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Cadernos Camilliani

V. 17 n.2, 2020

“PRODUÇÃO DE INSULINA ARTIFICIAL PARA TRATAMENTO DE


DIABETES MELLITUS UTILIZANDO E. COLLI”
"PRODUCTION OF ARTIFICIAL INSULIN FOR THE TREATMENT OF DIABETES MELLITUS USING
E. COLLI"

Bárbara Coelho de Paiva1 Raiane Fávero Pin2, Ana Paula Pessini Polonine3, Keila Fernandes Teodoro4,
Raphael Cardoso Rodrigues5

Resumo

Pretende-se expor um método alternativo para produção de insulina artificial utilizando a tecnologia do
DNA recombinante, bem como a sua forma de produção e os impactos positivos e negativos no tratamento do
diabetes mellitus (DM). Este estudo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, baseado em
levantamento qualitativo de dados na literatura, realizada a partir de referências eletrônicos sendo utilizados
como base de dados: Lillacs, Pubmed e Scielo, além de obras literárias assim como outras mídias informativas.
O DM chega a afetar de 2% a 5% das populações ocidentais e está altamente correlacionado com doenças micro
e macrovascular. Para conseguir alcançar bons níveis metabólicos para os portadores de diabetes, o tratamento
substitutivo utilizando insulina exógena constitui-se uma opção terapêutica eficiente, frente à falta da produção
desta substância pelo pâncreas. A tecnologia do DNA recombinante foi empregada na produção de insulina
artificial através da bactéria Escherichia Coli geneticamente modificada, que sintetiza tal hormônio, tornando
mais acessível e eficaz o tratamento do Diabetes Mellitus (DM).
Palavras-Chave: insulina; Diabetes Mellitus Tipo 1; DNA, Recombinante; Engenharia genética

Abstract

It intends to expose a new method for the production of artificial insulin using recombinant
DNA technology, the form of production, as well as the positive and negative impacts on the
treatment of diabetes mellitus (DM) using this new type of insulin. This is a bibliographic review
research, based on qualitative data collection in the literature, carried out from electronic
references being used as a database: Lillacs, Pubmed and Scielo, as well as literary works as well
as other informative media..DM affects 2% to 5% of Western populations and is highly correlated
with micro and macrovascular diseases. In order to achieve good metabolic levels for patients
with diabetes, substitute treatment using exogenous insulin is an efficient therapeutic option,
given the lack of production of this substance by the pancreas. Recombinant DNA technology
was used in the production of artificial insulin obtained through the genetically modified
Escherichia Coli bacterium that is capable of synthesizing the hormone, insulin is a medium
used in the treatment of Diabetes Mellitus (DM).
Keywords: Insulin; Diabetes Mellitus, Type 1; DNA, Recombinant; Genetic engineering

1 Graduando no Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES- barbaracoelho1808@gmail.com


2 Graduando no Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES- pinraiane@gmail.com
3 Graduando no Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES- pessinianapaula@gmail.com
4 Graduando no Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo-ES- keilafteodoro@gmail.com
5 Professor orientador Raphael Cardoso Rodrigues. Centro Universitário São Camilo-ES- email raphael

São Camilo - ES
Cadernos Camilliani, Cachoeiro de Itapemirim – ES, v. 17, n. 2 p.1944-1959, junho. 2020
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1. Introdução

A incidência de diabetes mellitus tende a crescer exponencialmente ao


longo dos séculos, tanto no Brasil como no mundo, adquirindo, dessa forma,
características epidêmicas em vários países. O alto consumo de alimentos
calóricos, ausência de atividades físicas e obesidade associada à falha na
produção de insulina pelo organismo, aumenta a ocorrência desse tipo de doença
no Brasil, tornando-se um grande problema de saúde pública (SARTORELLI;
FRANCO, 2003).
O diabetes mellitus é uma condição crônica que destaca-se pela gravidade
das suas complicações, a alta morbimortalidade ao decorrer de sua evolução
compromete a vida dos usuários em virtude da crescente prevalência de
obesidade e sedentarismo, bem como da maior sobrevida das pessoas com
diabete, além dos altos custos necessários para a realização do controle e
tratamento das complicações agudas e crônicas. No Brasil, esta realidade faz
presente com estimativas de que até 2025 aproximadamente 11 milhões de
pessoas serão diabéticas, sendo que em 2012, 10,3% da população apresentava
a doença (CORTEZ et al., 2015).
O tratamento para diabetes mellitus engloba um conjunto de ações que
favorecem o estilo de vida saudável do paciente, fazendo-se necessário a redução
do consumo de alimentos calóricos e ricos em açúcar. Além disso, há a
necessidade, na maioria dos casos, de iniciar um tratamento medicamentoso,
realizado pela aplicação de insulina exógena, substância essa que tem como
função metabolizar a glicose para produção de energia para o organismo,
favorecendo, dessa forma, a regulação do nível de glicose no sangue
(FIGUEIREDO, 2005).
A principal função da insulina é fazer com que o índice glicêmico não
ultrapasse de 160 a 180mg/dl após a alimentação. Dentre outras funções,
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também é responsável por armazenar glicose no fígado e no músculo (em forma


