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AULA 3 FILOSOFIA

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O que será
tratado
nesta aula
Esta aula apresenta a psicologia
moral de Platão, que propõe uma
análise do interior do homem, isto
é, da alma humana.

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O homem: ser
intermediário
entre animal
e Deus
A República, de Platão, é a obra mais
importante da filosofia ocidental.
Muitas vezes, é considerada uma obra sobre
política, mas para Platão a política é uma
questão de psicologia, e a psicologia é uma
questão moral. É importante recuperar
este modelo no contexto atual de adesão
ao cientificismo ou positivismo. Platão nos
permite pensar as faculdades básicas do ser
humano a partir de seu ideal de realização
(virtudes). Há também a preocupação em
integrar as faculdades na “ordem do amor”

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– que era como Santo Agostinho chamava


a virtude. Ou seja, equacionar os desejos,
vontades, apetites e inclinações em uma
unidade orgânica de sentido.

O ideal moral em questão é a humanização


e divinização do ser humano. Platão e
outros filósofos clássicos perceberam que
o homem é um ser intermediário entre o
animal e Deus. Temos a possibilidade de
descer, reduzindo-nos a animais, se vivemos
entregues às paixões mais primitivas; ou de
ascender, se obedecemos a uma dimensão
mais elevada da alma e nos santificamos,
divinizamos. Platão representou isso na
famosa Alegoria da Caverna, que simboliza
a essência da filosofia platônica e da
pedagogia: libertar os prisioneiros da
manipulação, da ignorância.

Platão reflete profundamente sobre o que é


a verdade e como conhecê-la. Nossa questão

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aqui não é ontológica ou epistemológica,


mas moral – como praticar, como encarnar
a verdade. E a verdade moral depende da
consecução das faculdades básicas do ser
humano.

Os antigos dividiam o mundo entre


gregos e bárbaros. Era uma visão restrita
à cultura helênica: aqueles que sabiam
grego pertenciam à civilização. O homem
do campo, por outro lado, era bárbaro, um
homem violento que não se comunica, mas
busca simplesmente destruir o que está à
sua frente. Platão, ao olhar para esse quadro
bárbaro, percebia que tudo depende do
interior, isto é, de como a alma é formada.

Platão queria superar a Matemática e a


Medicina, integrando seus saberes em
um conhecimento universal. Ele fez isso
ao fundar a Academia, precursora da
universidade medieval. Filosofia é amor

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ao conhecimento e a toda a realidade. Do


mesmo modo que a realidade é complexa, a
pessoa humana traz em si a complexidade
do cosmo, porque participa de diversas
dimensões do ser.

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O homem
em relação à
sociedade
A alma humana tem pelo menos três
dimensões: a vegetal, a animal e a
intelectual. Platão identificou que o corpo
tem um ideal de excelência: a saúde; e tem
uma ciência para promovê-la, chamada
Medicina. Deve, então, haver uma ciência,
que hoje chamaríamos de Psicologia, para
tratar da saúde da alma.

O verdadeiro psicólogo, ou verdadeiro


filósofo, – os dois são praticamente
sinônimos – é quem entende que o amor
é um desejo de perfeição e de união com
o que é perfeito. Para entender a alma

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humana, é necessário entender o que é o


amor. Platão busca um modelo de perfeição
do corpo para que haja uma sociedade
sadia e para que, reciprocamente, essa
sociedade gere homens sãos; ou seja, há
um ciclo que pode ser virtuoso ou vicioso.
No plano histórico ou social, não haverá
sociedade ou pessoa perfeitas; o que temos
de fazer é equilibrar as instituições sociais
que aperfeiçoam as pessoas, para que sejam
estas capazes de superar as limitações do
meio e estabelecer padrões superiores de
excelência.

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Faculdades da
alma humana
P ara Platão, temos quatro inclinações
fundamentais. São como partes da
alma. Como esta é imaterial e intangível,
podemos relacioná-la a partes do corpo.
Cada uma das partes corresponde a
uma faculdade da alma que, se bem
desenvolvida, se torna uma virtude; do
contrário, torna-se um vício.

Baixo ventre: abrange o abdômen, entre o


estômago e a genitália. Consiste no desejo
de vida individual e de vida da espécie.
Compara-se ao que Freud chamava de
princípio de prazer, o eros como apetite
para a mesa e desejo sexual para a
reprodução. São os desejos mais poderosos

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da vida humana, porque ela depende deles.


A imagem simbólica dessa parte da alma
é um monstro policéfalo, como a cabeça
da Medusa, indicando sua característica
de dispersão, pois os desejos podem ser
contraditórios. Faculdade da alma: apetite.
Virtude: temperança, também chamada de
continência ou autodomínio (controle ou a
resistência ao prazer).

Peito: dimensão da pessoa que tem honra,


nobreza, um ideal de permanência e a
vontade desenvolvida. Platão falava de um
espírito irascível, uma força de caráter que
mobiliza o corpo e se relaciona ao desejo
de poder. Faculdade da alma: vontade.
Virtude: coragem ou fortaleza (resistência
ao desprazer). Dimensão intermediária,
até aqui somos como um animal
semidomesticado que consegue conter-se.

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Cabeça: simboliza o desejo pela verdade.


Na estrutura anatômica do corpo, a cabeça
é a parte alta do homem. É também a parte
imaterial, divina, pois o que colocamos
na cabeça não é tangível, diferente do
alimento. Faculdade: inteligência, que pode
ser teórica ou prática (prudência). Ela se
volta às verdades eternas e imutáveis; ao
articulá-las com a experiência corrente,
forma um critério de excelência, em que
há verdadeiro prazer e poder, pois estão
regulados pela verdade. Virtude: prudência.
A linguagem corrente a entende como
uma forma de cautela. Na verdade, governa
nossas ações diante do imprevisto, ao
mesmo tempo em que origina um plano de
vida, relacionando princípios gerais e casos
particulares.

Por fim, há a alma ordenada junto com


outras almas ordenadas em comunhão, o
corpo organicamente integrado que é uma
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imagem da virtude da justiça. O ideal de


saúde individual corresponde a um ideal de
saúde social, e a saúde social é a justiça, em
que cada um recebe e dá o que lhe é devido
e obrigado. Por isso, uma personalidade
madura é altamente útil aos demais.

É importante ressalvar que o modelo de


Platão não quer dizer que a inteligência
busque sempre os objetos perfeitos e
de modo perfeito; ao mesmo tempo, a
sensibilidade também pode captar de modo
inteligente o que vem da realidade. Assim
como educamos a faculdade superior da
alma, devemos ter uma educação própria
das partes inferiores, para que não haja
a ideia de que o corpo sempre puxa para
baixo, para a infelicidade, enquanto a
mente puxa para cima. Em uma pessoa
saudável, deve haver um tipo de fruição da
inteligência nas sensibilidades inferiores.

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A interpretação dualista, maniqueísta do


platonismo está equivocada. Outra imagem
platônica que ajuda a compreender é a do
cocheiro que governa dois cavalos. É um
modelo triádico, em que há um ponto de
conexão entre a inteligência abstrata e o
corpo bruto.

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