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UNIDADE I
A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE GÊNERO E DIREITOS
HUMANOS DAS MULHERES
Olá, cursistas, sejam bem-vindas (os) ao nosso curso sobre violência doméstica.
na sociedade contemporânea e dos Direitos Humanos das mulheres, com vistas a correlacioná-
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Violência Doméstica - Unidade 1
Seção 1
Conceitos de Gênero
1. Apresentação: Gênero
Gênero diz respeito à forma como somos socializados, isto é, como as nossas atitudes,
comportamentos e expectativas são formados com base no que a cultura atribui como apropriado
escola, no grupo de amigos, nas instituições religiosas, no ambiente de trabalho, nos meios de
Gênero não pode ser confundido com sexo, enquanto o primeiro trata-se de toda construção
social relacionada ao sexo biológico, o segundo são as diferenças anatômicas e biológicas entre
Joan Scott (1980), uma das principais estudiosas sobre o tema, esquematizou uma nova
forma de se pensar o gênero. A partir de uma crítica às concepções de gênero e sexo na época,
reforça uma utilidade analítica para o conceito de gênero para além de um mero instrumento
nas instituições que eram vinculadas ao masculino e ao feminino e sair do pensamento dual que
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Diferente do que ocorre com a conceituação biológica, a distinção de gênero está intimamente
exemplo, já esteve limitada ao espaço da esfera privada, do lar. Não lhe era permitido, a certo
tempo, estudar ou trabalhar fora de casa. Permanecia, por essa construção social, num patamar
inferior ao do homem, a quem competia o mando no lar, mas também todo o espaço público.
privado, locado à mulher, como tal, não poderia sofrer interferência do Estado ou, a grosso modo,
Afirma-se que a origem do conceito e a sua distinção do conceito de sexo surgiu no campo
médico, baseada em investigações com pessoas intersexuais realizadas por John Money (1952) e
fêmea não tem fundamento inato1. Stoller, por sua vez, afirma que gênero se
fantasias que se relacionam com os sexos, mas que não tem uma base biológica2
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características anatômicas.
Na área das ciências sociais, em 1972, Ann Oakley escreveu Sexo, Gênero e Sociedade, primeira
obra deste campo científico a utilizar gênero como construção sociocultural que transcende a
diferença biológica entre homens e mulheres bem como a binaridade masculino e feminino3.
Scott afirma, em Gênero, uma categoria útil para análise (1995)4, que gênero é fruto de
uma construção social, causando uma fissura na ideia de que a determinação do gênero dos
indivíduos seria consequência natural do sexo biológico. Afirma, ainda, que as definições do que
seja masculino e feminino são reflexos dos processos de socialização vividos pelos sujeitos.
Para Scott, gênero e poder estão interligados e as definições de gênero estão umbilicalmente
algumas dessas definições teóricas tinham ligação com doutrinas religiosas, educativas, políticas
ou jurídicas, que chancelam e acabam por perpetuar as definições do que seja homem e mulher,
masculino e feminino.
A autora afirma que é importante o estudo para problematizar o lugar da mulher em relação
(...) o uso do conceito de gênero coloca ênfase sobre todo um sistema de relações
que pode incluir o sexo, mas que não é diretamente determinado pelo sexo, nem
Afirma Scott que é no campo das ciências humanas e da crítica, na linha pós-estruturalista,
que a discussão de gênero toma uma direção de categoria de análise, preconizando gênero como
3 FACIO, Alda. FRIES, Lorena. Ob. cit., p. 15. Apud PIMENTEL, Silvia. Gênero e Direito, Enciclopédia Jurídica da
PUCSP, Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito, p. 1, Edição 1, abril 2017.
4 SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação & realidade, v. 20, p. 7.
PIMENTEL, Silvia. Ob. cit., p. 3.
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sendo elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças entre os sexos, e forma
Partindo deste contexto, é possível definir que as relações sociais entre homens e mulheres
foram construídas num cenário de disputa política, que num primeiro momento histórico
privilegiou os homens.
Tratando da temática, Judith Butler (1991), a partir da famosa frase de Simone de Beauvoir
(Não se nasce mulher, torna-se mulher), aduz que o gênero é desalojado do sexo. Afirma que,
fazendo uma junção da fraseologia de Sartre com a de Beauvoir poderíamos dizer que ‘existir’
nosso corpo em termos culturalmente concretos significa, pelo menos em parte, tornarmo-nos
Fato é que, os estudos sobre gênero revelam classificações diversas, inclusive, mas não
exclusivamente, aquela que será retratada mais adiante, as denominadas ondas do feminismo.
