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TC

cadernos de

Institucional
Casa da Mulher Brasileira
Espaço Humanizado de Atendimento
à Mulher em Situação de Violência 83
issuu.com/cadernostc

Cadernos de TC 2020-1
Expediente
Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq.

Corpo Editorial
Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq.
Rodrigo Santana Alves, M. arq.
Simone Buiati, M. arq.

Coordenação de TCC
Rodrigo Santana Alves, M. arq.

Orientadores de TCC
Pedro Henrique Máximo Pereira, Dr. arq.
Rodrigo Santana Alves, M. arq.

Detalhamento de Maquete
Volney Rogerio de Lima, E. arq.

Seminário de Tecnologia
Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq.
Rodrigo Santana Alves, M. arq.

Seminário de Teoria e Crítica


Pedro Henrique Máximo, M. arq.
Rodrigo Santana Alves, M. arq.

Expressão Gráfica
Rodrigo Santana Alves
Simone Buiate Brandão, M. arq.

Secretária do Curso , M. arq.


Edima Campos Ribeiro de Oliveira
(62)3310-6754
Apresentação
Este volume faz parte da coleção da A preocupação com a cidade ou
revista Cadernos de TC. Uma experiência rede de cidades, em primeiro plano,
recente que traz, neste semestre 2020/1, reorientou as estratégias projetuais. Tal
uma versão mais amadurecida dos experi- postura parte de uma compreensão de
mentos nos Ateliês de Projeto Integrado de que a apreensão das escalas e sua prob-
Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e lematização constante estabelece o proje-
III) e demais disciplinas, que acontecem nos to de arquitetura e urbanismo como uma
últimos três semestres do curso de Arquitetu- manifestação concreta da crítica às
ra e Urbanismo do Centro Universitário de realidades encontradas.
Anápolis (UniEVANGÉLICA). Já a segunda instância, diz respeito à
Neste volume, como uma síntese que é, interdisciplinaridade do Ateliê Projeto
encontram-se experiências pedagógicas Integrado de Arquitetura, Urbanismo e
que ocorrem, no mínimo, em duas instân- Paisagismo com as disciplinas que
cias, sendo a primeira, aquela que faz parte contribuíram para que estes resultados
da própria estrutura dos Ateliês, objetivando fossem alcançados. Como este Ateliê faz
estabelecer uma metodologia clara de parte do tronco estruturante do curso de
projetação, tanto nas mais variadas escalas projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a
do urbano, quanto do edifício; e a segunda, articulação e relações com outras quatro
que visa estabelecer uma interdisciplinari- disciplinas que deram suporte às
dade clara com disciplinas que ocorrem ao discussões: Seminários de Teoria e Crítica,
longo dos três semestres. Seminários de Tecnologia, Expressão Gráfi-
Os procedimentos metodológicos ca e Detalhamento de Maquete.
procuraram evidenciar, por meio do Por fim e além do mais, como síntese,
processo, sete elementos vinculados às este volume representa um trabalho
respostas dadas às demandas da cidade conjunto de todos os professores do curso
contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRA- de Arquitetura e Urbanismo, que
MA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e contribuíram ao longo da formação destes
ESPAÇO. No processo, rico em discussões alunos, aqui apresentados em seus projetos
teóricas e projetuais, trabalhou-se tais de TC. Esta revista, que também é uma
elementos como layers, o que possibilitou, maneira de representação e apresentação
para cada projeto, um aprimoramento e contemporânea de projetos, intitulada
compreensão do ato de projetar. Para Cadernos de TC, visa, por meio da
atingir tal objetivo, dois recursos contem- exposição de partes importantes do
porâneos de projeto foram exaustivamente processo, pô-lo em discussão para aprimo-
trabalhados. O diagrama gráfico como ramento e enriquecimento do método
síntese da proposta projetual e proposição proposto e dos alunos que serão por vocês
dos elementos acima citados, e a maquete avaliados.
diagramática, cuja ênfase permitiu a aver-
iguação das intenções de projeto, a fim de
atribuir sentido, tanto ao processo, quanto Pedro Henrique Máximo Pereira, Dr. arq.
ao produto final. Rodrigo Santana Alves, M. arq.
CASA DA MULHER BRASILEIRA
Espaço Humanizado de Atendimento
à Mulher em Situação de Violência
Consequência de uma sociedade
estruturada no patriarcado, o Brasil encon-
tra-se em um cenário alarmante de violên-
cia contra a mulher. Partindo deste cenário
e de inquietações enquanto mulher, este
Trabalho de Conclusão de Curso de Arqui-
tetura e Urbanismo, trata de um Espaço
Humanizado de Atendimento à Mulher em
Situação de Violência, denominado Casa
da Mulher Brasileira.
Entendendo como fundamental o
papel da arquitetura como agente de
mudança através dos espaços, a Casa da
Mulher Brasileira da cidade de Anápolis -
Goiás, parte da intenção de acolher todas
as mulheres, proporcionando amparo físico
e psicológico, como também auxílio à
reinserção social dessas mulheres.

Amanda Palmeira de Freitas


Orientador: Pedro Henrique Máximo
amandpalmeira@outlook.com
no brasil,

A cada 1.4 segundos, uma mulher é vítima DE ASSÉDIO


A CADA 2 SEGUNDOS, UMA MULHER É VÍTIMA DE VIOLÊNCIA FÍSICA OU VERBAL
A CADA 6,9 SEGUNDOS, UMA MULHER É VÍTIMA DE PERSEGUIÇÃO
A cada 22.5 segundos, uma mulher é vítima DE ESPANCAMENTO
A CADA 2 MINUTOS, UMA MULHER É VÍTIMA DE ARMA DE FOGO
A CADA 11 MINUTOS, UMA MULHER É ESTUPRADA
a cada 2 horas, uma mulher é A s S A S S I N A D A

03
[f.1]

[f.1] Imagem da
campanha “Junte-se ao
fim da violência contra
mulheres e meninas”.
Fonte: onu.org.mx/

04
A dominação masculina é uma
construção histórica incorporada e naturali-
zada pelas instâncias de maior poder social
que influenciam na maneira como os indiví-
duos se comportam.
Um exemplo a se destacar são as
visualidades contidas em muitas campa-
nhas publicitárias da década de 50, época
marcada pela predominância masculina
no mercado de trabalho e portanto no
poder de compra, as campanhas manifes-
tavam o machismo e misoginia escancara-
do com ilustrações que exaltavam a submis-
são da mulher ao homem.
Embora as mulheres tenham
conquistado muitos espaços que antes lhe
eram negados, a cultura machista de exclu-
são por gênero e dominação masculina
estende-se ainda nos dias de hoje.
Como consequência dessa domi-
nação a violência doméstica manifesta-se
de forma desenfreada resultando muitas
vezes na morte de diversas mulheres. O
feminicídio é o ponto culminante de uma
violência enraizada no cotidiano das
[f.2] “Mostre que o mulheres sendo motivado pela noção de
mundo é dos homens.” dominação, superioridade e propriedade
Fonte: incrivel.club/ [f.2] dos homens sobre as mulheres.

05 Amanda Palmeira
Na contemporaniedade é impor-
tante mudar a forma como os gêneros são
vistos e equipará-los, banindo a hierarquia
que ainda se faz tão presente. As Políticas
Públicas de Combate à Violência Contra a
Mulher, que surgem como consequência
de uma intensa luta do movimento feminista
em busca de equidade e respeito, são um
importante instrumento de auxílio para a
erradicação dessa violência, tornando-se
cada vez mais necessária.
Este trabalho explora o Espaço
Humanizado de Atendimento às Mulheres
em Situação de Violência, denominado
Casa da Mulher Brasileira (CMB), localizado
no centro de Anápolis - Goiás e aborda as
questões envolta da violência contra a
mulher no Brasil, conceituando os tipos de
violência.
A CMB é um espaço que busca dar
assistência à mulher em situação de violên-
cia como também busca trazer à tona a
discussão sobre gênero e dominação
masculina, sendo assim um espaço de
acolhimento, discussão e busca pela aniqui-
lação da violência. [f.3] “É sempre ilegal
matar uma mulher?”
[f.3] Fonte: incrivel.club/

Casa da Mulher Brasileira 06


DOMINAÇÃO
MASCULINA
o que é?
- SEGUNDO PIERRE BOURDIEU (2002)