de glicogênio), intervir na reserva energética em forma de tecido adiposo e
participação no processo de crescimento ósseo, muscular e de vários órgãos.
Para o diabético a insulina advinda de fontes exógenas são classificadas em tipos
específicos e em unidade de insulina (UI) (GALVIN; NAVARRO; GREATTI, 2014).

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Uma alternativa para a produção de insulina exógena para consumo


humano é a engenharia genética, que consiste no conjunto de processos que
permitem a manipulação do genoma dos organismos vivos, alterando, dessa
forma, as habilidades de cada espécie. No caso da insulina, é utilizado a
tecnologia do DNA recombinante, produzindo a insulina artificial ou
recombinante. Esta descoberta revela um grande avanço na área da medicina e
na indústria farmacêutica (LOPES et al., 2012).
Assim sendo, neste artigo, pretende-se expor este novo método para
produção de insulina artificial utilizando a tecnologia do DNA recombinante, a
forma de produção, bem como os impactos positivos e negativos no tratamento
do diabetes mellitus utilizando este novo tipo de insulina.

2. Metodologiã

O presente artigo refere-se pesquisa de revisão bibliográfica baseando-se


em um levantamento qualitativo de dados na literatura referente a tratamento
de diabetes mellitus a partir da produção de insulina por E. coli. Este
levantamento bibliográfico ocorreu no período de março a maio de 2020, sendo
utilizados como bases científicas as plataformas: Lillacs, Pubmed e Scielo, além
de obras literárias entre outras mídias informativas, constando como descritores
os termos: Insulina, DNA recombinante, Escherichia Coli, diabetes mellitus.
O idioma utilizado pela pesquisa foi o português, em que no momento de
seleção não houve delimitação do período de publicação. Foram lidos quarenta
artigos e seis livros, preferidos os títulos que tinham relação com o objetivo do
estudo.
Foram, portanto, selecionados vinte e um artigos e cinco livros que
estavam de acordo com a temática do projeto, sendo aplicados como critério de
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inclusão aqueles inerentes ao tema proposto, e excluídos os que não condizem


ao mesmo.

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3. Resultãdo e Discussão

A diabetes mellitus tem como característica uma deficiência absoluta ou


relativa de insulina, influenciando negativamente o metabolismo dos glicídios,
proteínas, lipídios, água, vitaminas e minerais. Esta síndrome constitui
atualmente um problema de saúde pública, devido sua alta morbidade e
mortalidade. A frequência de diabetes mellitus afeta de 2% a 5% das populações
ocidentais, e está altamente correlacionado com doenças micro e macrovascular,
achados frequentes nesses pacientes (SANGLARD et al., 2018).
Nas regiões americanas, esta doença apresenta-se como um grande
problema, isso porque os números de incidência tendem a aumentar ao longo
dos anos, principalmente nas faixas etárias mais avançadas, devido ao aumento
da expectativa de vida e do crescimento populacional. Os casos de diabetes
mellitus em indivíduos entre 45 e 64 anos deve triplicar, e nos indivíduos com
mais de 65 anos, a previsão é que a taxa de acometimento duplique
(SARTORELLI; FRANCO, 2003).
O diabetes mellitus (DM) está diretamente relacionado ao aumento da
mortalidade e ao alto risco de desenvolvimento de complicações micro e
macrovasculares, além de neuropatias. Outros problemas decorrentes do DM é
a cegueira, insuficiência renal, e, em alguns casos, a amputação de membros,
sendo todos estes fatores grandes problemas para a saúde pública, uma vez que
se aumentam os gastos com tais situações e reduz significativamente a
capacidade de trabalho e expectativa de vida da população acometida (GOES;
VIEIRA; JUNIOR 2007).
O diagnóstico do diabetes mellitus deve ser realizado precocemente, para
amenizar os futuros danos no organismo causados por tal patologia. Assim, o
indivíduo que apresenta os sintomas característicos é submetido à alguns
exames. O método de referência para o diagnóstico trata-se do teste oral de
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tolerância à glicose, também conhecida como teste de glicose plasmática pós-


prandial. Considera-se a confirmação de diabetes ou tolerância à glicose
diminuída quando a glicose plasmática de 2h após a ingestão de 75g de glicose
for ³200mg/dl ou ³140 e <200mg/dl, respectivamente. Quando este teste não
puder ser realizado, utiliza-se a medida da glicose plasmática em jejum,

