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Cinco problemas sobre potência de um ponto em relação a uma circunferência


e eixo radical em olimpíadas internacionais de Matemática

Preprint · March 2021


DOI: 10.13140/RG.2.2.31415.65443

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0 317

3 authors:

Juan López João Paulo Martins dos Santos


University of São Paulo Força Aérea Brasileira
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Alessandro Firmiano de Jesus


Força Aérea Brasileira
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18 Cinco problemas sobre potência de um ponto em
19 relação a uma circunferência e eixo radical em
20 Olimpíadas Internacionais de Matemática
21 Five problems about the power of a point in relation to a
22 circumference and radical axis in International Mathematics
1
Revista Eletrônica 23 Olympics
2 Paulista de Matemática

3 ISSN 2316-9664 24 Resumo


4 preprint 25 Três problemas propostos para a Olimpíada Internacional de
26 Matemática (IMO) e dois para a Olimpíada Iraniana de Geo-
Fonte: Myriad Semi-bold modificada

27 metria (IGO) são discutidos em detalhe. Todos relacionados à


28 potência de um ponto relativo a uma circunferência, ao teorema
5 Juan López Linares 29 das cordas e eixo e centro radical. Porém, uma combinação de
6 Faculdade de Zootecnia e Engenha- 30 outros conteúdos também são requeridos: equação quadrática,
7 ria de Alimentos 31 teorema de Pitágoras, circuncentro de um triângulo, retas tan-
8 Universidade de São Paulo 32 gentes, ângulos inscritos e de segmentos, quadriláteros cíclicos
9 jlopez@usp.br 33 ou inscritíveis, semelhanças e congruências. As demonstrações
34 envolvidas nas soluções são complementadas pela disponibili-
35 zação dos respectivos links das figuras interativas usando o Ge-
10 João Paulo Martins dos Santos 36 ogebra. É esperado que o artigo possa ser apreciado tanto por
11 Academia da Força Aérea–AFA 37 estudantes que se preparam para as fases finais de competições
12 Pirassununga-SP
38 nacionais ou internacionais, quanto por professores que atuam
13 jp2@alumni.usp.br
39 no ensino e se interessem em problemas mais desafiadores.
40 Palavras-chave: Olimpíadas Internacionais de Matemática.
41 Potência de um ponto em relação a uma circunferência. Ensino
14 Alessandro Firmiano de Jesus
15 Academia da Força Aérea–AFA 42 Médio e Universitário. Geometria.
16 Pirassununga-SP
17 lezandro@gmail.com 43 Abstract
44 Three problems proposed for the International Mathematical
45 Olympiad (IMO) and two for the Iranian Geometry Olympiad
46 (IGO) are discussed in detail. All are related to the power
47 of a point relative to a circumference and radical axis. The
48 solutions, however, require the combination of other contents:
49 quadratic equation, Pythagorean theorem, circumcenter of a
50 triangle, tangent lines, inscribed and segment angles, cyclic
51 or inscribable quadrilaterals and similarities and congruences
52 of triangles. Demonstrations are complemented by links to
53 interactive constructions in Geogebra. It is expected that the
54 article can be appreciated both by students who are preparing
55 for the final stages of national or international competitions,
56 and by teachers interested in more challenging problems.
57 Keywords: International Mathematics Olympics. Power of
58 a point in relation to a circle. High School and University.
59 Geometry.

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

60 1 Introdução
61 Uma mostra da importância das Olimpíadas Internacionais de Matemática é que a participação
62 de um programa de computador como concorrente virou um dos próximos desafios da inteligência
63 artificial (HARTNETT, 2020). Isto acontece após diferentes softwares terem vencido os grandes
64 mestres dos jogos de Xadrez e Go.
65 O raciocínio matemático é o elemento desafiador na obtenção de tais softwares (SAXTON et
66 al, 2019). Não chegamos a entender e resolver problemas somente baseados na experiência, mas
67 também pelo poder de inferir e explorar leis, axiomas e regras de manipulação de símbolos. Às
68 vezes, a ideia inicial ou ponto de partida, resulta ser a mais difícil de encontrar.
69 Neste contexto, ao resolver problemas de olimpíadas internacionais de Matemática pretendemos
70 incentivar estudantes e professores do Ensino Fundamental e Médio a aumentar seus conhecimen-
71 tos, pois são desafios que requerem uma solução em múltiplos passos, onde se integram várias
72 habilidades.
73 As soluções apresentadas complementam algumas disponíveis em fóruns em língua inglesa.
74 Usando argumentos menos rebuscados, focamos na apresentação mais detalhada das transições,
75 possibilitando que alunos em níveis menos avançados consigam acompanhar o desenvolvimento do
76 problema. Adicionalmente, uma versão interativa das figuras do texto também é disponibilizada no
77 site do Geogebra.
78 No primeiro problema são dadas duas circunferências tangentes externamente e uma reta que
79 intercepta cada uma delas em dois pontos formando três segmentos de igual medida. É pedido
80 encontrar o comprimento comum dos segmentos e sob quais restrições essa construção é possível.
81 O segundo problema apresenta três circunferências tangentes externamente entre si e a duas linhas
82 paralelas. É pedido mostrar que o circuncentro do triângulo formado pelos pontos de tangências das
83 circunferências entre si coincide com a interseção de dois segmentos da construção.
84 No terceiro problema é dado um triângulo retângulo e um ponto 𝑋 na altura correspondente ao
85 ângulo reto. Várias construções são feitas a partir de 𝑋. Se pede demonstrar que dois segmentos
86 têm igual medida. Uma das chaves para a solução é perceber que 𝑋 é o centro radical de três
87 circunferências.
88 O quarto problema usa a igualdade de um ângulo inscrito com um de segmento para provar
89 que determinada reta é tangente a uma circunferência. A solução envolve descobrir duas de quatro
90 circunferências usadas e dois centros radicais.
91 No problema cinco um triângulo acutângulo e uma circunferência são dados. Um conjunto
92 adicional de construções é feito e se pede mostrar a congruência de dois ângulos. Durante a solução
93 outras duas circunferências são encontradas e o centro radical das mesmas.
94 Anteriormente discutimos problemas de olimpíadas internacionais de Matemática sobre Série
95 Harmônica (LÓPEZ LINARES; BRUNO-ALFONSO; BARBOSA, 2020a), Desigualdades (LÓPEZ
96 LINARES; BRUNO-ALFONSO; BARBOSA, 2020b) e Partições (LÓPEZ LINARES, 2020).
97 Iniciamos com uma introdução dos conceitos básicos sobre a potência de um ponto relativo a
98 uma circunferência, o teorema das cordas e a teoria de eixo e centro radical.

99 2 Conceitos básicos
100 Dado um ponto 𝑃, uma circunferência 𝑐 e uma reta que passa por 𝑃 e intercepta 𝑐 nos pontos 𝐴
101 e 𝐵 (corda 𝐴𝐵) o produto 𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵 é invariante quando 𝐴 e 𝐵 variam. Esse resultado é conhecido

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

102 como Teorema das Cordas e será apresentado formalmente nas próximas linhas. Mas antes vamos
103 definir a potência de um ponto relativo a uma circunferência.
104 Definição 1. Seja 𝑐 uma circunferência de raio 𝑟 e um ponto 𝑃 no mesmo plano a uma distância 𝑑
105 do centro de 𝑐. A potência do ponto 𝑃, relativo a 𝑐, será denotada como 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) e calculada por
106 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) = 𝑑 2 − 𝑟 2 .
107 Segue da definição que, se 𝑃 é um ponto no exterior de 𝑐, então 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) > 0. No caso em que
108 𝑃 ∈ 𝑐, temos 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) = 0 e quando 𝑃 é um ponto interior a 𝑐 teremos −𝑟 2 ≤ 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) < 0.
109 Teorema 2 (Teorema das Cordas). Sejam 𝐴, 𝐵, 𝐶, 𝐷 e 𝑃 (𝐾, 𝐿, 𝑀, 𝑁 e 𝐽) pontos do plano tais que
110 𝐴𝐵 ∩ 𝐶𝐷 = {𝑃} (𝐾 𝑀 ∩ 𝐿𝑁 = {𝐽}). O quadrilátero 𝐴𝐵𝐶𝐷 (𝐾 𝐿𝑀 𝑁) é inscritível se, e somente
111 se, 𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵 = 𝑃𝐶 · 𝑃𝐷 (𝐽𝐾 · 𝐽 𝑀 = 𝐽 𝐿 · 𝐽 𝑁).
112 A Figura 1 ilustra duas construções geométricas possíveis relativas ao Teorema 2. No lado
113 esquerdo, quando o ponto 𝑃 é exterior à circunferência 𝑐 e o direito, quando o ponto 𝐽 é interior à
114 circunferência 𝑒.

