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Simpósio de Produção Animal a Pasto

Book · August 2011

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7 authors, including:

Ulysses Cecato Sandra Galbeiro


Universidade Estadual de Maringá Universidade Estadual de Londrina
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Wagner Paris Fabíola Cristine de Almeida Rego


Federal University of Technology - Paraná/Brazil (UTFPR) University of Northern Parana
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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ


CÂMPUS DOIS VIZINHOS

III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO


ANIMAL A PASTO

EDITORES
Wagner Paris
Ulysses Cecato
Maickel Martins Danielce
Gracielle Caroline Mari

Maringá, PR
2015

3
Copyright © 2015 para os autores
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico,
eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, dos autores.
Todos os direitos reservados desta edição 2015 para Nova Sthampa Gráfica e Editora
O conteúdo do texto de cada capítulo, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).
Normalização textual e de referências:
Capa - arte final: Gracielle Caroline Mari
Diagramação e Impressão: Nova Sthampa Gráfica e Editoral Ltda.
Imagens/fotografias: fornecidas pelos autores
Fonte: Goudy Old Style
Tiragem - versão impressa:

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Marinalva A. S. Almeida CRB 9/1094

Realização
UTFPR- Dois Vizinhos, no período de 19 a 22 de agosto de 2015.
NEPRU- Núcleo de Ensino e Pesquisa em Ruminantes
PET-Zootecnia | PET-Produção Leiteira
Apoio Cons. Reg. de Medicina Veterin. e Zootecnia – CRMVZ
Fundação Agrisus – Agricultura Sustentável Associação dos Engenheiros Agrônomos de Pato Branco
Terra Desenvolvimento Agropecuário e INTTEGRA Conselho Regional de Engenharia – CREA
Conselho Nacional Pesquisa - Cnpq Sociedade Rural Vale do Iguaçu

Av. São Domingos, 1269 - Maringá-PR - Fone/Fax: |44| 3302 4411


E-mail: nova@sthampa.com.br

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

COORDENADOR DO SIMPAPASTO
Prof. Dr. Wagner Paris

COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dr. Wagner Paris
Prof. Dr. Ulysses Cecato
Prof. Dr. Luis Fernando Glassenap de Menezes
Prof. Dr. André Soares Brugnara
Prof. Dr. Fernando Kuss
Prof. Dr. Douglas Sampaio Henrique
Prof. Dra. Emylin Midori Maeda
Prof. Dra. Magali Floriano da Silveira
Zootecnista Maickel Martins Danielce

COMISSÃO TÉCNICO-CIENTIFÍCA
Prof. Dra. Emylin Midori Maeda
Prof. Dra. Magali Floriano da Silveira
Prof. Dr. Wagner Paris
Prof. Dr. Fernando Kuss
Prof. Dr. Douglas Sampaio Henrique
Prof. Dr. Luis Fernando Glassenap de Menezes

COORDENAÇÃO DA SEÇÃO POSTER


Andréia Balotin Fioreli
Raquel Suzane Kolln
Prof. Dra. Emylin Midori Maeda
Prof. Dra. Magali Floriano da Silveira

COORDENAÇÃODO DIA DE CAMPO


Programa de Educação Tutorial -Zootecnia
Programa de Educação Tutorial -Produção Leiteira
NEPRU- Núcleo de Ensino e Pesquisa em Ruminantes

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COORDENAÇÃODO DE EVENTOS
Gean Rodrigo Schmitz
Eduardo Felipe Lazarotto
Douglas Kleiton Barbosa

ENTIDADES PROMOTORAS
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Dois Vizinhos
NEPRU- Núcleo de Ensino e Pesquisa em Ruminantes
PET-Zootecnia
PET-Produção Leiteira
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UTFPR
Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UTFPR
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Universidade Norte do Paraná (UNOPAR)
Universidade Estadual Júlio de Mesquita (UNESP/Araçatuba)

AGRADECIMENTOS
A Comissão Organizadora agradece a todos os palestrantes, moder-
adores, Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Dois
Vizinhos, Instituições públicas e privadas, e demais pessoas que
envidaram esforços para a realização deste Simpósio.

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

SUMÁRIO

PREFÁCIO................................................................................................. 09

LUCRANDO COM A AGROPECUÁRIA...................................................11


Antonio Chaker El-Memari Neto

“MITOS” E “VERDADES” DO MANEJO DAS PASTAGENS.................... 27


Fernando Luiz Ferreira de Quadros; Gabriela Machado Dutra;
Pedro Trindade Casanova

ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO DE PASTAGENS E


QUALIDADE DA FORRAGEM................................................................. 55
Cecilio Viega Soares Filho; Wagner Paris; Ulysses Cecato; Sandra Galbeiro;
Fabiola Cristine de Almeida Rego

TECNOLOGIA DE PRECISÃO PARA A PRODUÇÃO


DE PASTAGENS......................................................................................... 89
Frederico Márcio Corrêa Vieira

NUTRIÇÃO DE BOVINOS LEITEIROS CRIADOS A PASTO.................109


Antonio Ferriani Branco

RUTA DE CAMBIO TÉCNICO EN LA LECHERÍA URUGUAYA:


ROL DE LA CARGA, LA PRODUCCIÓN INDIVIDUAL, LA COSECHA
DE FORRAJE, EL USO DE CONCENTRADOS Y LA EFICIENCIA
DE CONVERSIÓN....................................................................................123
Pablo Chilibroste

PRODUÇÃO ANIMAL E VEGETAL EM SISTEMAS INTEGRADOS


DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA........................................................139
André Brugnara Soares; Ricardo Beffart Aiolfi; Marcos Antonio de Bortolli;
Tangriani Simioni Assmann; Angélica Caroline Zatta

7
ESTRATÉGIAS DE USO DE FORRAGENS CONSERVADAS EM
SISTEMA DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO......................................177
Clóves Cabreira Jobim; Valter Harry Bumbieris Júnior

UTILIZAÇÃO DO AMENDOIM FORRAGEIRO EM PASTAGENS


DE GRAMÍNEAS DE ESTAÇÃO QUENTE..............................................195
Magnos Fernando Ziech

MITIGAÇÃO DE GASES ESTUFA E IMPACTO NA PECUÁRIA ����������� 217


Ana Cláudia Ruggieri; Abmael da Silva Cardoso; Elisamara Raposo;
Estella Rosseto Janusckiewcz; Liziane de Figueiredo Brito; Luíza Freitas de Oliveira Melo;
Mariana Vieira Azenha; Ricardo Andrade Reis

O SISTEMA SILVIPASTORIL NO PARANÁ, UMA SINOPSE................ 253


Vanderley Porfírio-da-Silva

BEM-ESTAR DE BOVINOS EM PASTAGENS..........................................273


Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho; Thiago Mombach Pinheiro Machado;
Dario Fernando Milanez de Mello; Luciana Aparecida Honorato

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

prefácio

Esta publicação nasceu de uma discussão entre professores e


acadêmicos que dedicam-se ao estudo da produção animal a pasto no
Paraná. O grupo percebeu que o conhecimento nesta área tem avançado
grandemente nos últimos anos, porém, existe uma lacuna entre pesquisador
e produtor.
Neste interim surgiu o Simpósio de Produção Animal a Pasto –
SIMPAPASTO, cuja a primeira edição foi realizada em 2011 na Universidade
Estadual de Maringá. Hoje, na terceira edição do evento, à ser realizado
na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, câmpus Dois Vizinhos,
reunimos nesta publicação os diversos temas que serão apresentados e
discutidos durante o simpósio. Desta forma, foram agrupadas informações
recentes envolvendo recuperação de áreas degradadas, adubação de
pastagens, manejo e suplementação animal a pasto, nutrição e bem estar
de bovinos, consorciação e sobressemeadura de pastagens, tecnologia de
precisão, sistema silvipastoril e gestão agropecuária.
Os autores dos capítulos provêm de instituições de ensino e
empresas renomadas no Brasil e Exterior. Os autores desenvolveram
os temas de acordo com suas especialidades, visando colaborar com
acadêmicos, técnicos, profissionais e produtores.
Desta forma, espera-se que os assuntos promovam discussões
entre os congressistas e sirvam de subsídio para estudos em produção
animal sustentável. Esperamos que o conteúdo publicado seja de grande
valia para os envolvidos com a agropecuária e desejamos aos amigos uma
ótima leitura.

Wagner Paris
Maickel Martins Danielce

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

LUCRANDO COM A AGROPECUÁRIA

Antonio Chaker El-Memari Neto1

1. INTRODUÇÃO

A Agropecuária, em destaque a pecuária de corte, foi por muitos


anos considerada uma atividade sem possibilidades de prejuízo. Fazendas
sem definição no processo de gestão cresciam e geravam lucro. Destaca-
se que até o início da década de 80 o valor de cada boi gordo comprava
5 bezerros, mais que dobro do realizado atualmente. Vale lembrar que
em tempos de inflação, alguns meses de altos juros eram suficientes para
anular o efeito negativo de eventual erro na compra de insumos, falhas no
processo de produção entre outros, afinal o que valia neste momento era
o processo financeiro e não produtivo.
Após 1994, com estabilidade da moeda o quadro especulativo
mudou, o que exigiu profissionalização do setor. Por outro lado, mesmo
anos depois, ainda se encontram, com facilidade, fazendas que operam
exatamente da mesma forma a mais de 30 anos. O fato é que o negócio
mudou na produção agropecuária, e quem não se adaptou vive a realidade
de degradação do solo, a depreciação das instalações, redução do rebanho
e a da própria área da fazenda. Este ciclo que tende ao caos assola qualquer
negócio onde a GESTÃO não está presente, sendo a pratica da mesma o
elemento central para a obtenção do lucro na atividade pecuária.
Gestão é uma sequência de medidas que buscam dirigir, administrar

1 Zootecnista, MSc, Terra Desenvolvimento Agropecuário, Rua Bernardino de Campos, 612 CEP 87030-160 Maringá,
PR. Correio eletrônico: antonio@terradesenvolvimento.com.br

11
e empreender. Considera-se que o conceito clássico compreende uma série
de funções que buscam o LUCRO como objetivo final, ou seja, gerir o
processo pelo custo com maior benefício para obter o melhor resultado.
Falconi (2013) ilustra, de forma direta, que gestão o processo de se
estabelecer metas e trabalhar para que sejam conquistadas.

2. O MÉTODO GERENCIAL

Em termos práticos, a aplicação da gestão deve ser efetuada em três


grandes etapas: Aonde estamos? (Diagnóstico), aonde queremos chegar
e como? (Planejamento) e o que devemos medir para certificarmos que
estamos no caminho certo? (Controle).

Figura 1 – Ciclo da gestão

2.1 Aonde estamos: O Diagnóstico

O diagnóstico [dia = “por meio de” + gnose = “conhecimento”]


é o ponto de partida do processo gerencial. Conhecer profundamente a
realidade é o fator preponderante ao sucesso de empresas que buscam

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

melhoria contínua (Collins, 2006). Da mesma forma, Medeiros (1999)


destaca que o negócio para ser bem gerenciado é necessário um perfeito
conhecimento do que ocorre dentro da fazenda e do ambiente na qual ela
está inserida. As informações obtidas nesta fase constroem a base principal
para elaboração do planejamento e tomada de decisões. Este levantamento
deve abordar quatro áreas de conhecimento: pessoas, processos, recursos
e finanças.

2.1.1 Pessoas

O gerenciamento de recursos humanos pode ser considerado o


elemento de maior atenção no processo de gestão, sobretudo na fazenda
onde é criada a “micro sociedade”. Esta sociedade pode traduzir benefícios
ou complicações, dependendo do ambiente que esta sociedade está
inserida. Desta forma, o sucesso da aplicação de qualquer medida técnica
é profundamente dependente de do conhecimento técnico e motivação de
quem vai operacionalizá-la.

2.1.2 Processos

Os processos de campo são representados pelos índices zootécnicos


obtidos pelo rebanho. Estes indicadores refletem em forma numérica
(relação entre dados) o desempenho dos diversos parâmetros da exploração
agropecuária. A interpretação dos mesmos deve ser feita de forma conjunta
com as características de produção empregadas na propriedade.
Diversas formas e nomenclaturas são encontradas, sendo assim,
devemos nos atentar quanto à metodologia de cálculo do índice em
discussão.

2.1.3 Recursos

O potencial produtivo da propriedade é resultado das características

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climáticas, qualidade do solo, topografia, ambiente pastoril, ambiente
agrícola, infraestrutura de produção e acesso.
Avalição da localização e amplitude, é o ponto de partida para
estudo dos recursos da propriedade. Sua localização, além de influenciar o
valor, pode oferecer maior ou menor vantagem competitiva. Proximidade
ou distância de armazéns, silos e secadores, bem como quantidade de
frigoríficos compõem as características comerciais do negócio. Da mesma
forma o entendimento da atividade pecuária regional se faz necessário
para o correto posicionamento sobre as ofertas de reposição e/ou clientes
para bezerros e touros.
Após o entendimento de aonde a fazenda está inserida, voltamos
o olhar para os recursos internos. Para que o planejamento estratégico
seja corretamente elaborado o perfeito conhecimento das amplitudes se
faz necessário. O levantamento das áreas da propriedade deve ser feito na
unidade de medida hectare, evitando-se alqueires, “alqueirões”, tarefas e
outros.
Infra estrutura de produção: O levantamento de benfeitorias
tem como principal função informar o gestor sobre as ferramentas
estruturais disponíveis e suas condições. A avaliação do estado geral de
conservação, funcionalidade, organização e limpeza das instalações como
currais, barracões, casas, depósitos e outros auxilia tanto na decisão de
investimentos e manutenção quanto expressa como a fazenda se posiciona
em relação aos cuidados da infra- estrutura.
Parque de Máquinas: O parque de máquinas na empresa
agropecuária deve apresentar objetivo claro de utilização. Ajustes quanto
ao seu dimensionamento e utilização são frequentes já que os mesmos
compõem, através de manutenção, reparos, combustíveis e lubrificantes
etc., elevado nível de desembolso no plano de contas da empresa pecuária.
Normalmente se observa subutilização do maquinário, gerando entre
outros, acréscimo na composição do custo da @ produzida.

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Rebanho: Cada animal é uma célula de produção e seu desem­


penho determina os resultados obtidos pela fazenda. Para avaliação do
efetivo pecuário devem ser levantados: O estoque (quantidade) por
categoria, seu respectivos pesos, escore corporal, condição sanitária, status
reprodutivo e qualidade genética. Esta última pode ser caracterizada pela
conformação, precocidade de terminação e musculatura (avalição CPM).
Na avaliação sobre o manejo do rebanho de cria se faz necessária
a verificação do processo nutricional, existência de período de monta,
utilização de tecnologias reprodutivas como inseminação artificial
(cio natural ou em tempo fixo), relação touro/vaca, programa de
melhoramento genético, calendário sanitário, tamanho e homogeneidade
de lotes, estratégia de entressafra e indicadores zootécnicos. No processo
de terminação, o olhar crítico deve ser voltado ao programa nutricional,
qualidade genética, tamanho e homogeneidade dos lotes.
Com a caracterização descrita acima, será possível elaborar o
orçamento anual de insumos, a previsão de vendas e abates e o faturamento
da fazenda.

2.1.4 Finanças

A caracterização financeira é a quarta e mais importante avalição


da atividade. Ela responderá as questões sobre o ponto central de qualquer
exploração econômica, a capacidade de geração de lucro.
Em estudo feito pela Terra Desenvolvimento Agropecuário
(informação verbal) com 65 fazendas distribuídas em todo território
nacional, o coeficiente médio de variação entre os resultados financeiros
das fazendas é três vezes superior a variação encontrada nos resultados
técnicos, ou seja, as fazendas são mais diferentes do ponto vista financeiro
do que em relação a sua capacidade produtiva. Este fato se dá pela grande
variação no perfil de desembolso entre as fazendas. Trataremos desta área
de conhecimento sobre dois aspectos: O primeiro será o processo de custos

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seguido pelos indicadores de rentabilidade.

2.1.5 Custos

Entende-se por custos de produção ou desembolso a soma dos


valores de todos os recursos (insumos) e operações (serviços) utilizados
no processo produtivo de certa atividade (produção de gado de corte,
especificamente neste caso). A determinação do custo de produção é uma
prática necessária e indispensável ao bom gestor da fazenda. Quando
avaliamos os custos, três são as frentes que devemos nos atentar. O quanto
se gasta, como se gasta e quais são os benefícios trazidos. Lembremos que
o foco é na ampliação da capacidade de geração de lucro e não no menor
custo possível.

2.2 Aonde queremos chegar e como: Planejamento

Planejar é procurar antever as ações do futuro, de uma forma


lógica e organizada, fazendo com que a empresa rural torne seus objetivos
mais claros, podendo propiciar uma melhor coordenação de esforços para
atingi-los. Sardinha et al. (2008) reiteram que o sucesso de quaisquer ações
é mais facilmente alcançado quando há reflexão e programação prévia.
Um método assertivo recomentado por Júlio (2005) descreve a
prática do método do ponto A, Ponto B e Estratégia.

Figura 2 – Estrutura do método dos pontos A e B


Ponto A: Representa onde estamos; Ponto B: Define aonde queremos chegar;
Linha de conexão entre ponto A e ponto B: como vamos chegar – a estratégia em si.

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

A partir da situação atual (ponto A) é estabelecido o objetivo


(ponto B) e uma estratégia para sua conquista. A estratégia é executada
pela equipe e controlada sistematicamente.
Para que o ponto A seja convertido em ponto B, o Planejamento
deve ser feito nos níveis estratégicos, táticos e operacionais, sempre levando
em consideração as limitações impostas pelos recursos disponíveis, bem
como as metas prioritárias da fazenda.
No planejamento estratégico as decisões são de médio a longo
prazo, e envolvem a empresa como um todo. Para tanto, consideram-se as
seguintes etapas:
1. Estabelecimento dos parâmetros filosóficos;
2. Determinação dos objetivos da empresa;
3. Análise do ambiente (ameaças, restrições, oportunidades);
4. Análise interna da empresa (disponibilidade e exigência de
recursos financeiros, físicos, mercadológicos, humanos e
administrativos);
5. Geração, avaliação e seleção de estratégias.
No planejamento tático ou gerencial as definições são de curto a
médio prazo. Geralmente são estabelecidas atividades, ou seja, decisões de
“como fazer” para atingir os objetivos estabelecidos no nível estratégico.
Da mesma forma, no nível operacional estabelecem-se as operações e
tarefas do dia-a-dia da fazenda.
A planejamento deve ser plurianual, foco nos processos filosóficos,
técnicos, financeiros e equipe. Devem ser estabelecidas metas e seus
responsáveis bem como o acompanhamento sistemático da execução
(figura 03).

17
Figura 3 – Estrutura básica dos processos de planejamento pecuário

2.2.1 Parâmetros filosóficos

Para nortear os rumos de uma empresa pecuária é de fundamental


importância a definição da sua missão, visão de futuro e valores. Estes
parâmetros estabelecem o posicionamento ecológico, comercial e
tecnologico da empresa. O olhar sistemático para a missão e visão de futuro
bem como a prática dos valores mantem a fazenda na rota estabelecida
perpetuando seus propósitos nos diferentes momentos, equipes e gerações.

2.2.2 Processos técnico

A pecuária oferece inúmeras combinações para ser desenvolvida,


desde a cria exclusiva até o ciclo completo. Pode se utilizar ou não de
cruzamento industrial (sob diferentes procedimentos reprodutivos).
Quanto as pastagens, navegamos das metodologias de pastejo rotacionado
intensivo, fertilizado e irrigado de elevadas lotações, até sistemas contínuos
extensivos com lotações cinco vezes menores. A terminação dos animais
pode ser feita em pastagens com diferentes níveis de suplementação,
em áreas de integração ou confinamento. Diante de todos estes pontos
destacamos que os processos técnicos devem ser o desdobramento tático

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

de uma demanda estratégica clara e não o contrário. Implantar um


confinamento, fertilizar pastagens, utilizar inseminação artificial em tempo
fixo, entre outros, devem ser vistos como o meio de se conquistar objetivos
e não o objetivo em si. Lembremos que o objetivo a ser conquistado pela
fazenda de pecuária é o lucro/hectare.

2.2.3 Processos financeiros

Após as definições técnicas, inicia-se o processo orçamentário. É


provável que revisões nos processos técnicos sejam necessárias para que os
níveis meta de desembolso sejam cumpridos.
O orçamento consiste em converter unidades monetárias uma
decisão relativa a ações futuras, isto é, procura determinar quanto vai
custar a decisão que se pretende tomar, e quais os resultados financeiros
que advirão da implementação desta decisão.
No processo orçamentário procura-se transformar as unidades
físicas em valores monetários, mais especificamente sendo conhecidas as
quantidades dos insumos necessários a um processo de produção, bem
como a quantidade de produtos que serão produzidos e seus respectivos
preços. Obtém-se o valor das despesas e da produção pelo simples produto
das quantidades físicas pelos preços.
As condições do empreendimento estão sempre mudando, por
isso é necessário que o processo orçamentário seja visto como um guia
para ações futuras, em vez de um plano rígido que deve ser seguido, a
despeito das mudanças circunstanciais. Se o processo orçamentário for
visto como um plano rígido, o gestor estará numa camisa de força na qual
é forçado a transformar decisões que não estão de acordo com o objetivo
da empresa. Diante disto são aceitas revisões orçamentárias no decorrer
do ano a fim de ajustar o caixa da fazenda. Por outro lado, estas revisões
devem respeitar parâmetros estabelecidos e a gerência deve ser responsável
pelo cumprimento orçamentário assumido (Sardinha et al., 2008).

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A elaboração do fluxo de caixa mensal previsto para os 12 meses
subsequentes, a predição do balanço sintético dos 13 aos 24 meses e
25 aos 36 compões as ações inicias do planejamento financeiros. O
estabelecimento de pró-labores, dividendos, tomadas e pagamentos de
financiamentos devem compor o fluxo de caixa previsto.

2.2.4 Equipe

Consideramos que esta é a mais importante frente no


desenvolvimento da gestão para resultados. A fazenda deve contratar,
treinar, motivar e manter pessoas que acreditem no projeto, que queiram
fazer algo mais. A única forma de se criar este poder de seleção de pessoas
é conquistar o status de ser a melhor fazenda da região para se trabalhar.
Para tal conquista, o principal elemento é o bom clima organizacional,
seguido pela percepção de segurança e confiança na empresa, estrutura de
moradia, salários compatíveis com a região.
O ser humano é um conjunto de forças, cuja motivação é o
carro motriz que impulsiona seus ideais. Encantar os funcionários, para
que sintam prazer e orgulho em trabalhar para a fazenda, é muito mais
complicado do que maioria dos outros elementos técnicos, pois o número
de variáveis emocionais envolvidas é muito maior. O planejamento
estratégico de Recursos Humanos pode transformar a motivação no ponto
de convergência entre os interesses da fazenda (o lucro), e a realização
profissional dos funcionários. Esta por sua vez é conquista quando existe
percepção de progressão financeira, intelectual e de autonomia.
Não basta somente oferecer benefícios e prêmios para manter
as pessoas motivadas, é indispensável que a fazenda transmita a cada
colaborador o sentimento de que ele faz parte de algo maior e que sua
contribuição é única e fundamental. Murphy (2013) destaca que os
objetivos organizacionais são mais facilmente alcançados quando existe
ligação pessoal entre os propósitos da empresa e dos colaboradores.
Muitas vezes alguém que trabalha na linha de produção de uma fábrica,

20
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

não consegue ver o produto final. Com isso, trabalha apenas para ganhar
algum dinheiro para pagar as contas e chegar ao próximo mês. Quando
o colaborador enxerga dentro de si qual é o propósito daquilo que está
fazendo, sua atitude muda, seu desempenho melhora e ele se torna mais
produtivo. Ao contrário do exemplo citado da indústria, o colaborador
da fazenda sabe o que produz, por outro lado, nem sempre sabe se seu
desempenho está além ou aquém do esperado.
Todas as questões ligadas a equipe, sua motivação e comprome­
timento, desenvolvimento, são de responsabilidade do líder. Ele deve
educar, orientar e estimular as pessoas a persistirem na busca de melhores
resultados mesmo num ambiente de desafios riscos e incertezas (Macedo
et al., 2007).
Em síntese, as ações direcionadas aos planejamento de
desenvolvimento dos recursos humanos na fazenda são:
1. Fim do paternalismo e estabelecimento da relação de direitos
e deveres;
2. Definição e execução dos treinamentos periódicos (3 ao ano);
3. Incentivo na participação das decisões táticas e operacionais.
4. Criação do regimento interno e código de conduta da fazenda;
5. Estabelecimento de metas individuais e premiação pelo seu
cumprimento;
6. Uniformização e atualização no uso de EPI’s;
7. Estabelecimento de rotinas de comunicação e feedbacks
periódicos;
Com as etapas de planejamento encerradas, segue-se a execução.
Bossidy e Jaram (2005) defendem que estabelecer uma cultura voltada para
a execução é um trabalho difícil, mas perde-la é fácil. Destacam também
que o fracasso das empresas estão mais ligados a falha na execução que
em estratégias equivocadas. Para que a execução ocorra adequadamente, o

21
líder deve criar todas as condições para que o plano saia do papel e ocorra
como previsto.
Uma grande ferramenta para auxílio na execução é o método 5W
e 2H. Sua utilização pode garantir que a operação seja conduzida sem
nenhuma dúvida por parte das chefias e subordinados.
Os 5W correspondem às seguintes palavras do inglês: What (o
quê), Who (quem), When (quando), Where (onde) e finalmente Why (por
quê). Os 2H fazem a referência de How (como) e How Much (quanto).
Desta forma estarão claros todos os parâmetros da execução.
Para tornar mais simples e tangível o processo de planejamento a
seguinte sequência de questões deve ser respondida:
1. Qual é a expectativa de resultado financeiro por ano?
2. Qual deve ser o faturamento e a margem para que o resultado
seja obtido?
3. Qual modelo de operação proporciona este faturamento e
margem?
4. No modelo definido quantos animais serão abatidos por ano?
5. Qual será o rebanho médio?
6. Qual será a lotação, o ganho médio diário e a taxa de desmame
da fazenda?
7. Quais procedimentos de manejo e estratégias atendem os
índices acima descrito?
8. Quais são os riscos oferecidos por estas estratégias e quais as
respostas para mitiga-los?
9. Quais etapas a fazenda deve passar para conquistar estes
objetivos?
10. Quais habilidades a equipe devem apresentar para que o
planejamento seja colocado em prática com maiores chances
de sucesso?

22
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

11. Quem serão os responsáveis de cada frente e como serão


medidos?
12. Quais etapas todo o processo necessita e como será o passo
a passo dentro do olhar anual, desdobrado em semestral,
mensal e semanal?
Uma vez o planejamento pronto e em processo de execução, o
ponto que merece destaque é o controle gerencial ou monitoramento.
Apenas saberemos se o previsto está ocorrendo se medirmos.

2.3 MONITORAMENTO: O QUE DEVEMOS MEDIR

Gerenciamos apenas o que conhecemos, por isso as mensurações


na fazenda caracterizam uma importante etapa na atividade pecuária
moderna e lucrativa.
No final do século XIX o físico escocês Lord Kelvin já afirmava
“Quando você consegue medir sobre o que está falando e expressá-lo em
números, você saberá mais sobre seu tema. Por outro lado, quando não
consegue medir nem transformar em números seu conhecimento será
pequeno e insatisfatório”.
Antes de se iniciar o controle devemos argumentar: QUANDO
E PARA QUÊ estamos fazendo isso? Esta indagação tem o propósito
de nortear a verdadeira necessidade do que está sendo controlado. É
muito comum nos depararmos com “muito papel” e pouca informação
ou mesmo com muitas informações, porém dispostas de uma maneira
confusa ou inacessível.
Existem diversas técnicas de controle que podem auxiliar na
obtenção desses dados. É importante saber em qual nível de detalhamento
e sofisticação o empreendimento se encaixa.
Lembramos também que o sucesso do controle não é apenas a

23
escolha de um bom software, e sim uma equipe de campo bem treinada
para registrar as ocorrências.
É muito grande o volume de informações que podem ser
gerenciados numa atividade de corte. Sugerimos a fragmentação nas
seguintes frentes:
1. Informações Reprodutivas. Controla-se a fertilidade, a perda
pré parto, a taxa de desmame, a relação e peso desmame e o
intervalo entre partos.
2. Informações Produtivas. Neste momento são mensuradas
a mortalidade, taxa de lotação, consumo de minerais e
suplementos, ganho de peso, produção de @ por hectare, altura
média das pastagens e intervalo entre cortes, dentre outros.
3. Informações Climáticas. Chuva, temperatura e umidade do
ar, são as principais.
4. Informações Financeiras. A avaliação dos custos e resultados
compõe as etapas desta fase.
• Custos: cabeça e UA/mês, @ produzida, bezerro desmamado,
dentre outros.
• Resultados: Margem sobre a venda, resultado gerencial (lucro)
por hectare e por cabeça comercializada, rentabilidade sobre
capital de trabalho e capital total, dentre outros.
• Demais indicadores: Relação custeio x investimento, custo fixo
x custo variável, perfil ABC nos desembolsos, dentre outros.
5. Informações de equipe: Salário em relação a região, tempo
médio de contratação, rotatividade, qualidade de vida
e moradia, motivação, número de hectares e cabeças por
funcionário, dentre outros. Ao separar os dados nesses
tópicos, torna-se muito mais fácil a definição dos objetivos e
a determinação dos controles necessários ao gerenciamento

24
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

da fazenda. Entretanto, dados aleatórios não podem ser


considerados informações úteis para as tomadas de decisão,
é necessário organizá-los.
Para tanto propomos as etapas passo a passo:
1) Definição do que será medido. A partir deste momento define-
se como, quando e por quem será feito. Inicia-se o processo de treinamento
periódico.
2) Fechamento mensal. Todas as informações devem ser avaliadas
no período máximo de um mês. Desta forma, caso ocorram dúvidas, as
mesmas são mais simples de serem esclarecidas.
3) Transformar o dado em ação. Apenas existe sentido no controle
quando os dados são transformados em informações, estas por sua vez em
conclusões e por fim em ações que possam melhorar o desempenho da
atividade (figura 04). Caso este ciclo não se conclua, todo resto será perdido.

Figura 4 – Sequência da utilização dos dados

Entendemos que o estabelecimento de um amplo e funcional


programa de controle deve ser instituído para acompanhar o planejamento
estabelecido, verificar os resultados da fazenda em relação a média obtida
no setor e, sobretudo, inserir a fazenda num sólido processo de gestão.
A base para agropecuária lucrativa está em se conhecer os resultados

25
atuais da fazenda, se estabelecer aonde ela deve chegar, elaborar uma
estratégia exequível que respeite as condições técnicas e financeiras, treinar
e motivar a equipe para que a execução ocorra conforme o planejado. Todas
estas ações devem ser monitoradas de forma que os justes sejam feitos em
tempo para que sucesso seja alcançado e o aprendizado estabelecido.

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

COLLINS, J. Good to Great. Empresas feitas para vencer. 16 ed. São


Paulo:Elservier, 2006 395p.

BOSSIDY, L.;CHARAN, R. Execução: A disciplina para atingir resultados.


20.ed. Rio de janeiro: Elservier, 2005. 261p.

FALCONI, V. Gerenciamento da Rotina - Metas e acompanhamento. Disponível


em: <http://www.youtube.com/watch?v=zV55_atcGuY> acesso em: 16 maio.
2013

JÚLIO, C.A.; A Arte da estratégia. 9.ed. Rio de janeiro: Elservier, 2005. 150p.

MACEDO, I. I; ROGRIGUES, F. D.;JOHAN, M. E. P.; CUNHA, N. M. M.


Aspectos comportamentais da gestão de pessoas. 9 ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2007. 152p.

MEDEIROS, A. M. Agribusiness – Contabilidade e Controladoria.


Guaíba:Editora Agropecuária, 1999. 108p.

MURPHY, M. Metas que desafiam. 3 ed. São Paulo:Clio, 2012. 160.p

SARDINHA, C.S.; ALMEIDA, J.M.B.; DINOÁ, L.M; Orçamento e Controle.


2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. 144p.

26
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

“MITOS” E “VERDADES” DO MANEJO


DAS PASTAGENS

Fernando Luiz Ferreira de Quadros1


Gabriela Machado Dutra2
Pedro Trindade Casanova3

1. INTRODUÇÃO

A temática sugerida é muito abrangente para os limites propostos


nesse capítulo, mas vamos utilizar uma abordagem que se aproxime da
proposta epistemológica do filósofo francês Bachelard, segundo a qual aos
cientistas cabe um espaço de antecipação das perspectivas futuras de sua
área de conhecimento, a partir de sua capacidade de síntese crítica do
conhecimento acumulado.
Nesse sentido, uma rápida prospecção do histórico da pesquisa
nacional e particularmente sul-brasileira no manejo de pastagens servirá
de base para nossa abordagem do que seriam “mitos” e “verdades”. As
duas palavras foram grifadas porque em nossa perspectiva científica não
podemos deixar de indicar que a primeira representaria um paradigma
superado e a segunda um paradigma emergente, que é suscetível de
substituição por um novo que emerja da evolução científica.

As questões envolvendo o manejo de pastagens têm sido
sistematizadas no Brasil, especialmente a partir dos Simpósios sobre
Manejo de Pastagem, organizados pela ESALQ/USP, a partir de 1973,

1
Professor Associado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
2
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFSM – Área de Forragicultura
3
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFSM – Área de Forragicultura

27
que atinge 27 edições, em 2015. Na região Sul do país, o SIMPAPASTO
se consolida como um evento que também resgata essa preocupação com
o estado da arte da produção animal a pasto. Uma avaliação dos temas
abordados deveria incluir muitos aspectos, desde o estabelecimento de
plantas forrageiras, a adubação até impactos econômicos nos sistemas
produtivos baseados em pastagens. Uma questão relevante que tem sido
abordada sob o tema “manejo” são os sistemas de utilização que nos termos
da Terminologia Internacional de Pastagens (Allen et al., 2011) incluem
“a manipulação do complexo solo-planta-animal do pasto na busca de
um resultado desejado”. Essa definição engloba todos os aspectos acima
descritos e já abordados nesses Simpósios, mas nossa contribuição será
focada no sistema de manejo, que incorpora os conceitos de arranjo do
sistema e o manejo do pastoreio, que é o foco central desse capítulo.
Entretanto, antes de avançar na temática proposta não podemos
deixar de mencionar que, atualmente, o manejo de pastagens deixou de ser
orientado apenas na produção secundária do sistema (o produto animal).
Atualmente esse conceito passou a incorporar um objetivo multifuncional
que engloba todo o ecossistema pastoril, envolvendo a produção da
pastagem, a eficiência de sua utilização e a sustentabilidade (econômica,
ecológica e social) (Lemaire et al., 2011).
Ainda que possa parecer muito meticulosa, a análise da terminologia
empregada nesse capítulo merece uma justificativa por parecer diferente
da proposta nos trabalhos de Allen et al. (2011) e seu correspondente
nacional (Pedreira et al., 2002). Em primeiro lugar entende-se que o termo
pastejo deva ser empregado para o conjunto de perfilhos que são afetados
por essa ação do animal, enquanto o termo pastoreio seja referente à ação
antrópica sobre a unidade de superfície pastoril manipulada pelo homem
(piquete, parcela, potreiro e outras denominações regionais). Por outro
lado, não podemos ignorar a definição etimológica que nossos léxicos
dão à palavra “lotação” (ato ou efeito de lotar, encher). A tradução para o
português por alguns pesquisadores nacionais do termo inglês “stocking”

28
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

para a “lotação” simplifica a amplitude na qual o termo pode ser usado.


Nesse caso, se poderia imaginar que uma parcela de pasto sob “lotação
contínua” esteja sendo continuamente lotada ou enchida de animais,
enquanto uma parcela sob “lotação rotacionada ou intermitente” esteja
sendo lotada (recebendo máxima capacidade de carga) de forma alternada
ou a determinados intervalos de tempo. Sabendo que tanto num caso
como no outro, a atividade do pecuarista ou do investigador dificilmente
tem esse sentido, propomos que os termos utilizados sejam o pastoreio
contínuo (parcela mantida continuamente sob pastejo, mesmo nem
todos os perfilhos sejam pastejados ao mesmo tempo) e pastoreio rotativo
(parcelas com tempos de ocupação pelos animais e descanso definidos
pelo arranjo do sistema e/ou pelo manejo do pastoreio). Dessa forma
evitaríamos confusões e nos aproximaríamos do jargão popular, sem
desmerecer a precisão técnica das terminologias.
Esse parêntese nos permite retornar a questão preliminarmente
proposta no título: o que seriam “mitos” e o que poderíamos aceitar como
“verdades” acerca do manejo das pastagens.

2. Evolução de conceitos

Por uma questão de organização da exposição, vamos iniciar


apresentando alguns “paradigmas” que vem sendo superados pelos avanços
da investigação. Conforme já comentado anteriormente e abordado por
Carvalho & Moraes (2005), a perspectiva do manejo das pastagens no
contexto internacional até meados da década de 70 e até fins da década
de 80 no Brasil, considerava as premissas de que se deveria aumentar a
produção de pasto via o manejo da fertilidade do solo e que cabia ao
produtor manejar para colher o máximo possível dessa produção. Essa
perspectiva foi muito bem ilustrada pela Figura 1, proposta por Lemaire e
Agnusdei (2000).

29
Figura 1 – Diagrama representando a evolução esperada do crescimento relativo e
do consumo relativo de forragem quando a produção é aumentada pela intensificação
(fertilidade do solo) ou reduzida pela “extensificação”. Trajetórias A→ B e A→ C
corresponderiam a pastoreio rotativo e contínuo, respectivamente. A inclinação 1:1
implica que a eficiência do uso da forragem seria mantida, enquanto a inclinação de A→
C corresponderia a uma diminuição nessa mesma eficiência (Adaptado de Lemaire &
Agnusdei, 2000).

Em outras palavras, a partir da Revolução Verde, o uso de


fertilizantes aumentando a disponibilidade de nutrientes disponíveis,
especialmente N às plantas forrageiras (particularmente no Hemisfério
Norte), levou um aumento da produção de forragem (trajetória B → A)
atingindo as necessidades de consumo dos rebanhos. Esse acoplamento
dos ritmos de crescimento e de consumo do pasto permitiu menor
preocupação com a eficiência de utilização dos pastos, que poderiam ser
manejados em pastoreio contínuo, com menor custo com subdivisões e
aguadas e menos mão-de-obra empregada na condução dos rebanhos. A
preocupação internacional com a multifuncionalidade das pastagens, os
níveis de contaminação com N e P nos lençóis freáticos e a exigência dos
mercados consumidores levou os sistemas intensivos do Hemisfério Norte
a uma pressão por redução do uso de insumos num processo chamado de
“extensificação”. Nesse caminho, existiriam duas trajetórias possíveis:

30
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

A → B e A → C, a primeira utilizando o pastoreio rotativo como alternativa


para manter a eficiência de utilização mesmo com a redução de insumos e
a segunda utilizando o pastoreio contínuo, que demandaria mais insumos
para manter a mesma eficiência de uso da forragem produzida.

3. Oferta de forragem

As afirmações anteriores indicam o impacto que alguns conceitos


tiveram no manejo de pastagens ao longo das décadas de 1970 a 1990 no
Brasil. O conceito de oferta de forragem (quantidade de matéria seca de
pasto disponível por animal) representou um avanço na pesquisa e no
manejo de pastagens em um período em que a produtividade da pastagem
era medida, usualmente, pelo emprego de taxas de lotação. Os protocolos
experimentais comuns, da metade do século passado até inícios dos anos
1980, aplicavam várias lotações à pastagem/espécie forrageira que se queria
avaliar, elegendo aquela combinação que promovesse maior produtividade.
No entanto, a replicação dessas condições em outros locais (experimentos
ou sistemas de produção) era limitada, pois as condições do pasto (massa
de forragem, relação folha:colmo, composição botânica, etc.) podiam
variar, consideravelmente, para uma mesma lotação. Consequentemente,
a produtividade também variava e os resultados não se repetiam. Neste
sentido, o conceito de oferta de forragem fez avançar o conhecimento sobre
o manejo das pastagens, pois atrelava a lotação animal a uma quantidade
de forragem disponível na pastagem, melhorando a reprodutibilidade dos
resultados, bem como a obtenção de condições experimentais comparáveis
(Carvalho & Moraes, 2005). Outro aspecto relevante do conceito de oferta
de forragem era a oportunidade de o animal exercer a seletividade sobre o
alimento, pois, conforme Hodgson (1985), o consumo de forragem seria
maximizado quando o nível de oferta corresponde a três a quatro vezes
a capacidade de ingestão dos animais. Isso corresponde, em espécies de
estação fria, a uma massa de forragem disponível entre 1200 a 1600 kg

31
MS/ ha (Mott, 1984). Entretanto, o animal ajusta seu comportamento sob
pastejo de acordo com a oferta de forragem e sua distribuição espacial no
dossel. A interação entre o animal em pastejo e seu alimento foi estudada
por meio da disponibilidade de forragem e do seu consumo, com menor
ênfase para os mecanismos que regulam este processo (Demment et al.,
1987). Essa limitação demonstrou que embora a definição da oferta de
forragem melhorasse o nível de informação sobre o manejo da pastagem
ainda não permitia uma reprodução confiável dos resultados em sistemas
de produção, porque a oferta pode se expressar de diversas maneiras em
função da estrutura da pastagem.

3.1 Massa de forragem

De acordo com o anteriormente comentado, a oferta de forragem


guarda uma relação estreita com a massa de forragem disponível. A
quantidade de forragem disponível ao animal depende de avaliação
instantânea da quantidade de pasto por área mais uma estimativa do seu
ritmo de crescimento, que por sua vez é também influenciado pela massa
de pasto. Esse ritmo é usualmente expresso como taxa de acúmulo, mas
a medida da oferta depende dessa ultima variável, que é de mensuração
complexa e sujeita a erros. Portanto, o uso da correlação entre a massa
de forragem e a oferta permitia o uso da primeira variável como critério
de ajuste das taxas de lotação do pasto, que guarda uma relação com o
desempenho individual dos animais, conforme exemplificado na Figura 2.

32
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Figura 2 – Relação entre a massa de forragem, a taxa de lotação e o desempenho individual


de novilhos em pastagem natural. As lotações foram expressas em animais. dia/ha, o que
nesse caso poderia ser transformado em novilhos/ha pela divisão por 210 dias (adaptado
de Maraschin, 1998).

Entretanto, uma das premissas importantes do uso dessa relação é


a forma como a massa de forragem é avaliada, pois ela pode se apresentar
com inúmeras configurações da relação altura/volume, devido às diferentes
densidades dos estratos que compõe a massa (participação de folhas
e colmos de diferentes idades e do material senescente). Nesse sentido,
Delagarde et al.(2011) analisaram um conjunto de 40 experimentos
com pastagens temperadas e encontraram uma relação entre a massa de
forragem e o consumo de pasto por vacas em lactação (Figura 3). Em
sua análise identificaram um valor em que a taxa de consumo relativo
tangencia o máximo, que poderia ser expressa em 2,2; 1,5 ou 1,0 t de MS/
ha de pasto, respectivamente para cortes ao nível do solo, a 2 cm ou a 5
cm do solo. Esses resultados ilustram a relevância da estimativa da massa
de forragem para conduzir a oferta de pasto aos animais.

33
Figura 3 – Relação entre a massa de forragem a diferentes níveis do solo e o consumo
relativo para vacas leiteiras em pastoreio rotativo (126 médias de tratamentos de 40
experimentos) (adaptado de Delagarde et al., 2011).

A figura acima nos ajuda a demonstrar a importância que a


oportunidade de seleção dos componentes mais digestíveis e com maior
densidade de pasto tem para permitir um consumo elevado de forragem,
que por consequência torna disponível um maior aporte de nutrientes
para a produção leiteira.
Utilizando os mesmos conceitos de oferta e a consequente massa
de forragem a ser mantida, em pastagem de milheto, Moraes e Maraschin
(1988) obtiveram os resultados abaixo ilustrados (Figura 4).

34
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Figura 4 – Relação entre a massa de forragem, a oferta e o desempenho individual de


novilhos em pastagem de milheto. Legenda para ofertas: 4%; 6%; 8% e 10% (kg de
MS/100 kg de PV) (adaptado de Moraes e Maraschin, 1988).

Nessa figura, as variáveis oferta e massa de forragem não


apresentaram uma relação ajustada com o desempenho animal, como
pode ser visualizado na equação, a massa de forragem explicou apenas
42% da variação no ganho de peso dos novilhos. Os autores justificaram
a falta de ajuste pelas diferenças na forma como a forragem se apresentava
aos animais nos diferentes piquetes, ou seja, diferenças no arranjo espacial
das plantas, a chamada estrutura do pasto.

4. Estrutura da pastagem

Para obter uma melhor compreensão do processo alimentar, a


estrutura do pasto deve ser abordada como um arranjo tridimensional de
biomassa aérea de forragem (Laca e Lemaire, 2000). Este componente do
ambiente pastoril é assumido como sendo um determinante para a taxa
de ingestão de curto prazo e, consequentemente, para o desempenho de

35
animais (Fonseca et al., 2012). Os autores argumentam que quando um
animal pasteja, ele molda a estrutura espacial da vegetação e cria novas
condições; estas novas condições por sua vez, influenciam o processo de
pastejo. Isto é, a estrutura do dossel é concomitantemente uma causa e um
efeito no processo de pastejo.
A estrutura do dossel é uma característica central e determina
as respostas produtivas de plantas e animais na pastagem (Hodgson,
1985). Isso ocorre porque a estrutura tem relação direta com o tamanho,
qualidade e eficiência do aparato fotossintético da comunidade de plantas,
determinantes da produção de forragem, e com a forma como a forragem
é apresentada ao animal em pastejo, sua facilidade de colheita e consumo,
determinantes da produção animal. A estrutura da planta determina a
acessibilidade de partes da planta ao pastejo, portanto, influenciando os
dois componentes da taxa de ingestão: massa de bocado e taxa de bocados
(Spalinger & Hobbs, 1992). Por exemplo, os efeitos da arquitetura de planta
em massa de bocado, medido a uma pequena escala, são fortemente ligados
à desfolhação diferencial de espécies de plantas (Utsumi et al., 2009).
Embora os animais possam modificar seu comportamento ingestivo
para minimizar o efeito desfavorável das condições de alimentação, é
necessário criar estruturas de pasto que aumentem consumo de forragem
por unidade de tempo, para maximizar o uso de pastagem nos sistemas de
produção. A complexidade relativa à tomada de decisões para o manejo do
pastoreio levou a tentativas importantes, para desenvolver indicadores ou
ferramentas simples que os produtores possam aplicar na gestão do dia-a-
dia. Exemplos destes objetivos de manejo incluem o conceito de definição
de alturas pré e pós-pastejo.

4.1 Critérios objetivos para monitorar o uso de pastos

Entre os atributos que melhor se relacionam com a massa de


forragem e com a estrutura vertical do pasto está a altura média do dossel

36
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

(definida como a altura média de dobramento das folhas do ápice da


pastagem). Essa pode ser considerada como um critério para manutenção
de uma altura média “ideal” do pasto, em pastoreio contínuo, e para
definir o início da ocupação, em pastoreio rotativo. A relação entre essa
altura e o índice de área foliar (IAF) que permita a interceptação de 95%
da radiação incidente tem sido recomendada como critério de manejo
em gramíneas tropicais e temperadas (Barbosa et al., 2007; Carnevalli
et al, 2001a e b; Mezzalira, 2012; Pedreira et al., 2009; Ribeiro Fº et al,
2009; Voltolini et al, 2010 e Zanine et al.,2011). A partir desse conjunto
de informações algumas recomendações práticas foram formuladas para
orientar os critérios de entrada dos animais em piquetes cultivados com
algumas dessas gramíneas (Tabela 1).

Tabela 1. Alturas recomendadas¹ para manejo de pastagens de gramíneas


visando maximizar os ritmos de acúmulo e a colheita de
forragem pelo animal.

Mesmo que o critério de altura seja objetivo e possa ser reproduzido


em sistemas de produção, frequentemente sua validação foi obtida em
pastagens densas (no caso das anuais, altas densidade de semeadura e no

1
Alturas referentes à entrada dos animais, em pastoreio rotativo ou altura média “ideal” nas manchas pastejadas,
em pastoreio contínuo. 4 Cultivares Coastcross e Tifton 85. Os números ², ³, 5, 6, 7 identificam as espécies e as
respectivas alturas de manejo.

37
caso das perenes, alta cobertura de solo), com nível de adubação elevado
(especialmente N), o que pode dificultar a sua capacidade de replicação em
situações típicas de propriedades rurais. Embora a relação entre a altura
e o IAF ou a massa de forragem sejam elevadas, a densidade que é um
componente espacial da estrutura nem sempre apresenta o mesmo grau de
correlação (veja Figura 4).
De toda forma, ambos os critérios de manejo exigem um
monitoramento da altura dos pastos que pode ser uma tarefa
operacionalmente complexa para áreas maiores ou para produtores com
limitação de mão-de-obra disponível no sistema de produção (isso inclui
assessores técnicos ou colaboradores treinados).
Alternativa que tem sido avaliada em algumas espécies forrageiras
temperadas (C3) ou tropicais, subtropicais (C4) é a utilização/escolha
de critérios baseados na ecofisiologia das plantas. Destaca-se, pelo uso
corrente no Hemisfério Norte (em especial na Comunidade Européia),
a determinação do início da utilização de pastos, em pastoreio rotativo,
pela duração de vida foliar (DVF). A DVF é um indicador relacionado
com o “rendimento teto” das plantas forrageiras, a partir do qual o
acúmulo de tecidos foliares verdes é reduzido pelo aumento exponencial
da taxa de senescência. Esse critério é extremamente válido em sistemas
fortemente dependentes da produção de forragem conservada, a partir de
áreas pastoris, onde o acúmulo de forragem de boa qualidade é valorizado.
Para efeitos práticos se somam as temperaturas médias diárias até que seja
atingido o valor em graus-dia (GD) da DVF para determinada espécie e
se recomenda a utilização por corte ou pastoreio da parcela. Por exemplo,
o azevém perene (Lolium perenne) necessita o acúmulo de 330 GD para
atingir sua DVF (Lemaire & Chapmann, 1996).
Entretanto, o critério de uso da DVF foi baseado no uso de
gramíneas perenes C3, cuja taxa de emissão de perfilhos reprodutivos é
mais dependente do fotoperíodo e o valor nutricional se mantém mais
estável ao longo dos estádios de crescimento. Nas regiões subtropicais,

38
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

as principais gramíneas forrageiras são anuais (aveias, azevém, centeio,


trigos de duplo propósito e triticale), ou seja, as elongações de meristemas
reprodutivos e dos colmos dependem mais do acúmulo de temperaturas
do que do fotoperíodo.
Então esses critérios são “mitos”? Não, são paradigmas que podem
ser superados e/ou complementados pelo avanço da pesquisa, dando novos
rumos que podem ser empregados pelos técnicos ou pelos “manejadores”
dentro dos sistemas de produção.
Uma nova proposta que emergiu dos estudos de ecofisiologia de
plantas forrageiras em regiões subtropicais é a utilização da duração da
elongação foliar (DEF) como um novo critério para definir o intervalo
de descanso de gramíneas. A proposta considera que, enquanto a lamina
foliar (folha) está em elongação, essa é mais eficiente fotossinteticamente e
mantém ainda elevado o seu valor nutritivo, tanto em espécies C3 quanto
em espécies C4 (Confortin et al., 2010; Eloy et al., 2014).
Considerando que na região Sul do Brasil, dispomos de uma rede
relativamente bem distribuída de estações meteorológicas, seria possível
utilizar os valores de temperaturas médias mensais e calcular os intervalos
médios entre as utilizações dos piquetes para cada tipo de pastagem
existente na propriedade. Para esse exercício vamos considerar o seguinte
exemplo, para uma pastagem de azevém (Lolium multiflorum), que necessita
um acúmulo médio de 120 GD para completar a emissão de uma folha.
Essa gramínea mantem duas folhas e meia em expansão durante o estádio
vegetativo. Portanto a DEF pode ser calculada como abaixo:
DEF = 2,5 x 120 GD = 300 GD
Considerando o valor para essa gramínea e outras espécies
forrageiras frequentemente utilizadas como pastagens em sistemas de
produção de leite da região, construímos uma tabela com os valores da
DEF transformados em intervalos de pastoreio, em dias, para a região
Oeste do Paraná. Para construir a Tabela 2, utilizamos valores dos GD

39
da DEF de cada espécie divididos pelas temperaturas médias mensais da
estação meteorológica do INMET de Maringá. Esses cálculos poderiam ser
feitos com os dados de qualquer outra estação, para uma média histórica ou
com os valores precisos do ano de utilização do pasto. A escolha da opção
dependeria do nível de informação disponível pelo produtor ou do técnico
que o assessora, mas facilitaria o planejamento da utilização dos pastos, em
comparação à necessidade de medidas de altura em cada piquete.