Entre o fim do século XIX e o ano de 1950, ocorre, no Ocidente, a luta pela igualdade de
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direitos civis e políticos entre homens e mulheres, inicialmente na Europa e América do Norte;
na URSS, pela luta por igualdade de direitos econômicos, sociais e culturais. Ocorreram, também,
herdados e imutáveis, tanto pelas características físicas como pelas sociopsicológicas que
ambiente privado e ao homem o espaço público. Segundo PIMENTEL, essa dicotomia de lugares e
hierarquia existentes entre homens e mulheres é justificada para manter as relações de poder que se
estabeleceram em favor dos homens, especialmente por inúmeras teorias essencialistas5. E acrescenta:
Durante e após as duas grandes Guerras Mundiais (1914-1918 e 1940-1945), a presença das
mulheres nos espaços sociais, laborais, científicos e culturais − ocupados até então quase
que exclusivamente por homens − produz profundas transformações nas práticas sociais e
mentalidades coletivas6, o que foi pavimentando o caminho para uma nova fase em que o
Simone de Beauvoir, em sua paradigmática obra O segundo sexo, elaborou análise sobre a
mulher e buscou afastar qualquer determinação “natural” relativa à condição feminina ao
afirmar que: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico,
econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam
diferenças existenciais entre homens e mulheres. Nesse sentido, ser homem ou ser mulher
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O movimento feminista não começou com Simone de Beauvoir, mas houve em diversos
momentos históricos anteriores iniciativas políticas de mulheres buscando alterar uma posição
movimentos feministas.
Um desses exemplos são as chamadas sufragistas, que lutavam no início do século passado
para que as mulheres tivessem o mesmo direito de votar que era concedido aos homens, isto é, a
A primeira onda foi chamada de “sufragismo”, ou seja, movimento voltado para estender o
direito do voto às mulheres. Esse movimento alastrou-se por vários países ocidentais.
Esta luta redundou em conquista a esse direito nos seguintes países: URSS, com a Revolução (1917);
Alemanha (1918); EUA (1919); Inglaterra (1928); Brasil (1932); França, Itália e Japão (1945); Suíça (1973).
Um ano após foi eleita Carlota Pereira de Queiróz, primeira deputada federal brasileira,
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No final da década de 1960 surge a “segunda onda”. É nesse segundo momento que
o feminismo, além das preocupações sociais e políticas, irá se voltar para as construções
propriamente teóricas.
construcionistas sociais, os quais ressaltam aspectos relacionais como dimensão fundamental de gênero.
lado, e seus críticos ou suas críticas de outro, será engendrado e problematizado o conceito de
Algumas obras hoje clássicas — como, por exemplo, “O segundo sexo”, de Simone Beauvoir
(1949), The feminine mystíque, de Betty Friedman (1963), Sexual politics, de Kate Millett (1969) —
livro inovador, O segundo sexo, no qual ela contestava o efeito das lutas feministas por igualdade
Ela considerava que eliminar a dominação masculina era muito mais do que reforma nas leis.
Ela acreditava que era mais importante combater o conjunto de elementos que impediam que as
mulheres fossem realmente autônomas: a educação que preparava mulheres para o casamento,
a maternidade e agradar aos homens; o caráter opressivo do casamento para as mulheres; o fato
de a maternidade não ser livre, já que não havia métodos contraceptivos que permitissem às
mulheres a escolha se desejavam ou não ser mães, isto é, de normas diferenciadas que permitiam
muito maior liberdade sexual aos homens; e ainda a falta de trabalhos e profissões dignas e bem
Simone considerava que a posição da mulher é uma construção social. Autora de uma das
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frases mais citadas pelas feministas: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.”
Embora Simone de Beuavoir seja referência por lançar a pedra fundamental na construção
da teoria de gênero, não há, em sua obra, uma formulação específica de gênero como conceito.
tempo em que foram desenvolvidas reflexões filosóficas e jurídicas, assim como pesquisas na área
O conceito de gênero desenvolvido pelo movimento feminista, nesta época, atribui grande
pessoas. Além disso, a igualdade entre os sexos foi bastante defendida nessa segunda onda feminista.
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Os estudos de gênero realizados nos anos de 1960 e 1970 contribuíram sobremaneira para
desnaturalizar a opressão sofrida pelas mulheres. Nesse período, ainda, desenvolveu-se o ativismo de
gays, lésbicas, bissexuais e transexuais, estimulando o debate sobre sexualidades e orientação sexual.
