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ANTRACNOSE DO MORANGUEIRO
("FLOR PRETA")
CAUSADA POR Colletotrichum acutatum
Bernardo Ueno¹
HISTÓRICO
A antracnose do morangueiro causada por Colletotrichum acutatum
Simmonds foi descrita pela primeira vez na Austrália (Simmonds, 1965).
¹Eng. Agr., Bolsista do CNPQ. Área de Proteção de Plantas. IAPAR. Caixa Postal 481
86001-970-Londrina-PR
Nos EUA, a sua ocorrência foi relatada pela primeira vez no estado do Mis-
sissippi em cultivo comercial implantado a partir de mudas provenientes de
Arkansas, no ano de 1983. Foram observadas lesões em frutos, pecíolos e
ocasionalmente no rizoma causando murcha e morte das plantas (Smith &
Black, 1986). No Reino Unido, a doença foi constatada em cultivos comerci-
ais implantados a partir de materiais provenientes da Califórnia em 1983 e,
mais recentemente, em mudas oriundas do continente europeu (Simpson et al,
1994).
Essas mudas foram produzidas a partir de matrizes importadas da Califórnia.
Além desses países, a ocorrência da antracnose já foi relatada na França
(Denoyes & Baudry, 1995), África do Sul (Baxter et al., 1983 ), Brasil (Henz
et al, 1992) e Japão (Ishikawa et al, 1992). No Japão, a antracnose causada
por C. acutatum produz lesões nos pecíolos e estolhos, além de manchas irre-
gulares nas folhas, mas não causa podridão de flores e frutos, nem lesões no
rizoma, como descrito em outros países.
No Brasil, apesar de existirem relatos sobre a ocorrência da antracnose
("flor preta") (Igarashi, 1984; Henz & Reifschneider, 1990), o agente causai
foi corretamente identificado somente em 1992 por Henz et al. (1992). A pre-
sença desta doença foi constatada no Distrito Federal e no estado de São Paulo
(Henz et al, 1992; Dias, 1993). No Distrito Federal, o surto da antracnose
ocorreu no cultivo de junho/outubro em 1989, acarretando prejuízos de 30 a
68% na produção, devido a introdução de mudas infectadas provenientes do
estado de São Paulo, presença de uma cultivar suscetível (IAC-Campinas) e
condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença (Henz et al,
1992). Informações de agricultores, sugerem que esta doença também já ocor-
reu no Paraná, além de outros estados como o Rio Grande do Sul e Minas
Gerais. Apesar de não se encontrarem registros na literatura, há indicações de
que esta doença já ocorre há um bom tempo no Brasil (A. Hashimoto, comu-
nicação pessoal).
AGENTE CAUSAL
O agente causai da antracnose ("flor preta") do morangueiro é o Colleto-
trichum acutatum Simmonds (Simmonds, 1965). Esse fungo produz acérvu-
los, onde crescem os conídios e conidióforos, as vezes podendo apresentar
setas escuras normalmente asseptadas (52 x 3,2 u.m). Os conídios são unicelu-
lares, hialinos e com formato elipsóide-fusiforme ( 1 5 x 4 um), isto é, com as
extremidades afuniladas (Fig. 1). Em meio de cultura o fungo tem coloração
rosa-alaranjada, porém não apresenta a fase teleomórfica (Fig. 2). Em condi-
ções de alta umidade, pode haver formação de massa de esporos de coloração
Fig. 1 - Conídios de C. acutaíum.
SINTOMAS
O principal sintoma observado no morangueiro em condições de campo é
a necrose progressiva dos pedúnculos e demais partes dos órgãos florais,
culminando com a seca e morte das flores ("flor preta") (Fig. 3). Os frutos
pequenos e em crescimento também podem ser atacados adquirindo coloração
escura e tornando-se mumificados (Henz & Reifschneider, 1990) (Fig. 4 e
Fig. 5). Em condições de alta umidade e temperatura adequada, são observa-
das massas rosadas de esporos do patógeno sobre as lesões (Tanaka et ai,
1994) (Fig. 5). Além das lesões em flores e frutos, podem ocorrer lesões ne-
cróticas deprimidas de cor castanha escura sobre pecíolos e estolhos e podri-
dão de meristemas que normalmente causam a morte das plantas em poucos
dias ou algumas semanas após o transplante das mudas no campo. Ocasional-
mente são observadas massas rosadas de esporos sobre o meristema morto.
Além disso, pode ocorrer podridão de rizoma que leva à murcha e posterior
morte da planta. O C. acutatum também pode causar manchas irregulares nas
folhas, sendo comum em folhas novas, iniciando a necrose pelas margens
(Howard et al, 1992) (Fig. 6).
Fig. 3 - Órgãos florais com sintoma de "flor preta".
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