Tabela 2. Intervalos entre pastoreio (dias) para manejo de pastagens de


gramíneas com base na duração de elongação foliar (DEF).

Até aqui foram comentados critérios de ajuste da pastagem


focalizados no momento da utilização do pasto em pastoreio rotativo ou
numa meta indicadora (massa de forragem, altura) em pastoreio contínuo.
Porém, para definir a carga animal a utilizar nos piquetes podemos
estabelecer a oferta de forragem como critério do nível de utilização do
pasto. Mas essa depende de um conhecimento dos fluxos de crescimento
do pasto, que exigem um monitoramento que está além da disponibilidade
de tempo e de controle do produtor rural.
Outra alternativa que se pode apresentar é definir uma
percentagem da altura do pasto a ser oferecida aos animais.

40
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

4.2 Níveis de remoção do pasto

Além da quantidade de pasto disponível aos animais, indicações


sobre as condições da pastagem são relevantes para monitorar o manejo
do pastoreio. Algumas informações têm sido consistentes na literatura
nacional e internacional sobre o período de ocupação em piquetes sob
rotação, das quais destacamos a Figura 4.

Figura 5 – Produção de leite de vacas Girolando em pastagens de capim elefante, manejadas


com períodos de ocupação de 1, 3 e 5 dias, na estação chuvosa (Cóser et al, 1999).

Esses resultados indicam claramente a evolução nas restrições ao


consumo potencial à medida que os animais vão utilizando os diferentes
horizontes da estrutura disponível em um piquete submetido ao pastoreio
rotativo. A restrição da superfície disponível por animal, característica da
lotação instantânea elevada em cada piquete, conduz a uma competição
pelas estações alimentares entre os animais, uma vez que a atividade de
pastejo é realizada pelo grupo todo. Na busca por estações alimentares
favoráveis a sua ingestão de forragem, os animais exploram horizontes
sucessivos que podem ser ilustrados pela Figura 6.

41
Figura 6 – Representação esquemática da sequencia de pastejos nos horizontes ao longo
dos períodos de ocupação de um piquete (adaptado de Baumont et al., 2004; Fonseca et
al., 2012).

Essa figura ilustra o volume decrescente disponível a cada horizonte


na medida em que a mesma superfície é repastejada. Esse comportamento
tem reflexo no consumo de pasto pelo animal e como consequência no
nível de produção que o mesmo pode atingir, como indicado na Figura 4.
Independente do método de pastoreio, essa sequencia de exploração de
horizontes é função da intensidade de utilização do pasto, a qual depende
da carga animal utilizada, em ambos os métodos, e do período total de
ocupação do piquete, no rotativo.
Portanto, ao longo do período de utilização de um piquete,
observa-se uma redução da taxa de consumo instantâneo dos animais em
cada estação alimentar utilizada, influenciando tanto o consumo total
quanto a oportunidade de seleção de partes da planta com maior valor
nutricional. Essa redução pode ser observada na Figura 6, que representa
o efeito da percentagem de utilização da altura inicialmente oferecida aos
animais em duas pastagens de estação quente (sorgo e Tifton 85).
As avaliações com sorgo foram realizadas em Eldorado do Sul,
Rio Grande do Sul, e as avaliações com Tifton 85 foram realizadas em
uma propriedade em Dois Vizinhos, Paraná. É importante ressaltar que

42
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

as diferenças na inclinação das linhas à medida que a remoção progride


de 40% da altura inicial para níveis mais elevados pode ser atribuída
às diferentes estruturas dos pastos. No sorgo, que é uma gramínea
anual cespitosa, a densidade volumétrica do pasto (g de MS/m³) variou
inversamente entre lâminas foliares e colmos. As maiores densidades de
lâminas se registraram nas maiores alturas, de 300 a 50 g de MS/m³ (50
a 10 cm, respectivamente), enquanto as maiores densidades de colmo se
observaram nas menores alturas, de 500 a 10 g de MS/m³ (10 a 50 cm,
respectivamente). Em Tifton 85, gramínea perene estolonífera, a separação
entre lâminas foliares e colmos é mais difícil para o animal, em alturas
abaixo de 20 cm, e a densidade volumétrica é mais elevada (entre 1073 e
2215 g MS/m³ de pasto, de 20 a 10 cm).

Figura 7 – Taxa de consumo instantâneo ao longo do pastejo (% de redução da altura


inicial do pasto) em sorgo (Sorghum bicolor) (Fonseca et al., 2012) e Tifton 85 (Cynodon
spp.) (Mezzalira, 2012). As alturas iniciais foram 50 cm e 19 cm, respectivamente para sorgo
e Tifton 85.

Para definir os critérios de nível de utilização, ainda se podem


considerar os reflexos potenciais da redução da ingestão instantânea no
consumo total diário de pasto. Considerando as diferenças das taxas
indicadas na Figura 7, em pastagens de sorgo, o aumento da remoção
de pasto de 40 para 50% da altura inicial, representaria uma redução de

43
10% na taxa instantânea, que poderia ser compensada por um pequeno
aumento no tempo diário de pastejo. No caso da pastagem de Tifton 85,
o aumento da remoção para 50% representaria uma redução de 35% na
taxa instantânea, o que dificilmente seria compensado pelo mecanismo de
aumentar o tempo total de pastejo.
Resultados semelhantes a esses foram observados por Delagarde et
al. (2011) avaliando 17 experimentos com rebanhos leiteiros e 42 médias de
tratamentos (26 com vacas em lactação) em pastagens perenes temperadas,
manejadas em pastoreio contínuo (Figura 8). Pode ser observada uma
redução da taxa de consumo instantânea de 22% quando a altura média
do dossel é reduzida de 25 para 15 cm, ou seja, o equivalente a uma
redução de 40% na altura média. A redução de 50% da altura (de 20 para
10 cm) representou uma redução de 45% da taxa de consumo relativo.
Os mesmos comentários caberiam quanto à compensação do consumo
total diário, que poderia ser viável no primeiro caso por um maior tempo
diário de pastejo. Entretanto, deve-se destacar que os reflexos na produção
animal serão menores por se tratarem de espécies forrageiras de maior
valor nutricional que as espécies tropicais avaliadas na Figura 7.

Figura 8. Relação entre a altura média do dossel e as taxas de consumo instantânea e


relativa para vacas leiteiras em pastagens perenes temperadas (Delagarde et al., 2011).

44
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Se uma vaca conseguisse manter o ritmo de consumo instantâneo


apresentado pelos autores nas alturas entre 20 e 25cm, em 5 a 6hs
atingiria um consumo diário de 15 a 18kg de MS. Entretanto, os mesmos
afirmam que esse só é mantido nas refeições feitas nos picos de pastejo, ao
amanhecer e anoitecer, condicionado pelo estímulo pós-ordenha, o que
exige um tempo total diário de pastejo maior. A mesma pastagem com
15cm do dossel exigiria de 7 a 8,6 horas de pastejo para atingir os mesmos
consumos diários supracitados.
Outro aspecto relevante na utilização do pastoreio contínuo
é a uniformidade na utilização da superfície pastoril de cada alternativa
forrageira da propriedade. Aspectos que serão discutidos nesse Simpósio,
como o manejo e conservação do solo e a integração lavoura-pecuária,
especialmente com os instrumentos de tecnologia de precisão levam em
consideração os reflexos da uniformidade da deposição de dejetos e do
adensamento superficial de solos submetidos ao pastejo. Por maior que
seja o controle sobre a altura, a massa e a densidade do dossel, o pastoreio
contínuo manejado com maiores alturas e massas de forragem, para permitir
a seletividade dos animais, leva a uma maior desuniformidade estrutural da
pastagem no tempo e no espaço, especialmente em pastagens anuais.
Uma das vantagens que o pastoreio rotativo apresenta seria um
maior controle sobre a estrutura do pasto, ou seja, as alturas e densidades
que são consequencias dos intervalos e intensidades de desfolhação da
pastagem. Uma consequência desse controle pode ser ilustrada pelo
trabalho de Medeiros Neto (2015). Trabalhando com capim quicuio numa
região de clima Cfb, como a região Sul do Paraná, foi avaliado o efeito
de diferentes severidades de desfolhação em pastoreio rotativo sobre a
utilização da área dos piquetes. Na Figura 8, podemos observar que quando
a severidade de desfolhação está entre 40 e 46% da altura inicial do pasto,
entre 60 e 80% da superfície total do piquete são utilizados, com apenas
30% da superfície sendo repastejada. A partir de 58% de desfolhação, 80 a
100% do piquete é pastejado, mas de 50 a 60% da área são pastejados mais

45
de uma vez, o que implica na utilização de um horizonte menos favorável à
ingestão de forragem (ver também Figura 6) e também um maior prejuizo
ao rebrote posterior do pasto.

Figura 9 – Relação da severidade de desfolha (em% da altura inicial) com a% de área


pastejada em função da área total de uma pastagem de quicuio (Pennisetum clandestinum).
Na parte inferior da figura estão ilustradas a altura inicial e as alturas pretendidas para
atingir as % de desfolhas previstas (as% reais de desfolha foram de 40, 46, 58 e 62%)
(adaptado de Medeiros Neto, 2015).

É importante destacar que a partir de 46% de desfolha, 20% das


folhas senescentes foram desfolhadas, enquanto apenas 8% dessas foram
consumidas pelos animais com 40% da altura inicial sendo desfolhada. Esse
fato tem uma implicação importante na qualidade do pasto consumido,
especialmente em pastagens tropicais. Apesar das diferenças na frequência
de desfolha entre os diferentes componentes da estrutura do dossel, em
cada evento de desfolha apenas pouco mais de 1/3 do perfilho estendido
foi removido pelos animais (Medeiros Neto, 2015).
Ao analisar o conjunto dessas informações e considerando
a evolução do processo de elongação dos colmos e sua consequente

46
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

lignificação, que ocorre tanto nas espécies de hábito ereto como prostradas
já citadas e outras forrageiras não elencadas nesse capítulo, podemos
concluir que intensidades de desfolha entre 40 e 50% da altura pré-
pastejo podem ser recomendadas. Essa indicação permite a oportunidade
de seletividade da forragem por garantir tanto uma oferta quanto uma
distribuição espacial (ou estrutura) do pasto não limitantes ao animal.
Um exemplo dessa recomendação pode ser observado em Ribeiro
Fº et al. (2009) que indicaram uma oferta de 40 kg de MS/vaca/dia em
pastagem de azevém que foi desfolhada a uma intensidade de 56% da
altura inicial. Os resultados de aumento da produção de leite em relação
a uma oferta menor e uma maior intensidade (73%) da altura inicial
comprovam o maior consumo de forragem (Tabela 3).
Entretanto, podemos observar que a maior qualidade da estrutura
oferecida que resulta em maior produção individual por vaca nem sempre
vai permitir uma maior produção por área, especialmente em pastagens de
alta qualidade como azevém, para a qual a redução na produção individual
das vacas foi de apenas 14% mesmo com a restrição do consumo (Ribeiro
Fº et al., 2009).

Tabela 3. Produção de leite em pastagem de azevém, sob pastoreio


rotativo em faixas, manejada em duas ofertas de forragem e duas
intensidades de desfolha (adaptado de Ribeiro Fº et al., 2009).

* Os valores foram estimados a partir dos dados dos autores e do intervalo de utilização da Tabela 2.

47
Comparação entre paradigmas atuais e passados

A partir daqui, retornamos à proposição inicial de “mitos” e


“verdades” no manejo de pastagens proposta na introdução desse capítulo.
Ao comparamos algumas das recomendações dos artigos citados nesse
capítulo com as chamadas “leis universais” do pastoreio racional (Voisin,
1957), encontramos muita coincidência entre o paradigma passado e os
paradigmas atuais.
Se considerarmos que sua primeira “lei” sugere que entre dois
pastoreios devemos permitir que a pastagem “realize sua labareda de
crescimento”, podemos comparar essa afirmação com as recomendações
correntes de atingir 95% da interceptação luminosa do dossel ou
acompanhar as durações de vida ou de expansão foliares.
Analisando a segunda “lei” que afirma que o pasto não deva ser
cortado duas vezes pelo animal na mesma ocupação, podemos identificar a
noção de que a desfolha deva ser leniente o suficiente para evitar o pastejo
sucessivo do mesmo horizonte ou da mesma área de pasto.
Avaliando as terceira e quarta “leis” que falam das necessidades
dos animais e de que precisamos privilegiar os animais (como as vacas em
lactação) de mais alta exigência, estamos falando de oferta de forragem e
de oportunidade de seleção, como vários dos autores aqui identificados.
Em relação à quarta assertiva do “rendimento regular”, o autor sugere
períodos de ocupação curtos, menores que três dias e ideais de um dia,
como já ilustrado na Figura 5.
Desqualificar um proponente a partir de uma leitura inapropriada
de suas propostas pode ser uma postura pouco científica e não ética.
Podemos afirmar que muito do preconceito contra a obra desse estudioso
se deva aos posicionamentos políticos do mesmo. Ao tempo da chamada
“Guerra fria”, em princípios dos anos 1960 do século passado, que
também coincidiram com o regime militar do Brasil, o químico francês
ousou colaborar com o governo cubano, tendo falecido na ilha. Esse
pequeno arrazoado ilustra que, considerando as limitações dos protocolos

48
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

científicos de 60 anos atrás, muitas de suas recomendações encontram eco


com as chamadas “verdades” científicas da primeira década do século XXI.
“Mitos” e “verdades” precisam ser contextualizados com os avanços
dos paradigmas da ciência, posicionados nas escalas espaciais e temporais
com que estamos trabalhando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos afirmar que é um “mito” que um sistema de pastoreio


seja melhor do que todo e qualquer outro. Cada alternativa apresenta suas
vantagens e desvantagens e cabe ao técnico e ao produtor “manejador”
definir a(s) alternativa(s) que melhor se adapta(m) ao sistema de produção.
Podemos atribuir um sentido de “verdade” ao fato de que existem muitas
alternativas para cada propriedade.
Cada sistema é uma realidade única que não pode aceitar a/o
“receita única” / “pacote tecnológico” aplicável a todo o universo de
possibilidades que as interações entre clima, solo, plantas e os animais
podem apresentar. Ao longo desse capítulo tratamos de apresentar e
discutir algumas dessas propostas, lembrando que a sustentabilidade de
um sistema pastoril depende do cuidado com o ambiente, com o conforto
e bem-estar do animal e do homem e com a economicidade do sistema.

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53
54
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO DE PASTAGENS E


QUALIDADE DA FORRAGEM

Cecilio Viega Soares Filho1


Wagner Paris2
Ulysses Cecato3
Sandra Galbeiro4
Fabiola Cristine de Almeida Rego5

1. INTRODUÇÃO

Normalmente, os ensaios de pastejo e corte com pastagens,


consideram apenas a produção e qualidade e, pouca atenção é dada à forma
como a forragem é distribuída horizontal e verticalmente na vegetação. No
entanto, sabe-se que a estrutura da vegetação influi no comportamento do
animal em pastejo, principalmente, no que se refere ao tamanho e taxa
de bocado, alterando assim, o tempo de pastejo e, em última instância, o
consumo de matéria seca e a própria produção animal.
As folhas são consideradas o componente da planta mais
consumido pelos animais sob pastejo e, em pastagens de baixa densidade,
revelam baixa percentagem em relação ao total, sendo muitas vezes de
difícil acesso para a coleta pelo animal. Assim sendo, o mesmo tende a
ingerir a forragem seletivamente, porém com menor quantidade por

1
Dr. Professor Adjunto da Universidade Estadual Paulista da Faculdade de Medicina Veterinária, Araçatuba, SP.
2
Dr. Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UTFPR,Dois Vizinhos, PR. Pós dou-
torado na Universidade Mcgill no Canadá.
3
Dr. Professor Titular da Universidade Estadual de Maringá no Programa de Pós graduação em Zootecnia, Pós-Dou-
torado na Range Cattle Research & Education Center - Ona - University of Florida.
4
Dra. Professora Adjunta na Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR.
5
Dra. Professora Titular do programa de Mestrado em Saúde e Produção de Ruminantes da Universidade Norte
do Paraná (UNOPAR), Arapongas, PR.

55
bocado, o que leva a um aumento do número de bocados, resultando em
um tempo de pastejo mais prolongado.
As plantas forrageiras variam, naturalmente, quanto à estrutura
da vegetação, em função da arquitetura da planta, do estádio de
desenvolvimento, das condições edafoclimáticas e do manejo que lhes é
imposta. Uma das maneiras para melhorar a estrutura da pastagem que
vem sendo preconizado é a aplicação de fertilizantes, principalmente os
nitrogenados, pelo fato do nitrogênio promover um rápido crescimento da
planta, com maior produção e taxa de expansão foliar, proporcionando na
composição da planta, uma maior relação folha:haste, melhorando assim,
a qualidade da forragem.
A performance animal tem uma dependência direta sobre a
ingestão diária de forragem e uma dependência indireta, através dos
efeitos do processo de pastejo, sobre a composição da pastagem, estrutura
e produtividade da pastagem (Cosgrove, 1997).
Neste sentido, esta revisão tem o objetivo de relatar os aspectos
relacionados à estrutura da vegetação em pastagens e à qualidade da
forragem.

2. A estrutura da vegetação de pastagens

A importância da estrutura da pastagem na seleção da dieta pode


ser deduzida no contexto da otimização do processo de pastejo, isto é,
da relação entre taxa de ingestão de nutrientes e o custo de manipulação
(Carvalho, 1997). Assume-se que, para ruminantes em pastagens
cultivadas o tempo de procura é pouco significante e, portanto, os custos
de manipulação do bocado são a principal origem do dispêndio energético
de um animal em pastejo (O’Reagain, 1993). Uma vez que a dieta de um
ovino é composta basicamente de folhas (I’Huillier et al., 1986), os custos
de manipulação advém da energia despendida na sua colheita em relação

56
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

a outros tecidos, o que em última análise é função de sua apresentação


espacial (O’Reagain, 1993).
É bastante aceito o fato de que os animais selecionam forragem
verde em detrimento de material morto e que folhas são preferidas em
relação a caules (Poppi et al., 1987). Trata-se de um comportamento
associado à busca de uma dieta adequada em termos qualitativos. Porém,
em situações como as que ocorrem numa pastagem de azevém perene/
trevo branco, este padrão de seleção não é tão evidente e fatores estruturais
associados à apresentação espacial destas espécies na pastagem adquirem
conotação determinante.
A estrutura da pastagem é resultado da dispersão espacial dos
seus componentes e de suas respectivas biomassas nos planos vertical e
horizontal. A sua relação com a seleção da dieta pode, inicialmente, ser
descrita pela óbvia constatação de que, dependendo de sua estrutura,
uma planta é mais ou menos passível de sofrer desfolhação. Segundo
HODGSON (1990b), a chance de um componente preferido ser
selecionado será menor se ele estiver distribuído na base da pastagem
ou misturado com outros componentes do que se ele estiver no estrato
superior ou distribuído em “patchs6”. Pode-se concluir, portanto, que duas
características estruturais das pastagens influem de forma fundamental na
seleção da dieta pelo animal em pastejo, a altura e a disposição horizontal
dos seus componentes.
Vários trabalhos foram realizados para verificar a estratégia
de pastejo seletivo, os quais, geralmente, tem sido restringido pela
complexidade da base da vegetação e apresentado várias influências de
confundimento na preferência e acessibilidade das plantas (Hodgson et al.,
1997). A importância da descrição da estrutura da pastagem, avaliando-a
na disposição vertical e horizontal, está agora bem reconhecida (Gordon &

6
São agregados de estações alimentares separados de outros patches por uma pausa na sequência de pastejo, quando
o animal se reorienta para um novo local (Bailey et al. 1996).

57
Lascano, 1993; DOVE, 1996; Schininning & Parsons, 1996). A definição
dos elementos da estrutura tem sido motivo de vários estudos, mas a
variabilidade dos procedimentos técnicos em mensurá-los e descrevê-los,
em três dimensões, não estão prontamente disponíveis. A quantidade de
informação requerida para descrever, compreensivelmente, a estrutura da
vegetação tem sido um desafio.

3. Densidade de matéria seca

Dentre os fatores que influenciam o tamanho do bocado coletado


pelo animal em pastejo, destacam-se o rendimento, a densidade de
folhas e sua acessibilidade, bem como, a densidade de matéria seca total
da pastagem (Stobbs & Hutton, 1974). Entretanto, na literatura poucos
trabalhos sobre a distribuição de folhas nos estratos verticais de plantas
forrageiras tropicais têm sido encontrados.
Segundo Hodgson et al. (1997), as variações na densidade de folhas
e relação folha:haste apresenta um impacto maior nas pastagens tropicais
do que nas temperadas, refletindo, geralmente, seus valores mais baixos.
Trabalhando em pastagens de capim-setária e capim-de-Rhodes,
de hábitos de crescimento cespitoso, Stobbs (1973) verificou que ambas
as forrageiras apresentaram baixa densidade de matéria seca total da
forragem (variando de 14 a 96kg ha-1 cm-1), bem como, baixa densidade
de matéria seca de folhas (variando de 12 a 43kg ha-1 cm-1), quando
comparadas às pastagens temperadas. Na altura de zero a 15cm do solo o
relvado apresentou a maior densidade, acima de 148kg ha-1cm-1, entretanto,
a densidade de folhas foi menor do que 20kg ha-1cm-1, as quais ficaram
aparentemente inacessíveis às vacas em pastejo. Em pastagens de capim
Tanzânia, sob pastejo, verificou-se em diferentes alturas de manejo, que
os estratos superiores sempre apresentavam maiores proporções de folhas;
e que os estratos inferiores apresentavam maiores densidades de materia

58
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

seca total (Rego et al.,2001).


O maior consumo de folhas em relação ao caule, revelado
pelos animais em pastejo, é normalmente atribuído ao maior teor de
proteína bruta associado a um declíneo menos acentuado, devido ao
desenvolvimento da planta e ao processo mais lento de lignificação da
folha em relação ao caule. Desta forma, o estudo detalhado das plantas
forrageiras e o emprego de técnicas de manejo que resultem em alterações
morfológicas podem levar a aumentos significativos na produtividade da
forrageira e, consequentemente, na produção animal (Stobbs, 1975b).
Segundo Stobbs (1975a), nitrogênio mineral em doses crescentes
aplicado ao capim setária, aumentaram a produção de matéria seca total
e de folhas, particularmente, nas camadas mais superiores do relvado,
permitindo que vacas Jersey em pastejo aumentassem o tamanho do
bocado, coletando assim, maior quantidade de forragem. O autor
observou, entretanto, que nas doses elevadas de nitrogênio, o maior
desenvolvimento dos colmos pode dificultar a acessibilidade das folhas,
principalmente, se a forragem se tornar excessivamente madura.
Por sua vez, Costa (1990), desenvolveu um ensaio em Jaboticabal,
SP, com o objetivo de estudar os efeitos da presença ou ausência de adubação
nitrogenada, de três crescimentos sucessivos e de três idades de corte sobre
a produção, composição bromatológica e digestibilidade “in vitro” de dois
cultivares de Panicum maximum (colonião e tobiatã), considerando-se a
vegetação nos diferentes estratos verticais. Os resultados revelaram que
apesar do cultivar tobiatã ter apresentado maiores produções de matéria
seca total e de folhas verdes, em especial no crescimento C27, o cultivar
colonião apresentou disposição mais concentrada dessa produção, pois
revelou, em média, maiores densidades tanto de matéria seca total quanto
de folhas verdes.

7
Fase de crescimento da planta, quando está inicia a rebrota após o primeiro pastejo

59
Quanto aos resultados da adubação nitrogenada, o uso de 50kg
de N ha-1corte-1 promoveu aumento da densidade de matéria seca de
folhas verdes de ambos os cultivares, sem contudo, alterar a densidade
de perfilhos, evidenciando o efeito do fertilizante no alongamento dos
colmos, o que proporcionou melhor distribuição de folhas verdes nos
estratos superiores da vegetação.
Com relação aos aspectos de produção, teores de fibra e
proteína bruta e digestibilidade “in vitro” da matéria seca, comparando-
se os diferentes estratos da vegetação, o autor concluiu que os cultivares
colonião e tobiatã seriam melhor explorados se manejados ao redor de 35
dias, utilizando-se a adubação nitrogenada, sendo a vegetação colhida até
a altura mínima de 40 cm em relação ao nível do solo.
Ainda com relação à qualidade dos estratos, em capim Tanzãnia,
avaliado em quatro alturas de manejo (20, 40, 60 e 80cm), verificou-se
que os estratos inferiores apresentaram menor qualidade, devido à maior
densidade de matéria seca e menor densidade de folhas, acarretando em
maiores valores de FDA e FDN e menores teores de PB (Rego et al., 2001).
Segundo Stobbs (1977), o grau de utilização de forragem em
pastagem de capim-Gatton Panic variou de estrato para estrato da
vegetação, conforme a oferta de pasto. Nos estratos de 10-20, 20-30, 30-40
e acima de 40cm, observou-se a utilização de 14, 49, 46 e 56% da MS do
estrato, quando a oferta de pasto foi de 55kg de MS vaca-1dia-1 e, quando a
oferta de pasto foi 15kg de MS vaca-1dia-1, os percentuais foram 52, 82, 82
e 100%, respectivamente. Verifica-se, assim, que o nível de oferta de pasto
afeta a eficiência de sua utilização.
Moore et al. (1987) avaliaram a estrutura da vegetação de uma
pastagem consorciada de Hemarthria altissima e Aeschynomene americana,
em Gainesville, Flórida. Os autores avaliaram o perfil vertical da vegetação
a cada 10 cm, a altura do dossel, a produção de matéria seca, a densidade
da vegetação e a composição botânica. Além desses parâmetros, avaliaram
o comportamento ingestivo dos animais com fístula esofagiana, onde

60
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

mensuraram a composição da extrusa, ingestão por bocado, bocado por


minuto e movimentos mandibulares por 100 bocados.
Quanto à altura do dossel, variou de 18 a 94 cm e a percentagem
da leguminosa nas camadas superiores foi, aproximadamente, duas vezes
o dossel inteiro. A percentagem da leguminosa na extrusa esofagiana
aumentou quadraticamente, isto é, cerca de 80%. A maior densidade
da vegetação de plantas invasoras ao final da estação de crescimento
possibilitou a diminuição da percentagem de leguminosa na dieta.
Com relação à densidade da vegetação, os autores encontraram
valores de 17,8kg de MS ha-1cm-1 para a leguminosa e de 91,6kg de MS
ha-1cm-1 para a gramínea. Comparando os dois perfis da vegetação, a
densidade da leguminosa é proporcionalmente constante, mas a densidade
da gramínea aumenta da base para o topo do dossel.
Por outro lado, Fisher et al. (1987), aplicaram métodos específicos
para obter um melhor compreendimento das relações entre a vegetação
do dossel da pastagem, seleção de dieta e ingestão pelo animal. As duas
espécies utilizadas foram o Panicum virgatum e o Pennisetum flaccidum
Griseb. As plantas foram avaliadas no estrato vertical a cada 5cm para
determinação das frações folha, haste e material morto. A DIVMS foi
determinada para cada fração.
Nas duas espécies avaliadas o Panicum apresentou menor
quantidade de folhas do que o Pennisetum. Com relação à qualidade
da forragem, o Pennisetum apresentou 63% de DIVMS enquanto que o
Panicum apenas 53%. A DIVMS das folhas do dossel da vegetação para
ambas as pastagens foram similares com a obtida na extrusa.
Favoretto et al. (1995) avaliaram a estrutura da vegetação do capim-
colonião em função de práticas de manejo. Foram utilizados três níveis
de nitrogênio e três níveis de folhas residuais pós-pastejo em três estratos
da vegetação. As produções de matéria seca verde por estrato (Tabela
1) apresentaram efeito significativo para níveis de N, porém, apenas no

61
estrato superior da vegetação. Os autores compararam os níveis de folhas
residuais pós-pastejo (FR) e observaram que a produção decresceu, dos
estratos inferiores para os superiores, nos níveis de FR médio e baixo. Os
autores concluem que a aplicação de 150kg de N ha-1 resultou em maiores
produções de matéria seca total e de folhas verdes, no estrato superior a
60 cm, apesar de não ter alterado a densidade. A manutenção de maior
quantidade de folhas residuais pós-pastejo permitiu maior concentração
de lâminas foliares no estrato superior da pastagem que, associada ao
maior teor de proteína, resultou numa forragem de melhor qualidade e de
fácil acesso para os animais.

Tabela 1: Produção de matéria seca verde (kg ha-1) do capim colonião,


em função dos níveis de nitrogênio, de folhas residuais e dos
pastejos nos estratos.

Médias seguidas de letras idênticas, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, não diferem entre
si (P < 0,05)

Fonte: Adaptado de Favoretto et al. (1995)

62
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

4. Consumo de forragem em pastejo

Um fator, particularmente, importante que influencia o consumo


pelo animal sob pastejo, é a facilidade de apreensão da forrageira. Por
sua vez é a estrutura da pastagem que determina a facilidade com que a
forragem é apreendida pelo animal. Quando a pastagem é pouco densa,
o animal em pastejo encontra dificuldade na preensão das forrageiras
(Cosgrove, 1997). Qualquer redução na densidade de forragem por
hectare, não pode ser compensada pelo aumento do número de hectares
de forragem disponível ao animal. Correlações positivas entre a densidade
de folhas e relação folha:caule com o consumo foram observadas em vários
experimentos com pastagens tropicais (STOBBS, 1973; Hendricksen &
Minson, 1980), principalmente, a densidade de folhas na camada superior
das pastagens (Chacon et al., 1978).
Allden & Whittaker (1970) definiram o consumo diário em
pastejo (CP), utilizando-se de variáveis associadas ao comportamento do
animal e lançaram as bases mecanísticas para explicação deste fenômeno,
através do produto do tempo de pastejo (TP), taxa de bocados (TB) e peso
do bocado (PB), gerando a equação:
CP = TP x TB x PB
Esta proposição influenciou uma série de trabalhos que vieram por
realçar o papel da estrutura da pastagem como determinante do consumo
animal (Stobbs, 1973). Um exemplo da relação entre estas variáveis e a
estrutura da pastagem pode ser dado, imaginando-se um cenário de baixa
oferta de forragem. A resposta clássica nestas condições é uma diminuição
do peso do bocado e um aumento na taxa de bocado e/ou tempo de
pastejo (Penning, 1986), sendo que esta compensação estaria limitada a
apenas 15% do consumo diário (Coleman, 1992). Ovinos em pastagens
de azevém perene, cuja altura é inferior a 6 cm, não conseguem compensar
a diminuição do peso do bocado por um aumento no tempo de pastejo e
na taxa de bocados (Penning et al., 1991). Recomendações para bovinos

63
sugerem que a altura da pastagem deverá ser acima de 8 a 10 cm para máxima
produtividade (Cosgrove, 1997). Portanto, o peso do bocado é a variável
mais importante na determinação do consumo em pastejo e é aquela que é
mais influenciada pela estrutura da pastagem (Hodgson, 1985).
Nesta linha de pensamento, pesquisas subsequentes levaram a um
aprofundamento no conhecimento desta variável chave. Hodgson (1985)
propôs uma representação esquemática, em que o peso do bocado se
originaria aritmeticamente do produto entre o volume do bocado (VB) e a
densidade da forragem no estrato pastejado (DEP). O volume do bocado,
por sua vez, seria produto de sua área (AB) e de sua profundidade (PfB).
Teríamos portanto:
PB = VB x DEP
VB = AB x PfB
Para Hodgson et al. (1994) estas equações provêm uma firme base
conceitual para compreensão da influência das características da pastagem
no comportamento ingestivo de animais em pastejo. Recentemente, a
taxa de bocados foi redefinida como sendo função do tempo envolvido
na procura e localização do bocado (Laca & Demment, 1992) e na sua
manipulação (Newman et al., 1994). A Figura 1 apresenta a representação
esquemática das variáveis envolvidas no consumo diário de um ruminante
em pastejo, assumindo a ocorrência de apenas um movimento de apreensão
por bocado (Carvalho, 1997).
O modelo apresenta o consumo em duas dimensões temporais:
curto prazo (velocidade de ingestão) e longo prazo (consumo diário).
O estudo da velocidade de ingestão, também conhecida como taxa
de consumo instantânea, se relaciona diretamente com os efeitos da
estrutura da pastagem, estando o foco centrado no processo de ingestão
da forragem. Já, o consumo diário estaria na dependência, também, do
tempo de pastejo que é função de uma série de fatores, dentre os quais
a taxa de passagem e relação consumo/requerimento entre outros. O

64
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

tempo de pastejo é, normalmente, de 8 horas, podendo atingir 16 horas


em casos extremos (Hodgson et al., 1994). Neste caso, o foco passa a estar
centrado no processo de digestão da forragem (Laca & Demment, 1992).
Comparando-se com os outros processos determinantes do consumo
diário, o tempo de pastejo é a variável em que menos se tem progredido
no conhecimento (Gordon & Lascano, 1993).

Figura 1 – Representação esquemática do consumo de um animal em pastejo assumindo o


bocado como base do comportamento ingestivo. Fonte: Carvalho (1997).

65
Por sua vez, o tempo de procura inclui a movimentação do
animal ao longo do ambiente de pastejo e todos os processos sensoriais e
cognitivos envolvidos na decisão de se colher aquele bocado dentre vários
outros possíveis (Ungar, 1996). Segundo este autor, tais processos não
são de simples quantificação, pois engloba a questão de como o animal
percebe e se movimenta no ambiente de pastejo. A morfologia do aparelho
locomotor e o peso do animal são fatores importantes na determinação do
tempo de encontro com bocados potenciais (Shipley et al., 1996).
A manipulação do bocado compreenderia o ato de apreender
a forragem, trazendo-a para dentro da boca e cortando-a através de
movimentos de cabeça, lábios (ovinos e caprinos) e língua (bovinos),
além dos movimentos de mastigação e deglutição do bolo alimentar. Em
pastagens cujas qualidade e disponibilidade não são limitantes, assume-
se muitas vezes, que o tempo de procura possa ser insignificante, pois
o animal mastiga a forragem enquanto se movimenta de uma estação
alimentar para outra (Laca & Demment, 1992).

5. A estrutura da pastagem e as dimensões do


bocado

As dimensões do bocado de animais em pastejo, área e


profundidade, são importantes tanto para a planta quanto para o animal.
No caso da planta, elas definem a profundidade e área da forragem
removida, definindo portanto, a intensidade e o padrão espacial da
desfolhação (Edwards et al., 1995). A relação entre esta intensidade de
desfolhação e sua frequência determina o quanto de folhas é colhida
pelo animal e quanto o crescimento da planta será afetado pelo efeito no
seu suprimento de energia (Parsons & Johnson, 1986). Para o animal a
dimensão do bocado, junto com a densidade do estrato pastejado, definem
o peso do bocado, que é a variável mais determinante do consumo animal
(Coleman, 1992). Portanto, quaisquer alterações no peso do bocado

66
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

seja por uma resposta à estrutura da pastagem, seja por uma decisão
comportamental (Newman et al., 1994), passam, necessariamente, por
uma alteração na área ou profundidade do bocado. Daí a importância de
se compreender as relações entre a estrutura da pastagem e as dimensões
do bocado como ferramenta para se desenvolver modelos para predição do
peso do bocado (Laca et al., 1992).
Tanto a área do bocado quanto a profundidade são variáveis
cujas definições estão mais associadas à estrutura da pastagem do que as
medidas relacionadas ao animal. A profundidade do bocado corresponde
à diferença entre a altura inicial e à média da altura residual da mesma
unidade medida após o pastejo (Ungar, 1996). A área do bocado seria a área
total pastejada dividida pelo número de bocados observados (Ungar, 1996).
Vários estudos nas mais diversas condições concluíram que a
profundidade do bocado apresenta relação positiva com a altura da
pastagem e negativa em relação à densidade (Gordon & Lascano, 1993).
Experimentos em micro-pastagens construídos em pranchas (Black &
Kenney, 1984), leivas de pastagem oferecidas a animais em gaiolas (Gordon
et al., 1996), gaiolas de pastejo (Burlinson et al., 1991), perfilhos marcados
e quadrados marcados na pastagem (Edwards et al., 1995) indicam que,
quanto maior a altura da pastagem, maior a profundidade do bocado
de ovinos (Burlinson & Hodgson, 1985), bovinos (Mursan et al., 1989),
caprinos (Betteridge et al., 1994) e equinos (Hughes & Gallagher, 1993). De
acordo com Edwards et al. (1995), esta relação ocorre, independentemente,
do sistema de pastejo e de espécies morfologicamente contrastantes, como
o azevém perene e o trevo branco. Na grande maioria dos trabalhos, a
relação entre a profundidade do bocado e a altura da pastagem é descrita
linearmente, embora existam exceções onde esta relação é descrita de
forma assintótica (Mitchell et al., 1991; Laca et al., 1992). Muitos modelos
do comportamento ingestivo de ruminantes em pastejo assumem uma
relação assintótica entre a altura da pastagem e a profundidade do bocado
(Ungar & Noy-Meir, 1998; Parsons et al., 1994).

67
Cabe ressaltar, ainda, que estes resultados foram obtidos, em
sua grande maioria, com espécies temperadas, sendo que experimentos
a nível de dimensões de bocado com espécies tropicais são praticamente
inexistentes. O trabalho de Stobbs (1973) sugere que, ao contrário do que
acontece em pastagens temperadas, a densidade da pastagem parece ser
o principal componente da estrutura da pastagem a determinar a taxa
de consumo e não a altura, como ocorre com as pastagens temperadas
(Hodgson et al., 1994).
Segundo Hodgson et al. (1994), pouco ainda se conhece a respeito
de características morfológicas das plantas que possam controlar a relação
entre altura da pastagem e a profundidade do bocado. São contraditórios
os resultados que apontam o acúmulo concêntrico de camadas da bainha
(pseudocaule), como um agente físico limitante a bocados em maior
profundidade. No entanto, para pastagens com maior distribuição vertical
de folhas (espécies tropicais), hastes e material morto, mudanças na
densidade no horizonte vertical e componentes morfológicos das plantas
com maior força de tensão podem afetar, dificultando a severidade do
bocado (Cosgrove, 1997).
De uma forma geral, a área do bocado apresenta menor
sensibilidade às alterações na estrutura da pastagem (Hodgson et al.,
1994). Conforme Gordon & Lascano (1993), a área do bocado diminui
linearmente com a densidade da pastagem e aumenta de forma quadrática
com a sua altura. Esta última característica pode ter como explicação
as limitações anatômicas dos animais associadas às dimensões de suas
maxilas (Illius & Gordon, 1987). Mesmo atingindo uma assíntota, a área
do bocado nestas condições é, normalmente, maior que a área da boca dos
animais. Em bovinos isto seria esperado, uma vez que utilizam a língua
como um mecanismo de maximização da área do bocado. No entanto, a
área do bocado em ovinos, também, pode ser superior às dimensões de
sua boca em função de movimentos de cabeça horizontais, quando da
apreensão da forragem (Edwards et al., 1995).

68
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Se a profundidade do bocado é a variável que mais responde às


alterações da estrutura da pastagem, ao longo do seu perfil, podemos
considerá-la como a principal determinante do volume do bocado. Se
considerarmos que a estrutura da pastagem não pode ser alterada no
momento do bocado, porque é uma característica inerente da pastagem,
podemos concluir que o volume do bocado é a mais importante ferramenta
de que dispõe o animal para controlar a quantidade e qualidade de forragem
que será ingerida, o que seria o peso do bocado em última análise. Temos
então que, a profundidade do bocado seria o principal determinante do
peso do bocado (Carvalho, 1997).
Hughes (1983) mencionou que a distribuição de material verde
determinou o horizonte pastejado, demonstrando, desta forma, o efeito
da estrutura e densidade de forragem no desempenho animal. Allden &
Whittaker (1970) observaram diminuição no consumo em disponibilidades
abaixo de 1000 kgMS ha-1, em razão da falta de forragem aos ovinos em
pastejar seletivamente. Por outro lado, Laidlaw (1983) notou acentuada
preferência dos ovinos ao trevo vermelho em pastagem consorciada sob
alta lotação. Segundo Jamieson & Hodgson (1979), a ingestão animal
depende de peso do material cortado por bocado no pastejo, que, por
sua vez, é determinado pelo volume, área e profundidade do bocado e
densidade do estrato pastejado (Burlinson et al., 1991).
Carvalho et al. (1998a) investigaram a estrutura da pastagem e o
processo de pastejo com ovinos no INRA, França. Em um ensaio estudaram
o efeito da distribuição vertical na desfolhação de azevém perene e trevo
branco, o qual o azevém foi mais desfolhado a 10,5 cm do que 6,5 cm de
altura. Em outro trabalho com as mesmas espécies avaliaram a distribuição
horizontal, a qual não afetou a desfolhação. Concluiram que ocorre
uma seleção pelo trevo branco, quando o azevém apresenta uma grande
concentração de bainhas na camada próxima ao pastejo. Quando não
ocorre este impedimento, observaram que havia preferência pelo azevém.
A distribuição vertical das espécies na associação é mais importante que a

69
distribuição horizontal.
Em outro experimento, Carvalho et al. (1998b) avaliaram a
profundidade do bocado de ovelhas em lactação em pastagens de Festuca
arundinacea e Dactylis glomerata marcando os perfilhos nos estádios
reprodutivo e vegetativo. Observaram uma relação linear e positiva entre
a profundidade do bocado e a altura das plantas, independente de seu
estádio fenológico e de sua espécie. Verificaram, também, que perfilhos
vegetativos, quando circundados por perfilhos reprodutivos, são pastejados
menos intensamente e, que as espécies foram pastejadas de forma idêntica,
quanto à profundidade do bocado, indicando assim, que a espécie é menos
importante que a altura na determinação da intensidade de pastejo.
Em pesquisa avaliando uma série de variáveis na estrutura da
pastagem que influenciam na formação do bocado e na taxa de ingestão
instântane dos bovinos, verificou-se que tanto em Brachiaria brizantha cv.
Marandu quanto em Panicum maximum cv. Tanzânia; a proporção e a massa
de folhas verdes foram consideradas determinantes na taxa de ingestão dos
animais (Rego et al., 2006a)

6. Qualidade de forragem pastejada

Arnold (1989) explicou que na associação produção de forragem


e resposta animal está a dinâmica da qualidade da forragem consumida.
Dessa forma, Bryant et al. (1970) observaram decréscimo na qualidade
da forragem, quando o aumento da lotação animal reduziu a sua
disponibilidade e, consequentemente, a oportunidade de pastejo seletivo.
Como os animais pastejam seletivamente forragem verde e folhas
da posição superior em relação ao material mais envelhecido e caule, em
condições de disponibilidade moderada a alta (relação forragem tenra/
forragem envelhecida relativamente menor), a qualidade da forragem da
dieta é superior à qualidade média da forragem disponível na pastagem. E,

70
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

em condições de disponibilidade limitada, a qualidade média da forragem


estará próxima à qualidade da dieta, em razão da redução no pastejo
seletivo e da maior relação forragem tenra/forragem envelhecida (Arnold,
1989). Com disponibilidade limitada, de forma a reduzir a ingestão e o
consumo, Burns et al. (1989) citaram que a resposta animal pode não
refletir a qualidade potencialmente alta da dieta, sendo a qualidade da
forragem disponível e da dieta do animal, neste caso, apenas descritivas.
Para Allison (1985), o valor de uma determinada forragem
na produção animal depende mais da quantidade consumida que da
composição química. Além disso, Allison (1985) acrescentou que a variação
no consumo voluntário foi o fator mais importante na determinação da
eficiência de produção dos ruminantes e que a disponibilidade de forragem
e a intensidade de pastejo foram as variáveis controladas pelo manejo
que mais influenciaram o consumo dos animais. Greenhalg et al. (1966)
observaram que, quando a oferta de forragem foi menor que o consumo
voluntário, incrementos na oferta produziram aumentos de aproximada
magnitude no consumo de forragem. No caso de ofertas de forragem cada
vez maiores, a resposta no consumo elevou-se até determinado ponto,
a partir do qual, acréscimos na oferta de forragem não resultaram em
aumentos no consumo. Poppi et al. (1987) dividiram a curva da relação
curvilinear entre a pressão de pastejo e produção animal por área, em
seção ascendente e platô, observando que a seção ascendente da curva
envolve os fatores não nutricionais, que são influenciados pela estrutura
da pastagem, comportamento animal na seleção da dieta e tempo e taxa de
pastejo e, como o consumo animal na seção ascendente é bastante sensível
a mudanças na quantidade de forragem, qualquer ajuste na disponibilidade
pode resultar em grande efeito no desempenho animal. De acordo com
estes autores, os fatores nutricionais envolvem, ainda, a digestibilidade, o
tempo de retenção no rúmen e a concentração de produtos metabólitos
resultantes da digestão.
Portanto, a pressão de pastejo afeta, diretamente, a disponibilidade
de forragem e o consumo e, indiretamente, a estrutura da pastagem,

71
modificando sua composição química e a aceitabilidade de seus
componentes. Euclides et al. (1989) salientaram que a estrutura da
pastagem é fator importante na determinação da facilidade de apreensão
pelo animal. Em pastagem pouco densa, o animal encontra dificuldades em
atender a capacidade de consumo e que, qualquer redução na densidade
de forragem por unidade de área não pode ser compensada, aumentando-
se o número de unidades de área de forragem disponível.
Neste sentido, Allden & Whittaker (1970) constataram que
acima de 3.000 kgMS ha-1 o tempo de pastejo e a taxa de consumo foram
relativamente constantes. E, com a disponibilidade de 500 kg MS ha-1,
a taxa de consumo foi reduzida em quatro vezes e o tempo de pastejo
foi aumentado em duas vezes. Concluíram, também, que a diminuição
na quantidade de forragem pode não ser compensada pelo aumento no
tempo de pastejo.
Por sua vez, Bryant et al. (1970) relataram que a utilização de
pressão de pastejo, suficientemente intensa para limitar a disponibilidade,
causou redução no consumo e na qualidade da dieta.
Entretanto, não é apenas reduzindo a pressão de pastejo e
aumentando a disponibilidade de forragem que os melhores resultados
serão conseguidos. Stobbs (1973) observou que o perfil da pastagem não
deve ser visto como algo homogêneo e que, embora de menor produção
que as espécies de clima tropical, as espécies de clima temperado têm maior
densidade. Este autor citou densidades de 1600 a 4100 e de 140 a 2000 g/
m3 para pastagens de regiões temperadas e tropicais, respectivamente. O
mesmo, verificou que a possibilidade de se obter dieta de alta qualidade
pelo pastejo seletivo em pastagens tropicais pode ser sobrepujada pela
limitação no consumo total, em razão do pequeno tamanho do bocado e,
conseqüentemente, baixo consumo de nutrientes digestíveis por unidade
de tempo, ainda que, a disponibilidade esteja acima daquela que estabelece
o tamanho crítico de bocado.
Conceitualmente, se o animal tivesse condições de consumir o

72
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

suficiente ele satisfaria suas exigências em pastagens de baixa qualidade,


mas o consumo total nesse ecossistema é limitado por fatores físicos da
planta e do animal e pela estratégia de manejo na interface planta-animal
(Allison, 1985).
Dessa maneira, a quantidade de forragem disponível na pastagem
determina mudanças na participação dos componentes folha, colmo e
material morto, alterando a qualidade da forragem disponível ao animal
em pastejo (Forbes & Coleman, 1993).
Assim, considerando a complexa relação entre disponibilidade e
qualidade da forragem na resposta a diversas categorias animais, Barnes
& Marten (1979) observaram que a qualidade da forragem é determinada
pelo tipo e quantidade de nutrientes digestíveis ao animal por unidade
de tempo, que, desta forma, depende do nível de consumo, tempo de
digestão e eficiência de utilização de nutrientes. Hughes (1983) comentou
que o termo forragem disponível não especifica a composição botânica
da pastagem e seus componentes estruturais, os quais determinam a
qualidade da pastagem.
Segundo Hacker & Minson (1981), Hodgson (1990) e Costa
(1990), as pastagens apresentam nos estratos superiores, em relação aos
inferiores, maiores coeficientes de digestibilidade. Neste sentido, Mannetje
& Eberson (1980) relataram que, nas pastagens tropicais, a porção basal
apresentou menos de 50% de matéria orgânica digerível, enquanto que os
extratos superiores apresentaram 70%.
A redução na digestibilidade da matéria orgânica com o avanço
da idade da forragem, nos altos níveis de oferta, é devida, principalmente,
à redução na proporção folha/caule e à elevação de material envelhecido
na estrutura da pastagem e, devido a estes inconvenientes, Stobbs
(1973) encontrou redução no consumo e no tamanho do bocado de
vacas em pastagem de setária. Por sua vez, Akin (1989) mencionou que
fatores físicos e histológicos em tecidos específicos de plantas, avaliados
microscopicamente na digestão por microrganismos do rúmen, também

73
foram responsáveis pela diminuição de digestibilidade da forragem.
Burns et al. (1989) demonstraram que a interação entre a forragem
disponível de uma pastagem e a resposta animal corresponde à dinâmica
da qualidade da forragem disponível e da dieta. A digestibilidade “in
vitro” da matéria orgânica (DIVMO) fornece apenas um valor médio da
pastagem que, geralmente, se reduz com o avanço da idade das plantas ou
com o aumento do nível de forragem disponível. Portanto, a DIVMO não
apresenta um valor real da dieta do animal.
Por outro lado, Costa et al. (1992) encontraram variação nos
teores de proteína bruta das frações folha, caule e material seco, em
cultivares de Panicum (Colonião e Tobiatã). De modo geral, os teores
de PB decresceram em função dos crescimentos e das idades de corte e
para uma mesma idade de corte no sentido dos estratos superiores para os
inferiores. Já, os teores de fibra bruta aumentaram em função das idades
de corte e, para uma mesma idade de corte, dos estratos superiores para os
inferiores. No entanto, os valores encontrados para a digestibilidade “in
vitro” da folhas verdes revelaram maiores valores do que colmos e material
seco, tendo as folhas dos estratos superiores apresentado até 20 unidades
percentuais a mais, quando comparadas às folhas dos estratos inferiores,
tanto na ausência, quanto na presença de adubação nitrogenada.