Para compreender o conceito de intensa sobre o feminino, agindo de forma


dominação masculina, é necessário enten- simbólica nas estruturas inconscientes; e a
der outros conceitos importantes da sociolo- Escola transmite os pressupostos da cultura
gia de Pierre Bourdieu, como habitus e patriarcal.
violência simbólica.
Bourdieu (2002) define habitus
como um sistema de atribuições que deter- - SEGUNDO LIA ZANOTTA MACHADO (2000)
mina maneiras de ser e analisa a forma que
os indivíduos incorporam nas estruturas
sociais os modos de agir, pensar e sentir. A Ao citar a dominação masculina, a
violência simbólica é definida por Bourdieu antropóloga brasileira Lia Zanotta Machado
(2002) como uma violência suave, insensí- (2000) discute os termos patriarcado e
vel, invisível, que se manifesta em forma de gênero como concomitantes nos estudos
emoções corporais, como a vergonha, sobre naturalização e biologização das
humilhação, timidez, culpa, ou também relações entre homens e mulheres.
admiração e respeito pelo dominador. A autora exemplifica o patriarcado
Seguindo esta linha, a dominação como uma conotação política que remete
masculina é uma forma de violência simbóli- a uma estrutura de manutenção de “exercí-
ca, que surge a partir do pensamento de cio e presença da dominação masculina”
dominação do “masculino” sobre o “femini- (p.3), referindo-o como uma das formas de
no”. Visto que as estruturas históricas da modos de organização social ou domina-
ordem masculina são incorporadas sob a ção social: “Trata-se de um sistema ou
forma de habitus, a dominação é reconhe- forma de dominação que, ao ser (re)conhe-
cida e reproduzida por homens e absorvida cido já (tudo) explica: a desigualdade de
de forma inconsciente por mulheres. gêneros. O conceito de gênero, por outro
Bourdieu (2002) aponta que as lado, não contém uma resposta sobre uma
principais instâncias que sustentam e repro- forma histórica. Sua força é a ênfase na
duzem continuamente o poder masculino produção de novas questões e na possibili-
são, a Família, a Igreja e a Escola. A família dade de dar mais espaço para dar conta
reproduz a visão masculina e a divisão do das transformações na contemporaneida-
trabalho; a Igreja inscreve a negatividade de.” (p.4).

07 Amanda Palmeira
FEMINICÍDIO
o que é?

-SEGUNDO DIANA RUSSEL E


JANE CAPUTTI (1992)
O termo Feminicídio ou Femicide – psicocirurgia, privação de comida para
expressão em inglês - foi utilizado pela mulheres em algumas culturas, cirurgias
primeira vez em 1976, pela socióloga cosméticas e outras mutilações em nome
feminista sul-africana Diana Russell, durante do embelezamento. Onde quer que estas
o Tribunal Internacional Sobre Crimes Contra formas de terrorismo resultem em mortes,
as Mulheres, realizado em Bruxelas, para elas se tornam femicídios.”
qualificar o assassinato de mulheres pelo
fato de serem mulheres. No entanto, naque-
la ocasião não foi definido um conceito ao
tema, o que ocorreu posteriormente, em -SEGUNDO MARCELA LAGARDE
1990, juntamente com a escritora Jane
Caputi, quando definiram femicide como Influenciada nos trabalhos teóricos
“o assassinato de mulheres realizado por de Diana Russell, a antropóloga feminista
homens motivado por ódio, desprezo, mexicana Marcela Lagarde ressignifica o
prazer ou um sentido de propriedade sobre termo femicídio, propondo a utilização do
as mulheres” (CAPUTI; RUSSEL, 1992, p. 34). conceito de feminicídio (Lagarde, 2004),
Segundo Russel e Caputi (1992, que se refere não apenas ao homicídio de
p.15) “Femicídio está no ponto mais extre- mulheres, mas ao conjunto de violações de
mo de um continuum de terror antifeminino seus direitos humanos, sendo toda prática
que inclui uma vasta gama de abusos que atente à integridade, saúde, liberdade
verbais e físicos, tais como estupro, tortura, e vida das mulheres.
escravidão sexual (particularmente a prosti- De acordo com Lagarde (2006,
tuição), abuso sexual infantil incestuoso e p.221), o feminicídio não é apenas uma
extrafamiliar, espancamento físico e emo- violência exercida por homens contra
cional, assédio sexual (ao telefone, na rua, mulheres, mas por homens em posição de
no escritório e na sala de aula), mutilação supremacia social, sexual, jurídica, econô-
genital (clitoridectomia, excisão, infibula- mica, política, ideológica e de todo tipo,
ções), operações ginecológicas desneces- sobre mulheres em condições de desigual-
sárias, heterossexualidade forçada, esterili- dade, de subordinação, de exploração ou
zação forçada, maternidade forçada (ao de opressão, e com particularidade da
criminalizar a contracepção e o aborto), exclusão.

Casa da Mulher Brasileira 08


CRONOLOGIA DAS POLÍTICAS PARA ERRADICAÇÃO
DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

A violência contra a mulher, estrutu-


rada na desigualdade de gênero e nas
relações hierárquicas de poder, consiste em
uma das principais formas de violação de
seus direitos humanos, atingindo sua liberda-
de, saúde, integridade física e direitos à
vida. Cerca de um terço de todas as mulhe-
res do mundo já foram vítimas de violência
física ou sexual cometida por um parceiro
íntimo. Embora seja um problema grave,
Art. 427 do Tratado
apenas recentemente a violência contra a
de Versalhes Decreto n°
mulher passou a ser compreendida como (1919), que impôs: 21.076 de 24 de
um problema social que demanda políticas “salário igual, sem fevereiro de
efetivas para seu enfrentamento. distinção de sexo, 1932, que
para trabalho igual assegurou à
Esta cronologia tem como objetivo em quantidade e mulher brasileira
o levantamento histórico da luta das mulhe- qualidade”. o direito ao voto.
res por seus direitos e das políticas públicas
para o enfrentamento e erradicação da EQUIPARAÇÃO CONQUISTA DO
violência contra as mulheres, entendendo- SALARIAL VOTO FEMININO
-se que um só se fez possível através do
outro.

1919 1932

LEGENDA

CONQUISTA DE DIREITOS DA MULHER

POLÍTICAS PÚBLICAS NO COMBATE


À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

09 Amanda Palmeira
Lançado pela SPM, o Programa
"Mulher, Viver sem Violência" veio
para trazer respostas diante do
cenário de crescente violência
contra a mulher, através da
implementação de políticas
públicas de combate à violência
contra a mulher, realizando ações
de maneira integrada com várias
organizações. Uma das ações do
Programa é a Casa da Mulher
Lei 13.104/15 alterou o Brasileira (CMB), cujo objetivo é a
Código Penal e incluindo assistência integral e humanizada
como qualificador do às mulheres em situação de
crime de homicídio o violência, auxiliando e facilitando
feminicídio. o acesso aos serviços especializa-
O Feminicídio é o dos e assegurando condições
homicídio praticado contra para o enfrentamento da
mulheres em razão da violência, além de prover
condição de ser do sexo empoderamento e autonomia
feminino (misoginia e econômica para as usuárias.
Conhecida como menosprezo pela
Convenção de Belém do condição feminina ou CRIAÇÃO CASA DA
Pará, a Convenção discriminação de gênero,
Interamericana para fatores que também MULHER BRASILEIRA
Prevenir, Punir e Erradicar podem envolver violência
Criação do Conselho a Violência Contra a sexual) ou em decorrência
Nacional dos Direitos Mulher conceitua a de violência doméstica.
da Mulher, com o violência contra as PROGRAMA “MULHER,
Lei 4.212/1962,
garantiu que a
objetivo de promover, mulheres, reconhecen-
do-a como uma violação
LEI DO FEMINICÍDIO VIVER SEM VIOLÊNCIA”
em nível nacional,
mulher não precisaria políticas para eliminar aos direitos humanos, e
mais de autorização a discriminação da estabelece deveres aos
do marido para Organização em mulher. Proporcionou Estados signatários, com o
trabalhar, receber que o principal ações mais efetivas nos propósito de criar
herança e, em caso objetivo era o campos da saúde, condições reais de
de separação, atendimento à trabalho, legislação, rompimento com o ciclo
2015 2013
poderia requerer a mulher vítima de violência e combate de violência contra
guarda dos filhos. violência. ao racismo. mulheres.

