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História da Filosofia Medieval 2

1 – Qual a relação entre fé X razão em Abelardo

A filosofia medieval está fortemente ligada à Igreja Católica, que nesse tempo exercia
grande influência sobre a sociedade. Por isso, a Igreja acreditava que a filosofia seria algo
ruim para seu " reinado" levando em consideração de que ela provoca o pensamento crítico e
as ações da Igreja passariam então a serem questionadas.
Sendo assim, desenvolveu-se a filosofia patrística, que era pregada pelos padres, sendo um
grande propulsor desse pensamento Santo Agostinho. Esse tipo de filosofia buscava resgatar
aqueles que eram contra a Igreja, mostrando-lhes que era possível conciliar fé e razão.
Esse tipo de filosofia pregava que a liberdade e o livre arbítrio deveriam ser pensados,
levando em consideração de que Deus era quem decidia todas as coisas. Tratava-se do
pensamento teocêntrico, onde Deus estava no centro do mundo.
Santo Agostinho, como propulsor dessa filosofia, acreditava que o amor era uma virtude,
livre de paixões e se manifestava como fraterno e também como um dom divino de Deus.
No que diz respeito ainda à fé e à razão, Abelardo propunha um novo modelo dialético como
algo imprescindível para justificar racionalmente a fé.

Pedro Abelardo (1079 - 1142)


           A frase "a dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a verdade" é um dos
princípios de Abelardo que direciona tanto seus pensamentos filosóficos como teológicos. O
filósofo parte dessa ideia inicial para formar e fundamentar o seu raciocínio crítico. A dúvida
é onde começa o caminho para a pesquisa, é uma frequente interrogação que nos leva a um
exame mais aprofundado das questões que nos interessam. Através da dúvida o filósofo
Abelardo emprega um caráter científico às suas investigações.
            A dialética é para Abelardo muito mais do que um discurso feito de forma habilidosa,
ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro do falso. Seguindo regras
lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico é verdadeiro ou é falso. Abelardo
pretende utilizar o vigor da dialética nos estudos e nas argumentações teológicas para
descobrir quais são os argumentos legítimos e quais são os argumentos não autênticos e
através dela fazer prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs. Não é a razão que vai assimilar
a fé, mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso filosófico não vai tornar sem
efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no seu entendimento e torná-lo
mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a mediadora entre as verdades reveladas e o
pensamento humano. Segundo a filosofia de Abelardo, não é possível crer nas coisas que não
se compreende.
            O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a questão
filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo assim os diversos
pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a realização de uma investigação
completa que vai determinar as diferenças entre as argumentações de um tema. A razão vai
prevalecer sobre a opinião de quem tem grande entendimento sobre determinado assunto.
Abelardo não vai contra a utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver
meios ou conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do momento
que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade, a autoridade passa a ser
inútil.
            Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou ao menos um
diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias teológicas do cristianismo.
Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, mesmo estando fora do cristianismo,
buscavam também a verdade através da investigação lógica. Os primeiros filósofos e os
filósofos cristãos estão unidos pela razão.

Paulo Sales
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            A essência de Deus é impossível de ser definida, pois ela não pode ser expressa. E não
pode ser expressa porque para isso Deus teria que ser uma substância, e Deus está fora de
todas as coisas que conhecemos e que possamos vir a conhecer. Para tentar explicar a trindade
da pessoa divina Abelardo usa como metáfora a gramática que diferencia quem fala, para
quem se fala e o que se fala. Na unidade divina as três pessoas podem ser uma só, pois é
possível falar de si a si mesmo. A primeira pessoa é também o fundamento das outras duas,
pois se não existir quem fala não existirá também o que se fala e a quem se fala.
            Sobre as questões éticas Abelardo afirma que o pecado não é em si a ação física, mas
o elemento psicológico dessa ação, ou seja, o pecado é a intenção de pecar e não a ação.
 
Sentenças:
- A chave para encontrarmos a sabedoria é a interrogação permanente e regular.
- Escrever é um mal perigoso e contagioso.
- Não podemos acreditar em nada se antes não o entendermos.
- É ridículo pregar aos outros aquilo que nem nós nem os outros entendemos.
- Deus faz aquilo que quer, mas como só quer aquilo que é bom, Deus só faz o bem.

2 - Em que consiste o problema dos universais? E qual a posição de Roscelino,


Guilherme de Champeaux e Abelardo frente a esse problema?

Na esteira das traduções que abalaram o Ocidente, encontrou-se a Isagoge, obra do filósofo
antigo Porfírio, onde ele expunha o problema dos universais em Aristóteles. Iniciava-se assim
um dos mais longos debates da história da filosofia.

