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ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS

BASE: LIVRO "NO MUNDO MAIOR"


André Luiz, Francisco Cândido Xavier, FEB

REALIZAÇÃO :
Instituto André Luiz
http://www.institutoandreluiz.org/
DIVULGAÇÃO ESPÍRITA VIRTUAL

Estudo meramente comparativo entre doenças mentais citadas na obra espírita e textos
explicativos de profissionais da saúde. Os textos foram retirados da Internet, de sites
específicos e estão acompanhados, neste estudo, dos devidos créditos. Desejando uma
consulta mais abrangente sobre os temas, favor acessar os sites pelos seus respectivos
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Este estudo não deve substituir orientação e acompanhamento médico, sempre que
necessários.

Parte I
Prefácio de EMMANUEL
Cap. 1 – “Entre Dois Planos”
A PRECE DE EUSÉBIO

Na jornada evolutiva

Dos quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos


milhares, demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da
cultura européia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos
asiáticos, de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas,
dos campos ...
Raros viveram nos montes da sublimação, vinculados aos deveres
nobilitantes. A maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela ou-
torga de títulos que lhes exaltem a personalidade. Não chegaram a ser
homens completos. Atravessaram o “mare magnum” da humanidade em
contínua experimentação. Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda
a sorte, demorando voluntariamente nos trilhos da insensatez. Apesar disso,
porém, quase sempre se atribuíam a indébita condição de “eleitos da
Providência”; e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao
próximo, sem se com penetrarem das próprias faltas, esperando um paraíso
de graças para si e um inferno de intérmino tormento para os outros.
Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam,
sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória; e, se filiados
a escolas religiosas, raros excetuados, contavam, levianos e incon-
seqüentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer.
Onde albergar a estranha e infinita caravana? como designar a mesma
estação de destino a viajantes de cultura, posição e bagagem tão diversas?
Perante a Suprema Justiça, o malgache e o inglês fruem dos mesmos
direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela conduta
Individual, diante da Lei Divina, que distingue, invariavelmente, a virtude e
o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a simulação, a boa vontade
e a indiferença. Da contínua peregrinação do sepulcro, participam, todavia,
santos e malfeitores, homens diligentes e homens preguiçosos.
Como avaliar por bitola única recipientes heterogêneos? Considerando,
porém, nossa origem comum, não somos todos filhos do mesmo Pai? E por
que motivo fulminar com inapelável condenação os delinqüentes, se o
dicionário divino inscreve a letras de logo as palavras “regeneração”,
“amor” e “misericórdia”? Determinaria o Senhor o cultivo compulsório da
esperança entre as criaturas, ao passo que Ele mesmo, de Sua parte,
desesperaria? Glorificaria a boa vontade, entre os homens, e conservar-se-ia
no cárcere escuro da negação? O selvagem que haja eliminado os
semelhantes, a flechadas, teria recebido no mundo as mesmas
oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que
extermina o próximo à metralhadora? estariam ambos preparados ao
ingresso definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão sÔmente
pelo batismo simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de
morte?
A lógica e o bom-senso nem sempre se compadecem com argumentos
teológicos imutáveis. A vida nunca interrompe atividades naturais, por im-
posição de dogmas estatuídos de artifício. E, se mera obra de arte humana,
cujo termo é a bolorenta placidez dos museus, exige a paciência de anos
para ser empreendida e realizada, que dizer da obra sublime do
aperfeiçoamento da alma, destinada a glórias imarcescíveis?
Vários companheiros de ideal estranham a cooperação de André Luiz,
que nos tece informações sobre alguns setores das esferas mais próximas
ao comum dos mortais.
Iludidos na teoria do menor esforço, inexistente nos círculos elevados,
contavam com preeminência pessoal, sem nenhum testemunho de serviço
e distantes do trabalho digno, em um céu de gozos contemplativos,
exuberante de conforto melifico. Prefeririam a despreocupação das galerias,
em beatitude permanente, onde a grandeza divina se limitaria a prodigioso.
espetáculos, cujos números mais surpreendentes estariam a cargo dos
Espíritos Superiores, convertidos em jograis de vestidura brilhante.
A missão de André Luiz é, porém, a de revelar os tesouros de que somos
herdeiros felizes na Eternidade, riquezas imperecíveis; em cuja posse jamais
entraremos sem a Indispensável aquisição de Sabedoria e de Amor.
Para isto, não lidamos em milagrosos laboratórios de felicidade
improvisada, onde se adquiram dotes de vil preço e ordinárias asas de cera.
Somos filhos de Deus, em crescimento. Sela nos campos de forças
condensadas, quais os da luta física, seja nas esferas de energias sutis,
quais as do plano superior, os ascendentes que nos presidem os destinos
são de ordem evolutiva, pura e simples, com indefectível justiça a
seguirmos de perto, à claridade gloriosa e com passiva do Divino Amor.
A morte a ninguém propIciará passaporte gratuito para a ventura
celeste. Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura
trans-porá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que
houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho
edificante, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.
Ninguém, depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha
feito jus, porque “o Reino do Senhor não vem com aparências externas”.
Os companheiros que compreendem, na experiência humana, a escada
sublime, cujos degraus há que vencer a preço de suor, com o proveito das
bênçãos celestiais, dentro da prática Incessante do bem, não se
surpreenderão com as narrativas do mensageiro interessado no servir por
amor. Sabem eles que não teriam recebido o dom da vida para matar o
tempo, nem a dádiva da’ fé para confundir os semelhantes, absorvidos, que
se acham, na execução dos Divinos Desígnios. Todavia, aos crentes do
favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se apresentem
com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do emissário fraternal
provocarão descontentamento e perplexidade.
É natural, porém: cada lavrador respira o ar do campo que escolheu.
Para todos, contudo, exoramos a bênção do Eterno: tanto para eles,
quanto para nós.

EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 25 de março de 1947.

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1
Entre dois planos

Esplendia o luar, revestindo os ângulos da paisagem de intensa luz.


Maravilhosos cúmulos a Oeste, espraiados no horizonte, semelhavam-se a
castelos de espuma láctea, perdidos no imenso azul; confinando com a
amplidão, o quadro terrestre contrastava com o doce encantamento do alto,
deixando entrever a vasta planície, recamada de arvoredo em pesado
verde-escuro. Ao Sul, caprichosos cirros reclinavam-se do Céu sobre a Terra,
simbolizando adornos de gaze esvoaçante; evoquei, nesse momento, a
juventude da Humanidade encarnada, perguntando a mim mesmo se
aquelas bandas alvas do firmamento não seriam faixas celestiais. a
protegerem o repouso do educandário terrestre.
A solidão imponente do plenilúnio infundia-me quase terror pela
melancolia de sua majestosa e indizível beleza.
A idéia de Deus envolvia-me o pensamento, arrancando-me notas de
respeito e gratidão, que eu, entretanto, não chegava a emitir. Em plena
casa da noite, rendia culto de amor ao Eterno, que lhe criara os
fundamentos sublimes de silêncio e de paz, em refrigério das almas
encarnadas na Crosta da Terra.
O luminoso disco lunar irradiava, destarte, maravilhosas sugestões. Aos
seus reflexos, iniciara-se a evolução terrena, e numerosas civilizações ha-
viam modificado o curso das experiências humanaS. Aquela mesma
lâmpada suspensa clareara o caminho dos seres primitivos, conduzira os
passos dos conquistadores, norteara a jornada dos santos. Testemunha
impassível, observara a fundação de cidades suntuosas, acompanhando-
lhes a prosperidade e a decadência; contemplara as incessantes renovações
da geografia política do mundo; brilhara sobre a testa coroada dos príncipes
e sobre o cajado de misérrimos pastores; presenciava, todos os dias, há
longos milênios, o nascimento e a morte de milhões de seres. Sua augusta
serenidade refletia a paz divina, Cá em baixo, desencarnados e encarnados,
possuidores de relativa inteligência, podíamos proceder a experimentos,
reparar estradas, contrair compromissos ou edificar virtudes, entre a
esperança e a inquietação, aprendendo e recapitulando sempre; mas a Lua,
solitária e alvinitente, trazia-nos a idéia da tranquilidade inexpugnável da
Divina Lei.
— A região do encontro está próxima.
A palavra do Assistente Calderaro interrompeu-me a meditação.
O aviso fazia-me sentir o trabalho, a responsabilidade; lembrava,
sobretudo, que não me encontrava só.
Não viajávamos, ambos, sem objetivo.
Em breves minutos, partilharíamos os trabalhos do Instrutor Eusébio,
abnegado paladino do amor cristão, em serviço de auxílio a companheiros
necessitados.
Eusébio dedicara-se, de há muito, ao ministério do socorro espiritual, com
vastíssimos créditos em nosso plano. Renunciara a posições de realce e
adiara sublimes realizações, consagrando-se inteiramente aos famintos de
luz. Superintendia prestigiosa organização de assistência em zona inter-
mediária, atendendo a estudantes relativamente espiritualizados, pois ainda
jungidos ao círculo carnal, e a discípulos recém-libertos do campo físico.
A enorme instituição, a que dedicava direção fulgurante, regurgitava de
almas situadas entre as esferas inferiores e as superiores, gente com imen-
sidão de problemas e de indagações de toda a espécie, a requerer-lhe
paciência e sabedoria; entretanto, o indefesso missionário, mau grado ao
constante acúmulo de serviços complexos, encontrava tempo para descer
semanalmente à Crosta Planetária, satisfazendo interesses imediatos de
aprendizes que se candidatavam ao discipulado, sem recursos de elevação
para vir ao encontro de seu verbo iluminado, na sede superior.
Não o conhecia pessoalmente. Calderaro, porém, recebia-lhe a
orientação, de conformidade com o quadro hierárquico, e a ele se referira
com o entusiasmo do subordinado que se liga ao chefe, guardando o amor
acima da obediência.
O Assistente, a seu turno, prestava serviço ativo na própria Crosta da
Terra, a atender, de modo direto, aos irmãos encarnados. Especializara-se
na ciência do socorro espiritual, naquela que, entre os estudiosos do mundo,
poderíamos chamar «psiquiatria iluminada», setor de realizações que há
muito tempo me seduzia.
Dispondo de uma semana sem obrigações definidas, dentre os
encargos que me diziam respeito, solicitei ingresso na turma de
adestramento, da qual se fizera Calderaro eminente orientador, tendo-me
ele aceito com a gentileza característica dos legítimos missionários do bem
e propondo-se conduzir-me carinhosamente. Encontrava-se em opor-
tunidade favorável aos meus propósitos de aprender, pois a equipe de
preparação, que lhe recebia ensinamentos, excursionava em outra região, a
labutar em atividades edificantes; à vista disso, poderia dispensar-me toda
a atenção, auxiliando-me os desejos.
Os casos que lhe eram atinentes, explicou-me solícito, não
apresentavam continuidade substancial: desdobravam-se; constituíam obra
de improviso, obedeciam ao inopinado das ordens de serviço ou das
situações. Noutros campos de ação, fazia-se imprescindível o roteiro,
previstas as condições e as circunstâncias. No quadro de responsabilidades,
porém, que lhe estavam afetas, diferiam as normas; importava acompanhar
os problemas, quais imprevistas manifestações da própria vida. Em virtude
de tais flutuações, não traçava, a rigor, programas quanto a
particularidades. Executava os deveres que lhe competiam, onde, como e
quando determinassem os desígnios superiores. O escopo fundamental da
tarefa circunscrevia-se ao socorro imediato aos infelizes, evitando-se,
quanto possível, a loucura, o suicidio e os extremos desastres morais. Para
isto, o missionário atuante era compelido a conhecer profundamente o jogo
das forças psíquicas, com acendrado devotamento ao bem do próximo.
Calderaro, neste particular, não deixava perceber qualquer dúvida. A
bondade espontânea lhe era indício da virtude, e a inquebrantável sereni-
dade revelava-lhe a sabedoria.
Não lhe gozava o convívio desde muitos dias. Abraçara-o na véspera
pela primeira vez; bastou, no entanto, um minuto de sintonia, para que se
estabelecesse entre nós sadia intimidade. Embora lhe reconhecesse a
sobriedade verbal, desde o momento do nosso encontro permutávamos
impressões como velhos amigos.
Seguindo-lhe, pois, os passos, afetuosamente, de alma edificada na
fraternidade e na confiança, vi-me a reduzida distância de extenso parque,
em plena natureza terrestre.
Em torno, árvores robustas, de copas farfalhantes, alinhavam-se, à
maneira de sentinelas adrede postadas para velar-nos pelos serviços.
O vento passava cantando, em surdina; no recinto iluminado de
claridades inacessíveis à faculdade receptiva do olhar humano,
aglomeravam-se algumas centenas de companheiros, temporàriamente
afastados do corpo físico pela força liberativa do sono.
Amigos de nossa esfera atendiam-nos com desvelo, mostrando
interesse afetivo, prazer de servir e santa paciencia. Reparei que muitos se
mantinham de pé; outros, contudo, se acomodavam nas protuberâncias do
solo alcatifado de relva macia, em palestra grave e respeitosa.
Ambientando-me para aquela hora de extrema beleza espiritual,
Calderaro avisou-me:
— Na reunião de hoje o Instrutor Eusébio receberá estudantes do
espiritualismo, em suas correntes diversas, que se candidatam aos serviços
de vanguarda.
— Oh! — exclamei, curioso — Não se trata, pois, de assembleia, que
agrupe indivíduos filiados indiscriminadamente às escolas da fé?
O Assistente esclareceu, de pronto:
— A medida não seria aconselhável no círculo de nossa especialidade. O
Instrutor afeiçoou-se ao apostolado de assistência a criaturas encarnadas e
a recém-libertas da zona física, em particular, precisando aproveitar o
tempo com as horas de preleção, para o máximo de aproveitamento. A
heterogeneidade de princípios em centenas de individuos, cada qual com
sua opinião, obrigaria a digressões difusas, acarretando condenáveis
desperdícios de oportunidades.
Fixou a multidão demoradamente, e acrescentou:
— Temos aqui, em cálculo aproximado, mil e duzentas pessoas. Deste
número oitenta per cento se constituem de aprendizes dos templos
espiritualistas, em seus ramos diversos, ainda inaptos aos grandes vôos do
conhecimento, conquanto nutram fervorosas aspirações de colaboração no
Plano Divino. São companheiros de elevado potencial de virtudes.
Exemplificam a boa vontade, exercitam-se na iluminação interior através de
esforço louvável; contudo, ainda não criaram o cerne da confiança para uso
próprio. Tremem ante as tempestades naturais do caminho e hesitam no
círculo das provas necessárias ao enriquecimento da alma, exigindo de nós
particular cuidado, pois que, pelos seus testemunhos de diligência na obra
espiritualizante, são os futuros instrumentos para os serviços da frente.
Apesar da claridade que lhes assinala as diretrizes, ainda padecem
desarmonias e angústias, que lhes ameaçam o equilíbrio incipiente. Não
lhes falece, porém, a assistência precisa. Instituições de restauração de
forças abrem-lhes as portas acolhedoras em nossas esferas de ação. A
libertação pelo sono é o recurso imediato de nossas manifestações de
amparo fraterno. A princípio, recebem-nos a influência inconscientemente;
em seguida, porém, fortalecem a mente. devagarinho, gravando-nos o con-
curso na memória, apresentando idéias, alvitres, sugestões, pareceres e
inspirações beneficentes e salvadoras, através de recordações imprecisas.
Fez breve pausa e concluiu:
— Os demais são colaboradores de nosso plano em tarefa de auxílio.
A organização dos trabalhos era digna de sincera admiração. Estávamos
num campo substancialmente terrestre. A atmosfera, impregnada de
aromas que o vento espargia em torno, recordava-me o lar na Terra,
contornado de seu jardim, em noite cálida.
Que teria eu realizado no mundo físico se recebesse, em outro tempo,
aquela bendita oportunidade de iluminação? Aquele punhado de mortais,
sob os raios da Lua, afigurou-se-me assembleia de privilegiados, favorecidos
por celestes numnes. Milhões de homens e mulheres a dormir em cidades
Próximas, algemados aos interesses imediatoS e ansiando a permuta das
mais vis sensações, nem de longe suspeitariam a existência daquela
original aglomeração de candidatos à luz intima, convocados à preparação
intensiva para incursões mais longas e eficientes na espiritualidade
superior. Teriam a noção do sublime ensejo que lhes aprazia? aproveitariam
a dádiva com suficiente compreensão dos valores eternos? marchariam
desassombrados para a frente, OU estacionariam ao contacto dos primeiros
óbices, no esforço iluminativo?
Calderaro percebeu-me as silenciosas perquirições e acrescentou:
— Nossa comunidade de trabalho se dedica, essencialmente, à
manifestação do equilíbrio. Não ignoras que a. codificação do plano mental
das criaturas ninguém jamais a impõe: é fruto de tempo, de esforço, de
evolução; e o edifício da sociedade humana, em o atual momento do
mundo, vem sendo abalado nos próprios alicerces, compelindo imenso
número de pessoas a imprevistas renovações. Certo, não te surpreenderás
se eu disser que, em face do surto da inteligência moderna, que embate na
paralisia do sentimento, periclita a razão. O progreSsO material atordoa a
alma do homem desatento. Grandes massas, há séculos, permanecem
distanciadas da luz espiritual. A civiliZaçãO puramente científica é um
Saturno devorador, e a humanidade de agora se defronta com implacáveis
exigências de acelerado crescer mental. Daí o agravo de nossas obrigações
no setor da assistência. As necessidades de preparação do espírito in-
tensificam-se em ritmo assustador.
Nesse instante, alcançamos a multidão pacífica.
Meu interlocutor sorriu, frisando:
— O acaso não opera prodígios. Qualquer realização há que planejar,
atacar, por a termo. Para que o homem físico se converta em homem espi
ritual, o milagre exige muita colaboração de nossa parte.
Lançou-me olhar significativo e concluiu:
— As asas sublimes da alma eterna não se expandem nos acanhados
escaninhos de uma chocadeira. Há que trabalhar, brunir, sofrer.
Nesse momento, aproximou-se alguém dirigindo-nos a palavra: era um
solícito companheiro, informando-nos que Eusébio penetrara o recinto.
Efetivamente, em saliência próxima, comparecia o missionário, ladeado por
seis assessores, todos envoltos em halos de intensa luz.
O abnegado orientador não exibia os traços de venerável senectude
com que em geral imaginamos os apóstolos das revelações divinas; mos-
trava-se-nos com a figura dos homens robustos, em plena madureza
espiritual; os olhos escuros e tranquilos pareciam fontes de imenso poder
magnético. Contemplava-nos sorridente, qual simples colega.
A presença dele impusera, porém, respeitoso silencio. Cessaram todas
as conversações que aqui e ali se entretinham, e ante os fios de luz que os
trabalhadores de nosso plano teciam em derredor, isolando-nos de qualquer
assédio eventual das forças inferiores, apenas o vento calmo erguia a voz,
sussurrando algo de belo e misterioso à folhagem.
Sentamo-nos todos, à escuta, enquanto o Instrutor se mantinha de pé;
observando-o, quase frente a frente, eu podia agora apreciar-lhe a figura
majestosa, respirando segurança e beleza. Do rosto imperturbável, a
bondade e a compreensão, a tolerância e a doçura irradiavam simpatia
inexcedível. A túnica ampla, de tom verde-claro, emitia esmeraldinas
cintilações. Aquela vigorosa personalidade infundia veneração e carinho,
confiança e paz.
Consolidada a quietude no ambiente, elevou a destra para o Alto e orou
com inflexão comovedora:

Senhor da Vida,
Abençoa-nos o propósito
De penetrar o caminho da Luz!...

Somos Teus filhos,


Ainda escravos de círculos restritos,
Mas a sede do Infinito
Dilacera-nos os véus do ser.

Herdeiros da imortalidade,
Buscamos-Te as fontes eternas
Esperando, confiantes, em Tua misericórdia.

De nós mesmos, Senhor, nada podemos.


Sem Ti, somos frondes decepadas
Que o fogo da experiência
Tortura ou transforma...

Unidos, no entanto, ao Teu Amor,


Somos continuadores gloriosos
De Tua Criação interminável.

Somos alguns milhares


Neste campo terrestre;
E, antes de tudo,
Louvamos-Te a grandeza
Que não nos oprime a pequenez...

Dilata-nos a percepção diante da vida,


Abre-nos os olhos
Enevoados pelo sono da ilusão
Para que divisemos Tua glória sem fim!...
Desperta-nos docemente o ouvido,
A fim de percebermos o cântico
De tua sublime eternidade.
Abençoa as sementes de sabedoria
Que os teus mensageiros esparziram
No campo de nossas almas;
Fecunda-nos o solo interior,
Para que os divinos germens não pereçam.

Sabemos, Pai,
Que o suor do trabalho
E a lágrima da redenção
Constituem adubo generoso
A floração de nossas sementeiras;
Todavia,
Sem Tua bênção,
O suor elanguesce
E a lágrima desespera...
Sem Tua mão compassiva,
Os vermes das paixões
E as tempestades de nossos vícios
Podem arruinar-nos a lavoura incipiente.

Acorda-nos, Senhor da Vida,


Para a luz das oportunidades presentes;
Para que os atritos da luta não as inutilizem,
Guia-nos os pés para o supremo bem;
Reveste-nos o coração
Com a Tua serenidade paternal,
Robustecendo-nos a resistência!
Poderoso Senhor,
Ampara-nos a fragilidade,
Corrige-nos os erros,
Esclarece-nos a ignorância,
Acolhe-nos em Teu amoroso regaço.

Cumpram-se, Pai Amado,


Os Teus desígnios soberanos,
Agora e sempre.
Assim seja.

Finda a comovente rogativa, o orientador baixou os olhos nevoados de


pranto, e então vi, dominado de júbilo, que da incognoscível altura uma
claridade diferente caía sobre nós, em jorros cristalinos.
Partículas semelhantes a prata eterizada choviam no recinto, infiltrando-
se nas raízes das árvores mais próximas, lá fora.
Ignoto encantamento fizera-se em minhalma. Ao contacto dos eflúvios
divinos, reparei que minhas forças gradualmente serenavam, em receptivi-
dade maravilhosa. Em torno, pairavam as mesmas notas de alegria e de
beleza, pois a calma e a ventura transpareciam de todos os rostos, voltados,
extáticos, para o Instrutor, em redor do qual se mostravam mais intensas as
ondas de luz celeste.
Sublime felicidade inundava-me todo o ser, mergulhara-me em
indefinível banho de energias renovadoras.
Meus olhos foram impotentes para conter as lágrimas felizes que as
formosas cintilações me destilavam das fontes ocultas do espírito. E, antes
que o nobre mentor retomasse a palavra, agradeci em silêncio a resposta
do Céu, reconhecendo na prece, mais uma vez, não só a manifestação da
reverência religiosa, senão também o recurso de acesso aos inesgotáveis
mananciais do Divino Poder.

PARTE II – Caps. 7 e 8 de “NO MUNDO MAIOR”

7
Processo redentor

Retirando-nos do hospital, em a noite que precedeu à desencarnação de


Cândida, o Assistente observou:
— Não temos tempo a perder.
Efetivamente, o trabalho de socorro à prezada enferma absorvera-nos
algumas horas.
—Nosso esforço — continuou o prestimoso amigo — tem por especial
escopo impedir a consumação dos processos tendentes à loucura. A rede de
amparo espiritual, neste sentido, é quase infinita. A positiva declaração de
desarmonia mental constitui sempre o término de longa luta. Claro está que
não incluimos aqui os casos puramente fisiológicos, mormente em se
tratando da invasão da sífilis na matéria cerebral; reportamo-nos aos
dramas íntimos da personalidade prisioneira da introversão, do
desequilíbrio, dos fenômenos de involução, das tragédias passionais,
episódios esses que deflagram no mundo, aos milhares por semana. Nas
esferas imediatas à luta do homem vulgar, onde nos achamos
presentemente, são inúmeras as organizações socorristas dessa natureza. É
imprescindível amparar a mente humana na Crosta Planetária, em seus
deslocamentos naturais. A vasta escola terrestre exige incessante e
complexa colaboração espiritual. indubitavelmente, a Divina Sabedoria não
se descuidou da programação prévia de serviço, neste particular. Se
encarregou a Ciência de superintender o desdobramento harmonioso dos
fenômenos pertinentes à zona física, se incumbiu a Filosofia de acompanhar
essa mesma Ciência, enriquecendo-lhe os valores intelectuais, confiou à
Religião a tarefa de velar pelo desenvolvimento da alma, propiciando-lhe
abençoadas luzes para a jornada de ascensão. A crença religiosa, todavia,
mormente nos últimos anos, tem-se revelado incapaz de tal cometimento:
falta-lhe pessoal adequado. Enquanto a edificação científica no mundo se
apresenta qual árvore gigantesca, abrigando, em seus ramos refertos de
teorias e raciocínios, as inteligências encarnadas, a Religião, subdividida em
numerosos setores, dá a ideia de erva raquítica, a definhar no solo. O Amor
Divino, porém, não ignora os obstáculos que assoberbam os círculos da fé.
Se à investigação do conhecimento basta o valor intelectual, o problema
religioso demanda altas possibilidades de sentimento. A primeira requer
observação e persistência; o segundo, todavia, implica vocação para a
renúncia. A vista disto, colaborando com os trabalhadores decididos,
inúmeras legiões de auxiliares invisíveis ao olhar humano se desdobram,
em toda parte, socorrendo os que sofrem, incentivando os que esperam
firmemente no bem, melhorando sempre. Nosso esforço, portanto, em torno
da mente encarnada, é extenso e múltiplo. Forçoso é convir, no entanto,
que, se o programa dá motivo a preocupações, é também fonte de prazer.
Experimentamos o contentamento de irmãos mais velhos, capazes de
prestar auxilio aos mais novos. Indiscutívelmente, somos, em humanidade,
uma só família.
Verificando-se pausa natural nos esclarecimentos de Calderaro,
indaguei, curioso:
— Como se opera, entretanto, a administração de tais auxílios?
Indiscriminadamente?
— Não — explicou o interpelado —, o senso de ordem preside-nos à
atividade em todas as circunstâncias Quase sempre é a força intercessória
que determina os processos de ajuda. A prece, representada pelo desejo
não manifestado, pelas aspirações íntimas ou pelas petições declaradas,
proveniente da zona superior ou surgida do fundo vale, onde se agitam as
paixões humanas, é, a rigor, o ascendente de nossas atividades.
Dispunha-me a formular certa pergunta, oriunda de velhas concepções
do separatismo religioso, quando Calderaro, percebendo-me a ponderação
prestes a exprimir-se, acrescentou, calmo:
— Não aludimos, aqui, a orações ou a aspirações de correntes
idealísticas determinadas: o dístico não interessa. Colaboramos com o
espírito eterno em sua ascensão à zona divina, aduzindo novas forças ao
bem, onde ele se encontre, independentemente de fórmulas dogmáticas, ou
não, com que ele se manifeste nos círculos humanos. Nosso problema não é
de favoritismo, senão de espiritualidade superior, mercê da união dos
valores substanciais, em favor da vida melhor.
A essa altura das lições que eu recebia em forma de palestra ligeira,
enquanto nos movimentávamos em serviço, atingimos residência de aspec-
to simples, que se distinguia pelo jardim bem cuidado, em toda a volta.
— Temos, aqui — disse-me, o instrutor —, indefesso companheiro de
outras épocas, reencarnado em dolorosas condições. De algumas semanas
para cá, assisto-lhe a mãezinha através de passes reconfortantes. Em
virtude da horrível estrutura orgânica do filho, a ela encadeado há muitos
séculos, a razão da pobrezinha está periditando; prendem-se mútuamente
por grilhões de graves compromissos. Considerando-lhe o nobre costume da
oração em horário prefixado, valemo-nos dessas ocasiões para vir-lhe em
amparo.
Admirando a ordem instituída para os quefazeres de nosso plano, e que
transparecia nas mínimas ações, silenciosamente acompanhei Calderaro ao
interior doméstico.
Em rápidos minutos achávamo-nos em pequena câmara, onde magro
doentinho repousava, choramingando. Cercavam-no duas entidades tão
infelizes quanto ele mesmo, pelo estranho aspecto que apresentavam. O
menino enfermo inspirava piedade.
— É paralítico de nascença, primogênito de um casal aparentemente
feliz, e conta oito anos na existência nova — informou Calderaro, indicando-
o —; não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada
ouve dá esfera humana; psiquicamente, porém, tem a vida de um
sentenciado sensível, a cumprir severa pena, lavrada, em verdade, por ele
próprio. Há quase dois séculos, decretou a morte de muitos compatriotas
numa insurreição civil. Valeu-se da desordem político-administrativa para
vingar-se de desafetos pessoais, semeando ódio e ruínas. Viveu nas regiões
inferiores, apartado da carne, inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já lhe
perdoaram os crimes; muitas, contudo, seguiram-no, obstinadas, anos
afora... A malta, outrora densa, rareou pouco a pouco, até que se reduziu
aos dois últimos inimigos, hoje em processo final de transformação. Com as
lutas acremente vividas, em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, o
desgraçado aprestou-se para esta fase conclusiva de resgate; conseguiu,
assim, a presente reencarnação com o propósito de completar a cura
efetiva, em cujo processo se encontra, faz muitos anos.
A paisagem era triste e enternecedora. O doente, de ossos enfezados e
carnes quase transparentes, pela idade deveria ser uma criança bela e feliz;
ali, entretanto, se achava imóvel, a emitir gritos e sons guturais, próprios da
esfera sub-humana.
Com o respeito devido à dor e com a observação imposta pela Ciência,
verifiquei que o pequeno paralítico mais se assemelhava a um descendente
de símios aperfeiçoados.
- Sim, o espírito não retrocede em hipótese alguma — explicou
Calderaro —; todavia, as formas de manifestação podem sofrer
degenerescência, de modo a facilitar os processos regenerativos. Todo mal
e todo bem praticados na vida impõem modificações em nosso quadro
representativo. Nosso desventurado amigo envenenou para muito tempo os
centros ativos da organização perispiritual. Cercado de inimigos e
desafetos, frutos da atividade criminosa a que se consagrou
voluntàriamente, permanece quase embotado pelas sombras resultantes
dos seus tremendos erros. No campo consciencial, chora e debate-se, sob o
aguilhão de reminiscências torturantes que lhe parecem intérminas; mas os
sentidos, mesmo os de natureza física, mantêm-se obnubilados, à maneira
de potências desequilibradas, sem rumo... Os pensamentos de revolta e de
vingança, emitidos por todos aqueles aos quais dellberadamente ofendeu,
vergastaram-lhe o corpo perispiritual por mais de cem anos consecutivos,
como choques de desintegração da personalidade, e o infeliz, distante do
acesso à zona mais alta do ser, onde situamos o (castelo das noções
superiores, em vão se debateu no (Campo do esforço presente, isto é, à
altura da região em que localizamos as energias motoras; é que os
adversários implacáveis, apegando-se a ele, através da influência direta,
compeliram-lhe a mente a fixar-se nos impulsos automáticos, no império
dos instintos; permitiu a Lei que assim acontecesse, naturalmente porque a
conduta de nosso infortunado irmão fora igual à do jaguar que se aproveita
da força para dominar e ferir. Os abusos da razão e da autoridade
constituem faltas graves ante o Eterno Governo dos nossos destinos.
O estimado Assistente fitou-me com seus olhos muito lúcidos e
perguntou:
— Compreendeste?
Como desejasse ver-me suficientemente esclarecido, acrescentou:
— Espiritualmente, este pobre doente não regrediu. Mas o processo de
evolução, que constitui o serviço do espírito divino, através dos milênios,
efetuado para glorioso destino, foi por ele mesmo (o enfermo) espezinhado,
escarnecido e retardado. Semeou o mal, e colhe-o agora. Traçou audacioso
plano de extermínio, valendo-se da autoridade que o Pai lhe conferira,
concretizou o deplorável projeto e sofre-lhe as consequências naturais de
modo a corrigir-se. Já passou a pior fase. Presentemente, já se afastou do
maior número de inimigos, aproximando-se de amoroso coração materno,
que o auxilia a refazer-se, ao término de longo curso de regeneração.
Reparando a estranha atitude dos infelizes desencarnados que o
seguiam, pretendia indagar algo relativamente a eles, quando Calderaro
veio ao encontro de meus desejos, continuando:
— Também os míseros perseguidores são duendes do ódio e da
vingança, como o nosso enfermo é um remanescente do crime. São
náufragos na derradeira fase de salvação, após enorme hecatombe no mar
da vida, onde se perderam por muitos anos, por incapazes de usar a bússola
do perdão e do bem. Aproximam-se, porém, do porto socorrista. Voltarão ao
Sol da existência terrestre, por intermédio de um coração de mulher que
compreendeu com Jesus o valor do sacrifício. Em breve, André, consoante o
programa redentor já delineado, ingressarão neste mesmo lar na qualidade
de irmãos do antigo adversário. E quando entrelaçarem as mãos sobre ele,
consumindo energias por ajudá-lo, assistidos pela ternura de abnegada
mãe, amorosa e justa, beijarão o velho inimigo com imenso afeto.
Transmudar-se-ão as negras algemas do ódio em alvinitentes liames de luz,
nos quais refulgirá o amor eterno. Chegado esse tempo, a força do perdão
restituirá nosso doente à liberdade; largará ele, qual pássaro feliz, este
mirrado corpo físico, sufocante cárcere do crime e suas consequências,
onde se debateu por quase dois séculos. Até lá, importa zelar com empenho
pela valorosa mulher que é essa, vestalina senhora deste lar, em quem as
Forças Divinas respeitam a vocação para o martírio, por iluminar a vida e
enriquecer a obra de Deus.
Mal terminava Calderaro as elucidações, quando um dos verdugos
desencarnados se moveu e tocou com a destra o cérebro do doentinho,
recomendando-me o Assistente examinasse os efeitos desse contacto.
Extrema palidez e enorme angústia transpareceram no semblante do
paralítico. Notei que a infeliz entidade emitia, através das mãos, estrias
negras de substância semelhante ao piche, as quais atingiam o encéfalo do
pequenino, acentuando-lhe as impressões de pavor.
Dirigi ao Assistente um olhar interrogativo, e Calderaro informou:
— Se o amor emite raios de luz, o ódio arremessa estiletes de treva. Nos
lobos frontais recebemos os «estímulos do futuro», no córtex abrigamos as
«sugestões do presente», e no sistema nervoso, propriamente dito,
arquivamos as dembranças do passado». Nosso pobre amigo está sendo
«bombardeado» por energias destrutivas do ódio na região de «serviços do
presente», isto é, em suas capacidades de crescimento, de realização e de
trabalho nos dias que correm. Tal situação, derivante da culpa, compele-o a
descer mentalmente para a zona de «reminiscências do passado», onde o
seu comportamento é inferior, ralando pela semi-inconsciência dos estados
evolucionários primitlvos. Esmagadora maioria dos fenômenos de alienação
psíquica procedem da mente desequilibrada. Repara o cosmo orgânico.
O doentinho, da aflição, em que se mergulhara, passou às contorções,
evidenciando todos os característicos da idiotia clássica. Os órgãos
revelavam agora estranhos deslocamentos, O sistema endócrino
patenteava indefiníveis perturbações.
Compadecido, inclinou-se o instrutor sobre o doente, e esclareceu:
— Os raios destrutivos alcançam-lhe a zona motora, provocando a
paralisação dos centros da fala, dos movimentos, da audição, da visão e do
governo de todos os departamentos glandulares. Na verdade, essa dolorosa
situação cronicificou-se, pela repetição desta ocorrência milhares de vezes,
em quase duas centenas de anos.
Fez intervalo significativo e tornou:
— Examina a conduta do enfermo. Fixando a mente na extrema
.<região dos impulsos automáticos», seu padrão de comportamento é
efetivamente sub-humano. Volta a viver estados primários, dos quais a
individualidade já emergiu há muitos séculos. Em outros casos menos
graves, a medicina atual vem utilizando a terapêutica do choque, àmaneira
do experimentador que investiga nas sombras, examinando efeitos e
ignorando as causas. Cumpre-nos, no entanto, reconhecer que o belo es-
forço da psiquiatria moderna merece o maior carinho de nossas autoridades
espirituais, que patrocinam os médicos diligentes e devotados, orientando-
os para o bem comum, simultâneamente em diversos centros culturais; por
enquanto, não podem aceitar a verdade como seria de desejar, em virtude
da necessidade de guardar-se a medicina terrena em campo conservador,
menos aberto aos aventureiros; todavia, mais tarde os sacerdotes da saúde
humana compreenderão que o choque elétrico, ou a hipoglicemia,
provocada pela invasão da insulina, constituem apelos vivos aos centros do
organismo perispirítico, convocando-os ao reajustamento e compelindo os
neurônios a se readaptarem para o serviço da mente em processo
regenerador. A bem dizer, é de notar que esse recurso às reservas
profundas do cosmo psíquico não é novo. Outrora, as vítimas da loucura
eram conduzidas a poços de víboras, a fim de que a aborrível comoção
operasse a transformação súbita da mente desequilibrada; é que, desde
remota antigüidade, compreendeu o homem, intuitivamente, que a maioria
dos casos de alienação mental decorrem da ausência voluntária ou
involuntária da alma à realidade. E, em nosso campo de observação mais
clara, podemos adir que todo desequilíbrio promana do afastamento da Lei.
Silenciou Calderaro por alguns instantes e, em seguida, indicou o
pequeno, acentuando:
— Neste caso, porém, o choque aplicado pela ciência dos homens não
surtiria vantagem alguma. Estamos perante o eclipse total da mente, pela
total ausência da Lei com que se conduziu o interessado no socorro. A
retificação, aqui, reclama tempo. As águas pantanosas do mal, longamente
represadas no coração, não se escoam fàcilmente. O plano mental de cada
um de nós não é vaso de conteúdo imaginário: é repositório de forças vivas,
qual o veículo físico de manifestação, que nos é próprio, enquanto
peregrinamos na Crosta Planetária.
— Não estamos, porém, cientificamente falando — indaguei —, diante
de um caso típico de mongolismo?
O Assistente respondeu sem se embaraçar:
— Acompanhamos um fenômeno de desequilíbrio espiritual absoluto.
Em situações raríssimas, teremos perturbações dessa natureza com causas
substancialmente fisiológicas. Impossível é desconhecer, na esfera carnal, o
paralelismo psico-físico. Quem vive na Crosta Terrestre terá sempre a
defrontar com a forma perecível, em primeiro lugar. Daí, não podermos
excluir da patologia da alma o envoltório denso, nem menosprezar a
colaboração dos fisiologistas abnegados, que atentos se dedicam às
investigações da fauna microscópica, do reajustamento das formas, do
quadro dos efeitos. Não nos esqueça, contudo, que analisamos agora o
dominio das causas...
O desvelado amigo parecia disposto a prosseguir, dilatando-me os
conhecimentos a respeito do assunto, quando ouvimos passos de alguém
que se aproximava. Certo, a dona da casa vinha ao aposento da criança, à
procura do socorro da oração.
Concluiu Calderaro, apressadamente:
— Nossos companheiros da medicina humana batizam as moléstias
mentais como lhes apraz, detendo-se nas questões da periferia, por
distraídos dos problemas fundamentais do espírito. Relativamente aos
assuntos científicos, conversaremos amanhã, quando prestaremos
assistência a jovem amigo.
Nesse momento, a mãezinha, que ainda não contava trinta anos,
acercou-se do enfermo, sem se dar conta de nossa presença espiritual.
Estacou, tristonha, de pé junto ao berço, afagando-lhe a fronte aljofrada de
suor, ao termo das contorções finais. Afastou a colcha rendada, levantou-o,
cuidadosa, e abraçou-o, ungindo-o com o mais terno dos carinhos.
O menino aquietou-se.
Logo após, a genitora entrou a orar, banhada em lágrimas, afigurando-
se-me um cisne da região espiritual a desferir maravilhoso cântico.
Enquanto Calderaro operava, reparando-lhe as forças nervosas em
verdadeira transfusão de fluidos sadios que o dedicado colaborador
transferia de si próprio, eu, de minha parte, acompanhava com vivo
interesse a prece maternal.
A jovem senhora entremeava de ponderações humanas a cordial
rogativa.
Porque não a ouvia o Senhor, nos Altos Céus, permitindo um milagre
que restituisse o filhinho ao equilíbrio tão necessário? Casara-se, havia nove
anos, sonhando um jardim doméstico, repleto de rebentos felizes;
entretanto, a primeira flor de suas aspirações femininas ali se encontrava
ironicamente aberta, numa fácies horrível de monstruosidade e de
sofrimento... Porque, interrogava súplice, nasciam crianças na Terra com a
destinação de tamanha angústia? Porque o martirológio dos seres
pequeninos? Em vão percorrera gabinetes médicos e ouvira especialistas.
Sempre as mesmas decepções, os mesmos desenganos. O filhinho parecia
inacessível a qualquer tratamento. Sentia-se frágil e extenuada... E chorava,
implorando a bênção divina, para que as energias lhe não faltassem na luta.
Calderaro, finda a tarefa que lhe competia, acercou-se de mim,
perguntando:
— Desejas responder à rogativa, em nome da Inspiração Superior?
Oh! não! Declinei de tal convite alegando que isso me era de todo
impraticável, depois de haver ouvido Irmã Cipriana renovando corações com
o verbo inflamado de amor.
Objetou o orientador num gesto bondoso:
— Aqui, porém, não falaremos a corações que odeiam, e sim a torturado
espírito materno, que reclama estimulo fraternal. O conhecimento e a boa
vontade podem fazer muito.
Sorriu, benevolente, e acrescentou:
— Ao demais, é necessário diplomar-nos também na ciência do amor.
Para isso, comecemos a ser irmãos uns dos outros, com sinceridade e fiel
disposição de servir.
Agradeci, comovido, a deferência, mas esquivei-me. Falaria ele mesmo,
Calderaro. Minha condição era a do aprendiz. Ali me encontrava para ouvir-
lhe as sublimes lições.
O abnegado amigo colocou as mãos sobre os lõbos frontais dela, como
atraindo a mente materna para a região mais elevada do ser, e passou a
irradiar-lhe tocantes apelos, como se lhe fora dezvelado pai falando ao
coração. Fundamente sensibilizado, assinalava-lhe as palavras de ânimo e
de consolação, que a afetuosa mãezinha recebia em forma de ideias e
sugestões superiores.
Notei que a disposição íntima da jovem senhora tomava pouco a pouco
um renovado alento. Observei que na epffise lhe surgira suave foco de
claridade irradiante e que de seus olhos começaram a brotar lágrimas
diferentes. A claridade branda, fluindo do cérebro, desceu para o tórax, de
onde, então, se evolaram tênues fios de luz que a ligaram ao filhinho infeliz.
Contemplou o pequeno, agora calmo, através do espesso véu de pranto e
ouvi-lhe os pensamentos sublimes.
Sim, Deus não a abandonaria — meditava; dar-lhe-ia forças para cumprir
até ao fim o cometimento que tomara a ombros, com a beleza do primeiro
sonho e com a ventura da primeira hora. Sustentaria o desventurado
rebento de sua carne, como se fora um tesouro celeste. Seu amor avultaria
com os padecimentos do filhinho muito amado; seus sacrifícios de mãe
seriam mais doces, toda vez que a dor o visitasse com maior intensidade.
Não era ele mais digno de seu devotamento e renúncia pela aflitiva
condição em que nascera? Os filhos de antigas companheiras eram
formosos e inteligentes, como botões perfumados da vida, prometendo
infinitas alegrias no jardim do futuro; também seu pequenino paralítico era
belo, necessitando, porém, de mais blandícia e arrimo. Saberia Deus porque
viera ele ao mundo, sem a faculdade da palavra e sem manifestações de
inteligência. Não lhe bastaria confiar no Supremo Pai? Serviria ao Senhor
sem indagar; amaria seu filho pela eternidade; morreria, se preciso fora,
para que ele vivesse.
Num transporte de indefinível carinho, a jovem mãe inclinou-se e beijou
o doentinho nos lábios, com o júbilo de quem osculasse um anjo celestial.
vi, surpreendido, que numerosas centelhas de luz se desprendiam do
contacto afetivo entre ambos e se derramavam sobre as duas entidades
inferiores; estas, de sua parte, se inclinaram também, como que menos
infelizes, perante aquela nobre mulher que mais tarde lhes serviria de mãe.
Calderaro tocou-me de leve o ombro e informou:
— Nosso trabalho de assistência está findo. Vamo-nos.
E, indicando mãe e filho juntos, concluiu:
— Examinando essa criança sofredora como enigma sem solução,
alguns médicos insensatos da Terra se lembrarão talvez da morte suave’;
ignoram que, entre as paredes deste lar modesto, o Médico Divino,
utilizando um corpo incurável e o amor, até o sacrifício, de um coração
materno, restitui o equilíbrio a espíritos eternos, a fim de que sobre as
ruínas do passado possam irmanar-se para gloriosos destinos.
8
No Santuário da Alma

Noite fechada. Calderaro e eu penetramos casa confortável e nobre,


onde o instrutor, segundo prometera, me proporcionaria alguns
esclarecimentos novos com referência aos desequilíbrios da alma.
— Não é caso tão grave quanto aquele do paralítico que visitamos —
adiantou o prestimoso orientador; trata-se, a bem dizer, de questão quase
vencida. Há muito tempo assisto Marcelo com fluidos reconfortantes, e a
sua situação é de triunfo integral. Dócil à nossa influência, encontrou na
prece e na atividade espiritual o suprimento de energias de que
necessitava. Vimos ontem um caso de destrambelho total dos elementos
perispiríticos, com a consequente desagregação do sistema nervoso, em
doloroso quadro que só o tempo corrigirá. Aqui, entretanto, a paisagem é
outra, O problema de perturbação essencial já está resolvido, o rea-
justamento da vida surgiu pleno de esperanças novas, a paz regressou ao
tabernáculo orgânico; mas perseveram ainda as recordações, os
remanescentes dos dramas vividos no passado aflorando sob forma de
fenômenos epileptóides, as ações reflexas da alma, que emergem de vasto
e intricado túnel de sombras e que tornam, em definitivo, ao império da luz.
Se o mal demanda tempo para fixar-se, éóbvio que a restauração do bem
não pode ser instantânea. Assim ocorre com a doença e a saúde, com o
desvio e o restabelecimento do equilíbrio.
Após atravessar o pórtico, dirigimo-nos, devidemente autorizados, ao
interior, onde agradavelmente me surpreendeu encantadora cena de pie-
dade doméstica: um cavalheiro, uma senhora e um rapaz achavam-se
imersos nas divinas vibrações da prece, cercados de grande número de
amigos do nosso plano.
Fomos recebidos amorosamente.
Convidou-me o orientador a colaborar nos trabalhos em curso, de vez
que, com a valiosa cooperação daqueles três companheiros encarnados, se
prestavam a irmãos recém-libertos da Crosta reais auxílios, de modalidades
várias.
Digna de registro era a respeitável beleza daquela reduzida assembleia,
consagrada ao bem e àiluminação do espírito.
Admirando a harmonia daqueles três corações unidos nos mesmos
nobres pensamentos e propósitos, e que miríficos fios de luz entrelaçavam,
o Assistente amigo comentou com oportunidade:
— A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isto mesmo, o lar
é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus com-
ponentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida;
todavia, quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das
suas probabilidades de elevação, congregando-se Intimamente para as
realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações.
Compreendi que o instrutor estimaria prestar-me outros
esclarecimentos, ampliando a santificante concepção da família; contudo, o
serviço urgente não nos permitia mais longa palestra.
O trabalho de socorro a irmãos sofredores prosseguiu ativo, em «nosso
lado».
Terminado o concurso do trio familiar, com expressiva e comovedora
oração, começou a retirada dos companheiros de nossa esfera, enquanto os
amigos encarnados entravam em carinhosa conversação.
O cavalheiro, com o sorriso feliz do trabalhador que bem cumpriu o
dever, dirigiu-se aos circunstantes em voz alta:
— Graças a Deus, tudo normal.
Encarando o rapaz com imensa ternura paternal, indagou:
— E você, Marcelo, continua bem?
— Oh! sem dúvida — respondeu o interpelado, alegre; estou
maravilhado, papai, com os excelentes resultados que venho colhendo em
nossas reuniões das quintas-feiras.
— Têm voltado os ataques noturnos?
— Não. À proporção que me esforço no conhecimento das verdades
divinas, cooperando com a minha própria vontade no terreno da aplicação
prática das lições recebidas, sinto que passo cada vez melhor, que me
reforço intimamente, recuperando a saúde perdida. Reconheço também
que, em me desinteressando da edificação espiritual, distraído da minha
necessidade de elevação, voltam as perturbações com intensidade. Nessas
fases nocivas, desperto alta noite com os membros cansados e doloridos, e
assaltam-me evidentes sinais das convulsões, deixando-me longos
momentos sem sentido...
O jovem sorriu a esta sua singela confissão filial e prosseguiu:
- Felizmente, porém, agora que me consagro, zeloso e assíduo, à tarefa
espiritualizante, reconheço que os passes de mamãe são mais eficientes.
Estou mais receptivo e observo que a boa vontade é fator decisivo em meu
bem-estar.
Os ouvintes entreolharam-se, contentes, e o entendimento intimo
continuou, edificante, repleto de belas sugestões.
O Assistente, preparando-me o raciocínio, informou:
—Certo, não precisarei de esclarecer que Marcelo se entretém com os pais.
Possui outros irmãos que ainda não se afinam com a sagrada missão do
casal. Ele, porém, é portador de sentimentos elevados e generosos. Tem,
como quase todos nós, um pretérito intensamente vivido nas paixões e
excessos da autoridade. Exerceu, outrora, enorme poder de que não soube
usar em sentido construtivo. Senhor de vigorosa inteligênCia, planou em
altos níveis intelectuais, de onde nem sempre desceu para confortar ou
socorrer. Portador de vários títulos honoríficos, muita vez os esqueceu,
precipitando-se na vala comum dos caprichos criminosos. Impôs-se pelo
absolutismo, e intensificou a lavra de espinhos que o dilacerariam mais
tarde. Chegada a colheita de nefanda messe, experimentou sofrimentos
atrozes. Inúmeras vítimas o esperavam além do sepulcro, e arremeteram
contra ele. Entretanto, se errou clamorosamente, Marcelo, em muitas
ocasiões, desejou ser bom e formou dedicações valiosas em torno de seu
nome; tais devotamentos, contudo, houveram que aguardar oportunidade
por auxiliá-lo. Os inimigos eram massa compacta e gritavam furiosamente,
invocando a justiça vulgar; retiveram-no longo tempo nas regiões inferiores,
saciaram velhos propósitos de vingança, seviciando-lhe a organização
perispiritUal. Marcelo, em plena sombra da consciência, rogou, chorou e
penitenciou-se vastos anos. Por mais que suplicasse e por muito que
insistissem os elementos intereessóriOs, a anaiada libertação demorou mui-
tíssimo, porque o remorso é sempre o ponto de sintonia entre o devedor e o
credor, e o nosso amigo trazia a consciência fustigada de remorsos cruéis,
Os desequilíbrios perispiríticos flagelaram-no, assim, logo que atravessou o
pórtico do túmulo, obstinando-se anos a fio...
Feito breve intervalo nas explicações, acrescentei, curioso:
— Isso quer, então, dizer que o fenômeno epileptóide...
— ... mui raramente ocorre por meras alterações no encéfalo, como
sejam as que procedem de golpes na cabeça — elucidou o Assistente, cor-
tando-me a observação reticenciosa —, e, geralmente, é enfermidade da
alma, independente do corpo físico, que apenas registra, nesse caso, as
ações reflexas. Longe vai o tempo em que a vazão admitia o paraíso ou o
purgatório como simples regiões exteriores: céu e inferno, em essência, são
estados conscienciais; e, se alguém agiu contra a Lei, ver-se-á dentro de si
mesmo em processo retificador, tanto tempo quanto seja necessário. Ante a
realidade, portanto, somos compelidos a concluir que, se existem múltiplas
enfermidades para as desarmonias do corpo, outras inúmeras há para os
desvios da alma.
O instrutor fez pausa curta, apontou para o rapaz e continuou:
— Mas, regressando às informações a respeito de Marcelo, cabe-me
dizer-te que, pouco a pouco, esgotou ele as substâncias mais pesadas do
fundo cálice de provas. Longos anos de desequilíbrio, em que as vítimas,
tornadas em algozes, o abalaram com tremendas convulsões, através de
choques e padecimentos inenarráveis, clarearam-lhe os horizontes internos,
tendo nosso irmão afinal logrado entender-se com prestimoso e sábio
orientador espiritual, a quem se liga desde remoto passado. Foi socorrido e
amparado. Indagou, ansioso, por almas que lhe eram particularmente
queridas, sendo-lhe cientificado que os seus laços mais fortes já se
encontravam de novo na carne, em testemunhos e labores dignificantes.
Suplicou a reencarnação, prometeu aceitar compromissos de concurso
espiritual na Crosta, a fim de resgatar os enormes débitos, colaborando no
bem e na evolução dos inimigos de outrora, e conseguiu a dádiva, apoiado
por abnegado mentor que o estima de muitos séculos. Tornou à esfera
carnal e reiniciou o aprendizado. Ultimamente renasceu estreitado em
braços carinhosos, aos quais se sente vinculado no curso de várias
existências vividas em comum. Agora, sinceramente aproveitando as
bênçãos recebidas, desde os mais tenros anos, preocupa-se em reajustar as
preciosas qualidades morais: caracteriza-se, desde menino, pela bondade e
obediência, docilidade e ternura naturais. Passou a infância tranquilo,
embora continuamente espreitado por antigos perseguidores invisíveis. Não
se achava a eles atraído, em virtude do serviço regenerador a que se
submetera; mas ao topar com algum dos adversários, nos minutos de
parcial desprendimento propiciado pelo sono físico, sofria amargamente
com as recordações. Tudo prosseguia sem novidades dignas de menção.
Sob a vigilância dos pais e com o amparo dos benfeitores invisíveis,
preparava-se o menino para os trabalhos futuros. Contudo, logo que se lhe
consolidou a posse do patrimônio físico, ultrapassados os catorze anos de
idade, Marcelo, com a organização perispiritual plenamente identificada
com o invólucro fisiológico, passou a rememorar os fenômenos vividos, e
surgiram-lhe as chamadas convulsões epilépticas com certa intensidade. O
rapaz, todavia, encontrou imediatamente os antídotos necessários,
refugiando-se na “residência dos princípios nobres», isto é, na região mais
alta da personalidade, pelo hábito da oração, pelo entendimento fraterno,
pela prática do bem e pela espiritualidade superior. Limitou, destarte, a
desarmonia neuro-psíquica e reduziu a disfunção celular, reconquistando o
próprio equilíbrio, dia a dia, mobilizando as armas da vontade. Nesse
esforço, dentro do qual se fêz extremamente simpático, recebeu vultosa
colaboração de nossa esfera, aproveitando-a integralmente pela adesão
criteriosa ao esforço construtivo do bem. Recebendo a luta com serenidade
e paciência, instalou em si mesmo valiosas qualidades receptivas, fa-
vorecendo-nos o concurso e dispensando, por isso mesmo, a terapêutica
dos hipnóticos ou dos choques, a qual, provocando estados anormais no
organismo perispirítico, quase sempre nada consegue senão deslocar os
males, sem os combater nas origens. O caso de Marcelo oferece por isto
características valiosas. Atendendo as sugestões daqueles que o
beneficiam, adaptando-se à realidade vem sendo o médico de si mesmo,
única fórmula em que o enfermo encontrará a própria cura.
Nesse instante, o rapaz despedia-se delicada-mente dos pais, retirando-
se para o quarto particular, onde se recolheu ao leito, após abluir a mente
em pensamentos de paz e de gratidão a Deus.
Dentro de breves minutos afastava-se do veículo denso e vinha ter
conosco, saudando Calderaro com especial carinho.
O Assistente apresentou-me, afável.
Mostrava o jovem profunda lucidez. Abraçado a nós ambos, com
inequívocas demonstrações de alegria, comentou suas esperanças no
porvir. Expôs-nos ardente desejo de trabalhar pela difusão do Espiritismo
evangélico, disposto a colaborar na obra edificante que os genitores vêm
realizando. Referiu-se, para admiração minha, às atividades de nossa
colônia espiritual, indagou das minhas impressões de (Nosso Lar),
seduzindo-me pela oportunidade de conceitos e pela beleza das apreciações
inteligentes e espontâneas (1).

(1) Referencia ao livro “Nosso Lar”. — (Nota do autor espiritual.)