ESTATUTO DA CRIAÇÃO DO CRIAÇÃO CONVENÇÃO DE


MULHER CASADA SOS MULHER CNDM BELÉM DO PARÁ
1986 2003 2004 2006 2007 2011
1985
1962 1980 1994
CRIAÇÃO CRIAÇÃO CRIAÇÃO CRIAÇÃO LEI MARIA pACTO NACIONAL - DIRETRIZES NACIONAIS -
DEAM COMVIDA DA S P M pnpm DA PENHA ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA ABRIGAMENTO DE MULHERS
CONTRA A MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Criação da Delegacia Criação do Centro Criação da Durante a 1° Lei 11.340/06, configura
Especializada de de Convivência Secretaria Especial Conferência violência doméstica Lançado a partir da SPM, Através da SPM, foi
Atendimento à Mulher, para Mulheres de Políticas para Nacional de Políticas contra a mulher o Pacto Nacional de criado Diretrizes
que são unidades da Vítimas de Mulheres, que possui para as Mulheres (I qualquer ação, omissão Enfrentamento à Nacionais de
Polícia Civil especializa- Violência, através status de Ministério e CNPM), foram ou conduta violenta, violência contra a Abrigamento de
das no atendimento de da Secretaria de está vinculada à apresentadas as como ameaças, mulher consiste em um Mulheres em situação
situações de violência Segurança Pública, Presidência da propostas do Plano coerções ou privação acordo federativo entre de Violência, com o
contra a mulher, que foi a primeira República. Com a Nacional de Políticas arbitrária da liberdade, o governo federal e os objetivo de resgatar a
composta majoritaria- experiência de criação desta para as Mulheres, seja na vida pública ou governos estaduais e Casa-Abrigo como
mente por delegadas e Casa-Abrigo para Secretaria, a política que tem como privada, que pode municipais brasileiros espaço de segurança,
agentes policiais proteção de de enfrentamento à objetivo combater as resultar em sofrimento para a implementação proteção, (re)
femininas, sendo o local mulheres em risco violência contra a desigualdades entre psíquico, lesão, danos de políticas públicas construção da
adequado para que as de morte mulher foi ampliada. mulheres e homens, físicos, sexuais, morais ou integradas de enfrenta- cidadania e resgate
mulheres possam fazer implementada no através de ações e patrimoniais para a mento à violência contra da autonomia.
suas denúncias sem Brasil. políticas públicas. mulher, baseado em as mulheres.
constrangimento. relações de gênero
(Brasil, 2006).

Casa da Mulher Brasileira 10


CONTEXTUALIZAÇÃO
No Brasil, as instituições denomina- 13.104/2015). Embora essas políticas públi-
das Centro de Referência de Atendimento cas desempenhem papel fundamental no
às Mulheres Vítimas de Violência e Casas combate a violência contra a mulher, o
Abrigo consolidam-se a partir da Conven- investimento na SPM foi reduzido em 68%
ção de Belém do Pará (conceituação da desde o Golpe de Estado de 2016, e a situa-
violência contra a mulher, reconhecendo-a ção se agravou mais durante o governo de
como uma violação aos direitos humanos), Bolsonaro, que em 2019 zerou o repasse
em 1994, e mais tarde com a criação da Lei para programas destinados a proteção das
Maria da Penha (Lei 11.340/2006 Artigo 2). mulheres, como a Casa da Mulher Brasileira
Essa Lei é reconhecida como uma das (CMB), ao mesmo tempo em que o índice
legislações mais avançadas do mundo de de violência contra a mulher cresceu,
proteção à mulher, responsável por tornar colocando o Brasil na 5° posição em um
preocupação do Estado e da sociedade a ranking de 83 países que mais matam
criação de espaços públicos de atendi- mulheres (Mapa da Violência 2015. Gráfico
mento integral e humanizado às mulheres. 01).
A Secretaria de Políticas para as Em meio a pandemia global da
Mulheres (SPM), lançou no dia 13 de março COVID-19 (2020), o índice de violência
de 2013 o programa “Mulher: Viver sem contra a mulher aumentou 9%. O Ministério
Violência”, responsável pela implementa- Público (MP) revelou aumento de 30% nas
ção de edifícios institucionais denominados medidas protetivas emergenciais e 51% nas
Casa da Mulher Brasileira (CMB), que trata prisões em flagrante no estado de São
de um espaço humanizado no atendimento Paulo, e no estado do Rio de Janeiro foi
à mulher em situação de violência. registrado um aumento de 50% nas notifica-
Foram criadas inúmeras políticas ções de casos de violência contra a mulher.
públicas e sociais voltadas ao combate à Esse aumento se dá em razão do isolamento
violência contra a mulher, destacando-se a social necessário nesse momento de
Delegacia Especializada de Atendimento à pandemia, uma vez que 59,4% dos atos de
[f.4] Autorretrato de Nan
Mulher (DEAM); Secretaria de Políticas para violência e feminicídio ocorrem no ambien- Goldin após ser
Mulheres (SPM); Lei Maria da Penha (Lei te doméstico. violentada.
[f.4] 11.340/2006) e Lei do Feminicídio (Lei Fonte: ffw.uol.com.br/

11 Amanda Palmeira
Neste cenário, onde as mulheres Sempre Viva, além de cursos para promover
estão mais suscetíveis a sofrerem violência, a qualificação social e profissional de
torna-se cada vez mais essencial as políticas mulheres em situação de vulnerabilidade.
públicas para erradicação da violência Anápolis, cidade conhecida por ser
contra a mulher. O Estado de Goiás ocupa o segundo maior polo farmoquímico do
um lugar preocupante no índice de violên- Brasil, faz parte de um dos principais eixos
cia contra a mulher, é o 8° estado brasileiro rodoviários do pais, o eixo Goiânia - Anápo-
onde as mulheres mais são vítimas de femini- lis - Brasília. Concomitantemente, é a sexta
cídio (Mapa da Violência 2018. Gráfico 04.) cidade mais violenta do estado de Goiás
e o 7° estado onde mulheres negras mais (Atlas da Violência - Retrato dos Municípios
morrem (Atlas da Violência 2019). Brasileiros 2019) e quando se trata de redes
Apesar de ser tão alarmante os de enfretamento à violência contra a
casos de violência no estado, com 246 mulher, a situação se agrava pois dispõe de
municípios, Goiás possui apenas 22 Delega- apenas uma Delegacia Especializada de
cias Especializadas de Atendimento à Atendimento à Mulher (DEAM) e um Centro
Mulher (DEAM); 1 Centro de Referência de Referência a Mulher.
Estadual da Igualdade (CREI); 21 Centros É fundamental a ampliação de
Especializados de Atendimento a Mulher instituições de apoio à mulheres em situa-
(CEAM), 1 Centro de Valorização da Mulher ção de violência no estado de Goiás, este
Consuelo Nasser (CEVAM); 1 Casa Abrigo trabalho trata da implantação de uma
Sempre Viva; 4 Juizados de Violência Casa da Mulher Brasileira (CMB) na cidade
Doméstica; 4 Promotoria da Mulher; 1 Casa de Anápolis, que atenderá mulheres de
de Passagem; 2 Unidades Móveis de Atendi- toda a região. A CMB contará com uma
mento às Mulheres e unidades de Patrulha Delegacia Especializada de Atendimento a
Maria da Penha em 22 municípios. Mulher (DEAM), atendimento psicossocial,
Goiânia, capital do estado, conta assistência jurídica, promotoria, enfermaria,
com duas DEAM e três instituições públicas abrigo de passagem, serviço de promoção
voltados ao atendimento e apoio de mulhe- de autonomia pessoal e econômica, além
res em situação de violência, são elas: de uma galeria de arte para fomentar a
Centro de Referência Estadual da Igualda- discussão sobre a violência contra a mulher,
de (CREI); Centro de Valorização da Mulher que está enraizada na sociedade patriarcal
Consuelo Nasser (CEVAM); Casa Abrigo e necessita meios de combate.

Casa da Mulher Brasileira 12


NÃO HÁ LUGAR SEGURO PARA AS MULHERES
No Brasil, há lugar seguro para as A violência contra a mulher está estruturada
mulheres? Infelizmente, a resposta para essa na desigualdade de gênero e na percep-
pergunta é não. ção de dominação masculina incorporada
O Brasil ocupa a 5° posição em um hanking no patriarcado, consiste em uma das princi-
de 83 países onde mais mulheres são assassi- pais formas de violação de seus direitos
nadas (Mapa da Violência 2015. Gráfico humanos, atingindo sua liberdade, saúde,
01). Em 2019, um levantamento feito pela integridade física e direito à vida.
ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP) para avaliar o impacto da violência
contra as mulheres no Brasil, revelou que nos
Países onde mais mulheres são assassinadas
últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres
foram espancadas ou foram vítimas de
Taxa de homicídios por 100 000 habitantes
tentativa de estrangulamento, ao mesmo
tempo, 22 milhões (37,1%) de brasileiras
sofreram algum tipo de assédio. Entre os 1° El Salvador (2012) 6,3
casos de violência, 42% ocorreram no 2° Colômbia (2011) 6,2
ambiente doméstico, que deveria ser onde 3° Guatemala (2012) 5,3
as mulheres mais estão seguras. Nos espa- 4° Rússia (2011) 4,8
ços públicos, as mulheres também não 5° Brasil (2013) 4,4
estão seguras, o número de mulheres 6° México (2012) 3,3
assediadas no transporte público atingiu 7° Moldávia (2013 3,2
quase 4 milhões. 8° Suriname (2012) 3,2
A socióloga brasileira, Heleieth 9° Letônia (2012) 3,1
Saffioti (2004), conceitua violência como 10° Porto Rico (2010) 2,9
uma ruptura de qualquer forma de integri- 19° EUA (2010) 2,2
[G. 01] Países onde mais 31° Chile (2012) 1,0
mulheres são assassina-
dade da vítima: integridade física, integri-
dade psíquica, integridade sexual e integri- 55° Alemanha (2013) 0,5
das.
Fonte:Mapa da dade moral, na qual apenas a psíquica e 63° França (2013) 0,4
Violência 2015 moral encontra-se impalpável. 71° Japão (2013) 0,3 [G. 01]