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considerando-se como diabetes ou glicose alterada em jejum quando os valores


forem ³126mg/dl ou ³110 e <126mg/dl, respectivamente. A medida da glico-
hemoglobina não deve ser utilizada para o diagnóstico, mas é o método de
referência para avaliar o grau de controle glicêmico a longo prazo (GROSS et al.,
2002).
O diabetes mellitus pode ser de dois tipos, no qual 90% dos casos de
pacientes diabéticos são do Tipo 2 (não dependentes de insulina), 5 a 10% são
do Tipo 1 (dependentes de insulina) e 2% são do tipo secundário, relacionados a
outros tipos de doença (OROZCO; ALVES, 2017). O diabetes Mellitus tipo 1, é
definida como uma doença autoimune que ocorre devido a morte progressiva das
células beta do pâncreas, levando à interrupção da produção de insulina e
desequilíbrios metabólicos. Uma manutenção para um bom controle glicêmico
se baseia na tríade: alimentação saudável, insulinoterapia e exercícios físicos
(LIMA et al., 2016).
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é caracterizada por hiperglicemia crônica,
decorrente da produção diminuída ou ausente de insulina pelo pâncreas e/ou
pela resistência periférica à ação desse hormônio, a adesão ao tratamento é o
maior desafio para pacientes com DM2 devido à grande mudança no estilo de
vida imposta pelo próprio tratamento. Com isto, estes pacientes necessitam
receber apoio integral de uma equipe multiprofissional de saúde, para que, dessa
maneira, possam aderir e manejar adequadamente a doença e,
consequentemente, melhorar seu estado clínico e qualidade de vida (ASSUNÇÃO
et al., 2017).

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Figura 1: Ilustração de como ocorre o diabetes tipo II.

Fonte: (DREAMSTIME, 2020).

O diabetes mellitus tipo 1, como foi mencionado anteriormente, é


insulinodependente e, assim, poderá usufruir dos benefícios da manipulação da
insulina artificial através da tecnologia de DNA recombinante. Este tipo de
DM(1), é mais comum ser encontrado na infância ou na adolescência, tratando-
se de um distúrbio endócrino-metabólico, podendo manifestar-se em indivíduos
antes dos trinta anos de vida. Esta doença acontece quando as células
pancreáticas dos indivíduos são destruídas, de modo que não há produção de
insulina pelo pâncreas, ou então há um déficit no nível de produção deste
hormônio, fazendo com que o nível de glicemia fique elevado, causando
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distúrbios no organismo. Então, para o tratamento deste paciente, torna-se


necessário a administração de insulina exógena para estabilizar a concentração
de glicose no sangue (SILVEIRA et al., 2001).

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Figura 2: Diabetes tipo I.

Fonte: (DREAMSTIME, 2020).

Para conseguir alcançar bons níveis metabólicos para os portadores de


diabetes, o tratamento substitutivo utilizando insulina exógena constitui-se uma
opção terapêutica eficiente, frente à falta da produção desta substância pelo
pâncreas. A terapia de insulina exógena também é muito utilizada em casos de
diabetes gestacional e em certas síndromes pancreáticas e endocrinopatias
(SOUZA; ZANETTI, 2000).
A descoberta da insulina artificial exógena foi um grande marco na história
da medicina, pois representa um avanço muito significativo para a saúde de toda
a população. A primeira insulina lançada no mercado foi a insulina regular -R-,
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que possuia um efeito clínico rápido e de curta duração, aumentando de maneira


drástica a expectativa de vida dos portadores de diabetes mellitus. Este tipo de
insulina necessitava de várias aplicações diárias para conseguir estabilizar os
índices glicêmicos. Entretanto, ainda era preciso descobrir uma forma de
prolongar a durabilidade da ação da insulina, foi então que adicionaram à
insulina a proteína protamina, desenvolvendo, assim, a insulina NPH. A insulina

