mais rápidas da
rocha, razão pela qual há uma predominância de solos residuais nestas regiões (centro sul do
Brasil, por exemplo). Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as
camadas superiores são, via de regra, mais trabalhadas que as inferiores. Este fato nos
permite visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de uma
condição de rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual
maduro, em superfície. A fig. 2.4 ilustra um perfil típico de solo residual.
12

Conforme se pode observar da fig. 2.4, a rocha sã passa paulatinamente à rocha


fraturada, depois ao saprolito, ao solo residual jovem e ao solo residual maduro. Em se
tratando de solos residuais, é de grande interesse a identificação da rocha sã, pois ela
condiciona, entre outras coisas, a própria composição química do solo. A rocha alterada
caracteriza-se por uma matriz de rocha possuindo intrusões de solo, locais onde o
intemperismo atuou de forma mais eficiente. O solo saprolítico ainda guarda características
da rocha mãe e tem basicamente os mesmos minerais, porém a sua resistência já se encontra
bastante reduzida. Este pode ser caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes
pedaços de rocha altamente alterada. Visualmente pode confundir-se com uma rocha
alterada, mas apresenta relativamente a rocha pequena resistência ao cisalhamento. Nos
horizontes saprolíticos é comum a ocorrência de grandes blocos de rocha denominados de
matacões, responsáveis por muitos problemas quando do projeto de fundações.

Solo maduro

Solo jovem
Deformabilidade

Resistência

Saprolito

Rocha alterada

Rocha sã

Figura 2.4 - Perfil típico de solo residual.

O solo residual jovem apresenta boa quantidade de material que pode ser
classificado como pedregulho (# > 4,8 mm). Geralmente são bastante irregulares quanto a
resistência mecânica, coloração, permeabilidade e compressibilidade, já que o processo de
transformação não se dá em igual intensidade em todos os pontos, comumente existindo
blocos da rocha no seu interior. Pode-se dizer também que nos horizontes de solo jovem e
saprolítico as sondagens a percussão a serem realizadas devem ser revestidas de muito
cuidado, haja vista que a presença de material pedregulhoso pode vir a danificar os
amostradores utilizados, vindo a mascarar os resultados obtidos.
Os solos maduros, mais próximos à superfície, são mais homogêneos e não
apresentam semelhanças com a rocha original. De uma forma geral, há um aumento da
resistência ao cisalhamento, da textura (granulometria) e da heterogeneidade do solo com a
profundidade, razão esta pela qual a realização de ensaios de laboratório em amostras de
solo residual jovem ou do horizonte saprolítico é bastante trabalhosa.
No Recôncavo Baiano é comum a ocorrência de solos residuais oriundos de rochas
sedimentares. Um perfil típico de solo do recôncavo Baiano é apresentado na fig. 2.5, sendo
constituído de camadas sucessivas de argila e areia, coerente com o material que foi
depositado no local. Merece uma atenção especial o solo formado pela decomposição da
13

rocha sedimentar denominada de folhelho, muito comum no Recôncavo Baiano. Esta rocha,
quando decomposta, produz uma argila conhecida popularmente como "massapê", que tem
como mineral constituinte a montimorilonita, apresentando grande potencial de expansão na
presença de água. As constantes mudanças de umidade a que o solo está submetido
provocam variações de volume que geram sérios problemas nas construções (aterros ou
edificações) assentes sobre estes solos. A fig. 2.6 apresenta fotos que ilustram alguns dos
aspectos de um Folhelho/Massapê comumente encontrado em Pojuca, Região Metropolitana
de Salvador. Na fig. 2.6(a) pode-se notar o aspecto extremamente fraturado do folhelho
alterado enquanto na fig. 2.6(b) nota-se a existência de uma grande quantidade de trincas de
tração originadas pela secagem do solo ao ser exposto à atmosfera.

Figura 2.5 - Perfil geotécnico típico do recôncavo Baiano.

(a) (b)
Figura 2.6- Características do Folhelho/Massapê, encontrado em Pojuca-BA. (a) -
Folhelho alterado e (b) - Retração típica do solo ao sofrer secagem.

2.4.2. Solos sedimentares

Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local
atual por algum agente de transporte e lá depositados. As características dos solos
sedimentares são função do agente de transporte. Cada agente de transporte seleciona os
grãos que transporta com maior ou menor facilidade, além disto, durante o transporte, as
partículas de solo se desgastam e/ou quebram. Resulta daí um tipo diferente de solo para
cada tipo de transporte. Esta influência é tão marcante que a denominação dos solos
sedimentares é feita em função do agente de transporte predominante. Pode-se listar os
agentes de transporte, por ordem decrescente de seletividade, da seguinte forma:

Ventos (Solos Eólicos)


Águas (Solos Aluvionares)
14

♣ Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos)


♣ Água dos Rios (Solos Fluviais)
♣ Água de Chuvas (Solos Pluviais)
Geleiras (Solos Glaciais)
Gravidade (Solos Coluvionares)

Os agentes naturais citados acima não devem ser encarados apenas como agentes de
transporte, pois eles têm uma participação ativa no intemperismo e portanto na formação do
próprio solo, o que ocorre naturalmente antes do seu transporte.

2.4.2.1 Solos eólicos

O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. Em virtude do atrito
constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente possuem
forma arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior do que
possa parecer à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades
soterradas parcial ou totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia -
MA; os grãos mais finos do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra,
percorrendo uma distância de mais de 3000km!. Como a capacidade de transporte do vento
depende de sua velocidade, o solo é geralmente depositado em zonas de calmaria.
O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por
um lado grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como as
argilas, têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo
vento. Esse efeito também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da
linha de lençol freático (definida por um valor de pressão da água intersticial igual a
atmosférica) um limite para a atuação dos ventos.
Pode-se dizer portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao caso das
areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos de
aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada
de uniforme. São exemplos de solos eólicos:

- As dunas

As dunas são exemplos comuns de solos eólicos nordeste do Brasil). A formação de


uma duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho natural do vento,
o que diminui a sua velocidade e resulta na deposição de partículas de solo (fig. 2.7)
A deposição continuada de solo neste local acaba por gerar mais deposição de solo,
já que o obstáculo ao caminho do vento se torna cada vez maior. Durante o período de
existência da duna, partículas de areia são levadas até o seu topo, rolando então para o outro
lado. Este movimento faz com que as dunas se desloquem a uma velocidade de poucos
metros por ano, o que para os padrões geológico é muito rápido.
15

Vento

Mar

Figura 2.7- Atuação do transporte eólico na formação das dunas.

- Os solos Loéssicos

Formado por deposições sobre vegetais que ao se decomporem deixam seu molde no
maciço, o Loess é um solo bastante problemático para a engenharia, pois a despeito de uma
capacidade de formar paredões de altura fora do comum e inicialmente suportar grandes
esforços mecânicos, podem se romper completa e abruptamente devido ao umedecimento.
O Loess, comum na Europa oriental, geralmente contem grandes quantidades de cal,
responsável por sua grande resistência inicial. Quando umedecido, contudo, o cimento
calcáreo existente no solo pode ser dissolvido e solo entra em colapso.

2.4.2.2. Solos aluvionares

São solos resultantes do transporte pela água e sua textura depende da velocidade da
água no momento da deposição, sendo freqüente a ocorrência de camadas de granulometrias
distintas, devidas às diversas épocas de deposição. O transporte pela água é bastante
semelhante ao transporte realizado pelo vento, porém algumas características importantes os
distinguem:

a) Viscosidade - por ser mais viscosa a água tem uma capacidade de transporte
maior, transportando grãos de tamanhos diversos.
b) Velocidade e Direção - ao contrário do vento que em um minuto pode soprar
com forças e direções bastante diferenciadas, a água têm seu roteiro mais estável;
suas variações de velocidade tem em geral um ciclo anual e as mudanças de
direção estão condicionadas ao próprio processo de desmonte e desgaste do
relevo.
c) Dimensão das Partículas - os solos aluvionares fluviais são, via de regra, mais
grossos que os eólicos, pois as partículas mais finas mantêm-se sempre em
suspensão e só se sedimentam quando existe um processo químico que as flocule
(isto é o que acontece no mar ou em alguns lagos).
d) Eliminação da Coesão - vimos que o vento não pode transportar os solos
argilosos devido a coesão entre os seus grãos. A presença de água em abundância
diminui este efeito; com isso somam-se as argilas ao universo de partículas
transportadas pela água.

- Solos pluviais

A água das chuvas pode ser retida em vegetais ou construções, podendo se evaporar
a partir daí. Ela pode se infiltrar no solo ou escoar sobre este e, neste caso, a vegetação
16

rasteira funciona como elemento de fixação da parte superficial do solo ou como um tapete
impermeabilizador (para as gramíneas), sendo um importante elemento de proteção contra a
erosão.
A água que se infiltra pode carrear grãos finos através dos poros existentes nos solos
grossos, mas este transporte é raro e pouco volumoso, portanto de pouca relevância em
relação à erosão superficial. De muito maior importância é o solo que as águas das chuvas
levam ao escoar de pontos mais elevados no relevo aos vales. Os vales contém rios ou
riachos que serão alimentados não só da água que escoa das escarpas, como também de
matéria sólida.

- Solos fluviais

Os rios durante sua existência têm várias fases. Em áreas de formação geológicas
mais recentes, menos desgastadas, existem irregularidades topográficas muito grandes e por
isso os rios têm uma inclinação maior e conseqüentemente uma maior velocidade. Existem
vários fatores determinantes da capacidade de erosão e transporte dos rios, sendo a
velocidade a mais importante. Assim, os rios mais jovens transportam mais matéria sólida
do que os rios mais velhos.
Sabe-se que os rios não possuem a mesma idade em toda a sua extensão; quanto
mais distantes da nascente, menor a inclinação e a velocidade. As partículas de determinado
tamanho passam a ter peso suficiente para se decantar e permanecer naquele ponto, outras
menores só serão depositadas com velocidade também menor. O transporte fluvial pode ser
descrito sumariamente da seguinte forma:

a) Os rios desgastam o relevo em sua parte mais elevada e levam os solos para sua
parte mais baixa, existindo com o tempo uma tendência a planificação do leito. Rios mais
velhos têm portanto menor velocidade e transportam menos.
b) Cada tamanho de grão será depositado em um determinado ponto do rio,
correspondente a uma determinada velocidade, o que leva os solos fluviais a terem uma
certa uniformidade granulométrica. Solos muito finos, como as argilas, permanecerão em
suspensão até decantar em mares ou lagos com água em repouso.

De um modo geral, pode-se dizer que os solos aluvionares apresentam um grau de


uniformidade de tamanho de grãos intermediário entre os solos eólicos (mais uniformes) e
coluvionares (menos uniformes).

- Solos marinhos

As ondas atingem as praias com um pequeno ângulo em relação ao continente. Isso


faz com que a areia, além do movimento de vai e vem das ondas, desloquem-se também ao
longo da praia. Obras que impeçam esse fluxo tendem a ser pontos de deposição de areia, o
que pode acarretar sérios problemas.

2.4.2.3. Solos glaciais


De pequena importância para nós, os solos formados pelas geleiras, ao se deslocarem
pela ação da gravidade, são comuns nas regiões temperadas. São formados de maneira
análoga aos solos fluviais. A corrente de gelo que escorre de pontos elevados onde o gelo é
formado para as zonas mais baixas, leva consigo partículas de solo e rocha, as quais, por sua
vez, aumentam o desgaste do terreno.
17

Os detritos são depositados nas áreas de degelo. Uma ampla gama de tamanho de
partículas é transportada, levando assim a formação de solos bastante heterogêneos que
possuem desde grandes blocos de rocha até materiais de granulometria fina.

2.4.2.4. Solos coluvionares


São solos formados pela ação da gravidade. Os solos coluvionares são dentre os
solos transportados os mais heterogêneos granulometricamente, pois a gravidade transporta
indiscriminadamente desde grandes blocos de rocha até as partículas mais finas de argila.
Entre os solos coluvionares estão os escorregamentos das escarpas da Serra do Mar
formando os tálus nos pés do talude, massas de materiais muito diversas e sujeitas a
movimentações de rastejo. Têm sido também classificados como coluviões os solos
superficiais do Planalto Brasileiro depositados sobre solos residuais.

- Tálus - Os tálus são solos coluvionares formados pelo deslizamento de solo do


topo das encostas. No sul da Bahia existem solos formados pela deposição de colúvios em
áreas mais baixas, os quais se apresentam geralmente com altos teores de umidade e são
propícios à lavoura cacaueira. Encontram-se solos coluvionares (tálus) também na Cidade
Baixa, em Salvador, ao pé da encosta paralela à falha geológica que atravessa a Baia de
Todos os Santos. De extrema beleza são os tálus encontrados na Chapada Diamantina,
Bahia. A fig. 2.8 lustra formações típicas da região. A parte mais inclinada dos morros
corresponde à formação original, enquanto que a parte menos inclinada é composta
basicamente de solo coluvionar (tálus).
.

Figura 2.8 - Exemplos de solos coluvionares (tálus) encontrados na chapada


diamantina.

2.4.3. Solos orgânicos

Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em


geral misturados a restos de vegetais e animais. Podem ser identificados pela cor escura e
por possuir forte cheiro característico. Têm granulometria fina, pois os solos grossos tem
uma permeabilidade que permite a "lavagem" dos grãos, eximindo-os da matéria
impregnada.

- Turfas - solos que incorporam florestas soterradas em estado avançado de


decomposição. Têm estrutura fibrilar composta de restos de fibras vegetais e não se aplicam
aí as teorias da Mecânica dos Solos, sendo necessários estudos especiais. Têm ocorrência
registrada na Bahia, Sergipe, Rio Grande do Sul e outros estados do Brasil.
18

2.4.4. Solos de evolução pedogênica - Alguns solos sofrem, em seu local de


formação (ou de deposição) uma série de transformações físico-químicas que os levam a ser
classificados como solos de evolução pedogênica. Os solos lateríticos são um tipo de solo de
evolução pedogênica. O processo de laterização é típico de regiões onde há uma nítida
separação entre períodos chuvosos e secos e é caracterizado pela lavagem da sílica coloidal
dos horizontes superiores do solo, com posterior deposição desta em horizontes mais
profundos, resultando em solos superficiais com altas concentrações de óxidos de ferro e
alumínio. A importância do processo de laterização no comportamento dos solos tropicais é
discutida no item classificação dos solos.

A figs. 2.9 e 2.10 ilustram, de maneira esquemática, o mergulho que o embasamento


cristalino de granulito/gnaisse, originário do solo residual que cobre boa parte da cidade faz,
até a uma profundidade de cerca de 8 km, em seus pontos mais profundos, em um corte
transversal à bacia do recôncavo. Esta enorme depressão foi preenchida com material
sedimentar, que abriga as nossas maiores reservas próximas de água subterrânea.
A fig. 2.11 ilustra a distribuição do solo de cobertura na área de salvador, conforme
dados fornecidos pelo PDDU da cidade.
19

Figura 2.9 – Figura ilustrativa da geologia da região da falha e da bacia do Recôncavo, Região Metropolitana de Salvador-BA. Modificado
de Penteado (1999), apud página da ANP 2003.
20

Figura 2.10 – Figura ilustrativa da geologia de salvador nos arredores da Avenida


contorno e elevador Lacerda. Sanches e Silva, s. d..

Figura 2.11 – Mapa de ocorrência de solos na cidade de Salvador-BA. Fonte: Plano


Diretor de Desenvolvimento Urbano-PDDU. Material acessado no dia 10/03/2006 Em
http://www.seplam.pms.ba.gov.br/pddua/relacaopranchas.asp
21

3. TEXTURA E ESTRUTURA DOS SOLOS.

3.1. Tamanho e Forma das Partículas

Entende-se por textura o tamanho relativo e a distribuição das partículas sólidas que
formam os solos. O estudo da textura dos solos é realizado por intermédio do ensaio de
granulometria, do qual falaremos adiante. Pela sua textura os solos podem ser classificados em
dois grandes grupos: solos grossos (areia, pedregulho, matacão) e solos finos (silte e argila). Esta
divisão é fundamental no entendimento do comportamento dos solos, pois a depender do tamanho
predominante das suas partículas, as forças de campo influenciando em seu comportamento serão
gravitacionais (solos grossos) ou elétricas (solos finos). De uma forma geral, pode-se dizer que
quanto maior for a relação área/volume ou área/massa das partículas sólidas, maior será a
predominância das forças elétricas ou de superfície. Estas relações são inversamente
proporcionais ao tamanho das partículas, de modo que os solos finos apresentam uma
predominância das forças de superfície na influência do seu comportamento. Conforme relatado
anteriormente, o tipo de intemperismo influencia na textura e estrutura do solo. Pode-se dizer que
partículas com dimensões até cerca de 0,001mm são obtidas através do intemperismo físico, já as
partículas menores que 0,001mm provém do intemperismo químico.

- Solos Grossos

Nos solos grossos, por ser predominante a atuação de forças gravitacionais, resultando em
arranjos estruturais bastante simplificados, o comportamento mecânico e hidráulico está
principalmente condicionado a sua compacidade, que é uma medida de quão próximas estão as
partículas sólidas umas das outras, resultando em arranjos com maiores ou menores quantidades
de vazios. Os solos grossos possuem uma maior percentagem de partículas visíveis a olho nu (φ ≥
0,074 mm) e suas partículas têm formas arredondadas, poliédricas e angulosas.

. Pedregulhos:

São classificados como pedregulho as partículas de solo com dimensões maiores que
2,0mm (DNER, MIT) ou 2,0mm (ABNT). Os pedregulhos são encontrados em geral nas margens
dos rios, em depressões preenchidas por materiais transportados pelos rios ou até mesmo em uma
massa de solo residual (horizontes correspondentes ao solo residual jovem e ao saprolito).

. Areias:

As areias se distinguem pelo formato dos grãos que pode ser angular, sub angular e
arredondado, sendo este último uma característica das areias transportadas por rios ou pelo vento.
A forma dos grãos das areias está relacionada com a quantidade de transporte sofrido pelos
mesmos até o local de deposição. O transporte das partículas dos solos tende a arredondar as suas
arestas, de modo que quanto maior a distância de transporte, mais esféricas serão as partículas
resultantes. Classificamos como areia as partículas com dimensões entre 2,0mm e 0,074mm
(DNER), 2,0mm e 0,05mm (MIT) ou ainda 2,0mm e 0,06mm (ABNT).
O formato dos grãos de areia tem muita importância no seu comportamento mecânico,
pois determina como eles se encaixam e se entrosam, e, em contrapartida, como eles deslizam
entre si quando solicitados por forças externas. Por outro lado, como estas forças se transmitem
dentro do solo pelos pequenos contatos existentes entre as partículas, as de formato mais
22

angulares, por possuírem em geral uma menor área de contato, são mais suscetíveis a se
quebrarem.

- Solos Finos

Quando as partículas que constituem o solo possuem dimensões menores que 0,074mm
(DNER), ou 0,06mm (ABNT), o solo é considerado fino e, neste caso, será classificado como
argila ou como silte.
Nos solos formados por partículas muito pequenas, as forças que intervêm no processo de
estruturação do solo são de caráter muito mais complexo e serão estudadas no item composição
mineralógica dos solos. Os solos finos possuem partículas com formas lamelares, fibrilares e
tubulares e é o mineral que determina a forma da partícula. As partículas de argila normalmente
apresentam uma ou duas direções em que o tamanho da partícula é bem superior àquele
apresentado em uma terceira direção. O comportamento dos solos finos é definido pelas forças de
superfície (moleculares, elétricas) e pela presença de água, a qual influi de maneira marcante nos
fenômenos de superfície dos argilo-minerais.

. Argilas:

A fração granulométrica do solo classificada como argila (diâmetro inferior a 0,002mm) se


caracteriza pela sua plasticidade marcante (capacidade de se deformar sem apresentar variações
volumétricas) e elevada resistência quando seca. É a fração mais ativa dos solos.

. Siltes:

Apesar de serem classificados como solos finos, o comportamento dos siltes é governado
pelas mesmas forças dos solos grossos (forças gravitacionais), embora possuam alguma atividade.
Estes possuem granulação fina, pouca ou nenhuma plasticidade e baixa resistência quando seco.
A fig. 3.1 apresenta a escala granulométrica adotada pela ABNT (NBR 6502):

Areia

Pedra de
Argila Silte Fina Média Grossa Pedregulho mão
mm
0,002 0,06 0,20 0,60 2,0 60,0
Figura 3.1 - Escala granulométrica da ABNT NBR 6502 de 1995

3.2. Identificação Visual e Táctil dos Solos

Muitas vezes em campo temos a necessidade de uma identificação prévia do solo, sem que
o uso do aparato de laboratório esteja disponível. Esta classificação primária é extremamente
importante na definição (ou escolha) de ensaios de laboratório mais elaborados e pode ser obtida a
partir de alguns testes feitos rapidamente em uma amostra de solo. No processo de identificação
táctil visual de um solo utilizam-se freqüentemente os seguintes procedimentos (vide NBR 7250):

Tato: Esfrega-se uma porção do solo na mão. As areias são ásperas; as argilas parecem
com um pó quando secas e com sabão quando úmidas.
Plasticidade: Moldar bolinhas ou cilindros de solo úmido. As argilas são moldáveis
enquanto as areias e siltes não são moldáveis.
23

Resistência do solo seco: As argilas são resistentes a pressão dos dedos enquanto os siltes
e areias não são.
Dispersão em água: Misturar uma porção de solo seco com água em uma proveta,
agitando-a. As areias depositam-se rapidamente, enquanto que as argilas turvam a suspensão e
demoram para sedimentar.
Impregnação: Esfregar uma pequena quantidade de solo úmido na palma de uma das
mãos. Colocar a mão embaixo de uma torneira aberta e observar a facilidade com que a palma da
mão fica limpa. Solos finos se impregnam e não saem da mão com facilidade.
Dilatância: O teste de dilatância permite obter uma informação sobre a velocidade de
movimentação da água dentro do solo. Para a realização do teste deve-se preparar uma amostra de
solo com cerca de 15mm de diâmetro e com teor de umidade que lhe garanta uma consistência
mole. O solo deve ser colocado sobre a palma de uma das mãos e distribuído uniformemente
sobre ela, de modo que não apareça uma lâmina d'água. O teste se inicia com um movimento
horizontal da mão, batendo vigorosamente a sua lateral contra a lateral da outra mão, diversas
vezes. Deve-se observar o aparecimento de uma lâmina d'água na superfície do solo e o tempo
para a ocorrência. Em seguida, a palma da mão deve ser curvada, de forma a exercer uma leve
compressão na amostra, observando-se o que poderá ocorrer à lâmina d' água, se existir, à
superfície da amostra. O aparecimento da lâmina d água durante a fase de vibração, bem como o
seu desaparecimento durante a compressão e o tempo necessário para que isto aconteça deve ser
comparado aos dados da tabela 3.1, para a classificação do solo.

Tabela 3.1 - Teste de dilatância


Descrição da ocorrência de lâmina d'água durante Dilatância
Vibração (aparecimento) Compressão (desaparecimento)
Não há mudança visível Nenhuma (argila)
Aparecimento lento Desaparecimento lento Lenta (silte ou areia argilosos)
Aparecimento médio Desaparecimento médio Média (Silte, areia siltosa)
Aparecimento rápido Desaparecimento rápido Rápida (areia)

Após realizados estes testes, classifica-se o solo de modo apropriado, de acordo com os
resultados obtidos (areia siltosa, argila arenosa, etc.). Os solos orgânicos são identificados em
separado, em função de sua cor e odor característicos.

Além da identificação táctil visual do solo, todas as informações pertinentes à


identificação do mesmo, disponíveis em campo, devem ser anotadas. Deve-se informar, sempre
que possível, a eventual presença de material cimentante ou matéria orgânica, a cor do solo, o
local da coleta do solo, sua origem geológica, sua classificação genética, etc.

A distinção entre solos argilosos e siltosos, na prática da engenharia geotécnica, possui


certas dificuldades, já que ambos os solos são finos. Porém, após a identificação tátil-visual ter
sido realizada, algumas diferenças básicas entre eles, já citadas nos parágrafos anteriores, podem
ser utilizadas para distingui-los.

1- O solo é classificado como argiloso quando se apresenta bastante plástico em presença


de água, formando torrões resistentes ao secar. Já os solos siltosos quando secos, se
esfarelam com facilidade.
2- Os solos argilosos se desmancham na água mais lentamente que os solos siltosos. Os
solos siltosos, por sua vez, apresentam dilatância marcante, o que não ocorre com os
solos argilosos.
24

3.3. Análise Granulométrica

A análise da distribuição das dimensões dos grãos, denominada análise granulométrica,


objetiva determinar os tamanhos dos diâmetros equivalentes das partículas sólidas em conjunto
com a proporção de cada fração constituinte do solo em relação ao peso de solo seco. A
representação gráfica das medidas realizadas é denominada de curva granulométrica. Pelo fato de
o solo geralmente apresentar partículas com diâmetros equivalentes variando em uma ampla
faixa, a curva granulométrica é normalmente apresentada em um gráfico semi-log, com o
diâmetro equivalente das partículas em uma escala logarítmica e a percentagem de partículas com
diâmetro inferior à abertura da peneira considerada (porcentagem que passa) em escala linear.

3.3.1. Ensaio de Granulometria

O ensaio de granulometria conjunta para o levantamento da curva granulométrica do solo


é realizado com base em dois procedimentos distintos: a) peneiramento - realizado para partículas
com diâmetros equivalentes superiores a 0,074mm (peneira 200) e b) Sedimentação -
procedimento válido para partículas com diâmetros equivalentes inferiores a 0,2mm. O ensaio de
peneiramento não é realizado para partículas com diâmetros inferiores a 0,074mm pela
dificuldade em se confeccionar peneiras com aberturas de malha desta ordem de grandeza.
Embora existindo no mercado, a peneira 400 (com abertura de malha de 0,045mm) não é
regularmente utilizada no ensaio de peneiramento, por ser facilmente danificada e de custo
elevado.

O ensaio de granulometria é realizado empregando-se os seguintes equipamentos: jogo de


peneiras, balança, estufa, destorroador, quarteador, bandejas, proveta, termômetro, densímetro,
cronômetro, dispersor, defloculante, etc. A preparação das amostras de solo se dá pelos processos
de secagem ao ar, quarteamento, destorroamento (vide NBR 9941), utilizando-se quantidades de
solo que variam em função de sua textura (aproximadamente 1500g para o caso de solos grossos e
200g, para o caso de solos finos).
A seguir são listadas algumas características dos processos normalmente empregados no
ensaio de granulometria conjunta (vide NBR 7181).

Peneiramento: utilizado para a fração grossa do solo (grãos com até 0,074mm de
diâmetro equivalente), realiza-se pela passagem do solo por peneiras padronizadas e pesagem das
quantidades retidas em cada uma delas. Retira-se 50 a 100g da quantidade que passa na peneira
de #200 e prepara-se o material para a sedimentação.

Sedimentação: os solos muito finos, com granulometria inferior a 0,074mm, são tratados
de forma diferenciada, através do ensaio de sedimentação desenvolvido por Arthur Casagrande.
Este ensaio se baseia na Lei de Stokes, segundo a qual a velocidade de queda, V, de uma partícula
esférica, em um meio viscoso infinito, é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula.
Sendo assim, as menores partículas se sedimentam mais lentamente que as partículas maiores.
O ensaio de sedimentação é realizado medindo-se a densidade de uma suspensão de solo
em água, no decorrer do tempo. A partir da medida da densidade da solução no tempo, calcula-se
a percentagem de partículas que ainda não sedimentaram e a velocidade de queda destas
partículas (a profundidade de medida da densidade é calculada em função da curva de calibração
do densímetro). Com o uso da lei de Stokes, pode-se inferir o diâmetro máximo das partículas
ainda em suspensão, de modo que com estes dados, a curva granulométrica é completada. A eq.
3.1 apresenta a lei de Stokes.
25

γ S −γ W
V= ⋅ D 2 onde,
18 µ
γ S → peso específico médio das partículas do solo
γ W → peso específico do fluido (3.1)
µ → viscosidade do fluído
D → diâmetro das partículas

Deve-se notar que o diâmetro equivalente calculado empregando-se a eq. 3.1 corresponde
a apenas uma aproximação, à medida em que durante a realização do ensaio de sedimentação, as
seguintes ocorrências tendem a afastá-lo das condições ideais para as quais a lei de Stokes foi
formulada.

As partículas de solo não são esféricas (muito menos as partículas dos argilo-minerais que
têm forma placóide).
A coluna líquida possui tamanho definido.
O movimento de uma partícula interfere no movimento de outra.
As paredes do recipiente influenciam no movimento de queda das partículas.
O peso específico das partículas do solo é um valor médio.
O processo de leitura (inserção e retirada do densímetro) influencia no processo de queda
das partículas.