13 Amanda Palmeira
TIPIFICAÇÕES DE violência contra a mulher
ESTUPRO
O Código Penal Brasileiro define Estupro coletivo é a violência
estupro como: “Constranger alguém, cometida por dois ou mais agressores
mediante violência ou grave ameaça, a ter contra uma ou mais vítimas de forma
conjunção carnal ou a praticar ou permitir presencial.
que com ele se pratique outro ato libidino- Estupro de vulnerável é aquele
so.” (Art. 213. Lei n° 12.015/2009). É importan- onde as vítimas possuem idade inferior a 14
te destacar que não precisa ocorrer pene- anos, ou não possui discernimento em razão
tração para que o crime se qualifique como de alguma enfermidade ou deficiência
estupro, o componente mais significativo mental, independentemente de haver
para caracterizar este crime é a ausência consentimento por parte da vítima.
de consetimento por parte da vítima, no O estupro virtual ainda é recente na
entanto, isso não se aplica para menores de classificação dos crimes sexuais, parte da
14 anos, pois vítimas dessa idade não noção de uma relação sexual abusiva,
possuem o discernimento necessário para onde a mulher sofre ameaças de ter seu
consentir com o ato sexual. corpo exposto nas redes sociais caso não
O estupro é uma comprovação da cumpra as exigências do seu agressor.
dominação masculina, onde o homem O estupro corretivo é caracterizado
acredita ter autoridade e posse sobre a por ter a intenção de punir a vítima por
mulher, não respeitando sua integridade algum comportamento social ou sexual,
física, psicológica e moral. O Mapa da mulheres lésbicas são as principais vítimas
Violência (2018) dividiu os casos de estupro desse tipo de violência sexual, onde o
em categorias, sendo elas: estupro comum, agressor parte do princípio de “corrigir” a
estupro coletivo, estupro de vulnerável e orientação sexual da vítima.
estupro virtual e estupro corretivo. Cerca de 43% das vítimas de
Estupro comum é aquele cometido estupro são menores de 14 anos de idade,
por um único agressor presencialmente, jovens com idade entre 15 e 18 anos repre-
podendo ser praticado contra uma sentam 18% dos casos, cerca de 35% são
ou mais vítimas. mulheres com idade entre 18 e 59 anos, e
mulheres idosas representam 4%.

Casa da Mulher Brasileira 14


RELAÇÃO DE PROXIMIDADE E IDADE DA VÍTIMA

A maior parte dos casos de abusos


Menos de Entre15 Entre19 Mais de sexuais acontecem no ambiente familiar,
Total quanto maior o grau de proximidade, maio-
14 anos e 18 anos e 59 anos 60 anos
res são as chances do abuso acontecer, o
Parente 69,6% 33,0% 20,3% 17,1% 43,7%
pai biológico, por exemplo, é o adulto
Desconhecido 3,2% 48,2% 52,0% 78,3% 31,2%
masculino em que a criança mais confia.
Conhecido
16,3% 15,4% 15,2% 4,6% 15,3% Quando se trata de vítimas menores de 18
da Família
anos, os parentes são responsáveis por 60%
Companheiro(a)/
dos casos, a situação agrava quando anali-
Esposo(a)/ 2,5% 3,4% 12,6% 0,0% 6,1%
samos as vítimas menores de 14 anos, onde
Namorado(a)
parentes, vizinhos e conhecidos da familía
Vizinho 8,5% <0,1% 0,0% 0,0% 3,7%
representam 86,4% do total de casos.
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% (Tabela 01. Relação de proximidade e
[T. 01] idade da vítima).
Mapa do Estupro no Estados Brasileiros Entre janeiro e novembro de 2018,
foram registrados 32.916 casos de estupro
São Paulo 5285 em todo o país, o estado de Goiás ocupa a
Mato Grosso 3448 6° posição entre os estados com maior regis-
Rio de Janeiro 1994 tro de casos. (Gráfico 02. Mapa do Estupro
Alagoas 1913 [Mapa da Violência 2018]).
Bahia 1863 Diante deste cenário assustador de
Goiás 1673 violência sexual, o Congresso Nacional
Distrito Federal 1617 aprovou o Projeto de Lei 5.452/2016, que
Minas Gerais 1575 tipificou o crime de importunação sexual e
Amazonas 1533 divulgação de cena de estupro, e aumen-
Paraná 1426 tou a pena para o crime de estupro coletivo
Pernambuco 1289 e estupro corretivo, tendo o aumento de um
Rondônia 1286 terço se o crime ocorrer em local público,
Mato Grosso do Sul 1155 aberto ao público ou com aglomeração de
Piauí 929 pessoas, no transporte público, durante a
Tocantins 804 noite em local deserto, com o uso de arma
Ceará 789 ou qualquer outra maneira que dificulte a
Rio Grande do Sul 665 possibilidade de defesa por parte da vítima.
Pará 653 É tipificado como crime sexual qual-
Santa Catarina 537 quer ato que atinja a liberdade sexual de
Maranhão 511 pessoas vulneráveis, independentemente
Espírito Santo 476 do desejo delas de realizar a denúncia
Paraíba 392 contra o agressor. Em caso de estupro que
Acre 653 resulte em gravidez e/ou transmissão de
Sergipe 314 infecções sexualmente transmissíveis (IST), o
Roraima 204 aumento da pena do agressor pode chegar
Rio Grande do Norte 184 a dois terços, da mesma maneira se o crime
Amapá 64 for cometido contra idosos ou pessoas com
[G. 02] deficiência.

15 Amanda Palmeira
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Violência doméstica é toda violên-
anos de idade correspondem a 15% das
cia cometida dentro do ambiente familiar,
vítimas, e cerca de 1,4% das vítimas
podendo ser entre qualquer membro
possuiam menos de 18 anos de idade na
familiar, havendo laço sanguíneo, que é o
data da agressão.
caso de pais e filhos, ou apenas a união,
Foram notificados 14.796 casos de
que é o caso de esposo(a) e esposa(o),
violência doméstica entre os meses de
namorado(a) e namorada(o). A imagem
janeiro e novembro de 2018. Goiás ocupa a
mais associada a violência doméstica é a
5° posição entre os estados com maior regis-
do homem agredindo sua companheira,
tro de violência. (Gráfico 03. Mapa da
ou, muitas das vezes, ex companheira.
Violência Doméstica [Mapa da Violência
Esse tipo de violência parte da ideia
2018]).
de dominação e posse do homem sobre a
mulher, que acredita ser seu dono e ter
poder sobre suas escolhas, e que, quando Mapa da Violência Doméstica
contrariam o seu ideal, tem o direito de
punição, que se manifesta através da São Paulo 1251
agressão. Contudo, a violência doméstica Alagoas 811
não é apenas a violência física, muitas das Distrito Federal 802
vezes ela não deixa marcas físicas e sim Rio de Janeiro 781
psicológicas, é toda violência cometida no Goiás 767
ambiente doméstico, sendo de natureza Bahia 728
física, sexual, psicológica, patrimonial e Mato Grosso do Sul 714
moral. Os maus tratos a idosos e o abuso Paraná 699
sexual a uma criança também é caracteri- Amapá 638
zado violência doméstica. Pernambuco 598
A violência física também pode ser Minas Gerais 566
acompanhada pela violência sexual, Rondônia 542
estudo da Organização Mundial da Saúde Ceará 463
(OMS) revela que 30% das mulheres agredi- Tocantins 458
das por seu parceiro foram vítimas de Mato Grosso 452
violência física e sexual, 60% alegam ser Piauí 452
vítimas apenas da violência física e menos Rio Grande do Sul 409 [T. 01] Relação de
de 10% afirmam ter sofrido apenas violência Santa Catarina 399 Proximidade e Idade da
sexual. Pará 368 Vítima.
Os maiores agressores das mulheres Roraima 345 Fonte: Mapa da
são os companheiros (esposo, namorado, Violência 2018
Maranhão 344
ex), equivalendo a 58% dos casos de violên- Paraíba 306 [G. 02] Mapa do
cia doméstica. Pais, avôs, padastros e tios Sergipe 278 Estupro.
correspondem a 42% dos casos de agres- Acre 272 Fonte: Mapa da
são. A maior parte das vítimas tem entre 18 Espírito Santo 246 Violência 2018
e 59 anos de idade (83,7%), sendo as jovens Rio Grande do Norte 161
[G. 03] Mapa da
adultas as que correspondem e a maior Amazonas 72 Violência Doméstica.
porcentagem desses casos, com idade Fonte: Mapa da
entre 24 e 36 anos. Mulheres com mais de 60 [G. 03]
Violência 2018