7. Altura da pastagem

Em razão de sua influência no consumo, a altura é outra variável


que tem sido motivo de estudo em sistemas de pastejo (FORBES, 1988).
Em pesquisa realizada com forrageiras tropicais sob pastejo com bovinos,
a elevação na altura da pastagem proporcionou incrementos na taxa de
ingestão das pastagens avaliadas (Rego et al.,2006b), provavelmente em
razão dos efeitos positivos na profundidade de pastejo (Hodgson, 1990a;
Flores et al., 1993)

74
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Neste sentido, Jamieson & Hodgson (1979) estudaram a relação


entre altura da pastagem e a taxa de consumo em bovinos e ovinos.
Relacionando altura e nível de forragem presente à taxa de crescimento
de cordeiras, Webby & Pengelly (1986) verificaram que o primeiro
fator constituiu-se num indicador do segundo. Todavia, Canto (1994)
comentou que os trabalhos de pesquisa, associando altura a níveis de
forragem numa pastagem, foram conduzidos com espécies de portes
baixos e densidades mais definidas no perfil da pastagem, em vez de
plantas cespitosas cultivadas nas regiões tropicais e subtropicais. Frame
(1981) afirmou que a maior concentração de forragem encontra-se nos
estratos inferiores da pastagem. Desta forma, com o aumento da altura e
diminuição da densidade dos estratos superiores, provavelmente, observar-
se-á superestimativa da forragem na pastagem.
Com espécies de estação quente, Forbes & Coleman (1993)
observaram aumento no consumo de matéria orgânica, até 1070 kgMS
ha-1 de folhas verdes, e correlação do tempo de pastejo e tamanho do
bocado com o consumo e massa de folhas verdes. Stobbs (1975) verificou
efeito da estrutura da pastagem de setária no consumo e tamanho de
bocado de vacas. E, por sua vez, Chacon et al. (1978) registraram efeito
da relação folha/caule e densidade do extrato superior da pastagem no
consumo diário de forragem.
Quanto às espécies de inverno, Hodgson & Jamieson (1981)
associaram menor consumo de forragem às menores massas e alturas
de pastagem. Poppi et al. (1987) atribuíram que as disponibilidades de
forragem da pastagem, que influenciam a resposta animal, podem ser
proporcionadas pela alteração na altura e/ou densidade da pastagem e
observaram que, para uma mesma oferta de forragem quanto maior for a
densidade da pastagem maior será a resposta no ganho médio diário.
Por sua vez, Orr et al. (1990), manejando pastagem consorciada
de azevém perene e trevo, sob diferentes alturas, encontraram produção
de 1054 kg de peso vivo por hectare e concluíram que a intensidade de

75
pastejo influiu na estrutura e proporção dos componentes da pastagem, na
fixação de nitrogênio, nas partes da planta selecionada pelo animal e no
retorno de nitrogênio pela excreção.
A altura do resíduo após pastejo exerce um importante efeito
sobre a qualidade e composição botânica da pastagem. Forbes & Coleman
(1993) afirmam que o resíduo determina mudanças na estrutura da
pastagem, isto é, na participação dos componentes folha, colmo e material
morto e, como consequência, altera a qualidade da forragem disponível
para o pastejo do animal.
Dessa forma, a relação entre o resíduo de uma pastagem e a sua
qualidade pode ser visualizada, quando a pastagem é dividida dentro de
estratos (Canto, 1994). Os resultados de diversos experimentos mostram
que os estratos superiores das pastagens são, geralmente, mais digestíveis
que os estratos inferiores. Quanto às espécies tropicais, estas possuem
níveis inferiores a 50% de matéria orgânica digestível na porção basal
da pastagem e 70% nos estratos superiores, basicamente, formados, por
folhas (Mannetje & Ebersohn, 1980), enquanto que, em gramíneas de
inverno esta variação é menor.
Por outro lado, a imposição de diferentes pressões de pastejo
condiciona diferentes disponibilidades de matéria seca por hectare. A
proporção de material morto no resíduo varia em função da intensidade de
utilização da pastagem e da época do ano (Moojen, 1991). Nesse sentido,
Silva et al. (1994a) observaram em capim-elefante cv. Mott que diferentes
pressões de pastejo afetaram a disponibilidade e a distribuição espacial
da forragem. As maiores quantidades de matéria seca verde estavam nos
estratos de 20-40 e 40-60 cm nas pressões de pastejo de 12, 9 e 6 kg MS 100
kg PV-1 (Tabela 2). Por sua vez, as maiores quantidades de lâminas foliares
estavam nos estratos de 60-80 e > 80 cm na pressão baixa. Por sua vez, na
pressão alta, as maiores quantidades de lâminas estavam nos estratos de
40-60 e 60-80cm. Os autores concluíram que a pressão de pastejo baixa
resultou em maior densidade de forragem, maior quantidade de material

76
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

morto e baixa relação folha/colmo, enquanto que, na pressão alta houve


alta relação folha/colmo, pouco material morto e predominância de folhas
verdes. A porcentagem de folha na pressão de pastejo baixa foi 56% e na
alta 62%.

Tabela 2: Disponibilidade de matéria seca verde (kg ha-1) total em piquetes


de capim elefante anão, por estrato, em três pressões de pastejo.

Fonte: Silva et al. (1994a).

Da mesma maneira, Silva et al. (1994b) testaram ofertas de 12-


9, 9-6 e 6-3kg MS 100kg PV-1dia-1, respectivamente, na entrada e saída
dos animais em pastagem de capim-elefante. Observaram maior teor
de proteína bruta das lâminas foliares, 11,6% para a menor oferta de
forragem, enquanto que, para média 10,6% e para a alta 9,8%. O mesmo
comportamento foi verificado para digestibilidade “in vitro” da matéria
orgânica (DIVMO), ou seja, 64,7, 62,4 e 58,9% para baixa, média e alta
oferta, respectivamente. Por outro lado, para fibra em detergente neutro
(FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) os resultados foram semelhantes,
isto é, 69,2, 67,5 e 67,1% de FDN e 40,6; 39,7 e 40% de FDA, para alta,
média e baixa oferta de forragem, respectivamente. Os autores atribuíram
os baixos valores de PB e DIVMO na maior oferta de forragem ao acúmulo
de biomassa residual a cada pastejo, elevando o percentual de folhas
maduras e até mesmo senescentes.

77
Há evidências de que a redução na altura das plantas,
correspondendo a um pastejo mais pesado, aumenta o teor de proteína
bruta da forragem produzida. Veiga (1994) observou em capim-elefante
anão redução no teor de PB tanto das folhas como do caule, à medida que,
a pressão de pastejo foi diminuída e o período de pastejo foi estendido.
Desse modo, Cecato et al. (1996) trabalharam com duas alturas
de corte, 20 e 40 cm, em oito genótipos de Panicum maximum, como o
Colonião, Tobiatã, Centenário, Mombaça, Tanzânia, KK8 e K429. Os
autores verificaram que o genótipo Tobiatã apresentou incremento de
13,31% de folhas no corte alto em relação ao corte baixo, durante o
período de verão. A altura de corte afetou apenas a produção de matéria
seca total por ocasião do inverno, onde o genótipo K249 produziu 43,72%
a mais, quando submetido ao corte a 40cm de altura.
Por sua vez, Bianchini (1998) comparou o efeito de quatro alturas
de manejo em pastagem de coast cross no desempenho com ovinos. As
alturas da forragem remanescente após o pastejo foram: T1= 4 a 7 cm, T2=
10 a 13 cm, T3= 16 a 19 cm e T4= 22 a 25 cm. A produção animal por área
foi de 460, 436, 254 e 264kg PV ha-1, para T1, T2, T3 e T4, respectivamente.
As duas maiores alturas de manejo mostraram redução na PB e DIVMS,
bem como, menor ganho de peso vivo por área, comparando com as
menores alturas. No entanto, o autor não correlacionou a densidade de
forragem com a disponibilidade de forragem (relação folha:caule).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior parte dos resultados obtidos pela pesquisa sobre estrutura


da vegetação são com espécies temperadas, enquanto que, para pastagens
tropicais são necessários mais trabalhos sobre o assunto.
Existem diversas limitações nesta área, onde a maioria dos
experimentos são realizados em micro-pastagens (0,5m2) construídas,

78
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

leivas cultivadas em casa de vegetação, leivas extraídas da pastagem,


partes das parcelas disponíveis em frente de gaiolas, que são colocadas no
campo, e quadrados marcados em piquetes. No entanto, estas informações
corroboraram para o conhecimento gerado até o presente momento.
Salienta-se que, é necessário aumentar a escala espacial da
experimentação, aproximando-se, assim, das condições reais de pastejo.
Dessa forma, trabalhando-se em parcelas maiores, os animais circulam
livremente e as condições se assemelham à escala natural de pastejo.
Por sua vez, a desfolhação é o evento máximo resultante de todas
as inter-relações vigentes na interface planta-animal. Portanto, é necessário
se avançar na descrição da pastagem, explorando a distribuição da matéria
seca ao longo do seu perfil, mais do que, simplesmente, quantificar uma
biomassa de forragem por unidade de área.
Quanto à distribuição dos componentes da pastagem, considera-se
a vertical mais importante do que a distribuição horizontal na determinação
da dinâmica dos processos existentes na interface planta-animal.
Por fim, vários autores apontam que as pesquisas devem abordar
a relação entre os fatores estruturais da pastagem e a profundidade do
bocado de animais em pastejo, consideradas fundamentais para o avanço
do conhecimento.

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88
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

TECNOLOGIA DE PRECISÃO PARA A


PRODUÇÃO DE PASTAGENS

Frederico Márcio Corrêa Vieira1

1. INTRODUÇÃO

Durante muito tempo, a produção animal extensiva realizou-se


sob o conceito exploratório e extrativista de que inserir o animal em meio
à pastagem era o suficiente para sua alimentação e consequentemente para
garantir sua produtividade. Pouca preocupação era dada quanto à escolha
das espécies forrageiras, com o manejo da pastagem e, principalmente, com o
impacto ambiental causado pela excessiva lotação de animais. Atualmente,
a pecuária vive o paradigma da sustentabilidade, a qual coloca limites ao
uso da terra visando a extensão dos recursos para as próximas gerações.
Assuntos como as mudanças climáticas, o efeito estufa e a contribuição da
pecuária ruminante na emissão de metano, a degradação de pastagens e
os processos erosivos do solo fizeram com o que esta preocupação tomasse
proporções mundiais. Com isto, o setor enfrenta o desafio da otimização
dos recursos naturais e daqueles aplicados ao ambiente para a produção
animal, tais como os insumos e defensivos agrícolas, por exemplo. Para
se produzir com quantidade e qualidade, a cadeia produtiva da pecuária
ruminante deverá ser eficiente dentro de um espaço restrito de ação.
Neste cenário, as ferramentas da agricultura de precisão aliadas
à produção animal foram desenvolvidas a partir do advento dos

1
Zootecnista, DSc., Professor Adjunto – Grupo de Estudos em Biometeorologia (GEBIOMET) – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – Campus Dois Vizinhos (UTFPR – DV). E-mail: fredericovieira@utfpr.edu.br

89
microcomputadores, da robótica e microeletrônica. As medições passaram
a ser realizadas com o mínimo de intervenção humana. O pesquisador
ocupa-se na atualidade não tão somente com a execução das medições
à campo, mas com o planejamento, design e interpretação das análises.
O produtor rural de hoje é um gerenciador de informações, estas que
chegam a ele por inúmeras formas digitais e com velocidade em tempo
real. Por meio dos aplicativos, smartphones, tablets e ultrabooks, tudo isto
diante de conexões da internet cada vez mais rápidas, existe uma gama
de tecnologias, métodos numéricos e computacionalmente intensivos
que facilitam a acurácia das respostas multifatoriais. Aplicado aos
animais e agroecossistemas encontram-se uma gama variada de sensores
wireless, atuadores e controladores capazes de registrar sinais, armazenar
e interpretá-los. A partir daí, objetiva-se permitir decisões automatizadas
e precisa para melhorar o uso dos ambientes e proporcionar o equilíbrio
entre a sustentabilidade e lucratividade das atividades agrícolas.
No âmbito das pastagens e de sistemas de produção animal a pasto,
não poderia ser diferente. A partir do conceito da agricultura de precisão
surgiu a zootecnia de precisão, para que aplicado à forragicultura, o termo
evoluísse para a pecuária de precisão. Este último trata-se do estudo do
uso do solo, visando melhor aproveitamento em termos de qualidade
das pastagens e menor risco de degradação, bem como do entendimento
com maior acurácia quanto à procura dos animais pelo alimento pautado
em diferentes fatores, tais como a disponibilidade quantiqualitativa das
forragens, acesso à água, disponibilidade de sombra, inclinação do terreno,
dentre outros.
O entendimento deste universo da pecuária de precisão requer
a base teórica não só dos instrumentos, mas do objeto central de estudo
que é o animal e o meio em que vive, das espécies forrageiras e da
ciclagem de nutrientes nos diferentes agroecossistemas onde se encontram
inseridas. O uso dos instrumentos de precisão aplicados à produção de
pastagens demanda custos variáveis e investimentos tecnológicos nos

90
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

setores produtivos. Entretanto, o resultado do emprego das ferramentas


da pecuária de precisão converte-se na eficiência e eficácia da produção,
considerando a multifuncionalidade dos sistemas e suas interconexões,
bem como mitigando efeitos danosos ao ambiente. Tais ações tornam um
sistema produtivo sustentável e confiável diante do cenário mundial de
transformações econômicas pautadas em questões ambientais.
Neste intuito, objetiva-se por meio deste capítulo estudar o
conceito de pecuária de precisão e suas aplicações na produção de animais
a pasto e de pastagens diante do cenário de avanços tecnológicos e
científicos na área da microeletrônica, ciência da computação, mecatrônica
e inteligência artificial. O assunto será iniciado por um panorama geral
sobre a agricultura de precisão e suas tecnologias, o advento do conceito
da zootecnia de precisão e a evolução para a pecuária de precisão. Por fim,
será abordado os avanços científicos nesta área, para ilustrar as aplicações
das tecnologias de precisão na produção de pastagens.

2. Advento da agricultura de precisão

A agricultura sempre passou por diversas transformações ao longo


dos tempos. Porém, nos últimos quarenta anos, ela deixou de ser uma
atividade simples e de poucos investimentos, mas sim uma atividade de
grande inserção tecnológica e científica. Isto se deve às grandes modificações
no ambiente econômico, este que passou a ser mais exigente na seleção
dos principais atores dos cenários agrícolas. O agricultor moderno
tornou-se um administrador das propriedades rurais, gerenciando um
volume crescente de informações coletadas no dia-a-dia de trabalho,
necessitando de instrumentos facilitadores e eficientes neste processo de
tomada de decisões. Diversos centros de pesquisas e órgãos de extensão
desenvolveram e proporcionaram o uso de sistemas computacionais
inovadores, que promovem o aumento na quantidade e qualidade de

91
informações que incrementam a decisão nas etapas produtivas (LEWIS,
1998; SCHMOLDT, 2001; ZHANG et al., 2002; ADRIAN et al., 2005).
Atualmente, os estágios produtivos possuem forte demanda de
ações de rápido alcance, por se tratar de sistemas de natureza dinâmica,
de respostas complexas e não-lineares (MURASE, 2000). Além disso,
passou a ser prioridade o controle do uso de recursos que em outrora fora
utilizado em larga escala, todavia resultando em prejuízo por desperdício,
danos ambientais ou alterando negativamente a qualidade do produto
final. Como exemplo, o uso de pesticidas e adubos em culturas vegetais
passou a ser racionado visando atender de forma precisa as necessidades
das plantas e do solo. O mesmo pode ser estendido para as culturas
zootécnicas, quando se trata de controle ambiental, fornecimento preciso
de rações, identificação e ordenha robotizada (YULE et al., 1996; COX,
2002; FARKAS, 2005). Os mesmos autores afirmaram que devido à
gama de dados oriundos de fontes diversas, a integração espaço-temporal
possibilita não só a coleta destes dados, mas a análise conjunta e a predição
dos mesmos, principalmente em produção animal, utilizando sistemas de
georreferenciamento.
Assim, o conceito Agricultura de Precisão passa a ser definido como
o uso de técnicas e tecnologias avançadas que visam diminuir ou erradicar
perdas localizadas e elevar a produtividade agrícola. Sua característica
fundamental é o controle preciso da utilização de recursos (FIALHO,
1999). Trata-se de uma estratégia de manejo que lança mão da tecnologia
da informação para registrar e apresentar dados de diferentes origens,
resultando no processo facilitado de tomada de decisão (NATIONAL
RESEARCH COUNCIL, 1997). Muitas ferramentas de análise,
planejamento, representação, coleta, atuação e de predição de variáveis-
resposta são largamente aplicadas à agricultura moderna, de precisão.
Dentre elas, o uso de GIS (Geographical Information System), GPS (Global
Positioning System), sistemas de coleta de dados (data loggers), inteligência
artificial, eletrônica e sistemas de climatização.

92
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

3. Tecnologias para tomada de decisões

Muitos estudos prévios foram realizados para explicar melhor


o funcionamento dos dispositivos computacionais dos sistemas de
informação. Estas pesquisas são importantes, pois determinaram o sucesso
da difusão destas técnicas e instrumentos no meio prático. Para isto é
necessário entender as peculiaridades de cada ferramenta, sua evolução ou
crescente sofisticação das mesmas (LEWIS, 1998).

3.1 GPS & GIS

A grande motivadora do uso de sistemas como o GIS e o GPS foi


a possibilidade de analisar visões diferentes e muitas vezes complexas, para
validar decisões agroecológicas. Decisões como aplicação de fertilizantes,
por exemplo, são tomadas com alta precisão com o auxílio destas duas
tecnologias (Figura 1).

Figura 1 – Modelo digital em relevo de uma parcela de solo (NEMÉNYI et al., 2003).

O GPS oferece a gravação da variabilidade no campo através de


dados decodificados. Receptores de GPS obtém dados de 24 satélites, como
velocidade, posição e tempo estimado (LECHNER & BAUMANN, 2000).
Com este recurso, é possível determinar e gravar diversas posições e suas
respectivas coordenadas continuamente. Esta tecnologia processa todas

93
as parcelas no campo e com bastante detalhes. Todavia, gera um grande
banco de dados para o usuário. A alternativa para armazenar e manipular
estes dados é através do GIS, que possui uma interface computacional
e assim transfere os dados para a elaboração de mapas e outros tipos de
representações (NEMÉNYI et al., 2003).

3.2 Registro de dados

Avanços significativos foram dados na aquisição e registro de


dados por meio das pesquisas. A utilização de equipamentos automáticos
e programáveis passou a ser necessidade dentro das instalações rurais e
com isto a agricultura de precisão expandiu-se mais no gerenciamento
das informações. Yee (1987) discutiu a inovação do monitoramento das
variáveis físicas do ambiente, com a intervenção de um micrologger que
realiza a transferência de dados para um computador. O funcionamento
deste equipamento consiste em capturar as informações ambientais, grava
em sua própria memória em um formato que pode ser reconhecido pelo
sistema computacional e, após esta aquisição, realiza o download para
o computador, que ao finalizar com sucesso a transferência de dados,
limpa automaticamente os dados antigos do hardware. Aparelhos como
este podem coletar desde temperatura, tal como testado pelo autor acima
referido, assim como outras variáveis meteorológicas, como a umidade
relativa, velocidade do vento, dentre outras. Esta tecnologia dilatou os
horizontes da pesquisa relacionada à agricultura de precisão e com isto, o
ambiente passou a ser mais controlado com elevada acurácia, possibilitando
a inserção de outros sistemas tecnológicos.
Nos dias atuais, pesquisas na área de sensores do tipo wireless são
muito difundidas. Este sistema sem fio, cujo funcionamento é feito através
de transmissores de rádio frequência, sensores e microcontroladores, possui
como grande vantagem a comunicação com os sistemas computacionais
com mais precisão e a simplicidade operacional, apesar da complexidade

94
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

existente na concepção do mesmo. Permite o alcance em áreas perigosas


e com difícil acesso e rápida ligação com sistemas de informação de
mesma conexão. Desta forma, o monitoramento à distância, em tempo
real, de diferentes variáveis ambientais, produtivas ou de manejo pode ser
realizada com bastante eficácia e com custo reduzido (WANG et al., 2006).
Os mesmos autores apontaram diversas aplicações deste novo sistema em
agricultura de precisão, como o monitoramento climático (radiação solar,
temperatura e umidade a cada cinco minutos), monitoramento ambiental
georreferenciado de múltiplas localidades e dados, coleta de dados com
interação espaço-temporal incluindo dados produtivos de campo, irrigação
de precisão, aplicação de fertilizantes, monitoramento de veículos em
movimento, dentre outras utilidades (Figura 2).

Figura 2 – Sumário e projeção de uso do sistema wireless (WANG et al., 2006).

3.3 Inteligência Artificial

O uso recente da inteligência artificial no meio agrícola, por exemplo


a visão computacional, robótica e sistemas de controle, expert systems, sistemas
de suporte de decisão, processamento de linguagem natural, dentre outros,
e outras ferramentas de informação importantes, como as redes neurais

95
artificiais, lógica fuzzy, algoritmos genéticos e algoritmos fotossintéticos
tem promovido respostas interessantes nos sistemas produtivos (MURASE,
2000). O mesmo autor afirmou que a aplicabilidade é crescente e o custo
de implantação sofre um decréscimo constante, à medida da investigação
de novas técnicas e sua inserção no meio rural.
A título de exemplificação das ferramentas acima mencionadas,
o funcionamento das redes neurais artificiais baseia-se no trabalho dos
neurônios biológicos e esta mimetização tem gerado resultados bastante
eficientes na solução de problemas complexos, como a predição de dados
não-lineares e padrões de comportamento. A entrada e saída de dados
dos sistemas produtivos são preditos nas análises múltiplas e paralelas das
redes (HASHIMOTO, 1997).
Dentre as várias aplicações na agricultura de precisão, Farkas
(2003) enumerou as mais importantes, a saber:
• Tecnologias em estufas (climatização, sistemas hidropônicos,
suprimento de nutrientes, dentre outros);
• Controle climático de instalações zootécnicas;
• Manejo com os animais (variáveis fisiológicas, eletrônica, manejo
nutricional e ordenhas robotizadas).
Porém, todas estes sistemas e tecnologias aplicadas à agricultura de
precisão foram expandidas para outros setores. Com destaque maior, os
sistemas de produção animal têm recebido diversos enfoques na pesquisa
de sistemas de informação. Desta forma, surgiu um novo conceito de
precisão no setor animal, de abordagem mais ampla neste estudo: a
Zootecnia de Precisão.

3.4 Zootecnia de Precisão: um novo conceito

O aumento da produtividade animal está atrelado a um volume


maior de informações, o que torna difícil e complexo o crescimento da
atividade sem algum auxílio direto na organização destas respostas. Neste

96
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

contexto, a utilização de novas tecnologias e da criatividade viabiliza o


incremento da produção.
Chama-se Zootecnia de Precisão o uso de métodos avançados
de controle, através da automação e outros sistemas, com o intuito de
se diminuir as perdas decorrentes do processo produtivo e aumentar
a eficiência do sistema. Os impactos ambientais também devem ser
minimizados, o que exige o emprego mais racional de recursos, em face
das exigências de órgãos fiscalizadores e comercializadores, nacionais
e internacionais (FIALHO, 1999). Também a zootecnia de precisão
possibilita manejos específicos para cada situação observada no campo,
muito mais precisas do que as que utilizam valores médios ou valores
típicos (BANDEIRA FILHO, 2003). Laca (2009b) definiu também como
sendo a exploração em níveis diversos de heterogeneidade e respostas
lineares no processo de produção animal, com o intuito de aumentar a
lucratividade e reduzir os impactos ambientais. Em suma, o objetivo desta
área de pesquisa é criar um sistema de manejo pautado no monitoramento
em tempo real com vistas ao controle da produtividade, saúde e bem-
estar animal, bem como dos impactos ambientais da produção animal
(BERCKMANS, 2014).
WATHES et al. (2008) definiram que a zootecnia de precisão
requer o sensoriamento das variáveis produtivas, um modelo matemático
para predição em tempo real destas respostas, valores de referência para
cada processo (por exemplo, um padrão comportamental ou a taxa de
crescimento de uma espécie animal) e atuadores para o controle do
processo em questão (Figura 3).

97
Figura 3 – Esquema geral das partes componentes da zootecnia de precisão no controle de
processos biológicos (WATHES et al., 2008).

Conforme Nääs (2002), o uso da microeletrônica alcançou


grandes possibilidades na produção animal, através da redução de perdas,
juntamente com a tecnologia de biossensores, que possui grande potencial
de atuação no bem-estar animal, saúde e eficiência produtiva (Figura
4). Enfim, são ferramentas que oferecem maior acurácia no processo de
tomada de ações.

Figura 4 – Proporções entre um microchip e um lápis (TROVAN, 2003 apud BANDEIRA


FILHO, 2003).

Devido ao grande apelo à segurança alimentar, os sistemas de


produção se modificam na direção da qualidade total, certificação de
origem, preocupação com o meio ambiente e bem-estar animal. As pautas

98
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

de discussão de todas as cadeias produtivas são centradas nos conceitos


de zootecnia de precisão, rastreabilidade, entre outros, o que resulta em
maximização da produção e incremento nas exportações de produtos de
origem animal (PANDORFI, 2002, 2005). O mesmo autor afirmou que a
eficácia das pesquisas é atingida quando se utiliza novas ferramentas, como
a informática, microeletrônica, análise de imagens, atuadores e sensores,
até então não utilizadas pelos métodos clássicos de observação.
Segundo Fialho (1999), diversos mecanismos funcionam
harmonicamente dentro do sistema maior de precisão na produção
animal. Um sistema de automação monitora e controla o ambiente físico
de forma segura e rápida, sensível às pequenas alterações no meio e atua
de forma particularmente previsível. Ligados a ele, os sensores e atuadores,
além de um controlador inteligente, comunicam entre si e com o meio
externo. Os sensores são a interface que avalia o status quo do sistema
em questão, nas suas diversas variáveis-respostas (temperatura, umidade
relativa, intensidade luminosa, concentração de gases, etc.). Já os atuadores
são microssistemas que atuam sobre o sistema maior, em consequência
a algum estado detectado pelos sensores. No comando de todo este
mecanismo, se encontram os controladores, que são circuitos elétricos de
maior ou menor grau de complexidade, com a intrínseca função de receber
informações dos sensores, processá-las e transmitir a resposta aos atuadores.
O autor acima destacado exemplifica um termostato, com um grau de
sofisticação um pouco elevado, ligado ao controlador simples que possui
a função de interpretar o valor da temperatura fornecida pelos sensores.
Esta informação é comparada com valores anteriormente estabelecidos e
aciona ou não diferentes atuadores, dependente da resposta obtida. Ainda
existem diversos controladores num sistema que trocam informações entre
si, tal como unidades descentralizadas e semiautônomas ligadas em rede.
Todas estas tecnologias são usadas e aperfeiçoadas através das
pesquisas em diferentes áreas de produção animal. Entretanto, grandes
avanços são perceptíveis na produção de pastagens, devido à sua
importância atual na produção animal. Com a expansão da zootecnia de

99
precisão nas suas diferentes características, o termo se individualizou nesta
atividade, dando origem ao conceito de Pecuária de Precisão.

4. Pecuária de precisão

A pecuária de precisão pode ser conceituada como a modernização


no gerenciamento do sistema de produção animal a pasto (CARVALHO
et al., 2009). Segundo os mesmos autores, o método refere-se ao registro de
diferentes variáveis dos animais, a modelagem matemática e computacional
com o intuito da seleção destas informações e o uso dos modelos para
o monitoramento contínuo e controle dos rebanhos em tempo real. O
conceito da pecuária de precisão evoluiu em uma escala macro para uma
estrutura minimalista, isto é, do acompanhamento das atividades do
rebanho em uma área extensa e a definição de suas trajetórias até a análise
dos bocados realizados por um animal no seu forrageamento (Figura 5).
Considerando o ecossistema de pastagens, a atividade de pastejo
é de grande complexidade e varia tanto no tempo quanto no espaço,
ou seja, as respostas comportamentais e produtiva dos animais podem
ser definidas por eventos variáveis, muito mais do que padrões estáveis
(LACA, 2009a). Trata-se, portanto, de eventos multifatoriais, os quais
analisados separadamente conduzem para respostas incompletas, de baixa
ligação com a realidade em que o animal vive. Entretanto, com o suporte
dado pela inserção de tecnologias para a análise conjunta destas variáveis,
a visão do sistema passa a ter maior acurácia, permitindo a visão mais
próxima possível das ocorrências naturais e suas ligações com os fatores
que influenciam na dinâmica ecológica de um ambiente.
Na atualidade, a exploração das pastagens requer eficiência no
processo produtivo. O desafio maior é produzir mais em áreas menores,
com recursos naturais reduzidos, assim como sob pressão mundial na
mitigação da degração ambiental e nas emissões de gases de efeito estufa,
como o metano e o óxido nitroso, por exemplo. Ou seja, o conceito de

100
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

sustentabilidade dentro da produção animal tornou-se um forte paradigma,


dada à forte interação entre os ruminantes, macro e microfauna do solo,
vegetação e ciclagem de nutrientes. Para que o gerenciamento destas respos­
tas e variabilidade dos serviços ambientais seja efetivo, a ideia da pecuária
de precisão e de suas ferramentas é uma realidade necessária e presente.

Figura 5 – Enfoques dos objetivos da pecuária, pastoreio e bocados de precisão


(CARVALHO et al., 2009).

Entretanto, segundo Carvalho et al. (2009), tal objetivo não é


novidade e tampouco recente. Inúmeros estudos evidenciados pelos
autores mostram a utilidade e respostas de certas tecnologias, como o
GPS e GIS na delimitação de padrões e uso da área de pastagem pelos
animais (Figura 6), cochos e comedouros com tecnologia embarcada,
balanças eletrônicas em posições estratégicas nas diferentes áreas que
registram informações dos animais, tais como a identidade, peso e outras
informações por meio da telemetria. Felizmente, com o advento da
computação na década de 70 e mais aprofundadamente a partir da década
de 80, todas estas ferramentas não só fizeram parte da realidade científica,
bem como encontram-se no cotidiano do produtor rural. A quantidade de
pesquisas científicas mantém-se crescente nos últimos 20 anos, sendo as
principais evidências desta área descritas a seguir.

101
Figura 6 – Esquema de um sistema de pecuária de precisão (LACA, 2009b).

4.1 Avanços científicos na pecuária de precisão

Para ilustrar os avanços recentes na área de pecuária de precisão,


serão evidenciados alguns dos principais trabalhos científicos publicados
nos últimos anos, os quais testaram diferentes tecnologias quanto às
aplicações e influência nas respostas na produção de pastagens.
Inúmeras formas foram estudadas com o objetivo de monitorar
o bocado dos animais a pasto e estimar a ingestão de forragens. Desde
fístulas esofágicas, amostras de simulação de pastejo, observação focal do
comportamento ingestivo, dentre outros, são opções para esta estimativa.
Entretanto, tais técnicas podem ser caras, invasivas e imprecisas,
necessitando da calibração prévia dos observadores a campo. Laca &
WallisDeVries (2000) sugeriram análises acústicas do comportamento
ingestivo de bovinos, utilizando microfones wireless (Figura 7) para avaliar as
diferentes características acústicas dos bocados a campo, sendo a estimativa

102
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

da quantidade de material ingerido por meio da energia e intensidade do


sinal sonoro. Inicialmente, os pesquisadores obtiveram 94% de acurácia
na classificação dos comportamentos ingestivos de bocados e mastigação.

Figura 7 – Novilha com gravador e microfone acoplado para estudos de acústica e


comportamento ingestivo (adaptado de CARVALHO et al., 2009).

Entretanto, os mesmos autores afirmaram que a ingestão foi


predita com maior acurácia nos sons da mastigação, em relação aos sons
dos bocados. Ou seja, a mastigação neste caso trouxe mais informações
sobre a ingestão do que os sons dos animais realizando a apreensão do
alimento (Tabela 1).

Tabela 1: Discriminação dos bocados e mastigações pelo som, com base


nos parâmetros acústicos analisados (Adaptado de LACA &
WALLISDEVRIES, 2000).

103
O monitoramento do rebanho na pastagem é uma atividade que
demanda o uso de tecnologias de precisão para tal mister. Dependendo do
tamanho da área, existe a dificuldade de monitorar o comportamento e
saúde animal, assim como a otimização do pastejo e detecção de problemas
(NADIMI et al., 2008). Em estudo preliminar na Suécia, Sant’Anna et
al. (2015) avaliaram o uso do espaço utilizados por bovinos, por meio
do uso do GIS. Utilizando um rebanho de 53 bovinos da raça Hereford,
um dos animais foi mantido com um colar GPS e cada ponto onde o
animal se encontrava era uma unidade amostral. Os autores encontraram
um padrão não aleatório e cíclico, em um padrão regular motivado por
diversos fatores, tais como a qualidade de forragem, quantidade, presença
de água, sombra, dentre outros (Figura 8). Com o uso desta ferramenta de
precisão, os autores concluíram que esta consiste em fonte promissora de
informação, com o intuito de delimitar as zonas de ocupação e os fatores
que determinam o uso da pastagem pelo gado.

Figura 8 – Mapa da área do estudo, sendo (A) a cobertura vegetal da área e (B) a distribuição
dos animais indicando o uso da área (SANT’ANNA et al., 2015).

Nesta mesma linha anterior, Gonzáles et al. (2015) realizaram um

104
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

estudo com bovinos em pastagens, com o objetivo de avaliar um sistema


de monitoramento em tempo real utilizando um colar GPS e também
um sensor de movimento (acelerômetro). Os seguintes comportamentos
foram avaliados: forrageando, ruminando, em movimento, descansando e
outras atividades comportamentais (tais como raspar objetos, balançar a
cabeça e coçar). Os algoritmos utilizados para modelar o movimento e a
trajetória dos animais classificaram acima de 90,5% dos dados registrados.
O comportamento de forragear foi o que apresentou maior sensibilidade
e especificidade na análise, seguido da ruminação. Segundo os mesmos
autores, este método permitiu uma análise espaço-temporal do uso das
áreas pelos animais, o que possibilita o entendimento da exploração da
área e também o manejo produtivo dos animais e ecológico das pastagens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitas são as ferramentas desenvolvidas para a aplicação teórica


e prática na pecuária de precisão. Neste capítulo realizou-se apenas uma
pequena ‘amostragem’ do que é a extensão das ferramentas de precisão e
sua aplicação na produção de pastagens. Neste universo de instrumentos
e conhecimentos aplicados existem ainda as cercas virtuais, microchips
e biossensores, os protocolos de sinais wireless, o uso da inteligência
artificial para estimar perdas ou quantidade de insumos a serem utilizados
nas pastagens, assim como o sensoriamento remoto e geoprocessamento
de pastagens. A empregabilidade destes instrumentos a campo ainda
é estudada pela comunidade científica mundial. Entretanto, várias
pesquisas apontaram cenários seguros para cada vez mais estimular o
desenvolvimento de equipamentos de baixo custo e de fácil uso pelos
produtores, visando a inserção destes nas propriedades rurais brasileiras,
como já são utilizados em outros países.
Ou seja, dentro do desafio de se produzir mais em menos espaço,

105
com mais eficiência e com recursos limitados (inclusive naturais), a pecuária
de precisão possui enorme potencial de ação neste panorama da pecuária
mundial, ‘conectando’ a sustentabilidade com o lado economicamente
viável dos sistemas de produção à pasto.

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108
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

NUTRIÇÃO DE BOVINOS LEITEIROS


CRIADOS A PASTO

Antonio Ferriani Branco1

1. INTRODUÇÃO

A abordagem de uma discussão sobre sistemas de produção


animal deve ser sempre muita ampla e deve considerar todos os elementos
envolvidos nesses sistemas. Em relação aos sistemas de produção leiteira, a
discussão sobre qual o melhor sistema sempre estará tomando boa parte de
nossas preocupações e considerações. Obviamente que pela complexidade
do assunto não é difícil concluir que não existe o melhor sistema. Mas,
municiados de informações, sobre os elementos envolvidos no processo
de produção é possível uma definição mais adequada de qual o melhor
sistema para uma dada situação.
No caso específico da pecuária leiteira, os sistemas de produção
que tem como base a pastagem, que será o principal alimento do rebanho,
requerem um alto nível de perspicácia e sofisticação observacional, que
devem ser colocados em prática por meio de uma gestão adaptativa. A
gestão adaptativa é caracterizada por pelo menos quatro elementos:
primeiro, a avaliação dos recursos disponíveis, que deve ser realizada
baseada em diagnósticos; segundo, o planejamento e sua implementação;
terceiro, a observação constante, que deve ocorrer no acompanhamento;
e finalmente, pelos ajustes, que devem levar em conta as novas condições

1
Pós-doutorado Pennsylvania State University-USA, Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá.

109
em cada momento. Sem dúvidas, quando consideramos esses elementos,
fica claro a necessidade da obtenção constante de dados e suas análises.
Os sistemas de produção de leite a pasto são mais adequados
quando conduzidos e administrados por núcleos familiares, e alguns dos
benefícios tangíveis nesses sistemas são: redução nos custos de alimentação,
máquinas e manejo de dejetos; flexibilidade no desenho do sistema de
ordenha; flexibilidade na definição do sistema de pastejo; melhoria na
qualidade do pasto; melhoria na qualidade da água e dos recursos naturais;
aumento na gordura e proteína do leite; e a manutenção de vacas mais
limpas, o que tem reflexo direto sobre a saúde do rebanho.
Como em qualquer outro sistema produtivo, pelo menos quatro
perguntas chaves devem fazer parte de nossas decisões se pretendemos
obter sucesso. São elas: As adaptações e mudanças são tecnicamente
viáveis? As adaptações e mudanças são economicamente viáveis? São
sustentáveis? Elas trarão avanços sociais? Com certeza, se respondermos
sim a essas perguntas, nossas chances de sucesso serão muito maiores.
Os sistemas de produção agropecuários são dependentes de vários
fatores de produção, ou seja, os elementos que podem definir os limites
da produção. No caso dos sistemas de produção de leite a pasto são eles:
o solo; o clima; as plantas forrageiras; as vacas; o homem e os recursos
econômicos. Todas as tomadas de decisão deverão estar fundamentadas
no conhecimento desses fatores.
No caso específico da nutrição e alimentação de bovinos criados
a pasto, destacam-se três elementos: as plantas forrageiras; os suplementos
alimentares; e as vacas e suas exigências nutricionais.

2. AS FORRAGEIRAS - A BASE DO SISTEMA

Em sistemas de produção de leite a pasto as plantas forrageiras

110
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

serão os principais alimentos dos animais, independente de categoria.


Assim, alguns pontos chaves devem ser considerados com muito critério,
quais são:
A escolha e o plantio da forrageira não podem ser realizados com
base em preferências ou modismos, mas sim, com base no conhecimento
do solo, do clima e das exigências dos animais do sistema em questão. Isso
nos remete à conclusão de que há espaço para todas as forrageiras que
temos disponíveis, e que há a forrageira mais adequada para cada situação
em questão.
A reposição da fertilidade deve ser constante, e deve ser baseada no
balanço de nutrientes do sistema, que deve considerar as importações, as
exportações e as perdas de nutrientes do sistema. Em sistemas de produção
de leite a pasto, as exportações de nutrientes ocorrem principalmente pela
comercialização do leite e de animais, mas em alguns casos, também pela
venda de esterco. As importações mais importantes são os fertilizantes e os
alimentos comprados. Altas doses de adubação nitrogenada, entre 200 e
500 kg/hectare, normalmente são necessárias para permitir altas taxas de
lotação, de 6 a 10 vacas/ha durante 6 – 7 meses na estação chuvosa (Santos
et al., 2005).
O manejo adequado das forrageiras que estão presentes na
propriedade é fundamental para a manutenção da qualidade, da
produtividade e para a perenidade dos pastos. No caso das forrageiras
utilizadas no Brasil há vasta informação sobre o assunto em publicações
de pesquisas realizadas em Universidades e Centros e Pesquisa.
O uso estratégico de forragens conservadas, como silagem e
feno, pode contribuir de forma efetiva para uma oferta mais homogênea
de forragens ao longo do ano, considerando que as forrageiras tropicais
apresentam uma produção estacional.
O uso de forrageiras anuais é outra possibilidade técnica que deve
ser considerada, pois em muitas áreas é possível explorar essas forrageiras

111
com sucesso, produzindo forragem de alta qualidade em períodos críticos
do ano.
Mais recentemente, outra técnica que tem sido adotada com
frequência é a irrigação, pois atualmente temos muitas opções de sistemas.
Mas, destaca-se, que a adoção da irrigação deve passar por um minucioso
crivo técnico e econômico.
E finalmente, tendo informações sobre os pontos apresentados
acima, o sistema de produção deve ter um planejamento forrageiro anual,
sem o qual é praticamente impossível tomar qualquer decisão no sentido
de suprir os gargalos.

3. AS VACAS LEITEIRAS E SUAS EXIGÊNCIAS

Em relação às vacas, quatro fatores são decisivos sobre o que vai


acontecer em relação à capacidade produtiva do sistema: a genética dos
animais, a sanidade do rebanho, a alimentação do rebanho, e o manejo
em todos os seus aspectos.
A eficiência dos sistemas de produção de leite é dirigida por
pelo menos dois fatores de grande peso relacionados às vacas, ou seja,
o número de vacas em lactação e a produção diária de cada vaca, que
tem alta correlação com os fatores citados acima. Tendo como base um
rebanho de 100 vacas com 58% das vacas em lactação, e uma produção
média de 12kg/vaca/dia, obtemos uma produção diária total de 696kg
de leite. Nesse cenário, se ocorrer um aumento 20% no número de vacas
em lactação e um aumento médio de 2,4kg de leite/vaca/dia, tem-se um
aumento de 44% na produção diária de leite, o que significa produzir
mais 306kg/dia (Tabela 1), fato que pode ser real com uma correta
suplementação alimentar.

112
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Tabela 1: Efeitos da porcentagem de vacas em lactação e da produção


média sobre a produção de leite do rebanho.
Número Vacas em Produção Média Produção Anual Produção Aumento Aumento
de Vacas Lactação (%) (kg/dia) (kg) diária (kg) (%) (kg/dia)

100 58,0 12,0 254040 696


100 58,0 13.2 279444 766 10 70
100 58,0 14.4 304848 835 20 139
100 63,8 12,0 279444 766 10 70
100 63,8 13.2 307388 842 21 146
100 63,8 14.4 335333 919 32 223

100 69,6 12,0 304848 835 20 139


100 69,6 13.2 335333 919 32 223
100 69,6 14.4 365818 1002 44 306

Ao considerarmos uma situação específica, o consumo de matéria


seca é um dos pontos chaves para o aumento na produção média do
rebanho, pois o consumo de alimentos apresenta alta correlação com
produção de leite.
Os fatores que afetam o consumo de matéria seca por vacas
leiteiras criadas a pasto são muitos e suas interações são complexas, mas
muito já é conhecido sobre o assunto. Dentre esses fatores destacam-se:
as características do relvado, o manejo do pasto, a produção do pasto, as
características das vacas, o uso de suplementação, e o ambiente (clima).
Considerando o pasto como a base de alimentação de vacas leiteiras,
uma pergunta que sempre vem à tona quando tratamos de produção de
leite a pasto é: qual o limite de produção de leite por vaca em condições
brasileiras, onde predomina o uso de forrageiras tropicais? Essa pergunta
é de difícil resposta, pois devemos considerar vários aspectos já abordados
anteriormente, e com certeza teremos dificuldade de responder, pois as
possibilidades de combinação entre eles são muitas. Mas, considerando os
resultados de pesquisa e as experiências práticas de técnicos e produtores
de leite, pode-se dizer que esse valor fica próximo de 15kg/vaca/dia, e é

113
definido não pela produção da forragem (pasto), mas pela sua qualidade
(Tabela 2).
É importante destacar que as exigências nutricionais da vaca
leiteira, com uma determinada capacidade de produção, em uma dada
situação são sempre constantes, e a produção do animal será definida pelo
suprimento de nutrientes. O suprimento de nutrientes por sua vez será
definido pelo consumo e pela concentração dos mesmos nos alimentos
que compõem a dieta.

Tabela 2: Exigências de vacas com produções de 15 e 20 kg de leite/dia.

As informações mais importantes do pasto, dos concentrados e dos


suplementos são: a concentração de energia líquida de lactação (Mcal/kg
MS), a concentração de proteína bruta (%PB), a concentração de proteína
degradada no rúmen (%PDR em relação à %PB), e a concentração de fibra

114
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

em detergente ácido (%FDN). Essas informações nos darão condições


de estimar o consumo de matéria seca, de energia líquida de lactação e
de proteína metabolizável, e consequentemente qual produção pode ser
obtida (NRC, 2001).
Um dos índices mais importantes, mas que ainda é pouco adotado
pelos técnicos e produtores de leite é a conversão alimentar média das
diferentes categorias de vacas, e segundo Hutjens (2005), a otimização do
consumo é mais importante que o próprio consumo. A Tabela 3 traz alguns
valores que ocorrem em rebanhos especializados consumindo ração total
misturada e que podem ser adotados para análise comparativa (Hutjens,
2005). No caso de vacas leiteiras a conversão significa a quantidade de
matéria seca (kg/dia) consumida por kg de leite produzido. Esse índice
pode revelar muitas coisas, destacando-se aqueles problemas que podem
estar relacionados às dietas. Os valores de conversão alimentar variam
entra as categorias e entre propriedades, portanto, não podemos adotar
um único valor como bom ou ruim.
Em sistemas de produção a pasto temos maiores dificuldades de
estimar o consumo médio diário das vacas, e além do consumo de pasto,
que deve ser determinado usando a disponibilidade de forragem antes e
após o pastejo, devemos considerar ainda os suplementos utilizados, quer
sejam concentrados ou forragens conservadas.

Tabela 3: Conversão alimentar em vacas de diferentes grupos.

115
As estratégias para melhorar a conversão alimentar do rebanho,
independente do sistema de produção são: usar alimentos de alta
qualidade, aumentar o consumo diário de matéria seca pelas vacas, manter
o rúmen em bom funcionamento, minimizar os gargalos de produção de
forragem durante o ano, minimizar as perdas de alimento, minimizar as
perdas de energia.

4. A SUPLEMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS


CRIADAS A PASTO

Considerando os dados mostrados na Tabela 2, fica claro, que


em condições tropicais, para a manutenção da produção de leite das
vacas observada durante o início do período das águas, quando os pastos
apresentam a melhor qualidade, em outras épocas do ano, devemos lançar
mão da suplementação. Na suplementação de vacas leiteiras em sistemas
de produção de leite a pasto devem ser considerados vários fatores que
influenciam a resposta produtiva e econômica em relação à prática. Entre
esses fatores estão: o potencial de produção das vacas, a qualidade da
forragem, a oferta de forragem, a quantidade e composição do suplemento,
os preços do suplemento e do leite, e os efeitos de longo prazo sobre a
condição corporal, a saúde e o desempenho reprodutivo das vacas, e as
condições climáticas.
A adoção da prática da suplementação deve considerar a taxa de
substituição que poderá ocorrer. A taxa de substituição é definida pela
queda no consumo de pasto por kg de suplemento consumido (Kellaway e
Porta, 1993). Entre os fatores citados anteriormente, a oferta de forragem
é o fator que tem o maior efeito sobre a taxa de substituição (Bargo et al.,
2002). Diversos estudos têm reportado que a taxa de substituição é maior
em condições de alta oferta (Meijs e Hoekstra, 1984; Stakelum, 1986;
Grainger e Mathews, 1989; Robaina et al., 1998). Quanto menor a taxa
de substituição maior será a resposta ao suplemento utilizado. Kellaway e

116
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Porta (1993) sumarizaram os resultados de várias pesquisas com vacas que


apresentaram produção inferior a 20kg/dia, e observaram uma resposta
de 0,6kg leite/kg de suplemento em condições de baixa oferta, e quase 0kg
leite/kg de suplemento em pastejo à vontade. Dixon e Stockdale (1999)
sugerem que as taxas de substituição são menores quando o consumo de
energia é baixo em relação à demanda da vaca. Assim, baixas taxas de
substituição são esperadas para vacas pastejando pastos de baixa a média
qualidade (Dixon e Stockdale, 1999; Stockdale, 1999). Bargo et al. (2002)
observaram uma redução significativamente maior no consumo de pasto
(4,4 vs. 2,0kg/dia) com alta oferta do que baixa oferta. Esses mesmos
autores verificaram maior taxa de substituição com alta do que com
baixa oferta (0,55 vs. 0,26kg de pasto/kg de concentrado), o que levou à
melhor resposta ao suplemento com baixa oferta (1,36 vs. 0,96kg leite/kg
suplemento).
Outros fatores importantes em relação ao tema são a quantidade
e a qualidade do suplemento fornecido. Pimentel et al. (2011) realizaram
um experimento reproduzindo condições muito comuns em sistemas de
produção de leite a pasto no Brasil. Os autores trabalharam com vacas
mestiças, com produção abaixo de 15kg/dia, em pasto de Brachiaria
brizantha (7,8% PB) mais 5kg/dia de cana-de-açúcar (2,7% PB) como
volumoso suplementar. Os autores utilizaram níveis de fornecimento
de suplemento de 2; 3,5 e 5kg/vaca/dia por um período de 84 dias, e
observaram uma eficiência de uso do suplemento que variou de 0,63
a 1,20kg leite/kg suplemento. Os autores observaram uma queda na
resposta produtiva com o uso de 5kg/vaca /dia (Tabela 4).

117
Tabela 4: Resposta à quantidade de suplemento por vacas em lactação em
pasto de Brachiaria brizantha (kg leite/kg suplemento).

Pimentel et al. RBZ, 40 (2): 418, 2011.

Em condições tropicais o uso de suplementos com maior


concentração de proteína, em níveis de fornecimento moderado, pode
trazer melhores benefícios, pois permitem a correção das demandas de
proteína pelos microrganismos do rúmen e não interferem no consumo de
matéria seca no pasto. Este fato foi demonstrado por Pimentel et al. (2011)
que observaram maior produção de leite em vacas mestiças que receberam
3,5kg/dia de um suplemento com 30% de proteína bruta (PB) (14,2kg) do
que naquelas que receberam 5kg/dia de um suplemento com 20% de PB
(13,4kg) (Tabela 5).

118
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Tabela 5: Resposta à suplementação por vacas em lactação em pasto de


Brachiaria brizantha.

Adaptado de Pimentel et al. RBZ, 40 (2): 418, 2011.

Se considerarmos que as exigências da vaca para uma dada situação


é constante, pode assumir que suplementos com menor teor de PB devem
ser usados se o pasto for de alta qualidade e o nível de fornecimento do
suplemento for maior. Esse fato foi comprovado por Danes et al. (2013)
que conduziram um estudo com vacas em lactação, com produção média
de 20 kg/dia, em pastagem de capim elefante recebendo adubação
nitrogenada. Os autores constataram um teor médio de 18,5% de PB no
pasto, muito acima das exigências de vacas de alta produção, e verificaram
que um concentrado energético à base de milho, com 8,7% de PB foi
suficiente quando comparado com outro contendo 18% de PB.
Oliveira et al. (2010) utilizaram o conceito de análise marginal e
usaram dados de 32 estudos para estimar o consumo ótimo de concentrado
para vacas leiteiras em sistemas de produção à pasto em condições brasileiras.
Os autores observaram uma resposta quadrática quando relacionaram
a produção de leite com o consumo de concentrado (PL, kg/vaca/dia
= 10,554 + 1,5855 * CC – 0,0552 * CC2). A produção apresentou uma
resposta linear decrescente em relação ao consumo de concentrado (PL,

119
kg/kg concentrado = 1,5855 – 0,1104 * CC), e o consumo de concentrado
para maximizar o retorno por vaca também pode ser estimado (CO, kg/
vaca/dia = [1,5855 – [PC/PL]]/0,1104]; onde CO é o consumo ótimo e PC
e PL são os preços do concentrado e do leite).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso estratégico de suplementos, na alimentação de vacas leiteiras


em lactação, em sistemas de produção de leite a pasto, tem se mostrado
altamente eficiente e pode contribuir de forma decisiva para aumento
da produtividade e melhoria da eficiência desses sistemas. A adoção da
prática da suplementação deve levar em conta aspectos tecnológicos e
econômicos.
Os suplementos tem se mostrado mais eficientes quando os preços
são inferiores a 70% do valor recebido pelo leite, apresentam mais de 25%
de PB, mais de 75% de NDT, e são fornecidos em quantidades próximas
de 3kg/vaca/dia. Além disso, a suplementação traz resultados muito
favoráveis quando os pastos apresentam pior qualidade e baixa oferta,
situações comuns nos períodos de seca.

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122
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

RUTA DE CAMBIO TÉCNICO EN LA


LECHERÍA URUGUAYA: ROL DE LA CARGA,
LA PRODUCCIÓN INDIVIDUAL, LA COSECHA
DE FORRAJE, EL USO DE CONCENTRADOS Y LA
EFICIENCIA DE CONVERSIÓN

Pablo Chilibroste1

1. INTRODUCCIÓN

La lechería uruguaya ante cambios en la condiciones de


competencia con otras actividades agrícolas y el aumento en el precio de la
tierra (DIEA, 2014) ha incrementado sostenidamente la productividad. En
las últimas décadas, el sector lechero uruguayo ha crecido a tasas del orden
del 5% anual. Este ritmo sostenido de crecimiento se ha acelerado en los
últimos 6 años con tasas de crecimiento del orden del 7% anual (DIEA,
2014). Este proceso de crecimiento se ha basado fundamentalmente en
aumentos de productividad (litros por hectárea) dado que la superficie
lechera se ha reducido en más de un 20% (DIEA, 2013). Esta estrategia
de intensificación de la producción de leche en Uruguay se ha basado
en un incremento significativo en el uso de concentrados y reservas de
forraje (DIEA, 2009) mientras que la cosecha directa de forraje por parte
de los animales ha permanecido sin cambios significativos (Chilibroste et
al., 2012).