3.3.2. Representação Gráfica do resultado do ensaio de granulometria

A representação gráfica do resultado de um ensaio de granulometria é dada pela curva


granulométrica do solo. A partir da curva granulométrica, podemos separar facilmente os solos
grossos dos solos finos, apontando a percentagem equivalente de cada fração granulométrica que
constitui o solo (pedregulho, areia, silte e argila). Além disto, a curva granulométrica pode
fornecer informações sobre a origem geológica do solo que está sendo investigado. Por exemplo,
na fig. 3.2, a curva granulométrica a corresponde a um solo com a presença de partículas em uma
ampla faixa de variação. Assim, o solo representado por esta curva granulométrica poderia ser um
solo de origem glacial, um solo coluvionar (tálus) (ambos de baixa seletividade) ou mesmo um
solo residual jovem. Contrariamente, o solo descrito pela curva granulométrica c foi
evidentemente depositado por um agente de transporte seletivo, tal como a água ou o vento (a
curva c poderia representar um solo eólico, por exemplo), pois possui quase que todas as
partículas do mesmo diâmetro. Na curva granulométrica b, uma faixa de diâmetros das partículas
sólidas está ausente. Esta curva poderia ser gerada, por exemplo, por variações bruscas na
capacidade de transporte de um rio em decorrência de chuvas.
De acordo com a curva granulométrica obtida, o solo pode ser classificado como bem
graduado, caso ele possua uma distribuição contínua de diâmetros equivalentes em uma ampla
faixa de tamanho de partículas (caso da curva granulométrica a) ou mal graduado, caso ele
possua uma curva granulométrica uniforme (curva granulométrica c) ou uma curva
granulométrica que apresente ausência de uma faixa de tamanhos de grãos (curva granulométrica
b).

Alguns sistemas de classificação utilizam a curva granulométrica para auxiliar na previsão


do comportamento de solos grossos. Para tanto, estes sistemas de classificação lançam mão de
alguns índices característicos da curva granulométrica, para uma avaliação de sua uniformidade e
curvatura. Os coeficientes de uniformidade e curvatura de uma determinada curva granulométrica
são obtidos a partir de alguns diâmetros equivalente característicos do solo na curva
granulométrica. São eles:
26

D10 - Diâmetro efetivo - Diâmetro eqüivalente da partícula para o qual temos 10% das
partículas passando (10% das partículas são mais finas que o diâmetro efetivo).
D30 e D60 - O mesmo que o diâmetro efetivo, para as percentagens de 30 e 60%,
respectivamente.

100

90
Porcentagem que passa (%)

80
Solo bem graduado (a)
70 (granulação contínua)
60

50

40
(a) Contínua
30 (b) Aberta Granulação uniforme (c)
(c) Uniforme (mal graduado)
20

10

0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Granulação aberta (b)
Abertura da peneira (mm) (mal graduado)
Figura 3.2 - Representação de diferentes curvas granulométricas.

As equações 3.2 e 3.3 apresentam os coeficientes de uniformidade e curvatura de uma


dada curva granulométrica.

Coeficiente de uniformidade:

D60
Cu =
D10 (3.2)

De acordo como valor do Cu obtido, a curva granulométrica pode ser classificada


conforme apresentado abaixo:
Cu < 5 → muito uniforme
5 < Cu < 15 → uniformidade média
Cu > 15 → não uniforme

Coeficiente de curvatura:
2
D30
Cc =
D60 x D10 (3.3)

Classificação da curva granulométrica quanto ao coeficiente de curvatura


1 < Cc < 3 → solo bem graduado
Cc < 1 ou Cc > 3 → solo mal graduado
27

3.4. Designação segundo a NBR-6502

A NBR- 6502 apresenta algumas regras práticas para designar os solos de acordo com a
sua curva granulométrica. A tabela 3.2 ilustra o resultado de ensaios de granulometria realizados
em três solos distintos. As regras apresentadas pela NBR-6502 serão então empregadas para
classificá-los, em caráter ilustrativo.

Tabela 3.2 - Exemplos de resultados de ensaios de granulometria para três solos distintos.
PERCENTAGEM QUE PASSA
# Abertura (mm) Solo 1 Solo 2 Solo 3
3" 76,2 98
1" 25,4 100 82
¾" 19,05 100 95 72
N° 4 4,8 98 88 61
N° 10 2,0 92 83 45
N° 40 0,42 84 62 20
N° 200 0,074 75 44 03

Argila ------ 44 21 00
Silte ------ 31 23 03
Areia ------ 17 39 42
Pedregulho ------ 08 17 53
Pedra ------ 00 00 02
Considerar a areia com partículas entre 0,074mm e 2,0mm.

- Normas para a designação do solo segundo a NBR 6502, baseando-se na sua


curva granulométrica

Quando da ocorrência de mais de 10% de areia, silte ou argila adjetiva-se o solo com as frações
obtidas, vindo em primeiro lugar as frações com maiores percentagens.
Em caso de empate, adota-se a seguinte hierarquia: 1°) Argila; 2°) Areia e e 3°) Silte

No caso de percentagens menores do que 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo, independente
da fração granulométrica considerada:
1 a 5% → com vestígios de
5 a 10% → com pouco

Para o caso de pedregulho com frações superiores a 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo:
10 a 29% → com pedregulho
> 30% → com muito pedregulho

Resultado da nomenclatura dos solos conforme os dados apresentados na tabela 3.2.

Solo 1: Argila Silto-Arenosa com pouco Pedregulho


Solo 2: Areia Silto-Argilosa com Pedregulho
Solo 3: Pedregulho Arenoso com vestígios de Silte e Pedra
28

ATENÇÃO: A completa classificação de um solo depende também de outros fatores além


da granulometria, sendo a adoção de uma nomenclatura baseada apenas na curva granulométrica
insuficiente para uma previsão, ainda que qualitativa, do seu comportamento de engenharia.

3.5. Estrutura dos Solos

Denomina-se estrutura dos solos a maneira pela qual as partículas minerais de diferentes
tamanhos se arrumam para formá-lo. A estrutura de um solo possui um papel fundamental em seu
comportamento, seja em termos de resistência ao cisalhamento, compressibilidade ou
permeabilidade. Como os solos finos possuem o seu comportamento governado por forças
elétricas, enquanto os solos grossos têm na gravidade o seu principal fator de influência, a
estrutura dos solos finos ocorre em uma diversificação e complexidade muito maior do que a
estrutura dos solos grossos. De fato, sendo a gravidade o fator principal agindo na formação da
estrutura dos solos grossos, a estrutura destes solos difere, de solo para solo, somente no que se
refere ao seu grau de compacidade. No caso dos solos finos, devido a presença das forças de
superfície, arranjos estruturais bem mais elaborados são possíveis. A fig. 3.3 ilustra algumas
estruturas típicas de solos grossos e finos.

Areia compacta

Estrutura dispersa
Areia fofa
+

+
Placas individuais,
Estrutura floculada

Figura 3.3 - Alguns arranjos estruturais presentes em


solos grossos e finos e fotografias obtidas a partir da
técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura.

Quando duas partículas de argila estão muito próximas, entre elas ocorrem forças de
atração e de repulsão. As forças de repulsão são devidas às cargas líqüidas negativas que elas
possuem e que ocorrem desde que as camadas duplas estejam em contato. As forças de atração
decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem materiais adjacentes.
Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas resulta a estrutura dos
solos, que se refere à disposição das partículas na massa de solo e as forças entre elas. Lambe
(1969) identificou dois tipos básicos de estrutura do solo, denominando-os de estrutura floculada,
quando os contatos se fazem entre faces e arestas das partículas sólidas, ainda que através da água
adsorvida, e de estrutura dispersa quando as partículas se posicionam paralelamente, face a face.
29

3.6. Composição Química e Mineralógica

Os solos são formados a partir da desagregação de rochas por ações físicas e químicas do
intemperismo. As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos assim formados
irão depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Estas
propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o comportamento mecânico do
solo.
Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e que
possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definidas. Eles podem ser
divididos em dois grandes grupos, a saber:
- Primários ⇒ Aqueles encontrados nos solos e que sobrevivem a transformação da rocha
(advêm portanto do intemperismo físico).
- Secundários ⇒ Os que foram formados durante a transformação da rocha em solo (ação
do intemperismo químico).
3.6.1. Solos Grossos - Areias e Pedregulhos
As partículas dos solos grossos, dentre as quais apresentam-se os pedregulhos, são
constituídas algumas vezes de agregações de minerais distintos, sendo mais comum, entretanto,
que as partículas sejam constituídas de um único mineral. Estes solos são formados, na sua maior
parte, por silicatos (90%) e apresentam também na sua composição óxidos, carbonatos e sulfatos.
Silicatos - feldspato, quartzo, mica, serpentina
Grupos Minerais Óxidos - hematita, magnetita, limonita
Carbonatos - calcita, dolomita
Sulfatos - gesso, anidrita
O quartzo, presente na maioria das rochas, é bastante estável, e em geral resiste bem ao
processo de transformação rocha-solo. Sua composição química é simples, SiO2, as partículas
são eqüidimensionais, como cubos ou esferas e ele apresenta baixa atividade superficial (devido
ao tamanho de seus grãos). Por conta disto, o quartzo é o componente principal na maioria dos
solos grossos (areias e pedregulhos)

3.6.2 Solos Finos - Argilas

Os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de
superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, etc., podem intervir no seu
comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica, sendo
formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde R = Al; Fe,
etc.
Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo-
minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com diâmetro inferior a 2 µm.
Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com que estas
partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao dos grãos de silte
e areia.
O estudo da estrutura dos argilo-minerais pode ser facilitado "construindo-se" o argilo-
mineral a partir de unidades estruturais básicas. Este enfoque é puramente didático e não
representa necessariamente o método pelo qual o argilo-mineral é realmente formado na natureza.
Assim, as estruturas apresentadas neste capítulo são apenas idealizações. Um cristal típico de um
argilo-mineral é uma estrutura complexa similar ao arranjo estrutural aqui idealizado, mas
30

contendo usualmente substituições de íons e outras modificações estruturais que acabam por
formar novos tipos de argilo-minerais. As duas unidades estruturais básicas dos argilo-minerais
são os tetraedros de silício e os octaédros de alumínio (fig. 3.4). Os tetraedros de silício são
formados por quatro átomos de oxigênio eqüidistantes de um átomo de silício enquanto que os
octaédros de alumínio são formados por um átomo de alumínio no centro, envolvido por seis
átomos de oxigênio ou grupos de hidroxilas, OH-. A depender do modo como estas unidades
estruturais estão unidas entre si, podemos dividir os argilo-minerais em três grandes grupos.

a) GRUPO DA CAULINITA: A caulinita é formada por uma lâmina silícica e outra de


alumínio, que se superpõem indefinidamente. A união entre todas as camadas é suficientemente
firme (pontes de hidrogênio) para não permitir a penetração de moléculas de água entre elas.
Assim, as argilas cauliníticas são as mais estáveis em presença d'água, apresentando baixa
atividade e baixo potencial de expansão.

b) MONTMORILONITA: É formada por uma unidade de alumínio entre duas silícicas,


superpondo-se indefinidamente. Neste caso a união entre as camadas de silício é fraca (forças de
Van der Walls), permitindo a penetração de moléculas de água na estrutura com relativa
facilidade. Os solos com grandes quantidades de montmorilonita tendem a ser instáveis em
presença de água. Apresentam em geral grande resistência quando secos, perdendo quase que
totalmente a sua capacidade de suporte por saturação. Sob variações de umidade apresentam
grandes variações volumétricas, retraindo-se em processos de secagem e expandindo-se sob
processos de umedecimento.

c) ILITA: Possui um arranjo estrutural semelhante ao da montmorilonita, porém os íons


não permutáveis fazem com que a união entre as camadas seja mais estável e não muito afetada
pela água. É também menos expansiva que a montmorilonita.

Al
Si Si
Al o o
o
Si
Al
Si o
Si Al
Al
Si Si o
K Al o
Si Si o
Al Al Si o Al
Si
Si
Si
Al
Al
Si
Si
Si Al Si
Al Si

Montmorilonita Ilita Caulinita Unidades cristalográficas


Figura 3.4 - Arranjos estruturais típicos dos três principais grupos de argilo-minerais.

Como a união entre as camadas adjacentes dos argilo-minerais do tipo 1:1 (grupo da
caulinita) é bem mais forte do que aquela encontrada para os outros grupos, é de se esperar que
estes argilo-minerais resultem por alcançar tamanhos maiores do que aqueles alcançados pelos
argilo-minerais do grupo 2:1, o que ocorre na realidade: Enquanto um mineral típico de caulinita
possui dimensões em torno de 500 (espessura) x 1000 x 1000 (nm), um mineral de
montmorilonita possui dimensões em torno de 3x 500 x 500 (nm).
31

A presença de um determinado tipo de argilo-mineral no solo pode ser identificada


utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, o raio x , a microscopia
eletrônica de varredura, etc.

Superfície específica - Denomina-se de superfície específica de um solo a soma da área


de todas as partículas contidas em uma unidade de volume ou peso. A superfície específica dos
argilo-minerais é geralmente expressa em unidades como m2/m3 ou m2/g. Quanto maior o
tamanho do mineral menor a superfície específica do mesmo. Deste modo, pode-se esperar que os
argilo-minerais do grupo 2:1 possuam maior superfície específica do que os argilo-minerais do
grupo 1:1. A montmorilonita, por exemplo, possui uma superfície específica de aproximadamente
800 m2/g, enquanto que a ilita e a caulinita possuem superfícies específicas de aproximadamente
80 e 10 m 2/g, respectivamente. A superfície específica é uma importante propriedade dos argilo-
minerais, na medida em que quanto maior a superfície específica, maior vai ser o predomínio das
forças elétricas (em detrimento das forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do
solo (estrutura, plasticidade, coesão, etc.)
32

4. FASES SÓLIDO - ÁGUA - AR.

O solo é constituído de uma fase fluida (água e/ ou ar) e se uma fase sólida. A fase fluida
ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas.

4.1. Fase Sólida

Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos


grãos, conforme já apresentado anteriormente.

4.2. Fase Gasosa

Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo-se


também apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água). A fase gasosa é
importante em problemas de deformação de solos e é bem mais compressível que as fases sólida e
líquida.

4.3. Fase Líquida

Fase fluida composta em sua maior parte pela água, podendo conter solutos e outros
fluidos imiscíveis. Pode-se dizer que a água se apresenta de diferentes formas no solo, sendo
contudo extremamente difícil se isolar os estados em que a água se apresenta em seu interior. A
seguir são expressados os termos mais comumente utilizados para descrever os estados da água
no solo.

4.3.1. Água Livre

Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob a ação da
gravidade ou de outros gradientes de energia.

4.3.2. Água Capilar

É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio de forças capilares. Esta se
eleva pelos interstícios capilares formados pelas partículas sólidas, devido a ação das tensões
superficiais nos contatos ar-água-sólidos, oriundas a partir da superfície livre da água.

4.3.3. Água Adsorvida (adesiva)

É uma película de água que adere às partículas dos solos finos devido a ação de forças
elétricas desbalanceadas na superfície dos argilo-minerais. Está submetida a grande pressões,
comportando-se como sólido na vizinhança da partícula de solo.

4.3.4. Água de Constituição

É a água presente na própria composição química das partículas sólidas. Não é retirada
utilizando-se os processos de secagem tradicionais. Ex: Montmorilonita (OH)4 Si2 Al4 O20 nH2 O

4.3.5. Água higroscópica

Água que o solo possui quando em equilíbrio com a umidade atmosférica e a temperatura
ambiente.
33

5. CONSISTÊNCIA DOS SOLOS.

5.1. Noções básicas

Quando tratamos com solos grossos (areias e pedregulhos com pequena quantidade ou
sem a presença de finos), o efeito da umidade nestes solos é freqüentemente negligenciado, na
medida em que a quantidade de água presente nos mesmos tem um efeito secundário em seu
comportamento. Pode se dizer, conforme aliás será visto no capítulo de classificação dos solos,
que podemos classificar os solos grossos utilizando-se somente a sua curva granulométrica, o seu
grau de compacidade e a forma de suas partículas. Por outro lado, o comportamento dos solos
finos ou coesivos irá depender de sua composição mineralógica, da sua umidade, de sua estrutura
e do seu grau de saturação. Em particular, a umidade dos solos finos tem sido considerada como
uma importante indicação do seu comportamento desde o início da mecânica dos solos.
Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semi-sólido ou sólido,
a depender de sua umidade. A este estado físico do solo dá-se o nome de consistência. Os limites
inferiores e superiores de valor de umidade para cada estado do solo são denominados de limites
de consistência.
No estado plástico, o solo apresenta uma propriedade denominada de plasticidade,
caracterizada pela capacidade do solo se deformar sem apresentar ruptura ou trincas e sem
variação de volume.
A manifestação desta propriedade em um solo dependerá fundamentalmente dos seguintes
fatores:

Umidade: Existe uma faixa de umidade dentro da qual o solo se comporta de maneira
plástica. Valores de umidade inferiores aos valores contidos nesta faixa farão o solo se comportar
como semi-sólido ou sólido, enquanto que para maiores valores de umidade o solo se comportará
preferencialmente como líquido.

Tipo de argilo-mineral: O tipo de argilo-mineral (sua forma, constituição mineralógica,


tamanho, superfície específica, etc.) influi na capacidade do solo de se comportar de maneira
plástica. Quanto menor o argilo-mineral (ou quanto maior sua superfície específica), maior a
plasticidade do solo. É importante salientar que o conhecimento da plasticidade na caracterização
dos solos finos é de fundamental importância.

5.2. Estados de Consistência

A depender da quantidade de água presente no solo, teremos os seguintes estados de


consistência:

SÓLIDO SEMI-SÓLIDO PLÁSTICO FLUIDO-DENSO


wS wP wL w%

Cada estado de consistência do solo se caracteriza por algumas propriedades particulares,


as quais são apresentadas a seguir. Os limites entre um estado de consistência e outro são
determinados empiricamente, sendo denominados de limite de contração, wS, limite de
plasticidade, wP e limite de liquidez, wL.

Estado Sólido - Dizemos que um solo está em um estado de consistência sólido quando o
seu volume "não varia" por variações em sua umidade.
34

Estado Semi - Sólido - O solo apresenta fraturas e se rompe ao ser trabalhado. O limite de
contração, wS, separa os estados de consistência sólido e semi-sólido.

Estado Plástico - Dizemos que um solo está em um estado plástico quando podemos
moldá-lo sem que o mesmo apresente fissuras ou variações volumétricas. O limite de plasticidade,
wP, separa os estados de consistência semi-sólido e plástico.
Estado Fluido - Denso (Líquido) - Quando o solo possui propriedades e aparência de
uma suspensão, não apresentando resistência ao cisalhamento. O limite de liquidez, w L, separa os
estados plástico e fluido.

Como seria de se esperar, a resistência ao cisalhamento bem como a compressibilidade dos


solos variam nos diversos estados de consistência.

5.3. Determinação dos Limites de Consistência

A delimitação entre os diversos estados de consistência é feita de forma empírica. Esta


delimitação foi inicialmente realizada por Atterberg, culminando com a padronização dos ensaios
para a determinação dos limites de consistência por Arthur Casagrande.

Conforme apresentado anteriormente, são os seguintes os limites que separam os diversos


estados de consistência do solo:

. Limite de Liquidez (wL)


. Limite de Plasticidade (wP)
. Limite de Contração (wS)

5.3.1. Limite de Liquidez

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado plástico para o estado fluido.

Determinação do limite de liquidez (wL). A determinação do limite de liquidez do solo é


realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1) coloca-se na concha do aparelho de
Casagrande uma pasta de solo passando #40 e com umidade próxima de seu limite de
plasticidade. 2) faz-se um sulco na pasta com um cinzel padronizado. 3) Aplicam-se golpes à
massa de solo posta na concha do aparelho de Casagrande, girando-se uma manivela, a uma
velocidade padrão de 2 golpes por segundo. Esta manivela é solidária a um eixo, o qual por
possuir um excêntrico, faz com que a concha do aparelho de casagrande caia de uma altura
padrão de aproximadamente 1cm. 4) Conta-se o número de golpes necessário para que a ranhura
de solo se feche em uma extensão em torno de 1cm. 5) Repete-se este processo ao menos 5 vezes,
geralmente empregando-se valores de umidade crescentes. 6) lançam-se os pontos experimentais
obtidos, em termos de umidade versus log N° de golpes. 7) ajusta-se uma reta passando por esses
pontos. O limite de liquidez corresponde à umidade para a qual foram necessários 25 golpes para
fechar a ranhura de solo. A fig. 5.1 ilustra o aparelho utilizado na determinação do limite de
liquidez. A fig. 5.2 apresenta a determinação do limite de liquidez do solo (vide NBR 6459).
35

Figura 5.1 - Aparelho utilizado na determinação do limite de liquidez. Apud Vargas


(1977)

90

86
Teor de umidade, w (%)

82
N w (%)
78,7 53 70,11
35 75,20
78 28 75,91
22 81,07
18 83,26
12 86,32
74
25 78,70

70
10 100
Número de golpes (N)
Figura 5.2 - Determinação do limite de liquidez do solo.

5.3.2. Limite de Plasticidade

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado semi-sólido para o estado plástico.

Determinação do limite de plasticidade (wP). A determinação do limite de plasticidade


do solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1) prepara-se uma pasta com o solo que
passa na #40, fazendo-a rolar com a palma da mão sobre uma placa de vidro esmerilhado,
formando um pequeno cilindro. 2) quando o cilindro de solo atingir o diâmetro de 3mm e
apresentar fissuras, mede-se a umidade do solo. 3) esta operação é repetida pelo menos 5 vezes,
36

definido assim como limite de plasticidade o valor médio dos teores de umidade determinados. A
fig. 5.3 ilustra a realização do ensaio para determinação do limite de plasticidade (vide NBR
7180).

Rolo de solo
Placa de vidro fosco

Se o solo fissurar com um diâmetro 
superior a 3mm, então Controle,
W < WP 3mm

Se o solo fissurar com um diâmetro 
inferior a 3mm, então Controle,
W > WP 3mm

Figura 5.3 - Determinação do limite de plasticidade.

5.3.3. Limite de Contração

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado sólido para o estado semi-sólido.

Determinação do limite de contração (wS). A determinação do limite de contração do


solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1) molda-se uma amostra de solo passando
na #40, na forma de pastilha, em uma cápsula metálica com teor de umidade entre 10 e 25 golpes
no aparelho de Casa Grande. 2) seca-se a amostra à sombra e depois em estufa, pesando-a em
seguida. 3) utiliza-se um recipiente adequado (cápsula de vidro) para medir o volume do solo
seco, através do deslocamento de mercúrio provocado pelo solo quando de sua imersão no
recipiente. O limite de contração é determinado pela eq. 5.1, apresentada a seguir (vide NBR
7183).

V 1 (5.1)
w s = −   x100
P s w

Onde: V = Volume da amostra seca


P = Peso da amostra seca
γw = Peso específico da água
γs = Peso específico das partículas sólidas
37

5.4. Índices de consistência

Uma vez conhecidos os limites de consistência de um solo, vários índices podem ser
definidos. A seguir, apresentaremos os mais utilizados.

5.4.1. Índice de Plasticidade

O índice de plasticidade (IP) corresponde a faixa de valores de umidade do solo na qual


ele se comporta de maneira plástica. É a diferença numérica entre o valor do limite de liquidez e o
limite de plasticidade.

IP = wL − wP (5.2)

O IP é uma maneira de avaliarmos a plasticidade do solo. Seria a quantidade de água


necessária a acrescentar a um solo (com uma consistência dada pelo valor de wP) para que este
passasse do estado plástico ao líquido.

Classificação do solo quanto ao seu índice de plasticidade:

IP = 0 → NÃO PLÁSTICO
1 < IP < 7 → POUCO PLÁSTICO
7 < IP < 15 → PLASTICIDADE MÉDIA
IP > 15 → MUITO PLÁSTICO

5.4.2. Índice de Consistência

É uma forma de medirmos a consistência do solo no estado em que se encontra em campo.

wL − w
IC =
IP (5.3)

É um meio de se situar a umidade do solo entre os limites de liquidez e plasticidade, com o


objetivo de utilização prática. Obtenção do estado de consistência do solo em campo utilizando-se
o IC:

IC < 0 → FLUÍDO - DENSO


0 < IC < 1 → ESTADO PLÁSTICO
IC > 1 → ESTADO SEMI - SÓLIDO OU SÓLIDO

5.5. Alguns Conceitos Importantes

AMOLGAMENTO: É a destruição da estrutura original do solo, provocando geralmente a


perda de sua resistência (no caso de solos apresentando sensibilidade).
38

SENSIBILIDADE: É a perda de resistência do solo devido a destruição de sua estrutura


original. A sensibilidade de um solo é avaliada por intermédio do índice de sensibilidade (S t), o
qual é definido pela razão entre a resistência à compressão simples de uma amostra indeformada e
a resistência à compressão simples de uma amostra amolgada, remoldada no mesmo teor de
umidade da amostra indeformada. A sensibilidade de um solo é calculada por intermédio da eq.
5.4, apresentada adiante.

RC
St =
R' C (5.4)

Onde St é a sensibilidade do solo e RC e R'C são as resistências à compressão simples da


amostra indeformada e amolgada, respectivamente.

Segundo Skempton:
St < 1 → NÃO SENSÍVEIS
1 < St < 2 → BAIXA SENSIBILIDADE
2 < St < 4 → MÉDIA SENSIBILIDADE
4 < St < 8 → SENSÍVEIS
St > 8 → EXTRA - SENSÍVEIS

Quanto maior for o St, tem-se uma menor coesão, uma maior compressibilidade e uma
menor permeabilidade do solo.

TIXOTROPIA: É o fenômeno da recuperação da resistência coesiva do solo, perdida pelo


efeito do amolgamento, quando este é colocado em repouso. Quando se interfere na estrutura
original de uma argila, ocorre um desequilíbrio das forças inter-partículas. Deixando-se este solo
em repouso, aos poucos vai-se recompondo parte daquelas ligações anteriormente presentes entre
as suas partículas.

ATIVIDADE: Conforme relatado anteriormente, a superfície das partículas dos argilo-


minerais possui uma carga elétrica negativa, cuja intensidade depende principalmente das
características do argilo-mineral considerado. As atividades físicas e químicas decorrentes desta
carga superficial constituem a chamada "atividade da superfície do argilo-mineral". Dos três
grupos de argilo-minerais apresentados aqui, a montmorilonita é a mais ativa, enquanto que a
caulinita é a menos ativa. Segundo Skempton (1953) a atividade dos argilo-minerais pode ser
avaliada pela eq. 5.5, apresentada adiante.

IP
A=
% < 0.002mm (5.5)

Onde o termo %<0.002mm representa a percentagem de partículas com diâmetro inferior a


2µ presentes no solo. Ainda segundo Skempton, os solos podem ser classificados de acordo com a
sua atividade do seguinte modo:

 Solos inativos: A < 0,75


 Solos medianamente ativos: 0,75 < A < 1,25
 Solos ativos: A> 1,25.

A fig. 5.4 apresenta a variação do índice de plasticidade de amostras de solo


confeccionadas em laboratório em função da percentagem de argila (% < 0,002mm) presente nos
39

mesmos. Da eq. 5.5 percebe-se que a atividade do argilo-mineral corresponde ao coeficiente


angular das áreas hachuradas apresentadas na figura. Na fig. 5.4 estão também apresentados
valores típicos de atividade para os três principais grupos de argilo-minerais.

800

700
Índice de plasticidade (%) 600

500

400
M ontmorilonita
300 4 < A < 8
200
100
0 Ilita
0,5 < A < 1,5

Fração argila (%)
Caulinita
0,3 < A < 0,5

Figura 5.4 - Variação do IP em função da fração argila para solos com diferentes argilo-
minerais.
40

6. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS.

Por serem constituídos de um material de origem natural, os depósitos de solo nunca são
estritamente homogêneos. Grandes variações nas suas propriedades e em seu comportamento são
comumente observadas. Pode-se dizer contudo, que depósitos de solo que exibem propriedades
básicas similares podem ser agrupados como classes, mediante o uso de critérios ou índices
apropriados. Um sistema de classificação dos solos deve agrupar os solos de acordo com suas
propriedades intrínsecas básicas. Do ponto de vista da engenharia, um sistema de classificação
pode ser baseado no potencial de um determinado solo para uso em bases de pavimentos,
fundações, ou como material de construção, por exemplo. Devido a natureza extremamente
variável do solo, contudo, é inevitável que em qualquer classificação ocorram casos onde é difícil
se enquadrar o solo em uma determinada e única categoria, em outras palavras, sempre vão existir
casos em que um determinado solo poderá ser classificado como pertencente a dois ou mais
grupos. Do mesmo modo, o mesmo solo pode mesmo ser colocado em grupos que pareçam
radicalmente diferentes, em diferentes sistemas de classificação.