Figura 1: O lado esquerdo ilustra o caso em que 𝑃 é um ponto exterior à circunferência 𝑐, 𝑟 = 𝑂𝐺 e


𝑑 = 𝑃𝑂. O lado direito, quando o ponto 𝐽 é interior à circunferência 𝑒, 𝑟 = 𝐻𝑄 e 𝑑 = 𝐽𝐻. O ponto
𝐹 ∈ 𝑐 é de tangência e ilustra o caso particular em que 𝐶 e 𝐷 se aproximam a ele. Versão interativa
aqui.

115 Demonstração. Suponhamos, inicialmente, que o quadrilátero 𝐴𝐵𝐶𝐷 (𝐾 𝐿𝑀 𝑁) é inscritível.


116 Os ângulos 𝐴𝐶𝐷 e 𝐴𝐵𝐷 (𝑀𝐾 𝑁 e 𝑀 𝐿𝑁) são congruentes, pois enxergam o mesmo arco menor
117 𝐴𝐷 (𝑀 𝑁). No lado esquerdo, temos ∠𝐶𝑃 𝐴 = ∠𝐵𝑃𝐷 (comum) e no lado direito ∠𝐾 𝐽 𝑁 = ∠𝐿𝐽 𝑀
118 (opostos pelo vértice). Consequentemente, pelo critério ângulo-ângulo, temos 4𝑃 𝐴𝐶 ∼ 4𝑃𝐷𝐵
119 (4𝐾 𝐽 𝑁 ∼ 4𝐿𝐽 𝑀).
120 Os lados correspondentes em triângulos semelhantes são proporcionais:
𝑃 𝐴 𝑃𝐶 𝐴𝐶
= = ,
𝑃𝐷 𝑃𝐵 𝐷𝐵
121
𝐽𝐾 𝐽𝑁 𝐾𝑁
= = .
𝐽 𝐿 𝐽 𝑀 𝐿𝑀
122 Das equações anteriores encontramos que
𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵 = 𝑃𝐶 · 𝑃𝐷, (1)

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

123

𝐽𝐾 · 𝐽 𝑀 = 𝐽 𝐿 · 𝐽 𝑁. (2)
124 Reciprocamente, suponhamos que valem (1) e (2). Segue que
𝑃 𝐴 𝑃𝐶
= ,
𝑃𝐷 𝑃𝐵
125
𝐽𝐾 𝐽𝑁
= .
𝐽𝐿 𝐽𝑀
126 Adicionalmente, no lado esquerdo da Figura 1 temos ∠𝐶𝑃 𝐴 = ∠𝐵𝑃𝐷 (comum) e no lado direito
127 ∠𝐾 𝐽 𝑁 = ∠𝐿𝐽 𝑀 (opostos pelo vértice). Pelo critério de semelhança lado-ângulo-lado segue que
128 4𝑃 𝐴𝐶 ∼ 4𝑃𝐷𝐵 e 4𝐾 𝐽 𝑁 ∼ 4𝐿𝐽 𝑀. Como consequência, ∠ 𝐴𝐶𝐷 = ∠ 𝐴𝐵𝐷 e ∠𝑀𝐾 𝑁 = ∠𝑀 𝐿𝑁.
129 Isto é, os quadriláteros 𝐴𝐵𝐶𝐷 e 𝐾 𝐿𝑀 𝑁 são inscritíveis. 
130 Observação 3. Estudaremos agora um caso particular no lado esquerdo da Figura 1. O segmento
131 𝑃𝐹 é tangente a circunferência 𝑐. Os ângulos 𝑃𝐹 𝐴 e 𝑃𝐵𝐹 são congruentes, pois um é de segmento
132 e o segundo inscrito em relação a corda 𝐴𝐹. Consequentemente, pelo critério ângulo-ângulo, temos
133 4𝑃𝐹 𝐴 ∼ 4𝑃𝐵𝐹.
134 Da proporcionalidade dos lados encontramos:
𝑃𝐹 𝑃 𝐴
= ,
𝑃𝐵 𝑃𝐹
135
𝑃𝐹 2 = 𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵. (3)
136 A equação (3) pode ser obtida de (1) simplesmente notando que quando o ponto 𝐶 se aproxima
137 de 𝐹 o ponto 𝐷 também o faz.
138 Por outro lado, um caso particular no lado direito da Figura 1 é escolher a corda com menor
139 comprimento passando por 𝐽. Isto é, 𝑆𝑇, perpendicular ao segmento 𝐽𝐻. Temos que 𝑆𝐽 = 𝐽𝑇, logo
140 𝑃𝑜𝑡 𝑒 (𝐽) = 𝑆𝐽 2 = 𝐽𝑇 2 .
141 Observação 4. Ainda usando como referência a Figura 1 consideramos a reta 𝑃𝑂 (𝐽𝐻) que
142 determina o diâmetro 𝐸𝐺 (𝑅𝑄). Chamando 𝑃𝑂 = 𝑑 e 𝐸𝑂 = 𝐺𝑂 = 𝑟 (𝐽𝐻 = 𝑑 e 𝑅𝐻 = 𝑄𝐻 = 𝑟) e
143 usando as equações (1), (2) e (3) podemos escrever:

𝑃𝐹 2 = 𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵 = 𝑃𝐸 · 𝑃𝐺 = (𝑑 − 𝑟)(𝑑 + 𝑟) = 𝑑 2 − 𝑟 2 = 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃),


144

𝐽𝐾 · 𝐽 𝑀 = 𝐽 𝑅 · 𝐽𝑄 = (𝑟 − 𝑑)(𝑟 + 𝑑) = 𝑟 2 − 𝑑 2 = −𝑃𝑜𝑡 𝑒 (𝐽).


145 Resumimos os resultados anteriores no Corolário a seguir.
146 Corolário 5. Seja 𝑐 uma circunferência, 𝑃 um ponto no mesmo plano e a reta que passa por 𝑃
147 intercepta 𝑐 nos pontos 𝐴 e 𝐵. Vale que

𝑃 𝐴 · 𝑃𝐵 = |𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃)| .

148 Definição 6. Eixo radical é o nome dado ao lugar geométrico dos pontos que possuem a mesma
149 potência com relação a duas circunferências 𝑐 e 𝑑. Isto é, o ponto 𝑃 pertence ao eixo radical quando
150 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) = 𝑃𝑜𝑡 𝑑 (𝑃).
151 Proposição 7. O eixo radical a duas circunferências é uma reta perpendicular ao segmento que
152 contém os centros das mesmas.

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153 A Figura 2 ilustra uma construção geométrica possível relativa à Proposição 7.