Casa da Mulher Brasileira 16


No dia 7 de agosto de 2006 foi assistência à mulheres que se encontram
sancionada uma das leis mais importantes em situação de violência, e assegurar que
de combate a violência contra a mulher, a toda pessoa que se identificar como mulher,
Lei Maria da Penha, resultado da luta do independetemente de classe, etnia, raça,
movimento feminista brasileiro que levantou orientação sexual, cultura, religião, idade,
discussões e debates acerca dos direitos renda e educação desfrute dos direitos
das mulheres. Seu nome foi em homena- fundamentais pertencentes à pessoa
gem à luta da biofarmacêutica cearense humana, como também assegurar a opor-
Maria da Penha Maia Fernandes. tunidade de uma vida sem violência,
Maria da Penha foi vítima de cons- preservando sua saúde física, psicológica,
tantes agressões físicas por parte de seu moral, social e intelectual.
esposo, Marco Antonio Heredia Viveros. Na
madrugada do dia 29 de maio de 1983, FEMINICÍDIO
Marco Antonio simulou um assalto e atirou
em sua esposa enquanto ela dormia, esse A violência extrema praticada
episódio a deixou paraplégica. Após 4 contra as mulheres ocorre em um contexto
meses internada no hospital, quando social que tem origem no sistema de submis-
finalmente retornou para casa, foi vítima de são e dominação patriarcal. Como parte
outra tentativa de assassinato, dessa vez desse sistema, o feminicídio e todas as
Marco Antonio tentou eletrocutá-la e ela só formas de violência a ele relacionadas são
sobreviveu porque a funcionária doméstica resultado das diferenças de poder entre
de sua casa ouviu os gritos e a socorreu. homens e mulheres que são usadas como
Quando Maria da Penha finalmen- ferramentas de manutenção para o sistema
te denunciou seu esposo, foi vítima do patriarcal. O feminicídio é um crime de
descaso da Justiça Brasileira que tramitou Estado, visto que ele acontece quando o
seu caso lentamente. No entando, após Estado não proporciona segurança de vida
repercussão na mídia internacional, em para as mulheres nos espaços públicos,
2001 o Brasil foi condenado pela Comissão privados e de lazer.
Interamericana de Direitos Humanos da Ponto culminante de uma violência
Organização dos Estados Americanos pela enraizada no cotidiano das mulheres, o
neglicência que lidava com a violência feminicídio é o ato mais extremo de terror
contra as mulheres. Apenas em outubro de antifeminino, que compreende um amplo
2002, 19 anos depois, seu agressor foi preso conjunto de atos violentos como, agressões
com pena de 10 anos, porém cumpriu físicas e verbais, assédio sexual, abuso infan-
apenas 2 anos. til, perseguições, insultos, prostituição, abuso
A Lei n°11.340/2006, conhecida sexual, estupro, violência doméstica, mutila-
como Lei Maria da Penha é responsável por ção, e qualquer ato de violência cometido
criar mecanismos para prevenir e coibir a por homens motivados pela noção de
violência doméstica e familiar contra a dominação, superioridade e propriedade
mulher, como a medida de proteção e sobre as mulheres, que resulte em mortes é

17 Amanda Palmeira
qualificado como feminicídio. as regiões do Brasil, Goiás ocupa a 8°
A Lei 13.104/2015 (Lei do Feminicí- posição. Geralmente os casos de feminicí-
dio) foi sancionada em março de 2015 e dio têm um padrão, começa com a violên-
incluiu como qualificador do crime de homi- cia simbólica, que parte da humilhação, em
cídio o Feminicídio. A legislação considera seguida a violência psicológica sob amea-
Feminicídio o homicídio contra a mulher por ças constantes até que inicia-se a violência
razão de gênero, incluindo a violência física, e quando menos se espera resulta no
doméstica e familiar. O Código Penal deter- feminicídio.
mina a pena de 12 a 30 anos de reclusão
em caso de feminicídio, a pena aumenta se
Mapa do Feminicídio
o crime for cometido contra menores de 14
anos, maiores de 60 anos, pessoas com
deficiência, durante a gestação ou três São Paulo 3058
meses após o parto. Rio de Janeiro 1186
Apesar da Lei do Feminicídio, o Distrito Federal 869
número de mortes por feminicídio notifica- Bahia 788
dos pela mídia e pelos órgãos de segurança Mato Grosso do Sul 786
pública são diferentes. Enquanto a mídia Paraná 754
caracteriza a morte de mulheres vítimas de Amazonas 660
violência doméstica e familiar como femini- Goiás 595
cídio, os órgãos de segurança pública Mato Grosso 590
ainda possuem certa resistência, que se dá Pernambuco 556
em razão do machismo institucional que Ceará 499
ainda persiste em muitas dessas instituições. Roraima 386
No levantamento do Mapa da Violência de Espírito Santo 341
2018, desde a sanção da Lei do Feminicídio Sergipe 332
(2015), 15.925 mulheres foram assassinadas Rio Grande do Sul 322
em situação de violência doméstica. Piauí 302
Entre o período de janeiro a novem- Paraíba 273
bro de 2018, cerca de 90,8% das mulheres Rondônia 252
vítimas de feminicídio tinham entre 18 e 59 Minas Gerais 248
anos de idade, 6,7% haviam menos de 18 Pará 246
anos de idade. Os companheiros, ex com- Santa Catarina 237
panheiros, namorados e esposos são os Rio Grande do Norte 234
principais assassinos dessas mulheres, simbo- Amapá 226
lizando 95,2%. Em seguida, representando Maranhão 225
4,8% desses assassinos, vem os pais, avós, Acre 129
irmãos e tios. Tocantins 124 [G. 04] Mapa do
Alagoas 67 Feminicídio.
Os estados com maiores registros Fonte: Mapa da
de feminicídios estão espalhados por todas [G. 04] Violência 2018

Casa da Mulher Brasileira 18


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
NO ESTADO DE GOIÁS
Entre os estados brasileiros onde as para redes móveis intitulado “Goiás
mulheres mais são violentadas, Goiás segue Seguro”, possibilitando que qualquer pessoa
sempre entre os primeiros na lista dos 27 denuncie casos de violência.
estados. Ocupa a 6° posição entre os Em março de 2020, o deputado
estados com maior registro de caso de estadual Major Araújo (PSL) apresentou um
estupro (Mapa da Violência 2018); a 5° projeto de lei que visa uma bolsa para que
posição entre os maiores registros de caso mulheres vítimas de violência adquiram
de violência doméstica (Mapa da Violência uma arma de fogo, o auxílio proposto seria
2018); e a 8° posição entre os maiores casos no valor de R$ 2 mil reais. A proposta seria
de feminicídio. (Mapa da Violência 2018). que dessa forma a mulher pudesse se
Em 2019, o número de mulheres vítimas de defender do seu agressor e para obter essa
violência aumentou em todas as áreas, bolsa seria necessário comprovar saúde
como nos casos de estupro, lesão corporal, psíquica.
ameaça, crimes contra a honra e feminicí- Contudo, na prática, a realidade
dio, que registrou aumento de 11%. dessas mulheres poderia se tornar pior, uma
As políticas públicas para a erradi- vez que cerca de 76,4% das mulheres
cação da violência contra a mulher neces- afirmam que seu agressor é alguém conhe-
sitam de mais intensidade, é preciso que cido, dessa maneira seu agressor também
todas as mulheres do estado tenham teria a possibilidade de ter a arma de fogo
acesso às políticas. Em um estado com 246 ao seu alcance e as chances da mulher
municípios, Goiás conta com apenas 22 sofrer uma agressão fatal aumentariam.
Delegacias Especializadas de Atendimento O que contribui para que o índice
à Mulher (DEAM) espalhadas por todo o de violência contra a mulher diminua são
território. políticas públicas voltadas ao combate da
Com o intuito de amenizar e com- violência, como instituições de abrigamen-
bater essa realidade, em novembro de 2019 to, instituições que auxiliem as mulheres em
o Governo de Goiás lançou o “Pacto sua autonomia pessoal e financeira, possibi-
Goiano pelo Fim da Violência Contra a litanto a inclusão no mercado de trabalho.
Mulher”, que prevê ações conjuntas desen- Assim como também é necessário políticas
volvidas por órgãos da administração públi- educacionais com o intuito de discutir sobre
ca estadual, Justiça, Ministério Público e a raiz de toda essa violência, a dominação
sociedade civil com o propósito de comba- masculina, o machismo arreigado na estru-
ter a violência doméstica e diminuir os tura de toda a sociedade, pois para erradi-
índices de feminicídio no estado. O Pacto car um problema é necessário antes enten-
prevê também o lançamento do aplicativo der de onde ele partiu.