Em vista disto, um sistema de classificação deve ser tomado como um guia preliminar
para a previsão do comportamento de engenharia do solo, a qual não pode ser realizada
utilizando-se somente sistemas de classificação. Testes para avaliação de importantes
características do solo devem sempre ser realizados, levando-se sempre em consideração o uso do
solo na obra, já que diferentes propriedades governam o comportamento do solo a depender de
sua finalidade. Assim, deve-se usar um sistema de classificação do solo, dentre outras coisas, para
se obter os dados necessários ao direcionamento de uma investigação mais minuciosa, quer seja
na engenharia, geoquímica, geologia ou outros ramos da ciência.

Implicitamente, nos capítulos anteriores, utilizaram-se alguns sistemas de classificação dos


solos. Estes sistemas de classificação, por serem bastante simplificados, não são capazes de
fornecer, na maioria dos casos, uma resposta satisfatória do ponto de vista da engenharia,
devendo ser usados como informações adicionais aos sistemas de classificação mais elaborados.
São eles: a) - Classificação genética dos solos (classificação do solo segundo a sua origem) -
Classifica os solos em residuais e sedimentares, podendo apresentar subdivisões (ex. solo residual
jovem, solo sedimentar eólico, etc.); b) - Classificação pela NBR 6502 - Conforme apresentado
anteriormente, esta classificação designa os solos de acordo com as suas frações granulométricas
preponderantes, utilizando a curva granulométrica; c) - Classificação pela estrutura - Essa
classificação consta de dois tipos fundamentais de estruturas (agregada e isolada), que por sua
vez, são subdivididas em vários outros subtipos (floculada, dispersa, orientada, aleatória),
conforme foi visto no capítulo referente a estrutura dos solos.

Neste capítulo serão apresentados os dois sistemas de classificação dos solos mais
difundidos no meio geotécnico, a saber, o Sistema Unificado de Classificação do Solos, SUCS
(ou “Unified Soil Classification System”, USCS) e o sistema de classificação dos solos proposto
pela AASHTO (“American Association of State Highway and Transportation Officials”). Deve-se
salientar, contudo, que estes dois sistemas de classificação foram desenvolvidos para classificar
solos de países de clima temperado, não apresentando resultados satisfatórios quando utilizados
na classificação de solos tropicais (principalmente aqueles de natureza laterítica), cuja gênese é
bastante diferenciada daquela dos solos para os quais estas classificações foram elaboradas. Por
conta disto, e devido a grande ocorrência de solos lateríticos nas regiões Sul e Sudeste do país,
recentemente foi elaborada uma classificação especialmente destinada a classificação de solos
tropicais. Esta classificação, brasileira, denominada de Classificação MCT, começou a se
desenvolver na década de 70, sendo apresentada oficialmente em 1980 (Nogami & Villibor,
1980). No item 6.3 é feita uma introdução à classificação MCT.
41

6.1. Classificação Segundo o Sistema Unificado de Classificação dos Solos

Este sistema de classificação foi originalmente desenvolvido pelo professor A. Casagrande


(Casagrande, 1948) para uso na construção de aterros em aeroportos durante a Segunda Guerra
Mundial, sendo modificada posteriormente para uso em barragens, fundações e outras
construções. A idéia básica do Sistema Unificado de Classificação dos solos é que os solos
grossos podem ser classificados de acordo com a sua curva granulométrica, ao passo que o
comportamento de engenharia dos solos finos está intimamente relacionado com a sua
plasticidade. Em outras palavras, os solos nos quais a fração fina não existe em quantidade
suficiente para afetar o seu comportamento são classificados de acordo com a sua curva
granulométrica, enquanto que os solos nos quais o comportamento de engenharia é controlado
pelas suas frações finas (silte e argila), são classificados de acordo com as suas características de
plasticidade.

As quatro maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos são as


seguintes: (1) - Solos grossos (partículas com φ > 0,075mm: pedregulho e areia), (2) - Solos finos
(partículas com φ < 0,075mm: silte e argila), (3) - Solos orgânicos e (4) - Turfa. Os solos
orgânicos e as turfas são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é classificado por um
símbolo, derivado dos nomes em inglês correspondentes: Pedregulho (G), do inglês "gravel";
Argila (C), do inglês "Clay"; Areia (S), do inglês "Sand"; Solos orgânicos (O), de "Organic soils" e
Turfa (Pt), do inglês "peat". A única exceção para esta regra advém do grupo do silte, cuja letra
representante, M, advém do Sueco "mjäla".

A) Solos Grossos

Os solos grossos são classificados como pedregulho ou areia. São classificados como
pedregulhos aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa retida na peneira 4
(4,75mm) e como areias aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa passando
na peneira 4. Cada grupo por sua vez é dividido em quatro subgrupos a depender de sua curva
granulométrica ou da natureza da fração fina eventualmente existente. São eles:

1) Material praticamente limpo de finos, bem graduado W, (GW e SW)


2) Material praticamente limpo de finos, mal graduado P, (GP e SP)
3) Material com quantidades apreciáveis de finos de baixa plasticidade, M, (GM e SM)
4) Material com quantidades apreciáveis de finos de alta plasticidade C, (GC ou SC)

A.1 - Grupos GW e SW
Formados por um solo bem graduado com poucos finos. Em um solo bem graduado, os
grãos menores podem ficar nos espaços vazios deixados pelos grãos maiores, de modo que os
solos bem graduados tendem a apresentar altos valores de peso específico (ou menor quantidade
de vazios) e boas características de resistência e deformabilidade. A presença de finos nestes
grupos não deve produzir efeitos apreciáveis nas propriedades da fração grossa, nem interferir na
sua capacidade de drenagem, sendo fixada como no máximo 5% do solo, em relação ao seu peso
seco. O exame da curva granulométrica dos solos grossos se faz por meio dos coeficientes de
uniformidade (Cu) e curvatura (Cc), já apresentados anteriormente. Para que o solo seja
considerado bem graduado é necessário que seu coeficiente de uniformidade seja maior que 4, no
caso de pedregulhos, ou maior que 6, no caso de areias, e que o seu coeficiente de curvatura esteja
entre 1 e 3.
42

A.2 - Grupos GP e SP

Formados por solos mal graduados (curvas granulométricas uniformes ou abertas). Como
os subgrupos SW e GW, possuem no máximo 5% de partículas finas, material que passa na
peneira 200, mas suas curvas granulométricas não completam os requisitos de graduação
indicados para serem considerados como bem graduados. Dentro destes grupos estão
compreendidos as areias uniformes das dunas e os solos possuindo duas frações granulométricas
predominantes, provenientes da deposição pela água de rios em períodos alternados de cheia/seca.

A.3 - Grupos GM e SM

São classificados como pertencentes aos subgrupos GM e SM os solos grossos nos quais
existe uma quantidade de finos suficiente para afetar as suas propriedades de engenharia:
resistência ao cisalhamento, deformabilidade e permeabilidade. Convenciona-se a quantidade de
finos necessária para que isto ocorra em 12%, embora sabendo-se que a influência dos finos no
comportamento de um solo depende não somente da sua quantidade mas também da atividade do
argilo-mineral preponderante. Para os solos grossos possuindo mais do que 12% de finos, deve-se
realizar ensaios com vistas a determinação de seus limites de consistência w L e wP, utilizando-se
para isto a fração de solo que passa na peneira #40. Para que o solo seja classificado como GM ou
SM, a sua fração fina deve se situar abaixo da linha A da carta de plasticidade de Casagrande
(vide fig. 6.2).

A.4 - Grupos GC e SC

São classificados como GC e SC os solos grossos que atendem aos critérios especificados
no item A.3, mas cuja fração fina possui representação na carta de plasticidade acima da linha A.
Em outras palavras, são classificados como GC e SC os solos grossos possuindo mais que 12% de
finos com comportamento predominante de argila.
OBS: Os solos grossos possuindo percentagens de finos entre 5 e 12% devem possuir
nomenclaturas duplas, como GW-GM, SP-SC, etc., atribuídas de acordo com o especificado
anteriormente. De uma forma geral, sempre que um material não se encontra claramente dentro de
um grupo, devemos utilizar símbolos duplos, correspondentes a casos de fronteira. Ex: GW-SW
(material bem graduado com menos de 5% de finos e formado com fração de grossos com iguais
proporções de pedregulho e areia) ou GM-GC (solos grossos com mais do que 12% de finos cuja
representação na carta de plasticidade de Casagrande se situa muito próxima da linha A). A fig.
6.1 apresenta um fluxograma exibindo os passos básicos a serem seguidos na classificação de
solos grossos pelo Sistema Unificado.
43

SOLOS GROSSOS

Pedregulho (G). Mais que 50% da Areia (S). Menos que 50% da fração
fração grossa retido na # 4 (4.75mm) grossa retido na # 4 (4.75mm)

Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que 12%
passam na # passam na # 12% passam passam na # passam na # passam na #
200 200 na # 200 200 200 200

Se Cu > 4 e Senão Finos Finos Se Cu > 6 Senão Finos Finos


e 1<Cc<3
1<Cc<3 ML ou MH CL ou CH ML ou MH CL ou CH

GW GP GM GC SW SP SM SC
Nomes Nomes
duplos: duplos:
GW-GM SW-SM
Figura 6.1 - Classificação dos solos grossos pelo SUCS.
44

B) Solos Finos

Os solos finos são classificados como argila e silte. A classificação dos solos finos é
realizada tomando-se como base apenas os limites de plasticidade e liquidez do solo, plotados na
forma da carta de plasticidade de Casagrande. Em outras palavras, o conhecimento da curva
granulométrica de solos possuindo mais do que 50% de material passando na peneira 200 pouco
ou muito pouco acrescenta acerca das expectativas sobre suas propriedades de engenharia.
A Carta de plasticidade dos solos foi desenvolvida por A. Casagrande de modo a agrupar
os solos finos em diversos subgrupos, a depender de suas características de plasticidade.
Conforme é apresentado na fig. 6.2, a carta de plasticidade possui três divisores principais: A
linha A (de eq. IP = 0,73(wL – 20)) separa argilas (acima da linha) de siltes (abaixo da linha), a
linha B (wL = 50%) separa solos de baixa plasticidade (à esquerda da linha) dos de alta
plasticidade (à direita da linha) e a linha U (de eq. IP = 0,9(wL – 8) que é o limite superior da
classificação. Deste modo, os solos finos, que são divididos em quatro subgrupos (CL, CH, ML e
MH), são classificados de acordo com a sua posição em relação às linhas A e B, conforme
apresentado nos sub-itens seguintes.

60
Índice de Plasticidade (%)

50

40
Linha U
Linha A
IP = 0,90∙(W L ­  8) CH
IP = 0,73∙(W L ­  20)
30

20
CL MH
OH
10
ML OL
CL­ ML
ML
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Limite de Liquidez (%)
Figura 6.2 - Carta de plasticidade de Casagrande.

OBS: 1) Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe dentro da zona CL-ML devem
ter nomenclatura dupla. 2) Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha LL =
50 % devem ter nomenclatura dupla: (MH-ML ou CH-CL). 3) Solos cuja representação na carta de
plasticidade se situe próximo à linha A devem ter nomenclatura dupla: (MH-CH ou CL-ML). 4) As
argilas inorgânicas de média plasticidade possuem wL entre 30 e 50%.

B.1 - Grupos CL e CH

Os solos classificados como CL (argilas inorgânicas de baixa plasticidade) são aqueles os


quais têm a sua representação na carta de plasticidade acima da linha A e à esquerda da linha B
(conforme pode-se observar na fig. 6.2, deve-se ter também um IP > 7%). O grupo CH (argilas
45

inorgânicas de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de plasticidade acima da


linha A e à direita da linha B (wL > 50%). São exemplos deste grupo as argilas formadas por
decomposição química de cinzas vulcânicas, tais como a argila do vale do México, com w L de até
500%.

B.2 - Grupos ML e MH

Os solos classificados como ML (siltes inorgânicos de baixa plasticidade) são aqueles os


quais têm a sua representação na carta de plasticidade abaixo da linha A e à esquerda da linha B
(conforme pode-se observar na fig. 6.2, deve-se ter também um IP < 4%). O grupo MH (siltes
inorgânicos de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de plasticidade abaixo da
linha A e à direita da linha B (wL > 50%).

B.3 - Grupos CL - ML

Os solos classificados como CL-ML são aqueles com representação na carta de


plasticidade acima da linha A e que tenham índice de plasticidade entre 4 e 7%. Esse grupo recebe
um nome duplo porque não apresenta característica específica de uma determinada região.

B.4 - Grupos OL e OH

São classificados utilizando-se os mesmos critérios definidos para os subgrupos ML e MH.


A presença de matéria orgânica é geralmente identificada visualmente e pelo seu odor
característico. Em caso de dúvida a escolha entre os símbolos OL/ML ou OH/MH pode ser feita
utilizando-se o seguinte critério: Se wLs/wLn < 0,75 então o solo é orgânico senão é inorgânico. Os
símbolos wLs e wLn correspondem a limites de liquidez determinados em amostras que foram
secas em estufa e ao ar livre, respectivamente. Neste caso, a diferença entre os valores de wL se
deve ao fato de que a amostra seca em estufa a 105oC terá a sua matéria orgânica queimada, tendo
em consequência o seu valor de wL reduzido.

C) Solos Pantanosos e Turfas

São solos altamente orgânicos, geralmente fibrilares e extremamente compressíveis. As


turfas são solos que incorporam florestas soterradas em estágio avançado de decomposição. Estes
solos formam um grupo independente de símbolo (Pt).
Na maioria dos solos turfosos os limites de consistência podem ser determinados após
completo amolgamento do solo. O limite de liquidez destes solos varia entre 300 e 500%
permanecendo a sua posição na carta de plasticidade notavelmente acima da linha A. O Índice de
plasticidade destes solos normalmente se situa entre 100 e 200.

d) A linha U da carta de plasticidade

A linha U apresentada na carta de plasticidade representa o limite superior das


coordenadas (wL;IP) encontrado para a grande maioria dos solos (mesmo solos possuindo argilo-
mineriais de alta atividade). Deste modo, sempre que em um processo de classificação o ponto
representante do solo se situar acima da linha U, os dados de laboratório devem ser checados e os
ensaios refeitos.
A carta de plasticidade de Casagrande pode ainda nos dar uma idéia acerca do tipo de
argilo-mineral predominante na fração fina do solo. Solos possuindo argilo-minerais do tipo 1:1
46

(como a caulinita) tem seus pontos de representação na carta de plasticidade próximo à linha A
(parte superior à linha A), enquanto que solos possuindo argilo-minerais de alta atividade (como a
montmorilonita) tendem a ter seus pontos de representação na carta de plasticidade próximos à
linha U (parte imediatamente inferior à linha U).

e) Observações complementares

Apesar dos símbolos utilizados no SUCS serem de grande valia, eles não descrevem
completamente um depósito de solo. Em todos os solos deve-se acrescentar informações como
odor, cor e homogeneidade do material à classificação. Para o caso de solos grossos, informações
como a forma dos grãos, tipo de mineral predominante, graus de intemperismo ou compacidade,
presença ou não de finos são pertinentes. Para o caso dos solos finos, informações como a
umidade natural e consistência (natural e amolgada) devem ser sempre que possível ser
fornecidas. A Tabela 6.1 apresenta algumas informações sobre o comportamento esperado para os
diferentes grupos da classificação SUCS.

6.2. Classificação Segundo a AASHTO.

O sistema de classificação da AASHTO foi desenvolvido em 1920 pelo "Bureau of Public


Roads", que realizou um extenso programa de pesquisa sobre o uso de solos na construção de vias
secundárias ("farm to market roads"). O sistema original foi baseado nas características de
estabilidade dos solos quando usados como a própria superfície da pista ou em conjunto com uma
fina capa asfáltica. Diversas aplicações foram realizadas desde a sua concepção e a sua
aplicabilidade foi estendida consideravelmente. Segundo a AASHTO (vide AASHTO, 1978), esta
classificação pode ser utilizada para os casos de aterros, subleitos, bases e subbases de pavimentos
flexíveis, mas deve-se ter sempre em mente o propósito original da classificação quando da sua
utilização.
O sistema da AASHTO classifica o solo em oito diferentes grupos: de A1 a A8 e inclui
diversos subgrupos. Os solos dentro de cada grupo ou subgrupo são ainda avaliados de acordo
com o seu índice de grupo, o qual é calculado por intermédio de uma fórmula empírica.

A) Solos pertencentes aos grupos A1 ao A3.

Os solos pertencentes ao grupo A1 são fragmentos de pedra, pedregulho e areia bem


graduados com pouca ou nenhuma plasticidade, ao passo que os solos pertencente ao grupo A3
são areias finas mal graduadas, sem presença de finos. Os materiais pertencentes ao grupo A2
apesar de granulares (35% ou menos passando na peneira 200), possuem uma quantia
significativa de finos (pedregulho e areia com silte e argila). Os solos classificados como A1, A2-
4, A2-5 e A3 apresentam um comportamento excelente a bom como sub-leito, já os solos
classificados como A2-6 e A2-7 apresentam comportamento regular a mau como sub-leito.

B) Solos pertencentes aos grupos A4 ao A7.

Os solos pertencentes aos grupos A4 ao A7 são solos finos, materiais silto-argilosos. A


diferenciação entre os diversos grupos é realizada com base nos limites de Atterberg. Solos
altamente orgânicos (incluindo-se aí a turfa) devem ser colocados no grupo A8. Como no caso do
SUCS, a classificação dos solos A8 é feita visualmente. Os solos classificados como A4, A5, A6 e
A7 apresentam um regular a mau comportamento como sub-leito.
Os solos do grupo A-4 são em geral siltosos e não plásticos, ou moderadamente plásticos,
possuindo, geralmente, 5% ou mais passando na peneira n º 200. Incluem também misturas de
47

solo fino siltoso com até 64% de areia e pedregulho retidos na peneira nº 200. Os valores dos
índices do grupo vão de 1 a 8.
Os solos do grupo A-5 são semelhante ao que foi descrito no A-4, exceto que eles são,
geralmente, de caráter diatomáceo ou micáceo, com elevado limite de liquidez. Os valores dos
índices do grupo vão de 1 a 12.
O grupo A-6 corresponde aos solos argilosos, plásticos, tendo, geralmente, 75% ou mais de
material passando na peneira n º 200. O grupo inclui também misturas de solos finos argilosos,
podendo conter até 64% de areia e pedregulho retidos na peneira n º 200. Os solos deste grupo
comumente sofrem elevada mudança de volume entre os estados seco e úmido. Os valores dos
índices do grupo vão de 1 a 16, esses valores crescentes mostram o efeito combinado do aumento
dos índices de plasticidade e diminuição dos materiais grossos.
O Grupo A-7 engloba os solos argilosos e plásticos, que apresentam alto limite de liquidez
e estão sujeitos a elevada mudança de volume. Os valores dos índices do grupo vão de 1 a 20. O
grupo A-7 é subdividido em A-7-5 (materiais com índice de plasticidade moderado em relação ao
limite de liquidez) e A-7-6 (materiais com elevados índices de plasticidade em relação aos limites
de liquidez, estando sujeitos a elevadas mudanças de volume).
O índice de grupo é utilizado para auxiliar na classificação do solo. Ele é baseado na
performance de diversos solos, especialmente quando utilizados como subleitos. O índice de
grupo é determinado utilizando-se a eq. 6.1, apresentada adiante:

IG = (F − 35 )[0,20 + 0,005(w L − 40 )]+ 0,01(F − 15 )(IP − 10 ) (6.1)

Onde F é a percentagem de solo passando na peneira 200


Quando trabalhando com os grupos A-2-6 e A-2-7 o índice de grupo deve ser determinado
utilizando-se somente o índice de plasticidade.
No caso da obtenção de índices de grupo negativos, deve-se adotar um índice de grupo
nulo.

Usar o sistema de classificação da AASHTO não é difícil. Uma vez obtidos os dados
necessários, deve-se seguir os passos indicados na fig. 6.3 (a e b), da esquerda para a direita, e
encontrar o grupo correto por um processo de eliminação. O primeiro grupo à esquerda que
atenda as exigências especificadas é a classificação correta da AASHTO. A classificação
completa inclui o valor do índice de grupo (arredondado para o inteiro mais próximo),
apresentado em parênteses, à direita do símbolo da AASHTO. Ex: A-2-6(3), A-6(12), A-7-5(17),
etc.
Devido a sua ligação histórica com a classificação de solos para uso rodoviário, a
classificação da AASHTO é bastante utilizada na seleção de solos para uso como base, sub-bases
e sub-leitos de pavimentos.
48

Tabela 6.1 – comportamento esperado para os diversos grupos da classificação SUCS.


COMPPRESSI- QUALIDADE QUALIDADE
COMPA- DRENAGEM E QUALIDADE QUALIDADE γd max (kN/m3) ISC
GRUPO BILIDADE E COMO SUB- COMO
CTAÇÃO PERMEABILIDADE COMO ATERRO COMO BASE wot(%) (%)
EXPANSÃO LEITO FUNDAÇÃO
Boa drenagem Excelente γ d max > 20,0
GW Boa Quase nenhuma Muito estável Boa Excelente >50
Permeável wot < 10
Boa drenagem Razoavelmente Excelente a γ d max > 18,4
GP Boa Quase nenhuma Regular a ruim Excelente 25 - 60
Permeável estável boa wot< 12
Drenagem ruim Razoavelmente Excelente a γ d max > 19,2
GM Boa Pequena Ruim a regular Excelente a boa > 20
semi-Permeável estável boa wot< 12
Drenagem ruim Razoavelmente γ d max > 20,8
GC Boa a regular Pequena Boa Bom a regular Excelente > 40
semi-Permeável estável wot< 10
Boa drenagem γ d max > 19,2
SW Boa Quase nenhuma Muito estável Boa Regular a ruim Excelente 20 - 60
Permeável wot< 12
Boa drenagem Razoavelmente γ d max > 16,0
SP Boa Quase nenhuma Boa a regular Ruim Boa 10 - 30
Permeável estável se denso wot< 20
Drenagem ruim Razoavelmente γ d max > 16,8
SM Boa Pequena Boa a regular Ruim Regular a Boa 8 - 30
Impermeável estável se denso wot< 16
Drenagem ruim Razoavelmente γ d max > 20
SC Boa a regular Pequena a média Boa a regular Regular a ruim Excelente 20 - 60
Impermeável estável wot< 10
Drenagem ruim γ d max > 16
ML Boa a ruim Pequena a média Estabilidade regular Regular a ruim Não adequado Regular a ruim 6 - 25
Impermeável wot< 16
Sem drenagem γ d max > 16
CL Boa a regular Média Boa estabilidade Regular a ruim Não adequado Boa a ruim 4 - 15
Impermeável wot< 16
Regular a Drenagem ruim Ruim, não γ d max > 14,4
OL Média a alta Não deve ser usado Não adequado Regular a ruim 3-8
ruim Impermeável adequado wot< 25
Regular a Drenagem ruim Estabilidade regular γ d max > 16
MH Alta Ruim Não adequado Ruim <7
ruim Impermeável a ruim wot< 20
Regular a Sem drenagem Ruim a muito γ d max > 14,4
CH Muito alta Estabilidade regular Não adequada Regular a ruim <6
ruim Impermeável ruim wot< 25
Regular a Sem drenagem γ d max > 16
OH Alta Não deve ser usado Muito Ruim Não adequado Muito ruim <4
ruim Impermeável wot< 20
Pt Não adequada Muito alta Drenagem regular a ruim Não deve ser usado Não adequado Não adequado Extremamente ruim Impraticável Impraticável
49

SOLOS GROSSOS
35% ou menos passando na # 200

Menos que 25% Menos que 35%


passando na # 200 passando na # 200

menos que mais que 50% Silte Argila


50% passam passam na #
IP ≤ 10% IP ≥ 11%
na # 40 40

Menos que 15% Menos que 25% Menos que 10% LL ≤ 40% LL ≥ 41% LL ≤ 40% LL ≥ 41%
passa na # 200. passa na # 200. passa na # 200.
Menos que 30% Menos que 50% Não plástico
passa na # 40. passa na # 40.
Menos que 50% IP < 6%
passa na # 10
IP < 6%

A-1-a A-1-b A-3 A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7

Figura 6.3 (a) - Classificação pela AASHTO. Solos grossos.


50

SOLOS SILTO-ARGILOSOS
35% ou mais passando na # 200

Silte Argila
IP ≤ 10% IP ≥ 11%

LL ≤ 40% LL ≥ 41% LL ≤ 40% LL ≥ 41%

IP<= (LL-30) IP>= (LL-30)


LP >= 30% LP <= 30%

A-4 A-5 A-6 A-7-5 A-7-6

Figura 6.3 (b) - Classificação pela AASHTO. Solos finos.


51

6.3. Classificação geotécnica segundo MCT

As classificações tradicionais, USCS e AASHTO, apresentam algumas limitações para


classificação de solos provenientes de regiões tropicais (solos típicos de regiões entre os trópicos
de câncer e capricórnio), que sofrem processos intensivos de evolução geológica e pedológica. A
evolução geológica dos materiais da crosta terrestre ocorre na maior parte do mundo e consiste na
transformação da rocha em solo. No entanto, a evolução pedológica é típica de regiões tropicais,
sendo desencadeada pela ação alternada de temperaturas elevadas e chuvas intensas. Dessa forma,
a água que infiltra no solo lixivia os sais solúveis das camadas mais superficiais do perfil de solo,
depositando-os em horizontes mais inferiores. As camadas mais superficiais ficam ricas em
óxidos de ferro e alumínio, causando o que se denomina de laterização do solo.
Os solos que apresentam comportamento laterítico são, em geral, de cor avermelhada a
amarelada, sendo a fração argila constituída de argilo-minerais do grupo da caulinita e apresentam
elevada porcentagem de óxidos hidratados de ferro e alumínio. A fração areia é constituída pelo
quartzo, minerais pesados e concreções lateríticas. No estado natural apresentam elevada
porosidade e índice de plasticidade, baixa resistência e capacidade de suporte, porém quando
compactados adquirem elevada resistência ao cisalhamento. Já os solos não lateríticos, também
conhecidos como saprolíticos, em geral apresentam manchas e estruturas minerais herdadas da
rocha mãe, argilo-minerais do tipo 2:1, são expansivos e muito erodíveis. A fig. 6.4 mostra um
perfil de solo laterítico e outro saprolítico existente em Jambeiro-SP. Existem ainda, os chamados
solos transicionais, aqueles que apresentam comportamento geotécnico que difere dos solos
lateríticos evoluídos ou saprolíticos.

a) b)
Figura 6.4 – Perfis de solo em Jambeiro -SP: a) Laterítico; b) Saprolítico. (Marson,
2004).

A limitação das classificações tradicionais para o emprego em solos tropicais, em geral é


devido às diferenças na natureza das frações areia e argila existentes nos solos de regiões tropicais
e de regiões temperadas. Em regiões tropicais, a fração argila dos solos lateríticos apresentam
elevadas concentrações de óxidos de ferro/alumínio hidratados, bem como argilo-minerais que
conferem a esses solos baixa expansibilidade e alta capacidade de suporte quando compactados.
Já a fração arenosa dos solos lateríticos pode conter elevada porcentagem de concreções de
resistência inferior à da areia tradicional.
A presença de mica e feldspato nos solos saprolíticos reduz o peso específico seco, a
capacidade de suporte e índice de plasticidade, aumentando a expansão do solo. Devido a essas
particularidades as classificações tradicionais que se baseiam na granulometria do solo e nos
52

limites de Atterberg são incapazes separar adequadamente solos tropicais para emprego em
pavimentação.
Em 1980, pesquisadores brasileiros (vide Nogami & Villibor 1980) apresentaram uma
metodologia para classificação e estudo das propriedades mecânicas e hidráulicas de solos
tropicais, Metodologia MCT (Miniatura – Compactado – Tropical). Neste trabalho será
apresentado apenas a parte referente a classificação de solos tropicais, em solos de
comportamento laterítico (L) e de comportamento não laterítico ou saprolítico (N), sendo que a
parte referente às propriedades mecânicas pode ser encontrada em Nogami & Villibor 1995. A
classificação se baseia nos resultados dos ensaios de compactação Mini-MCV e perda de massa
por imersão.

Ensaio de compactação: Este ensaio foi baseado no método proposto por Parsons (1976),
conhecido como MCV (Moisture Condition Value). O ensaio de compactação deve ser realizado
com 200g de material que passa na peneira 10 (2mm de abertura) em pelo menos cinco teores de
umidades diferentes. As 200g de material são colocadas num molde cilíndrico de 50 mm de
diâmetro e 130mm de altura (fig. 6.5) e um pistão distribui uniformemente a energia empregada,
compactando o solo em ambas as extremidades. O solo é compactado com um soquete de 2.270g
de massa, caindo de uma altura de 30,5cm. Após a aplicação de uma série de golpes efetua-se a
leitura da altura do corpo de prova, h(n), apenas para os golpes que correspondem à serie de
Parsons (1976): 1, 2, 3, 4, 6, 8, 16, 24, 32, 48, 64, 96, 128, 192, 256.

Figura 6.5 – Compactador tipo pistão (Marson, 2004).