Figura 2: O eixo radical 𝑓 (verde) das circunferências 𝑐 (vermelho) e 𝑑 (azul) é uma reta perpendicular
a 𝑂 1 𝑂 2 . Todo ponto 𝑃 do eixo radical é centro de uma circunferência ℎ que intercepta a 𝑐 e 𝑑
perpendicularmente. 𝑀 é o ponto médio de 𝑂 1 𝑂 2 . Versão interativa aqui.

154 Demonstração. Usaremos a Figura 2 como referência. Suponhamos, inicialmente, que 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) =
155 𝑃𝑜𝑡 𝑑 (𝑃). Iremos mostrar que o ponto 𝑃 pertence a uma reta perpendicular à 𝑂 1 𝑂 2 .
156 Sejam 𝐼 ∈ 𝑐 e 𝐿 ∈ 𝑑 tal que 𝑃𝐼 ⊥ 𝑂 1 𝐼 e 𝑃𝐿 ⊥ 𝑂 2 𝐿. Usando a Definição 1 temos:

𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃) = 𝑃𝑂 21 − 𝑂 1 𝐼 2 = 𝑃𝑂 22 − 𝑂 2 𝐿 2 = 𝑃𝑜𝑡 𝑑 (𝑃), (4)

157
𝑃𝑂 22 − 𝑃𝑂 21 = 𝑂 2 𝐿 2 − 𝑂 1 𝐼 2 . (5)
158 Sejam 𝐸 e 𝑀 a projeção do ponto 𝑃 sobre 𝑂 1 𝑂 2 e ponto médio de 𝑂 1 𝑂 2 , respectivamente. Seja
159 ∠𝑃𝑀𝑂 1 = 𝛼, segue que ∠𝑃𝑀𝑂 2 = 180◦ − 𝛼. Escrevemos agora a lei dos cossenos no 4𝑃𝑀𝑂 2 e
160 no 4𝑃𝑀𝑂 1 :
𝑃𝑂 22 = 𝑃𝑀 2 + 𝑀𝑂 22 − 2 · 𝑃𝑀 · 𝑀𝑂 2 · cos(180◦ − 𝛼),
161
𝑃𝑂 22 = 𝑃𝑀 2 + 𝑀𝑂 22 + 2 · 𝑃𝑀 · 𝑀𝑂 2 · cos(𝛼), (6)
162
𝑃𝑂 21 = 𝑃𝑀 2 + 𝑀𝑂 21 − 2 · 𝑃𝑀 · 𝑀𝑂 1 · cos(𝛼). (7)
163 Como 𝑀𝑂 2 = 𝑀𝑂 1 , 𝑀𝑂 1 + 𝑀𝑂 2 = 𝑂 1 𝑂 2 e subtraindo (7) de (6), encontramos:

𝑃𝑂 22 − 𝑃𝑂 21 = 2 · 𝑃𝑀 · 𝑂 1 𝑂 2 · cos(𝛼). (8)

164 Adicionalmente,
𝑃𝑀 · cos(𝛼) = 𝐸 𝑀. (9)
165 Substituindo (5) e (9) em (8) encontramos:

𝑂 2 𝐿 2 − 𝑂 1 𝐼 2 = 2 · 𝑂 1 𝑂 2 · 𝐸 𝑀,
166

𝑂2 𝐿2 − 𝑂1 𝐼 2
𝐸𝑀 = .
2 · 𝑂 1𝑂 2

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167 Este último resultado indica que 𝐸 𝑀 é um número que somente depende dos raios das duas
168 circunferências e da distância entre elas, mas não de 𝑃. Isto é, os pontos do eixo radical pertencem
169 a reta 𝑓 ⊥ 𝑂 1 𝑂 2 e 𝐸 ∈ 𝑓 .
170 Reciprocamente, iremos provar que todo ponto 𝑃0 ∈ 𝑓 pertence ao conjunto de pontos chamado
171 eixo radical.
172 Pelo Teorema de Pitágoras temos:

𝑃0𝑂 22 = 𝑃0 𝐸 2 + 𝐸𝑂 22 ,

173
𝑃0𝑂 21 = 𝑃0 𝐸 2 + 𝐸𝑂 21 ,
174
𝑃𝑂 22 = 𝑃𝐸 2 + 𝐸𝑂 22 ,
175
𝑃𝑂 21 = 𝑃𝐸 2 + 𝐸𝑂 21 .
176 Das equações anteriores subtraindo as duas primeiras e as duas últimas:

𝑃0𝑂 22 − 𝑃0𝑂 21 = 𝐸𝑂 22 − 𝐸𝑂 21 ,

177
𝑃𝑂 22 − 𝑃𝑂 21 = 𝐸𝑂 22 − 𝐸𝑂 21 ,
178
𝑃0𝑂 22 − 𝑃0𝑂 21 = 𝑃𝑂 22 − 𝑃𝑂 21 . (10)
179 Sejam 𝐴 e 𝐵 as interseções dos segmentos 𝑃𝑂 1 e 𝑃𝑂 2 com 𝑐 e 𝑑, respectivamente. De (5)
180 temos:
𝑃𝑂 22 − 𝑃𝑂 21 = 𝑂 2 𝐿 2 − 𝑂 1 𝐼 2 = 𝑂 2 𝐵2 − 𝑂 1 𝐴2 . (11)
181 Usando (10) e (11) encontramos

𝑃0𝑂 22 − 𝑃0𝑂 21 = 𝑂 2 𝐵2 − 𝑂 1 𝐴2 ,

182
𝑃0𝑂 22 − 𝑂 2 𝐵2 = 𝑃0𝑂 21 − 𝑂 1 𝐴2 ,
183
𝑃𝑜𝑡 𝑑 (𝑃0) = 𝑃𝑜𝑡 𝑐 (𝑃0).
184 Isto é, todo ponto 𝑃0 ∈ 𝑓 pertence ao eixo radical. Logo, a reta 𝑓 , perpendicular a 𝑂 1 𝑂 2 , é
185 o lugar geométrico dos pontos que possuem a mesma potência com relação as circunferências 𝑐 e
186 𝑑. 
187 A Figura 2 e a equação (4) também mostram que todo ponto 𝑃 do eixo radical é centro de uma
188 circunferência ℎ que intercepta a 𝑐 e 𝑑 perpendicularmente.
189 Quando duas circunferências são tangentes o eixo radical das mesmas passa pelo ponto de
190 tangência, uma vez que a potência deste ponto é zero com respeito às duas (Figura 3, parte superior
191 esquerda).
192 No caso em que as duas circunferências são secantes o eixo radical passa pelos pontos de
193 interceptação, pois a potência destes é zero com respeito às duas (Figura 3, parte superior direita).
194 Pode ser mostrado que para três circunferências com centros não colineares os eixos radicais dos
195 pares concorrem em um ponto 𝐶, denominado centro radical (Figura 3, parte inferior). A potência
196 de 𝐶 é a mesma em relação às três circunferências e 𝐶 é o único ponto com esta propriedade. Outros
197 exemplos podem ser encontrados em (MUNIZ NETO, 2013).

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Figura 3: Exemplos de eixo radical (linhas em verde). Parte superior esquerda, quando duas
circunferências são tangentes o eixo radical das mesmas passa pelo ponto de tangência. Parte
superior direita, no caso em que as duas circunferências são secantes o eixo radical passa pelos
pontos de interceptação. Parte inferior, para três circunferências com centros não colineares os eixos
radicais dos pares concorrem em um ponto 𝐶 denominado centro radical. A potência de 𝐶 é a
mesma em relação às três circunferências. Versão interativa aqui.

198 3 Eixo radical, teorema de Tales, equação quadrática. SL IMO


199 1971 P4
200 Problema 1. Duas circunferências tangentes em um plano, com raios 𝑟 1 e 𝑟 2 , são dadas. Uma reta
201 intercepta as duas circunferências em quatro pontos determinando três segmentos de igual medida.
202 Encontrar o comprimento dos segmentos em função de 𝑟 1 e 𝑟 2 e as condições sobre as quais o
203 problema tem solução.