19 Amanda Palmeira
Casa da Mulher Brasileira 20
21 Amanda Palmeira
LUGAR

Casa da Mulher Brasileira 22


LOCALIZAÇÃO
Para a implantação da Casa da
Mulher Brasileira (CMB) no estado de Goiás,
foi escolhido o município de Anápolis, com
população estimada em 386.923 habitantes
(IBGE 2019), sendo a população composta
maioritariamente por mulheres.
Fator determinante para a escolha
da cidade foi sua localização central no
estado, como também fazer parte do
importante eixo rodoviário Goiânia - Anápo-
lis - Brasiília. Além disso, Anápolis possui
grande importância para as cidades interio-
raio de 150km ranas que a rodeiam, sendo ela o lugar em
que grande parte da população desses
interiores recorre em busca de serviços e
equipamentos que não existem em sua
própria cidade, ou que existem mas não
têm um atendimento satisfatório.
Estado de Goiás Projetada para atender mulheres
de todo o estado, independentemente de
Goiânia
gênero, raça, etnia, cultura, nível social ou
Anápolis educacional, é importante que sua localiza-
Brasília ção seja de fácil acesso, próximo a lugares
marcados na paisagem da cidade para
que qualquer mulher consiga chegar até
ela, por conta disso a área escolhida foi a
região central de Anápolis.

Região Central

Município de Anápolis

23 Amanda Palmeira
SISTEMA VIÁRIO e equipamentos urbanos
Situada no coração do centro de CAMINHABILIDADE
Anápolis, a Casa da Mulher Brasileira está
localizada entre uma das mais importantes
vias da cidade, a Avenida Goiás em cruza-
mento com a Rua Joaquim Inácio, marca-
550 m
da também pela Praça Bom Jesus que fica 7 min
logo adiante. A escolha do lugar parte do

INÁCIO
1 intuito de atrair a atenção das pessoas que
2 estão sempre passando por essa área tão

L JOAQUI
movimentada, trazendo assim visilidade 500 m
para a CMB. 6 min
R. HENERA
Norteador dessa escolha foi a proxi-
midade com o Terminal Urbano, que permi-
LHO

4
3 te que as mulheres que residem na cidade e
R. 14 DE JU

R. RUI BARBOSA
fora dela possam chegar a CMB facilmente. 900 m
12 min
Região Central Além disso, é importante que haja equipa-
mentos de saúde, educação e cultura na
5
6 7 área de implantação, para que a usuária
tenha suporte para eventuais necessidades. 900 m
R. BARÃO RIO BRANCO Nos centros urbanos a caminhada 12 min
8 é o meio de transporte mais comum, isso
ZEMBRO

R. BARÃO RIO BRANCO


acontece pela diversidade de usos presen-
AV. GOIÁS te, como lojas comerciais, clínicas, hospitais,
R. 15 DE DE

9 bancos, e diversos equipamentos públicos e 1,1 km


AV. GOIÁS 14 min
privados. Os espaços nos centros urbanos
R. BARÃO COTEGIPE
AV. GOIÁS
devem ser planejados para que o percurso
10 11 R. BARÃO COTEGIPE de caminhabilidade entre um lugar e outro

TE
não se torne exaustivo, dessa maneira, a

OR
950 m
12 localização da CMB permite que o percurso

LN
ISTA
A

13 min
IRO PORTEL

ASI
de caminhabilidade até estes equipamen-
13 BAT

. BR
MBRO

tos urbanos não seja exaustivo.


EL.

AV
R. C
R. 7 DE SETE

Terminal Urbano de Anápolis


R. ENGENHE

Hospital Evangélico Goiano

Centro de Referência da Mulher

DEAM

Maternidade Dr. Adalberto


Legenda - Equipamentos Urbanos
Casa da Mulher Brasileira (CMB) Colégio Estadual José Ludovico de Almeida
Via Arterial
1 - Terminal Urbano de Anápolis 8 - Praça Bom Jesus
Via Coletora
2 - Museu de Artes Plásticas de Anápolis 9 - Catedral Bom Jesus da Lapa
3 - Banco do Brasil 10 - Maternidade Dr. Adalberto
4 - Hospital Evangélico Goiano 11 - Caixa Econômica Federal
5 - Colégio Estadual José Ludovico de Almeida 12 - Teatro Municipal
6 - Bradesco 13 - Delegacia Especializada de
7 - Centro de Referência da Mulher Atendimento a Mulher (DEAM)

Casa da Mulher Brasileira 24


O TERMINAL

INÁCIO
L JOAQUI
A inserção da Casa da Mulher
Brasileira neste terreno partiu do princípio de

R. HENERA
visibilidade e acessibilidade, que são
LHO
facilmente atendidos por conta de sua
R. 14 DE JU

R. RUI BARBOSA
localização logo em frente à Praça Bom
Jesus e sua proximidade com o Terminal
7 Urbano, que são equipamentos marcantes
R. BARÃO RIO BRANCO na paisagem da cidade.
Localizado no centro da cidade,

ZEMBRO
R. BARÃO RIO BRANCO

Anápolis possui apenas um Terminal Urbano,


AV. GOIÁS
R. 15 DE DE sendo assim todos os ônibus do município
AV. GOIÁS
R. BARÃO COTEGIPE
vão para o mesmo lugar e muitas das vezes
R. BARÃO COTEGIPE
sua rota passa pela Praça Bom Jesus para
AV. GOIÁS

RTE
chegar ao Terminal. Dessa maneira a CMB

NO
12

ISTA
[f.05] Terminal Urbano facilita a chegada de mulheres de qualquer
LA

ASIL
EIRO PORTE

Terminal Urbano de Anápolis

BAT
de Anápolis - R. Tonico 13

. BR
região da cidade até ela.
EMBRO

EL.
Praça Bom Jesus

AV
de Pina com a R. Gen.

R. C
Joaquim Inácio. Casa da Mulher Brasileira
R. 7 DE SET
R. ENGENH

Fonte: avozdeanapolis.-
com.br

[f.06] Terminal Urbano


de Anápolis - interior.
Fonte: avozdeanapolis.-
com.br

[f.5] [f.7]

[f.6] [f.8]

25 Amanda Palmeira
E A PRAÇA
A Praça Bom Jesus é um marco
histórico na cidade, podendo, dessa manei-
ra, ser facilmente localizada por quem não
reside em Anápolis, além de estar localiza-
da na Avenida Goiás, uma das principais e
mais movimentas avenidas que corta a
cidade, atendendento assim ao princípio
de visibilidade.

[f.11]

[f.9] [f.12]
[f.07] Terminal Urbano
de Anápolis - R. Tonico
de Pina.
Fonte: portalcontexto.-
com

[f.08] Terminal Urbano


de Anápolis - interior.
Fonte: portal6.com.br

[f.09] Praça Bom Jesus.


Fonte: anapolis.go.go-
v.br

[f.10] Praça Bom Jesus.


Fonte: tripadvisor.com.br

[f.11] Praça Bom Jesus,


meados de 1916.
Fonte: biblioteca.ibge.-
gov.br

[f.12] Praça Bom Jesus -


Avenida Goiás com R.
Eng. Portela
[f.10] Fonte: tripadvisor.com.br

Casa da Mulher Brasileira 26


USO DO SOLO TERRENO
Como característico dos centros O terreno está localizado na Rua
urbanos, essa é uma área predominante- General Joaquim Inácio, conversão com a
mente comercial, com a presença de Avenida Goiás, foi feita a desapropriação
muitos equipamentos de serviços. de três terrenos comerciais para chegar ao
A medida em que se distancia das resultado deste, obtendo uma área de
principais centralidades, a presença de 1.841m².
residências se torna mais marcante. O uso O desnível do terreno era de
do solo diversificado é uma grande poten- apenas 1 metro, por conta disso a área foi
cialidade para o projeto, visto que a CMB aterrada para melhor aproveitamento do
terá uma ampla diversidade de programas espaço.
e usos.