Interrompe-se a aplicação de golpes quando a diferença entre as alturas sucessivas for


inferior a 0,1mm, atingir 256 golpes ou ocorrer nítida expulsão de água do corpo de prova
(exsudação). Esse procedimento deverá ser repetido para corpos de prova com umidades
diferentes, o que permitirá traçar as curvas de deformabilidade ou de Mni-MCV, que expressam a
redução de altura do corpo de prova [Δh(n) = h(n)-h(4n)], em escala natural em função do
número de golpes (n), em escala logarítmica (fig. 6.6). O Mini-MCV de cada curva é determinado
através de sua intersecção com a reta de ordenada Δh(n) = 2,0mm, sendo calculado pela eq. 6.2:

Mini−MCV =10⋅log B i  (6.2)

onde, Bi é o número de golpes que resulta da intersecção da curva de deformabilidade com


a reta n=2,0mm.
Da fig. 6.6 obtém-se também o coeficiente c` utilizado na classificação MCT, que é dado
pela inclinação da linha de variação de altura do corpo de prova x log do número de golpes. Esse
coeficiente se relaciona com a granulometria do material, sendo que para as argilas e solos
argilosos c` é maior que 1,5, areias e siltes não plásticos apresentam c` menor que 1,0 e misturas
de solos (areias siltosas, areais argilosas, argilas arenosas) apresentam c` entre 1,0 e 1,5.
53

Figura 6.6 – Curvas de deformabilidade típica obtida da compactação Mini-MCV.


(Marson,2004).

Como se pode observar, no ensaio de compactação Mini-MCV, o aumento do número de


golpes produz a aplicação de energias crescentes no corpo de prova, até conseguir um aumento
sensível de densidade. Para um mesmo número de golpe, plotando os dados de teor de umidade
no eixo das abscissas e de massa específica seca no eixo das ordenadas, obtém-se uma família de
curvas de compactação, como exemplifica a fig. 6.7. Tomando-se a curva de compactação
correspondente a 12 golpes do soquete (energia próxima daquela obtida com o Proctor Normal),
determina-se outro coeficiente utilizado na classificação MCT, o coeficiente d`, que é a inclinação
do ramo seco da curva de compactação correspondente a 12 golpes. Em geral, as argilas
lateríticas possuem d´ > 20kg/%·m3 e argilas não lateríticas possuem d` < 10kg/%·m3.

Figura 6.7 – Curvas de compactação típica obtida da compactação Mini-MCV. (Marson,


2004).

Ensaio de perda de massa por imersão: Finalizada a compactação do corpo de prova em


diferentes umidades, eles são parcialmente extraídos do molde de compactação de modo que
fiquem salientes 1cm. Em seguida, são submersos em água, em posição horizontal, por cerca de
20 h. Durante esse período, recolhe-se o material eventualmente desprendido, secando em estufa a
105ºC e determinado-se a perda de massa por imersão (Pi) através da relação da massa seca
desprendida e massa seca da parte do corpo de prova inicialmente saliente. Este Pi obtido deve ser
54

corrigido por um fator de acordo com a forma de massa desprendida durante a imersão. Segundo
Nogami & Villibor (1995), quando a porção do solo se desprende na forma de uma bolacha usa-
se um fator de correção de 0,50 para, já Vertamatti (1988) apresenta novos fatores de correção do
Pi, como mostra a fig. 6.8.

Figura 6.8 – Fator de correção do Pi proposto por Vertamatti (1988) em função da forma
desprendida.

Os valores de Pi corrigidos obtidos para diferentes umidades são plotados em função do


Mini-MCV, como ilustra a fig. 6.9, obtendo-se para fins classificatórios o valor de Pi
correspondente ao Mini-MCV=10

Figura 6.9 – Curvas típica Pi x Mini-MCV. (Marson. 2004)

Para fins de classificação utiliza-se o gráfico da fig. 6.10, elaborado a partir do


conhecimento dos coeficientes c` (eixo das abscissas) e e`(eixo das ordenadas). O coeficiente e` é
obtido a partir do conhecimento do coeficiente d`(inclinação da parte reta do ramo seco da curva
de compactação, correspondente a 12 golpes do ensaio de mini-MCV) e da perda de massa por
imersão Pi corrigida (porcentagem da massa desagregada em relação à massa total do ensaio
quando submetida à imersão em água) expresso pela fórmula empírica (eq. 6.3):


e'= 3
20

d 100
Pi
(6.3)

O Coeficiente e` separa solos de comportamento laterítico (L) dos solos de comportamento


não laterítico (N). Nogami e Villibor verificaram que o comportamento laterítico começa a
manifestar quando d`> 20 e Pi<100%, o que pela eq. 6.3 obtém-se e`=1,15 (linha tracejada da fig.
6.10). Para solos com poucos finos a transição ocorre para valores mais altos de Pi e portanto a
classificação adota e`=1,4.
55

Plotanto os valores de c` e e` no gráfico obtém-se o grupo a que o solo pertence na


classificação MCT, podendo ser:

a) Solos de comportamento laterítico, designado pela letra L, sendo sub-divididos em 3


grupos: LA – Areia laterítica quartzosa; LA` - Solo Arenoso laterítico; LG` - Solo argiloso
laterítico.
b) Solos de comportamento não laterítico (saprolítico), designados pela letra N, sendo sub
divididos em 4 grupos: NA – areias siltes e misturas de areias e siltes com predominância de grão
de quartzo e /ou mica, não laterítico; NA` - misturas de areias quartzosas com finos de
comportamento não laterítico (solo arenoso); NS` - solo siltoso não laterítico; NG` - Solo argiloso
não laterítico.

Figura 6.10 – Gráfico da classificação MCT (Nogami e Villibor, 1980).

Desde a elaboração da classificação MCT, esta vem passando por modificações nos
equipamentos utilizados, nos procedimentos de obtenção de seus parâmetros e na quantidade de
amostra utilizada. Todas as modificações são para torná-la mais simples e rápida, de modo que
seja usada com mais facilidade no meio rodoviário.
Em 1988, Vertamatti modificou o ábaco de classificação da MCT para levar em
consideração os solos sedimentares da região amazônica, ditos transicionais. Dessa forma, o novo
ábaco (fig. 6.11) passou a ser denominado MCT-M (modificado), dividindo o solos em onze
grupos, a saber: NA (areia não laterítica), NG` (solo argiloso não laterítico), NS`(solos siltoso não
laterítico), NS`(solo silto-argiloso não-laterítico), NS'G` (solo siltoso-argiloso não laterítico),
TA`(solo arenoso transicional), TA`G` (solo areno-argiloso transicional), TG` (solo argiloso
transcional), LA (areia laterítica), LA' (solo arenoso laterítico), LA`G`(solo areno-argiloso
laterítico), LG`(solo argiloso laterítico)
56

Figura 6.11 – Gráfico da classificação MCT-M (Vertamatti, 1988).


57

7. ÍNDICES FÍSICOS.

7.1. Introdução

O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma de suas três


fases (sólidos, água e ar). Diversas relações são empregadas para expressar as proporções entre
elas. Na fig. 7.1 mostrada a seguir estão representadas, de modo esquemático, as três fases que
normalmente ocorrem nos solos, ainda que, em alguns casos, todos os vazios possam estar
ocupados pela água e a água possa conter substâncias dissolvidas.

Pesos Volumes

Zero Pa Ar Va
Vv
Pt Pw Água Vw Vt

Ps Sólido Vs

Massas Volumes

Zero Ma Ar Va
Vv
Mt Mw Água Vw Vt

Ms Sólido Vs

Figura 7.1 - Representação esquemática das fases constituintes do solo

Onde: Va, Vw, Vs, Vv e Vt representam os volumes de ar, água, sólidos, de vazios e total
do solo, respectivamente. Ps, Pw, Pa e Pt São os pesos de sólidos, água, ar e total e Ms, Mw, Ma e
Mt são as respectivas massas de sólidos, água, ar e total.

7.2. Relações entre Volumes

7.2.1. Porosidade (n)

A porosidade é definida como a relação entre o volume de vazios e o volume total. O


intervalo de variação da porosidade está compreendido entre 0 e 1.

Vv
n=
Vt (7.1)

7.2.2. Grau de Saturação (Sr)

Os vazios do solo podem estar apenas parcialmente ocupados por água. A relação entre o
volume de água e o volume dos vazios é definida como o grau de saturação, expresso em
percentagem e com variação de 0 a 100% (solo saturado).
58

Vw
Sr = (7.2)
Vv

7.2.3. Índice de Vazios (e)

O índice de vazios é definido como a relação entre o volume de vazios e o volume das
partículas sólidas, expresso em termos absolutos, podendo ser maior do que a unidade. Sua
variação é de 0 a ∞.
V
e= v (7.3)
Vs

7.3. Relações entre Pesos e Volumes - Pesos Específicos ou entre Massas e


Volumes - Massas Específicas.

7.3.1. Peso específico(γ) e massa específica (ρ) do Solo

O peso específico de um solo é a relação entre o seu peso total e o seu volume total,
incluindo-se aí o peso da água existente em seus vazios e o volume de vazios do solo. A massa
específica do solo possui definição semelhente ao peso específico, considerando-se agora a sua
massa.

Pt Mt
γ = , ρ= onde γ = ρ ⋅ g
Vt Vt (7.4)

7.3.2. Peso Específico das Partículas sólidas

O peso específico das partículas sólidas é obtido dividindo-se o peso das partículas sólidas
(não considerando-se o peso da água) pelo volume ocupado pelas partículas sólidas (sem a
consideração do volume ocupado pelos vazios do solo). É o maior valor de peso específico que
um solo pode ter, já que as outras duas fases que compõe o solo são menos densas que as
partículas sólidas.

Ps
γs =
Vs (7.5)

7.3.3. Peso Específico do Solo Seco

Corresponde a um caso particular do peso específico do solo, obtido para Sr = 0.

Ps
γd =
Vt (7.6)

7.3.4. Peso Específico do Solo Saturado

É o peso específico do solo quando todos os seus vazios estão ocupados pela água. É
numericamente dado pelo peso das partículas sólidas dividido pelo volume total do solo.
59

Pt
γ sat = , quando, Sr = 1
Vt (7.7)

7.3.5. Peso Específico do Solo Submerso

Neste caso, considera-se a existência do empuxo de água no solo. Logo, o peso específico
do solo submerso será equivalente ao o peso específico do solo menos o peso específico da água.

γ sub = γ sat − γ w (7.8)

OBSERVAÇÃO: As distinções entre os pesos específicos de solo saturado e submerso


serão melhor compreendidas quando do estudo do capítulo tensões geostáticas, onde se
apresenta o princípio das tensões efetivas, proposto por Terzaghi para representar o
comportamento dos solos em termos de resistência ao cisalhamento e deformação.

7.4. Diagrama de fases

As relações entre pesos ou entre volumes, por serem admensionais, não serão modificadas
caso no lado direito da fig. 7.1, os volumes de água, ar e sólidos sejam divididos por um
determinado fator, conservado constante para todas as fases. Este fator pode ser escolhido, por
exemplo, para que o volume de sólidos se torne unitário (ou, em outras palavras, dividindo-se
todos os termos por Vs). Deste modo, utilizando-se as relações entre volumes e entre pesos e
volumes, definidas anteriormente, temos:

Pesos Volumes

γ w Sr e
⋅ e Sr e
1+e
γs
1

Figura 7.2 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um volume de
sólidos unitário.

Uma outra forma de organizar as relações entre volumes e entre pesos e volumes em um
diagrama de fases seria adotando um volume total igual a 1. Neste caso teríamos:

Das figs. 7.2 e 7.3 e utilizando-se as definições dadas para o índice de vazios e a
porosidade tem-se:

e n
n= ou e =
1+ e 1− n (7.9)
60

Pesos Volumes

0
n
γ w Sr n Sr n 1
γ s (1-n)
1-n

Figura 7.3 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um volume total
de solo unitário.

7.5. Utilização do diagrama de fases para a determinação das relações entre os


diversos índices físicos

Com o uso das figs. 7.2 e 7.3, diversas relações podem ser facilmente definidas entre os
índices físicos. As eqs. 7.10 a 7.12 expressam algumas destas relações:
γ
γD =
1+ w (7.10)

γ S .w = γ w ⋅ Sr.e (7.11)

γ S + Sr.e ⋅ γ w
γ =
1+ e (7.12)
A umidade é definida como a relação entre o peso da água e o peso dos sólidos em uma
porção do solo, sendo expressa em percentagem. Pela análise da fig. 7.2 temos que:

Pw γ w ⋅ Sr ⋅ e
w= =
Ps γs (7.13)

Em agronomia e em alguns ramos da mecânica do solo utiliza-se a umidade volumétrica


(θ), definida como a relação entre o volume de água e o volume total de solo e dada pela eq. 7.14

Vw Sr ⋅ e
θ= = = Sr ⋅ n
Vt 1 + e (7.14)

OBS: Apesar de alguns índices físicos serem apresentados em percentagem, o cálculo das
relações entre eles deve ser feito utilizando-os na forma decimal. Todos os outros índices devem
estar em unidades compatíveis.

7.6. Densidade relativa Dr

Conforme será discutido no transcorrer deste curso, por possuírem arranjos estruturais
bastante simplificados, os solos grossos (areias e pedregulhos com nenhuma ou pouca presença de
61

finos) podem ter o seu comportamento avaliado conforme a sua curva característica e a sua
densidade relativa Dr, definida conforme a eq. 7.15.
Há uma variedade grande de ensaios para a determinação de emin e γdmáx; todos eles
envolvem alguma forma de vibração. Para emax e γdmin, geralmente se adota a colocação do solo
secado previamente, em um recipiente, tomando-se todo cuidado para evitar qualquer tipo de
vibração. Os procedimentos para a execução de tais ensaios são padronizados em nosso País pelas
normas NBR 12004 e 12051, variando muito em diferentes partes do Globo, não havendo ainda
um consenso internacional sobre os mesmos. A densidade relativa é um índice adotado apenas na
caracterização dos SOLOS NÃO COESIVOS. A tabela 7.1 apresenta a classificação da
compacidade dos solos grossos em função de sua densidade relativa.

emax − e γ dmax γ d − γ d min


DR (%) = x100 = x100 (7.12)
e max − emin γ d γ dmax − γ dmin
onde;
emax → é o índice de vazios do solo no estado mais solto (fofo).
e min → é o índice de vazios do solo no estado mais denso ou compacto. (7.15)
e → é o índice de vazios do solo no seu estado natural.
γ dmin e γ d max → são definidos analogamen te a emin e emax .
γ d → peso específico aparente do solo seco no seu estado natural.

Tabela 7.1 - Classificação da compacidade dos solos grossos utilizando-se o conceito de


densidade relativa.
DR (%) Designação
0 a 30 Fofa
30 a 70 Medianamente compacta
70 a 100 compacta

Notas importantes:

a) A densidade relativa é o fator preponderante, tanto na deformabilidade quanto na resistência


ao cisalhamento de solos grossos, influindo até na sua permeabilidade.
b) A densidade relativa pode ser utilizada na estimativa preliminar de regiões sujeitas à
liquefação e no controle de compactação de solos não coesivos.

7.7. Ensaios Necessários para Determinação dos Índices Físicos

Para estimativa de todos os índices físicos de um determinado solo normalmente efetuam-


se as seguintes determinações:

 Umidade
 Peso específico do solo (γ)
 Peso específico das partículas sólidas (γs)
62

7.7.1. Determinação da Umidade

A umidade do solo é geralmente determinada em estufa, em laboratório. Para tanto, uma


amostra de solo com determinado teor de umidade é pesada e posteriormente levada a uma estufa,
com temperatura entre 105 e 110o, onde permanece por um determinado período (geralmente um
dia), até que a sua constância de peso seja assegurada. As variações no peso da amostra de solo se
devem a evaporação da água existente no seu interior. Após o período de secagem em estufa, o
peso da amostra é novamente determinado. Deste modo, o peso da água existente no solo é igual a
diferença entre os pesos da amostra antes e após esta ser levada à estufa, sendo a umidade do solo
a razão entre esta diferença e o peso da amostra determinado após secagem. A seguir são listados
alguns métodos utilizados na determinação da umidade do solo em campo e em laboratório.

Estufa a 105 - 110°C (laboratório)


Speedy (campo)
Fogareiro à Álcool (campo)
Estufa a 60°C. (laboratório, no caso da suspeita de existência de matéria orgânica)
Sonda de nêutrons (campo)
TDR (campo)

7.7.2. Determinação do peso Específico do Solo

São listados a seguir os principais métodos utilizados em laboratório e em campo para


determinação do peso específico do solo.

7.7.2.1. Em Laboratório

Cravação de cilindro biselado em amostras indeformadas


Cilindro de compactação
Imersão em mercúrio (amostra indeformada, pequena)
Balança hidrostática, solo parafinado (NBR 10838)

7.7.2.2. Em Campo

Cravação do cilindro de Hilf


Método do cone de areia
Método do balão de borracha
Sonda de nêutrons.

7.7.3. Determinação do peso Específico das Partículas

Esta determinação é efetuada exclusivamente em laboratório, utilizando-se o picnômetro e


os detalhes de sua execução são apresentados na NBR 6508.
63

7.8. Valores Típicos

ÍNDICES FÍSICOS
n (%) e γd γ γsat
SOLOS kN / m3
Areia c / pedregulho 18 - 42 0.22 - 0.72 14 - 21 18 - 23 19 - 24
Areia Média a Grossa 25 - 45 0.33 - 0.82 13 - 18 16 - 21 18 - 21
Areia Fina e Uniforme 33 - 48 0.49 - 0.82 14 - 18 15 - 21 18 - 21
Silte 30 - 50 0.48 - 1.22 13 - 19 15 - 21 18 - 22
Argila 30 - 55 0.48 - 1.22 13 - 20 15 - 22 14 - 23

Sobre o peso específico das partículas, algumas observações necessitam ser mencionadas:
Segundo dados de Lambe e Whitman (1969), γs geralmente se encontra no intervalo de 22
a 29 kN/m3 é em função dos minerais constituintes do solo.
Solos orgânicos tendem a apresentar valores de γs menores que o convencional, enquanto
que solos ricos em minerais ferrosos tendem a apresentar γs > 30 kN/m3.
64

8. DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NO SOLO.

8.1. Introdução

Como em todo material utilizado na engenharia, o solo, ao sofrer solicitações, irá se


deformar, modificando o seu volume e forma iniciais. A magnitude das deformações apresentadas
pelo solo irá depender não só de suas propriedades intrínsecas de deformabilidade (elásticas e
plásticas), mas também do valor do carregamento a ele imposto. O conhecimento das tensões
atuantes em um maciço de terra, sejam elas advindas do peso próprio ou em decorrência de
carregamentos em superfície (ou até mesmo do alívio de cargas provocado por escavações) é de
vital importância no entendimento do comportamento de praticamente todas as obras da
engenharia geotécnica.
Neste capítulo tratar-se-á da determinação ou previsão das pressões, aplicadas ou
desenvolvidas em pontos do terreno, como resultado de um carregamento imposto, bem como as
tensões existentes no maciço devido ao seu peso próprio, isto é, as tensões geostáticas.
Nos solos ocorrem tensões devidas ao seu peso próprio e às cargas externas aplicadas.
Assim, o estado de tensões em cada ponto do maciço depende do peso próprio do terreno, da
intensidade da força aplicada e da geometria da área carregada e a obtenção de sua distribuição
espacial é normalmente feita a partir das hipóteses formuladas pela teoria da elasticidade,
conforme será visto mais adiante. No caso de tensões induzidas pelo peso próprio das camadas de
solo (tensões geostáticas) e superfície do terreno horizontal, a distribuição das tensões total, neutra
e efetiva a uma dada profundidade é imediata, considerando-se apenas o peso do solo
sobrejacente.

8.2. Tensões em uma massa de solo

O conceito de tensão em um ponto (desenvolvido pela mecânica do contínuo) é utilizado


também na disciplina de Mecânica dos Sólidos, podendo ser representado pela eq. 8.1,
apresentada adiante.


F
= lim (8.1)
 A 0 
A

 é o módulo da força que atua no elemento de área de módulo ∆A.


Onde,  F

Mostra-se que o estado de tensão em qualquer plano passando por um ponto em um meio
contínuo é totalmente especificado pelas tensões atuantes em três planos mutuamente ortogonais,
passando no mesmo ponto. As componentes de tensão em cada plano formam o tensor de tensões
naquele ponto. Desta forma, o tensor de tensões é composto de nove componentes, formando uma
matriz simétrica. O produto do tensor de tensões pelo versor da normal do plano passando pelo
ponto considerado (vetor (n1;n2;n3) apresentado na fig. 8.1) fornece as componentes da tensão
atuando sobre o plano (componentes Px, Py e Pz do vetor P apresentado na fig. 8.1).

Apesar do solo constituir um sistema particulado, composto de três fases distintas, (água,
ar e partículas sólidas) e o conceito de tensão em um ponto advir da mecânica do contínuo, este
tem sido utilizado com sucesso na prática geotécnica. Além disso, boa parte dos problemas em
mecânica dos solos podem ser encarados como problemas de tensão ou deformação planos, de
modo que para estes casos o tensor de tensões apresentado na fig. 8.1 se torna mais simplificado,
podendo o estado de tensões em um ponto ser representado utilizando-se da construção gráfica do
círculo de Mohr.
65

Deve-se salientar contudo, que devido ao fato de o solo constituir um sistema particulado,
em cada ponto do maciço podem existir estados de tensões diferentes para cada uma de suas fases
componentes.

Por serem fluidos, não suportando tensões cisalhantes, as tensões existentes nas fases água
e ar do solo são sempre ortogonais ao plano passando pelo ponto considerado. Pode-se dizer
ainda, que na maioria dos casos, a pressão nos vazios de solo preenchidos por ar é igual à pressão
atmosférica (adotada geralmente como zero).

 P x  σ x τ xy τ xz   n 1
 P y  =  σ y τ yz  ⋅  n 2 
  
 Px  σ z   n 3
P
n

Figura 8.1 - Representação do estado de tensões em um ponto.

O princípio das tensões efetivas - Postulado por Terzaghi, para o caso dos solos
saturados, o princípio das tensões efetivas é uma função da tensão total (soma das tensões nas
fases água e partículas sólidas) e da tensão neutra (denominada também de pressão neutra, é a
pressão existente na fase água do solo), que governa o comportamento do solo em termos de
deformação e resistência ao cisalhamento.

Mostra-se experimentalmente que, para o caso dos solos saturados, o que governa o
comportamento do solo em termos de resistência e deformabilidade é a diferença entre a tensão
total e a pressão neutra, denominada de tensão efetiva As tensões normais desenvolvidas em
qualquer plano num maciço terroso, serão suportadas, parte pelas partículas sólidas e parte pela
água (ver Fig 8.2). As tensões cisalhantes somente poderão ser suportadas pelas partículas sólidas,
já que os fluidos, por definição, não são capazes de suportar tensões cisalhantes de forma estática.

Nível do terreno, NT

Nível de água, NA

z
σz (σz- u) zw
σx u (σx -u)

Figura 8.2 – Esquema ilustrativo da distribuição de tensões normais em um solo


saturado.

Uma parcela da tensão normal age nos contatos inter-partículas e a outra parcela atua na
água existente nos vazios do solo. Assim, a tensão total num plano será a soma da tensão efetiva,
66

resultante das forças transmitidas pelas partículas, e da pressão neutra, dando origem a uma das
relações mais importantes da Mecânica dos Solos, proposta por Terzaghi:

 ' =−u (8.2)

Onde, σ′ é uma das componentes de tensão normal efetiva do solo, σ é a mesma


componente de tensão em termos totais e u é a pressão neutra no ponto considerado.

Para visualizar um pouco melhor o efeito da água no solo imagine uma esponja colocada
dentro de um recipiente com água suficiente para encobri-la (a esponja se encontra totalmente
submersa). Se o nível de água for elevado no recipiente, a pressão total sobre a esponja aumenta,
mas a esponja não se deforma. Isto ocorre porque os acréscimos de tensão total são
contrabalançados por iguais acréscimos na tensão neutra, de modo que a tensão efetiva
permanece inalterada (vide eq. 8.2).

8.3. Cálculo das tensões geostáticas

Conforme relatado anteriormente, as tensões no interior de um maciço de solo podem ser


causadas por cargas aplicadas ao solo e pelo seu peso próprio. A distribuição destes estados de
tensão ponto a ponto no interior do maciço obedece a um conjunto de equações diferenciais
denominadas de equações de equilíbrio, de compatibilidade e as leis constitutivas do material,
cuja resolução é geralmente bastante complicada. Mesmo a distribuição de tensões no solo devido
ao seu peso próprio pode resultar em um problema mais elaborado.

Existe contudo, uma situação freqüentemente encontrada na geotecnia, em que o peso do


solo propicia um padrão de distribuição de tensões bastante simplificado. Isto acontece quando a
superfície do solo é horizontal e quando as propriedades do solo variam muito pouco na direção
horizontal.

Cálculo da componente de tensão geostática vertical - Para a situação descrita


anteriormente, não existem tensões cisalhantes atuando nos planos vertical e horizontal (em outras
palavras, os planos vertical e horizontal são planos principais de tensão). Portanto, a tensão
vertical em qualquer profundidade é calculada simplesmente considerando o peso de solo acima
daquela profundidade. Assim, se o peso específico do solo é constante com a profundidade, a
tensão vertical total pode ser calculada simplesmente utilizando-se a eq. 8.3 apresentada adiante,
onde z representa a distância do ponto considerado até a superfície do terreno.

 z=⋅z (8.3)

Onde:

σz é a tensão geostática vertical total no ponto considerado.


γ é o peso específico do solo.
z eqüivale a profundidade.
A pressão neutra é calculada de modo semelhante, utilizando-se a eq. 8.4.

u = γw ⋅ zw
(8.4)
67

Onde:

u é a pressão neutra atuando na água no ponto considerado.


γw é o peso específico da água (adotado normalmente como γw = 10 kN/m3).
zw eqüivale a profundidade do ponto considerado até a superfície do lençol freático.
Quando o terreno é constituído de camadas estratificadas, o que é comum em grande parte
dos casos, ocorre uma variação dos pesos específicos ao longo da profundidade e a tensão normal
resulta do somatório do efeito das diversas camadas. A tensão vertical efetiva é então calculada
utilizando-se a eq. 8.5.
n
(8.5)
 ' z =∑ i⋅hi −w⋅z w
i=1

Onde hi e γi representam o peso específico e a espessura de cada camada considerada.

A fig. 8.3 abaixo, mostra um diagrama de tensões com a profundidade em um perfil de


solo estratificado.

Figura 8.3 - Distribuições de tensões geostáticas verticais.

Uso do peso específico submerso - Caso o nível de água, apresentado na fig. 8.2,
estivesse localizado na superfície do terreno, o cálculo das tensões efetivas poderia ser
simplificado pelo uso do conceito de peso específico submerso, discutido no capítulo de índices
físicos. Neste caso, a tensão vertical total será dada por σz = γsat⋅z, enquanto que a pressão neutra
no mesmo ponto será u = γw⋅z. A tensão efetiva, correspondente à diferença entre estes dois
valores, será: σ'z = σz - u = γsat⋅z. - γw⋅z, o que faz com que tenhamos: σ'z= (γsat - γw)⋅z = γsub⋅z,
onde γsub é o peso específico submerso do solo.

Cálculo da componente de tensão geostática horizontal - As tensões geostáticas


horizontais existentes em um maciço de solo são muito importantes no cálculo dos esforços de
solo sobre estruturas de contenção, como os muros de arrimo, cortinas atirantadas etc. Estes
esforços dependem em muito dos movimentos relativos do solo, ocasionados em função da
68

instalação da estrutura de contenção. Para o caso do solo em repouso, as tensões geostáticas


horizontais são calculadas empregando-se o coeficiente de empuxo em repouso do solo, conforme
apresentado pela eq. 8.6.

 ' x =K o⋅ ' z (8.6)

Segundo Jaky (1956), o coeficiente de empuxo em repouso do solo pode ser estimado com
o uso da eq. 8.7, onde φ' é o ângulo de atrito interno efetivo do solo, apresentado em detalhes no
capítulo de resistência ao cisalhamento (volume II).