204 A IMO 1971 foi realizada nas cidade de Bratislava e Zilina, na Eslováquia (INTERNATIONAL
205 MATHEMATICAL OLYMPIAD, 2019). O problema acima foi proposto pela delegação do Reino
206 Unido (DJUKIC et al, 2006).

207 3.1 Resolução


208 A Figura 4 ajuda entender a descrição que segue. Resolveremos o problema em um sistema
209 cartesiano de coordenadas. Para tal colocamos o eixo 𝑥 passando pelo centro das duas circunferências
210 e o eixo 𝑦 pelo ponto de tangência, 𝑂. Consideramos que as circunferências Γ1 (azul) e Γ2 (vermelha),
211 com centros em 𝑂 1 e 𝑂 2 , têm raios 𝑟 1 e 𝑟 2 , respectivamente.

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Figura 4: Uma solução do Problema 1. As circunferências Γ1 e Γ2 com centros em 𝑂 1 (azul) e 𝑂 2


(vermelha) têm raios 𝑟 1 e 𝑟 2 , respectivamente. A reta 𝑝 intercepta as duas circunferências em quatro
pontos determinando três segmentos de igual medida. Versão interativa aqui.

212 Seja 𝑝 a reta (verde) de equação


𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏, (12)
213 com 𝑎 e 𝑏 números reais a serem determinados, que intercepta a Γ1 em 𝐸 e 𝐹 e a Γ2 em 𝐻 e 𝐼,
214 respectivamente. 𝐺 é o ponto de interseção de 𝑝 com o eixo 𝑦.
215 Por hipótese temos 𝐸 𝐹 = 𝐹𝐻 = 𝐻𝐼 = 𝑑. Os pontos 𝐴 = (𝑥 𝐴 , 0), 𝐵 = (𝑥 𝐵 , 0), 𝐶 = (𝑥𝐶 , 0) e
216 𝐷 = (𝑥 𝐷 , 0) são as projeções ortogonais dos pontos 𝐸, 𝐹, 𝐻 e 𝐼 sobre o eixo 𝑥, respectivamente.
217 Segue pelo teorema de Tales que
𝐴𝐵 = 𝐵𝐶 = 𝐶𝐷 = 𝑥 𝐵 − 𝑥 𝐴 = 𝑥𝐶 − 𝑥 𝐵 = 𝑥 𝐷 − 𝑥𝐶 = 𝑑𝑥 .
218 Como vimos anteriormente, o eixo radical de duas circunferências tangentes passa pelo ponto de
219 tangência e é perpendicular a linha que une os centros das mesmas. Isto é, o eixo 𝑦 na figura acima
220 é o conjunto de pontos com a mesma potência em relação a Γ1 e Γ2 . Em particular, para o ponto 𝐺
221 podemos escrever
𝐺𝐸 · 𝐺𝐹 = 𝐺 𝐼 · 𝐺𝐻.
222 Sejam 𝑢 = 𝐺𝐹 e 𝑣 = 𝐺𝐻, segue que
(𝑑 + 𝑢) · 𝑢 = (𝑑 + 𝑣) · 𝑣,
223

𝑢 + 𝑣 = 𝑑.
224 Resolvendo o sistema das duas equações anteriores se encontra que
𝑑
𝑢=𝑣=
.
2
225 O resultado anterior implica que 𝐺𝐸 = 3𝐺𝐹 e 𝐺 𝐼 = 3𝐺𝐻. Usando novamente o teorema de
226 Tales temos que 𝑂 𝐴 = 3𝑂𝐵 e 𝑂𝐷 = 3𝑂𝐶 ou
𝑥 𝐴 = 3𝑥 𝐵 , (13)

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227

𝑥 𝐷 = 3𝑥𝐶 . (14)
228 Por outro lado, a equação em coordenadas cartesianas da circunferência Γ1 é

(𝑥 + 𝑟 1 ) 2 + 𝑦 2 = 𝑟 12 ,

229
𝑥 2 + 𝑦 2 + 2𝑥𝑟 1 = 0. (15)
230 A equação em coordenadas cartesianas da circunferência Γ2 é

(𝑥 − 𝑟 2 ) 2 + 𝑦 2 = 𝑟 22 ,

231
𝑥 2 + 𝑦 2 − 2𝑥𝑟 2 = 0. (16)
232 Substituindo (12) em (15) encontramos que 𝑥 𝐴 e 𝑥 𝐵 satisfazem

𝑥 2 + (𝑎𝑥 + 𝑏) 2 + 2𝑥𝑟 1 = 0,
233  
1 + 𝑎 2 𝑥 2 + 2 (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 𝑥 + 𝑏 2 = 0.
234 Resolvendo a equação quadrática anterior encontramos
√︃
− (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) − (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

𝑥𝐴 = , (17)
1 + 𝑎2
235 √︃
(𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

− (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) +
𝑥𝐵 = . (18)
1 + 𝑎2
236 Segue que √︃
2 (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

𝑑𝑥 = 𝑥 𝐵 − 𝑥 𝐴 = . (19)
1 + 𝑎2
237 Usando as equações (13), (17) e (18) encontramos
√︃
𝑎𝑏 + 𝑟 1 = 2 (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2 .

(20)

238 Logo, substituindo (20) em (19) temos


𝑎𝑏 + 𝑟 1
𝑑𝑥 = 𝑥 𝐵 − 𝑥 𝐴 = . (21)
1 + 𝑎2
239 De forma análoga, substituindo (12) em (16) encontramos que 𝑥𝐶 e 𝑥 𝐷 satisfazem

𝑥 2 + (𝑎𝑥 + 𝑏) 2 − 2𝑥𝑟 2 = 0,
 
240
1 + 𝑎 2 𝑥 2 + 2 (𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) 𝑥 + 𝑏 2 = 0.
241 Resolvendo a equação quadrática anterior encontramos
√︃
𝑟 2 − 𝑎𝑏 − (𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

𝑥𝐶 = , (22)
1 + 𝑎2

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242 √︃
(𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

𝑟 2 − 𝑎𝑏 +
𝑥𝐷 = . (23)
1 + 𝑎2
243 Segue que √︃
2 (𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2

𝑑 𝑥 = 𝑥 𝐷 − 𝑥𝐶 = . (24)
1 + 𝑎2
244 Usando as equações (14), (22) e (23) encontramos
√︃
𝑟 2 − 𝑎𝑏 = 2 (𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2 .

(25)
245 Logo, substituindo (25) em (24) temos
𝑟 2 − 𝑎𝑏
𝑑 𝑥 = 𝑥 𝐷 − 𝑥𝐶 = . (26)
1 + 𝑎2
246 De (21) e (26) segue que
𝑟2 − 𝑟1
𝑎𝑏 =. (27)
2
247 Como também vale que 𝑑𝑥 = 𝑥𝐶 − 𝑥 𝐵 e temos (22) e (18), então
√︃  2 √︃
𝑟 2 + 𝑟 1 − (𝑎𝑏 − 𝑟 2 ) − 1 + 𝑎 𝑏 − (𝑎𝑏 + 𝑟 1 ) 2 − 1 + 𝑎 2 𝑏 2
2 2

𝑑𝑥 = . (28)
1 + 𝑎2
248 Da igualdade de (26) e (28) e substituindo (27) encontramos
√︂
𝑟1 − 𝑟2  𝑟 + 𝑟 2 𝑟 − 𝑟 2
1 2 2 2 1
= 𝑟1 − 2 −𝑏 − ,
2 2 2
249 14𝑟 1𝑟 2 − 𝑟 12 − 𝑟 22
𝑏2 = . (29)
16
250 Elevando ao quadrado (27) e usando (29) encontramos

