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USO DE DADOS DE MULTIPLATAFORMAS ORBITAIS NA OBTENÇÃO DA

BATIMETRIA DA REPRESA DO FUNIL, NO SUL DE MINAS GERAIS


Marcus André Braido Pinheiro 1*, Marcelo de Carvalho Alves 2*, Filipe Silveira Trindade 3*, Jonathan
da Rocha Miranda 4*, Jade Gonçalves Alacoque 5*, Pedro Arthur de Azevedo Silva 6*, Michel Eustáquio
Dantas Chaves 7*
1
Doutorando em Engenharia Agrícola, marcus-andre.b.p@hotmail.com; ²Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Agrícola,
marcelocarvalhoalves@gmail.com; 3Mestrando em Engenharia Agrícola, filipestrindade@gmail.com; 4Doutorando em
Engenharia Agrícola, jonathanrocha7@yahoo.com.br; 5Graduanda em Engenharia Agrícola, jadealacoque@gmail.com;
6
Mestrando em Engenharia Agrícola, pedroarthursilva@hotmail.com; 7Doutorando em Engenharia Agrícola,
medchaves@posgrad.ufla.br

* Campus Universitário, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000, Lavras/MG

RESUMO 31 meters respectively. Near its mouth, and in the shallower


regions they present depth of 4 meters. The use of orbital
O objetivo deste trabalho foi obter a batimetria da represa do sensors for bathymetric studies may be a viable and cost-
Funil /MG por meio da diferença de altitudes proveniente de effective alternative to the use of depth sounder.
dados orbitais. A metodologia foi dividida em 3 etapas:
delimitação da área inundada por meio do algoritmo de Key words — SRTM, ASTER, Bathymetric assessment.
classificação k-means na imagem Landsat 8 OLI; diferença
de imagens de altitude nos anos de 2000 e 2011, provenientes 1. INTRODUÇÃO
do radar SRTM e da imagem do sensor ASTER,
respectivamente, e confecção da curva hipsométrica O Brasil possui grande oferta hídrica, tendo 12% da água
adquirida pela operação orientada ao objeto entre a diferença doce disponível no planeta Terra. Este montante é utilizado
de altitude na zona representativa da área da represa. Os para diversos fins, como transporte, turismo, esportes,
resultados demonstram que após 19 e 47 km foram aquicultura e geração de energia, entre outros [1,2]. A represa
registradas as maiores profundidades, 42 e 31 metros do Funil possui uma usina com potência instalada de 180 MW
respectivamente. Próximo a sua foz, e nas regiões mais rasas e 89 MW de energia média assegurada em operação.
apresentam profundidade de 4 metros. O uso de sensores Uma ferramenta usada para caracterizar a morfometria
orbitais para estudos batimétricos pode ser uma alternativa de lagos, açudes e represas é a batimetria, que consiste na
viável e de menor custo se comparado ao uso de determinação e representação gráfica do relevo de fundo de
ecobatímetros. áreas submersas [3]. A batimetria tem sido avaliada por
ecobatímetros, equipamentos que consistem em uma fonte
Palavras-chave — SRTM, ASTER, levantamento emissora de sinais acústicos e um relógio interno que mede o
batimétrico. intervalo entre o momento da emissão do sinal e o instante
em que o eco retorna ao sensor [3].
ABSTRACT Contudo, o avanço das tecnologias tornou possível obter
informações de um determinado elemento na superfície
The objective of this study was to obtain the bathymetry of terrestre sem que haja contato físico com o mesmo [4], o que
dam of Funil /MG by the difference of altitudes from orbital consiste no sensoriamento remoto. Assim, informações sobre
data. The methodology was divided into 3 stages: a cobertura da terra, pedologia, rede de drenagem, fatores
delimitation of the flooded area by the k-means classification topográficos, entre outros, podem ser obtidos com rapidez,
algorithm in LANDSAT 8 OLI; difference of altitude images precisão e relativo baixo custo, com uso de imagens orbitais,
in the years 2000 and 2011, coming from the SRTM radar como as imagens de Modelo Digital de Elevação (MDE).
and the ASTER sensor image, respectively, and; preparation Diante do exposto, objetivou-se com o presente trabalho
of the hypsometric curve acquired by the object-oriented a aplicabilidade de uma análise batimétrica da Represa do
operation between the altitude difference in the area Funil por meio de dados orbitais obtidos após a inundação
representative of the dam area. The results show that after 19 causada pelo represamento.
and 47 km the highest average depths were recorded, 42 and

