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Professor: André Thiago

Linha do Tempo.
PRÉ-HISTÓRIA
O conceito de História como uma ciência que estuda o passado com base nos
documentos escritos nasceu no século XIX, e foi a partir dessa ideia que se
convencionou que a História começava no momento em que a escrita apareceu. O que
veio antes, desde o aparecimento do homem – entre 600 ou 500 mil anos – foi
chamado então de pré-história. O homo sapiens sapiens (que descende do homo
erectus, que deixou o berço africano há 1 milhão de anos) surgiu há c.50mil anos,
assim como o homo sapiens neandhertalensis.

Mas a escrita apareceu em momentos diversos em lugares diversos. No Egito e na


Mesopotâmia em c. de 4000 aC., na Grécia em c. 3000 aC., etc. Na América se
convencionou chamar pré-história a todo o período pré-colombiano (ou seja, anterior
a 1492), embora algumas culturas, como a Inca, tivesse formas de comunicação
comparáveis à escrita

Ainda no século XIX, com o grande impulso dado à cultura pelas teorias de Darwin, foi
que cresceu o interesse pelas culturas primitivas (até então pouco estudadas ou
ignoradas) e pela sua produção material, pelos antigos vestígios humanos. O
dinamarquês Christian Thomsen, um conservador de museu, foi quem ordenou
objetos pré-históricos a partir do material com que foram feitos (pedra, bronze, ferro)
e os vinculou à evolução do homem pré-histórico.
Periodização da pré-história segundo Christian Thomsen

1- Idade da pedra
a- Paleolítico (pedra lascada)
[Mesolítico]
b- Neolítico (pedra polida)

(Idade do cobre (calcolítico) - c.5000 a.C.)

2- Idade do Bronze
c.3300 a 1300-700 a.C.

3- Idade do ferro
Anatólia, c.1200 a.C.
A arte do paleolítico

No PALEOLÍTICO, o homem é caçador e coletor, vivendo em


grupos nômades. Ele aprende a usar lascas de pedra e ossos
para matar animais, retirar sua pele, cortar sua carne; e usa
lascas de pedra para desenterrar raízes com as quais podia
se alimentar. Caçava e pescava para se alimentar e também
para produzir roupas com as peles; coletava frutos e raízes
para complementar sua alimentação. .
Principais sítios arqueológicos europeus do Paleolítico

As mais antigas “obras de arte” conhecidas pertencem ao final do Paleolítico e datam de cerca de
35.000 anos atrás (33.000 aC.). Essa arte, como tudo na cultura, não se desenvolveu de uma hora
para outra, e não sabemos como, quais passos seguiu. Sabe-se que foi no final da era glacial,
quando o clima da Europa entre os Alpes e a Escandinávia era semelhante ao da Sibéria ou do
Alasca hoje. A caça rareou, os homens buscavam abrigo nas cavernas que, na sua maior parte,
situam-se no norte da Espanha e sul da França, regiões então menos frias.
Ponta de lança em pedra
Proveniente de La Micoque, França.

Indústria lítica: durante milênios, as pedras lascadas foram o principal testemunho da


produção cultural.
Instrumentos de sílex. Paleolítico

sílex

O SÍLEX é uma rocha sedimentar silicosa muito dura,


constituída de calcedônia quase pura. Ela tem a
propriedade de se partir, de se quebrar, já formando
arestas cortantes - lâminas. Por isso, era muito
adequada como ferramenta para a produção de outros
instrumentos. Além disso, se batida contra uma rocha
rica em ferro, produz faíscas (fogo).
Testemunhos desse período também são os
objetos feitos de ossos e marfim. A madeira
certamente também foi empregada, mas é
um material que se deteriora rapidamente e,
portanto, não deixa vestígios.

Canino de lobo decorado


Proveniente do Abri Cellier
Tursac, Dordogne, França
c.24.000 a.C.

Bracelete com incisão geométrica


Marfim de mamute Bastão de osso de veado
Proveniente da Ucrânia. Proveniente de Montgaudier, França,
Período glacial Paris, Musée de l’histoire Naturelle
Machadinha paleolítica polida. H:13cm
c. 1 milhão de anos. Elveden, Suffolk, UK.
Cambridge University, Museum of
Archaeology and Anthropology

J. Bell: “tem entre 250.000 e 100 mil anos.”

http://maa.cam.ac.uk/home/index.php?a=38&b=highlights&c=32
Pedra hematita de 75.000 anos, polida e decorada com hachuras. Foi encontrada pelo
professor Christopher Henshilwood, da Universidade Witwatersrand, Joanesburgo.