4 (𝑟 2 − 𝑟 1 ) 2
𝑎2 = . (30)
14𝑟 1𝑟 2 − 𝑟 12 − 𝑟 22
251 De (26), (27) e (30) segue que
14𝑟 1𝑟 2 − 𝑟 12 − 𝑟 22
𝑑𝑥 = .
6 (𝑟 1 + 𝑟 2 )
252 Adicionalmente,
√ aplicando o teorema de Pitágoras, por exemplo, no triângulo 𝐸 𝐹𝐽, temos
253
2
𝑑 = 1 + 𝑎 𝑑𝑥 . Segue que √︄
14𝑟 1𝑟 2 − 𝑟 12 − 𝑟 22
𝑑= .
12
254 Como 𝑟 1 e 𝑟 2 são números positivos devemos ter 14𝑟 1𝑟 2 − 𝑟 12 − 𝑟 22 > 0. Isto é, 𝑟 12 − 2𝑟 1𝑟 2 + 𝑟 22 <
255 12𝑟 1𝑟 2 . Logo somente existe solução quando

(𝑟 1 − 𝑟 2 ) 2
< 12.
𝑟 1𝑟 2

10
Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

𝑟1
256 Chamando 𝜆 = 𝑟2 a desigualdade anterior pode ser reescrita como

𝜆2 − 14𝜆 + 1 < 0.

257 A mesma se verifica quando √ √


7 − 4 3 < 𝜆 < 7 + 4 3,
√ 𝑟1 √
258
7−4 3 < < 7 + 4 3.
𝑟2

259 4 Eixo radical, teorema de Pitágoras e semelhança de triângulos.


260 SL IMO 1994 P15
261 Problema 2. Uma circunferência 𝑤 é tangente a duas linhas paralelas 𝑙1 e 𝑙2 . Uma segunda
262 circunferência 𝑤 1 é tangente a 𝑙 1 em 𝐴 e a 𝑤 externamente em 𝐶. Uma terceira circunferência 𝑤 2
263 é tangente a 𝑙2 em 𝐵, externamente a 𝑤 em 𝐷 e a 𝑤 1 externamente em 𝐸. Os segmentos 𝐴𝐷 e 𝐵𝐶
264 se interceptam no ponto 𝑄. Provar que 𝑄 é o circuncentro do triângulo 𝐶𝐷𝐸.

265 A IMO 1994 foi realizada em Hong Kong, região administrativa especial chinesa (INTERNA-
266 TIONAL MATHEMATICAL OLYMPIAD, 2019). O problema acima foi proposto pela delegação
267 da Rússia (DJUKIC et al, 2006).

268 4.1 Resolução


269 A Figura 5 será usada como referência para auxiliar na interpretação.

Figura 5: Construção geométrica para auxiliar na interpretação do Problema 2. Versão interativa


aqui.

270 Sejam as circunferências 𝑤, 𝑤 1 e 𝑤 2 de centros 𝑂, 𝑂 1 e 𝑂 2 e raios 𝑟, 𝑟 1 e 𝑟 2 , respectivamente.


271 Sejam os pontos 𝐾 e 𝐿 de tangência de 𝑤 com 𝑙 1 e 𝑙2 , respectivamente.

11
Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

272 A ideia da prova será mostrar que a reta 𝐴𝐷 é uma tangente comum às circunferências 𝑤 e
273 𝑤 2 . Com isto, a reta 𝐴𝐷 é o eixo radical de 𝑤 e 𝑤 2 . Analogamente, mostrando que a reta 𝐵𝐶 é
274 uma tangente comum às circunferências 𝑤 e 𝑤 1 , segue que a reta 𝐵𝐶 é o eixo radical de 𝑤 e 𝑤 1 .
275 Consequentemente, 𝑄 é o centro radical das três circunferências: 𝑤, 𝑤 1 e 𝑤 2 . O centro radical tem
276 a mesma potência em relação às três circunferências, logo equidista dos pontos de tangência 𝐶, 𝐷 e
277 𝐸.
278 Iniciamos conetando os centros das circunferências e traçando o diâmetro 𝐾 𝐿. Como 𝐾 e 𝐿 são
279 pontos de tangência o diâmetro 𝐾 𝐿 é perpendicular a 𝑙1 e 𝑙2 . Determinamos os pontos 𝐻 e 𝐽 como
280 os pés das perpendiculares a 𝐾 𝐿 que passam por 𝑂 1 e 𝑂 2 , respectivamente. O ponto 𝐼 é encontrado
281 na interseção da reta 𝐽𝑂 2 com uma reta paralela a 𝐾 𝐿 passando por 𝑂 1 (Figura 6).

Figura 6: Construção adicional para auxiliar na interpretação do Problema 2. Versão interativa aqui.

282 Sejam 𝐾 𝐴 = 𝐻𝑂 1 = 𝑥 e 𝐿𝐵 = 𝐽𝑂 2 = 𝑦. Temos que 𝑂𝑂 1 = 𝑟 + 𝑟 1 , 𝑂𝑂 2 = 𝑟 + 𝑟 2 , 𝑂 1 𝑂 2 = 𝑟 1 + 𝑟 2 ,


283 𝐻𝑂 = 𝑟 − 𝑟 1 , 𝑂𝐽 = 𝑟 − 𝑟 2 , 𝑂 1 𝐼 = 2𝑟 − 𝑟 1 − 𝑟 2 e 𝑂 2 𝐼 = 𝑥 − 𝑦.
284 Aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo 𝑂 1 𝐻𝑂, retângulo em 𝐻, temos

𝑥 2 = (𝑟 + 𝑟 1 ) 2 − (𝑟 − 𝑟 1 ) 2 ,

285
𝑥 2 = 4𝑟𝑟 1 . (31)
286 Analogamente, aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo 𝑂 2 𝐽𝑂, retângulo em 𝐽, temos

𝑦 2 = (𝑟 + 𝑟 2 ) 2 − (𝑟 − 𝑟 2 ) 2 ,

287
𝑦 2 = 4𝑟𝑟 2 . (32)
288 E aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo 𝑂 1 𝐼𝑂 2 , retângulo em 𝐼, temos

(𝑥 − 𝑦) 2 = (𝑟 1 + 𝑟 2 ) 2 − (2𝑟 − 𝑟 1 − 𝑟 2 ) 2 ,

289
𝑥 2 + 𝑦 2 − 2𝑥𝑦 = 4𝑟𝑟 1 + 4𝑟𝑟 2 − 4𝑟 2 . (33)