Ia a conversa a meio, quando dois vultos sombrios cautelosamente se


aproximaram de nós. Quem seriam, senão míseros transeuntes desencar-
nados? Inteiramente distraído, continuei nos comentários humildes, mas o
estimado interlocutor perdeu visívelmente a calma. Qual se fora tocado no
intimo por forças perturbadoras, Marcelo empalideceu, levou a destra ao
peito e arregalou os olhos desmesuradamente. Reparei que as ideias lhe ba-
ralhavam no cérebro perispiritual, que não conseguia ouvir-nos com
tranquilidade, e, desprendendo-se, célere, de nossos braços, correu
desabalado, retomando ao corpo.
Quis detê-lo, penalizado, pois conosco estava perfeitamente
sintonizado; algo mais forte que o conhecimento cordial unia-me ao novo
amigo, o que reconheci desde o primeiro contacto; não pude, porém, fazê-
lo.
Reteve-me Calderaro, com vigor, e exclamou:
— Deixa-o, André. Acompanhemo-lo. Não podemos olvidar que Marcelo
não se encontra perfeitamente curado.
Indicando as entidades provocadoras, a pequena distância, prosseguiu
esclarecendo:
— A simples reaproximação dos inimigos de outra época altera-lhe as
condições mentais. Receoso, aflito, teme o regresso à situação dolorosa em
que se viu, há muitos anos, nas esferas inferiores, e busca, apressado, o
corpo físico, à maneira de alguém que se socorre do único refúgio de que
dispõe, em face da tempestade iminente.
Os espíritos erradios bateram em retirada, e tomamos ao interior
doméstico, onde encontramos o jovem tomado de contorções.
Abracei-o, como se o fizesse a um filho querido.
O ataque amainou, sem, contudo, cessar de todo. Ergui os olhos para o
orientador, em muda interrogação. Porque tal distúrbio? A câmara de
Marcelo permanecia isolada, quanto ao contacto direto com as entidades
inferiores. Permanecíamos os três em palestra edificante. Por que motivo a
perturbação, se nos mantínhamos em salutar atmosfera de santificantes
pensamentos?
O instrutor contemplou-me, bondoso, e recomendou:
— Observa o campo orgânico, examinando particularmente o cérebro.
Notei que a luz habitual dos centros endócrinos empalidecera,
persistindo sõmente a epífise a emitir raios anormais. No encéfalo o
desequilíbrio era completo. Das zonas mais altas do cérebro partiam raios
de luz mental, que, por assim dizer, bombardeavam a colmeia de células do
córtex. Os vários centros motores, inclusive os da memória e da fala, jaziam
desorganizados, inânimes. Esses raios anormais penetravam as camadas
mais profundas do cerebelo, perturbando as vias do equilibrio e
destrambelhando a tensão muscular; determinavam estranhas
transformações nos neurônios e imergiam no sistema nervoso cinzento,
anulando a atividade das fibras. Via-se totalmente inibido o delicado
aparelho encefálico. As zonas motoras, açoitadas pelas faíscas mentais,
perdiam a ordem, a disciplina, o autodomínio, por fim cedendo, baldas de
energia. Enquanto isso, Marcelo-espírito contorcia-se de angústia,
justaposto ao Marcelo-forma, encarcerado na inconsciência orgânica, presa
de convulsões que me confrangiam a alma.
Após detido exame, indaguei de Calderaro:
— Como explicar essa ocorrência? Afinal de contas, nosso amigo não se
encontra aqui sob o guante dos perseguidores desencarnados, mas em
nossa exclusiva companhia.
O orientador, agora em ação de socorro magnético, interferia, restaurando o
equilíbrio, recomendando-me aguardar alguns minutos. Em breve, dominou
a desarmonia. Envolvendo-lhe o campo mental em emissões fluídico-
balsâmicas, o desastre não chegou a termo. Marcelo aquietou-se. Refez-se a
atividade cerebral, qual praça em tumulto logo descongestionada. As
células nervosas retomaram sua tarefa, normalizaram-se as vias do tráfego,
o sistema endocrínico regressou à regularidade, as redes de estímulos
restabeleceram os serviços costumeiros.
Marcelo, desapontado e abatido, caiu em profundo sono, pois Calderaro
entendeu conveniente proporcionar-lhe maior repouso, não lhe permitindo a
retirada em corpo perispiritual nos primeiros minutos de paz que se
sucederam à forte crise.
Observando o rapaz, no conchego do leito, o instrutor fitou-me,
benévolo, e perguntou:
— Lembras-te dos reflexos condicionados de Pavlov?
Como não? recordava-me, sim, da famosa experiência com cães,
aplicada a fenômenos outros.
— Pois bem — prosseguiu Calderaro, bondoso
—, o caso de Marcelo verifica-se em consonância com os mesmos princípios.
Em existências passadas, errou em múltiplos modos, e o remorso, imperiosa
força a serviço da Divina Lei, guardou-lhe a consciência, qual sentinela
vigilante, entregando-o aos seus inimigos nos planos inferiores e condu-
zindo-o à colheita de espinhos que semeara, logo após a perda do vaso
físico, num dos seus períodos mais intensos de queda espiritual. Em
consequência de tais desvios, perambulou desequilibrado, de alma doente,
exposto à dominação das antigas vitimas. Desarranjou os centros
perispirituais, enfermando-os para muito tempo. Sustentado pelo socorro de
um grande instrutor que intercedeu por ele, renasceu mais calmo, agora,
para importante serviço de resgate. Todavia, a cooperação valiosa recebida
do exterior não poderia transformar-lhe de modo visceral a situação íntima.
Conservava-se desafogado dos impiedosos adversários, aos quais deveria
ajudar doravante; contudo, o organismo perispirítico arquivava a lembrança
fiel dos atritos experimentados fora do veículo denso. As zonas motoras de
Marcelo, em razão disso — salientou o atencioso orientador —, simbolizando
a moradia das (forças conscientes», em sua atualidade de trabalho,
constituem uma «região perispiritual em convalescença», quais as sensíveis
cicatrizes do corpo físico. Ao se reaproximar de velhos desafetos, o rapaz,
que ainda não consolidou o equilíbrio integral, sujeita-se aos violentos
choques psíquicos, com o que as emoções se lhe desvairam, afastando-se
da necessária harmonia. A mente desorientada abandona o leme da
organização perispirítica e dos elementos fisiológicos, assume condições ex-
cêntricas, dispersa as energias, que lhe são peculiares, em movimentos
desordenados; passam, então, essas energias a atritarem-se e a emitir
radiações de baixa frequência, aproximadamente igual à da que lhe incidia
do pensamento alucinado de suas vítimas. Essas emissões destruidoras
invadem a matéria delicada do córtex encefálico, assenhoreiam-se dos
centros corticais, perturbam as sedes da memória, da fala, da audição, da
sensibilidade, da visão, e inúmeras outras sedes do governo de vários
estímulos; temos, destarte, o «grande mal», de sintomatologia aparatosa,
determinando as convulsões, nas quais o corpo físico, prostrado, vencido,
mais se assemelha a embarcação repentinamente à matroca.
As elucidações de Calderaro enchiam-me de respeito pelos fundamentos
morais da vida. Compreendia agora a impossibilidade de uma psiquiatria
sem as noções do espírito. Lembrou-me a luta secular entre fisiologistas e
psicologistas, disputando a norma de socorro aos alienados mentais.
Mesmer e Charcot, Pinel e Broca desfilaram ante minha imaginação,
enriquecida de novos conhecimentos.
A interrupção das digressões do Assistente não durou muito. Devo, na
verdade, consignar que, desde a primeira hora de nossas conversações, tais
intermitências se fizeram habituais, parecendo-me que Calderaro
intencional-mente me proporcionava tréguas para ruminar-lhe os conceitos.
Respondendo-me às Intimas ponderações, continuou:
— Impossível é pretender a cura dos loucos à força de processos
exclusiva-mente objetivos.
É indispensável penetrar a alma, devassar o cerne da personalidade,
melhorar os efeitos socorrendo as causas; por conseguinte, não
restauraremos corpos doentes sem os recursos do Médico Divino das almas,
que é Jesus-Cristo. Os fisiologistas farão sempre muito, tentando retificar a
disfunção das células; no entanto, é mister intervir nas origens das
perturbações. O caso de Marcelo é tão somente um dos múltiplos aspectos
do fenômeno epileptóide», para empregarmos a terminologia dos médicos
encarnados. Esse desequilíbrio perispiritual assinala-se, todavia, por
gradação demasiado complexa. A confirmação da teoria dos reflexos
condicionados não se aplica exclusivamente a ele. Temos milhões de
pessoas irascíveis que, pelo hábito de se encolerizarem fàcilmente, viciam
os centros nervosos fundamentais pelos excessos da mente sem disciplina,
convertendo-se em portadores do «pequeno mal”, em dementes precoces,
em neurastênicoS de tipos diversos ou em doentes de franjas epilépticas,
que andam por aí, submetidos à hipoglicemia insulínica ou ao metrazol;
enquanto isso, o serem educados mentalmente, para a correção das pró-
prias atitudes internas no ramerrão da vida, lhes seria tratamento mais
eficiente e adequado, pois regenerativo e substancial. Enunciando tais
verdades, não subestimamos o ministério dos psiquiatras abnegados, que
consomem a existência na dedicação aos semelhantes, nem avançamos
que todos os doentes, sem exceção, possam dispensar o concurso dos
choques renovadores, tão necessários a muita gente, como ducha para os
nervos empoeirados). Desejamos apenas salientar que o homem, pela sua
conduta, pode vigorar a própria alma, ou lesá-la. O caráter altruísta, que
aprendeu a sacrificar-se para o bem de todos, estará engrandecendo os ce-
leiros de si mesmo, em plena eternidade; o homicida, esparzindo a morte e
a sombra em sua cercama, estabelece o império do sofrimento e da treva
no próprio íntimo. Ao topar com irmãos nossos sob o domínio das lesões
perispiríticas, consequências vivas dos seus atos, exarados pela Justiça
Universal, é indispensável, para assisti-los com êxito, remontar à origem das
perturbações que os molestam; isto se fará não a golpes verbalísticos de
psicanálise, mas socorrendo-os com a força da fraternidade e do amor, a fim
de que logrem a iinprescindível compreensão com que se modifiquem,
reajustando as próprias forças...
Nesse instante, observando que o Marcelo se reerguia, o instrutor
interrompeu-se nas elucidações e convidou-o a vir ter conosco novamente.
O rapaz abraçou-nos, comovido.
— Então — disse fitando humildemente Calderaro —, fraquejei e caí...
— Oh! não! — exclamou o orientador, afagando-o —, não te sintas em
queda. Estás ainda em tratamento, e não podemos esquecer a realidade.
Teu esforço é admirável; entretanto, há que aguardar a contribuição do
tempo.
Sorriu e acentuou:
— Em épocas recuadas perdeste valioso ensejo de seguir na senda
progressiva, a escorregar, a resvalar... Agora, é imprescindível retomar a
subida cautelosamente. O pássaro de asas débeis não pode abusar do voo.
O jovem cobrou esperanças novas e, contemplando Calderaro,
reconhecidamente, inquiriu:
— Acredita o meu benfeitor que deva optar pelo uso de hipnóticos?
— Não. Os hipnóticos são úteis só na áspera fase de absoluta ignorância
mental, quando é preciso neutralizar as células nervosas ante os prováveis
atritos da organização perispirítica. Em teu caso, Marcelo, para a tua
consciência que já acordou na espiritualidade superior, o remédio mais
eficaz consiste na fé positiva, na autoconfiança, no trabalho digno, em
pensamentos enobrecedores. Permanecendo na zona mais alta da
personalidade, vencerás os desequilíbrios dos departamentos mais baixos,
competindo-te, por isto mesmo, atacar a missão renovadora e sublime que
te foi confiada no setor da própria iluminação e no bem do próximo. Os
elementos medicamentosos podem exercer tutela despótica sobre o cosmo
orgânico, sempre que a mente não se disponha a controlá-la, recorrendo
aos fatores educativos.
O rapaz osculou-lhe as mãos enternecidamente. e Calderaro, ocultando
a comoção, falou, bem-humorado:
— Nada fizemos ainda por merecer o reconhecimento de qualquer
criatura. Somos não mais do que trabalhadores imperfeitos em serviço, e o
serviço é a maior força que nos põe de manifesto nossas próprias
imperfeições. Todos temos um credor divino em Jesus, cuja infinita bondade
não nos é lícito esquecer.
E, acariciando-lhe os cabelos, acentuou:
- Já lhe ouviste a palavra celestial, abandonando o mal, “para que te
não suceda coisa pior. Assim sendo, és agora feliz. Em verdade, somos
presentemente felizes, porque nosso objetivo de hoje é a realização do
Reino de Deus, em nós, com o Cristo. Trabalhemos com Ele, por Ele e para
Ele, curando nossos males para sempre.
O jovem abraçou-se a nós, qual se fora um filho, de encontro aos
nossos corações, e saímos juntos em agradável excursão de estudos,
enquanto seu corpo físico repousava tranqüilamente.” (“No Mundo Maior”,
André Luiz, Francisco Cândido Xavier)
PARTE II - PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

ANSIEDADE
O QUE É? A ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago,
acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio) no estômago (ou na
espinha), opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça, ou
falta de ar, dentre várias outras.
A ansiedade é um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e
capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. O medo é a
resposta a uma ameaça conhecida, definida; ansiedade é uma resposta a
uma ameaça desconhecida, vaga.
A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações potencialmente
danosas, como punições ou privações, ou qualquer ameaça a unidade ou
integridade pessoal, tanto física como moral. Desta forma, a ansiedade
prepara o organismo a tomar as medidas necessárias para impedir a
concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos diminuir suas
conseqüências. Portanto a ansiedade é uma reação natural e necessária
para a auto-preservação. Não é um estado normal, mas é uma reação
normal, assim como a febre não é um estado normal, mas uma reação
normal a uma infecção. As reações de ansiedade normais não precisam ser
tratadas por serem naturais e auto-limitadas. Os estados de ansiedade
anormais, que constituem síndromes de ansiedade são patológicas e
requerem tratamento específico. Os animais também experimentam
ansiedade. Neles a ansiedade prepara para fuga ou para a luta, pois estes
são os meios de se preservarem.
A ansiedade é normal para o bebê que se sente ameaçado se for separado
de sua mãe, para a criança que se sente desprotegida e desamparada longe
de seus pais, para o adolescente no primeiro encontro com sua
pretendente, para o adulto quando contempla a velhice e a morte, e para
qualquer pessoa que enfrente uma doença. A tensão oriunda do estado de
ansiedade pode gerar comportamento agressivo sem com isso se tratar de
uma ansiedade patológica. A ansiedade é um acompanhamento normal do
crescimento, da mudança, de experiência de algo novo e nunca tentado, e
do encontro da nossa própria identidade e do significado da vida. A
ansiedade patológica, por outro lado caracteriza-se pela excessiva
intensidade e prolongada duração proporcionalmente à situação
precipitante. Ao invés de contribuir com o enfrentamento do objeto de
origem da ansiedade, atrapalha, dificulta ou impossibilita a adaptação.
(Fonte)

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ANSIEDADE GENERALIZADA

O QUE É? O transtorno de ansiedade generalizada é basicamente uma


preocupação ou ansiedade excessivas, ou com motivos injustificáveis ou
desproporcionais ao nível de ansiedade observado. Para que se faça o
diagnóstico de ansiedade generalizada é preciso que outros transtornos de
ansiedade como o pânico e a fobia social- por exemplo= tenham sido
descartadas. É preciso que essa ansiedade excessiva dure por mais de seis
meses continuamente e precisa ser diferenciada da ansiedade normal.
Preocupar-se e ficar ansioso não é apenas uma reação normal, mas
necessária para a boa adaptação individual à sociedade e ao ambiente.
Como o estado de ansiedade perturba a visão que a pessoa tem a respeito
de si mesma e a respeito do que acontece no ambiente é necessário que
esse diagnóstico seja sempre feito por um especialista. No caso do paciente
ser um profissional da saúde mental, por um outro especialista que não ele
próprio. A informação das características da ansiedade generalizada não é
suficiente para que uma pessoa se autodiagnostique.Mesmo um psiquiatra
não teria condições de realizar esse diagnóstico a respeito de si mesmo
porque ele não teria imparcialidade para julgar o que tem.

Diagnóstico
Uma das maneiras de diferenciar a ansiedade generalizada da ansiedade
normal é através do tempo de duração dos sintomas. A ansiedade normal se
restringe a uma determinada situação, e mesmo que uma situação
problemática causadora de ansiedade não mude, a pessoa tende a adaptar-
se e tolerar melhor a tensão diminuindo o grau de desconforto com o
tempo, ainda que a situação permaneça desfavorável. Assim uma pessoa
que permaneça apreensiva, tensa, nervosa por um período superior a seis
meses, ainda que tenha um motivo para estar ansiosa, começa a ter
critérios para diagnóstico de ansiedade generalizada. Uma vez eliminada a
ocorrência de outros transtornos mentais assim como eliminada a
possibilidade do estado estar sendo causado por alguma substância ou
doença física, podemos admitir o diagnóstico de ansiedade generalizada.
Respeitadas essas condições os sintomas que precisam estar presentes são:

1. Dificuldade para relaxar ou a sensação de que está a ponto de estourar,


está no limite do nervosismo
2. Cansa-se com facilidade
3. Dificuldade de concentração e freqüentes esquecimentos
4. Irritabilidade
5. Tensão muscular
6. Dificuldade para adormecer ou sono insatisfatório
Por fim, um critério presente em todos transtornos mentais é o prejuízo no
funcionamento pessoal ou marcante sofrimento. Não podemos considerar os
sintomas como suficientes para dar o diagnóstico caso o paciente não tenha
seu desempenho pessoal, social e familiar afetados.

Características Associadas - A ansiedade patológica se manifesta da


mesma forma como a ansiedade normal, ou seja, de múltiplas maneiras,
tanto fisicamente como mentalmente. Além de amplamente variáveis os
sintomas mudam ao longo do tempo e oscilam permitindo que a pessoa se
sinta completamente bem em algumas ocasiões e pior noutras. Nos
períodos que os pacientes estão livres dos sintomas, o que pode durar de
horas a dias, os pacientes acreditam que ficaram recuperados. Antes de
procurar um médico praticamente todos os paciente tentaram algo para
melhorar seu mal estar, seja através de coisas simples como mudar a cor
das roupas que veste, seja por meios mais complexos como medicações
naturais ou florais. A aparente melhora que muitas vezes obtêm, só faz
confundir o paciente pela coincidência que aconteceu entre uma melhora
espontânea e temporária da ansiedade . Depois de alguns dias, quando a
ansiedade volta, o paciente fica confuso pois a tentativa inicialmente havia
funcionado e depois perdeu a eficácia. As mesmas tentativas são reforçadas
ou modificadas e a ausência de resultado ou a falta de correlação entre
novas tentativas com o resultado vão deixando o paciente embaraçado, nos
casos dessas tentativas de "autotratamento". Geralmente após alguns
meses as pessoas se cansam e procuram um especialista. Não sabemos por
enquanto se este atraso no início do tratamento prejudica o tratamento
posterior, tornando-o mais difícil de ser solucionado.

Os Sintomas - A preocupação com a possibilidade de vir a adoecer com


algo grave ou sofrer um acidente embora não existam indicativos de que
essas coisas possam vir a acontecer é o foco mais comum das
preocupações das pessoas com ansiedade generalizada. Algumas pessoas
temem mais que os entes queridos sofram algum desses males, como os
pais, ou filhos. Estes pacientes estão sempre imaginando situações como
essas e freqüentemente se consideram incapazes de lidar com elas caso
realmente venham a acontecer.
As variedades dos sintomas de ansiedade são enormes e muitas vezes
pessoais. Ganho de peso, por exemplo, tanto pode não ter nenhuma relação
com ansiedade como pode, para determinadas pessoas, ser a manifestação
mais freqüente. Os sintomas mais comuns então são: boca seca, mãos ou
pés úmidos, enjôos ou diarréia, aumento da freqüência urinária, sudorese
excessiva, dificuldade de engolir ou sensação de um bolo na garganta,
assustar-se com facilidade e de forma mais intensa, sintomas depressivos
são comuns desde que não sejam mais exuberantes que os de ansiedade
pois isso mudaria o diagnóstico.O fato desses sintomas citados se
parecerem com os sintomas do transtorno do pânico exigem um
procedimento para distinção deste porque no pânico, o surgimento de
agorafobia é mais comum e requer a indicação de terapia cognitiva. Na
ansiedade generalizada não há crises mas estados permanentes e
prolongados de desconforto ansioso. Os pacientes com pânico podem
experimentar estados de ansiedade prolongada entre uma crise e outra mas
as crises de pânico diferenciam um transtorno do outro.

Grupo de Risco - As mulheres são duas vezes mais acometidas pela


ansiedade generalizada do que os homens. A prevalência desse transtorno
na população é relativamente alta, em torno de 3% da população geral
sendo também o tipo de transtorno de ansiedade mais freqüente do grupo
dos transtornos de ansiedade. Nos períodos naturais de estresse os
sintomas tendem a piorar, ainda que o estresse seja bom, como o próprio
casamento ou um novo emprego. As mulheres abaixo de 20 anos são as
mais acometidas, podendo, contudo, começar antes disso, desde a infância,
ou pelo contrário, em idades mais avançadas, apesar da idade avançada
diminuir as chances do surgimento de transtornos de ansiedade.

Transtornos Associados - Os problemas clínicos como feocromocitoma e


alterações dos hormônios tireoideanos, por exemplo, devem sempre ser
descartados porque a manifestação clínica dessas doenças é semelhante ao
transtorno de pânico. Os demais transtornos de ansiedade também podem
confundir o diagnóstico da ansiedade generalizada.A sistemática eliminação
de sintomas serve como procedimento para eliminar transtornos de
ansiedade que se parecem com a ansiedade generalizada. A eliminação de
crises de ansiedade descarta o transtorno do pânico. A eliminação do
comportamento de evitação por lugares específicos descarta a agorafobia; a
evitação por submeter-se a avaliação dos outros revela a fobia social; o
medo de objetos como sangue ou animais revela a fobia específica; a
recorrência de pensamentos revela o transtorno obsessivo-compulsivo e a
ausência de acontecimentos traumáticos descarta o estresse pós-
traumático. Na verdade a quantidade de transtornos psiquiátricos ou
clínicos é numeroso. Portanto o psiquiatra deve estar sempre atento a sinais
ou sintomas que surgem. Há sempre a possibilidade de se tratar de uma
outra doença que provoca os sintomas semelhantes a ansiedade
generalizada. Geralmente os outros problemas médicos apresentam
sintomas inexistentes na ansiedade generalizada, o que deve motivar uma
investigação mais detalhada com auxílio de exames de laboratório.

Curso - O transtorno de ansiedade generalizada costuma ser crônico,


duradouro com pequenos períodos de remissão dos sintomas mas
geralmente leva o paciente a sofrer com o estado de ansiedade elevado
durante anos. Pode vir a ceder espontaneamente em alguns casos e não há
meios de se prever quando isso acontecerá.

Tratamento - As medicações como os tranquilizantes benzodiazepínicos ou


a buspirona são eficazes assim como os antidepressivos. É curioso que os
antidepressivos sejam eficazes porem empiricamente observamos esse
fato: alguns antidepressivos com mais eficácia do que outros. Além das
medicações, terapias também proporcionam bons resultados sendo muitas
vezes recomendada a combinação de ambas as técnicas. A terapia
cognitivo-comportamental é a que mais vem sendo estudada e apresentado
bons resultados. (Fonte)

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STRESS

O que é o Stress? O "STRESS" é o resultado de uma reação que o nosso


organismo tem quando estimulado por fatores externos desfavoráveis. A
primeira coisa que acontece com o nosso organismo nestas circunstâncias é
uma descarga de adrenalina no nosso organismo, e os órgãos que mais
sentem são o aparelho circulatório e o respiratório.No aparelho circulatório
a adrenalina promove a aceleração dos batimentos cardíacos (taquicardia) e
uma diminuição do tamanho dosvasos sangüíneos periféricos. Assim, o
sangue circula mais rapidamente para uma melhor oxigenação,
principalmente, dos músculos e do cérebro já que ficou pouco sangue na
periferia, o que também diminui sangramentos em caso de ferimentos
superficiais.
No aparelho respiratório, a adrenalina promove a dilatação dos
brônquios(broncodilatação) e induz o aumento dos movimentos
respiratórios(taquipnéia) para que haja maior capitação de oxigênio, que vai
ser mais rapidamente transportado pelo sistema circulatório, também
devidamente preparado pela adrenalina. Quando o perigo passa, o nosso
organismo para com a super produção de adrenalina e tudo volta ao
normal. No mundo de hoje as situações não são tão simples assim e o
perigo e a agressão estão sempre nos rodiando. Por isso a reação do
organismo frente ao stress é de taquicardia, palidez, sudorese e respiração
ofegante. Pode haver também um descontrole da pressão arterial e
provocar um aumento da pressão à níveisbem altos, mas não siginifica que
a pessoa seja hipertensa.
Medidas para combater o "Stress" - O combate ao stress não é fácil,
mas existem algumas medidas que aliviam e podem ajudar muito.
Quaisquer que sejam as medidas indicadas, o reconhecimento do problema
é o primeiro passo para a cura. A partir de então programe o que fazer, o
importante é tentar e mudar.

Faça exercícios físicos ou pratique esportes regularmente. Abaixa a pressão


e alivia as tensões causadas pelo stress.
Arrume um hobby ou um passatempo, isto ajuda a desviar a sua atenção e
alivia o stress. Controle a sua dieta, melhorando seus hábitos, diminuindo o
consumo de bebidas alcóolicas e deixe de fumar. Ao contrário do que muita
gente pensa estas atitudes não são estressantes mas, contribuem para a
diminuição do stress. Procure conversar mais com as outras pessoas,
melhore o seu relacionamento, isto não vai curar mas alivia as tensões.
Procure sair de férias, se for possível, e deixe de se preocupar tanto. (Lúcia
Helena Salvetti De Cicco)

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O Que Provoca o Stress?

São os grandes problemas da nossa vida que, de modo agudo, ou crônico,


nos lançam no estresse. Diversos pesquisadores notaram que a mudança é
um dos mais efetivos agentes estressores. Assim, qualquer mudança em
nossas vidas tem o potencial de causar estresse, tanto as boas quanto as
más. O estresse ocorre, então, de forma variável, dependendo da
intensidade do evento de mudança, que pode ir desde a morte do cônjuge,
o índice máximo na escala de estresse, até pequenas infrações de trânsito
ou mesmo a saída para as tão merecidas férias.

Certos eventos em nossas vidas são tão estressantes, que caracterizam a


situação de trauma (lesão ou dano) psíquico. Recentemente as ciências
mentais reconheceram uma nova síndrome, batizada de Distúrbio de
estresse pós-traumático, uma verdadeira doença, pertencente ao estudo da
angústia. Tornou-se bem sistematizada a partir da volta dos "viet-vets", ou
veteranos da guerra do Vietnam. Esta doença ocorre com quadros agudos
de angústia, grave e até invalidante, quando a ex-vítima é exposta a
situações similares, tornando a desencadear todos os sintomas ansiosos
severos, que conheceram durante a violência a que estiveram submetidos:
são os "flash-backs", que revivenciam as situações traumatizantes.

Isto não é aplicado apenas a veteranos de guerra; vejam-se os crescentes


índices de violência urbana e as suas vítimas, que vivem quadros de
desespero permanente, quando não atendidos adequadamente em serviço
psiquiátrico de reconhecida competência na área. Bombas, acidentes
automobilísticos ou aéreos, desabamentos, assaltos com extrema violência,
sequestros prolongados, estupros, etc. são causas comuns do distúrbio de
estresse pós-traumático. O tratamento costuma ser demorado, mas tende a
um bom prognóstico.

Quais São as Bases Funcionais do Stress? Da Silva, um cirurgião


americano do século passado, foi o primeiro a perceber que soldados feridos
só caíam prostrados após alcançarem a meta: isto é, lutavam ainda sob
efeito de 'adrenalina'. O fisiologista Walter Cannon observou que as reações
alerta/luta e fuga em animais desencadeavam um maciço aumento das
catecolaminas urinárias (substâncias decorrentes do metabolismo da
adrenalina). O cientista que estudou pela primeira vez o estresse, Hans
Selye descreveu uma resposta fisiológica generalizada ao estresse,
caracterizada pela seguinte seqüência:

A percepção de um perigo eminente ou de um evento traumático é


realizado pela parte do cérebro denominado córtex; e interpretado por uma
enorme rede de neurônios que abrange grandes partes do encéfalo,
envolvendo, inclusive, os circuitos da memória;
Determinada a relevância do estímulo, o córtex aciona um circuito cerebral
subcortical, localizado na parte do cérebro denominada sistema límbico,
através das estruturas que controlam as emoções e as funções dos sistemas
viscerais (coração, vasos sanguíneos, pupilas, sistema gastrointestinal, etc.)
através do chamado sistema nervoso autônomo. Estas estruturas são a
amígdala e o hipotálamo, principalmente. A ativação dessas vias vai causar
alterações como dilatação pupilar, palidez, aceleração e aumento da força
das batidas cardíacas e da respiração, erecção dos pelos, sudorese,
paralisação do trânsito gastrointestinal, secreção da parte medular das
glândulas adrenais (adrenalina e noradrenalina), etc.; e que constituem os
sinais e sintomas da ativação tipo luta-ou-fuga descrevidos por Cannon;
Ao mesmo tempo, o hipotálamo comanda uma ativação da glândula
hipófise, situada na base do cérebro, com a qual tem estreitas relações. No
estresse, o principal hormônio liberado pela hipófise é o ACTH (o chamado
hormônio do estresse), que, carregado pelo sangue, vai até a parte cortical
(camada externa) das glândulas adrenais (situadas sobre os dois rins), e
provocando um aumento da secreção de hormônios corticosteróides. Estes
hormônios têm amplas ações sobre praticamente todos os tecidos do corpo,
alterando o seu metabolismo, a síntese de proteinas, a resistência
imunológica, as inflamações e infecções provocadas por agressões
externas, etc. O seu grau de ativação pode ser avaliado medindo-se a
quantidade de cortisol no sangue.

Essa descarga dupla de agentes hormonais de intensa ação orgânica: de um


lado a adrenalina, pela medula da adrenal, e de outro, os corticóides, pela
sua camada cortical, levaram os cientistas a caracterizar essas glândulas
como sendo o principal mediador do estresse.
Essas respostas são normais em qualquer situação de dano, perigo, doença,
etc. Assim, dizemos que existe um certo nível de estresse que é normal e
até importante para a defesa do organismo, ao qual denominamos de
eustress. O perigo para o organismo passa a ocorrer quando a ativação do
eixo hipotálamo-hipófise-adrenal se torna crônico e repetido. Nesse
momento, começam a surgir as alterações patológicas causadas pelo nivel
constantemente elevado desses hormônios. Assim, reconhece-se que o
estresse tem três fases, que se sucedem quando os agentes estressores
continuam de forma não interrompida em sua ação:

A fase aguda - Esta é a fase em que os estímulos estressores começam a


agir. Nosso cérebro e hormônios reagem rapidamente, e nós podemos
perceber os seus efeitos, mas somos geralmente incapazes de notar o
trabalho silencioso do estresse crônico nesta fase.

A fase de resistência - Se o estresse persiste, é nesta fase que começam


a aparecer as primeiras conseqüências mentais, emocionais e físicas do
estresse crônico. Perda de concentração mental, instabilidade emocional,
depressão, palpitações cardíacas, suores frios, dores musculares ou dores
de cabeça freqúentes são os sinais evidentes, mas muitas pessoas ainda
não conseguem relacioná-los ao estresse, e a síndrome pode prosseguir até
a sua fase final e mais perigosa:

A fase de exaustão - Esta é a fase em que o organismo capitula aos


efeitos do estresse, levando à instalação de doenças físicas ou psíquicas.

Problemas Causados pelo Stress - O estresse pode ser causador e/ou


agravador de uma série de doenças, que vão da asma, às doenças
dermatológicas, passando pelas alérgicas e imunológicas; todas elas
relacionadas de alguma forma à ativação excessiva e prolongada do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal.
Na área do sistema digestivo, é sabido por todos que o estresse pode
desencadear desde uma simples gastrite, até uma úlcera: o famoso
cirurgião Alípio Corrêa Neto, da USP e da Escola Paulista de Medicina (hoje
Universidade Federal de São Paulo), dizia que se alguém afirmasse, há 20
anos atrás, que a úlcera péptica era psicossomática (leia-se somatoforme),
ririam dele; hoje, se deixasse de dizê-lo, ririam dele.
Mas, é principalmente a nível de coração, ou mais precisamente, a nível das
coronárias, que o estresse pode ser um matador silencioso.
Uma ativação repetida e crônica do sistema nervoso autônomo, numa
pessoa que já tenha problemas de lesão da camada interna das arterias
coronárias (aterosclerose), provocadas por fumo, gordura excessiva na
alimentação, obesidade ou colesterol elevado, etc., vai levar a muitos
problemas, tais como: diminuição do fluxo sangüineo adequado para manter
a oxigenação dos tecidos musculares cardíacos (miocárdio). Isso leva à
chamada isquemia do miocárdio, que é acompanhada de dores no coração
(angina), principalmente quando se faz algum esforço, e até ao infarto do
coração (ataque cardíaco), provocado pela morte das células musculares do
coração, por falta de oxigênio. A adrenalina tem o poder de contrair esses
vasos, agravando o problema de quem já os tem com o diâmetro reduzido
pelas placas. O resultado para essas pessoas pode ser até a morte, que
muitas vezes acompanha um estresse agudo. Outros problemas comuns
são a ruptura da parede dos vasos enfraquecidos pela placa aterosclerótica,
ou a trombose (entupimento completo do vaso coronariano). Um pequeno
coágulo (trombo) pode desencadear uma cascata de coagulação, que
também pode levar à morte. O nível elevado de adrenalina também pode
provocar alterações irregulares do ritmo cardíaco, denominadas de arritmias
("batedeira"), que também diminuem o fluxo de sangue pelo sistema
cardiovascular.

Outros sintomas - No campo clínico (somático) os distúrbios ainda ditos


'neuro-vegetativos' são comuns: quadro de astenia (sensação de fraqueza e
fadiga), tensão muscular elevada com cãibras e formação de fibralgias
musculares (nódulos dolorosos nos músculos dos ombros e das costas, por
exemplo), tremores, sudorese (suor intenso), cefaléias tensionais (dores de
cabeça provocas pela tensão psíquica) e enxaqueca, lombalgias e
braquialgias (dores nas costas e nos ombros e braços), hipertensão arterial,
palpitações e batedeiras, dores pré-cordiais, colopatias (distúrbios da
absorção e da contração do intestino grosso) e até dores urinárias sem
sinais de infecção. O laboratório clínico fornece outros detalhes indicativos
da intensa ativação patológica no estresse: aumento da concentração do
sangue e do conteúdo de plaquetas (células responsáveis pela coagulação
sangüínea), alteração do nível de cortisol, alterações de catecolaminas
urinárias e alterações de hormônios hipofisários e sexuais, além dos
aumentos de glicemia (açucar no sangue) e colesterol, este por conta do
LDL, ou o 'mau colesterol'.

Sintomas psíquicos - Nas ocasiões estressantes, e mesmo fora delas,


manifesta-se uma gama de reações de ordem psicológica e psiquiátrica. Ou,
pelo menos temporárias, perturbações de comportamento ou exacerbação
de problemas sociopáticos. Os problemas ansiosos com a sintomatologia
clínica, além de irritabilidade, fraqueza, nervosismo, medos, ruminação de
idéias, exacerbação de atos falhos e obsessivos, além de rituais
compulsivos, aumentam sensivelmente. A angústia é comum e as
exacerbações de sensibilidade com provocações e discussões são mais
freqüentes. Do ponto de vista depressivo, a queda ou o aumento do apetite,
as alterações de sono, a irritabilidade, a apatia e adinamia, o torpor afetivo
e a perda de interesse e desempenhos sexuais são comumente
encontrados. Existem também as "fugas", que todos conhecemos. Quando
não se apela para a auto-medicação com ansiolíticos (um perigo!), a pessoa
refugia-se na bebida e mesmo no consumo de drogas ilícitas de uso e
abuso, além de aumentar a quantidade de cigarros fumados, quando for
fumante. São estas as condições da derrocada à qual o estresse leva a
pessoa, principalmente quando esta tiver uma personalidade hiperativa.

Como Diminuir o Stress ? - Em um excelente artigo sobre estresse,


principalmente no trabalho (e a maior parte de nós trabalha), o psiquiatra
Cyro Masci sugere medidas profiláticas iniciais, secundárias e terciárias.
Mas, em resumo, quando possível, devemos parar para pensar; para nos
darmos a liberdade de termos um tempo para refletir sobre cada um de nós
e seus esquemas pessoais, familiares, sociais, de trabalho, de estudos e até
econômico-financeiros. Devemos reformular a vida, procurando reduzir as
áreas geradoras de estresse. Um bom psiquiatra pode nos ajudar nesta
tarefa. Muitas vezes haverá a necessidade de uso concomitante de um
tratamento medicamentoso, geralmente através dos modernos
antidepressivos serotoninérgicos (ISRS) com ou sem ansiolíticos e/ou beta-
bloqueadores por um tempo definido: começo, meio e fim.
Quando já existe um quadro orgânico instalado, desde uma simples gastrite
a asma ou alteração cardiorrespiratória, a busca de atendimento clínico é
fundamental. A correção da alteração clínica é imprescindível. E esta pode ir
de um simples a complexo tratamento ou resumir-se somente às
necessárias mudanças do modo de viver, incluindo lazer ou uma pequena
prática esportiva constante (porque não uma caminhada diária?, que faz
bem a qualquer um de nós). Mas, a principal atitude ainda é um alerta ao
modo de viver e de trabalhar com as vivências e com as emoções que a
vida nos proporciona. E aí está verdadeira e milenar sabedoria. (Fonte)

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Síndrome do Pânico

O que é Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico? - Síndrome do


Pânico não é uma doença do cérebro causada por algum "defeito da
Serotonina". Quase ninguém precisa medicação "para o resto da vida".
Transtorno do Pânico cura sim, porque ele quase sempre é uma reação do
seu organismo uma situação estressante cuja saída envolve decisões
importantes, perdas afetivas, financeiras, mudanças de estilo de vida, etc.
Por isso recomendamos algumas medidas além da medicação. Entre elas
uma forma de psicoterapia, ou Yoga ou Meditação, dependendo do caso.

1) Sintomas da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico: Os sintomas


físicos mais comuns são taquicardia, sudorese, sensação de falta de ar (não
se preocupe porque ninguém jamais morreu sufocado por causa de Pânico),
tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensação de
que o ambiente está estranho, que a pessoa "não está lá" (isso se chama
desrealização e não tem nada a ver com loucura, não se preocupe), de que
vai desmaiar, de que vai ter um infarto, de uma pressão na cabeça, de que
vai "ficar louco", de que vai engasgar com alimentos, assim como crises
noturnas de acordar sobressaltado com o coração disparando e com
sudorese intensa.
Alguns pacientes referem diarréias intensas em determinadas situações.
Outros tem todos os sintomas de uma Labirintite. Outros passam a ter
pensamentos que não saem da cabeça de que poderiam ter doenças graves
mesmo que todos os exames sejam normais, ou de que poderiam fazer mal
a si mesmo ou a outras pessoas. Podem ocorrer pensamentos que a pessoa
sabe que não fazem sentido, mas não consegue tirar da cabeça, por
exemplo se atirar de uma janela, machucar alguém ou ela mesma com uma
faca. Tecnicamente falando, pensamentos obsessivos, fazem do quadro
clínico e desaparecem com o tratamento do pânico.

Um medo muito comum é o de "voltar a sentir medo". Muitas vezes o


simples pensamento de entrar num avião ou passar ao lado de um abismo
já desencadeiam a crise. Algumas pessoas vão a um cinema, teatro ou
restaurante e procuram sentar-se perto da saída, outras não trancam a
porta quando vão ao banheiro, sempre para sair facilmente caso venham a
passar mal.
É comum a pessoa ter passado por cardiologistas, clínicos, hospitais,
laboratórios, etc., com todos os exames normais, a não ser, com certa
freqüência, um Prolapso de Válvula Mitral, que os cardiologistas não
consideram patológico. Muitas vezes as primeiras crises aparecem
subitamente em situações normais e habituais. É claro que a maioria das
pessoas não tem todos os sintomas acima.
Uma forma mais específica da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico
se chama Fobia Social e se caracteriza por crises de ansiedade em situações
como por exemplo reuniões, apresentações, discussões com superiores,
assinar algum documento, cheques ou mesmo levantar uma xícara de café
em público. Algumas vezes os sintomas aparecem após uma experiência
traumática na qual a pessoa se sentiu indefesa ou humilhada ou sem
possibilidade de reação, por exemplo assalto, seqüestro, acidentes. Essa
forma mais específica de distúrbio de ansiedade se chama Distúrbio de
Stress Pós Traumático.

2) Desenvolvimento de fobias: Após ter tido muitas crises, a pessoa pode


não sentir mais os sintomas físicos mas continua com medos que ela
mesmo percebe que não são lógicos, como por exemplo de dirigir
(principalmente em congestionamentos, túneis ou estradas), de pegar
ônibus, metrô, avião, de participar de reuniões, de viajar, de ficar sozinha ou
de sair sozinha de casa, ou de escuridão, de ficar em lugares com muita
gente como Shopping, cinema, restaurantes, filas, elevadores, ou então de
lugares muito abertos e vazios. Às vezes aparece até mesmo medo de
dormir, quando a pessoa teve crises noturnas, ou de se alimentar, quando
teve sensações de engasgar.

3) Causas: Psicológicas (são as mais comuns): reação a um Stress ou a uma


situação difícil cuja solução é igualmente difícil. Essa situação difícil pode
ser profissional, afetiva, financeira, de saúde, etc. Físicas: alterações no
organismo provocadas, por medicamentos, doenças físicas, por abuso de
álcool em drogas. Genética familiar de Pânico, Depressão, DOC, TAG, PTSD,
DDA, etc. Atenção: predisposição genética não quer dizer hereditariedade.
Ou seja, Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico não passa de pai para
filho, não se preocupe. O mais comum é uma combinação de várias causas.
Sofrer de Pânico não tem nada a ver com personalidade forte ou fraca, com
a pessoa ser ou não corajosa.

4) O tratamento da Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico envolve:


Acabar com os sintomas físicos, que costumam passar rapidamente com
medicamentos. Tratar a Ansiedade Antecipatória, as Fobias e o
comportamento de evitação. Nesta fase o tratamento mais eficaz é a
combinação de medicação com Psicoterapia, principalmente a Cognitivo
Comportamental.

5) Para a família: Geralmente a família sofre porque não consegue ajudar e


sobrecarrega o paciente porque vê a pessoa passar por cardiologistas,
clínicos, neurologistas, gastroenterologistas, otorrinolaringologistas, etc.,
fazer exames, tomar calmantes, estimulantes e vitaminas sem melhora.
Então começa a dizer que é fita, "frescura", falta de força de vontade, de
coragem, e começa a dar palpites para você "se ajudar" "se animar"
"reagir" e etc., como se você não soubesse de tudo isso.

6) Observações: Existem alguns casos em que o primeiro remédio não


produz resultado. Isso não quer dizer caso grave e nem incurável. Na
maioria das vezes basta trocar a medicação. Mesmo que você já esteja se
sentindo bem, não interrompa a medicação. Interromper a medicação antes
da hora significa quase sempre uma recaída. A Síndrome do Pânico ou
Transtorno do Pânico é benigna e curável, quase todos os sintomas
desaparecem nas primeira horas de tratamento, porem ela é muito
"teimosa" e o tratamento de manutenção é longo. Evidentemente que sem
sintomas, mas com a manutenção da medicação. A Síndrome do Pânico ou
Transtorno do Pânico pode reaparecer sim, mesmo que os problemas
tenham acabado. Durante o Transtorno do Pânico ou Síndrome do Pânico a
pessoa pode passar por fases de depressão. Isso não quer dizer que você
sofra de duas doenças. Algumas pessoas com Síndrome do Pânico ou
Transtorno do Pânico tem receio de fazer ginástica. Pelo contrário, um bom
condicionamento físico é sempre importante, ainda mais para quem está
sujeito a ter crises de taquicardia. Além disso, ginástica libera Endorfinas,
que são nossos Antidepressivos naturais e aumentam nosso bem estar.
Yoga, meditação, massagem de relaxamento: sempre ajudam e muito,
principalmente as duas primeiras. Diminuir álcool e cafeína (café, chá preto,
chá mate, refrigerantes) sempre ajuda. (Fonte)

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Síndrome do Pânico: É um ataque repentino de pânico, ou seja, de
repente sente-se algumas alterações no corpo, que causam desconforto e
medo de morrer de um ataque cardíaco, derrame ou coisa parecida. Neste
momento, a pessoa se desconecta do mundo e passa a perceber somente
as reações do seu corpo. Uma vez em pânico ela vai sentir sensações
sufocantes como dor no peito, falta de ar, formigamento nas mãos e passa
a acreditar que esta tendo um treco, são sensações horríveis e reais. É
muito comum a pessoa sair abruptamente do local e procurar ajuda num
pronto socorro. O estresse é um dos principais causadores da síndrome do
pânico, sendo responsável por 80% dos crises de pânico. As drogas
representam outro enorme fator de risco. Desde os “energéticos”, na
realidade estimulantes do sistema nervoso, até, evidentemente, as drogas
ilícitas.

A síndrome do pânico acomete, principalmente, mulheres (na proporção de


2:1 em relação aos homens) no final da adolescência e início da juventude,
mas pode ocorrer em qualquer idade. A partir da primeira crise síndrome do
pânico é comum o medo e a ansiedade antecipatória de ter outra parecida.
A pessoa passa a ter medo de sentir medo e começa a restringir alguns
locais ou situações que possam colocá-lo novamente em pânico, é o que
chamamos de fobia. Além desta ansiedade e de várias fobias, o portador
também se preocupa em evitar lugares cheios demais, ou muito fechados
que não dá para fugir se precisar de ajuda imediata, agorafobia. Muitas
vezes o portador de pânico pode ser visto como uma pessoa medrosa, fraca
e às vezes as pessoas não têm muita paciência, principalmente se já foram
feitos vários exames e nada foi detectado.

SINTOMAS DA SÍNDROME DO PÂNICO: A pessoa está numa situação de


tranqüilidade. Em casa, vendo TV, lendo ou conversando com amigos.De
repente “aquilo” VEM! Uma sensação horrível de terror, vindo
aparentemente do nada, toma conta dela. O coração dispara, há sensação
de sufocação, tontura, tremores, as pernas ficam bambas e ele acha que vai
morrer, ter um ataque cardíaco, ficar louca ou perder o controle. Essa
sensação terrível, das mais angustiantes narradas pelo ser humano, dura
cerca dez minutos entre o inicio e o final. É o chamado ataque de pânico. Se
esta pessoa apresentar um único ataque seguido de medo de ter outro ou
se os ataques se repetirem ela desenvolve o Transtorno de Pânico.
Os principais sintomas da síndrome do pânico são: taquicardia, sudorese,
falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, ondas de calor e frio, tontura,
sensação que vai desmaiar, ter um enfarto, derrame, pressão na cabeça,
sensação que o ambiente é estranho (perigoso), perigo de morte, medo de
sair de casa, medo de fazer as coisas mais simples como viajar, dirigir, ir a
lugares com muita gente, cinema, feiras e etc.

CAUSAS DA SÍNDROME DO PÂNICO: O estresse é um dos principais


causadores da síndrome do pânico, sendo responsável por 80% dos crises
de pânico. As drogas representam outro enorme fator de risco. Desde os
“energéticos”, na realidade estimulantes do sistema nervoso, até,
evidentemente, as drogas ilícitas.

- Abuso de medicamentos, doenças físicas, drogas ou álcool.


- Reação a um stress ou situação difícil.
- Predisposição genética
TRATAMENTO DA SÍNDROME DO PÂNICO: Sem tratamento adequado, a
síndrome do pânico é altamente incapacitante. No tratamento da síndrome
do pânico, são utilizados medicamentos para a crise de pânico,
habitualmente antidepressivos, acompanhado de Psicoterapia
Comportamental e Cognitiva. Para as seqüelas da síndrome do pânico, nos
medos decorrentes, a medicação não atua. O tratamento de escolha da
síndrome do pânico é a psicoterapia comportamental e cognitiva. O mesmo
se aplica ao trabalho necessário para reconduzir o paciente à sua vida
normal.

Quais são as chances de recuperação no tratamento da síndrome


do pânico ? - Apesar da gravidade dos sintomas, a síndrome do pânico
mostra bom prognóstico ao tratamento: cerca de 70 a 90% de recuperação.
Mas o INMH (Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA) adverte que
apenas um terço das pessoas que tem síndrome do pânico recebem
tratamento adequado. Desse modo, percebe-se a necessidade de se
procurar auxilio de um psicólogo quando o individuo se vê acometido pela
síndrome do pânico. A psicoterapia ajuda a trabalhar a ansiedade, as fobias
e mudar a atitude perante a doença. O entrosamento e a vontade de se
curar do paciente é fundamental para o tratamento da síndrome do pânico.
Pode ser necessário também iniciar um tratamento psiquiátrico, com
antidepressivos e ou ansiolíticos, para acabar com os efeitos físicos,
provocados pelo desequilíbrio bioquímico. (Fonte)

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MEDO

MEDO - O que é? - O medo é um sentimento que proporciona um estado


de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se
sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente. Pavor é a
ênfase do medo. O medo pode provocar reações físicas como descarga de
adrenalina, aceleração cardíaca e tremor. Pode provocar atenção exagerada
a tudo que ocorre ao redor, depressão, pânico etc.
Medo é uma reação obtida a partir do contato com algum estímulo físico ou
mental (interpretação, imaginação, crença) que gera uma resposta de alerta
no organismo. Esta reação inicial dispara uma resposta fisiológica no
organismo que libera hormônios do estresse (adrenalina, cortisol)
preparando o indivíduo para lutar ou fugir. A resposta anterior ao medo é
conhecida por ansiedade. Na ansiedade o indivíduo teme antecipadamente
o encontro com a situação ou objeto que lhe causa medo. Sendo assim, é
possível se traçar uma escala de graus de medo, no qual, o máximo seria o
pavor e, o mínimo, uma leve ansiedade. O medo pode se transformar em
uma doença (a Fobia) quando passa a comprometer as relações sociais e a
causar sofrimento psíquico. A técnica mais utilizada pelos psicólogos para
tratar o medo se chama Dessensibilização Sistemática. Com ela se constrói
uma escala de medo, da leve ansiedade até o pavor, e, progressivamente, o
paciente vai sendo encorajado a enfrentar o medo. Ao fazer isso o paciente
passa, gradativamente, por um processo de reestruturação cognitiva em
que ocorre uma re-aprendizagem, ou ressignificação, da reação que
anteriormente gerava a resposta de alerta no organismo para uma reação
mais equilibrada. (Fonte)
MEDO:
Está escuro e você está sozinho em casa. Com exceção do programa que
você está assistindo na TV, o silêncio é total. Então, você ouve a porta da
frente repentinamente batendo. Sua respiração acelera. Seu coração
dispara. Seus músculos enrijecem. Um segundo depois, você percebe que
não tem ninguém tentando entrar em sua casa. Era apenas o vento. Mas,
por meio segundo, você sentiu tanto medo que reagiu como se sua vida
estivesse em perigo. O que causa essa reação tão intensa? O que é o medo
exatamente? Neste artigo, vamos examinar as propriedades físicas e
psicológicas do medo, descobrir o que causa uma reação de medo e ver
algumas maneiras de derrotá-lo.

O que é o medo? O medo é uma reação em cadeia no cérebro que tem


início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos
químicos que causam aumento da freqüência cardíaca, aceleração na
respiração e energização dos músculos. O estímulo pode ser uma aranha,
um auditório cheio de pessoas esperando que você fale ou a batida
repentina da porta de sua casa.

Medo de dirigir: - Estima-se que o pânico ao volante afeta cerca de


metade dos habilitados a guiar, de acordo com pesquisa nacional. Confira
dicas para superar o problema. O cérebro é um órgão extremamente
complexo. Mais de 100 bilhões de células nervosas compõem uma
intrincada de rede de comunicações que é o ponto de largada para tudo o
que sentimos, pensamos ou fazemos. Algumas dessas comunicações levam
ao pensamento e à ação consciente, ao passo que outras produzem
respostas autônomas. A resposta ao medo é quase inteiramente autônoma:
não a disparamos conscientemente. Como as células do cérebro estão
constantemente transferindo informações e iniciando respostas, há dúzias
de áreas do cérebro envolvidas no sentimento de medo. Mas pesquisas
mostram que determinadas partes desempenham papéis centrais nesse
processo:

Tálamo - decide para onde enviar os dados sensoriais recebidos (dos olhos,
dos ouvidos, da boca e da pele).
Córtex sensorial - interpreta os dados sensoriais.
Hipocampo - armazena e busca memórias conscientes, além de processar
conjuntos de estímulos para estabelecer um contexto.
Amígdala (Tonsila cerebelar) - decodifica emoções, determina possíveis
ameaças e armazena memórias do medo.
Hipotálamo - ativa a reação de "luta ou fuga".

O processo de criação do medo começa com um estímulo assustador e


termina com a reação de luta ou fuga. Mas há pelo menos dois caminhos
entre o início e o final do processo.

Criando medo - O processo de criação do medo acontece no cérebro e é


totalmente inconsciente. Há dois caminhos envolvidos na reação de medo: o
caminho baixo é rápido e desordenado, ao passo que o caminho alto leva
mais tempo e entrega uma interpretação mais precisa dos eventos. Ambos
os processos acontecem simultaneamente. A idéia por trás do caminho
baixo é "não arrisque". Se a porta da frente de sua casa repentinamente
bate, pode ser o vento, mas também pode ser um ladrão tentando entrar. É
muito menos perigoso presumir que se trata de um ladrão e descobrir que
era só o vento do que presumir que é o vento e aparecer um ladrão em sua
frente. O caminho baixo é do tipo que atira primeiro e pergunta depois. O
processo desse caminho é mais ou menos assim: A porta batendo é o
estímulo. Quando você ouve o som e vê o movimento, seu cérebro envia
esses dados sensoriais para o tálamo. Nesse ponto, o tálamo não sabe se os
sinais que está recebendo são sinais de perigo ou não. Mas, pelo fato de
poder ser, ele encaminha a informação para a amígdala. A amígdala, por
sua vez, recebe os impulsos neurais e age para proteger você: ela diz ao
hipotálamo para iniciar a reação de luta ou fuga. O caminho alto é muito
mais ponderado. Ele reflete sobre todas as opções. Será um ladrão ou será
que é o vento? Esse é um processo mais longo. Quando seus olhos e
ouvidos captam o som e o movimento da porta, eles desviam essa
informação para o tálamo, que, por sua vez, envia a informação para o
córtex sensorial, no qual é interpretada em busca de um significado. O
córtex sensorial determina que há mais de uma interpretação possível para
os dados e os envia ao hipocampo para que ele estabeleça um contexto. O
hipocampo faz perguntas como: "Eu já vi este estímulo específico antes? Se
vi, o que significou naquela vez? O que mais está acontecendo que pode me
indicar se isso é um ladrão ou efeito de um vento forte"? O hipocampo pode
captar outros dados sendo enviados pelo caminho alto, como o bater de
galhos contra a janela, ruídos externos, etc. E, levando em consideração
essas outras informações, ele determina que a batida da porta
provavelmente foi resultado do vento. Depois, envia uma mensagem para a
amígdala dizendo que não há perigo e a amígdala informa ao hipotálamo
para desligar a reação de luta ou fuga.
Os dados sensoriais a respeito da porta (os estímulos) seguem os dois
caminhos ao mesmo tempo. Mas o caminho alto leva mais tempo do que o
caminho baixo. É por isso que você tem um ou dois momentos de medo
antes de se acalmar. Tanto o caminho alto quanto o caminho baixo levam
ao hipotálamo. Essa parte do cérebro controla a reação de sobrevivência
chamada de reação de luta ou fuga.

Luta ou fuga - Para produzir a reação de luta ou fuga, o hipotálamo ativa


dois sistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema adrenocortical. O
primeiro usa vias nervosas para iniciar reações no corpo, ao passo que o
segundo usa a corrente sangüínea. Os efeitos combinados dos dois sistemas
são a reação de luta ou fuga. Quando o hipotálamo informa ao sistema
nervoso simpático que é hora de entrar em ação, o efeito geral é que o
corpo acelera, fica tenso e mais alerta. Se houver um ladrão à porta, você
vai ter de fazer algo, e rápido. O sistema nervoso simpático envia impulsos
para as glândulas e músculos lisos e diz à medula adrenal para liberar
adrenalina e noradrenalina na corrente sangüínea. Esses "hormônios do
estresse" efetuam várias mudanças no corpo, incluindo um aumento na
freqüência cardíaca e na pressão sangüínea. Ao mesmo tempo, o
hipotálamo livra o fator de liberação de corticotropina (CRF) na glândula
pituitária, ativando o sistema adrenocortical. A glândula pituitária (uma das
principais glândulas endócrinas - em inglês) secreta o hormônio ACTH
(hormônio adrenocorticotrópico), que se move pela corrente sangüínea e
finalmente chega ao córtex adrenal, no qual ativa a liberação de
aproximadamente trinta hormônios diferentes para preparar o corpo para
lidar com uma ameaça. A vazão repentina de adrenalina, noradrenalina e
vários outros hormônios causa mudanças no corpo: aumento da pressão
arterial e freqüência cardíaca; as pupilas dilatam para receber a maior
quantidade possível de luz; as artérias da pele se contraem para enviar uma
quantidade de sangue mais significativa aos grupos musculares maiores
(reação responsável pelo "calafrio" muitas vezes associado com o medo - há
menos sangue na pele para mantê-lo aquecido); o nível de glicose
sangüínea diminui; os músculos enrijecem, energizados por adrenalina e
glicose (reação responsável pelos arrepios - quando pequenos músculos
conectados a cada pêlo da superfície da pele tensionam, os fios são
forçados para cima, puxando a pele com eles); a musculatura lisa relaxa
para permitir que entre uma maior quantidade de oxigênio nos pulmões;
sistemas não essenciais (como o digestivo e o imunológico) são desligados
para guardar a energia para as funções de emergência; há dificuldade para
se concentrar em tarefas pequenas (o cérebro deve se concentrar em
somente uma coisa para determinar de onde vem a ameaça). Todas essas
reações físicas têm a intenção de lhe ajudar a sobreviver a uma situação
perigosa. O medo (e a reação de luta ou fuga em particular) é um instinto
que todo animal possui. (Fonte)

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A RAIVA

A RAIVA: Não erraria totalmente se dissesse que vivemos a Era da raiva.


Tentando verificar a aprovação social das manifestações da raiva, quatro
estudos examinaram a consideração social que o sistema atribui para as
pessoas “raivosas”. Esses estudos mostram que o povo atribui mais status
às pessoas que expressam raiva do que às pessoas que expressam tristeza
ou mágoa.

A RAIVA E O CORAÇÃO: A raiva de fato mata ou, pelo menos, aumenta


significativamente os riscos de ter algum problema sério de saúde, onde se
inclui desde uma simples crise alérgica, uma grave úlcera digestiva, até um
fulminante ataque cardíaco.
Janice Williams (médica) acompanhou por seis anos 13.000 homens e
mulheres com idade entre 45 e 64 anos e, tomando o comportamento como
base, descobriu que as pessoas que se irritam intensamente, e com
freqüência, têm três vezes mais probabilidades de sofrer um infarto do que
aquelas que encaram as adversidades com mais serenidade. Isso ocorre
porque, a cada episódio de raiva, o organismo libera uma carga extra de
adrenalina no sangue (veja o que acontece nas suprarenais durante o
estresse). O aumento da concentração de adrenalina aumenta o número de
batimentos cardíacos e, simultaneamente, torna mais estreitos os vasos
sanguíneos, o que aumenta a pressão arterial. A repetição desses episódios
pode gerar dois problemas em geral associados ao infarto; alteração do
ritmo cardíaco (arritmia), aumento da pressão arterial e uma súbita
dilatação das placas de gordura que, porventura, estejam nas artérias. A
medicina tem enfatizado exaustivamente as condições de vida e de
personalidade que favorecem a doença cardíaca; quem fuma, como se
sabe, tem até cinco vezes mais possibilidades de sofrer um ataque cardíaco,
pessoas de vida sedentária apresentam risco 50% maior de ter problemas
de coração, obesidade, idem. Agora, depois de muitos estudos sabe-se que
a influência da raiva no desenvolvimento de doenças cardíacas é
comparável a essas causas anteriormente conhecidas, e mais,
independentemente delas (Williams, 2000). Isso quer dizer que, se a pessoa
não tiver nenhuma dessas condições relacionadas ao desenvolvimento de
doenças cardíacas mas for raivosa, estará igualmente sujeito à elas.
A ansiedade e a raiva são perigosas à saúde. Um recente artigo de Suinn
oferece uma revisão seletiva da pesquisa nessa área e ilustra como a
ansiedade e a raiva aumentam a vulnerabilidade às doenças, comprometem
o sistema imune, aumentam níveis de gordura no sangue, exacerbam a dor,
e aumentam o risco da morte por doença cardiovascular. Os mecanismos
possíveis para tais efeitos foram identificados por , incluindo o papel da
resposta cardiovascular a essas emoções no agravamento da saúde (Suinn,
2001).
Assim sendo, as pessoas cuja personalidade se classifica como Pavio Curto,
está provado, têm muito mais chances de sofrer do coração. Parar de
fumar, fazer exercícios regularmente e ter uma alimentação saudável já é
difícil, hoje em dia, dominar a raiva, é mais difícil ainda. Mas é possível,
graças à Deus.

Não se pode tentar estabelecer alguma relação entre raiva e agente


estressor desencadeante da raiva. Essa questão varia de pessoa para
pessoa e depende, basicamente, da valoração que a pessoa dá aos objetos
do mundo à sua volta e dos traços de sua personalidade. Mas há um estudo
que procurou relacionar os efeitos estressores do preconceito racial no
sistema cardiocirculatório. Nessa pesquisa, a hostilidade e raiva elevadas
foram associadas com os níveis mais elevados da pressão arterial. E mesmo
a exposição indireta ao conflito racial (filmes) determina uma reação
hipertensiva em pessoas previamente sujeitas ao sentimento da raiva.

A raiva como Forma de Violência: Seus sinônimos são: ira, fúria, furor,
zanga. As idéias polêmicas e controvertidas de que reprimir a raiva faz mal
a saúde, traz outras conseqüências psíquicas e orgânicas ou coisas do
gênero, tem gerado um sem número de compressões errôneas. A raiva
pode ser entendida como uma sensação de frustração que sentimos,
quando esboçamos um desejo e ele não acontece. Então surge a frustração
com vontade de revidar, que é a raiva. A raiva, que é a geradora de
impulsos violentos contra os que nos ofendem, ferem ou invadem a nossa
dignidade é a responsável por um sem número de atos de violência,
incluindo a autoviolência, contra nossa própria saúde.

A Raiva e Risco de Suicídio: Sendo a raiva, teoricamente, estimulada por


agentes externos (raiva de alguém, de alguma coisa...), e preocupada em
saber se esses agentes externos poderiam ser responsáveis por suicídio, a
psiquiatria tem pesquisado junto à pessoa portadora de Transtorno por
Estresse Pós-traumático, (Veja em PsiqWeb) os fatores mais agravantes.
Algumas pesquisas mostram que a pessoa portadora de Transtorno por
Estresse Pós-traumático apresenta mais risco de suicídio, de acordo com
sentimentos de raiva e com traços de impulsividade na personalidade, do
que aquela mais serena e também portadora de Transtorno por Estresse
Pós-traumático (Kotler, 2001)

A Raiva e Problemas de Relacionamento e Adaptação Social: A


violência e agressividade no ambiente de trabalho são freqüentes
problemas do cotidiano. Há estudos sobre a predisposição para o sarcasmo
e para a raiva no ambiente do trabalho e determinados traços da
personalidade (Calabrese, 2000). Concluiu-se que existem muitas variáveis
para a exarcebação da raiva no ambiente de trabalho. Entre essas variáveis
se incluem as influências da cultura, pessoal e do sistema, o próprio
ambiente de trabalho, se hostil ou não, os mecanismos psicológicos
pessoais de defesa, as atitudes da liderança, o estresse vigente e,
finalmente, das diferenças da personalidade.
Outra investigação avaliou se as pessoas que haviam perpetrado algum tipo
de violência, poderiam ser diferenciadas de pessoas não violentas através
de medidas da raiva e da distorção cognitiva. Vê-se, como já se suspeita
pelo bom senso, que as pessoas violentas tiveram níveis bem mais elevados
de raiva dirigida ao exterior do que os participantes não violentos. Quando
algum teste mostrava não haver diferença entre níveis da raiva entre os
participantes violentos e não violentos, além do ato agressivo, os resultados
sugeriam que os indivíduos mais violentos têm dificuldade em controlar
sentimentos de irritabilidade e, por isso, muito mais facilidade em expressar
a raiva. Nenhuma diferença significativa surgou com relação à racionalidade
e intelectualidade dos dois grupos (Dye, 2000).