1
Ing. Agr. (PhD), Facultad de Agronomía – UdelaR - Departamento de Producción Animal y Pasturas – EEMAC
–Ruta 3 km 363, Paysandú – pchili@fagro.edu.uy

123
La implantación de la pradera como base de los sistemas pastoriles
de producción de leche se desarrolló en la década del 70 cambiando el
modelo productivo dominante en ese momento. Si bien está innovación
modificó fuertemente el diseño de los sistemas de producción de leche de
la época, fundamentalmente en su base forrajera, los trabajos desarrollados
en la Unidad de Lechería de INIA LE (Durán, 1996) jerarquizaban a
la producción de pasturas como la principal limitante para aumentar
el rendimiento de leche en Uruguay, estimándose valores máximos de
6500kg MS por hectárea año, para un ciclo de 4 años de producción.
Es en base a esta información que se delinearon ajustes en las rotaciones
forrajeras, estrategias de producción y suplementación del rodeo con el
objetivo de incrementar los niveles de producción por vaca y por hectárea
(Durán, 1996). A pesar del amplio reconocimiento con que cuenta la
pastura como el alimento de menor costo por kilogramo de materia seca,
proteína cruda o mega caloría de energía metabolizable, se dispone de
muy poca información en la que se cuantifique la producción y consumo
de forraje en los sistemas comerciales de producción de leche en Uruguay.
Estimaciones indirectas realizadas en sistemas lecheros, indican que en
el área de vaca masa de los sistemas con mejores indicadores técnicos, la
producción de forraje cosechado por los animales no superó los 3000-
3200kg MS (Chilibroste et al., 2003). Si bien existen estimaciones como
las recién mencionadas, es a partir de Chilibroste y Battegazore (2015) que
se realizaron estimaciones más precisas del consumo directo de forraje en
los sistemas lecheros y su relación con el proceso de intensificación.
En sistemas de base pastoril la carga es el principal factor que
determina la eficiencia del sistema impactando directamente en la
producción y utilización de forraje por parte de los animales (McMeekan
y Walshe, 1963; Baudracco et al., 2010) y en la eficiencia de conversión
del alimento en leche (Romera y Doole, 2014). No obstante, en Uruguay
la producción individual ha jugado un papel importante en el proceso
de intensificación (Duran y Lamanna, 2009; Chilibroste et al., 2012).
El consumo de forraje y la producción de leche por vaca se resienten

124
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

cuando la utilización de forraje supera el 50% (Chilibroste et al., 2005;


Chilibroste et al., 2012). Cuando la eficiencia de utilización de forraje
es baja, el incremento en la carga generalmente determina mejoras en la
eficiencia de cosecha, en la productividad del sistema y en el resultado
económico (Baudracco et al., 2010). Los trabajos realizados por nuestro
grupo (Chilibroste et al., 2003; 2004) en los que se monitorearon 37
empresas comerciales durante 2.5 años mostraron eficiencias de cosecha
en torno al 50% aunque alternando períodos de sobre y sub pastoreo a lo
largo del año.
Los sistemas de producción más intensivos siguen siendo muy
competitivos a nivel internacional teniendo Uruguay unos de los costos
de producción de leche más bajos a nivel internacional (IFCN, 2014). El
bajo costo de producción de los sistemas uruguayos se explican porque la
participación del forraje (cosecha directa pasturas más reservas) en la dieta
de los animales sigue manteniendo un nivel relativamente alto (Chilibroste,
2011). El objetivo de esta contribución es analizar el peso relativo de la
carga y la producción individual en el proceso de intensificación de la
lechería uruguaya y su interacción con el consumo de forraje, suplementos
y eficiencia de conversión de la materia seca en leche y sólidos.

2. Carga y Producción Individual: una mirada


sobre la lechería Uruguaya

La lechería comercial uruguaya en el año 2012 (Diea, 2014) se


puede englobar en la siguientes cifras: 2338 millones de litros producidos,
4435 establecimientos lecheros (de los cuales un 67% son remitentes de
leche), 811 mil hectáreas ocupadas (de las cuales un 57% son mejoradas)
y un stock de animales lecheros de 782 mil cabezas. El contenido de
sólidos en la leche remitida a planta durante el año 2013 fue de 36.9
y 33.4 gramos/litro de grasa y proteína, respectivamente (DIEA, 2013).
Cualquier análisis de la lechería uruguaya debe considerar que el consumo

125
humano de leche en Uruguay es de los más altos a nivel internacional
(aprox. 250 litros por habitante por año) y que más del 65% de la leche
que se produce se exporta.
En el cuadro 1 se presenta la evolución del rodeo lechero del año
1985 a la fecha agrupados en ciclos quinquenales. Durante el período
considerado, el rodeo lechero total creció un 24% mientras que las VO
aumentaron un 68 % (aproximadamente un 24%; Cuadro 1) determinando
una mejora sostenida en la relación VO/VM. Desde el año 2005 a la fecha
la producción individual aumentó de 4073 a 4930 litros por vaca masa año
(DIEA, 2013), confirmando una tendencia que se ha observado a lo largo
del todo el período. En contraste, la superficie destinada a la producción
de leche ha disminuido más de un 20% en los últimos 20 años, ubicándose
en la actualidad en torno a las 800 mil hectáreas dedicadas a la explotación
lechera en forma especializada (DIEA, 2013).

Cuadro 1: Evolución del rodeo lechero uruguayo desde el año 1985 al


2013

Adaptado de DIEA, 2014

La productividad (expresada en litros por hectárea) se ha


multiplicado 4.5 veces durante los últimos 20 años (DIEA, 2013) y se explica
por aumentos en la carga (más vacas en menos superficie), aumentos en

126
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

la producción individual y mejoras en la eficiencia productiva del rodeo


(expresado en una mejor relación VO/VM), seguramente vinculada a una
mejor eficiencia de utilización y conversión de los alimentos utilizados.
Cabe destacar que durante el período analizado ha desaparecido
un número muy importante de productores de leche: desde el año 1990
al año 2010 han dejado la actividad unos 1000 productores cada 5 años
(DIEA, 2013). Esta tendencia parece haberse detenido en los últimos 5
años, donde se han registrado cambios de menor magnitud en el número
de productores dedicados a la producción de leche.
El análisis de la información agregada a nivel nacional nos permite
concluir que el fuerte crecimiento de la lechería uruguaya en los últimos
30 años ha estado apoyada en mejoras en la productividad por unidad
de superficie. La mayor productividad por unidad de superficies resulta
de ordeñar más vacas con mayor producción individual por vaca en
rodeos lecheros con mayor eficiencia productiva (mayor relación VO/
VM), consecuencia probablemente de una mejora en los indicadores
reproductivos (información no disponible a nivel nacional). Si bien esta
información es conclusiva respecto al proceso de intensificación, no
permite profundizar sobre la interacción entre intensificación productiva
con consumo de forraje y suplementos y la eficiencia de conversión de la
materia seca en leche y sólidos.

2.1 Carga, producción individual, estructura de alimentación,


eficiencia de conversión: “Proyecto Producción Competitiva”

Durante el año 2010 Conaprole lanzó un proyecto con el objetivo


de apoyar a productores y técnicos en el proceso de monitoreo y control
de la alimentación en los tambos. El proyecto denominado “Proyecto
Producción Competitiva” (PPC) integra en la actualidad más de 400
productores remitentes a la cooperativa y se ha convertido en una valiosa
herramienta para técnicos y productores, tanto para el monitoreo y control

127
del proceso de alimentación, como para el análisis y proyección de los
sistemas lecheros. Los detalles metodológicos de cómo opera el proyecto y
los principales resultados obtenidos durante la primera etapa (2010-2013),
han sido recientemente publicados (Chilibroste y Battegazore, 2015).
El proyecto está basado en el cálculo del Margen de Alimentación
(MA) mensual de cada sistema de producción. Un análisis de la base de
datos del Proyecto Costos de CONAPROLE demostró para una serie
importante de años (2002 – 2009) una alta asociación entre resultado
económico en el área de VM y el MA por vaca masa (R2 = 0.81; n= 512). La
información del proyecto costos muestra que en los sistemas especializados,
el resultado económico en el área de VM representan más del 80% del
resultado económico total de la empresa lechera y eso determinó que el PPC
se focalizará en un indicador con capacidad de predecir bien el resultado
económico en el área de VM. En el PPC se estableció una metodología
común para calcular el Margen de Alimentación por vaca y por hectárea.
La hipótesis es que el resultado acumulado de esta variable a lo largo del
año se correlacionará positivamente con el resultado económico de los
predios premisa. Esta hipótesis ha sido positivamente verificada durante
el período 2011-2013.
El acceso a la información se da a través de la página web de
Conaprole (www.eleche.com.uy) dónde cada productor/técnico asesor
accede con un código y un PIN personal a las matrículas autorizadas. Si
bien los criterios para el ingreso de información en el portal se encuentran
detallados en el “Manual del Usuario” disponible en la página web de
Conaprole, se detallan a continuación algunos ítems relevantes:
PB Leche: tanto la remisión como el precio de la leche es aportado
por CONAPROLE. El usuario debe ingresar la información de leche no
remitida.
Costos: el usuario debe ingresar la cantidad de VO y VS y dentro
de estas últimas la cantidad que fueron suplementadas. Sobre esta base de
animales se calcula el costo de alimentación.

128
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

El costo de pasturas se establece a partir del costo anual de


implantación y re-fertilizaciones y ese monto se divide entre el número
de vaca masa. Esta modalidad de cálculo contempla el concepto de
que existen una serie de gastos de los sistemas que se realizan con
independencia del nivel de uso que posteriormente se pueda realizar. En
este sentido se considera el gasto de la pastura como un costo mensual
independientemente de si se produjo pasto en un mes determinado ya que
esto es “ajeno” a la decisión de la inversión de pastura .
El costo de concentrados y reservas se debe ingresar mensualmente
en base al costo real de compra o producción en el caso de las reservas.
Cada mes se ingresan los kilos (BF) suministrados por día a VO y VS
suplementadas.
Manejo de la alimentación. El PPC se propuso caracterizar la
forma como se ofrece la suplementación a los animales con la hipótesis
de que a ese nivel se ubican algunos de los componentes que hacen a la
eficiencia de los sistemas.
Suministro de alimentos: se refiere a la forma de suministro del
concentrado y reservas. Las opciones planteadas son:
– Concentrado junto con las reservas
– Concentrado separado de las reservas
– Parte concentrado solo y parte con reservas
Suministro de Concentrado y Reservas: se refiere al lugar de
suministro de concentrado (la mayor cantidad), en este caso las opciones
planteadas son:
– En la sala de ordeñe
– En el piso (bajo el alambre)
– Comederos a campo
– Comederos sobre piso balastro o hormigón
– Otra

129
3. Asignación de áreas

Otro aspecto crítico considerado por el proyecto es mejorar el


criterio de asignación de áreas. Las áreas son divisores de los coeficientes
de carga, productividad y eficiencia por lo que una identificación precisa
sobre donde ocurren los procesos es fundamental. En la figura 1 se
presenta el criterio de asignación de área adoptado en el PPC.

Figura 1 – Criterio de asignación de áreas en el PPC

Los números en la figura 1 indican lo siguiente:


1. Superficie Lechera (SL): área total destinada a la lechería incluye vaca
masa y recría.
2. Superficie Vaca Masa (VM): incluye el área de pastoreo directo de
vacas en ordeñe y vacas secas, más el área de reservas destinadas a las
vaca masa y el área de desperdicios, sombras, caminos, etc.
3. Plataforma de Pastoreo Vacas en Ordeñe (PP): es el área potencial
de pastoreo para vacas ordeñe. Se considera el área efectiva utilizable
es decir el área hasta donde llegan a pastorear las VO menos los
desperdicios.

130
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

4. Área de reservas: se refiere al área de chacra (área efectiva) de campos


de apoyo dónde se producen las reservas para VO y VS.
5. Áreas asignadas de pastoreo para vacas secas.
6. Superficie Efectiva de Pastoreo para Vacas en Ordeñe (S.E.P.V.O):
se refiere al área que estuvo disponible para pastoreo de las vacas en
ordeñe en el mes de ingreso de la información (se haya pastoreado o
no). Los criterios para determinar el área efectiva son los siguientes:
a. Verdeos invierno o verano: desde el momento del primer pastoreo
hasta el momento que se transforma en barbecho o que se toma la
decisión de no pastorear más.
Praderas: desde el primer pastoreo de las praderas de primer año
b.
hasta el momento en que se determina que pasan a barbecho. En
el caso de praderas viejas que se usan como “áreas de castigo” y que
el aporte de pasto es insignificante no se contabilizan como área
efectiva. Cuando un área se cierra para reserva se sigue considerando
como área efectiva.
En el estado actual del proyecto el técnico ingresa el área total,
el área de vaca masa, el área de plataforma y la proporción del área de
plataforma que está con cobertura vegetal lo que determina el área efectiva
de pastoreo. En los cuadros de resultados reportaremos la carga de dos
maneras: VM/ha VM y VO/ha de superficie efectiva.
El proyecto opera con el mes como unidad básica de registro y
análisis. Posteriormente, la información se agrega ya sea estacionalmente
o anualmente. Dentro de la información que se ingresa en el sistema, se
detalla mensualmente los kg ofrecidos de cada alimento (concentrados y
reservas de forraje) a las vacas en ordeñe y vacas secas. Esta información
permite corregir los kg ofrecidos de cada alimento por la eficiencia de
uso de los mismos, que varía acorde con el sistema de suministro. De esta
manera, obtenemos una mejor aproximación al cálculo de consumo de
matera seca de cada alimento, corrigiendo en cada tambo según el sistema
de alimentación utilizado. Una vez computado el consumo de materia seca

131
de cada alimento se calcula el consumo de energía, fibra y proteína en base
al mix específico de cada tambo y a los valores de composición química de
los alimentos recogidos en proyectos anteriores (ej. Chilibroste et al., 2003).
El cálculo del consumo de forraje se realiza en base a un balance
energético. En la primera etapa del proyecto no se contó con el valor de PV
del rodeo para cada tambo, por lo que se utilizó un PV promedio de 550kg.
En base a la producción de sólidos (grasa, proteína y lactosa) de las vacas
en ordeñe y del peso vivo (VO y VS) se realizó la estimación de la demanda
de energía para mantenimiento y producción en cada mes (NRC, 2001). La
diferencia entre la energía requerida y la efectivamente consumida en base a
reservas y concentrados, se asumió que corresponde a la energía aportada
por el forraje. El cálculo de consumo de MS de forraje por vaca cada mes
se realizó en base a la demanda de energía no cubierta por los suplementos
y a la concentración de energía de las pasturas a lo largo del año.
En el cuadro 2 se presenta información para una población de 391
matrículas monitoreadas durante los años 2011, 2012 y 2013. La población
se dividió en 4 categorías según nivel de productividad manteniendo un
equilibrio en la distribución del número de tambos y el tamaño promedio.

Cuadro 2: Resultados obtenidos durante el período 2011 - 2013 según 4


niveles de productividad.

VM= vacas masa; VO= vacas en ordeñe; L= litros.

132
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Si asumimos que los niveles de productividad representan


etapas en el proceso de intensificación, podemos observar al igual que
en la sección anterior que los incrementos en productividad se basan en
aumentos conjuntos de carga, de producción individual y en la relación
VO/VM (Cuadro 2).
El proyecto Producción Competitiva ofrece la oportunidad de
analizar la estructura de alimentación así como los valores de eficiencia
de conversión en cada nivel de productividad. En las figura 2 se presenta
la estructura de alimentación por vaca en ordeñe para cada uno de los
niveles de productividad.

Figura 2 – Consumo de forraje, reservas y concentrados por vaca en ordeño (VO) según
nivel de productividad.

Las diferencias en consumo individual entre niveles de


productividad están explicadas fundamentalmente por aumentos en el
consumo de reservas (+44% Alta vs Baja) y concentrados (+53% Alta vs
Baja) con un reducción moderada en el consumo de pastura (- 6% Alta
vs Baja). Esta tendencia en el consumo de pastura es remarcable dado los
incrementos registrados en el consumo de suplemento indicando que no
se dieron efectos importantes de sustitución de forraje por concentrado.

133
El consumo de forraje producido en el sistema (pastura + reservas) osciló
entre 12 y 13kg de MS por vaca en ordeñe y por día y en todos los casos
representó entre el 70 y el 75% de la MS total consumida.
En la figura 3 se presenta la misma información pero expresada
por hectárea de vaca masa, integrando de esta manera los consumos
individuales por vaca con los niveles de carga animal en cada nivel de
productividad.

Figura 3 – Consumo de forraje, reservas y concentrados por hectárea de vaca masa (VM)
según nivel de productividad.

En contraste con lo observado en la figura 2 los aumentos en


consumo total por hectárea en la figura 3 se explican por incrementos
en el consumo de todos los componentes principales de la dieta: pastura
cosechada directamente, forraje conservado y concentrados, estos dos
últimos con la mayor contribución porcentual. La cosecha directa de
forraje se incrementó de 2434 a 4006kg MS/ha (+ 65%; Alta vs Baja,
Figura 3). El análisis conjunto de los resultados presentados en la figuras
2 y 3 permite concluir que la baja cosecha de pastura de los sistemas de
baja productividad se debe a bajos valores de utilización (seguramente
relacionados a los menores niveles de carga observados) más que a

134
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

problemas de producción de forraje. Los resultados son consistentes con


los reportados recientemente por Baudracco et al. (2010) y por Romera y
Doole (2014) quienes han analizado el rol de la carga animal, la producción
individual y la suplementación con concentrados en la intensificación de
los sistemas de producción de leche de base pastoril. La cosecha de forraje
producido (pastura más reserva) osciló entre 3000 y 6000kg de MS por
hectárea según el nivel de productividad y en todos los casos el consumo
de forraje explicó el 70% o más del consumo total.
La información obtenida en el proyecto también permite analizar
los sistemas desde el punto de vista de la eficiencia de conversión de
alimento en producto. Se utilizarán dos valores de eficiencia: kilogramos
de materia seca necesarios para producir un litro de leche (Efic. 1) y
kilogramos de sólidos por tonelada de materia seca consumida (Efic. 2).
Ambos cálculos están referidos al área de vaca masa lo que permite integrar
todas las variables analizadas: carga, producción individual y relación VO/
VM. La Efic.1 varío entre 1.2 y 1kg MS/L leche para los sistemas de baja
y alta productividad, respectivamente. En la literatura se reportan valores
de eficiencia de conversión en torno a 1kg de MS/L de leche como valor
promedio de eficiencia en sistemas pastoriles con buen nivel de manejo.
En tanto la Efic. 2 varió entre 59 y 71kg de sólidos por tonelada de MS
para los sistemas de baja y alta productividad, respectivamente. El valor
de eficiencia de producción de sólidos en los sistemas de productividades
baja y media a baja están por debajo de los valores medios considerados en
los sistemas de base pastoril con los que compite la lechería uruguaya (NZ,
Australia, Irlanda).
Si bien escapa a los objetivos de este trabajo se debe señalar que los
sistemas más intensivos obtuvieron los mejores resultados en término de
margen de alimentación por hectárea duplicando el valor de los sistemas
menos intensivos.

135
CONCLUSIONES

La información analizada tanto a nivel agregado (estadísticas


nacionales) como a nivel de sistemas comerciales de producción de leche
(Proyecto Producción Competitiva – CONAPROLE) demuestra que la
intensificación del proceso de producción de leche ha estado basada tanto
en aumentos de carga como en aumentos de producción individual. Lejos
de detectarse un antagonismo entre estos factores se destaca la potencia
del incremento conjunto. Hasta qué nivel de intensificación se puede
proyectar este modelo de crecimiento es sujeto de investigaciones en curso.
Los sistemas más intensivos de producción de leche son más
pastoriles (cosechan más forraje por hectárea) que los sistemas menos
intensivos. No obstante, requieren niveles más altos de suplementación
por hectárea (reservas más concentrados) para manejar desequilibrios
estructurales mayores entre oferta y demanda de alimentos en el sistema.
La sensibilidad de los sistemas más intensivos a escenarios críticos ya sea
de precios, clima o ambas requiere especial atención.
Las diferencias calculadas en eficiencia de conversión de alimento
en leche y/o sólidos, advierte sobre sistemas de producción de leche que
están operando muy por debajo de los valores promedios reportados
en la literatura internacional. La eficiencia de conversión es uno de los
componentes que define la competitividad de los sistemas y su resiliencia
ante escenarios adversos.

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III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

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138
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

PRODUÇÃO ANIMAL E VEGETAL EM SISTEMAS


INTEGRADOS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

André Brugnara Soares1


Ricardo Beffart Aiolfi2
Marcos Antonio de Bortolli3
Tangriani Simioni Assmann4
Angélica Caroline Zatta5

1. INTRODUÇÃO

Os sistemas integrados de produção agropecuária ou sistemas


de integração lavoura-pecuária (ILP) têm sido apontados como a grande
saída do planeta para aumentar a produção de alimentos por unidade
de área e contemplar as questões de preservação ambiental. Neste caso,
“intensificação” no uso das terras vai ao encontro das demandas globais
por conservação da água, do solo, mitigação do efeito estufa, e outros
fatores ambientais que devem ser contemplados pelos atuais sistemas
de produção de alimentos. É possível, na ILP, contemplar os quesitos
ambientais ao mesmo tempo em que se aumenta a produtividade das
áreas e a renda dos produtores rurais. Isso porque uma série de relações
protocooperativas acontece entre os elementos, no sistema solo-planta-
animal, como por exemplo, redução de pragas, doenças e plantas invasoras,
diminuindo assim o grau de insumização dos sistemas agropecuárias e o

1
Professor do departamento de Agronomia da UTFPR, Câmpus Pato Branco. soares@utfpr.edu.br
2
Aluno do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UTFPR, Câmpus Pato Branco.
3
Aluno do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UTFPR, Câmpus Pato Branco.
4
Professora do departamento de Agronomia da UTFPR, Câmpus Pato Branco.
5
Aluna da graduação em Agronomia da UTFPR, Câmpus Pato Branco.

139
custo de produção; melhor eficiência de uso dos recursos abióticos como
fertilizantes e radiação solar. Ocorre também menor custo na implantação
de pastagens, menor custo e maior facilidade na reforma e recuperação
de pastagens perenes, diminuição de vazios, sejam eles forrageiros, que
diminuem a produção animal e/ou aumentam o custo desta produção, ou
mesmo vazios de cultivos nas áreas, que causam perdas de solo, de água,
de sedimentos que carregam matéria orgânica e minerais e eutrofizam
os cursos d’água. A maior diversidade de atividades, incluindo fases de
pastagem, além de propiciar melhorias nas condições físicas, químicas
e biológicas do solo, diminuir o tempo de permanência das moléculas
dos defensivos no solo, traz segurança ao produtor frente às intempéries
climáticos e econômicos, grandes inimigos dos sistemas de monocultivo.
O uso mais intenso da terra, diminuindo os intervalos entre os cultivos, e
aproveitando o sinergismo entre eles, também traz vantagem no aumento
da produção de grãos, quando feito sobre áreas pastejadas anteriormente.
No entanto para se obter todas essas vantagens sob o aspecto ambiental,
produtivo e econômico, uma séria de procedimentos de manejos devem
ser adotados na propriedade de maneira efetiva, fazendo parte tanto da
prática como da filosofia do sistema, práticas como o uso da rotação de
culturas que busca aumentar a biodiversidade, da manutenção de uma
cobertura viva no solo a maior parte do tempo (isso significa reduzir ao
máximo o intervalo entre os cultivos, inclusive a tentativa de iniciar um
cultivo antes do anterior terminar, de forma concomitante, deve ser feita),
correção da fertilidade do solo para que os cultivos possam expressar boa
parte de seu potencial genético melhorado, uso de estruturas físicas de
conservação do solo, como terraços e semeadura de todos os cultivos
através do sistema de plantio direto.

140
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

2 O que são os sistemas integrados de produção


agropecuária?

Historicamente, em nível mundial, a produção de alimentos é pauta


de toda e qualquer discussão político-social. O número de habitantes vem
crescendo a cada ano e a demanda por alimentos, diretamente relacionada,
cresce junto. Considerando que há uma forte e válida pressão para que
não sejam abertas novas áreas agrícolas, com o propósito de preservação e
conservação dos recursos naturais, fica evidente que a busca por estratégias
que viabilizem o aumento da produtividade nas áreas agrícolas disponíveis
é cada vez mais necessária.
Esses sistemas são caracterizados por serem planejados para
explorar sinergismos e propriedades emergentes, frutos de interações
nos compartimentos solo-planta-animal-atmosfera, que se fundem em
diferentes escalas espaço-temporais em áreas que integram atividades de
produção agrícola e pecuária (Moraes et al., 2014).
O recorrente paradoxo entre aumento de produtividade e
preservação ambiental ou entre intensificação e redução de uso dos
insumos parece perder importância com o advento dos sistemas integrados
de produção ou sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP), pois a
intensificação na produção de alimentos e de uso da terra está na mesma
trincheira da sustentabilidade ambiental. Isso explica o atual lugar de
destaque dos sistemas ILP, sob os holofotes da ciência.
A adoção de sistemas ILP permite a intensificação da produção
agropecuária. Uma vez que o significado de intensificação remete a
uma estratégia de uso da terra que visa explorar os recursos disponíveis
como nutrientes (adquiridos pela adubação, correção do solo ou fixação
biológica), energia solar, ou recursos da propriedade como terras, máquinas,
implementos, galpões, de forma mais efetiva possível. Neste conceito de
“pousio zero”, não há espaço para deixar o solo sem algum cultivo sobre
ele, visto que assim que uma cultura sai do campo, imediatamente outra

141
já estará sendo implantada ou já deveria ter sido implantada. Quando o
produtor deixa o seu solo três meses sem nenhum cultivo, isso significa
um desperdício de aproximadamente 18000000 MJ/ha de energia solar.
Se houvesse vegetal transformando pelo menos parte dessa energia
(aproximadamente 50% dela é fotossinteticamente ativa) em energia
química, através da fotossíntese, e então produzir produtos de origem
vegetal para serem comercializados (grãos, feno, etc.) ou transformados em
produto animal pelo pastejo (leite, carne, couro, etc.), muitos benefícios
seriam alcançados em relação ao meio ambiente e à renda do produtor.
Considerando então que na região sul do Brasil, quase 9 milhões de ha
que ficam subutilizados durante o período frio do ano, está se perdendo
uma oportunidade incrível de geração de riqueza.
Com a adoção dos sistemas ILP de forma plena, sua consolidação
ocorre por um período de aproximadamente 10 anos, ou seja, todas as
vantagens que podem ser alcançadas precisam de um tempo mínimo
fazendo parte de um correto manejo. Uma vez consolidado o sistema
ILP mostra todo seu potencial sinérgico (sinergia é quando 2+2>4). E
neste momento alguns conceitos começam a se tornar obsoletos, como
por exemplo “plantas de cobertura de solo”. Através do cultivo dessas
plantas, nitrogênio pode ser fixado biologicamente ao solo. Elas ainda
são estruturadoras de solo, absorvedoras de nutrientes em maiores
profundidades (catch crop), controladoras de algumas pragas como o caso
da Crotalaria specetabilis no controle do nematóide Pratylenchus brachyurus.
Porém, na medida do possível, deve-se dar preferência aos cultivos que,
além de promover todos esses benefícios, possam ser comercializados
trazendo renda ao produtor. Outro conceito que passa a ser questionado
com a adoção da ILP é o uso de cobertura morta sobre o solo. O que se
procura neste sistema é que permaneça, a maior parte do ano, vegetais,
vivos, fazendo fotossíntese, numa linguagem ecológica, sequestrando
carbono da atmosfera e depositando no solo, e desencadeando uma série
de ciclos positivos causado pelo aumento da matéria orgânica sobre o solo.
Obviamente que, propriedades rurais que deixam solos descoberto, que

142
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

não usam ou não têm recurso para fertilização química, a ciência do uso
das plantas de cobertura segue sendo de extrema valia.
Neste momento cabe a pergunta: a intensificação da produção
nos sistemas ILP pode aumentar a produtividade das áreas sem que o
meio ambiente sofra as consequências? Prontamente, a resposta é sim.
Intensificação neste caso é sinônimo de sequestro de C e mitigação do
efeito estufa, melhoria da qualidade física, química e biológica do solo. Se
compararmos a ILP com o sistema de plantio convencional e também com
o sistema de monocultivo, fica de fácil percepção que os sistemas integrados
são muito mais promissores e sustentáveis, visto a protocooperação que
ocorre entre os componentes do sistema.
Se considerarmos uma pirâmide evolutiva do uso e manejo do solo,
na base dessa pirâmide teríamos o preparo do solo do modo convencional,
o qual envolve o revolvimento do solo a cada implantação de um cultivo,
que apesar de muito criticada atualmente, teve sua importância histórica
nas décadas de 60 e 70, era do Agrobusiness ou da revolução verde.
Em seguida, evoluímos para o preparo mínimo do solo, já com vistas à
diminuição de perdas de solo e de nutrientes, assoreamento de rios, etc.,
que o revolvimento excessivo do solo causava. Posteriormente, o plantio
direto. Grandes avanços nesta pirâmide podem ser observados quando
evoluímos para o sistema de cultivo de plantio direto, cujas premissas
são o não revolvimento, adoção de práticas de manejo do solo como uso
de terraços e semeadura em nível, e também rotação de culturas e de
princípios ativos de defensivos agrícolas. Por fim, no ápice da pirâmide
colocamos os sistemas ILP que, além de seguir a risca todas as premissas
do sistema de plantio direto, envolve a produção animal, considerando
adubação e manejo adequado do componente pastagem.
Por outro lado, os sistemas ILP são tão atuais quanto antigos,
os primeiros relatos de sistemas ILP podem ser visualizados na bíblia,
cerca de 9000 a.C. (Carvalho et al., 2014) e, no Brasil, desde a sua
colonização até o período de pós guerra provavelmente tenham sido os

143
sistemas mais difundidos. A diferença é que atualmente temos um lastro
de conhecimento científico que permite que as decisões sejam tomadas
embasadas em indicativos técnicos e de forma consciente, buscando de
fato as inúmeras vantagens da ILP.
Diversos modelos de ILP são utilizados pelo mundo, dependendo
das condições edafoclimáticas, logísticas e de interesse de cada produtor.
A título de sistematização os sistemas podem ser classificados dependendo
da associação entre:
1. Pastagem e lavoura: sistema de produção que integra agricultura e
pecuária em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. Neste
são englobados, por exemplo, sistemas que o mesmo cultivo pode
ser pastejado e depois diferido para produção de grãos, no caso
dos cereais de duplo propósito (trigo que é pastejado por 20 dias,
aproximadamente, e depois se retira o gado para colher os grãos) ou
ainda, quando usamos a mesma estação de crescimento para o cultivo
consorciado da espécie forrageira em mistura com a espécie agrícola
(papuã junto com a cultura do milho, para que após a colheita do
milho os animais sejam imediatamente colocados na área, isso reduz
o vazio forrageiro de outono e os animais consomem partes de espigas
que por ventura tenham sido perdidas na colheita). Ainda dentro desta
categoria temos os dois grandes exemplos, um usado no sul do Brasil
que envolve forrageiras anuais de inverno e culturas de grãos como soja,
milho e feijão na estação quente e, o modelo usado no Brasil central,
de clima tropical, em que forrageiras perenes (Brachiaria ruziziensis
e Panicum maximum) são semeadas de forma intercalar às culturas,
para que após a colheita dos grãos, a pastagem seja aproveitada para
produção de gado de corte e formação de palhada para o plantio direto.
Forrageiras anuais de verão como o milheto também são recomendados
para forrageamento de outono e formação de palhada, especialmente
para sistemas de maior frequência, em que a lavoura é semeada todo
ano.
2. Pastagem e árvore (sistema silvipastoril): as árvores, por serem diferentes em
termos de funções ecológicas, localização de absorção de nutrientes, uso
da radiação, etc, em relação às planas de culturas e forrageiras, tornam

144
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

possível maior complexidade ao sistema e uma série de vantagens


biológicas podem ser obtidas. A árvore pode ser usada para produção
de madeira, lenha, flora apícola, produção de forragem, frutos e
serviços ambientais, incluindo nestes, questões de ambiência para os
animais, como redução do vento, sombra, temperatura, promovendo
melhor bem-estar animal. Neste caso, normalmente a associação do
componente arbóreo com a cultura de grãos ou forrageira ocorre ao
mesmo tempo. Em alguns casos, no entanto, pode não ser. As árvores
podem ser plantadas em espaçamento comercial e dentro de algum
tempo são retiradas algumas filas e após, semeia-se pastagem, pois os
animais não mais danificarão as árvores. Outras opções para evitar a
danificação das árvores pelos animais são: 1) cercas nas filas ou renques
de árvores implantados em pastagem já formada e 2) usar agricultura
entre as filas ou renques por alguns anos para que as árvores adquiram
uma altura e estrutura suficientes para não serem danificadas pelos
animais. Após esse período implanta-se pastagem perene. Esse sistema
tem sido amplamente estudado no Brasil na última década, tal que,
para estes, gerou-se uma vasta gama de combinações entre o tipo de
pastagem e o tipo de árvore, espaçamentos, podas, etc. que podem
ser utilizados. Estudos têm sido realizados na busca de forrageiras que
mais se adaptem ao sombreamento parcial e para avaliar o impacto
da presença de árvores sobre a produção de forragem, valor nutritivo
da forragem produzida, dinâmica da produção de forragem, mudanças
na estrutura do dossel, mudanças microclimáticas e de produção do
componente arbóreo e sobre o bem-estar e produtividade animal.
3. Árvore e lavoura (sistema silviagrícola): sistema integrado em que não se
explora fases de produção animal, somente cultivos agrícolas, anuais ou
perenes, nas entrelinhas das árvores. Normalmente os cultivos agrícolas
são conduzidos até uma determinada altura de árvores, tal que o seu
sombreamento não prejudique a produção de grãos. Se o espaçamento
entre árvores for adequado, é possível seguir cultivando lavouras
anuais. A destinação da área para produção agrícola por alguns anos

145
dilui os custos e promove uma renda antecipada, pois a agricultura de
árvores apresenta um retorno econômico em maior prazo. Este sistema
na prática é usado anteriormente ao silvipasoril, caso contrário não
haveria tantas vantagens se plantar árvores em áreas essencialmente
produtoras de grãos.
4. Pastagem, lavoura e árvore (sistema agrosilvipastoril): representa o maior
grau de complexidade, pois engloba todos os componentes do sistema
(Solo-lavoura-árvore-animal). Este tem sido visto como excelente
alternativa para a intensificação da produção e está em grande
expansão, principalmente no cerrado brasileiro, associando eucalipto,
arroz e soja, posteriormente, as Brachiarias.

2.1 Quais as vantagens em relação aos monocultivos e como obtê-las?

As principais vantagens da ILP são:


1. Redução ou eliminação dos intervalos entre cultivos, proteção do solo contra
erosão (uso do “pousio zero”): uma vez que se busca a manutenção de uma
cobertura viva no solo a maior parte do tempo possível, eliminando
vazios de crescimento vegetal, de cobertura de solo e de pousio, o
solo estará mais protegido contra ação das enxurradas, do trânsito
de máquinas e animais e do vento. Essa busca do “pousio zero” e da
maximização da produção anual de biomassa por área demanda que
um novo conceito seja considerado: a presença de um nível de palhada
sobre o solo não é a característica mais importante, assim como
enfatizado em uma série de trabalhos nos quais foi estudado o sistema
de plantio direto, principalmente na década de 90 (Basso & Ceretta,
2000). Supostamente o nível de palhada mínimo ainda é importante
e deve ser respeitado, no entanto, atrelado a esse cuidado, deve ser
maximizada a produção total de biomassa. Em resumo, para que se
consiga aumentar a produção de biomassa anual por ha, aumentar a
biodiversidade, buscar a cobertura viva permanente sobre o solo para
evitar perdas de solo, água e nutrientes, são necessários procedimentos
que sobreponham o final de um cultivo com o início do próximo.

146
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Alguns exemplos, o uso do papuã no milho, semear forrageiras anuais


de inverno antes da colheita da soja, o próprio sistema Santa Fé, a
semeadura de cultivos agrícolas sobre pastagens perenes de inverno,
etc.;
2. Melhoria da fertilidade do solo: com a permanente cobertura viva,
preferencialmente, ou morta sobre o solo, as perdas de nutrientes serão
menores. A maior quantidade de biomassa microbiana e vegetal sendo
cicladas faz com que se aumente a disponibilidade de nutrientes para
as plantas;
3. Receita adicional e diversificada: a renda obtida pela agricultura é mais
variável ao longo dos anos comparando com a renda da pecuária, isso
torna o produtor mais resiliente frente às intempéries climáticos e
econômicos;
4. Aumento da produtividade de biomassa e matéria orgânica do solo: com a
adoção da ILP mais propriedades podem se tornar dreno, em lugar de
fonte, de gases de efeito estufa. A produção total de biomassa por ano
e por área deve ser maximizada para promover acúmulo de matéria
orgânica no solo. Neste momento deve ser frisado que tão importante
quanto a manutenção de uma quantidade mínima de palhada sobre o
solo, é importante pensar em maximizar a produção daquele cultivo.
Por exemplo, imaginemos duas situações: a primeira em que o dossel
de aveia preta mais azevém foi adubado e pastejado e produziu 10000kg
MS/ha, mas no momento da dessecação estava com uma palhada de
2200kg MS/ha; A segunda situação, esse mesmo dossel foi deixado
apenas para cobertura de solo, a produção total de biomassa foi de
5000kg MS/ha e a palhada deixada foi de 3500kg MS/ha. Em quais
das duas situações ocorre maior melhoria das condições químicas,
físicas e biológicas do solo? Provavelmente na primeira. Então deve ser
esclarecido que massa presente num determinado momento sobre o
solo, não é sinônimo de produção de massa. Plantas forrageiras quando
adequadamente pastejadas produzem mais biomassa que quando não

147
pastejadas (McNaugton, 1983) e esse crescimento compensatório deve
ser explorado, na prática, para melhorar nossos solos;
5. Melhoria das condições físicas e biológicas do solo: devido a maior produção
de biomassa, biodiversidade, as plantas têm maior capacidade de
descompactar o solo devido ao seu agressivo crescimento radicular,
promovendo a abertura de poros, maior diâmetro e estabilidade de
agregados, que por sua vez promove maior velocidade de infiltração de
água e trocas gasosas. Embora o senso comum seja de que a presença dos
animais em pastejo nas áreas produtoras de grãos prejudique a física de
solo (aumento de densidade, resistência à penetração, diminuição da
macroporosidade) a maioria dos trabalhos científicos tem apontado que
só há deterioração da física de solo quando a pastagem é mal manejada
e mesmo assim, nem sempre se identifica relação entre as mudanças
físicas do solo com diminuição da produtividade das lavouras. Em
ILP ocorre maior massa microbiana e maior diversidade de gêneros e
espécies, bem como maior atividade microbiológica e menor tempo de
permanência das moléculas de princípios ativos no solo;
6. Redução dos custos de produção, tanto na fase lavoura como na fase
pastagem: como ocorre redução de incidência de pragas, doenças e
invasoras, ocorre menor necessidade de uso de defensivos agrícolas.
Os nutrientes como são utilizados com melhor eficiência, é possível
diminuir os níveis de fertilização. A implantação de pastagens, perenes
ou anuais fica de menor custo quando feita em ILP, assim como menor
custo para reformar e recuperar pastagens através de alguns anos de
cultivo agrícola. Outro aspecto ligado à redução de custo de produção
poderia ser mencionado ao uso de leguminosas fixadoras de nitrogênio
atmosférico em ILP. Forrageiras leguminosas anuais de inverno
(ervilhaca, serradela, trevos anuais), anuais de verão como feijão miúdo
(Vigna spp.), perenes de inverno (trevos perenes, cornichões, alfafa)
ou perenes de verão (amendoin forrageiro – Arachis pintoi, Stylozanthes
spp.) conseguem fixar quantidades apreciáveis de N ao solo (de 50 até

148
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

300kg N/ha/ano) fazendo que o sistema se enriqueça do nutriente


mais limitante ao crescimento vegetal e animal, o de custo mais
elevado e o que tem maior risco de poluição ambiental. Com isso é
possível diminuir ou suprimir a adubação nitrogenada das culturas,
explorando a fixação biológica de N, uma das virtudes da adubação
verde, mas também obter alta renda pela transformação e venda dessa
produção em carne e leite, por exemplo. Sob o aspecto de nutrição de
ruminantes, área abrangida pelo sistema ILP, o enriquecimento de N
pelo uso de leguminosas forrageiras promove aumento no provimento
de proteína bruta para os animas, que é o componente de custo mais
elevado na alimentação animal, permitindo assim redução no uso de
concentrados proteicos.
7. Melhor aproveitamento das estruturas disponíveis na propriedade, como
máquinas, implementos, galpões e mão de obra: isso reduz a depreciação e
remunera melhor o investimento;
8. Aumento da produtividade dos cultivos: até há pouco tempo à pesquisa
tinha o seguinte questionamento: quanto diminui a produtividade das
lavouras quando há pastejo previamente na área? Com a evolução do
conhecimento foi possível acreditar que a presença de fases de pastagens
intercaladas com lavouras, podem aumentar a produtividade de grãos.
Foi apresentado no II International Symposium on Integrated crop-livestock
systems em 2012, uma revisão bibliográfica em que na média, as lavouras
que foram antecedidas por animais em pastejo, produziram 18% a mais
em relação aos sistemas que não tinham pastejo. Provavelmente a razão
desta possível maior produtividade deve-se a vários fatores citados acima,
que de forma conjunta, conduzem ao aumento de produtividade.
Porém, para serem obtidas todas as vantagens supracitadas é
necessário o emprego de um pacote de medidas. Pacote, um termo um
tanto quanto polêmico, neste caso significa uma série de procedimentos
agronômicos que devem ser usados concomitantemente, ao contrário
da pacotização de comercialização de insumos. Desta forma devem ser

149
colocadas as premissas da ILP, sem as quais, ou uso parcial, não se obtém
todas as vantagens supracitadas (daí a necessidade de fazer um pacote
tecnológico) e resulta em divergências quanto à viabilidade da ILP. As
premissas são:
1. Não visualizar os cultivos de forma isolada: Uma possível menor
produtividade em alguma fase (cultivo) pode trazer muitos benefícios
a médio e longo prazo, uma pequena diminuição de produção de uma
das fases pode ser compensada pela produção da outra, tornando o
sistema mais produtivo e econômico. A adubação, por exemplo, muitas
vezes é aplicada na outra fase, por razões técnicas e econômicas, neste
caso a margem de lucro daquele cultivo que recebeu maior adubação, é
diminuída, mas compensada no próximo. Um exemplo seria aplicar o
adubo da lavoura na fase pastagem e cultivar a lavoura sem adubo.
2. Semeadura direta em todos os cultivos: Na maioria das propriedades
no Paraná, a semeadura de forrageiras anuais de inverno, sejam elas
para cobertura ou pastejo, é feita com o uso de grade niveladora,
desestruturando o solo e perdendo a oportunidade de experimentar de
forma plena os benefícios do sistema de plantio direto. Frequentemente
é comentado pelos produtores que, só não executam a semeadura direta
das forrageiras de inverno por não possuírem semeadoura adequada,
mesmo tendo outras maquinarias de alto custo. Parece não haver
priorização para a compra de um kit acessório ou de uma semeadoura
própria para essa operação.
3. Rotação de culturas ou biodiversidade: Nas últimas safras, no Paraná,
o milho tem perdido espaço para a soja pelo alto custo de produção,
mesmo na segunda safra. Da mesma forma, o planalto do Rio Grande
do Sul, tem cultivado muito pouco a cultura do milho, não só pelo
maior custo de produção em relação à soja, mas também pelo maior
risco de estiagem. Com a redução da área cultivada de milho ocorre
um retrocesso na agricultura do sul do Brasil, pois o milho melhora a
diversidade e tem maior capacidade de incorporar C ao sistema. Alguns
pesquisadores colocam, de maneira simplificada, que nos latossolos do

150
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Paraná é necessário a produção de 10t MS/ha para que o teor de C no


solo não mude. Supostamente que buscamos aumento no teor de C ao
longo do tempo nos nossos solos e por isso é necessário maximizar a
produção de biomassa, seja aérea ou subterrânea. Nesta lógica, como
o potencial de produção de biomassa do milho é três vezes maior que
a soja, é importante que esta gramínea seja mantida nos planos de uso
da terra dos nossos sistemas. Além da questão de potencial fixador de
C dos cultivos, via fotossíntese, a rotação de culturas, traz consigo o
conceito de biodiversidade. Quanto mais biodiversos os sistemas ILP,
mesclando diferentes espécies numa escala espacial ou temporal, que
apresentam tipos diferentes de raízes, que absorvem nutrientes em
diferentes profundidades, em diferentes formas, que são atacadas por
diferentes patógenos, que forneça resíduos com velocidades diferentes
de liberação de nutrientes, etc, mais evidente serão as vantagens descritas
acima, como quebra de ciclos de pragas, doenças e invasoras. Outro
conceito que deve ser incluído neste momento é de frequência. Planos
de uso da terra muito frequentes são aqueles que em pouco tempo o
plano volta ao seu início. Para se proporcionar bioversidade em planos
de alta frequência é necessário, invariavelmente, o consórcio entre
cultivos. O que se preconiza são sistemas ILP de alta biodiversidade
e baixa frequência. Na tabela 1, podem ser visualizados exemplos
de ILP. As duas últimas colunas indicam sobre a biodiversidade e
frequência do sistema. E cada linha da tabela representaria o plano
de uso de uma gleba da propriedade, que juntos formariam o plano
de uso das terras da propriedade como um todo. A correta escolha de
sequencia ou consórcio entre cultivos é o que definirá os desempenhos
individuais, que podem ser superiores ou inferiores àqueles obtidos em
ambiente aberto ou cultivo singular. Quanto mais componentes em um
ecossistema, maior a complexidade, pois estes competem entres si ou
interagem de tal maneira que um componente pode obter até vantagem
comparada aos monocultivos (Paciullo et al., 2007). O maior inimigo
de se seguir um plano de rotação de culturas com alta biodiversidade

151
são questões econômicas, de preço de produto e custo de produção.
Isso tem levado o sul do Brasil a fazer quase que o monocultivo da soja.
Outro fator impeditivo seria a falta de organização da cadeia produtiva
de outras opções de cultivos, como cultivos para geração de fibra e
energia, produção de sementes de forrageiras, etc.
4. Correção do solo: a fertilização e a calagem devem ser consideradas
para que o sistema seja sustentável economicamente e ambientalmente.
Somente a partir disso é possível se obter altas produtividades de
biomassa e estimular a ciclagem de nutrientes. Na ILP a ciclagem deve
ser maximizada, para aumentar a eficiência de uso dos nutrientes. Para
maximizar a ciclagem dois conjuntos de manejos devem ser adotados,
o primeiro abrange medidas para evitar perdas (época de aplicação dos
fertilizantes, local de defecação dos animais, condições meteorológicas
e de dossel no momento da aplicação dos fertilizantes, etc) e outro
conjunto é para que o átomo de nutriente consiga dar mais “voltas”
no sistema solo-planta-animal e assim ele será usado pelas plantas e
animais mais vezes diminuindo a necessidade de maiores adubações e
aumentando a eficiência técnica e econômica no uso dos fertilizantes.
Alta velocidade de ciclagem seria obtida através de manejos como,
promover todas as condições de alta produção vegetal nas forrageiras
(manutenção de um correto índice de área foliar, misturas de espécies
ou cultivares de diferentes ciclos, correta adubação, etc), usar forrageiras
de melhor valor nutricional e correto ajuste da carga animal sobre a
pastagem. No entanto, ciclagem, em última instância, seria a volta de
um nutriente ao ponto de partida, se a fertilidade do solo estiver muito
limitante ao desempenho dos cultivos, não é pela ciclagem que vai se
resolver isso, neste caso é necessária a entrada externa de nutrientes
(aquisição de fertilizantes químicos, orgânicos, fixação biológica de
nitrogênio em gramíneas e leguminosas).
5. Manejo adequado de pastagens: é primordial que se tenha o correto
manejo da carga animal das pastagens para que não haja prejuízo às

152
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

características físicas do solo por pisoteio, para que a fase de produção


animal alcance altas produtividades, e para que ao final do ciclo de
pastejo haja material vegetal para a cobertura de solo no plantio
direto. Importante visualizar, na prática, a importância deste ponto,
que é o mais nevrálgico entre os produtores: “entrada dos animais vai
compactar o solo e diminuir a produção da soja”. Pequenas diferenças
de intensidade de pastejo, alguns centímetros de diferenças de altura,
no índice de área foliar, na massa de forragem, causam diferenças
muito significativas sobre o comportamento ingestivo dos animais, que
seria o primeiro conjunto de variáveis causadoras da provável menor
produtividade dos cultivos agrícolas em áreas pastejadas. Quanto maior
a intensidade de pastejo, maior número de animais é colocado sobre a
pastagem, mais patas pisoteando o solo. Além disso, como a distância
total diária percorrida por um animal é tanto maior quanto maior a
intensidade de pastejo (em alta intensidade de pastejo o animal pode
caminhar 4km/dia e em baixa, 1,6km/dia) significa que o mesmo
casco, pressiona o solo mais vezes por dia. Um terceiro fator seria de
que, com a maior intensidade de pastejo, o anteparo, o escudo do
solo contra o casco é mais fraco. A massa de forragem exerce efeito
amortizador do casco sobre o solo. O quarto fator seria de que com
alta intensidade de pastejo a produção de forragem tende a ser menor,
a maioria das forrageiras apresenta um comportamento quadrático
negativo em função de intensidades de pastejo, ou seja, existe uma
faixa de intensidade de pastejo que maximiza a produção de forragem.
Quanto maior a produção de forragem maior será a produção de raízes,
e consequentemente, maior a capacidade das plantas descompactar
o solo, abrindo canais, aumentando a macroporosidade, etc. Esse
conceito de que a compactação pode primeiramente ser evitada, mas se
não evitada, pode ser revertida através dos cultivos, deve ser entendida
entre os técnicos e produtores. O quinto aspecto relacionado ao
manejo da pastagem é de que se a produção de pasto for abundante,
além dos benefícios sobre a produção animal, irá ocorrer o acúmulo

153
de C no solo, conforme demonstrado por várias pesquisas feitas no
Brasil e no exterior. Pois, o maior teor de C aumenta a capacidade do
solo quanto à deformação elástica em detrimento da plástica, ou seja,
o solo é comprimido e depois volta a situação original, sem alterar sua
densidade.
6. Manejo conservacionista da física de solo: A conservação do solo, e
principalmente da água, deve ser priorizado dentro dos sistemas ILP.
Dependendo da declividade do terreno, deve-se considerar, inclusive,
a implantação de terraços, prática mecânica que aliadas às praticas
culturais (Manejo de pastagem, plantio em nível, cultivo em faixas, etc.)
pode resultar na boa conservação do solo sem perdas por erosão.
7. Uso de genética animal e vegetal melhorados: Apesar de usar alguns
conceitos em comum, os sistemas ILP, aos quais nos referimos, diferem-
se dos sistemas de produção propagados através da agroecologia e
permacultura (Altieri, 1984; Gliesman, 2000), em que uma série de
outros princípios ecológicos são atendidos. A ILP dificilmente poderá
ser conduzida sem o uso de fontes solúveis de fertilizantes (embora a
construção de fertilidade do solo e aumento na ciclagem de nutrientes
para diminuir o uso de adubos seja uma realidade), ou materiais vegetal
e animal geneticamente superiores para produção, defensivos agrícolas,
como herbicidas, inseticidas, fungicidas e outros. Fica evidente então
que os sistemas ILP utilizam-se de toda tecnologia gerada pela agricultura
de escala (agronegócio), como por exemplo, o uso de genética vegetal e
animal melhorados.

154
Tabela 1: Exemplos de Planos de uso da terra em relação à frequência e biodiversidade empregadas. Esse plano
é feito para cada gleba da propriedade.

Pri/Ver= Primavera/Verão; Inv= Inverno; FRE= Frequência; BIO= Biodiversidade; A= alta; B= baixa; M= média.

155
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO
2.2 Considerando as fases lavoura e pastagem: Quanto é possível
produzir por unidade de área?

