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IDENTIDADE REQUISITOS E TAREFAS DOS AUXILIARES LEIGOS DOS

EXORCISTAS

Introdução

Todos sabemos quão importante é hoje o papel dos leigos na Igreja. Há toda
uma rica eclesiologia da comunhão que foi desenvolvida pelo Concílio Vaticano II
até os dias de hoje. Prova disso é a Exortação Apostólica de Sua Santidade João
Paulo II Christifideles Laici onde, entre outras coisas, ele afirma:

“A comunhão eclesial é, portanto, um dom, um grande dom do Espírito Santo,


que os fiéis leigos são chamados a acolher com gratidão e, ao mesmo tempo, a
viver com profundo sentido de responsabilidade. Isso é concretamente realizado
através da sua participação na vida e na missão da Igreja, a cujo serviço os
fiéis leigos colocam os seus variados e complementares ministérios e carismas”1

O ministério do Exorcista também é chamado a realizar esse espírito de


unidade, ao qual, hoje, somos todos convidados pelo Espírito Santo. É justamente na
base desse espírito de unidade entre Sacerdotes e leigos, que se deve organizar o
papel do leigo que colabora com o Sacerdote Exorcista em sua importante e delicada
missão.

Veremos em que consiste essa colaboração, apresentando, na primeira parte do


presente documento, os números dos Praenotanda (Premissas Gerais) do “Ritual dos
Exorcismos e Orações para Circunstâncias Particulares”, onde há referências à
tarefa dos leigos que auxiliam o Sacerdote durante o Exorcismo. Na segunda parte,
apresentaremos um perfil do Auxiliar do Sacerdote Exorcista, à luz da experiência de
muitos Exorcistas no exercício desse Ministério. Na Terceira parte, por fim,
falaremos da relação entre o Sacerdote Exorcista e o Auxiliar.

I. INDICAÇÕES DO “RITUAL DOS EXORCISMOS E ORAÇÕES PARA


CIRCUNSTÂNCIAS PARTICULARES»

1
Exortação apostólica pós-sinodal de Sua Santidade Joao Paulo II, 30 de dezembro de 1988. (In
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_30121988_christifideles-
laici.html) n, 20
1
Nos Praenotanda do Ritual dos Exorcismos, encontramos quatro parágrafos
que contêm referências diretas ou indiretas ao papel dos leigos no Ministério do
Exorcismo: são os números 33, 34 b; 35.

O item n° 33 contém uma indicação sobre o lugar onde se celebra o Exorcismo


e também sobre as pessoas presentes:

“O exorcismo, se for possível, celebre-se num oratório (isto é num lugar


sagrado) ou noutro lugar apropriado, separado da multidão, onde esteja
patente a imagem de Jesus crucificado. Também deve haver nesse lugar uma
imagem da Bem-aventurada Virgem Maria”.

Nesta norma, além de ser indicado o lugar do exorcismo, recomenda-se


também de não fazê-lo na presença de muitas pessoas. A caridade e o respeito
necessário para com as pessoas atormentadas pela ação do maligno, exigem, durante
o Exorcismo, uma discrição particular. É justamente por isso que o grupo que auxilia
o Exorcista deverá ser pequeno.

É um tema que volta a ser comentado nos itens n° 34 b e 35 dos Praenotanda.


No n° 34 b afirma-se:

“Quando não há nenhum grupo de fiéis presente, nem sequer um grupo


pequeno, – que é uma situação também recomendada pela prudência e a
sabedoria fundada na fé – recorde o exorcista que em si mesmo e no fiel
atormentado já está a Igreja, e lembre isso ao próprio fiel atormentado pelo
Maligno”.

Este item dos Praenotanda considera uma situação excepcional que não se
deve tornar habitual, isto é, que não haja um grupo de fiéis, por menor que seja,
durante a celebração do Ritual do Exorcismo. Considerada de fato a possibilidade de,
durante um Exorcismo, o demônio, através da pessoa possuída, manifestar reações
violentas, poderia se tornar necessário segurar a pessoa atormentada nos momentos
de maior agitação.