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

290 Substituindo (31) e (32) em (33) encontramos

𝑥𝑦 = 2𝑟 2 ,

291 𝑥 2𝑟
= . (34)
𝑟 𝑦
292 A equação (34) implica que os triângulos 𝐴𝐾𝑂 e 𝐾 𝐿𝐵 são semelhantes pelo critério LAL,
293 um par de lados proporcionais e o ângulo compreendido entre os mesmos congruente (∠ 𝐴𝐾𝑂 =
294 ∠𝐵𝐿𝐾 = 90◦ ). Segue 𝐾 𝐵 é perpendicular a 𝐴𝑂, pois 𝐴𝐾 k 𝐵𝐿 e 𝐾𝑂 k 𝐾 𝐿. Seja 𝐺 = 𝐾 𝐵 ∩ 𝐴𝑂,
295 temos ∠𝑂𝐺 𝐷 = 90◦ .
296 Seja 𝑁 ∈ 𝑤 2 tal que 𝑁 𝐵 é diâmetro. Temos que ∠𝑁 𝐷𝐵 = ∠𝐾 𝐷 𝐿 = 90◦ , logo 𝐷 = 𝐵𝐾 ∩ 𝑁 𝐿.
297 Como o triângulo 𝑂𝐾 𝐷 é isósceles de base 𝐾 𝐷 (𝑂𝐾 = 𝑂𝐷) e 𝑂𝐺 é altura segue que 𝑂𝐺 também
298 é bissetriz do ângulo 𝐾𝑂𝐷 e ∠𝐾𝑂𝐺 = ∠𝐷𝑂𝐺. Os triângulos 𝐴𝐾𝑂 e 𝐴𝐷𝑂 são congruentes por
299 LAL (𝐴𝑂 é comum e 𝐾𝑂 e 𝐷𝑂 são raios de 𝑤). Concluímos que ∠ 𝐴𝐾𝑂 = ∠ 𝐴𝐷𝑂 = 90◦ e a reta
300 𝐴𝐷 é tangente a 𝑤 e 𝑤 2 .
301 Analogamente, a equação (34) também implica que os triângulos 𝐴𝐾 𝐿 e 𝐵𝐿𝑂 são semelhantes
302 pelo critério LAL, um par de lados proporcionais e o ângulo compreendido entre os mesmos
303 congruente (∠ 𝐴𝐾 𝐿 = ∠𝐵𝐿𝑂 = 90◦ ). Segue 𝐴𝐿 é perpendicular a 𝐵𝑂, pois 𝐴𝐾 k 𝐵𝐿 e 𝐿𝐾 k 𝐿𝑂.
304 Seja 𝑃 = 𝐴𝐿 ∩ 𝐵𝑂, temos ∠𝑂𝑃𝐶 = 90◦ .
305 Seja 𝑅 ∈ 𝑤 1 tal que 𝐴𝑅 é diâmetro. Temos que ∠ 𝐴𝐶 𝑅 = ∠𝐾𝐶 𝐿 = 90◦ , logo 𝐶 = 𝐴𝐿 ∩ 𝐾 𝑅.
306 Como o triângulo 𝑂𝐶 𝐿 é isósceles de base 𝐶 𝐿 (𝑂 𝐿 = 𝑂𝐶) e 𝑂𝑃 é altura segue que 𝑂𝑃 também é
307 bissetriz do ângulo 𝐶𝑂 𝐿 e ∠𝐶𝑂𝑃 = ∠𝐿𝑂𝑃.
308 Os triângulos 𝐶𝑂𝐵 e 𝐿𝑂𝐵 são congruentes por LAL (𝑂𝐵 é comum e 𝐶𝑂 e 𝐿𝑂 são raios de 𝑤).
309 Concluímos que ∠𝑂 𝐿𝐵 = ∠𝑂𝐶𝐵 = 90◦ e a reta 𝐵𝐶 é tangente a 𝑤 e 𝑤 1 .

310 5 Potência de um ponto, eixo radical, quadrilátero inscritível e


311 semelhança de triângulos. IMO 2012 P5.
312 Problema 3. Seja 𝐴𝐵𝐶 um triângulo tal que ∠𝐵𝐶 𝐴 = 90◦ , e seja 𝐶0 o pé da altura relativa a 𝐶.
313 Seja 𝑋 um ponto no interior do segmento 𝐶𝐶0 . Seja 𝐾 o ponto do segmento 𝐴𝑋 tal que 𝐵𝐾 = 𝐵𝐶.
314 Analogamente, seja 𝐿 o ponto do segmento 𝐵𝑋 tal que 𝐴𝐿 = 𝐴𝐶. Seja 𝑀 o ponto de interseção de
315 𝐴𝐿 com 𝐵𝐾. Provar que 𝑀𝐾 = 𝑀 𝐿.

316 A IMO 2012 foi realizada na cidade de Mar del Plata, Argentina (INTERNATIONAL MATHE-
317 MATICAL OLYMPIAD, 2019).

318 5.1 Resolução


319 A Figura 7 ajuda entender a descrição que segue.

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Figura 7: Uma solução do Problema 3. Versão interativa aqui.

320 Seja 𝐶 0 a reflexão do ponto 𝐶 na linha 𝐴𝐵, e 𝑤 1 e 𝑤 2 circunferências com centros 𝐴 e 𝐵, que
321 passam por 𝐿 e 𝐾, respectivamente. Devido a 𝐴𝐶 0 = 𝐴𝐶 = 𝐴𝐿 e 𝐵𝐶 0 = 𝐵𝐶 = 𝐵𝐾, tanto 𝑤 1 como
322 𝑤 2 passam por 𝐶 e 𝐶 0. De ∠𝐵𝐶 𝐴 = 90◦ temos que 𝐴𝐶 é tangente a 𝑤 2 em 𝐶, e 𝐵𝐶 é tangente a 𝑤 1
323 em 𝐶. Seja 𝐾1 ≠ 𝐾 a segunda interseção de 𝐴𝑋 e 𝑤 2 , e 𝐿 1 ≠ 𝐿 a segunda interseção de 𝐵𝑋 e 𝑤 1 .
324 Notamos que 𝑋 é um ponto do eixo radical das circunferências 𝑤 1 e 𝑤 2 , pois 𝑋 ∈ 𝐶𝐶 0. Pelo
325 Teorema das Cordas, a potência do ponto 𝑋 com relação a 𝑤 2 e 𝑤 1 pode ser escrita como:
𝑃𝑜𝑡 𝑤 2 (𝑋) = 𝑋𝐾 · 𝑋𝐾1 = 𝑋𝐶 · 𝑋𝐶 0 = 𝑋 𝐿 · 𝑋 𝐿 1 = 𝑃𝑜𝑡 𝑤 1 (𝑋). (35)
326 Da equação (35) segue que
𝑋𝐾 𝑋 𝐿1
= .
𝑋𝐿 𝑋𝐾1
327 O resultado anterior e o fato que ∠𝐿 1 𝑋𝐾 = ∠𝐾1 𝑋 𝐿 (opostos pelo vértice) indicam que 4𝐿 1 𝑋𝐾 ∼
328 4𝐾1 𝑋 𝐿. Como consequência temos que ∠𝐾 𝐿 1 𝑋 = ∠𝐿𝐾1 𝑋, o qual leva a que o quadrilátero 𝐾1 𝐿𝐾 𝐿 1
329 é inscritível (circunferência 𝑤 3 ).
330 Notamos que 𝑋 também é um ponto do eixo radical das circunferências 𝑤 1 e 𝑤 3 , pois 𝑋 ∈ 𝐿𝐿 1
331 e das circunferências 𝑤 2 e 𝑤 3 , pois 𝑋 ∈ 𝐾𝐾1 . Isto é, 𝑋 é o centro radical de 𝑤 1 , 𝑤 2 e 𝑤 3 .
332 A potência de 𝐴 com relação a 𝑤 2 pode ser calculada de duas formas:
𝐴𝐶 2 = 𝑃𝑜𝑡 𝑤 2 ( 𝐴) = 𝐴𝐾 · 𝐴𝐾1 .
333 Como, por hipótese, 𝐴𝐶 = 𝐴𝐿 temos que:
𝐴𝐿 2 = 𝐴𝐾 · 𝐴𝐾1 = 𝑃𝑜𝑡 𝑤 3 ( 𝐴).
334 Isto é, 𝐴𝐿 é tangente a 𝑤 3 .
335 Analogamente, a potência de 𝐵 com relação a 𝑤 1 pode ser calculada de duas formas:
𝐵𝐶 2 = 𝑃𝑜𝑡 𝑤 1 (𝐵) = 𝐵𝐿 · 𝐵𝐿 1 .
336 Por hipótese 𝐵𝐶 = 𝐵𝐾, logo:
𝐵𝐾 2 = 𝐵𝐿 · 𝐵𝐿 1 = 𝑃𝑜𝑡 𝑤 3 (𝐵).
337 Isto é, 𝐵𝐾 é tangente a 𝑤 3 . Segue que 𝑀𝐾 e 𝑀 𝐿 são duas tangentes de 𝑀 a 𝑤 3 e 𝑀𝐾 = 𝑀 𝐿.