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humana (NPH e Regular) utilizada no tratamento de diabetes atualmente é


desenvolvida em laboratório, a partir da tecnologia de DNA recombinante (PIRES;
CHACRA, 2008).
De acordo com a SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (2019), as
insulinas mais modernas, chamadas de análogas (ou análogos de insulina), são
produzidas a partir da insulina humana e modificadas em laboratórios, de modo
a terem ação mais curta (Lispro (Humalog®), Aspart (NovoRapid®) ou Glulisina
(Apidra®)) ou ação mais prolongada (Glargina (Lantus®), Detemir (Levemir®) e
Degludeca (Tresiba®).
Um dos métodos promissores para o futuro da produção de insulina é a
engenharia genética, com o auxílio do DNA recombinante, no qual torna-se
possível produzir insulinas artificiais para consumo humano. Esta técnica
baseia-se na manipulação do DNA, transferindo o gene de uma espécie para
outra. A bactéria Escherichia coli é a célula hospedeira mais comum e a mais
utilizada para este fim. A vantagem desta técnica para a produção de insulina é
a eliminação de contaminantes ou agentes infecciosos que possam estar
presentes nas proteínas purificadas de animais. Outra vantagem é a diminuição
de efeitos adversos por conta da atividade superior se comparado a proteína
nativa contribuindo assim para uma maior qualidade de vida aos pacientes
(COSTA; NASCIMENTO, 2012).
A Escherichia coli coloniza o trato intestinal humano horas após o
nascimento sendo considerada um membro não patogênico da flora intestinal
normal. Todavia, existem seis grupos patogênicos que podem produzir diarréia:
grupos enterotoxigênico (ETEC), enterohemorrágico (EHEC), enteroinvasivo
(EIEC), enteropatogênico (EPEC), enteropatogênico (EPEC), enteroagregativo
(EAEC) e difusamente aderente (DAEC). No qual, pode ser isolado e classificado
usando métodos tradicionais, identificando suas características séricas ou
bioquímicas, esses mecanismos patogênicos podem ser estudados em culturas
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de células e ensaios com modelos animais, bem como métodos mais modernos
de biologia molecular para estudo e diagnóstico (RODRIGUEZ-ANGELES, 2002).
Portanto, a bactéria E. Coli é considerada habitual para o processo de
biotecnologia, com a clonagem de genes humanos pela técnica do DNA, que
possibilita a produção de insulina recombinante.

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Moléculas de DNA artificiais são chamados de DNA recombinante. A


Tecnologia do rDNA envolve modificação direta do DNA, de forma a alterar
características do organismo vivo ou introduzir novas características. O
isolamento dos genes de interesse é realizado por meio de técnicas de clonagem
molecular que consiste em induzir um organismo vivo a amplificar a sequência
de DNA de interesse, permitindo uma fácil purificação e recuperação do referido
fragmento de DNA. Para isso, são utilizados vetores de clonagem, nos quais a
sequência de DNA de interesse é inserida, utilizando a enzima DNA ligase.
Quando o gene de interesse é isolado, estes fragmentos de DNA são incorporados
no genoma do organismo alvo, resultando em um organismo geneticamente
modificado, cuja característica adquirida passa a ser hereditária (FERRAZ,
2007).
Para a tecnologia do rDNA são usadas as enzimas para fragmentar o DNA,
deixando extremidades de fitas simples de DNA que permitem a ligação dos
fragmentos. Com isso, o DNA bacteriano pode recombinar com DNA humano ou
de qualquer outra espécie, abrindo a possibilidade de clonar genes humanos ou
isolar proteínas de culturas bacterianas. Após o isolamento de uma informação
genética, um fragmento de DNA obtido pelas enzimas de restrição, poderá ser
inserido numa outra molécula de DNA diferente, capaz de amplificar aquela
informação genética em centenas de cópias. Este processo de amplificação é
alcançado através do uso de moléculas de DNA que são chamados vetores de
clonagem molecular (RODRIGUES et al., 2003).
Os vetores têm a capacidade de transportar o inserto de DNA para dentro
da célula hospedeira, onde este poderá ser replicado. A molécula de rDNA é
incorporado dentro de uma célula hospedeira apropriada, processo conhecido
como transformação. A célula hospedeira contendo uma única molécula de
rDNA, divide-se várias vezes, formando uma colônia de células derivadas da
célula hospedeira original, contendo ao menos, uma cópia da molécula
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recombinante, sendo normalmente diferenciada das células que não receberam


a molécula de DNA recombinante pela presença do gene marcador, presente no
DNA do vetor de clonagem (ZAHA, 2003).
A bactéria Escherichia coli é a célula hospedeira mais comum e os vetores
mais utilizados nesta bactéria são os plasmídeos, bacteriófagos e cosmídios. Os

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plasmídios são moléculas de DNA circulares que se replicam separadamente do


cromossomo hospedeiro, não podendo ser introduzidos nas células bacterianas
pelo processo de transformação. Sendo assim, o vetor recombinante é
introduzido numa célula hospedeira que o clona, à medida que a célula realiza
as divisões celulares. Um gene clonado pode ser usado para gerar grandes
quantidades do seu produto protéico. Com isso, o metabolismo do DNA, RNA e
proteína na E. coli resultou em genes clonados para estudo de seus produtos
protéicos e a diminuição de efeitos adversos por conta da atividade superior se
comparado a proteína nativa contribuindo assim para uma melhor qualidade de
vida aos pacientes (WATSON, 1997; NARDI, 2002; LEHNINGER, 2011).