Além disso, o Exorcismo é um ato litúrgico da Igreja, que considera, como fato
normal, a presença e a participação de um grupo de fiéis, podendo até ser um grupo
pequeno. A Conferência Episcopal Italiana, nas notas de Apresentação da tradução
italiana do Ritual dos Exorcismos, afirma no n° 16:
2
“Embora o Ritual do Exorcismo exija uma celebração confidencial, nunca é um
fato privado, mas é um evento que envolve toda a comunidade. O exorcista é, de
fato, um membro da comunidade que exerce esse ministério específico em nome
de Cristo e em nome da Igreja”.

Ainda no n° 16 das notas de Apresentação, a Conferência Episcopal Italiana,


menciona um amor particular para com aqueles que precisam do Ministério do
Exorcismo:

“O fiel que solicita o exorcismo também é um membro da comunidade, um


daqueles membros que, por sua condição particular de sofrimento, a
comunidade deve amar, de um amor preferencial”.

No item n° 35 dos Praenotanda, o Ritual dos Exorcismos oferece mais uma


indicação sobre as pessoas que podem auxiliar durante esse Ministério:

“Se algumas pessoas escolhidas forem admitidas à celebração do exorcismo,


sejam exortadas a orar instantemente pelo irmão atormentado, quer
privadamente quer do modo indicado no rito, abstendo-se, porém, de utilizar
qualquer forma de exorcismo, quer deprecativa quer imprecativa, que só o
exorcista pode proferir”.

As “pessoas escolhidas” serão sacerdotes e fiéis leigos escolhidos pelo exorcista


para dar apoio, com suas orações, ao Exorcista e ao fiel atormentado pelo Maligno.
Essas pessoas podem intervir, quer com orações intensas privadas, proferidas no
silêncio de seu coração, quer com orações que forem exortadas a proferir oralmente,
constituindo uma assembleia litúrgica. Tais orações são indicadas no Ritual dos
Exorcismos. O Exorcista deverá, portanto, ensiná-las previamente. No entanto, o
Auxiliar Leigo ou o Sacerdote Auxiliar que assiste o Sacerdote Exorcista, ficam
proibidos de proferir qualquer fórmula de exorcismo, deprecativa ou invocativa, que
só o Exorcista poderá proferir. Durante a celebração do Ministério do Exorcismo, os
Auxiliares não podem falar diretamente ao demônio, nem com comandos
imprecativos ou com qualquer outra palavra ou expressão pessoal.

O Exorcista também deve vigiar atentamente para que os fiéis leigos que o
assistem, antes ou depois do exorcismo, e no prazo de tempo entre um encontro e
outro, não se substituam a ele na direção espiritual do fiel possuído.
3
II. O PERFIL DO AUXILIAR DO SACERDOTE EXORCISTA

Uma das primeiras dificuldades que enfrenta um Sacerdote, depois de receber do


Bispo a autorização ao ministério do Exorcismo, é a escolha de seus colaboradores,
que o auxiliarão nesse Ministério. Sabemos muito bem que o perfil do Sacerdote
Exorcista é definido de forma muito clara e exigente; podemos dizer o mesmo no que
diz respeito ao Auxiliar leigo ou o Sacerdote Auxiliar. O Exorcista, ele mesmo,
poderá escolher pessoas de oração, de fé, moralmente íntegras, a quem propor tal
colaboração. Deverá, portanto, conhecer bem as pessoas, antes de inseri-las no grupo
de seus colaboradores. Além disso, deverá ser muito prudente, sobretudo para com
quem se apresentar dizendo: “Quero lhe ajudar com os Exorcismos”. E ainda assim,
mesmo tendo uma boa certeza moral da pessoa, deverá estabelecer um prazo de
prova, e somente após tal prazo, o Exorcista poderá decidir se inclui-lo como Auxiliar
ou não.