RAIVA E ÓDIO: O Ódio é mais profundo que a raiva. Enquanto a raiva seria
predominantemente uma emoção, o Ódio seria, predominantemente, um
sentimento. Paradoxalmente podemos dizer que o ódio é um afeto tão
primitivo quanto o amor. Tanto quanto o amor, o ódio nasce de
representações e desejos conscientes e inconscientes, os quais refletem
mais ou menos o narcisismo fisiológico que nos faz pensar sermos muito
especiais. Assim como o amor, só odiamos aquilo que nos for muito
importante. Não há necessidade de ser-nos muito importantes as coisas
pelas quais experimentamos raiva, entretanto, para odiar é preciso valorizar
o objeto odiado.
Em termos práticos podemos dizer que a raiva, como uma emoção, não
implica em mágoa, mas em estresse, e o ódio, como sentimento, implica
numa mágoa crônica, numa angústia e frustração. Nenhum dos dois é bom
para a saúde; enquanto a raiva, através de seu aspecto agudo e estressante
proporciona uma revolução orgânica bastante importante, às vezes
suficientemente importante para causar um transtorno físico agudo, do tipo
infarte ou derrame (AVC), o ódio consome o equilíbrio interno cronicamente,
mais compatível com o câncer, com arteriosclerose, com a diabetes,
hipertensão crônica.

O ÓDIO: A força do ódio é muito grande. Grandes grupamentos humanos


podem se irmanarem através do ódio (à um inimigo comum) ou se
destruírem (numa relação do tipo perseguido-perseguidor). De qualquer
forma, o ódio tem uma predileção especial para se nutrir das diferenças
entre o outro e o eu e, de acordo com observações clínicas, onde se cruza
com o ódio há, inelutavelmente, um excesso de sofrimento físico e psíquico.
O sofrimento e o ódio são tão próximos e íntimos que cada um acaba se
tornando a causa do outro. (Ballone GJ - raiva e Ódio, emoções negativas -
in. PsiqWeb, Internet, disponível em
http://gballone.sites.uol.com.br/lidando/raiva.html

Ódio é um termo que se origina do latim odiu, que é a paixão que impele a
causar ou desejar mal a alguém; execração, rancor, raiva, ira: aversão a
pessoa, atitude, coisa, etc.; repugnância, antipatia, desprezo, repulsão
rancor profundo e duradouro que se sente por alguém; aversão ou
repugnância, antipatia, etc. . O ódio pode estar voltado a inúmeros fatores
como por exemplo aos desonestos, à violência, aos pobres, ricos, etc. . É um
sentimento que abala relacionamentos, e cria vínculos a serem reparados,
sendo encontrado, em suas várias modalidades de manifestação e em seus
variados graus de intensidade.

O ódio solapa o ser humano considerado verdadeiro flagelo psicológico.


Com muita propriedade a filosofia chinesa assevera: "sentir ódio é como
beber água salgada, aumenta mais a sede". (Fonte:
http://www.psicologia.org.br/internacional/ap21.htm )

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Terror Noturno

Terror Noturno: Pesadelos são parte da natureza humana, entretanto,


existe um tipo raro de fenômeno ameaçador durante o sono que não é
exatamente como um pesadelo. Ele é chamado de "terror noturno"ou
"Pavor Nocturnus" e é um severo distúrbio do sono, consistindo de ataques
de terror agudo emergindo do sono profundo sem sonhos. É acompanhado
por violentos movimentos corporais, agitação extrema, gritos, gemidos,
falta de ar, suor, confusão, e em alguns casos, fuga da cama ou do quarto,
comportamento destrutivo e agressão dirigida a objetos ou contra eles
mesmos ou outras pessoas. Feridas, fraturas e lesões podem ocorrer em
consequência.
O terror noturno ocorre durante a fase do sono não-REM, geralmente dentro
de uma hora após o sujeito ir para a cama. Um episódio pode acontecer em
qualquer lugar e durar de cinco a vinte minutos enquanto o sujeito ainda
está sonolento. Os olhos podem se abrir. O paciente geralmente é incapaz
de se lembrar de qualquer coisa após o acontecido.

Terror noturno pode coincidir com sonambulismo, em cujo caso andar e


correr ocorre em conjunção com gritos, saltos e agitação violenta.
Durante o ataque de terror noturno, existe uma superativação do sistema
nervoso autônomo simpático, incluindo dilatação das pupilas, sudorese,
aumento nas taxas respiratórias e cardíaca, e aumento na pressão arterial.
A taxa do coração (taquicardia) pode aumentar até 160 a 170 batimentos
por minuto (o normal geralmente é de 60 a 100 no adulto), os quais são
maiores que aqueles ocorrendo durante os episódios de estresse mais
severos.

Diagnóstico:
Os seguintes os critérios são usados para diagnosticar o distúrbio do terror
noturno: Episódios repetitivos de despertar abrupto do sono, geralmente
durante o primeiro terço de hora de sono, começando com um grito de
pânico; Medo intenso e sinais de excitação autonômica; Não-responsividade
relativa aos esforços para confortar a pessoa durante o episódio; O paciente
lembra-se de um sonho não-detalhado e existe uma amnésia
(esquecimento) do episódio; O episódio causa sofrimento ou prejuízo na
vida social, trabalho ou outras áreas importantes da vida; O distúrbio não é
devido aos efeitos diretos de uma droga de abuso ou medicação, ou
condição médica geral.

As Causas do Terror Noturno: As causas do terror noturno ainda são


desconhecidas, mas é acreditado ser fisiológico e não psicológico.
Ansiedade extrema, estresse e conflitos, conscientes ou subconscientes são
fatores facilitadores. Em crianças, a precipitação de eventos traumáticos,
febre e distúrbio emocional pode exibir um papel. Algumas teorias
biológicas do terror noturno apontam para uma imaturidade do sistema
nervoso como possível causa, mas ela não foi comprovada. Adultos podem
experimentar episódios semanalmente, e algumas vezes, várias vezes na
semana. O distúrbio pode levar anos para desaparecer e o tratamento é
mais difícil. (Fonte)

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Deficiência física congênita e Saúde Mental


Paula Costa Mosca Macedo *
Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo

Introdução:
As chamadas Deficiências Físicas Congênitas definem-se como qualquer
perda ou anormalidade de estrutura ou função fisiológica ou anatômica,
desde o nascimento, decorrente de causas variadas, como por exemplo:
prematuridade, anóxia perinatal, desnutrição materna, rubéola,
toxoplasmose, trauma de parto, exposição à radiação, uso de drogas,
causas metabólicas e outras desconhecidas.
Esta deficiência pode ser uma alteração completa ou parcial de um ou mais
segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função
física, podendo apresentar-se sob as formas de: paraplegia, paraparesia,
monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia
cerebral e membros com malformação.

Abaixo segue uma breve definição de cada uma destas várias formas de
deficiência:
- Paraplegia: paralisia total ou parcial da metade inferior do corpo,
comprometendo as funções das pernas.
- Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores.
- Monoplegia: perda total das funções motoras de um só membro (podendo
ser membro superior ou membro inferior).
- Monoparesia: perda parcial das funções motoras de um só membro
(podendo ser membro superior ou membro inferior).
- Tetraplegia: paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo as funções
dos braços e pernas.
- Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e
superiores.
- Triplegia: perda total das funções motoras em três membros.
- Triparesia: perda parcial das funções motoras em três membros.
- Hemiplegia: perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo
(direito ou esquerdo).
- Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um hemisfério do
corpo (direito ou esquerdo).
- Paralisia Cerebral: termo amplo que designa um grupo de limitações
psicomotoras resultantes de uma lesão do sistema nervoso central.
Geralmente os portadores de paralisia cerebral possuem movimentos
involuntários, espasmos musculares repentinos, fenômeno chamado de
espasticidade. A paralisia cerebral apresenta diferentes níveis de
comprometimento, dependendo da área lesionada no cérebro. Embora haja
casos de pessoas com paralisia cerebral e deficiência mental, essas duas
condições não acontecem necessariamente ao mesmo tempo.
- Malformação Congênita: anomalia física desde o nascimento.
Pode ocorrer a associação de duas ou mais deficiências primárias
(mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam
atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa, e são
chamadas de deficiências múltiplas.

Qualquer que seja a forma pela qual o indivíduo tenha a deficiência


(congênita ou adquirida), ela repercute com profundas implicações
psicológicas, desde a rejeição pura e simples até a dificuldade de elaborar a
própria diferença em relação aos outros. O aspecto social, juntamente com
o psicológico e o biológico formam um tripé sobre o qual se apóia a
experiência vivida de cada pessoa portadora de deficiência.

Deficiência e Cultura: Em nossa cultura, a palavra "deficiente" tem um


significado muito estigmatizante, onde a aparência de normalidade ou a
invisibilidade do desvio em relação à norma são os principais elementos que
podem determinar a inclusão ou a exclusão social.
O que se observa é que a questão da identidade do deficiente, apesar de
ser constantemente justificada pela dimensão biológica, é, na verdade,
fortemente influenciada pela dimensão cultural. Não se deve, é claro,
confundir essa influência com um determinismo cultural. A questão da
deficiência deve ser tratada sob o ponto de vista do homem total, ou seja,
de um sujeito que é biopsicossocial em sua essência.
Quando dizemos que o social contribui enormemente para a definição da
identidade do deficiente, não estamos afirmando que exista um
determinismo social e nem tampouco que as sociedades sejam rigidamente
organizadas, sem nenhum espaço para qualquer elemento desviante.
Porém, é claro que qualquer "desviante" da "normalidade" em qualquer
sociedade, não é inserido nos grupos e padrões sociais sem que ocorram
importantes níveis de tensões.

É preciso esclarecer que as sociedades são realidades vivas e, portanto,


dinâmicas, sempre sujeitas a tensões e ajustes que tentam lidar com os
problemas concretos e históricos que lhes são pertinentes, inclusive com as
questões relativas ao poder e a desigualdade. Mas nos importa repensar a
grande carga simbólica atribuída às pessoas portadoras de algum tipo de
deficiência, e que só pode ser dada pelo aspecto cultural.

Filhos desejados X Filhos reais: Um outro aspecto relevante na


abordagem do tema Deficiências Físicas Congênitas é o fato de que
culturalmente, somos ensinados a esperar e a planejar o futuro de um filho-
sonho. Desde o início imaginamos um futuro brilhante para nossos filhos. A
gestação, o parto, os primeiros dias em casa, tudo se transforma em
apreensão e ansiedade. Porém, alguns recém-nascidos são bem diferentes
daqueles acalentados em nossos sonhos. Mas, o que acontece quando o
bebê real é muito diferente do bebê desejado? Incentivados por toda a vida
para receber filhos perfeitos, é natural que os pais sintam dificuldade em
lidar com este filho real que apresenta diferenças e que frustram seus
desejos mais íntimos de “normalidade”, além de terem que lidar com o
“olhar social”.
Os profissionais de saúde envolvidos neste contexto, com freqüência
também costumam ser pouco hábeis diante do recém-nascido que não
corresponde à expectativa dos familiares e da equipe médica. Em vez de
fortalecerem os vínculos afetivos entre pais e filho, que se inicia naquele
instante, muitos profissionais da área de saúde (os primeiros a ter contato
com a família), por falta de informação, de conhecimento técnico, por
preconceito ou por não terem consciência sobre a importância de seu papel,
agem com constrangimento, dando àquele bebê o lugar de "doente", do
"diferente".

Voltando ao recém-nascido, se a limitação apresentada é grave, ou pelo


menos visível, até as visitas, ansiosas e bem intencionadas perdem a
naturalidade e evitam fazer comentários ou perguntas, todos apresentam
dificuldades no momento de abordar o assunto. Tantos equívocos de
abordagem refletem a imensa dificuldade que temos com aquela que
deveria ser a mais estimulada de todas as reflexões, desde a infância: a
ética do indivíduo com sua espécie e o respeito à diversidade. Discutir
diversidade humana ainda é uma necessidade em tempos modernos, já que
é a característica mais intrínseca do gênero humano. O bebê com
deficiência nos surpreende com suas diferenças, suscita fantasias, nos
remete ao desconhecido.

O que muito frequentemente e lamentavelmente ocorre, é que o meio


familiar baixa imediatamente suas expectativas em relação ao seu recém-
nascido real por não conseguir adequá-lo à imagem do seu recém-nascido
desejado. Inabilidade esta que tende a se replicar no relacionamento
familiar, e se multiplicar pelas vias sociais, contagiando de forma
discriminatória todo o meio social. A deficiência se impõe à vida emocional
da família, trazendo uma concretude difícil de se lidar, gerando inúmeros
sentimentos ambivalentes e angustiantes, reações emocionais variadas e
sentimentos de culpa. Observa-se que ao abrir caminhos para a dimensão
simbólica desta vivência, o processo pode tornar-se muito mais criativo e
portanto, mais adaptativo. (Fonte)

*Psicóloga do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São


Paulo (UNIFESP). Mestre em Ciências da Saúde pela UNIFESP. Coordenadora
do Programa de Capacitação e Assessoria ao Profissional de Saúde do SAPIS
(Serviço de Atenção Psicossocial Integrada em Saúde).
E-mail: paulammacedo@gmail.com

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AUTISMO

Autismo - O que é? Autismo é uma desordem na qual uma criança jovem


não pode desenvolver relações sociais normais, se comporta de modo
compulsivo e ritualista, e geralmente não desenvolve inteligência normal. O
autismo é uma patologia diferente do retardo mental ou da lesão cerebral,
embora algumas crianças com autismo também tenham essas doenças.
Sinais de autismo normalmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre
antes dos três anos de idade. A desordem é duas a quatro vezes mais
comum em meninos do que em meninas.

Causas:
A causa do autismo não é conhecida. Estudos de gêmeos idênticos indicam
que a desordem pode ser, em parte, genética, porque tende a acontecer em
ambos os gêmeos se acontecer em um. Embora a maioria dos casos não
tenha nenhuma causa óbvia, alguns podem estar relacionados a uma
infecção viral (por exemplo, rubéola congênita ou doença de inclusão
citomegálica), fenilcetonúria (uma deficiência herdada de enzima), ou a
síndrome do X frágil (uma dosagem cromossômica).

Sintomas e diagnóstico: Uma criança autista prefere estar só, não forma
relações pessoais íntimas, não abraça, evita contato de olho, resiste às
mudanças, é excessivamente presa a objetos familiares e repete
continuamente certos atos e rituais. A criança pode começar a falar depois
de outras crianças da mesma idade, pode usar o idioma de um modo
estranho, ou pode não conseguir - por não poder ou não querer - falar nada.
Quando falamos com a criança, ela freqüentemente tem dificuldade em
entender o que foi dito. Ela pode repetir as palavras que são ditas a ela
(ecolalia) e inverter o uso normal de pronomes, principalmente usando o tu
em vez de eu ou mim ao se referir a si própria.
Sintomas de autismo em uma criança levam o médico ao diagnóstico, que é
feito através da observação. Embora nenhum teste específico para autismo
esteja disponível, o médico pode executar certos testes para procurar
outras causas de desordem cerebral.
A maioria das crianças autistas tem desempenho intelectual desigual,
assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário
repetir os testes várias vezes. Crianças autistas normalmente se saem
melhor nos itens de desempenho (habilidades motoras e espaciais) do que
nos itens verbais durante testes padrão de Q.I. Acredita-se que
aproximadamente 70 por cento das crianças com autismo têm algum grau
de retardamento mental (Q.I. menor do que 70).

Entre 20 e 40 por cento das crianças autistas, especialmente aquelas com


um Q.I. abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência.
lgumas crianças autistas apresentam aumento dos ventrículos cerebrais
que podem ser vistos na tomografia cerebral computadorizada. Em adultos
com autismo, as imagens da ressonância magnética podem mostrar
anormalidades cerebrais adicionais.
Uma variante do autismo, às vezes chamada de desordem
desenvolvimental pervasiva de início na infância ou autismo atípico, pode
ter início mais tardio, até os 12 anos de idade. Assim como a criança com
autismo de início precoce, a criança com autismo atípico não desenvolve
relacionamentos sociais normais e freqüentemente apresenta maneirismos
bizarros e padrões anormais de fala. Essas crianças também podem ter
síndrome de Tourette, doença obsessivo-compulsiva ou hiperatividade.
Assim, pode ser muito difícil para o médico diferenciar entre essas
condições.

Lista de Checagem do Autismo: lista serve como orientação para o


diagnóstico. Como regra os indivíduos com autismo apresentam pelo menos
50% das características relacionadas. Os sintomas podem variar de
intensidade ou com a idade.

- Dificuldade em juntar-se com outras pessoas,


- Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina,
- Risos e sorrisos inapropriados,
- Não temer os perigos
- Pouco contato visual,
- Pequena resposta aos métodos normais de ensino,
- Brinquedos muitas vezes interrompidos,
- Aparente insensibilidade à dor,
- Ecolalia (repetição de palavras ou frases),
- Preferência por estar só; conduta reservada,
- Pode não querer abraços de carinho ou pode aconchegar-se
carinhosamente,
- Faz girar os objetos,
- Hiper ou hipo atividade física,
- Aparenta angústia sem razão aparente,
- Não responde às ordens verbais; atua como se fosse surdo,
- Apego inapropriado a objetos,
- Habilidades motoras e atividades motoras finas desiguais, e
- Dificuldade em expressar suas necessidades; emprega gestos ou sinais
para os objetos em vez de usar palavras. (Fonte)

RETARDO MENTAL: e maneira geral, um indivíduo pode ser definido como


tendo retardo mental baseado nos seguintes três critérios:
- nível de funcionamento intelectual (QI) abaixo de 70 - 75,
- presença de limitações significativas em duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas,
- a condição está presente antes dos 18 anos de idade.

Definição de retardo mental: Retardo mental diz respeito a limitações


significativas no funcionamento intelectual. É caracterizado por:
- retardo mental que se manifesta antes dos 18 anos de idade,
- funcionamento intelectual significativamente abaixo da média,
concomitante a limitações em duas ou mais das seguintes áreas de
habilidades adaptativas:
- Comunicação e Cuidado pessoal
- Vida em casa e Habilidades sociais
- Funcionamento na comunidade e Autodeterminação
- Saúde e segurança e Habilidades acadêmicas funcionais
- Lazer e Trabalho

Quadro clínico: Os efeitos do retardo mental variam consideravelmente de


pessoa para pessoa, assim como as habilidades individuais variam entre as
pessoas que não tem retardo mental.

Das pessoas com retardo mental, aproximadamente 87% serão afetadas de


maneira bastante leve, e serão somente um pouco mais lentas na aquisição
de novas habilidades e informações. Quando crianças, seu retardo mental
não é facilmente identificável, podendo não ser evidente até que elas
entrem para a escola. Muitas delas, quando adultas, conseguirão levar uma
vida independente na comunidade e não serão mais vistas como tendo
retardo mental. Os restantes 13% da população afetada, aqueles com QI
abaixo de 50, terão sérias limitações de funcionamento. Contudo, com
intervenções precoces, educação funcional e com suporte adequado,
quando adultos, todos poderão levar vidas satisfatórias na sua comunidade.

Causas do retardo mental: O retardo mental pode ser causado por


qualquer condição que prejudique o desenvolvimento cerebral antes do
nascimento, durante o nascimento ou nos anos de infância. Várias centenas
de causas têm sido descobertas, mas a causa permanece indefinida em
aproximadamente um terço dos casos. As três principais causas
identificadas de retardo mental são:

a Síndrome de Down,
a Síndrome alcoólico-fetal e
a Síndrome do X frágil.

As causas podem ser divididas em categorias:

Condições genéticas: Resultam de anormalidades nos genes herdadas


dos pais, devidas a erros de combinação genética ou de outros distúrbios
dos genes ocorridos durante a gestação. Centenas de distúrbios genéticos
associam-se ao retardo mental. Alguns exemplos são a fenilcetonúria, a
Síndrome de Down e a Síndrome do X frágil.

Problemas durante a gestação: O uso de álcool ou outras drogas


durante a gestação pode levar ao retardo mental. Alguns trabalhos têm
relacionado o fumo na gestação com um risco maior de retardo mental na
criança.

Outros problemas incluem a desnutrição, toxoplasmose, infecção por


citomegalovírus, rubéola e sífilis. Gestantes infectadas pelo vírus HIV
(AIDS) podem passar o vírus para a criança levando a dano neurológico
futuro.

Problemas ao nascimento: Qualquer condição de estresse aumentado


durante o parto pode levar a lesão cerebral do bebê; contudo, a
prematuridade e o baixo peso ao nascer são fatores de risco independentes
mais freqüentes que qualquer outra condição.

Problemas após o nascimento: Doenças da infância como catapora,


sarampo, coqueluche e a infecção pelo Haemophilus tipo B, que podem
levar a meningite e encefalite, também podem causar danos ao cérebro.
Acidentes, intoxicações por chumbo, mercúrio e outros agentes tóxicos
também podem causar danos irreparáveis ao cérebro e sistema nervoso.

Estado socioeconômico: A desnutrição também pode levar ao retardo


mental. Alguns estudos também sugerem que a pouca estimulação, que
ocorre em áreas muito desprovidas das experiências culturais e ambientais
normalmente oferecidas às crianças, pode surgir como causa de retardo
mental. (Fonte)

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SÍNDROME DE DOWN (Trissomia do Cromossomo 21)

O que é? A síndrome de Down é a forma mais freqüente de retardo mental


causada por uma aberração cromossômica microscopicamente
demonstrável. É caracterizada por história natural e aspectos fenotípicos
bem definidos. É causada pela ocorrência de três (trissomia) cromossomos
21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele.
Características Clínicas: A síndrome de Down, uma combinação
específica de características fenotípicas que inclui retardo mental e uma
face típica, é causada pela existência de três cromossomos 21 (um a mais
do que o normal, trissomia do 21), uma das anormalidades cromossômicas
mais comuns em nascidos vivos.

É sabido, há muito tempo, que o risco de ter uma criança com trissomia do
21 aumenta com a idade materna. Por exemplo, o risco de ter um recém-
nascido com síndrome de Down, se a mãe tem 30 anos é de 1 em 1.000, se
a mãe tiver 40 anos, o risco é de 9 em 1.000. Na população em geral, a
freqüência da síndrome de Down é de 1 para cada 650 a 1.000 recém-
nascidos vivos e cerca de 85% dos casos ocorre em mães com menos de 35
anos de idade.

As pessoas com síndrome de Down costumam ser menores e ter um


desenvolvimento físico e mental mais lento que as pessoas sem a síndrome.
A maior parte dessas pessoas tem retardo mental de leve a moderado;
algumas não apresentam retardo e se situam entre as faixas limítrofes e
médias baixa, outras ainda podem ter retardo mental severo.

Existe uma grande variação na capacidade mental e no progresso


desenvolvimental das crianças com síndrome de Down. O desenvolvimento
motor destas crianças também é mais lento. Enquanto as crianças sem
síndrome costumam caminhar com 12 a 14 meses de idade, as crianças
afetadas geralmente aprendem a andar com 15 a 36 meses. O
desenvolvimento da linguagem também é bastante atrasado. (Fonte)

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EPILEPSIA – Capítulo especial do livro “Nos Domínios da


Mediundade”, de André Luiz/Chico Xavier:

Possessão

O cavalheiro doente, na pequena fila de quatro pessoas que haviam


comparecido à cata de socorro, parecia incomodado, aflito... Articulava
palavras que eu não conseguia registrar com clareza, quando o irmão
Clementino, consultado por Áulus, disse, cortês, para o Assistente:

— Sim, já que o esforço se destina a estudos, permitiremos a manifestação.

Percebi que o nosso orientador solicitava alguma demonstração importante.


Convidados pelo instrutor, abeiramo-nos do moço enfermo que se fazia
assistir por uma senhora de cabelos grisalhos, sua própria mãezinha.

Atendendo às recomendações do supervisor, os guardas admitiram a


passagem de uma entidade evidentemente aloucada, que atravessou, de
chofre, as linhas vibratórias de contenção, vociferando, frenética:

— Pedro! Pedro!...

Parecia ter a visão centralizada no doente, porque nada mais fixava além
dele. Alcançando o nosso irmão encarnado, este, de súbito, desfecha um
grito agudo e cai desamparado. A velha progenitora mal teve tempo de
suavizar-lhe a queda espetacular.

De imediato, sob o comando de Clementino, Silva determinou que o rapaz


fosse transferido para um leito de câmara próxima, isolando-o da
assembléia.

Dona Celina foi incumbida do trabalho de assistência.

Junto dela acompanhamos o enfermo com carinhoso interesse.

As variadas tarefas do recinto prosseguiram sem quebra de ritmo, enquanto


nos insulávamos no aposento para a cooperação que o caso exigia.

Pedro e o obsessor que o jugulava pareciam agora fundidos um no outro.

Eram dois contendores engalfinhados em luta feroz.

Fitando o companheiro encarnado mais detidamente, concluí que o ataque


epiléptico, com toda a sua sintomatologia clássica, surgia claramente
reconhecível.

O doente trazia agora a face transfigurada por indefinível palidez, os


músculos jaziam tetanizados e a cabeça, exibindo os dentes cerrados,
mostrava-se flectida para trás, enquanto que os braços se assemelhavam a
dois galhos de arvoredo, quando retorcidos pela tempestade.

Dona Celina e a matrona afetuosa acomodaram-no na cama e dispunham-se


à prece, quando a rigidez do corpo se fez sucedida de estranhas convulsões
a se estenderem aos olhos que se moviam em reviravoltas continuas.

A lividez do rosto deu lugar à vermelhidão que invadiu as faces congestas.

A respiração tornara-se angustiada, ao mesmo tempo que os esfíncteres se


relaxavam, convertendo o enfermo em torturado vencido.

O insensível perseguidor como que se entranhara no corpo da vítima.

Pronunciava duras palavras, que somente nós outros conseguíamos


assinalar, de vez que todas as funções sensoriais de Pedro se mostravam
em deplorável inibição.

Dona Celina, afagando o doente, pressentia a gravidade do mal e registrava


a presença do visitante infeliz, contudo, permanecia alerta de modo a
manter-se, valorosa, em condições de auxiliá-lo.

Anotei-lhe a cautela para não se apassivar, a fim de seguir, por si própria,


todos os trâmites do socorro.

Bondosa, tentou estabelecer um entendimento com o verdugo, mas em vão.

O desventurado continuava gritando para os nossos ouvidos, sem acolher-


lhe os apelos comovedores.
— Vingar-me-ei! vingar-me-ei! Farei justiça por minhas próprias mãos!... —
bradava, colérico.

Repreensões injuriosas apagavam-se na sombra, porqüanto não


conseguiam exteriorizar-se através das cordas vocais da vítima, a
contorcer-se.

Permanecia o cavalheiro plenamente ligado ao algoz que o tomara de


inopino. O córtex cerebral apresentava-se envolvido de escura massa
fluídica.

Reconhecíamos no moço incapacidade de qualquer domínio sobre si


mesmo.

Acariciando-lhe a fronte suarenta, Áulus informou, compadecido:

— É a possessão completa ou a epilepsia essencial.

— Nosso amigo está inconsciente? — aventurou Hilário, entre a curiosidade


e o respeito.

— Sim, considerado como enfermo terrestre, está no momento sem


recursos de ligação com o cérebro carnal. Todas as células do córtex sofrem
o bombardeio de emissões magnéticas de natureza tóxica. Os centros
motores estão desorganizados. Todo o cerebelo está empastado de fluidos
deletérios. As vias do equilíbrio aparecem completamente perturbadas.
Pedro temporariamente não dispõe de controle para governar-se, nem de
memória comum para marcar a inquietante ocorrência de que é
protagonista. Isso, porém, acontece no setor da forma de matéria densa,
porque, em espírito, está arquivando todas as particularidades da situação
em que se encontra, de modo a enriquecer o patrimônio das próprias
experiências.

Fitei, sensibilizado, o quadro triste e perguntei, com objetivo de estudo:

— De vez que nos achamos defrontados por um encarnado e por um


desencarnado, jungidos um ao outro, não obstante a dolorosa condição de
sofrimento em que se caracterizam, será lícito considerar o fato sob nosso
exame como sendo um transe mediúnico?

Embora ativo na tarefa assistencial, o instrutor respondeu:

— Sim, presenciamos um ataque epiléptico, segundo a definição da


medicina terrestre, entretanto, somos constrangidos a identificá-lo como
sendo um transe mediúnico de baixo teor, porqüanto verificamos aqui a
associação de duas mentes desequilibradas, que se prendem às teias do
ódio recíproco.

E, fixando o par de infelizes em contorções, acrescentou:

— Nessa aflitiva situação achava-se Pedro nas regiões inferiores, antes da


presente reencarnação que lhe constitui uma bênção. Por muitos anos, ele e
o adversário rolaram nas zonas purgatoriais, em franco duelo.
Presentemente, melhorou. Qual ocorre em muitos processos semelhantes,
os reencontros de ambos são agora mais espaçados, dando azo ao
fenômeno que observamos, em razão de o rapaz ainda trazer o corpo
perispirítico provisoriamente lesado em centros importantes.

Nesse ínterim, percebendo a dificuldade para atingir o obsessor com a


palavra falada, Dona Celina, com o auxílio de nosso orientador, formulou
vibrante prece, implorando a Compaixão Divina para os infortunados
companheiros que ali se digladiavam inutilmente.

As frases da venerável amiga libertavam jactos de força luminescente a lhe


saltarem das mãos e a envolverem em sensações de alívio os participantes
do conflito.

Vimos que o perseguidor, qual se houvesse aspirado alguma substância


anestesiante, se desprendeu automaticamente da vítima, que repousou
enfim, num sono profundo e reparador.

Guardas e socorristas conduziram o obsessor semi-adormecido a um local


de emergência.

E enquanto Dona Celina ministrava um pouco dágua fluidificada à genitora


do enfermo, chorosa e assustadiça, retornamos à conversação cordial.

— Apesar da carga doentia que suporta na atualidade, devemos aceitar o


nosso Pedro na categoria de um médium? — perguntou Hilário, atencioso.

— Pela passividade com que reflete o inimigo desencarnado, será justo tê-lo
nessa conta, contudo, precisamos considerar que, antes de ser um médium
na acepção comum do termo, é um Espírito endividado a redimir-se.

— Mas não poderá cogitar do próprio desenvolvimento psíquico?

O Assistente sorriu e observou:

— Desenvolver, em boa sinonímia, quer dizer “retirar do invólucro”, “fazer


progredir” ou produzir. Assim compreendendo, é razoável que Pedro, antes
de tudo, desenvolva recursos pessoais no próprio reajuste. Não se
constroem paredes sólidas em bases inseguras. Necessitará, portanto,
curar-se. Depois disso, então...

— Se é assim — objetou meu colega —, não resultará infrutífera a sua


freqüência a esta casa?

— De modo algum. Aqui recolherá forças para refazer-se, assim como a


planta raquítica encontra estímulo para a sua restauração no adubo que lhe
oferecem. Dia a dia, ao contacto de amigos orientados pelo Evangelho, ele e
o desafeto incorporarão abençoados valores em matéria de compreensão e
serviço, modificando gradativamente o campo de elaboração das forças
mentais. Sobrevirá, então, um aperfeiçoamento de individualidades, a fim
de que a fonte mediúnica surja, mais tarde, tão cristalina quanto desejamos.
Salutares e renovadores pensamentos assimilados pela dupla de sofredores
em foco expressam melhoria e recuperação para ambos, porque, na
imantação recíproca em que se vêem, as idéias de um reagem sobre o
outro, determinando alterações radicais.

Diante da nossa atitude cismarenta, no exame das questões complexas de


que nos sentíamos rodeados, o Assistente ponderou:

— Aparelhos mediúnicos valiosos naturalmente não se improvisam. Como


todas as edificações preciosas, reclamam esforço, sacrifício, coragem,
tempo... E sem amor e devotamento, não será possível a criação de grupos
e instrumentos louváveis, nas tarefas de intercâmbio.

Voltando, porém, a atenção para o doente adormecido, Áulus continuou:

— Nosso amigo está preso a significativo montante de débitos com o


passado e ninguém pode avançar livremente para o amanhã sem solver os
compromissos de ontem. Por esse motivo, Pedro traz consigo aflitiva
mediunidade de provação. É da Lei que ninguém se emancipe sem pagar o
que deve. A rigor, por isso, deve ser encarado como enfermo, requisitando
carinho e tratamento.

Em seguida, como se quisesse recolher dados informativos para completar a


lição, tocou a fronte de Pedro, auscultando-a demoradamente.

Decorridos alguns instantes de silêncio, informou:

— A luta vem de muito longe. Não dispomos de tempo para incursões no


passado, mas, de imediato, podemos reconhecer o verdugo de hoje como
vítima de ontem. Na derradeira metade do século findo, Pedro era um
médico que abusava da missão de curar. Uma análise mental
particularizada identificá-lo-ia em numerosas aventuras menos dignas. O
perseguidor que presentemente lhe domina as energias era-lhe irmão
consangüíneo, cuja esposa nosso amigo doente de agora procurou seduzir.
Para isso, insinuou-se de formas diversas, além de prejudicar o irmão em
todos os seus interesses econômicos e sociais, até incliná-lo à internação
num hospício, onde estacionou, por muitos anos, aparvalhado e inútil, à
espera da morte. Desencarnando e encontrando-o na posse da mulher,
desvairou-se no ódio de que passou a nutrir-se. Martelou-lhes, então, a
existência e aguardou-o, além-túmulo, onde os três se reuniram em
angustioso processo de regeneração. A companheira, menos culpada, foi a
primeira a retornar ao mundo, onde mais tarde recebeu o médico
delinqUente nos braços maternais, como seu próprio filho, purificando o
amor de sua alma. O irmão atraiçoado de outro tempo, todavia, ainda não
encontrou forças para modificar-se e continua vampirizando-o, obstinado no
ódio a que se rendeu impensadamente.

Respondendo com um olhar amigo à nossa expressão de assombro,


acrescentou:

— Penetramos forçosamente no inferno que criamos para os outros, a fim


de experimentarmos, por nossa vez, o fogo com que afligimos o próximo.
Ninguém ilude a justiça. As reparações podem ser transferidas no tempo,
mas são sempre fatais.
O ensinamento era simples, contudo, a terrível situação do enfermo
fatigado e triste infundia-nos justificável espanto.

Estudando sempre, Hilário considerou:

— Se Pedro, no entanto, é ainda um médium torturado, que poderá fazer


num agrupamento como este?

O instrutor sorriu e obtemperou:

O acaso não consta dos desígnios superiores. Não nos aproximamos uns
dos outros sem razão. Decerto, nosso amigo possui aqui ligações afetivas do
pretérito com o dever de auxiliá-lo. Se não pode, desse modo, ser um
elemento valioso ao conjunto, de imediato, pode e precisa receber o
concurso fraterno, imprescindível ao seu justo soerguimento.

— Curar-se-á, contudo, em tempo breve? —indaguei por minha vez.

— Quem sabe? — retrucou Áulus, sereno.

E, com o grave entono de quem pesa a substância das próprias palavras,


prosseguiu:

— Isso dependerá muito dele e da vítima com quem se encontra endividado.


A assimilação de princípios mentais renovadores determina mais altas
visões da vida. Todos os dramas obscuros da obsessão decorrem da mente
enfermiça. Aplicando-se com devotamento às novas obrigações de que será
investido, caso persevere no campo de nossa Consoladora Doutrina, sem
dúvida abreviará o tempo de expiação a que se acha sujeito, de vez que,
em se convertendo ao bem, modificará o tonus mental do adversário, que
se verá arrastado à própria renovação pelos seus exemplos de
compreensão e renúncia, humildade e fé. Ainda assim, depois de se
extinguirem os acessos de possessão, Pedro sofrerá os reflexos do
desequilíbrio em que se envolveu, a se exprimirem nos fenômenos mais
leves da epilepsia secundária, que emergirão, por algum tempo, ante as
simples recordações mais fortes da luta que vem atravessando, até o
integral reajuste do corpo perispirítico.

— E isso é trabalho de longa duração? — inquiriu Hilário, algo aflito.

Nosso interlocutor estampou significativa expressão fisionômica e


ponderou:

— Quem poderá penetrar a consciência alheia? Com o esforço da vontade é


possível apressar a solução de muitos enigmas e reduzir muitas dores. O
assunto, porém, é de foro íntimo... Estejamos entretanto convencidos de
que as sementes da luz jamais se perdem. Os médiuns que hoje se enlaçam
a tremendas provas, se persistirem na plantação de melhores destinos,
transformar-se-ão em valiosos trabalhadores no futuro que a todos aguarda
em abençoadas reencarnações de engrandecimento e progresso...

E, ante a nossa admiração, concluiu:


— O problema é de aprender sem desanimar e de servir ao bem sem
esmorecer.

(NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, CAPÍTULO 9, ANDRÉ LUIZ / FCXAVIER)

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

EPILEPSIA

Definição: É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do


cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios
metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro
emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-
se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois
hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter
sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia, não significando que o
problema tenha menos importância se a crise for menos aparente.

Sintomas: Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se


"desligada" por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em
seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações
estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de
uma parte do corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto no
estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a
consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio,
enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de
memória. Tranqüilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Em crises
tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o
corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se.
Existem, ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30
minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo
prejudicar as funções cerebrais.

Causas: Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em


ferimentos sofridos na cabeça, recentemente ou não. Traumas na hora do
parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas
também facilitam o aparecimento da epilepsia.

Diagnóstico: Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são


ferramentas que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente,
porém, é muito importante, já que exames normais não excluem a
possibilidade de a pessoa ser epiléptica. Se o paciente não se lembra das
crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na
investigação do tipo de epilepsia em questão e, conseqüentemente, na
busca do tratamento adequado.

Cura: Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação,
pode ser considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o
quanto antes, a fim de receber o tratamento adequado. Foi-se o tempo que
epilepsia era sinônimo de Gardenal, apesar de tal medicação ainda ser
utilizada em certos pacientes. As drogas antiepilépticas são eficazes na
maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas
pessoas que têm epilepsia levam vida normal, inclusive destacando-se na
sua carreira profissional.

Outros Tratamentos: Existe uma dieta especial, hipercalórica, rica em


lipídios, que é utilizada geralmente em crianças e deve ser muito bem
orientada por um profissional competente. Em determinados casos, a
cirurgia é uma alternativa.

Recomendações: Não ingerir bebidas alcoólicas, não passar noites em


claro, ter uma dieta balanceada, evitar uma vida estressada demais.

Crises: Se a crise durar menos de 5 minutos e você souber que a pessoa é


epiléptica, não é necessário chamar um médico. Acomode-a, afrouxe suas
roupas (gravatas, botões apertados), coloque um travesseiro sob sua
cabeça e espere o episódio passar. Mulheres grávidas e diabéticos merecem
maiores cuidados. Depois da crise, lembre-se que a pessoa pode ficar
confusa: acalme-a ou leve-a para casa. (Fonte)

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EPILEPSIA / CONVULSÃO - ATAQUE EPILÉPTICO. Sinônimos: epilepsia,


ter um ataque, finar-se; desmaio com tremor

O que é? Epilepsia é uma doença neurológica crônica, podendo ser


progressiva em muitos casos, principalmente no que se relaciona a
alterações cognitivas, freqüência e gravidade dos eventos críticos. É
caracterizada por crises convulsivas recorrentes, afetando cerca de 1% da
população mundial.

Uma crise convulsiva é uma descarga elétrica cerebral desorganizada que


se propaga para todas as regiões do cérebro, levando a uma alteração de
toda atividade cerebral. Pode se manifestar como uma alteração
comportamental, na qual o indivíduo pode falar coisas sem sentido, por
movimentos estereotipados de um membro, ou mesmo através de episódios
nos quais o paciente parece ficar "fora do ar", no qual ele fica com o olhar
parado, fixo e sem contato com o ambiente. A descarga elétrica neuronal
anômala que geram as convulsões podem ser resultante de neurônios com
atividade funcional alterada (doentes), resultantes de massas tumorais,
cicatrizes cerebrais resultantes de processos infecciosos (meningites,
encefalites),isquêmicos ou hemorrágicos (acidente vascular cerebral), ou
até mesmo por doenças metabólicas (doenças do renais e hepáticas),
anóxia cerebral (asfixia) e doenças genéticas. Muitas vezes, a origem das
convulsões pode não ser estabelecida, neste caso a epilepsia é definida
como criptogênica.

Como se desenvolve? O mecanismo desencadeador das crises pode ser


multifatorial. Em muitas pessoas, as crises convulsivas podem ser
desencadeadas por um estímulo visual, auditivo, ou mesmo por algum tipo
específico de imagem. Nas crianças, podem surgir na vigência de febre alta,
sendo esta de evolução benigna, muitas vezes não necessitando de
tratamento.
Nem toda crise convulsiva é caracterizada como epilepsia. Para tal, é
preciso que o indivíduo tenha apresentado, no mínimo, duas ou mais crises
convulsivas no período de 12 meses, sem apresentar febre, ingestão de
álcool , intoxicação por drogas ou abstinência, durante as mesmas.

O que se sente? A sintomatologia apresentada durante a crise vai variar


conforme a área cerebral em que ocorreu a descarga anormal dos
neurônios. Pode haver alterações motoras, nas quais os indivíduos
apresentam movimentos de flexão e extensão dos mais variados grupos
musculares, além de alterações sensoriais, como referidas acima, e ser
acompanhada de perda de consciência e perda do controle esfincteriano.
As crises também podem ser precedidas por uma sintomatologia vaga,
como sensação de mal estar gástrico, dormência no corpo, sonolência,
sensação de escutar sons estranhos, ou odores desagradáveis e mesmo de
distorções de imagem que estão sendo vistas.
A grande maioria dos pacientes, só percebem que foram acometidos por
uma crise após recobrar consciência, além disso podem apresentar, durante
este período, cefaléia, sensibilidade à luz, confusão mental, sonolência,
ferimentos orais (língua e mucosa oral).

Como o médico faz o diagnóstico? O diagnóstico é realizado pelo


médico neurologista através de uma história médica completa, coletada
com o paciente e pessoas que tenham observado a crise. Além disso, pode
ser necessário exames complementares como eletroencefalograma (EEG) e
neuroimagem, como tomografia e/ou ressonância magnética de crânio. O
EEG é um exame essencial, apesar de não ser imprescindível, pois o
diagnóstico é clínico.

Ele não serve apenas para o diagnóstico, como também para monitorar a
evolução do tratamento. Outro exame complementar que pode ser utilizado
é o vídeo-EEG, no qual há registro sincronizado da imagem do paciente
tendo a crise e o traçado eletroencefalográfico deste momento. As técnicas
de neuroimagem são utilizadas para investigação de lesões cerebrais
capazes de gerar crises convulsivas, fornecendo informações anatômicas,
metabólicas e mesmo funcionais.

Como se trata? O tratamento da epilepsia é realizado através de


medicações que possam controlar a atividade anormal dos neurônios,
diminuindo as cargas cerebrais anormais. Existem medicamentos de baixo
custo e com poucos riscos de toxicidade. Geralmente, quando o
neurologista inicia com um medicamento, só após atingir a dose máxima do
mesmo, é que se associa outro , caso não haja controle adequado da
epilepsia.

Mesmo com o uso de múltiplas medicações, pode não haver controle


satisfatório da doença. Neste caso, pode haver indicação de cirurgia da
epilepsia. Ela consiste na retirada de parte de lesão ou das conexões
cerebrais que levam à propagação das descargas anormais. O procedimento
cirúrgico pode levar à cura, ao controle das crises ou à diminuição da
freqüência e intensidade das mesmas. (Fonte)

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FOBIAS
Quando o Medo é Uma Doença
Por Dr. Cyro Masci,
(psiquiatra)

Introdução:
Medo é um sentimento universal e muito antigo. Pode ser definido como
uma sensação de que você corre perigo, de que algo de muito ruim está
para acontecer, em geral acompanhado de sintomas físicos que incomodam
bastante. Quando esse medo é desproporcional à ameaça, por definição
irracional, com fortíssimos sinais de perigo, e também seguido de evitação
das situações causadoras de medo, é chamado de fobia. A fobia na verdade
é uma crise de pânico desencadeada em situações específicas. Existem três
tipos básicos de fobias, que são:
A agorafobia (literalmente, medo da ágora, as praças de mercado - o nome
é muito antigo) que é o medo generalizado de lugares ou situações aonde
possa ser difícil ou embaraçoso escapar ou então aonde o auxílio pode não
estar disponível. Isso inclui estar fora de casa desacompanhado, no meio de
multidões ou preso numa fila, ou ainda viajar desacompanhado

A fobia social, quando a pessoa tem um medo acentuado e persistente de


"passar vergonha" na frente de outros, muitas vezes por temor de que as
outras pessoas percebam seus sinais de ansiedade. Ela pode ser específica
para uma situação (por exemplo assinar cheques ou escrever na frente dos
outros) ou generalizada (por exemplo participar de pequenos grupos, iniciar
ou manter conversação, ter encontros românticos, falar com figuras de
autoridade, etc.)

E as fobias específicas, quando o medo acentuado e persistente é na


presença (ou simples antecipação) de coisas como voar, tomar injeção, ver
sangue, altura. Ou ainda o medo específico de elevador, dirigir ou
permanecer em locais fechados como túneis ou congestionamentos.

Origem:
Seis em cada dez pessoas com fobias conseguem se lembrar da primeira
vez que a crise de medo aconteceu pela primeira vez, quando as sensações
de pânico ficaram ligadas ao local ou situação em que a crise ocorreu. Para
essas pessoas, há uma ligação muito clara entre o objeto e a sensação de
medo. Por exemplo, uma pessoa tem uma crise de pânico ao dirigir, e a
partir desse dia passa a evitar dirigir desacompanhada, com temor de
passar mal e não ter ninguém por perto para auxiliá-la. E talvez esse temor
se expanda para um local aonde a saída seja difícil em caso de "passar
mal", como cinemas e teatros. Surgiu assim uma agorafobia, um medo
generalizado a "passar mal" e não ter como escapar ou receber auxílio. Uma
outra pessoa, por exemplo, pode ter tido uma experiência traumática de um
acidente de carro, e a partir desse dia não querer mais andar de carro,
desenvolvendo uma fobia específica a carros. Perceba que o medo de andar
de carros é igual, mas a origem, e na verdade o próprio medo, são
fundamentalmente diferentes. No primeiro caso, o que se evita é ficar numa
situação em que o socorro possa ser complicado, e no segundo caso, o que
se evita é o carro em si mesmo.

Mas por qual motivo uma pessoa desenvolve uma fobia? E ainda, por quais
razões algumas fobias são mais comuns que outras? Vários neurocientistas
acreditam que fatores biológicos estejam francamente ligados. Por exemplo,
encontrou-se um aumento do fluxo sangüíneo e maior metabolismo no lado
direito do cérebro em pacientes fóbicos. E já foi constatado casos de
gêmeos idênticos educados separadamente que desenvolveram um mesmo
tipo de fobia, apesar de viverem e serem educados em locais diferentes.

Também parece que humanos nascem preparados biologicamente para


adquirir medo de certos animais e situações, como ratos, animais
peçonhentos ou de aparência asquerosa (como sapos, lesmas ou baratas).
Numa experiência clássica, Martin Seligman associava um estímulo aversivo
(um pequeno choque) a certas imagens. Dois ou quatro choques eram
suficientes para criar uma fobia a figuras de aranha ou cobra, e muitas mais
exposições eram necessárias para uma figura de flor, por exemplo.

A provável explicação é que esses temores foram importantes para a


sobrevivência da espécie humana há milênios, e ao que parece trazemos
essa informação muitas vezes adormecida mas que pode ser despertada a
qualquer momento.

Outra razão para o desenvolvimento das fobias pode ser o fato de que
associamos perigo a coisas ou situações que não podemos prever ou
controlar, como um raio numa tempestade ou o ataque de um animal.
Nesse sentido, pacientes com quadro clínico de transtorno de pânico
acabam desenvolvendo fobia a suas próprias crises, e em conseqüência
evitando lugares ou situações que possam se sentir embaraçados ou que
não possam contar com ajuda imediata. E por fim, há clara influência social.
Por exemplo, um tipo de fobia chamada taijin kyofusho é comum apenas no
Japão. Ao contrário da fobia social (em que o paciente sente medo de ser
ele mesmo humilhado ou desconsiderado em situação social) tão comum no
ocidente, o taijin kyofusho é o medo de ofender as outras pessoas por
excesso de modéstia e consideração. O paciente tem medo que seu
comportamento social ou um defeito físico imaginário possa ofender ou
constranger as outras pessoas. Como se percebe, esse tipo de fobia é bem
pouco encontrado em nosso meio... O que há em comum em todas as fobias
é o fato de que o cérebro faz poderosos links em situações de grande
emoção. Para entender o que se passa, é interessante lembrar de uma
situação universal: você provavelmente, em algum tempo de sua vida,
estava com outra pessoa, numa situação bastante agradável, e ao fundo
tocava uma música. Agora, quando você ouve a música, lembra da situação.
E se parar para pensar bem, não apenas lembra da situação, mas talvez
sinta as mesmas sensações agradáveis.

Para o cérebro, o fenômeno é o mesmo. Fortes emoções em geral ficam


ligadas ao que acontece em volta. Em geral as fobias ocorrem quando a
crise de pânico é desencadeada em situações que já são potencialmente
perigosas. Por exemplo: nenhum animal (e nós somos animais, lembra-se?)
gosta de ficar acuado ou perto de algum outro animal que possa lhe trazer
riscos. Estar preso no trânsito, num elevador, num shopping é, para quem
sofre de certos tipos de fobia, uma situação de "ficar acuado", sem saída.
Por isso, muitos pacientes com pânico acabam desenvolvendo fobias a
lugares fechados.

Fobias e Pânico: Já que as fobias são um "pânico com objeto", ou seja, são
crises de pânico que somente acontecem em situações ou lugares
específicos, é importante entender como uma crise de pânico é formada.
Para isso, é interessante comparar sua cabeça com um carro que possui um
alarme contra ladrões, desses que basta você encostar na carroceria para
ele disparar. Esse sistema de alarme é o cérebro antigo, em especial o
sistema límbico, com suas reações de luta ou fuga. Esse alarme tem que
tocar em situações de perigo real. No entanto, para certas pessoas, esse
sinal de perigo é desencadeado sem nenhuma razão aparente, como você
talvez já tenha visto em estacionamentos, quando um alarme de carro
dispara sem que nada tenha acontecido. Essa situação é conhecida como
ataque de pânico. Para outras pessoas, esse alarme é disparado em
situações indevidas, como por exemplo em elevadores, lugares fechados,
ou no trânsito. Essa situação é conhecida como fobia.

A síndrome do pânico é uma mistura dessas duas situações. Numa primeira


fase, quem tem o transtorno (= síndrome) do pânico, tem ataques sem
motivo algum. E numa segunda fase, passa a ter os mesmos sintomas nas
situações ou lugares em que já teve os ataques. Assim, se a pessoa tem um
ataque dentro de um carro, passa a evitar dirigir sozinha, ou não dirige
mais. Se foi num lugar fechado, passa a não entrar em bancos, shopping
centers, cinemas, teatros. Ou se entra, procura ficar bem próximo da
saída... E para muitos, o simples fato de pensar, lembrar ou ver uma
imagem da situação já é o bastante para desencadear a crise.

Sintomas:
Quem sofre de fobia, ao se deparar (ou às vezes simplesmente imaginar...)
com as situações que desencadeiam suas crises, sentem um enorme medo,
em geral acompanhados de pelo menos quatro dos seguintes sintomas:

- falta de ar,
- palpitações,
- dor ou desconforto no peito,
- sensação de sufocamento ou afogamento,
- tontura ou vertigem,
- sensação de falta de realidade,
- formigamento,
- ondas de calor ou de frio,
- sudorese,
- sensação de desmaio, tremores ou sacudidelas,
- medo de morrer ou de enlouquecer ou de perder o controle.

O que diferencia em grande parte alguém que tenha fobia de uma pessoa
que tenha simples medo, é que pessoas com fobia passam a evitar a
qualquer custo as situações que desencadeiam as crises, alterando sua
rotina de vida. Pacientes fóbicos com freqüência têm suas vidas
complicadas por dois fatores. O primeiro é que em geral não confiam na sua
capacidade de enfrentar os sintomas, temendo qualquer lugar aonde não
possa contar com ajuda. E o segundo é que costumam super valorizar os
sintomas, achando literalmente que vão morrer, que vão ter um ataque do
coração, um derrame, ou que possuem alguma doença grave e misteriosa.
A maior conseqüência da primeira complicação (a falta de confiança nos
próprios recursos) é um isolamento progressivo, um empobrecimento de
vida que impede a maioria das ações do dia-a-dia. E a maior conseqüência
da segunda complicação (a catastrofização dos sintomas) é uma eterna
busca por cuidados médicos ao mesmo tempo em que pequenos sinais do
corpo já são interpretados como indícios de que a crise está vindo, de que a
morte pode chegar a qualquer momento.

O ciclo vicioso das fobias: Quem sofre de fobia tem suas crises de pânico
desencadeadas por alguma situação específica (as fobias) no cérebro
antigo. Quando começa a sentir as sensações de luta ou fuga (o alarme de
emergência), imediatamente é inundado por imagens de catástrofe.
Essa interpretação dos sintomas como sendo uma catástrofe é recebida
pelo cérebro antigo novamente, aumentando os sintomas a níveis
estratosféricos. Ao mesmo tempo, sua respiração fica bastante alterada, o
que muda a química do sangue de maneira significativa. Essa mudança na
química do sangue, por si só, aumenta ou desencadeia novas crises. Aí
então os sintomas são muito assustadores. Como os sintomas são muito
desagradáveis, isso acaba por confirmar na cabeça da pessoa que
realmente os sintomas iniciais indicavam um grande problema. Em outras
palavras, os sintomas asseguram na imaginação da pessoa que ela
realmente corria perigo. Essa situação é percebida pelo cérebro antigo, que
tenta ajudar da única maneira que consegue: desencadeando novas
reações de luta ou fuga, novas crises de pânico. E assim o ciclo vicioso se
fechou...

http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias.htm
http://www.cerebromente.org.br/n05/doencas/fobias2.htm#FP

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O que é fobia?

A fobia não é uma doença, mas um sintoma que pode aparecer em várias
doenças mentais. Um quadro psicótico, ou depressivo, ou neurótico, podem
apresentar, como sintoma, uma fobia. Resumidamente, a fobia é um medo
de alguma coisa deslocado para um medo de outra coisa. É uma angústia
relativa a uma situação difícil de se lidar. A mente desloca a angústia dessa
situação para uma outra que, aparentemente, não tem nada a ver. Por
exemplo, tem gente que tem pânico de entrar no elevador. Por quê?
Elevador é perigoso? Pode até ser, mas não tem gente morrendo o tempo
todo por cair de elevador. O medo de elevador, portanto, não é razoável,
não é lógico, não é coerente. Por quê essa pessoa tem esse medo? Não tem
nada a ver com o elevador propriamente dito. Têm a ver com o espaço
fechado, trancado, e com algum outro medo da história psicológica dessa
pessoa, do seu desenvolvimento psíquico, relacionado com se sentir
fechado, trancado, isolado, desamparado, sozinho. Este tipo de medo está
deslocado para a situação do elevador.

Qualquer fobia é sempre assim: um medo que está inserido na história


psíquica dessa pessoa, no desenvolvimento psíquico dela, das angústias
que ela passou durante o seu desenvolvimento, que a sua mente não
conseguiu elaborar. Esse medo está lá, de prontidão. A pessoa precisa
eleger um determinado objeto ou situação para responsabilizar por esse
medo.

Qual a diferença entre o medo normal e a fobia? O medo é uma


reação psicológica e fisiológica normal, em resposta a alguma ameaça ou
perigo, ou à antecipação dos mesmos. A fobia é um medo excessivo e
irracional, desencadeado pela exposição ou antecipação de determinada
situação ou objeto. As pessoas com fobias específicas percebem que seu
nível de medo é excessivo, mas mesmo assim evitam qualquer exposição
ao objeto/situação temido. Essa hesitação leva a ansiedade, e esses dois
fatores causam grande impacto na vida da pessoa.

Existe relação entre fobia e trauma? Existe, em termos leigos, a idéia


de que os problemas psicológicos são causados por traumas. Na verdade,
não existe bem um trauma, o importante não é pensar numa coisa que
aconteceu, mas nas dificuldades que esta pessoa foi tendo no
desenvolvimento da sua personalidade para se constituir como sujeito. Essa
série de dificuldades é que vão gerar angústias. E são essas angústias que
são passadas para uma determinada situação. Então não dá para pensar em
um trauma, mas numa sucessão de traumas, de questões ou de problemas.

As fobias "crescem"? Sabe-se que sim. Existe o caso famoso de Hans,


estudado por Freud: a fobia do pequeno Hans. O menino que tinha fobia de
cavalo. No início ele tem fobia de cavalos, depois do lugar onde ficam os
cavalos, depois a fobia passa para qualquer rua onde talvez possa ser
encontrado um cavalo, depois a fobia se estende às carroças carregadas
que estão sendo puxadas por cavalos, de tal forma que a fobia vai se
estendendo tanto que limita a vida do indivíduo. Chega um ponto em que
ele não pode mais sair na rua, não pode mais fazer nada.

Quando é mais comum o surgimento das fobias? Pode-se dizer que no


início da infância é comum o aparecimento de algumas fobias. É muito raro
encontrar-se uma criança que não passou por uma fobia ou por um período
de fobia na infância. Algum tipo de fobia, como por exemplo, fobia de
escuro, é muito comum. Quase todas as crianças têm fobia de escuro. Fobia
de raio, trovão, tempestade. É quase normal que uma criança na primeira
infância tenha quadros fóbicos, que se resolvem espontaneamente. Na
verdade, estas fobias são um jeito que a cabeça da gente arruma para lidar
com as angústias, e que a criança está tendo que dar conta. Então, ela tem
medo do bicho papão, ou não dorme no escuro de jeito nenhum. São
quadros fóbicos quase normais na primeira infância. É que à medida que a
criança cresce, deixam de ser significativos, desaparecem e pronto.

Existe prevenção para a fobia? Não há como prevenir a fobia. O que se


pode fazer é criar uma estrutura psicológica mais firme. Uma criança criada
com mais segurança, com mais amor, mais afeto, amparo, mais protegida
adequadamente, porém não de maneira exagerada. Essa criança tem o seu
desenvolvimento psicológico mais adequado, estando menos sujeita às
fobias do que uma outra criança com uma série de problemas, encrencas,
de pais separados e outras questões... Uma insegurança na constituição
psicológica é que vai determinar o aparecimento de fobias.

Uma fobia pode surgir na idade adulta? A fobia pode aparecer em


qualquer momento da vida do indivíduo. Um sintoma que não tinha antes e,
de repente, pode aparecer. O mais comum, desse tipo de aparecimento, é a
famosa síndrome do pânico, que também é um quadro que apresenta uma
série de fobias, podendo aparecer a qualquer hora. De repente a pessoa
começa a ter pânicos e medos.
Existe lugar para o tratamento medicamentoso na fobia? Às vezes,
sim, como na síndrome de pânico. Nela, é importante haver o tratamento
medicamentoso para controlar as crises. Porém, o tratamento
medicamentoso isolado não adianta, porque se deve ajudar a pessoa a
desenvolver a capacidade de desassociar seus medos do objeto escolhido. É
preciso enriquecer a cabeça da pessoa, para ajudá-la a fazer historinhas,
dramatizar mais, para dar conta da angústia. Se você, apenas, tira o
sintoma da crise e não ajudar a cabeça a funcionar melhor, com a
medicação ela vai acabar desenvolvendo outro tipo de sintoma.

Qual o tempo de tratamento? O tratamento consiste em tentar


restabelecer as conexões perdidas. É um tratamento psicoterápico, de
duração indeterminada. Você começa a lidar com a questão e poderá lidar
alguns meses ou muitos anos, não tem uma regra. Depende tanto da
pessoa, como do terapeuta, acharem que tem sentido continuar lidando ou
não.

Qual o maior impacto da fobia na vida da pessoa? É o impedimento da


vida; as pessoas ficam cerceadas, se trancam no quarto, não saem mais de
casa. Esse é o grau máximo, o impedimento de vida. É a pessoa que só sai à
rua com uma entidade denominada "acompanhante fóbico". São pessoas
que só saem na rua acompanhadas, caso contrário, não conseguem sair
para lugar nenhum. Esse é um cerceamento relativo, mas existem casos
mais graves.

Copyright © 2007 Bibliomed, Inc. 01 de novembro de 2007


http://boasaude.uol.com.br/lib/showdoc.cfm?LibCatID=-
1&Search=&CurrentPage=0&LibDocID=5161

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Lista de Fobias: Apresentamos a seguir uma compilação de termos de


psicologia e psiquiatria a partir do dicionário Aurélio para os tipos de fobias
mais comuns. Caso tenha dúvidas nas legendas clique aqui. Termos de
psiquiatria e psicologia não conhecidos podem ser encontrados em nosso
dicionário.

abissofobia: [De abisso + -fobia.]


Horror a abismos e a precipícios.

acarofobia: (àca). [De acaro- + -fobia.]


Receio patológico de ácaros.

acrofobia: [De acr(o)-1 + -fobia.]


Medo mórbido de altura, de lugares elevados.

acusticofobia: (cùs). [De acustico- + -fobia.]


Medo patológico de sons.

aerodromofobia: [De aer(o)- + -drom(o)- + -fobia.]


Medo patológico de viagem aérea.

aerofobia: [De aer(o)- + -fobia.]