Jean Clothes afirma ser este o mais antigo objeto manufaturado atribuível ao homem moderno
(sapiens sapiens)
Altamira situa-se na província de Santander, no norte da Espanha, próximo a Santillana
del mar, à beira do mar Cantábrico
Altamira Espanha
Altamira situa-se na província de Santander, no norte da Espanha, próximo a Santillana del
mar, à beira do mar Cantábrico. Há 15.000 anos, o gelo que cobria a cordilheira cantábrica
só não dominava nas áreas mais baixas, próximas do mar. Ali se encontravam pastos ricos
e, com eles, os herbívoros dos quais dependia a sobrevivência dos seres humanos.

Desde o século XVI já se conheciam pinturas feitas em cavernas da região, mas não se
tinha noção do que se tratava. As pinturas eram atribuídas a camponeses e pastores, ou
mesmo aos jesuítas. Altamira foi a primeira caverna a ser descoberta, quando um caçador
chegou à gruta em 1868. A entrada da caverna de 270 m de comprimento fora bloqueada
no Paleolítico, o que permitiu a sua preservação. Em 1879, enquanto o arqueólogo
Marcelino Saenz de Sautuola investigava a região, a sua filha de 8 anos, Maria, descobriu
acidentalmente as pinturas no teto.
Pinturas do teto da Sala dos bisões,
Altamira, Espanha.
c.15.000a.C.
As cavernas realmente têm o caráter de santuários associados a ritos
religiosos ou mágicos. Não existem vestígios de habitações nesses locais. O
acesso às pinturas é difícil. Para se descer às cavernas, passa-se por
corredores baixos e estreitos. Ninguém teria se arrastado por tal distância
simplesmente para decorar um local inacessível. A explicação mais provável
para elas ainda é a de que se trata das mais antigas relíquias da crença
universal no poder produzido pelas imagens. Em geral, as imagens estão
pintadas ou entalhadas umas sobre as outras, sem qualquer ordem
aparente. A superposição de figuras dificulta a interpretação. Não se pode
ainda pensar em composições, mas o aparecimento de frisos inicia um
sistema compositivo.
As teorias sobre as finalidades da arte do paleolítico
Fonte: Jean Clottes. Cave Art. Londres | N. York: Phaidon, 2008

As primeiras teorias eram muito simples: a arte paleolítica era produzida pelo prazer
estético, para adornar (Gabriel de Mortillet). Mas essa teoria caiu logo porque era muito
contraditória: pra quê decorar um lugar onde ninguém vai e de difícil acesso?

Estudos etnológicos começaram a revelar um esquema de pensamento mais complexo do


que se supunha. Pode-se dizer que os esforços paleolíticos para explorar e dominar as
técnicas de representação sugerem a necessidade e a partilha do conhecimento, bem como
a existência de um valor estético dessa arte e a sua fruição.

No início do séc. XX, o Totemismo, uma teoria baseada numa estreita correlação entre um
grupo humano e uma espécie particular de planta ou animal, como a de Salomon Reinach,
influenciou muitas outras. Um grupo é caracterizado por um totem, que é respeitado e
venerado. Mas isso não explica imagens de animais feridos ou moribundos. Além disso,
uma cultura totêmica pediria a consagração de uma caverna a um animal específico, por
ex., o que não acontece. O totemismo, contudo, não pode ser excluído, mas também não
explica tudo. É mais complexo que isso.
As interpretações estruturalistas: Durante os anos 1960 e 70 apareceram as
interpretações estruturalistas da arte paleolítica em estudos de Annette
Laming-Emperaire e André Leroi-Gurhan, que ainda hoje persiste de diversos
modos. Esses estudos voltaram-se para a análise da arte em si em busca de
padrões organizacionais e de estruturas subjacentes. Procuraram quantificar
formas específicas de animais ou abstratas e relacioná-las a outras formas,
modos de distribuição (quantos cavalos em relação a tantos bisões, se isso é um
padrão que se repete e como...), em relação à topografia da caverna, etc.
Concluíram que as formas não eram distribuídas de forma aleatória, que
cavalos e bisões, por exemplo, eram encontrados em sequência, juntos, em
destaque, e entenderam que isso só poderia ter um significado. Concluiram,
finalmente, que esse significado era de caráter sexual: os cavalos
corresponderiam ao masculino, os bisões ao feminino. Essa teoria não
conseguiu ir muito longe, mas trouxe grandes avanços em termos de
metodologia de pesquisa.
Por fim, a teoria do xamanismo.
O xamanismo é um conjunto de crenças muito antigo, chegando até as Américas (o
último continente a ser povoado).

Os acompanhantes deixavam marcas também, como as mãos. As mãos negativas


sendo uma fusão com a própria caverna, uma espécie de fusão com essas forças, além
do significado de alcançar, pegar, tocas.
Bisão ferido. Altamira, Espanha. c.15.000a.C.
Auroque. Altamira, Espanha. c.15.000a.C.
Touro. Altamira, Espanha. c.15.000a.C.
Materiais

argila (terra), restos vegetais, ossos incinerados, outros minerais

Cores: principalmente preto e vermelho, e amarelo, tons terrosos, roxo.