K o=1−sen '  (8.7)

8.4. Acréscimos de tensões devido a cargas aplicadas.

As cargas aplicadas na superfície de um terreno induzem tensões, com conseqüentes


deformações, no interior de uma massa de solo. Desta forma, além das tensões geostáticas,
devem-se calcular os acréscimos de tensão promovidos por eventual estrutura assente no terreno
para a verificação da estabilidade de sua fundação ou dos efeitos dos carregamentos por ela
induzidos nas obras vizinhas ou na estabilidade de taludes próximos. O cálculo dos recalques
provocados pela construção de uma obra qualquer também requer, na maioria dos casos, não só o
conhecimento das tensões geostáticas, mas também dos acréscimos de tensão induzidos pela
estrutura da obra. O valor final de cada componente de tensão (Ex: σzf) será dado pela soma do
seu valor inicial (σzo) com o valor do incremento de tensão no ponto considerado: σzf = σzo + Δσz.
Conforme relatado acima, a distribuição de tensões ponto a ponto no interior do solo
obedece a equações de equilíbrio que para serem resolvidas requerem o uso de leis adicionais,
normalmente denominadas de equações de compatibilidade e leis constitutivas. Uma lei
constitutiva descreve o comportamento mecânico (tensão x deformação) de um material. Embora
as relações entre as tensões induzidas e as deformações resultantes em um solo sejam
essencialmente não lineares, soluções baseadas na teoria da elasticidade (lei de Hook
generalizada) são comumente adotadas em aplicações práticas e produzem resultados
satisfatórios, pelo menos em se considerando alguns dos componentes de tensão.
Nestes casos, o solo é admitido como um meio homogêneo (propriedades iguais em cada
ponto do maciço), isotrópico (em cada ponto, as propriedades são iguais em qualquer direção), de
extensão infinita, sendo as deformações proporcionais às tensões aplicadas e calculadas
utilizando-se os parâmetros elásticos do solo: E (módulo de elasticidade) e ν (coeficiente de
Poisson). Estas hipóteses envolvem considerável simplificação do comportamento real do solo,
sendo as soluções obtidas apenas aproximadas, devido às seguintes razões:

 A admissão de uma relação linear entre tensões e deformações é razoavelmente


consistente apenas no regime de pequenas deformações, quando a magnitude final das
tensões induzidas for bastante inferior a magnitude das tensões de ruptura;
 A hipótese de meio isotrópico e homogêneo significa assumir valores constantes para
os parâmetros elásticos do solo quando se sabe, por exemplo, que o módulo de
elasticidade tende a variar tanto em profundidade como lateralmente. A aplicação do
modelo elástico fica então, implicitamente, vinculada à adoção de constantes elásticas
do solo compatíveis com as condições de tensões e deformações existentes " in situ" ;
 A consideração do solo como um semi - espaço infinito e homogêneo, requer que o
terreno seja homogêneo em amplas áreas e até uma grande profundidade, função das
dimensões da área do carregamento.
69

Apesar destas limitações, a simplicidade das soluções obtidas justifica o amplo emprego
desta teoria. Em análises mais avançadas, o método dos elementos finitos, incorporando modelos
de comportamento tensão - deformação mais realistas para os solos, tem sido freqüentemente
utilizado para a avaliação de tensões e deformações induzidas em uma massa de solo.

8.4.1. Distribuição de tensões nos solos.

As tensões induzidas em uma massa de solo, decorrentes de carregamentos superficiais,


dependem fundamentalmente da posição do ponto considerado no interior do terreno em relação à
área de carregamento. A lei de variação das tensões, lateralmente e com a profundidade, constitui
a denominada distribuição de tensões nos solos. A magnitude das tensões aplicadas tende a
diminuir tanto com a profundidade como lateralmente, à medida que aumenta a distância
horizontal do ponto à zona de carregamento (fig. 8.4).

Distribuição Dist. Real
aproximada

A A
2
1

B B

(a)

(b)
Figura 8.4 - (a) Exemplo de distribuição de acréscimos de tensão vertical devido a um
carregamento na superfície do terreno e (b) isóbaras de acréscimo de tensões verticais para 20,
10, 5 e 2 kPa, considerando uma carga pontual de 100 kN (Boussinesq).

Pode-se dizer que embora as perturbações no estado de tensão inicial de um maciço de


solo, provocadas por um determinado carregamento, se propaguem indefinidamente, a
70

intensidade destas perturbações (ou os valores dos acréscimos de tensão induzidos na massa de
solo) diminuem bastante em profundidade e com o afastamento lateral, de modo que a influência,
do ponto de vista prático, destas cargas, é limitada a uma determinada região. Unindo-se os
pontos da massa de solo solicitados por tensões iguais, obtém-se superfícies de distribuição de
tensões denominadas isóbaras. Ao conjunto dessas isóbaras denomina-se de bulbo de tensões. Em
termos práticos, o conceito de bulbo de tensões é aplicado para a massa de solo delimitada pela
isóbara correspondente a 10% de carga aplicada à superfície do terreno (0,1q), de modo que na
área de solo externa a esta isóbara supõe-se ser negligenciável a influência do carregamento
imposto. A fig. 8.4(a) apresenta a distribuição de tensões verticais em um plano passando pelo
centro de uma área carregada circular de raio B e 8.4(b) os bulbos de tensões verticais obtidos
para 20, 10, 5, e 2 kPa, considerando uma carga pontual de 100 kN (eq. 8.10).
A distribuição de tensões nos solos pode ser estimada de forma expedita, admitindo-se que
as tensões se propagem uniformemente através da massa de solo segundo um dado ângulo de
espraiamento (por exemplo, 30° ou 45°) ou uma dada declividade (por exemplo, método 2:1).
Essa aproximação empírica baseia-se na suposição de que a área sobre a qual a carga atua
aumenta de uma forma sistemática com a profundidade, de modo que (σz=Q/A) decrescem com a
profundidade, como mostra a fig. 8.5.Para o caso da fig. 8.5, de uma sapata retangular, as tensões
induzidas na superfície do terreno são dadas por:
Q (8.8)
 z z =0=
b o⋅l o

Na profundidade (z), a área da sapata aumenta de z/2 (para o método 2:1) ou z.tan φo
(espraiamento), para cada lado. Assim, a tensão nesta profundidade será estimada pela eq. 8.9:

Q (8.9)
  z  z=
bz⋅l z

Q lo z
σzo = Q
bo x lo bo

bo
Z φo 2
Q σz1 = Q lo + z
bz x l z 1

a bo a bo + z
a) Espraiamento segundo um ângulo φo b) Método 2:1

a
tan o = ⇒ a=z⋅tan o 
z l z=l o 2⋅z⋅tano  b z =bo 2⋅z⋅tan  o 
Figura 8.5 - Distribuição de tensão vertical com a profundidade, segundo um ângulo de
espraiamento (a) ou método 2:1 (b).

O ângulo de espraiamento (φo) é função do tipo de solo, com valores típicos de:
 solos muito moles: φo < 40°
 areias puras: φo ≅ 40° a 45°
71

 argilas rijas e duras: φo ≅ 70°


 rochas: : φo > 70°

É importante salientar que a distribuição simplificada de tensões pressupõe que a tensão


vertical em cada plano horizontal seja uniforme, sendo que na realidade a distribuição real tem
uma forma de sino, havendo maior concentração de tensão na região próxima ao eixo da carga,
como mostra a fig. 8.6, onde um determinado carregamento foi dividido em uma série de
intervalos, para cada intervalo sendo aplicado o método simplificado da distribuição de tensões
(vide também na fig. 8.6 os resultados obtidos a partir da aplicação da teoria da elasticidade).

Figura 8.6 - Distribuição de tensões em um solo obtida a partir do uso da solução


simplificada discretizando-se a superfície carregada em diversos elementos.

8.4.2. Soluções advindas da teoria da elasticidade.

As tensões dentro de uma massa de solo podem também ser estimadas empregando as
soluções obtidas a partir da teoria da elasticidade. Apesar das hipóteses adotadas nestas
formulações, seu emprego aos casos práticos é bastante freqüente, dada a sua simplicidade,
quando comparadas a outros tipos de análises mais elaboradas, como o emprego de técnicas de
discretização do contínuo. Por outro lado, pode-se dizer também que estas soluções apresentam
resultados bem mais próximos do real do que aqueles obtidos com o uso da solução simplificada,
apresentada no item anterior. Existem formulações para uma grande variedade de tipos de
carregamento. Serão apresentados aqui, apenas os casos mais freqüentes, sem nos preocuparmos
com o desenvolvimento matemático das equações resultantes.

8.4.2.1. Solução de Boussinesq.

Boussinesq (1885) desenvolveu as equações para cálculo dos acréscimos de tensões


verticais efetivas, radiais e tangenciais, causadas pela aplicação de uma carga pontual agindo
perpendicularmente na superfície de um terreno (Fig. 8.7). Para obtenção da solução, assumiu as
seguintes hipóteses: maciço homogêneo, isotrópico, semi - infinito e de comportamento
linearmente elástico (validade da lei Hooke), a variação de volume do solo sob aplicação da carga
é negligenciada, dentre outras. A eq. 8.10 apresenta a solução de Boussinesq, para o cálculo do
acréscimo da tensão vertical efetiva em qualquer ponto do maciço, obtida por meio de integração
das equações diferenciais da teoria da elasticidade.
A estimativa dos acréscimos de tensões verticais é muito mais freqüente, em termos
práticos, que de tensões tangenciais, radiais e de cisalhamento, de modo que esta é geralmente
realizada por intermédio de um fator de influência (Nb), apresentado na eq. 8.10, utilizando-se de
fórmulas e ábacos específicos para cada tipo de carregamento. Os valores de Nb dependem apenas
da geometria do problema, sendo dado em função de r/z, no ábaco da fig. 8.8. Observar que Δσz é
independente do material, os parâmetros elásticos não entram na equação.
72

Q
"Carga Pontual"
Onde:
Q = carga pontual
z = profundidade que vai da superfície do terreno (pto de
aplicação da carga) até a cota onde deseja-se calcular σz
r = distância horizontal do ponto de aplicação da carga até
r
onde atua σz
R = distância do ponto de aplicação da carga até onde atua σz

R z
∆σz

[{   } ]
3
τ zr Q 2⋅ Q (8.10)
  z = 2⋅ = ⋅N B
z 2 2,5 z2
∆σr r
1
∆σθ z
Figura 8.7 - Carga concentrada aplicada na superfície do terreno - Solução de
Boussinesq.

0,50

0,45 Q
Boussinesq  z= 2
N
z
0,40
3
0,35
2⋅
N B= 2 5
0,30 r
1 2
z
0,25
N

1
0,20

N W= 2 3
0,15 r
12⋅ 2
z
0,10
Westergaard
0,05

0,00
0,00 0,30 0,60 0,90 1,20 1,50 1,80 2,10 2,40 2,70 3,00
r/z
z/r
Figura 8.8 - Fatores de influência para tensões verticais devido a uma carga concentrada
(NB: Solução de Boussinesq e NW: Solução de Westergaard).

A solução de Boussinesq, apresentada acima, não conduz a resultados satisfatórios quando


tratamos com alguns solos sedimentares, onde o processo de deposição em camadas conduz a
obtenção de um material de natureza anisotrópica. A análise da influência da anisotropia do solo
nos valores obtidos por Boussinesq foi realizada por Westergaard, simulando uma condição
extrema de anisotropia para uma massa de solo impedida de se deformar lateralmente. As tensões
são inferiores às da solução proposta por Boussinesq que é, por sua vez, o procedimento mais
intensamente utilizado nas aplicações práticas. A fig. 8.8 também apresenta o fator de influência
(Nw) obtido por Westergaard.
73

8.4.2.2. Extensão da Solução de Boussinesq.

As distribuições de tensões em uma massa de solo, induzidas por outros tipos de


carregamentos mais freqüentes na prática, puderam ser estabelecidas a partir da generalização da
solução de Boussinesq, as quais serão apresentadas a seguir:

A) Carga distribuída ao longo de uma linha (solução de Melan)

As tensões induzidas no ponto (A), por uma carga uniformemente distribuída ao longo de
uma linha (Y) na superfície do semi- espaço foram obtidas por Melan (fig. 8.9) e estão
apresentadas nas eqs. 8.11 a 8.13.

2q z3 (8.11)
  z= ⋅
  z 2x 2 2

2
2q x ⋅z (8.12)
  x= ⋅
  z 2x 2  2

2q z 2⋅x (8.13)
  xz = ⋅
  z 2x 2 2

Q/m

O'
dy

O X

φ
Z
x ∆σx
Y
A
Z
∆σ z

Figura 8.9 - Carga distribuída ao longo de uma linha (Melan).

B) Carregamento uniforme sobre uma placa retangular de comprimento


infinito (sapata corrida)

Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões é muito maior que a
outra, como por exemplo, no caso das sapatas corridas, os esforços introduzidos na massa de solo
podem ser calculados por meio da fórmula desenvolvida por Terzaghi & Carothers. A fig. 8.10
apresenta o esquema de carregamento e o ponto onde se está calculando o acréscimo de tensões.
Observar que a placa tem largura 2b e está carregada uniformemente com q. As tensões num
ponto A, situado a uma profundidade (z) e distante (x) do centro da placa são dadas pelas eqs.
8.14 a 8.16, com ângulo α dado em radianos.

q
  z= ⋅ sen ⋅cos 2   (8.14)

74

Figura 8.10 - Placa retangular de comprimento infinito (sapata corrida).

q
  x = ⋅−sen ⋅cos 2   (8.15)

q
  xz = ⋅sen ⋅cos 2  (8.16)

C) Carregamento uniformemente distribuído sobre placa retangular

Newmark (1935), integrou a equação de Melan (8.11) e obteve a equação para cálculo da
tensão vertical (σz) induzida no canto de uma área retangular uniformemente carregada. Para o
caso de uma área retangular de lados (x) e (y), uniformemente carregada (fig. 8.11), as tensões
verticais em um ponto situado numa profundidade (z), na mesma vertical de um dos vértices, é
dada pela eq. 8.17.

Figura 8.11 - Placa retangular uniformemente carregada.

[  ]
2 2 1 /2
q 2⋅m⋅n⋅m n 1 m2n 22 2⋅m⋅n⋅m2n 211/ 2
  z= ⋅ ⋅ arctan (8.17)
4 m2n 2m2⋅n 21 m2n 21 m2 n2−m2⋅n 21

onde:
q = carga por unidade de área, ou seja, σo
m = x /z
n = y /z
x, y = largura e comprimento da área uniformemente carregada.
75

Os parâmetros m e n são intercambiáveis. Pode-se observar que a eq. 8.17, depende


apenas da geometria da área carregada (m e n), assim, felizmente, a eq. 8.17 pode ser reescrita em
função de um fator de influência:
  z=q⋅N  (8.18)

onde: Nσ = fator de influência, o qual depende de m e n.

Os valores de Nσ , para vários valores de m e n, podem ser mais facilmente determinados


com o uso do gráfico apresentado na fig. 8.12 ou usando a Tabela 8.1. Assim, para calcular Δσz,
em um ponto, sob um vértice de uma área uniformemente carregada, basta determinar x e y e os
valores de m e n, e obter Nσ , usando o gráfico ou a tabela.

Figura 8.12 - Fatores de influência para a placa retangular uniformemente carregada.

É importante salientar que todas as deduções estão referenciadas a um sistema de


coordenadas, no qual o vértice, ou seja, o canto da área carregada, coincide com a origem dos
eixos. Para calcular o acréscimo de tensões em pontos que não coincidem com o canto da área
carregada, deve-se usar o princípio da superposição dos efeitos, acrescentando e subtraindo áreas,
de tal forma que o efeito final corresponda à área efetivamente carregada. O cálculo do acréscimo
de tensões verticais num ponto (P), situado a uma profundidade (z) sob o centro da área
76

retangular ABCD (fig. 8.13a), por exemplo, deve ser feito mediante aplicação da eq. 8.18, onde
Nσ corresponde à influência de quatro áreas retangulares iguais AMPN, ou seja, Nσ(P) = 4 Nσ
(AMPN).
Suponhamos agora, que desejamos encontrar as tensões verticais no ponto (A), a uma
profundidade z, produzida pela área carregada II (fig. 8.13b) . Para essa condição teremos que
fazer algumas construções auxiliares a fim de satisfazer as condições iniciais (acrescentar e
subtrair áreas). Para esse caso, o fator de influência (Nσ) será: Nσ(A) = Nσ(I+II+III+IV) - Nσ(I+III) -Nσ
(III+IV) + Nσ(III).

A M B
A
P I III
N

II IV
D C
(a) (b)
Figura 8.13 - Esquema para cálculo das tensões em qualquer ponto - Placa retangular
uniformemente carregada.

Tabela 8.1 - Fatores de influência (Nσ) para uma placa quadrada/retangular


m=x/z m = y/z ou n =x/z
ou
n=y/z 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,2 1,5 2,0 2,5 3,0 5,0 10,0
0,1 0,005 0,009 0,013 0,017 0,020 0,022 0,024 0,026 0,027 0,028 0,029 0,030 0,031 0,031 0,032 0,032 0,032
0,2 0,009 0,018 0,026 0,033 0,039 0,043 0,047 0,050 0,053 0,055 0,057 0,059 0,061 0,062 0,062 0,062 0,062
0,3 0,013 0,026 0,037 0,047 0,056 0,063 0,069 0,073 0,077 0,079 0,083 0,086 0,089 0,090 0,090 0,090 0,090
0,4 0,017 0,033 0,047 0,060 0,071 0,080 0,087 0,093 0,098 0,101 0,106 0,110 0,113 0,115 0,115 0,115 0,115
0,5 0,020 0,039 0,056 0,071 0,084 0,095 0,103 0,110 0,116 0,120 0,126 0,131 0,135 0,137 0,137 0,137 0,137
0,6 0,022 0,043 0,063 0,080 0,095 0,107 0,117 0,125 0,131 0,136 0,143 0,149 0,153 0,155 0,156 0,156 0,156
0,7 0,024 0,047 0,069 0,087 0,103 0,117 0,128 0,137 0,144 0,149 0,157 0,164 0,169 0,170 0,171 0,172 0,172
0,8 0,026 0,050 0,073 0,093 0,110 0,125 0,137 0,146 0,154 0,160 0,168 0,176 0,181 0,183 0,184 0,185 0,185
0,9 0,027 0,053 0,077 0,098 0,116 0,131 0,144 0,154 0,162 0,168 0,178 0,186 0,192 0,194 0,195 0,196 0,196
1,0 0,028 0,055 0,079 0,101 0,120 0,136 0,149 0,160 0,168 0,175 0,185 0,193 0,200 0,202 0,203 0,204 0,205
1,2 0,029 0,057 0,083 0,106 0126 0,143 0,157 0,168 0,178 0,185 0,196 0,205 0,212 0,215 0,216 0,217 0,218
1,5 0,030 0,059 0,086 0,110 0,131 0,149 0,164 0,176 0,186 0,193 0,205 0,215 0,223 0,226 0,228 0,229 0,230
2,0 0,031 0,061 0,089 0,113 0,135 0,153 0,169 0,181 0,192 0,200 0,212 0,223 0,232 0,236 0,238 0,239 0,240
2,5 0,031 0,062 0,090 0,115 0,137 0,155 0,170 0,183 0,194 0,202 0,215 0,226 0,236 0,240 0,242 0,244 0,244
3,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,171 0,184 0,195 0,203 0,216 0,228 0,238 0,242 0,244 0,246 0,247
5,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196 0,204 0,217 0,229 0,239 0,244 0,246 0,249 0,249
10,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196 0,205 0,218 0,230 0,240 0,244 0,247 0,249 0,250

D) Carregamento uniforme sobre uma placa circular

O cálculo das tensões induzidas por uma placa circular de raio r, uniformemente
carregada, foi resolvido por Love, a partir da integração da equação Boussinesq, para toda área
circular. Para pontos situados a uma profundidade z, abaixo do centro da placa de raio r, as
tensões induzidas podem ser estimadas pela eq. 8.19:

[ {  } ]
1,5
1
  z =q⋅ 1− 2
r
1
z
(8.19)
77

O gráfico da fig. 8.14 pode ser utilizado para o cálculo do fator de influência (ver eq. 8.18)
para o caso de um ponto cuja vertical esteja a uma distância x do centro da área circular. O fator
de influência é obtido em função das relações z/r e x/r, onde z é a profundidade, r é o raio da
placa carregada e x é a distância horizontal que vai do centro da placa ao ponto onde se deseja
calcular o acréscimo de tensão vertical. Observar que neste gráfico os fatores de influência são
expressos em porcentagem. Para obtenção dos valores de Nσ , para pontos quaisquer do terreno,
também pode-se utilizar a tabela 8.2. Vale acrescentar que quando tem-se x/r = 0, tem-se o
acréscimo de tensões induzida na vertical que passa pelo centro da placa circular carregada, cujo
valor deverá ser igual ao calculado com o emprego da eq. 8.19.

Figura 8.14 - Fatores de influência, expresso em %, para a placa circular uniformemente


carregada.

Tabela 8.2 - Fatores de influência para uma placa circular de raio r, carregada
x/r
z/r 0 0,25 0,50 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,25 0,986 0,983 0,964 0,460 0,015 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000
0,50 0,911 0,895 0,840 0,418 0,060 0,010 0,003 0,000 0,000 0,000
0,75 0,784 0,762 0,691 0,374 0,105 0,025 0,010 0,002 0,000 0,000
1,00 0,646 0,625 0,560 0,335 0,125 0,043 0,016 0,007 0,003 0,000
1,25 0,524 0,508 0,455 0,295 0,135 0,057 0,023 0,010 0,005 0,001
1,50 0,424 0,413 0,374 0,256 0,137 0,064 0,029 0,013 0,007 0,002
1,75 0,346 0,336 0,309 0,223 0,135 0,071 0,037 0,018 0,009 0,004
2,00 0,284 0,277 0,258 0,194 0,127 0,073 0,041 0,022 0,012 0,006
2,5 0,200 0,196 0,186 0,150 0,109 0,073 0,044 0,028 0,017 0,011
3,0 0,146 0,143 0,137 0,117 0,091 0,066 0,045 0,031 0,022 0,015
4,0 0,087 0,086 0,083 0,076 0,061 0,052 0,041 0,031 0,024 0,018
5,0 0,057 0,057 0,056 0,052 0,045 0,039 0,033 0,027 0,022 0,018
7,0 0,030 0,030 0,029 0,028 0,026 0,024 0,021 0,019 0,016 0,015
10,00 0,015 0,015 0,014 0,014 0,013 0,013 0,013 0,012 0,012 0,011
78

E) Carregamento triangular de comprimento infinito

A fig. 8.15 mostra uma distribuição linear de carga vertical aplicada sobre uma placa
retangular de comprimento infinito e largura 2b, com a carga variando de 0 a um valor q, ao longo
da largura. A tensão vertical induzida num dado ponto de coordenadas (x, z) é dada pela eq. 8.20:

  z= 
q x
⋅ ⋅−sen 2 
2⋅ b  (8.20)

2b
q


z 

x
z
Figura 8.15 - Carregamento triangular de comprimento infinito.

A solução do problema da distribuição de tensões em uma massa de solo, devido a um


carregamento triangular de comprimento infinito, constitui um procedimento básico para
avaliação das tensões induzidas em uma massa de solo por cargas provenientes da execução de
um aterro. Com efeito, aplicando-se o principio da superposição, as cargas do aterro (fig. 8.16a)
podem ser expressas pela diferença dos carregamentos indicados nas figs. 8.16b e 8.16c.

(a) (b) (c)


Figura 8.16 - Carregamento em forma de um trapézio retangular de comprimento
infinito.

F) Carregamento em forma de trapézio retangular de comprimento infinito

As tensões induzidas em uma profundidade z, devido a um acréscimo de carga causado


por uma área carregada em forma de trapézio retangular pode ser facilmente calculada usando a
eq. 8.18, onde o fator de influência (Nσ), é dado pelo ábaco apresentado na fig. 8.17. Este tipo de
carregamento encontra grande aplicação na avaliação de tensões produzidas por aterros e
barragens. Os fatores de influência são em função das dimensões a e b, como apresentado nesta
figura e o ponto considerado deve se situar na extremidade da área de largura b.
79

Figura 8.17 - Fatores de influência para carregamento em forma de um trapézio


retangular de comprimento infinito (aterro rodoviário, em que o comprimento c é bem maior que
a e b).

Pode-se observar na fig. 8.17, que para b/z = 0, recai-se no caso de carregamento
triangular. Analogamente, através da aplicação do principio da superposição, computa -se a soma
ou a diferença dos efeitos das partes do aterro, conforme indicado para o ponto P da fig. 8.18.

= +
P
∆σz ∆σz (esq.) ∆σz(dir)
Figura 8.18 - Esquema para cálculo das tensões induzidas no ponto, para um aterro.
80

G) Carregamento uniforme de forma qualquer (solução de Newmark)

Newmark (1942), baseado na equação de Love, que fornece o acréscimo de tensões


ocasionadas por uma placa circular uniformemente carregada, desenvolveu um método gráfico
que permite obter as tensões induzidas devido uma área de forma irregular sob condição de
carregamento uniforme, atuando na superfície do terreno. A construção do ábaco de Newmark é
baseada na fórmula de Love (eq. 8.19), adotando-se os seguintes procedimentos:

1) Tomando-se a fórmula de Love sob a forma :


−2 /3
r
z
= 1−
 z
q  −1 (8.21)

atribuem-se valores à relação Δσz/q e calcula-se o raio r da placa necessária para produzir
o acréscimo de carga Δσz/q arbitrado a uma profundidade z (cujo valor é fixado pela escala a
partir da qual o gráfico foi construído) sob o centro da placa carregada com uma carga unitária;

b) Exemplificando:
Δσz/q = 0,8 ⇒ r/z = 1,387 ⇒ (r) σz = 0,8 = 1,387 x AB, sendo AB o seguimento de referência
(escala) adotado (fig. 8.19). Assim, a uma profundidade z = AB, o acréscimo de carga seria Δσz/q 
= 0,8 se a área carregada fosse circular de raio r = 1,387 x AB.

c) Para outros valores de Δσz/q, obtém-se um conjunto de círculos concêntricos, tais que
os anéis circulares gerados representam parcelas dos acréscimos de tensões verticais. Por
exemplo, o acréscimo de tensão vertical devido ao espaço anelar compreendido entre os círculos
de (r) Δσz = 0,8 e (r) Δσz = 0,7 seria dado por Δσz = 0,8 - 0,7 = 0,1;

d) Cada espaço anelar é então dividido em um certo número de partes iguais (geralmente
20 setores), cada parte representando uma parcela de contribuição ao valor final do acréscimo de
tensão no solo devido a toda a área carregada. No exemplo, Nσ=Δσz/q devido a cada setor seria
dada por Δσz = 0,1/20 = 0,005.

Para a utilização do ábaco de Newmark, procede-se da seguinte forma:

 A área carregada é desenhada em papel transparente e numa escala tal que o segmento
AB do gráfico (Fig. 8.19) seja igual à profundidade z de interesse;
 Coloca-se o desenho em planta sobre o gráfico, de tal modo que a projeção do ponto
estudado (seja interno ou externo à área carregada) coincide com o centro do ábaco;
 Conta-se o número de setores (unidades de influência, n) englobados pelo contorno da
área, estimando-se as frações correspondentes aos setores parcialmente envolvidos
 A tensão vertical induzida no ponto considerado será dada por:

  z=q⋅n⋅N  (8.22)

onde:
Nσ = unidade de influência
n = número de fatores de influência
81

Figura 8.19 - Ábaco de Newmark.

H) Acréscimos de tensão vertical em camadas de diferentes rigidez

No caso de camadas estratificadas, com diferentes valores de E, a forma de distribuição


dos acréscimos de tensão no solo é diferente da apresentada anteriormente. Particularmente
interessante é o caso de uma camada de maior rigidez sobrejacente a uma camada de maior
deformabilidade. Ela é representativa, por exemplo, do caso de um pavimento rígido
(normalmente concreto, com módulo de elasticidade da ordem de 30 GPa) assente sobre uma
camada de solo compactado (que mesmo para a energia do Proctor Modificado tende a apresentar
um módulo de elasticidade inferior a 200 MPa). A fig. 8.20 apresenta a distribuição de tensões
obtidas para o caso de uma área carregada circular de raio a. A camada superior possui uma
espessura H1 igual ao próprio raio da área carregada: a/H1=1. São apresentadas curvas para
diferentes relações de E1/E2. Para o caso de um pavimento de concreto sobrejacente a uma
camada de solo compactado têm-se normalmente E1/E2 entre 180 e 500.
82

Figura 8.20 – Acréscimos de tensão em camadas estratificadas provocados por uma área
carregada circular de raio a.

8.4.3. Pressões de contato

Uma força ou pressão, aplicada na superfície ou no interior do solo (semi-espaço elástico),


distribui-se nos vários pontos desse solo. Na prática, para aplicar essa força ou pressão, é
necessário um elemento qualquer que transmita a carga ao terreno (placa, sapata ou estaca). No
entanto, a rigidez de cada um desses elementos intervém redistribuindo a carga na superfície de
contato desse elemento com o solo. Em fundações, temos elementos de transferência de cargas
ditos placas rígidas e flexíveis, cada um com um tipo de distribuição de cargas e recalques
específico (fig. 8.21).
Para o caso de uma placa flexível a pressão de contato é uniforme e igual a pressão
aplicada. Para um solo coesivo observa-se um recalque no centro da placa maior que nos bordos.
No entanto, para solo não coesivo observa-se um recalque dos bordos maior que o recalque do
centro (o confinamento provoca aumento do módulo de elasticidade do solo não coesivo,
conferindo-lhe maior rigidez).
Para o caso de placa rígida, tem-se recalques uniformes em toda sua largura. Em solos
coesivos, a pressão de contato não é uniforme, concentrando-se mais nos bordos que no centro
(formato de "sela") para compatibilizar a condição de recalque uniforme. Em solos não coesivos,
a pressão de contato é maior no centro para vencer o aumento da rigidez provocada pelo
confinamento.
83

Figura 8.21 - Distribuição de pressões de contato placa - solo.