Medo mórbido do ar, de correntes de ar, etc.
agorafobia: [De agora- + -fobia.]
Medo mórbido e angustiante de lugares públicos e grandes espaços
descobertos.

[Cf. agorafilia e claustrofobia.]

ailurofobia: [De ailur(o)- + -fobia.]


V. elurofobia.

algofobia: [De alg(o)-2 + -fobia.]


Terror mórbido de sensação dolorosa.
[Opõe-se a algofilia.]

amaxofobia: (cs). [De amaxo- + -fobia.]


Sensação de medo em presença de veículos.

amicofobia: [De amico- + -fobia.]


Receio mórbido de ser arranhado, como, p. ex., por garra de animal.

androfobia: [De andr(o)- + -fobia.]


Horror ao sexo masculino.

nemofobia: [De anemo- + -fobia.]


Medo patológico de vento.

antofobia: [De ant(o)- + -fobia.]


Aversão patológica a flores.

apifobia: [De ap(i)- + -fobia.]


Medo patológico de abelhas e de seus ferrões.

aracnofobia: [De aracn(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de aranha.

astrofobia: [De astr(o)- + -fobia.]


1. Medo mórbido de trovões e relâmpagos.
2. Medo de astros, do espaço celeste.

ataxofobia: (cs). [De ataxo- + -fobia.]


Medo patológico de desordem.

autofobia: [De aut(o)-1 + -fobia.]


Medo patológico de si mesmo e de solidão.

automisofobia: [De aut(o)-1 + misofobia.]


Horror patológico à sujeira pessoal.

bacilofobia: [De bacilo + -fobia.]


Medo patológico de germes patogênicos.

basifobia: [De bas(i)- + -fobia.]


Medo mórbido de cair, ao andar; basiofobia, basofobia.
basiofobia: [De basio- + -fobia.]
V. basifobia.

basofobia: [De baso- + -fobia.]


V. basifobia.

batmofobia: [De batmo- + -fobia.]


Medo patológico de escadas ou de ladeiras altas.

batofobia: batofobia1
[De bato-2 + -fobia.]
1. Horror a lugares profundos, ou como que profundos.
2. Medo patológico de passar perto de, ou entre estruturas altas, como
edifícios, montanhas, etc.

batracofobia: [De batrac(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de batráquios.

bromidrosefobia: [De bromidrose + -fobia.]


ng: 0; margin: 0">Medo patológico de odores corporais, com percepções
ilusórias quanto a eles.

brontofobia: [De bront(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de trovão.

cardiopatofobia: [De cardi(o)- + -pat(o)- + -fobia.]


Medo patológico de cardiopatia.

catoptrofobia: [De catoptro- + -fobia.]


Aversão patológica a espelhos.

cenofobia: [De cen(o)-1 + -fobia.]


1. Medo patológico de grandes espaços abertos.
2. Medo patológico de coisas novas; cenotofobia, neofobia.

cenotofobia: [De cenoto- + -fobia.]


V. cenofobia 2.

cinofobia: [De cin(o)- + -fobia.]


Medo mórbido dos cães.

cipridofobia: [Do mit. gr. K Wpris, idos, 'Afrodite', + -fobia.]


1. Medo patológico de doença venérea.
2. Medo patológico de relação sexual.

[Sin. ger.: venereofobia.]


claustrofobia: [De claustro- + -fobia.]
Estado psicopatológico caracterizado pelo medo de estar ou passar em
lugares fechados ou de tamanho reduzido.

[Opõe-se a claustrofilia. Cf. agorafobia.]


cleptofobia: [De clepto- + -fobia.]
Medo mórbido de ser roubado, ou de cometer furto, ou de estar em débito.
climacofobia: [De climaco- + -fobia.]
Medo patológico de escadas ou de galgá-las.

coitofobia: [De coito1 + -fobia.]


Medo patológico de coito1.

coprofobia: [De copr(o)- + -fobia.]


Repugnância patológica à defecação e às fezes.

coprostasofobia: [De copr(o)- + -(e)stas(i)- + -o- + -fobia.]


Medo patológico de sofrer de constipação (1).

crematofobia: [De cremato- + -fobia.]


Aversão patológica a dinheiro.

cremnofobia: [De cremno- + -fobia.]


Medo patológico de precipícios.

cromatofobia: (crô). [De cromat(o)- + -fobia.]


Medo patológico de cor(es).

cronofobia: [De cron(o)- + -fobia.]


Medo patológico do tempo, ou do envelhecimento.

demofobia: [De demo- + -fobia.]


Temor patológico a multidão.

dendrofobia: [De dendr(o)- + -fobia.]


Horror às árvores.
[Opõe-se a dendrofilia.]

dismorfofobia: [De dismorfo- + -fobia.]


Medo patológico de deformidade corporal, presente ou futura.

domatofobia: (dô). [De domato- + -fobia.]


Medo patológico de estar dentro de uma casa.

dorafobia: [De dora- + -fobia.]


Medo patológico de pele ou pêlo de animal.

elurofobia: [De elur(o)- + -fobia.]


Medo patológico de gato.
[F. impr.: ailurofobia.]

emetofobia: (êm). [De emet(o)- + -fobia.]


Horror ao vômito.

entomofobia De entom- + -fobia.]


Medo patológico à insetos.

eremofobia: [De eremo- + -fobia.]


Medo patológico à solidão.

ereutofobia: [De ereuto- + -fobia.]


Medo de enrubescer na presença de outrem.

ergasiofobia: (gà). [De ergasio- + -fobia.]


1. Aversão patológica a trabalho.
2. Medo indevido de sofrer intervenção cirúrgica.

eritrofobia: [De eritr(o)- + -fobia.]


1. Manifestação neurótica caracterizada por enrubescimento ao menor
estímulo.
2. Medo patológico de enrubescer.
3. Aversão patológica à cor vermelha.

erotofobia: [De erot(o)- + -fobia.]


Horror ao ato sexual.

escopofobia: [De escopo- + -fobia.]


Receio mórbido de ser visto.

estasiofobia: [De estasi(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de se pôr de pé.

fagofobia: [De fag(o)- + -fobia.]


Medo patológico de alimentar-se.

filofobia: [De fil(o)-2 + -fobia.]


Medo patológico de fazer amigos.

fobofobia: [De fob(o)- + -fobia.]


Medo de seus próprios medos.

fonofobia: [De fon(o)- + -fobia.]


Aversão patológica a sons, e à fala em tom alto.

ftiriofobia: [De ftirio- + -fobia.]


Aversão patológica a piolhos.

gamofobia: [De gam(o)- + -fobia.]


Medo patológico de casamento.

gefirofobia: (è). [De gefiro- + -fobia.]


Medo patológico de andar em ponte, margem de rio, ou outro local perto de
água.

gimnofobia: [De gimn(o)- + -fobia.]


Aversão ao, ou medo do nu.
[Cf. ginofobia. ]

ginecofobia: (è). [De gineco- + -fobia.]


Aversão patológica a convívio com mulheres; ginofobia.
ginofobia: [De gin(o)- + -fobia.]
V. ginecofobia.
[Cf. gimnofobia.]

grafofobia: [De graf(o)- + -fobia.]


Medo patológico de escrever.

hafefobia: [De haf(e)- + -fobia.]


Receio patológico de tocar ou de ser tocado.

heliofobia: (è). [De heli(o)- + -fobia.]


Medo patológico da luz solar.

helmintofobia: [De helmint(o)- + -fobia.]


Medo patológico de ser infectado por helminto, por verme.

hematofobia: [De hemat(o)- + -fobia.]


S. f. Psiq
Horror ao sangue.

herpetofobia: [De herpet(o)-1 + -fobia.]


Medo patológico de répteis.

hialofobia: [De hial(o)- + -fobia.]


Medo patológico de vidro.

hidrofobia: [Do gr. hydrophobía, pelo b.-lat. hydrophobia.]


Horror aos líquidos.

hidrofobofobia: [De hidrófobo + -fobia.]


V. lissofobia.

higrofobia: [De higr(o)- + -fobia; lat. hygrophobia.]


Horror à umidade, que não se adapta a ela.

hipnofobia: [De hipn(o)- + -fobia.]


1 Medo de dormir.
2. Terror ou medo durante o sono.

hipsofobia: [De hips(o)- + -fobia.]


Medo mórbido das alturas.

hodofobia: [De hodo- + -fobia.]


Aversão patológica a percorrer caminhos.

homofobia: [De hom(o)- + -fobia.]


Aversão a homossexuais ou ao homossexualismo

ictiofobia: (ìc). [De icti(o)- + -fobia.]


versão patológica a peixes.

ideofobia: (ìd). [De ideo- + -fobia.]


1 Medo mórbido de perder a razão.
2. Medo ou desconfiança de idéia(s).

iofobia: [De io- + -fobia.]


Medo patológico de venenos.

lalofobia: [De lal(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de falar, decorrente, por vezes, de gagueira; logofobia.

lemofobia: [De lemo- + -fobia.]


Horror à peste (1), ou a qualquer doença altamente contagiosa.

levofobia: [De lev(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de tudo que se situa do lado esquerdo daquele que sofre de
tal fobia.

lissofobia: [De liss(o)-2 + -fobia.]


Medo mórbido de contrair raiva (1); hidrofobofobia.

livrofobia: [De livro + -fobia.]


Horror aos livros.

logofobia: [De log(o)- + -fobia.]


Lalofobia (q. v.).

maieusofobia: [De maieuso- + -fobia.]


Medo mórbido do parto.

melofobia: [De mel(o)-1 + -fobia.]


Musicofobia (q. v.).

misofobia: [De miso- + -fobia.]


Temor doentio dos contatos, pelo receio de infecção ou contaminação.

monofobia: [De mon(o)- + -fobia.]


Horror mórbido à solidão.

musicofobia: (mù). [De musico- + -fobia.]


Aversão à música; melofobia.

necrofobia: [De necr(o)- + -fobia.]


Horror mórbido à morte.

neofobia: [De ne(o)- + -fobia.]


V. cenofobia2.

nictofobia: [De nict(o)- + -fobia.]


Medo doentio da noite, da escuridão.

nosofobia: [De noso- + -fobia.]


Medo de adoecer, que pode levar alguém a tratar-se de doenças de que não
sofre.
[Sin. ger.: patofobia.]

nudofobia: [De nudo- + -fobia.]


Aversão ou sensação mórbida que se experimenta por ficar nu.

oclofobia: [De oclo- + -fobia.]


Horror ou aversão à plebe, à multidão.

odinofobia: [De odin(o)- + -fobia.]


Medo patológico de dor.

ofidiofobia: (fì). [De ofídio2 + -fobia.]


Medo mórbido de ofídios.

ombrofobia: [De ombro- + -fobia.]


Medo mórbido de chuvas, temporais e tempestades.

orofobia: [De or(o)- + -fobia.]


Horror mórbido às montanhas.

pacnofobia: [De pacno- + -fobia.]


Medo patológico de neve; quionofobia.

panfobia: [De pan- + -fobia.]


V. pantofobia.

panofobia: [De pan- + -o- + -fobia.]


V. pantofobia.

pantofobia: [De pant(o)- + -fobia.]


Estado de ansiedade que induz o indivíduo a ter medo de tudo; panfobia,
panofobia.

parasitofobia: [De parasit(o)- + -fobia.]


Medo patológico de parasito, ou de contrair moléstias parasitárias.

partenofobia: [De parteno- + -fobia.]


Medo mórbido de mulher virgem.

patofobia: [De pato- + -fobia.]


V. nosofobia.

pecatifobia: [Do lat. peccatum, i, 'falta', 'pecado', + -fobia.]


Medo patológico de pecar; pecatofobia.

pecatofobia: [Do lat. peccatum + -fobia.]


V. pecatifobia.

pedofobia: [De ped(o)- + -fobia.]


Aversão às crianças.

pirofobia: [De piro- + -fobia.]


Horror doentio ao fogo.

pnigofobia: [De pnigo- + -fobia.]


Medo mórbido de morrer por asfixia.

polifobia: [De poli-1 + -fobia.]


Medo patológico de múltiplas coisas.

ponofobia: [De pono- + -fobia.]


Medo patológico de trabalho; indolência (3) mórbida.
potamofobia: [De potam(o)- + -fobia.]
Medo patológico de rio, de correntes de água.

proctofobia: [De proct(o)- + -fobia.]


Estado de apreensão manifestado em doente com doença anal e/ou retal.

pseudofobia: [De pseud(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de algo que não causa dor nem molesta, mas apenas
desgosta.

psicrofobia: [De psicro- + -fobia.]


Medo mórbido de frio.

querofobia: [De quero- + -fobia.]


Desgosto ou medo patológico de alegria, de jovialidade.

quionofobia: [De quion(o)- + -fobia.]


V. pacnofobia.

sifilofobia: (sì). [De sifilo- + -fobia.]


1 Medo patológico de ter sífilis.
2. Ilusão de estar com sífilis.

sitiofobia: [De sitio- + -fobia.]


Sitofobia (q. v.).
sitofobia: [De sito- + -fobia.]
Medo patológico de alimentar-se; sitiofobia.

sociofobia: (sò). [De socio- + -fobia.]


Aversão ao que seja relativo a social.

tafofobia: [De tafo- + -fobia.]


Medo doentio de ser sepultado vivo.

talassofobia: [De talass(o)- + -fobia.]


Medo patológico de mar.

tanatofobia: [De tanato- + -fobia.]


1. Medo injustificado de morte iminente.
2. Medo patológico da morte.

tassofobia: [Do rad. do v. gr. thássein, 'sentar-se', + -o- + -fobia.]


Medo patológico de estar sentado ociosamente.

taurofobia: [De tauro- + -fobia.]


Medo patológico de touros.

teofobia: [De te(o)- + -fobia.]


Temor patológico a Deus ou deuses.

teratofobia: [De terat(o)- + -fobia.]


1 Aversão patológica a monstro (1).
2. Medo patológico de dar à luz um monstro (1).
termofobia: [De term(o)- + -fobia.]
Aversão patológica a temperatura elevada.

tocofobia: [De toc(o)- + -fobia.]


Medo patológico de parir.

tonitrofobia: (tô). [De tonitr(o)- + -fobia.]


Medo patológico de trovão.

topofobia: [De top(o)- + -fobia.]


Medo mórbido de determinados lugares.

toxicofobia: (òcs). [De toxic(o)- + -fobia.]


Medo patológico de veneno.

uiofobia: (ui-o). [De uio- + -fobia.]


Mania que consiste na aversão aos próprios filhos.

venereofobia: (nè). [De venéreo + -fobia.]


V. cipridofobia.

xenofobia: [De xen(o)- + -fobia.]


Aversão a pessoas e coisas estrangeiras; xenofobismo.
[Antôn.: xenofilia.]

zoofobia: (ô-o). [De zo(o)- + -fobia.]


Medo mórbido a qualquer animal:

Fonte:
http://www.alppsicologa.hpg.com.br
http://www.alppsicologa.hpg.ig.com.br/listfobias.htm
(As informações que constam nessas homepages não excluem a
necessidade de consultas com psicólogos, médicos ou outros
profissionais da saúde sempre que necessário.)

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PARANÓIA:

O que é: No senso comum, a paranóia caracteriza-se como uma dificuldade


de relacionamento, a pessoa começa a achar que os outros estão sempre
contra ela, é muito desconfiada, e esta caracterização do senso comum
pode apontar, apenas, para pessoas inseguras. A paranóia é um quadro
psicótico onde a pessoa descreve tramas contra si própria, onde há um
sentimento de perseguição, a pessoa sente-se como se o mundo estivesse
contra ela e tudo que acontece parece ser uma conspiração. Para o paciente
paranóico, até mesmo familiares, amigos e vizinhos podem estar envolvidos
na conspiração. A pessoa diz que as pessoas da rua, da televisão e do rádio
falam mal dela, que fazem “macumba” contra ela e geralmente refere-se a
gravadores, câmeras escondidas e outros aparelhos que a ficam vigiando
tempo integral. Mostrar a um paciente que tudo isto que ele relata é irreal,
é uma atitude inútil, porque este tipo de avaliação errônea da realidade é
um delírio. O paciente ainda apresenta outras complicações como
alucinações auditivas, onde ouve vozes que o ofendem ou comentam seus
atos e que, em alguns casos, podem ser vozes que ordenam coisas que o
paciente sente-se incapaz de desobedecer. Alguns paranóicos podem negar
que estão ouvindo vozes, mas se o profissional observá-lo cuidadosamente,
pode surpreendê-los falando sozinhos ou rindo sem motivo, como se
estivessem ouvindo algo. O paciente pode se referir a uma perda do
controle de seus atos e pode, também, interromper seu discurso ou
começar a falar coisas sem sentido, sem conexão com o assunto anterior.
Muitas vezes o paranóico pensa que os outros podem saber o que ele está
pensando e tem a sensação de que seus pensamentos saem de sua cabeça
como um alto-falante. Em alguns casos o paranóico pode se tornar
agressivo.
(http://www.coladaweb.com/psicologia/paranoia.htm )

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PARANÓIA:

A palavra Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde metal


para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou
injustificada. A palavra é freqüentemente utilizada na conversação
cotidiana, em geral em momentos de rancor e de forma incorreta. Simples
desconfiança não é paranóia - especialmente se fundamentada em
experiência passada ou em expectativas baseadas na experiência alheia.
A paranóia pode ser discreta e a pessoa afetada ser razoavelmente bem
ajustada socialmente ou pode ser tão grave que o indivíduo se tora
incapacitado. Às vezes o diagnóstico é difícil, já que muitos distúrbios
psiquiátricos são acompanhados de alguma característica paranóide. As
paranóias podem ser classificadas em três categorias principais: distúrbio
paranóide de personalidade, distúrbio delirante paranóide e esquizofrenia
paranóide.

Distúrbio Paranóide de Personalidade: Oswaldo trabalhava em um


grande escritório como programador de computação. Quando outro
programador foi promovido, Oswaldo achou que seu supervisor tinha raiva
dele e que jamais reconheceria seu valor. Estava certo de estar sendo
sutilmente menosprezado pelos colegas. Muitas vezes nos intervalos para o
cafezinho, observando-os em pequenos grupos, imaginava que estivessem
falando dele. Se visse um grupo de pessoas rindo, pensava que estivessem
rindo dele. Passava tanto tempo remoendo tais idéias, que seu rendimento
no trabalho caiu a ponto de seu supervisor alertá-lo de que precisaria
melhorar seu desempenho para não receber uma avaliação insatisfatória.
Esta atitude reforçou as suspeitas de Oswaldo, que decidiu procurar
emprego em outra grande empresa. Após algumas semanas em seu novo
serviço, começou a achar que os colegas de escritório não gostavam dele,
excluindo-o de conversas, ridicularizando-o pelas costas e denegrindo seu
trabalho. Oswaldo mudou de emprego seis vezes nos últimos sete anos. Ele
sofre de distúrbio paranóide de personalidade.
Algumas pessoas tornam-se desconfiadas sem motivo, em tal grau que seus
pensamentos paranóides destroem sua vida profissional e familiar. Diz-se
que tais pessoas têm distúrbio paranóide de personalidade.

Elas são:
Desconfiadas: A desconfiança permanente é um sinal inconfundível de
paranóia. Pessoas com distúrbio paranóide de personalidade estão
constantemente em guarda, por enxergarem o mundo como um lugar
ameaçador. Tendem a confirmar suas expectativas, agarrando-se a mínimas
evidências que confirmem suas suspeitas, e ignoram ou distorcem qualquer
prova em contrário. Estão sempre alertas, procurando sinais de alguma
ameaça. Qualquer pessoa em uma situação nova — nos primeiros dias em
um emprego ou iniciando um relacionamento, por exemplo — é cautelosa e
de certa forma reservada, até sentir que seus temores são infundados.
Pessoas com paranóia não conseguem abandonar seus temores. Continuam
a esperar por armadilhas e duvidam da lealdade dos outros. No
relacionamento pessoal ou no casamento, essa desconfiança pode
apresentar-se sob a forma de ciúme patológico e infundado.

Hipersensíveis: Por estarem excessivamente alertas, as pessoas com


distúrbio paranóide de personalidade percebem qualquer minúcia e podem
ofender-se sem motivo. Em conseqüência, tendem a ser excessivamente
defensivas e hostis. Quando cometem algum erro, não reconhecem a culpa,
nem aceitam a mais leve crítica. Entretanto, são extremamente criticas em
relação aos outros. Pode-se dizer que tais pessoas fazem “tempestade em
copo d’água”.

Frias e Distantes: Além de serem polemistas e irredutíveis, as pessoas


com distúrbio paranóide de personalidade têm dificuldade de manter
vínculos afetivos. Parecem frias e evitam relacionamentos interpessoais.
Orgulham-se de serem racionais e objetivas. Pessoas com uma perspectiva
paranóide em relação à vida raramente procuram auxílio médico - não faz
parte de sua natureza pedir ajuda. Profissionalmente podem atuar com
competência. Pode procurar redutos sociais onde o estilo moralista e
punitivo seja aceitável ou, até certo ponto, tolerável.

Distúrbio Delirante Paranóide: Os psiquiatras fazem distinção entre o


discreto distúrbio paranóide de personalidade, descrito acima, e O distúrbio
delirante paranóide, mais incapacitante. A característica mais marcante
deste último é a presença de um tipo de delírio persistente e não bizarro,
sem sintomas de qualquer outro distúrbio mental.

Delírios são crenças fortes, não verdadeiras, não compartilhadas por outras
pessoas da mesma cultura e não facilmente modificáveis. Cinco tipos de
delírios são observados. Em alguns indivíduos, mais de um pode ocorrer.

Ruth é uma secretária eficiente e prestativa. Seus superiores e colegas de


trabalho valorizam muito sua contribuição no escritório. No entanto. Ruth
passa suas noites escrevendo cartas a autoridades. Sente que Deus abriu
sua mente e lhe ensinou a cura do câncer. Quer que algum importante
centro de tratamento utilize essa cura em todos os pacientes, para provar
ao mundo que está certa. Muitas de suas cartas não são respondidas, outras
recebem respostas evasivas, o que a faz sentir que ninguém compreende
que ela seria capaz de salvar todos os pacientes de câncer, se lhe fosse
dada à chance. Quando alguma de suas cartas é respondida por um
assessor da autoridade a quem foi dirigida, ela tem certeza de que o
destinatário foi deliberadamente mantido desinformado de seu
conhecimento e capacidade. Algumas vezes desespera-se com o fato de
que o mundo jamais saberá o quanto ela é maravilhosa, porém não desiste
e continua a escrever. Ruth sofre de um dos tipos de distúrbio delirante, o
delírio de grandeza (ou megalomania).

O delírio mais comum nos distúrbios delirantes é persecutório. Enquanto


que têm personalidade paranóide podem suspeitar de que seus colegas
estão rindo à sua custa, pessoas com delírio de perseguição desconfiam que
os outros estejam elaborando grandes tramas para perseguí-las. Acreditam
que estão sendo envenenadas, drogadas, espanadas, ou que são alvo de
conspirações com o intuito de arruinar sua reputação ou até lhes causar a
morte. Às vezes, movem ações judiciais com a intenção de serem
ressarcidas por injustiças imaginárias.

Outro tipo freqüentemente observado é o delírio de ciúme. Qualquer indício


— até uma mancha insignificante na roupa ou um pequeno atraso para
chegar em casa — é interpretado como evidência de que o cônjuge está
sendo infiel.

Delírios eróticos envolvem uma fixação romântica por uma pessoa,


geralmente alguém de nível social mais elevado ou alguma celebridade.
Indivíduos com delírios eróticos muitas vezes assediam pessoas através de
inúmeras cartas, telefonemas, visitas e vigilância furtiva.

Pessoas com delírios de grandeza geralmente acham que são dotadas de


poderes especiais e que, se autorizadas a praticar esses poderes, poderiam
curar doenças, erradicar a pobreza, assegurar a paz mundial ou executar
feitos extraordinários.

Indivíduos com delírios hipocondríacos estão convencidos de que há algo


errado com seu corpo — acham que exalam mau cheiro, sentem-se
infestados por insetos ou se julgam deformados e feios. Devido a esse tipo
de delírio, tendem a evitar o convívio social e passam muito tempo
consultando médicos sobre suas doenças imaginárias.

Ainda não foi avaliada de forma sistemática a hipótese de que pessoas com
distúrbio delirante possam constituir perigo para outras, mas a experiência
clínica sugere que tais pessoas raramente são homicidas. Os indivíduos
delirantes geralmente são irritáveis e. por isso, são tidos como
ameaçadores. Nos raros casos em que indivíduos com distúrbio delirante
tornam-se violentos, suas vítimas geralmente são pessoas que
inadvertidamente se encaixam em seu esquema delirante. A pessoa em
maior perigo no relacionamento com um indivíduo com distúrbio delirante é
o cônjuge ou amante.

Esquizofrenia Paranóide: Alfredo, não gostava muito de escola e estava


feliz por ter concluído o colegial e conseguido um emprego. Mas, quando se
deu conta de que necessitava de melhor formação para atingir seus
objetivos, matriculou-se em uma faculdade próxima. Alugou uma casa com
outros jovens e se aplicou nos estudos. Próximo do final do segundo ano
parou de fazer as refeições com os colegas e passou a se alimentar só de
enlatados, para ter certeza de que não estava sendo envenenado. Ao andar
pelo campus, evitava as moças, pois achava que elas lhe lançavam teias
envenenadas que envolveriam seu corpo como uma gigantesca teia de
aranha. Quando começou a temer que seus colegas colocassem gás
envenenado em seu quarto, abandonou a escola e voltou para casa. Limpou
seu quarto e colocou uma tranca na porta, para que os pais não pudessem
entrar e contaminar o recinto. Comprou um fogareiro elétrico e passou a
preparar a própria comida. Se sua mãe insistisse para que fizesse uma
refeição com a família, ele a acusava de tentar envenená-lo. Seus pais
finalmente conseguiram convencê-lo a procurar um psiquiatra que
diagnosticou “esquizofrenia paranóide” Com medicamentos, terapia
individual e de grupo. Alfredo melhorou o suficiente para trabalhar em um
escritório sob a supervisão de um chefe compreensivo e encorajador.

Idéias e comportamento paranóides são características de uma forma de


esquizofrenia chamada esquizofrenia paranóide. Indivíduos que sofrem de
esquizofrenia paranóide normalmente são acometidos de delírios
extremamente bizarros ou alucinações, quase sempre sobre um tema
especifico. Freqüentemente ouvem vozes que outros não podem ouvir ou
acreditam que seus pensamentos estão sendo controlados ou divulgados
em voz alta. Além disso, seu desempenho em casa e no emprego se
deteriora, muitas vezes com um grau menor de expressividade emocional.

Por outro lado, as pessoas com distúrbio delirante paranóide relativamente


mais discreto podem ter sintomas como delírios persecutórios ou de ciúmes,
mas não as alucinações acentuadas ou impossíveis e os delírios bizarros da
esquizofrenia paranóide. Tais pessoas geralmente podem trabalhar e seu
comportamento e expressão emocional são coerentes com o tema de seus
delírios. Excetuando os delírios, seu pensamento permanece sistematizado
e lógico, ao contrário das pessoas com esquizofrenia paranóide, que com
freqüência, têm o pensamento desorganizado e confuso.

Causas da Paranóia:

Fatores Genéticos: Pouco se tem estudado sobre o papel da


hereditariedade na paranóia. Pesquisadores observaram que famílias de
pacientes paranóides não apresentam incidência de esquizofrenia ou
depressão acima do normal. Entretanto, há evidências de que sintomas
paranóides na esquizofrenia podem ter influência genética. Alguns estudos
em gêmeos idênticos com esquizofrenia mostraram que, quando um dos
gêmeos apresenta sintomas paranóides, geralmente o outro também os
manifesta. Além disso, pesquisas recentes têm indicado que distúrbios
paranóides são significativamente mais comuns em parentes de pessoas
com esquizofrenia do que na população em geral. Ainda não se sabe se os
distúrbios paranóides — ou a predisposição para apresentá-los — são
hereditários ou não.

Fatores Bioquímicos: A descoberta de que a psicose (estado no qual o


indivíduo perde o contato com a realidade) é tratável com drogas
antipsicóticas tem levado os pesquisadores a procurar as origens de
distúrbios mentais graves em anomalias químicas no cérebro. A pesquisa
tem se tornado muito complexa à medida que se descobrem mais e mais
substâncias químicas que transmitem mensagens de uma célula nervosa
para outra - os neurotransmissores. Até agora, não se encontraram
respostas definidas. Como nos estudos genéticos, também não houve
estudos bioquímicos específicos em paranóia, a não ser como um subtipo de
esquizofrenia. Há, no entanto, algumas evidências de que a esquizofrenia
paranóide é bioquimicamente distinta das formas não-paranóides deste
distúrbio.
O abuso de drogas como anfetaminas, cocaína, maryuana, PCP (“pó de
anjo”), LSD ou outros estimulantes ou compostos “psicodélicos” pode
produzir pensamentos ou comportamento paranóides, ou agravar os
sintomas já existentes em pacientes com doença mental grave, como
esquizofrenia. Pesquisadores estão estudando a ação bioquímica de tais
drogas, a fim de compreender como elas produzem mudanças no
comportamento, Isso poderá nos ajudar a aprender mais sobre a
neuroquímica dos distúrbios paranóides.

“Stress”: Alguns especialistas acreditam que a paranóia pode ser uma


reação a altos níveis de “stress”. Reforçando essa opinião, há evidência de
que a paranóia incide mais entre imigrantes, prisioneiros de guerra e outras
pessoas submetidas a altos níveis de “stress”. Há pessoas que apresentam
uma forma aguda de paranóia, quando submetidas a uma situação nova e
altamente estressante, com delírios que se desenvolvem em um curto
espaço de tempo e duram apenas alguns meses.

Alguns estudos demonstram que a paranóia tem ocorrido com maior


freqüência no século XX. A relação entre o “stress” e a paranóia não exclui,
é claro, outros fatores causais. Um defeito genético, uma anomalia cerebral,
um distúrbio no processamento de informações — ou todos os três fatores
— poderiam predispor uma pessoa á paranóia; o “stress” poderia
simplesmente atuar como fator desencadeante.

Tratamento da Paranóia: A desconfiança das pessoas paranóides torna


difícil o tratamento da doença. Raramente, falarão com espontaneidade em
uma consulta. Desconfiam do tipo de sondagem aberta que muitos
terapeutas utilizam para conhecer a história do paciente (por exemplo:
“fale-me de seu relacionamento com seus colegas de trabalho”). Podem não
aceitar medicamentos ou uma internação, temendo a perda de controle ou
outros perigos, reais ou imaginários.

Tratamento Medicamentoso: O tratamento com medicamentos


antipsicóticos apropriados pode ajudar o paciente paranóide a superar
alguns sintomas. Embora o comportamento do paciente possa ser
melhorado, os sintomas paranóides freqüentemente permanecem
inalterados. Alguns estudos indicam uma melhora dos sintomas com o
tratamento medicamentoso, porém resultados semelhantes ocorrem,
freqüentemente, em pacientes que recebem placebo (“remédio” sem
ingrediente ativo). Esta observação sugere que, em alguns casos, a
paranóia diminui mais por razões psicológicas do que pela ação do
medicamento. Pacientes paranóides em tratamento com medicamentos
devem ser mantidos sob rigorosa observação. A desconfiança e o delírio de
perseguição os levam, muitas vezes, a recusar ou sabotar o tratamento -
por exemplo, conservar o comprimido dentro da boca, sem engolir, até
ficarem sozinhos e então cuspi-lo.

Psicoterapia: Relatos de casos individuais sugerem que a oportunidade de


expressar seus temores e desconfianças de forma regular, como é
propiciada pela psicoterapia, pode ajudar o paciente paranóide a se ajustar
à vida social. Embora as idéias paranóides pareçam persistir, elas podem
tornar-se menos prejudiciais. Outros tipos de psicoterapia, com os quais se
observa uma melhora do comportamento social, sem redução apreciável
dos delírios paranóides, são a terapia familiar, a terapia de grupo e a
arteterapia.

Perspectivas para os Pacientes Paranóides: Apesar das dificuldades de


tratamento, pacientes com um distúrbio paranóide podem ajustar-se
razoavelmente bem. Mesmo que suas idéias paranóides sejam
aparentemente inabaláveis, vários tratamentos parecem eficazes,
melhorando o ajustamento social, e evitando hospitalizações prolongadas.
Os sintomas são menos bizarros do que os associados à esquizofrenia
paranóide. Os distúrbios paranóides parecem, também, causar menos
desorganização da personalidade e ruptura na vida social e familiar. Ao
contrário da esquizofrenia, que pode se tornar progressivamente pior, o
distúrbio paranóide parece atingir um certo grau de gravidade e se
estabilizar.

National Institute of Mental Health EUA


Sociedade Bras. de Psiquiatria Clínica *
http://www.psiquiatriageral.com.br/tema/paranoia.htm

* Dr. David Shoe, M.D.


Dr. David Picka, M.D.
Dr. Darryl G.Kirch, M.D.

TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR


(PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA)

Sinônimos e nomes relacionados: Psicose maníaco-depressiva,


transtorno ou doença afetivo bipolar, incluindo tipos específicos de doenças
ou transtornos do humor, como ciclotimia, hipomania e transtorno misto do
humor.

O que é a doença bipolar do humor: O Transtorno Bipolar do Humor,


antigamente denominado de psicose maníaco-depressiva, é caracterizado
por oscilações ou mudanças cíclicas de humor. Estas mudanças vão desde
oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças
patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de MANIA,
HIPOMANIA*, DEPRESSÃO e MISTOS. É uma doença de grande impacto na
vida do paciente, de sua família e sociedade, causando prejuízos
freqüentemente irreparáveis em vários setores da vida do indivíduo, como
nas finanças, saúde, reputação, além do sofrimento psicológico. É
relativamente comum, acometendo aproximadamente 8 a cada 100
indivíduos, manifestando-se igualmente em mulheres e homens.

O que causa a doença bipolar do humor: A base da causa para a


doença bipolar do humor não é inteiramente conhecida, assim como não o é
para os demais distúrbios do humor. Sabe-se que os fatores biológicos
(relativos a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos
somam-se no desencadeamento da doença. Em geral, os fatores genéticos
e biológicos podem determinar como o indivíduo reage aos estressores
psicológicos e sociais, mantendo a normalidade ou desencadeando doença.
O transtorno bipolar do humor tem uma importante característica genética,
de modo que a tendência familiar à doença pode ser observada.
Como se manifesta a doença bipolar do humor: *** Pode iniciar na
infância, geralmente com sintomas como irritabilidade intensa,
impulsividade e aparentes “tempestades afetivas”. Um terço dos indivíduos
manifestará a doença na adolescência e quase dois terços, até os 19 anos
de idade, com muitos casos de mulheres podendo ter início entre os 45 e 50
anos. Raramente começa acima dos 50 anos, e quando isso acontece, é
importante investigar outras causas.

A mania (eufórica) é caracterizada por:


Humor excessivamente animado, exaltado, eufórico, alegria exagerada e
duradoura;
Extrema irritabilidade, impaciência ou “pavio muito curto”;
Agitação, inquietação física e mental;
Aumento de energia, da atividade, começando muitas coisas ao mesmo
tempo sem conseguir terminá-las
Otimismo e confiança exageradas;
Pouca capacidade de julgamento, incapacidade de discernir;
Crenças irreais sobre as próprias capacidades ou poderes, acreditando
possuir muitos dons ou poderes especiais;
Idéias grandiosas;
Pensamentos acelerados, fala muito rápida, pulando de uma idéia para
outra,tagarelice;
Facilidade em se distrair, incapacidade de se concentrar;
Comportamento inadequado, provocador, intrometido, agressivo ou de
risco;
Gastos excessivos;
Desinibição, aumento do contato social, expansividade;
Aumento do impulso sexual;
Agressividade física e/ou verbal;
Insônia e pouca necessidade de sono;
Uso de drogas, em especial cocaína, álcool e soníferos.

*** Três ou mais sintomas aqui relacionados devem estar presentes por, no
mínimo, uma semana;
*A hipomania é um estado de euforia mais leve que não compromete tanto
a capacidade de funcionamento do paciente. Geralmente, passa
despercebida por ser confundida com estados normais de alegria e devem
durar no mínimo dois dias.

Humor melancólico, depressivo;


Perda de interesse ou prazer em atividades habitualmente interessantes;
Sentimentos de tristeza, vazio, ou aparência chorosa/melancólica;
Inquietação ou irritabilidade;
Perda ou aumento de apetite/peso, mesmo sem estar de dieta;
Excesso de sono ou incapacidade de dormir;
Sentir-se ou estar agitado demais ou excessivamente devagar (lentidão);
Fadiga ou perda de energia;
Sentimentos de falta de esperança, culpa excessiva ou pessimismo;
Dificuldade de concentração, de se lembrar das coisas ou de tomar
decisões;
Pensamentos de morte ou suicídio, planejamento ou tentativas de suicídio;
Dores ou outros sintomas corporais persistentes, não provocados por
doenças ou lesões físicas.
O estado misto é caracterizado por: Sintomas depressivos e maníacos
acentuados acontecendo simultaneamente;
A pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e progressivamente eufórica
com o passar do dia, ou vice-versa;
Pode ainda apresentar-se agitada, acelerada e ao mesmo tempo queixar-se
de angústia, desesperança e idéias de suicídio; Os sintomas
freqüentemente incluem agitação, insônia e alterações do apetite. Nos
casos mais graves, podem haver sintomas psicóticos (alucinações e delírios)
e pensamentos suicidas;

De que outras formas a doença bipolar do humor pode se


manifestar: Existem três outras formas através das quais a doença bipolar
do humor pode se manifestar, além de episódios bem definidos de mania e
depressão:

Uma primeira forma seria a hipomania, em que também ocorre estado de


humor elevado e expansivo, eufórico, mas de forma mais suave. Um
episódio hipomaníaco, ao contrário da mania, não é suficientemente grave
para causar prejuízo no trabalho ou nas relações sociais, nem para exigir a
hospitalização da pessoa.

Uma segunda forma de apresentação da doença bipolar do humor seria a


ocorrência de episódios mistos, quando em um mesmo dia haveria a
alternância entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode
chorar, ficar triste, sentindo-se sem valor e sem esperança, e no momento
seguinte estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, ou irritada, falante e
agressiva.

A terceira forma da doença bipolar do humor seria aquela conhecida


como transtorno ciclotímico, ou apenas ciclotimia, em que haveria uma
alteração crônica e flutuante do humor, marcada por numerosos períodos
com sintomas maníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos,
que se alternariam. Tais sintomas depressivos e maníacos não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se
ter certeza de se tratar de depressão e de mania, respectivamente. Seria,
portanto, facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, marcada por
instabilidade do humor.

Como se diagnostica a doença bipolar do humor: O diagnóstico da


doença bipolar do humor deve ser feito por um médico psiquiátrico baseado
nos sintomas do paciente. Não há exames de imagem ou laboratoriais que
auxiliem o diagnóstico. A dosagem de lítio no sangue só é feita para as
pessoas que usam carbonato de lítio como tratamento medicamentoso, a
fim de se acompanhar a resposta ao remédio.

Como se trata a doença bipolar do humor: O tratamento, após o


diagnóstico preciso, é medicamentoso, envolvendo uma classe de
medicações chamada de estabilizadores do humor, da qual o carbonato de
lítio é o mais estudado e o mais usado. A carbamazepina, a oxcarbazepina e
o ácido valpróico também se mostram eficazes. Um acompanhamento
psiquiátrico deve ser mantido por um longo período, sendo que algumas
formas de psicoterapia podem colaborar para o tratamento. (FONTE)
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE:

Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de


comportamento de um indivíduo (caráter). Pode-se dizer que é o "jeitão" de
ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou o "jeitão" de agir. Um
transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito
inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às
situações que enfrenta, causando a ele próprio, ou mais comumente aos
que lhe estão próximos, sofrimento e incomodação. Geralmente esses
indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de
caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas
relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares
aconselhem o tratamento. Geralmente aparecem no início da idade adulta e
são cronificantes (permanecem pela vida toda) se não tratados.
As causas destes transtornos geralmente são múltiplas, mas relacionadas
com as vivências infantis e as da adolescência do indivíduo.
O tratamento desses transtornos é bastante difícil e igualmente demorado,
pois em se tratando de mudanças de caráter, o indivíduo terá de mudar o
seu próprio "jeito de ser" para que o tratamento seja efetivo.

Existem muitos tipos desses transtornos, como se vê a seguir:

Transtorno de Personalidade Paranóide: Indivíduos desconfiados, que


se sentem enganados pelos outros, com dúvidas a respeito da lealdade dos
outros, interpretando ações ou observações dos outros como ameaçadoras.
São rancorosos e percebem ataques a seu caráter ou reputação, muitas
vezes ciumentos e com desconfianças infundadas sobre a fidelidade dos
seus parceiros e amigos.

Transtorno de Personalidade Esquizóide: Indivíduos distanciados das


relações sociais, que não desejam ou não gostam de relacionamentos
íntimos, realizando atividades solitárias, de preferência. Pouco ou nenhum
interesse em relações sexuais com outra pessoa, e pouco ou nenhum prazer
em suas atividades. Não têm amigos íntimos ou confidentes, não se
importam com elogios ou críticas, sendo frios emocionalmente e distantes.

Transtorno de Personalidade Esquizotípica: Indivíduos excêntricos e


estranhos, que têm crenças bizarras, com experiências de ilusões e
pensamento e discurso extravagante. Falta de amigos e muita ansiedade no
convívio social.

Transtorno de Personalidade Borderline: Indivíduos instáveis em suas


emoções e muito impulsivos, com esforços incríveis para evitar abandono
(até tentativas de suicídio). Têm rompantes de raiva inadequada. As
pessoas a sua volta são consideradas ótimas, mas frente a recusas tornam-
se péssimas rapidamente, sendo desconsideradas as qualidades
anteriormente valorizadas. Costumam apresentar uma hiper reatividade
afetiva, em que as situações boas são ótimas ou excelentes, e as ruins ou
desfavoráveis são péssimas ou catastróficas.

Transtorno de Personalidade Narcisista: Indivíduos que se julgam


grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros,
acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações
sociais, tornando-se arrogantes. Gostam de falar de si mesmos, ressaltando
sempre suas qualidades e por vezes contando vantagens de situações. Não
se importam com o sofrimento que causam nas outras pessoas e muitas
vezes precisam rebaixar e humilhar os outros para que se sintam melhor.

Transtorno de Personalidade Anti-social: Indivíduos que desrespeitam


e violam os direitos dos outros, não se conformando com normas.
Mentirosos, enganadores e impulsivos, sempre procurando obter vantagens
sobre os outros. São irritados, irresponsáveis e com total ausência de
remorsos, mesmo que digam que têm, mais uma vez tentando levar
vantagens. Podem estabelecer relacionamentos afetivos superficiais, mas
não são capazes de manter vínculos mais profundos e duradouros.

Transtorno de Personalidade Histriônica: Indivíduos facilmente


emocionáveis, sempre em busca de atenção, sentindo-se mal quando não
são o centro das atenções. São sedutores, com mudanças rápidas das
emoções. Tentam impressionar aos outros, fazendo uso de dramatizações, e
tendem a interpretar os relacionamentos como mais íntimos do que
realmente são.

Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva: Indivíduos


preocupados com organização, perfeccionismo e controle, sempre atento a
detalhes, listas, regras, ordem e horários. Dedicação excessiva ao trabalho,
dão pouca importância ao lazer. Teimosos, não jogam nada fora ("pão-
duro") e não conseguem deixar tarefas para outras pessoas.

Transtorno de Personalidade Esquiva: Indivíduos tímidos


(exageradamente), muito sensíveis a críticas, evitando atividades sociais ou
relacionamentos com outros, reservados e preocupados com críticas e
rejeição. Geralmente não se envolvem em novas atividades, vendo a si
mesmos como inadequados ou sem atrativos e capacidades.

Transtorno de Personalidade Dependente: Indivíduos que têm


necessidade de serem cuidados, submissos, sempre com medo de
separações. Têm dificuldades para tomar decisões, necessitam que os
outros assumam a responsabilidade de seus atos, não discordam, não
iniciam projetos. Sentem-se muito mal quando sozinhos, evitando isso a
todo custo.

O tratamento desses transtornos baseia-se na Psicoterapia (de orientação


analítica ou comportamental na maioria dos casos) e Psicanálise. Algumas
vezes deve-se também tratar outros transtornos que se desenvolvem
juntamente com esses, e na maioria das vezes, por causa desses. Aparecem
comumente depressão e ansiedade associados a esses transtornos. A
procura pelo atendimento é geralmente estimulada pelos amigos e
familiares, que são muito mais incomodados pelo transtorno que o próprio
indivíduo. Não se pode esquecer que muitas dessas características fazem
parte dos traços normais de muitos indivíduos, e somente quando esses
traços são muito rígidos e não adaptativos é que constituem um transtorno.
(FONTE)

Colaboradoras
Dra. Alice Sibile Koch
Dra. Dayane Diomário da Rosa
TOC - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

O que é o TOC e quais são os seus sintomas? O TOC é um transtorno


mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os chamados
transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do
comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos
pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das
emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica
principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos
que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou
desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais
voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha
as obsessões. Dentre as obsessões mais comuns estão a preocupação
excessiva com limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas
(compulsão). Um outro exemplo são as dúvidas (obsessão), que são
seguidas de verificações (compulsão).

O que são obsessões?


Obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma
repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases,
números, músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as
obsessões geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou
desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se
esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar
de serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo,
aflição ou desconforto que a pessoa tenta neutralizar realizando rituais ou
compulsões, ou através de evitações (não tocar, evitar certos lugares).

As obsessões mais comuns envolvem:


Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação
Dúvidas
Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento
Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras
pessoas
Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios, relacionados a
sexo (comportamento sexual violento, abusar sexualmente de crianças,
falar obscenidades, etc.)
Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar
Preocupações com doenças ou com o corpo
Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias)
Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de
roupa, datas e horários (podem provocar desgraças)
Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis

O que são compulsões ou rituais? Compulsões ou rituais são


comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em
resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem ser seguidas
rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer
verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou
armazenar objetos sem utilidade, repetir perguntas, etc. As compulsões
aliviam momentaneamente a ansiedade associada às obsessões, levando o
indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma
obsessão. Por esse motivo se diz que as compulsões têm uma relação
funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem
sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las, em vez de enfrentar seus
medos, o que acaba por perpetuá-los, tornando-se ao mesmo tempo
prisioneiro dos seus rituais.

Nem sempre as compulsões têm uma conexão realística com o que desejam
prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para
que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma
pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso,
por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo
mágico, muito semelhante ao que ocorre nas superstições.

Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como


sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na
medida em que praticamente todas as religiões e diversos grupos culturais
adotam comportamentos ritualísticos e contagens nas suas práticas:
ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas, rezar 3 ou 5 vezes
ao dia, benzer-se ao passar diante de uma igreja. Existem rituais para
batizados, casamentos, funerais, etc. Além disso, certos costumes culturais,
como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os
índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as
compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência para o termo
“compulsão” quando se fala em TOC.

As compulsões mais comuns são:


De lavagem ou limpeza
Verificações ou controle
Repetições ou confirmações
Contagens
Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento
Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar ou
economizar
Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números
Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.
Compulsões Mentais

Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são
realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores,
observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um
pensamento. Alguns exemplos:
Repetir palavras especiais ou frases
Rezar
Relembrar cenas ou imagens
Contar ou repetir números
Fazer listas
Marcar datas
Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos
contrários.

Quais as causas do TOC


A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos em relação ao TOC embora
não consiga ainda esclarecer suas verdadeiras causas. Provavelmente
concorrem vários fatores para o seu aparecimento: de natureza biológica
envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções
cerebrais; fatores psicológicos como a aprendizagem; certas formas
errôneas de ver e interpretar a realidade próprias dos portadores do TOC, e
até culturais.

Na medida em que as pesquisas avançam tem ficado mais evidente a


importância dos fatores de natureza biológica. As evidências neste sentido
são o fato de o TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções
cerebrais; ser muito comum que numa mesma família existam vários
indivíduos acometidos sugerindo uma predisposição genética. Além destes
fatos foi sobretudo importante a descoberta de que determinados
medicamentos que estimulam de alguma forma a assim chamada função
serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de TOC. Este último fato nos
faz pensar que possa existir um distúrbio neuroquímico do cérebro
envolvendo o funcionamento das vias nervosas que utilizam a serotonina
(substância que existe naturalmente no cérebro) para transmitir seus
impulsos.

Observou-se ainda que certas zonas cerebrais são hiperativas em


portadores de TOC, isto é, funcionam mais do que em indivíduos normais
(na parte frontal - região periorbital, em regiões mais profundas do cérebro -
gânglios ou núcleos da base). Esta hiperatividade tende a se normalizar
tanto com o tratamento farmacológico bem como com a terapia cognitivo-
comportamental. Como se vê, são evidências, embora muito genéricas,
para a hipótese de que existe algum tipo de disfunção neuroquímica no
funcionamento cerebral.

Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não conseguiu esclarecer: a


resposta de muitos pacientes aos medicamentos inibidores da recaptação
da serotonina é parcial ou muitas vezes nula, e se desconhece o motivo.
Além disso ocorrem obsessões e compulsões em doenças neurológicas
como encefalites, associadas a tiques - no assim chamado Transtorno de
Gilles de la Tourette, à febre reumática ou mesmo a outras doenças
nervosas ou psiquiátricas. São fatos cujo esclarecimento continua
desafiando os cientistas do mundo inteiro.

Sabe-se ainda que fatores de natureza psicológica influem no surgimento,


na manutenção e no agravamento dos sintomas de TOC. É bastante comum
que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico; conflitos
psíquicos agravam os sintomas, e tem cada vez ficado mais claras certas
alterações no modo de pensar, de perceber e avaliar a realidade por parte
destes pacientes. Eles tendem a supervalorizar a importância dos
pensamentos como se pensar fosse o mesmo que agir; tendem a
supervalorizar o risco e as possibilidades de ocorrerem eventos desastrosos
(contrair doenças, perder familiares, contaminar-se); tendem a superestimar
a própria responsabilidade quanto a provocar ou prevenir eventos futuros;
são perfeccionistas, perdendo muito tempo com a preocupação de fazer as
coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou imperfeições e imaginam
modificar o curso futuro dos acontecimentos com a execução dos rituais
(pensamento mágico). Cada paciente pode apresentar uma ou mais destas
distorções, que são mantidas mesmo as evidências sendo contrárias a elas,
ou apesar de não terem comprovação na realidade.
Estes pacientes aprendem a usar rituais ou outras manobras psicológicas
como atos mentais e a evitação como forma de aliviar a aflição que
normalmente acompanha as obsessões, e por este motivo passam a repetí-
los, mesmo que isto significa estar mantendo a doença.Evitam também de
enfrentar seus temores até mesmo para confirmar que são infundados, o
que permitiria livrar-se deles.
Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de educação (mais ou menos
severa ou exigente, incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura social e
familiar, possam também influir sob a forma de crenças e regras que regem
a vida da pessoa criando uma espécie de terreno propício para o surgimento
do transtorno. Por estes motivos usualmente se associam aos
medicamentos, terapias psicológicas - a terapia cognitivo-comportamental
no seu tratamento.

Que tratamentos existem para o TOC:


Os tratamentos mais efetivos no momento incluem o uso de certos
medicamentos, inicialmente utilizados no tratamento da depressão, que
posteriormente se descobriu serem efetivos também do TOC, e algumas
técnicas psicoterápicas chamadas de cognitivas e comportamentais. Os
medicamentos são efetivos para 40 a 60% dos pacientes e são a primeira
escolha, principalmente quando, além do TOC, existem outros problemas
associados como depressão, ansiedade, o que é muito comum. Também é
usual se iniciar com um medicamento quando os sintomas são muito graves
ou incapacitantes. O maior problema que eles apresentam é o fato de
raramente eliminarem por completo os sintomas. Além disso, com
freqüência, provocam efeitos colaterais indesejáveis, embora os mais
modernos sejam bem melhor tolerados.
Além dos medicamentos, utiliza-se no TOC uma modalidade de terapia – a
chamada terapia cognitivo-comportamental (TCC), da qual foram adaptadas
algumas técnicas como para combater os sintomas do TOC. Ao redor de
70% dos que realizam a TCC podem obter uma boa redução ou até a
eliminação completa dos sintomas. Ela é efetiva especialmente quando
predominam rituais, não existem outros problemas psiquiátricos graves, e
os pacientes se envolvem efetivamente nas tarefas de casa, parte
fundamental dessa forma de tratamento. Estudos mais recentes têm
demonstrado que os resultados da terapia tem sido Um problema de ordem
prática é o fato de a TCC ser um método pouco conhecido e pouco utilizado
em nosso meio. Por isso, este manual tem como objetivo contribuir para a
sua divulgação entre os profissionais, os portadores do TOC, seus familiares
e a população em geral. Como tanto os medicamentos como a terapia tem
suas limitações recomenda-se, na prática, associá-los.

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO: PERGUNTAS E RESPOSTAS


Aristides Volpato Cordioli
Elizeth Heldt
Andréa Litvin Raffin

SOU OU NÃO UM PORTADOR DE TOC?


Muitos pacientes com TOC só reconhecem sua condição ao ler ou ouvir na
mídia algo sobre a doença. Estudos demonstram há uma demora, em
média, de mais de oito anos entre o aparecimento dos sintomas do TOC até
ele ser diagnosticado por algum profissional. Se você tem dúvida se é ou
não portador do TOC procure responder às perguntas a seguir:
- Preocupo-me demais com sujeira, germes, contaminação, pó ou doenças.
- Lavo as mãos a todo o momento ou de forma exagerada.
- Limpo ou lavo demasiadamente o piso, móveis, roupas ou objetos.
- Tomo vários banhos por dia ou demoro demasiadamente no banho.
- Não toco em certos objetos (corrimãos, trincos de portas, dinheiro, etc.)
sem lavar as mãos depois.
- Evito certos lugares (banheiros públicos, hospitais, cemitérios) por
considerá-los pouco limpos ou achar que posso contrair doenças.
- Verifico portas, janelas, o gás, mais do que o necessário;
- Verifico repetidamente o fogão, as torneiras, aparelhos elétricos,
interruptores de luz mesmo após desligá-los.
- Minha mente é invadida por pensamentos desagradáveis e impróprios, que
me causam aflição e que nem sempre consigo afastá-los.
- Tenho sempre muitas dúvidas, repetindo várias vezes a mesma tarefa ou
pergunta para ter certeza de que não vou errar.
- Preocupo-me demais com a ordem, o alinhamento ou simetria das coisas,
e fico aflito(a) quando estão fora do lugar.
- Necessito fazer coisas de forma repetida e sem sentido (tocar, repetir
certos números, palavras ou frases).
- Sou muito supersticioso com números, cores, datas ou lugares.
- Necessito contar, repetir frases, palavras, enquanto estou fazendo coisas.
- Guardo coisas inúteis (jornais velhos, caixas vazias, sapatos ou roupas
velhas) e tenho muita dificuldade em desfazer-me delas.
Se uma das respostas for positiva, é bem provável que você seja portador
de TOC.

O QUE É TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO?


O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação
Psiquiátrica Americana entre os chamados transtornos de ansiedade. Está
classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores,
pequenos animais como ratos ou insetos), da fobia social (medo de expor-se
em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques
súbitos de ansiedade e medo de freqüentar os lugares onde ocorreram os
ataques), etc. Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento
(rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos
(preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou
ruim, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa,
depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou
compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos
medos (de contrair doenças, de cometerem falhas, de serem responsáveis
por acidentes). Em razão desses medos, evitam fazer coisas que de acordo
com o que acreditam poderia provocar tais desastres. Em razão disso, no
TOC são muito comuns comportamentos evitativos ou evitações (não tocar
em trincos de portas, não cumprimentar outras pessoas, não usar banheiros
públicos, etc.). As evitações, embora não específicas do TOC, são, em
grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta.
Esses são os sintomas-chave do TOC.

QUAIS AS CAUSAS DA TOC? A ciência tem conseguido esclarecer vários


fatos em relação ao TOC, embora não consiga ainda esclarecer suas
verdadeiras causas. Provavelmente, concorrem vários fatores para o seu
aparecimento, tornando-se cada vez mais evidente que na origem dos
sintomas do TOC concorrem diversos fatores: de natureza biológica
envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica cerebral, lesões ou infecções
cerebrais; fatores psicológicos, como por exemplo, aprendizagens erradas
(aprender a aliviar uma o medo que acompanha uma obsessão realizando
compulsões); crenças distorcidas (superestimar o risco de contaminação ou
de cometer falhas) estressores, e até culturais como o tipo de cultura ou
educação recebida. Na verdade não estão bem esclarecidas as causas do
TOC, até pelo fato de que seus sintomas, seu curso, e a resposta aos
tratamentos são muito diversos.

Os fatores neurobiológicos: Na medida em que as pesquisas avançam,


tem ficado mais evidente a importância dos fatores de natureza biológica na
origem dos sintomas do TOC. As evidências neste sentido são o fato de o
TOC ocorrer após traumatismos, lesões ou infecções cerebrais; ser muito
comum que numa mesma família existam vários indivíduos acometidos,
sugerindo uma predisposição genética. Além destes fatos, foi, sobretudo
importante a descoberta de que determinados medicamentos que
estimulam de alguma forma a assim chamada função serotonérgica
cerebral reduzem os sintomas de TOC. Este último fato nos faz pensar que
deva existir um distúrbio neuroquímico do cérebro dos portadores do
transtorno, envolvendo o funcionamento das vias nervosas quem utilizam a
serotonina (substância que existe naturalmente no cérebro) e que está
envolvida na transmissão dos impulsos nervosos. Observou-se, ainda, que
certas zonas cerebrais são hiperativas em portadores de TOC, isto é,
funcionam mais do que em indivíduos que não são portadores (na parte
frontal região periorbital, em regiões mais profundas do cérebro gânglios ou
núcleos da base como o tálamo, o núcleo caudado, putamen). Esta
hiperatividade tende a se normalizar tanto com o tratamento
medicamentoso, como com a terapia congnitivo-comportamental.

O TOC é também uma doença familiar: se existe um portador na


família, a chance de existirem outros indivíduos comprometidos aumenta ao
redor de 4 vezes. Também é muito mais comum em gêmeos idênticos
(univitelinos) do que em gêmeos não idênticos. Esses fatos levam a crer que
possa existir um componente genético no TOC. Como se vê, são evidências,
porém muito genéricas, para a hipótese de que exista algum tipo de
disfunção neuroquímica no funcionamento cerebral nos portadores do TOC.
Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não conseguiu esclarecer: a
resposta de muitos pacientes aos medicamentos inibidores da recaptação
de serotonina é parcial ou mesmo nula, e se desconhece o motivo. Além
disso, ocorrem obsessões e compulsões em doenças neurológicas como
encefalites, associadas a tiques, ao Transtorno de Gilles de la Tourette, à
febre reumática ou mesmo a outras doenças neurológicas ou psiquiátricas.
São fatos cujo esclarecimento continua desafiando os cientistas do mundo
inteiro.

Fatores de natureza psicológica: Sabe-se, ainda, que os fatores de


natureza psicológica influem no surgimento, na manutenção e no
agravamento dos sintomas de TOC. Os pacientes aprendem que usando
certos rituais ou outras manobras psicológicas, como atos mentais ou
evitando o contato com as situações ou os objetos temidos, obtêm alívio da
aflição e do medo (neutralizam) que normalmente acompanham seus
pensamentos (obsessões), e por este motivo passam a repeti-los, mesmo
que isto signifique estar mantendo ou agravando a doença. É bastante
comum ainda que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico.
Sabe-se também que conflitos psíquicos agravam os sintomas. Cada vez
mais claro a existência de certas alterações no modo de pensar, de
perceber e avaliar a realidade por parte destes pacientes (distorções
cognitivas). Eles tendem a supervalorizar a importância dos pensamentos
como se pensar fosse o mesmo que agir ou desejar; exageram o risco e as
possibilidades de ocorrerem eventos desastrosos (contrair doenças, perder
familiares, contaminar-se); tendem a superestimar a própria
responsabilidade quanto a provocar ou prevenir eventos futuros; são
perfeccionistas, perdendo muito tempo com a preocupação de fazer as
coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou imperfeições; e imaginam
modificar o curso futuro dos acontecimentos, de impedir que desastres ou
doenças aconteçam, com a execução dos rituais (pensamento mágico).
Cada paciente pode apresentar uma ou mais destas distorções, que são
mantidas, mesmo com as evidências sendo contrárias a elas, ou apesar de
não terem comprovação na realidade.
Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de educação (mais ou menos
severa ou exigente, incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura social e
familiar, possam também influir na origem de crenças e regras que regem a
vida da pessoa criando uma espécie de terreno propício para o surgimento
do transtorno. Por estes motivos, usualmente se associam aos
medicamentos, terapias psicológicas a terapia cognitivo-comportamental no
seu tratamento.

