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Arte Móvel no Vale do Côa

(Fariseu) e no Vale do Sabor


(Foz do Medal)
Curso de Arqueologia
Sociedades de Caçadores- Recolectores da Península Ibérica
Professora Cristina Gameiro
Professor João Pedro Ribeiro

Mariana Santos
Lisboa 2021
ARTE MÓVEL PALEOLÍTICA
A arte móvel, especialmente característica do paleolítico superior, inclui objetos de
adorno, peças gravadas, pintadas ou esculpidas, que pelas suas pequenas dimensões
podem ser deslocadas ou transportadas. Estes objetos poderiam ser feitos em osso,
presas de animais, pedra, entre outros materiais.

Pensou-se durante muitas décadas que em Portugal não


existiam muitos vestígios relativos à Arte Móvel
Paleolítica. As únicas descobertas consistiam em
pequenas Vénus de fabrico muito simples, como a
Vénus da gruta do Escoural, localizada em Montemor- o- Novo, e que em nada se
comparam às restantes coleções da Europa.

Contudo foram encontrados no Vale do Côa, mais precisamente no Fariseu, o maior


conjunto de arte móvel português e um dos maiores da Europa.
VALE DO CÔA- Fariseu
No decurso do projeto de investigação do contexto arqueológico da arte rupestre
foram já identificadas mais de 50 peças de arte móvel em duas estações arqueológicas
do Vale do Côa: a Quinta da Barca Sul e o Fariseu.
O sítio do Fariseu localiza-se na margem esquerda do Rio Côa, a cerca de 5 quilómetros
da sua confluência com o Douro.

Em 1999, durante a escavação


arqueológica da rocha 1 do Fariseu, foram
igualmente identificadas duas placas de xisto gravadas com motivos figurativos. Este
sítio é caracterizado pela existência de um conjunto de camadas arqueológicas em
relação direta com o painel com 82 representações gravadas. No nível 4a, atribuído ao
Magdalenense final, foi identificada uma placa de xisto rolada com motivos gravados
em ambas as faces (fig. 28). Na face inferior apresenta dois equídeos, três zoomorfos
indeterminados e um conjunto de signos lineares, angulares e paralelos. Na face
superior figuram cinco representações zoomórficas, um cervídeo, um outro cervídeo
ou equídeo e um possível bovino, sendo os restantes indeterminados. Para além
destas figuras estão ainda representados cinco signos de tipo linear.
Em 2005, foram feitas novas escavações no sítio de Fariseu que trouxeram à luz do dia
mais de 50 placas de xisto contendo gravações identificadas numa área de 6 metros
quadrados, temos aqui o exemplo da placa 33, encontrada neste mesmo sítio (fig. 29).

Todas as placas foram identificadas na mesma camada 4 e encontravam-se associadas


aos primeiros vestígios exumados de fauna paleolítica do Côa.
Foi possível proceder à datação destas representações através da datação de um dos
ossos de animal que se encontrava dentro da mesma camada estratigráfica. Essa
datação apontou para o final do Paleolítico superior, há cerca de 10.500 anos.
Do ponto de vista da técnica, a coleção estudada é constituída na sua grande maioria
por peças exclusivamente gravadas, mais precisamente são 84. Duas delas (peças 65 e
73) provêm da camada 3. A incisão é a técnica mais recorrente, apenas não se tendo
identificado em três peças (5, 9 e 26). Nas peças 5 e 26 apenas se observa picotagens
isoladas. Tratando-se ambas as peças de fragmentos, podemos propor a hipótese de
que originalmente teriam outros tipos de grafismos, tal como ocorre nas restantes 17
peças onde aparece este tipo de vestígios.
Os estudos experimentais demonstraram que é muito difícil, dado o polimorfismo das
secções identificadas nos traços das peças analisadas, identificar a matéria-prima lítica
do utensílio de gravação utilizado na execução das unidades gráficas do Fariseu.
Todas as peças gravadas foram fotografadas e decalcadas diretamente sobre película
transparente. Foi utilizado um foco luminoso que permitisse uma distribuição rasante
da luz num plano perpendicular aos traços que se iam decalcando. A par do decalque,
foi desenhada uma secção das peças à escala natural. As peças pintadas foram apenas
fotografadas.