Na década de 1980, a categoria gênero, ainda com foco na condição da mulher e na sua
das ciências sociais. Enquanto isso, nos idos de 1970, no Brasil, a luta das feministas contra a
bastante estratégico para a luta das mulheres e conquista de seus direitos, pois
A terceira onda do feminismo ocorre a partir dos anos de 1990. No contexto de nova ordem
Gênero e sexo passam a ser criticados como discursos normativos que conferem sustentação
11 CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos
ao gênero. Estudos feministas, ano 10. Apud PIMENTEL, Silvia, ob. cit., p. 6
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performances de gênero.
A filósofa feminista Judith Butler, lembrando Monique Wittig, aduz que gênero é
(...) o gênero não deve ser somente visto como a inscrição cultural de significado
produção por meio do qual os próprios sexos são estabelecidos (...) A hipótese
ideia de uma relação mimética entre gênero e sexo, na qual o gênero reflete o
O trabalho de Butler foi considerado base fundamental da teoria queer. Sobre a teoria queer,
Queer é um movimento que toma uma direção não esperada, que contesta as
trabalhadoras sexuais podem viver com menos medo no mundo (...) Há entre o
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2015, UFSC)
A quarta onda do feminismo, por sua vez, vem demarcado pela interseccionalidade entre
gênero e outros marcadores sociais da diferença e desigualdade, tais quais classe, raça, etnia,
diferenças, um recorte que se aproxime mais ainda da realidade opressora vivenciada pelas
mulheres, suas demandas e lutas específicas em sua concretude existencial, plural e diversa.
Isso porque foi constatado, a partir da história, que as reivindicações da mulher cisgênera,
especificidades e diferenças das pautas das mulheres negras, das mulheres em situação de
pobreza, das mulheres indígenas. Tampouco conseguiram abarcar as lutas e demandas das
busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos
da subordinação”12.
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Cuida, ainda, da forma como as
ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo
12 DAVIS, Angela. As mulheres na construção de uma nova utopia, apud RIBEIRO, Djamila. Prefácio. Mulheres, raça
e classe. Apud PIMENTEL, Silvia, ob. cit., p. 6.
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Essa autora aprofundou as bases teóricas dessa interação que envolve gênero, raça, classe,
PIMENTEL (2017) ao tratar de gênero, raça e classe, apresenta as valiosas palavras da Angela
Davis, grande ícone das lutas libertárias antirracista, feminista e contra a opressão de classe:
raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a classe. Raça é a
maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como
entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias
existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode
amplitude e se revelado estratégico para lidar com as discriminações e desigualdades, bem como
13 SAFFIOTI, Heleieth I.B.; ALMEIDA, Suely Souza. Violência de gênero: poder e impotência, apud PIMENTEL, Silvia;
SCHRITZMEYER, Ana Lúcia P.; PANDJIARJIAN, Valéria. Estupro crime ou “cortesia”? Abordagem sociojurídica de
gênero, p. 19. Apud PIMENTEL, Silvia. Ob. cit., p. 7
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1.2.1. Patriarcado
E um sistema social na qual a diferença sexual serve como base da opressão e da subordinação
da mulher pelo homem, o poder patriarcal pode ser entendido em função do âmbito familiar,
Em termos mais amplos, o poder patriarcal diz respeito à dominação masculina sobre os
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Seção 2
Ao tratar do tema, Nolasco (2001, p. 33) assevera que a violência tem sido reconhecida, durante
séculos, como uma referência de masculinidade e usada como ferramenta pela qual o sujeito se
sentia reconhecido como homem. Ao longo da História, segundo Nolasco, a conquista pelo uso da
violência vem se distanciando do atributo da força física, mas continua a ser identificada como
sobre o feminino.
expedição oficial até à proclamação da independência. Assim, o país “colonizador” teve forte
Durante os anos de colonização, a Coroa Portuguesa era quem ditava as regras e costumes
a serem seguidos pelos moradores da Colônia, época em que foram inseridas normas culturais,
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oficial a instituir a Justiça na Colônia brasileira do século XVI a XIX, primeira legislação que
cuidou de matéria penal, em vigor de 1603, quando impressa, até 1831, quando passou a vigorar o
As Ordenações Filipinas, em seu Título XXXVIII, davam tratamento mui diferenciado entre
apanhasse em adultério14. Dizia, inclusive, que em caso de adultério, poderia o marido traído levar
consigo pessoas que o ajudassem a matá-la, desde que não fossem inimigos da adúltera por outra
com raízes machistas que aflorava à época, numa codificação que durou quase 230 anos.