O TOC TEM TRATAMENTO? Até bem pouco tempo não se dispunha de um


tratamento efetivo para o TOC. Felizmente, foram desenvolvidas terapias
que conseguem melhorar a vida de mais de 80% dos pacientes e, em
muitas situações, eliminar os sintomas completamente. No entanto, alguns
pacientes, infelizmente, não melhoram, ou melhoram muito pouco, mesmo
com os tratamentos mais modernos que consistem na associação de duas
modalidades: medicamentos e terapia cognitivo-comportamental (TCC),
razão pela qual em todo mundo muito se pesquisa ainda para conhecer
melhor a etiologia do TOC e para desenvolver métodos mais eficazes de
tratamento.

QUAIS SÃO OS MEDICAMENTOS USADOS NO TRATAMETNO DO TOC?


São medicamentos chamados de antidepressivos e que se descobriu que
possuíam também uma ação antiobsessiva. São os seguintes: Clomipramina
(Anafranil), Paroxetina (Aropax, Pondera, Cebrilin), Fluvoxamina (Luvox),
Fluoxetina (Prozac, Psiquial, Verotina, Daforin, etc.), Sertralina (Zoloft,
Tolrest), Citalopram (Cipramil, Procimax). Foram recentemente lançados os
genéricos da maioria desses medicamentos.
As doses, em geral, são mais elevadas do que as utilizadas na depressão.
Não se assuste se o médico lhe recomendar doses aparentemente muito
altas.

A RESPOSTA AOS MEDICAMENTOS É IMEDIATA? Em geral não é. Pode


demorar até 12 semanas para iniciar, razão pela qual o medicamento não
deve ser interrompido se o paciente não sentir benefício após as primeiras
semanas de uso. O médico, em geral, procura usar inicialmente uma dose
média e, caso não haja nenhuma resposta em 4 a 8 semanas ou uma
resposta parcial em 5 a 9 semanas, poderá elevar as doses para os seus
níveis máximos, pois alguns pacientes só melhoram com níveis bastante
elevados do medicamento.
É importante salientar que 20% dos que não respondem a uma droga
poderão responder a uma segunda. Por este motivo é possível que o médico
queira experimentar uma segunda droga depois de algum tempo. Também
é comum a associação com outras drogas quando a resposta não é
satisfatória.

O DESAPARECIMENTO DOS SINTOMAS PODE DEMORAR MUITO? Em


geral é gradual, podendo ser progressivo ao longo de vários meses e não
rapidamente como ocorre em outras doenças como a depressão ou o
pânico. A melhora tende ainda a ser incompleta, isto é, não há em geral
uma eliminação total dos sintomas, embora 40 a 60% dos pacientes
obtenham uma redução significativa na sua quantidade e intensidade.

PODEM OCORRER RECAÍDAS? É alto o índice de recaídas se houver


interrupção da medicação, quando ela está sendo utilizada isoladamente.
Uma pesquisa mostrou que em até 90% dos pacientes ocorre um retorno
dos sintomas 4 meses após a descontinuação do medicamento.
Aparentemente, esta recaída é maior do que a que ocorre com pacientes
que realizaram terapia cognitivo-comportamental, razão pela qual sempre é
recomendável utilizar os dois tratamentos ao mesmo tempo. Mesmo
durante o uso do medicamento, embora seja mais raro, podem ocorrer
recaídas ou piora dos sintomas.

É POSSÍVEL UM DIA DEIXAR DE USAR A MEDICAÇÃO? Naqueles


pacientes que têm um transtorno crônico e que apresentaram uma boa
resposta usando apenas medicação, os especialistas recomendam manter o
tratamento pelo menos durante um ano depois do desaparecimento dos
sintomas. Caso tenham realizado também terapia cognitivo comportamental
devem manter, pelo menos, por mais 6 meses. Depois deste período,
recomenda-se uma retirada gradual, retirando 25% da droga a cada dois
meses. Em pacientes que tiveram 3 ou 4 recaídas leves ou moderadas ou 2
a 4 recaídas graves, estuda-se a possibilidade de manter a medicação por
períodos maiores ou talvez por toda a vida.
É bom lembrar que estes medicamentos não provocam dependência (não
viciam), embora possa haver algum desconforto se eles forem suspensos
abruptamente (síndrome da retirada). Não há problemas maiores em se
utilizar por longos períodos. É importante comunicar ao médico todos os
demais medicamentos que, eventualmente, estiver utilizando, pois podem
ocorre algumas interações importantes.

O QUE É A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)?


A TCC é considerada um dos tratamentos de primeira linha para o TOC,
juntamente com os medicamentos. A TCC baseia-se no fato de que se o
paciente desafia seus medos, por exemplo, expondo-se às situações que
evita ou tocando nos objetos que considera contaminados (exposição) e, ao
mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de descontaminação ou
verificações (prevenção da resposta ou prevenção de rituais), em pouco
tempo a ansiedade e o desconforto desaparecem espontaneamente
(habituação), um fenômeno bastante conhecido: sensações desagradáveis,
como ruídos intensos, cheiros, reações de medo desaparecem com o passar
do tempo se ficarmos expostos a elas. No TOC a aflição costuma
desaparecer entre 15 minutos e 3 horas. A cada exercício a intensidade e a
duração do desconforto são menores. Repetindo tais exercícios, os medos, o
desconforto e conseqüentemente a necessidade de realizar rituais, acabam
desaparecendo por completo.
No momento a chamada terapia comportamental de exposição e prevenção
de rituais é considerada um dos tratamentos de primeira linha para o TOC,
ao lado dos medicamentos. Estudos mais recentes têm demonstrado
inclusive que essa modalidade de tratamento tem um efeito maior que os
medicamentos, na eliminação das compulsões, na intensidade com que
reduz os sintomas e na prevenção de recaídas.
Além da exposição e da prevenção de rituais, a TCC utiliza técnicas para
correção das crenças e pensamentos distorcidos comuns em portadores do
TOC, com o objetivo de realizar a assim chamada reestruturação cognitiva:
treino dos pacientes na identificação de pensamentos e crenças distorcidas
e disfuncionais; questionamento de tais crenças, discussão de evidências a
favor ou contra tais crenças, testes quanto á sua veracidade, exposição aos
pensamentos, ouvindo fitas gravadas ou escrevendo, etc, são algumas das
técnicas utilizadas para corrigi-las. A terapia pode ser individual e, mais
recentemente, vem sendo desenvolvida uma forma de tratamento em
grupo. Além de comparecer às sessões nas quais recebe uma série de
informações e realiza exercícios, o paciente realiza também exercícios no
seu próprio domicílio ou local de trabalho. A maioria dos pacientes que faz
os exercícios e completa o tratamento, apresenta melhoras substanciais
podendo inclusive eliminar por completo os sintomas.

COMO SE FAZ A EXPOSIÇÃO E A PREVENÇÃO DE RITUAIS?


Usualmente, no início do tratamento, junto com o médico ou seu terapeuta,
o paciente elabora uma lista de todas as suas obsessões, evitações e rituais
e os classifica de acordo com o grau de aflição que imagina venha a sentir
caso deixe de executar as manobras que usualmente utiliza para não sentir
tal aflição ou para neutralizá-la (rituais, evitação). A partir desta lista,
semanalmente, são escolhidas as tarefas de casa, de exposição e
prevenção de rituais a serem realizadas nos intervalos das sessões.
Começa-se pelas mais fáceis e que produzem menos ansiedade e se deixa
para mais adiante as mais difíceis. O paciente deverá dedicar um mínimo de
tempo (1 a 2 horas) por dia para realizar suas tarefas, com um mínimo de
20 horas no total. O terapeuta poderá, ainda, solicitar que registre em um
diário as tarefas realizadas, o grau de desconforto sentido e de dificuldade
encontrada, para discussão nas sessões. As tarefas mais comuns de
exposição e prevenção de rituais são as de tocar em objetos considerados
contaminados evitando realizar lavagens após, ou de evitar realizar
verificações, contagens, repetições, alinhamentos, etc.
Ao propor as tarefas, o terapeuta auxilia o paciente a identificar os
pensamentos e crenças errôneas (avaliação exagerada dos riscos e da
responsabilidade, perfeccionismo, pensar é igual a agir, etc.) que muitas
vezes o impedem de correr o risco de contrariar o que já está habituado a
realizar como forma de livrar-se de seus sintomas, mesmo que desta forma
acabe realimentando a doença eventualmente para toda a vida. Uma vez
identificadas tais crenças, o paciente aprende algumas técnicas que o
auxiliam na sua correção. Outras vezes o terapeuta propõe experimentos
para testar sua veracidade, podendo corrigir tais erros de percepção e
avaliação.

O QUE O PACIENTE DEVE FAZER QUANDO SENTE A NECESSIDADE DE


EXECUTAR SEUS RITUAIS? Na verdade a terapia cognitivo-
comportamental exigirá um esforço bastante grande por parte do paciente
para fazer o contrário do que estava habituado. São mencionadas algumas
recomendações:
. Tudo o que costuma evitar tocar por considerar sujo ou contaminado,
toque por tempo prolongado (15 a 20 minutos ou até não sentir mais
nenhuma aflição);
. Se sentir vontade de lavar as mãos, depois de tocar em algo que considera
sujo ou contaminado, evite fazê-lo por pelo menos uma hora e meia (até
esquecer );
. Lave as mãos só por motivos de higiene: depois de usar o banheiro, ou
quando estejam de fato sujas em função de trabalhos executados. Se tiver
alguma dúvida, observe como a maioria das pessoas se comporta é uma
forma de constatar quando um determinado comportamento pode ser
exagerado;
. Verifique portas e janelas, gás, apenas uma vez, e contenha-se em fazer
novas verificações;
. Não fique vigiando para observar quando sua mente é invadida por
obsessões (idéias fixas, medos ou pensamentos absurdos ou exagerados os
maus pensamentos ou pensamentos ruins). São apenas sintomas do TOC e
não significam que você é um assassino em potencial ou que tem um lado
perverso em sua personalidade que a qualquer momento pode perder o
autocontrole. Não dê importância aos seus maus pensamentos e não lute
contra eles;
. Não fique ruminando suas dúvidas que eventualmente não podem ser
esclarecidas.
. Aprenda a conviver com incertezas;
. Interrompa rituais ou ruminações com a palavra Pare e procure distrair-se
com algo que prenda mais sua atenção.
. Pergunte para você mesmo se você tem alguma comprovação para o
desastre que você imagina, ou de que você de fato seja capaz de cometer
as coisas horríveis que lhe passam pela cabeça, ou se na verdade estes
pensamentos lhe ocorrem porque você tem TOC;
. Observe como a maioria das pessoas pensa, avalia, sente e se comporta
diante de situações idênticas: todos têm os mesmos medos ou só você?
Todos fazem as mesmas verificações ou repetem as coisas como você, ou
isto ocorre porque você tem um transtorno (TOC)?
. Seus medos têm alguma comprovação de que podem ser verdadeiros ou
são claramente exagerados?
. Procure enfrentar tudo o que tem evitado e deixe de fazer tudo o que lhe
dá alívio.
. Lembre-se de que, em pouco tempo, a ansiedade desaparece com a
repetição dos exercícios;
. Quanto maior o tempo dedicado a estes exercícios e maior o número de
vezes em que os realizou, mais rápida é a redução dos sintomas;
Para convencer-se de que seus medos são absurdos, exagerados ou
infundados, nada melhor do que testá-los na prática.

COMO A FAMÍLIA DO PACIENTE COM TOC PODE COLABORAR? Nem


sempre é fácil conviver com o paciente portador de TOC. Seus sintomas
muitas vezes são absurdos, vistos como manias e a família não aceita que
fujam ao seu controle voluntário. Em outras ocasiões, seus rituais de
limpeza, necessidades de verificação ou lentidão motora acabam
interferindo nas rotinas da família, o que pode se tornar uma fonte de
conflitos e agravar ainda mais os sintomas. Sabe-se que mais de 80% das
famílias acabam se envolvendo de alguma forma ou mudando seu
comportamento para acomodar-se aos sintomas do paciente. A vida social
fica comprometida na maioria dos casos e não raro podem levar à ruptura
de relações conjugais.
A família, no entanto, pode se transformar em um suporte importante para
o diagnóstico e tratamento do TOC. Pode auxiliar a identificar rituais
encobertos e não percebidos pelo próprio paciente, na elaboração das listas
de rituais e de evitações (essencial para a terapia
cognitivo/comportamental). Para tanto, é necessária a compreensão de
como se dá o processo de cura, conhecer o fenômeno da habituação a
aflição passa, por mais elevados que sejam seus níveis, e é suportável. É
fundamental o apoio às tentativas de exposição e prevenção de rituais e à
adesão ao tratamento, além da paciência e tolerância para eventuais
aumentos de ansiedade ou retrocessos do paciente.
Se houver um familiar com o qual o paciente tenha uma melhor relação,
este poderá ser escolhido, em acordo com o terapeuta, para apoiar na
realização das tarefas.
É importante saber que, em princípio, o paciente deve se esforçar para
deixar de fazer (prevenção da resposta) tudo o que lhe dá algum alívio, e
tocar em tudo o que evita de tocar (exposição).

ONDE BUSCAR AJUDA? Os médicos psiquiatras e terapeutas qualificados,


de uma maneira geral, estão aptos a fazer o diagnóstico e o tratamento do
TOC. Em nosso meio, a maioria conhece os medicamentos e como utilizá-
los, entretanto relativamente poucos conhecem e sabem utilizar a terapia
cognitivo/comportamental. Procure orientar-se com um profissional da área
da saúde de sua confiança.
http://www.ufrgs.br/toc/
http://www.ufrgs.br/toc/oque_toc.htm
ALIENAÇÃO MENTAL
Emmanuel

Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos


estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.

É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da


mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça,
furtando a segurança e a felicidade dos outros.

Fazedores de guerra que depravaram a confiança do povo com peçonhento


apetite de sangue e ouro, legisladores despóticos que perverteram a
autoridade, magnatas do comércio que segregaram o pão, agravando a
penúria do próximo, profissionais do direito que buscaram torturar a
verdade em proveito do crime, expoentes da usura que trancafiaram a
riqueza coletiva necessária ao progresso, artistas que venderam a
sensibilidade e a cultura, degradando os sentimentos da multidão, e
homens e mulheres que trocaram o templo do lar pelas aventuras da
deserção, acabando no suicídio ou na delinqüência, encarceram-se nos
vórtices da loucura, penetrando, depois, na vida espiritual como fantasmas
de arrependimento e remorso, arrastando consigo as telas horripilantes da
culpa em que se lhes agregam os pensamentos.
E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de
sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso
físico — cela preciosa de tratamento —, na condição de crianças-problemas
em dolorosas perturbações.

Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da
razão, aconchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase
sempre, laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto
auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de
nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na
clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória
da luz.

EMMANUEL
(Do livro Religião dos Espíritos, 6, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)
Reunião pública de 23/1/59 /Questão nº 373

Estudo das Doenças Mentais


Parte III

ESQUIZOFRENIA
Vídeos sobre Esquizofrenia: http://duplavista.com.br/arquivo/programa-
transicao-visao-espirita-06-set-esquizofrenia
Visão espírita sobre a doença, com o médico João Lourenço. É
importante que todos vejam!

Filme sugerido: "Uma Mente Brilhante": Sinopse: John Nash (Russell


Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema
que provou sua genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas
aos poucos o belo e arrogante John Nash se transforma em um sofrido e
atormentado homem, que chega até mesmo a ser diagnosticado como
esquizofrênico pelos médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para
se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado
com o Nobel.

http://www.youtube.com/watch?v=24og4X-JBUY
http://www.youtube.com/watch?v=vPTdNJexVCk

INTRODUÇÃO: capítulo 12 do livro "NO MUNDO MAIOR".


“Estranha Enfermidade” (Muita atenção aos esclarecimentos de Calderaro!)

Acompanhando o abnegado irmão dos sofredores, penetrei confortável


residência, onde Calderaro me conduziu, incontinente, à presença de um
nobre cavalheiro em repouso.
Achamo-nos em elegante aposento, decorado em ouro-velho. Magnífico
tapete completava a graça ambiente, exibindo caprichosos arabescos em
harmonia com os desenhos do teto.
Estirado num divã, o enfermo que visitávamos engolfava-se em
profunda meditação. Ao lado, humilde entidade de nossa esfera como que
nos aguardava.
Aproximou-se e cumprimentou-nos, gentil.
Às fraternas interpelações do Assistente, respondeu solícita:
— Fabrício vai melhorando; no entanto, continuam os fenômenos de
angústia. Tem estado inquieto, aflito...
O orientador lançou expressivo olhar ao doente e insistiu:
— Mantém ainda o autodomínio? não se abandonou totalmente às
impressôes destrutivas?
A interlocutora, revelando contentamento, informou:
— A Divina Misericórdia não tem faltado. O desequilíbrio integral, por
enquanto, não erigiu seu império. Em nome de Jesus, nossa colaboração
tem prevalecido.
Calderaro, então, fraternalmente indagou, dirigindo-se a mim:
— Chegaste, alguma vez, a examinar casos declarados de
esquizofrenia?
Não adquirira conhecimentos epecializados da matéria; todavia, não
ignorava constituir esse morbo uma das mais inquietantes questôes da
psiquiatria moderna.
— Este ramo ingrato da Ciência, que estuda a patologia da alma —
declarou o companheiro, compreendendo a minha Insipiência —, é, há
muito tempo, campo de batalha entre fisiologistas e psicologistas; tal
conflito é, em verdade, lamentável e bizantino, de vez que ambas as
correntes possuem razões substanciais nos argumentos com que se
digladiam. Somos, contudo, forçados a reconhecer que a psicologia ocupa a
melhor posição, por escalpelar o problema nas adjacências das causas
profundas, ao passo que a fisiologia analisa os efeitos e procura remediá-los
na superfície.
Logo após, o Assistente recomendou-me examinar a esfera mental do
visitado.
Auscultei-lhe o íntimo, ficando aterrado com as inquietudes que lhe
povoavam o ser, O cérebro apresentava anomalias estranhas. Toda a face
inferior mostrava manchas sombrias. Os distúrbios da circulação, do
movimento e dos sentidos eram visíveis. Calderaro apresentara-me Fabrício,
classificando-o como esquizofrênico; mas não estaríamos, ali, perante um
caso de neurastenia cérebro-cardíaca?
O instrutor ouviu-me pacientemente e observou:
— Diagnóstico exato, no aspecto em que o nosso amigo se
apresenta hoje. A esquizofrenia, contudo, originando-se de sutis
perturbações do organismo perizpirítico, traduz-se no vaso rico por
surpreendente conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas. No
momento, temos aqui a doença de Kriahaber com todos os característicos
especiais.
Mostrando grave expressão no semblante, acrescentou:
— Repara, contudo, além dos efeitos mutáveis. Analisa a mente e os
domínios das sensações.
Lancei mais profundamente a sonda de minha observação sobre os
quadros interiores do enfermo e percebi-lhe imagens torturantes na tela da
memória.
Ensimesmado, Fabrício não se dava conta do que ocorria no plano
externo. Braços imóveis, olhos parados, mantinha-se distante das sugestões
ambientes; no íntimo, todavia, a zona mental semelhava-se a fornalha
ardente.
A imaginação superexcitada detinha-se a ouvir o passado... Recordava-
lhe a figura de um velhinho agonizante. Escutava-lhe as palavras da última
hora do corpo, a recomendar-lhe aos cuidados três jovens presentes
também ali, na paisagem de suas reminiscências. O moribundo devia ser-
me o genitor, e os rapazes, irmãos. Conversavam, entre si, lacrimosos. De
repente, modificavam-se-lhe as lembranças. O ancião e os jovens pareciam
revoltados contra ele, acusando-o. Nomeavam-no com descaridosas
designações...
O doente ouvia as vozes internas, ansioso, amargurado. Desejava
desfazer-se do pretérito, pagaria pelo esquecimento qualquer preço,
ansiava de fugir a si próprio, mas em vão: sempre as mesmas recordações
atrozes vergastando-lhe a consciência.
Verificava-lhe eu os estragos orgânicos, resultantes do uso intensivo de
analgésicos. Aquele homem deveria estar duelando consigo mesmo, desde
muitos anos.
Achava-me no exame da situação, quando uma senhora idosa surgiu no
aposento, tentando chamá-lo à realidade.
— Vamos, Fabrício! não se alimenta hoje?
O interpelado vagueou o olhar pela sala, esboçou uma resposta
negativa sem palavras e deixou-se ficar na mesma posição.
A matrona insistiu, afável, mas não conseguiu demovê-lo. E porque
prosseguisse, atenciosa, buscando ministrar-lhe um caldo, o enfermo
levantou-se, de súbito, como se houvera repentinamente enlouquecido.
Esbravejou expressões inconvenientes e ingratas; rubro de cólera, repeliu o
oferecimento, surpreendendo-me pela crise de nervos destrambelhados.
A esposa regressou ao interior da casa, enxugando os olhos, enquanto
Calderaro me esclarecia, comovido:
— Está no limiar da loucura, e ainda não enveredou francamente pelo
terreno da alienação mental, graças à dedicação de velha parenta desen-
carnada que o assiste, vigilante.
Logo após, o Assistente o submeteu a operações magnéticas de
reconforto, vigorando-lhe a resistência.
Ante o neurastênico, mais calmo agora, narrou, com serenidade:
- Nosso irmão enfermo teve a infelicidade de apropriar-se indebitamente
de grande herança, depois de haver prometido ao genitor moribundo velar
pelos irmãos mais novos, na presença destes; ao se sentir, porém, senhor
da situação, desamparou os manos e expulsou-os do lar, valendo-se de
rábulas bem remunerados, desses que, sem escrúpulo, vivem de inquinar os
textos legais. Por mais enérgicas e convincentes as reclamações arrazoa-
das, por mais comovedores os apelos à amizade fraterna, manteve-se ele
em clamorosa surdez, arrojando os irmãos à penúria e a dificuldades de
toda a sorte. Dois deles morreram num sanatório em catres da indigência,
minados pela tuberculose que os surpreendeu em excessivas tarefas
noturnas; e o outro desencarnou em míseras condições de infortúnio,
relegado ao abandono, antes dos trinta anos, presa de profunda
avitaminose, consequente da subalimentação a que fora compelido. Tudo
isto nosso desditoso amigo conseguiu fazer, escapando à justiça terrena;
entretanto, não pôde eliminar dos escaninhos da consciência os resquícios
do mal praticado; os remanescentes do crime são guardados em sua
organização mental como carvões em paisagem denegrida, após incêndio
devorador; e esses carvões convertem-se em brasas vivas, sempre que
excitados pelo sopro das recordações. O mau filho e perverso irmão,
enquanto senhor dos patrimônios de resistência que a virilidade do corpo
lhe permitia, lograva fugir de si mesmo, sem grandes dificuldades. O
dinheiro fácil, a saúde sólida, os divertimentos e prazeres, desempenhavam
para ele a função de pesadas cortinas entre o personalismo arrogante e a
realidade viva. Todavia, o tempo cansou-lhe o aparelho fisiológico e consu-
miu-lhe a maioria das ilusões; pouco a pouco, encontrou-se a si mesmo; na
viagem de volta ao próprio eu, viu-se, porém, a sós com as lembranças de
que não conseguira escoimar-se. Debalde intentou descobrir o bom ânimo e
o bem-estar: estes se lhe ocultavam. Impossível era concentrar-se no
próprio ser, sem ouvir o pai e os irmãos, acusando-o, exprobrando-lhe a
vileza... A mente atormentada não achava refúgio consolador. Se
rememorava o pretérito, este lhe exigia reparação; se buscava o presente,
não obtinha tranquilidade para se manter no trabalho sadio; e, quando
tentava erguer-se a plano superior, desejoso de orar ao Altíssimo, era
surpreendido, ainda aí, por dolorosas advertências, no sentido de inadiável
correção da falta cometida. Nesse estado espiritual, interessou-se
tardiamente pelo destino dos irmãos. As informações colhidas não lhe
deixavam margem ao pagamento imediato; haviam todos partido,
precedendo-o na grande jornada do túmulo. Desde então, verificando a
impraticabilidade de rápida retificação do tortuoso destino, o infeliz fixou-se
nas zonas mais baixas do ser. Perdeu as ambições nobres e os ideais sadios,
passou a ignorar os recursos da esperança. As vantagens materiais, ao
invés de confortá-lo, infundiam-lhe, agora, pavoroso tédio e indizível
desgosto. Engrazado à máquina das responsabilidades financeiras, criadas
por ele mesmo sem o espírito de possuir para dar em nome do Bem
Universal, não lhe foi possível esquivar-se às imposições da vida social, na
qualidade de homem de alto comércio, até que baqueou, em supremo
torpor. Sentindo-se incriminado no tribunal da própria consciência, começou
a ver perseguidores em toda a parte. Adquiriu, assim, fobias lamentáveis.
Para ele, todos os pratos estão envenenados. Desconfia de quase todos os
familiares e não tolera as antigas relações.
O excesso de recursos materiais fê-lo descrente da amizade sincera,
conferiu-lhe noções de privilégio que nunca mereceu, acentuou-lhe a
independência destrutiva, extinguiu-lhe no coração a bendita luz do verbo
“servir”. Como vemos, sua situação éabsolutamente desfavorável ao
necessário reerguimento. A condição, a que se impôs pelos desejos menos
nobres que sempre nutriu, é de apatia e de esterilidade...
A essa altura da narrativa, Calderaro apontou em particular o cérebro
doente, e explicou:
— O sistema nervoso, que se liga à câmara encefálica através de
processos indescritíveis na técnica da ciência humana, mais não é do que a
representação de importante setor do organismo perispirítico, segundo
acabamos de estudar. A mente falida de Fabrício, experimentando
insistentes remorsos e aflitivas preocupações, intoxicou esses centros vitais
com a incessante emissão de energias corruptoras. Consequentemente,
verificou-se o que em boa psiquiatria poderíamos designar por desão
generalizada do sistema nervoso». Tal desastre atingiu, em primeiro lugar,
as sedes das conquistas mais recentes da personalidade, isto é, as células e
os estímulos mais jovens, que se localizam nos lobos frontais e no córtex
motor, inutilizando temporàriamente o nosso amigo, para a meditação ele-
vada e para o trabalho sadio, e obrigando-o a regredir, no terreno espiritual,
para dentro de si mesmo. De mente estacionária agora, em plena região
instintiva da individualidade, nosso enfermo ainda não se acha
positivamente desequilibrado, graças à contínua assistência de nosso plano.
Calando-se o Assistente, ousei interrogar:
— Mas há esperança de reequilibrio para breve?
— Absolutamente não — respondeu o interpelado, de maneira
significativa —; no caso dele, funcionariam em vão as terapêuticas em uso.
O espírito delinquente pode receber os mais variados gêneros de
colaboração, mas será imperiosamente o médico de si mesmo. A Justiça
Divina exerce invariável ação, embora os homens não a identifiquem no
mecanismo de suas relações ordinárias. Os criminosos podem, por muito
tempo, escapar ao corretivo da organização judiciária do mundo; no
entanto, mais cedo ou mais tarde, vaguearão, perante os seus irmãos em
humanidade, em baixo terreno espiritual, representado no quadro de af li-
ções punitivas. Para os familiares e amigos, Fabrício é um esquizofrênico,
incapaz de resistir às aplicações do choque insulínico em virtude do coração
frágil e cansado; todavia, para nós é um companheiro acidentado na
ambição inferior, curtindo amargos resultados de seus propósitos de
dominar egoisticamente na vida.
Interrompendo-se o orientador, dei guarida a interrogações naturais no
campo Intimo.
Se o doente não oferecia perspectivas de melhoras substanciais, qual o
objetivo de nossa assistência? porque nos demorarmos à frente de um caso
insolvível, qual aquele, pela impossibilidade de próximo reencontro entre o
criminoso e suas vítimas?
Calderaro não me deixou sem resposta.
— Estamos aqui — elucidou, atencioso —, a fim de proporcionar-lhe
morte digna. Não chegará a enlouquecer em definitivo. Com o nosso
concurso fraterno, desencarnará antes do eclipse total da razão.
E porque me mostrasse espantado, o prestimoso amigo acrescentou:
— Fabrício desposou uma criatura, por todos os títulos credora do
amparo celestial, e essa mulher quase sublime deu-lhe três filhos, pos quais
ele se consagrou nobremente, preparando-os para elevado ministério social.
São eles, presentemente, dois professores e um médico, dedicados ao ideal
superior de servir ao bem coletivo. Fabrício não tem o direito de perturbar a
família organizada à sombra de seu amparo material, mas educada sem o
seu personalismo despótico. Pelo serviço que prestou à esposa e aos filhos,
recebe do Alto o socorro de agora, de maneira a transferir residência, por
imposição da morte, preparado para o futuro de reajustamento. As preces
da companheira e dos filhos garantem-lhe uma “boa morte” próxima, para a
qual vamos organizando as suas energias e habituando pari passu a família
a permanecer em missão ativa no bem sem a presença material dele.
Silenciou o Assistente, dispondo-se a fazer-lhe aplicações magnéticas
no aparelho circulatório. Demorou-se minutos longos administrando-lhe
forças ao redor dos vasos mais importantes e, em seguida, desenvolveu
passes longitudinais, destinados à quietação dos nervos.
Ante minha admiração natural, Calderaro explicou-se:
— Preparamos acesso à trombose pela calcificação de certas veias. A
desencarnação chegará suavemente, dentro de alguns dias, como providên-
cia compassiva, indispensável à felicidade do euferino e de quantos lhe
seguem de perto o martírio.
O doente, mais calmo, parecia haver sorvido milagroso analgésico.
Aquietou-se, descansando a cabeça nos travesseiros alvos.
Dentro do silêncio que se fizera entre nós, iadaguei, curioso:
— Considerando, no entanto, o decesso, em breves dias, como
prosseguirá o processo de resgate do nosso amigo?
— A liquidação já começou — redarguiu o instrutor, sereno.
— Como?
Calderaro fêz expressivo gesto e recomendou:
— Espera.
Nesse mesmo instante, o enfermo acionou a campainha à cabeceira. A
esposa atendeu, à pressa. Encontrou-o melhor e sorriu, feliz.
O velho, mais tranquilo, rogou:
— Inês, posso ver o Fabricinho?
— Como não? — respondeu a companheira delicadamente — vou buscá-
lo.
Em poucos minutos, regressava trazendo um menino de seus oito anos.
O pequeno atirou-se-lhe aos braços esqueléticos, com extremado carinho, e
perguntou:
— Está melhor, vovô?
O doente contemplou-o, enternecido, informando:
— Estou melhor, meu filhinho... Porque não veio de manhã?
— Vovó não deixou.
— Sim, é verdade; eu não me achava bem...
A senhora retirou-se, para acompanhar a cena do outro lado da cortina.
Avô e neto sentiram-se mais à vontade.
Totalmente transfigurado com a presença do menino, nosso quase
demente amigo suplicou:
— Fabricinho, eu desejo que você reze por mim...
O petiz não se fêz rogado.
Ajoelhou-se ali mesmo e disse, respeitosa-mente, a oração dominical.
Terminada a prece, o doente pediu, de olhos umidos:
— Não se esqueça, meu filho, de orar por mim quando eu morrer.
O menino, agora de pé, enlaçou-lhe o busto e exclamou, chorando
discretamente:
— O senhor não morrerá!... Mostrando-se aliviado, o velhinho correspon-
deu ao gesto afetivo, fitou o neto e inquiriu, com estranho fulgor no olhar:
— Fabricinho, você acredita que Deus perdoa aos pecadores como eu?
O pequeno respondeu, lacrimoso e confundido:
— Eu acho, vovô, que Deus perdoa todos nós.
Revelando as ansiedades que lhe povoavam a alma, voltou à indagação:
— Mesmo a um homem que trai a confiança paterna e rouba aos
irmãos?
O netinho hesitou, incapaz de apreender toda a extensão daquela
pergunta intencional; entretanto, no desejo de agradar ao doente, de
qualquer modo, balbuciou com toda a simplicidade infantil:
— Eu penso que Deus perdoa sempre...
— É o que eu pretendia saber — acentuou o velhinho, mais confortado.
A conversação entre ambos prosseguiu afetuosa e amena.
Após detido exame, Calderaro apontou para a criança e esclareceu:
— Este menino é o ex-pai de Fabricio, que volta ao convívio do filho
delinqüente pelas portas benditas da reencarnação. É o único neto do en-
fermo e, mais tarde, assumirá a direção dos patrimônios materiais da
família, bens que inicialmente lhe pertenciam. A Lei jamaiS dorme.
Assombrado com a informação, remol as perguntas que me afloravam,
espontâneas.
Como se redimiria, por sua vez, o velho FabríciO? RegreSsaria também,
em dias futuros, àquele mesmo lar? Sofreria o desequilíbrio completo,
depois da morte do corpo denso? Demorár-se-ia em perturbação?
Calderaro, dando por findos nOSSOS trabalhos de assistência na casa,
sorriu para mim, preparou-se para a retirada e obtemperou:
— Nosso amigo enfermo, guardando na mente os resíduoS da ação
criminosa, logo após o abandono do domicílio fisiológico experimentará, por
muito tempo, os resultados de sua queda, até que o sofrimento alije os
elementos malignos que lhe intoxicam a alma. Quando esse serviço
purgatonal estiver completo, então...
— Regressará aos seus familiares? — inquiri, ansioso, ante a frase
suspensa.
— Se o grupo consangüíneo atual houver elevado o padrão espiritual a
luminosas culminâncias, será compelído a esforçar-se intensivamente pelo
alcançar. Entretanto, jamais estará desamparado. Todos temos a imensa
família, dentro da qual nos integramos desde a origem — a Humanidade.
Nesse instante, abandonávamos o aposento suntuoso.
Em breves segundos, tornávamos à Natureza gozando a bênção do céu
muito límpido. E enquanto o meu instrutor se refugiava em si mesmo,
atento às responsabilidades do serviço, dei expansão a novos pensamentos,
relativos à amplitude e à grandeza do império da justiça.

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

ESQUIZOFRENIA:

A esquizofrenia (do grego mente dividida) é uma doença mental grave que
se caracteriza classicamente por uma coleção de sintomas, entre os quais
avultam alterações do pensamento, alucinações (sobretudo auditivas),
delírios e embotamento emocional com perda de contacto com a realidade,
podendo causar um disfuncionamento social crônico.

É hoje encarada não como uma doença única mas sim como um grupo de
patologias, atingindo todas as classes sociais e grupos humanos. A sua
prevalência atinge 1% da população mundial, [1] manifestando-se
habitualmente entre os 15 e os 25 anos, nos homens e nas mulheres,
podendo igualmente ocorrer na infância ou na meia-idade. Um exemplo de
um esquizofrênico famoso é o matemático americano John Forbes Nash, que
fez importantes contribuições na área da economia, biologia e teoria dos
jogos. Eugen Bleuler deu nome à Esquizofrenia, desordem que era
conhecida anteriormente como dementia praecox.

Sintomas:
A esquizofrenia é uma doença funcional do cérebro que se caracteriza
essencialmente por uma fragmentação da estrutura básica dos processos
de pensamento, acompanhada pela dificuldade em estabelecer a distinção
entre experiências internas e externas. Embora primariamente uma doença
que afeta os processos cognitivos [de conhecimento], os seus efeitos
repercutem-se também no comportamento e nas emoções.

Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para


indivíduo, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário,
manifestar-se de forma explosiva e instantânea. Estes podem ser divididos
em duas grandes categorias: sintomas positivos e negativos.

Sintomas positivos - Os sintomas positivos estão presentes com maior


visibilidade na fase aguda da doença e são as perturbações mentais "muito
fora" do normal, como que “acrescentadas” às funções psicológicas do
indivíduo. Entende-se como sintomas positivos os delírios — idéias
delirantes, pensamentos irreais, “ideias individuais do doente que não são
partilhadas por um grande grupo”[2], por exemplo, um indivíduo que acha
que está a ser perseguido pela polícia secreta, e acha que é o responsável
pelas guerras do mundo; as alucinações, percepções irreais – ouvir, ver,
saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequente as alucinações
auditivo-visuais; pensamento e discurso desorganizado, elaborar frases sem
qualquer sentido ou inventar palavras; alterações do comportamento,
ansiedade, impulsos, agressividade.

Sintomas negativos: Os sintomas negativos são o resultado da perda ou


diminuição das capacidades mentais, ”acompanham a evolução da doença
e refletem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do
discurso, do pensamento e das relações interpessoais”[2], como a falta de
vontade ou de iniciativa; isolamento social; apatia; indiferença emocional;
pobreza do pensamento.
Estes sinais não se manifestam todos no indivíduo esquizofrênico. Algumas
pessoas vêem-se mais afetadas do que outras, podendo muitas vezes ser
incompatível com uma vida normal. A doença pode aparecer e desaparecer
em ciclos de recidivas e remissões.
“Não há, contudo, sinais nem sintomas patognomônicos da doença,
podendo-se de alguma forma fazer referência a um quadro prodrómico que
são em grande parte sintomas negativos, como por exemplo inversão do
ciclo de sono, isolamento, perda de interesse por atividades anteriormente
agradáveis, apatia, descuido com a higiene pessoal, idéias bizarras,
comportamentos poucos habituais, dificuldades escolares e profissionais,
entre outras. Posterior a esta fase inicial surgem os sintomas positivos”[3].
“Diz-se que os primeiros sinais e sintomas de esquizofrenia são insidiosos. O
primeiro sintoma de sossego/calma e afastamento, visível num adolescente
normalmente passa despercebido como tal, pois remete-se o fato para “é
uma fase”. Pode inclusivamente ser um enfermeiro de saúde escolar ou um
conselheiro a começar a notar estas mudanças. (…) É importante dizer-se
que é muito fácil interpretar incorretamente estes comportamentos,
associando-os à idade.”[4].

Causas: Sabe-se atualmente que não existe uma única causa, mas sim
várias que concorrem entre si para o seu aparecimento, sendo muitas as
teorias que surgiram para explicar esta doença:

Teoria genética: A teoria genética admite que vários genes podem estar
envolvidos, contribuindo juntamente com os fatores ambientais para o
eclodir da doença. Sabe-se que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer
de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família. "No
caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos
descendentes diretos é de 12%. É o caso do esquizofrênico matemático
norte-americano John Nash que divide com o filho, John Charles Martin, a
mesma doença. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos
pela doença, esse valor sobe para 40%"[5]. No entanto, mesmo na ausência
de história familiar, a doença pode ainda ocorrer.”[2]. Segundo Gottesman
(1991), referenciado por Pedro Afonso (2002), sabe-se ainda que cerca de
81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro
grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar
afetado.

Teoria neurobiológica: As teorias neurobiológicas defendem que a


esquizofrenia é essencialmente causada por alterações bioquímicas e
estruturais do cérebro, em especial com uma disfunção dopaminérgica,
embora alterações noutros neurotransmissores estejam também envolvidas.
A maioria dos neurolépticos (antipsicóticos) atua precisamente nos
receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste
neurotransmissor. Exatamente por isso, alguns sintomas característicos da
esquizofrenia podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a
atividade dopaminérgica (ex: anfetaminas)[3]. Esta teoria é parcialmente
comprovada pelo fato de a maioria dos fármacos utilizados no tratamento
da esquizofrenia (neurolépticos) atuarem através do bloqueio dos
receptores (D2) da dopamina.

Teoria psicanalítica: As teorias psicanalíticas (ou de relação precoce) têm


como base a teoria freudiana da psicanálise, e remetem para a fase oral do
desenvolvimento psicológico, na qual “a ausência de gratificação verbal ou
da relação inicial entre mãe e bebê conduz igualmente as personalidades
“frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das
relações”[4]. A ausência de relações interpessoais satisfatórias estaria
assim na origem da esquizofrenia.

Teoria familiar: Este artigo ou secção não cita as suas fontes ou


referências. Ajude a melhorar este artigo providenciando fontes fiáveis e
independentes, inserindo-as no corpo do texto ou em notas de rodapé.
Encontre fontes: Google – news, books, scholar, Scirus
As teorias familiares, apesar de terem bastante interesse histórico, são as
que menos fundamento cientifico têm. Surgiram na década de 1950,
baseadas umas no tipo de comunicação entre os vários elementos das
famílias e aparecendo outras mais ligadas às estruturas familiares. Dos
estudos desenvolvidos surge o conceito «mãe esquizofrenogénica», mães
possessivas e dominadoras com seus filhos, como gerador de
personalidades esquizofrênicas. Estudos posteriores vieram contudo
desconfirmar esta hipótese, relacionando aquele comportamento mais com
etiologias neuróticas e não com a psicose.

Teoria dos neurotransmissores: Têm-se um excesso de dopamina na via


mesolímbica e falta dopamina na via mesocortical.
Apesar de existirem todas estas hipóteses para a explicação da origem da
esquizofrenia, nenhuma delas individualmente consegue dar uma resposta
satisfatória às muitas dúvidas que existem em torno das causas da doença,
reforçando assim a idéia de uma provável etiologia multifactorial.

Tipos de esquizofrenia: O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com


a maior parte das doenças do foro psiquiátrico, não se pode efetuar através
da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da
observação clínica cuidada das manifestações da doença ao longo do
tempo. A quando do diagnóstico, é importante que o médico exclua outras
doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos
semelhantes (abuso de drogas, epilepsia, tumor cerebral, alterações
metabólicas). O diagnóstico da esquizofrenia é por vezes difícil.

Para além do diagnóstico, é importante que o médico identifique qual é o


subtipo de esquizofrenia em que o doente se encontra. Atualmente,
segundo o DSM IV, existem cinco tipos:

Paranóide, é a forma que mais facilmente é identificada com a doença,


predominando os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um
delírio paranóide relativamente bem organizado. Os doentes com
esquizofrenia paranóide são desconfiados, reservados, podendo ter
comportamentos agressivos.[1]

Desorganizado, em que os sintomas afetivos e as alterações do


pensamento são predominantes. As idéias delirantes, embora presentes,
não são organizadas. Alguns doentes pode ocorrer uma irritabilidade
marcada associada a comportamentos agressivos. Existe um contacto muito
pobre com a realidade.[1]

Catatônico, é caracterizada pelo predomínio de sintomas motores e por


alterações da atividade, que podem ir desde um estado de cansaço e
acinético até à excitação.[1]

Indiferenciado, apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso


com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho
laboral e intelectual. Observa-se nestes doentes uma certa apatia e
indiferença relativamente ao mundo exterior.[1]

Residual, nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos, os


doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento
afetivo e uma pobreza ao nível do conteúdo do pensamento. [1]

Existe também a denominada Esquizofrenia Hebefrênica, com incidência


da adolescência, com o pior dos prognósticos em relação às demais
variações da doença, e com grandes probabilidades de prejuízos cognitivos
e sócio-comportamentais. Estes subtipos não são estanques, podendo um
doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar
aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim
de algum tempo poder reunir critérios de outro subtipo. Existem várias
abordagens terapêuticas na intervenção ao doente esquizofrênico, que na
maioria dos casos tem indicação de um tratamento interdisciplinar: o
acompanhamento médico-medicamentoso, a psicoterapia, a terapia
ocupacional (individual ou em grupos), a intervenção familiar, a
musicoterapia e a psicoeducação são os procedimentos indicados para
estes doentes.

Apesar de não se conhecer a sua cura, o tratamento pode ajudar muito a


tratar os sintomas, e a permitir que os doentes possam viver as suas vidas
de forma satisfatória e produtiva. A experiência clínica indica que o melhor
período para o tratamento da esquizofrenia é com o aparecimento dos
primeiros sintomas. Se sintomatologia psicótica permanecer sem
tratamento por longos períodos o prognóstico do tratamento é menos
favorável. Assim é vital o reconhecimento precoce dos sinais da
esquizofrenia para que se possa procurar uma ajuda rápida.[6

Diagnóstico e questões polêmicas: A esquizofrenia como entidade de


diagnóstico tem sido criticada como desprovida de validade científica ou
confiabilidade e é parte de críticas mais amplas à validade dos diagnósticos
psiquiátricos em geral. Uma alternativa sugere que os problemas com o
diagnóstico seriam melhor atendidos como dimensões individuais ao longo
das quais todos variam, de tal forma que haveria um espectro contínuo em
vez de um corte de entre normal e doente. Esta abordagem parece
coerente com a investigação sobre esquizotipia e de uma relativamente alta
prevalência na experiência dos psicóticos e, muitas vezes, crenças
delusionais não perturbadoras entre o público em geral.
Outra crítica é que falta coerência nas definições utilizadas para os critérios;
é particularmente relevante para a avaliação das ilusões a desordem no
pensamento. Mais recentemente, foi alegado que sintomas psicóticos não
são uma boa base para a elaboração de um diagnóstico de esquizofrenia
como "psicose é a 'febre' de doença mental - um grave mas inespecífico
indicador". Talvez por causa desses fatores, estudos examinando o
diagnóstico de esquizofrenia geralmente têm mostrado relativamente
baixas ou inconsistentes níveis de confiabilidade diagnóstica. Na maioria
dos famosos estudos de David Rosenhan em 1972 a ser publicados como
saudáveis em lugares demente, demonstrou que o diagnóstico de
esquizofrenia foi (pelo menos no momento) muitas vezes subjetivo e pouco
fiáveis. Estudos mais recentes têm encontrado acordo entre quaisquer dois
psiquiatras, quando o diagnóstico de esquizofrenia tende a atingir cerca de
65%, na melhor das hipóteses. Este, e os resultados de estudos anteriores
de fiabilidade de diagnóstico (que normalmente relataram níveis ainda mais
baixos de acordo), levaram alguns críticos a afirmar que o diagnóstico de
esquizofrenia deve ser abandonado.

Em 2004, no Japão, o termo japonês para esquizofrenia foi alterado de


Seishin-Bunretsu-Byo (doença da mente dividida) para Togo-shitcho-sho
(desordem de integração). Em 2006, ativistas no Reino Unido, sob o
estandarte de Campanha para a Abolição do Rótulo de Esquizofrenia,
defenderam uma semelhante rejeição do diagnóstico de esquizofrenia e
uma abordagem diferente para a compreensão e tratamento dos sintomas
associados a ela neste momento. Alternativamente, os outros proponentes
apresentaram utilizando a presença de déficits neurocognitivas específicas
para fazer um diagnóstico. Estes assumem a forma de uma redução ou de
comprometimento em funções psicológicas básicas, como memória,
atenção, função executiva e resolver problemas. É este tipo de dificuldades,
em vez de os sintomas psicóticos (que, em muitos casos, pode ser
controlado por medicamentos antipsicóticos), que parece ser a causa da
maioria dos deficiência na esquizofrenia. No entanto, este argumento é
relativamente novo e é pouco provável que o método de diagnóstico de
esquizofrenia vá mudar radicalmente no futuro próximo.

O diagnóstico de esquizofrenia foi usado para fins políticos em vez de


terapêuticos, na União Soviética mais uma sub-classificação de
"esquizofrenia que progride lenta" foi criado. Particularmente no RSFSR
(República Socialista Federativa Soviética da Rússia), este diagnóstico foi
utilizado com a finalidade de silenciar os dissidentes políticos ou forçá-los a
desistir de suas idéias através da utilização forçada de confinamento e
tratamento. Em 2000, houve preocupações semelhantes quanto detenção e
'tratamento' de praticantes do movimento Falun Gong pelo governo chinês.
Isso levou a Comissão da Associação Psiquiátrica Americana Sobre o Abuso
de Psiquiatria e psiquiatras a aprovar uma resolução que inste a Associação
Psiquiátrica Mundial a investigar a situação na China.

A interação com pacientes: A doença mental é com frequência


relacionada com o mendigo que deambula pelas ruas, que fala sozinho, com
a mulher que aparece na TV dizendo ter 16 personalidades e com o
homicida “louco” que aparece nos filmes. Esta foi durante muitos anos
sinônimo de exclusão social, e o diagnóstico de esquizofrenia, significava
como destino “certo” os hospitais psiquiátricos ou asilos, onde os pacientes
ficavam durante muitos anos. O matemático norte-americano John Nash,
que, em sua juventude, sofria de esquizofrenia, conseguiu reverter sua
situação clínica e ganhar o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em
1994.Em muitos casos, os indivíduos com esquizofrenia foram crianças
tímidas, introvertidas, com dificuldades de relacionamento e com pouca
interação emocional. As crianças apresentam ainda dificuldades ao nível da
atenção e do comportamento. Durante a adolescência o isolamento vai se
tornando cada vez maior e o rendimento escolar diminuindo. Estas
modificações são frequentemente associadas à crise da adolescência. “Para
o adolescente este é um período de confusão, sente-se desconcentrado, não
sabe o que se está a passar com ele. O jovem começa a passar grandes
períodos frente ao espelho a observar o seu corpo revelando a presença de
alterações do seu esquema corporal que podem surgir associadas à vivência
psicótica. Isto não acontece só ao nível do corpo, mas também na
consciência de si próprio (perturbação da vivência do «eu») apresentando
neste caso sentimentos de despersonalização”[2].

Uma crise psicótica pode ser precipitada por vários fatores, como por
exemplo, mudar de casa, perder um familiar, rompimento com um(a)
namorado(a), entrar na universidade... Neste tipo de doença, é raro o
indivíduo ter consciência de que está realmente doente, o que torna difícil a
adesão ao tratamento. Um dos maiores medos que a pessoa com
esquizofrenia sente é o de ser estigmatizada por preconceitos sociais
relativamente à sua doença, especialmente a idéia de que a pessoa é
violenta, intrinsecamente perigosa, idéia essa que estudos recentes põem
completamente de parte, mostrando que a incidência de comportamento
violento nestes doentes e na população em geral é idêntico, se não mesmo
inferior. “Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um
indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam
fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia”[7] (Jane). “As
pessoas com esquizofrenia têm muitas vezes dificuldade em satisfazer as
suas necessidades devido à sua doença”[7].

É importante que o processo de reabilitação seja um processo contínuo,


para que possa ter sucesso, proporcionando uma maior qualidade de vida,
maior autonomia e realização pessoal. Para atingir estes objetivos, foram
criadas estruturas de apoio, os chamados equipamentos substitutivos (à
estrutura manicomial) como os CAPS (Centros de Atenção psicossocial),
Centros de Convivência, Oficinas, hospitais dia, serviços residenciais
terapêuticos, empregos apoiados, fóruns sócio-ocupacionais. Uma das
grandes dificuldades destes doentes é a sua integração no mercado de
trabalho, visto existir uma grande competitividade, levando a que muitos
acabem por desistir. Daí ser relevante o acompanhamento destes no
período de adaptação. É bastante útil que o doente tenha conhecimentos
sobre a doença e os seus sintomas e que tenha um papel ativo no
tratamento e controlo sobre a mesma. Sendo por isso vantajoso que estes
sigam alguns cuidados, nomeadamente:

Permanecer fiel ao seu tratamento; se achar que a medicação não está a


ajudar ou sentir efeitos não desejáveis deve avisar o médico
Ter o cuidado de conservar um ritmo de sono e vigília correto, com as horas
de sono necessárias
Evitar o stress
Deve manter rotinas normais, de higiene, alimentação, atividade em casa e
no exterior
Evitar as drogas
Procurar ter horas para dormir, comer, trabalhar
Fixar um programa de atividades para cada dia
Permanecer em contacto com as outras pessoas
Manter o contacto com o psiquiatra/equipa de saúde mental
Praticar desporto pelo menos uma vez por semana.
Os doentes esquizofrênicos podem apresentar também sintomas
depressivos, que nem sempre têm origem em aspectos biológicos ou
neuroquímicos da doença. “O desapontamento e a desilusão vividos por
alguns deste doentes perante os repetidos fracassos em manterem um
emprego, em conseguirem voltar a estudar ou terem um grupo de amigos
torna-se uma realidade incontornável”[2], levando a sentimentos de
frustração.

Um outro aspecto associado à depressão na esquizofrenia é a questão do


suicídio, que pode ter origem em vários fatores: o sofrimento psíquico
associado à própria vivência psicótica, o aspecto crônico e recorrente da
doença que afeta muitos jovens.

O papel ativo da família é essencial para o tratamento, reabilitação e


reinserção social do seu familiar que sofre de esquizofrenia. Muitas famílias
procuram o apoio junto aos técnicos de saúde, permitindo assim que estas
superem e sobrevivam às dificuldades que encontram; no entanto, há
aquelas que não o fazem, levando ao seu adoecimento, ou seja, não
conseguem lidar com as crises, conduzindo à sua desestruturação ou
destruição.

A família deve estar preparada para o fato do doente poder ter recaídas ao
longo do tempo, o que pode conduzir a um possível internamento
hospitalar. É bastante importante o apoio da família ao doente durante o
tempo da sua permanência no hospital, através de reforço positivo,
comunicação, visitas, mostrar interesse em saber como vai a evolução da
sua doença. É natural que muitas dúvidas surjam na família em relação ao
comportamento que vão ter de adotar perante esta nova etapa da vida do
seu familiar. Em primeiro lugar é importante que o familiar comece por se
colocar no lugar da outra pessoa.

Os problemas que geralmente ocorrem na família do esquizofrênico são os


seguintes:

Medo… “Ele poderá fazer mal a si ou às outras pessoas?”


Negação da gravidade… “Isso daqui a pouco passa”
Incapacidade de falar ou pensar em outra coisa que não seja a
doença… “Toda a nossa vida gira em torno do nosso filho doente”
Isolamento social… “As pessoas até nos procuram, mas não temos como
fazer os programas que nos propõem”
Constante busca de explicações… “Ele está assim por algo que
fizemos?”
Depressão… “Não consigo falar da doença do meu filho sem chorar”.

Em suma, o impacto que uma pessoa com esquizofrenia tem na família e a


forma como esta se adapta face à situação depende da singularidade de
cada um dos seus membros, mas também da forma como a doença surge
(insidiosa ou abrupta), o seu curso, a suas consequências, no sentido de
haver risco de vida ameaçada ou não (fase de crise à fase crônica), e ao
grau de incapacidade gerado. Todos estes fatores têm de ser vistos numa
perspectiva psicosocial e não isoladamente. Deve ser dada atenção extrema
ao fato de que o próprio esforço de adaptação por parte da família pode ter
como consequência um estado de exaustão.

Esquizofrenia e inteligência: O mesmo gene pode dar origem a uma


inteligência fora do comum e a esquizofrenia, segundo um estudo
conduzido por investigadores do Instituto Nacional para a Saúde Mental dos
Estados Unidos, em Bethesda. Este gene, que os cientistas identificaram
como DARPP-32, aumenta a capacidade de raciocínio e de processar
informação e melhora o desempenho da memória. No entanto, uma
investigação com 257 famílias com historial de esquizofrenia demonstrou
que a presença do mesmo gene é bastante comum nas pessoas com a
doença. Os cientistas suspeitam que a esquizofrenia possa ser um “efeito
secundário” de ter uma inteligência acima da média e que resulta de uma
dificuldade do cérebro em lidar com as capacidades “extras”. Isto explicaria
por que tantos gênios famosos foram também diagnosticados como
esquizofrênicos. São exemplo o matemático John Nash, o escritor Jack
Kerouac ou o pintor Van Gogh. Atualmente, estima-se que a esquizofrenia
afeta um por cento da população mundial. A doença pode provocar
alucinações e delírios mas, embora não tenha cura, existem tratamentos
que podem ajudar os doentes a ter uma vida quase normal.

Referências
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 ABC da Saúde - ESQUIZOFRENIA E OUTROS
TRANSTORNOS PSICÓTICOS. Página visitada em 25/01/2009.
2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 Afonso, Pedro (Agosto 2002), Esquizofrenia: Conhecer a
Doença, Lisboa, Climepsi Editores.
3,0 3,1 Freitas, Carlos; Luís, Helena e Ferreira, Luís (2000), Vivências dos
pais enquanto cuidadores de um filho com esquizofrenia, Lisboa,
Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda
Resende no âmbito do 2°Curso de estudos superiores Especializados em
Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.
4,0 4,1 Neeb, Kathy (1997), Fundamentos de Enfermagem de Saúde Mental,
Loures, Lusociência.
Kaplan, Harnold; Sadock, Benjamin (1990), Compêndio de Psiquiatria, Porto
Alegre, Editora Artes Médicas.
Psiqweb - Perguntas mais comuns sobre esquizofrenia. Página visitada em
25/01/2009.
7,0 7,1 Organização Mundial de Saúde, Genebra – Divisão de Saúde Mental
(1998), A Esquizofrenia – Informação para as famílias, Lisboa, Associação
Comunitária de Saúde de Loures Ocidental.

Bibliografia
Alves, Júlio Leonel (Setembro, 1998), “O Doente Mental e a Família Perante
a Alta”, Sinais Vitais, nº20, p.45.
Atkinson, Jacqueline M. e Coia (1995), Families coping with schizophrenia –
A practitioner’s guide to family groups, England, Wiley – University of
Glasgow.
Hatfield, Agnes B. (1990), Family education in mental illness, New York, The
Guilford Press.
Santos, José Carlos (Setembro 1997), O Enfermeiro de Saúde Mental no
Hospital Geral, Sinais Vistais, nº 14, p.33-36.
Taylor, Cecília Monat (1992), Fundamentos de Enfermagem Psiquiátrica,
Porto Alegre, Artes Médicas.
Teschinsky, Ursula (2000), “Living with schizophrenia: The family illness
experience”, Mental Health Nursing, nº 21, p. 387-396.
Pereira, Manuel Gonçalves (1996), Repercussões da Doença Mental na
Família – Um estudo de Familiares de Doentes Psicóticos, Lisboa,
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas de
Lisboa.
Freitas, Luís (Set./Out. 2002), “Destigmatizando a Doença Mental”, Servir,
vol. 50, nº 5, p. 250-253.
Afonso, Delmina (Jan. 2000), “A Esquizofrenia”, Sinais Vitais, nº 28, p.46-47.
Milheiro, Jaime (2000), Loucos são os outros, Lisboa, Edições Fim de Século.
Minuchin, Salvador (1990), Famílias: funcionamento e tratamento, Porto
Alegre, Artes Médicas.