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

338 6 Tangência a uma circunferência, ângulos inscritos e de seg-


339 mento, potência de um ponto e eixo radical. P8 NA IGO
340 2014-5.
341 Problema 4. O triângulo 𝐴𝐵𝐶 é acutângulo com 𝐴𝐶 > 𝐴𝐵, de circunferência circunscrita 𝑐 e
342 circuncentro 𝑂. A linha tangente a 𝑐 em 𝐴 intercepta a continuação de 𝐵𝐶 em 𝑃. 𝑋 é o ponto de
343 𝑂𝑃 tal que ∠ 𝐴𝑋 𝑃 = 90◦ . Os pontos 𝐸 ∈ 𝐴𝐵 e 𝐹 ∈ 𝐴𝐶 são escolhidos no mesmo lado de 𝑂𝑃 e
344 satisfazem que ∠𝐸 𝑋 𝑃 = ∠ 𝐴𝐶 𝑋 e ∠𝐹 𝑋𝑂 = ∠ 𝐴𝐵𝑋. Se 𝐾, 𝐿 são os pontos de interseção de 𝐸 𝐹 com
345 𝑐, mostrar que 𝑂𝑃 é tangente ao circuncírculo 𝑑 do 4𝐾 𝐿 𝑋.
346 Problema 8 (Nível Avançado) da 1 Olimpíada Iraniana de Geometria (IGO, Iranian Geometry
347 Olympiad) de 2014-2015, proposto por Mahdi Etesami Fard (IGO, 2014).

348 6.1 Resolução


349 A Figura 8 mostra uma construção geométrica inicial para o Problema 4.

Figura 8: Construção geométrica inicial do Problema 4. Versão interativa aqui.

350 Sejam 𝑀 e 𝑁 na continuação de 𝑋 𝐹 e 𝑋 𝐸 tal que 𝑀, 𝐿, 𝑋 e 𝐾 e 𝑁 estejam na mesma


351 circunferência 𝑑.
352 A seguir provaremos que ∠ 𝐴𝑀 𝑋 = ∠ 𝐴𝐶 𝑋 = ∠𝑁 𝑋 𝑃. Depois que 𝑁, 𝐴 e 𝑀 são colineares, logo
353 ∠ 𝐴𝑀 𝑋 = ∠𝑁 𝑀 𝑋. Em referência à corda 𝑁 𝑋 de 𝑑 o ∠𝑁 𝑀 𝑋 é inscrito. No caso de tangência de 𝑃𝑋
354 com 𝑑 o ∠𝑁 𝑋 𝑃 é de segmento. Sendo válido que ∠𝑁 𝑀 𝑋 = ∠𝑁 𝑋 𝑃 estará demonstrada a tangência
355 de 𝑃𝑂 com 𝑑.
356 O ponto 𝐹 está sobre o eixo radical das circunferências 𝑐 e 𝑑. Logo podemos calcular a potência
357 de 𝐹 como 𝑋 𝐹 ·𝐹 𝑀 = 𝐹 𝐿 ·𝐹𝐾 = 𝐴𝐹 ·𝐹𝐶. Segue que o quadrilátero 𝐴𝑀𝐶 𝑋 é cíclico (circunferência
358 𝑒) e ∠ 𝐴𝑀 𝑋 = ∠ 𝐴𝐶 𝑋. 𝐹 é centro radical de 𝑐, 𝑑 e 𝑒.
359 Analogamente, o ponto 𝐸 está sobre o eixo radical das circunferências 𝑐 e 𝑑. Logo podemos
360 calcular a potência de 𝐸 como 𝑋 𝐸 · 𝐸 𝑁 = 𝐸 𝐿 · 𝐸𝐾 = 𝐴𝐸 · 𝐸 𝐵. Segue que o quadrilátero 𝐴𝑁 𝐵𝑋 é
361 cíclico (circunferência 𝑓 ) e ∠ 𝐴𝑁 𝑋 = ∠ 𝐴𝐵𝑋. 𝐸 é centro radical de 𝑐, 𝑑 e 𝑓 .

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362 Agora provaremos que 𝑁, 𝐴 e 𝑀 são colineares. Como 𝐴𝑁 𝐵𝑋 e 𝐴𝑀𝐶 𝑋 são cíclicos segue

∠𝑁 𝐴𝑀 = ∠𝑁 𝐴𝐸 + ∠ 𝐴 + ∠𝐹 𝐴𝑀 = ∠𝐸 𝑋 𝐵 + ∠ 𝐴 + ∠𝐶 𝑋 𝐹.

363 Na equação anterior usaremos que a soma dos ângulos numa volta completa ao redor do ponto
364 𝑋 é 360◦ , ∠ 𝐴𝑋 𝐸 = 90◦ − ∠𝐸 𝑋 𝑃 = 90◦ − ∠ 𝐴𝐶 𝑋 e ∠ 𝐴𝑋 𝐹 = 90◦ − ∠𝐹 𝑋𝑂 = 90◦ − ∠ 𝐴𝐵𝑋:

∠𝑁 𝐴𝑀 = ∠ 𝐴 + 180◦ − ∠𝐵𝑋𝐶 + ∠ 𝐴𝐵𝑋 + ∠ 𝐴𝐶 𝑋 =

365
= ∠ 𝐴 + 180◦ − ∠𝐵𝑋𝐶 + ∠𝐵𝑋𝐶 − ∠ 𝐴 = 180◦ .
366 Concluímos que ∠ 𝐴𝑀 𝑋 = ∠𝑁 𝑀 𝑋. Sendo válido que ∠𝑁 𝑀 𝑋 = ∠𝑁 𝑋 𝑃 está demonstrada a
367 tangência de 𝑃𝑂 com 𝑑. Em referência à corda 𝑁 𝑋 de 𝑑 o ∠𝑁 𝑀 𝑋 é inscrito e o ∠𝑁 𝑋 𝑃 é de
368 segmento. A Figura 9 permite acompanhar a resolução do Problema 4.

Figura 9: Guia para a resolução do Problema 4. Versão interativa aqui.

369 7 Quadriláteros cíclicos, potência de um ponto relativa à uma


370 circunferência e semelhança de triângulos. P7 NA IGO 2014-
371 5.
372 Problema 5. Um triângulo acutângulo 𝐴𝐵𝐶 é dado. Uma circunferência de diâmetro 𝐵𝐶 intercepta
373 𝐴𝐵, 𝐴𝐶 em 𝐸, 𝐹, respectivamente. Seja 𝑀 o ponto médio de 𝐵𝐶 e 𝑃 o ponto de interseção de
374 𝐴𝑀 e 𝐸 𝐹. 𝑋 é um ponto no arco menor de 𝐸 𝐹 e 𝑌 o segundo ponto de interseção de 𝑋 𝑃 com a
375 circunferência mencionada anteriormente. Mostrar que ∠𝑋 𝐴𝑌 = ∠𝑋𝑌 𝑀.

376 Problema 7 (Nível Avançado) da 1 Olimpíada Iraniana de Geometria (IGO, Iranian Geometry
377 Olympiad) de 2014-2015, proposto por Ali Zooelm (IGO, 2014).

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

378 7.1 Resolução


379 A Figura 10 permite acompanhar a resolução da primeira parte do Problema 5.

Figura 10: Guia para a resolução da primeira parte do Problema 5. Versão interativa aqui.