VALE DO SABOR- Terraço Fluvial da Foz do Medal


O Terraço Fluvial da Foz do Medal localiza-se no vale do Sabor, concelho do
Mogadouro e distrito de Bragança. O rio Sabor e as ribeiras que para ele correm
transformaram esta zona num importante local de passagem, bem como de ocupação
humana, desde tempos paleolíticos até ao período contemporâneo.
No estudo das figuras rupestres do Medal, foram estabelecidas quatro categorias de
motivos: os figurativos, os geométricos, os abstratos e os indeterminados. Nos 1257
fragmentos de placas Magdalenenses, os motivos abstratos correspondem ao grupo
dominante com quase metade das representações.
Dentro dos motivos figurativos, zoomorfos e antropomorfos, foram encontradas 67
placas, onde em 49 os animais surgem de forma isolada. Devido à fragmentação das
peças, a maior parte das placas não estão completas. As duas únicas exceções são o
cavalo da placa 46 e o animal da placa 53.
Os caprídeos são sem dúvida o tema mais representado na margem direita do Medal,
mas, no entanto, regista- se uma grande variedade estética na sua representação.
Como por exemplo uma placa com uma representação extremamente detalhada e
naturalista de uma cabra (placa 5168) e, outra, com a representação do mesmo animal
realizado de uma forma extremamente esquematizada (placa 5031) (Fig. 2 e 3).

Na continuação dos estudos desenvolvidos no Medal, pensa- se que na Foz do Medal,


a matéria-prima foi fator determinante na escolha da figura gravada e no grau de
detalhamento.

CONCLUSÃO
Com este trabalho concluí que as placas decoradas inserem- se no que se costuma
chamar de arte móvel não utilitária e caracterizam sobretudo o Magdalenense
Europeu e que através da análise dos seus temas figurativos, zoomorfos,
antropomorfos, bem como os abstratos, podem auxiliar os arqueólogos e historiadores
a entender melhor a vida e o quotidiano dos nossos antepassados, assim como a
importância destas descobertas para o turismo e divulgação do país. Acho fascinante a
forma como o Homem Moderno “implementou” este conceito de “arte móvel”, que
ainda hoje se discute se pode mos mesmo considerar, ou não, “arte”.

BIBLIOGRAFIA
AUBRY, T. & SAMPAIO, J. D. (2008). Fariseu: cronologia e interpretação funcional do
sítio. pré história gestos intemporais, vol.01.
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/23376/1/Aubry%26Sampaio2008b%20-
%20Fariseuactas.pdf
SILVA, A. (2017). A arte móvel em Portugal. C arte paleolítico superior.
https://pt.slideshare.net/hgp5/c-arte-paleolitico-superior
FIGUEIREDO, S.; XAVIER, P.; NOBRE, L. Placas móveis com grafismos rupestres
paleolíticos do Terraço do Medal (Nordeste, Portugal): uma primeira análise a temas e
estilos. https://core.ac.uk/download/pdf/223219899.pdf

LUÍS, L. (2008) A Arte e os Artistas do Vale do Côa.


https://www.academia.edu/536937/A_Arte_e_os_Artistas_do_Vale_do_C%C3%B4a

FIGUEIREDO, S. S. (2015). O Estudo de Arte Rupestre. CÔA VISÃO, 17.


https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/24908/1/Figueiredo2015.pdf

FIGUEIREDO, S. et al. (2020). Analysis of portable rock art from Foz do Medal
(Northwest Iberia): Magdalenian images of horses and aurochs. COMPTES RENDUS
PALEVOL: 19 (4). 63-77.

SANTOS, A. T. et al. (2018). O final do ciclo gráfico paleolítico do Vale do Côa: A arte
móvel do Fariseu, Portvgalia, Nova Série, vol. 39, Porto, DCTP-FLUP, 2018, pp 5-96.

SANTOS, A. Et al. (2008). O santuário arcaico do Vale do Côa: novas pistas para a
compreensão da estruturação do bestiário gravettense e/ou gravetto-solutrense.  Arte
prehistórico al aire libre en el Sur de Europa. Junta de Castilla y León/ Consejería de
Cultura y Turismo.

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