Muitos trabalhos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos com o


objetivo de comprovar que, em áreas em que há a inserção do componente
animal no sistema produtivo, além da oportunidade de aumento de renda
com produção de carne ou leite e da maior sustentabilidade, não há
interferência na produtividade de grãos da cultura subsequente.
Oliveira et al. (2013, dados não publicados) observaram que
quando um azevém é utilizado apenas para cobertura, sem adubação e
é dessecado com trinta dias de antecedência à semeadura, o milho na
sequência produz 10491kg/ha. Já se o azevém for adubado com 150kg de
N/ha, estiver sob pastejo e for dessecado no mesmo dia em que acontecer
a semeadura do milho, a produtividade de grãos será de 11667,5kg/ha
(Tabela 2). Esse sistema nos permite concluir que além da produtividade
do milho ter sido maior onde houve adubação nitrogenada e pastejo
durante o período hibernal, o período de pastejo é de trinta dias maior em
virtude da época de dessecação à semeadura do milho, o que significa que
houve trinta dias a mais de produção animal. Se considerarmos uma taxa
de lotação de 5 animais por hectare e que o ganho individual é de 1kg/
animal/dia, temos um ganho de 5kg/ha. Nos 30 dias a mais de produção
animal, como mencionado acima, teríamos um ganho de 150kg/ha.
Considerando o valor do kg do peso vivo de R$ 4,50, teríamos uma renda
de R$ 675,00/hectare. Contudo, é possível que o produtor rural venha a
fazer o seguinte questionamento: Será mesmo que é possível o ganho de
1kg/animal/dia em um azevém no final do ciclo? A reposta é sim, sim é
possível! Quando os produtores fazem o planejamento das áreas e decidem
plantar milho, geralmente utilizam um azevém de ciclo curto, entretanto,
se o produtor optar por semear um azevém de ciclo longo, com tardia
elongação dos entrenós, no período do ano em que estamos discutindo,
o azevém ainda estará apresentando elevadas taxas de acúmulo de matéria
seca, terá reduzida participação de componentes lignificados além de que

156
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

estará com uma mais baixa relação C/N, não restringindo o aporte inicial
de nitrogênio necessário à cultura subsequente.

Tabela 2: Produtividade do milho (kg/ha) em função do manejo do


período hibernal e do intervalo entre dessecação e semeadura
(IDS) em um sistema de ILP.

Ainda podemos fazer uma inferência a respeito da ciclagem


de nutrientes que acontece no sistema. Onde o azevém foi pastejado
e adubado no inverno, não foi realizada aplicação de nitrogênio em
cobertura no milho no verão (Tabela 3). Esse manejo, da inversão da
adubação nitrogenada, traz vantagens ao produtor tais como: 1) o preço dos
fertilizantes nitrogenados tende a ser de 10 a 15% mais baratos no outono
em relação à primavera; 2) as perdas por volatilização são menores devido
às menores temperaturas e radiação solar e devido à maior cobertura viva
sobre o solo no outono; 3) é possível obter ganhos muito significativos
de produção animal quando a pastagem é adubada; 4) a ciclagem de
nutrientes é maior, pois na pastagem a exportação do nitrogênio é bem
inferior comparativamente ao que acontece na lavoura; e 5) considerando
os outros nutrientes, P e K além do N, o fato de aplicar a fertilização
de base no início da fase pastagem e não na semeadura da fase lavoura,
torna a operação de plantio muito mais eficiente, sem a necessidade de
recarregar a caixa de adubo. A inversão nesse caso é usada por produtores
que cultivam cereais de inverno, como cevada, e o momento da colheita
da cevada acontece quase que no final da época preferencial do plantio da
soja, visto isso, o plantio da soja sem adubação de base torna-se viável e
sem comprometer a produtividade da soja.

157
Tabela 3: Produtividade do milho semeado sobre dossel de azevém ou
azevém + ervilhaca, pastejado ou não pastejado, adubado (150
kg N/ha) ou não em cobertura.

Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste Tukey
(P<0.05).

Experimento semelhante foi feito em três locais de Santa Catarina


por Balbinot Jr. et al. (2009) em que avaliaram a produção de feijão
semeado após cinco manejos de inverno: 1) mistura de aveia preta + azevém
+ ervilhaca + trevo vesiculoso sem pastejo e sem adubação nitrogenada; 2)
mesmo consórcio anterior porém com pastejo e com 100 kg de N/ha; 3)
o mesmo consórcio anterior com pastejo e sem adubação nitrogenada;
4) nabo forrageiro sem pastejo e sem adubação nitrogenada; 5) pousio
– sem pastejo e sem adubação nitrogenada. Quando não houve pastejo
houve uma maior quantidade de palhada, porém nenhum dos manejos
de inverno afetou a física de solo (densidade e macroporosidade) e o
desempenho da cultura de feijão.
Pesquisando sobre o mesmo tema, Ortiz et al. (2014, dados não
publicados), avaliaram a semeadura de três espécies forrageiras hibernais,
antes (estádio fenológico R5) e após da colheita da soja (Tabela 4) e
verificaram que a produção das gramíneas forrageiras foi superior quando
semeadas anteriormente a colheita da soja, de maior valor nutricional e
com maior recuperação e eficiência de uso do nitrogênio aplicado. Porém,

158
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

além da maior produção de forragem, o mais relevante é que aumentou


o período de utilização da pastagem, antecipando a primeira desfolha
em 30 dias, reduzindo assim, de forma significativa, o vazio forrageiro
de outono, além de causar todas as melhorias no solo provindas de uma
maior produção de biomassa.

Tabela 4: Produção de forragem (kg MS/ha) de três espécies de forrageiras


hibernais semeadas antes e após a colheita da soja.

Médias seguidas por diferentes letras maiúsculas na mesma linha e diferentes letras
minúsculas na coluna são estatisticamente diferentes pelo teste Tukey (P<0.05).

Em experimento de 10 anos de duração na região do planalto médio


do Rio Grande do Sul, Carvalho et al. (2011), avaliaram alturas de manejo
da pastagem de aveia + azevém (10, 20, 30 e 40cm) e produção de soja no
verão. Concluíram que quando o pasto é manejado com intensidade de
pastejo moderada (20 e 30cm de altura), a produção de forragem foi igual
ou superior a área sem pastejo. Em média as áreas sem pastejo produziram
5546kg MS/ha/ano enquanto no pastejo acima de 20cm as produções
chegaram a aproximadamente 7500kg MS/ha/ano. Nas áreas com
pastejo mais intenso a quantidade de palhada foi de 1290kg/ha e quando
manejada a 30 e 40cm, a massa de forragem residual (palhada) foi de 4313
e 5547kg/ha, respectivamente. E nas áreas não pastejadas de 5422kg/ha.
Usando os dados expostos ressalta-se que uma pastagem anual de
inverno bem manejada, de 20 a 30cm de altura, não há necessidade de retirar
os animais previamente a dessecação, pois os valores de massa de forragem

159
que se obtém nessas alturas, já são quantidades de palhada satisfatórias para
manter o sistema de plantio direto. Se o produtor fizer um sobrepastejo,
além das inúmeras consequências negativas sobre os parâmetros de física
e biologia do solo e produção animal suprimida, especialmente em termos
de desempenho individual, terá uma diminuição da produção animal pela
redução do tempo de utilização, porque necessitará retirar os animais para
que a pastagem atinja um valor mínimo de massa de forragem residual, antes
do momento de ser dessecada, para manter o sistema de plantio direto.
Ou o produtor poderia optar por dessecar a pastagem com uma massa de
forragem residual baixa, porém, desta maneira estaria comprometendo o
sistema, devido ao aumento de plantas invasoras, falta de proteção de solo
contra chuva e perdas de solo e de água.
Ainda no trabalho de Carvalho et al. (2011), na média dos 10 anos
de experimento foi verificado que os maiores ganhos médio diário dos
animais, acima de 1kg/animal/dia foram obtidos na altura de dossel de
20cm ou mais de altura e a produção animal por hectare foi inversamente
relacionada com as alturas de manejo, variando de 498 a 167kg PV/ha no
10 e 40cm, respectivamente. No entanto os autores chamam atenção que
apesar das maiores produções nas menores alturas, devido a essas espécies
forrageiras, especialmente azevém, serem altamente tolerantes ao pastejo,
a qualidade da terminação das carcaças não são adequadas para atender as
exigências de mercado. Imaginemos a situação em que o produtor precisa
dessecar a área, pois a época recomendada de plantio da soja já está quase se
encerrando e os seus animais em terminação ainda estão longe do peso de
abate, isso traz a necessidade de um novo ciclo de terminação dos animais,
seja em confinamento ou em pastagens de verão, mas invariavelmente vai
aumentar o custo e diminuir o giro de capital.
Em relação à física de solo foi verificada maior resistência a
penetração no tratamento de menor altura pela maior carga animal e pelo
fato dos animais aumentarem 13,4 minutos de tempo de pastejo por dia,
caminharem 183 passos a mais por dia e um incremento de área impactada
pelos cascos em 0,47m²/ha para cada centímetro de diminuição de altura

160
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

do dossel. Também foi verificada maior biomassa e atividade microbiana


nos solos sob pastejo, assim como um efeito em maior profundidade do
calcário aplicado na superfície do solo.
De maneira geral, a produção média de 10 anos da soja, não é
influenciada pelas alturas e manejo da pastagem, apesar de haver 2% de
aumento de produtividade na altura de 40cm em relação ao sem pastejo
e 7% de diminuição na produção da soja na altura de 10cm. Essa possível
diminuição na produção da soja em menores alturas de manejo ocorre
principalmente em anos em que há estiagem.
Pitta (2012) manejou um sistema em ILP de modo que no período
hibernal, a pastagem de aveia recebesse adubação nitrogenada de 150kg
de N/ha e os animais tivessem disponível um nível de suplementação de
1,5% do PV. Esse manejo favoreceu uma produção de aproximadamente
500kg de PV/ha durante o inverno e, no verão, quando na mesma
área foram testadas doses de N em cobertura na cultura do milho, não
foi observada diferença na produtividade de grãos entre as doses de N
aplicadas, deixando claro mais uma vez que a ciclagem de nutrientes no
sistema ILP acontece e é eficiente.
Sandini et al. (2011), avaliaram o efeito residual da adubação
nitrogenada na pastagem de inverno (0, 75, 150 e 225kg N/ha), com e
sem pastejo sobre a cultura do milho, por sua vez submetida a doses de
nitrogênio (Figura 1). Verificou-se que a produção de grãos não foi afetada
pelo pastejo, inclusive se for observado, nos maiores níveis de nitrogênio
no inverno (figura 1C) e no verão (figura 1D), houve numericamente maior
produção de grãos quando houve pastejo em relação ao milho plantado
sobre as mesmas espécies usadas como cobertura. O interessante é que o
milho respondeu de forma quadrática às doses de N usadas no inverno
(Máxima eficiência técnica de 225kg N/ha), especialmente quando não
usadas doses elevadas de N no milho, o que nos leva a pensar em diminuir
a adubação nitrogenada no milho e priorizar a adubação nitrogenada na
pastagem.

161
Figura 1 – Produtividade média (com e sem pastejo) de grãos de milho (kg/ha) para as
doses de nitrogênio aplicadas na cultura (N-TV) nas doses aplicadas na pastagem (N-TI)
(A) e para as doses aplicadas na pastagem em relação às doses aplicadas na cultura (B) na
presença e ausência de pastejo (C e D).

O mesmo grupo de pesquisa (Andreolla et al., 2015), avaliando


agora a influência do pastejo com ovinos em pastagem de azevém adubada
com 0, 75, 150 e 225kg de N/ha sobre a produtividade do feijoeiro,
verificaram que o pastejo não compromete a qualidade física do solo e a
adubação nitrogenada feita no azevém (150kg N/ha) proporciona elevada
produtividade do feijoeiro na sucessão, sem necessidade da aplicação de N
na cultura do feijão (Figura 2).

Figura 2 – Produtividade de grãos do feijoeiro (kg/ha), na presença e ausência de pastejo,


frente às doses de aplicação de N na pastagem.

162
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Outro experimento, com ovinos, feito na região da depressão


central do Rio Grande do Sul (Lunardi et al., 2008) (Tabela 5), indica
que a presença do pastejo favorece o rendimento da soja especialmente
quando a intensidade de pastejo for baixa.

Tabela 5: Produtividade da soja (kg/ha) em função da presença ou não do


pastejo.

Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste Tukey
(P<0,05).

Uma vez implantada a pastagem, considerando que já foi feito


uma semeadura de alta qualidade, com semente de alto valor cultural, de
cultivares adaptados a região e de alto potencial produtivo, os três fatores
que mais influenciam a produtividade da pastagem em curto prazo são:
a adubação nitrogenada, a intensidade de pastejo e o tempo destinado
para a produção animal. Já foram expostos alguns trabalhos científicos
que exploraram esses pontos, abaixo pretende-se relatar um experimento
de ILP feito pelo grupo de pesquisa dos autores deste capítulo, que visa
avaliar a interação entre intensidades de pastejo e estratégias de adubação
nitrogenada.
O pastejo ocorre em sua maioria durante o inverno em pastagens
de azevém com a inclusão ou não de aveia preta, em duas alturas de
manejo (10 e 30cm de altura de dossel). O nível de nitrogênio, 200kg de
N/ha/ano, é aplicado todo de uma vez, ou no início do ciclo da pastagem,
geralmente no mês de maio, ou no início do ciclo da lavoura, geralmente
na segunda quinzena de novembro. Nos anos em que a área é cultivada

163
com soja, não há adubação nitrogenada no verão. Diversas variáveis estão
sendo avaliadas, relacionadas à química, física e mesofauna de solo, a
planta forrageira, a planta produtora de grãos e aos animais. Desde o início
do experimento, em 2012, foi verificada uma significativa interação entre
os dois fatores de manejo da pastagem para as variáveis de produtividade
de grãos, em que as maiores produtividades vêm sendo obtidas quando
a fertilização nitrogenada ocorre na pastagem e menor produtividade
quando a adubação nitrogenada é feita na lavoura, especialmente quando
essa é semeada nas áreas de menor intensidade de pastejo (Figura 3).

Figura 3 – Produtividade de grãos de milho (kg/ha) em função da época de aplicação do


nitrogênio (200kg/ha) e da intensidade de pastejo.

Esse comportamento de produção de grãos está sustentado pela


maior concentração de nitrogênio mineral no solo (Figura 4), pelo maior
índice de nutrição nitrogenada das plantas de milho (Figura 5), pela maior
quantidade de nitrogênio absorvido e pela alta recuperação de nitrogênio
(Tabela 6), pela maior produção de forragem (Tabela 7) quando o nitrogênio
é aplicado na fase pastagem em lugar de ser aplicado na lavoura.

164
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Figura 4 – Nitrogênio mineral total em função da época de aplicação do nitrogênio


(200kg/ha) e da intensidade de pastejo.

Figura 5 – Índice do status de nutrição nitrogenada do milho em função da época de


aplicação de N e das doses de nitrogênio aplicadas no milho.

165
Tabela 6: Quantidade de nitrogênio absorvido pela pastagem de aveia
preta BRS 139 + azevém tetraploide Barjumbo e porcentagem
de recuperação de nitrogênio em função das alturas de dossel e
das estratégias de adubação nitrogenada.

AAP= alta altura do pasto; BAP= baixa altura do pasto; NP= nitrogênio aplicado na
pastagem; NG= nitrogênio aplicado na cultura de grãos.
Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste Tukey
(P<0,05).

Tabela 7: Produção total de aveia preta e de azevém em consórcio


manejados sob duas alturas do pasto e adubação nitrogenada na
pastagem ou na cultura de grãos em um sistema de Integração
Lavoura-Pecuária.

AAP= alta altura do pasto; BAP= baixa altura do pasto; NP= nitrogênio aplicado na
pastagem; NG= nitrogênio aplicado na cultura de grãos.
Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes pelo teste Tukey
(P<0,05).

166
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Em relação à produção animal também foi obtido melhor


resultado de produção por hectare quando o nitrogênio foi aplicado
na pastagem (Tabela 8), sem haver efeito significativo da intensidade
de pastejo. Importante mencionar que os novilhos inteiros de raça
predominantemente charolesa, foram abatidos ao final da fase pastagem,
em meados de novembro.

Tabela 8: Valores médios para carga animal (CA, Kg de PV/ha), ganho


médio diário (GMD, Kg de PV/ha/dia) e ganho por área (GPA,
kg de PV/ha) nas diferentes épocas de aplicação de nitrogênio.

AAP= alta altura do pasto; BAP= baixa altura do pasto; NP= nitrogênio aplicado na
pastagem; NG= nitrogênio aplicado na cultura de grãos.
Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente diferentes entre si pelo teste
Tukey (P<0,05).

Nesse experimento, os animais foram retirados da pastagem, no


dia seguinte foi feita a dessecação e 15 dias depois a soja foi semeada.
Apenas não foi semeada no mesmo dia da dessecação porque o solo não
apresentava condições adequadas de umidade. O desempenho da soja no
ano agrícola 2014/2015 não foi afetado pelas intensidades de pastejo e
pela época de aplicação do nitrogênio, indicando mais uma vez, que o
pastejo nessa faixa de intensidades, não promove diferenças na produção
da lavoura.
Exemplos como os citados acima apenas fortalecem os argumentos
que foram listados até aqui em prol dos sistemas de ILP, entretanto ainda
há descrença por uma grande parte dos produtores rurais com esses

167
sistemas de produção, os quais costumam dizer que esses sistemas não
foram feitos para a região onde estão inseridos, ou então dizem que esses
sistemas só dão certo nos projetos de pesquisa.
Na região sudoeste do Paraná, os produtores rurais estão inseridos
dentro de diferentes estratégias de uso da terra. Há produtores especializados
em produção de grãos, seja em sucessão ou rotação de cultivos e há os
produtores que fazem uso do sistema ILP. A tabela 9 ilustra algumas
simulações com dados reais, das estratégias de uso da terra empregadas na
região mencionada, bem como discute aspectos econômicos e sustentáveis
de tais estratégias.
Analisando a tabela 9 é possível perceber que a estratégia de uso
da terra que contempla sucessão de cultivos sem ILP, que abrange uma
boa parte das propriedades da região sudoeste do Paraná, figura entre
as menos rentáveis de todas as estratégias possíveis. Considerando uma
estratégia que contemple as premissas de um sistema ILP com grandes
chances de sucesso, ou seja, rotação de cultivos com produção animal,
a renda líquida do produtor está entre as maiores possíveis, além de
que nesse mesmo sistema, o acúmulo de carbono sobre o solo é um dos
maiores e a exportação de nutrientes uma das menores. Corroborando
ao mencionado acima, Silva et al. (2012), avaliaram a rentabilidade do
sistema ILP frente a outros sistemas e pela análise econômica concluíram
que o uso de ILP com recria de novilhas leiteiras em pastagens anuais
de inverno, em substituição ao sistema convencional com o cultivo de
cereais de inverno e plantas de cobertura de solo para o plantio direto é a
alternativa mais rentável para aos produtores.
Entretanto, uma questão pode vir à mente do produtor: Mas
qual fase do sistema eu devo priorizar para alcançar elevada renda líquida
de modo intensivo e sustentável? Fase pastagem, buscando maximizar a
produção animal, ou fase lavoura, procurando maximizar a produção de
grãos? A resposta é de fácil compreensão: Quando o produtor realiza o
manejo da pastagem corretamente, semeando com densidade de sementes

168
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

adequada, adubando na base, adubando em cobertura, trabalha com taxa


de lotação adequada, ele vai alcançar o maior ganho animal por área.
Esse manejo, que otimiza a produção animal é também o manejo que vai
favorecer boas condições de crescimento e desenvolvimento das culturas
de grãos. Isso porque o manejo adequado da fase pastagem não irá causar
danos físicos ao solo como aumento da densidade, vai oferecer uma
adequada quantidade de palhada, o que vai proporcionar supressão de
plantas daninhas que, no final das contas, pode reduzir o uso de herbicidas
além da ciclagem de nutrientes via excretas dos animais e da decomposição
da palhada que servirão de aporte de nutrientes à cultura de grãos.
E que bom que é assim, pois dessa forma o produtor não precisa
ficar em cima do muro pensando se deve manejar melhor priorizando
investimentos em uma fase ou em outra. É preciso não ter receio de investir
em ambas as fases, seguir a risca as premissas e manejos mencionados,
fazer uso dos sinergismos que são criados dentro dos sistemas ILP, que o
sucesso estará garantido.

169
170
Tabela 9: Estratégias de uso da terra empregadas nas áreas agrícolas da região sudoeste do Paraná relacionadas
com respectiva Renda Líquida (R$/ha), Acúmulo de Carbono (kg/ha) e Exportação Total (kg/ha) de
Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K).

Suc. c/ cob. out= sucessão de cultivos com cobertura de outono; Rot. c/ cob. out.= rotação de cultivos com cobertura de outono; Rot. s/ cob. out.= rotação
de cultivos sem cobertura de outono; Suc. c/ cob. out/inv.= sucessão de cultivos com cobertura de outono/inverno; Rot. c/ cob. out/inv.= rotação de
cultivos com cobertura de outono/inverno; Suc. c/ past.= sucessão de cultivos com pastejo; Rot. c/ cob. out. e past.= rotação de cultivos com cobertura de
outono e pastejo; Rot. s/ cob. out. e past.= rotação de cultivos sem cobertura de outono e pastejo; cob= cobertura; past= pastejo
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

2.3 Desafios para maior difusão da ILP

Para fazer com que o sistema ILP seja difundido é preciso que
este, quando implantado demonstre vantagens em detrimento de outros
sistemas, vantagens estas que não são somente financeiras, mas também
de conservação do sistema com o passar dos anos. Desta forma alguns
desafios podem ser pontuados, dentre eles podemos citar:
1. Disponibilidade de mão de obra: Quando dizemos que uma propriedade
vai se diversificar, vai aumentar a produtividade por área, é preciso a
compreensão de que isto vai resultar em maior demanda por mão de
obra. Nos dias de hoje este fato é visto como uma barreira por alguns
produtores, pois a contratação de mão de obra externa pode trazer um
custo muito alto para a atividade e a mão de obra familiar nem sempre
é suficiente para suprir este tipo de necessidade.
2. Disponibilidade de instalações específicas: As propriedades que não tem
em sua cadeia produtiva a produção animal, possuem instalações que
precisam ser ampliadas e/ou melhoradas para abrigar a nova atividade.
A produção de carne por exemplo, exige que a propriedade tenha
disponibilidade de mangueira para manejo dos animais, tronco com
balança, cercas etc. Assim como a atividade leiteira exige a presença de
instalações para ordenha e alimentação dos animais, enfim, diversas
são as adaptações ou ampliações que as estruturas presentes na
propriedade devem sofrer para que se torne possível abrigar animais.
Isto requer investimentos, muitas vezes vindos de outra atividade ou de
algum tipo de financiamento em um primeiro momento.
3. Viabilidade de investimento em áreas não mecanizadas: Grande parte das
propriedades agrícolas contém áreas com relevo mais acidentado e as
vezes pedregoso. Neste tipo de área é incomum existir investimentos
com adubação, implantação de espécies mais produtivas, em se
tratando de pastagens, mas se a produção animal estiver presente nesta
propriedade, investimentos nestas áreas menos produtivas se mostram
de extrema importância.

171
4. Entender a pesquisa como uma possibilidade viável: Este documento trouxe
anteriormente diversas possibilidades baseadas em dados de pesquisa.
Percebe-se na prática uma grande dificuldade de fazer com que a
pesquisa chegue ate o produtor rural, o que seria muito bom no sentido
de que a pesquisa só tem fundamento se ela puder ajudar de qualquer
forma nossos produtores a produzir mais e melhor. Porém de forma
geral os produtores tem uma espécie de “defesa” com o que diz respeito
a aplicar a pesquisa no campo. É necessário fazer os resultados de
pesquisa serem aplicados na prática, a exemplo disso temos a adubação
de sistema, uma visão diferenciada de adubação onde o solo é visto
como o beneficiário e não a cultura a ser implantada, considerando que
a adubação efetuada na pastagem possa ser aproveitada futuramente
pelas próximas culturas. Isto ainda tem sido visto como algo ainda não
praticável pelos produtores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não há duvidas de que os sistemas ILP geram benefícios ambientais


e econômicos, desde que suas premissas sejam contempladas. Na ILP do
sul do Brasil em que a produção de grãos acontece no verão e pastagens
anuais de inverno são submetidas ao pastejo, o correto manejo da pastagem
proporciona alta produtividade animal, melhoria das condições química,
física e biológica do solo, maior retorno econômico na fase pastagem e
aumenta a produção da lavoura no verão. E diminui o custo de produção
da lavoura pela possibilidade de menor uso de fertilizantes.
Importante frisar que “correto manejo de pastagens” significa: 1)
tentar maximizar o tempo destinado à produção animal, antecipando a
semeadura, se possível antes da colheita da lavoura e retardando a retirada
dos animais sem intervalo entre dessecação e semeadura da lavoura; 2) uso
de misturas de espécies/cultivares registrados com ciclos complementares,
que sejam adaptadas a cada região e apresentem uma alta produção e

172
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

valor nutricional da forragem; 3) adubação da pastagem tanto na base


como nitrogênio em cobertura (de 100 a 250kg de N/ha). A adubação
nitrogenada da pastagem representa aumento significativo na produção de
leite e carne por unidade de área, maior facilidade de formação de palhada
e cobertura de solo, palhada com menor relação C/N, maior velocidade
na ciclagem de nutrientes e possibilidade de suspender a adubação
nitrogenada nas culturas subsequentes (feijão e milho); e 4) adequada
intensidade de pastejo, evitando sub e superpastejos (de 15 a 30cm de
altura).
As produtividades que podem ser alcançadas abaixo do paralelo
24, com o uso de forrageiras de metabolismo C3 variam de 200 a 600kg de
PV/ha e, no mínimo, não diminuem a produção da lavoura.
Em maio de 2015, foi elaborado o Plano Integrado de
Desenvolvimento da Bovinocultura de Corte no Estado do Paraná, com a
participação de diversos atores da bovinocultura de corte. Pois é eminente
o aumento de demanda por consumo de carne bovina, pelo crescimento
populacional, pelo aumento de renda per capita de países emergentes e pela
abertura de novos nichos de mercado no hemisfério norte. Dificilmente a
expansão da bovinocultura de corte será feita em detrimento das áreas de
produção de grãos, nesse cenário, em nível estadual, a ILP é a única saída
para o avanço da bovinocultura de corte. Através da ILP é possível aumentar
a produção de alimentos por unidade de área, a renda do produtor, a
riqueza do estado e ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. De
maneira fractal, em nível mundial, a FAO através de seu livro intitulado
“An international consultation on integrated crop-livestock systems for development
– the way forward for sustainable production intensification”, declara que a ILP
é o caminho para intensificação produtiva sustentável, uma das grandes
alternativas para produzir alimentos de forma amigável ambientalmente,
para uma população mundial estimada em 9,2 bilhões de habitantes no
ano de 2050.

173
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175
176
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

ESTRATÉGIAS DE USO DE FORRAGENS


CONSERVADAS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO
ANIMAL A PASTO

Clóves Cabreira Jobim1


Valter Harry Bumbieris Júnior2

1. INTRODUÇÃO

Tem sido amplamente divulgado na mídia mundial que a


agricultura está diante de um desafio sem precedentes. Estima-se que até
o ano de 2050, as necessidades alimentares para uma população crescente
(Estimada em mais de nove bilhões de pessoas no ano de 2050, segundo a
ONU) exigirão um aumento de 60% da produção, e a demanda global para
produtos pecuários aumentará 70% em relação ao ano 2000. Além disso,
a afirmativa de que “essa expansão deve ser principalmente por intensificação
sustentável de produção agropecuária”, deve levar a todos os pesquisadores,
técnicos e demais envolvidos na produção de alimentos a forte reflexão.
Nesse contexto, está inserida a produção de carne e leite em
diferentes sistemas de produção e nível de tecnologia aplicada. O uso
de forragens conservadas como feno ou silagem tem sido cada vez mais
frequente em diferentes sistemas de produção de ruminantes. Vários são
os fatores que tem impulsionado o uso de fenos e silagens na produção de
ruminantes, dentre os quais podemos destacar a maior profissionalização
do pecuarista. Além disso, tem sido muito frequente a ocorrência de

1
Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (ccjobim@uem.br)
2
Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Londrina (jrbumbieris@uel.br)

177
condições climáticas adversas, principalmente com períodos prolongados
de seca, em várias regiões brasileiras. Esses pontos exigem maiores cuidados
no planejamento forrageiro e, em conseqüência, maiores investimentos na
produção de forragens conservadas.
Especialmente na bovinocultura leiteira, os animais não podem
prescindir da qualidade da forragem, durante todo o período de lactação
da vaca, sob pena de baixas produções e mesmo problemas reprodutivos.
Assim sendo, em sistemas de produção de leite a pasto, o uso de silagem
deve ser ponto relevante, uma vez que as pastagens apresentam distribuição
quantitativa e de qualidade bastante variável no ano.
No Brasil a produção de bovinos de corte, estimado pelo IBGE
(2014) em 208 milhões de cabeças, é basicamente em sistemas a pasto.
Poucos animais são terminados em sistemas de confinamento ou semi-
confinamento. Segundo a ABIEC (2015), as estimativas são do abate de
26.963.071 cabeças em 2014, sendo que somente 4,66 milhões foram
terminados em confinamento. É fato plenamente sabido que o desfrute do
rebanho bovino brasileiro é pequeno (entre 16 e 18% segundo Mezzadri,
2014), em razão de fatores como a qualidade e a capacidade de suporte
das pastagens. A taxa de desfrute mede a capacidade do rebanho em gerar
excedente, ou seja, representa a produção (em arrobas ou cabeças) em um
determinado espaço de tempo em relação ao rebanho inicial. Quanto
maior a taxa de desfrute, maior a produção interna do rebanho. Assim,
como a disponibilidade e a qualidade dos pastos tropicais apresentam
variação acentuada no decorrer do ano, é possível que este seja um dos
principais fatores responsáveis pelo baixo desfrute dos rebanhos brasileiros.
A qualidade e a quantidade da massa de forragem ofertada em vários dias
do ano, no qual os animais não têm seus requerimentos atendidos, tem
como conseqüência a baixa performance zootécnica do rebanho. Várias
são as opções para solucionar ou pelo menos amenizar esse problema.
Um planejamento forrageiro adequado deve contemplar uma ou mais
das possibilidades, de acordo com a logística da propriedade. Isso implica
desde a implantação de pastagens de inverno, quando possível, forragens

178
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

conservadas como feno ou silagem, uso de subprodutos da agroindústria,


dentre outros.
Embora a maior parte dos bovinos para abate sejam terminados
em sistema de pastejo, há grande número de animais terminados em
sistema de confinamento ou a pasto com suplementação. Nesse contexto,
o planejamento forrageiro é fator fundamental para o sucesso da atividade.
Nos sistemas de terminação a pasto, o manejo da pastagem é o foco
principal para que os animais disponham de quantidade e qualidade de
pasto durante o período de terminação.
Assim, o presente texto propõe uma abordagem referente às
perspectivas do uso de forragens conservadas, de forma estratégica, em
sistemas de produção de ruminantes a pasto.

2. Possibilidades para uso de forragens


conservadas em sistemas de produção animal a
pasto

Como já destacado anteriormente a distribuição qualitativa e


quantitativa da massa de forragem disponível aos animais em pastejo é
irregular durante o ano. Existe a possibilidade de suplementação baseada
em qualidade da dieta em função do potencial genético do animal ou
suplementação visando suprir a alimentação dos animais no aspecto
quantitativo. Além de outras possibilidades de suplementação, o uso de
volumosos conservados como silagem ou mesmo feno, pode ser uma
interessante estratégia para suplementação dos animais em pastagens.
Nesse contexto, temos duas opções de produção do volumoso conservado:
I. Produção na mesma área de pastagem, com aproveitamento do excedente
de produção nos meses de primavera-verão. II. Produção em áreas distintas
das áreas de manejo dos animais (Ex.: áreas de lavoura).
Na primeira opção (I), é imprescindível que o produtor adéqüe

179
o manejo da pastagem para possibilitar a colheita e armazenagem da
forragem (feno ou silagem), sem que haja prejuízo para a produção de pasto
subseqüente. Ou seja, os cortes devem ser estratégicos em relação à época de
colheita, permitindo a recuperação do pasto para posterior uso em pastejo.
Na segunda opção (II), a produção da forragem conservada deve
seguir todos os princípios para se obter uma silagem ou feno de qualidade.
Além disso, devem ser observadas as informações previamente levantadas
no planejamento forrageiro, tais como: quantidade necessária de forragem
para suplementar os animais; qualidade da forragem em relação aos
requerimentos dos animais que consumirão este alimento; escolha da
espécie forrageira, dentre outros pontos.

2.1 Potencial dos capins para produção de silagem

Segundo Jobim (2013), nos sistemas de suplementação a pasto,


o planejamento forrageiro passa não só pelo manejo da pastagem, mas
também pelo planejamento do alimento complementar, seja volumoso
ou concentrado. Portanto, independente do sistema de produção
de ruminantes, o planejamento forrageiro é de suma importância e,
especialmente quando envolve o uso de silagens, dado ao seu custo de
produção. Cabe aos técnicos e produtores estar atentos aos avanços no uso
de tecnologias que possam melhorar o desempenho animal e da atividade
como um todo.
No caso da ensilagem de capins, atualmente destaca-se os avanços
tecnológicos em alguns pontos específicos, dentre os quais se destaca: o
lançamento de novos materiais forrageiros (cultivares) com maior potencial
de produção e qualidade; novas máquinas com maior eficiência de colheita
e processamento da forragem; aditivos bacterianos mais específicos
para uso em forrageiras de baixa ensilabilidade. Segundo Siqueira et al.
(2008), a adequada formulação de dietas, independente da forrageira a
ser utilizada, gera os ganhos pretendidos. Nesse sentido, o que vai definir

180
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

a opção da forrageira a ser ensilada são as condições para produção na


propriedade, basicamente considerando a logística e o custo de produção
do concentrado. Os valores nutritivos da massa de forragem disponível no
pasto e na silagem determinarão o nível de inclusão de concentrado na
dieta e, consequentemente, o seu custo.

2.2 Potencial dos capins para produção de feno

Em muitas situações é possível produzir feno em áreas de pastagem,


desde que se proceda ao manejo adequado, beneficiando-se dos períodos
de maior crescimento dos pastos. Porém, para que essa tecnologia seja
executada com sucesso, alguns pontos são altamente relevantes, como
por exemplo, a espécie forrageira que está sendo utilizada na formação
das pastagens. Algumas forrageiras, a exemplo de cultivares de Panicum
maximum (Tanzânia, Mombaça), por apresentarem colmos de maior
diâmetro, não apresentam boa desidratação dificultando a fenação. Porém
pastagens formadas com espécies do gênero Cynodon (Bermudas e Grama
Estrela), por exemplo, apresentam ótimas características para a produção
de feno e podem ser empregadas com sucesso.
O princípio básico da fenação resume-se na conservação do valor
nutritivo da forragem por meio da rápida desidratação, uma vez que a
atividade respiratória das plantas, bem como dos microrganismos é
paralisada. Assim, a qualidade do feno está associada a fatores intrínsecos
às plantas que serão fenadas, às condições climáticas ocorrentes durante a
secagem e às condições de armazenamento (Jobim et al. 2012).
O processo de fenação consiste na remoção da umidade da
forragem de valores próximos de 80% para valores abaixo de 20%,
permitindo assim o armazenamento do feno com segurança e baixos
índices de perdas. Não só o teor de matéria seca no momento do corte,
como o tempo de secagem afeta a qualidade do feno produzido (Neres et
al., 2010). As principais causas de mudanças e perdas no valor nutritivo

181
de fenos durante o armazenamento são devidas ao alto conteúdo de água,
que está relacionado com crescimento de microrganismos. A redução
no valor nutritivo, primeiramente é devido à atividade microbiológica e
posteriormente pelo aquecimento, incluindo oxidação de carboidratos
não estruturais (Calixto Junior et al., 2007), ou mesmo complexação de
componentes carboidratos com moléculas protéicas. Nas tabelas abaixo
são apresentados alguns dados sobre a qualidade de feno de gramíneas.

Tabela 1: Teor médio de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro


(FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HCEL),
extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), digestibilidade in
vitro da matéria seca (DIVMS) e digestibilidade in vitro da
proteína bruta (DIVPB), do feno de grama-estrela em função do
teor de umidade no enfardamento.

Médias seguidas de mesma letra nas colunas, não diferem pelo teste Tukey 5%. Fonte:
Jobim et al.(2012).

Tabela 2: Composição bromatológica média e digestibilidade in vitro


da matéria seca (DIVMS) do feno de Tifton 85, em função da
idade ao corte.

Fonte: Gonçalves et al. (2003)

182
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

3. Novos materiais forrageiros (cultivares).

A cada ano as instituições de pesquisa em plantas forrageiras têm


envidado grandes esforços no sentido de disponibilizar aos pecuaristas
cultivares de gramíneas e de leguminosas de alta produção e qualidade.
A busca é sempre por materiais que apresentem alta adaptação ao meio
de cultivo com produção de massa de forragem de alto valor alimentício.
Valor alimentício pode ser definido como a relação entre a composição
bromatológica da forragem e o consumo. Segundo Reis e da Silva (2006),
o consumo é o principal componente na determinação da qualidade da
forragem. Na Tabela 3 são apresentados alguns dados do valor nutricional
de silagens de capins tropicais.

Tabela 3: Valor nutricional de silagens de capins tropicais

Fonte: Reis et al. (2004)

Especialmente para forragens ensiladas o fator consumo tem alta


relevância, uma vez que o padrão de fermentação no silo pode determinar
o aparecimento de substâncias inibidoras de consumo. Vários são os fatores
relacionados na literatura como determinantes do consumo de silagens.
Dentre eles o aumento nos teores de amônia ruminal é muitas vezes
indicado como a principal responsável pela menor ingestão da silagem, mas
a solubilidade da proteína pode ser o maior agente causal, resultando na
produção de amônia. Assim, é de fundamental importância primar pela boa

183
conservação da silagem, evitando o surgimento de compostos que levem a
redução de consumo e, por conseqüência, baixo desempenho animal.

3.1 Uso de aditivos.

O uso de aditivos tem como principal objetivo melhorar o padrão


de fermentação e reduzir perdas no processo de produção e utilização da
silagem. Especialmente na ensilagem de forrageiras de baixa ensilabilidade,
como a maioria dos capins que apresentam baixo teor de açúcares solúveis
e alta capacidade tampão, aliado ao alto teor de umidade, o uso de
aditivos é de grande importância. Embora a maioria dos inoculantes esteja
focada no aumento da produção de ácido lático, atualmente a indústria
de aditivos microbianos atua também na produção de inoculantes para
reduzir as perdas durante a fase de utilização da silagem (Pereira et al., 2008;
Muck, 2008; Kung Jr., 2009). Além disso, o sinergismo entre bactérias
homoláticas e heteroláticas e ainda complexos enzimáticos com foco
em carboidratos estruturais tem elevado o conceito de aditivos enzimo-
bacterianos no mercado brasileiro. Isso porque, a produção de forrageiras
tropicais, ricas em material fibroso, exige maior concentração enzimática
para em menor tempo disponibilizar inclusive carboidratos passíveis de
serem fermentados logo nas primeiras horas após o fechamento do silo.
Ainda no tocante a aditivos, mas com foco em fenos, o mercado
brasileiro tem iniciado a comercialização de produtos enzimo-bacteriano
com propósito de desidratação acelerada ainda antes do corte com as
plantas íntegras, substituindo a utilização de glifosatos em subdosagens.
Essa tecnologia favorece a menor exposição do material ao ambiente de
campo na secagem, antecipando em pelo menos um dia o recolhimento
desse material, além de não submeter pessoas e animais ao contato com
agrotóxicos. Mais estudos devem ser realizados com o propósito de avaliar
a eficácia desses produtos para que realmente possam ser utilizados
sem desconfiança pelos produtores. Estudos estão sendo realizados na
Universidade Estadual de Londrina com esse propósito, porém ainda sem
resultados a serem divulgados.

184
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

3.2 Potencial para uso de forrageiras de inverno

A produção de forragem conservadas com culturas de inverno


pode ser mais uma ferramenta tecnológica para aperfeiçoar a atividade
pecuária, sendo uma alternativa interessante do ponto de vista econômico
e sustentável principalmente para algumas localidades da região sul, onde
áreas destinadas ao pastejo, ou mesmo subutilizadas no inverno poderiam
ser destinadas à produção de silagem desses cereais (Bumbieris Jr, et al.,
2011).
Silagens de cereais de inverno emurchecidos: O emurchecimento
dos cereais de inverno antes da ensilagem é uma técnica amplamente
adotada com o propósito de elevar o conteúdo de matéria seca da
forragem, permitindo condições apropriadas de conservação da forragem
ensilada. O emurchecimento também é considerado uma estratégia de
gestão para reduzir a poluição ambiental (Lorenz et al., 2010; Schmidt
et al., 2011). Desse modo, a remoção parcial de água da planta tem sido
proposta como forma de reduzir a produção de efluentes, decorrentes da
ruptura celular e extravasamento de conteúdo citoplasmático durante o
período de armazenamento da forragem, que leva a perdas significativas do
alimento (Schmidt et al., 2011). Além disso, os mesmos autores relataram
que a produção de efluentes é influenciada primariamente pelo teor de
umidade da forragem levada ao silo, e secundariamente pelo tamanho de
partículas, compactação, aditivos, tipo de silo e de características da planta
no momento da ensilagem.
Dentre as forrageiras de inverno com potencial para ensilagem
estão as aveias, triticale, trigo, centeio e também o azevém que tem sido
largamente utilizado na produção de pré-secado. Na tabela 3, podem
ser observados alguns dados referentes à composição bromatológica e
características fermentativas de silagens de cereais de inverno.

185
Tabela 4: Composição químico-bromatológica e características fermentati­
vas de silagens de cereais de inverno

Fonte: Bumbieris Jr. et al. (2011).

4. Avanços na indústria de Máquinas/


equipamentos para uso na ensilagem

O uso de silagens de capins tropicais teve grande aumento na


década de 90, com lançamento de equipamentos mais adequados para a
colheita e processamento dessa forragem. Empresas nacionais investiram
na produção de equipamentos de maior capacidade operacional. Com
esses equipamentos no mercado vários produtores começaram a investir
na produção de silagens de capins. No entanto, em muitas situações, dado
a uso de tecnologia inadequada na ensilagem, não houve o crescimento
esperado na utilização de capins na forma de silagem. Observações de
campo indicam que isso ocorreu especialmente pela constatação de perdas
elevadas em algumas situações menos tecnificadas. Essa situação resulta

186
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

em elevação nos custos de produção, e em conseqüência redução no uso


de silagens de capins.
Além das questões relativas à ensilabilidade de capins tropicais,
podendo levar a perdas elevadas no processo, a baixa eficiência dos
equipamentos usados para colheita e processamento tem resultado em
silagens de baixa qualidade. Uma das questões freqüentes é a produção
de silagem com tamanho de partícula elevado, o que resulta em silagens
menos compactadas e também menor ingestão. Segundo Reis et al. (2004),
a partir de 2002 as empresas nacionais colocaram no mercado colhedoras
de capim com capacidade de corte de menor tamanho de partícula. Porém,
essas máquinas apresentaram redução acentuada na capacidade de colheita.
Na atualidade as dinâmicas de máquinas voltadas para a técnica
de produção de forragens conservadas como silagem ou feno, têm sido
uma constante. Por meio dessas demonstrações a indústria pretende expor
o que existe de tecnologia nesse mercado de máquinas e equipamentos
e transferir, para os técnicos e produtores os principais avanços das
indústrias de máquinas. Além disso, o aumento da importação de
máquinas para uso na colheita de plantas forrageiras para ensilagem tem
mostrado crescimento nos últimos anos e terceirização desses serviços tem
facilitado principalmente aos grandes produtores a possibilidade de uma
boa confecção de silagens no tocante a implementos.

4.1 Aspectos econômicos da utilização da silagem de capim

Dentre as possibilidades do uso de forragens conservadas, deve


ser considerado sempre o custo de produção. Em estudo com silagens
de milho e de trigo, onde foi avaliado o custo de produção, Gritti et al.
(2013) concluíram que a silagem de trigo é uma alternativa de produção
de volumoso intercalar à produção de silagem de milho, que permite
maximizar a utilização dos silos e aumentar a produção de volumoso na
propriedade.

187
Para produção das silagens foram cultivados o milho híbrido
AG5011 (plantio em outubro de 2011) e o trigo cv. BRS Umbú (plantio
em abril de 2011). Foram avaliados os parâmetros determinação dos
custos das culturas de milho e de trigo, que corresponderam à produção
de matéria verde (MV) ensilável (kg ha-1), de matéria seca (MS) ensilável
(kg ha-1), de grãos (kg ha-1) e nutrientes digestíveis totais (NDT) ensilável
(kg ha-1). Sendo que na análise de custos foram considerados os custos de
estabelecimento e manejo da cultura e colheita para ensilagem.
No custo total de produção dos materiais originais (R$ ha-1), foram
considerados os insumos: sementes, fertilizante químico, herbicida para
dessecação, herbicida seletivo a cultura pós-emergente, óleo mineral,
inseticida e uréia. E na mecanização a pulverização, o corte, transporte da
forragem e compactação na ensilagem. A silagem de trigo proporcionou
uma menor produção de MV (22.771 contra 50.565kg ha-1 de MV), de
MS (9.564 contra 20.226kg ha-1), de grãos (3.329 contra 8.900kg ha-1) e
de NDT (5.834 contra 14.562kg ha-1 de NDT) em relação à silagem de
milho. Em conseqüência disso, a silagem de trigo apresentou maior custo
de produção da MV (74.00 contra 54.00 R$ t-1 de MV), de MS (176.19
contra 135.00 R$ t-1 de MS) e de NDT (288.83 contra 187.50 R$ t-1 de
NDT), comparativamente à silagem de milho. Embora de maior custo de
produção, a silagem de trigo permite maior capacidade de produção de
forragem na propriedade, com uso de áreas para cultivo no inverno. A
ensilagem do trigo é uma alternativa para proporcionar maior flexibilidade
na produção de volumoso em regiões, onde não há produção de silagem
do milho safrinha, ou haja oscilações climáticas e de mercado na cultura
do milho para silagem.
É fato sabido que na maioria das situações os custos com volumosos
são menores em relação aos custos de concentrados, mesmo que o
volumoso seja proveniente de silagens. No entanto, o custo de produção
de volumosos na forma de silagem pode ser bastante variável, dependendo
do sistema de produção e nível de tecnologia aplicado. Reis et al. (2011)
destacam que com o avanço das pesquisas na produção de silagem de

188
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

capim, técnicas como a de emurchecimento associado ao desenvolvimento


de inoculastes microbianos e o desenvolvimento de máquinas mais
eficientes para colheita, proporcionaram maior eficiência no processo de
ensilagem e uma melhor qualidade do produto final, apesar do aumento
significativo no custo de produção do volumoso.
É evidente que o pecuarista sempre deve buscar utilizar um
volumoso que permita melhor operacionalização, considerando a logística
disponível na propriedade, com baixo custo de produção, buscando
maior lucro na atividade. Analisando os custos da terminação de novilhos
confinados com dieta contendo diferentes silagens como volumosos, Reis
et al. (2011) simularam o uso de silagens de milho, de sorgo, da cana-de-
açúcar e de capim Tanzânia.

Tabela 5: Simulação de custos e resultados de confinamento com


diferentes tipos de volumosos ensilados.

Adaptado de Reis et al. (2011).

Os autores verificaram que dentre as opções de volumosos


empregados, os menores custos de dieta, de arroba colocada, de arroba
produzida e maiores valores de lucro foram obtidos quando se utilizou a
silagem de milho na dieta, seguida pela silagem de sorgo, cana-de-açúcar
e silagem de capim Tanzânia, respectivamente. A viabilidade do uso de
silagens de capins, em diferentes sistemas de produção, passa pela adoção
de tecnologia que reduza as perdas no processo e análise dos custos de
produção.

189
4.1 Possibilidades para uso de forragens conservadas em sistemas de
Integração Lavoura Pecuária

Desde o surgimento da Integração Lavoura Pecuária no Brasil,


vários autores têm conceituado este sistema de exploração da terra. O
termo integração lavoura e pecuária tem sido utilizado de forma genérica
para situações de produção em que participem atividades agrícolas e
pecuária, com um mínimo de interface entre elas (Moraes et al., 2013).
Segundo os autores de forma mais restrita podemos adotar o termo
integração lavoura-pecuária como um sistema em que se observa uma
alternância temporária (rotação) de cultivos para grãos e pastagens.
Alvarenga & Noce (2005) conceituam a integração lavoura-pecuária (ILP)
como sendo a “diversificação, rotação, consorciação e/ou sucessão das
atividades de agricultura e de pecuária dentro da propriedade rural, de
forma harmônica, constituindo um mesmo sistema, de tal maneira que há
benefícios para ambas”. Os autores destacam que a ILP possibilita que o
solo seja explorado economicamente durante todo o ano ou, pelo menos,
na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de carne
e de leite a um custo mais baixo, devido ao sinergismo que se cria entre a
lavoura e a pastagem. Já Macedo (2009), conceitua a integração lavoura-
pecuária de forma bem mais ampla. Para este autor, ILP são: “sistemas
produtivos de grãos, fibras, carne, leite, lã, e outros, realizados na mesma
área, em plantio simultâneo, sequencial ou rotacionado onde se objetiva
maximizar a utilização dos ciclos biológicos das plantas, animais, e seus
respectivos resíduos, aproveitar efeitos residuais de corretivos e fertilizantes,
minimizar e otimizar a utilização de agroquímicos, aumentar a eficiência
no uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, gerar emprego e renda,
melhorar as condições sociais no meio rural, diminuir impactos ao meio
ambiente, visando à sustentabilidade”.
Produzir pasto, forragem conservada e grãos para alimentação
animal na mesma área agrícola: Sistemas de Integração de Lavoura
com Pecuária Sucessão de culturas com forrageiras anuais. Depois da

190
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

colheita da lavoura consorciada com o capim, o pasto que se forma é


vedado, até apresentar condições de utilização na entressafra. Nesse caso,
a pastagem formada é considerada a segunda cultura na sucessão. Outra
possibilidade é o cultivo, no início do período chuvoso, de lavoura para
ensilagem. Imediatamente após a ensilagem, planta-se a segunda cultura,
que deve possuir crescimento rápido e tolerância ao déficit hídrico, pois
será implantada no final do período das chuvas (Macedo, 2009). Alguns
cultivares de sorgo, inclusive os destinados para pastejo, e também
cultivares de milheto são materiais que se prestam para essas situações,
especialmente quando o objetivo é somente a produção de forragem na
entressafra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário atual, em relação às tecnologias disponíveis para


produção animal a pasto e para a conservação de forragens como feno ou
silagem, deixam evidente as várias possibilidade de uso desse conhecimento
de forma integrada. Basta aos técnicos e produtores tomarem as decisões
adequadas, observando o sistema de produção adotado na propriedade e a
logística a ser empregada. O conhecimento acumulado, pelas instituições
de pesquisa e práticas de campo, em relação à produção de silagens de
capins é bastante significativo na atualidade. No entanto, grande parte
desse conhecimento acumulado não chega ao produtor. Em razão disso,
questões que hoje são consideradas como entrave no processo de produção
e utilização de silagens de capim, não são sanadas e o produtor não adota
a tecnologia. Nesse contexto destaca-se, por exemplo, as altas perdas
observadas no processo e que poderiam ser reduzidas drasticamente com
uso de tecnologia adequada (uso de aditivos, processamento-tamanho de
partícula, lona,...) no carregamento e utilização das silagens de capins.
Já em relação às práticas de fenação, o volume de informações geradas
pela pesquisa é menor. Porém, é claro o crescimento do mercado de
comercialização de feno no Brasil e muitos produtores têm investido

191
em equipamentos e nas culturas destinadas a fenação, com produção de
forragem de qualidade muito boa.
Para potencializar a eficiência produtiva e alçar níveis de produção
economicamente viáveis dentro de uma economia de escala, a utilização
de forragens conservadas adquire caráter de importância como estratégia
de suplementação, seja por disponibilizar a forragem necessária para a
demanda, como pelo seu custo mais elevado, o que exige uma adequada
condução do processo, com o intuito de não inviabilizar a estratégia.
O aperfeiçoamento dos sistemas de produção de leite e carne com
uso de silagens alternativas também pode minimizar os custos de produção
de volumosos, viabilizando de forma satisfatória a atividade pecuária.