Ligações externas
www.esquizofrenia.org - Notícias sobre esquizofrenia
Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia

ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS


Parte IV – DEPRESSÃO
Capítulos 10 e 13 do livro “No Mundo Maior”

Cap. 10
Dolorosa perda

Dentro da noite, defrontamos com aflito coração materno. A entidade,


que nos dirigia a palavra, infundia compaixão pela fades de horrível so-
frimento.
— Calderaro! Calderaro! — rogou, ansiosa — ampara minha filha, minha
desventurada filha!
— Oh! teria piorado? — inquiriu o instrutor, evidenciando conhecimento
da situação.
— Muito! muito!... — gemeram os trementes lábios da mãe aflita —;
observo que enlouqueceu de todo...
— Já perdeu a grande oportunidade?
— Ainda não — informou a interlocutora —, mas encontra-se à beira de
extremo desastre.
Prometeu o orientador correr à doente em breves minutos, e voltamos à
intimidade.
Interessando-me no assunto, o atencioso Assistente sumariou o fato.
— Trata-se de lamentável ocorrência — explicou-me, bondoso —, na
qual figuram a leviandade e o ódio como elementos perversores. A irmã que
se despediu, há momentos, deixou uma filha na Crosta Planetária, há oito
anos. Criada com mimos excessivos, a jovem desenvolveu-se na ignorância
do trabalho e da responsabilidade, não obstante pertencer a nobilíssimo
quadro social. Filha única, entregue desde muito cedo ao capricho
pernicioso, tão logo se achou sem a materna assistência no plano carnal,
dominou governantes, subornou criadas, burlou a vigilância paterna e,
cercada de facilidades materiais, precipitou-se, aos vinte anos, nos
desvarios da vida mundana. Desprotegida, assim, pelas circunstâncias, não
se preparou convenientemente para enfrentar os problemas do resgate
próprio. Sem a proteção espiritual peculiar à pobreza, sem os abençoados
estímulos dos obstáculos materiais, e tendo, contra as suas necessidades
íntimas, a profunda beleza transitória do rosto, a pobrezinha renasceu,
seguida de perto, não por um inimigo prôpriamente dito, mas por cúmplice
de faltas graves, desde muito desencarnado, ao qual se vinculara por
tremendos laços de ódio, em passado próximo. Foi assim que, abusando da
liberdade, em ociosidade reprovável, adquiriu deveres da maternidade sem
a custódia do casamento. Reconhecendo-se agora nesta situação, aos vinte
e cinco anos, solteira, rica e prestigiada pelo nome da família, deplora
tardiamente os compromissos assumidos e luta, com desespero, por
desfazer-se do filhinho imaturo, o mesmo comparsa do pretérito a que me
referi; esse infeliz, por «acréscimo de misericórdia divina’, busca destarte
aproveitar o erro da ex-companheira para a realização de algum serviço
redentor, com a supervisão dos nossos Maiores.
Ante o espanto que inopinadamente me assaltara, sabendo eu que a
reencarnação constitui sempre uma bênção que se concretiza com a ajuda
superior, o Assistente afiançou, tranquilizando-me:
— Deus é o Pai amoroso e sábio que sempre nos converte as próprias
faltas em remédios amargos, que nos curem e fortaleçam. Foi assim que
Cecilia, a demente que dentro em pouco visitaremos, recolheu da sua
leviandade mesma o extremo recurso, capaz de retificar-lhe a vida... Entre-
tanto, a infortunada criatura reage ferozmente ao socorro divino, com uma
conduta lastimável e perversa. Coopero nos trabalhos de assistência a. ela,
de algumas semanas para cá, em virtude das reiteradas e comoventes
Intercessões maternas junto a nossos superiores; todavia, acalento vaga
esperança numa reabilitação próxima. Os laços entre mãe e filho presuntivo
são de amargura e de ódio, consubstanciando energias desequillbrantes;
tais vínculos traduzem ocorrência em que o espírito feminino há que
recolher-se ao santuário da renúncia e da esperança, se pretende a vitória.
Para isso, para nívelar caminhos salvadores e aperfeiçoar sentimentos, o
Supremo Senhor criou o tépido e veludoso ninho do amor materno; contudo,
quando a mulher se rebela, insensível às sublimes vibrações da inspiração
divina, é difícil, senão impossível, executar o programa delineado. A infortu-
nada criatura, dando asas ao condenável anseio, buscou socorrer-se de
médicos que, amparados de nosso plano, se negaram a satisfazer-lhe o
criminoso intento; valeu-se, então, de drogas venenosas, das quais vem
abusando intensivamente. A situação mental dela é de lastimável desvario.
Findo o breve preâmbulo, Calderaro continuou:
— Mas, não temos minuto a perder. Visitemo—la.
Decorridos alguns instantes, penetrávamos aposento confortável e
perfumado.
Estirada no leito, jovem mulher debatia-se em convulsões atrozes. Ao
seu lado, achavam-se a entidade materna, na esfera invisível aos olhos car-
nais, e uma enfermeira terrestre, dessas que, à força de presenciar
catástrofes biológicas e dramas morais, se tornam menos sensíveis à dor
alheia.
A genitora da enferma adiantou-se e informou-nos:
— A situação é muito grave! ajudem-na, por piedade! Minha presença aqui
se limita a impedir o acesso de elementos perturbadores que prosseguem,
implacáveis, em ronda sinistra.
O Assistente inclinou-se para a doente, calmo e atencioso, e
recomendou-me cooperar no exame particular do quadro fisiológico.
A paisagem orgânica era das mais comoventes. A compaixão fraterna
dispensar-nos-á da triste narrativa referente ao embrião prestes a ser
expulso.
Circunscrito à tese de medicação a mentes alucinadas, cabe-nos apenas
dizer que a situação da jovem era impressionante e deplorável.
Todos os centros endócrinos estavam em desordem, e os órgãos
autônomos trabalhavam aceleradamente. O coração acusava estranha
arritmia, e debalde as glândulas sudoríparas se esforçavam por expulsar as
toxinas em verdadeira torrente invasora. Nos lobos frontais, a sombra era
completa; no córtex encefálico, a perturbação era manifesta; sômente nos
gânglios basais havia suprema concentração de energias mentais, fazendo-
me perceber que a infeliz criatura se recolhera no campo mais baixo do ser,
dominada pelos impulsos desintegradores dos próprios sentimentos,
transviados e incultos. Dos gânglios banais, onde se aglomeravam as mais
fortes irradiações da mente alucinada, desciam estiletes escuros, que
assaltavam as trompas e os ovários, penetrando a câmara vital quais
tenuíssimos venábulos de treva e incidindo sobre a organização embrionária
de quatro meses.
O quadro era horrível de ver-se.
Buscando sintonizar-me com a enferma, ouvia-lhe as afirmativas cruéis,
no campo do pensamento:
— Odeio!... odeio este filho intruso que não pedi à vida!... Expulsá-lo-
ei!... expulsá-lo-ei!...
A mente do filhinho, em processo de reencarnação, como se fora
violentada num sono brando, suplicava, chorosa:
— Poupa-me! poupa-me! quero acordar no trabalho! quero viver e
reajustar o destino... ajuda-me! resgatarei minha dívida!... pagar-te-ei com
amor.... não me expulses! tem caridade!...
— Nunca! nunca! amaldiçoado sejas! — dizia a desventurada,
mentalmente —; prefiro morrer a receber-te nos braços! Envenenas-me a
vida, perturbas-me a estrada! detesto-te! morrerás ....
E os raios trevosos continuavam descendo, a jacto continuo.
Calderaro ergueu a cabeça respeitável, encarou-me de frente e
perguntou:
— Compreendes a extensão da tragédia?
Respondi afirmativamente, sob indizível impressão.
Nesse instante de nossa angustiosa expectativa, Cecilia dirigiu-se com
decisão à enfermeira:
— Estou cansada, Liana, muitíssimo cansada, mas exijo a intervenção
esta noite!
— Oh! mas assim, nesse estado?! — ponderou a outra.
— Sim, sim — tornou a doente, inquieta —; não quero adiar essa
intervenção. Os médicos negaram-se a fazê-la, mas eu conto com a tua
dedicação. Meu pai não pode saber disso, e eu odeio esta situação que
terminantemente não conservarei.
Calderaro pousou a destra na fronte da responsável pelos serviços de
enfermagem, no intuito evidente de transmitir alguma providência conci-
liatória, e a enfermeira ponderou:
— Tentemos algum repouso, Cecilia. Modificarás possívelmente esse
plano.
— Não, não — objetou a imprevidente futura mãe, com mau humor
indisfarçável —; minha resolução é inabalável. Exijo a intervenção esta
noite.
Mau grado à negativa peremptória, sorveu o cálice de sedativo que a
companheira Lhe oferecia, atendendo-nos a influência indireta.
Consumara-se a medida que o meu instrutor desejava.
Parcialmente desligada do corpo físico, em compulsória modorra, pela
atuação calmante do remédio, Calderaro aplicou-lhe fluidos magnéticos
sobre o disco foto-sensível do aparelho visual, e Cecilia passou a ver-nos,
embora imperfeitamente, detendo-se, admirada, na contemplação da
genitora.
Reparei, contudo, que, se a mãezinha exuberava copioso pranto de
comoção, a filha se mantinha impassível, não obstante o assombro que se
lhe estampara no olhar.
A matrona desencarnada avançou, abraçou-se a ela e pediu, ansiosa:
— Filha querida, venho a ti, para que te não abalances à sinistra
aventura que planejas. Reconsidera a atitude mental e harmoniza-te com a
vida. Recebe minhas lágrimas, como apelo do coração. Por piedade, ouve-
me! não te precipites nas trevas, quando a mão divina te abre as portas da
luz. Nunca é tarde para recomeçar, Cecilia, e Deus, em seu infinito
devotamento, transforma as nossas faltas em redes de salvação.
A mente desvairada da ouvinte recordou as convenções sociais, de
modo vago, como se vivera um minuto de pesadelo indefinível.
A palavra materna, porém, continuou:
— Socorre-te da consciência, antes de tudo! O preconceito é respeitável,
a sociedade tem os seus princípios justos; entretanto, por vezes, filhinha,
surge um momento na esfera do destino e da dor, em que devemos
permanecer com Deus, exclusivamente. Não abandones a coragem, a fé, o
desassombro... A maternidade, iluminada pelo amor e pelo sacrifício, é feliz
em qualquer parte, ainda mesmo quando o mundo, ignorando a causa de
nossas quedas, nos nega recursos à reabilitação, relegando-nos à
reincidência e ao desamparo. Por agora, defrontarás com a tormenta de
lágrimas; o temporal da incompreensão e da intolerância vergastará teu
rosto... Contudo, a bonança voltará. O caminho é empedrado e árido, os
espinhos dilaceram, mas terás, de encontro ao coração, um filhinho
amoroso, indicando-te o futuro! Em verdade, Cecilia, deverias erguer teu
ninho de felicidade na árvore do equilíbrio, glorificando, em paz, a
realização de cada dia e a bênção de cada noite: entretanto, não pudeste
esperar... Cedeste aos golpes infrenes da paixão, abandonaste o ideal aos
primeiros impulsos do desejo. Ao invés de construir na tranquilidade e na
confiança, em bases seguras, elegeste o caminho perigoso da precipitação.
Agora, é imprescindível evitar o despenhadeiro fatal, contornar a voragem
traiçoeira, agarrando-te ao salva-vidas do supremo dever. Volta, pois, minha
filha, à serenidade do principio, e resigna-te ante o novo aspecto que
imprimiste ao próprio roteiro, aceitando o ministério da maternidade
dolorosa com o sacrifício de encantadoras aspirações. No silêncio e na
obscuridade da proscrição social, muitas vezes logramos a felicidade de co-
nhecer-nos, O desprezo público, se precipita os mais fracos no
esquecimento de si mesmos, ergue os fortes para Deus, sustentando-os no
trilho anônimo das obrigações humildes, até à montanha da redenção. É
provável que teu pai te amaldiçoe, que os nossos entes mais caros na Terra
te menos-cabem e tentem aviltar; no entanto, que martírio não enobrecerá
o espírito disposto ao resgate dos seus débitos, com dedicação ao bem e
serenidade na dor? Não será melhor a coroa de espinhos na fronte do que o
monte de brasas na consciência? O mal pode perder-nos e transviar-nos; o
bem retifica sempre. Além disto, se é certo que o padecimento da vergonha
açoitará tua sensibilidade, a glória da maternidade resplenderá em teu
caminho... Tuas lágrimas orvalharão uma flor querida e sublime, que será o
teu filho, carne de tua carne, ser de teu ser. Que não fará no mundo a
mulher que sabe renunciar? A tormenta rugirá, mas sempre fora de teu
coração, porque, lá dentro, no santuário divino do amor, encontrarás em ti
mesma o poder da paz até à vitória...
A enferma escutava, quase indiferente, disposta a não capitular. Recebia
os apelos maternos, sem alteração de atitude. A mãezinha, porém,
mobilizando todos os recursos ao seu alcance, prosseguia após intervalo
mais longo:
— Ouve. Cecilia! não te fiques nessa atitude impassível. Não isoles do
cérebro o coração, a fim de que teu raciocínio se beneficie com o senti-
mento, de modo a venceres na prova áspera. Não te detenhas em primazias
da forma física, nem suponhas que a beleza espiritual e eterna erga seu
templo no corpo de carne, em trânsito para o pó. A morte virá de qualquer
modo, trazendo a realidade que confunde a ilusão. Não persistas no véu da
mentira. Humilha-te na renúncia construtiva, toma a tua cruz e segue para a
compreensão mais alta... No teu madeiro de sofrimento íntimo, ouvirás
enternecedoras vozes de um filho abençoado... Se te alancear o abandono
do mundo, será ele, junto de ti, o suave representante da Divindade... Que
falta te fará o manto das fantasias, se dois pequeninos braços de veludo te
cinjam, carinhosos e fiéis, conduzindo-te à renovação para a vida superior?
Foi então que Cecilia, infundindo-me assombro pela agressividade,
objetou em pensamento:
—Como não me disseste isso antes? Na Terra, sempre satisfazias meus
desejos. Nunca me permitiste o trabalho, favoreceste-me o ócio, fizeste-me
crer em posição mais elevada que a das outras criaturas; incutiste-me a
suposição de que todos os privilégios especiais me eram devidos; não me
preparaste, enfim! Estou sôzinha, com um problema atribulativo... Não
tenho, agora, coragem de humilhar-me... Esmolar serviço remunerado não é
o ideal que me deste, e enfrentar a vergonha e a miséria será para mim pior
que morrer. Não, não!... não desisto, nem mesmo à tua voz que, a despeito
de tudo, ainda amo! É-me impossível retroceder.
A comovedora cena estarrecia. Observava eu, ali, o milenário conflito
da ternura materna com a vida real.
A venerável matrona chorou com mais amargura, agarrou-se à filha
com mais veemência e suplicou: — Perdoa-me pelo mal que te fiz,
querendo-te em demasia... Ó filha querida, nem sempre o amor humano
avança vigilante! Por vezes a cegueira nos compele a erros clamorosos, que
só o golpe da morte em geral expunge. Não consideras, porém, a minha
dor? Reconheço minha participação indireta em teu presente infortúnio,
mas entendendo, agora, a extensão e a delicadeza dos deveres maternos,
não desejo que venhas colher espinhos no mesmo lugar onde sofro os
resultados amargos de minha imprevidência. Porque eu haja errado por
excesso de ternura, não te desvies por acúmulo de ódio e de
inconformação. Depois do sepulcro, o dia do bem é mais luminoso, e a noite
do mal é, sobremaneira, mais densa e tormentosa. Aceita a humilhação
como bênção, a dor como preciosa oportunidade. Todas as lutas terrenas
chegam e passam; ainda que perdurem, não se eternizam. Não compliques,
pois, o destino. Submeto-me às tuas exprobrações. Merece-as quem, como
eu, olvidou a floresta das realizações para a eternidade, retendo-se
voluntàriamente no jardim dos caprichos amenos, onde as flores não se
ostentam mais do que por fugaz minuto. Esqueci-me, Cecilia, da enxada
benfazeja do esforço próprio, com a qual devera arrotear o solo de nossa
vida, semeando dádivas de trabalho edificante, e ainda não chorei
suficientemente, para redimir-me de tão lastimável erro. Todavia, confio em
ti, esperando que te não suceda o mesmo na áspera trilha da regeneração.
Antes mendigar o pão de cada dia, amargar os remoques da maldade
humana, aí na Terra, que menosprezar o pão das oportunidades de Deus,
permitindo que a crueldade nos avassale o coração. O sofrimento dos
vencidos no combate humano é celeiro de luz da experiência. A Bondade
Divina converte as nossas chagas em lâmpadas acesas para a alma. Bem-
aventurados os que chegam àmorte crivados de cicatrizes que denunciam a
dura batalha. Para esses, uma perene era de paz fulgurará no horizonte,
porqüanto a realidade não os surpreende quando o frio do túmulo lhes
assopra o coração. A verdade se lhes faz amiga generosa; a esperança e a
compreensão lhes serão companheiras fiéis! Retorna, minha filha, a ti
mesma; restaura a coragem e o otimismo, mau grado às nuvens
ameaçadoras que te pairam na mente em delírio... Ainda é tempo! Ainda é
tempo!
A enferma, contudo, fêz supremo esforço por tornar ao invólucro de
carne, pronunciando ríspidas palavraS de negação, inopinadas e ingratas.
Desfazendo-se da influência pacificadOrø de CalderarO, regressou
gradativamente ao campo sensorial, em gritos roucos.
O instrutor aproximou-Se da genitora, chorosa, e informou:
— Infelizmente, minha amiga, o processo de loucura por insurgência
parece consumado. Confiemo-la, agora, ao poder da Suprema Proteção
Divina.
Enquanto a entidade materna se debulhaVa em lágrimas, a doente,
conturbada pelas emissões mentais em que se comprazia, dirigiu-se à enfer-
meira, reclamando:
— Não posso! não posso mais! não suporto... A intervenção, agora! não
quero perder um minuto!
Fixando a companheira, por alguns instantes, com terrifica expressão,
ajuntou:
— Tive um pesadelo horrível... Sonhei que minha mãe voltava da morte
e me pedia paciência e caridade! Não, não!... Irei até ao fim! Preferirei o
suicídio, afinal!
Inspirada pelo meu orientador, a enfermeira fêz ainda várias
ponderações respeitáveis.
Não seria conveniente aguardar mais tempo?
Não seria o sonho um providencial aviso? O abatimento de Cecilia era
enorme. Não se sentiria amparada por uma intervenção espiritual? Julgava,
desse modo, oportuno adiar a decisão.
A paciente, no entanto, ficou irredutível. E, com assombro nosso, ante a
genitora desencarnada, em pranto, a operação começou, com sinistros
prognósticos para nós, que observamos a cena, sensibilizadíssimos.
Nunca supus que a mente desequilibrada pudesse infligir tamanho mal
ao próprio patrimônio.
A desordem do cosmo fisiológico acentuou-se,
instante a instante.
Penosamente surpreendido, prossegui no exame da situação,
verificando com espanto que o embrião reagia ao ser violentado, como que
aderindo, desesperadamente, às paredes placentárias.
A mente do filhinho imaturo começou a despertar à medida que
aumentava o esforço de extração. Os raios escuros não partiam agora só do
encéfalo materno; eram igualmente emitidos pela organização embrionária,
estabelecendo maior desarmonia.
Depois de longo e laborioso trabalho, o entezinho foi retirado afinal...
Assombrado, reparei, todavia, que a ginecologista improvisada subtraia ao
vaso feminino somente pequena porção de carne inânime, porque a
entidade reencarnante, como se a mantivessem atraida ao corpo materno
forças vigorosas e indefiníveis, oferecia condições especialíssimas, adesa ao
campo celular que a expulsava. Semidesperta, num atro pesadelo de
sofrimento, refletia extremo desespero; lamentava-se com gritos aflitivos;
expedia vibrações mortíferas; balbuciava frases desconexas.
Não estaríamos, ali, perante duas feras terrívelmente algemadas uma à
outra? O filhinho que não chegara a nascer transformara-se em perigoso
verdugo do psiquismo materno. Premindo com impulsos involuntários o
ninho de vasos do útero, precisamente na região onde se efetua a permuta
dos sangues materno e fetal, provocou ele o processo hemorrágico, violento
e abundante.
Observei mais.
Deslocado indebitamente e mantido ali por forças incoercíveis, o
organismo perispirítico da entidade, que não chegara a renascer, alcançou
em movimentos espontâneos a zona do coração. Envolvendo os nódulos da
aurícula direita, perturbou as vias do estímulo, determinando choques tre-
mendos no sistema nervoso central.
Tal situação agravou o fluxo hemorrágico, que assumiu intensidade
imprevista, compelindo a enfermeira a pedir socorros imediatos, depois de
delir, como pôde, os vestígios de sua falta.
— Odeio-o! odeio-o! — clamava a mente materna em delírio, sentindo
ainda a presença do filho na intimidade orgânica. — Nunca embalarei um
intruso que me lançaria à vergonha!
Ambos, mãe e filho, pareciam agora, por dizer mais exatamente,
sintonizados na onda de ódio, porque a mente dele, exibindo estranha
forma de apresentação aos meus olhos, respondia, no auge da ira:
—Vingar-me-ei! Pagarás ceitil por ceitil! não te perdoarei!... Não me
deixaste retomar a luta terrena, onde a dor, que nos seria comum, me en-
sinaria a desculpar-te pelo passado delituoso e a esquecer minhas
cruciantes mágoas... Renegaste a prova que nos conduziria ao altar da
reconciliação. Cerraste-me as portas da oportunidade redentora; entretanto,
o maléfico poder, que impera em ti, habita igualmente minhalma...
Trouxeste à tona de minha razão o lodo da perversidade que dormia dentro
em mim. Negas-me o recurso da purificação, mas estamos agora
novamente unidos e arrastar-te-ei para o abismo... Condenaste-me à morte,
e, por isso, minha sentença é igual. Não me deste o descanso, impediste
meu retorno à paz da consciência, mas não ficarás por mais tempo na
Terra... Não me quiseste para o serviço do amor... Portanto, serás
novamente minha para a satisfação do õdio. Vingar-me-ei! Seguirás comigo!
Os raios mentais destruidores cruzavam-se, em horrendo quadro, de
espírito a espírito.
Enquanto observava a intensificação das toxinas, ao longo de toda a
trama celular, Calderaro orava, em silêncio, Invocando o auxilio exterior, ao
que me pareceu. Efetivamente, dai a instantes, pequena turma de
trabalhadores espirituais penetrou o recinto. O orientador ministrou
instruções. Deveriam ajudar a desventurada mãe, que permaneceria junto
da filha infeliz, até à consumação da experiência.
Em seguida, o Assistente convidou-me a sair, acrescentando:
— Verificar-se-á a desencarnação dentro de algumas horas. O ódio, André,
diàriamente extermina criaturas no mundo, com Intensidade e eficiência
mais arrasadoras que as de todos os canhões da Terra troando a uma vez. É
mais poderoso, entre os homens, para complicar os problemas e destruir a
paz, que todas as guerras conhecidas pela Humanidade no transcurso dos
séculos. Não me ouves mera teoria. Viveste conosco, nestes momentos, um
fato pavoroso, que todos os dias se repete na esfera carnal. Estabelecido o
império de forças tão detestáveis sobre essas duas almas desequilibradas,
que a Providência procurou reunir no instituto da reencarnação, é
necessário confiá-las doravante ao tempo, a fim de que a dor opere os
corretivos indispensáveis.
— Oh! — exclamei aflito, contemplando o duelo de ambas as mentes
torturadas —, como ficarão? permanecerão entrelaçadas, assim? e por
quanto tempo?
Calderaro fitou-me com o acabrunhamento de um soldado valoroso que
perdeu temporariamente a batalha, e informou:

— Agora, nada vale a intervenção direta. Só poderemos cooperar com a


oração do amor fraterno, aliada à função renovadora da luta cotidiana.
Consumou-se para ambos doloroso processo de obsessão recíproca, de
amargas consequências no espaço e no tempo, e cuja extensão nenhum de
nós pode prever.

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Cap. 13
Psicose afetiva

Seguindo Calderaro, fomos, em plena noite, atender infortunada irmã


quase suicida.
Penetramos a residência. confortável, conquanto modesta, percebendo
a presença de várias entidades infelizes.
O Assistente pareceu-me apressado. Não se deteve em nenhuma
apreciação.
Acompanhei-o, por minha vez, até humilde aposento, onde fomos
encontrar jovem mulher em convulsivo pranto, dominada por desespero
incoercível. A mente acusava extremo desequilíbrio, que se estendia a todos
os centros vitais do campo fisiológico.
— Pobrezinha! — disse o orientador, comovidamente — não lhe faltará a
Divina Bondade. Tudo preparou de modo a fugir pelo suicídio, esta noite;
entretanto, as Forças Divinas nos auxiliarão a intervir...
Colocou a destra sobre a fronte da irmã em lágrimas e esclareceu;
- É Antonina, abnegada companheira de luta. Órfã de pai, desde muito
cedo, iniciou-se no trabalho remunerado aos oito anos, para sustentar a
genitora e a irmãzinha. Passou a infância e a primeira juventude em
sacrifícios enormes, ignorando as alegrias da fase risonha de menina e
moça. Aos vinte anos perdeu a mãezinha, então arrebatada pela morte, e,
não obstante seus formosos ideais femininos, foi obrigada a sacrificar-se
pela irmã em vésperas de casamento. Realizado este, Antonina procurou
afastar-se, para tratar da própria vida; muito cedo, verificou, porém, que o
esposo da irmãzinha se caracterizava por nefanda viciosidade. Perdido nos
prazeres inferiores, entregava-se ao hábito da embriaguez, diariamente,
retornando ao lar, em hora tardia, a distribuir pancadas, a vomitar insultos.
Sensibilizada ante o destino da companheira, nossa dedicada amiga perma-
neceu em casa, a serviço da renúncia silenciosa, aliviando-lhe os pesares e
auxiliando-a a criar os sobrinhos e a assisti-los. Corriam os anos, tristes e
vagarosos, quando Antonina conheceu certo rapaz necessitado de arrimo, a
sustentar pesado esforço por manter-se nos estudos.
Identificavam-Se pela idade e pela comunhão de ideias e de
sentimentos. Devotada e nobre, correspondeu-lhe à simpatia, convertendo-
se em abnegada irmã do jovem. A companhia dele, de algum modo,
projetava abençoada luz em sua noite de solidão e sacrifício ininterruptos.
Repartindo o tempo e az possibilidades entre a irmã, quatro pequenos
sobrinhos e o co-participe de sonhos fulgurantes, consagrava-se ao trabalho
redentor de cada dia, animada e feliz, aguardando o futuro. Idealizava
também obter, um dia, a coroa da maternidade, num lar singelo e pobre,
mas suficiente para caber a felicidade de dois corações para sempre unidos
diante de Deus. Todavia, Gustavo, o rapaz que se valeu de sua amorosa
colaboração durante sete anos consecutivos após a jornada universitária
sentiu-se demasiado importante para ligar seu destino ao da modesta
moça.
Independente e titulado, agora, passou a notar que Antonina não era,
fisicamente, a companheira que seus propósitos reclamavam. Exibindo um
diploma de médico e sentindo urgente necessidade de constituir um lar,
com grandioso programa na vida social, desposou jovem possuidora de
vultosa fortuna, menosprezando o coração leal que o ajudara nos instantes
incertos. Fundamente humilhada, nossa desditosa irmã procurou-o, mas foi
recebida com escarnecedora frieza. Gustavo, com presunção repulsiva,
transmitiu-lhe a novidade, asperamente: Necessitava pôr em ordem os ne-
gócios materiais que lhe diziam respeito, e, por isto, escolhera melhor
partido. Além disso, declarou, sua posição requeria uma esposa que não
procedesse de um meio de atividades humilhantes; pretendia alguém que
não fôsse operária de laboratório, que não tivesse mãos calejadas, nem fios
prateados na cabeça. A moça tudo ouviu debulhada em lágrimas, sem
reação, e tornou à residência, ontem, minada pelo anseio de morrer, fosse
como fôsse. Sente que as esperanças se lhe esvaneceram, esfaceladas pelo
golpe inopinado, que a existência se reduz em cinza e poeira, que a
renúncia abre as portas da ruína e da morte. Conseguiu certa dose de
substância mortífera, que pretende ingerir ainda hoje.
Dando pequeno intervalo às elucidações, recomendou-me:
— Examina-a, enquanto administro os socorros iniciais.
Detive-me em perquirição minuciosa, por longos minutos.
Dos olhos de Antonina caíam pesadas lágrimas; no entanto, da câmara
cerebral partiam raios purpúreos, que invadiam o tórax e envolviam par-
ticularmente o coração. Torturantes pensamentos baralhavam-lhe a mente.
Registrando-lhe os secretos apelos, compungia ouvir-lhe os gritos de
desespero e as súplicas ardentes.
Seria crime — pensava — amar alguém com tal excesso de ternura?
onde jazia a Justiça do Céu, que lhe não premiava os sacrifícios de mulher
dedicada à paz doméstica? aspirava a ser alegre e feliz, como as venturosas
companheiras de sua meninice; anelava a tranquilidade do matrimônio
digno, com a expectativa de receber alguns filhinhos, concedidos pela
Bondade Infinita de Deus!
Seria aspiração condenável sonhar com a edificação de modesto lar,
com a proteção de um companheiro simples e bondoso, quando as próprias
aves possuiam seus ninhos? Não trabalhara sempre pela felicidade dos
outros? por que desconhecidas razões a relegara Gustavo ao abandono? Os
calos das mãos e os sinais do rosto não lhe roboravam a dedicação ao
serviço honesto? Teria valido a pena sofrer tantos anos, perseguindo uma
realização que se lhe afigurava, agora, impossível? Não! não pretendia
demorar-se num mundo onde o vício triunfava tão facilmente, espezinhando
a virtude! Não obstante a fé que lhe alentava o coração, preferia morrer,
enfrentar o desconhecido... Sentia-se desajustada, sem rumo, quase louca.
Não seria mais razoável — inquiria a si própria — buscar as trevas do
sepulcro de que apodrecer num catre de hospício?
Estirada no leito, a infeliz mergulhava o rosto nas mãos, soluçando
sôzinha, inspirando-nos piedade.
Calderaro interrompeu o serviço de assistência, fitou-me com.
significativa expressão e comumcou:
— Tenho instruções para impor-lhe o sono mais profundo, logo depois
da meia-noite.
E, verificando que o relógio informava não estar distante o momento
prefinido, o Assistente começou a ministrar-lhe aplicações fluídicaa ao longo
do sistema nervoso simpático.
A vasta rede de neurônios experimentou a influência anestesiante.
Ãntonina tentou levantar-se, gritar, mas não conseguiu. A intervenção era
demasiado vigorosa para que a enferma pudesse reagir.
O orientador prosseguiu atento, envolvendo-a mansamente, em fluidos
calmantes. Dentro em pouco, cedendo à irresistível dominação, a moça
recostou-se vencida nos travesseiros, no estado a que o magnetizador
comum chamaria hipnose profunda).
Manteve-a Calderaro em completo repouso por mais de meia hora.
Decorrido esse tempo, duas entidades, aureoladas de intensa luz, deram
entrada no recinto. Abraçaram meu instrutor, que mas apresentou
cordialmente.
Estavam, agora, junto de nós, Mariana, que fora dedicada genitora de
Ãntonina, e Márcio, iluminado espírito ligado a ela, desde séculos remotos.
Agradeceram, sensibilizados, a atuação de meu orientador, que passou
a doente à direção materna.
A simpática senhora desencarnada inclinou-se sobre a filha e chamou-a,
docemente, como o fazia na Terra. Parcialmente desligada do envoltório
grosseiro, Antonina ergueu-se, em seu organismo perispirítico, encantada,
feliz...
— Mamãe! mamãe! — gritou, desabafando-se, a refugiar-se entre os
braços maternais.
Mariana recolheu-a, carinhosa, estringiu-a de encontro ao peito,
pronunciando palavras enternecedoras.
— Mãezinha, ajude-me! não quero mais viver na Terra! não me deixe
voltar ao corpo pesado... O destino escorraça-me. Sou infeliz! Tudo me é
adverso... Arrebate-me daqui... para sempre!
A nobre matrona contemplava-a, triste, quando Márcio se aproximou,
fazendo-se visto pela estimada enferma.
A moça abriu desmesuradamente os olhos e ajoelhou-se
instintivamente, amparada pela mãe. Parecia esforçar-se por trazer à
lembrança alguém que ficara em pretérito longínquo... Observava-se-lhe a
extrema dificuldade para recordar com precisão. Contemplava o emissário,
banhada em pranto diferente: não vertia as lágrimas lutuosas de momentos
antes; tocava-se, agora, de sublime conforto, de júbilo místico, que lhe
nascia, inexplicavelmente, das profundezas do coração.
Acercou-se Márcio mais intimamente, pousou-lhe a luminosa destra
sobre a fronte e falou com ternura:
— Antonina, porque esse desânimo, quando a luta redentora apenas
começa? olvidaste, acaso, que não somos órfãos? Acima de todos os obstá-
culos paira a Infinita Bondade. Recusas a “porta estreita”, que nos
proporcionará o venturoso acesso ao reencontro?
Talvez porque a interlocutora estivesse de si mesma postulando
excessivo trabalho para reavivar paisagens perdidas no tempo, o
mensageiro advertiu, fraternal:
— Não forces a situação! acalma-te! não nos bastará o presente, cheio
de abençoado serviço e renovadora luz? Um dia, reconquistarás o patri-
mônio da memória total; por ora, contenta-te com as dádivas limitadas.
Aproveita os minutos na recomposição do destino, vale-te das horas para
reconduzir tuas aspirações a esferas superiores. Que motivos te sugerem
esse crime, que é o provocar a morte? que razões te conduzem os passos
na direção do precipício tenebroso? Tua mãe e eu sentimos, de longe, o
perigo, e aqui estamos para ajudar-te...
Fez longa pausa, fixando-a amorosamente, e contmuou:
- Ó minha abençoada amiga, como abriste assim o coração aos monstros
do desespero? Dize-me! não te mantenhas silenciosa... Não sou teu juiz, sou
teu amigo da eternidade. Não terei o consolo de ouvir-te?
A enferma desejava falar; entretanto, os suaves raios de luz, emitidos
por Márcio, cercavam-na toda, sufocando-lhe a garganta, no êxtase daque-
les instantes inesquecíveis.
Ele, porém, desejando evidentemente proporcionar-lhe oportunidade a
mais amplo desabafo, levantou-a, cuidadoso, e insistiu:
— Fala!...
Animada, Antonina balbuciou, tímida:
— Estou exausta...
— Contudo, jamais foste esquecida. Recebeste mil recursos diversos da
Providência, indispensáveis ao valioso serviço de redenção. O corpo terreno,
as bênçãos do Sol, as oportunidades de trabalho, as maravilhas da
Natureza, os laços afetivos e as próprias dores da experiência humana não
serão inestimáveis dons do Divino Suprimento? Ignoras, querida, a
felicidade do sacrifício, renegas a possibilidade de amar?
Foi então que vi a jovem mulher contemplá-lo mais confiadamente.
Sentindo-se forte, ante a insofismável demonstração de carinho, abriu-se
com franqueza fraternal:
— Tenho sonhado com a posse de um lar. Desejo viver para um homem
que, a seu turno, me auxilie a levar a existência.... idealizo receber de Deus
alguns filhinhos que eu possa acariciar! Será pecado, celeste mensageiro,
anelar tais coisas? Será delinqüente a mulher que busca santificar os prin-
cípios naturais da vida? Depois de mourejar anos a fio pela felicidade dos
que me são caros, noto que o destino escarnece de minhas esperanças.
Será virtude viver entre pessoas alegres e felizes, quando nosso coração
queda morto?
Márcio ouviu-a fraternalmente, afagando-lhe as mãos, e, evidenciando
suas altas aquisições de verdadeiro amor, acrescentou, mais compreensivo
e mais terno:
— Abnegada amiga, não permitas que a sombra de algumas horas te
empane a luz dos séculos porvíndouros. É possível, Antonina, que te sintas
tão lamentàvelmente só, quando o Supremo Senhor te concedeu o sublime
lar no mundo inteiro? A Humanidade é nossa família, os filhinhos da dor nos
pertencem. Reconheço que transitórias humilhações do sentimento te
laceraxn a alma, que desejarias arrimar-te ao carinhoso braço de um com-
panheiro digno e fiel. No entanto, querida, é da Vontade Superior que
recebas, por enquanto, as vantagens que podem ser encontradas na
solidão. Se há períodos de florescimento nos vales humanos, dentro dos
quais nos inebriamos em plena primavera da Natureza, existências se
verificam, aparentemente isoladas e desditosas, nas culminâncias da
meditação e da renúncia, a cuja luz nos preparamos para novas jornadas
santificadoras.
(Não suponhas que a fatal passagem do sepulcro nos abra portas à
liberdade: segue-nos a Lei, a toda parte, e o Supremo Senhor, se exerce a
infinita compaixão, não despreza a justiça inquebrantável. Dá-nos,
invariàvelmente, a Eterna Sabedoria o lugar onde possamos ser mais úteis e
mais felizes.
(Declaras-te deserdada e infeliz, e, no entanto, ainda não recenseaste as
possibilidades sublimes que te rodeiam. Dizes-te incapacitada de abraçar os
pequeninos de Deus, mas, porque tamanho exclusivismo para os rebentos
consangüíneos? não enxergaste, até hoje, as crianças abandonadas, nunca
viste os filhinhos da miséria e da privação? Se não podes ser mãe de flores
da própria carne, por que motivo não te fazes tutora espiritual dos
pequenos necessitados e sofredores? Acreditas, Antonina, que possamos
ser absolutamente felizes, escutando gemidos à nossa porta? haverá
perfeita alegria num coração que pulsa ao lado de um coro de lágrimas? O
mundo não é propriedade nossa. Nós, os filhos do Altíssimo, é que fomos
trazidos a cooperar nas obras que nos cercam. É verdadeira infelicidade
acreditar-se alguém favorito dos Céus, como se o Pai Compassivo e Sábio
não passasse de frágil e parcial ditador! Sacode a consciência adormecida...
Lembra-te de que o Todo Poderoso não se adstringe ao nosso particularismo
de criaturas falíveis, e não te esqueças de que nos pesam, perante a
universalidade dele, inalienáveis deveres de trabalho, exercitando os precio-
sos recursos que nos concedeu, a fim de alcançarmos, um dia, a perfeição
da sabedoria e do amor.
“Sofres em tua organização, que orientaste para o personalismo,
porque um homem, cujo padrão psíquico se harmonizou com o teu em
muitos aspectos, modificando depois seu rumo de vida, te relegou ao
esquecimento. Choras, porqüanto esperavas encontrar em sua companhia
algo da Divina Presença, que traria serenidade às tuas angustiosas
esperanças de mulher delicada e sensível... As inquietações do sexo
tomaram vulto na intimidade do teu santuário, e padeces longo assédio de
tribulações. Mas... dar-se-á que presumas no sexo a fonte exclusiva do
amor? Serás também vítima desse fatal engano? O amor é sol divino a irra-
diar-se através de todas as magnificências da alma.
“Por vezes, somos privados de sensaçôes que ansiáraznos, inibidos de
usar as energias criadoras das formas físicas, a fim de buscarmos
patrimônios mais altos do ser; nem por isso, contudo, tais percalços nos
impedem a exteriorização do sublime sentimento; represar-lhe o curso
redundaria em extinguir o Universo, O que tortura a mente humana em tais
ocasiões é o clima do cárcere organizado por nós mesmos; amurados no
egoísmo feroz, não sabemos perder por alguns dias, para ganhar na
eternidade, nem ceder valores transitários, para conquistar os dons
definitivos da vida”.
Ante a moça que o contemplava, embevecida, através de espesso véu
de lágrimas, o mensageiro prosseguiu:
— Efetivamente, se não podes partilhar a experiência do homem
escolhido, em face das circunstâncias que te compelem à renúncia, porque
não lhe consagrar o puro amor fraternal, que eleva sempre? Estaríamos,
acaso, impedidos de transformar em irmãos os seres que admiramoS? Não
deves outrossim esquecer que o noivo perjuro, atualmente belo na figura
fisiológica, vestirá também, mais tarde, o puido traje do cansaço e da
velhice, se em breve não afívelar ao rosto a máscara da enfermidade e da
morte. Conhecerá o desencanto da carne e estimará no silêncio a procura
do espírito. Se o amas, em verdade, porque torturá-lo com o sarcasmo do
suicídio, ao invés de cobrar forças para esperá-lo, ao fim do dia da
existência mortal? Se não podes ser o cântaro de água pura para o viajor
querido, porque não ser o oásis que o aguardará no deserto das desilusões
inevitáveis? Além disto, como chegaste a sentir tão clamoroso desamparo,
se também te aguardamos, ávidos aqui de tua afeição e de teu carinho?
Antonina sorriu, em êxtase, a despeitO do pranto que lhe rolava a flux.
Observando o salutar efeito de suas palavras animadoras, Márcio
acariciou-lhe os cabelos, murmurando:
— Por que razão esperar os rebentOS da carne para exemplificar o
verdadeiro amor? Jesus não os teve, e, no entanto, todos nos sentimos
tuteladOS de sua infinita abnegação. Prometes, Antonina, modificar as
disposições mentais doravante? A mulher digna e generosa, excelsa e
cristã, olvida o mal e sina sempre...
Comovidos, vimos a interlocutora ajoelhar-se de novo, e exclamar
solenemente:
— Comprometo-me a modificar minha atitude, em nome de Deus.
Nesse instante, o emissário espalmou as mãos sobre a fronte da enferma,
envolvendo-a em jactos de luz que não tocaram tão sômente a matéria
perispiritica, mas se estenderam além, até no corpo denso, fixando-se
particularmente nas zonas do encéfalo, do tórax e dos órgãos feminis. Logo
após, Antonina, empolgada pela mãezinha e pelo companheiro da
espiritualidade superior, afastou-se para agradável e repousante excursão.
Incumbiu-se Calderaro de auxiliá-la a retomar o veículo pesado nas
primeiras horas da manhã clara.
Edificado com as observações da noite, regressei, em companhia dele,
ao quarto da senhorita quase suicida.
Entre as seis e sete horas, a genitora desencamada trouxe a filha, em
cuja fisionomia fulgurava ignota e incompreensível felicidade.
O instrutor ajudou-a reapossar-se do envoltório fisiológico, cercando-lhe
o cérebro de emanações fluídicas anestesiantes, para que lhe não fôsse
permitido o júbilo de recordar, em todas as suas particularidades, a
experiência da noite; se guardasse a lembrança integral, disse Calderaro,
provavelmente enlouqueceria de ventura. Destarte, as alegrias por ela
intensamente vividas seriam arquivadas em seu organismo sob forma de
forças novas, estímulos desconhecidos, coragem e satisfação de
procedência ignorada.
Com efeito, daí a minutos Antonina despertou, como que outra criatura;
sentia-se inexplicavelmente reanimada, quase feliz.
Um dos pequenos sobrinhos penetrou o aposento, chamando-a. A
generosa tia contemplou-o, enlevada.
Alguma energia prodigiosa, que lhe não era dado conhecer, religara-a
ao interesse pela vida. Achou indizível contentamento no Sol que atraves-
sava a vidraça, bendizia o quarto humilde onde lutava por atender aos
desígnios de Deus, e sorria-se de haver, na véspera, pensado em fugir, sem
razão, ao aprendizado do mundo. Não fora aquinhoada pela Providência
com maravilhoso número de bênçãos? Contemplou a encantadora criança
pobremente vestida, a solicitar-lhe a companhia para descerem ao pequeno
jardim, onde flores novas desabrochavam. Que importa insignificante ma-
logro do coração diante dos trabalhos sublimes que poderia executar, na
sua posição de mulher sadia e jovem? Os filhinhos da. irmã não lhe
pertenciam igualmente? não seria mais nobre viver para ser útil, esperando
sempre da Inesgotável Misericórdia?
— Titia Antonina! Titia Antonina, vamos! Vamos ver a roseira nova! —
gritava o trêfego menino de cinco anos, em alegre invite à vida.
Observando-lhe a restauração das forças, vimo-la, sinceramente
rejubilados, levantar-se a responder, sorrindo:
— Espera! já vou, meu filho!
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PSICOLOGIA – PSIQUIATRIA

DEPRESSÃO

Sinônimos e nomes relacionados: Transtorno depressivo, depressão


maior, depressão unipolar, incluindo ainda tipos diferenciados de depressão,
como depressão grave, depressão psicótica, depressão atípica, depressão
endógena, melancolia, depressão sazonal.

O que é a depressão? Depressão é uma doença que se caracteriza por


afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio
anormal de tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres, de qualquer
faixa etária, podem ser atingidas, porém mulheres são duas vezes mais
afetadas que os homens. Em crianças e idosos a doença tem características
particulares, sendo a sua ocorrência em ambos os grupos também
freqüente.

Como se desenvolve a depressão? Na depressão como doença


(transtorno depressivo), nem sempre é possível haver clareza sobre quais
acontecimentos da vida levaram a pessoa a ficar deprimida, diferentemente
das reações depressivas normais e das reações de ajustamento depressivo,
nas quais é possível localizar o evento desencadeador. As causas de
depressão são múltiplas, de maneira que somadas podem iniciar a doença.
Deve-se a questões constitucionais da pessoa, com fatores genéticos e
neuroquímicos (neurotransmissores cerebrais) somados a fatores
ambientais, sociais e psicológicos, como:

Estresse
Estilo de vida
Acontecimentos vitais, tais como crises e separações conjugais, morte na
família, climatério, crise da meia-idade, entre outros.

Como se diagnostica a depressão? Na depressão a intensidade do


sofrimento é intensa, durando a maior parte do dia por pelo menos duas
semanas, nem sempre sendo possível saber porque a pessoa está assim. O
mais importante é saber como a pessoa sente-se, como ela continua
organizando a sua vida (trabalho, cuidados domésticos, cuidados pessoais
com higiene, alimentação, vestuário) e como ela está se relacionando com
outras pessoas, a fim de se diagnosticar a doença e se iniciar um
tratamento médico eficaz.

O que sente a pessoa deprimida? Freqüentemente o indivíduo


deprimido sente-se triste e desesperançado, desanimado, abatido ou " na
fossa ", com " baixo-astral ". Muitas pessoas com depressão, contudo,
negam a existência de tais sentimentos, que podem aparecer de outras
maneiras, como por um sentimento de raiva persistente, ataques de ira ou
tentativas constantes de culpar os outros, ou mesmo ainda com inúmeras
dores pelo corpo, sem outras causas médicas que as justifiquem. Pode
ocorrer também uma perda de interesse por atividades que antes eram
capazes de dar prazer à pessoa, como atividades recreativas, passatempos,
encontros sociais e prática de esportes. Tais eventos deixam de ser
agradáveis. Geralmente o sono e a alimentação estão também alterados,
podendo haver diminuição do apetite, ou mesmo o oposto, seu aumento,
havendo perda ou ganho de peso. Em relação ao sono pode ocorrer insônia,
com a pessoa tendo dificuldade para começar a dormir, ou acordando no
meio da noite ou mesmo mais cedo que o seu habitual, não conseguindo
voltar a dormir. São comuns ainda a sensação de diminuição de energia,
cansaço e fadiga, injustificáveis por algum outro problema físico.

Como é o pensamento da pessoa deprimida? Pensamentos que


freqüentemente ocorrem com as pessoas deprimidas são os de se sentirem
sem valor, culpando-se em demasia, sentindo-se fracassadas até por
acontecimentos do passado. Muitas vezes questões comuns do dia-a-dia
deixam os indivíduos com tais pensamentos. Muitas pessoas podem ter
ainda dificuldade em pensar, sentindo-se com falhas para concentrar-se ou
para tomar decisões antes corriqueiras, sentindo-se incapazes de tomá-las
ou exagerando os efeitos "catastróficos" de suas possíveis decisões erradas.

Pensamentos de morte ou tentativas de suicídio: Freqüentemente a


pessoa pode pensar muito em morte, em outras pessoas que já morreram,
ou na sua própria morte. Muitas vezes há um desejo suicida, às vezes com
tentativas de se matar, achando ser esta a " única saída " ou para " se livrar
" do sofrimento, sentimentos estes provocados pela própria depressão, que
fazem a pessoa culpar-se, sentir-se inútil ou um peso para os outros. Esse
aspecto faz com que a depressão seja uma das principais causas de
suicídio, principalmente em pessoas deprimidas que vivem solitariamente. É
bom lembrar que a própria tendência a isolar-se é uma conseqüência da
depressão, a qual gera um ciclo vicioso depressivo que resulta na perda da
esperança em melhorar naquelas pessoas que não iniciam um tratamento
médico adequado.

Sentimentos que afetam a vida diária e os relacionamentos


pessoais: Freqüentemente a depressão pode afetar o dia-a-dia da pessoa.
Muitas vezes é difícil iniciar o dia, pelo desânimo e pela tristeza ao acordar.
Assim, cuidar das tarefas habituais pode tornar-se um peso: trabalhar,
dedicar-se a uma outra pessoa, cuidar de filhos, entre outros afazeres
podem tornar-se apenas obrigações penosas, ou mesmo impraticáveis,
dependendo da gravidade dos sintomas. Dessa forma, o relacionamento
com outras pessoas pode tornar-se prejudicado: dificuldades conjugais
podem acentuar-se, inclusive com a diminuição do desejo sexual;
desinteresse por amizades e por convívio social podem fazer o indivíduo
tender a se isolar, até mesmo dificultando a busca de ajuda médica.

Como se trata a depressão? A depressão é uma doença reversível, ou


seja, há cura completa se tratada adequadamente. O tratamento médico
sempre se faz necessário, sendo o tipo de tratamento relacionado ao perfil
de cada paciente. Pode haver depressões leves, com poucos aspectos dos
problemas mostrados anteriormente e com pouco prejuízo sobre as
atividades da vida diária. Nesses casos, o acompanhamento médico é
fundamental, mas o tratamento pode ser apenas psicoterápico. Pode haver
também casos de depressões bem mais graves, com maior prejuízo sobre o
dia-a-dia do indivíduo, podendo ocorrer também sintomas psicóticos (como
delírios e alucinações) e ideação ou tentativas de suicídio. Nessa situação, o
tratamento medicamentoso se faz obrigatório, além do acompanhamento
psicoterápico. Os medicamentos utilizados são os antidepressivos,
medicações que não causam “dependência”, são bem toleradas e seguras
se prescritas e acompanhadas pelo médico. Em alguns casos faz-se
necessário associar outras medicações, que podem variar de acordo com os
sintomas apresentados (ansiolíticos, antipsicóticos). (Fonte) (Colaboradoras:
Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO:

Sinônimos e nomes populares: Transtorno distímico, neurose


depressiva, depressão neurótica, neurastenia, transtorno depressivo de
personalidade.

O que é? A distimia é uma doença do humor, como a depressão, porém


ocorrendo de uma forma crônica, com a persistência de tristeza por longo
tempo (pelo menos dois anos), durando a maior parte do dia, na maioria dos
dias.

O que se sente? Além do humor triste de forma prolongada, a pessoa


pode sentir o apetite aumentado ou diminuído, insônia ou muita sonolência,
sensação de baixa energia e cansaço, baixa auto-estima, com pensamentos
de não ter valor ou ser incapaz, apresentando ainda dificuldade em
concentrar-se ou em tomar decisões, além de ter sentimentos de falta de
esperança. Não necessariamente todos esses sintomas deverão estar
presentes, mas muitos são comuns. Diferentemente da depressão, a
distimia pode deixar o indivíduo com a sensação de que este é o seu jeito
normal de ser, com dizeres como "sempre fui desse jeito ". Há, portanto,
uma perda de autocrítica quanto à doença, o que, somado ao baixo
interesse em várias áreas da vida, pode levar ao isolamento ou a uma vida
limitada, com poucos relacionamentos sociais, inclusive dificuldades
profissionais e familiares. Normalmente não há um período mais agudo da
doença, com os sintomas sendo mantidos de uma forma estável durante
anos, porém é comum ocorrer a depressão propriamente dita em uma
pessoa previamente com distimia, o que costuma ser chamado de
depressão dupla. Em outros casos, pode ocorrer inicialmente um episódio
depressivo, em que não ocorre remissão total dos sintomas, e que o quadro
clínico residual caracteriza um episódio distímico.

Como se desenvolve? A distimia freqüentemente começa cedo na vida,


na infância, adolescência ou início da idade adulta, por isso facilmente
confundindo-se com o jeito de ser da pessoa. Em crianças, muitas vezes
expressa-se por irritabilidade e mau humor, ou então pode parecer
“boazinha” demais, sendo uma criança que brinca e permanece quieta a
maior parte do tempo, que não faz bagunça, não incomoda, e não raro, diz-
se que esse é o “jeitinho” dela. Em adolescentes pode associar-se
principalmente à rebeldia e irritabilidade, mas isolamento e abuso de drogas
podem ocorrer.

Qual a importância de se tratar a distimia? Comumente a pessoa com


distimia não procura tratamento por esse problema. Porém, esta é uma
doença freqüentemente associada a outras, como depressão, transtornos
de ansiedade (principalmente transtorno do pânico), abuso de álcool e
drogas e múltiplas queixas físicas (dores, por exemplo) de origem
psicológica. Portanto, são pessoas que terminam por recorrer a vários
tratamentos médicos, muitas vezes usando várias medicações, mas não
tratando especificamente a distimia.

Como se trata? A distimia em geral requer tratamento medicamentoso e


psicoterápico. A medicação utilizada geralmente envolve antidepressivos, e
nos casos em que há comorbidade com outras patologias, o tratamentos
destas também se faz necessário. A psicoterapia é fundamental no
tratamento desses pacientes, podendo ser cognitivo-comportamental, ou de
orientação analítica. Em alguns casos, a terapia familiar pode auxiliar na
melhora do paciente e de sua família, uma vez que eles vem há muitos anos
com um padrão disfuncional de comportamento e relacionamento entre os
membros. (FONTE) (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane
Diomário da Rosa)

REAÇÕES DEPRESSIVAS NORMAIS E DE AJUSTAMENTO: Depressão é


um problema médico que requer tratamento. Porém, não é sempre que a
palavra depressão é utilizada neste sentido. Às vezes esse termo é utilizado
pela população leiga, para se referir à sensação de tristeza, desânimo,
vontade de chorar, sem necessariamente caracterizar um episódio
depressivo.

O termo depressão, contudo, quando utilizado como sinônimo da doença


depressão (transtorno depressivo), significa uma alteração geral no estado
de humor da pessoa, que inclui sintomas físicos como alterações de sono e
de apetite, podendo apresentar também queixas somáticas como dores de
cabeça, dor de estômago e dores musculares. Também apresenta como
parte dos sintomas, tristeza, desânimo, dificuldade em sentir alegria ou
prazer, falta de vontade ou de interesse para realizar atividades que
anteriormente gostava.

Porém deve ser levado em consideração que tristeza, desânimo e falta de


prazer não serão sempre e necessariamente sinônimos de doença. Existem
relações da vida de qualquer pessoa que serão marcadas pela tristeza,
como:

- luto pela morte de um familiar ou amigo


- a separação no casamento
- a demissão de um emprego
- o fracasso em um concurso
- entre incontáveis outros eventos.

O limite entre o que é doença e o que é uma reação normal à vida depende
de quão intenso é o sofrimento da pessoa e de como ela reage no seu
cotidiano aos fatores que a estão deixando triste. Podemos, assim, agrupar
em quatro modalidades os estados depressivos, principalmente de acordo
com a intensidade do sofrimento psíquico. São eles:

- reações normais de depressão: luto e pesar


- reações de ajustamento depressivo
- distimia ou estado crônico de depressão
- depressão (transtorno depressivo).

Apenas os três últimos são considerados doenças, sendo a última


modalidade o que se denomina transtorno depressivo, ou depressão maior,
a depressão propriamente dita.

REAÇÕES NORMAIS DE DEPRESSÃO: LUTO E PESAR: Uma reação


normal de tristeza ocorre quando um acontecimento da vida tira a pessoa
de seu estado habitual de humor, mas ela retorna espontaneamente a ele
após cessado o seu período de tristeza.
Um jovem que estuda durante longo período para o vestibular pode
entristecer-se quando recebe o resultado negativo, a reprovação e chorar,
tornar-se desanimado por alguns dias; mas na semana seguinte faz sua
matrícula para mais um semestre de pré-vestibular. Um término de namoro,
uma discussão séria no casamento, a doença de uma pessoa querida, vários
podem ser os fatores que deixam alguém com pesar: sentimento de
tristeza, desânimo, sensação de falta de prazer com tarefas que antes
davam satisfação, choro mais fácil, dificuldade de concentração para
trabalhar ou estudar. Porém são sentimentos que têm uma pequena
duração no tempo, por dias ou semanas, no máximo, que geralmente não
perduram o dia inteiro, não impedindo a pessoa de se cuidar, de fazer suas
obrigações profissionais e sociais.

Da mesma forma pode ocorrer com o sentimento de perda, a sensação de


vazio passageira, bem limitada no tempo, pela morte de um familiar
próximo ou amigo. Ou ainda pela perda de um emprego, pelo fim de um
casamento, pela mudança de cidade do filho que vai estudar, ou até, muitas
vezes, pela decepção de um projeto de vida, que não seja mais possível
realizar. Esse sentimento de perda caracteriza a tristeza do luto.

São, portanto, reações normais aos acontecimentos mais difíceis da vida de


qualquer pessoa, que se instalam e persistem por alguns dias ou semanas,
e em seguida cessam, gradualmente. A maioria das vezes tais reações
depressivas não requerem tratamento, mas algumas vezes um tratamento
médico baseado em psicoterapia é aconselhado, mesmo por um curto
período, pois não raro essas reações normais podem ser também fatores
que desencadeiam um estado de depressão que se prolongue mais que o
normal.