A seguir as principais características do Auxiliar leigo do Sacerdote Exorcista:

1. Profunda vida de oração e integridade de vida.

A presença de um grupo de Auxiliares deve ser, em primeiro lugar, uma


presença orante: homens e mulheres de profunda vida de oração, de fé,
reconhecidos como pessoas que oferecem um testemunho cristão coerente e solido.
Não há dúvidas que, Auxiliares assim, constituem, em volta do Exorcista e da pessoa
pela qual rezam, uma barreira compacta contra o maligno. Na exortação
Christifideles Laici, a esse propósito, lemos:

“A síntese vital que os fiéis leigos souberem fazer entre o Evangelho e os


deveres quotidianos da vida será o testemunho mais maravilhoso e convincente
de que não é o medo, mas a procura e a adesão a Cristo, que são o fator
determinante para que o homem viva e cresça, e para que se alcancem novas
formas de viver mais conformes com a dignidade humana”2.

2. Boa formação espiritual e catequética.

2
Christifideles Laici, n.34
4
Além da vida de oração, é importante que o Auxiliar tenha um bom
conhecimento da própria fé cristã. A formação na fé, o ajudará a obter uma visão
cristã e católica da realidade, sobretudo numa área tão específica e delicada como o
Ministério do Exorcismo. Durante o Exorcismo – como bem sabemos – o demônio
tenta comprometer a fé dos presentes, para enfraquecer a oração deles ou fazer com
que a interrompam, ou então para insinuar dúvidas, por exemplo, sobre a relação
entre a bondade infinita de Deus e o sofrimento humano. O Exorcista deverá,
portanto, orientar o Auxiliar à leitura e meditação da Sagrada Escritura, ao estudo e
aprofundamento do catecismo e de bons livros de espiritualidade, de forma a ajudá-lo
a alcançar um progressivo e firme conhecimento da própria fé, dos principais meios
que a Igreja oferece para a santificação de seus membros e dos deveres de cristão.
Tudo isso vai “imunizar” o Auxiliar contra o risco de perturbação pelas palavras do
demônio, desconfiança, confusão ou até do perigo de cair em atitudes supersticiosas
ou numa concepção mágica que poderiam insinuar-se.

3. Humildade e docilidade para com o Sacerdote Exorcista.

O Exorcista deve vigiar para que a presença dos Auxiliares, durante a execução
dos exorcismos, seja sempre caracterizada por humildade e discrição. Além disso, os
Auxiliares deverão ser bem instruídos em relação ao que podem e não podem fazer.
A docilidade dos Auxiliares diante de suas indicações ajudará o próprio Exorcista a
manter o recolhimento necessário durante a celebração de seu Ministério.

É importante também que, desde o primeiro encontro com o novo Auxiliar, o


Exorcista lhe explique bem que o discernimento de cada caso individual é reservado
exclusivamente a ele, pois é ele que recebeu a autorização ao exercício do Ministério
do Bispo e para evitar que se repita o que às vezes já aconteceu: Auxiliares que se
deixaram dominar por um espírito de protagonismo que resultou na substituição do
Exorcista no discernimento inicial ou até mesmo durante alguns momentos do
exorcismo, falando diretamente ao demônio. Os Auxiliares nunca poderão substituir
o Exorcista durante seu Ministério, podendo apenas colaborar com ele.

Além disso, os Auxiliares, durante o Exorcismo, devem controlar suas palavras


e comportamentos. Devem evitar qualquer coisa que possa distrair o Exorcista
durante a oração: evitar comentários com os outros Auxiliares; orações privadas,
pessoais, em voz alta; evitar barulhos (desde o início, os celulares deverão
permanecer desligados). Devem também evitar se mexer de um ponto a outro do

5
ambiente onde está sendo realizado o Exorcismo, se não houver uma razão que
justifique tal movimento. Às vezes, os Auxiliares tiram do bolso Crucifixos,
Rosários, medalhas ou imagens sagradas, mostrando-as ao possuído, ou até encostam
tais objetos no corpo da pessoa possuída; outros ainda impõem as mãos no corpo do
possuído, arbitrariamente... Todas essas atitudes devem ser evitadas. É um
protagonismo às vezes sem querer que, porém, não oferece nenhuma ajuda para a
libertação. Já aconteceu que algum Auxiliar interrompesse o Exorcista para lhe
mostrar algo não necessário ou urgente... Se o Auxiliar precisar falar algo, exceto o
que for extremamente urgente, deverá esperar o fim do Exorcismo, quando as pessoas
já foram embora.