Não havia nas Ordenações Filipinas um dispositivo com a mesma carga de consequência
caso o adúltero fosse o marido. Estudos indicam que no Brasil a violência, além de sistemática,
tem relação com essa tradição de cultura patriarcal, desenvolvida a partir da colonização, donde
pai e demais figuras masculinas de autoridade exerciam o poder sobre as mulheres, controlando
suas vidas e limitando a sua esfera de vida ao ambiente doméstico” (DEL PRIORE, 2011, p. 160,
Enquanto as mulheres adúlteras eram passíveis de sérios castigos e até de pena de morte, os maridos
em situação equivalente tinham as suas atitudes como simples aventuras passageiras, até justificadas
pelo comportamento poligâmico do marido. Cabia à mulher, apesar disso, manter a paz conjugal e do lar,
respeitar e manter a honra do marido, sob pena de ser, inclusive, morta, como antes mencionado.
A mulher no Brasil Colônia era vista como uma propriedade masculina. Isso iniciava-se na
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relação pai e filha e, quando se casasse, perpetuava-se na relação marido e mulher. Essa dinâmica
implicava no dever da mulher em assegurar a honra do pai ao manter-se virgem e, depois, a honra
do marido, ao manter-se fiel. Nesse contexto, honra era um atributo nítida e essencialmente
Assim, “a honra era construída como um bem do homem” (SABADELL, 1999, p. 80; apud
MELLO 2018, p. 86), pai ou marido, apesar de caber à mulher, com a vigília e abstinência do seu
forçado de esposa e filhas. Era possível manter-se a mulher ou filha sob cárcere privado.
Quando de uma acusação de adultério, não era permitido à mulher sequer falar, muito
menos informar a sua versão dos fatos, já que, na hierarquização imposta pelo patriarcado, só
ao homem cabia a fala e a versão do ocorrido. Sem ter como se defender, a consequência, via de
ter, por óbvio, necessidade de legislações próprias. Em 1830, então, adveio o Código Criminal do
Algumas coisas mudaram, tal qual a possibilidade de o marido poder matar a esposa apanhada
em adultério. Essa regra não foi encartada na legislação do Brasil Império. Do contrário, foi prevista
punição tanto ao marido quanto à esposa que matasse o cônjuge adúltero (pena de 1 a 3 anos).
Porém, algumas desigualdades ainda foram mantidas. Por exemplo, se o marido tivesse a
relação duradoura com uma amante, isso não seria considerado adultério, mas concubinato (art.
250 e seg. do Código Criminal de 1830), sem previsão de reciprocidade com relação à mulher.
Mais tarde, o Código Civil de 1916 considerou adultério, partisse do marido ou da mulher,
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mulheres. No Código Civil de 1916, vigente até 2002, na redação originária trazia a mulher como
relativamente incapaz para o exercício da cidadania. “Não tinha o direito de exercer o pátrio poder,
abrir conta bancária, fixar o domicílio do casal, estabelecer atividade comercial, viajar sem expressa
autorização do marido. Do ponto de vista legal, a mulher casada era equiparada ao silvícola e ao
pródigo, uma vez que o marido era formalmente o seu tutor” (CAMPOS e CORRÊA, 2007, p.72).
A mulher só conquistou o direito ao voto com a aprovação do Código Eleitoral em 1932, que
no seu art. 2º asseverou: É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na
A Lei do Divórcio n. 6.515 de 1977, aprovada após longa tramitação no Congresso Nacional,
Naquela época, por proposta do Senador Nelson Carneiro, criou-se no Congresso Nacional
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para examinar a situação da mulher, o que acabou
Apesar de todos os avanços legais listados acima, o costume de matar a mulher em nome da
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2.2. O papel da mulher no Brasil (fim do século XIX e início do XX ) e seu impacto
nas legislações
capitalismo. Houve uma corrida do campo para a cidade, em busca de alternativas maiores de
convívio social; ocorreu a ascensão da burguesia e o surgimento de uma nova mentalidade (burguesa),
O casamento entre famílias ricas e burguesas servia para ascensão social ou manutenção
do status. A virgindade era como um dispositivo capaz de manter a posição da noiva como objeto
época, como Senhora, de José de Alencar, Os Dois Amores, de Joaquim Manoel de Macedo, e Iaiá
Até a metade do século XX, a divisão de tarefas entre os cônjuges era bem específica,
competindo ao marido o domínio e a força da sociedade conjugal, ao passo que à mulher cabiam
as tarefas típicas do lar, tais quais os cuidados domésticos, com os filhos e marido. A principal
abastadas e o fato de ser casada significava um status privilegiado, pois a mulher pobre, em
contrapartida, não se via nesse ideário de família, já que o homem a quem se unia, normalmente
sendo pobre, não conseguia ser o único mantenedor da casa, tendo ela de ir à lida, isto é, trabalhar.