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2. MATERIAL E MÉTODOS
A imagem da missão Shuttle Radar Topography Mission
A represa do Funil está localizada entre os municípios de (SRTM) foi obtida na página TOPODATA/INPE e a imagem
Lavras, Perdões, Ijaci, Bom Sucesso, Ibituruna e Itumirim, na Advanced Spaceborne Thermal Emission Reflection
região sul do Estado de Minas Gerais (MG) (Figura 1). A Radiometer (ASTER) na página do U. S. Geological Survey
represa se encontra na sub-bacia do Rio Grande, que pertence (USGS). Ambas foram reprojetadas para WGS84, UTM e
à bacia do rio Paraná. O período de obras da represa foi de fuso 23S.
setembro de 2000 a julho de 2003, época na qual foram O pré-processamento consistiu em corrigir depressões
fechadas as comportas. espúrias na imagem SRTM. Estas depressões consistem em
O registro de imagem do SRTM foi de fevereiro de 2000 valores de altitude de frequência discrepante, que
e o ASTER de novembro de 2011 informações consultadas representam um valor sem a devida confiabilidade.
pelo metadados do produto. Deste modo, foi possível obter o A diferença de altitude antes e após o represamento
relevo da superfície antes e após o represamento (Figura 2). constitui, de certa forma, a profundidade do leito da represa.
Sua obtenção foi efetuada pela subtração entre as imagens
SRTM e ASTER.
A área inundada no ano de 2011 foi obtida pela
classificação não supervisionada do algoritmo K-means para
a imagem Landsat 5/TM de órbita/ponto 218/75, em 07 de
outubro de 2011. Esta imagem, adquirida no nível 2 de
processamento, consiste em uma imagem que foi corrigida
atmosfericamente pelo método 6S, também disponibilizada
no USGS. A classe que representava a água foi isolada e,
posteriormente, vetorizada. De posse desta delimitação da
superfície inundada, foi gerado um vértice a cada 50 metros
seguindo o leito do Rio Grande.
Diante dos produtos da diferença de altitude foi
atribuído, ao vetor dos vértices, o valor correspondente à
profundidade do leito por ponto amostrado. Deste modo, a
curva hipsométrica foi delimitada pela média de
profundidade para cada 1 km, o que possibilitou a
visualização do perfil batimétrico suavizado.
A curva hipsométrica necessita da área no qual se
Figura 1. Localização geográfica da área de estudo. concentra cada classe de profundidade da represa. Este
processo foi efetuado pelo fatiamento da imagem da
diferença em 5 classes, sendo considerada a proporção de
área ocupada em cada profundidade em porcentagem para a
confecção da curva. Estes procedimentos metodológicos
foram efetuados no software QGIS 2.18.18.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstram o potencial uso de dados de


multiplataforma orbital para o estudo das mudanças na
superfície. Ressalta-se que a correção das depressões espúrias
foi necessária para a aquisição de valores confiáveis de
altitudes derivadas do SRTM e ASTER.
Segundo [5], a descrição fiel da altitude pelo SRTM é
prejudicada por problemas causados pelas depressões
espúrias presentes nessas imagens, sendo necessária a
correção dessas depressões. Pelo perfil batimétrico foi
possível perceber que, em média, a profundidade da represa
gira em torno de 15 metros. No entanto, existem zonas onde
a profundidade pode atingir até 47 metros, fato ocorrido no
trecho de 19 e 47 km à montante do represamento da
Figura 2. Mudança da paisagem a partir da construção da
barragem.
barragem (A) banda 5 Landsat 5/TM 05/10/200 e (B) banda 5
Landsat 5/TM 07/10/2011