Origem das cores:


Ocres, amarelos e vermelhos: eram obtidos a partir do óxido de ferro
encontrado na terra, na argila.
Preto: provinha do carvão (madeira ou ossos incinerados) ou óxido de
manganês raspado das paredes das grutas

Aglutinantes: gordura ou sangue de animais

Aplicação: com um pedaço de carvão em forma de giz, com um pincel, com o


dedo, aplicando e espalhando o pigmento com a mão, soprando o pigmento
em torno de um molde (mãos) ou por meio de um tubo-canudo.
Pinturas do teto da Sala dos bisões, Altamira, Espanha. c.15.000a.C.

O espaço em torno do animal não surge como dado visual, provavelmente por não incorporar um
significado positivo de vida (o vazio, o não-animal, tornando-se uma qualidade negativa, no sentido de
denotar a falta de alimento, morte, não-ser). Cada animal incorpora, na imagem, uma totalidade espacial,
um mundo em si. Na relação entre as figuras, não existe a relação figura-fundo. Não há uma linha de terra
que os prenda ao chão, não há molduras que criem limites, não há continuidade espacial em profundidade
relacionando figuras. Cada figura é uma entidade independente da outra, muito embora haja ordenações
harmônicas (que deviam ser intuitivas). A relação figura-fundo só surge a partir do neolítico, bem como a
relação de proporções em medidas geométricas e simétricas. As proporções aqui são perfeitas, e mais
sentidas que geometrizadas, racionalizadas.
Lascaux, França
Lascaux, França. Sala dos touros. 16.000-13.000 a.C.
A gruta possui 915 representações de animais
Lascaux, França. 16.000-13.000 a.C.
Lascaux, França 16.000-13.000 a.C.
A arte do paleolítico é de grande flexibilidade expressiva, abrangendo
uma ampla variedade de técnicas e temas, incluindo o abstrato (pontos
e traços) e o fantástico, bem como o mundo natural. Animais eram
representados sozinhos ou em bandos, completa ou parcialmente
representados. Podiam ser animais caçados ou não. A maior parte deles
é de herbívoros (cavalos, bisões, íbex, veados, mamutes) e uma menor
parte de carnívoros (leões, lobos, ursos), além do ser humano, embora
muito raramente (é mais comum na arte portátil). Em toda a arte do
paleolítico, com exceção das representações de genitálias femininas e
das mãos, são conhecidas cerca de 100 figuras humanas, normalmente
parciais e esquematizadas. Nem 20 figuras completas são conhecidas. A
arte do paleolítico, em geral, não possui um padrão estandardizado de
representações, não possui organização sintática nem linha de base.
Gruta de Chauvet, França

Chauvet foi descoberta em 1994. É dos conjuntos pictóricos rupestres mais apreciados pela
qualidade estética das pinturas, que têm entre 30.000 e 28.000 anos. Há uma grande variedade e
domínio das técnicas; grande variedade de animais representados, incluindo animais jamais
vistos nas representações: lebres, cães, ursos, raposas, leões, hienas, panteras, rinocerontes,
mamutes, pássaros.
Chauvet, França. 30.000-28.000AP
Chauvet, França. 30.000-28.000AP
Coruja traçada com uma ferramenta sobre a superfície previamente raspada e limpa.
Chauvet, França. 30.000-28.000AP. H: 45cm.
Gruta de Niaux, França
Íbex (cabra dos Alpes). Salon noir da gruta de Niaux, França. 13.000AP. Comprimento: 52cm.
Niaux, França. 13.000AP
Niaux, França. 13.000AP
Niaux, França. 13.000AP
Cussac, França. 25.000AP
Cussac é uma gruta descoberta em 2000. Nela existem gravações sobre a rocha, que é
mais propícia a isso. As imagens têm entre 25.000 e 23.000 anos. Há mais de 150
gravações na pedra. Há sepulturas associadas às gravuras parietais, o que é único. Há
partes com pigmentação. As gravuras são feitas com auxílio de instrumentos de pedra, e
há outras feitas com os dedos sobre bases de argila, mas essas ficam no solo. A utilização
de pigmentos limita-se a partes de pontos vermelhos. É provável a contemporaneidade
das sepulturas e das figurações. A figura feminina aqui é apenas lineada, mas possui
relevo (aproveita o da rocha). Inclina-se para a frente como se fosse mergulhar na fenda
escura onde seus braços desaparecem. A fenda forma outra figura em sombra. A
extremidade do corpo é pontiaguda, como nas Vênus. Cabeça pequena, destaque para
seios e quadril.

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