Como o lar era esse espaço sagrado das famílias, especialmente das mais abastadas, com
todos os mandos destinados ao marido/pai, as violências ocorridas em seu âmbito não eram tidas
como problema social e político, mas que dizia respeito só aos seus membros. Apesar do número
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elevado de mulheres que sofriam maus-tratos e outras violências, a questão era vista como algo
Perdurou, ainda, uma evidente discriminação: a legislação imperial, isto é, o Código Criminal
do Império, bem como aquela que a sucedeu, constava, quando do trato de crimes sexuais, a
preocupação em salvaguardar apenas aquela a quem denominava de “mulher honesta”, que pela
compreensão geral era recatada e tinha a conduta marcada pelo pudor e por uma sexualidade
Esse termo (mulher honesta) foi mantido em pelo menos uma tipificação penal até o ano
de 2005, diga-se, o art. 219 do Código Penal que se viu alterado pela Lei Federal 11.106/2005 que
também alterou, por razões óbvias, a nomenclatura dos chamados “Crimes contra os Costumes”
segundo MELLO (2018, p. 89), tem origem no patriarcado, limitando os crimes de posse sexual
mulheres. Assim, pela interpretação decorrente do contexto cultural, as mulheres que viviam
Essa discriminação era uma verdadeira afronta à Constituição Federal/88 e aos Tratados
Na década de 1970 houve uma intensificação dos movimentos feministas no mundo e igualmente
no Brasil. Nesse tempo ocorreram muitas denúncias de casos de violência contra as mulheres e vários
debates surgiram, inclusive sobre a extensão e formas dessa violência, posto que eram praticamente
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No primeiro julgamento pelo Tribunal do Júri, Doca Street foi absolvido sob a
tese defensiva de legítima defesa da honra. O resultado fez com que houvesse intensa
mobilização, inicialmente por parte dos movimentos feministas e, ato seguinte, por
“quem ama não mata”, o que se referia à afirmação de Doca Street de que teria “matado
diversos casos amorosos com outros homens e mulheres, o que seria inaceitável.
A luta por punição para o crime acima desencadeou significativas mudanças no que se
refere aos movimentos sociais feministas diante dos crimes perpetrados contra as mulheres e
que eram tidos como passionais no Brasil, tornando público o debate sobre a violência contra a
Um dos resultados mais visíveis desse movimento, sem dúvida, foi a criação e a instalação
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à mulher vítima de violência, além, é claro, de dar maior efetividade à investigação. Apesar de
ter como objetivo prestar um atendimento mais humanizado à vítima, nos primórdios de sua
criação, havia pouca compreensão das relações e da violência de gênero das pessoas que eram
1994) de forma bastante acentuada. Ante o aprofundamento dos estudos sobre os direitos da mulher
tendo como foco os novos temas feministas, o atendimento nos grupos “SOS-Mulher” acabou por
credenciar mulheres a atuarem junto ao Poder Constituinte (SARTI, 1988) e estas foram convidadas
a expor nas comissões temáticas, movimento que recebeu o codinome de lobby do batom.
A luta das mulheres durante a década de 1980 gerou a inserção de direitos outrora não
abrangidos pelas constituições brasileiras na nova Carta Magna, a Constituição Federal de 1988,
que inclusive possibilitou a “realização e devida concreção de um novo Código Civil, devidamente
A Constituição Federal de 1988 contemplou, de modo textual, significativa sugestão desse grupo
de mulheres, isto é, o §8 do artigo 226, a saber: O Estado assegurará a assistência à família na pessoa
de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Esse dispositivo constitucional possibilitou, mais tarde, aquela que também seria fruto da
organização e do debate feminista, ou seja, a Lei n. 11.340/2006, chamada de Lei Maria da Penha,
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Aliás, também com base nesse dispositivo que na Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 4424 e na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 19, o Supremo Tribunal Federal
reconheceu a constitucionalidade da Lei Maria da Penha. O Ministro Dias Toffoli, ao proferir seu
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Das lições emanadas pelo Ministro Marco Aurélio em seu voto proferido na ADI 4424, p.14,
violência, ao asseverar15: Representa a Lei Maria da Penha elevada expressão da busca das
O movimento feminista, portanto, teve vital importância para as modificações legislativas e para
base constitucional, a possibilidade de ocorrência da chamada discriminação positiva que será tratada
em tópico próprio, quando da análise da Lei n. 11.340/2006, a denominada Lei Maria da Penha.