Como visto acima, a rigidez das placas influi na distribuição de pressões em todo o solo.
Segundo Vargas (1977), só poderemos aplicar a equação de Boussinesq e as outras derivadas a
partir dessa, se tivermos tratando de placa flexível (pressão de contato uniforme), para que a
rigidez da estrutura não possa influir na distribuição das pressões de contato. Felizmente, para a
engenharia, isso ocorre na grande maioria dos casos. Pode-se dizer ainda que a influência da
forma da distribuição das pressões de contato é maior para profundidades relativas menores
(menores valores de z/r), perdendo intensidade à medida em que a profundidade aumenta.

8.4.4. Algumas considerações sobre recalques imediatos ou elásticos

A aplicação de cargas sobre uma massa de solo resulta em uma variação do seu volume, a
qual poderá ocorrer devido à compressibilidade da fase fluida (ar) ou por drenagem da água
intersticial. Ao deslocamento vertical resultante desta compressão do solo dá-se o nome de
recalque. A drenagem da água intersticial está intimamente associada à permeabilidade do solo;
assim, se uma camada de argila saturada for carregada local e rapidamente, a baixa
permeabilidade do solo retarda o processo da expulsão da água intersticial e, nestas condições
não-drenadas, a deformação do solo devido às cargas aplicadas ocorre a volume constante,
correspondendo a uma distorção elástica do meio. Os recalques associados a esta distorção são
designados recalques imediatos ou elásticos.
O recalque imediato (ρi) sob uma área transmitindo uma carga uniforme (q) à superfície de
um semi - espaço infinito, homogêneo, isotrópico e elástico linear, será dado por:

1− ν2
ρi = q . B. .Ι s
E (8.23)

onde (E, ν) são os parâmetros elásticos do solo; B: a menor dimensão da área carregada e
Is: o fator de influência, função da geometria e rigidez da área carregada e da posição do ponto
considerado em relação à mesma (valores dados na tabela 8.3).
84

Tabela 8.3 - Fatores de influência (Is)


Forma da área Flexível Rígida
carregada Centro Vértice Meio lado do maior Meio do lado menor Valor médio ρi = cte
Circular 1,00 0,64 (borda) 0,85 0,79
Quadrada 1,12 0,56 0,76 0,76 0,95 0,82
Retangular L/B: 1,36 0,68 0,89 0,97 1,15 1,06
1,5 1,53 0,77 0,98 1,12 1,30 1,20
2,0
3,0 1,78 0,88 1,11 1,35 1,52 1,41
5,0 2,10 1,05 1,27 1,68 1,83 1,70
10,0 2,54 1,27 1,49 2,12 2,25 2,10
100,0 4,01 2,00 2,20 3,60 3,69 3,40

De acordo com a eq. 8.26, o recalque imediato é diretamente proporcional à carga aplicada
e à largura da área carregada. No caso de depósitos homogêneos de argila saturada de grande
extensão, a hipótese de E assumir um valor constante é consistente e o uso da eq. 8.26 é melhor
justificado. No caso de areias, entretanto, o valor de E depende da pressão de confinamento
variando, portanto com a profundidade e ao longo das dimensões da área carregada. Devido a esta
variação de E, a relação 8.26 não se aplica a solos arenosos. Pode-se dizer também que mesmo
para os casos em que E é aproximadamente constante com a profundidade e o material é
relativamente homogêneo, a estimativa correta deste parâmetro constitui uma árdua tarefa, devido
ao comportamento altamente não linear do solo.
85

9. COMPACTAÇÃO.

9.1. Introdução

Entende-se por compactação o processo manual ou mecânico que visa reduzir o volume de
vazios do solo, melhorando as suas características de resistência, deformabilidade e
permeabilidade.
Muitas vezes, na prática da engenharia geotécnica, o solo de um determinado local não
apresenta as condições requeridas pela obra. Ele pode ser pouco resistente, muito compressível ou
apresentar características que deixam a desejar de um ponto de vista econômico. Pareceria
razoável em tais circunstâncias, simplesmente relocar obra. Deve-se notar contudo, que
considerações outras que não geotécnicas freqüentemente impõem a localização da estrutura e o
engenheiro é forçado a realizar o projeto com o solo que ele tem em mãos. Para resolver este
problema, uma possibilidade é adaptar a fundação da obra às condições geotécnicas do local.
Uma outra possibilidade é tentar melhorar as propriedades de engenharia do solo local.
Dependendo das circunstâncias, a segunda opção pode ser o melhor caminho a ser seguido.
Neste capítulo será apresentado um método de estabilização e melhoria do solo por vias
mecânicas, denominado de compactação. Deve-se ressaltar que existem diversos outros métodos
de estabilização dos solos, sendo alguns destes realizados pela mistura ou injeção de substâncias
químicas (misturas solo-cimento, "jet-ground", misturas solo-cal), ou pela incorporação no solo de
elementos estruturais, os quais têm por função conferir ao mesmo as características necessárias
para a execução da obra. Ex: solo reforçado, solo envelopado, terra armada, etc.

Os fundamentos da compactação de solos são relativamente novos e foram desenvolvidos


por Ralph Proctor, que, na década de 20, postulou ser a compactação uma função de quatro
variáveis: a) Peso específico seco, b) Umidade, c) Energia de compactação e d) Tipo de solo
(solos grossos, solos finos, etc.). A compactação dos solos tem uma grande importância para as
obras geotécnicas, já que através do processo de compactação consegue-se promover no solo um
aumento de sua resistência estável e uma diminuição da sua compressibilidade e permeabilidade.
9.2. O emprego da compactação
Em diversas obras, dentre elas os aterros rodoviários e as barragens de terra, o solo é o
próprio material resistente ou de construção. Em vista disto, alguns métodos de estabilização ou
de melhoria das características de resistência, deformabilidade e permeabilidade dos solos foram
desenvolvidos, e a compactação é um desses métodos.
O objetivo principal da compactação é obter um solo, de tal maneira estruturado, que
possua e mantenha um comportamento mecânico adequado ao longo de toda a vida útil da obra.

9.3. Diferenças entre Compactação e Adensamento


Pelo processo de compactação, a compressão do solo se dá por expulsão do ar contido em
seus vazios, de forma diferente do processo de adensamento, onde ocorre a expulsão de água dos
interstícios do solo (capítulo de compressibilidade, volume II).
Além do mais, as cargas aplicadas quando compactamos o solo são geralmente de natureza
dinâmica e o efeito conseguido é imediato, enquanto que o processo de adensamento é diferido no
tempo (pode levar muitos anos para ocorra por completo, a depender do tipo de solo) e as cargas
são normalmente estáticas.
86

9.4. Ensaio de Compactação


Em 1933, o Eng. Norte americano Ralph Proctor postulou os procedimentos básicos para a
execução do ensaio de compactação. A energia de compactação utilizada na realização destes
ensaios é hoje conhecida como energia de compactação "Proctor Normal". A seguir são listadas,
de modo resumido, as principais fases de execução de um ensaio de compactação.

 Ao se receber uma amostra de solo (no caso, deformada) para a realização de um


ensaio de compactação, o primeiro passo é colocá-la em bandejas de modo que a
mesma adquira a umidade higroscópica (secagem ao ar). O solo então é destorroado e
passado na peneira #4, após o que adiciona-se água na amostra para a obtenção do
primeiro ponto da curva de compactação do solo. Para que haja uma perfeita
homogeneização de umidade em toda a massa de solo, é recomendável que a mesma
fique em repouso por um período de aproximadamente 24 hs.
 Após preparada a amostra de solo, a mesma é colocada em um recipiente cilíndrico
com volume igual a 1000ml e compactada com um soquete de 2500g, caindo de uma
altura de aproximadamente 30cm, em três camadas com 25 golpes do soquete por
camada, como demonstra fig. 9.1 apresentada adiante.
 Este processo é repetido para amostras de solo com diferentes valores de umidade,
utilizando-se em média 5 pontos para a obtenção da curva de compactação.
 De cada corpo de prova assim obtido, determinam-se o peso específico do solo seco e
o teor de umidade de compactação.
 Após efetuados os cálculos dos pesos específicos secos e das umidades, lançam-se
esses valores (γd;w) em um par de eixos cartesianos, tendo nas ordenadas os pesos
específicos do solo seco e nas abcissas os teores de umidade, como se demonstra na
fig. 9.2.

9.5. Curva de Compactação

A partir dos pontos experimentais obtidos conforme descrito anteriormente, traça-se a


curva de compactação do solo, apresentada na fig. 9.2. Nota-se que na curva de compactação o
peso específico seco aumenta com o teor de umidade até atingir um valor máximo, decrescendo
com a umidade a partir de então. O teor de umidade para o qual se obtém o maior valor de γd (γ
dmax) é denominado de teor de umidade ótimo (ou simplesmente umidade ótima).

O ramo da curva de compactação anterior ao valor de umidade ótima é denominado de


"ramo seco" e o trecho posterior de "ramo úmido" da curva de compactação. No ramo seco, a
umidade é baixa, a água contida nos vazios do solo está sob o efeito capilar e exerce uma função
aglutinadora entre as partículas. À medida que se adiciona água ao solo ocorre a destruição dos
benefícios da capilaridade, tornando-se mais fácil o rearranjo estrutural das partículas. No ramo
úmido, a umidade é elevada e a água se encontra livre na estrutura do solo, absorvendo grande
parte da energia de compactação.

Na fig. 9.2 é apresentada também a curva de saturação do solo. Como no processo de


compactação não conseguimos nunca expulsar todo o ar existente nos vazios do solo, todas as
curvas compactação (mesmo que para diferentes energias) se situam à esquerda da curva de
saturação. Pode-se mostrar que a curva de saturação do solo pode ser representada pela eq. 9.1,
apresentada adiante.
87

γ w ⋅ Sr
γd =
γ
w + w Sr
γs
(9.1)
Proctor Normal - 3 camadas
25 golpes

30 cm Peso
2,5 kg

5 cm
10,0 cm

12,7 cm Cilindro de
compactaçã
o

Figura 9.1 - Ensaio de Compactação (Proctor Normal). Modificado de Vargas (1977).

γd

γ dmax
o
ec
Ra

o  s
m

m

Ra Sr = 100%
úm
id
o

Wot w
Figura 9.2 - Curva de Compactação típica
88

9.6. Energia de compactação

Embora mantendo-se o procedimento de ensaio descrito no item 9.3, um ensaio de


compactação poderá ser realizado utilizando-se diferentes energias. A energia de compactação
empregada em um ensaio de laboratório pode ser facilmente calculada mediante o uso da eq. 9.2,
apresentada a seguir.

P.h.N .n
E= onde : (9.2)
V
P → Peso do Soquete (N)
h → Altura de Queda do Soquete (m)
N → Número de Golpes por Camada
n → Número de Camadas
V → Volume de solo compactado (m 3 )

Influência da energia de compactação na curva de compactação do solo - À medida


em que se aumenta a energia de compactação, há uma redução do teor de umidade ótimo e uma
elevação do valor do peso específico seco máximo. A fig. 9.3 apresenta curvas de compactação
obtidas para diferentes energias.

γd Variação  dos  pontos 


(γdmax;wot)  com  o  aumento 
da energia de compactação

E4

E3
Sr = 100%

E2

E1

E4 > E3 > E2 > E1 w
Figura 9.3 - Efeito da Energia de Compactação nas Curvas de Compactação obtidas para
um mesmo solo

Tendo em vista o surgimento de novos equipamentos de campo, de grande porte, com


possibilidade de elevar a energia de compactação e capazes de implementar uma maior
velocidade na construção de aterros, houve a necessidade de se criar em laboratório ensaios com
maiores energias que a do Proctor Normal. Surgiram então as energias do Proctor Modificado e
Intermediário, superiores à energia do Proctor Normal. As energias de compactação usuais são de
6 kgf⋅cm/cm3 para o Proctor normal, 12,6 kgf⋅cm/cm3 para o Proctor Intermediário e 25kgf⋅
cm/cm3 para o Proctor Modificado. Na tabela 9.1 apresenta-se uma comparação entre os padrões
adotados para a realização dos ensaios de compactação por diferentes órgãos.
89

Tabela 1 - Comparação entre alguns padrões adotados para o ensaio de compactação.

CARACTERÍSTICAS ABNT AASHO DNER AASHTO


(PN*) (PM**) M.48***
Peso do Soquete (kgf) 2.5 4.54 4.54
4.54
Altura de Queda (cm) 30.5 45.72 45.72
45.72
Número de Camadas 3 5 55
Número de Golpes 25 25 26
55
Por Camada
Vol. Do Cilindro (cm3) 1000 944 2160 2160
Energia de Compactação 5.72 27.48 12.49 26.43
(kgf⋅cm/cm3)
* - Proctor Normal; ** - Proctor Modificado; ***- Esta energia corresponde
aproximadamente à energia do Proctor Intermediário.

9.7. Influência da compactação na estrutura dos solos

A fig. 9.4 apresenta a influência da compactação na estrutura dos solos. Conforme se pode
observar desta figura, as estruturas formadas no lado seco da curva de compactação tendem a ser
do tipo floculada, enquanto que no lado úmido da curva de compactação formam-se solos com
estruturas predominantemente dispersas.

γd
co
se

R

m
Ra
am

E2
úm
id
o

Sr = 100%
Est. floculada

E1 Est. dispersa
E2 > E1 w
Figura 9.4 - Influência da compactação na estrutura dos solos.

Quando o objetivo principal do processo de compactação é a redução da permeabilidade, é


normal que os ensaios sejam realizados acima da umidade ótima (geralmente algo em torno de
2%). Isto é feito de forma a se gerar uma estrutura dispersa do solo, com grãos orientados na
direção perpendicular ao esforço de compactação empregado. Deve-se ressaltar contudo que a
conjugação de altas energias de compactação de campo e elevados valores de umidade podem
conduzir a um processo de orientação excessivo das partículas sólidas, resultando em um
fenômeno indesejável de desplacamento das partículas conhecido como laminação. A fig. 9.5
ilustra a aparência de um solo compactado acima da umidade ótima e com grandes energias de
compactação.
90

Figura 9.5 – Foto ilustrativa de solo compactado com estrutura bastante orientada, fruto
do uso de altas energias e valores de umidade de compactação acima da ótima.

9.8. Influência do tipo de solo na curva de compactação

A influência do tipo de solo na curva de compactação é ilustrada na fig. 9.6, apresentada


adiante. Conforme se pode observar desta figura, os solos grossos tendem a exibir uma curva de
compactação com um maior valor de γdmax e um menor valor de w ot do que solos contendo grande
quantidade de finos. Pode-se observar também que as curvas de compactação obtidas para solos
finos são bem mais "abertas" do que aquelas obtidas para solos grossos.

γd

(1) 1) Areia
2) Areia argilosa
3) Argila

(2)

(3)

w
Figura 9.6 - Influência do tipo de solo na curva de compactação.

9.9. Escolha do valor de umidade para compactação em campo

Conforme relatado anteriormente, a compactação do solo deve proporcionar a este, para a


energia de compactação adotada, a maior resistência estável possível. A fig. 9.7 apresenta a
variação da resistência de um solo, obtida por meio de um ensaio de penetração realizado com
91

uma agulha Proctor, em função de sua umidade de compactação. Conforme se pode observar
desta figura, quanto maior a umidade menor a resistência do solo.
Pode-se fazer então a seguinte indagação: Porque os solos não são compactados em campo
em valores de umidade inferiores ao valor ótimo? A resposta a esta pergunta se encontra na
palavra estável. Não basta que o solo adquira boas propriedades de resistência e deformação, elas
devem permanecer durante todo o tempo de vida útil da obra.

Figura 9.7 - Variação da resistência dos solos com o teor de umidade de compactação.
Modificado de Caputo (1981).

Conforme se pode notar da fig. 9.7, caso o solo fosse compactado no teor de umidade w1,
ele iria apresentar uma resistência bastante superior àquela obtida quando da compactação no teor
de umidade ótimo. Conforme também apresentado na fig. 9.7, contudo, este solo poderia vir a se
saturar em campo (em virtude de um período de fortes chuvas, por exemplo), vindo a alcançar o
valor de umidade w2, para o qual o valor de resistência apresentado pelo solo é praticamente nulo.
No caso de o solo ser compactado na umidade ótima, o valor de sua resistência cairia somente de
R para r, estando o mesmo ainda a apresentar características de resistência razoáveis.

9.10. Equipamentos de campo

Os princípios que estabelecem a compactação dos solos no campo são essencialmente os


mesmos discutidos anteriormente para os ensaios em laboratório. Assim, os valores de peso
específico seco máximo obtidos são fundamentalmente função do tipo do solo, da quantidade de
água utilizada e da energia específica aplicada pelo equipamento que será utilizado, a qual
depende do tipo e peso do equipamento, da espessura da camada de compactação e do número de
passadas sucessivas aplicadas.
A compactação de campo se dá por meio de esforços de pressão, impacto, vibração ou por
uma combinação destes. Os processos de compactação de campo geralmente combinam a
vibração com a pressão, já que a vibração utilizada isoladamente se mostra pouco eficiente, sendo
a pressão necessária para diminuir, com maior eficácia, o volume de vazios inter-partículas do
solo.
92

9.10.1. Soquetes

São compactadores de impacto utilizados em


locais de difícil acesso para os rolos compressores,
como em valas, trincheiras, etc. Possuem peso mínimo de
15kgf, podendo ser manuais ou mecânicos (sapos). A
camada compactada deve ter 10 a 15cm para o caso
dos solos finos e em torno de 15cm para o caso dos
solos grossos (ver fig. 9.8).

9.10.2. Rolos Estáticos Figura 9.8 – Exemplos de


compactadores manuais
9.10.2.1. Pé-de-Carneiro

É um tambor metálico com protuberâncias (patas) solidarizadas, em forma tronco-cônica e


com altura de aproximadamente de 20cm. Podem ser auto propulsivos ou arrastados por trator. É
indicado na compactação de outros tipos de solo que não a areia e promove um grande
entrosamento entre as camadas compactadas.
A camada compactada possui geralmente 15cm, com número de passadas variando entre 4
e 6 para solos finos e de 6 a 8 para os solos grossos. A fig. 9.9 ilustra rolos compactadores do tipo
pé-de-carneiro. A fig. 9.10 ilustra o aspecto da superfície de solo compactado após o uso do pé-
de-carneiro.

Figura 9.9 - Exemplo de equipamento do tipo rolo pé-de-carneiro.

Figura 9.10 - Aspecto da superfície de solo após o uso do rolo pé-de-carneiro.


93

9.10.2.2. Rolo Liso

Trata-se de um cilindro oco de aço, podendo ser preenchido por areia úmida ou água, a fim de
que seja aumentada a pressão aplicada. São usados em bases de estradas, em capeamentos e são
indicados para solos arenosos, pedregulhos e pedra britada, lançados em espessuras inferiores a
15cm.
Este tipo de rolo compacta bem camadas finas de 5 a 15cm com 4 a 5 passadas. Os rolos lisos
possuem pesos de 1 a 20t e freqüentemente são utilizados para o acabamento superficial das
camadas compactadas. Para a compactação de solos finos utilizam-se rolos com três rodas com
pesos em torno de 10t, para materiais de baixa plasticidade e 7t, para materiais de alta
plasticidade. A fig. 9.11 ilustra rolos compactadores do tipo liso. Os rolos lisos possuem certas
desvantagens como: Pequena área de contato. Em solos de pequena capacidade de suporte
afundam demasiadamente dificultando a tração. Necessidade de melhoria do entrosamento entre
camadas por escarificação (ver fig. 9.12)

Figura 9.11 – Exemplos de equipamentos do tipo rolo liso.

Figura 9.12 – Foto ilustrativa do aspecto da superfície compactada após escarificação.

9.10.2.3. Rolo Pneumático

Os rolos pneumáticos são eficientes na compactação de capas asfálticas, bases e subbases


de estradas e indicados para solos de granulação fina a arenosa. Os rolos pneumáticos podem ser
utilizados em camadas de mais espessas e possuem área de contato variável, função da pressão
nos pneus e do peso do equipamento.
94

Pode se usar rolos com cargas elevadas obtendo-se bons resultados. Nestes casos, muito
cuidado deve ser tomado no sentido de se evitar a ruptura do solo. A fig. 9.13 ilustra alguns tipos
de rolo pneumático existentes.

Figura 9.13 - Rolo Pneumático.

9.10.3. Rolos Vibratórios

Nos rolos vibratórios, a freqüência da vibração influi de maneira extraordinária no


processo de compactação do solo. São utilizados eficientemente na compactação de solos
granulares (areias), onde os rolos pneumáticos ou Pé-de-Carneiro não atuam com eficiência. A
espessura máxima da camada é de 15cm.

Figura 9.14 - Rolo Vibratório. Apud Vargas (1977).

9.11. Controle da Compactação

Para que se possa efetuar um bom controle da compactação do solo em campo, temos que
atentar para os seguintes aspectos:

 tipo de solo
 espessura da camada
 entrosamento entre as camadas
 número de passadas
 tipo de equipamento
 umidade do solo
 grau de compactação alcançado
95

Assim, alguns cuidado devem ser tomados:

1) A espessura da camada lançada não deve exceder a 30cm, sendo que a espessura da
camada compactada deverá ser menor que 20cm.
2) Deve-se realizar a manutenção da umidade do solo o mais próximo possível da
umidade ótima.
3) Deve-se garantir a homogeneização do solo a ser lançado, tanto no que se refere à
umidade quanto ao material.

Na prática, o procedimento usual de controle da compactação é o seguinte:

 Coletam-se amostras de solo da área de empréstimo e efetua-se em laboratório o ensaio


de compactação. Obtêm-se a curva de compactação e daí os valores de peso específico
seco máximo e o teor de umidade ótimo do solo.
 No campo, à proporção em que o aterro for sendo executado, deve-se verificar, para
cada camada compactada, qual o teor de umidade empregado e compará-lo com a
umidade ótima determinada em laboratório. Este valor deve atender a seguinte
especificação: wcampo - 2% < wot < wcampo + 2%. Nas figs. 9.15 e 9.16 são apresentadas
fotos ilustrativas de processos de aeração e umedecimento da camada de solo a ser
compactada, respectivamente. É importante frisar que o solo a ser compactado deve
passar, preferencialmente, por uma etapa de repouso para equalização de umidade, de
pelo menos um dia. No momento da compactação o valor de umidade do solo deve
sofrer somente alguns ajustes.
 Determina-se também o peso específico seco do solo no campo, comparando-o com o
obtido no laboratório. Define-se então o grau de compactação do solo, dado pela
razão entre os pesos específicos secos de campo e de laboratório (GC = γd campo / γ
dmax. )x100. Deve-se obter sempre valores de grau de compactação superiores a 95%.
 Caso estas especificações não sejam atendidas, o solo terá de ser revolvido, e uma
nova compactação deverá ser efetuada.

Figura 9.15 – Processo de aeração (redução da umidade de camada de solo a ser


compactada)
96

Figura 9.16 – Processo de umedecimento (aumento da umidade de camada de solo a ser


compactada)

Para a determinação da umidade no campo


utiliza-se normalmente o umidímetro denominado
"Speedy". Este aparelho consiste em um recipiente
metálico, hermeticamente fechado, onde são
colocadas duas esferas de aço, a amostra do solo da
qual se quer determinar a umidade e uma ampola de
carbureto (carbonato de cálcio (CaC2)). Para a
determinação da umidade, agita-se o frasco, a ampola é
quebrada pelas esferas de aço e o CaC 2 combina-se
com a água contida no solo, formando o gás
acetileno, que exercerá pressão no interior do
recipiente, acionando o manômetro localizado na
tampa do aparelho. Com o valor de pressão medido, os
valores de umidade são obtidos através de uma tabela
Figura 9.17 – Equipamento de
específica, que correlaciona a umidade em função da
Speedy
pressão manométrica e do peso da amostra de solo
(ver fig. 9.17).
Existem outros métodos também utilizados para determinar a umidade no campo, tais
como a queima do solo com a utilização de álcool ou de uma frigideira. Quando possível, deve-se
procurar utilizar a estufa. Outros métodos ainda de utilização não muito difundida, estão
ganhando espaço no mercado. Destaca-se aí o uso de equipamento micro-ondas, onde a umidade
do solo pode ser determinada em cerca de meia hora e a sonda de nêutrons, equipamento bastante
utilizado na área agrícola para medidas de teores de umidade do solo.
Para a determinação do peso específico seco do solo compactado, os métodos mais
empregados são o do frasco de areia e a cravação de um cilindro de volume interno conhecido na
camada de solo compactada. No caso do frasco de areia, faz-se um cavidade na camada do solo
compactado, extraindo-se o solo e pesando-o em seguida. Para se medir o volume da cavidade,
coloca-se o frasco de areia com a parte do funil para baixo sobre a mesma e abre-se a torneira do
frasco, deixando-se que a areia contida no frasco encha a cavidade por completo. O volume de
areia que saiu do frasco é igual ao volume de solo escavado, de modo que o peso específico do
solo pode ser determinado. A fig. 9.18 apresenta uma seqüência de passos adotados na cravação
de um cilindro rígido em uma camada de solo compactada. Após a cravação, o solo é rasado e o
peso do cilindro mais o solo é determinado.
97

Cilindro de solo
compactado

Cravação do cilindro
amostrador
Figura 9.18 – Fotos ilustrativas de passos para a cravação de um cilindro de parede
rígida em uma camada de solo compactada.

Uma outra forma de se verificar a resistência do solo compactado é através da cravação da


Agulha de Proctor, que consiste de uma haste calibrada a qual está ligada a um êmbolo apoiado
sobre uma mola. Este aparelho permite medir o esforço necessário para fazer penetrar a agulha na
camada compactada. Os valores de resistência obtidos nesse ensaio são utilizados no controle da
compactação em campo.

- Influência do Número de Passadas do Rolo

Com o progresso da compactação em campo, o número de passadas do rolo vai perdendo


a sua eficiência na compactação do solo. Deste modo, a compactação dos solos em campo é
definida para um determinado número de passadas, normalmente inferior a 10. Este número
dependerá do tipo de solo a ser compactado, do tipo de equipamento disponível, e das condições
particulares de cada caso. No caso de grandes obras, empregam-se geralmente aterros
experimentais para se determinar o número ótimo de passadas do rolo.
Em geral, 8 a 12 passadas do rolo em uma camada de solo a ser compactada é suficiente.
Caso com 15 passadas não se atinja o valor do peso específico seco determinado, é recomendável
que se modifique as condições antes fixadas para a compactação.

9.12. Índice de Suporte Califórnia (ISC)

O Índice de Suporte Califórnia é utilizado como base para o dimensionamento de


pavimentos flexíveis. Para a realização do ensaio de ISC, são confeccionados corpos de prova no
valor da umidade ótima (wot), utilizando-se três diferentes energias de compactação (a maior
energia empregada sendo aproximadamente igual à energia do Proctor modificado). O ensaio ISC
visa determinar:

 Propriedades expansivas do material.


 Índice de Suporte Califórnia.

Para a determinação do Índice de Suporte Califórnia teremos que passar por três fases
anteriores: a execução de um ensaio de compactação, na energia do Proctor Modificado, a
preparação dos corpos de prova, o ensaio de expansão e finalmente o ensaio de determinação do
Índice de Suporte Califórnia ou CBR ("California Bearing Ratio"), propriamente dito.
98

9.12.1. Ensaio de Compactação

Este ensaio é realizado de maneira similar àquela apresentada para o ensaio de


compactação na energia do Proctor Normal. Neste caso, as dimensões do cilindro de compactação
geralmente utilizadas são dadas pela fig. 9.19 e a energia de compactação empregada corresponde
à do Proctor Modificado (vide tabela 9.1, coluna AASHTO).
Antes de começar a execução do ensaio, coloca-se um disco espaçador no cilindro de
compactação, conforme demostrado na fig. 9.19, cuja função é permitir a execução dos ensaios de
expansão e CBR.
15 cm

5cm

17,5 cm
5 cm (disco espaçador)
Figura 9.19 - Corpo de Prova para o Ensaio de Compactação

9.12.2. Corpo de Prova

O solo a ser utilizado na compactação do corpo de prova deve passar pela malha de 19mm
(3/4") e ser moldado na umidade ótima determinada anteriormente.

9.12.3. Ensaio de Expansão

Após concluída a preparação do corpo de prova, retira-se o disco espaçador, inverte-se o


cilindro e coloca-se a base perfurada na extremidade oposta. No espaço vazio deixado pelo disco
espaçador encaixa-se um dispositivo com extensômetro a fim de se determinar as medidas de
expansão sofridas pelo solo.
São colocados também sobre o corpo de prova um contrapeso não inferior a 4,5kgf que
simulará o peso do pavimento a ser construído sobre este solo. O conjunto desta forma preparado
é colocado num tanque d'água por um período de quatro dias. Durante este período, são feitas
leituras no extensômetro de 24 em 24 horas.