Todas essas indicações são indispensáveis, quer para evitar confusão, quer por
respeito do fiel que estiver recebendo o Ministério da Igreja e também para evitar
distrações ao próprio Exorcista, que precisa manter o recolhimento e a concentração
para desempenhar, da melhor forma, a sua tarefa.

4. Discrição e confidencialidade

A discrição deve ser ainda mais rigorosa, quando as pessoas que recebem o
Exorcismo forem mulheres. A tal propósito, há uma sábia recomendação, ainda hoje
válida e atual, no n° 19 dos Praenotanda do Ritual Romanum.

“Ao exorcizar uma mulher, sempre deverá contar com pessoas de costumes
honestos, que segurem a (fiel) possuída enquanto estiver perturbada pelo
demônio; essas pessoas deverão ser muito pacientes, chegadas, se possível,
parentes; deverão manter sempre o decoro (bom nome), e o Exorcista deverá
vigiar para não dizer ou fazer algo que a si mesmo ou aos outros possa despertar
maus pensamentos”3.

Além disso, vale a pena lembrar aos Auxiliares a necessidade de manter a


devida discrição sobre a identidade das pessoas, mas também sobre as palavras ditas
pelo demônio durante o Exorcismo.

No item número 19 dos Praenotanda do Ritual, afirma-se também:

3
«Mulierem exorcizans, Semper secum habeat honestas personas, quae obsessam teneant, dum exagitatur a
daemonio; quae quidem personae sint patienti, si fieri potest, cognatione proximae; atque honestatis memor Exorcista
caveat, ne quid dicat, vel faciat, quod sibi, aut aliis occasio ese possit pravae cogitationis»
6
“Durante a celebração do exorcismo, e também antes dessa celebração; e
concluído o exorcismo, nem o exorcista nem os presentes divulguem
qualquer notícia a seu respeito, mas observem a devida discrição”.

Enquanto pastores de almas, precisamos levar a sério o sofrimento as almas


que Jesus Cristo confiou em nossas mãos, tratando-o com extrema delicadeza. A
discrição, portanto, aplica-se igualmente a todos os fatos que acontecem durante o
Exorcismo, em particular quando o fiel possuído já não lembra o que ele disse ou fez.

Em relação às palavras que o demônio diz durante os Exorcismos, é preciso ser


muito prudentes. O maligno, pai da mentira, tem um grande interesse em fazer com
que consideremos como verdadeiras determinadas afirmações que ele faz. Muitas
vezes, de fato, ele afirma coisas verdadeiras, alternando-as a coisas falsas, com o
objetivo de confundir o Sacerdote e os presentes.

Em relação às perguntas que o Exorcista, em nome da Igreja, pode fazer ao


demônio, o antigo Ritual dos Exorcismos (que, conforme já mencionado na nota n° 3
do presente capítulo, o Exorcista poderá utilizar livremente), oferece, no n° 15 das
normas gerais, algumas indicações: “as perguntas necessárias a serem feitas são, por
exemplo, as perguntas relativas ao número e aos nomes dos espíritos presentes, ao
momento em que entraram, à causa da possessão, e outras perguntas semelhantes”.

5. Espirito prático

O Exorcista deve confiar a, no mínimo, um Auxiliar, a tarefa de ajudá-lo com


os aspectos necessários de tipo prático, como por exemplo: preparar o lugar (capela,
sala, escritório) onde as pessoas serão recebidas; controlar a limpeza, a temperatura
do lugar; verificar que haja uma iluminação apropriada; colocar ao alcance lenços de
papel, bem como um cesto do lixo e outras coisas necessárias. Essa forma de ajuda
também representa um grande ato de caridade para com o Exorcista, que terá, assim,
mais tempo, em termos de quantidade e qualidade, que poderá dedicar à almas
atormentadas pelo maligno.