Seção 3
direitos humanos (nacionais e internacionais) que tratam sobre os direitos das mulheres.
Para início, vale enfatizar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
sequer fazia menção às mulheres. Revoltando-se contra essa omissão, conta-se que a feminista
Olympe de Gouges escreveu, em setembro de 1791, a Declaração dos Direitos das Mulheres e da
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Cidadão, defendendo igualdade de direitos, o que lhe custou a vida em uma guilhotina, em Paris,
em 1793. Sua história e o documento por ela lavrado fazem parte do acervo da Biblioteca Virtual
Apesar de os esforços para integração da mulher no cenário sociopolítico nos séculos XVIII
aos direitos das mulheres, mediante forte luta empreendida pelos movimentos feministas, a
reinvindicação do direito ao voto e a inserção da mulher no mercado de trabalho, já que antes lhe
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• Artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua,
ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto
país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Percebe-se, portanto, que desde àquela época a participação das mulheres é de extrema
A Conferência Mundial sobre os Direitos Humanos, realizada na capital austríaca, foi o ponto
de partida para a Declaração e Programa de Ação de Viena, marcando o início de um esforço para
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O Conselho de Direitos Humanos da ONU (foto), em Genebra, é uma das conquistas do sistema
internacional da área nestes 20 anos. Foto: ONU/Pierre Albouy.
Foi nessa Conferência Mundial de Viena, em 1993, que se reconheceu que os direitos das
A Declaração e Programa de Ação de Viena foi descrita por Pillay como “o mais importante
documento sobre os direitos humanos produzido no último quarto de século e um dos mais
Veja o vídeo a seguir, relativo aos 20 anos da Conferência (2013), com a participação de
Malala Yousafzai (ativista de direitos educacionais), Nadine Labaki (atriz e produtora libenesa),
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Salma Hayek (atriz e ativista), dentre outros, que tratam da igualdade de direitos entre homens e
A mencionada Declaração Americana (item a, 1948) recebeu elogios por afirmar princípios da
universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos e a correlação entre direitos e deveres. Porém,
recebeu críticas, já que se apresentava, acima de tudo, como uma Carta de Princípios Morais, além
de usar um título inapropriado na visão da mulher, qual seja, Declaração de Direitos do Homem.
O Pacto de San José (item b, 1969), a seu turno, trouxe algumas referências à mulher, tais
quais a do art. 6º que proibia o tráfico de mulheres e o art. 17 que igualava homens e mulheres no
tocante ao matrimônio.
primeira normativa que tratou especificamente, e de forma mais ampla, dos direitos humanos
das mulheres, sem dúvida foi a CEDAW, isto é, a Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas
também é chamada de Convenção da Mulher ou de Carta Magna dos Direitos da Mulher. Acesse-a
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A CEDAW é como se fosse a Carta Magna dos direitos das mulheres (em termos
As obrigações nela citadas dizem respeito a todas as esferas da vida, tais como questões
medidas apropriadas visando eliminar a discriminação contra a mulher praticada por qualquer
Em face dessas obrigações, diversos Estados-partes (pelo menos 23), fizeram reservas ao
ratificarem esta Convenção. A maior parte das reservas diz respeito à clausula de igualdade entre
homens e mulheres na administração da família, por questões religiosas, cultural ou mesmo legal
O Brasil, por exemplo, ao ratificá-la em 1984, apresentou reservas ao artigo 15, §4º, e ao
O artigo 15 assegura a homens e mulheres o direito de, livremente, escolher o seu domicílio
do casamento e das relações familiares. Eles iam de encontro às normas do Código Civil de 1916,
que privilegiava o homem em tais circunstâncias, e, em razão disso, o Brasil não os admitiu,
Nações Unidas foi notificado pelo Governo brasileiro acerca da eliminação destas reservas (mas a
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O Comitê da CEDAW, junto à ONU, possui um comitê especializado que monitora o progresso
e a efetivação da Convenção nas normas e políticas adotadas pelos Estados signatários. Além
disso, emite Recomendações aos Estados-parte. De suas recomendações mais relevantes, cita-se:
sobre a legislação vigente para proteger a mulher da violência, medidas adotadas para erradicação,
serviços de apoio e dados estatísticos sobre essa violência e o número de mulheres vítimas.
