Você está na página 1de 30

Aula 7

Equação da Quantidade de Movimento


1)Teorema do transporte de Reynolds e Quantidade de Movimento

O teorema do transporte de Reynolds para um volume de controle


estacionário e indeformável C resulta:

dN   
   d     . n dS
dt t C SC


Se N for a Quantidade de Movimento: N  m (uma grandeza vetorial).

A grandeza  , que representa N por unidade de massa do fluido, será:



 
Assim:

dQM    
    d      . n dS
dt t C SC

A variação temporal da Quantidade de Movimento de um Sistema (corpo


fluido de massa constante que instantaneamente ocupa o volume de
controle) é dada pela somatória das forças externas agindo nesse corpo:

    
   d      . n dS   Fext
t C SC

Essas forças se dividem em forças de campo (tipicamente o peso) e forças


de contato dadas pelas distribuições de pressões e tensões de cisalhamento
na superfície de controle SC.
Fig. 1) Volume de Controle para a Equação da Quantidade de Movimento.
 
As forças de campo são dadas por Fcampo    g d .
 C
 
As forças de contato são dadas por Fcontato     p n  dS .
SC
      
Assim:    d      . n dS    g d     p n  dS .
t C SC C SC
2)Fluxo de Quantidade de Movimento

Finalmente, devemos lembrar que as únicas seções da superfície de


controle em que temos fluxo são as superfícies de entrada e saída. Neste
ponto, devemos fazer uma consideração importante sobre o fluxo de
Quantidade de Movimento numa seção. Sabemos que esse fluxo é dado
por:
   
      . n dS
S

Suponha agora que queiramos exprimir esse fluxo em termos da velocidade


média V, e não em termos do perfil de velocidades  . Teremos que
introduzir um coeficiente de correção  , chamado de coeficiente de
Quantidade de Movimento:
     
      . n dS   V  Q   V  V S
S

De modo que teremos:

2
1 
 
    dS
S SV 

Para um escoamento turbulento típico em condutos industriais, onde


1/ 7
 r  5
 Vmax 1   , V  Vmax , temos  = 1,02.
 R 6
3)Simplificação da Equação da Quantidade de Movimento

Como só temos fluxo através das seções S1 e S2 da superfície de controle


SC:

          
   d      
 1. n dS     
 2. n dS    g d      p n  dS
t C S  n S  n C SC
1 1 0 2 2 0

Pelos sentidos das velocidades nas seções (1) e (2), é fácil ver qua a
equação fica:

      
   d  1 V1 1 Q1 n1   2 V2  2 Q2 n2    g d     p n  dS
t C C SC

Vamos chamar o peso do fluido no volume de controle simplesmente de G ,
e subdividor a superfície de controle numa superfície associada às paredes
 somada às seções S1 e S2, de modo que SC    S1  S 2 . Nas superfícies
S1 e S2 de entrada e saída de fluxo os efeitos das tensões de cisalhamento
são desprezíveis. Vamos chamar as forças de contato exercidas pelas
paredes sobre o fluido simplesmente de R . Assim:

   
   d    V  Q
1 1 1 1 1 n   
2 2 2 2 2
V Q n
t C
    
  g d      p n  dS     p n  dS     p n  dS

C 
  
 
  S1 S2
     
   
G R  p1S1 n1  p2 S2 n2
Isso resulta:

     
   d  1 V1 1 Q1  p1S1  n1   2 V2  2 Q2  p2 S 2  n2  R  G
t C

Essa equação pode ser generalizada para um número aleatório N de


entradas e saídas. É fácil ver que:

  N   
   d    i Vi  i Qi  pi Si  ni  R  G
t C i 1
Outras simplificações podem ser feitas. Por exemplo, se tivermos regime
permanente:

 
   d  0
t C

Assim para regime permanente a equação fica simplesmente:

N   
 i Vi i Qi  pi Si  ni  R  G
i 1

Além disso, se o escoamento for incompressível teremos a mesma massa


específica em todas as entradas e saídas,  i   .
Exemplo: Um jato livre na atmosfera, de velocidade V j e área de seção S j
incide sobre um anteparo curvilíneo fixo no solo, sendo desviado de um
ângulo  com a horizontal. Despreze a força peso, o atrito viscoso e
considere que a área da seção transversal do jato permanece constante.
Considere o escoamento permanente e incompressível. Calcule a força do
jato sobre o anteparo.
Temos que:

  N  
  
   d     i Vi 
 i Qi  pi Si  ni  R  G

t C  
 i 1   0
0

Isso resulta:
  
1 V1  Q1  p1S1  n1   2 V2  Q2  p2 S2  n2  R
Como o jato está na atmosfera, p1  p2  0 . Usamos pressões efetivas
porque todo o volume de controle está imerso na atmosfera. Assim:
  
1 V1  Q1 n1   2 V2  Q2 n2  R
Vamos considerar que 1   2  1. Além disso, da equação da continuidade
para escoamento incompressível:

Q1  Q2  Q j V j S j

Assim:
  
V1  V j S j n1  V2  V j S j n2  R

Voltando à equação da continuidade:

Q1 V1 S1  Q2 V2 S 2  Q j V j S j
Como A área de seção transversal do jato é constante (hipótese do
problema), S1  S 2  S j :

V j V1 V2

Assim, retornando à equação da quantidade de movimento:

2  2  
 V j S j n1   V j S j n2  R

    
Temos que n1   e x e n2  cos e x  sen e z . Assim:

Rx   V j 2 S j cos 1 Rz   V j 2 S j sen


Essas são as forças
 que
 o anteparo exerce no jato. A força que o jato exerce
no anteparo é F   R . Assim:

Fx   V j 2 S j 1  cos  Fz    V j 2 S j sen
4)Movimento Relativo

Fig. 2) Movimento relativo

Imagine que temos um referencial fixo de origem O e um referencial móvel


de origem A.
Dividindo a aceleração em parcelas de aceleração de arrastamento, relativa
e de Coriolis, a equação da Quantidade de Movimento:

    
   d      . n dS   Fext
t C SC

Resulta:

       
   r d     r  r . n dS   aa  ac   d   Fext
t C SC C

Onde as acelerações de arrastamento e Coriolis são dadas por:


      
aa  a A    r      r 
  
ac  2    r
Se tivermos movimento retilíneo e uniforme do referencial de origem em
A, as acelerações de arrastamento e Coriolis serão nulas. Assim:

     
   r d     r  r . n dS   Fext
t C SC

É fácil ver que essa equação, efetuando-se as simplificações que foram


feitas antes, resulta:

  N   
   r d    i Vri i Qri  pi Si  ni  R  G
t C i 1

Com as vazões relativas calculadas com velocidades relativas.


Se tivermos regime permanente no movimento relativo:

N   
  i Vri i Qri  pi Si  ni  R  G
i 1
Exemplo: Um jato livre na atmosfera, de velocidade V j e área de seção S j
incide sobre um anteparo curvilíneo móvel de velocidade U constante,
sendo desviado de um ângulo  com a horizontal. Despreze a força peso, o
atrito viscoso e considere que a área da seção transversal do jato permanece
constante. Considere o escoamento permanente e incompressível. Calcule
a força do jato sobre o anteparo.
Podemos trabalhar normalmente usando as velocidades relativas no
referencial móvel de origem A que se desloca solidário ao anteparo.

Temos que:

  N  
  
   r d     i Vri 
 i Qri  pi Si  ni  R  G

t C  
 i 1   0
0

Isso resulta:
  
1 Vr1  Qr1  p1S1  n1   2 Vr 2  Qr 2  p2 S2  n2  R
Como o jato está na atmosfera, p1  p2  0 . Trabalhamos com pressões
efetivas porque o volume de controle está imerso na atmosfera. Assim:
  
1 Vr1  Qr1 n1   2 Vr 2  Qr 2 n2  R

Vamos considerar que 1   2  1. Além disso, da equação da continuidade


para escoamento incompressível:

Qr1  Qr 2  Qrj Vrj S j  V j U S j

Assim:

Vr1  V j  U S j n1  Vr 2  V j  U S j n2  R
  
Voltando à equação da continuidade:

Qr1  Vr1 S1  Qr 2  Vr 2 S 2  Qrj  Vrj S j

Como A área de seção transversal do jato é constante (hipótese do


problema), S1  S 2  S j :

Vrj Vr1 Vr 2 V j U

Assim, retornando à equação da quantidade de movimento:

 V j  U  S j n1   V j  U  S j n2  R
2  2  
    
Temos que n1   e x e n2  cos e x  sen e z . Assim:

Rx   V j  U 2 S j cos 1 Rz   V j  U 2 S j sen

Essas são as forças


 que
 o anteparo exerce no jato. A força que o jato exerce
no anteparo é F   R . Assim:

Fx   V j U 2 S j 1  cos  Fz    V j  U 2 S j sen
Exercício: Calcule a força causada pelo escoamento no cotovelo da figura.
A vazão é Q  20 litros/s . A área da seção é S  20cm 2 . A pressão na seção
(1) é de 200000 Pa. O cotovelo está num plano xy horizontal. Despreze a
força peso. Considere escoamento permanente e incompressível, com
g 10 m/s 2 e   10000 N/m 3 . Considere os coeficientes de energia cinética
e quantidade de movimento unitários. A perda de carga entre as seções (1)
e (2) é de 1m.
Aplicando a equação da Quantidade de Movimento:

  N  
  
   d    
 i Qi  pi Si  ni  R  G
i Vi  
t C  
 i 1 1   0
0

Isso resulta:
  
 V1  Q1  p1S1  n1   V2  Q2  p2 S 2  n2  R (I)

Da continuidade:

Q1  Q2  Q  0,020 m 3 /s
As velocidades médias são:

Q 0,020 m 3 /s
V1 V2   10 m/s
-
S 20  10 m4 2

Temos que:

    
n1   e y n2  e x   1000 kg/m 3
g


Assim, basta determinar a pressão p2 para poder calcular a força R do
cotovelo sobre o fluido.
Usando a equação da energia:

 2 V2 2 p2 1 V12 p
  z2   1  z1  perda
2g  2g 

Como 1   2 1, V1 V2 e z1  z 2 ( o cotovelo está num plano horizontal),


temos:

p2  p1   . perda

Isso resulta:

p2  200000 N/m 2  10000 N/m 3 .1m 190000 N/m 2


Substituindo esses resultados na Equação da Quantidade de Movimento (I):

 10.1000. 0,020  200000.0,0020  e y  



 
 10.1000. 0,020  190000.0,0020ex  R
  
Resulta R  580 e x  600 e y ( N) . Fica a cargo do leitor verificar que, com
todas as unidades no SI, todas as parcelas tem unidade de Newton (N).

A força do escoamento no cotovelo, por ação e reação, é:


   
F   R   580 e x  600 e y ( N)
Bibliografia:

Bistafa, S.R., “Mecânica dos Fluidos, Noções e Aplicações”, 2ª Edição, Ed.


Blucher, 2016.

White, F.M., “Mecânica dos Fluidos”, 5º edição, Ed. McGraw Hill, 2010.

Potter, M.C.; Wiggert, D.C., “Mecânica dos Fluidos”, Ed. Thomson


Learning, 2004.

Você também pode gostar