[f.14]

10 30 50
[f.13]
Comercial
Misto
Residencial
Equipamento
Vazio
Área de intervenção [f.15]

27 Amanda Palmeira
[f.13] Mapa de Uso do
Solo
Fonte: Autoral, 2019

[f.14] Área de interven-


ção vista pela Av. Goiás
com R. Gen. Joaquim
Inácio
Fonte: Autoral, 2019

[f.15] Área de interven-


ção vista pela R. Gen.
Joaquim Inácio
Fonte: Autoral, 2019

[f.16]Área de interven-
ção vista pela Av. Goiás
com R. Gen. Joaquim
Inácio
Fonte: Autoral, 2019

[f.17] Área de interven-


ção vista pela Av. Goiás
Fonte: Autoral, 2019

[f.16]

[f.17]

Casa da Mulher Brasileira 28


29 Amanda Palmeira
o PROjeto

Casa da Mulher Brasileira 30


31 Amanda Palmeira
Atendimento Psicossocial
ASSISTÊNCIA Espera atendimento: 18,67 m²
Atendimento em Grupo (3): 95,68 m²
Recepção: 103,43 m² Atendimento Individual (2): 36,34 m²
Triagem (3 salas): 63 m² Terapia Ocupacional: 37,14 m²

Delegacia Especializada no Atendimento à Enfermaria: 47,78 m²


Mulher (DEAM) Brinquedoteca: 55,69 m²

PROGRAMA Espera DEAM: 40,83 m²


Espera Agressor: 14,42 m²
Central de Transportes: 38,35 m²

Defensoria Pública
A Casa da Mulher Brasileira (CMB) é dade seja a segurança e bem estar, sendo Cartório: 26,51 m² Espera: 28,66 m²
uma das ações do Programa “Mulher, Viver um local que transmita proteção e acolhi- Sala de Ocorrência: 14,05 m² Administração: 29 m²
Sem Violência”, da Secretaria de Políticas mento. Partindo disso, fez-se necessário a Sala de Reconhecimento: 33 m² Defensoria: 33,30 m²
para Mulheres (SPM), criado em 2013 no setorização da Casa da Mulher Brasileira, Administração: 14,27 m² Procuradoria: 51,11 m²
governo da ex presidenta Dilma Rousseff. O setorizando os espaços e suas funções, para Investigação de Violência: 25,89 m²
objetivo é oferecer assistência integral e que espaços de permanência fiquem Investigação de Crimes Sexuais: 22,60 m² Juizado Especializado de Violência
humanizada às mulheres que estão em distantes dos espaços de atendimento Perícia: 10,26 m² Doméstica e Familiar Contra Mulher
situação de violência, proporcionando imediato, tornando-se mais segura para a Depósito (2): 11,16 m² Espera Juizado: 64 m²
acesso aos serviços especializados, como mulher que encontra-se na CMB e para a Copa: 25,62 m² Sala de Apoio: 31,74 m²
Defensoria e Procuradoria Especializada, que acaba de chegar em busca de Dormitório Plantonistas: 51,21 m² Arquivo: 16,33 m²
serviços para promover a autonomia amparo. Delegada: 23,60 m² Sala de Audiência: 64,03m²
econômica e pessoal, dando assim condi- Atendendo todas as necessidades dormitório delegada: 12,24 m² Gabinete Juiz: 31,15 m²
ções para o combate a violência. das usuárias, a CMB conta com uma Dele-
Foi proposto que houvesse uma gacia Especializada de Atendimento à
CMB em cada estado brasileiro, no entanto, Mulher (DEAM), Procuradoria, Juizado Espe-
após o Golpe de 2016 o Programa sofreu cial, Apoio Psicossocial, Enfermaria e
desmontes e atualmente, no governo de Brinquedoteca, dessa forma, a usuária que
Bolsonaro, o repasse foi zerado. Foram cons- precisar ser encaminhada para o Alojamen-
truídas sete CMB: a de Brasília (DF); Boa Vista to Temporário da CMB, poderá resolver
(RR); Campo Grande (MS); Curitiba (PR); também as questões jurídicas sem sair de lá.
Fortaleza (CE); São Luís (MA) e São Paulo Observando a questão da violência ALOJAMENTO TEMPORÁRIO EMPODERAMENTO
(SP), porém a de Brasília encontra-se interdi- doméstica que está atrelada a ideia de
tada desde abril de 2018 por risco de desa- dominação que o homem tem sobre a Informática: 83, 68 m²
Sala de Estar: 66,25 m²
bamento. mulher, a CMB possui cursos profissionalizan-
tes, com o intuito de promover a autonomia Sala de Leitura: 44,35 m² Biblioteca: 246 m²
A ampliação do Programa torna-se
urgente diante do cenário de violência pessoal e econômica da mulher, que muitas Sala de Jantar: 58 m² Auditório: 80,10 m²
contra a mulher que o Brasil encontra-se, vezes mantém uma relação com seu agres- Copa: 43,34 m² Sala de Uso Livre: 40 m²
analisando as demais CMB, foi estabelecido sor por não possuir independência para Quarto PcD (2): 61,87 m² Sala Multiuso: 30 m²
que a sede de Anápolis terá capacidade manter-se financeiramente.
Quarto Individual (24): 450 m² Salas de Aula (2): 148,78 m²
para atender 150 mulheres por dia. O Alojamento Temporário compor-
Em um contexto social em que ta até 26 mulheres por vez, tendo um amplo Despensa: 8,93 m² Salão de Beleza: 69,23 m²
tanto se discute sobre as consequências de espaço de convívio e quartos individuais Área de Serviço: 23,34 m² Ateliê de Costura: 98,71 m²
uma sociedade machista e misógina, é para todas as mulheres, desde as que Pátio Convivência: 104,60
essencial que a nova Casa da Mulher estiverem sozinha às que estiverem acom-
Horta Urbana: 417 m²
Brasileira (CMB) seja inclusiva, proporcionan- panhadas por seus filhos. A escolha de quar-
do acolhimento para todas as mulheres, tos individuais parte da intenção de propor-
indepentemente de gênero, raça, etnia e cionar um maior sentimento de conforto
cultura. dentro da CMB, além de preservar a privaci-
O programa de necessidades foi dade em um momento tão delicado. GESTÃO CMB
estabelecido a partir das condicionantes Para fomentar a discussão sobre
que envolvem as mulheres em situação de gênero e violência contra a mulher, foi ESPAÇO PÚBLICO
violência, o norte de tudo isso foi gerar um criada uma Galeria, que contempla espa- Sala de Monitoramento: 26,20 m²
espaço em que as usuárias tenham um ços de exposição de Artes, auditório, ateliê Secretaria: 23,21 m²
atendimento humanitário em que a priori- de pintura e curso de autodefesa. Galeria: 134,20 m² Depósito: 16,61 m²
Auditório: 101 m² Sala de Reunião: 21,49 m²
Ateliê Livre: 30,83 m² Administração: 23 m²
Curso de Autodefesa: 54,70 m² Copa: 30,67 m²
Dormitório Plantonistas: 43 m²

Casa da Mulher Brasileira 32


CONCEITO E PARTIDO FORMA PROCESSOs
Pensando no modo como a mulher A partir das simbologias do partido,
precisa se impor diante uma sociedade a forma começou a surgir, fechando-se
opressora para sobreviver, a sensação de para as ruas com a inteção de construir
acolhimento e proteção foram os eixos uma barreira de proteção ao lado externo e
norteadores para a concepção deste abrindo-se internamente para amenizar o
projeto. peso da barreira e suavizar a forma.
Tendo o abraço como simbologia Para que a barreira criada no lado
do acolhimento e proteção, o partido arqui- externo não se transformasse em uma
tetônico surge deste princípio, consideran- barreira visual para as pessoas que percor-
do o movimento que os braços fazem no rem a rua, foi feito um deslocamento em
momento de um abraço, onde ele se fecha todas as lajes do edíficio, para assim propor-
para a parte externa e se mantém aberto cionar uma sensação de leveza.
para o interior durante o momento em que É importante que haja separação
o abraço acontece. dos usos em todo o edifício, pensando nisso,
a parte onde localiza-se o Alojamento
Temporário é marcada pela quebra da
forma inicial, destacando, dessa maneira, o
quanto esta parte necessita cuidado.

1. análise do movimento dos braços durante o


abraço 3. tendo o térreo como elemento base, foram
elaboradas lajes que em alguns momentos
avançam e em outros recuam ao formato
inicial, causando assim o deslocamento

1. primeira forma arquitetônica

2. considerado a angulação dos braços

3. composição de ângulos no terreno de maneira 2. a primeira forma arquitetônica foi reduzida e 4. resultado final após o deslocamento de lajes
que a simbologia do abraço fosse mantida - sendo mantida apenas no térreo, sendo o elemento
fechado para a área externa aberto para a interna primordial para composição do restante
33 Amanda Palmeira
Casa da Mulher Brasileira 34
CIRCULAÇÃO
A maneira de acessar os espaços
da Casa da Mulher Brasileira (CMB) foi uma
importante diretriz na distruibuição do
programa, pois foi primordial chegar a uma
resolução que mantivesse a segurança das
usuárias nos diversos ambientes da CMB.
Partindo desse princípio, o acesso
foi dividido em três caixas de circulações
distintas, com entrada monitorada.