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Em relação a curva hipsométrica, verifica-se a mesma formação de praias zonais, ocasionadas pelo processo de
relação encontrada no perfil batimétrico, no qual cerca de erosão de suas margens.
87% da área inundada está contida em uma profundidade
inferior a 30 metros. Devido ao fato da curva hipsométrica
abordar a represa como um todo, foi possível notar a
existência de pontos isolados, nos quais a profundidade pode
chegar até 78 metros. Contudo, estas áreas são inferiores a
5% do total inundado (Figuras 3 e 4).

Figura 5. Mapa de profundidade de inundação da Represa do


Funil.

Zani [7], estudando a batimetria do Rio Paraguai,


Figura 3. Perfil batimétrico da Represa do Funil. concluíram que informações obtidas a partir da banda 2 (faixa
espectral do vermelho) do sensor ASTER permitiram
reproduzir com fidelidade as formas e a profundidade, assim
como a dinâmica de sedimentação ao longo do canal,
permitindo, assim, traçar cenários futuros para o rio.

4. CONCLUSÕES

O uso de multiplataformas orbitais para estudos


batimétricos pode ser uma alternativa viável e de menor custo
se comparado ao uso de ecobatímetros, além de propiciar uma
gama de informações úteis ao planejamento socioambiental
de represas.

5. REFERÊNCIAS

[1] GEO Brazil, Water resources: component of a series of


Figura 4. Curva hipsométrica da Represa do Funil.
reports on the status and prospects for the environment in
Brazil: executive summary. Agência Nacional de Águas.
Diante da espacialização da profundidade ao longo da
United Nations Environment Programme, Brasília: ANA,
represa do funil, foi possível identificar regiões mais rasas e,
PNUMA, 2007.
consequentemente, mais frágeis ao processo de
assoreamento. Estas áreas podem constituir zonas de
[2] Candela, C.R.; Estimativa da profundidade de corpos de
interesse prioritário para ações de conservação. No entanto,
água com o uso de dados de sensoriamento remoto.
ainda não há registros de que a delimitação da profundidade
Dissertação de mestrado - Programa de Pós-Graduação em
esteja auxiliando no processo de tomada de decisão de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina,
medidas que visem mitigar o assoreamento de modo a não
inviabilizar a represa (Figura 5). Florianópolis, (149 p), 2013.
Messias e Ferreira [6], avaliaram a geomorfologia das
[3] Pereira, J.P.G.; Baracuhy, J. G. de V.; Ecobatimetria:
bacias hidrográficas do reservatório do Funil. Neste estudo,
Teoria e Prática, Campina Grande: Gráfica Agenda, (84 p),
os autores relatam a vulnerabilidade das bacias em função da
2008.
conversão da cobertura de vegetação natural por cultivos
agrícolas, pastagem, solo expostos, silvicultura e área urbana.
O uso e ocupação inadequado da terra pode culminar no [4] Rotunno Filho, M; Zeilhofer, P.; Modelagem da poluição
assoreamento da represa, no qual já está perceptível a não pontual na bacia do Rio Cuiabá baseada em

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geoprocessamento, Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
v.8, n.4, pp.115-135, 2003.

[5] Ribeiro, C.A.A.S.; Tópicos avançados em sistemas de


informações geográficas, Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa, 22 p, 2003.

[6] Messias, C.; Ferreira, M.M.; Estudo geomorfológico de


bacias hidrográficas do reservatório do funil, alto rio Grande
(MG), por meio de imagens estereoscópicas ALOS/PRISM,
Revista do Departamento de Geografia, v.28, n.1, pp.237-
262, 2015.

[7] Zani, H.; Assine, M. L.; Silva, A.; Batimetria fluvial


estimada com dados orbitais: estudo de caso no alto curso do
Rio Paraguai com o sensor ASTER, Geociências, v.27, n.4,
pp. 555-565, 2008.

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