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” UMA
LEITURA DA MORTE EM PIETER BRUEGEL
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Por que a morte como objeto de pesquisa? Pela busca de saber o porquê de
lutarmos tanto para “viver” e esquecermos da ideia que, enquanto muitas vezes
perdemos nosso tempo em uma luta desnecessária, não percebemos que vivemos
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Pós-graduando em Arte, Cultura e Educação e História, Cultura e Literatura Afro-brasileira e
Indígena em EAD pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar. Graduado em História pelo
Centro Universitário de Maringá – Unicesumar.
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Professora Orientadora e Especialista em EAD e as Novas Tecnologias pelo Centro Universitário de
Maringá – UNICESUMAR e em Informática Aplicada ao Ensino pela Universidade Estadual de
Maringá – UEM. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Atua
como Professora Mediadora no Curso de Graduação em Pedagogia e Orientadora do Programa de
Pós-Graduação Lato Sensu na modalidade a distância da Unicesumar e como Supervisora de
Tutoria à distância do NEAD – UEM.
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Método de interpretação através dos sentidos das palavras, nesse caso, de imagens.
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“ ‘Vaidades’ é um gênero artístico que tem o interesse de demonstrar a fragilidade da vida frente a
inexorabilidade da morte” (ANDRADE; MARQUETTI, 2016, p. 13).
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2 MEMENTO MORI
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“Lembre-se da morte” ou “lembre-se que irá morrer”.
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“‘Arte de morrer’, um livro xilogravado no qual aconselhava particularmente os leigos a seguirem
uma vida regrada através da prática de virtudes e o abandono dos pecados capitais; além de
denominar o gênero artístico o qual ressalta a temática da natureza-morta’ (SOUZA, 2015, p. 5).
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Porém nos dias de hoje, o “Memento mori”, a morte é apenas um tabu no qual
as pessoas evitam falar sobre. É muito mais confortável encontrarmos rotas de fugas
da realidade de formas variadas do que tentar enfrentá-la como ela é. A valorização
de objetos e sensações efêmeras são muito mais atraentes e prazerosas do que
prender-se a algo real. Tudo isso, foi reforçado diante do modelo de sociedade
capitalista-consumista, que nas palavras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman
concedida à Adriana Prado da Revista Isto é (2010), ele expressa muito bem o
pensamento supracitado: “Em uma vida regulada por mercados consumidores, as
pessoas passaram a acreditar que, para cada problema, há uma solução. E que esta
solução pode ser comprada na loja” (PRADO, 2010, p. 1). Esse apego aos objetos,
essa “humanização” das coisas, são alguns dos motivos para transformar a morte
em um tabu, um assunto que deve ser evitado comentar, ou até mesmo, evitar que
ela chegue. Segundo Eco (2007, p. 63) em uma analogia do tema através da
medievalidade à contemporaneidade:
[...] épocas nas quais a vida era mais breve que a nossa, em que se
morria mais facilmente, vítimas de pestilências e da escassez, e se
vivia em um estado de guerra quase permanente, a morte aparecia
como uma presença ineliminável – muito mais do que acontece em
nossos dias, quando vendendo modelos de juventude e formosura,
fazemos todos os esforços para esquecê-la, ocultá-la, relegá-la aos
cemitérios, nomeá-la apenas através de perífrases ou exorcizá-la
reduzindo-a a um simples elemento de espetáculo, graças ao qual é
possível esquecer a própria morte para divertir-se com a dos outros.
Ou seja, há uma busca para esconder a realidade (ou fugir, nesse caso), uma
procura pela jovialidade eterna e ao atraso da deterioração do corpo, incentivados
por comunicações de massa e as mais variadas clínicas estéticas inauguradas
diariamente. Todas essas ideias encaixam-se perfeitamente ao rumo que esse artigo
irá tomar a partir do próximo tópico.
Pieter Bruegel, o Velho (1525? – 1569), tem muito de sua história sob as
sombras, mas sabe-se que nasceu próximo à região de Hertogenbosch, o que não
resta dúvidas também de que o artista Hieronymus Bosch (1450 – 1516) o
influenciou muito (JANSON, 2001), com suas obras fantasiosamente magníficas do
sobrenatural e suas paisagens e veio a atuar fortemente na região de Antuérpia.
No contexto da Reforma, o protestantismo influenciou muito na área artística,
pois a maior parte do “sustento” e vendas dos artistas eram destinados à Igreja
Católica. Nessas regiões, brotou a dúvida se a arte deveria ou não existir, pois os
artistas dessas áreas perderam sua melhor fonte de renda (GOMBRICH, 2012).
Dentro dessa região, diante do contexto, surge Bruegel que, para Gombrich
(2012), foi o maior dos mestres flamengos do gênero no século XVI e para Janson
(2001) o único (grifo próprio) gênio entre os pintores dos Países Baixos.