- caixa de circulação responsável pelo


acesso ao curso de autodefesa; ateliê livre;
apoio psicossocial; biblioteca, salas de aula
e demais cursos profissionalisantes

- o acesso foi pensado na setorização dos


serviços em comum

35 Amanda Palmeira
- caixa de circulação responsável por aten-
der a demanda da Delegacia Espacializa-
da de Atendimento à Mulher (DEAM)

- o agressor, acompanhado de policiais,


entra pelo estacionamento no subsolo e de
lá sobe até a sala de reconhecimento,
dessa forma não tendo contato com outras
pessoas

- caixa de circulação responsável pelo


acesso à Adimistração da CMB; Procurado-
ria; Defensoria; Juizado Especializado e
Alojamento Temporário

- possui acesso pela área privada do


estacionamento, onde ficam os funcioná-
rios responsáveis pela Central de Transportes
e localiza-se o estacionamento privativo de
juízes e promotores

Casa da Mulher Brasileira 36


37 Amanda Palmeira
1017
AVENIDA GOIÁS

Projeção 1° Pav.

1017
3 5 6 6 6 7

8 1017
1

.
o 1° Pav
2

Projeçã
2

RUA GENERAL JOAQUIM INÁCIO


9

10 2
2

LEGENDA

1. Sala de Ocorrência
2. Sanitário PcD
3. Cartório
4. Espera DEAM
5. Sala de Espera - Agressor
IMPLANTAÇÃO - TÉRREO 1019 6. Sala de Triagem
7. Arquivos
8. Recepção CMB
18 9. Galeria
10 10. Auditório
Casa da Mulher Brasileira 38

2 5 10 20
LEGENDA
LEGENDA
1. Audiência Juizado
2. Sala de Apoio
1. Copa DEAM 12. Banheiro Plantonistas DEAM
13. Atendimento em Grupo Psicossocial
3. Gabinete Juiz
2. Administração
14. Atendimento Individual Psicossocial 4. Espera Juizado
3. Sala de Reconhecimento
15. Terapia Ocupacional 5. Sanitário PcD
4. Investigação Violência
16. Espera Atendimento Psicossocial 6. Arquivos
5. Delegada
6. Dormitório Delegada 17. Espera Enfermaria 7. Defensoria Pública
7. Investigação Crimes Sexuais 18. Sala de Atendimento 8. Espera Defensoria
8. Perícia 19. Brinquedoteca 9. Administração
9. Dormitório Plantonistas DEAM 20. Ateliê Livre 10. Procuradoria
10. Depósito 21. Curso Autodefesa 11. Sala de Informática
11. Sanitário PcD 22. Administração 12. Biblioteca

Projeçã
o 2° Pa
v.

5 Projeção 3° Pav.

3 9
7 9 13 14
6 7
3
15
1
1 5 8
14 11
8 10 11 11 13 4
5 10
2 12 11
4 2

6 5 5 5 5
16
13

12
17 18

11 18

v.

v.
o 2° Pa

o 3° Pa
19
Projeçã

Projeçã
20
22
21

PAVIMENTO 1 PAVIMENTO 2

39 2 5 10 20 2 5 10 20
LEGENDA
LEGENDA
1.Banheiro Plantonistas
2. Sanitário PcD 1. Despensa
3. Copa Gestão CMB 2. Copa
4. Dormitório Plantonistas CMB 3. Sala de Jantar
5. Administração 4. Área de Serviço
6. Depósito 5. Sanitário PcD
7. Reunião 6. Sala de Estar
8. Secretaria 7. Sala de Leitura
9. Espera Gestão CMB 8. Banheiro PcD
10. Sala de Monitoramento 9. Quarto Individual PcD
11. Salas de Aulas 10. Área de Recreação Infantil
12.Sala Multiuso 11. Pátio Interno
13. Sala Livre 12. Salão de Beleza
14. Auditório 13. Ateliê de Costura

1 11 11 8 8
2
1 6 7
4 6 8 10 9
9

2
3
2
3
7 9
10
5

4 5 5

v.
o 5° Pa
2

Projeçã
12
11

12

13
13
14
5
5

v.
o 5° Pa
Projeçã

PAVIMENTO 3 PAVIMENTO 4

Casa da Mulher Brasileira 2 5 10 20 2 5 10 20 40


LEGENDA LEGENDA

1.Horta 1. Varanda
2. Varanda 2. Banheiro
3. Banheiro 3. Quarto Individual
4. Quarto Individual 4. Área Recreação Infantil
5. Área Recreação Infantil

2 1

3 2

4 3 2
3
4 3

3 2
3 2
4 3
4 3
3 2
3
2
3 4 4 3
2 3
3 4 2
3
3 2
3 2
4 4 3 3
4 3
3 5 2
4
3 4
3 4 2
3

PAVIMENTO 5 PAVIMENTO 6

41 2 5 10 20 2 5 10 Amanda Palmeira 20
1. Central de Transportes
2. Sanitário PcD

RESERVATÓRIO
INFERIOR
1 2 3 4 5 6 7 11 12 13 14 15 16 40 41 42 43 44 45 47 48
8 9 10 49 50 51

52

53

54

64
55
17 1
65

22 23 32 2
18 31 66
24 25 34
19 33

26 27 36
20 35 67

28 29 38
21 37 56 57 58 59 60 61 62 68
63
30 39
69

70

71

SUBSOLO 1 - ESTACIONAMENTO SUBSOLO 2 - ESTACIONAMENTO

39 Casa da Mulher Brasileira 2 5 10 20 40 2 5 10 20 42


LAJE IMPERMEABILIZADA

CORTE AA
COBERTURA

43 2 5 10 20 Amanda Palmeira
RESERVATÓRIO SUPERIOR

+22,95 +22,95 +26,70

+19,20 +19,20 +22,95

+19,20

+13,35 +13,35

+9,60 +9,60 +13,35

+9,60
+5,85 +5,85

+5,85

- 3,75 - 3,75

- 3,75
- 7,50 - 7,50

- 7,50

CORTE BB

Casa da Mulher Brasileira

44
45 Amanda Palmeira
Casa da Mulher Brasileira 46
47 Amanda Palmeira
Casa da Mulher Brasileira 48
ESTRUTURA E MATERIALIDADE
O dimensionamento da estrutura foi No revestimento externo foi utilizado
feito com base nos gráficos de Yopanan placas cimentícias, por ser um material leve
Rebello (2000, pp. 102, 114 e 166), onde e que gera uma economia de até 70% no
foram determinados pilares de concreto de cronograma da obra, possuir um bom
30x30cm, e laje nervurada caixão perdido isolamento termoacústico, além de propor-
com a espessura de 25cm, para vencer um cionar versatilidade para o design da
vão de até 11 metros. fachada.
As caixas de circulação atuam Seguindo as recomendações da
como núcleo de rigidez do edifício, partindo NBR 7199, foi utilizado o vidro duplo lamina-
delas a composição da malha de pilares, do nas fachadas, além disso, há uma mem-
ajustando-se à forma do edifício. brana perfurada para reduzir a transmissão
de calor do ambiente externo para o
interno, favorecendo assim a ventilação e
iluminação do edifício.

placa cimetícia

laje nervurada

vidro duplo laminado

membrana microclimática

49 Amanda Palmeira
46

Casa da Mulher Brasileira 50


PAISAGISMO
O paisagismo da Casa da Mulher
Brasileira é marcado pelo espelho d’água,
com o intuito de proporcionar uma sensa-
ção de conforto e bem-estar, além de
elevar a umidade do ar.
A partir do espelho d’água, foi
pensando em um percurso de caminhabili-
dade onde há bancos sobre ele. Foram
feitos dois rasgos que servem como uma
abertura zenital para iluminar o subsolo.

- Noivinha (Euphorbia Leucocephala)

arbusto de pequeno porte, variando entre


2-3 metros de altura; copa globosa; em
maio as folhas verdes tornam-se brancas

- Quaresmeira (Tibouchina Granulosa)

não possui raiz agressiva; varia de pequeno


a médio porte, pois possui altura de 8-12
metros; floração 2x por ano, de junho a
agosto e dezembro a março

- Pedra petit pavé

resistente; antiderrapante; permeável e de


fácil manutenção

51 Amanda Palmeira
48

Casa da Mulher Brasileira 52


53 Amanda Palmeira
Casa da Mulher Brasileira 54
REFERÊNCIAS
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