Algumas especificações adotadas para os solos a serem utilizados na construção de


pavimentos flexíveis são:

- Subleitos: Expansão < 3%


- Subbases: Expansão < 2%

9.12.4. Determinação do CBR ou ISC

O Índice de Suporte Califórnia representa a capacidade de suporte do solo se comparada


com a resistência à penetração de uma haste de cinco centímetros de diâmetro em uma camada de
pedra britada, considerada como padrão (CBR = 100%).
O ensaio é realizado colocando-se o molde cilíndrico (corpo de prova e contrapeso) em
uma prensa, onde se fará penetrar um pistão de aço a uma velocidade controlada e constante,
99

medindo-se as penetrações através de um extensômetro ligado ao pistão, como demonstra a fig.


9.20. Três corpos de prova são preparados na umidade ótima com 12, 26 e 55 golpes,
determinando-se o valor de γd obtido para cada corpo de prova. Após a imersão em água durante
quatro dias, mede-se, para cada corpo de prova, a resistência à penetração de um pistão com φ = 5
cm, a uma velocidade de 1,25 mm/min, para alguns valores de penetração pré-determinados
(0,64mm; 1,27; 1,91; 2.54; 3,81; 5,08mm; etc.).

Os valores de resistência ao puncionamento assim obtidos, para os valores de penetração


de 0,1" e 0,2", são expressos em percentagem das pressões padrão (correspondentes a um ensaio
realizado com pedra britada), sendo que o CBR é então calculado através das relações abaixo,
adotando-se o maior valor encontrado para cada corpo de prova. Nas eqs. 9.3 e 9.4, os valores das
pressões estão expressos em kgf/cm2, sendo 70 kgf/cm2 o valor da pressão padrão para uma
penetração de 0,1" e 105 kgf/cm2 o valor da pressão padrão para uma penetração de 0,2".

pressão calculada (9.3)


CBR= ⋅100
70

pressão calculada
CBR= ⋅100 (9.4)
105

Com os valores obtidos dos três corpos de prova traça-se o gráfico apresentado na fig.
9.21. O valor do Índice de Suporte Califórnia é determinado como sendo igual ao valor
correspondente a 95% do γdmax determinado para a energia do Proctor Modificado. O valor de
Índice de Suporte Califórnia assim obtido é utilizado para avaliar as potencialidades do solo para
uso na construção de pavimentos flexíveis. A eq. 9.5, por exemplo, apresenta uma correlação
empírica utilizada para se estimar, a partir do I.S.C., o módulo de elasticidade do solo.

E = 65(ISC)0,65 (kgf/cm2) (9.5)


100

Figura 9.20 - Equipamento utilizado na determinação do ISC ou CBR. Apud Vargas


(1977).

γd
55

26

95 % de γdmax
12

I.S.C I.S
.C
Figura 9.21 - Determinação do I.S.C.
101

10. INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO.

10.1. Introdução

Qualquer projeto de engenharia, por mais modesto que seja, requer o conhecimento
adequado das características e propriedades dos solos onde a obra irá ser implantada. As
investigações de campo e laboratório requeridas para obter os dados necessários para responder a
essas questões são chamadas de exploração do subsolo ou investigação do subsolo.

Os principais objetivos de uma exploração do subsolo são:


 determinação da profundidade e espessura de cada camada do solo e sua extensão na
direção horizontal;
 determinação da natureza do solo: compacidade dos solos grossos e consistência dos
solos finos;
 profundidade da rocha e suas características (litologia, mergulho e direção das
camadas, espaçamento das juntas, planos de acamamento, estado de decomposição);
 localização do nível d'água (NA);
 obtenção de amostras (deformadas e/ou indeformadas) de solo e rocha para
determinação das propriedades de engenharia;
 determinação das propriedades "in situ" do solo por meio de ensaios de campo.

O programa de investigação do subsolo deve levar em conta o tipo e a importância da obra


a ser executada. Isso quer dizer que, determinadas estruturas como túneis, barragens e grandes
edificações exigem um conhecimento mais minucioso do subsolo do que aquele necessário à
construção de uma pequena residência térrea, por exemplo. É importante ressaltar, que mesmo
para estruturas de pequeno porte é extremamente importante o conhecimento adequando do
subsolo sobre qual está se trabalhando, pois a negligência na obtenção dessas informações podem
conduzir a problemas na obra com prejuízos de tempo e recursos para recuperação. Usualmente, a
estimativa de custo de um programa de investigação do subsolo está entre 0,5 a 1% do custo da
construção da estrutura, sendo a percentagem mais baixa referente aos grandes projetos e projetos
sem condições críticas de fundação e a percentagem mais alta ligada a projetos menores e com
condições desfavoráveis.
Um programa de investigações deve ser executado em etapas, quais sejam:

a) Reconhecimento: nesta etapa procura-se obter todo o tipo de informação necessária ao


desenvolvimento do projeto, através de documentos existentes (mapas geológicos,
fotos aéreas, literatura especializada) e visita ao local.
b) Prospecção: obtém-se, nesta etapa, as características e propriedades do subsolo, de
acordo com as necessidades do projeto ou do estágio em que a obra se encontra.
Assim, a prospecção pode ser divida em fase preliminar, complementar e localizada. A
fase de prospecção preliminar deve fornecer os dados suficientes para a localização das
estruturas principais e estimativas de custos. Nesta fase serão executados os ensaios in
situ e retirada de amostras para investigação por meio de ensaios de laboratório, etc.
Na fase complementar, como o próprio nome já indica, são feitas investigações
adicionais com o objetivo de solucionar problemas específicos. Finalmente, a fase de
prospecção localizada, deverá ser realizada quando as informações obtidas nas fases
anteriores são insuficientes para um bom desenvolvimento do projeto. Usualmente, os
métodos de prospecção do subsolo para fins geotécnicos usados na etapa de
prospecção se classificam em métodos diretos (poços, trincheiras, sondagens a trado,
sondagens de simples reconhecimento, rotativas e mistas), métodos semidiretos (vane
test, CPT e ensaio pressiométrico) e métodos indiretos ou geofísicos. Além desses,
102

temos a coleta de amostras indeformadas por meio de blocos indeformados ou por


meio de amostradores de parede fina. A seguir esses métodos serão apresentados.
c) Acompanhamento: Esta etapa tem a finalidade de avaliar o comportamento previsto e
o desempenhado pelo solo, sendo geralmente feita através de instrumentos instalados
antes e durante a construção da obra para a medida da posição do nível d'água, da
pressão neutra, tensão total, recalque, deslocamento, vazão e outros.

10.2. Métodos de prospecção geotécnica

10.2.1. Métodos diretos

São perfurações executadas no subsolo destinadas a observar diretamente as diversas


camadas do solo, em furos de grande diâmetro, ou obter amostras ao longo do perfil, em furos de
pequenos diâmetros. Os métodos diretos podem ser classificados em manuais (poços, trincheiras e
sondagem a trado) e mecânicos (sondagem a percussão, rotativa e mista).

10.2.1.1. Poços

Os poços são perfurados manualmente com o auxílio de pás e picaretas, sendo a


profundidade máxima limitada pela presença do nível d'água ou desmoronamento das paredes
laterais. O diâmetro mínimo do poço deve ser da ordem se 60cm, para permitir a movimentação
do operário dentro do mesmo. Os poços permitem, através do perfil exposto em suas paredes, um
exame visual das camadas do subsolo e de suas características de consistência e compacidade,
bem como, a coleta de amostras indeformadas na forma de blocos (ver item 10.2.1.7).

10.2.1.2. Trincheiras

São valas escavadas mecanicamente por meio de escavadeiras. Permitem um exame visual
e contínuo do subsolo, segundo uma direção e permitem, também, coleta de amostras deformadas
e indeformadas.

10.2.1.3. Sondagem à trado

A sondagem a trado é uma perfuração executada manualmente no subsolo com o auxílio


de trados, (fig. 10.1). A perfuração é feita com os operadores girando a barra horizontal acoplada à
haste vertical do trado, em cuja extremidade oposta encontra-se o elemento cortante (broca ou
cavadeira). A cada 5 ou 6 rotações, o trado deve ser retirado a fim de remover o material
acumulado em seu corpo, o qual deverá ser colocado em sacos plásticos devidamente etiquetados.
Esse material pode ser usado no laboratório para identificação visual e táctil das camadas e
determinação da umidade do solo.

A sondagem a trado é, usualmente, utilizada em investigações preliminares do subsolo, até


uma profundidade da ordem de 10m e acima do NA. Tem como principal vantagem a de ser um
procedimento simples, rápido e econômico. Porém as informações obtidas são apenas do tipo de
solo, espessura de camada e posição do lençol freático, sendo também possível a coleta de
amostra deformadas e acima do NA. Esse processo de perfuração não deve ser usado para solos
contendo camadas de pedregulhos, matacões, areias muito compactas e solos abaixo do nível
d'água.
103

Figura 10.1 - Tipos de trados.

10.2.1.4. Sondagem a percussão ou de simples reconhecimento (SPT)

É o método de sondagem mais empregado no Brasil, principalmente em prospecção do


subsolo para fins de fundações. Permite tanto a retirada de amostras deformadas e determinação
do NA, quanto a medida do índice de resistência a penetração dinâmica (SPT), o qual é usado
para obter, através de correlações, o comportamento de resistência ao cisalhamento do solo, dentre
diversos outros parâmetros do solo. Além disso, é um ensaio de baixo custo, simples de executar,
permitindo, ainda, a obtenção de informações do estado de consistência e compacidade dos solos.
O procedimento do ensaio é normalizado pela ABNT através da norma NBR 6484/80. O
equipamento para execução da sondagem à percussão é constituído de um tripé equipado com
roldanas e sarilho que possibilita o manuseio de hastes metálicas ocas, em cujas extremidades
fixa-se um trépano biselado (faca cortante) ou um amostrador padrão (fig. 10.2). Fazem parte do
equipamento, tubos metálicos com diâmetro nominal superior ao da haste de perfuração, coxim de
madeira, martelo de ferro com 65kg para cravação das hastes e dos tubos de revestimento, sendo
este último destinado a revestir as paredes do furo a fim de evitar instabilidade. O equipamento
possui, ainda, um conjunto motor-bomba para circulação de água no avanço da perfuração, bem
como amostrador de parede grossa, trados cavadeira e espiral e trépanos.

Figura 10.2 - Equipamento de sondagem à percussão - SPT.


104

O amostrador padrão ou amostrador Terzaghi-Peck, o único que deve ser usado no ensaio,
possui três partes, engate, corpo e sapata. É constituído de tubos metálicos de parede grossa com
corpo bipartido e ponta em forma de bisel (fig. 10.3). O engate tem dois orifícios laterais para
saída da água e ar e contém, interiormente, uma válvula constituída por esfera de aço inoxidável.
A fig. 10.4 mostra um corte do amostrador padrão indicando suas principais dimensões.

Figura 10.3- Amostrador padrão de parede grossa - vista. Apud Nogueira (1995)

Figura 10.4- Amostrador padrão de parede grossa - corte.

Em linhas gerais, o procedimento de execução de sondagens de simples reconhecimento é


um processo repetitivo, de modo que em cada metro de solo, são realizadas três operações,
abertura do furo (perfuração), ensaio de penetração e amostragem, as quais serão comentadas a
seguir. Em cada metro, faz-se, inicialmente, a realização do ensaio de penetração dinâmica e
amostragem, envolvendo 45 cm de solo ao total, sendo posteriormente realizado o avanço por
escavação do furo por um comprimento igual a 55cm. A fig. 10.5 mostra um esquema de
execução da sondagem. Nos primeiros 45 cm é conveniente que o ensaio de penetração não seja
realizado.

Abertura
100 Trado concha

45 Ensaio
100
55 Abertura

Figura 10.5- Esquema de realização do ensaio de SPT.


105

a) Perfuração: A perfuração é iniciada com o trado cavadeira de 100mm de diâmetro, até


a profundidade de 1 metro, instalando-se o primeiro segmento do tubo de revestimento. A partir
do segundo metro e até atingir o nível d'água a perfuração deverá ser feita com trado espiral.
Abaixo do NA, a abertura do furo passa a ser feita por processo de lavagem por circulação de
água, usando o trépano como ferramenta de escavação. A lama, resultante da desagregação do
solo e água injetada, retornará à superfície pelo espaço anelar formado pelo tubo de revestimento
e hastes de perfuração, sendo depositada em um reservatório próprio. Durante a lavagem, o
mestre sondador ficará observando, na saída, as amostras de lama para identificar possível
mudança de camada de solo. O processo de lavagem por circulação de água permite um rápido
avanço do furo, sendo por isso preferido pelas equipes de perfuração. Deve-se ressaltar contudo,
que esse procedimento não deve ser usado acima do NA, pois dificulta a determinação do nível
d'água e altera as características geotécnicas dos solos. Atingida a cota de ensaio, por qualquer
dos procedimentos, o furo deverá estar bem limpo para a realização do ensaio de penetração.
b) Ensaio de penetração: Atingida a cota de ensaio, conecta - se o amostrador padrão às
hastes de perfuração, posicionando-o no fundo do furo de sondagem. Em seguida, a cabeça de
bater é posicionada no topo da haste e o martelo é apoiado suavemente sobre essa peça, anotando-
se a eventual penetração do amostrador. A partir de um ponto fixo qualquer, por exemplo o tubo
de revestimento, marca-se na haste de perfuração um segmento de 45cm dividido em três trechos
de 15cm. O ensaio de penetração consiste na cravação do amostrador no solo através de quedas
sucessivas do martelo de 65kg, erguido até a altura de 75cm e deixado cair em queda livre, como
mostrado na fig. 10.6. Procede-se a cravação de 45cm do amostrador, anotando-se,
separadamente, o número de golpes necessários à cravação de cada 15cm do amostrador.

martelo
75cm

Cabeça de 15cm
bater 15cm
15cm

revestimento

amostrador

Figura 10.6 - Esquema de realização do ensaio de SPT.


O resultado do ensaio de penetração será expresso pelo índice de resistência à penetração
dinâmica (N), conhecido como SPT (“Standard Penetration Test”). O SPT é dado pela soma do
número de golpes necessários para cravar os 30cm finais do amostrador padrão.
c) Amostragem: A cada metro de profundidade, são coletadas amostras pela cravação do
amostrador padrão com o objetivo de identificar o solo "in situ" e/ou, posteriormente, no
laboratório para esclarecimento de dúvidas que por ventura venha a ocorrer. As amostras obtidas
são deformadas e comprimidas em função do impacto de cravação e são adequadas apenas para
caracterização e identificação táctil visual do solo.
106

Com a amostra colhida no amostrador e com o valor o SPT (soma dos número de golpes
para cravar os 30cm finais do amostrador) fazem-se a identificação e classificação do solo, de
acordo com a ABNT - NBR 7250/80, utilizando testes tácteis-visuais com a finalidade de definir
as características granulométricas, de plasticidade, presença acentuada de mica, matéria orgânica
e cores predominantes. De acordo com a norma acima, o nome dado ao solo não deverá conter
mais do que duas frações e sugere as cores: branco, cinza, preto, marrom, amarelo, vermelho,
roxo, azul e verde, podendo-se usar claro e escuro, para o máximo de duas cores e o termo
variegado quando não houver duas cores predominantes.
Com o valor do SPT obtido em cada metro, os solos são classificados, quanto a
compacidade (solos grossos) e consistência (solos finos), conforme mostram as Tabelas 10.1 e
10.2. Nestas tabelas também estão apresentados os valores estimados de ângulo de atrito,
densidade relativa e resistência de ponta do cone (vide item 10.2.2.1), (qc), para os solos arenosos
e estimativa da resistência a compressão simples (Su), para os solos argilosos.

Tabela 10.1 - Classificação segundo o SPT, para solos arenosos


Solo SPT Designação Correlações
qc(Mpa) φ (°) Dr
≤4 Fofa <2 < 30 < 0,2
5 - 10 Pouco compacta 2-4 30 - 35 0,2 - 0,4
Areias e siltes arenosos 11 - 30 Medianamente compacta 4 - 12 35 - 40 0,4 - 0,6
31 - 50 Compacta 12 - 20 40 - 45 0,6 - 0,8
>50 Muito compacta > 20 > 45 > 0,8

Tabela 10.2 - Classificação segundo o SPT, para solos argilosos


Solo SPT Designação Su (kgf/cm2)
≤2 Muito mole < 0,25
3-4 Mole 0,25 - 0,5
Argilas e siltes 5-8 Média 0,5 - 1,0
argilosos 9 - 15 Rija 1,0 - 2,0
16 - 30 Muito rija 2,0 - 4
>30 Dura > 4,0

As correlações existentes entre o SPT e a consistência das argilas, principalmente as


argilas sensíveis, podem estar sujeitas a erros, em virtude da mudança de comportamento da
argila em função de cargas dinâmicas e estáticas, provocando o amolgamento (destruição da
estrutura) e consequentemente modificando sua resistência à penetração. Além disso, é importante
ressaltar que os valores de N podem ser alterados por fatores ligados ao equipamento usado,
técnica operacional, bem como erros acidentais. Os fatores ligados ao equipamento são:
 Forma, dimensões e estado de conservação do amostrador. O amostrador deve ter,
rigorosamente, as dimensões indicadas pela norma. Quanto maior a sua seção ou mais
espessa sua parede, maiores serão os índices de resistência à penetração obtidos.
Conforme discutido na capítulo de origem e formação dos solos, o uso do equipamento
de SPT em solos residuais jovens ou saprolíticos pode acarretar na perda da afiaçãodo
bisel do amostrador, resultando em uma maior dificuldade de cravação do mesmo e na
obtenção de valores de SPT superiores aos devidos para estas camadas.
 Estado de conservação das hastes e uso de hastes de diferentes pesos. Hastes com
massa maior levam a índices maiores, por absorver uma maior quantidade da energia
aplicada. As hastes devem ter massa variando entre 3,2 a 4,4kg/m.
 Martelo não calibrado e natureza da superfície de impacto (ferro sobre ferro). O coxim
de madeira deve estar, sempre, em boas condições, não deverá ocorrer golpes metal-
metal.
107

 Diâmetro do tubo de revestimento: quanto maior o diâmetro do tubo de revestimento


maior a alteração que o solo, abaixo da ponta do tubo, poderá sofrer. Os tubos de
revestimento devem ser de aço, com diâmetro nominal interno de 67mm ou 76mm.

Os fatores ligados a técnica de operação são os seguintes:


 Variação da energia de cravação: o martelo deve cair em queda livre de uma altura
constante (75cm). É muito comum, com o transcorrer do dia, haver uma tendência,
devido ao cansaço, da altura de queda ir diminuindo e com isso aumentando-se os
valores dos índices;
 Processo de avanço da sondagem, acima e abaixo do nível d'água subterrâneo.
Conforme já comentado, a lavagem por circulação de água somente é permitida abaixo
do NA, devendo-se acima do NA usar o trado espiral.
 Má limpeza do furo. Presença de material no interior da perfuração. Furo não alargado
suficientemente para a livre passagem do amostrador.
Quanto aos erros acidentais, refere-se a erros na contagem do número de golpes, sendo a
maioria cometidos devido ao baixo nível de escolaridade do pessoal do grupo. São os mais
difíceis de serem constatados.
Os resultados de uma sondagem deverão ser apresentados em forma de relatório contendo
o perfil individual de cada furo, com as cotas, diâmetro do tubo de revestimento, posições onde
foram recolhidas amostras, posição do N.A., resistência a penetração (SPT) e descrição do solo,
bem como um corte longitudinal (seção), onde podem ser evidenciadas as seqüências prováveis
das camadas do subsolo. O relatório fornecerá dados gerais sobre o local e o tipo de obra,
descrição sumária do equipamento e outros dados julgados importantes. A fig. 10.7 apresenta um
perfil individual de sondagem à percussão e a fig. 10.8, um perfil associado do subsolo. Na figura
10.8, o termo P/45 indicam uma penetração de 45 cm devida apenas ao peso próprio da
composição, sem a necessidade de execução de qualquer golpe

Considerações sobre o ensaio SPT

Critérios de paralisação da sondagem

a) quando em 3m sucessivos, se obtiver índices de penetração maiores do que 45/15


(quarenta e cinco golpes para os quinze primeiros cm de penetração);
b) quando, em 4m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/15 e 45/30
c) quando, em 5m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/30 e 45/45.
d) Caso a penetração seja nula em 5 impactos do martelo, o ensaio deverá ser
interrompido, não havendo necessidade de obedecer o critério estabelecido acima. No entanto, se
esta situação ocorrer antes de 8,0m de profundidade, a sondagem deverá ser deslocada até o
mínimo de 4 vezes em posições diametralmente opostas, distantes 2,0m da sondagem inicial.
e) Atingida a condição de impenetrável à percussão anteriormente descrita, a mesma
poderá ser confirmada pelo ensaio de avanço por lavagem, por 30minutos, anotando-se os
avanços para cada período de 10 minutos. A sondagem será dada como encerrada quando nessa
operação forem obtidos avanços inferiores a 5cm em cada período de 10minutos, ou quando após
a realização de 4 ensaios consecutivos não for alcançada a profundidade de execução do ensaio
penetrométrico seguinte.
108

Nº DOC.: 242/01

PERFIL INDIVIDUAL DE SONDAGEM A PERCUSSÃO DATA: 13/09/01


REV.: 0

CLIENTE: DATA INÍCIO:

OBRA: DATA FINAL:

LOCAL: SONDAGEM: SP - 14
PEN ETRAÇÃO (GOLPES/30cm ) PERFIL GRÁFICO N ÍVEL COTA PROF. DA

N º GOLPES GRÁFICO E DE (m ) CAMADA CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL

1º e 2º 2º e 3º N º DE AMOSTRAS ÁGU A * (M)


1 Silte argiloso com areia fina e pedregulhos, marrom.
0 0
0 (Provável aterro).

2 1
0,00 1,30
1
2 3 Silte argiloso com areia fina e pedregulhos, marrom
3 2
2 avermelhado, mole a médio.
7 8 N 0,00 2,60
ã 3
3 4 Silte arenoso (areia fina e média), com pedregulhos,
o
variegado (vermelho), medianamente compacto a
10 11
4 e compacto.
5 4
n
18 22 c
5 o 0,00 5,00 5
6 n
Profundidade (m)

6 7 tr Idem, pouco a medianamente compacto.


6
a 6
7 d
13 15 7 o
0,00 6,80
8 7

8
Silte argiloso com areia fina, variegado (róseo), rijo.
13 16
8
9
9
15 15
9
10 10
12 13
10
11 11
0,00 10,60
15 15
12 11
12 Silte argiloso com areia fina e pedregulhos,
variegado (róseo e vermelho), rijo a duro. (Alteração
14 15 de rocha).
13 12
13
23 27
14
13
14
26 28 15
0 10 20 30 40 14
15 0,00
N1 e N2 (SPT) 14,45
29 31
15

16

17 Limite de Sondagem - 14,45m

18 Sondagem paralizada a pedido do

19 Proprietário

20

NÍVEL D'ÁGUA (m) CARACTERÍSTICA DA COMPOSIÇÃO DE PE RFU RAÇÃO


SILTE ARGILA PEDREGULHO AREIA
APÓS 24 HORAS: RE VE STI MEN TO φ in t. 76,2 m m

OBS.: AMOSTRADOR: φ IN TERN O:34,9mm / φ EXTERN O: 50,8 m m

PESO: 65 Kg - ALTU RA DE QU EDA: 75 cm

ENGº. RESPONSÁVEL: / /

Figura 10.7 - Perfil individual de sondagem .


109

Figura 10.8 - Perfil associado de sondagem .

Espaçamento entre cada sondagem


O espaçamento ou o número de sondagens e sua distribuição em planta dependerá do tipo,
tamanho da obra e da fase em que se encontra a investigação do subsolo. Praticamente, é
impossível estipular o espaçamento entre as sondagens antes de uma investigação inicial, pois
este será em função da uniformidade do solo. Quando a estrutura tem sua localização bem
definida dentro do terreno, a ABNT (NBR 8036) sugere o número mínimo de sondagens a serem
realizadas, em função da área construída, conforme mostra a Tabela 10.3. Os furos devem ser
internos à projeção da área construída. Quando as estruturas não estiverem ainda localizadas, o
número de sondagens deve ser fixado, de modo que, a máxima distância entre os furos seja de
100m e cobrindo, uniformemente, toda a área. A sondagem deverá ser executada até o
impenetrável ao amostrador ou até a cota mais baixa da isóbara igual a 0,10p, estimada pelo
engenheiro projetista da fundação, para o caso de fundações rasas.

Observação do nível d'água

Durante a execução da sondagem são feitas as determinações do nível d'água, registando-


se a sua cota e/ou a pressão que se encontra em campo (verificação da existência de
artesianismo). Quando detectar um grande aumento da umidade do solo retirado com o trado
helicoidal, a perfuração deverá ser interrompida e passa-se a observar a elevação da água no furo
110

até a sua estabilização, efetuando-se leituras a cada 5 minutos, durante 30 minutos. As leituras são
efetuadas utilizando um pêndulo ou pio elétrico. Sempre que houver paralisação dos serviços,
antes do reinicio é conveniente uma verificação da posição do nível d'água.

Tabela 10.3 - Número mínimo de sondagens, segundo a ABNT.

Área construída (m2) No. Mínimo de furos


200 2
200 - 400 3
400 - 600 3
600 - 800 4
800 - 1000 5
1000 - 1200 6
1200 - 1600 7
1600 - 2000 8
2000 - 2400 9
> 2400 a critério

10.2.1.5. Sondagem rotativa

A sondagem rotativa é empregada na perfuração de rochas, matacões e solos de alta


resistência. Tem como objetivo principal a obtenção de testemunhos (amostras de rocha) para
identificação das descontinuidades do maciço rochoso, mas permite ainda a realização de ensaios
"in situ", como por exemplo o ensaio de perda d'água ou infiltração.
O equipamento para a realização da sondagem rotativa compõe-se de uma haste metálica
rotativa dotada, na extremidade, de uma ferramenta de corte, denominada coroa, bem como de
barriletes, conjunto motor-bomba, tubos de revestimento e sonda rotativa.
As sondas rotativas imprimem o movimento de rotação, recuo e avanço nas hastes.
Através desse movimento, a coroa, que é uma peça constituída de aço especial com incrustações
de diamante ou vídia nas extremidades, vai desgastando a rocha e permitindo a descida do tubo
de revestimento e alojamento do testemunho no interior do barrilete. As hastes são ocas, para
permitir a injeção de água no fundo da escavação a fim de refrigerar a coroa e carregar os detritos
da perfuração até superfície. A utilização de tubos de revestimento é indispensável quando as
paredes do furo apresentarem-se instáveis, com tendência ao desmoronamento, pondo em risco a
coluna de perfuração. Os revestimentos também são necessários quando se atravessa uma
formação fraturada ou muito permeável, causando perdas consideráveis de água de circulação. Os
revestimentos são tubos de aço com paredes finas mas de elevada resistência mecânica, com
comprimento de 1 a 3m, rosqueados nas extremidades.
A execução da sondagem rotativa consiste basicamente na realização de manobras
consecutivas de movimento rotativo para o corte da rocha. O comprimento da manobra é
determinado pelo comprimento do barrilete, em geral 1,5 a 3,0m. Terminada a manobra, o
barrilete é retirado do furo e os testemunhos são cuidadosamente retirados e colocados em caixas
especiais com separação e obedecendo a ordem de avanço da perfuração.
Os resultados da sondagem são apresentados na forma de um perfil individual de cada
furo, contendo cotas e descrição dos testemunhos. A descrição dos testemunhos inclui a
classificação litológica (gênese, mineralogia, textura e cor), o estado de alteração da rocha e o grau
de fraturamento.
O estado de alteração é um fator qualitativo e subjetivo para expressar o grau de alteração
da rocha, a saber: rocha extremamente alterada ou decomposta, muito alterada, medianamente
alterada, pouco alterada.
111

O grau de fraturamento é expresso através do número de fragmentos por metro, o qual é


obtido dividindo-se o número de fragmentos recuperados em cada manobra pelo comprimento da
manobra. O critério adotado na classificação é o seguinte:
- ocasionalmente fraturada: 1 fratura/metro
- pouco fraturada: 1 - 5 fraturas/metro
- medianamente fraturada: 6 - 10 fraturas/metro
- muito fraturada: 11 - 20 fraturas/metro
- extremamente fraturada: > 20 fraturas/metro
- em fragmentos: pedaços de diversos tamanhos

Atualmente tem-se utilizado um parâmetro chamado RQD (Rock Quality Designation),


para expressar a qualidade das rochas. O RQD é dado pela relação entre a soma dos
comprimentos dos testemunhos com mais de 10cm dividido pelo comprimento da manobra. A
Tabela 10.4 apresentada a classificação da rocha em função do RQD.