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194
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

UTILIZAÇÃO DO AMENDOIM FORRAGEIRO


EM PASTAGENS DE GRAMÍNEAS DE
ESTAÇÃO QUENTE

Magnos Fernando Ziech1

1. INTRODUÇÃO

Em grande parte das propriedades leiteiras da região Sul do País,


as pastagens são a principal fonte de volumoso para vacas em lactação.
Nesse contexto, destacam-se espécies perenes como as gramíneas de estação
quente. Estas forrageiras apresentam elevado potencial de produção de
massa, concentrada no período estival.
Na maioria destas propriedades, o manejo utilizado em pastagens
tropicais perenes tem se intensificado mediante o uso de variedades
selecionadas, sendo baseado na estratégia convencional de produção.
Neste sistema, normalmente, a cultura é estabelecida de forma singular,
sendo usadas elevadas quantidades de adubos químicos, especialmente
com fontes de nitrogênio (N). Neste modelo, alguns trabalhos evidenciam
que a capacidade de suporte das pastagens é elevada. Há, no entanto,
dificuldades em se manter a uniformidade e a perenidade dos pastos,
sendo comum a degradação de áreas devido a incidência de insetos-praga.
Considerando-se estes aspectos, além de outros, como o custo de produção,
onerado pelo uso de insumos químicos, questiona-se essa sistemática de
produção. Possivelmente, o uso de técnicas consideradas mais sustentáveis

1
Professor Dr. Universidade Tecnológica Federal do Paraná

195
como a consorciação com outras espécies, especialmente leguminosas,
poderia minimizar a utilização de adubos nitrogenados e contribuir para
equilibrar a dieta dos animais.
A associação de gramíneas com leguminosas tropicais vem
sendo um desafio para produtores e pesquisadores, pois mesmo tendo
uma boa condição de estabelecimento, as diferenças entre as espécies
podem determinar a dominância da gramínea. Pesquisas abordando as
consorciações vêm sendo desenvolvidas, principalmente nas últimas
duas décadas, mostrando a necessidade de se viabilizar sistemas mais
sustentáveis de produção de forragem, ultrapassando o caráter regional
das pesquisas, porém, ainda são escassas. Particularmente, para a região
Sul do Brasil, questiona-se o estabelecimento e o desenvolvimento das
leguminosas tropicais singulares e em consórcio, em função das baixas
temperaturas na estação fria e do potencial produtivo das gramíneas no
período estival, tendo relação direta com a perenidade de leguminosas e
contribuição na dieta dos animais.

2. Implantação de pastagens consorciadas

Devido à necessidade de maximização da produção animal, tem-


se a necessidade de fazer com que as forrageiras possam suprir boa parte
das exigências nutricionais dos bovinos. A utilização de leguminosas
visando a formação de pastagens em sistemas consorciados é dependente
da adaptação da cultivar principalmente às condições ambientais, ao tipo
de exploração pretendida e a disponibilidade dos recursos necessários
(Barcelos et al., 2008).
Na implantação de um sistema de produção de forragem
consorciado é fundamental que algumas questões sejam respondidas,
como por exemplo:
– O desenvolvimento da leguminosa é afetado pela espécie/cultivar de

196
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

gramínea utilizada?
– A inclusão de percentuais crescentes de área ocupada, consequentemente
de mudas ou densidade de semeadura da leguminosa altera a produção
de massa de forragem total das pastagens?
– A formação da pastagem é prejudicada pelo maior aparecimento de
espécies de crescimento espontâneo, quando oportunizados maiores
percentuais de leguminosa na implantação dos pastos?
– A participação da leguminosa altera o valor nutritivo do pasto?
– O valor nutritivo dos componentes estruturais das gramíneas é alterado
pelo maior participação de leguminosas no massa de forragem da
pastagem?
Podem-se utilizar métodos de estabelecimento de leguminosas
de estação quente e fria, no momento da implantação da pastagem
(semeadura/plantio de mudas), ou fazê-la em pastagens de gramíneas
previamente estabelecidas.
Neste sentido, uma das estratégias mais usadas na região Sul
do País é a sobressemeadura, que consiste na utilização de uma técnica
simples de semeadura de gramíneas e leguminosas de clima temperado
(estação fria), sobre espécies tropicais perenes no período hibernal.
No inverno os capins tropicais possuem baixa produção, devido
às baixas temperaturas, geadas cumulativas e pouca luminosidade.
Em consequência, a produtividade animal também cai. Assim, a
sobressemeadura contribui para reduzir o uso de concentrados nessa época
do ano. Uma vez que as espécies sobressemeadas, em especial leguminosas
(trevo branco, trevo vermelho, trevo vesiculoso e ervilhaca) são forragens
de alta qualidade.
Ao considerar a substituição do uso do concentrado e de forragens
conservadas, essa prática reduz os custos de produção. Porém o preço da
semente das leguminosas aumenta o custo de produção do pasto. A técnica
diminui as áreas de plantio dos alimentos volumosos, pois utiliza o mesmo

197
espaço do capim tropical. Essa é também uma vantagem ambiental, já que
o produtor não precisa avançar sobre áreas preservadas com matas, nem
usar herbicidas.
No Sul do Brasil, a recomendação para realizar a sobressemeadura
está nos meses de maio e junho, época em que os capins tropicais
praticamente cessam seu crescimento. A semeadura pode ser feita a lanço,
com posterior roçada das espécies tropicais. Pode ser realizada uma roçada
prévia ou um superpastejo antecedendo a semeadura a lanço com posterior
gradagem de nivelamento (cultivo mínimo), soltura de animais visando a
incorporação da semente ao solo, ou ainda pode-se usar semeadoras de
plantio direto, distribuindo a semente em linhas.
Por se tratar de sementes pequenas, duras e com necessidade de
quebra de dormência (principalmente trevos), pode-se fornecer a semente
junto com o concentrado dos animais, com isso, as sementes germinarão
após a defecação, para tal é importante a permanência dos animais na área
a ser sobressemeada.
Outra estratégia que visa viabilizar as leguminosas no sistema
pastoril é a semeadura/plantio em faixas, esta consiste em inserir faixas
de leguminosas junto às ares estabelecidas com gramíneas tropicais. Faz-se
a semeadura após preparo convencional da faixa ou preparo mínimo do
solo. Para espécies com ressemeadura natural (trevo branco), o objetivo é
que o animal consuma as sementes das leguminosas e distribua em toda a
área através das fezes, e, em contrapartida o sistema agressivo de cobertura
do solo das gramíneas, normalmente estoloníferas, possa invadir a faixa de
cultivo implantada com a leguminosa.
Essa estratégia também pode ser usada para o estabelecimento das
leguminosas de estação quente, em especial quando se tratam de espécies
estoloníferas ou rizomatosas. Essas faixas de leguminosas sobre a pastagem
de gramínea tendem a misturar-se com o passar do tempo.
Quando a pastagem base (gramínea) é formadora de touceiras como

198
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

o capim elefante, sugere-se afastar as linhas da gramínea e, no espaçamento


entrelinhas, inserir as leguminosas, neste caso, pode-se utilizar tanto
leguminosas de estação fria quanto quente, fazendo implantação tanto via
semente quanto mudas.
A semeadura/plantio aleatório pode ser utilizada, consiste na
simples introdução de leguminosas, neste caso, tropicais via semente ou
muda em áreas perenizadas com gramíneas. Essa metodologia foi testada
por Santos 2012 e Machado 2013 em Santa Maria, introduzindo-se mudas
de amendoim forrageiro estolonífero em pastagem de Coastcross-1. Fischer
2010 em Capão do Leão, em pesquisa coordenada pela Universidade
Federal de Pelotas, também estudou a esta estratégia, utilizando mudas
de amendoim forrageiro em vegetação campestre formada por grama
seda (Cynodon dactylon) e Capim Annoni-2 (Eragrostis plana). Porém, foi
verificada participação da leguminosa abaixo de 20% da massa total das
pastagens em ambos os locais.
Em pesquisa realizada por Ziech 2014, nas regiões da Depressão
Central do Rio Grande do Sul e no Sudoeste do Paraná, objetivou
justamente encontrar uma metodologia, para a implantação conjunta de
gramíneas do gênero Cynodon com o amendoim forrageiro estolonífero.
Considero o sistema de implantação como sendo em faixas, oportunizando
25, 50 e 75% da área da pastagem para o desenvolvimento da leguminosa,
em linhas espaçadas em 50cm entre si, assim, constituindo pequenas faixas
de 50, 100 e 150cm da leguminosa. Essa sistemática buscou identificar
após a pastagem formada, em qual sistema tem-se participação próxima a
30% da massa de forragem total em leguminosa.
Verificou-se no referido estudo em ambos os locais, que o
amendoim forrageiro apresentou participação crescente, em conformidade
com o oportunizado no plantio, no entanto, no Paraná, a utilização de
75% da área de plantio com amendoim forrageiro promoveu participação
próxima a 30% de leguminosa na massa de forragem total em pastagens
completamente estabelecidas, enquanto no Rio Grande do Sul o percentual

199
médio foi abaixo dos 15% de amendoim forrageiro na massa de forragem
total, mesmo no maior nível de área implantada com a leguminosa.

3. Leguminosas em consórcio com pastagens do


gênero Cynodon

As gramíneas do gênero Cynodon, são bastante usadas na atividade


leiteira, principalmente em pequenas e médias propriedades em função
das vantagens nutricionais, do potencial produtivo, da resposta à
fertilização e da adaptação a diferentes ambientes (Vilela et al., 2006), vêm
se destacando por sua adaptabilidade em distintas condições ambientais e
flexibilidade de uso (Carnevalli et al., 2001). Por outro lado, o crescimento e
a persistência das gramíneas são frequentemente limitados pela deficiência
de N no solo e pela estacionalidade da produção na estação fria, sendo
assim, o consórcio com outras espécies pode constituir uma estratégia de
alimentação importante para equilibrar a oferta e a qualidade de forragem,
uma vez que essas espécies podem apresentar alto valor nutritivo e picos de
produção em épocas distintas (Gerdes et al., 2005).
O clima frio e úmido do Sul do País impõe restrições ao cultivo
dessas forrageiras durante o período hibernal, o que não ocorre na
maioria das regiões do Brasil, onde essas gramíneas são tradicionalmente
cultivadas. Experimentações conduzidas, notadamente nos últimos 15
anos, têm contribuído para o avanço destas forrageiras em todas as regiões
do País (Alvim et al., 1999; Oliveira et al., 2000; Vilela et al., 2005; Olivo
et al., 2010).
A utilização de leguminosas em consórcio com gramíneas nas
pastagens melhora a qualidade da forragem, principalmente por aportar
maior suprimento de N, principal limitante dentro do sistema solo-planta-
animal (Maraschin,1994). Além disso, a introdução de leguminosas vem
sendo sugerida como ferramenta para se aumentar a capacidade de suporte

200
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

e o prolongamento da produtividade do pasto (Almeida et al., 2003).


A consorciação de forrageiras do gênero Cynodon com outras
espécies, em especial leguminosas, não é comum, no entanto, pesquisas
realizadas por Paris et al. (2008), Lenzi et al. (2009), Barbero et al. (2010),
no Paraná, indicam essa possibilidade. Para o clima tropical, o amendoim
forrageiro tem se mostrado uma alternativa viável na produção forrageira,
Andrade e Valentim (1999), trabalhando no Acre, indicam boa capacidade
de produção de forragem da leguminosa, mesmo em condições elevadas
de sombreamento.
O uso de pastagens constituídas por espécies forrageiras de
diferentes ciclos produtivos contribui para equilibrar e estender a
produção de forragem no decorrer do ano, quando comparado ao cultivo
singular (Steinwandter et al., 2009). No estabelecimento de sistemas
forrageiros em consórcio, busca-se aumentar a proporção de leguminosas
ao longo dos ciclos, porém, isto raramente é verificado. Nesse aspecto,
observa-se o trabalho de Santana et al. (1998), ao pesquisarem Brachiaria
dictyoneura consorciada com Arachis pintoi, e verificaram aumento
médio na participação da leguminosa de 8 para 13% após um período
de 3 anos de pastejo. Também Oliveira (2004), revelou que em 2002 os
valores de Arachis pintoi na pastagem consorciada com Coastcross-1 não
ultrapassaram 5%, e, em 2004, chegaram a 10% da MS total da pastagem,
demonstrando sua capacidade de consorciação com gramíneas do gênero
Cynodon.
Pastagens de gramíneas com presença de leguminosas geralmente
proporcionam maiores teores de PB e digestibilidade, incorporando
também o N atmosférico ao sistema pastoril, aumentando o potencial
produtivo e reduzindo os custos de produção (Machado et al., 2005).
Comparando sistemas forrageiros utilizando o capim estrela singular e
consorciado com amendoim forrageiro, Gonzales et al. (1996) relataram
aumentos entre 1,1 e 1,4kg de leite vaca-1 dia-1 na mistura forrageira,
acrescentando ainda 14,3 e 13,6% a produção por área em dois períodos

201
de avaliação.
Segundo Mertens (1994), o conhecimento do valor nutritivo
de pastos de gramíneas consorciadas com leguminosas e adubadas
com N é fundamental para a caracterização do pasto disponibilizado,
podendo, assim, estabelecer sua relação com o consumo e o desempenho
animal. Lenzi et al. (2009) estudando o consórcio entre Coastcross-1 e
amendoim forrageiro sob níveis de adubação nitrogenada em Paranavaí
– PR, verificaram teores de FDN de 45% para a leguminosa, abaixo dos
encontrados por Carulla et al. (1991) na Colômbia, que verificaram nas
folhas de Arachis pintoi valores de 50% de FDN. No entanto, existem poucos
trabalhos que demonstram os benefícios que ocorrem em um sistema de
consórcio entre gramíneas e leguminosas com utilização limitada de N.

3.1 Produção e valor nutritivo de pastagens consorciadas

Em trabalho conduzido por Ziech (2014) no Sudoeste


Paranaense, testando crescentes percentuais de área oportunizada para
o desenvolvimento do amendoim forrageiro desde o a implantação da
pastagem consorcidada, durante dois anos agrícolas, verificou que o
acréscimo da área plantada com a leguminosa não alterou a produção
de total de forragem em nenhum dos anos pesquisados (Tabela 1).
Em Paranavaí – PR, Barbero et al. (2009) estudando a cv. Coastcross-1
consorciada com amendoim forrageiro em pastejo contínuo e submetida
(100kg ha-1 ano-1 de N) ou não a adubação nitrogenada, encontraram 15,6
e 13,2ton ha-1 ano-1, respectivamente.

202
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Tabela 1: Produção total de forragem em pastagens de Cynodon


consorciadas com crescente percentual de amendoim forrageiro
em dois anos agrícolas. Dois Vizinhos – PR, 2013.

Letras distintas maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas diferem entre si pelo teste
de Tukey a 5% de significância (P<0,05). Ns= não significativo.

Em mesmo trabalho Ziech, (2014) verificou que a massa de


forragem disponível, cortada a 7cm do solo apresentou interação entre
as estações de corte e o percentual de área implantada com amendoim
forrageiro (Figura 1), apontando efeito linear descendente para as duas
primeiras estações avaliadas (primavera de 2011 e verão de 2012), sendo
justificado pela falta de cobertura total do solo, tanto pela gramínea, que
percentualmente participava menos na área total, quanto pela leguminosa
que apresentou desenvolvimento inicial lento. A partir do outono de
2012 as massas de forragem disponíveis apresentaram similaridade
quanto ao percentual de área implantada com amendoim forrageiro.
Porém, o percentual de área implantada com amendoim forrageiro não
proporcionou efeito significativo na taxa de acúmulo ao longo das estações
pesquisadas.

203
Figura 1 – Equações de regressão para massa de forragem disponível da interação entre
percentual de área implantada com amendoim forrageiro e estações de corte em pastagens
do gênero Cynodon ao longo de dois anos agrícolas. Dois Vizinhos – PR, 2013.

As leguminosas forrageiras apresentam desenvolvimento inicial


mais lento (Valentim et al., 2003), nesse sentido, as gramíneas por seu
acelerado crescimento inicial, tem maior taxa de cobertura do solo,
consequentemente maior participação na massa total da pastagem. Na
pesquisa conduzida por Ziech (2014), maiores participações do amendoim
forrageiro foram encontradas utilizando níveis de 75% de área implantada
com a leguminosa no plantio, nos cortes efetuados no outono de 2013
(1.034kg ha-1 de MS) para a massa de forragem coletada acima de 7cm,
correspondendo a 31,1% (Tabela 2). Esses valores estão próximos à
recomendação de 30,0% indicada por Thomas (1994), proporcionando
equilíbrio às perdas de N do sistema e contribuindo para manter a
fertilidade do solo e a produtividade em longo prazo e de Cadish et al.
(1994), que recomenda de 13,0 e 23,0% de leguminosas como condição
necessária para manter a sustentabilidade do sistema.

204
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Tabela 2: Massa de forragem e participação (%) média de lâminas


foliares, colmo + bainha e amendoim forrageiro em pastagens
de Coastcross-1 e Tifton 85 estabelecidas de forma singular
ou em consórcio durante as estações produtivas em dois anos
agrícolas. Dois Vizinhos – PR, 2013.

Dados não analisados estatisticamente. AAF= área implantada com amendoim forrageiro.

Ainda no trabalho realizado por Ziech (2014), verificou-se 659;


627 e 583kg ha-1 de MS da leguminosa nos consórcios utilizando 50%
da área implantada com amendoim forrageiro, representando 12,4;
12,8 e 11,8%, para as estações de primavera de 2012, verão e outono de
2013, respectivamente. Paris et al. (2008) em Paranavaí – PR, avaliando

205
o consórcio entre Coastcross-1 e amendoim forrageiro, verificaram baixa
participação da leguminosa, variando de 2,0 a 8,0% na massa de forragem,
com maiores valores na pastagem consorciada sem adubação nitrogenada
e em especial nos estratos inferiores e intermediários. Em mesmo local,
Ribeiro et al. (2012), conduzindo trabalho similar, observaram de 6,0 a
9,0% de participação do amendoim forrageiro na massa de forragem total.
Em trabalho desenvolvido na Depressão Central do Rio Grande do Sul,
no período de outubro a abril, Azevedo Júnior et al. (2013) verificaram
em média 25,5% de amendoim forrageiro na entrelinha de pastagens
consorciadas com capim elefante estabelecido em linhas afastadas a cada 4
metros. Maiores produções no final do verão (1.111kg ha-1 de MS) e início
de outono (1.282kg ha-1 de MS), foram verificadas por Steinwandter et
al. (2009), em Santa Maria – RS, podendo estender-se, dependendo da
ocorrência das primeiras geadas.
Em consórcio de amendoim forrageiro com capim Massai, Andrade
et al. (2006), também verificaram que a participação da leguminosa
aumentou ao longo do estudo, encontrando para o último trimestre de
avaliação participação de 23,5% da MS das pastagens mantidas com dossel
mais baixo e mais aberto.
A maior presença da leguminosa pode propiciar melhor
desempenho zootécnico, desde que, se confirme essa maior participação
também na dieta dos animais, podendo ainda contribuir com a produção
de massa das gramíneas por meio da fixação biológica de N, tanto em
associações com as bactérias do gênero Rhizobium como pela decomposição
do material morto e senescente.
As pastagens são a principal fonte de nutrientes para os rebanhos,
sendo a forma mais prática e econômica de alimentação (Souza et al.,
2005). No entanto, a condição básica para produzir leite sustentado com
base no pasto passa pela otimização do sistema de produção, operando
com um custo mais baixo.

206
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Na maioria das propriedades que utilizam gramíneas tropicais


para alimentação do rebanho, a implantação é feita de forma singular.
Porém a resposta dessas forrageiras depende das condições de manejo
a que são submetidas. Nesse sentido, a consorciação com leguminosas
contribui para a melhoria dos recursos envolvidos, além de possibilitar
maior equilíbrio na dieta dos animais (Vidor & Jacques, 1998). Segundo
Quadros e Maraschin (1997), as misturas forrageiras melhoram o
desempenho animal pela elevada digestibilidade e altas concentrações de
N nas leguminosas. Nestes casos é necessário que as espécies utilizadas na
consorciação tenham características que permitam o bom desenvolvimento
de ambas simultaneamente.
O amendoim forrageiro surgiu como opção para a melhoria dos
sistemas de pastejo no Sul do Brasil (Affonso et al., 2007), principalmente
pela adaptação dessa espécie às condições climáticas desta região, mantendo
seu valor nutritivo por um longo período (Nascimento et al., 2010).
Esta leguminosa, quando usada na formação de pastagens consorciadas
apresenta bom desenvolvimento e elevado valor nutritivo, estabelecendo-
se bem com gramíneas agressivas como as do gênero Cynodon (Pizzani et
al., 2010). Verifica-se para a cv. Amarillo valores de 15 a 22% de PB e 62
a 73% de digestibilidade, além de este representar o maior volume de
informações sobre o potencial forrageiro da espécie (Nascimento, 2006).
Em estudo realizado por Lascano (1999), utilizando Brachiaria
spp. prostrada e semi-ereta consorciadas com leguminosas prostradas,
verificou-se que a proporção de leguminosa da dieta foi relacionada a sua
presença na pastagem. Assim, o benefício da inclusão de leguminosas em
pastagens tropicais pode ser explicado pela manutenção do nível adequado
de proteína da dieta do animal, sendo pelo efeito direto da ingestão de
leguminosas ou pelo acréscimo do conteúdo de N à gramínea via fixação
biológica (Almeida et al., 2003).
Ziech (2014) verificou similaridade nos teores de PB, DIVMS,
DIVMO, MM e NDT para o amendoim forrageiro exclusivo durante dois

207
anos agrícolas, com médias acima de 25,0% para PB (Tabela 3). Em Capão
do Leão - RS, Nascimento et al. (2010), estudando doses de P e K ao longo
de intervalos de cortes distintos, verificaram resultado similar ao presente
estudo, observando 24,4% de PB no amendoim forrageiro cv. Alqueire
com intervalo de corte de 21 dias.

Tabela 3: Valor nutritivo (%) do amendoim forrageiro ao longo de dois


anos agrícolas. Dois Vizinhos – PR, 2013.

Letras distintas minúsculas nas linhas diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância (P<0,05). Ns = não significativo (P<0,05)

Para os percentuais de FDN e FDA no amendoim forrageiro


exclusivo (Tabela 3), observados por Ziech (2014) observou-se ao longo
do estudo, maiores valores no verão de 2013, possivelmente em função
da menor disponibilidade hídrica no período. No entanto, em média
foram inferiores aos resultados obtidos por Paris et al. (2009) e Azevedo
Júnior et al. (2013) que encontraram respectivamente, 50,0 e 48,3%
de FDN e superiores aos obtidos por Nascimento et al. (2010) que
reportaram em média 43,5% de FDN para planta inteira de amendoim
forrageiro.
O menor teor de FDN presente no amendoim forrageiro quando
comparado a gramíneas do gênero Cynodon, contribuiu com a diminuição
desse componente na massa de forragem total da pastagem consorciada,

208
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

a medida que se observou um aumento de sua participação no sistema


(Figura 2).

Coastcross-1 Tifton 85
76,5
75,0
75,0
73,5
73,5

Fibra em detergente neutro (%)


72,0
Fibra em detergente neutro (%)

72,0
70,5
70,5
69,0
69,0
67,5
67,5
66,0 Verão/2012 y = 73,06 - 0,0375x r²adj=0,77
Verão/2012 y = 71,27 - 0,0515x r²adj=0,86
66,0 Outono/2012 y = 74,48 - 0,0747x r²adj=0,93
Outono/2012 y = 71,82 - 0,0638x r²adj=0,93
64,5 Primavera/2012 y = 73,60 - 0,0692x r²adj=0,93
Primavera/2012 y = 72,71 - 0,0748x r²adj=0,98
64,5 Verão/2013 y = 76,20 - 0,0814x r²adj=0,96
Verão/2013 y = 74,44 - 0,0680x r²adj=0,64
63,0 Outono/2013 y = 73,57 - 0,1055x r²adj=0,62
Outono/2013 y = 74,77 - 0,1277x r²adj=0,73
63,0
0,0 0,0
0 25 50 75 0 25 50 75

Área implantada com amendoim forrageiro (%) Área implantada com amendoim forrageiro (%)

Figura 2 – Equações de regressão para fibra em detergente neutro (FDN) na massa de


forragem da interação entre cultivares de Cynodon, estações e percentual de área implantada
com amendoim forrageiro. Dois Vizinhos – PR, 2013 (ZIECH, 2014).

Nesse sentido, a inclusão de leguminosas na pastagem e


posteriormente na possível forragem selecionada pelos animais é uma
importante estratégia para a diminuição dos teores de fibras consumidos,
auxiliando no aumento da digestibilidade da dieta.
Segundo Paris et al. (2009), pastagens de Coastcross-1 consorciadas
com amendoim forrageiro sem adubação nitrogenada apresentaram em
média 60,4% de DIVMS nas folhas, aumentando para 63,9% com adição
de 100kg ha-1 de N e para 66,0% em pastagens exclusivas de Coastcross-1
adubadas com 200kg ha-1 de N, para colmos, esses mesmos autores não
verificaram efeito da adubação nitrogenada, observando média de 54,0%
de DIVMS. Em mesmo local, Ribeiro et al. (2012), encontraram valores
de DIVMS superiores ao presente estudo, sendo de 77,6; 75,1 e 69,0% nas
folhas e 66,4; 64,9 e 61,5% nos colmos na estações de primavera, verão e
outono, respectivamente. Paciullo et al. (2001) encontraram para folhas e
colmos jovens de Tifton 85, DIVMS de 66,1% utilizando 60 kg ha-1 de N.

209
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pastagens utilizando gramíneas de estação quente como base,


tanto singularmente quanto em consórcio, demonstram potencialidades
na produção de massa de forragem e no valor nutritivo no decorrer dos
anos agrícolas.
Mesmo pequenas participações de amendoim forrageiro nas
pastagens, promoveram melhoria no valor nutritivo da massa de forragem
disponível, em função da qualidade bromatológica da leguminosa.
A adoção do amendoim forrageiro ou qualquer outra leguminosa
tropical em pastagens é muito pequena no Brasil, isso se deve em partes
pelo elevado preço da semente, estabelecimento lento, baixo número de
cultivares ou até mesmo pelo desconhecimento dos benefícios por parte
dos produtores. Nesse sentido, a adoção de pastagens consorciadas deve
levar em consideração a relação entre potencialidade e limitação das
cultivares.
A utilização dos consórcios na formação dos pastos é mais
complexa que o uso de pastagens singulares, principalmente quando se
remete ao manejo do sistema, pois inclui a competição entre espécies, a
resposta à adubação, à altura do resíduo, entre outras, esses fatores indicam
além da persistência, a participação das espécies a cada utilização. Assim
sendo, ainda são necessários estudos que busquem compreender a relação
das diversas espécies de leguminosas consorciadas com as gramíneas
tropicais, oportunizando na implantação das pastagens mais espaço para
a leguminosa, visando uma participação regular de 20 a 30% da massa
de forragem total dos consórcios formados. Nessa sistemática, pesquisas
sob condições de pastejo são fundamentais para que se possa determinar
o efeito do animal sobre o ambiente pastoril, principalmente quanto a
seletividade e o pisoteio.

210
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

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216
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

MITIGAÇÃO DE GASES ESTUFA E


IMPACTO NA PECUÁRIA

Ana Cláudia Ruggieri1


Abmael da Silva Cardoso2
Elisamara Raposo3
Estella Rosseto Janusckiewcz4
Liziane de Figueiredo Brito5
Luíza Freitas de Oliveira Melo6
Mariana Vieira Azenha7
Ricardo Andrade Reis8

1. INTRODUÇÃO

Desde a revolução industrial a concentração dos gases de efeito


estufa (GEE) tem crescido significativamente. Os três principais gases de
efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido
nitroso (N2O). Os gases CH4 e o N2O, em um período de 100 anos, têm
poder de aquecimento global equivalente a 25 e 310 vezes maior do que o
CO2 respectivamente (IPCC, 2007). Ao nível global a pecuária é responsável
por 15% das emissões de GEE e no Brasil por aproximadamente 38%. Em
face da expressão da pecuária no Brasil, o seu peso é maior dentro das
emissões totais do país, o que desafia os pesquisadores a encontrar meios
de mitigar as emissões destes gases pela pecuária.

1
Prof. Assistente Doutor do Dep. Zootecnia, UNESP, Jaboticabal, SP.
2
Doutorando do Curso de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP, Jaboticabal, SP.
3
Doutorando do Curso de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP, Jaboticabal, SP.
4
Pós-doutorando do Dep. Zootecnia. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/ UNESP), Jaboticabal, SP.
5
Pós-doutorando do Dep. Zootecnia. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/ UNESP), Jaboticabal, SP.
6
Doutorando do Curso de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP, Jaboticabal, SP.
7
Pós-doutorando do Dep. Zootecnia. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/ UNESP), Jaboticabal, SP.
8
Prof. Assistente Doutor do Dep. Zootecnia, UNESP, Jaboticabal, SP.

217
Na pecuária, o CH4 é produzido principalmente pela fermentação
entérica. Durante a digestão dos bovinos, parte da energia ingerida é
perdida na forma de CH4. O percentual perdido varia de acordo com
a dieta do animal e quantidade de fibra ingerida (Johnson & Johnson,
1995). Quando os animais são mantidos em pastagens, o IPCC (2006)
preconiza que 6% da energia total ingerida deverá ser convertida em CH4
pelas bactérias metanogênicas do rúmen e, 4% quando em confinamento
ingerindo alta quantidade de grãos. A pecuária ainda contribui para a
emissão de CH4 através das fezes excretadas pelos bovinos. Junto com as
fezes frescas são excretadas bactérias metanogênicas possibilitando uma
produção de CH4 pelas excretas. A emissão anual de CH4 pelas fezes
segundo o IPCC (2006) é de 1kg por animal adulto.
O N2O é um gás produzido durante os processos de nitrificação e
desnitrificação, os quais são regulados pela quantidade de N disponível,
umidade, temperatura, pH, potencial redox do solo e C-lábil (De Morais
et al., 2013). Grandes quantidades de N são retornadas para o solo através
da excreção dos animais e também pela fertilização nitrogenada das
pastagens. Parte deste N é diretamente emitido na forma de N2O, outra
parte é volatilizada ou lixiviada contribuindo indiretamente para emissão
de N2O. O Brasil é carente de estudos que quantificaram a emissão por
fonte e por região de N2O pela pecuária bovina.
O CO2 é emitido principalmente pela mudança no uso da terra
como conversão de floresta em pastagens, pastagem em agricultura,
agricultura em floresta, etc. A respiração do solo tanto autotrófica como
heterotrófica envolve processos químicos, físicos e biológicos. Fatores
bióticos e abióticos, como o suplemento de substrato, temperatura,
umidade, O, N, textura e pH afetam a produção de CO2 (Luo & Zhou,
2006). O ciclo do carbono depende do balanço de CO2 emitido e
assimilado através da fotossíntese (Conant, 2010). O CO2 assimilado pode
vir a ser estocar carbono na vegetação, raízes e no solo.
O presente trabalho tem como objetivo abordar temas relacionados

218
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

à emissão de gases de efeito estufa na atividade pecuária, apresentando


resultados de emissões de GEE disponíveis no país até o momento, e
potencial do sistema no sequestro de carbono atmosférico.

2. Gases de efeito estufa na atividade pecuária

2.1 CH4 emitido pela fermentação entérica

O objetivo da maioria dos produtores de carne é maximizar a


rentabilidade, otimizando o produto final e redução do uso de insumos,
porém um ponto importante a ser destacado são as emissões de GEE por
bovinos. A pecuária brasileira vem sofrendo grande pressão a respeito da
contribuição da atividade para o aquecimento global, principalmente com
relação à emissão de CH4, que é um gás produzido naturalmente pelo
processo de fermentação do ruminante e possui potencial de aquecimento
25 vezes maior que o CO2 (IPCC, 2007). A produção de CH4 entérica
pelos ruminantes está diretamente relacionada ao consumo de alimentos,
sendo maior a produção de CH4 quanto maior o consumo do animal
(Lancaster et al., 2009).
A pecuária contribui para as emissões de CH4 por duas vias:
fermentação entérica e dejetos animais. As emissões globais desse gás,
geradas a partir dos processos entéricos, são estimadas em 7,1 Gt CO2-
equiv./ano, correspondendo cerca de 18% das emissões totais de CH4
geradas por fontes antrópicas (Hristov et al., 2013).
A produção de CH4 no rúmen está diretamente relacionada com
a concentração de H2 (Chaucheyras et al., 1995). Á medida que ocorre a
fermentação dos carboidratos no rúmen, aumentam-se os teores de H2 que,
se não forem removidos, inibem os sistemas enzimáticos que envolvem o
NADH, enzima importante na fermentação dos carboidratos (Pedreira,

219
2004). Estudos realizados por Johnson &Johnson (1995) e McAllister et
al. (1996) revelaram que a emissão de CH4 proveniente da fermentação
ruminal depende principalmente do tipo de animal, nível de consumo
de alimentos, tipo de carboidratos presentes na dieta, processamento
da forragem, adição de lipídeos no rúmen, suprimento de minerais,
manipulação da microflora ruminal e da digestibilidade dos alimentos.
Por essas razões, alguns estudos indicam que para haver redução das
emissões de CH4 pela pecuária deve se adotar medidas que refletem na
melhor eficiência produtiva do sistema.
Moss & Givens (2002) citam que o desempenho mais elevado
dos animais pode reduzir a emissão de CH4 em função da redução no
número de animais no sistema de produção, considerando ainda que,
em criações que visam produção de carne, aumento no desempenho dos
animais resulta em menor permanência do animal no sistema, reduzindo
a produção do gás durante o ciclo de vida.
Existem muitas técnicas para quantificar a emissão individual ou
em grupo de CH4 ruminal. Mais recentemente, foi desenvolvida uma nova
Técnica do gás traçador SF6 para medição de campo do metano ruminal
em bovinos, utilizando um gás traçador inerte, o hexafluoreto de enxofre
(SF6), sem as limitações encontradas em outras técnicas, o que possibilita
realizar as aferições com animais em situação normal de pastejo. O
sistema GreenFeedTM (C-Lock, Rapid City, South Dakota, USA), proposto
recentemente como um novo método para estimar a produção metano
entérico em animais livres em pastejo com menor custo comparado com
as técnicas do gás traçador SF6 e as câmaras respirométricas. O GreenFeed
monitora quantitativamente as emissões por animal, enquanto este visita
frequentemente o sistema para receber uma recompensa alimentar várias
vezes ao dia, e resultados obtidos por Zimmerman et al. (2013) mostram
que as emissões obtidas com o sistemas foram consistentes, repetíveis e,
em geral, comparáveis com as taxas de emissão de metano estimada pela
técnica do SF6, que foi descrita por Johnson et al. (1994), e está sendo

220
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

utilizada em muitos países, como citado por Berndt et al. (2014), inclusive
no Brasil (Pedreira et al., 2009, Cota et al., 2014).
Estudos vêm sendo realizados com intuito de avaliar o efeito do
consumo alimentar residual (CAR) na mitigação do metano entérico, e
animais com CAR negativo, mais eficientes, consomem menor quantidade
de alimento para um determinado ganho de peso e consequentemente
emitem menos metano (Nkrumah et al., 2006). Esses estudos indicam
que a identificação e seleção de animais mais eficientes contribuem para
a diminuição das emissões de CH4, pois o consumo de MS está altamente
relacionado com a emissão desse gás. (Hegarty et al., 2007; Fitzsimons et
al., 2013).
Neste sentido, foram realizados estudos com a parceria UNESP
(Jaboticabal, SP) e IZ (Sertãozinho, SP), para avaliação da produção de
metano entérico de bovinos em confinamento e pastagem. Foram utilizados
47 animais para avaliações de desempenho e produção de metano. Oliveira
(2014) verificou diferença de 5,6% (Tabela 1) na produção de CH4 entérico
(gdia-1) detectados entre animais de baixo e alto CAR no confinamento.
A autora atribuiu essa diferença ao menor CMS nos animais baixo CAR,
semelhante aos resultados verificados por Herd et al. (2002) e Okine et al.
(2003). Os valores de produção de CH4 (35,5 a 39,1kg CH4ano-1) indicados
na Tabela 4, foram inferiores as estimativas descritas por Cederberg et al.
(2009) de 47 a 56kg CH4 ano-1 em bovinos jovens no Brasil e pelo IPCC
(2006) que estimaram emissão média de 49kg CH4 ano-1 para bovinos
jovens na América Latina. Por outro lado, neste estudo não foi observada
diferença na produção de metano entérico (g CH4 dia-1 e kg CH4 ano-1) em
animais baixo e alto CAR mantidos em pastagem. Os dados de emissão de
CH4 (g CH4 dia-1) foram menores (99,5 e 97,2g CH4 dia-1) que os dados
apresentados por Pedreira et al. (2009) em novilhas mantidas em pastos de
Brachiaria brazantha cv. Marandu não adubados (179,2g CH4 dia-1).

221
Tabela 1. Produção de metano (CH4) entérico e eficiência alimentar de
bovinos Nelore de baixo e alto consumo alimentar residual
(CAR) em confinamento e pastagem.

1
Ganho médio diário; 2Consumo de matéria seca. Adaptado de Oliveira (2014).

A variação da produção de CH4 através da eficiência alimentar em


dieta à base de forragem tem o potencial de selecionar separadamente a
eficiência alimentar e a produção de CH4. Esta mesma variação também
pode descrever as observações contraditórias deste estudo, pois selecionar
bovinos de corte para aumentar a eficiência alimentar não significa que
haverá uma redução na produção de CH4 (Freetly et al., 2013).
Diante do cenário onde se somam exigências (rastreabilidade,
carne de qualidade, questões sanitárias e ambientais) tanto do governo
quanto dos ambientalistas, é necessário que o pecuarista entenda a
importância de elevar a produtividade para garantir a rentabilidade do
empreendimento pela diluição dos custos fixos de produção e dos custos
de oportunidade do uso do capital, visando à redução do custo médio de
produção.

2.2 Emissão de N2O e CH4 em pastagens

O óxido nitroso (N2O) é um potente gás de efeito estufa. Sua

222
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

concentração na atmosfera aumentou 252% em relação ao nível pré-


industrial (anterior a 1750), atingindo 325,9±0,1 ppb em 2013, segundo
a última avaliação da Organização Meteorológica Mundial publicada em
2014 (WMO, 2014). O N2O considerando o horizonte de 100 anos possui
poder de aquecimento global equivalente a 310 vezes a de uma molécula
de CO2. Este gás é emitido diretamente através da produção de nylon,
uso de fertilizantes nitrogenados, pelas excretas dos animais e também
indiretamente através da volatilização de amônia ou lixiviação de nitrato
(Crutzen, 1973).
O N2O é produzido durante as reações de nitrificação e
desnitrificação. A quantidade e velocidade é regulada pela quantidade de
N disponível, umidade do solo, temperatura, potencial redox e pH do
solo (Firestone & Davidson, 1989; Dobbie et al., 1999). Em nível global a
pecuária é responsável por 14.5% do total de GEE emitido para a atmosfera
e, deste total, 44% corresponde a emissão de CH4 e 29% é atribuída ao
N2O (Gerber et al., 2013). No caso do Brasil em 2012, 78,3% e 57,7% de
todo o CH4 e N2O emitido, respectivamente, foram atribuídas a atividade
pecuária (MCTI, 2014). O enorme rebanho do Brasil de aproximadamente
215 milhões de cabeças de bovinos contribui para esse número.
O Brasil como signatário do protocolo de Quioto é obrigado a
reportar suas emissões de GEE efeito estufa através de inventários. O
inventário de GEE é feito ou com base em fatores de emissão preconizados
pelo IPCC (IPCC, 2006) ou através de fatores de emissão medidos
localmente. O fator de emissão default para emissão de N2O pelas excretas
de bovinos em pastagens no Brasil é de 2% do total de N depositado. em
pastagens pelas excreções dos animais. O Brasil ainda deve se reportar
as emissões indiretas, sendo o fator default de 0,75% do N volatilizado
e 1,0% do N lixiviado emitido como N2O. Lessa et al. (2014) avaliaram
a emissão de N2O pelas excretas de bovinos no cerrado e encontraram
que as emissão varia de acordo com o tipo de excreta e estação do ano.
Nas estações chuvosa e seca, 2,55% e 1,31% do N da urina aplicada foi

223
perdido na forma de N2O, respectivamente. Já nas fezes 0,11% e 0,16% do
N aplicado foi perdido na forma de N2O, nestas estações. Este trabalho
sugere que o inventário de GEE superestima as emissões de N2O. Estudo
semelhante realizado na UNESP de Jaboticabal revelou no entanto, fatores
de emissão direta de N2O de 2,34%, 4,26% e 3,96% na estação chuvosa
e 3,00%, 1,35% e 1,59% na estação seca, respectivamente, para fezes,
urina e fezes + urine. O fator de emissão ponderado considerado foi de
2,61%, 3,04% e 2,97% para as fezes, urina e fezes + urina respectivamente,
sugerindo que o inventário nacional subestima as emissões de N2O. Dado
o extenso território brasileiro e a grande diversidade de biomas no País, os
estudos publicados sugerem a necessidade de fatores de emissão localizados
e a desagregação do fator de emissão por tipo de excretas com vistas a
aprimorar a acurácia do inventário nacional de emissão de GEE bem
como auxiliar os estudos específicos que utilizam os fatores de emissão.
O IPCC (2006) preconiza que 20% do N das excretas depositadas
por bovinos em pastagens serão volatilizadas na forma de NH3 para
a atmosfera. Destes 1,0% serão posteriormente convertidos em N2O
contribuindo para o aquecimento global. Lessa et al. (2014) mediram a
volatilização de N quantificando 23.6% e 20.8% na estação chuvosa e
seca pela urina e 2,5% e 4,3% na estação chuvosa e seca pelas fezes. O
valor ponderado por Lessa et al. (2014) foi de 16%. Os autores também
mediram a volatilização de amônia por excretas bovinas depositadas em
pastagens. Eles verificaram que a perda de N por volatilização não diferiu
por estação sendo volatilizado 6,7%, 9,6% e 8,5% do N aplicado através
das fezes, urina e fezes + urine, respectivamente. Os estudos brasileiros
apontam para uma possível superestimação do inventário ao utilizar o
fator default de 20% preconizado pelo guia do IPPC (2006).
Outra forma de emissão indireta de N2O é através da lixiviação
do nitrato. O guia do IPCC (2006) preconiza que 0,75% do N será em
algum momento, convertido em N2O contribuindo para o aquecimento
global. O IPCC (2006) preconiza ainda que, do total de N depositado em

224
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

pastagens pelos animais 30% será lixiviado. No entanto, o montante de


N originário das excretas a ser lixiviado constitui uma lacuna na literatura
nacional e em face da magnitude das emissões pela pecuária, carece de
estudos imediatos.
Algumas estratégias para a mitigação de N2O emitido pela
produção animal em pastagens têm sido apontadas. Aumento do uso
da eficiência de uso de nitrogênio pelos animais e uso de fertilizantes de
liberação lentas ou de determinadas formulações. A quantidade de N
excretada aumenta linearmente com a quantidade de proteína consumida
pelo animal (Djistra et al., 2003), portanto, o correto ajuste da oferta de
proteína e a necessidade do animal contribui para uma menor perda de N
para o sistema. Os fertilizantes de liberação lentas diminuem a perda de N
volatilizado ou lixiviado e também possibilitam um melhor aproveitamento
do N aplicado pelas as plantas (Hou et al., 2000). Fertilizantes na forma de
ureia perdem mais N por volatilização do que nitrato de amônio ou sulfato
de amônio. Onde o principal o processo predominante de produção de
N2O é a nitrificação deve se dar prioridade a nitrato de potássio.
O CH4 também é produzido ou consumido nas pastagens. A
sua produção se dá pelas bactérias metanogênicas presente no solo ou
excretadas junto com as fezes dos animais. Cardoso et al. (2013a) mediram
a emissão/consumo de CH4 em pastagens de capim marandu manejadas
sobre diferentes alturas e encontrou o predomínio de oxidação de CH4
no solo. A oxidação de CH4 se dá através das bactérias metanotróficas e
predomina em condições de boa aeração. Cardoso et al. (2013b) mediram
a emissão de CH4 pelas excretas. Não houve emissão adicional de CH4
quando aplicado urina ou fertilizante nitrogenado ao solo. Já para as fezes
encontrou-se emissão na ordem de 0,5 kg CH4 por cabeça de bovino adulto
por ano inferior ao valor default preconizado pelo IPCC (2006) é de 1
kg CH4 por cabeça por ano. Em regiões tropicais predominam condições
de oxidação favorecendo a oxidação do CH4 pelas bactérias contribuindo
para emissão pouco expressiva deste gás pelo solo.

225
2.3 Emissão de CO2 pelo solo

As fontes de CO2 atmosférico advindas da atividade pecuária estão


relacionadas ao desmatamento (liberação de carbono da biomassa vegetal
e do solo), à redução de teor de carbono do solo dependendo do manejo
adotado e também pelo uso de energia fóssil em operações agrícolas,
incluindo-se a produção de insumos como rações, calcário, fertilizantes,
inseticidas, entre outros.
Dentre estas fontes, a emissão de CO2 do solo decorrente do
manejo de pastagem resulta de processos biológicos, químicos e físicos,
envolvendo fatores bióticos e abióticos do solo, tais como fornecimento
de substrato, temperatura, umidade, O, N, valor textura e pH. Estes
fatores afetam a produção de CO2 no solo por raízes e organismos, e,
consequentemente, as trocas gasosas entre o solo e a atmosfera (Luo &
Zhou, 2006).
Considerando que temperatura e umidade do solo são fatores
limitantes para a atividade biológica em geral, o padrão de precipitação e
de temperatura de uma dada região determina as flutuações sazonais da
emissão de CO2 do solo (Pinto et al., 2002;. Varella et al., 2004; Brito et
al., 2009;. Liebig et al., 2013). Deste modo, ao longo do ano, assim como
ocorrem variações de produtividade do pasto, devido às alterações dos
fatores abióticos, ocorrem também variações sazonais da emissão de CO2
do solo. A atividade biológica no interior do solo depende diretamente,
portanto, da atividade fotossintética (Kuzyakov & Gavrichkova, 2010).
O equilíbrio entre a absorção e assimilação de CO2 pela
fotossíntese, e liberação de CO2 através da respiração regulam o ciclo
do carbono (Conant, 2010). Atividades antrópicas alteram o balanço de
carbono do ecossistema, modificando a dinâmica da vegetação e do solo,
e muitas vezes podem levar ao aumento da liberação de carbono e redução
do sequestro (Conant, 2010). Em ecossistemas de pastagens, quando o
manejo promove a remoção excessiva de biomassa, ocorrem também

226
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

modificações no interior do solo, que pode levar a liberação do carbono


até então estocado (Conant, 2010).
No entanto, a definição de um nível adequado de utilização
da pastagem que visem não somente metas de produção, mas também
a sustentabilidade da pastagem, a médio e longo prazo é uma tarefa
difícil. Diversos estudos têm sido realizados visando investigar o efeito de
diferentes intensidades de pastagem, em relação à emissão de CO2 do solo.
Brito et al. (2015), avaliaram o efeito de três alturas de pastejo
(15, 25 e 35 cm) de capim-marandu [Brachiaria brizantha (A.Rich.) Stapf.].,
em Jaboticabal, São Paulo, no período de janeiro de 2011 a fevereiro de
2013. Os resultados obtidos mostraram que a variação sazonal da emissão
de CO2 do solo está diretamente relacionada às variações na precipitação
e temperatura do solo. A precipitação registrada no verão sugere que o
aumento da umidade do solo favorece a respiração das raízes, decorrente
do crescimento da planta e de processos microbianos envolvidos na
decomposição da matéria orgânica do solo, com consequente aumento
de produção e de emissão de CO2. No período chuvoso também foi
realizada adubação nitrogenada para manter as alturas de pasto propostas,
favorecendo a atividade biológica na área. A maior temperatura do solo
durante os verões chuvosos também resultam em condições favoráveis
para a atividade biológica. A emissão de CO2 diminuiu gradualmente no
tempo a partir do início do outono provavelmente devido à restrição tanto
em eventos de precipitação e diminuição da temperatura do solo. Dias de
chuva seguidos por dias sem chuva resultaram em grande variabilidade
dos dados de emissão de CO2 ao longo dos anos analisados. A redução da
emissão de CO2 no outono em relação ao verão atingiu 43% em 2011 e
29% em 2012. Os valores das emissões foram semelhantes no outono de
ambos os anos. A precipitação acumulada em 2011 provavelmente tenha
favorecido a maior emissão de CO2 neste verão e, consequentemente,
os valores mais elevados no outono de 2011 também poderiam ser
esperados. No entanto, a redução na média da emissão de CO2 de 5,66

227
a 2,94 µmol de CO2 m-2 s-1 nas primeiras três semanas de março de 2011
também contribuiu para a redução da emissão de CO2 no outono de
2011, indicando que o excesso de água neste período limitou a produção
e transporte do gás no solo. Segundo Varella et al. (2004) quando mais de
30% do espaço poroso do solo está preenchido com água ocorre esta relação
inversa entre emissão de CO2 e umidade do solo. Esta relação negativa
também foi relatado por Epron et al. (2006). Como consequência dessa
variação sazonal, a contribuição relativa de cada estação climática para a
emissão total de CO2 no período estudado foi em média de 38,8, 25,7,
15,6, e 19,9% para o verão, outono, inverno e primavera, respectivamente.
Em relação às alturas de pastejo avaliadas, diferenças significativas na
emissão de CO2 do solo foram observadas em algumas estações e em
somente 34% dos dias avaliados. No entanto, a emissão de CO2 sempre
diminuiu com o aumento da altura do pasto quando o efeito da altura do
pasto foi significativo, resultando em diferenças acumuladas significativas
entre alturas de pastagem (Tabela 2). Quando uma área de pastagem é
submetida a diferentes intensidades de pastejo ocorrem modificações nas
quantitativas e qualitativas nas plantas, afetando a produção fotossintética
e atividade biológica geral da pastagem. Diversos fatores podem estar
relacionados a esta variação na emissão de CO2. Entretanto, em Brito et al.
(2015) a temperatura do solo teve um efeito preponderante na emissão de
CO2 entre alturas de pastagem, sendo apontado como um dos responsáveis
pelas diferenças na emissão total no período estudado.

228
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Tabela 2: Emissão total de CO2 do solo dos pastos de capim-marandu,


manejados sob diferentes alturas de pastejo (15, 25, 35 cm) em
lotação contínua, nos anos de 2011 e 2012.

1
Contraste polinomial ortogonal: L (efeito linear), ***(P < 0.001), não significativo
(NS).2Emissão total no período de 25 de janeiro de 2011 a 25 de janeiro de 2012 (365
dias).3Emissão total no período de 25 de janeiro de 2012 a 25 de janeiro de 2013 (366 dias).
Adaptado de Brito et al. (2015).

Outros estudos, também realizados em Jaboticabal, São Paulo,


em pastos de capim-xaráes, pastos de Cynodon spp. cv Tifton 85 e pastos
de capim-tanzânia, com manejo do pasto utilizando índice de área foliar
como ponto de referencia para o pos-pastejo, também mostram valores
similares da emissão de CO2 quando comparados com dados de Brito et
al. (2015) ao longo do ano (Tabela 3). As variações sazonais da emissão
de CO2 seguem de modo análogo, as variações sazonais da precipitação
e temperatura do solo. Entretanto, estes outros estudos não apontam
diferenças significativas na emissão de CO2 em relação às intensidades de
manejo do pastejo, o que provavelmente pode estar relacionado ao menor
período de avaliações, considerando que somente os dados cumulativos
de dois anos consecutivos de avaliação permitiram concluir a respeito das
diferenças na emissão de CO2 em relação às alturas de pastejo avaliadas
por Brito et al. (2015).

229
Tabela 3: Emissão de CO2 do solo (mínima, média, máxima) (µmol CO2
m-2 s-1) de pastos sob diferentes intensidades de manejo nas
estações climáticas do ano.

Adaptado de 1Raposo (2013),2Brito et l. (2015),3Costa e Silva (2014), 4Caputti (2014).