Reconhecido por suas pinturas em gênero e paisagens, teve seu amadurecimento
artístico após sua viagem à Itália entre 1552 – 53, que viria a ser notado a partir de
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Antigo método de tortura usado pela Santa Inquisição e também contra a Peste Negra no século
XIV para se obter informações e livrar o moribundo de transmitir a peste. Uma das modalidades de
tortura mais cruéis (MEDIEVALISTS.NET, 2019?).
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Disponível em: https://www.museodelprado.es/coleccion/obra-de-arte/el-triunfo-de-la-muerte/d3d82b
0b-9bf2-4082-ab04-66ed53196ccc. Acesso em: 17 maio 2020.
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que seu tempo acabou, e de nada mais vale seu cetro de poder ou mesmo a coroa
que lhe concedia o domínio de uma dimensão de terras. Ele estende a mão em
direção a um outro soldado da morte que está mexendo em moedas de ouro, outro
símbolo de que o que nos apegamos aqui, não irá conosco, um símbolo da riqueza.
No canto inferior direito, notamos pela vestimenta dos ali presentes que
pertencem à uma classe mais alta devido aos culotes – nobres armados com
espadas e em posição de defesa para lutarem por suas vidas. Em meio a essas
pessoas, uma mesa com alguns alimentos, moedas, um crânio ao centro e um copo
derrubado (também símbolo das Vanitas, representando a brevidade da vida). Ao
lado esquerdo, há uma mesa de jogos sobre o chão com dados e várias cartas em
volta, as quais, segundo Witeck e Moreira (2012), demonstram o apego aos
prazeres mundanos. Ao extremo canto da direita, há um jovem casal. O rapaz com
um alaúde olha para sua amada com um olhar desesperado e ela, aparentemente
tentando acalmá-lo com a mão em seu ombro e lendo algumas partituras que se
encontram em suas mãos, mas esse amor não impede que a morte não esteja à
espreita, representada pelo esqueleto com instrumento musical atrás do casal.
Ao centro da pintura, onde há um monumento pegando fogo, se observarmos
ao lado esquerdo dessa estrutura, conseguimos identificar criaturas demoníacas em
forma de comemoração diante do triunfo da morte. Percebemos nessa cena as
influências de Bosch nas obras de Bruegel, retratando criaturas horrendas,
animalescas e infernais deleitando-se diante do sofrimento humano.
O Triunfo da Morte espantou de forma positiva (devido às técnicas utilizadas
no quadro, assim como seus detalhes) e negativa (representação do medo que
tomava conta da época) a sociedade. Inspirado por todos os acontecimentos
recorrentes, como as constantes guerras, inclusive pela Revolução Holandesa ou a
Guerra dos Oitenta Anos (1568 – 1648); a fome também constante, devido à
pobreza e algumas vezes a escassez dos alimentos, como a que houve no século
XIV; e a fragilidade da saúde humana, com a precariedade dos serviços médicos e
sanitários, desconhecendo remédios e curas para as doenças que vinham afetar aos
sujeitos, como a Peste Negra, por exemplo. Nas palavras de Calheiros (1999, p. 2):
Todos esses fatores contribuíram para a criação dessa obra que se mostra
tão atual de Pieter Bruegel. Para um breve resumo, nada mais que a humanidade
lançada nas mãos do destino, que se faz inexorável para essa situação. Demonstra
o poder do temor que tomou conta da mentalidade dos homens pelo cristianismo
desde sua criação, implantação e divulgação, remetendo através das expressões,
sensações de vergonha, culpa, pecado, clemência, piedade e misericórdia dos
elementos da pintura. Mas, como o destino, a Morte se mostra inflexível e
implacável, pois não há escapatória para ninguém, seja rico ou pobre, religioso ou
não.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDRADE, L. B.; MARQUETTI, D. Lembre-se que irá morrer: uma revisão acerca
das concepções de morte nos séculos XV e XVI. In: ENCONTRO ESTADUAL DE
HISTÓRIA DA ANPUJ-SC, 16., 2016. Chapecó. Anais [...]. Chapecó: UFFS, 2016.
p. 1-16. Disponível em: http://www.encontro2016.sc.anpuh.org/resources/anais/43/1
464640103_ARQUIVO_LEMBRE-SEQUEIRAMORRERUMAREVISAOACERCADAS
CONCEPCOESDEMORTENOSSECULOSXVEXVI.pdf. Acesso em: 24 maio 2020.
PRADO, A. Zygmunt Bauman: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar. Isto É,
São Paulo, 24 set. 2010. Disponível em: https://istoe.com.br/102731_VIVEMOS+TE
MPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+/. Acesso em: 24 maio 2020.
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