privada, por meio de leis e outras medidas para proteção eficaz das mulheres contra a violência
• Recomendação n. 33: que trata do acesso à justiça – justiciabilidade – foi traduzida para o
português em 2015.
violência de gênero contra as mulheres em todos os espaços e esferas da interação humana, seja
pública ou privada. Isso inclui família, comunidade, espaços públicos, local de trabalho, lazer,
digitais. O texto tem o objetivo de contribuir para combater toda forma de discriminação e
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A Recomendação 33 trata-se de uma normativa bastante densa e que cuida do acesso das
mulheres ao sistema de justiça (desde a polícia). Ela observa e aponta obstáculos e restrições que
Ele requer atenção dos atores do sistema de justiça, a fim de que não se opere a revitimização
por órgãos oficiais. Constam recomendações de atuação nas esferas do Direito constitucional,
criados em torno da mulher e que se reproduzem culturalmente. Em seu bojo, afirma que:
amplo alcance para o pleno desfrute pelas mulheres de seus direitos humanos.
• Eles impedem o acesso das mulheres à justiça em todas as áreas do direito, e podem ter
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que consideram apropriados para as mulheres, penalizando aquelas que não agem conforme
esses estereótipos.
depoimentos das mulheres no sistema de justiça sejam por como partes ou testemunhas.
• Esses estereótipos podem levar juízes a mal interpretarem ou mal aplicarem as leis e isso
traz profundas consequências, por exemplo, no direito penal, quando resulta que perpetradores
• Magistrados e árbitros não são os únicos atores no sistema de justiça que aplicam, reforçam
analisadas decisões judiciais que degradaram a Lei Maria da Penha, que também é baseada na
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3.4.1.2 A Recomendação 35 da CEDAW
Estados Partes estabelecidas na Recomendação geral n. 19, devendo ser lida em conjunto com
esta. Esclarece que a expressão “violência contra as mulheres com base no gênero” é usada como
conceito mais preciso que explicita as causas e os impactos em termos de gênero desse tipo
de violência. Esta expressão reforça a compreensão desse tipo de violência como um problema
social, e não individual, que requer respostas abrangentes, para além de eventos específicos,
A recomendação deixa evidente que a violência com base no gênero afeta as mulheres
as meninas e adolescentes. Tal violência assume múltiplas formas, incluindo atos ou omissões
ou econômicos para as mulheres, ameaças de tais atos, assédio, coação e privação arbitrária de
liberdade.
Consta do documento que “os Estados Partes” têm a responsabilidade de prevenir tais
atos ou omissões por parte dos seus próprios órgãos e agentes, nomeadamente através da
aplicar as sanções legais ou disciplinares apropriadas, bem como de garantir reparação, em todos
os casos de violência contra as mulheres com base no gênero, incluindo os que constituem crimes
internacionais, e nos casos de falha, negligência ou omissão por parte das autoridades públicas.
Ao fazê-lo, deverão ter em consideração a diversidade das mulheres e os riscos das formas de
discriminação interseccional.
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E nesse sentido, o comitê recomenda, dentre outras medidas, que os Estados Partes adotem
e implementem medidas legislativas eficazes e outras medidas preventivas adequadas para lidar
com as causas subjacentes à violência contra as mulheres com base no gênero, incluindo atitudes
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais das mulheres, bem como promover a capacitação,
costumes e práticas, previstos no artigo 5.º da Convenção, que toleram ou promovem a violência
contra as mulheres com base no gênero e subjazem à desigualdade estrutural entre mulheres e
com uma abordagem de direitos humanos. Tais conteúdos devem ter como alvo
e cientificamente precisa.