6. Disponibilidade

Às vezes, o Auxiliar poderá ter normais compromissos familiares ou


profissionais, que lhe impedirão de acompanhar o Exorcista habitualmente. Portanto,
na hora de selecionar os possíveis Auxiliares, será preciso que o Exorcista verifique
7
se poderá contar com uma disponibilidade regular do Auxiliar. Nem sempre os
Exorcistas podem se dedicar em tempo integral a esse Ministério. Muitas vezes, eles
também têm outras responsabilidades pastorais, por exemplo, o cuidado das almas de
uma paróquia, as atividades de formação num seminário para futuros sacerdotes, o
ensino universitário, a pastoral nos hospitais, etc. O Auxiliar deverá ser informado
sobre os dias em que o Sacerdote Exorcista poderá receber pessoas , verificando a
possibilidade de ajustar seus compromissos de família e trabalho, à agenda do
sacerdote.

7. Saúde física e psicológica

A saúde física e psicológica do Auxiliar Exorcista é prioritária em relação a


tudo aquilo que dissemos até agora. A presença do Auxiliar pode ser útil não apenas
em virtude daquilo que examinamos até agora, mas também no caso em que o
maligno, durante o Exorcismo, se manifeste de forma violenta através da pessoa
possuída, tornando-se necessário segurá-la para que não se machuque ou não
machuque os presentes e o Exorcista. É por isso que é fundamental que o Auxiliar
que tiver que segurar o fiel possuído não tenha, antes de tudo, problemas graves de
saúde. Se, por exemplo, tiver problemas na coluna, seria imprudente dar-lhe a tarefa
de segurar a pessoa possuída.

Mas o Auxiliar deverá também ter boas condições de saúde psicológica. É


preciso que o Auxiliar seja uma pessoa equilibrada, que saiba controlar a própria
sensibilidade e emotividade, que em alguns momentos do Exorcismo poderiam ser
fortemente abaladas. O Auxiliar não pode ser uma pessoa que fica impressionada
facilmente, ou uma pessoa muito nervosa, ou com um equilíbrio instável. Nesse caso,
o que acontece durante o Exorcismo poderia produzir um efeito contraproducente ou
até prejudicial.

III. RELAÇÃO DO SACERDOTE EXORCISTA COM O AUXILIAR

Participar de um Exorcismo significa ser testemunha quer do poder


maravilhoso de Deus, quer da força destrutiva do maligno. Nem o Sacerdote
Exorcista nem o Auxiliar ficam indiferentes diante dessa batalha espiritual. Por isso,
ambos, o Sacerdote e o Auxiliar, devem aprender a caminhar juntos, a contar um com
o outro, conscientes da presença de Cristo e da própria Igreja durante o Exorcismo. O
Sacerdote Exorcista, caminhado lado a lado com seu colaborador, terá inúmeras

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oportunidades de interagir com ele, é por isso que sugerimos, concluindo, as
seguintes recomendações:

1. Responsabilidade na formação de seus colaboradores

Como nos outros Ministérios e funções eclesiais, o Sacerdote Exorcista deverá


dedicar tempo e energia à formação de seus colaboradores mais próximos. Na
exortação Christifideles Laici lemos:

“É, pois, necessário, em primeiro lugar, que os pastores, ao reconhecer e ao


conferir aos fiéis leigos os vários ministérios, ofícios e funções, tenham o
máximo cuidado em instruí-los sobre a raiz baptismal destas tarefas.”4

2. Comunhão espiritual

Orar um pelo outro fortalece a comunhão espiritual necessária no Ministério do


Exorcismo. A oração fortalece a fé, aumenta a esperança, suscita a caridade no
coração do apóstolo de Cristo, tornando-o capaz de acolher com paciência,
dedicação, compreensão e ternura, a pessoa que sofre.

Sabemos que o demônio visa a divisão: quer destruir casamentos, a família, a


sociedade, a Igreja... E só poderia ser assim também na relação entre o Sacerdote e o
Auxiliar, por isso o demônio vai tentar provocar uma falta de confiança mútua,
gerando suspeitas, preconceitos, desacordos... a comunhão espiritual será o melhor
antídoto contra essa intenção do maligno.