Por outro lado, a eficiência do sistema de pastagem na mitigação


de CO2 atmosférico é decorrente da eliminação do revolvimento do solo,
sistemas radiculares mais extensos, maior biomassa radicular, prolongada
e contínua entrada de serapilheira em relação a outros sistemas agrícolas
(Gebhart et al. 1994). Invariavelmente, entretanto, áreas submetidas a
constante superpastejo e sem adoção de fertilização adequada, mostram
descontinuidade de cobertura do solo, redução substancial no sistema
radicular e redução no teor de carbono do solo (Fisher et al., 2007). Deste
modo, Thornton et al. (2009) citam como medidas de mitigação, dentre
outras, a melhoria do manejo da pastagem visando aumentar estoque de
carbono do solo.

3. MANEJO DE PASTAGEM E SEQUESTRO DE CARBONO NO


SOLO

3.1 Estoques de carbono do solo em áreas de pastagens

A eficiência do sistema de pastagem na mitigação de CO2

230
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

atmosférico é decorrente da eliminação do revolvimento do solo, sistemas


radiculares mais extensos, maior biomassa radicular, prolongada e
contínua entrada de serapilheira em relação a outros sistemas agrícolas
(Gebhart et al. 1994). De modo geral, as pastagens podem funcionar como
fonte ou sumidouro de carbono (C) atmosférico dependendo do manejo
da fertilidade adotado, por exemplo, onde pastagens não degradadas
em solos férteis mostraram um acúmulo médio de 0,46 Mgha-1ano-1,
enquanto as perdas de carbono em pastagens implementadas em solos de
baixa fertilidade variaram de 0,15 a 1,53 Mgha-1ano-1, respectivamente, em
pastagens não degradadas e degradadas (Carvalho et al., 2010).
A massa aérea é fundamental para gerar e regular a maioria
dos processos do ciclo de C sendo que as folhas são a principal via de
entrada de C para o ecossistema e a massa subterrânea, por sua vez, fixa a
vegetação, capta e transloca recursos e estoca reservas (Aduan et al., 2003).
O C atmosférico incorporado tanto na massa de raiz e como na massa de
parte aérea é passível de ser incorporado ao solo via liteira ou por morte
raízes.
Brito et al. (2013) estudaram pastos de Brachiaria brizantha cv.
Marandu em Jaboticabal, SP, manejados sob três alturas de pastejo (15,
25 e 35cm) por mais de 10 anos. Os autores observaram que apesar da
diferença na produção de massa de raiz e parte aérea entre os sistemas de
manejo, não foi possível verificar diferenças no estoque de C do solo até
a profundidade de 40cm (Figura 1). Entre 60 e 100cm de profundidade,
foi observado aumento do estoque de C com aumento da altura de
pastejo. Apesar de não ter sido avaliado o sistema radicular nesta maior
profundidade, é esperado um sistema radicular menos profundo para o
pasto manejado mais intensivamente, justificando os resultados obtidos.
Esta diferença no estoque de carbono C em profundidade entre os sistemas
de manejo resultou num incremento médio de 7,4 Mg C ha-1 nas alturas
de 25 e 35cm em relação ao pasto mais intensivamente pastejado.
O potencial das gramíneas forrageiras em manter aportes da ordem

231
de 20 a 30 toneladas de matéria seca por hectare ao ano de resíduos aéreos
(Rezende et al., 1999), e em grandeza semelhante de resíduos subterrâneos
(Trujillo et al., 2006), justifica a capacidade das pastagens produtivas, com
reservas estáveis de nitrogênio (N), em manter estoques de C no solo em
níveis superiores ou semelhantes aos observados em solos sob vegetação
nativa (Tarré et al., 2001; Fisher et al., 2007). Rosa et al. (2014) em estudo
sobre o estoque de C nos solos sob pastagens cultivadas em diferentes
profundidades, verificaram que a pastagem melhorada apresenta valor mais
elevado de C do solo do que a pastagem degradada. Os dados comprovam,
segundo os autores, que uma pastagem bem manejada consegue reter no
solo (na profundidade de 0-30 cm) 15% a mais de C do que uma pastagem
degradada, ressaltando a importância do manejo das pastagens como
forma de retirar C da atmosfera e armazenar no solo.

Figura 1 – Estoque de carbono do solo de pastos de capim-marandu manejados em


diferentes alturas de pastejo (15, 25, 35cm) em lotação contínua (Brito et al., 2013).

Em função da capacidade produtiva, um dos sistemas mais


promissores para manter e, ou, incrementar o estoque de C no solo é
a integração lavoura pecuária. Outra promissora alternativa de sequestro
de C atmosférico ocorre quando a estes sistemas de manejo diversos,

232
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

árvores são incluídas. Estudo recente com diversos sistemas de manejo,


entretanto, não mostra aumento nos valores de estoque de C no solo
em sistema silvipastoril em relação à área de pastagem, consequente da
maior densidade do solo nesta área de pastagem (Tonucci et al., 2011). Em
área de conversão de pastagem degradada aos sistemas lavoura-pecuária e
lavoura-pecuária-floresta, considerando a presença e arranjo das árvores e
altura do pasto, não foi observado aumento no C do solo após dois anos
de implantação em estudo realizado na região do Cerrado no Brasil (Sousa
Neto et al., 2014). Apesar destes sistemas não promoverem aumento no
estoque de C do solo, existe a necessidade de estudos com maior tempo
de implantação do sistema e de considerar também o C sequestrado na
biomassa das árvores.
Outra opção é o consórcio entre gramíneas e leguminosas. De
acordo com Ayarza et al. (1998), os solos sob pastagens consorciadas
de gramíneas com leguminosas apresentam os melhores resultados
de produtividade de forragem e de sequestro de C no solo, devido à
capacidade de suprir o sistema com elevados níveis de N derivado da
fixação biológica. Estudo realizado por Tarré et al. (2001) com a leguminosa
Desmodium ovalifolium associada à Brachiaria humidicola e mantida sob
pastoreio permanente durante 10 anos, favoreceu aumento do estoque de
C orgânico e do conteúdo de N no perfil do solo, chegando a ser superior
ao do solo sob vegetação nativa, enquanto a monocultura da gramínea
apresentou estoque de C orgânico similar ao do solo sob vegetação nativa,
comprovam este efeito.

3.2 Deposição de serapilheira de pastagens no solo

Nas pastagens, uma das principais vias de entrada de C no sistema


para a formação de matéria orgânica do solo (MOS) é feita através da
deposição de serapilheira no solo. Esta é definida, em alguns casos, como
tecido senescente vegetal depositado sobre ou abaixo da superfície do solo
(Dubeux Jr. et al., 2006a). Diversos fatores determinam a quantidade de

233
resíduos que irão formar a serapilheira, entre eles destacam-se o clima,
o solo, as características genéticas da espécie, a idade e a densidade de
plantas (Soares, 2008).
A transformação da serapilheira em matéria orgânica do solo é
controlada por três fatores principais: clima, qualidade da serapilheira
(quanto aos constituintes: lignina, C, nitrogênio (N) entre outros) e a
natureza e abundância dos organismos decompositores (Coûteaux et al.,
1995). Mas, para que ocorra aumento dos teores de matéria orgânica do
solo a deposição de resíduos deverá ser maior que a decomposição de
resíduos vegetais. Esse balanço tem relação estreita com a produtividade
primária e com o manejo da pastagem, especialmente com os aspectos que
afetam a eficiência de utilização da forragem como o manejo do pastejo,
sistema de lotação e pressão de pastejo (Dubeux Jr. et al., 2004).
Em estudo sobre a produtividade de três cultivares de Brachiaria
sob duas ofertas de forragem (7 e 14%), Santos et al.(2006) observaram que
em épocas de abundância de chuvas as gramíneas cresceram rápido, que
a forragem verde em oferta foi abundante e por isso o número de bovinos
por hectare foi maior. Nesta situação, material senescente depositado como
serapilheira foi menor e com rápida taxa de decomposição. Em épocas de
seca, a falta de água aumentou a taxa de senescência e o consumo animal
foi menor, gerando uma quantidade maior de serapilheira no chão, com
decomposição mais lenta. Segundo os autores a baixa pressão de pastejo
ainda permitiu aos animais selecionar as partes mais palatáveis, gerando
mais material senescente, o que culminou em maior taxa de deposição de
serapilheira.
Liu et al. (2011a) observaram em pastos de Cynodon spp cv. Tifton
85 manejados sob alturas de pastejo (8, 16 e 24cm) e níveis de adubação
(50, 150 e 250kg N ha-1 ano-1) aumento na massa de serapilheira existente
e na taxa de deposição de serapilheira com o aumento da altura, porém os
autores não observaram resposta dessas variáveis aos níveis de adubação
utilizados. Embora se esperasse que houvesse resposta da adubação

234
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

nitrogenada uma vez que esta pode de forma indireta, aumentar a produção
primária da pastagem e, consequentemente, a deposição de resíduos
orgânicos (Dubeux et al., 2012). Porém Liu et al. (2011b) observaram
aumento na taxa de decomposição à medida que aumentou o nível de
adubação. Nesse caso, a adubação promoveu mudanças na composição
química da serapilheira alterando a velocidade de degradação (Dubeux Jr.
et al., 2006a,b).
Boddey et al.(2004) observaram redução na deposição de
serapilheira de Brachiaria humidicola com o aumento na taxa de lotação
durante a estação de crescimento. Apolinário et al.(2013) observou o
mesmo comportamento em Brachiaria decumbens. Segundo Boddey et
al. (2004) a massa de serapilheira pode ser um importante indicador da
sustentabilidade da pastagem e o decréscimo na massa de serapilheira é
frequentemente associado com pastagens super-pastejadas. Nesse sentido,
a escolha de um manejo que não cause superpastejo seria importante,
pois, a redução na produção primária das pastagens com o processo de
degradação, significa menor entrada de resíduos no sistema, incluindo-se
aí os de parte aérea e raízes, o que acaba por diminuir as reservas de C do
solo (Jantalia et al., 2006). Além disso, diminui a entrada de nutrientes no
sistema, pois outra função comum à serapilheira é a de fornecer nutrientes
às plantas, já que muitas pastagens não recebem adubação.
Nesse sentido, diversos trabalhos desenvolvidos em Jaboticabal,
SP (Tabela 4), estudaram as mudanças na composição química da
serapilheira ao longo do tempo (256 dias), em pastagens manejadas sob
alturas de pastejo (Azenha, 2014) ou sob índices de área foliar residual
(Raposo, 2013). Os autores não observaram influência do manejo das
pastagens sobre as mudanças na composição química da serapilheira, mas
observaram mudanças na composição química do material ao longo do
tempo, indicando que as mudanças na composição química da serapilheira
nestes pastos foram governadas por fatores ambientais do que pelo manejo
do pasto corroborando Coûteaux et al. (1995). Os autores observaram

235
haver uma concentração dos nutrientes no material remanescente e que
ao final do período estudado os tratamentos atingiram a relação C:N que
permite mineralização de N e disponibilização deste para as plantas.

Tabela 4: N, P e relação C:N, iniciais e finais, da serapilheira de diferentes


pastos.

Outro componente importante da deposição de serapilheira no


solo, mas normalmente negligenciado, é o sistema radicular. Segundo
Kanno et al. (1999) citado por Dubeux Jr. et al. (2006a) gramíneas
forrageiras são capazes de alocar em torno de 50% da biomassa acumulada
nas raízes podendo chegar a proporções mais altas. Sendo assim, tornam-
se uma forma de sequestrar C da atmosfera. Além disso, o C advindo
das raízes é retido e forma agregados mais estáveis que o C advindo da
biomassa aérea (Fageria & Moreira, 2011). Na maioria dos sistemas de
pastagens, o principal mecanismo de deposição de C em profundidade
é através da produção, mortalidade e decomposição de raízes (Trujillo et
al., 2006), porém segundo os autores a avaliação da produção e renovação
das raízes é um componente chave do entendimento da dinâmica do C
no solo. Contudo, há poucos dados da dinâmica das raízes sob pastagens
nos trópicos. Trujillo et al. (2006) observaram o dobro na produção de
raízes em pastagens de Brachiaria dictyoneura bem manejadas, quando
comparadas com vegetação de savana nativa ou pastagem degradada de
Brachiaria humidicola.

236
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

3.3 Carboidratos não estruturais nas plantas forrageiras

O sistema radicular é importante no que diz respeito ao sequestro


de C pelas pastagens, pois acumula esse elemento na forma de reservas
orgânicas que podem ser utilizadas na recuperação do dossel forrageiro
após pastejo ou corte, formando novos tecidos ou, podem contribuir para
a formação da matéria orgânica do solo através da morte de raízes. O C
é acumulado na base dos colmos e nas raízes das plantas na forma de
carboidratos não estruturais (CNE). De acordo com Lemaire (2001) o uso
do CO2 por uma planta é determinado pelo nível de captura de luz e, além
disso, a assimilação de CO2 fornece esqueletos de C para o crescimento
e energia para a manutenção e ativação das funções metabólicas,
determinando a capacidade de aquisição de nitrogênio N e de outros
nutrientes.
Como o C é o principal constituinte dos tecidos das plantas, o
acúmulo de biomassa é determinado pelo acúmulo de C que, por sua
vez, é influenciado pelo conteúdo de N (Lemaire & Chapman, 1996).
Dessa forma, segundo esses autores, a compreensão do fluxo de tecidos em
pastagens só pode ser completa através da análise dos recursos de captura,
alocação e uso tanto na parte aérea quanto nas raízes, uma vez que o C é
adquirido pelas folhas e o N pelas raízes.
A desfolhação esta diretamente relacionada com o destino dos
CNE, pois define a necessidade de utilização e acúmulo nas plantas.
Em situações de desfolhações mais intensas os CNE são alocados para a
formação de novos tecidos fotossintetizantes permitindo a retomada do
crescimento do dossel. Por outro lado, quando as desfolhações são menos
severas e permitam que o pasto tenha uma área foliar remanescente
suficiente para continuar a fotossíntese, ocorre acúmulo de CNE. Segundo
Richards (1993) a redução na massa radicular logo após a desfolha é uma
estratégia fisiológica da planta para retomar o processo fotossintético e
consequentemente, conseguir um equilíbrio positivo de C pela diminuição
da demanda de C pelo sistema radicular. Quando o tecido fotossintético

237
residual deixa a planta em equilíbrio quanto à fotossíntese e respiração, o
novo crescimento é mantido com o produto proveniente da fotossíntese
(Cecato et al., 2001).
Em trabalho com Panicum maximum cv. Mombaça, Gomide et
al. (2002) verificaram que a desfolha reduziu os teores de CNE da base
do colmo e que a desfolha total comprometeu o crescimento e o teor de
CNE das raízes. De acordo com os autores, os resultados demonstram
que a restrição inicial de assimilados da fotossíntese provocada pela
desfolha total, compromete o crescimento radicular. Nos tratamentos sem
desfolhas ou com remoção parcial das folhas, a fotossíntese em andamento
permitiu o transporte mais precoce para as raízes ou possibilitou que elas
dependessem menos das reservas orgânicas.
Carvalho et al. (2001) avaliando cultivares de Cynodon spp. em
diferentes alturas de pasto de 5, 10, 15 e 20 cm observaram maiores valores
de CNE na base do colmo no cultivar Tifton-85 seguido pelo Florakirk e
Coastcross. Nas raízes o padrão foi semelhante, com conteúdos de 0,173,
0,106 e 0,073 kgm-2, respectivamente. Os autores observaram que maiores
massas de raízes determinaram maiores quantidades de CNE e que mesmo
os tratamentos de desfolhas mais intensas não diminuíram a massa de
raízes.
O grau de atividade vegetal também depende de variáveis como
luminosidade, temperatura e umidade caracterizadas pelas estações do
ano, onde na primavera e no verão, com climas mais quentes, a produção
vegetal é favorecida, ou seja, ocorre maior absorção de CO2 e no outono,
com a morte dos vegetais e o ataque por bactérias, existe maior liberação de
CO2 (Pacheco & Helene, 1990). Assim, segundo os autores, a fotossíntese
e a respiração tanto dos vegetais como dos solos são os dois processos
principais pelos quais passam os fluxos de C entre atmosfera e a biosfera.
Trabalhos desenvolvidos na UNESP (Jaboticabal, SP)avaliaram
os efeitos de intensidades de pastejo geradas por diferentes ofertas de
forragem na massa de raízes e parte aérea e nos teores de CNE e N em duas

238
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

cultivares de Brachiaria brizantha (Marandu e Xaraés)no período das águas


e na seca em dois anos de avaliação (Tabela 5). Os autores verificaram
que a massa de raízes foi semelhante entre os períodos das águas e seca,
porém, a massa de parte aérea foi maior na seca. O teor de CNE sofreu
influência do período de avaliação, principalmente da cv. Marandu, onde
os teores foram maiores na seca. Por outro lado, o conteúdo de N somente
diferiu entre os períodos na parte aérea, sendo que foi maior nas águas,
nas duas cultivares. Em outro estudo realizado em pastos de Brachiaria
brizantha cv. Marandu manejados nas alturas de 15, 25 e 35 cm (Tabela 6)
verificou-se que os teores de CNE nas raízes foram baixos no verão nas três
alturas (média de 47,14 gkg-1MS). Por outro lado, o conteúdo de CNE na
parte aérea sofreu influência apenas das estações onde se observou menor
conteúdo na primavera. O conteúdo de N na parte aérea foi maior no
verão e, nas raízes, o comportamento foi oposto, com maiores valores nas
estações frias.

Tabela 5. Massa, teores de carboidratos não estruturais (CNE) e


nitrogênio (N) da parte aérea e das raízes de pastos de Brachiaria brizantha
cv. Marandu manejados sob ofertas de forragem no período das aguas e na
seca em Jaboticabal, SP.

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna, comparando estações, não diferem
entre si de acordo com o teste de F, para períodos (P < 0,05). (Janusckiewcz,2012).

239
Tabela 6: Massa, teores de carboidratos não estruturais (CNE) e nitrogênio
(N) da parte aérea e das raízes de pastos de Brachiaria brizantha
cv. Marandu manejados sob diferentes alturas de pastejo nas
diferentes estações do ano em Jaboticabal, SP.

(Azenha, 2014).

Carvalho et al. (2001) estudando cultivares de Cynodon spp.


verificaram um padrão de variação sazonal quanto à prioridade de alocação
de CNE para os órgãos de reserva. Os teores de CNE na base do colmo
foram maiores no período de inverno (10,35%), seguidos pela primavera
(7,05%) e verão (5,05%). Em estudo com pastagens de Cynodon dactylon cv.
Coastcross, Ribeiro et al. (2011) observaram que a massa de raízes e o teor
de CNE foram aumentaram durante o verão até o outono e diminuíram
no inverno. Segundo os autores, a planta aumenta sua massa residual no
outono para armazenar mais CNE para ser utilizado durante na primavera
que é a fase ativa de crescimento. Soares Filho et al. (2013) em estudo
sobre o sistema radicular de Panicum maximum cv. Tanzânia encontraram
concentrações de CNE e N maiores no outono do que na primavera e
no verão, demonstrando maior utilização desses compostos na primavera
devido às condições climáticas favoráveis ao crescimento da planta.
A translocação de CNE depende também das práticas de adubação,
principalmente nitrogenada, as quais as pastagens são submetidas, uma
vez que N é o elemento mais limitante ao crescimento vegetal. Soares Filho
et al. (2013) constataram que a adubação nitrogenada acima de 100kgha-1

240
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

pode estimular o crescimento acelerado de Panicum maximum cv. Tanzânia,


reduzindo sua capacidade de armazenamento de CNE nas raízes (0,47,
0,65, 0,55 e 0,38 gkg-1 para as doses de 0, 50, 100 e 150kgha-1 de N). Por
outro lado, favorece o acúmulo na base do colmo (0,69, 0,87, 0,81 e 0,93
gkg-1 para as doses de 0, 50, 100 e 150kgha-1 de N).
Ribeiro et al. (2011) estudaram pastagens de Cynodon dactylon
cv. Coastcross consorciadas ou não com Arachis pintoi, com e sem N e
verificaram maior concentração de CNE (0,3942 gkg-1) na raiz e maior
biomassa radicular (0,4483kg m-3) na utilização de 100kg Nha-1 associado
ao Arachis. Em estudo com Panicum maximum cv. Tanzânia com diferentes
idades e doses de adubação nitrogenada, Vantini et al. (2005) observaram
aumento nos teores de CNE na base do colmo e raízes com o aumento
da idade da planta. O aumento nas doses de N também aumentou o
conteúdo de CTNE na base do colmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estratégias de manejo do solo, da planta e do animal, visando


minimizar as emissões de gases de efeito pela atividade pecuária tem
atraído o interesse de inúmeros grupos de pesquisas nos últimos anos.
Conforme discutido anteriormente, a modificação da dieta animal e o
manejo adequado de resíduos e fertilizantes podem promover a redução
das emissões de CH4 e N2O. Outras estratégias de mitigação incluem a
conservação de estoques de carbono na biota e nos solos de áreas de vegetação
nativa, a utilização adequada de áreas já desmatadas, a implantação de
sistemas agrosilvopastoris, nos quais existe ainda a oportunidade de grande
acúmulo de carbono na biomassa das árvores, a recuperação e utilização de
áreas degradadas e abandonadas. O sequestro de carbono atmosférico por
meio de técnicas de manejo da pastagem e solo que favoreçam o aumento
do conteúdo de carbono no solo é consideradocomo principal alternativa

241
na mitigação de GEE na pecuária, além promover substancial melhoria na
qualidade do solo e do sistema com um todo.

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252
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

O SISTEMA SILVIPASTORIL NO PARANÁ:


UMA SINOPSE

Vanderley Porfírio-da-Silva1

1. INTRODUÇÃO

Os sistemas silvipastoris apresentam grande potencial de


benefícios econômicos e ambientais tanto para os produtores rurais como
para a sociedade em geral. Obrigatoriamente um sistema silvipastoril (SSP)
deve conter os elementos lenhoso, forrageiro e o animal. Classicamente
o elemento forrageiro é uma gramínea e/ou leguminosa herbácea que
provê alimento para o animal (gado bovino, suíno, ovino, caprino, aves...)
e o lenhoso (árvore ou arbusto) provê serviços ambientais (sombra, por
exemplo) e produtos madeireiros e/ou não madeireiros. Há casos, no
entanto em que a forragem é produzida pelo elemento lenhoso, como
exemplo, os bancos de proteínas de leucena e mesmo os plantios de
leucenas em faixa para pastejo direto.
Vale ressaltar, no entanto, que a presença de árvores confere algumas
características que podem favorecer a produtividade e a sustentabilidade de
sítio. Estas podem incluir efeitos sobre a ciclagem de nutrientes, proteção
contra erosão, modificação do microclima, estratificação do uso de recursos
e efeitos sobre as populações de pragas, entre outras (Nair, 1993).
As peculiaridades relativas aos sistemas silvipastoris necessitam ser
entendidas para possibilitar a maximização de suas interações positivas

1
Eng. Agr. Dr. Pesquisador em Sistemas Agrossilvipastoris, Embrapa Florestas, vanderley.porfirio@embrapa.br.

253
e a minimização das interações negativas. Assim, alguns conceitos e
fundamentos precisam ser conhecidos, e referenciados nas condições da
região ou em condições similares.
Os componentes árvore, pasto e animal devem ser considerados
integrantes do sistema, desde o planejamento do empreendimento,
requerendo mudanças de postura e novas ações, alterando costumes e
tradições (Dantas, 1994) dos setores produtivos envolvidos (técnicos,
produtores e empresários).
O planejamento de um sistema silvipastoris deve, sempre que
possível, prever e permitir uma transitoriedade amena, ou seja, enquanto
o componente arbóreo não puder suportar carga animal, a área será
utilizada para cultivos anuais. É o caso, por exemplo, da reforma de
pasto ou implantação de pastagens com plantio de árvores em terraços
ou em curvas de nível; enquanto as árvores crescem, o solo é submetido
a adubações e cultivos de ciclo anual. Existem, no entanto, casos onde
o produtor necessita dispor imediatamente da área para o gado, então
a instalação do sistema silvipastoril tem sido feita com proteção das
mudas das espécies florestais até o momento em que as árvores possam
prescindir da proteção contra o assédio dos animais.
O termo silvipastoril sumariza práticas envolvidas na integração
de árvores com forrageiras para pastejo na mesma área por meio da
manutenção de árvores previamente existentes, pelo plantio de árvores,
ou pela condução de árvores que emergem naturalmente em meio a
pastagem.

2. Retrospectiva sobre sistema silvipastoril no


Paraná.

Historicamente a associação intencional de gado com florestas


no Paraná remonta à metade do século 18 (Chang, 1985), em sistemas

254
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

tradicionais conhecidos como “faxinais”, estabelecidos na zona de


ocorrência das florestas de araucária (Araucaria angustifólia). Os primeiros
registros sobre pesquisas em sistemas silvipastoris no Paraná são da
década de 1980, tais estudos buscavam utilizar os elementos pecuários
(gado e forrageiras) como componente secundário do sistema. O gado
era introduzido em plantios florestais convencionais, numa estratégia
para melhorar o fluxo de caixa nos primeiros anos do cultivo florestal,
bem como para obter os benefícios de controlar o desenvolvimento de
plantas indesejadas no sub-bosque (Baggio e Schreiner, 1988; Schreiner,
1994; Schreiner, 1983) e assim suprimir material combustível evitando
incêndios florestais.

A área de pastagem intencionalmente arborizada mais antiga,


de que se tem registro no Paraná, estava situada no Sítio Primavera,
no município de Tapejara-PR, foi implantada no ano de 1979, pelo,
então proprietário, Valdir Lunardelli que, com recursos obtidos junto ao
extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), comprometeu-se a estabelecer
uma área de lavoura de café com quebra-ventos e, a eliminar uma erosão
já em estágio muito adiantado (voçoroca) que comprometia grande parte
da propriedade.

Na região noroeste do Paraná, existem extensas áreas areníticas


(aproximadamente 1,4 milhão de hectares) com grande pressão antrópica
devido ao aumento da intensidade de utilização, seja por pastoreio
excessivo, seja por práticas agrícolas sem medidas conservacionistas. Isso
tem gerado a degradação do ecossistema regional, devido a diminuição
da cobertura vegetal, a qual facilita o processo de erosão.

Devido ao tamanho da voçoroca, a sistematização da área


necessitou de uma verdadeira obra de engenharia civil. Tubulações e
caixas de dissipação de energia foram necessárias para canalizar toda a
água que era, e ainda é, despejada das áreas à montante e da rodovia.
Para favorecer todo o trabalho de recuperação da área, terraços de base

255
estreita2, para controlar o escorrimento superficial das águas das chuvas,
foram construídos em curvas de nível espaçados a cada 20 metros. Sobre
os terraços foram plantadas as árvores de grevílea (Grevillea robusta) a cada
2,5 metros para, ao crescerem, constituírem os quebra-ventos e, entre os
terraços, as mudas de café e nas entre-linhas do cafezal os cultivos anuais
de feijão. Dois anos depois, em 1980, a área foi atingida por geada (as
árvores ainda pequenas não proviam proteção contra os ventos) o que
determinou a morte do cafezal e a mudança de uso da terra para pastagem.
Foi plantada a grama-estrela (Cynodon plectostachyus) na primavera daquele
ano. O que parecia um absurdo para muitos, foi se mostrando viável, a
pastagem cresceu sem problemas e os pequenos terraços aguentaram
satisfatoriamente, fato posteriormente atribuído à presença das árvores
promovendo a estabilidade dos terraços pelo travamento da massa de solo
pelo entrelaçamento das suas raízes (Porfírio-da-Silva, 1994), corroborando
com autores como Young (1989) sobre o papel das árvores na conservação
do solo.

Em 1985, Gonçalves et al. (1985) e Gonçalves & Dalla Costa (1985),


ao considerarem o sucesso da recuperação da área do Sítio Primavera e
atribuírem importância aos serviços de quebra-ventos proporcionados
pelas árvores na proteção da forrageira, avaliaram a fertilidade e teores de
matéria orgânica do solo e o estoque de madeira em pé. No ano de 1993,
repetindo os trabalhos desses autores, a fertilidade e os teores de matéria
orgânica do solo e o estoque de madeira em pé foram novamente avaliados
demonstrando incremento na fertilidade do solo (Porfírio-da-Silva, 1994).
Em fevereiro de 2007 as últimas árvores de grevílea (Grevillea
robusta) foram colhidas, atualmente a área está ocupada com cultivo de
eucalipto.
Na década de 1990, com a área do Sitio Primavera e com mais

2
Base estreita com oito passadas de arado de disco tracionado por trator de pneus.

256
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

conhecimentos sobre a potencialidade da integração dos componentes


árvore-pasto-gado (Gonçalves e Dalla Costa, 1985; Gonçalves et al., 1985;
Schreiner, 1987; Baggio e Schreiner, 1988; Dangerfield e Harwell, 1990;
Wilson, 1990; Bird et al., 1992; Marlats et al., 1995; ), foram desenvolvidos
estudos para a introdução do componente arbóreo nas pastagens,
evidenciando uma preocupação com a viabilidade técnica e econômica
da introdução de árvores em pastagens convencionais (Montoya e Baggio,
1992; Baggio e Carpanezzi, 1989; Porfírio-da-Silva, 1994; Baggio e Porfírio-
da-Silva, 1998) e com a sustentabilidade das pastagens e do conforto
térmico animal em sistemas silvipastoris (Porfírio-da-Silva et al., 2001).
Iniciava-se assim a construção de uma rede de unidades de referência
tecnológica em arborização de pastagens com o estabelecimento de áreas-
piloto em propriedades rurais privadas.
Desse modo, foram instaladas diversas unidades em municípios
da região noroeste do Paraná (Porfírio-da-Silva e Mazuchowski, 1999).
Estas unidades diferiam dos primeiros estudos da década de 1980, pois
tinham a concepção de introduzir o componente arbóreo nas pastagens,
inversamente à busca de introduzir o componente animal em plantios
florestais convencionais.
Desde então estudos sobre silvipastoril vêm sendo realizados
(Porfírio-da-Silva, 1998; Campiglia, 2002; Rakocevic & Ribaski, 2003;
Nepomuceno, 2007; Kruschewsky, 2009; Souza, 2008; Radomski &
Ribaski, 2011; Silva, 2012; Menarim Filho; 2007; Della Cruz, 2007;
Limberger, 2012), ademais, proporcionam a capacitação de técnicos da
extensão rural, em diferentes níveis. As unidades têm sido visitadas por
excursões técnicas de produtores rurais de outras regiões e também têm
sido objeto de reportagem de revistas especializadas e matérias jornalísticas
de diferentes mídias.
No entanto, em outras regiões do Paraná, onde ainda não existiam
“exemplos vivos” (Porfírio-da-Silva e Baggio, 2003) de arborização de
pastagens era perceptível a carência de informações e conhecimentos

257
rotineiros sobre sistemas silvipastoris. Para superar tal quadro, foi conduzido
um projeto (MP4) para implantar unidades de referência tecnológica
(URT) nas diferentes condições regionais do Paraná (Adequação…, 2004),
e proporcionar que maior núme ro de extensionistas tenha a segurança
técnica para a difusão da arborização de pastagens, bem como para o
questionamento da tecnologia (constituindo assim uma estratégia para a
realimentação da pesquisa). O projeto foi conduzido no período de 2004
a 2007 alcançando 16 outros municípios.
Assim, 16 novas unidades de referência tecnológica, em diferentes
regiões do Paraná foram implantadas em propriedades rurais. Atualmente
a existência dessas novas URTs exercem também o “efeito-vizinhança”,
promovendo a adoção da tecnologia em outras 27 propriedades rurais
espalhadas naqueles municípios e em municípios vizinhos.
Como resultante de sua implementação no Paraná, foi replicado
mediante cursos de capacitação de técnicos para a implementação de
unidades nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul
e Mato Grosso do Sul para profissionais da extensão rural, por meio de
projetos3 em parceria com instituições daqueles Estados.
Atualmente o Paraná acumula experiências e as áreas mais antigas
sobre a arborização de pastagens, bem como, foi a Unidade da Federação
que protagonizou os primeiros eventos técnico-científicos sobre o tema
silvipastoril. Em maio de 1994, foi realizado o Seminário Regional Sobre
Sistema Silvipastoril (Emater, 1994), foi o primeiro do gênero no país,
no mesmo ano o Centro Nacional de Pesquisa de Floresta (CNPF) da
Embrapa realizou o Seminário sobre Sistemas Agroflorestais na Região

3
Projeto “Linha Direta com o Extensionista”, liderado pela Embrapa Florestas em parceria com a Emater-RS,
Emater-PR e Epagri-SC.
Projeto PAC-ILPF liderado pela Embrapa Transferência de Tecnologias em parceria com diversas outras unidades
da Embrapa, instituições estaduais de pesquisa e extensão rural e proprietários rurais.
Projeto “Agenda-Comum” com a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Parana/Emater-PR
Projeto “Adequação ambiental de propriedade pecuárias”, liderado pela Embrapa Pecuária Sudeste em parceria
com a Embrapa Florestas, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA, Coordenadoria de Assistência
Tecnica Integral-CATI e Prefeituras Municipais.

258
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Sul do Brasil (Seminário..., 1994) congregando também experiência


silvipastoris. Estimava-se, em 2004, que a área de sistemas silvipastoris
existentes na Região Noroeste era de aproximadamente 8 mil hectares
(Menarim Filho, 2005) o que correspondia à uma taxa de 790 hectares
por ano desde a primeira estimativa feita no ano de 1994 naquela região.

2.1 Sistemas silvipastoris na pecuária paranaense: possibilidades e


desafios.

No Estado do Paraná, são 4,9 milhões de hectares destinados


a pastagens (IBGE, 2006 – Censo Agropecuário), o que corresponde a
aproximadamente 31% da área dos estabelecimentos agropecuários
existentes no território paranaense. Na última década, a agricultura tem sido
a responsável por cerca de 50% do Valor Bruto da Produção Agropecuária
(VBP) paranaense, a pecuária tem participado com aproximadamente
45%, e cerca de 1/3 são oriundos da bovinocultura. O segmento florestal
tem participação em torno de 5% (SEAB, 2014).
A bovinocultura de corte gera importantes resultados econômicos
à sociedade paranaense: são 56.000 produtores rurais e outros milhares de
empregos distribuídos entre abatedouros, distribuição, comércio varejista
e curtumes. Não obstante, tem enfrentado dificuldades decorrentes,
dentre outros fatores, a carência de alimentação nos períodos de inverno e
de áreas de pastagens degradadas, conferindo uma produtividade lotação
média das pastagens de 1,4 unidade animal por hectare (UA/ha) e idade
média para o abate o acabamento para abate próximo aos 37 meses;
ficando aquém de seu potencial técnico com taxa média de desfrute de
21% (EMATER, 2015).
Na Bovinocultura de Leite, o Paraná é o 3º maior produtor do País;
aproximadamente 81% da produção de leite, ocorre em estabelecimentos
rurais com áreas de até 100 hectares concentrando 75% das vacas
ordenhadas (IBGE, 2006).

259
Embora a produtividade média de 2,533 litros/vaca/ano seja
superior à média nacional (1.416 litros/vaca/ano) (SEAB, 2014), a
produtividade está abaixo de seu potencial técnico, o que decorre de vários
problemas adversos, entre os quais, de acordo com vários autores, estão os
efeitos climáticos (e.g.: Tonello, 2011). Os problemas adversos da pecuária
leiteira no Paraná vão desde a escala reduzida de produção, passando
por questões de padrão genético adequado, alimentação (produção de
forragem), ambiência (bem-estar animal), qualidade (intrínseca e extrínseca
ao leite) e de capacidade gerencial.
Aspectos como a produção de forragem e bem-estar animal são
influenciadas pelo microclima local com reflexos no desempenho animal.
O fator climático impõe, isolado ou combinado com outros, estruturais e
sociais principalmente, um certo grau de estresse aos animais, mensuráveis
pelos resultados das disfunções na homeotermia (Naãs, 1989; Silva 2008).
Como a eficiência do desempenho (produtivo e/ou reprodutivo) também
depende do funcionamento homeotérmico, suas disfunções podem
acarretar prejuízos (Hafez, 1973; Hardy, 1981; Naãs, 1989; Müller, 1989;
Ferreira et al., 2006; Silva 2008).
As principais regiões da pecuária paranaense estão sob condições
de regime térmico que variam, desde as de clima subtropical com geadas
severas no outono – inverno, até as condições de clima quente/muito
quente durante a primavera – verão, com temperaturas superiores a
30ºC. Assim, o clima, que durante as estações mais quentes do ano,
proporciona altas produções de forragens de boa qualidade capaz de
suportar produção de leite de 10 a 12 litros/vaca/dia sem suplementação,
impõe uma condição de estresse térmico que pode reduzir a ingestão da
forragem, o que é mais prejudicial em sistemas de produção a pasto. Nas
estações frias do ano, as pastagens tropicais deixam de crescer ou mesmo
podem ter seu ciclo encerrado pelo frio. Forrageiras tropicais praticamente
deixam de produzir matéria seca quando a temperatura do ar ser torna
menor do que 10ºC (Larcher, 2000) a influência negativa da temperatura

260
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

na produção de matéria seca é proporcional ao número de horas anuais


com temperaturas de 10ºC ou menos (Pedro Jr. et al.,1990).
A arborização adequada das pastagens pode modificar o microclima
favorecendo e agir sinergicamente com raças adaptadas a determinada
região. A literatura sobre a criação e manejo de bovinos de leite reconhece
a importância da sombra, natural ou não, para potencializar o desempenho
dos animais nas condições do território brasileiro (Siqueira et al, 1993;
Barbosa et al, 1995; Ortencio Filho et al, 2001; Neiva et al, 2004; Andrade
et al, 2007; Silva et al, 2007; Neves, 2008; Medeiros et al, 2008).
A principal resposta resultante da interação árvore x animal nos
sistemas silvipastoris é a redução do estresse climático sobre os animais.
A redução da insolação e da temperatura ambiente proporcionada pela
sombra das árvores é o benefício microclimático mais importante para
os animais, pois promove aumento do consumo de forragem e, como
consequência, aumento do desempenho reprodutivo e produtivo (Dutra,
et al., 2007). Além de menor gasto de energia metabólica para mantença
de equilíbrio homeostático (Tucker et al., 2008; Bird et al., 1992)
Os sistemas silvipastoris revelam-se de grande aplicabilidade nas
condições das áreas de pecuária no Estado do Paraná) devido à dimensão
das superfícies ocupadas por pastagens, às possibilidades que a arborização
representa em termos de serviços de proteção dos rebanhos contra
extremos climáticos e à produção de madeira de alta qualidade para o
setor madeireiro.
Na condição em que o gado é componente econômico da
propriedade rural, conforme Porfírio da Silva (1998), o componente
florestal assume um caráter complementar ou suplementar da renda,
em que, num primeiro momento, por meio de seus serviços de proteção
ao rebanho e ao componente forrageiro, promove melhoria da atividade
pecuária; e num segundo momento, integra e amplia a renda da propriedade
quando seus produtos diretos forem colhidos (madeira, sementes, frutos,
pólen).A produtividade e a qualidade do que é produzido em sistemas

261
silvipastoris depende do material genético empregado (árvores, forrageiras
e gado), da adequação destes ao sítio (ambiente edafoclimático), do
arranjo espacial das árvores e das práticas de manejo utilizados, quer seja
para o componente arbóreo, forrageiro e animal. Por exemplo, Della
Cruz (2007), ao analisar sete propriedades rurais com sistema silvipastoril
nos municípios de Cianorte, PR e Tapejara, PR, concluiu que a espécie
Eucalyptus grandis era mais favorável ao rendimento silvipastoril do que
o Eucalyptus camaldulensis como consequência do maior incremento de
madeira do E.grandis.
Na comparação entre monocultivos de eucalipto e sistema
silvipastoril, aos quatro anos de idade, o sistema silvipastoril orientado
para a produção de toras (424 árvoresha-1), apresentava o incremento
médio anual (IMA) de 33,2 m³/ha/ano, enquanto que o IMA do mesmo
clone (E.urophylla x E.grandis) em monocultivo (1.111 árvores/ha) foi de
43,5 m³/ha/ano. Em termos de biomassa o sistema com 1.111 arvores/
ha foi mais produtivo; porém, em termos de volume por árvore, o
sistema com 424 árvores/ha foi o mais produtivo com 0,313 m³/árvore
versus 0,156 m³/árvore do sistema com 1.111 árvore/ha (Medeiros, não
publicado). Sistemas silvipastoris, aos 19 e 20 anos de idade na Região
Noroeste do Paraná, foram avaliados por Radomski & Ribaski (2011)
quanto à sua produção de madeira serrada, os autores concluíram que
nos sistemas avaliados, a receita adicional da madeira serrada de grevílea
(Grevillea robusta) mais a lenha, produzida pelo aproveitamento integral
das 95 árvores existentes por hectare, alcançaria cerca de R$ 840,00/ha/
ano; para a madeira de eucalipto (Corymbia citriodora), 222 árvores/ha, a
receita adicional para a venda de toras em pé seria de , aproximadamente,
R$1.200,00/ha/ano. Mas que, se as toras fossem transformadas em
madeira serrada na propriedade, ocorreria um ganho de cerca de 400%.
Porfirio-da-Silva & Mazuchowski (1999), ao descreverem um
sistema silvipastoril com grevíleas aos 14 anos, na Região Noroeste do
Paraná, registram a presença de 128 árvores por hectare, produtividade de

262
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

11,5 arrobas de peso vivo por hectare/ano, 122 m³/ha de madeira de toras
em pé e 118,8 mst de lenha, o que representava um incremento total bruto
de cerca de R$420,00/ha/ano.
O tempo necessário para o retorno do investimento na produção
florestal madeireira é apontado como o principal inconveniente,
principalmente para as pequenas propriedades rurais. Os sistemas
silvipastoris constituem uma alternativa para incorporar a atividade
florestal ao empreendimento rural, utilizando as vantagens econômicas
que cada um tem em separado, ou seja, o rápido retorno das atividades da
pecuária e as características favoráveis do mercado de produtos florestais.
Além da produção de produtos das árvores, a melhoria do
ambiente pelas árvores, proporcionando sombra por exemplo, poderia
incrementar a produção das vacas leiteiras (Carvalho, 1991) ou impedir o
decréscimo de produção de leite nos meses mais quentes do ano (Mota, et
al.1997; Klosowski et al., 2002; Tonello, 2011). A disposição adequada de
árvores na pastagem, além de proporcionar conforto animal (dispondo-o
a pastar mesmo em horários mais quentes), pode estimular a exploração
intensiva de leite e/ou carne a pasto para aproveitar o potencial das
espécies forrageiras tropicais ao favorecer o crescimento e a qualidade
dessas espécies (Paciullo et al. 2007; Paciullo et al., 2008; Carvalho &
Botrel, 2002; Carvalho et al., 1994). Mais, para a pecuária de corte calcada
em cruzamentos “industriais” de raças zebuínas e européias, é fundamental
a proteção contra o estresse térmico calórico.
É necessário catalisar a adoção de sistemas silvipastoris na pecuária
paranaense, principalmente na pecuária de leite que está concentrada em
estabelecimentos de até 100 hectares (onde se concentram 83% das vacas
ordenhadas no Paraná) que constituem 90% do total de estabelecimentos
existentes e representam o grande contingente de pessoas vinculadas ao
meio rural.
A cadeia produtiva do leite tem necessidade de identificar e
desenvolver oportunidades de mercado, bem como de desenvolver

263
opções em sistemas de produção integrados e de integração de atividades
à atividade leiteira na propriedade rural (Bortoleto et al., 1997), o que
pode ser contemplado pela adoção de sistemas silvipastoris. A tendência
de mercados para produtos ambientalmente adequados abre uma
oportunidade para a produção de leite a pasto, em um sistema capaz de
contribuir para a fixação de gás carbônico (CO2), com menor emissão de
óxido nitroso (N2O), além de ser capaz de mitigar a emissão de gás metano
(CH4) pelos ruminantes, todos importantes gases componentes do “efeito
estufa”, fatos que podem compor elementos de marketing para o leite (e
seus derivados) produzido em tal condição.
A arborização de pastagens no Paraná pode ter sua adoção
fundamentada, argumentada, em diversos objetivos, variando da
conservação do solo, melhoria das condições ambientais (proteção
contra geadas, ventos frios, granizo, tempestades, altas temperaturas...) e,
portanto, melhoria da saúde dos animais e proteção das pastagens, até a
disponibilidade de madeira na propriedade para diferentes usos, a renda
adicional em madeiras comerciais e, inclusive, o aspecto cênico (manejo
de paisagem).
Tanto o leite, a carne, o couro, quanto a madeira produzida nesse
sistema de uso da terra, atendem melhor aos princípios preconizados pelos
mecanismos da Certificação de Produtos e de suas cadeias de custódia,
considerando tanto aspectos ambientais como sociais e econômicos
envolvidos em seus produtos e derivados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Três décadas depois dos primeiros estudos, existem atualmente


grandes empreendimentos silvipastoris de empresas do setor florestal com
seus programas de fomento, especialmente fora do Paraná, por exemplo,
no Estado de Mato Grosso do Sul estima-se que atualmente existem mais

264
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

área de sistemas silvipastoris do que no Paraná. Se utilizarmos a taxa


estimada por Menarim Filho (2005), de aproximadamente 790 ha/ano,
existiriam 16 mil hectares de sistemas silvipastoris no Paraná.
Isto representa pouco frente à grande superfície territorial hoje
utilizada somente com pastagens, é necessário direcionar esforços para
superar barreiras econômicas como a necessidade de investimento inicial
e barreiras operacionais como a necessidade adquirir maior conhecimento
tecnológico por parte de técnicos e produtores.
A região do noroeste paranaense, por exemplo, onde existem
sistemas silvipastoris plantados desde os anos 80, com produtores já
colhendo madeira, ainda não dispõe de um programa de incentivo capaz
de proporcionar maior velocidade para a mudança de uso das terras de
pastagens convencionais para silvipastoril. Paradoxalmente, um município
no sul do Paraná, criou, dois anos após a implantação da primeira URT,
em 2004, uma política municipal de incentivo aos produtores de leite que
queiram converter suas pastagens em silvipastoril. Como resultado, até 2007
já existiam 21 novas áreas de pastagens arborizadas. Mais recentemente, o
município de Saudade do Iguaçu, no sudoeste paranaense, tendo como
base tecnológica uma URT implantada no município em 2005, apoia 100
novas propriedades leiteiras para a implantação de sistema silvipastoril
(Santos, 2015)
A superação de barreiras econômicas, operacionais e culturais,
que envolvem a conversão de um sistema de pastagem convencional para
um sistema silvipastoril, passa necessariamente pelo desenvolvimento
de políticas públicas que proporcionem reais incentivos como: linhas
de crédito diferenciado para a conversão; o pagamento por serviços
ambientais auferidos pela mudança no uso da terra; e, da assistência
técnica capacitada.
Finalizando, cabe ressaltar que o Paraná tem as condições
necessárias e a demanda para investir na bovinocultura alinhada a uma
tendência de mercado crescente no mundo, e que não deixará o consumidor

265
paranaense, brasileiro, de fora: as dos produtos ambientalmente adequados.
Especialmente agora quando se prepara para tornar-se uma área livre de
aftosa sem vacinação.

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276 p.

272
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

Bem-estar de bovinos em pastagem

Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho1


Thiago Mombach Pinheiro Machado2
Dario Fernando Milanez de Mello2
Luciana Aparecida Honorato2

1. Introdução

O Bem-estar animal é um pré-requisito para que um sistema


seja eticamente defensável e socialmente aceitável e, dessa forma, a
produtividade deixou de ser o único parâmetro de avaliação de um
sistema criatório. Por exemplo, o conceito de “carne com qualidade ética”
tem sido utilizado para se referir à carne oriunda de animais que foram
tratados e abatidos em condições de bem-estar e que sejam sustentáveis
e ambientalmente corretas (Warris, 2000). Da mesma maneira, podemos
nos referir a “leite com qualidade ética” associado a alto valor biológico e
sanitário, proteção ambiental, cidadania e vacas felizes (Machado Filho et
al., 2010).
A preocupação quanto ao bem-estar animal se popularizou
em 1964, quando Ruth Harrison publicou o livro Animal Machines,
denunciando os maus tratos a que os animais eram submetidos na criação
animal confinada (Harrison, 1964). Ao consultar publicações dessa época,
percebe-se que o título do livro faz referência ao entendimento que se
tinha de animal zootécnico, como “máquinas vivas transformadoras e

1
Engenheiro Agrônomo, Professor Titular do Dep. de Zootecnia e Des. Rural, LETA – Lab. de Etologia Aplicada
e Bem-estar Animal, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
2
Médico veterinário, LETA – Lab. de Etologia Aplicada e Bem-estar Animal, Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

273
valorizadoras de alimentos” (Domingues, 1960). A publicação de Ruth
Harrison fez com que o Parlamento da Grã-Bretanha criasse um comitê
formado por agriculturalistas para investigar suas denúncias, o qual emitiu
um parecer, chamado Relatório Brambell (1965), onde foram estabelecidas
as cinco liberdades mínimas aos animais (Brambell, 1965): virar-se; cuidar-
se corporalmente; levantar-se; deitar-se; estirar seus membros. A partir
de então, houve uma mudança de concepção e a visão mecanicista deu
lugar a uma versão moderna onde o animal é entendido enquanto uma
“entidade psicológica” (Hurnik, 1992) e, portanto, induzir um animal
a um sofrimento calculado ou desnecessário tornou-se eticamente
reprovável (Fraser, 1985). Estudos na área de etologia têm sido cada vez
mais desenvolvidos para auxiliar a responder cientificamente às questões
bioéticas. Tais estudos indicam que os animais respondem, sentem dor,
reagem a angústia e ao sofrimento, tem preferências e, por tudo isso, a
União Europeia oficializou o reconhecimento da senciência nos animais,
no Tratado de Amsterdã (1997).
Mais tarde, as cinco liberdades do Comitê Brambell foram
aprimoradas. Os animais então deviam ser livres: de fome e sede; de
medo e estresse; de desconforto; de dor; machucado ou doença; e livres
para expressar seus comportamentos naturais (FAWC, 1979). Podemos
considerar que bovinos em pastagem são livres para expressar seus
comportamentos naturais, dentre os quais talvez o mais importante:
pastoreio (Kilgour, 2012). Esse comportamento, o pastoreio, de relevância
evolutiva óbvia, é negligenciado em sistemas de produção confinados.
Entretanto, estar a pasto e deixar os animais livres para pastar garante
apenas um dos aspectos relativos a seu bem-estar. É preciso, então, garantir
as demais quatro “liberdades”.

274
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

2. Origem do bovino: 2 milhões de anos de


evolução e seleção natural

Uma condição para o bem-estar enfatizada pela comunidade


científica e percebida pela sociedade em geral é a “liberdade para os
animais expressarem seus comportamentos naturais”. Entendendo que a
organização comportamental das espécies que utilizamos para produção é
resultado de milhares de anos de adaptação de seus ancestrais ao ambiente,
é possível compreender a relevância dos comportamentos naturais na
qualidade de vida, já que a motivação para expressar tais comportamentos
está impressa geneticamente e a impossibilidade de exercê-los pode,
inclusive, afetar fisiologicamente os animais.
Em se tratando de herbívoros em geral, e de bovinos em
particular, o hábito de pastar é o principal comportamento natural
e de alta motivação para o animal. Bracke e Hopster (2006) avaliaram
a importância de comportamentos naturais em diferentes espécies e
encontraram que o comportamento de pastar em vacas leiteiras, mostra-se
de intensidade moderada, de alta incidência e de muito longa duração,
consistindo em um comportamento essencial para o bem-estar dessa
espécie. Isso ocorre porque a espécie bovina possui dois milhões de anos
de adaptação à vida em pastagem, somente 10 mil anos de coabitação
com humanos, ou seja, de domesticação (Craig, 1981) e apenas 100 anos
de adaptação ao confinamento. Dessa forma, a fisiologia desses animais,
por mais que estes tenham sido selecionados e melhorados geneticamente,
mantém essa característica básica de adaptação às dietas com alta fibra e
baixa densidade. Uma dieta com maior quantidade de grãos ou com alta
proteína e baixa em fibra, acarreta em desequilíbrio metabólico, como
acidose ruminal, e prejuízos à saúde.
Porém, a simples concessão de acesso à pastagem, não é garantia de
bem-estar aos animais, pois nesse ambiente eles enfrentam maiores desafios
como a procura por alimento, água e sombra, e estão mais expostos às
condições climáticas e parasitismos. A seguir serão discutidos os principais

275
pontos críticos para o bem-estar dos animais em pastagem, os mecanismos
de adaptação do animal e as possíveis soluções para cada ponto.