Quando olhamos para duas maçãs, vemos algo de comum entre elas? Ou elas são
completamente diferentes? Há uma substância "maçã" separada delas, ou ela está em cada
uma das maçãs? Ou a substância "maçã" não existe de forma alguma? Perguntas desse tipo é
que dirigiram o debate dos universais.

Os ultrarrealistas, de índole platônica, como santo Anselmo, Odo de Tournai e Bernard de


Chartres, diriam que há uma substância, um universal "maçã" separado de todas as maçãs e
que lhes serve de modelo. Os realistas moderados, mais aristotélicos, como Pedro Abelardo,
João de Salisbury e Tomás de Aquino, afirmariam que o universal "maçã" existe somente nas
maçãs e nunca fora delas. Já os nominalistas, como Roscelin e Guilherme de Ockham,
negariam que houvesse qualquer universal; "maçã" seria um puro nome. Esta discussão
ecoaria no confronto entre empiristas e racionalistas modernos.

Abelardo defendeu, contra alguns de seus colegas, a posição de que os universais não
eram nem estritamente coisas reais e nem simplesmente conceitos, mas ocupavam uma
posição intermediária entre a coisa concreta e a simples palavra.
O problema dos universais surgiu entre os filósofos gregos que acreditavam que existem
entidades independentes da mente que explicam as coisas particulares que são parecidas. Por
exemplo, uma maçã e o sangue são ambos vermelhos e portanto dividem um universal
("vermelhidão") que está presente nos dois e é real. Pedro Abelardo negou a existência real
dos universais e defendeu que a única coisa universal é o nome (por isso nominalismo). Para
os realistas extremados, e o mais destacado foi Guilherme de Champeaux, não haveria mais
do que um homem (essência de homem), e a distinção entre os indivíduos seria puramente
acidental. Os universais são ante rem, isto é, são anteriores às coisas individuais. Numa
segunda teoria Guilherme de Champeaux propõe que o universal é uma res não

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essencialmente, mas só indiferentemente idêntica nos vários indivíduos. Esta segunda teoria é
conhecida como teoria da não-diferença ou indiferença (TND). Os indivíduos são “pessoais”,
isto é, são individualmente distintos, tanto pela sua matéria como pela sua forma.

3 – Em que consiste o método dialético de Abelardo e sua importância para filosofia?

A dialética é um amplo e antigo modo de operação do pensamento racional dentro da


filosofia. Não é possível determinar com precisão quem foi o primeiro filósofo a delineá-la,
sabe-se apenas que ela surgiu entre os filósofos pré-socráticos e popularizou-se com o método
socrático por meio dos escritos platônicos. Para Abelardo muito mais do que um discurso
feito de forma habilidosa, ela é o instrumento que ajuda a distinguir com clareza o verdadeiro
do falso. Seguindo regras lógicas ela vai conseguir determinar se o discurso científico é
verdadeiro ou é falso. Abelardo pretende utilizar o vigor da dialética nos estudos e nas
argumentações teológicas para descobrir quais são os argumentos legítimos e quais são os
argumentos não autênticos e através dela fazer prevalecer as verdadeiras doutrinas cristãs.
Não é a razão que vai assimilar a fé, mas a fé que vai apropriar-se da razão, pois o discurso
filosófico não vai tornar sem efeito o conjunto de sentenças da teologia, mas vai auxiliar no
seu entendimento e torná-lo mais fácil de compreender. A filosofia vai ser a mediadora entre
as verdades reveladas e o pensamento humano. Segundo a filosofia de Abelardo, não é
possível crer nas coisas que não se compreende.
            O método lógico de análise utilizado por Abelardo consistia em estudar a questão
filosófica fazendo um exame das partes que a constituem, percebendo assim os diversos
pontos de vista incoerentes e contrários. É necessário a realização de uma investigação
completa que vai determinar as diferenças entre as argumentações de um tema. A razão vai
prevalecer sobre a opinião de quem tem grande entendimento sobre determinado assunto.
Abelardo não vai contra a utilidade do pensamento de uma autoridade enquanto não houver
meios ou conhecimentos suficientes para se colocar em prática a razão. A partir do momento
que a razão encontrar condições de por si mesmo encontrar a verdade, a autoridade passa a ser
inútil.
            Abelardo busca fazer uma conciliação, um entendimento, um acordo ou ao menos um
diálogo ente os primeiros filósofos, em especial Platão, e as teorias teológicas do cristianismo.
Pedro Abelardo acreditava que os primeiros filósofos, mesmo estando fora do cristianismo,
buscavam também a verdade através da investigação lógica. Os primeiros filósofos e os
filósofos cristãos estão unidos pela razão.