Tabela 10.4 - Classificação da qualidade do maciço em função do RQD


RDQ Qualidade do
Maciço
1 - 25% Muito fraco
25 - 50% Fraco
50 - 75% Regular
75 - 90% Bom
90 - 100% Excelente

10.2.1.6. Sondagem mista

Sondagem mista é aquela em que são executados os processos de percussão associados ao


processo rotativo. Os dois métodos são alternados de acordo com as camadas do terreno. É
recomendada para terrenos com presença de blocos de rocha, matacões, sobrejascentes a camadas
de solo. A maioria dos casos de sondagem mista inicia-se, pelo método à percussão, atingindo o
impenetrável por esse método, reveste-se o furo e passa-se ao processo rotativo. Quando ocorre
novamente a mudança de material (rocha para solo), interrompe-se a manobra e o furo prossegue
por percussão com medida do índice de resistência à penetração. Os resultados são apresentados
conforme já comentado anteriormente para cada caso.

10.2.1.7. Amostragem

A amostragem é o processo de retirada de amostras de um solo com o objetivo de avaliar


as propriedades de engenharia do mesmo. As amostras obtidas podem ser de dois tipos: amostras
deformadas e indeformadas.
Amostras deformadas. As amostras deformadas são aquelas que conservam as
composições granulométrica e mineral do solo "in situ" e se possível sua umidade natural,
entretanto, a sua estrutura foi perturbada pelo processo de extração. São obtidas por meio de pás,
picaretas, trados e amostradores de parede grossa. As amostras deformadas são utilizadas para
execução dos ensaios de caracterização do solo (granulometria, limites de consistência, massa
específica dos sólidos), ensaios de identificação táctil - visual, ensaio de compactação e
moldagem de corpos de prova, sob determinadas condições de grau de compactação e teor de
umidade.
Amostras indeformadas. São aquelas que conservam tanto as composições granulométrica
e mineral do solo, quanto o teor de umidade e a estrutura. O termo indeformada quer dizer que a
112

amostra foi submetida ao mínimo de perturbação possível, pois qualquer método amostragem
sempre produz uma modificação no estado de tensão o qual está submetido essa amostra. As
amostras indeformadas são usadas na execução de ensaios de laboratório para obtenção dos
parâmetros de resistência ao cisalhamento e compressibilidade do solo. Podem ser obtidas por
meio de blocos indeformados ou por meio de amostradores de parede fina.
A amostragem por meio de blocos é, geralmente, realizada na superfície do terreno, em
taludes ou no interior de um poço, acima do nível de água. A retirada de um bloco de solo
prismático indeformado segue esquema apresentado na fig. 10.9. O molde metálico (30x30cm) é
cravado no solo e efetua-se a escavação em torno e na base do mesmo, até separar o bloco do
maciço. Após a retirada do bloco, aplica-se uma fina camada de parafina, recobrindo-o com um
tecido poroso (tela, estopa), e em seguida aplica-se uma nova camada de parafina. Essas
operações tem o objetivo de preservar a umidade e a estrutura do bloco. Os blocos devem ser
devidamente identificados e colocados em caixas contendo serragem para serem enviados para o
laboratório, onde devem ser mantidos em câmara úmida até a utilização.

Figura 10.9 - Retirada de amostra indeformada .

Para obtenção de amostras indeformadas em maiores profundidades, utilizam-se os


amostradores de parede fina, construídos de um tubo de latão ou aço de diâmetro interno não
inferior a 50mm e com características próprias para garantir a obtenção de amostras
indeformadas. Para um amostrador ser classificado como de parede fina ele deve atender os
seguintes requisitos:
Folga interna: quando o amostrador é cravado no solo, a amostra cortada sofre um alívio
de tensões e há uma tendência a expansão, sendo que com isso se desenvolverá um atrito entre a
parede interna do amostrador e a amostra. Para que esse atrito seja diminuído, o diâmetro da
ponta (dp ) do amostrador deverá ser menor que o interno (d i) (fig. 10.10), definindo uma folga
interna (Fi) entre 1 a 3%, dada pela eq. 10.1. O diâmetro da ponta sendo menor, ajuda a apoiar a
amostra, facilitando a retirada do tubo. Uma folga maior, facilitaria a entrada da amostra no
amostrador, mas aumentaria o risco de eventuais choques entre a amostra e o amostrador.

di − d p
Fi = < 1 a 3%
dp
(10.1)

Relação de áreas: para minimizar a perturbação estrutural do solo, a parede do tubo não
deve ser grossa, não devendo também ser muito fina, para que, não ocorra flambagem ou
amassamento do tubo durante a cravação. Para satisfazer essas exigências deve se ter uma relação
de áreas, dado pela eq. 10.2, com valor inferior a 10%. Nesta equação, d e corresponde ao diâmetro
externo do amostrador.
2 2
de − d i
Ra = 2
<10 %
di (10.2)

Porcentagem de recuperação: o comprimento da amostra obtido nem sempre é igual ao


comprimento cravado do amostrador. Em geral, as amostras sofrem um encurtamento. Para uma
113

amostra ser considerada como indeformada a percentagem de recuperação, dada pela eq. 10.3,
deve estar entre 95 e 100%. Na eq. 10.3, H é o comprimento cravado do amostrador e L
corresponde ao comprimento da amostra.

L (10.3)
R= ⋅100
H

di

dp

de

Figura 10.10 - Amostrador de parede fina .

Existem diversos tipos de amostradores de parede fina (shelby, pistão, sueco, Deninson,
etc), sendo cada um deles indicado para uma determinada condição e tipo de solo. Os
amostradores mais usuais são descritos a seguir:

a) Amostrador Shelby: é composto de um tubo de latão ou aço inoxidável de espessura


reduzida, com diâmetro de 50mm para permitir a utilização nos furos de sondagem de simples
reconhecimento. O tubo é ligado a um engate provido de uma janela e uma válvula de alívio com
esfera de aço, que tem a função de permitir a saída de água de dentro do tubo durante a cravação
e diminuir a pressão hidrostática aplicada ao topo da amostra, durante a retirada do amostrador
(fig. 10.11).

Figura 10.11 - Amostrador de parede fina tipo shelby.


114

O amostrador tipo shelby é usado para obtenção de amostras indeformadas de solos


coesivos com consistência mole a média. Esse amostrador é o mais antigo e o mais largamente
utilizado, tendo servido como base para desenvolvimento dos outros tipos de amostradores.

b) Amostrador de Pistão: é indicado para solos coesivos muito moles, siltes argilosos e
areias. O amostrador é constituído de um pistão ou êmbolo que corre dentro do tubo de parede
fina melhorando bastante as condições de amostragem, atingindo com facilidade 100% de
recuperação da amostra (comprimento da amostra igual ao comprimento cravado do amostrador),
mesmo em solos de difícil amostragem. A fig. 10.12 apresenta o amostrador de pistão.

Fig1ura 10.12 - Amostrador de parede fina tipo pistão.

c) Amostrador Sueco: é também constituído de um pistão, o qual permanece fixo, durante


o processo de amostragem. No pistão é fixado tiras de papel alumínio que são montadas em
carretéis, dentro de uma peça especial e que se distribuem ao longo de todo o perímetro do
amostrador (fig. 10.13).

Figura 10.13 - Amostrador de parede fina tipo sueco.


115

O papel alumínio reduz o atrito entre a amostra e as paredes do tubo permitindo a obtenção
de amostras com vários comprimentos. Esse amostrador permite uma sondagem contínua do
subsolo.

d) Amostrador Denison: é constituído de dois cilindros, sendo um interno e outro externo


rotativo, dotado de sapata cortante. O cilindro interno é destinado a receber e acondicionar a
amostra de solo, cortada por uma coroa de vídia solidária ao tubo externo (fig. 10.14). A amostra é
suportada por uma mola retentora. A perfuração é feita por circulação de lama, que também
permite uma maior estabilização das paredes do furo. Este amostrador é destinado a obtenção de
amostras em solos resistentes, em que não se consegue amostra de boa qualidade por cravação.

Figura 10.14 - Amostrador de parede fina tipo Deninson.

10.2.2. Métodos semidiretos


Os métodos semidiretos de prospecção são aqueles que não permitem coleta de amostras e
visualização do tipo de solo, sendo as características de comportamento mecânico, obtidas por
meio de correlações com grandezas medidas na execução do ensaio. Foram desenvolvidos com o
intuito de contornar as dificuldades de obtenção de amostras de boa qualidade em certos tipos de
solos, como areias puras ou submersas e argilas sensíveis de consistência muito mole. Os métodos
semidiretos são conhecidos como ensaios "in situ", que tem por vantagem minimizar as
perturbações causadas pela variação do estado de tensões e distorções devidas ao processo de
amostragem, bem como evitar os choques e vibrações decorrentes do transporte e subsequente
manuseio das amostras. Além disso, o efeito da configuração geológica do terreno está presente
nesses ensaios "in situ" permitindo uma medida mais realista das propriedades físicas do solo.
Dentre os ensaios "in situ" mais empregados no Brasil destacam-se o ensaio de penetração
estática (CPT), o ensaio de "vane test" ou palheta e o ensaio pressiométrico. O ensaio de CPT e
"vane test" têm por objetivo a determinação da resistência ao cisalhamento do solo, enquanto o
ensaio pressiométro visa estabelecer uma espécie de curva tensão-deformação para o solo
investigado. A seguir será detalhado cada um desses ensaios.

10.2.2.1. Ensaio de penetração estática - CPT.


O ensaio de penetração contínua ou estática do cone, também conhecido como deep-
sounding, foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de estacas e está
normalizado pela ABNT através da norma NBR 3406.
116

O ensaio de CPT permite medidas quase contínuas da resistência de ponta e lateral devido
à cravação de um penetrômetro no solo, as quais, por correlações, permitem identificar o tipo de
solo, destacando a uniformidade e continuidade das camadas. Permite, também, determinar os
parâmetros de resistência ao cisalhamento e a capacidade de carga dos materiais investigados. É
um ensaio de custo relativamente baixo, rápido de ser executado, sendo portanto, indicado para a
prospecção de grandes áreas. Apresenta como desvantagens a não obtenção de amostras para
inspeção visual, a não penetração em camadas muito densas e com presença de pedregulhos e
matacões, as quais podem tornar os resultados extremamente variáveis e causar problemas
operacionais como deflexão das hastes e estragos na ponteira.
O equipamento para execução do ensaio de CPT consta de um cone de aço, móvel, com
um ângulo no vértice de 60° e área transversal de 10cm 2. O cone é acionado por hastes metálicas,
as quais transmitem o esforço estático de cravação produzido por macacos hidráulicos ou por
engrenagens que acionam duas cremalheiras (hastes dentadas). O movimento de subida e descida
são obtidos por intermédio das engrenagens movimentadas por sarillhos manuais (fig. 10.15). A
pressão de cravação é obtida por manômetros ou anéis dinamométricos, sendo geralmente
utilizados dois manômetros, um para altas pressões e outro para baixas pressões. O equipamento
tem normalmente uma capacidade de 10 toneladas.

Figura 10.15 - Equipamento para ensaio de CPT, com medição hidráulica e vista do cone
de penetração (Begeman).

O ensaio consiste em cravar o cone solidário a uma haste e medir o esforço de necessário à
penetração. São feitas medidas de resistência de ponta e total. Com o penetrômetro na cota de
ensaio, crava-se 4cm da ponta por meio uma haste interna. Em seguida, a luva (camisa) e a ponta
são cravados, numa extensão de aproximadamente 4cm, medindo-se a força usada para obtenção
da resistência total, ponta mais atrito lateral, desenvolvido ao longo do comprimento do cone (fig.
10.16a). Novamente, o penetrômetro é colocado na posição inicial, e as operações são
117

sucessivamente repetidas. A resistência lateral (ql) é obtida pela diferença entre a resistência total
e a de ponta (qc). A velocidade de cravação do cone deverá ser constante e da ordem de 2cm/seg.
A cada 4cm de profundidade, portanto, podem-se ter valores das resistências lateral e de ponta
que, lançados em um gráfico versus a profundidade toma o aspecto da fig. 10.17.

(a) (b)
Figura 10.16 - (a) Ensaio de CPT, cone de Begeman. (b) Esquema de cone elétrico

Figura 10.17 - Resultado de um ensaio de penetração contínua - CPT.


118

Os resultados do ensaio de cone, isto é as relações entre resistência de ponta (qc) e razão
de atrito (atrito lateral /resistência de ponta) permitem obter a classificação dos tipos de solos
encontrados, através do gráfico da fig. 10.18, apresentado por Schermertmann.

Figura 10.18 - Carta de classificação segundo Sherthamamn.

Os dados permitem obter, ainda, boas indicações das propriedades do solo, ângulo de atrito
interno de areias, e coesão e consistência das argilas. Foi Meyerhof (1956) quem inicialmente
propôs uma correlação do tipo qc = nN, entre a resistência de ponta (qc) e N número de golpes
para cravar 30cm finais do SPT. O autor acima sugeriu para as areias um n = 4. Com base nesta
relação foi elaborado o gráfico da fig. 10.19 que estabelece as características de resistência ao
cisalhamento e de deformabilidade de areias e argilas em função dos resultados do SPT e da
resistência de ponta do CPT. Entre as experiências brasileiras menciona-se a desenvolvida por
engenheiros do grupo “estaca franki”, que com base em grande número de ensaios, chegaram aos
valores de qc/N, apresentados na Tabela 10.5.
Hoje os ensaios de CPT são realizados tendo as medidas de resistência lateral e de ponta
feitas de forma automatizada. Isto permite, além de uma maior facilidade no armazenamento e
tratamento dos dados, uma execução mais contínua do ensaio. Também outras medidas estão
sendo acrescentadas ao ensaio, como medidas de pressão neutra, que permitem estimar
parâmetros hidráulicos e de adensamento dos solos estudados. Mais recentemente ainda, sondas
CPT vêm sendo dotadas de equipamentos para medir a resistividade do solo, sendo os dados
obtidos utilizados no diagnóstico de áreas contaminadas (vide fig. 10.16b).

Tabela 10.5 - Correlações entre N e qc.


Tipo de Solo qc/ N
Argila, argila siltosa, silte argilosos 3,5
Argila arenosa e siltos-arenosa 2,0
Silte arenoso 3,5
Areia argilosa 6,0
Areia 10,0
119

Figura 10.19 - Característica de resistência e deformabilidade em função do SPT e qc.


Modificado de De Lima (1983).
120

10.2.2.2. Ensaio de palheta - “Vane test”.

O "vane test" foi desenvolvido na Suécia, com o objetivo de medir a resistência ao


cisalhamento não drenada de solos coesivos moles saturados. Hoje o ensaio é normalizado no
Brasil pela ABNT (NBR 10905)
O equipamento para realização do ensaio é constituído de uma palheta de aço, formada por
quatro aletas finas retangulares, hastes, tubos de revestimentos, mesa, dispositivo de aplicação do
momento torçor e acessórios para medida do momento e das deformações. O equipamento está
apresentado na fig. 10.20. O diâmetro e a altura da palheta devem manter uma relação constante
1:2 e, sendo os diâmetro mais usuais de 55, 65 e 88mm. A medida do momento é feito através de
anéis dinamométricos e vários tipos de instrumentos com molas, capazes de registrar o momento
máximo aplicado.

Figura 10.20 - Equipamento para ensaio de palheta - vane test.

O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar o solo,
segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da palheta, quando se
aplica ao aparelho um movimento de rotação. A instalação da palheta na cota de ensaio pode ser
feita ou por cravação estática ou utilizando furos abertos a trado e/ou por circulação de água. No
caso de cravação estática, é necessário que não haja camadas resistentes sobrejacentes à argila a
ser ensaiada e que a palheta seja munida de uma sapata de proteção durante a cravação. Tanto o
processo de cravação da sapata, quanto o de perfuração devem ser paralisados a 50cm acima da
cota de ensaio, a fim de evitar o amolgamento do terreno a ser ensaiado. A partir daí, desce apenas
a palheta de realização do ensaio. Com a palheta na posição desejada, deve-se girar a manivela a
uma velocidade constante de 6°/min, fazendo-se as leituras da deformação no anel dinamométrico
de meio em meio minuto, até atingir o momento máximo. Em seguida deve-se soltar a mesa e
girar a manivela, rapidamente, com um mínimo de 10 rotações a fim de amolgar a argila e em
seguida é feito novo ensaio para medir a resistência amolgada da argila e com isto, determinar a
sensibilidade da argila (resistência da argila indeformada/ resistência da argila amolgada),
conforme já apresentado no item 5.5, desta apostila.
Para o cálculo da resistência não drenada da argila deve-se adotar as seguintes hipóteses:
 Drenagem impedida: ensaio rápido;
 Ausência de amolgamento do solo, em virtude do processo de cravação da palheta;
121

 Coincidência de superfície de ruptura com a geratriz do cilindro, formado pela rotação


da palheta;
 Uniformidade da distribuição de tensões, ao longo de toda a superfície de ruptura,
quando o torque atingir o seu valor máximo;
 Solo isotrópico.

No instante da ruptura o torque máximo (T) aplicado se iguala à resistência ao


cisalhamento da argila, representada pelos momentos resistentes do topo e da base do cilindro de
ruptura e pelo momento resistente desenvolvido, ao longo de sua superfície lateral, dado pela
expressão:
T = M L + 2MB (10.4)

onde: T = torque máximo aplicado à palheta; ML = momento resistente desenvolvido ao


longo da superfície lateral de ruptura; MB = momento resistente desenvolvido no topo e na base do
cilindro de ruptura, dados por:
1
M L = πD2 .H.c u
2 (10.5)
π 3
MB = D c u
12 (10.6)

onde: D = diâmetro do cilindro de ruptura; H = altura do cilindro de ruptura; Cu =


resistência não drenada da argila. Substituindo as equações 10.5 e 10.6 em 10.4 e fazendo-se H =
2D, tem-se o valor da coesão não drenada da argila, expresso pela fórmula 10.7.

6 T
cu = .
7 πD3 (10.7)

Diversos fatores podem afetar os resultados obtidos com o “vane test”, dentre eles
destacam-se a velocidade de rotação diferente da estipulada, não homogeneidade da camada de
argila, as hipóteses de superfície cilíndrica de ruptura e distribuição de tensões uniforme se
afastando das condições reais. Na realidade, a superfície de ruptura obtida em um ensaio de
palheta não é cilíndrica, pois acredita-se que as zonas próximas à palheta podem estar sujeitas a
tensões mais altas, com concentração nas extremidades das aletas, provocando, portanto, uma
ruptura progressiva. A presença de pedregulhos, conchas ou areias, podem afetar fortemente os
resultados, acarretando valores mais elevados da resistência ou danificando a palheta. Valores
mais baixos que os reais são possíveis em argilas moles amolgadas devido ao processo de
cravação.

10.2.2.3. Ensaio pressiométrico

Este ensaio é usado para determinação "in situ" do módulo de elasticidade e da resistência
ao cisalhamento de solos e rochas, sendo originalmente desenvolvido na França pelo engenheiro
Menard.
O ensaio pressiométrico consiste em efetuar uma prova de carga horizontal no terreno,
graças a uma sonda que se introduz por um furo de sondagem de mesmo diâmetro e realizado
previamente com grande cuidado para não modificar-se as características do solo.
O equipamento destinado a execução do ensaio, chamado pressiômetro, é constituído por
três partes: sonda, unidade de controle de medida pressão - volume e tubulações de conexão (fig.
10.21). A sonda pressiométrica é constituída por uma célula central ou de medida e duas células
extremas, chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer um campo de tensões radiais
122

em torno da célula de medida. O comprimento total da sonda é da ordem de 60 a 70cm e o da


célula central de medida é cerca de 20cm. A unidade de controle é a parte do sistema que fica à
superfície e contém, um depósito de CO2, manômetros para medir a pressão e dispositivo de
controle.

Figura 10.21 - Equipamento para realização do ensaio pressiométrico.

O ensaio é iniciado com a perfuração para instalação as sonda na profundidade desejada.


Deve-se tomar cuidado para não amolgar as paredes do furo, por isso, não se pode realizar um
ensaio pressiométrico aproveitando um furo de amostragem obtido por amostrador de parede fina.
Após a instalação da sonda na posição de ensaio, as células guardas são infladas com gás
carbônico, a uma pressão igual à da célula central. Na célula central é injetada água sob pressão,
com o objetivo de produzir uma pressão radial nas paredes do furo. Em seguida, são feitas
medidas de variação de volume em tempos padronizados,15, 30 e 60 segundos após a aplicação
da pressão do estágio. O ensaio é finalizado quando o volume de água injetada atingir 700 a
750cm3.
Com os pares de valores, pressão aplicada e variação do volume d'água injetado em um
minuto, obtém-se a curva pressiométrica, mostrada na fig. 10.22. Nesta curva podem-se definir 5
fases, a saber:
123

Figura 10.22 - Curva pressiométrica.

 Fase inicial: corresponde ao intervalo da curva em que há reposição das tensões


atuantes e colocação em equilíbrio do conjunto sonda- perfuração - terreno;
 Fase elástica: muitas vezes esta fase não é visualizada com clareza e ocorre para baixas
pressões;
 Fase pseudo - elástica: ocorre deformações lineares e é onde define-se o módulo de
deformação ou módulo pressiométrico (Ep);
 Fase plástica: as deformações aumentam ultrapassando o limite de plasticidade do
material, sendo determinada a partir da pressão de fluência. (Pf);
 Fase de equilíbrio limite: as deformações chegam a ser muito grandes, tendendo a um
valor assintótico, denominado de pressão limite (PL).

A partir da curva, apresentada na fig. 10.22, obtém-se: o módulo pressiométrico (Ep em


2
kg/cm ), as pressões limites (PL), de fluência (Pf) e a pressão natural do solo em repouso (Po).
O módulo pressiométrico é obtido na fase pseudo - elástica da curva, através da eq. 10.8:

p 2 − p1
Ep = 2,66.(v o + v m ).
v 2 − v1 (10.8)

onde: vo = volume da célula de medida no repouso; v m = volume médio do ensaio dado


por (v1+ v2)/2; v1 e v2 = volumes de água injetados, correspondentes aos pontos iniciais e finais da
fase pseudo-elástica da curva pressiométrica; p 1 e p2 = pressões correspondentes aos pontos
anteriormente referidos.

A Tabela 10.6 indica a ordem de grandeza entre valores de Ep e PL dos principais tipos de
solo.

Tabela 10.6 - Valores de Ep e PL, para diferentes tipos de solos.


Tipo de solo Ep (kgf/cm2) PL (kgf/ cm2)
Vasas e turfas 2 - 15 0,2 - 1,5
Argilas moles 5 - 30 0,5 - 3
Argilas plásticas 30 - 80 3-8
Argilas duras 80 - 400 6 - 20
Areias vasosas 5 - 20 1-5
Siltes 20 - 100 2 - 15
Areia e pedregulhos 80 - 1000 12 - 50
Areias sedimentares 75 - 400 10 - 50
Rochas calcárias 800 - 200.000 30 - mais de 100
Aterros recentes 5 - 10 0,5 - 3
Aterros antigos 40 - 150 4 - 10
Aterros pedregulhosos recentes bem 100 - 150 10 - 25
compactados

A relação Ep/PL, é uma característica do solo investigado, variando de 12 a 30 em solos


pré adensados e apresentando valores menores em terrenos de aluvião.
124

10.2.3. Métodos indiretos

Os métodos ditos indiretos de prospecção são aqueles em que a determinação das


propriedades das camadas do subsolo é feita indiretamente pela medida de um parâmetro
geofísico, geralmente resistividade elétrica ou velocidade de propagação das ondas no meio. Os
índices medidos mantêm correlações com a natureza geológica dos diversos horizontes, podendo-
se ainda conhecer as suas respectivas profundidades e espessuras. Dentre os vários processos
geofísicos de prospecção podemos citar a resistividade elétrica e o método de "cross-hole", como
sendo os de uso mais freqüentes na engenharia civil. Os métodos indiretos apresentam como
grande vantagem, em relação aos anteriormente descritos, a de serem rápidos e econômicos, não
necessitando da coleta de amostras, podendo ser utilizados na prospecção preliminar de grandes
áreas. Atualmente, a técnica geofísica denominada de GPR (“Ground Penetration Radar” ou radar
de penetração do solo) está ganhando terreno em diversas áreas da geotecnia.

10.2.3.1. Ensaio de resistividade elétrica

Este ensaio fundamenta-se no princípio de que diferentes materiais do subsolo possuem


valores característicos diferentes de resistividade elétrica.
"A técnica de caminhamento elétrico consiste em observar a variação lateral de
resistividade a profundidades aproximadamente constantes. Isso é obtido fixando o espaçamento
dos eletrodos e caminhando-se com os mesmos ao longo de perfis, efetuando as medidas de
resistividade aparente. Com o dispositivo eletródico dipolo-dipolo, os eletrodos AB de injeção de
corrente e MN de potencial são dispostos segundo um mesmo perfil e o arranjo é definido pelos
espaçamentos X=AB=MN. A profundidade de investigação cresce com o espaçamento (R), e
teoricamente corresponde a R/2 (fig. 10.23), as medidas são efetuadas em várias profundidades de
investigação, permitindo assim a construção de uma seção de resistividade aparente (ELIS &
ZUQUETTE 1996)".

Figura 10.23 - Disposição no campo do arranjo dipolo-dipolo - técnica do caminhamento


elétrico.

Ao passar uma corrente elétrica (I) através dos eletrodos A e B, e medir a diferença de
potencial (∆V) criada entre os eletrodos M e N, obtém-se a resistividade através da fórmula:
125

∆V
ρa=K
I (10.9)

sendo K, um fator geométrico que depende do espaçamento entre os quatro eletrodos e é


calculado por:
AM. AN
K=π
MN (10.10)

A resistividade (ρ) pode ser definida como sendo a maior ou menor facilidade com que
uma corrente elétrica se propaga por um material. Os valores de resistividade são afetados pela
presença de água, pela natureza dos sais dissolvidos e pela porosidade total do meio. Os
resultados são tratados com o auxílio de um software.

10.2.3.2. Ensaio Cross-hole.

A técnica sísmica do cross-hole, ou transmissão direta entre furos, tem como principal
objetivo a medida, em profundidade, das velocidades de propagação das ondas de compressão (p)
e cisalhante (s) de um furo de sondagem equipado com um martelo, a outro equipado com um
geofone (GIACHETI, 1991).
As velocidades das ondas de compressão e cisalhante são determinadas através da medida
do tempo requerido para o impacto percorrer a massa de solo e ser captado pelo geofone colocado
a uma distância, em geral não excedente a 8 metros da fonte. Assim, a partir da obtenção das
velocidades de propagação das ondas e do peso específico do solo é possível estimar os módulos
cisalhante e de deformabilidade, segundo as formulações abaixo:

G = VS2 γ (10.11)

E = 2VS2 γ (1 + ν ) (10.12)

ν =
(V − 2 V )
2
C
2
S

2(V − V )
2 2
C S (10.13)

onde:
G = módulo cisalhante dinâmico (MPa)
E = módulo de deformabilidade dinâmico (MPa)
ν = coeficiente de Poisson
Vs = velocidade de propagação da onda cisalhante (m/s)
Vp = velocidade de propagação da onda de compressão (m/s)
γ = peso específico médio do solo (kN/m3)

10.2.3.3. Ensaio de GPR.

A técnica de GPR vem sendo utilizada nos últimos anos com maior ênfase na identificação
de patologias em estruturas de concreto armado, localização de estruturas enterradas, diagnóstico
de áreas contaminadas, monitorização, levantamento de perfis geotécnicos, etc. O ensaio consiste
emissão de um pulso de onda eletromagnética, de forma e duração conhecidos, e do
acompanhamento do retorno destes pulsos à antena receptora. Sempre que o meio muda as suas
propriedades eletromagnéticas, há reflexões e refrações do pulso de onda emitido que indicam
126

esta mudança. Embora o ensaio seja pontual, a execução de uma série de ensaios com um
determinado espaçamento, segundo um determinado alinhamento, permite traçar perfis ou cortes
do objeto em estudo, que se juntos poderão a vir a formar imagens tridimensionais da área
estudada. A figura 10.24 ilustra um modelo de equipamento de GPR, evidenciando-se a CPU para
recebimento e tratamento preliminar dos dados e a antena de 1Ghz, a antena de maior resolução
utilizada na técnica. A figura 10.25 ilustra resultados típicos da técnica quando utilizada com a
antena de 1 Ghz em uma laje de concreto.

(a) (b)
Figura 10.24 – Equipamento de GPR. (a) Antena de 1 Ghz e (b) CPU para aquisição dos
dados.

Figura 10.25 – Resultados obtidos a partir da técnica de GPR aplicada a uma laje de
concreto.
127

 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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ABNT NBR 3406/91 - Solo: Ensaio de Penetração do Cone in situ (CPT).
ABNT NBR 5734 - Peneiras para ensaios
ABNT NBR 6122 (antiga NB 12) - Projeto e execução de fundações
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