3. Liberdade interior

O Auxiliar, quando estiver falando privadamente com o Exorcista, poderá


expor, com confiança e reta intenção, aquilo que lhe parece certo dizer em relação à
pessoa que foi acolhida, e também em relação à ação do Exorcista. O Exorcista levará
em conta tais observações, mas com a liberdade interior necessária para discernir, e
decidir o melhor pela pessoa que está tratando, já que é sempre o Sacerdote Exorcista
o último responsável perante Deus e perante a Igreja, no exercício desse Ministério
em favor dos fiéis necessitados.

4
Christifideles Laici, 23
9
Tal liberdade interior impedirá ao Exorcista de “vincular-se” ao Auxiliar
inclusive quando, objetivamente, Deus lhe oferecer dons especiais de conhecimento
da alma ou de carisma. Esses dons têm por objetivo ajudar as pessoas, mas devem ser
submetidos a um atento discernimento pela Igreja, para verificar se são autênticos e
se são de fato úteis ao serviço do Ministério do Exorcismo. Entretanto, o Sacerdote
Exorcista deverá permanecer sempre, interiormente libero. Infelizmente há
Sacerdotes Exorcistas que chegaram ao ponto de não agir sem antes terem consultado
uma ou outra pessoa que ele considera dotada desses supostos dons extraordinários. É
preciso que os Exorcistas estudem com grande atenção a diferença entre carismáticos
e sensitivos, pois vários Exorcistas, sem se dar conta, foram ajudados ou estão sendo
ajudados por pessoas que na realidade são médiuns. No caso do carismático, trata-se
de uma pessoa que recebeu um dom do Espírito Santo; no segundo caso, do sensitivo,
trata-se, ao contrário, de uma pessoa que tem faculdades que vem de um espírito
maligno, precisamente um poder mediúnico, que o diabo às vezes comunica a alguns,
sem que eles nem saibam, ou a outros, por terem se tornado seus seguidores. Esse
poder, no entanto, nunca é infalível, e o que é pior, sempre tem um fim destrutivo,
tanto para a pessoa que o pratica, quanto para aqueles que se valem da colaboração
dos que teriam tal poder. Neste Ministério, a prudência e o senso comum devem
andar sempre de mãos dadas. Se o Exorcista cometer erros, poderá causar graves
prejuízos, por isso torna-se necessária a máxima responsabilidade.

O Exorcista deve, portanto, exercer um verdadeiro discernimento cuidadoso,


para determinar a natureza dos supostos dons ou carismas que, às vezes, seu Auxiliar
mostra de ter ou ele mesmo acha que seu Auxiliar tem. Sabendo que há uma clara
distinção entre carismático e sensitivo, o primeiro beneficiando de um dom do
Espirito Santo, o segundo de um poder mediúnico, ou seja, de um poder que vem do
maligno, o Exorcista, se não for suficientemente competente no discernimento entre
um e outro, deverá afastar também o carismático, para não correr o risco de cometer
erros.

Carismático é a pessoa a quem Deus, tendo em conta a utilidade comum,


livremente concedeu um ou mais dons excedentes a capacidade da natureza humana.5
Sensitivo, ao contrário, é a pessoa capaz de percepções extra-sensoriais. Ainda que o
debate sobre a existência ou não das percepções extra-sensoriais seja muito acirrado,
não devemos negar a possibilidade de alguns indivíduos terem tais faculdades. Nos
casos em que se deva excluir qualquer fraude humana, aquilo que, ao nosso ver,
devemos com certeza negar é que essas “capacidades” ou “poderes” sejam, de
5
Cfr. Catecismo da Igreja Católica nn. 798 - 800; 2003.
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alguma forma, dotes naturais, isto é, possibilidades inerentes à natureza
humana. Não sendo um carismático, todo sensitivo é obrigatoriamente um
“médium”, ou seja, uma pessoa cujas “capacidades” ou “poderes” são efeito da
ação de forças preternaturais (ou seja, demoníacas), embora em alguns
indivíduos isso ocorra sem que estejam conscientes, e sem seu consentimento.
Isso explica porque, no plano moral, não é licito pedir a sua ajuda.

