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De Ferreira Gullar, dos livros Toda poesia (p. 437-8) e Muitas vozes (p. 55-6):
tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama
esses fósseis à fala.
Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.
2
Ferreira Gullar:
Sérgio Capparelli
ROSEANA MURRAY
– poemas do livro: Receitas de olhar –
Cecília Meireles
Vinícius de Moraes
O relógio A casa
Bom-dia, Pinguim
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado
Com medo de mim. ___________________________
Eu só gostaria
De dar um tapinha Poemas infantis. In: Vinícius de Moraes,
No seu chapéu jaca Poesia completa e prosa.
Ou bem de levinho RJ: Nova Aguilar, 1985.
Puxar o rabinho
Da sua casaca.
6
ALICE RUIZ
– haicais do livro Desorientais –
HELENA KOLODY
– haicais e outros poemas do livro: Viagem no espelho –
Ressonância Dom
Eu comigo Correnteza
Por quê?
8
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Comentário explicativo
É um dos sonetos mais conhecidos de Camões e, como facilmente se observa, tematiza (com certa
graça e humor) as contradições do Amor. O soneto divide-se em duas grandes partes: a primeira,
formada pelas três estrofes iniciais – em que o sujeito lírico representa variadas situações parado-
xais do Amor; a segunda, composta pelo último terceto, em que ele manifesta sua perplexidade:
como algo assim tão contraditório, como é o Amor, ainda consegue obter a “amizade”, ou seja, ser
atraente aos corações humanos? Nota-se que a primeira parte se compõe de versos que formal-
mente têm a mesma estrutura sintático-semântica (bipolaridade e contradição), começando sempre
com a expressão verbal: “é” – essa repetição inicial constitui um recurso conhecido pelo nome de
anáfora, que estabelece uma forte coesão entre esses versos. No primeiro quarteto há uma descri-
ção de certos efeitos físicos, sensoriais: “fogo que arde, ferida que dói, dor que desatina...”; na
estrofe seguinte, são os aspectos psicoemocionais, sentimentais: “bem querer, andar solitário,
nunca contentar-se...”; e no primeiro terceto são as situações psicomorais: “estar preso por vonta-
de, servir o vencedor, ter lealdade...”. Ou seja, é a totalidade do ser que se encontra envolvido pe-
los paradoxos do Amor. E a tentativa do sujeito lírico em querer definir o que é o Amor esbarra na
sua complexa contradição, tornando-o ao mesmo tempo definível e indefinível...
Fonte: disponível em vários sites, muitas vezes com a Fonte: QUINTANA, Mario. 80 Anos de Poesia.
informação equivocada de que é do Chico Buarque... 3ª edição. São Paulo: Globo, 1994. p. 41-42.
De Manuel Bandeira:
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
MÁRIO QUINTANA
O adolescente
Cumplicemente,
as folhas contam-te um segredo
velho como o mundo:
RENATA PALLOTTINI
Eu queria ser o Mar de altivo porte No fadário que é meu, neste penar,
Que ri e canta, a vastidão imensa! Noite alta, noite escura, noite morta,
Eu queria ser a Pedra que não pensa, Sou o vento que geme e quer entrar,
A pedra do caminho, rude e forte! Sou o vento que vai bater-te à porta...
Eu queria ser o Sol, a luz intensa, Vivo longe de ti, mas que me importa?
O bem do que é humilde e não tem sorte! Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Eu queria ser a Árvore tosca e densa Em roda à tua casa, a procurar
Que ri do mundo vão e até da morte! Beber-te a voz, apaixonada, absorta!
Mas o Mar também chora de tristeza... Estou junto de ti, e não me vês...
As Árvores também, como quem reza, Quantas vezes no livro que tu lês
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente! Meu olhar se pousou e se perdeu!
E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia, Trago-te como um filho nos meus braços!
Tem lágrimas de sangue na agonia! E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!... Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...
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Poesia Matemática
Millôr Fernandes
Extraído do livro Tempo e Contratempo, Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número,
publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.
Apud: http://www.releituras.com/millor_poesia.asp - Acesso em 17 out. 2013.
13
Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse o último Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Beijou sua mulher como se fosse a única Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
E cada filho seu como se fosse o pródigo Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair,
E atravessou a rua com seu passo bêbado Deus lhe pague
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
Seus olhos embotados de cimento e tráfego E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Deus lhe pague
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo ***
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido [Em algumas versões de Construção, Chico Buarque acres-
Agonizou no meio do passeio náufrago centa essas estrofes de Deus lhe pague, também de sua
Morreu na contramão atrapalhando o público autoria, e primeira canção do disco Construção.]
Brinde Madrigal
VINÍCIUS DE MORAES
E na perspectiva
De repente da calma fez-se o vento
Da vida futura
Que dos olhos desfez a última chama
Ergui em carne viva
E da paixão fez-se o pressentimento
Sua arquitetura.
E do momento imóvel fez-se o drama.
Não sei bem se é casa
De repente, não mais que de repente
Se é torre ou se é templo:
Fez-se de triste o que se fez amante
(Um templo sem Deus.)
E de sozinho o que se fez contente.
Mas é grande e clara
Fez-se do amigo próximo o distante
Pertence ao seu tempo
Fez-se da vida uma aventura errante
- Entrai, irmãos meus!
De repente, não mais que de repente.
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PAULO LEMINSKI
RAZÃO DE SER
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso, Amor, então,
preciso porque estou tonto. Também, acaba?
Ninguém tem nada com isso. Não, não que eu saiba.
Escrevo porque amanhece, O que eu sei
e as estrelas lá no céu É que se transforma
lembram letras no papel, Numa matéria-prima
quando o poema me anoitece. Que a vida se encarrega
A aranha tece teias. De transformar em raiva.
O peixe beija e morde o que vê. Ou em rima.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
meditação transcendental
nem tudo
que é torto para meditar,
é errado o homus modernus ocidentalis
cruza as pernas
deixa as costas eretas
veja as pernas os braços relaxados
do garrincha concentra a atenção num
e as árvores ponto e assim imóvel
do cerrado em pensamento e ação
liga a televisão
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Caboclo roceiro
MANUEL BANDEIRA
Poema do beco
1933
Satélite
Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.
Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite.
Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
– Satélite.