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Mesmo antes do início do conflito, o país sofria com alto desemprego, corrupção e falta de
liberdade política sob o presidente Bashar al-Assad, que sucedeu o pai, Hafez, após sua morte
em 2000.
Os curdos da Síria, que desejam o direito de autonomia mas não lutaram contra as forças de
Assad, acrescentaram outra dimensão ao conflito.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um grupo de monitoramento com base no Reino
Unido e uma rede de fontes na Síria, registrou a morte de 387.118 pessoas até dezembro de
2020, entre elas 116.911 civis.
O número de mortos não incluiu as 205.300 pessoas que estavam desaparecidas e
presumidamente mortas, incluindo 88 mil civis que teriam morrido em prisões administradas pelo
governo onde se praticava tortura.
Os principais apoiadores do governo têm sido a Rússia e o Irã. A Turquia, as potências ocidentais
e vários países do Golfo apoiaram a oposição em vários graus na última década.
A Rússia - que já tinha bases militares na Síria antes da guerra - lançou uma campanha aérea
em apoio a Assad em 2015, o que foi crucial para virar a guerra a favor do governo. Os militares
russos dizem que seus ataques visam apenas "terroristas", mas ativistas dizem que matam
rebeldes e civis regularmente.
Acredita-se que o Irã mobilizou centenas de soldados e gastou bilhões de dólares para ajudar
Assad. Milhares de milicianos xiitas armados, treinados e financiados pelo Irã — principalmente
do movimento Hezbollah do Líbano, mas também do Iraque, Afeganistão e Iêmen — também
lutaram ao lado do exército sírio.
Os EUA, Reino Unido e França inicialmente forneceram apoio para os grupos rebeldes que eles
consideraram "moderados". Mas eles priorizaram a assistência não bélica quando os jihadistas
se tornaram a força dominante na oposição armada contra o governo.
Uma coalizão global liderada pelos EUA também realizou ataques aéreos e mandou forças
especiais para a Síria a partir de 2014 para ajudar uma aliança de milícias curdas, árabes,
assírias e turcas chamada de Forças Democráticas Sírias, em um território no noroeste do país
que antes era dominando pelo Estado Islâmico. As Forças Democráticas Sírias (FDS) defendem
um governo secular, democrático e federalista em território sírio.
A Turquia é um grande apoiador da oposição, mas seu foco tem sido apoiar facções rebeldes
para conter a milícia curda YPG, acusando-a de ser uma extensão de um grupo rebelde curdo
banido na Turquia.
Tropas turcas e rebeldes apoiados por elas tomaram trechos de território ao longo da fronteira
norte da Síria e intervieram para impedir um ataque total das forças do governo ao último reduto
da oposição, Idlib.
A Arábia Saudita, que deseja conter a influência iraniana, armou e financiou os rebeldes no início
da guerra.
Enquanto isso,Israel tem estado tão preocupado com o que chama de "entrincheiramento militar"
do Irã na Síria e com os embarques de armas iranianas para o Hezbollah e outras milícias xiitas
que tem realizado ataques aéreos com frequência cada vez maior na tentativa de impedi-los.
Em janeiro de 2021, 13,4 milhões de pessoas dentro da Síria precisavam de alguma forma de
assistência humanitária, incluindo 6 milhões em extrema necessidade, de acordo com a ONU.
Mais de 12 milhões tinham dificuldade em se alimentar todos os dias. E meio milhão de crianças
sofriam de desnutrição crônica.
No ano passado, a crise humanitária foi agravada por uma desaceleração econômica sem
precedentes, que viu o valor da moeda síria cair drasticamente e os preços dos alimentos
atingirem recordes históricos. O país também sofreu com a pandemia de covid-19, mas a
verdadeira extensão do estrago causado não é conhecida, já que o sistema de saúde do país
está devastado.
Bairros inteiros e infraestrutura vital em todo o país também permanecem em ruínas após uma
década de combates. Uma análise da ONU feita por satélite sugeriu que mais de 35 mil estruturas
foram danificadas ou destruídas apenas na cidade de Aleppo, antes de sua recaptura pelo
governo no final de 2016.
E apesar de seu status protegido, instalações médicas também foram atingidas — 350 hospitais
e clínicas sofreram 595 ataques até março de 2020, documentos pelos Médicos pelos Direitos
Humanos. Como resultado, 923 médicos morreram e apenas metade dos hospitais do país estão
totalmente funcionais.
Grande parte da rica herança cultural da Síria também foi destruída. Todos os seis locais
considerados Patrimônios Mundiais da Unesco foram significativamente danificados. Extremistas
do Estado Islâmico explodiram deliberadamente partes da antiga cidade de Palmira.
Os investigadores de crimes de guerra da ONU acusaram todas as partes de perpetrar "as violações mais
hediondas". "Os sírios", diz seu último relatório, "sofreram grandes bombardeios aéreos em áreas
densamente povoadas; sofreram ataques de armas químicas e cercos modernos nos quais os
perpetradores deliberadamente deixaram a população faminta por meio de métodos medievais e
restrições indefensáveis e vergonhosas à ajuda humanitária".
O último reduto da oposição fica na Província de Idlib, no noroeste do país, e nas partes
adjacentes das províncias de Hama e Aleppo.
A região é dominada por uma aliança jihadista ligada à al-Qaeda chamada Hayat Tahrir al-Sham,
mas também é o lar de facções rebeldes convencionais. Estima-se que na região vivam 2,7
milhões de pessoas desabrigadas, incluindo um milhão de crianças, muitas delas em condições
precárias.
Em março de 2020, a Rússia e a Turquia intermediaram um cessar-fogo para interromper uma
ofensiva do governo na tentativa de retomar Idlib. Desde então, o conflito tem tido um período
de relativa baixa atividade militar — mas isso pode mudar a qualquer momento.
No nordeste do país, as forças turcas e rebeldes apoiados por elas lançaram uma ofensiva contra
as Forças Democráticas Sírias em outubro de 2019 para criar uma "zona segura" livre da milícia
curda YPG ao longo do lado sírio da fronteira, e ocuparam 120 km de território desde então.
Para deter o ataque, as FDS fecharam um acordo com o governo sírio para o exército sírio
retornar à região administrada pelos curdos pela primeira vez em sete anos. O governo prometeu
eventualmente recuperar o controle total sobre a região.
Quando a guerra vai acabar?
Não há como prever o fim da guerra tão cedo, mas os negociadores concordam que é preciso
encontrar uma solução política e não bélica.
O Conselho de Segurança da ONU que que haja um órgão de governo de transição "formado
com base no consentimento mútuo". Mas as nove rodadas de negociações de paz mediadas
pela ONU não avançaram, com o presidente Assad aparentemente sem vontade de negociar
com grupos de oposição que insistem que ele deve renunciar como parte de qualquer acordo.
A Rússia, o Irã e a Turquia estabeleceram diálogos paralelos em 2017. Um acordo foi alcançado
no ano seguinte para formar um comitê de 150 membros para a criação de uma nova
constituição, levando a eleições livres e justas supervisionadas pela ONU.
Mas em janeiro de 2021, o enviado especial da ONU Geir Pedersen lamentou que eles nem
mesmo haviam começado a redigir qualquer documento.
Pedersen também observou que, com cinco exércitos estrangeiros ativos na Síria, a comunidade
internacional não pode fingir que as soluções para o conflito estão apenas nas mãos dos sírios.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56378202.