Figura 3: Formação de uma molécula de DNA recombinante a partir


da inserção de um inserto em um plasmídeo.

Fonte: (BROWN, 2003).

No corpo humano, a síntese da insulina inicia com a tradução do RNAm


da insulina por meio dos ribossomos ligados ao retículo endoplasmático para
formar um pré-pró-hormônio da insulina, sendo este clivado no retículo
endoplasmático para formar a pró-insulina, a qual também será clivada, no
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aparelho de Golgi, para formar a insulina que é revestida nos grânulos


secretores. A insulina humana ativa pode ser sintetizada por bactérias E. coli
modificadas, fazendo com que cada população produza uma cadeia, A ou B, as
quais misturadas formam a insulina ativa (XAVIER et al., 2015).

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Figura 4: Processo de biotecnologia, com a clonagem de genes


humanos pela técnica do DNA recombinante para produção da proteína
insulina a partir da bactéria Escherichia coli (E. coli).

Fonte: (UNP DOMINGO, 2013).

A insulina artificial ou recombinante foi o primeiro produto da tecnologia


do rDNA comercializado no mundo. A manipulação do gene sintético para a pró-
insulina humana foi iniciada a partir da sequência de aminoácidos dessa
proteína. Utilizando - se os códons genéticos para E. coli para uma melhor
expressão do gene nessa bactéria, foi montado um gene codificando a proteína
humana. O gene da pró-insulina foi clonado em um vetor para a realização do
sequenciamento do DNA e inserido em um plasmídeo. Essa célula deve estar
inserida em um ambiente que favoreça à expressão do rDNA, resultando em
quantidades maiores de insulina (LIMA, 2001).
Portanto, com o auxílio da tecnologia do DNA recombinante é possível
obter organismos com características novas, que permitem uma moderna
alternativa para o aperfeiçoamento genético de espécies de valores
biotecnológicos. Esse novo método proporciona a produção de insulina artificial
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em pouco tempo, geralmente em torno de 30 dias, se comparado ao método


tradicional que utiliza como matéria prima o pâncreas de mamíferos,
preferencialmente o suíno ou bovino (LOPES et al, 2012). Sendo atualmente
utilizada em pacientes que necessitam de receber insulina, apresentando
vantagens em relação à insulina de origem animal, pois elimina quase totalmente

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o risco de ocorrer rejeição do hormônio pelo organismo humano além de reduzir


os custos de produção a longo prazo (CONCEIÇÃO; GUSMÃO; MOURA, 2019).

4. Conclusão

O avanço na tecnologia permitiu grandes conquistas na área da medicina,


principalmente na produção de medicamentos alternativos. A descoberta do
DNA, por exemplo, permitiu o desenvolvimento de técnicas existentes ou até
mesmo a criação de novos organismos geneticamentes modificados, que
proporcionaram um grande salto para o tratamento ou cura de doenças, como o
diabetes mellitus, uma doença que cresce de maneira exponencial e
preocupante, gerando grandes alardes na saúde pública. A maioria dos
portadores do diabetes mellitus necessita da aplicação diária da insulina,
portanto, a produção de insulina artificial apresenta-se como uma excelente
alternativa para os diabéticos, trazendo uma nova opção terapêutica que seja
mais eficiente à estes indivíduos (LOPES et al., 2012).
A Produção de insulina artificial é obtida através da bactéria Escherichia
coli, geneticamente modificada é capaz de sintetizar o hormônio. Com os avanços
da engenharia genética proporcionou a criação da Tecnologia do DNA
recombinante (DNA formado pela união de genes de organismos diferentes,
resultando da combinação de diferentes sequências de DNAs). Essa tecnologia é
empregada na produção de insulina artificial, meio utilizado no tratamento do
Diabetes Mellitus (DM), uma doença crônica que ocorre quando o pâncreas não
produz insulina suficiente ou quando o corpo não utiliza eficazmente a insulina.
Com esses progressos a insulina artificial é produzida em menor tempo e em
maior escala, beneficiando os portadores do DM, melhorando significativamente
a qualidade de vida dos portadores de diabetes mellitus.
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5. Refere nciãs

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