4 - Comente o argumento ontológico para prova da existência de Deus de Santo Anselmo

Os critérios para a classificação de argumentos ontológicos não são exatos e nem amplamente
aceitos, mas eles geralmente partem da definição de Deus e chegam à conclusão de que a sua
existência é necessária e certa. Esse tipo de argumento parte de um raciocínio unicamente a
priori e faz pouca ou nenhuma referência a posteriori, de cunho empírico.
O argumento ontológico para provar a existência de Deus, criado por Santo Anselmo, visava
prova-la de uma forma a priori, passando do simples conceito de Deus à sua existência.
Anselmo definiu Deus como sendo a maior coisa que a mente humana pode conceber e
defendeu que, se o maior ser possível existe na imaginação, ele também deve existir na
realidade. Ele colocou em seu argumento que uma das características de tal ser, o maior e
menor que se pode imaginar, é a existência.

5 – Que significa a teoria da “necessidade do ser” em Avicena e em que ela contrasta


com a tradição cristã?

Paulo Sales
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Para Avicena “todo o ser enquanto tal é necessário”. Se algo não é necessário em relação a si
mesmo, necessita que seja possível em relação a si mesmo e necessário em relação a uma
coisa diferente. Para Avicena a propriedade essencial “do que é possível” é justamente essa, a
exigência necessária de outra coisa que a faça existir “em ato”. Segundo ele, “a existência em
ato é necessária”. Quando algo passa a existir em ato, recebe também a necessidade, na
medida que só veio a ser por razão de uma outra causa. Esse é um dos argumentos antológicos
defendidos por Avicena para provar a existência de Deus. Esse ser é necessário para a
existência de todos os outros entes, portanto, “sua essência, implica a existência”. Esse
argumento da necessidade do ser elimina radicalmente a contingência do ser defendida pela
tradição escolástica cristã, “interessada em manter a liberdade da criação”, mostrando um
forte contraste entre a tradição cristã e a teoria da necessidade do ser.

6 – Qual a relação entre fé e razão em Averróis?

Para Averróis o auge da inteligência e da capacidade racional Humana foi alcançada em


Aristóteles, e, portanto, sua doutrina é a “verdade máxima”. Apesar de parecer possuir um
pensamento herético, por defender que a verdade está em Aristóteles, Averróis concebia a
doutrina cristã enquanto valor absoluto da investigação filosófica, segundo ele, a filosofia
seria a religião dos filósofos, e uma das ações mais nobres na medida que tem por finalidade
conhecer as obras de Deus. Para ele a filosofia pertence ao mundo da especulação enquanto a
religião ao mundo da ação, de forma que, negar os princípios da tradição cristã, “tornaria
impossível o agir humano”. Só existe uma verdade, os filósofos buscam-na através da
investigação, o crente recebe-a através da tradição religiosa.

7 – Explique a relação entre fé e razão em Alberto Magno e Tomás de Aquino

É reconhecido em Alberto Magno o primeiro esforço de estabelecer uma fronteira clara entra
a investigação filosofia e a teologia. O conhecimento filosófico utiliza-se apenas da razão
enquanto a fé ultrapassa os domínios da razão. A investigação filosófica tem por ferramenta
os princípios fornecidos pela razão, dessa forma, sua luz é puramente natural; “já a teologia
pode recorrer também a princípios que excedem os princípios naturais da razão e que nos são
acessíveis somente mediante a revelação; tais princípios nos são “infusos” por certa luz
sobrenatural, a luz da fé (lumen fidei)”.
Deus se revela ao homem de duas maneiras. A primeira é de forma geral e é essa revelação
que recebem os filósofos. A segunda maneira é uma revelação superior que nos leva à
intuição do sobrenatural. A Teologia tem por base a segunda revelação. Na primeira revelação
aparecem as verdades da razão, na segunda revelação aparecem as verdades da fé.

Toda a teoria desenvolvida por Tomás de Aquino acerca das relações entre fé e razão parte do
pressuposto segundo o qual não existe uma única via de acesso à verdade. É a esse acesso à
verdade, compreendido como intelecção, isto é, como adequação do intelecto às coisas que
Tomás entende por conhecimento. Assim, ele desenvolve uma diferenciação entre tipos de
verdade que não se refere ao objeto inteligido, mas à natureza da intelecção: quando o
intelecto aceita uma verdade deduzida, a partir de determinado princípio pela evidência com
que este princípio se apresenta, fala-se em conhecimento racional; quando aceita a uma
verdade pela fiabilidade que se deve a Deus, na medida em que ele conhece perfeitamente a si
e a todas as outras coisas, fala-se em fé.
À razão, ele atribui o conhecimento certo da existência de Deus e de alguns de seus atributos.
À fé, ele atribui o conhecimento de verdades referentes à substância mesma de Deus. É assim

Paulo Sales
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que Tomás apresenta os limites da atuação da fé e da razão, reconhecendo à razão um campo


próprio de atuação em relação às coisas divinas.

Paulo Sales

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