O Exorcista, portanto, não faz diagnósticos valendo-se de supostos carismáticos


ou sensitivos, ou transformando-se em sensitivo, pensando ser um carismático.
Procurar carismáticos ou sensitivos para realizar o discernimento da ação diabólica
extraordinária é, em todo caso, errado. Antes de tudo por ser, sempre e unicamente, o
Exorcista a quem, por mandato da Igreja, compete o discernimento, tanto da ação
diabólica extraordinária, como da libertação bem sucedida. No caso dos sensitivos, é
também um grave erro, pois ninguém deles pode ser considerado pessoa de
confiança, por atuar sob o influxo de forças preternaturais (diabólicas). No caso dos
carismáticos, é um erro, pois chegaríamos ao absurdo de passar o discernimento da
vítima do demônio para a pessoa do carismático; O Exorcista, de fato, a quem a
Igreja confia a responsabilidade do discernimento, seria obrigado, conscientemente, a
avaliar, caso por caso, a credibilidade do carismático. Pior ainda seria se um
Exorcista gastasse suas energias para adquirir e/ou fazer crescer em si verdadeiras, ou
supostas, capacidades que lhe permitam atuar como carismático, correndo apenas o
risco de fazer o demônio intervir, com falsos dons carismáticos.
Os dons carismáticos não são necessários ao Ministério do Exorcista, nem a
Igreja os exige.

4. Amizade e bom espírito

Às vezes será preciso “desdramatizar” a ação extraordinária do maligno. Dar


excessiva importância, não ajuda o Exorcista nem o Auxiliar, e tampouco a pessoa
atormentada pelo maligno. O Exorcismo é um momento de oração, durante o qual,
com a Igreja toda, proclama-se a vitória de Cristo sobre o demônio. A constatação da
ajuda da graça de Deus deve encher todos de esperança e alegria, inclusive no meio
da dor. Por isso não deve faltar, volta e meia, alguma piada, sempre respeitosa, ou
outras expressões de bom humor que nos ajudem a levar adiante, com otimismo e
equilíbrio, este difícil Ministério.

A harmonia entre o Sacerdote Exorcista e seus Auxiliares manifesta-se também


numa “sã humanidade”, isto é, sabendo compartilhar, durante os Exorcismos, os
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momentos mais difíceis como aqueles em que se admira, com alegria e exultação, a
ação maravilhosa de Deus, de Maria Santíssima, dos Anjos, dos Santos do Paraíso,
que intervêm para ajudar o próprio Exorcista, os Auxiliares, e a pessoa atormentada
pelo maligno.

Com a ajuda inestimável dos Auxiliares, o Exorcista solicitará também a ajuda


de fiéis leigos, Sacerdotes e Religiosos, quer de vida ativa, quer de vida
contemplativa que, embora não estejam fisicamente ao lado dos Exorcistas, aceitarão
participar espiritualmente com a oração e com a oferta da própria vida diária, em
particular os doentes com a disponibilidade de oferecer o seu sofrimento a Deus, que,
junto com a paixão redentora de Cristo, realiza verdadeiros prodígios em favor de
muitas almas e pela libertação dos oprimidos pelo demônio.

CONCLUSÃO

Nós, Exorcistas, agradecemos, de modo especial, a todos vocês, leigos Auxiliares


pelo apoio continuo, silencioso, sacrificado e constante no exercício do nosso
Ministério. O Senhor conhece a profundidade e o amor que vocês disponibilizam
ajudando-nos, e ajudando aquela parte do povo de Deus, vítima dessa particular
forma de sofrimento que é a ação extraordinária do demônio. Vocês são os primeiros
pelos quais nós, Exorcistas, oramos diariamente, para que vocês continuem mantendo
a força de nos acompanhar, com sua vida, sua amizade, sua oração e seu tempo
precioso.

Muitas coisas ainda poderíamos dizer sobre a identidade do Auxiliar do Exorcista.


Mas esta apresentação pretende apenas ser uma base, sobre a qual continuaremos
desenvolvendo uma reflexão mais profunda e rica, sobre esse serviço tão importante
que muitos leigos oferecem à Igreja, auxiliando os Sacerdotes Exorcistas.

Maria Santíssima ajude todos nós a sermos fiéis à missão recebida.

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