3. FOME: sazonalidade na oferta de alimentos e/


ou baixa qualidade

Submeter um animal à fome é, claramente, uma condição


inaceitável do ponto de vista ético, econômico e técnico. Porém, a falta de
planejamento forrageiro para o período de entressafra de pastagem e a baixa
qualidade de pastagens tem, frequentemente, resultado nessa condição. A
fome pode resultar em perda de peso, em morte ou comprometer funções
essenciais, como a reprodução.
É importante compreender o comportamento de pastoreio
dos bovinos, pra que seja adotado manejo alimentar adequado. O
comportamento ingestivo é composto de três fases: 1) apetitiva: onde o
animal busca o alimento; 2) consumatória: ingestão propriamente dita e 3)
saciedade: marcada pelo descanso e ruminação do animal. A quantidade e
qualidade do alimento influenciam no tempo dessas fases. Na apreensão da
forragem, a língua é o principal órgão utilizado para coleta e, com o auxílio
dos lábios, pouco móveis, é feita a seleção das plantas. Bovinos são seletivos
no pastoreio, apresentando seletividade interespecífica e intraespecífica,
que também pode variar conforme a característica da forragem e nível de
competição (carga animal). Por não possuírem dentes incisivos superiores,
somente palato duro, os bovinos conseguem apreender o pasto a, no
máximo, 14 mm do solo.
O bovino é uma espécie crepuscular por natureza, portanto, a luz
do dia é muito importante para determinar sua percepção do ambiente.
Ele possui ritmos circadianos (um dia e uma noite) com um ritmo diurno
de locomoção bem definido, com maior atividade durante as horas de luz e
os picos de pastoreio ocorrendo especialmente ao amanhecer e entardecer
(Phillips, 2002). É evidente que vacas em lactação alteram seu pico de

276
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

pastoreio em função dos horários de ordenha, portanto, um manejo


positivo ao bem-estar é adotar um sistema rotacionado, com a troca das
vacas para piquetes novos a cada saída de ordenha, pois há um aumento
na intensidade de pastoreio quando é oferecida uma pastagem nova.
O animal em pastoreio está sob o efeito de muitos fatores que podem
influenciar a ingestão de forragem; entre eles, sobressai a oportunidade de
selecionar a dieta. Stuth (1991) sugere uma hierarquia na seleção da dieta
em que dois grandes níveis de seleção podem ser identificados. A escolha
espacial e a escolha das plantas. Em sistemas extensivos de pastoreio, o
animal pode caminhar longas distâncias e realiza, primeiro, a escolha
espacial e a seguir a seleção ao nível da comunidade de plantas, para então
escolher um fragmento (patch) e uma estação de alimentação. É na estação
de alimentação que ocorre a seleção intraespecífica (folhas antes de talos,
partes mais novas antes de partes mais velhas), mas também pode ocorrer
seleção interespecífica em pastagens polifíticas. Em sistemas intensivos de
pastoreio, como o Pastoreio Racional (Voisin, 1974), a escolha espacial e
da comunidade de plantas é feita pelos humanos, restando aos animais
a disputa de estações de alimentação, onde ocorrerá o pastoreio seletivo.
O pastoreio seletivo permite compensar a baixa qualidade da
forragem, permitindo a ingestão de partes mais nutritivas das plantas
(Santana Júnior et al., 2010). Vacas leiteiras consumindo a mesma
pastagem, foram capazes de ajustar seu comportamento de pastoreio
para selecionar uma dieta de plantas com maior teor de proteína quando
receberam um suplemento energético (milho moído, com 9,5% de PB)
em comparação com um suplemento proteico (concentrado comercial,
com 21% de PB). Não foi observada alteração na composição do leite
(Pinheiro Machado Filho et al., 2014). Nesse experimento, quando as
vacas estavam consumindo o suplemento energético, tiveram uma maior
frequência de pastoreio no segundo período da manhã, e uma taxa de
bocados maior, indicando a plasticidade de pastoreio dos animais em
função de suas necessidades fisiológicas (Tabela 1). O tempo de pastoreio
de um bovino pode variar de 4 e 14 horas por dia, com dois ou três picos.

277
Essa amplitude também ocorre em função de variáveis do animal, do
ambiente e da pastagem.
Os animais se locomovem voluntariamente em resposta a
demandas por recursos como alimento, água, companhia, abrigo e demais
recursos. Além disso, conforme o sistema de produção, eles são forçados a
se movimentarem para a sala de ordenha ou para outras áreas de pastagem.
Quanto maior a distância que os animais precisarem percorrer, maior
será o impacto sobre seu bem-estar e sobre a produtividade. As distâncias
percorridas diariamente em busca de pasto, água e sal, que podem ser
desde 0.9 km em pastoreio rotativo até 24 km em sistemas extensivos sob
condições de seca (Broom & Fraser, 2007), aumentam o risco de problemas
de casco (Phillips, 2002) e implicam em importantes perdas de energia.
Já foi demonstrado que a localização da água e a qualidade da forragem
têm uma influência mais significativa na distância percorrida por vacas do
que a quantidade de alimento, período de lactação e condição corporal
(Broom & Fraser, 2007).

Tabela 1: Frequência de pastoreio (intervalos de 5min) em dois períodos


de observação (8-10am; 10-12am) e média da taxa de bocados
de vacas suplementadas com concentrado comercial (CC) ou
milho moído (MM), num desenho cross-over, n=10 (Pinheiro
Machado Filho et al., 2014).
CC MM Probabili
Variáveis Erro padrão
Período 1 Período 2 Período 1 Período 2 dade
a c a b
Frequência de pastoreio 23,80 20,55 23,80 22,20 0,37 0,04
-1 a b
Taxa de Bocados (min ) 39,54 44,21 1,19 0,03

Por outro lado, vacas leiteiras sentem necessidade de se locomover


e a falta dessa atividade, assim como o excesso, também aumenta o risco de
problemas de cascos. Há, portanto, uma recomendação para que as vacas
possam caminhar cerca de 3 km por dia. Essa recomendação é baseada

278
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

na pesquisa de Schofield et al. (1991) que observaram que vacas, mesmo


estabuladas, caminham de 2 a 4 km/dia. Portanto, um manejo ideal deve
permitir que o animal encontre a melhor qualidade de pasto com o menor
custo de locomoção possível.
A qualidade da pastagem é fundamental para a manutenção
da saúde e bem-estar de animais à campo. Baixo teor de fibra e maior
digestibilidade do pasto favorece um maior tempo de pastoreio, maior taxa
de bocadas e maior consumo, já quando o teor de fibra é alto ocorre uma
maior seletividade e menor ingestão de forragem (Tabela 2). Portanto, os
animais devem ter acesso à pastagem quando esta encontrar-se no ponto
ótimo de repouso, ou seja, quando as plantas tiverem alcançado a máxima
produtividade no tempo, o momento em que a aceleração da curva de
crescimento é igual a zero (Machado Filho, 2011). Esse momento coincide
com alta qualidade do tecido vegetal e acúmulo das reservas da planta
suficientes para um novo rebrote. Obtém-se, assim, o máximo de produção
de massa verde por área na unidade de tempo (Machado, 2004), o que
pode ser alcançado fazendo-se divisão da área em piquetes e monitorando
a entrada dos animais no tempo certo.
Devido à sazonalidade das principais plantas forrageiras, deve ser
previsto o suprimento de alimento para as épocas de restrição. Como dito
inicialmente, a falta de um planejamento alimentar estratégico é recorrente
em muitos sistemas de produção, acarretando em períodos de subnutrição
ou mal-nutrição dos animais. O adequado manejo de pastagens, o estoque
através da fenação do excedente de pasto, a produção de silagem ou grãos,
pastagens diferidas e legumineiras são estratégias importantes para a
manutenção do estado nutricional dos animais nos períodos de entressafra.
O estado nutricional, por sua vez, pode ser monitorado através do escore
de condição corporal, que é considerado um indicador adequado de bem-
estar animal (Roche et al., 2009).

279
Tabela 2: Características da pastagem e a resposta do comportamento de
pastoreio do animal.

Fonte: Machado Filho in: HURNIK et al., 1995.

4. Parasitismo

Outra questão relevante ao bem-estar de animais no ambiente


de pastoreio é a presença de parasitas. Muitos parasitas externos causam
alteração no comportamento de pastoreio de bovinos. Notadamente,
muscídeos hematófagos, como a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans)
e a mosca dos chifres (Haematobia irritans) causam grande incômodo, que
se reflete na diminuição da produção de leite (10 – 20%) e ganho de peso
(20 – 40%) dos animais (Ribeiro & Vianna, 1998). As secreções, como das
glândulas lacrimais, atraem as moscas particularmente na face e percebe-
se o desconforto dos animais pela agitação da cabeça, orelhas e pernas,
frequente mudança de posição e abanar da cola. Animais muito parasitados
podem interromper a atividade de pastoreio e reduzir o tempo deitado.
Como as moscas atacam principalmente os animais estacionários, esses
começam a passar mais tempo caminhando. Eles também evitarão ficar
na sombra, onde há maior concentração de moscas, aumentando assim a
exposição ao estresse calórico (Phillips, 2002). Além das moscas, os animais
também estão sujeitos a maior infestação por carrapatos (Riphicephalus
(Boophilus) microplus) que, apesar de não alterarem o comportamento de

280
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

pastoreio, causam prejuízos à saúde porque são vetores de doenças como a


tristeza parasitária e porque ocasionam perdas de rendimento zootécnico
através da espoliação.
As verminoses são mais importantes em animais jovens, uma vez
que com o passar do tempo os animais desenvolvem imunidade, porém,
animais adultos podem ter elevada carga parasitária em períodos de
estresse, como periparto, e animais que geneticamente expressam baixa
imunidade. É sabido que poucos animais (menos de 10%) do rebanho
albergam a maioria dos parasitas, por isso é importante identificá-los
para tratamento individualizado. O comportamento de evitar o cosumo
de pasto próximo às fezes é uma estratégia desenvolvida pelos bovinos
para prevenir a infecção parasitária. Bovinos com carga parasitária maior
pastam mais distante dos bolos fecais e desenvolvem resposta imune
inferior do que animais menos parasitados (SEO et al, 2015). Conhecendo
a relação entre resistência e comportamento animal é possível selecionar
animais com melhor resposta imune a parasitos, de forma similar ao que
vem sendo feito na seleção genética de ovinos (Hutchings et al, 2007).
Além de melhorar o bem-estar dos animais, reduz a necessidade de drogas
anti-helmínticas.
Para minimizar o problema de endo e ectoparasitas, uma medida
imediata é o uso racional de produtos carrapaticidas e mosquicidas de
impacto mínimo ao agroecossistema. Como uso racional, entenda-se tratar
apenas os mais afetados, para permitir a competição entre parasitos não
resistentes e resistentes aos antiparasitários e, entre outras, alternar os
princípios ativos dos produtos. O controle biológico é uma importante
alternativa aos acaricidas e anti-helmíticos de síntese química. Já são
conhecidas cerca de 750 espécies de fungos que são patógenos ou parasitos
de artrópodes (Veríssimo, 2013). O fungo Metarhizium anisopliae, por
exemplo, demonstra alto potencial de virulência para larvas de carrapato
bovino (Quinelato et al, 2012). A introdução de fungos predadores de
nematódeos também tem se mostrado eficaz no controle de parasitoses

281
(Alves, 2004). São conhecidos também Nematóides entomopatogênicos -
NEPs – que, em testes in vitro, demonstram uma eficácia superior a 90% no
tratamento contra carrapatos (Carvalho, 2008). É importante, portanto,
que se institua um manejo agroecológico, que permita o retorno de uma
cadeia trófica natural, tendendo ao equilíbrio da biota presente no solo,
pastagens e animais.
A principal medida de controle estratégico deve ser instituída
através de técnicas de manejo. O pastoreio rotativo evita que os animais
fiquem constantemente expostos aos parasitas e períodos de 30 a 45 dias
de pastos livres de animais podem eliminar até 80% de larvas de helmintos.
Visando o controle do carrapato, 60 dias de descanso da pastagem seria
um prazo viável para reduzir a sobrevivência larval (Veríssimo, 2013). As
larvas podem morrer por exaustão de suas reservas energéticas ou por
dessecação, portanto, além do descanso do pasto, o pastoreio a fundo é
outra medida para eliminar as fases de vida livre dos parasitos, através dos
raios solares.
A longo prazo, o uso de genótipos bovinos resistentes, o adequado
manejo de pastagens em rotação de sítios de pastoreio e a presença de
predadores naturais como a garça-carrapateira, são os métodos de
controle mais indicados e sustentáveis. A seleção de genes de resistência
deve ser considerada dentre os mecanismos de adaptação dos animais,
além da rejeição inata de pastoreio na bosta. Deve-se evitar controle com
agrotóxicos que podem levar ao desenvolvimento de populações resistentes,
contaminação ambiental e do alimento e morte dos predadores naturais
dos parasitos. O método de controle integrado inclui: genética, manejo
das pastagens e uso de repelentes. Uso de produtos químicos é indicado
somente em casos de infestação severa.

282
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

5. ABRIGO: proteção contra extremos climáticos

A homeostase térmica consiste na manutenção da temperatura


corporal constante ao equilibrar o calor produzido pelo organismo com a
perda e o ganho de calor resultante da interação com o ambiente. A tentativa
de termorregulação ocasiona alterações comportamentais e fisiológicas.
Essas últimas são o incremento do gasto energético de mantença, redução do
consumo de matéria seca, aumento de perdas de água e minerais, alteração
do equilíbrio ácido-básico, alteração do fluxo sanguíneo com redução aos
órgãos de interesse produtivo (útero, glândula mamária e sistema porta-
hepático, alterações bioquímicas e hormonais, especialmente redução
da secreção e concentração plasmática de somatotropina e hormônios
tireóideos e aumento dos níveis de adrenalina e noradrenalina (Martinez,
2006). As consequências fisiológicas do estresse térmico se intensificam à
medida que a temperatura e a umidade relativa do ar aumentam. As perdas
de calor pelas formas não evaporativas (radiação, condução e convecção)
se tornam menos eficientes. Os animais, então, efetuam a perda de calor
pela sudorese e evaporação através do ofego (dispnéia) (West, 2002),
aumentando significativamente a frequência respiratória.
A ausência de abrigo para proteção de extremos climáticos pode
provocar estresse térmico, doenças de pele, desidratação, hipotermia ou
hipertermia, anorexia voluntária e redução da produtividade. Em pastagens
sem sombra, onde os animais ficam expostos ao sol sem oportunidade
de proteger-se, há uma diminuição no tempo dos três principais
comportamentos de pastoreio: pastando, ruminando e deitado (Ferreira,
2014), o que afeta diretamente o bem-estar dos animais e a produtividade.
A zona de conforto térmico (ZCT) de bovinos está entre 0 e 16ºC para
raças taurinas europeias, tendo como limite máximo de 25ºC; enquanto
que nas raças zebuínas os valores estão entre 10 e 27ºC para ZCT, com
temperatura crítica máxima de 35ºC (Pereira, 2005). Portanto, em regiões
tropicais e subtropicais, o estresse pelo calor é geralmente um problema
maior para vacas leiteiras do que o estresse pelo frio. A tolerância ao calor

283
é dependente da raça sendo que, das raças leiteiras com origem em climas
temperados, a Holandês é menos tolerante ao calor do que a Jersey. Isso
porque a superfície relativa de exposição corporal (área de exposição
corporal por massa) é maior em raças menores, que por isso trocam mais
calor por unidade de massa corporal.
Dentre as táticas comportamentais para manter a homeostase
térmica, os animais inicialmente tentam resolver através da orientação de
seus corpos, como esconder suas faces ou voltar as costas para a direção
de ventos frios. Em altas temperaturas, eles podem entrar em açudes, rios
e até bebedouros, diminuir o comportamento de pastoreio e procurar por
sombra. As raças europeias ficam preferencialmente no sol em temperaturas
médias de 23ºC, mas procuram a sombra quando a temperatura está acima
de 28ºC. Bovinos em florestas tropicais e áreas equatoriais sentem maior
necessidade de sombra do que aqueles que vivem em áreas semi-áridas
onde a pluviosidade é baixa e sombra limitada. Uma estratégia natural
dos animais é ficar mais horas na sombra durante os dias muito quentes e
compensar essas horas pastando à noite (Phillips, 2002).
Embora a grande maioria dos bovinos brasileiros sejam criados
em condições tropicais ou subtropicais, onde geralmente a preocupação
maior é com o calor e excesso de radiação solar, há situações em nosso
país em que os animais podem sofrer com frio severo. As raças europeias
podem adaptar-se a temperaturas tão baixas quanto 20 ou 30 graus Celsius
negativos, desde que tenham adequada nutrição (Tarr, 2007). Em algumas
regiões do sul do Brasil, as temperaturas podem chegar próximo a zero
durante o inverno, e se os animais não tiverem uma boa condição corporal
poderão sofrer com o frio, especialmente se forem zebuínos ou suas cruzas.
Nessas regiões, mesmo o gado europeu aclimatado busca o mato durante o
inverno, em busca de abrigo e alimento. O provimento de boa alimentação
e abrigo garante o bem-estar dos bovinos no inverno do sul do Brasil.
Como o estresse calórico resulta principalmente da exposição
direta a radiação solar, a forma mais lógica de se reduzir esse estresse é

284
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

provendo sombra adequada aos animais. Estudos mostram seus efeitos


positivos ao bem-estar, percebidos através de parâmetros fisiológicos
e produtivos (Rushen et al, 2008). Porém, poucos estudos investigaram
tipos de sombra que são mais eficientes e preferidas pelos animais. Uma
pesquisa recente, feita na região centro-oeste do Brasil, demonstrou que
o tipo de sombra, natural ou artificial, influencia no tempo de pastoreio
de bovinos e em variáveis fisiológicas como temperatura retal e frequência
respiratória, concluindo que a sombra abundante de árvores, sejam elas
dispersas ou em bosques, é mais eficiente em evitar o estresse calórico do
que uma única sombra artificial (Ferreira, 2014). Mitlohner et al. (2002)
demonstraram que a disposição de uma área de sombra artificial com
2.12 m2/animal melhora o consumo de forragem, diminui a frequência
respiratória, e aumenta o ganho de peso e tempo de descanso em novilhas
de corte. A sombra artificial de telha de barro é mais disputada e mais
utilizada por vacas leiteiras de raças europeias do que sombrite. Da mesma
forma, as vacas apresentaram menor frequência respiratória quando a
sombra ofertada era de telhas de barro (Pellizzoni, 2011).
Além dos efeitos sobre o animal, estudos tem associado melhor
qualidade do solo e da pastagem em pastagens arborizadas. Ferreira
et al. (2012), demonstraram que ambientes da pastagem submetidos à
sombreamento por espécies arbóreas, como a Bracatinga (Mimosa scabrella),
podem apresentar níveis iguais ou maiores de produção em matéria seca
do que ambientes a pleno sol. No sistema silvipastoril, as vacas leiteiras
apresentam maior frequência de repouso e ruminação em decúbito,
indicando que esse sistema propicia maior conforto animal do que em
sistemas sem ou com poucas árvores (Bran, 2012).
Em síntese, para bovinos a campo, o consórcio entre árvores e
pastagens compõe o ambiente ideal para promover o conforto térmico
desses animais no calor. No frio, o abrigo aliado a uma boa nutrição
podem mitigar o efeito de frio severo. Além disso, é fundamental a
escolha de genéticas compatíveis às condições climáticas e topográficas
de cada região.

285
6. ÁGUA: tão óbvia e tão esquecida

A água é o nutriente mais importante e barato do sistema produtivo.


Sua ausência afeta todas as funções metabólicas do animal. A sede causa
extremo desconforto, reduz ingestão de alimento e produtividade,
pode levar a desidratação e morte. Água suja, indisponível, longínqua,
insuficiente em quantidade e/ou com acesso restrito, são as principais
causas de sede para vacas leiteiras.
Quando a água está acessível permanente e livremente, os
bovinos ingerem entre 2 e 5 vezes por dia e conforme aumenta a distância
entre o sítio de pastoreio e a fonte de água, as visitas se tornam menos
frequentes (Phillips, 2002). Essa condição foi claramente demonstrada
em um experimento com vacas secas, onde bebedouros localizados dentro
do piquete de pastoreio foram visitados, em média, 3,3 vezes por um
período de 12h. Quando o bebedouro esteve a 150 m de distância do
piquete, a média de visitas baixou para 1 por vaca/dia, apesar de a porteira
ficar permanentemente aberta (Coimbra et al., 2012). O bebedouro
no piquete reduz a influência da dominância social e da hierarquia no
comportamento de ingestão de água, e com isso animas com escores
sociais inferiores também podem consumir água sem restrições. Em vacas
leiteiras esse acesso “luxuoso” à água será recompensado com uma maior
produção leiteira. Produtores tem reportado aumentos de 20 a 30% na
produção de leite de vacas a pasto quando o bebedouro está disponível
permanentemente no piquete. Os bovinos preferem beber em bebedouros
do que em açudes. Não apenas preferem, mas apresentaram um ganho
de peso 30% maior quando a água foi oferecida em bebedouro em
comparação açude (Bica et al., 2006). Testes de preferência permitem
conciliar aumento na produtividade com maior conforto para os animais.
Até mesmo detalhes sutis, como o tamanho dos bebedouros podem afetar
o consumo de água (Pinheiro Machado et al., 2004) e recentemente foi
demonstrado que a característica que influencia a escolha do bebedouro
em vacas leiteiras é a área do espelho d’água (Teixeira et al., 2006), sendo

286
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

que áreas maiores são preferidas.


Tais pesquisas reforçam a importância do acesso irrestrito dos
animais a água de boa qualidade. Porém, não é dada a devida importância
desse fator pelos produtores e ainda predomina na atividade leiteira a
prática do fornecimento de água limitado ao local de ordenha. Esse manejo
deixa de considerar que quando a água é suprida por curto período de
tempo, fatores sociais podem reduzir o acesso de animais subordinados.
Como os animais geralmente se agregam ao redor da fonte de água, em
condição de restrição, animais subordinados bebem menos água do que
animais dominantes (Machado Filho et al., 2007). Considerando-se que
para produzir um litro de leite a vaca precisa beber de três a cinco litros
de água, a produção aumentará de dois a quatro litros de leite por dia
se houver bebedouros dentro dos piquetes. Assim, o investimento em
hidráulica geralmente é liquidado entre 100 e 200 dias de instalação dos
bebedouros, em função do aumento da produção. Em bovinos de corte
também já foi demonstrada uma diferença média em ganho de peso de
cerca de 100g/animal/dia para animais com acesso á água em bebedouros
do que em açude (Bica, 2005).
Os mecanismos de adaptação dos animais à falta de água são: o
conteúdo ruminal pode suprir a ausência de água por alguns dias, por
isso o animal reduz a ingestão de alimento. Busca por alimentos com
elevado conteúdo de água e, obviamente, a busca por água. Porém, uma
vaca gasta em torno de 1.3 kg de leite em energia para caminhar 1 km,
portanto, há evidente perda de produção se a fonte de água é distante.
A solução para esse problema é a implantação de bebedouros com
dimensões e localização adequadas para que todos os animais tenham
livre acesso a água limpa, abundante e permanente. Deve-se evitar que os
animais acessem aguadas, açudes, córregos e rios.

287
7. Mistura mineral

Os minerais são classificados como macro e micro minerais. Os


primeiros, para os bovinos, são o cálcio, fósforo, sódio, cloro, potássio,
magnésio e enxofre. São requeridos em grandes quantidades e são
importantes componentes estruturais dos ossos e outros tecidos, servindo
também como importantes constituintes dos fluidos corporais. Os macro
minerais desempenham funções vitais na manutenção do balanço ácido-
base, na pressão osmótica, no potencial eletrolítico das membranas e
nas transmissões nervosas. Os micro minerais, presentes em pequenas
quantidades e também essenciais, geralmente servem como componentes
de metaloenzimas e cofatores enzimáticos, ou como componentes de
hormônios do sistema endócrino (NRC, 2001).
A mistura mineral é a mistura de sal comum (NaCl) com os
minerais essenciais, nas proporções requeridas e tendo o sal comum
como regulador do consumo. O fornecimento insuficiente, indisponível
ou longínquo de mistura mineral, além de fórmulas mal calculadas, com
nutriente limitante, tem efeito análogo à falta de água. À medida que
foram selecionados geneticamente para aumento de produtividade, os
animais aumentaram suas exigências nutricionais, inclusive de minerais
e micronutrientes. Portanto, o suprimento insuficiente ou inadequado
de algum mineral pode levar a disfunções metabólicas, afetar o equilíbrio
eletrolítico, limitar ou comprometer funções essenciais, como reprodução
ou crescimento, e limitar a produtividade.
O bovino selvagem tinha menores exigências nutricionais e vivia
noutro ambiente (no Brasil é exótico). O mecanismo de adaptação que
esta espécie desenvolveu à insuficiência de minerais na pastagem, foi a
busca de minerais no solo, em rochas, em cascas de árvores e em algumas
plantas não forrageiras. Essas fontes também são buscadas por bovinos
domésticos criados a campo, e inclusive outras fontes como ossadas de
animais. Entretanto são geralmente insuficientes para as necessidades

288
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

de animais de alta produção. A carência crônica de minerais pode afetar


a saúde e o bem-estar de bovinos, reduzindo a imunidade e deixando o
animal vulnerável a doenças que podem comprometer ainda mais seu
bem-estar.
O adequado suprimento mineral de animais em pastagem garante
sua saúde e bem-estar, e deve ser feito através de mistura mineral formulada
com base na disponibilidade mineral da pastagem e nas necessidades
animais. Saleiros podem ser simples, mas plenamente acessíveis e
regularmente abastecidos, além de distantes dos demais recursos como
sombra e água, para evitar disputas e facilitar o acesso aos recursos para os
animais subordinados.

8. Predação

A predação de bovinos, principalmente pela onça-pintada (Panthera


onca) e onça-parda (Puma concolor), é frequente em determinadas regiões
do Brasil, como no Pantanal. Além de causar medo e dor nos animais,
a predação pode implicar em severo dano econômico aos produtores.
Hoogesteijn & Hoogesteijn (2011) apontam estratégias anti-predação que
conciliam a produção animal com a conservação desses grandes felinos,
resumidas em quatro aspectos principais:
1) Manter e reintroduzir espécies presas naturais dos predadores, como
capivaras, jacarés e queixadas, ao invés de tentar eliminar os felinos.
Essa medida é auxiliar ao equilíbrio ecológico das espécies; além disso,
a tentativa de eliminar indiscriminadamente todos os carnívoros da
área, além de ilegal, somente contribui para o aparecimento de felinos-
problema (animais feridos com arma de fogo que acabam predando
animais domésticos por comodidade).
2) Adaptações no manejo do gado para reduzir a predação: reprodução
estacional, de forma a concentrar partos; localizar maternidade e vacas
com bezerros de até 2 meses de idade em áreas mais protegidas dos

289
predadores; uso de currais de confinamento noturno; cercamento de
áreas com cercas elétricas; delimitação de áreas protegidas.
3) Introdução de animais protetores: animais vigias (como cães pastores e
jumentos) no rebanho; introdução de raças nativas, como o Pantaneiro
do Brasil, que possuem hábitos defensivos semelhantes aos bufalinos, e
a introdução destes também no rebanho bovino, ajudam na proteção,
devido ao comportamento de defesa em manada característico da
espécie.
4) Mecanismo de compensação para ressarcir os fazendeiros pelas perdas
causadas pela predação, de forma a estimular os proprietários de
fazendas de gado a tolerar a presença dos felinos em suas terras. Outras
iniciativas, como o fomento ao turismo, a produção de carne orgânica e a
bonificação aos pecuaristas que proíbem a caça e mantém a diversidade
de populações silvestres, também são medidas conservacionistas de
minimizar os efeitos da predação.
A predação em menor escala ocorre também em outras regiões do
Brasil, como é o caso do leão baio (Puma concolor), também conhecido por
puma, no sul do país. Em geral os predadores são animais extremamente
tímidos, e que somente em último caso se aventuram para caçar nos
rebanhos manejados por humanos. As mesmas recomendações acima se
aplicam ao puma. Na verdade, o predador de “duas pernas”, o abigeatário,
em geral produz muito mais dano do que os animais silvestres. Em geral,
a criação implica numa redução significativa da predação, se comparamos
com a situação de vida selvagem dos animais presas, e com os bovinos não
é diferente.

9. Relação humano-animal

Historicamente o humano é predador, e é assim que é percebido


pelos animais. Essa percepção pode ser superada quando se estabelecem
relações positivas, ou aprofundada, quando a relação é aversiva. A relação

290
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

humano-animal tem óbvias implicações no bem-estar e na produtividade


dos animais. Experiências aversivas criam medo no animal, dificultando o
manejo. Por outro lado, interações positivas resultam em reforço positivo
e facilitam o manejo dos animais. Por exemplo, já foi demonstrado
que a distância de fuga de vacas leiteiras à um manejador aversivo é
significativamente mais alta do que a distância de um manejador neutro
(Hötzel et al, 2005), e que os animais são capazes de lembrar-se do
manejador aversivo 6 meses depois, evitando-o (Figura 1). Outro aspecto
interessante, é que a posição social do bovino afeta sua reação a humanos
aversivos, e aparentemente os animais dominantes mantém uma distância
de fuga maior de um tratador aversivo do que os animais subordinados
(Machado Filho et al., 2001). A distância de fuga é a distância mínima
que um animal permite a aproximação de outro animal ou de humano,
antes de afastar-se. A distância de fuga é um bom indicador do medo que o
animal tem da aproximação de humanos, assumindo-se que quanto menor
a distância, menor o medo.

Figura1 – Distância de fuga das vacas em relação ao tratador neutro ou aversivo, nos dias 0
e 14 do experimento, e 180 dias após, mesmo sem reforço (Hötzel et al., 2005).

Na atividade leiteira, o contato é mais intenso entre manejadores


e animais e, portanto, o comportamento dos manejadores é fundamental
para reduzir o medo dos animais aos manejos. Atitudes positivas

291
dos manejadores melhoram o comportamento (Hemsworth, 2003)
e aumentam a produtividade de vacas leiteiras (Hanna et al, 2009). O
relaxamento e conforto da vaca leiteira é condição fundamental para
a ação da ocitocina na liberação do leite durante a ordenha através do
mecanismo neuro-hormonal de ejeção do leite. Vacas estressadas e com
medo tem a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal intensificada,
resultando em aumento do cortisol; e também ativação do sistema nervoso
simpático, que resulta em aumento nas concentrações de adrenalina e dos
batimentos cardíacos (Hemsworth, 2003). Vacas tratadas aversivamente na
sala de ordenha defecam mais durante a ordenha do que vacas tratadas de
forma gentil (Seabrook).
Porém, questões culturais e desconhecimento do comportamento
animal muitas vezes são fatores impeditivos para se estabelecer uma
relação positiva, por isso, é necessário que os manejadores tenham
habilidade e conhecimento sobre a espécie que estão trabalhando. Por
exemplo, bovinos preferem caminhar a uma velocidade entre 0.6 e 1.0
m/s e dentro dessa “zona de conforto” ocorre um menor custo energético
e acima dessa velocidade a eficiência energética diminui (Phillips, 2002).
É importante que os manejadores tenham ciência disso e conduzam os
animais de maneira tranquila, sem uso de cães, respeitando esse tempo de
deslocamento, o que diminuirá tanto o esforço dos manejadores quanto
dos animais.
O desenho das instalações tem importante efeito no
comportamento dos animais e seu bem-estar (Grandin, 1993). Como já
comentado, o desenho do bebedouro é importante e afeta o consumo de
água. As cercas devem evitar o uso de arame farpado, mais cara e com risco
de ferimento aos animais. A cerca elétrica não machuca, e impõe uma
barreira psicológica ao animal. A sala de ordenha, atendidas as exigências
sanitárias – piso de concreto, paredes de azulejo, evitar cantos, deve evitar
a presença de degraus ou rampas fortes; deve ser aberta ao Norte (no
hemisfério sul) para a entrada do sol, e fechada ao sul. Os materiais mais

292
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

preferidos aos animais são aqueles encontrados na natureza, madeira,


tijolo e palha.
O mecanismo de adaptação desenvolvido pelos bovinos para evitar
humanos aversivos é o comportamento de evitação. Na medida que os
animais se afastam dos humanos, ainda mais vacas leiteiras, todo o processo
produtivo fica prejudicado. Portanto, o humano deve adequar seu manejo
para permitir uma aproximação amistosa, contato com o animal. Isso quer
dizer jamais usar da violência, buscar interações positivas, onde o animal
aprenda a relacionar o contato com humanos com experiências boas, por
exemplo alimento. Vacas leiteiras tratadas com respeito tem distância de
fuga de humanos próxima de zero. Além do manejo gentil com as vacas,
deve-se desenhar instalações respeitando o comportamento dos bovinos
(ex: visão, movimento).

10. Hierarquia social

Os bovinos são animais sociais, gregários, que costumavam


pastar em grupos unissexuais que se juntavam na época reprodutiva. O
tamanho do grupo era determinado pelo balanço entre a redução ao risco
de predação e o aumento da competição pelos recursos, particularmente
alimento e acasalamento. A vida em grupo oferecia proteção contra os
predadores, mas também implicava competição por recursos (Phillips,
1993; Scott, 1969). A disponibilidade de recursos regulava o tamanho do
grupo, e a hierarquia social a competição pelos recursos.
Os animais que vivem em grupos, como os bovinos, tem uma
organização interna chamada organização social. A hierarquia é a forma
da organização social e a dominância é o instrumento da hierarquia.
Dominância social pode ser definida como a prioridade de acesso a uma
situação favorável e de evitar uma situação desfavorável. A existência
de uma hierarquia social interna é importante porque dá estabilidade e

293
tranquilidade ao grupo, evitando disputas frequentes. Obedecendo a uma
ordem hierárquica há menos gasto de energia e injúrias entre os animais,
pois os animais tendem a evitar confrontos com indivíduos sabidamente
mais fortes. Os animais que estão no topo da ordem hierárquica são
chamados de dominantes, seguidos pelos intermediários e por fim, os
subordinados. A posição mais alta na hierarquia é chamada de “alfa”,
identificada pela primeira letra do alfabeto grego “α”, já a posição mais
inferior da hierarquia social é identificada pela última letra do alfabeto
grego, “Ω” – ômega.
O estabelecimento da hierarquia varia conforme a espécie. Em
bovinos esse processo é rápido e com poucos contatos físicos (Bouissou,
1972). Em 49 grupos de 4 novilhas, todas as relações de dominância se
estabeleceram durante a primeira hora. Apenas 10.2% (30/294) dessas
relações foram revertidas durante a segunda hora e até o segundo dia.
Vacas dominantes apresentaram níveis mais altos de cortisol (9:92 vs
2:98) do que subordinadas (P>0,01) (Plusquellec, Bouissou & Le Pape,
2001), o que pode estar relacionado a um temperamento mais agressivo.
A hierarquia social tem certa flexibilidade, e é muito mais o resultado
de interações do que atributos físicos dos animais. Entretanto podemos
considerar como principais fatores do animal determinando sua posição
hierárquica o peso, o tamanho, a idade, presença de chifres, experiência
prévia e temperamento (Bouissou et al., 2001).
Se os recursos são limitados, os animais dominantes terão
prioridade ao alimento, à água, à reprodução e à fuga de predadores. Por
outro lado, os animais subordinados podem ser levados a severa restrição
desses recursos, comendo e bebendo bem menos e em situações esporádicas,
não participando da reprodução e ainda tendo maiores chances de serem
vitimas de predação. Na criação animal, além de terem seu bem-estar
comprometido, haverá reflexos na produtividade, na reprodução e na
saúde dos animais subordinados. Os efeitos da dominância social estão
presentes em todas as relações entre os animais, e por isso consideramos

294
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

a hierarquia social como a variável mais importante da criação animal,


porque afeta o acesso dos indivíduos a todos os recursos.
É necessário prover instalações e manejos que minimizem o efeito
da dominância e permitam que todos os animais tenham acesso aos
recursos. Por exemplo, a instalação de uma barreira física separando as
cabeças dos animais nos comedouros, é uma solução para melhorar o acesso
ao alimento de vacas subordinadas (Bouissou, 1971). O ritmo alimentar
de bovinos subordinados em estabulação livre quando havia restrição
de acesso ao cocho, foi significativamente diferente dos dominantes.
Os subordinados comeram por menos tempo e a intervalos erráticos
(Bouissou, 1970). No mesmo trabalho, se encontrou um maior peso de
glândula supra-renal por 100kg de peso vivo para os animais subordinados,
indicando uma condição de estresse crônico dos animais. Animais a pasto
recebendo suplementação alimentar a campo podem enfrentar problemas
análogos (Figura 2). Na situação em que o acesso ao recurso ração foi mais
restrito (em cocho no corredor), foi a situação em que teve o maior número
de animais (12/31) que nunca acessaram o recurso (Machado Filho et al.,
2000). Interessante observar que o número – e a identidade – dos animais
que sempre acessaram o recurso mudou muito pouco (10 a 13), já os que
nunca acessavam e os que às vezes acessavam, mudou bastante em função
da maneira como o recurso era apresentado.
Quando o recurso é escasso, o aumento de interações agonísticas
é indicativo desse problema. A sombra, assim como os demais recursos
ambientais, é fator de disputa entre os animais. A qualidade do recurso e
a necessidade do animal parecem estar relacionadas com a disposição dos
animais pela disputa dos recursos. Por exemplo, num estudo comparando
duas ofertas de sombra 4,5 ou 1,5 m2/animal, e dois tipos de cobertura
(sombrite 70% ou telha de barro), as vacas subordinadas se interessaram
menos pelo sombrite do que pela telha, utilizando a sombra do sombrite
45 – 50% do tempo de observação, enquanto as dominantes utilizaram
87-89% (P<0,05), sem diferença entre as densidades. Já quando a sombra

295
era de telha, não houve diferença entre tempo de uso da sombra por
subordinadas ou dominantes, apenas uma tendência, quando a oferta
era de 1,5m2/animal, em favor das dominantes (Machado Filho et al.,
2012). O número de interações agonísticas, por sua vez, foi maior em
ambos tipos de cobertura quando a oferta era menor (P<0,05). Resultados
similares foram encontrados numa situação de restrição de acesso a água,
onde vacas secas frequentaram o bebedouro dia sim, dia não, mas vacas
em lactação (categoria mais exigente em relação à água) disputaram o
bebedouro diariamente, mesmo sendo subordinadas (Hötzel et al., 2003).
Nessa situação, também houve um esforço maior das vacas subordinadas
lactantes para ter acesso ao recurso, ou seja, a água.

Figura 2 – Frequência de acesso a ração de um grupo de bovinos (n=31) em função da


forma como era oferecida, num cocho no corredor (corredor), num cocho dentro do
potreiro (potreiro), ao longo de um lado da cerca dentro do potreiro (1 cerca), ou ao longo
de dois lados da cerca do potreiro (2 cercas) (Machado Filho et al., 2000).

Da mesma forma, quando a disposição do recurso é inadequada,


por exemplo, quando o bebedouro fica no corredor e não no piquete,
o uso do recurso é predominantemente das vacas de mais alto ranking
social (Coimbra et al, 2012), e também o número de interações agonísticas
aumenta. Neste estudo, também houve oferta ou não de sombra na forma
de sombrite. Talvez pela qualidade do recurso sombra não ser tão efetivo,
a presença da sombra nos piquetes não influiu no comportamento de
bebida das vacas (P>0,60). Já a localização do bebedouro modificou

296
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

significantemente este comportamento, pois, nos tratamentos em que


o bebedouro localizava-se dentro do piquete de pastoreio, os animais
realizaram um maior número de eventos de bebida (P<0,001), passando
maior tempo bebendo (P<0,01) e apresentando maior consumo de água
(P<0,02), do que nos tratamentos em que o bebedouro era localizado
no corredor, independentemente da presença da sombra. Entretanto,
quando a água foi localizada no corredor, mesmo a uma distância máxima
de 150m e com a porteira do piquete permanentemente aberta, as vacas
dominantes apresentaram um número maior de eventos de bebida do que
as subordinadas (Tabela 3).

Tabela 3: Número de eventos de bebida por vaca por 12 horas diárias de


observação.

A dominância social tem alto valor adaptativo, outorgando aos


animais dominantes uma série de vantagens na disputa pelos recursos,
inclusive na reprodução. Dessa forma, a posição hierárquica das vacas
pode ter influência no sexo de suas crias. Como os bovinos são animais
de reprodução promíscua e formação de harém, na natureza apenas os
machos dominantes participarão da reprodução, e deverão deixar em
torno de 10 a 12 crias por ano. Já as fêmeas, independente de serem ou
não dominantes, deixarão no máximo uma cria ao ano. Assim, Trivers
e Willard (1973) desenvolveram a teoria, testada em cervos, de que os
pais investiriam mais em filhos machos, ou fêmeas, de acordo com qual
sexo iria beneficiá-los mais, posteriormente com o sucesso reprodutivo.

297
Assim, fêmeas dominantes teriam mais chance de que suas crias também
fossem dominantes e investiriam em filhos machos. As subordinadas,
por seu turno, investiriam em fêmeas que, independente de sua posição
hierárquica deixariam descendentes. Testamos essa hipótese em vacas
leiteiras, que num estudo em 4 rebanhos foi confirmada (Tabela 4).

Tabela 4: Número de crias machos e fêmeas, totais para cada grupo,


discriminado entre vacas dominantes, intermediárias e
subordinadas. Cada grupo foi um rebanho independente
(Yunes, 2001).

A dominância social é um componente que tem forte influência


no acesso aos recursos entre os bovinos, estando presente em todas as
relações sociais. Mesmo com bovinos em pastagem a dominância se
expressará e suas consequências serão tanto maiores quanto maiores
forem as restrições. O conjunto de experimentos apresentados acima
mostram o efeito da dominância social em várias situações corriqueiras
da criação de bovinos a pasto. Mostram, também, que quando os recursos
estão acessíveis a todos os animais os efeitos da dominância são em
grande parte mitigados e os animais em posições hierárquicas inferiores
(subordinados) poderão se alimentar, beber água, abrigar-se, e demonstrar
todo seu potencial produtivo, com seu bem-estar assegurado. Para isso
é preciso desenhar corretamente os sistema de produção, considerando
sempre o comportamento dos animais, de forma a que os recursos estejam
disponíveis a todos.

298
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

11. Relações sócio-positivas

As espécies sociais em vida livre têm a oportunidade de escolher a


composição de seus grupos, fato que não ocorre na produção dos bovinos
domésticos. As espécies que vivem em grupo não tem apenas relações
sociais agonísticas. Tem também relações sociais positivas, e que devem
ser levadas em consideração nos sistemas de criação de bovinos a pasto.
O acesso à alimentação, à água, ao abrigo, ordem de entrada na sala de
ordenha, entre outros são influenciados pela dominância social (Machado
Filho e Hotzel, 2003), mas também pelas preferências de companhia dos
animais. Os reagrupamentos, frequentes em bovinos leiteiros, representam
momentos de tensão social e resultam em interações agressivas e estresse. A
presença de um companheiro de grupo social tem efeito calmante durante
a exposição a um novo ambiente físico e social (Boissy et al., 1997; Veisser
et al., 1992.) e reduz o número de agressões (Raussi et al., 2005).
Os bovinos possuem associações preferenciais. Os indicadores mais
utilizados para averiguar a existência dessas relações são os comportamentos
afiliativos (lambidas) e a frequência de proximidade entre os animais.
Essa frequência de proximidade entre animais “amigos” é maior do que a
frequência aleatória esperada (Val-laillet et al., 2009) e há uma correlação
positiva entre o número de lambidas e a frequência de proximidade entre
bovinos leiteiros. Não há nos bovinos uma relação clara entre dominância
social e os comportamentos de lambidas. Os eventos de comportamentos
afiliativos ocorrem predominantemente associados ao comportamento de
pastoreio, momento em que os animais estão distraídos com a seleção de
seus alimentos, o que os expõe a uma maior vulnerabilidade de predação.
Além disso, os comportamentos afiliativos são significativamente mais
frequentes em rebanhos maiores. Esses comportamentos são ferramentas
de coesão social que evolutivamente podem ter se fixado através da evitação
à predação. Um indivíduo que executa ou recebe com alta frequência as
lambidas, tem uma probabilidade menor de ser predado por estar próximo
ao grupo. Ademais, maior será a probabilidade de predação quanto

299
menor o grupo social (Machado, 2009). Essa segurança do ambiente social
influencia o bem-estar dos bovinos em pastoreio.
Como seres sencientes, os animais são capazes de vivenciar emoções
positivas e negativas. As emoções positivas podem ser manifestadas através
de expressões definidas e aferidas qualitativamente como relaxadas,
calmas, sociáveis, brincalhonas entre outras. Essas expressões apresentam
correlação com os eventos de lambidas (Rousing & Wemelsfelder, 2006).
É de extrema importância para o bem-estar dos bovinos que eles possam
estabelecer essas relações sócio-afetivas. Vacas que são reagrupadas com
frequência (semanalmente) desistem de estabelecer laços sociais a partir da
décima segunda semana (Faeverick et al., 2006), esse fato possui impacto
profundo no estado psicológico de um indivíduo de uma espécie gregária
e social.
Na prática, o bem-estar de bovinos em pastoreio deve ser avaliado
não apenas pelos eventos negativos de interações agonísticas e suas
consequências fisiológicas e psicológicas. Deve-se considerar a relevância
das relações sócio-positivas na avaliação no nível de bem-estar animal e no
planejamento dos sistemas de criação de bovinos. O bem-estar de um animal
será o resultado do conjunto de suas experiências positivas e negativas.

12. Enfermidades subclínicas e não diagnosticadas

A ocorrência de enfermidades subclínicas causam perdas


produtivas, redução da longevidade, desconforto e podem causar
sofrimento aos animais, ocasionando perturbações e redução do bem-
estar. No caso de vacas leiteiras, a enfermidade subclínica de maior
ocorrência é a mastite (Costa et al., 2013). Há que se considerar que
muitos produtores não reconhecem essa enfermidade ou a consideram de
menor relevância. Acontece que essa enfermidade, além de provocar os
males de outras enfermidades subclínicas, pode evoluir e se transformar

300
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

em uma enfermidade crônica e ocasionar inúmeros prejuízos ao bem-estar


e a saúde animal.
As parasitoses, no caso dos bovinos jovens se constituem na
principal enfermidade. Ora pode ser subclínica ou, eventualmente, não
diagnosticada, que mais provoca alterações comportamentais e prejuízos
a saúde e desenvolvimento desta espécie. A infestação por muscídeos
e as endoparasitoses, podem alterar o comportamento de pastoreio e
influenciar nas interações entre os animais.
Enfermidades crônicas, infectocontagiosas, como a tuberculose
e brucelose bovina, podem afetar diversos sistemas e, ainda assim,
permanecerem em caráter subclínico e não serem diagnosticadas por
vários meses ou anos. Como outras enfermidades, ocasionam prejuízos ao
bem-estar, sem sequer serem percebidas pelos manejadores e produtores.
A ocorrência destas enfermidades, no rebanho nacional, apesar da
inexistência de um levantamento epidemiológico confiável, indicam que
sua prevalência deva estar entre 1-5%. A tuberculose é mais frequente
em rebanhos leiteiros. Causam dor e desconforto aos animais, perdas
produtivas e econômicas como a redução do desempenho reprodutivo e
da produtividade dos animais e óbito.
Outras enfermidades tem importante ocorrência nos rebanhos
leiteiros a pasto. Claudicação, indicando possíveis problemas de casco
ou articulação, pode estar presente em até 30% das vacas e ser pouco
percebida pelo produtor (Costa et al., 2013), da mesma forma que a
mastite subclínica. Existe uma correlação entre estas enfermidades, o
sistema de manejo e as instalações. Essa correlação é estabelecida não
apenas pela presença e manutenção do agente causal. Mas, pela redução
das defesas imunológicas quando os animais são submetidos a condições
de estresse frequentemente ou por longos períodos como a inexistência
de abrigos em situações de temperaturas fora da zona de conforto
térmico, excesso de umidade, relação animal-humano com situações de
violência entre outras condições.

301
Manejo sanitário inadequado como a não vacinação e não
realização periódica de exames diagnósticos e eliminação de animais
positivos, quando necessário, podem elevar sua prevalência e, com isso,
ampliar as perdas. Além das medidas de manejo sanitário adequadas,
as instalações devem prover condições de conforto aos animais, sendo
livres de umidade excessiva, disporem de insolação, limpas e higienizadas
periodicamente para que o ingresso de doenças seja evitado. Animais
livres de doenças, inclusive as que não se manifestam clinicamente, terão
melhores condições de bem-estar e de enfrentar outros desafios ligados a
seu bem-estar.

13. Utilização de genótipos adequados

Todos os aspectos anteriormente discutidos tem, em maior ou


menor grau, associação com a genética dos animais, resultado da seleção
a que foram submetidos. Vários estudos demonstram que o método de
escolha de material genético, amplamente adotado no final do século
passado (1970-2000), com grande ênfase em maximizar a produção/
vaca/ano, resultou em efeitos negativos na saúde do úbere e desempenho
reprodutivo das vacas e pode ter diminuído algumas características de
desempenho que são menos herdáveis. Por exemplo, a seleção genética
por maior produção de leite pode ter, inadvertidamente, também
selecionado vacas com menor tolerância ao calor (Smith et al, 2013). Mais
recentemente, surgem sinais de mudanças nessa ênfase, com a inclusão
de características funcionais na seleção (Miglior et al., 2005; Rozzi et
al., 2007). Seguindo essa tendência, as avaliações incluem, por exemplo,
saúde do úbere, longevidade e características de fertilidade (Mark, 2004;
Interbull, 2006).
O bem-estar de um animal está diretamente ligado à adaptação de
seu tipo genético ao ambiente onde está sendo criado e às suas características
de produção. A produção à base de pasto exige tipos adequados para o

302
III SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO

pastoreio, ou seja, animais de estrutura menor, hábeis em caminhar e


pastar. Pesquisas feitas na Irlanda (Vance et al, 2013) e na Nova Zelândia
(Lopez-Villalobos et al, 2000; Harris e Kolver, 2001) mostraram que, em
um sistema a base de pasto, as vacas da raça Holandesa de alto potencial
genético podem ter mais problemas reprodutivos e menor desempenho
no tempo de vida do que outras raças ou cruzamentos. Além disso, há
diferenças no enfoque de seleção dado a uma mesma raça nos diferentes
países. A seleção canadense, por exemplo, enfatiza positivamente o índice
por peso corporal na raça holandesa, enquanto a seleção neozelandeza
pontua essa característica negativamente. Ou seja, a mesma raça resulta
em uma conformação diferenciada, conforme as características esperadas
para cada local. Os produtores de leite do Oeste Catarinense utilizam
amplamente os cruzamentos de Holandês e Jersey na produção de leite a
pasto (Kuhnen et al., 2015), com resultados muito positivos.
Portanto, o foco pode mudar em diferentes grupos de
características, dependendo das características de produção e restrições,
que devem ser individualizadas. Na seleção genética de raças leiteiras, não
deve ser esquecido a capacidade dos indivíduos de adaptação ao sistema
de produção e ao ambiente criatório. Vacas criadas a pasto precisam ter
boa estrutura óssea, boa conformação de ubre, e boa resistência a doenças
e parasitas.

considerações finais

Todos os fatores potencialmente causadores de ausência de bem-


estar para bovinos em pastoreio são fatores naturalmente existentes, com
os quais os bovinos co-evoluíram e desenvolveram estratégias adaptativas.
A melhor solução para promover o bem-estar de animais em pastoreio
é, por um lado disponibilizar aos animais condições para que utilizem
suas estratégias adaptativas e, por outro, mitigar as causas do desconforto.
Para promover o bem-estar de bovinos em pastoreio é preciso conhecer os

303
fatores envolvidos e os mecanismos de adaptação, para que se formulem
estratégias de manejo baseadas nos fatores predisponentes e suas causas e
nos mecanismos de adaptação animal.

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