380 Temos ∠𝐵𝐹𝐶 = ∠𝐵𝐸𝐶 = 90◦ . Sejam ∠𝐹𝐶𝐸 = 𝛼 e ∠𝐸𝐶𝐵 = 𝛽. Como 𝐵𝐸 𝐹𝐶 é um quadrilátero
381 cíclico segue que ∠𝐹 𝐵𝐸 = ∠𝐹𝐶𝐸 = 𝛼 e ∠𝐸 𝐹 𝐵 = ∠𝐸𝐶𝐵 = 𝛽.
382 Como 𝑀 𝐹 = 𝑀 𝐵 = 𝑀𝐶 temos ∠𝑀 𝐹𝐶 = ∠𝑀𝐶𝐹 = 𝛼 + 𝛽 e ∠𝐹 𝐵𝐶 = ∠𝐶𝐸 𝐹 = ∠𝑀 𝐹 𝐵 =
383 90◦ − 𝛼 − 𝛽.
384 Também se encontram os ângulos suplementares a ∠𝐵𝐸 𝐹 e a ∠𝐶𝐹𝐸. Isto é, ∠ 𝐴𝐸 𝐹 = 𝛼 + 𝛽 e
385 ∠ 𝐴𝐹𝐸 = 90◦ − 𝛽. Pela soma dos ângulos internos no 4𝐴𝐸 𝐹 segue que ∠𝐸 𝐴𝐹 = 90◦ − 𝛼.
386 Chamamos com a letra 𝑂 ao circuncentro do 4𝐴𝐸 𝐹. Isto define os triângulos isósceles 𝑂𝐸 𝐹,
387 𝑂𝐹 𝐴 e 𝑂 𝐴𝐸 de bases 𝐸 𝐹, 𝐹 𝐴 e 𝐴𝐸, respectivamente.
388 Sejam ∠𝑂𝐸 𝐹 = ∠𝑂𝐹𝐸 = 𝑥, ∠𝑂𝐸 𝐴 = ∠𝑂 𝐴𝐸 = 𝑦 e ∠𝑂 𝐴𝐹 = ∠𝑂𝐹 𝐴 = 𝑧. Como 𝑥 + 𝑦 = 𝛼 + 𝛽,
389 𝑥 + 𝑧 = 90◦ − 𝛽 e 𝑦 + 𝑧 = 90◦ − 𝛼, resolvendo o sistema encontramos ∠𝑂𝐸 𝐹 = ∠𝑂𝐹𝐸 = 𝑥 = 𝛼,
390 ∠𝑂𝐸 𝐴 = ∠𝑂 𝐴𝐸 = 𝑦 = 𝛽 e ∠𝑂 𝐴𝐹 = ∠𝑂𝐹 𝐴 = 𝑧 = 90◦ − 𝛼 − 𝛽. Logo, ∠𝑀 𝐹𝑂 = 90◦ .
391 A Figura 11 permite acompanhar a resolução da segunda parte do Problema 5.

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

Figura 11: Guia para a resolução da segunda parte do Problema 5. Versão interativa aqui.

392 Suponhamos que o ponto 𝐾 é a interseção de 𝐴𝑀 com o círculo circunscrito (circunferência 𝑑,


393 em amarelo) ao 4𝐴𝐸 𝐹. Vimos que ∠𝑀 𝐹𝑂 = 90◦ , então 𝑀 𝐹 é tangente a 𝑑 em 𝐹.
394 A potência do ponto 𝑀 relativa à circunferência 𝑑 pode ser escrita usando a tangente 𝑀 𝐹
395 ou a corda 𝐾 𝐴: 𝑀 𝐹 2 = 𝑀𝐾 · 𝑀 𝐴. Por outro lado, 𝑀𝑌 = 𝑀 𝐹. Logo, 𝑀𝑌 2 = 𝑀𝐾 · 𝑀 𝐴.
𝑀𝑌 𝑀𝐾
396 Como ∠ 𝐴𝑀𝑌 = ∠𝑌 𝑀𝐾 (comum) e 𝑀 𝐴 = 𝑀𝑌 , então pelo critério de semelhança LAL temos
397 4𝑀𝑌 𝐴 ∼ 4𝑀𝐾𝑌 e ∠𝑌 𝐴𝑀 = ∠𝐾𝑌 𝑀.
398 Adicionalmente, como 𝑃 está no eixo radical de 𝑐 e 𝑑 calculamos a potência do ponto 𝑃 de três
399 formas: 𝐴𝑃 · 𝑃𝐾 = 𝑃𝐸 · 𝑃𝐹 = 𝑃𝑋 · 𝑃𝑌 . Logo 𝐴𝑋𝐾𝑌 é cíclico (circunferência 𝑒, em verde). Isto é,
400 𝑃 é centro radical de 𝑐, 𝑑 e 𝑒. Com isto, ∠𝑋 𝐴𝐾 = ∠𝑋𝑌 𝐾. Concluímos que ∠𝑋 𝐴𝑌 = ∠𝑋𝑌 𝑀.

401 8 Comentários finais


402 Problemas de olimpíadas são classificados como de elevado nível de dificuldade. Isto é traduzido
403 em uma solução em múltiplos passos que combinam análise e planejamento.
404 Foi feita uma introdução dos conceitos básicos sobre a potência de um ponto relativo a uma
405 circunferência, o teorema das cordas e a teoria de eixo e centro radical.
406 No primeiro problema foram dadas duas circunferências tangentes externamente e uma reta que
407 intercepta cada uma delas em dois pontos formando três segmentos de igual medida. Foi pedido
408 encontrar o comprimento comum dos segmentos e sob quais restrições essa construção é possível.
409 O segundo problema apresentou três circunferências tangentes externamente entre si e a duas
410 linhas paralelas. Foi pedido mostrar que o circuncentro do triângulo formado pelos pontos de
411 tangências das circunferências entre si coincide com a interseção de dois segmentos da construção.
412 No terceiro problema foi dado um triângulo retângulo e um ponto 𝑋 na altura correspondente
413 ao ângulo reto. Várias construções foram feitas a partir de 𝑋. Uma das chaves para a solução foi
414 perceber que 𝑋 é o centro radical de três circunferências.
415 O quarto problema usou a igualdade de um ângulo inscrito com um de segmento para provar
416 que determinada reta é tangente a uma circunferência. A solução envolveu descobrir duas de quatro
417 circunferências usadas e dois centros radicais.

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Submetido a C.Q.D. Revista Eletrônica Paulista de Matemática—28 de fevereiro de 2021

418 No problema cinco um triângulo acutângulo e uma circunferência foram dados. Após explicitar
419 construções adicionais, se pediu para mostrar a congruência de dois ângulos. Durante a solução
420 outras duas circunferências e o centro radical das mesmas foram encontrados.

421 9 Referências Bibliográficas


422 DJUKIC, D. et al. The IMO compendium: a collection of problems suggested for the Internatio-
423 nal Mathematical Olympiads: 1959–2004. New York: Springer, 2006. Disponível em:
424 http://web.cs.elte.hu/∼nagyzoli/compendium.pdf. Acesso em: 15 jan. 2021.
425 HARTNETT, K. At the Math Olympiad, Computers Prepare to Go for the Gold. Quanta Maga-
426 zine. 21 set. 2020. Disponível em: https://www.quantamagazine.org. Acesso em: 15 jan. 2021.
427 IGO. Problems and Solutions of 1st IGO. 2014. Disponível em: https://igo-official.ir/events/1/.
428 Acesso em: 15 jan. 2021.
429 INTERNATIONAL MATHEMATICAL OLYMPIAD. Problems. 2019. Disponível em:
430 http://www.imo-official.org/problems.aspx. Acesso em: 15 jan. 2021.
431 LÓPEZ LINARES, J.; BRUNO-ALFONSO, A.; BARBOSA, G. F. Três problemas sobre série
432 harmônica na Olimpíada Internacional de Matemática. C.Q.D. − Revista Eletrônica Paulista de
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