informação acerca das vias legais de recursos disponíveis para a combater e estimulem a
denúncia dela e a intervenção dos que a ela assistem; combatam o estigma experienciado
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pelas vítimas/sobreviventes de tal violência, e desconstruam as crenças comuns de
culpabilização das vítimas segundo as quais as mulheres são responsáveis pela sua
Esses programas devem ter como destinatários mulheres e homens em todos os níveis
da sociedade; profissionais dos setores da educação, saúde, serviços sociais e aplicação da lei e
nível local; líderes tradicionais e religiosos; e autores de qualquer tipo de violência de gênero, de
das áreas da educação, serviços sociais e de bem-estar, incluindo os que trabalham com mulheres
em instituições como casas de acolhimento, centros de asilo e prisões, para lhes permitir prevenir
• O trauma e seus efeitos, a dinâmica de poder que caracteriza a violência nas relações
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mulheres em contexto laboral e de eliminar os fatores que levam à sua revitimização e
No que tange ao direito de acesso à justiça, o Comitê recomenda que os Estados Partes
implementem medidas relativas ao exercício da ação penal e punição da violência contra mulheres
baseada no gênero, como assegurar o acesso efetivo das vítimas aos tribunais e garantir que as
base no gênero, inclusive através da aplicação do direito penal e, se for caso disso, da acusação
como crime público, a fim de submeter os alegados agressores a um julgamento justo, imparcial,
imediato e rápido, e da imposição de sanções adequadas. Além disso, não devem ser impostas às
Acesse a Convenção de Belém do Pará aqui neste link aqui, ou ou por esta via
deste documento.
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Violência Doméstica - Unidade 1
compreensões:
direitos e liberdades
esferas de vida
enfática, a violência contra a mulher como um fenômeno generalizado, que alcança, sem distinção
de raça, classe, religião, idade ou qualquer outra condição, um elevado número de mulheres.
• PREOCUPADOS por que a violência contra a mulher constitui ofensa contra a dignidade
e homens
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Violência Doméstica - Unidade 1
assuntos públicos, além de outros direitos previstos no Artigo 4, bem como gozo de direitos civis,
18 O termo gênero, então, é utilizado para: “demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes
entre mulheres e homens, que repercutem na esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles
papéis sociais diferenciados que foram construídos historicamente, e criaram polos de dominação e submissão.
Impõe-se o poder masculino em detrimento dos direitos das mulheres, subordinando-as às necessidades pessoais
e políticas dos homens, tornando-as dependentes.” (Teles e Melo, 2003:16). VIOLÊNCIA DE GÊNERO: relacional,
assimetria de poder, dominação/submissão. Previsão na Lei Maria da Penha: art. 5º
19 A Lei Maria da Penha, em seu art. 7, menciona, as violências física, psicológica, sexual, moral e patrimonial, mas
resguarda o reconhecimento de violências que possam ser diferentes destas, ao apor o termo “entre outras” no seu
caput.
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Violência Doméstica - Unidade 1
direito a não ser discriminada de qualquer modo e o direito à valorização e à educação, rompendo-
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Violência Doméstica - Unidade 1
contra a mulher;
f. estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada
a violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo
acesso a tais processos;
g. estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para
assegurar que a mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição,
reparação do dano e outros meios de compensação justos e eficazes;
h. adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência
desta Convenção.
Belém do Pará21. Esse mecanismo de monitoramento representa um enorme avanço22, já que não
O Caso “Maria da Penha Maia Fernandes x Brasil” foi levado à Comissão Interamericana
, sendo condenado o Brasil a cumprir as suas recomendações, dentre elas a de ajustar a sua
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Por sua vez, a Lei Maria da Penha traz em seu preâmbulo, detalha o seu conteúdo e a sua
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Violência Doméstica - Unidade 1
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução
CONCLUSÃO
Na Seção 1, tratamos de gênero a partir de uma aproximação conceitual. A seguir, foram
desse conceito para a compreensão da violência contra as mulheres. Além disso, conhecemos um
pouco da história do feminismo e seus momentos históricos, mais conhecidos como ondas. Por
fim, delineamos os conceitos de gênero, raça e etnia, bem como suas interseccionalidades.
Na Seção 2, foi vista a História da Mulher na Sociedade e a Violência, com reflexões iniciais
Por fim, na Seção 3, embarcamos nos Direitos Humanos das Mulheres, a partir da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, passando pela Conferência Mundial de Direitos Humanos de
tratamos da Convenção da Mulher (CEDAW), a Carta Magna dos Direitos Humanos das Mulheres,
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Violência Doméstica - Unidade 1
Dessa forma, chegamos ao fim desta Unidade I, desejosos de que tenha sido de grande valia
ao seu dia-a-dia!
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REFERÊNCIAS
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SEVERI, Fabiana Cristina. Justiça em uma perspectiva de gênero: elementos teóricos, normativos
TELES, Maria Amélia de Almeida. O que é violência contra a mulher/Maria Amélia de Almeida
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