REAÇÕES DE AJUSTAMENTO DEPRESSIVO: São reações um pouco mais


graves que as vistas nas reações depressivas normais da vida, mas não tão
intensas quanto acontece na depressão propriamente dita. Ocorre
geralmente um estado de angústia com humor deprimido, ansiedade,
preocupação e um sentimento de incapacidade de adaptação que surgem
após um acontecimento de vida estressante, como separações, mortes na
família, acidentes, doenças físicas graves, entre outros sentimentos. O início
dos sintomas é usualmente dentro de um mês da ocorrência do evento
estressante, freqüentemente não excedendo 6 meses de duração. Em geral
são eventos normais (mesmo que indesejáveis) da vida, que causam
estresse e angústia, ou mudanças de vida, mas que resultam em uma
reação na pessoa que é um pouco mais severa do que o esperado, sendo
mais intensa e persistindo por mais tempo. Geralmente requerem um
tratamento médico com psicoterapia, raramente com uso de medicação por
um curto período. É caracterizada por um período longo (mais de 2 anos em
adultos e mais de 1 ano em crianças) em que a pessoa se sente
constantemente triste e desanimada. Não chega a ser uma tristeza tão
intensa ou incapacitante como o que ocorre nos episódios de depressão
maior. Porém, em razão de sua cronicidade e persistência, causa muito
prejuízo e sofrimento, tendo repercussões sobre diversas esferas como
trabalho, vida social e afetiva. Um episódio de distimia pode ser
subseqüente a uma depressão com remissão parcial dos sintomas ou então
à uma reação de ajustamento depressivo que não se resolveu ou que não
foi tratada. Geralmente há necessidade de associar tratamento
medicamentoso à psicoterapia (ou comportamental ou de orientação
analítica). (FONTE) (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane
Diomário da Rosa)

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ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS


Parte V – SEXO
Capítulo 11 do livro “No Mundo Maior”

Cap. 11
Sexo

Ainda sob a impressão desagradável colhida do drama de Cecilia,


acompanhei Calderaro a curioso centro de estudos, onde elevados mentores
ministram conhecimentos a companheiros aplicados ao trabalho de
assistência na Crosta.
— Não é templo de revelações avançadas —informou o instrutor —, mas
instituição de socorro eficiente às ideias e empreendimentos dos colabora-
dores militantes nas oficinas de amparo espiritual; cátedra de amizade,
criada para discípulos a quem o esforço perseverante enobrece.
Ante minha indagação de aprendiz, continuou, bondoso:
— Esses amigos reúnem-se uma vez por semana, a fim de ouvirem
mensageiros autorizados no tocante a questões que interessam de perto
nosso ministério de auxilio aos homens. Estimo teu comparecimento hoje,
porqüanto o emissário da noite comentará problemas atinentes ao sexo.
Uma vez que estudas, nestes dias, os enigmas da loucura, com tempo curto
para a realização de experiências diretas, a palestra vem ao encontro de
nossos desejos.
Não foi possível maior conversação preliminar.
O Assistente observou que os trabalhos já estariam iniciados; seguimos, por
isso, sem maiores delongas. Com efeito, encontramos a assembléia em
plena função. Pouco mais de duas centenas de companheiros do nosso
plano ouviam, atenciosos, iluminado condutor de ahnas.
Sentamo-nos, por nossa vez, respeitosamente à escuta.
O portador da sabedoria, cercado de viva luminosidade, prelecionava
sem afetação. Palavra bem timbrada, penetrando-nos o íntimo pela inflexão
da sinceridade, falava, simples:
— «No exame das causas da loucura, entre individualidades, sejam
encarnadas, sejam ausentes da carne, a ignorância quanto à conduta sexual
édos fatores mais decisivos.
«A incompreensão humana dessa matéria equivale a silenciosa guerra
de extermínio e de perturbação, que ultrapassa, de muito, as devastações
da peste referidas na história da Humanidade. Vocês sabem que só a
epidemia de bubões, no século 6º de nossa era, chamada «peste de
Justiniano’, eliminou quase cinquenta milhões de pessoas na Europa e na
Asia... Pois esse número expressivo constitui bagatela, comparado com os
milhões de almas que as angústias do sexo dilaceram todos os dias.
Problema premente este, que já ensandeceu muitos cérebros de escol, não
podemos atacá-lo a tiros de verbalismo, de fora para dentro, à moda dos
médicos superficiais, que prescrevem longos conselhos aos pacientes,
tendo, na maioria das vezes, absoluto desconhecimento da enfermidade.
«Agora, que nos distanciamos das imposições mais rijas da forma, sem
nos libertarmos, contudo, dos ascendentes fundamentais de suas leis, que
ainda nos subordinam as manifestações, compreendemos que os enigmas
do sexo não se reduzem a meros fatores fisiológicos. Não resultam de auto-
matismos nos campos de estrutura celular, quais aqueles que caracterizam
os órgãos genitais masculinos e femininos, em verdade substancialmente
idênticos, diferençando-se unicamente na expressão de sinalética. A este
respeito formulamos conceitos mais avançados. Se aí residem forças
procriadoras dominantes, atendendo aos estatutos da natureza terrestre,
reguladores da vida física, temos, na inquietação sexual, fenômeno peculiar
ao nosso psiquismo, em marcha para superiores zonas da evoltição.
(Doloroso é, porém, verificar a desarmonia em que se afundam os
homens, com sombrios reflexos nas esferas imediatas à luta carnal.
Inúmeros movimentos libertadores estalaram através dos séculos, no anseio
da vida melhor. Guerras sangrentas de povo contra povo, revoluções civis
espalhando padecimentos inomináveis, têm sido alimentadas na Terra, no
curso do tempo, em nome de princípios regeneradores, segundo os quais se
abrem novas conquistas do direito do mundo; no entanto, o cativeiro da
ignorância, no campo sexual, continua escravizando milhões de criaturas.
“Inútil é supor que a morte física ofereça solução pacífica aos espíritos
em extremo desequilíbrio, que entregam o corpo aos desregramentos
passionais. A loucura, em que se debatem, não procede de simples
modificações do cérebro: dimana da desassociação dos centros -
perispiríticos, o que exige longos períodos de reparação.
“Indiscutívelmente, para a maioria dos encarnados, a fase juvenil das
forças fisiológicas representa delicado estádio de sensações, em virtude das
leis criadoras e conservadoras que regem a família humana; Isto, porém, é
acidente e não define a realidade substancial. A sede do sexo não se acha
no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização.
(Na Esfera da Crosta, distinguem-se homens e mulheres segundo sinais
orgânicos, específicos. Entre nós, prepondera ainda o jogo das recordações
da existência terrena, em trânsito, como nos achamos, para as regiões mais
altas; nestas sabemos, porém, que feminilidade e masculinidade constituem
característicos das almas acentuadamente passivas ou francamente ativas.
Compreendemos, destarte, que na variação de nossas experiências
adquirimos, gradativamente, qualidades divinas, como sejam a energia e a
ternura, a fortaleza e a humildade, o poder e a delicadeza, a inteligência e o
sentimento, a iniciativa e a intuição, a sabedoria e o amor, até lograrmos o
supremo equilíbrio em Deus.
Convictos desta realidade universal, não devemos esquecer que
nenhuma exteriorização do instinto sexual na Terra, qualquer que seja a sua
forma de expressão, será destruída, senão transmudada no estado de
sublimação. As manifestações dos próprios irracionais participam do mesmo
impulso ascensional. Nos povos primitivos, a eclosão sexual primava pela
posse absoluta.
A personalidade integralmente ativa do homem dominava a
personalidade totalmente passiva da mulher.
O trabalho paciente dos milênios transformou, todavia, essas relações.
A mulher-mãe e o homem-pai deram acesso a novos sopros de renovação
do espírito. Com bases nas experiências sexuais, a tribo converteu-se na
família, a taba metamorfoseou-se no lar, a defesa armada cedeu ao direito,
a floresta selvagem transformou-se na lavoura pacífica, a heterogeneidade
dos impulsos nas imensas extensões de território abriu campo à comunhão
dos ideais na pátria progressista, a barbárie ergueu-se em civilização, os
processos rudes da atração transubstanciaram-se nos anseios artísticos que
dignificam o ser, o grito elevou-se ao cântico: e, estimulada pela força
criadora do sexo, a coletividade humana avança, vagarosamente embora,
para o supremo alvo do divino amor. Da espontânea manifestação brutal
dos sentidos menos elevados a alma transita para gloriosa iniciação.
“Desejo, posse, simpatia, carinho, devotamento, renúncia, sacrifício,
constituem aspectos dessa jornada sublimadora. Por vezes, a criatura
demora-se anos, séculos, existências diversas de uma estação a outra.
Raras individualidades conseguem manter-se no posto da simpatia, com o
equilíbrio indispensável. Muito poucas atravessam a província da posse sem
duelos cruéis com os monstros do egoísmo e do ciúme, aos quais se
entregam desvairadamente. Reduzido número percorre os departamentos
do carinho sem se algemarem, por largo trecho, aos gnomos do
exclusivismo. E, às vezes, só após milênios de provas cruciantes e purifica-
doras, consegue a alma alcançar o zênite luminoso do sacrifício para a
suprema libertação, no rumo de novos ciclos de unificação com a Divindade
“O êxtase do santo foi, um dia, mero impulso, como o diamante
lapidado — gota celeste eleita para refletir a. claridade divina — viveu na
aluvião, ignorado entre seixos brutos. Claro está que, assim como se
submete o diamante ao disco do lapidário, para atingir o pedestal da beleza,
assim também o Instinto sexual, para coroar-se com as glórias do êxtase, há
que dobrar-se aos imperativos da responsabilidade, às exigências da
disciplina, aos ditames da renúncia.
(Estas conclusões, contudo, não nos devem induzir a programas de
santificação compulsória no mundo carnal. Nenhum homem conseguiria
negar a fase da evolução em que se encontra. Não podemos exigir que o
hotentote inculto envergue a beca de um catedrático e se ponha, de um dia
para outro, a ensinar o Direito Romano. Irrisório seria, pois, reclamar do
homem de evolução mediana a conduta do santo. A Natureza,
representação da Inesgotável Bondade, é mãe benigna que oferece trabalho
e socorro a todos os filhos da Criação. Sua determinação de amparar-nos é
sempre tanto mais forte, quanto mais decidido é o nosso propósito de
progredir na direção do Bem Supremo.
“Não desejamos, portanto, preconizar no mim-do normas rigoristas de
virtude artificial, nem favorecer qualquer regime de relações inconscientes.
Nossa bandeira é. sobretudo, a do entendimento fraternal. Trabalhemos
para que a luz da compreensão se faça entre os nossos amigos encarnados,
a fim de que as angústias afetivas não arrojem tantas vítimas à voragem da
morte, intoxicadas de criminosas paixões.
Devidos à incompreensão sexual, incontáveis crimes campeiam na
Terra, determinando estranhos e perigosos processos de loucura, em toda
parte.
«De quando em quando, uma que outra vítima procura os hospitais de
alienados, submete-se ao tratamento médico, como o operário que traz
àoficina de consertos seu instrumento danificado; nos hospícios
encontramos, porém, tão somente aqueles que desgalgaram até ao fundo
do abismo, amargurados e vencidos. Milhões de irmãos nossos se
conservam semiloucos nos lares ou nas instituições; são os companheiros
incapazes do devotamento e da renúncia, a submergirem, pouco a pouco,
no caliginoso tijuco das alucinações... De mente desvairada, fixa no socavão
da subconsciência, perdem-se no campo dos automatismos inferiores,
obstinando-se no conservarem deprimentes estados psíquicos. O ciúme, a
insatisfação, o desentendimento, a incontinência e a leviandade alastram
terríveis fenômenos de desequilíbrio.
“Inquietantes quadros mentais se pintam na Terra, compelindo-nos a
estafante serviço socorrista, de modo a limitar o círculo de infortúnio e de
pavor dos que se lançam, incautos, a temerárias aventuras do sentimento
animalizado.
“Não solucionaremos tão complexo problema do mundo simplesmente
à força de intervenção médica, embora seja admirável a contribuição da
Ciência no terreno dos efeitos, sem atingir, contudo, a intimidade das
causas. A personalidade não é obra da usina interna das glândulas, mau
produto da qulmica mental.
“A endocrinologia poderá fazer muito com uma Injeção de hormônios, à
guina de pronto-socorro às coletividades celulares, mas não sanará lesões
do pensamento. A genética, mais hoje, mais amanhã, poderá interferir nas
câmaras secretas da vida humana, perturbando a harmonia dos
cromossomos, no sentido de impor o sexo ao embrião; todavia, não atingirá
a zona mais alta da mente feminina ou masculina, que manterá
característicos próprios, independentemente da forma exterior ou das con-
venções estatuídas. A medicina inventará mil modos de auxiliar o corpo
atingido em seu equilíbrio interno; por essa tarefa edificante, ela nos mere-
cerá sempre sincera admiração e fervente amor; entretanto, compete a nós
outros praticar a medicina da alma, que ampare o espírito enleado nas
sombras...
“É mister acender, em derredor de nossos irmãos encarnados na Terra,
a luz da compaixão fraterna, traçando caminhos definidos à respon-
sabilidade individual. Haja mais amor ante os vales da demência do instinto,
e as derrocadas cederão lugar a experiências santificantes.
“Como fazer valer o abençoado serviço do médico à vítima da angústia
sexual, se tem a defrontá-lo, vibrante, a hostilídade da família? como salvar
doentes da alma, numa instituição de benemerência, se o organismo social
esmaga os enfermos com todo o peso de sua opinião e de sua autoridade?
Naturalmente, constituiria pieguice rogar àsociologia a transformação
imediata de seus códigos, ou impor à sociedade humana certas normas de
tolerância, incompatíveis com as suas necessidades de defesa. Mas
podemos manter louvável serviço de compreensão mais ampla, melhorar as
disposiçoes dos nossos amigos encarnados na Crosta do Mundo e despertá-
Los lentamente para a solução que nos interessa a todos.
“O amor espiritualizado, filho da renúncia cristã, é a chave capaz de
abrir as portas do abismo para onde rolaram e rolam milhares de criaturas,
todos os dias.
“Distribuamos a bênção do entendimento entre os homens; estendamos
mão forte a todos os espíritos que se encontram prisioneiros do distúrbio
das sensações, fazendo-lhes sentir que as oficinas do trabalho renovador
permanecem abertas a todos os filhos de Deus, aperfeiçoando-lhes os
sentimentos, sublimando-lhes os impulsos, dilatando-lhes a capacidade
espiritual.
Lembremos aos corações desalentados que tal é o sexo em face do
amor, quais são os olhos para a visão, e o cérebro para o pensamento: não
mais do que aparelhamento de exteriorização. Erro lamentáveL é supor que
só a perfeita normalidade sexual, consoante as respeitáveis convenções hu-
manas, possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do amor
é infinito em sua essência e manifestação. Insta fugir às aberrações e aos
excessos; contudo, é imperioso reconhecer que todos os seres nasceram no
Universo para amar e serem amados. Por vezes, vigoram para muitos deles,
temporàriamente, os imperativos da prova benéfica, os deveres do estatuto
expiatório. as exigências do serviço especializado, em que estudantes,
devedores e missionários se obrigam a longas fases de fome e sede do
coração. Isso, porém, não representa obstáculo ao amor. Jesus não partilhou
o matrimônio normal na Terra, e, no entanto, a família de seu coração
cresce com os dias; suas forças não geraram formas passageiras nos
círculos carnais, e, contudo, suas energias fecundantes renovaram a
civilização, transformando-lhe o curso, prosseguindo, até hoje, no apri-
moramento do mundo. Simbologia sublime transparece da conduta do
Mestre que, desse modo, se inclinou para os vencidos da convenção
humana, solitários e humilhados, fazendo-lhes ver que épossível cooperar
na extensão do Infinito Bem, amando e abnegando-se, com exclusão do
egoísmo e do propósito inferior de serem amados, segundo os caprichos
próprios.
(A construção da felicidade real não depende do instinto satisfeito. A
permuta de células sexuais entre os seres encarnados, garantindo a
continuidade das formas físicas em processo evolucionário, é apenas um
aspecto das multiformes permutas de amor. Importa reconhecer que o
intercâmbio de forças simpáticas, de fluidos combinados, de vibrações
sintonizadas entre almas que se amam, paira acima de qualquer
exteriorização tangível de afeto, sustentando obras imperecíveis de vida e
de luz, nas ilimitadas esferas do Universo.
(Desenvolvamos, pois, carinhosa assistência aos que desesperam no
mundo, sentindo-se na transitória condição de deserdados. Ensinemo-los a
libertar a mente das malhas do instinto, abrindo-lhes caminho aos ideais do
amor santificante, recordando-lhes que fixar o pensamento no sexo
torturado, com desprezo dos demais departamentos da realização
espiritual, através do cosmo orgânico, é estacionar, inutilmente, no trilho
evolutivo; é entregar-se, inerme, à influência de perigosos monstros da
imaginação, quais o despeito e a inveja, o desespero e a amargura, que
abrem ruinosas chagas na alma e que cominam ao exclusivismo, pena que
pode avultar até à loucura e à inconsciência. Convidemo-los a rasgar
horizontes mais longes no coração. O amor encontrará sempre mundos
novos. E para que tais descobertas se coroem de luz divina, bastará à
criatura o abandono da ociosidade, que por si mesma combaterá a nefanda
ignorância. Dentro de cada um de nós esplende, sem desmaio, a claridade
libertadora, no pensamento de renovação para o bem comum que devemos
cultivar e intensificar em cada dia da vida.
(O cativeiro nos tormentos do sexo não é problema que possa ser
solucionado por literatos ou médicos a agir no campo exterior: é questão da
alma, que demanda processo individual de cura, e sobre esta só o espírito
resolverá no tribunal da própria consciência. É inegável que todo auxílio
externo é valioso e respeitável, mas cumpre-nos reconhecer que os
escravos das perturbações do campo sensorial só por si mesmos serão
liberados, isto é, pela dilatação do entendimento, pela compreensão dos
sofrimentos alheios e das dificuldades próprias, pela aplicação, enfim, do
(ama-vos uns aos outros», assim na doutrinação, como no imo da alma, com
as melhores energias do cérebro e com os melhores sentimentos do
coração.
Notei que a preleção terminara em meio ao respeito geral.
A palavra do mensageiro fascinara-me. Aquelas noções de sexologia
eram novas para mim. Não eram repetições de compêndios descritivos, não
eram fruto de frias observações de cientistas e escritores, preocupados em
armar ao efeito com palavras balofas. Nasciam do verbo inflamado de amor
fraternal de um orientador dedicado às necessidades de seus irmãos ainda
frágeis e menos felizes.
Fizera-se, em torno, certa movimentação. Compreendi que os presentes
poderiam formular perguntas relativas ao tema da noite, e, com efeito,
fizeram-se várias indagações, com respostas preciosas, por elucidativas e
edificantes.
O inquérito educativo continuava proveitoso, quando um companheiro
ventilou certa questão que me aguçou a curiosidade.
— Venerável instrutor — disse, reverente nos últimos tempos, na Terra,
os psicologistas encarnados, em número considerável, esposaram os
princípios freudianos como bases de investigação dos distúrbios da alma.
Para o grande médico austríaco, quase todas as perturbações psíquicas se
radicam no sexo desviado. Alguns discípulos dele, porém, modificaram-lhe
algo as teorias. Corrigindo a tese das alucinações eróticas que a psicanálise
aplicou largamente às próprias crianças, no estudo dos sonhos e das
emoções, pensadores eminentes apuseram a afirmativa de que todo
homem e toda mulher são portadores do desejo inato de se darem
importância, o qual os compele a manter hnpulsos primitivistas de
dominação; outros expoentes da cultura intelectual asseveram, a seu turno,
que o ser humano é repositório de todas as experiências da raça, trazendo
consigo vasto arsenal de tendências para determinadas linhas do
pensamento.
O consulente fêz uma pausa, ante o silêncio geral que reinava em
derredor de sua valiosa indagação, e prosseguiu:
— Sabemos hoje, distanciados do corpo denso de carne, que a vida do
espírito é desconcertante em surpresas para a ciência terrestre; entretanto,
já que nos consagramos à tarefa de auxiliar os companheiros torturados da
Crosta Planetária. não poderíamos receber elucidações adequadas a
respeito, com o fim de passá-las adiante?
O sábio instrutor não se fez rogado e esclareceu:
— Já sei o que deseja. Refere-se você aos movimentos da psicologia
analítica, chefiados por Freud e por duas correntes distintas de seus cola-
boradores. O notável cientista centralizou o ensino no impulso sexual,
conferindo-lhe caráter absoluto, enquanto as duas correntes de
psicologistas, micialmente filiadas a ele, se diferenciaram na interpretação.
A primeira estuda o anseio congênito da criatura, no que se refere ao relevo
pessoal, enquanto a segunda proclama que, além da satisfação do sexo e
da importância individualista, existe o impulso da vida superior que tortura
o homem terrestre mais aparentemente feliz. Para o círculo de estudiosos
essencialmente freudianos, todos os problemas psíquicos da personalidade
se resumem à angústia sexual; para grande parte de seus colaboradores, as
causas se estendem à aquisição de poder e à ideia de superioridade.
Diremos, por nossa vez, que as três escolas se identificam, portadoras todas
elas de certa dose de razão, faltando-lhes, todavia, o conhecimento básico
do reencarnacionismo. Representam belas e preciosas casas dos princípios
científicos, sem, contudo, o telhado da lógica. Não podemos afirmar que
tudo, nos círculos carnais, constitua sexo, desejo de importância e aspiração
superior; no entanto, chegados à compreensão de agora, podemos
assegurar que tudo, na vida, é impulso criador. Todos os seres que
conhecemos, do verme ao anjo, são herdeiros da Divindade que nos confere
a existência, e todos somos depositários de faculdades criadoras. O vegetal,
instigado pelo heliotropismo, surge na. paisagem, distribuindo a vida e
renovando-a. O pirilampo cintila na sombra, buscando perpetuar-se. O
batráquio sente vibrações de amor e de paternidade nos recessos do
charco. Aves minúsculas viajam longas distâncias, colhendo material para
tecer um ninho. A fera olvida a índole selvagínea, ao lamber, com ternura,
um filho recém-nato. E mais da metade dos milhões de espíritos encarnados
na Crosta da Terra, de mente fixa na região dos movimentos instintivos,
concentram suas faculdades no sexo, do qual se derivam naturalmente os
mais vastos e frequentes distúrbios nervosos; constituem eles compactas
legiões, nas adjacências da paisagem primitiva da evolução planetária,
irmãos nossos na infância do conhecimento, que ainda não sabem criar
sensações e vida senão mobilizando os recursos da força sexual. Grande
parte de criaturas, contudo, havendo conquistado a razão, acima do
instinto, permanecem nos desatinos da prepotência, seduzidas pelo
capricho autoritário, famintas de evidência e realce, ainda que atidas a tra-
balho proveitoso e a paixões nobres, muitas vezes... Pequeno grupo de
homens e de mulheres, por fim, após atingir o equilíbrio sexual na zona
instintiva do ser e depois de obter os títulos que lhes confere seu trabalho e
com os quais dominam na vida, regendo as energias próprias, em pleno
regime de responsabilidade individual, passam a fixar-se na região sublime,
na superconsciência, não mais encontrando a alegria integral no con-
tentamento do corpo físico ou na evidência pessoal; procuram alcançar os
círculos mais altos da vida, absorvidos em idealismo superior; sentem-se no
limiar de esferas divinas, já desde a estrada nevoenta da carne, à maneira
do viajor que, após vencer caminhos ásperos na treva noturna, estaca,
desajustado, entre as derradeiras sombras da noite e as promessas
indefiníveis da aurora... Para esses, o sexo, a importância individual e as
vantagens do imnediatismo terrestre são sagrados pelas oportunidades que
oferecem aos propósitos de bem fazer; entretanto, no santuário de suas
almas resplandece nova luz... A razão particularista converteu-se em
entendimento universal. Cresceram-lhes os sentimentos sublimados na
direção do campo superior. Pressentem a Divindade e anseiam pela
identificação com ela. São os homens e as mulheres que, havendo realizado
os mais altos padrões humanos, se candidatam à angelitude...
De um modo ou de outro, porém, tudo isto são sempre as faculdades
criadoras, herdadas de Deus, em jogo permanente nos quadros da vida.
Todo ser é impulsionado a criar, na organização, conservação e extensão do
Universo!... »
O Instrutor estampou significativa expressão fisionômica, imprimiu
longa pausa à preleção em curso e, em seguida, acrescentou, bem
humorado:
— Muita vez, as criaturas instituem o mal, desviam a corrente natural
das circunstâncias benéficas, envenenam as oportunidades, estacionando
longulssimo tempo em tarefas reparadoras ou expiatórias; entretanto, ainda
aí é forçoso observar a manifestação incessante do poder criador que nos é
próprio, mesmo naqueles que se transviam... Em verdade, caem nos
despenhadeiros do crime, lançam-se aos vales da sombra, mas,
organizando e reorganizando as próprias ações, adquirem o patrimônio
bendito da experiência; e, com a experiência, alcançam a luz, a paz, a
sabedoria e o amor com que se aproximam de Deus. Concluímos, deste
modo, que, se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores
avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo,
em parte, certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe, no entanto, a
chave da reencarnação, para solucionar integralmente as questões da alma.
Impossível é resolver o assunto em caráter definitivo, sem as noções de
evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade. Não
vale descobrir complexos e frustrações, identificar lesões psíquicas e
deficiências mentais, sem as remediar... Em suma, não satisfaz o simples
exame da casca: é essencial atingir o cerne e determinar modificações nas
causas. Para isto, é imprescindível confessar a realidade do reencarna-
cionismo e da imortalidade. Até lá, portanto, auxiliemos nossos amigos do
mundo na conquista da confiança em si mesmos, na. penetração da espe-
rança divina e no contínuo auto-aprimoramento pelo trabalho redentor.
Calou-se o emissário, sorridente.
Outras perguntas surgiram, interessantes e oportunas, obtendo
respostas claras e edificantes, com real proveito para todos os ouvintes.

Encerrada a reunião, retirei-me em silêncio, ao lado de Calderaro, que


também se recolhia, como a reter a luz reveladora dos conceitos ouvi-dos.
Não sei o que pensaria o prestimoso Assistente, submerso em funda
meditação. Reconhecia tão só que, por minha vez, descobrira novo campo
de conhecimento na província da sexologia. Daquele momento em diante,
outras noções de amor desabrochavam-me na consciência, iluminando-me o
ser.

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PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

A SEXUALIDADE NORMAL E TRANSTORNOS SEXUAIS

O comportamento sexual humano é diversificado e determinado por uma


combinação de vários fatores tais como os relacionamentos do indivíduo
com os outros, pelas próprias circunstâncias de vida e pela cultura na qual
ele vive. Por isso é muito difícil conceituar o que é "normal" em termos da
sexualidade. O que se pode afirmar em relação a isso é que a normalidade
sexual está relacionada ao fato da sexualidade ser compartilhada de forma
que o casal esteja de acordo com o que é feito, sem caráter destrutivo para
o indivíduo ou para o parceiro e não afronta regras comuns da sociedade
em que se vive. A anormalidade pode ser definida quando há uma fixação
em determinada forma de sexualidade ou em determinada pessoa, ou ainda
quando a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer.

A anormalidade pode ser definida quando:

- há uma fixação em determinada forma de sexualidade;


- a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer, como, por
exemplo, no voyeurismo em que só consegue obter prazer ao masturbar-se,
observando pessoas sem o consentimento delas;
- a pessoa não consegue ter relacionamento sexual com outras pessoas.

O que deve ser lembrado é que a sexualidade humana envolve, além do ato
sexual em si, outras atividades, como fantasias, pensamentos eróticos,
carícias e masturbação. As fantasias sexuais são pensamentos
representativos dos desejos sexuais mais ardentes de uma pessoa e tem a
função de complementar e estimular a sexualidade, tanto da realização do
ato sexual com um parceiro quanto da estimulação auto-erótica
(masturbação).
A masturbação também é componente normal da sexualidade, e consiste no
toque de si mesmo, em áreas que dão prazer ao indivíduo (áreas erógenas),
que incluem os genitais e/ou outras partes do corpo, com a finalidade de
obter prazer. No ser humano, as sensações sexuais despertadas, seja por
fantasias, por masturbação ou pelo ato sexual em si, ocorrem numa
sucessão de fases que estão interligadas entre si, que são chamadas de as
Fases da resposta sexual humana. São elas:

- Desejo: Consiste numa fase em que fantasias, pensamentos eróticos, ou


visualização da pessoa desejada despertam vontade de ter atividade
sexual.
- Excitação: Fase de preparação para o ato sexual, desencadeada pelo
desejo. Junto com sensações de prazer, surgem alterações corporais que
são representadas basicamente no homem pela ereção (endurecimento do
pênis) e na mulher pela lubrificação vaginal (sensação de estar intimamente
molhada).
- Orgasmo: É o clímax de prazer sexual, sensação de prazer máximo, que
ocorre após uma fase de crescente excitação. No homem, junto com o
prazer, ocorre a sensação de não conseguir mais segurar a ejaculação, e
então ela ocorre; e na mulher, ocorrem contrações da musculatura genital.
- Resolução: Consiste na sensação de relaxamento muscular e bem-estar
geral que ocorre após o orgasmo que, para os homens em geral, associa-se
ao seu período refratário (intervalo mínimo entre a obtenção de ereções).
Na mulher, este período refratário não existe: ela pode, logo após o ato
sexual ter novamente desejo, excitação e novo orgasmo, não necessitando
esperar um tempo para que isso ocorra novamente.

DISFUNÇÕES OU TRANSTORNOS SEXUAIS: Disfunções ou transtornos


sexuais são problemas que ocorrem em alguma das fases da resposta
sexual humana.

Disfunções Sexuais Femininas: Na mulher, as disfunções sexuais mais


comuns são: as inibições do desejo sexual, a anorgasmia, o vaginismo e a
dispareunia. As inibições do desejo sexual ou transtorno do desejo sexual
hipoativo, constituem a falta ou diminuição da motivação para a busca de
sexo, ou seja, a pessoa não tem vontade de manter relações sexuais. Isso
ocorre mais comumente devido a:

- problemas no casamento (brigas, desentendimentos quanto ao que cada


um espera do relacionamento) falta de intimidade
- dificuldades de comunicação entre o casal, ou ainda, devido a tabus sobre
a própria sexualidade, como, por exemplo, associações de sexo com
pecado, com desobediência ou com punições
- Inibições decorrentes de traumas sexuais (abuso sexual, estupro) doenças,
a problemas hormonais e ao uso de certas drogas e remédios.

O diagnóstico pode ser feito por médico clínico, ginecologista, psiquiatra ou


psicólogo, através das queixas apresentadas pela paciente; dependendo
das queixas, pode ser necessária a realização de exames, para se descobrir
a origem da falta de desejo.
O tratamento se faz de acordo com a causa. Quando houver problemas
clínicos (doenças), a paciente deve ser encaminhada para um especialista,
quando necessário (por exemplo, um endocrinologista quando houver
problemas hormonais), sendo que cada tipo de diagnóstico vai requerer um
tipo específico de tratamento. Entretanto, a maioria dos casos deve-se a
problemas psicológicos ou problemas no relacionamento do casal, e esses
deverão ser tratados por psicólogo ou psiquiatra, tentando descobrir as
causas, compreendê-las e resolvê-las.

Disfunções Sexuais Masculinas: As disfunções sexuais masculinas mais


comuns são: a disfunção erétil (impotência) e a ejaculação precoce.
A disfunção erétil conhecida como impotência, consiste na incapacidade em
obter ou manter uma ereção que permita manter uma relação sexual, ou
seja, o homem não consegue que seu pênis fique e permaneça duro e assim
consiga ter relação sexual com penetração.
As causas mais comuns são:

- doenças como diabetes, pressão alta, colesterol alto


- traumas ou acidentes envolvendo a medula espinhal ou o próprio pênis
o fumo, uso de drogas e alguns medicamentos (principalmente aqueles
usados para tratamento de problemas do coração)
- abuso de álcool
- causas psicológicas (medos ou tabus em relação à sexualidade)
O paciente poderá ser encaminhado ao urologista (especialista que trata
esses casos), onde certos exames podem ser feitos para descobrir a causa
da impotência.
O tratamento dependerá da causa. Para alguns casos de impotência
existem medicamentos ou injeções intrapenianas, que deverão ser usados
apenas com prescrição médica, pois são indicados para casos específicos.
É importante lembrar que muitas vezes fatores psicológicos podem causar
disfunção erétil. Conversar sobre esses conflitos internos com psicólogo ou
psiquiatra podem resolver o problema sem ser necessário outros tipos de
tratamento. (Fonte)
(Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da Rosa)

SEXO COMPULSIVO: Sexo Compulsivo: Verdades Sobre a Erotomania,


Ninfomania, Hipersexualidade, Desejo Sexual Hiperativo

O desejo sexual pode ser demonstrado por um modelo hipotético, em um


continuum onde o desejo, em um extremo, é praticamente nulo,
correspondendo ao Transtorno de Aversão Sexual, e no outro, o Desejo
Sexual Hiperativo, quando o desejo está em excesso.A erotomania e a
ninfomania são termos que indicam um exagero do desejo sexual por parte
de um homem e de uma mulher, respectivamente.
Tais quadros são cientificamente conhecidos como Desejo Sexual Hiperativo
(DSH) e manifestam-se principalmente por desregulação ou falta de
controle da motivação sexual.

Como se manifesta o Desejo Sexual Hiperativo? A pessoa


espontaneamente apresenta um nível elevado de desejo e de fantasias
sexuais, aumento de freqüência sexual com compulsividade ao ato, controle
inadequado dos impulsos e grande sofrimento. Preocupa-se a tal ponto com
seus pensamentos e sentimentos sexuais que acaba por prejudicar suas
atividades diárias e relacionamentos afetivos. Em geral não apresenta
disfunções sexuais (como ejaculação precoce ou impotência), funcionando
relativamente bem como um todo. Engaja-se em atividade masturbatória ou
no coito, mesmo sob risco de perder os seus relacionamentos amorosos
(busca de alta rotatividade de parceiros) ou a própria saúde (Hepatite B e C,
HIV). Quando tenta evitar e controlar o impulso para o sexo, a pessoa pode
ficar tensa, ansiosa ou depressiva. A pressão para a expressão sexual
retorna e a pessoa sente-se escrava de seus próprios desejos. A ansiedade
pré-atividade sexual, a intensa gratificação após o orgasmo e a culpa após o
ato não são raras. Pode-se observar níveis diferentes de adição ao sexo,
desde masturbação compulsiva e prostituição, a alguns comportamentos
parafílicos (perversos) como exibicionismo, voyeurismo ou mesmo pedofilia
(abuso sexual de crianças) e estupro.

Hoje em dia, com o maior acesso aos meios de comunicação como Internet,
encontramos uma nova modalidade de hipersexualidade: compulsão sexual
virtual (sexo virtual), atingindo mais de 2.000.000 de pessoas que gastam
de 15 a 25 horas em frente ao computador navegando em sites de sexo.

O que causa? O Desejo Sexual Hiperativo é uma síndrome que pode se


originar de diferentes causas. Por vezes, é visto como um problema de
adição e dependência ao sexo, similar às drogadições de cocaína, álcool ou
heroína. Pode ser encarado como um problema de comportamento mal
adaptado, onde o ato repetitivo de busca de prazer sexual foi aprendido ao
longo da vida como tranqüilizante, diminuindo sentimentos de ansiedade,
medo e solidão. Também podemos compreender esse distúrbio como uma
doença, com alterações anormais no balanço de substâncias neurais
(neurotransmissores).

Nas teorias psicanalíticas, a hipersexualidade pode ser entendida como uma


fixação nos níveis pré-edípicos do desenvolvimento sexual, na fase anal,
mais especificamente, onde as ansiedades são deslocadas para
comportamentos compulsivos. O conjunto de sintomas apresentados pelo
DSH pode, na verdade, representar transtornos diferentes, cada qual
devendo ser tratado de forma distinta, conforme sua possível causa.

E tem tratamento? Normalmente é o psiquiatra ou o terapeuta sexual que


é procurado ou indicado para esse tipo de transtorno.
As linhas de tratamento podem ser empregadas isoladas, mas tem se
recorrido muito a tipos de tratamentos combinados, como o uso de
medicação concomitantemente à psicoterapia cognitivo comportamental ou
focal.

Os grupos de apoio tem demonstrado grande utilidade como terapia


adjuvante. Algumas drogas podem ser utilizadas nos casos em que a
compulsão ao sexo é predominante, como os Inibidores da Recaptação da
Serotonina. Para aquelas pessoas que apresentam sintomas de voyeurismo
ou exibicionismo, a psicoterapia de orientação analítica é a mais indicada,
exigindo maior tempo de tratamento.
Em casos mais graves, onde a compulsão coloca outras pessoas também
em risco (como abuso sexual ou estupro), pode-se fazer uso de algumas
medicações a base de hormônios (progesterona) que inibam o desejo
sexual. Em alguns casos, a internação do paciente se faz necessária para
contenção de riscos. (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane
Diomário da Rosa) http://www.abcdasaude.com.br/

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COMPLEMENTO: Disciplina Afetiva e Sexo


http://ideal.andreluiz.vilabol.uol.com.br/disciplina_afetiva.html

Em que bases se verifica a disciplina efetiva nas sociedades


espirituais das Esferas Superiores? Enganam-se lamentavelmente
quantos possam admitir a incontinência sexual como regra de conduta nos
planos superiores da Espiritualidade. Médiuns que tenham observado as
regiões de licenciosidade, ou desencarnados que a respeito delas venham
traçar essa ou aquela notícia, reportando-se apenas a lugares naturalmente
inferiores, extremamente afins com a poligamia embrutecente, por mais
brilhantes se lhe externem as conceituações filosóficas.
Nos planos enobrecidos, realiza-se também o casamento das almas,
conjugadas no amor puro, verdadeira união esponsalícia de caráter
santificante, gerando obras admiráveis de progresso e beleza, na edificação
coletiva*, e quando semelhante enlace deva ser adiado, por circunstâncias
inamovíveis, os Espíritos de comportamento superior aceitam, na Terra, a
luta pela sublimação das forças genésicas, aplicando-as em trabalho digno,
com abstenção do comércio poligâmico, tanto mais intensamente quanto
mais ativo se lhes revele o esforço no acrisolamento próprio.
Aliás, cabe considerar que na renúncia construtiva a que se entregam, na
expectativa, às vezes longa, do amor que os integrará na complementação
desejada, encontram, no serviço aos semelhantes, preciosas oportunidades
de burilamento e progresso, acentuando em si mesmos os altos valores da
cultura e da emoção, que lhes propiciem gozos íntimos dos mais
alevantados e mais puros.
(Evolução em Dois Mundos, Parte II, Cap. X, André Luiz/Chico Xavier/Waldo
Vieira, FEB)

Para mais clara compreensão do delicado assunto que André Luiz ora
focaliza, pedimos ao leitor reler com atenção, no livro "Missionários da Luz",
recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier, as elucidações
compreendidas entre as páginas 198 e 203 e reproduzido abaixo.

"MISSIONÁRIOS DA LUZ" - O SEXO - "O sexo tem sido tão aviltado pela
maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para nós
outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao
assunto. Basta dizer que a união sexual entre a maioria dos homens e
mulheres terrestres se aproxima demasiadamente das manifestações dessa
natureza entre os irracionais. No capítulo de relações dessa espécie, há
muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas.
Desse plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-
se de um domínio de semi-brutos, onde muitas inteligências admiráveis
preferem demorar em baixas correntes evolutivas. É inegável que aí
também funcionem as tarefas de abnegados construtores espirituais, que
colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem às
entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros. Entretanto, É
preciso considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito
em massa, com características de mecanismo primitivo. O amor, nesses
planos mais baixos, é tal qual o ouro perdido em vasta quantidade de
ganga, exigindo largo esforço e laboriosas experiências para revelar-se aos
entendidos. Entre as criaturas, porém, que se encaminham, de fato, aos
montes de elevação, a união sexual é muito diferente. Traduz permuta
sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a
inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais,
mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna.

"Lembre-se, André, de que me referi a objetivos sagrados da Criação não


exclusivamente ao trabalho procriador. A procriação é um dos serviços que
podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo das
uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante
da Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma." É necessário
deslocar a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em
determinados órgãos do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo
como qualidade positiva ou passiva, emissora ou receptora da alma.
Chegados a este entendimento, verificamos que toda manifestação sexual
evolute com o ser. Enquanto nos mergulhamos no charco das vibrações
pesadas e venenosas, experimentamos, nesse domínio, simplesmente
sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do equilíbrio, colhemos
material de experiências proveitosas, oportunidades de retificação, força,
conhecimento, alegria e poder. Em nos harmonizando com as leis supremas,
encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos Superiores
colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras "união sexual"
por "união de qualidades" e observaremos que toda a vida universal se
baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai
Criador de todas as coisas e de todos os seres." Essa "união de qualidades",
entre os astros, chama-se magnetismo planetário de atração, entre as
almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por
afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da
vida universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do
aparelho físico. A paternidade ou a maternidade são tarefas sublimes; não
representam, porém, os únicos serviços divinos, no setor da Criação
infinita.O apóstolo que produz no domínio da Virtude, da Ciência ou da Arte,
vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas com a diferença de planos,
porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica em esferas
superiores. Há fecundações físicas e fecundações psíquicas. As primeiras
exigem a disposição das formas, a fim de atenderem a exigências da vida,
em caráter provisório, no campo das experiências necessárias. As segundas,
porém, prescindem do cárcere de limitações e efetuam-se nos
resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade.
Quando nos referimos ao amor do Onipresente, quando sentimos sede da
Divindade, nossos espíritos não procuram outra coisa senão a troca de
qualidade com as esferas sublimes do Universo, sequiosos do Eterno
Princípio Fecundante..." É lamentável que a maioria de nossos irmãos
encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo,
desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores... Todo ato criador está
cheio de sagradas comoções da Divindade e são essas comoções sublimes
da participação da alma, nos poderes criadores da Natureza, que os homens
conduzem, imprevidentemente, para a zona do abuso e da viciação. Tentam
arrastar a luz para as trevas e converter os atos sexuais, profundamente
veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão
deplorável como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem
que os olhos mortais lhes observem as angústias retificadoras, todos os
infelizes, em semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela
Natureza divina."

"Não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões


físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra
do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou
passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os
círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia
Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade."
(Diálogo entre o Instrutor Alexandre e André Luiz, no capítulo referente a
reencarnação de Sigismundo). (Missionários da Luz, cap. 13, André
Luiz/Chico Xavier, FEB)

PSICOLOGIA - PSIQUIATRIA

QUANDO O SEXO ADOECE: PERVERSÕES SEXUAIS OU PARAFILIAS

As parafilias, antigamente chamadas de perversões sexuais, são atitudes


sexuais diferentes daquelas permitidas pela sociedade, sendo que as
pessoas que as praticam não têm atividade sexual normal, ou seja, a sua
preferência sexual "desviada" se torna exclusiva.
Tais atitudes (exceto a pedofilia) podem estar presentes em pessoas com
vida sexual normal, apenas sendo uma variação da maneira de se obter
prazer, sem que se caracterize um transtorno. Para se tornar patológica
essa preferência deve ser de grande intensidade e exclusiva, isto é, a
pessoa não se satisfaz ou não consegue obter prazer com outras maneiras
de praticar a atividade sexual.
É importante ressaltar que ela se torna exclusiva porque exclui o normal,
mas pessoas parafílicas podem ter dois ou mais tipos de parafilias ao
mesmo tempo.
As parafilias são praticadas por uma pequena porcentagem da população,
mas como essas pessoas cometem atitudes parafílicas com muita
freqüência e repetição, tem ocorrido um grande número de vítimas delas.
Em geral, as perversões sexuais são mais comumente vistas em homens, e
o tipo de parafilia mais comum é a pedofilia.

Os tipos de parafilia são abaixo descritos:

Exibicionismo
É quando a pessoa mostra seus genitais a uma pessoa estranha, em geral
em local público, e a reação desta pessoa a quem pegou de surpresa lhe
desperta excitação e prazer sexual, mas geralmente não existe qualquer
tentativa de uma atividade sexual com o estranho. As pessoas que abaixam
as calças em sinal de protesto ou ataque a preceitos morais não são
exibicionistas, pois não fazem isso com finalidade sexual.

Fetichismo
É quando a preferência sexual da pessoa está voltada para objetos, tais
como calcinhas, sutiãs, luvas ou sapatos, sendo que a pessoa utiliza tais
objetos para se masturbar ou exige que a parceira sempre use o objeto em
questão durante o ato sexual, caso contrário não conseguirá se excitar e
realizar o ato sexual.
Fetichismo transvéstico: É caracterizado pela utilização de roupas
femininas por homens heterossexuais para se excitarem, se masturbarem
ou realizarem o ato sexual, sendo que em situações não sexuais se vestem
de forma normal. Quando passam a se vestir como mulheres a maior parte
do tempo, pode haver um transtorno de gênero, tipo transexualismo por
baixo dessa atitude. É importante ressaltar que o fetichismo transvéstico
também só é diagnosticado como uma parafilia quando é feito de forma
repetitiva e exclusiva para obter prazer sexual.

Frotteurismo
É a atitude de um homem que para obter prazer sexual, necessita tocar e
esfregar seu pênis em outra pessoa, completamente vestida, sem o
consentimento dela, excitando-se e masturbando-se nessa ocasião. Isso
ocorre mais comumente em locais onde há grande concentração de
pessoas, como metrôs, ônibus e outros meios de locomoção públicos.

Pedofilia
Envolve pensamentos e fantasias eróticas repetitivas ou atividade sexual
com crianças menores de 13 anos de idade. Está muito comumente
associado a casos de incesto, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia
envolve pessoas da mesma família (pais/padrastos com os filhos e filhas).
Em geral o ato pedofílico consiste em toques, carícias genitais e sexo oral,
sendo a penetração menos comum. Hoje em dia, com a expansão da
internet, fotos de crianças têm sido divulgadas na rede, sendo que olhar
essas fotos, de forma freqüente e repetida, com finalidade de se excitar e
masturbar-se consiste em pedofilia.

Masoquismo e Sadismo Sexual: Existe masoquismo quando a pessoa


tem necessidade de ser submetida a sofrimento, físico ou emocional, para
obter prazer sexual, e o sadismo é quando a pessoa tem necessidade em
infligir sofrimento (físico ou emocional) a um outro, e disso decorre
excitação e prazer sexual. O mais comum ao se pensar em
sadomasoquismo é associar o sofrimento a agressões físicas e torturas, mas
o sofrimento psicológico também pode ser considerado forma de
sadomasoquismo, e consiste na humilhação que se pode sentir ou impor.
Atos sadomasoquistas só serão considerados parafilias quando forem
repetitivos e exclusivos, sendo que quando eles ocorrem ocasionalmente,
dentro de um relacionamento sexual normal, são apenas formas
alternativas de prazer, e não uma perversão.

Voyeurismo
É quando alguém precisa observar pessoas que não suspeitam estarem
sendo observadas, quando elas estão se despindo, nuas ou no ato sexual,
para obter excitação e prazer sexual.

É importante ressaltar que essas condições só serão consideradas doenças


quando elas forem a única forma de sexualidade do indivíduo, e que a
tentativa dele em recorrer a outras formas de sexualidade para obter prazer
sexual geralmente serão fracassadas, o que levará a pessoa a continuar
insistindo na mesma atitude.

As parafilias decorrem de alterações psicológicas durante as fases iniciais


do crescimento e desenvolvimento da pessoa. Em geral pessoas que
apresentam tais problemas não buscam tratamento espontaneamente, o
que só acontecerá quando seu comportamento gerar conflitos com o
parceiro sexual ou com a sociedade. Sendo assim, tais pessoas aparecem
em consultórios psiquiátricos trazidas contra sua vontade ou são presas por
serem flagradas ou denunciadas.

O tratamento se constitui em tratamentos psicológicos (psicanálise,


psicoterapias) e, ou uso de algumas medicações. O tratamento dependerá
da avaliação do caso específico de cada paciente e em geral não se
consegue uma boa resposta, ou seja, é muito difícil ter melhoras nesses
casos. (Colaboradoras: Dra. Alice Sibile Koch / Dra. Dayane Diomário da
Rosa) http://www.abcdasaude.com.br/

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COMPLEMENTO: (André Luiz em "Evolução em Dois Mundos")

ENFERMIDADES DO INSTINTO SEXUAL - As cargas magnéticas do instinto,


acumuladas e desbordantes na personalidade, à falta de sólido socorro
intimo para que se canalizem na direção do bem, obliteram as faculdades,
ainda vacilantes, do discernimento e, à maneira do esfaimado, alheio ao
bom-senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se
à rebelião e à loucura em síndromes espirituais de ciúme ou despeito A
face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas
cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retardarem 0o
progresso no tempo. Dai nascem as psiconeuroses, os colapsos nervosos
decorrentes do trauma nas sinergias do corpo espiritual, as fobias
numerosas, a "histeria de conversão", a "histeria de angustia", os "desvios
da libido", a neurose obsessiva, as psicoses e as fixações mentais diversas
que originam na ciência de hoje as indagações e os conceitos da psicologia
de profundidade, na esfera da Psicanálise, que identifica as enfermidades
ou desajustes do instinto sexual sem oferecer-lhes medicação adequada,
porque apenas o conhecimento superior, gravado na própria alma, pode
opor barreiras à extensão do conflito existente, traçando caminhos novos à
energia criadora do sexo, quando em perigoso desequilíbrio.

Desse modo, por semelhantes ruturas dos sistemas psicossomáticos,


harmonizados em permutas de cargas magnéticas afins, no terreno da
sexualidade física ou exclusivamente psíquica, é que múltiplos sofrimentos
são contraídos por nós todos, no decurso dos séculos, porquanto, se
forjamos inquietações e problemas nos outros, com o instinto sexual, é justo
venhamos a soluciona-los em ocasião adequada, recebendo por filhos e
associados de destino, entre as fronteiras domesticas, todos aqueles que
constituímos credores do nosso amor e da nossa renuncia, atravessando,
muitas vezes, padecimentos inomináveis para assegurar-lhes o refazimento
preciso. Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se
no corpo espiritual, e conseqüentemente no corpo físico, por santuário
criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém
escarnecera dele, desarmonizando-lhe as forcas, sem escarnecer e
desarmonizar a si mesmo. (Evolução em Dois Mundos, XVII, André
Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)

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Estudo das Doenças Mentais
Parte VI – MEDIUNIDADE
Do livro “No Mundo Maior”
Cap. 9 - Mediunidade (Animismo)
Cap. 9
Mediunidade

Sobremodo interessado no expressivo caso de Marcelo, apresentei a


Calderaro, no dia seguinte, certas questões que fortemente me
preocupavam.
Os reflexos condicionados não se aplicariam, igualmente, a diversos
fenômenos medianimicos? não elucidavam as mistificações inconscientes
que, muita vez, perturbam os círculos dos experimentadores encarnados?
Alguns estudiosos do Espiritismo, devotados e honestos, reconhecendo
os escolhos do campo do mediunismo, criaram a hipótese do fantasma aní-
mico do próprio medianeiro, o qual agiria em lugar das entidades
desencarnadaS. Seria essa teoria adequada ao caso vertente? Sob a
evocação de certas imagens, o pensamento do médium não se tornaria
sujeito a determinadas associaçõeS, interferindo automàticamente no
intercâmbio entre os homens da Terra e os habitantes do Além? Tais
intervenções, em muitos casos, poderiam provocar desequilíbrioS intensos.
Ponderando observações ouvidas nos últimos tempos, em vários centros de
cultura espiritualista, com referência ao assunto, inquiria de mim mesmo se
o problema oferecia relações com os mesmos princípios de Pavlov.
O instrutor ouviu-me, paciente, até ao fim de minhas considerações, e
respondeu, benévolo:
- A consulta exige meditação mais acurada. A tese animista é
respeitável. Partiu de investigadores conscienciosos e sinceros, e nasceu
para coibir os prováveis abusos da imaginação; entretanto, vem sendo
usada cruelmente pela maioria dos nossos colaboradores encarnados, que
fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como
elemento educativo, na ação fraterna. Milhares de companheiros fogem ao
trabalho, amedrontados, recuam ante os percalços da iniciação mediúnica,
porque o animismo se converteu em Cérbero. Afirmações sérias e
edificantes, tornadas em opressivo sistema, impedem a passagem dos
candidatos ao serviço pela gradação natural do aprendizado e da aplicação.
Reclama-se deles precisão absoluta, olvidando-se lições elementares da
natureza. Recolhidos ao castelo teórico, inúmeros amigos nossos, em se
reunindo para o elevado serviço de intercâmbio com a nossa esfera, não
aceitam comumente os servidores, que hão-de crescer e de aperfeiçoar-se
com o tempo e com o esforço. Exigem meros aparelhos de comunicação,
como se a luz espiritual se transmitisse da mesma sorte que a luz elétrica
por uma lâmpada vulgar. Nenhuma árvore nasce produzindo, e qualquer
faculdade nobre requer burilamento. A mediunidade tem, pois sua evolução,
seu campo, sua rota. Não é possível laurear o estudante no curso superior,
sem que ele tenha tido suficiente aplicação nos cursos preparatórios,
através de alguns anos de luta, de esforço, de disciplina. Daí, André, nossa
legitima preocupação em face da tese animista, que pretende enfeixar toda
a responsabilidade do trabalho espiritual numa cabeça única, isto é, a do
instrumento mediúnico. Precisamos de apelos mais altos, que animem os
cooperadores incipientes, proporcionando-lhes mais vastos recursos de
conhecimento na estrada por eles mesmos perlustrada, a fim de que a
espiritualidade santificante penetre os fenômenos e estudos atinentes ao
espírito.
Fez pequeno intervalo que não ousei interromper, fascinado pela
elevação dos conceitos ouvidos, e continuou:
— Vamos à tua sugestão. Os reflexos condicionados enquadram-se,
efetivamente, no assunto; no entanto, cumpre-nos investigar domínio de
mais graves apreciações. Os animais de Pavlov demonstravam capacidade
mnemônica; memorizavam fatos por associações mentais espontâneas. Isto
quer dizer que mobilizavam matéria sutil, independente do corpo denso;
que jogavam com forças mentais em seu aparelhamento de impulsos
primitivos. Se as «onsciênciaS fragmentádaSi’ do experimento eram
capazes de usar essa energia, provocando a repetição de determinados
fenômenos no cosmo celular, que prodígios não realizará a mente de um
homem, cedendo, não a meros reflexos condicionados, mas a emissões de
outra mente em sintonia com a dele? Dentro de tais princípios, é imperioso
que o intermediário cresça em valor próprio. Ocorrências extraordinárias e
desconhecidas ocupam a vida em todos os recantos, mas a elevação
condiciona fervorosa procura. Ninguém receberá as bênçãos da colheita,
sem o suor da sementeira. Lamentàvelmente, porém, a maior parte de
nossos amigos parece desconhecerem tais imposições de trabalho e de
cooperação: exigem faculdades completas. O instrumento mediúnico é
automaticamente desclassificado se não tem a felicidade de exibir absoluta
harmonia com os desencarnados, no campo tríplice das forças mentais,
perispirituais e fisiológicas. Compreendes a dificuldade?
Sim, começava a entender. As elucidações, todavia, eram demasiado
fascinantes para que me abalançasse a qualquer apontamento; guardei, por
isto, a continuação das definições, na postura de humilde aprendiz.
O Assistente percebeu minha íntima atitude e continuou:
— Buscando símbolo mais singelo, figuremos o médium como sendo
uma ponte a ligar duas esferas, entre as quais se estabeleceu aparente
solução de continuidade, em virtude da diferenciação da matéria no campo
vibratório. Para ser instrumento relativamente exato, é-lhe imprescindível
haver aprendido a ceder, e nem todos os artífices da oficina mediúnica
realizam, a breve trecho, tal aquisição, que reclama devoção à felicidade do
próximo, elevada compreensão do bem coletivo, avançado espírito de
concurso fraterno e de serena superioridade nos atritos com a opinião
alheia. Para conseguir edificação dessa natureza, faz-se mister o refúgio
frequente à “moradia dos princípios superiores». A mente do servidor há-de
fixar-se nas zonas mais altas do ser, onde aprenderá o valor das concepções
sublimes, renovando-se e quintessenciando-se para constituir elemento
padrão dos que lhe seguem a trajetória, O homem, para auxiliar o presente,
é obrigado a viver no futuro da raça. A vanguarda impõe-lhe a soledade e a
incompreensão, por vezes dolorosas; todavia, essa condição representa
artigo da Lei que nos estatui adquirir para podermos dar. Ninguém pode
ensinar caminhos que não haja percorrido. Nasce daí, em se tratando da
mediunidade edificante, a necessidade de fixação das energias
instrumentais no santuário mais alto da personalidade. Fenômenos — não
lhes importa a natureza — é forçoso reconhecer que assediam a criatura em
toda parte. A ciência legítima é a conquista gradual das forças e operações
da Natureza, que se mantinham ocultas à nossa acanhada apreensão. E
como somos filhos do Deus Revelador, infinito em grandeza, éde esperar
tenhamos sempre à frente ilimitados campos de observação, cujas portas se
abrirão ao nosso desejo de conhecimento, à maneira que gradeçam nossos
títulos meritórios. Por isto, André, consideramos que a mediunidade mais
estável e mais bela começa, entre os homens, no império da intuição pura.
Moisés desempenhou sua tarefa, compelido pelas expressões fenomênicas
que o cercavam; recebe, sob incoercível comoção, os sublimes princípios do
Decálogo, sentindo defrontar-se com figuras e vozes materializadas do
plano espiritual; entretanto, ao mesmo tempo que transmite o “não
matarás”, não parece muito inclinado ao inquebrantável respeito pela vida
alheia; sua doutrina, venerável embora, baseia-se no exclusivismo e no
temor. Com Jesus, o aspecto da mediunidade é diferente. Mantém-se o
Mestre em permanente contacto com o Pai, através da própria consciência,
do próprio coração; transmite aos homens a Revelação Divina, vivendo-a
em si mesmo; não reclama justiça, nem pede compreensão imediata; ama
as criaturas e serve-as, mantendo-se unido a Deus. Em razão disto, a Boa-
Nova é mensagem de confiança e de amor universal. Vemos, pois, dois tipos
de medianeiros do próprio Céu, eminentemente diversos, mostrando qual o
padrão desejável. No mediunismo comum, portanto, o colaborador servirá
com a matéria mental que lhe é própria, sofrendo-lhe as imprecisões
naturais diante da investigação terrestre; e, após adaptar-se aos
imperativos mais nobres da renúncia pessoal, edificará, não de improviso,
mas à custa de trabalho incessante, o templo interior de serviço, no qual
reconhecerá a superioridade do programa divino acima de seus caprichos
humanos. Atingida essa realização, estará preparado para sintonizar-se com
o maior número de desencarnados e encarnados, oferecendo-lhes, como a
ponte benfeitora, oportunidade de se encontrarem uns com os outros, na
posição evolutiva em que permaneçam, através de entendimentos cons-
trutivos. Devo dizer-te que não cogitamos aqui de faculdades acidentais,
que aparecem e desaparecem entre candidatos ao serviço, sem espírito de
ordem e de disciplina, verdadeiros balões de ensaio para os vôos do porvir;
referimo-nos à mediunidade aceita pelo cooperador e mobilizável em
qualquer situação para o bem geral. Comentando atividades e tarefas,
devemos salientar os padrões que lhes digam respeito, e este é o
característico da instrumentalidade espiritual nas esferas superiores.
Logicamente, é impossível alcançá-lo de vez; toda obra impõe começo.
Como revelasse nos olhos a indomável comoção que se apossara de
mim ante os conceitos ouvidos, o Assistente modificou a inflexão da voz e
tranquilizou-me:
— Reportando-nos ainda ao Cristo, importa-nos reconhecer que o Mestre
viveu insulado no «monte divino da consciência», abrindo caminho aos
vales humanos. Claro está que nenhum de nós abriga a pretensão de copiar
Jesus; contudo, precisamos inspirar-nos em suas lições. Há milhões de seres
humanos, encarnados e desencarnados, de mente fixa na região menos
elevada dos impulsos inferiores, absorvidos pelas paixões instintivas, pelos
remanescentes do pretérito envilecido, presos aos reflexos condicionados
das comoções perturbadoras a que, inermes, se entregaram; outros tantos
mantêm-se, jungidos à carne e fora dela, na atividade desordenada, em
manifestações afetivas sem rumo, no apego desvairado à forma que passou
ou à situação que não mais se justifica; outros, ainda, param na posição
beata do misticismo religioso exclusivo, sem realizações pessoais no setor
da experiência e do mérito, que os integre no quadro da lídima elevação.
Subtraído o corpo físico, a situação prossegue quase sempre inalterada,
para o organismo perispirítico, fruto do trabalho paciente e da longa
evolução. Esse organismo, constituído, embora, de elementos mais plásticos
e sutis, ainda é edifício material de retenção da consciência. Muita gente, no
plano da Crosta Planetária, conjetura que o Céu nos revista de túnica
angelical, logo que baixado o corpo ao sepulcro. Isto, porém, 6 grave erro
no terreno da expectativa. Naturalmente, não nos referimos, nestas
considerações, a espíritos da estofa de um Francisco de Assis, nem a
criaturas extremamente perversas, uns e outros não cabíveis em nosso
quadro: o zênite e o nadir da evolução terrestre não entram em nossas
cogitações; falamos de pessoas vulgares, quais nós mesmos, que nos
vamos em jornada progressiva, mais ou menos normal, para concluir que,
tal o estado mental que alimentamos, tais as inteligências, desencarnadas
ou encarnadas, que atraímos, e das quais nos fazemos instrumentos
naturais, embora de modo indireto. E a realidade, meu amigo, é que todos
nós, que nos contamos por centenas de milhões, não prescindimos de
medianeiros iluminados, aptos a colocar-nos em comunicação com as fontes
do Suprimento Superior. Necessitamos do auxílio de mais alto, requeremos
o concurso dos benfeitores que demoram acima de nossas paragens. Para
isto, há que organizar recursos de receptividade. Nossa mente sofre sede de
luz, como o organismo terreno tem fome de pão. Amor e sabedoria são
substâncias divinas que nos mantêm a vitalidade.
O instrutor fez breve interrupção e acres-centou:
— Compreendes agora a importância da mediunidade, isto é, da
elevação de nossas qualidades receptivas para alcançarem a necessária
sintonia com os mananciais da vida superior?
Sim, respondi, entendera-lhe as observações, ponderando-lhes a
magnitude.
— Não é serviço que possamos organizar da periferia para o centro —
prosseguiu Calderaro
— e sim do interior para o exterior. O homem encarnado, quase sempre
empolgado pelo sono da ilusão, poderá começar pelo fenômeno; à maneira,
porém, que desperte as energias mais profundas da consciência, sentirá a
necessidade do reajustamento e regressará à causa de modo a aperfeiçoar
os efeitos. Obra de construção, de tempo, de paciência...
Chegados a essa altura da conversação, o orientador convidou-me ao
serviço de assistência a dedicada senhora, médium em processo de for-
mação, que lhe vinha recebendo socorro para prosseguir na tarefa, com a
fortaleza e serenidade indispensáveis.
Propiciando-me o feliz ensejo, meu gentil interlocutor concluiu:
— O caso é oportuno. Observarás comigo os obstáculos criados pela
tese animista.
Marcava o relógio precisamente vinte horas, quando penetramos
confortável recinto. Várias entidades de nosso plano ali se moviam, ao lado
de onze companheiros reunidos em sessão íntima, consagrada ao serviço da
oração e do desenvolvimento psíquico. Logo à entrada, recebeu-nos
atencioso colega, a quem fui apresentado com sincera satisfação.
Recebi dele, de início, informações condensadas que anotei, contente.
Fora igualmente médico. Deixara a experiência física antes de concretizar
velhos planos de assistência fraternal aos seus inumeráveis doentes pobres.
Guardava o júbilo de uma consciência tranquila, zelara o bem geral quanto
lhe fora possível; contudo, entrevendo a probabilidade de algo fazer além-
túmulo, recebera permissão para cooperar naquele reduzido grupo de ami-
gos, com o objetivo de efetuar certo plano de socorro aos enfermos
desamparados. O intercâmbio com os desencarnados não poderia
transformar os homens em anjos de um dia para outro, mas poderia ajudá-
los a ser criaturas melhores. Impossível seria instalar o paraíso na Crosta do
mundo em algumas semanas; entretanto, era lícito cooperar no
aprimoramento da sociedade terrestre, incentivando-se a prática do bem e
a devoção à fraternidade. Para esse fim, ali permanecia, interessado em
contribuir na proteção aos doentes menos aquinhoados.
Acompanhando-lhe os argumentos com admiração, mantive-me
silencioso, mas Calderaro indagou, cortês, após inteirar-se das ocorrências:
— E como vai no desenvolvimento de seus elevados propósitos?
— Dificilmente — informou o interpelado —, os recursos de comunicação
ao meu alcance ainda não são de molde a inspirar confiança à maioria dos
companheiros encarnados. A bem dizer, não me interessa comparecer aqui,
de nome aureolado por terminologia clássica, e nem me abalançaria a
oferecer teses novas, concorrendo com o mundo médico. Guia-me, agora,
tão somente o sadio desejo de praticar o bem. Entretanto...
— Ainda não lhe ouviram os apelos, por intermédio de Eulália? —
perguntou o meu instrutor.
— Não; por enquanto, não. Sempre a mesma suspeita de animismo, de
mistificação Inconsciente...
Ia a palestra a meio, quando o diretor espiritual da casa convidou o
colega a experimentar. Chegara o minuto aprazado. Poderia acercar-se da
médium.
Aproximamo-nos do grupo de amigos, imersos em profunda
concentração.
Enquanto o novo conhecido se abeirava de uma senhora de porte
distinto, certamente ensaiando a transmissão da mensagem que desejava
passar à esfera carnal, Calderaro observou-me:
— Repara o conjunto. Já fiz meus apontamentos. Com exceção de três
pessoas, os demais, em número de oito, guardam atitude favorável. Todos
esses se encontram na posição de médiuns, pela passividade que
demonstram. Analisa a irmã Eulália e reconhecerás que o estado receptivo
mais adiantado lhe pertence; dos oito cooperadores prováveis, é a que mais
se aproxima do tipo necessário. No entanto, o nosso amigo médico não
encontra em sua organização psicofísica elementos afins perfeitos: nossa
colaboradora não se liga a ele através de todos os seus centros
perispirituais; não é capaz de elevar-se à mesma frequência de vibração em
que se acha o comunicante; não possui suficiente espaço interior” para
comungar-lhe as idéias e conhecimentos; não lhe absorve o entusiasmo
total pela Ciência, por ainda não trazer de outras existências, nem haver
construído, na experiência atual, as necessárias teclas evolucionárias, que
só o trabalho sentido e vivido lhe pode conferir. Eulália manifesta, contudo,
um grande poder — o da boa vontade criadora, sem o qual é impossível o
inicio da ascensão às zonas mais altas da vida. É a porta mais importante,
pela qual se entenderá com o médico desencarnado. Este, a seu turno, para
realizar o nobre desejo que o anima, vê-se compelido, em face das
circunstâncias, a pôr de lado a nomenclatura oficial, a técnica científica, o
patrimônio de palavras que lhe é peculiar, as definições novas, a ficha de
renome, que lhe coroa a memória nos círculos dos conhecidos e dos clien-
tes. Poderá identificar-se com Eulália para a mensagem precisa, usando
também, a seu turno, a boa vontade; e, adotando esta forma de
comunicação, valer-se-á, acima de tudo, da comunhão mental, reduzindo ao
mínimo a influência sobre os centros neuropsíquicos; é que, em matéria de
mediunismo, há tipos idênticos de faculdades, mas enormes desigualdade
nos graus de capacidade receptiva, os quais variam infinitamente, como as
pessoas.
O instrutor silenciou por momentos e prosseguiu:
— Não nos esqueça que formamos agora uma equipe de trabalhadores
em ação experimental. Nem o provável comunicante chegou a concretizar
as bases de seu projeto, nem a médium conseguiu ainda suficiente clareza
e permeabilidade para cooperar com ele. Num terreno de atividades
definidas, neste particular, poderíamos agir à vontade; aqui, não: nosso
procedimento deve ser de neutralidade mental, não de interferência.
Compreendendo, pois, que todos os recursos cumpre serem aproveitados
no êxito da louvável edificação, nenhum de nós intervirá, perturbando ou
consumindo tempo. é-nos facultado permutar ideias, analisar a ocorrência,
mas com absoluta Isenção de ânimo. O momento pertence ao comunicante,
que não dispõe de aparelhamento mais perfeito para a transmissão.
Nesse instante, indicou-me o colega que, de pé, junto de Eulália,
mantinha a mente iluminada e vibrante num admirável esforço por derruir a
natural muralha, entre a nossa esfera e o campo de matéria densa.
— Anota as particularidades do serviço — disse-me Calderaro, com
significativa inflexão de voz —; todos os companheiros em posição receptiva
estão absorvendo a emissão mental do comunicante, cada qual a seu modo.
Repara calmamente.
Circulei a mesa e vi que os raios de força positiva do mensageiro
efetivamente incidiam em oito pessoas. Reconheci que o tema central do
desejo formulado por nosso amigo, no tocante ao projeto de assistência aos
enfermos, alcançava o cérebro dos que se conservavam em atitude passiva;
na tela animada de concentração de energias mentais, cada irmão recebia o
influxo sugestivo, que de logo lhes provocava a livre associação dos
psicanalistas.
Fixei as particularidades com atenção.
Ao receberem a emissão de forças do trabalhador do bem, um
cavalheiro recordou comovente paisagem de hospital; outro rememorou o
exemplo de uma enfermeira bondosa que com ele travara relações; outro
abrigou pensamentos de simpatia para com os doentes desamparados;
duas senhoras se lembraram da caridosa missão de Vicente de Paulo; a uma
velhinha acudiu a ideia de visitar algumas pessoas acamadas que lhe eram
queridas; um jovem reportou-se, em silêncio, a notáveis páginas que lera
sobre piedade fraternal para com todos os semelhantes afastados do
equilíbrio físico.
Examinei também as três pessoas que se mantinham impermeáveis ao
serviço benemérito daquela hora. Duas delas contristavam-se por haver
perdido uma sessão cinematográfica, e a outra, uma senhora na idade
provecta, retinha a mente na lembrança das ocupações domésticas, que
supunha imperiosas e inadiáveis, mesmo ali, num círculo de oração, onde
devera beneficiar-se com a paz.
Somente Eulália recebia o apelo do comunicante com mais nitidez.
Sentia-se ao seu lado; envolvia-se em seus pensamentos; possuía-se, não só
de receptividade, mas também de boa disposição para servi-lo.
Decorridos alguns minutos de expectativa e de preparo silencioso, a
mão da médium, orientada pelo médico e movida em cooperação com os
estímulos psicofísicos da intermediária, começou a escrever, em caracteres
irregulares, denunciando o natural conflito de dois cosmos psíquicos dife-
rentes, mas empenhados num só objetivo — a produção de uma obra
elevada.
Acompanhei a cena com interesse.
Mais alguns momentos, e fazia-se a leitura do pequeno texto obtido.
O comunicado era vazado em forma singela, como um apelo fraternal.
“Meus irmãos — escrevera o emissário —, que Deus nos abençoe.
‘Identificados na construção do bem, trabalhemos na assistência aos
enfermos, necessitados de nosso concurso entre os longos sofrimentos da
provação terrestre, O serviço pertence à boa vontade unida à fé viva. E a
sementeira reclama trabalhadores abnegados, que ignorem cansaço,
tristeza e desânimo.
“Sigamos para a frente.
(Cada pequenina demonstração de esforço próprio, nas realizações da
caridade, receberá do Senhor a Divina Bênção.
(Aprendamos, pois, a socorrer nossos amigos doentes. Através de
espessa noite de dor, sofrem e choram, muita vez em pleno abandono.
(Não vos magoará a contemplação de tal quadro? Lembremo-nos
dAquele Divino Médico que passou, no mundo, fazendo o bem. DEle recebe-
remos a força necessária para progredir. Estará conosco na grande jornada
de comiseração pelos que padecem.
(Fiamos em vós, em vossa dedicação à causa da bondade evangélica.
(A estrada será talvez difícil e fragosa; entretanto, o Senhor
permanecerá conosco.
(Prossigamos, intimoratos, e que Ele nos abençoe agora e sempre.
O comunicante assinou o nome, e, daí a alguns minutos, encerravam-se
os serviços espirituais da noite.
O presidente da sessão, seguido pelos demais companheiros, Iniciou o
estudo e debate da mensagem. Concordou-se em que era edificante na es-
sência, mas não apresentava índices concludentes da identificação
individual; não procedia, possívelmente, do conhecido profissional que a
subscrevera; faltavam-lhe os característicos especiais, pois um médico
usaria nomenclatura adequada, e se afastaria da craveira comum.
E a tese animista apareceu como tábua de salvação para todos.
Transferiu-se a conversação para complicadas referências ao mundo
europeu; falou-se extensalnente de Richet e do metapsiquismo
internacional; Pierre Janet, Charcot, De Rochas e Aksakof eram a cada passo
trazidos à balha.
O comunicante, em nosso plano de ação, dirigiu-se, desapontado, ao
meu orientador e comentou:
— Ora essa! jamais desejei despertar semelhante polêmica doméstica.
Pretendemos algo diferente. Bastar-nos-ia um pouco de amor pelos en-
fermos, nada mais.
Calderaro sorriu, sem dizer palavra, e evidenciando preocupação em
objetivo mais importante, acercou-se de Eulália, entristecida.
A médium ouvia as definições preciosas com irrefreável amargura.
Turvara-se-lhe a mente, agora, empanada por densos véus de dúvida. A
argumentação em curso nublava-lhe o entendimento. Marejavam-se-lhe os
olhos de lágrimas, que não chegavam a cair.
Abeirando-se dela, o instrutor falou-me, bondoso:
— Nossos amigos encarnados nem sempre examinam as situações pelo
prisma da justiça real. Eulália é colaboradora preciosa e sincera. Se ainda
não completou as aquisições culturais no campo científico, é
suficientemente rica de amor para contribuir à sementeira de luz. Encontra-
se, porém, desabrigada, entre os companheiros invigilantes. Permanece
sozinha e, assediada como está, é suscetível de abater-se. Auxiliemo-la sem
detença.
A destra do Assistente espalmada sobre a cabeça de nossa respeitável
irmã expendia brilhantes raios, que lhe desciam do encéfalo ao tórax, qual
fluxo renovador.
A médium, que antes parecia torturada, sopitando a custo a natural
reação às opiniões que ouvia, voltou à serenidade. Caiu-lhe a máscara de
descontentamento, dissipou-se-lhe a tristeza destrutiva; os centros
perispiríticos tornaram à normalidade; a epífise irradiou branda luz. As
nuvens de mágoa, que se lhe esboçavam na mente, esfumaram-se como
por encanto. Em suma, amparada pela atuação direta do meu orientador,
Eulália sabia dos percalços do trabalho e mergulhava-se gradativamente no
ameno clima da compreensão.
Restabelecendo-lhe a tranquilidade, o instrutor, em seguida, conservou
as mãos apoiadas aos lobos frontais, agindo-lhe sobre as fibras inibidoras.
Observei, então, nova mudança. A mente da médium, como que se
introvertia, desinteressando-se da conversação em torno e ficando mais
atenta ao nosso campo de ação. O contacto benéfico do Assistente cortava-
lhe, de modo imperceptível para ela, o interesse pelas referências sem pro-
veito, convocando-a a mais íntimo intercâmbio conosco.
Com ternura paternal, Calderaro, conservando as mãos na mesma
postura, inclinou-se-lhe aos ouvidos e falou carinhosamente:
— “Eulalia, não desanimes! A fé representa a força que sustenta o
espírito na vanguarda do combate pela vitória da luz divina e do amor uni-
versal. Nossos amigos não te acusam, nem te ferem: tão sõmente dormem
na ilusão e sonham, apartados da verdade; exculpa-os pelas futilidades do
momento. Mais tarde eles despertarão para o esforço de espalhar-se o
bem... Investigam com os olhos a superfície das coisas, mas seus ouvidos
ainda não escutaram o sublime apelo à redenção. Sigamos para a frente.
Estaremos contigo na tarefa diária. É necessário amar e perdoar sempre,
esquecendo o dia obscuro, a fim de alcançar os milênios luminosos. Não
desfaleças! O Eterno Pai te abençoará.”
Reparei que Eulália não registrava aquelas palavras com os tímpanos
de carne. Encheram-se-lhe os lobos frontais de intensa luz. As frases como-
vedoras do instrutor represaram-se-lhe no cérebro e no coração, quais
pensamentos sublimes que lhe caiam do céu, saturados de calor
reconfortante e bendito.
Sim — respondia, do fundo d’alma, a devotada colaboradora, embora os
lábios se lhe cerrassem no incompreendido silêncio —, trabalharia até ao
fim, consciente de que o serviço da verdade pertence ao Senhor, e não aos
homens. Olvidaria todos os golpes. Receberia as objeções dos outros,
transformando-as em auxílios. Converteria as opiniões desanimadoras em
motivos de energia nova. Dar-se-ia pressa em reconhecer os próprios defei-
tos, sempre que fôssem indigitados pela franqueza de alguém, rendendo
graças pela oportunidade de corrigi-los, quanto possível. Caminharia para a
frente. Ser-lhe-ia a mediunidade um campo de trabalho, onde aperfeiçoaria
os sentimentos que nutria, sem cogitar dos utensílios para servi-la: que lhe
importavam, com efeito, as dificuldades psicográficas, se lhe pulsava um
coração disposto a amar? Sim, ouviria as sugestões do bem, antes de tudo.
Seria fiel a Deus e a si mesma. Se os companheiros humanos não a
pudessem entender, não lhe restava o conforto de ser compreendida pelos
amigos da vida espiritual? Ao termo da experiência terrestre, haveria
suficiente luz para todos. Cumpria-lhe crer, trabalhar, amar e esperar no
Divino Senhor.
O Assistente retirou as mãos, deixando-a livre e, reaproximando-se de
mim, asseverou:
— Nossa irmã foi auxiliada e está bem, louvado seja Deus!
Observando os lobos frontais da médium, tão revestidos de
luminosidade, fiz sentir a Calderaro minha admiração.
O instrutor amigo, não se esquivando a novos esclarecimentos,
informou:
— Eulália, neste instante, fixa-se mentalmente na região mais alta que
lhe é possível. Recolhe-se, calma, no santuário mais intimo, de modo a
compreender e desculpar com proveito.
Indicando a referida região cerebral, concluiu:

— Nos lobos frontais, André, exteriorização fisiológica de centros


perispiríticos importantes, repousam milhões de células, à espera, para
funcionar, do esforço humano no setor da espiritualização. Nenhum homem,
dentre os mais arrojados pensadores da Humanidade, desde o pretérito até
os nossos dias, logrou jamais utilizá-las na décima parte. São forças de um
campo virgem, que a alma conquistará, não sõmente em continuidade
evolutiva, senão também a golpes de auto-educação, de aprimoramento
moral e de elevação sublime; tal serviço, meu amigo, só a fé vigorosa e
reveladora pode encetar, como indispensável lâmpada vanguardeira do
progresso individual.

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MEDIUNIDADE E ANIMISMO — Alinhando apontamentos sobre a


mediunidade, não será licito esquecer algumas considerações em torno do
animismo ou conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a
cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação.
Temos aqui muitas ocorrências que podem repontar nos fenômenos
mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria
Inteligência encarnada comandando manifestações ou delas participando
com diligência, numa demonstração que o corpo espiritual pode
efetivamente desdobrar-se e atuar com os seus recursos e implementos
característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do carro
físico.
A verificação de semelhantes acontecimentos criou entre os opositores da
Doutrina Espírita as teorias de negação, porquanto, admitida a possibilidade
de o próprio Espírito encarnado poder atuar fora do traje fisiológico,
apressaram-se os cépticos inveterados a afirmar que todos os sucessos
medianímicos se reduzem à influência de uma força nervosa que efetua,
fora do corpo carnal, determinadas ações mecânicas e plásticas,
configurando, ainda, alucinações de variada espécie. Todavia, os
estardalhaços e pavores levantados por esses argumentos indébitos,
arredando para longe o otimismo e a esperança de tantas criaturas que
começam confiantemente a iniciação nos serviços da mediunidade, não
apresentam qualquer significado substancial, porque é forçoso ponderar
que os Espíritos desencarnados e encarnados não se filiam a raças
antagônicas que se devam reencontrar em condições miraculosas.

SEMELHANÇAS DAS CRIATURAS — Somos necessariamente impelidos a


reconhecer que, se os vivos da Terra e os vivos do Além respirassem climas
evolutivos fundamentalmente diversos, a comunicação entre eles resultaria
de todo impossível, pela impraticabilidade do ajuste mental. Seres em
desenvolvimento para a vida eterna, uns e outros guardam consigo, seja no
plano extra-físico, preparando o retorno ao campo terrestre, ou no plano
físico, em direção à esfera espiritual, faculdades adquiridas no vasto
caminho da experiência, as quais lhes servirão de recursos à percepção no
ambiente próximo.

Tem cada Espírito, em vias de reencarnação, todos os meios de que já se


muniu para continuar no círculo dos encarnados o trabalho de
aperfeiçoamento que lhe é próprio, conservando-os potencialmente no feto,
tanto quanto possui o Espírito encarnado todas as possibilidades que já
entesourou em si mesmo para prosseguir em suas atividades no Plano
Espiritual, depois da morte.

Assinalada essa observação, é fácil anotar que a criatura na Terra partilha,


assim, até certo ponto, dos sentidos que caracterizam a criatura
desencarnada, nas esferas imediatas à experiência humana, conseguindo,
às vezes, desenfaixar-se do corpo denso e proceder como a Inteligência
desenleada do indumento carnal ou, ainda, obedecer aos ditames dos
Espíritos desencarnados, como agente mais ou menos fiel de seus desejos.

Encontramos, nessa base, a elucidação clara de muitos dos fenômenos do


faquirismo vulgar, em que o Espírito encarnado, ao desdobrar-se, pode
provocar, em relativo estado de consciência, certa classe de fenômenos
físicos, enquanto o corpo carnal se demora na letargia comum.

OBSESSÃO E ANIMISMO — Muitas vezes, conforme as circunstâncias, qual


ocorre no fenômeno hipnótico isolado, pode cair a mente nos estados
anômalos de sentido inferior, dominada por forças retrógradas que a
imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas ou indesejáveis.
Nesse aspecto, surpreendemos multiformes processos de obsessão, nos
quais Inteligências desencarnadas de grande poder senhoreiam vítimas
inabilitadas à defensiva, detendo-as, por tempo indeterminado, em certos
tipos de recordação, segundo as dividas cármicas a que se acham presas.
Freqüentemente, pessoas encarnadas, nessa modalidade de provação
regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos
mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades
outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da
subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas,
sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam.

ANIMISMO E HIPNOSE — Imaginemos um sensitivo a quem o


magnetizador intencionalmente fizesse recuar até esse ou aquele marco do
pretérito, pela deliberada regressão da memória, e o deixasse nessa
posição durante semanas, meses ou anos a fio, e teremos exata
compreensão dos casos mediúnicos em que a tese do animismo é chamada
para a explicação necessária. O «sujet», nessa experiência, declarar-se-ia
como sendo a personalidade invocada pelo hipnotizador, entrando em
conflito com a realidade objetiva, mas não deixaria, por isso, de ser ele
mesmo sob controle da idéia que o domina.

Nas ocorrências várias da alienação mental, encontramos fenômenos assim


tipificados, reclamando larga dose de paciência e carinho, porquanto as
vítimas desses processos de fixação não podem ser categorizadas à conta
de mistificadores inconscientes, pois representam, de fato, os agentes
desencarnados a elas jungidos por teias fluídicas de significativa expressão,
tal qual acontece ao sensitivo comum, mentalmente modificado, na hipnose
de longo curso, em que demonstra a influência do magnetizador.

DESOBSESSÃO E ANIMISMO — Nenhuma justificativa existe para


qualquer recusa no trato generoso de personalidades medianímicas
provisoriamente estacionadas em semelhantes provações, de vez que são,
em si próprias, Espíritos sofredores ou conturbados quanto quaisquer outros
que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro. O amparo
espontâneo e o auxílio genuinamente fraterno lhes reajustarão as ondas
mentais, concurso esse que se estenderá, inevitável, aos companheiros do
pretérito que lhes assediem o pensamento, operando a reconstituição de
caminhos retos para os sensitivos corporificados na Terra, tão importantes e
tão nobres em sua estrutura quanto aqueles que os doutrinadores
encarnados se propõem traçar para os amigos desencarnados menos
felizes. Aliás, é preciso destacar que o esforço da escola, seja ela o recinto
consagrado à instrução primária ou a instituto corretivo, funciona como
recurso renovador da mente, equilibrando-lhe as oscilações para níveis
superiores. Não há novidade alguma no impositivo da acolhida magnânima
aos obsessos dessa natureza, hipnotizados por forças que os comandam
espiritualmente, a distância.

ANIMISMO E CRIMINALIDADE — Os manicômios e as penitenciárias estão


repletos de irmãos nossos obsidiados que, alcançando o ponto específico de
suas recapitulações do pretérito culposo, à falta de providências
reeducativas, nada mais puderam fazer que recair na loucura ou no crime,
porque, em verdade, a alienação e a delinquência, na maioria das vezes,
expressam a queda mental do Espírito em reminiscências de lutas
pregressas, à semelhança do aluno que, voltando à lição, com recursos
deficitários, incorre lamentavelmente nos mesmos erros.
O ressurgimento de certas situações e a volta de marcadas criaturas ao
nosso campo de atividade, do ponto de vista da reencarnação, funcionam
em nossa vida íntima como reflexos condicionados, comprovando-nos a
capacidade de superação de nossa inferioridade, antigamente positivada.
Se estivermos desarmados de elementos morais suscetíveis de alterar-nos a
onda mental para a assimilação de recursos superiores, quase sempre
tornamos à mesma perturbação e à mesma crueldade que nos assinalaram
as experiências passadas. Nesse fenômeno reside a maior percentagem das
causas de insânia e criminalidade em todos os setores da civilização
terrestre, porquanto é aí, nas chamadas predisposições mórbidas, que se
rearticulam velhos conflitos, arrasando os melhores propósitos da alma,
sempre que descure de si mesma.

Convenhamos, pois, que a tarefa espírita é chamada, de maneira particular,


a contribuir no aperfeiçoamento dos impulsos mentais, favorecendo a
solução de todos os problemas suscitados pelo animismo. Através dela, são
eles endereçados à esfera iluminativa da educação e do amor, para que os
sensitivos, estagnados nessa classe de acontecimentos, sejam devidamente
amparados nos desajustes de que se vejam portadores, impedindo-se-lhes o
mergulho nas sombras da perturbação e recuperando-se-lhes a atividade
para a sementeira da luz. (ANDRÉ LUIZ, "MECANISMOS DA MEDIUNIDADE",
cap. 23, FCXavier, FEB)

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Estudo das Doenças Mentais


Parte 7: EVANGELHO NO LAR
Do livro “No Mundo Maior”
Cap. 8 – “No Santuário da Alma” (a terapêutica* do Evangelho no Lar)

* ciência de cuidar e tratar de doentes ou de doenças.

Cap. 7
Processo redentor

Retirando-nos do hospital, em a noite que precedeu à desencarnação de


Cândida, o Assistente observou:
— Não temos tempo a perder.
Efetivamente, o trabalho de socorro à prezada enferma absorvera-nos
algumas horas.
—Nosso esforço — continuou o prestimoso amigo — tem por especial
escopo impedir a consumação dos processos tendentes à loucura. A rede de
amparo espiritual, neste sentido, é quase infinita. A positiva declaração de
desarmonia mental constitui sempre o término de longa luta. Claro está que
não incluimos aqui os casos puramente fisiológicos, mormente em se
tratando da invasão da sífilis na matéria cerebral; reportamo-nos aos
dramas íntimos da personalidade prisioneira da introversão, do
desequilíbrio, dos fenômenos de involução, das tragédias passionais,
episódios esses que deflagram no mundo, aos milhares por semana. Nas
esferas imediatas à luta do homem vulgar, onde nos achamos
presentemente, são inúmeras as organizações socorristas dessa natureza. É
imprescindível amparar a mente humana na Crosta Planetária, em seus
deslocamentos naturais. A vasta escola terrestre exige incessante e
complexa colaboração espiritual. Indubitavelmente, a Divina Sabedoria não
se descuidou da programação prévia de serviço, neste particular. Se
encarregou a Ciência de superintender o desdobramento harmonioso dos
fenômenos pertinentes à zona física, se incumbiu a Filosofia de acompanhar
essa mesma Ciência, enriquecendo-lhe os valores intelectuais, confiou à
Religião a tarefa de velar pelo desenvolvimento da alma, propiciando-lhe
abençoadas luzes para a jornada de ascensão. A crença religiosa, todavia,
mormente nos últimos anos, tem-se revelado incapaz de tal cometimento:
falta-lhe pessoal adequado. Enquanto a edificação científica no mundo se
apresenta qual árvore gigantesca, abrigando, em seus ramos refertos de
teorias e raciocínios, as inteligências encarnadas, a Religião, subdividida em
numerosos setores, dá a ideia de erva raquítica, a definhar no solo. O Amor
Divino, porém, não ignora os obstáculos que assoberbam os círculos da fé.
Se à investigação do conhecimento basta o valor intelectual, o problema
religioso demanda altas possibilidades de sentimento. A primeira requer
observação e persistência; o segundo, todavia, implica vocação para a
renúncia. A vista disto, colaborando com os trabalhadores decididos,
inúmeras legiões de auxiliares invisíveis ao olhar humano se desdobram,
em toda parte, socorrendo os que sofrem, incentivando os que esperam
firmemente no bem, melhorando sempre. Nosso esforço, portanto, em torno
da mente encarnada, é extenso e múltiplo. Forçoso é convir, no entanto,
que, se o programa dá motivo a preocupações, é também fonte de prazer.
Experimentamos o contentamento de irmãos mais velhos, capazes de
prestar auxilio aos mais novos. Indiscutívelmente, somos, em humanidade,
uma só família.
Verificando-se pausa natural nos esclarecimentos de Calderaro,
indaguei, curioso:
— Como se opera, entretanto, a administração de tais auxílios?
Indiscriminadamente?
— Não — explicou o interpelado —, o senso de ordem preside-nos à
atividade em todas as circunstâncias Quase sempre é a força intercessória
que determina os processos de ajuda. A prece, representada pelo desejo
não manifestado, pelas aspirações íntimas ou pelas petições declaradas,
proveniente da zona superior ou surgida do fundo vale, onde se agitam as
paixões humanas, é, a rigor, o ascendente de nossas atividades.
Dispunha-me a formular certa pergunta, oriunda de velhas concepções
do separatismo religioso, quando Calderaro, percebendo-me a ponderação
prestes a exprimir-se, acrescentou, calmo:
— Não aludimos, aqui, a orações ou a aspirações de correntes
idealísticas determinadas: o dístico não interessa. Colaboramos com o
espírito eterno em sua ascensão à zona divina, aduzindo novas forças ao
bem, onde ele se encontre, independentemente de fórmulas dogmáticas, ou
não, com que ele se manifeste nos círculos humanos. Nosso problema não é
de favoritismo, senão de espiritualidade superior, mercê da união dos
valores substanciais, em favor da vida melhor.
A essa altura das lições que eu recebia em forma de palestra ligeira,
enquanto nos movimentávamos em serviço, atingimos residência de aspec-
to simples, que se distinguia pelo jardim bem cuidado, em toda a volta.
— Temos, aqui — disse-me, o instrutor —, indefesso companheiro de
outras épocas, reencarnado em dolorosas condições. De algumas semanas
para cá, assisto-lhe a mãezinha através de passes reconfortantes. Em
virtude da horrível estrutura orgânica do filho, a ela encadeado há muitos
séculos, a razão da pobrezinha está periditando; prendem-se mútuamente
por grilhões de graves compromissos. Considerando-lhe o nobre costume da
oração em horário prefixado, valemo-nos dessas ocasiões para vir-lhe em
amparo.
Admirando a ordem instituída para os quefazeres de nosso plano, e que
transparecia nas mínimas ações, silenciosamente acompanhei Calderaro ao
interior doméstico.
Em rápidos minutos achávamo-nos em pequena câmara, onde magro
doentinho repousava, choramingando. Cercavam-no duas entidades tão
infelizes quanto ele mesmo, pelo estranho aspecto que apresentavam. O
menino enfermo inspirava piedade.
— É paralítico de nascença, primogênito de um casal aparentemente
feliz, e conta oito anos na existência nova — informou Calderaro, indicando-
o —; não fala, não anda, não chega a sentar-se, vê muito mal, quase nada
ouve dá esfera humana; psiquicamente, porém, tem a vida de um
sentenciado sensível, a cumprir severa pena, lavrada, em verdade, por ele
próprio. Há quase dois séculos, decretou a morte de muitos compatriotas
numa insurreição civil. Valeu-se da desordem político-administrativa para
vingar-se de desafetos pessoais, semeando ódio e ruínas. Viveu nas regiões
inferiores, apartado da carne, inomináveis suplícios. Inúmeras vítimas já lhe
perdoaram os crimes; muitas, contudo, seguiram-no, obstinadas, anos
afora... A malta, outrora densa, rareou pouco a pouco, até que se reduziu
aos dois últimos inimigos, hoje em processo final de transformação. Com as
lutas acremente vividas, em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, o
desgraçado aprestou-se para esta fase conclusiva de resgate; conseguiu,
assim, a presente reencarnação com o propósito de completar a cura
efetiva, em cujo processo se encontra, faz muitos anos.
A paisagem era triste e enternecedora. O doente, de ossos enfezados e
carnes quase transparentes, pela idade deveria ser uma criança bela e feliz;
ali, entretanto, se achava imóvel, a emitir gritos e sons guturais, próprios da
esfera sub-humana.
Com o respeito devido à dor e com a observação imposta pela Ciência,
verifiquei que o pequeno paralítico mais se assemelhava a um descendente
de símios aperfeiçoados.
- Sim, o espírito não retrocede em hipótese alguma — explicou
Calderaro —; todavia, as formas de manifestação podem sofrer
degenerescência, de modo a facilitar os processos regenerativos. Todo mal
e todo bem praticados na vida impõem modificações em nosso quadro
representativo. Nosso desventurado amigo envenenou para muito tempo os
centros ativos da organização perispiritual. Cercado de inimigos e
desafetos, frutos da atividade criminosa a que se consagrou
voluntàriamente, permanece quase embotado pelas sombras resultantes
dos seus tremendos erros. No campo consciencial, chora e debate-se, sob o
aguilhão de reminiscências torturantes que lhe parecem intérminas; mas os
sentidos, mesmo os de natureza física, mantêm-se obnubilados, à maneira
de potências desequilibradas, sem rumo... Os pensamentos de revolta e de
vingança, emitidos por todos aqueles aos quais dellberadamente ofendeu,
vergastaram-lhe o corpo perispiritual por mais de cem anos consecutivos,
como choques de desintegração da personalidade, e o infeliz, distante do
acesso à zona mais alta do ser, onde situamos o (castelo das noções
superiores, em vão se debateu no (Campo do esforço presente, isto é, à
altura da região em que localizamos as energias motoras; é que os
adversários implacáveis, apegando-se a ele, através da influência direta,
compeliram-lhe a mente a fixar-se nos impulsos automáticos, no império
dos instintos; permitiu a Lei que assim acontecesse, naturalmente porque a
conduta de nosso infortunado irmão fora igual à do jaguar que se aproveita
da força para dominar e ferir. Os abusos da razão e da autoridade
constituem faltas graves ante o Eterno Governo dos nossos destinos.
O estimado Assistente fitou-me com seus olhos muito lúcidos e
perguntou:
— Compreendeste?
Como desejasse ver-me suficientemente esclarecido, acrescentou:
— Espiritualmente, este pobre doente não regrediu. Mas o processo de
evolução, que constitui o serviço do espírito divino, através dos milênios,
efetuado para glorioso destino, foi por ele mesmo (o enfermo) espezinhado,
escarnecido e retardado. Semeou o mal, e colhe-o agora. Traçou audacioso
plano de extermínio, valendo-se da autoridade que o Pai lhe conferira,
concretizou o deplorável projeto e sofre-lhe as consequências naturais de
modo a corrigir-se. Já passou a pior fase. Presentemente, já se afastou do
maior número de inimigos, aproximando-se de amoroso coração materno,
que o auxilia a refazer-se, ao término de longo curso de regeneração.
Reparando a estranha atitude dos infelizes desencarnados que o
seguiam, pretendia indagar algo relativamente a eles, quando Calderaro
veio ao encontro de meus desejos, continuando:
— Também os míseros perseguidores são duendes do ódio e da
vingança, como o nosso enfermo é um remanescente do crime. São
náufragos na derradeira fase de salvação, após enorme hecatombe no mar
da vida, onde se perderam por muitos anos, por incapazes de usar a bússola
do perdão e do bem. Aproximam-se, porém, do porto socorrista. Voltarão ao
Sol da existência terrestre, por intermédio de um coração de mulher que
compreendeu com Jesus o valor do sacrifício. Em breve, André, consoante o
programa redentor já delineado, ingressarão neste mesmo lar na qualidade
de irmãos do antigo adversário. E quando entrelaçarem as mãos sobre ele,
consumindo energias por ajudá-lo, assistidos pela ternura de abnegada
mãe, amorosa e justa, beijarão o velho inimigo com imenso afeto.
Transmudar-se-ão as negras algemas do ódio em alvinitentes liames de luz,
nos quais refulgirá o amor eterno. Chegado esse tempo, a força do perdão
restituirá nosso doente à liberdade; largará ele, qual pássaro feliz, este
mirrado corpo físico, sufocante cárcere do crime e suas consequências,
onde se debateu por quase dois séculos. Até lá, importa zelar com empenho
pela valorosa mulher que é essa, vestalina senhora deste lar, em quem as
Forças Divinas respeitam a vocação para o martírio, por iluminar a vida e
enriquecer a obra de Deus.
Mal terminava Calderaro as elucidações, quando um dos verdugos
desencarnados se moveu e tocou com a destra o cérebro do doentinho,
recomendando-me o Assistente examinasse os efeitos desse contacto.
Extrema palidez e enorme angústia transpareceram no semblante do
paralítico. Notei que a infeliz entidade emitia, através das mãos, estrias
negras de substância semelhante ao piche, as quais atingiam o encéfalo do
pequenino, acentuando-lhe as impressões de pavor.
Dirigi ao Assistente um olhar interrogativo, e Calderaro informou:
— Se o amor emite raios de luz, o ódio arremessa estiletes de treva. Nos
lobos frontais recebemos os «estímulos do futuro», no córtex abrigamos as
«sugestões do presente», e no sistema nervoso, propriamente dito,
arquivamos as dembranças do passado». Nosso pobre amigo está sendo
«bombardeado» por energias destrutivas do ódio na região de «serviços do
presente», isto é, em suas capacidades de crescimento, de realização e de
trabalho nos dias que correm. Tal situação, derivante da culpa, compele-o a
descer mentalmente para a zona de «reminiscências do passado», onde o
seu comportamento é inferior, ralando pela semi-inconsciência dos estados
evolucionários primitlvos. Esmagadora maioria dos fenômenos de alienação
psíquica procedem da mente desequilibrada. Repara o cosmo orgânico.
O doentinho, da aflição, em que se mergulhara, passou às contorções,
evidenciando todos os característicos da idiotia clássica. Os órgãos
revelavam agora estranhos deslocamentos, O sistema endócrino
patenteava indefiníveis perturbações.
Compadecido, inclinou-se o instrutor sobre o doente, e esclareceu:
— Os raios destrutivos alcançam-lhe a zona motora, provocando a
paralisação dos centros da fala, dos movimentos, da audição, da visão e do
governo de todos os departamentos glandulares. Na verdade, essa dolorosa
situação cronicificou-se, pela repetição desta ocorrência milhares de vezes,
em quase duas centenas de anos.
Fez intervalo significativo e tornou:
— Examina a conduta do enfermo. Fixando a mente na extrema
.<região dos impulsos automáticos», seu padrão de comportamento é
efetivamente sub-humano. Volta a viver estados primários, dos quais a
individualidade já emergiu há muitos séculos. Em outros casos menos
graves, a medicina atual vem utilizando a terapêutica do choque,
156rás156ira do experimentador que investiga nas som156rás, examinando
efeitos e ignorando as causas. Cumpre-nos, no entanto, reconhecer que o
belo esforço da psiquiatria moderna merece o maior carinho de nossas
autoridades espirituais, que patrocinam os médicos diligentes e devotados,
orientando-os para o bem comum, simultâneamente em diversos centros
culturais; por enquanto, não podem aceitar a verdade como seria de
desejar, em virtude da necessidade de guardar-se a medicina terrena em
campo conservador, menos aberto aos aventureiros; todavia, mais tarde os
sacerdotes da saúde humana compreenderão que o choque elétrico, ou a
hipoglicemia, provocada pela invasão da insulina, constituem apelos vivos
aos centros do organismo perispirítico, convocando-os ao reajustamento e
compelindo os neurônios a se readaptarem para o serviço da mente em
processo regenerador. A bem dizer, é de notar que esse recurso às reservas
profundas do cosmo psíquico não é novo. Outrora, as vítimas da loucura
eram conduzidas a poços de víboras, a fim de que a aborrível comoção
operasse a transformação súbita da mente desequilibrada; é que, desde
remota antigüidade, compreendeu o homem, intuitivamente, que a maioria
dos casos de alienação mental decorrem da ausência voluntária ou
involuntária da alma à realidade. E, em nosso campo de observação mais
clara, podemos adir que todo desequilíbrio promana do afastamento da Lei.
Silenciou Calderaro por alguns instantes e, em seguida, indicou o
pequeno, acentuando:
— Neste caso, porém, o choque aplicado pela ciência dos homens não
surtiria vantagem alguma. Estamos perante o eclipse total da mente, pela
total ausência da Lei com que se conduziu o interessado no socorro. A
retificação, aqui, reclama tempo. As águas pantanosas do mal, longamente
represadas no coração, não se escoam fàcilmente. O plano mental de cada
um de nós não é vaso de conteúdo imaginário: é repositório de forças vivas,
qual o veículo físico de manifestação, que nos é próprio, enquanto
peregrinamos na Crosta Planetária.
— Não estamos, porém, cientificamente falando — indaguei —, diante
de um caso típico de mongolismo?
O Assistente respondeu sem se embaraçar:
— Acompanhamos um fenômeno de desequilíbrio espiritual absoluto.
Em situações raríssimas, teremos perturbações dessa natureza com causas
substancialmente fisiológicas. Impossível é desconhecer, na esfera carnal, o
paralelismo psico-físico. Quem vive na Crosta Terrestre terá sempre a
defrontar com a forma perecível, em primeiro lugar. Daí, não podermos
excluir da patologia da alma o envoltório denso, nem menosprezar a
colaboração dos fisiologistas abnegados, que atentos se dedicam às
investigações da fauna microscópica, do reajustamento das formas, do
quadro dos efeitos. Não nos esqueça, contudo, que analisamos agora o
dominio das causas...
O desvelado amigo parecia disposto a prosseguir, dilatando-me os
conhecimentos a respeito do assunto, quando ouvimos passos de alguém
que se aproximava. Certo, a dona da casa vinha ao aposento da criança, à
procura do socorro da oração.
Concluiu Calderaro, apressadamente:
— Nossos companheiros da medicina humana batizam as moléstias
mentais como lhes apraz, detendo-se nas questões da periferia, por
distraídos dos problemas fundamentais do espírito. Relativamente aos
assuntos científicos, conversaremos amanhã, quando prestaremos
assistência a jovem amigo.
Nesse momento, a mãezinha, que ainda não contava trinta anos,
acercou-se do enfermo, sem se dar conta de nossa presença espiritual.
Estacou, tristonha, de pé junto ao berço, afagando-lhe a fronte aljofrada de
suor, ao termo das contorções finais. Afastou a colcha rendada, levantou-o,
cuidadosa, e abraçou-o, ungindo-o com o mais terno dos carinhos.
O menino aquietou-se.
Logo após, a genitora entrou a orar, banhada em lágrimas, afigurando-
se-me um cisne da região espiritual a desferir maravilhoso cântico.
Enquanto Calderaro operava, reparando-lhe as forças nervosas em
verdadeira transfusão de fluidos sadios que o dedicado colaborador
transferia de si próprio, eu, de minha parte, acompanhava com vivo
interesse a prece maternal.
A jovem senhora entremeava de ponderações humanas a cordial
rogativa.
Porque não a ouvia o Senhor, nos Altos Céus, permitindo um milagre
que restituisse o filhinho ao equilíbrio tão necessário? Casara-se, havia nove
anos, sonhando um jardim doméstico, repleto de rebentos felizes;
entretanto, a primeira flor de suas aspirações femininas ali se encontrava
ironicamente aberta, numa fácies horrível de monstruosidade e de
sofrimento... Porque, interrogava súplice, nasciam crianças na Terra com a
destinação de tamanha angústia? Porque o martirológio dos seres
pequeninos? Em vão percorrera gabinetes médicos e ouvira especialistas.
Sempre as mesmas decepções, os mesmos desenganos. O filhinho parecia
inacessível a qualquer tratamento. Sentia-se frágil e extenuada... E chorava,
implorando a bênção divina, para que as energias lhe não faltassem na luta.
Calderaro, finda a tarefa que lhe competia, acercou-se de mim,
perguntando:
— Desejas responder à rogativa, em nome da Inspiração Superior?
Oh! Não! Declinei de tal convite alegando que isso me era de todo
impraticável, depois de haver ouvido Irmã Cipriana renovando corações com
o verbo inflamado de amor.
Objetou o orientador num gesto bondoso:
— Aqui, porém, não falaremos a corações que odeiam, e sim a torturado
espírito materno, que reclama estimulo fraternal. O conhecimento e a boa
vontade podem fazer muito.
Sorriu, benevolente, e acrescentou:
— Ao demais, é necessário diplomar-nos também na ciência do amor.
Para isso, comecemos a ser irmãos uns dos outros, com sinceridade e fiel
disposição de servir.
Agradeci, comovido, a deferência, mas esquivei-me. Falaria ele mesmo,
Calderaro. Minha condição era a do aprendiz. Ali me encontrava para ouvir-
lhe as sublimes lições.
O abnegado amigo colocou as mãos sobre os lõbos frontais dela, como
atraindo a mente materna para a região mais elevada do ser, e passou a
irradiar-lhe tocantes apelos, como se lhe fora dezvelado pai falando ao
coração. Fundamente sensibilizado, assinalava-lhe as palavras de ânimo e
de consolação, que a afetuosa mãezinha recebia em forma de ideias e
sugestões superiores.
Notei que a disposição íntima da jovem senhora tomava pouco a pouco
um renovado alento. Observei que na epffise lhe surgira suave foco de
claridade irradiante e que de seus olhos começaram a brotar lágrimas
diferentes. A claridade branda, fluindo do cérebro, desceu para o tórax, de
onde, então, se evolaram tênues fios de luz que a ligaram ao filhinho infeliz.
Contemplou o pequeno, agora calmo, através do espesso véu de pranto e
ouvi-lhe os pensamentos sublimes.
Sim, Deus não a abandonaria — meditava; dar-lhe-ia forças para cumprir
até ao fim o cometimento que tomara a ombros, com a beleza do primeiro
sonho e com a ventura da primeira hora. Sustentaria o desventurado
rebento de sua carne, como se fora um tesouro celeste. Seu amor avultaria
com os padecimentos do filhinho muito amado; seus sacrifícios de mãe
seriam mais doces, toda vez que a dor o visitasse com maior intensidade.
Não era ele mais digno de seu devotamento e renúncia pela aflitiva
condição em que nascera? Os filhos de antigas companheiras eram
formosos e inteligentes, como botões perfumados da vida, prometendo
infinitas alegrias no jardim do futuro; também seu pequenino paralítico era
belo, necessitando, porém, de mais blandícia e arrimo. Saberia Deus porque
viera ele ao mundo, sem a faculdade da palavra e sem manifestações de
inteligência. Não lhe bastaria confiar no Supremo Pai? Serviria ao Senhor
sem indagar; amaria seu filho pela eternidade; morreria, se preciso fora,
para que ele vivesse.
Num transporte de indefinível carinho, a jovem mãe inclinou-se e beijou
o doentinho nos lábios, com o júbilo de quem osculasse um anjo celestial.
Vi, surpreendido, que numerosas centelhas de luz se desprendiam do
contacto afetivo entre ambos e se derramavam sobre as duas entidades
inferiores; estas, de sua parte, se inclinaram também, como que menos
infelizes, perante aquela nobre mulher que mais tarde lhes serviria de mãe.
Calderaro tocou-me de leve o ombro e informou:
— Nosso trabalho de assistência está findo. Vamo-nos.
E, indicando mãe e filho juntos, concluiu:

— Examinando essa criança sofredora como enigma sem solução, alguns


médicos insensatos da Terra se lembrarão talvez da morte suave’; ignoram
que, entre as paredes deste lar modesto, o Médico Divino, utilizando um
corpo incurável e o amor, até o sacrifício, de um coração materno, restitui o
equilíbrio a espíritos eternos, a fim de que sobre as ruínas do passado
possam irmanar-se para gloriosos destinos.

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O EVANGELHO NO LAR
Bezerra de Menezes

Trabalhemos pela implantação do Evangelho no lar, quando estiver ao


alcance de nossas possibilidades.
A seara depende da sementeira.
Se a gleba sofre o descuido de quem lavra e prepara, se o arado jaz inerte e
se o cultivador teme o serviço, a colheita será sempre desengano e
necessidade, acentuando o desânimo e a inquietação.
É importante nos unamos todos no lançamento dos princípios cristãos no
santuário doméstico.
Trazer as claridades da Boa Nova ao templo da família é aprimorar todos os
valores que a experiência terrestre nos pode oferecer.
Não bastará entronizar as relíquias materiais que se reportem ao Divino
Mestre, entre os adornos da edificação de pedra e cal, onde as almas se
reúnem sob os laços da comunidade ou da atração afetiva. É necessário
plasmar o ensinamento de Jesus na própria vida, adaptando-se-lhe o
sentimento à beleza excelsa.
Evangelho no Lar é Cristo falando ao coração. Sustentando semelhante luz
nas igrejas vivas do lar, teremos a existência transformada na direção do
Infinito Bem.
O Céu, naturalmente, não nos reclama a sublimação de um dia para outro
nem exige de nós, de imediato, as atitudes espetaculares dos heróis.
O trabalho da evangelização é gradativo, paciente e perseverante. Quem
recebe na inteligência a gota de luz da Revelação Cristã, cada dia ou cada
semana transforma-se no entendimento e na ação, de maneira
imperceptível.
Apaga-se nas almas felicitadas por essa bênção o fogo das paixões, e delas
desaparecem os pruridos da irritação inútil que lhe situa o pensamento nos
escuros resvaladouros do tempo perdido.
Enquanto isso ocorre, as criaturas despertam para a edificação espiritual
com o serviço por norma constante de fé e caridade, nas devoluções a que
se afeiçoam, de vez que compreendem, por fim, no Senhor, não apenas o
amigo Sublime que ampara e eleva, mas também o orientador que corrige e
educa para a felicidade real e para o bem verdadeiro.
Auxiliemos a plantação do cristianismo no santuário familiar, à luz da
Doutrina Espírita, se desejamos efetivamente a sociedade aperfeiçoada no
amanhã.
Em verdade, no campo vasto do mundo as estradas se bifurcam, mas é no
lar que começam os fios dos destinos e nós sabemos que o homem na
essência é o legislador da própria existência e o dispensador da paz ou da
desesperação, da alegria ou da dor a si mesmo.
Apoiar semelhante realização, estendendo-se nos círculos das nossas
amizades, oferecendo-lhe o nosso concurso ativo, na obra de regeneração
dos espíritos na época atormentada que atravessamos, é obrigação que nos
reaproximará do Mentor Divino, que começou o seu apostolado na Terra,
não somente entre os doutores de Jerusalém, mas também nos júbilos
caseiros da festa de Caná, quando, simbolicamente, transformou a água em
vinho na consagração da paz familiar.
Que a providência Divina nos fortaleça para prosseguirmos na tarefa de
reconstrução do lar sobre os alicerces do Cristo, nosso Mestre e Senhor,
dentro da qual cumpre-nos colaborar com as nossas melhores forças.

BEZERRA DE MENEZES
(Do livro "Temas da Vida" - Francisco Cândido Xavier)

LUZ NO LAR
Scheilla

Organizemos o nosso agrupamento doméstico do Evangelho.


O Lar é o coração do organismo social.
Em casa, começa nossa missão no mundo.
Entre as paredes do templo familiar, preparamo-nos para a vida com todos.
Seremos, lá fora, no grande campo da experiência pública, o
prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos.
Fujamos à frustração espiritual e busquemos no relicário doméstico o
sublime cultivo dos nossos ideais com Jesus. O Evangelho foi iniciado na
Manjedoura e demorou-se na casa humilde e operosa de Nazaré, antes de
espraiar-se pelo mundo.
Sustentemos em casa a chama de nossa esperança, estudando a Revelação
Divina, praticando a fraternidade e crescendo em amor e sabedoria, porque,
segundo a promessa do Evangelho Redentor, "onde estiverem dois ou três
corações em Seu Nome", aí estará Jesus, amparando-nos para a ascensão à
Luz Celestial, hoje, amanhã e sempre.

SCHEILLA
(Do livro "Luz no Lar", Francisco Cândido Xavier, edição FEB)
Mensagem publicada no blog "Alvorada Espiritual"
http://institutoandreluiz.blogspot.com/

O CULTO DO EVANGELHO NO LAR


Neio Lúcio

Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar,


quando o Senhor, instalado provisoriamente em casa de Pedro, tomou os
Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação
que se fizera improdutiva e menos edificante, falou com bondade:
Simão , que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutos
de cada dia?
O apóstolo pensou alguns momentos e respondeu, hesitante:
Mestre, naturalmente, escolhemos os peixes melhores. Ninguém compra
resíduos da pesca.JESUS sorriu e perguntou, de novo:
E o oleiro? Que faz para atender à tarefa a que se dispõe?
Certamente, Senhor – redargüiu o pescador, intrigado -, modela o barro,
imprimindo-lhe a forma que deseja.O amigo Celeste, de olhar compassivo e
fulgurante, insistiu:
E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?
O interlocutor, muito simples, informou sem vacilar:
Lavará a madeira, usará a enxó e o serrote, o martelo e o formão. De outro
modo, não aperfeiçoará a peça bruta.
Calou-se JESUS, por alguns instantes, e aduziu:
- Assim também, é o lar diante do mundo.
O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa
do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. Se o
negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um
barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma
comunidade segura e tranqüila sem que o lar se aperfeiçoe? A paz do
mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a
viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações?
Se nos não habituamos a amar irmão mais próximo, associado à nossa luta
de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?
JESUS relanceou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e
continuou:
- Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência
fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela,
recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor
dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento?
O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, envia-nos a luz
através do céu. Se a claridade é a expansão dos raios que constituem, a
fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre
a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.
Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes e lúcidos e, lúcidos e, como
não encontrasse palavras adequadas para explicar-se, murmurou, tímido:
Mestre, seja feito como desejas.
Então JESUS, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à
meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o
primeiro culto cristão do Lar.

(Do Livro "Jesus no Lar", Neio Lúcio, Francisco C. Xavier)

DECÁLOGO PARA ESTUDOS EVANGÉLICOS

André Luiz (em azul)


Instituto André Luiz (em itálico)

1. Peça a inspiração divina e escolha o tema evangélico destinado aos


estudos e comentários da noite.
A prece de abertura pode ser espontânea ou seja, uma emissão breve e
sincera de palavras nascidas do coração e do entendimento, e que vão
servir de indicador ao Plano Espiritual das necessidades pessoais ou gerais,
naquele momento. A partir da prece inicial e averiguados os pensamentos e
disposições dos componentes do evangelho, será selecionado um tema
específico pela Espiritualidade, para ser lido pela pessoa encarregada, e
após comentado por todos.
Se houver a preferência por uma prece pronta, como o "Pai Nosso", por
exemplo, não há inconveniente nenhum, bastando que cada palavra seja
verdadeiramente pensada e sentida, em sua essência, qual diálogo real
com Deus.

2. Não fuja ao espírito do texto lido.


Às vezes o tema escolhido parece não vir de encontro ao que se esperava...
Por exemplo: alguém no grupo, ou a própria pessoa que promove o
evangelho, está passando por aflições no campo afetivo e o tema recai
sobre bens materiais, ou vice-versa. Há um certo desapontamento e a
sensação de que o canal de comunicação com o Plano Espiritual está
bloqueado, ou que o problema não está recebendo a devida consideração...
No entanto, é importante que o tema escolhido pelos benfeitores espirituais
seja debatido com todo o entusiasmo e concentração possíveis, na certeza
de que o problema que se esperava ver solucionado será avaliada com
muito carinho pelos mentores do grupo no momento oportuno.

3. Fale com naturalidade.


Não há a menor necessidade de se alterar o modo de falar ou de se
expressar, simplesmente porque o momento é solene. Adotar atitudes
estranhas ou empolar o linguajar podem causar impressão contrária à
desejada. Por exemplo, se você habitualmente se refere a si mesmo como
"eu", ou seja, na primeira pessoa do singular, não passe, de repente, a se
referir a si como "nós". Espontaneidade, eis a palavra-chave de uma
reunião de estudos agradável e produtiva. O momento exige respeito,
educação e sobriedade... mas não máscaras. Seja sempre você mesmo e
incentive o grupo a conservar a autenticidade, igualmente.

4. Não critique, a fim de que a sua palavra possa construir para o bem.
É quase impossível, nos dias atuais, não criticar-se algo. Critica-se o
governo, os políticos, o sistema financeiro, a polícia, os esportistas, a mídia,
as pessoas, o tempo... Sempre existe algo ou alguém em especial que está
fazendo alguma que nos desagrada imensamente. No entanto, surge o
evangelho em nossa vida justamente para que encontremos um
entendimento maior para com o mundo em que vivemos, que conquistemos
paciência, tolerância, compreensão, amor e misericórdia para com tudo e
com todos...
Quando criticamos, expondo o mal de outrem, estamos na verdade
perdendo tempo precioso que poderia ser empregado na busca de valores
morais mais elevados e mais justos em nosso próprio benefício, de vez que
também somos passíveis de errar neste ou naquele setor da vida.
Jesus salientava sempre que não se encontrava entre os homens para
julgar, mas sim para salvar... E salvar significa não ignorar o problema, mas
sim anotar-lhe o teor e buscar uma solução digna à sua erradicação.
Portanto, natural que se exponha algo que julguemos errado - sempre de
acordo com o texto selecionado -, mas é importante que se busque
soluções individuais para o problema, visto que mundo melhora sempre
quando nós nos tornamos melhores.

5. Não pronuncie palavras reprováveis ou inoportunas, suscetíveis de criar


imagens mentais de tristeza, ironia, revolta ou desconfiança.
Espiritismo é a doutrina da fé raciocinada e nela não cabem palavras quais
sorte, azar, desgraça, acaso, pecado, culpa, castigo e etc.
Comentários sobre tragédias, crimes e catástrofes também devem ser
evitados, por desnecessários ao momento.
Somos todos viajores no vale da experiência humana e quanto mais
esclarecidos quanto aos enigmas existenciais, menos devemos valorizar-lhe
os mecanismos inferiores de ação.
Importante também salientar que, havendo jovens à mesa, a linguagem
deverá ser leve e compreensível, porém jamais mesclada com as gírias e os
palavrões tão em voga e utilizados com desenvoltura pela sociedade atual.
É perfeitamente possível estar-se de acordo com a época sem contudo
sorver-lhe as inclinações e os vícios.
Outro motivo para acautelar-se contra palavras ou conceitos reprováveis ou
inoportunos, será a lembrança de que, provavelmente, se encontrarão no
ambiente espíritos desencarnados trazidos pelos Espíritos Benfeitores, e
que nem sempre estarão, em relação a nós, em posição de entendimento e
harmonia, paz ou boa vontade.

6. Não faça leitura, em voz alta, além de cinco minutos, para não cansar os
ouvintes.
Nem sempre aquilo que nos toca o coração, toca o coração do nosso
próximo... Por isso, não é necessário que se leia o texto escolhido na
íntegra, visto serem alguns deles, quais os encontrados nos livros da
Codificação, bastante longos e por isso mesmo cansativos para uma reunião
singela de estudos. Basta ler-se a introdução e depois fazer-se um breve
resumo do assunto, passando-se em seguida à explanação.

7. Converse ajudando aos companheiros, usando caridade e compreensão.


Um diálogo sereno, assentado sobre legítima orientação cristã, pode
produzir resultados surpreendentes visto que se estará sendo conduzido
pela Espiritualidade presente e que, conhecendo as dificuldades e os
questionamentos íntimos de cada um, buscará ministrar, através dos
próprios participantes, as respostas adequadas.

8. Não faça comparações, a fim de que seu verbo não venha ferir alguém.
Comparações serão sempre desnecessárias, notadamente no ambiente
doméstico. Recordemo-nos sempre de que cada pessoa é alguém com
atitudes e reações absolutamente singulares, e portanto sempre
diferenciadas, mesmo no seio de família homogênea.
Converse esclarecendo e auxiliando, referindo-se a cada um com o apreço
merecido.

9. Guarde tolerância e ponderação.


Em reuniões de estudo evangélico, e não obstante a elevação do momento,
podem surgir palavras ou colocações impróprias, por parte de algum dos
participantes.
Importante que se guarde tolerância e ponderação nesta hora, porque a
tolerância adoça o coração e a ponderação suaviza o verbo.
Toda contenda deve ser evitada para que o choque de opiniões não
desestabilize a reunião que deve sempre ser produtiva, em todos os
sentidos.

10. Não retenha indefinidamente a palavra; outros companheiros precisam


falar na sementeira do Bem.
Grande alegria se apossa de nossa alma quando, em clima de harmonia e
elevação, nos sentimos em contato com os nossos amigos do Mais Alto...
Sentimo-nos capazes de falar horas incontáveis, tamanha a torrente de
idéias luminosas que nos invadem o entendimento.
Porém, para quem ouve, esses momentos podem se transformar em
desconforto imenso se o palestrante se alonga em excesso, esquecendo-se
de dar a palavra aos demais.
Importante que se transforme a reunião, sempre, em verdadeiro diálogo
fraterno, na certeza de que somos todos portadores de informes
proveitosos ao ambiente que nos acolhe.

ANDRÉ LUIZ
(Mensagem recebida por Chico Xavier em 21 de março de 1952, no Centro
Espírita Luiz Gonzaga, Pedro Leopoldo, MG.)
Comentários (em itálico) sugeridos pelo Plano Espiritual em reunião do
Instituto André Luiz, em 07 de julho de 2002.)
Atenção: estes comentários foram indexados a título de complemento e não
fazem parte da mensagem original.

ROTEIRO PARA EVANGELHO NO LAR

Instituto André Luiz


http://institutoandreluiz.org/evangelho_no_lar.html

1. Escolha o dia de sua preferência. Sugerimos um dia de fácil


memorização, por exemplo, segunda ou sexta-feira.

2. Escolha um aposento silencioso e agradável da casa, de preferência a


sala de jantar, e que esteja com os aparelhos eletro-eletrônicos desligados.

3. Coloque uma jarra com água sobre a mesa, para fluidificação. Na falta
dessa podem ser utilizados copos, qualquer um, em número correspondente
aos integrantes do Evangelho.

4. Sentar-se à mesa sem alarde e sem barulho.

5. Fazer a prece de abertura, a que toque mais fundamente o sentimento


familiar. Pode ser uma prece pronta ou uma prece espontânea, o importante
é, repetimos, o sentimento da fé e a confiança na Proteção Divina.

6. Após, fazer uma leitura breve de O Evangelho Segundo o Espiritismo.


Comentar com palavras próprias o trecho lido. No início poderá existir certa
timidez mas, com o correr do tempo, os comentários surgirão
espontaneamente pois que os Espíritos amigos estarão auxiliando na
compreensão dos textos selecionados.

7. Os demais integrantes poderão tecer comentários também, caso o


desejem, mesmo que estes levem a assuntos pessoais e/ou a diálogos,
naturalmente que sempre pertinentes ao tema em foco.
O Evangelho no Lar é antes de tudo uma reunião de Espíritos reencarnados
no mesmo ambiente, buscando através da prece, da elevação de
pensamentos e do diálogo fraterno, o amparo e o auxílio do Mais Alto para
seus problemas e necessidades. Não deve ser jamais solene ou ritualístico,
com palavras e movimentos decorados a lembrar missas e demais cultos.

8. Para incentivar a participação dos filhos ou demais membros, com


exceção do pequeninos, é conveniente pedir que leiam mensagens
espíritas, para reflexão do grupo. Incentivar também, com carinho, o
comentário após a leitura. Sugerimos aqui os livros Fonte Viva e/ou Pão
Nosso, de Emmanuel, Agenda Cristã e/ou Sinal Verde, de André Luiz.

9. Proferir a prece de encerramento e rogar, como exemplo, pela paz,


harmonia, saúde e felicidade dos membros da reunião e de todos com os
quais convivem. Desejando, rogar também pelos doentes, desamparados e
infelizes da Terra. Por último, pedir a bênção de Deus para os familiares
desencarnados, sem temor. A lembrança da prece alegra e pacifica os que
partiram.

10. É completamente desaconselhável qualquer manifestação mediúnica


durante o Evangelho no Lar.

11. Servir, após a prece de encerramento, a água fluidificada.

12. Tempo: o necessário para a família. Sugerimos uma reunião de 15 a 30


minutos. Música: sim, se for do agrado de todos.
Sugerimos música instrumental, em volume baixo.

VISITE PÁGINA: http://institutoandreluiz.org/evangelho_no_lar.html


Roteiro elaborado pelo Instituto André Luiz
Site Espírita André Luiz - www.institutoandreluiz.org/

EVANGELHO E VIDA

Scheilla

No mundo de hoje, há boa vida e há vida boa.


Boa vida é bem-estar.
Vida boa é estar bem.
Por isso, temos criaturas de boa vida e criaturas de vida boa.
As primeiras servem a si mesmas.
As segundas respiram no auxílio incessante aos outros.
A boa vida tem rastros de sombra.
A vida boa apresenta marcas de luz.
A desordem favorece a boa vida.
A ordem garante a vida boa.
Palavra enfeitada costuma escorar voa vida.
Bom exemplo assegura vida boa.
Preguiça mora na boa vida.
Trabalho brilha na vida boa.
Ignorância escurece a boa vida.
Educação ilumina a vida boa.
Egoísmo alimenta a boa vida.
Caridade enriquece a vida boa.
Indisciplina é objetivo da boa vida.
Disciplina é roteiro da vida boa.

Vejamos as lições do Evangelho.


Madalena, obsidiada, perdera-se nos encantos da boa vida, mas encontrou
em nosso Divino Mestre a necessária orientação para vida boa.
Zaqueu, afortunado, apegara-se em demasia às posses efêmeras da boa
vida, entretanto, ao contato de Nosso Senhor, aprendeu como situar os
próprios bens na direção da vida boa.
Judas, os discípulo invigilante, procurando a boa vida, entregou-se à
deserção, e sentindo extrema dificuldade para voltar à vida boa, foi colhido
pela loucura.
Simão Pedro, o apóstolo receoso tentando conservar a boa vida,
instintivamente, negou o Divino Amigo por três vezes numa só noite,
entretanto, regressando, prudente, à vida boa, abraçou o sacrifício pela
própria ascensão, desde o dia de Pentecostes.
Pilatos, o juiz dúbio, interessado em desfrutar boa vida, lavou as mãos
quanto ao destino do Excelso Benfeitor, adquirindo o arrependimento e o
remorso que o distanciaram da vida boa.Todos os que crucificaram Jesus
pretendiam guardar-se nas ilusões da boa vida, no entanto, o Senhor
preferiu morrer na cruz da extrema renúncia para ensinar-nos o caminho da
vida boa.

Como é fácil observar, nas estradas terrestres, há muita gente de boa vida e
pouca gente de vida boa, porque a boa vida obscurece a alma e a vida boa
mantém a consciência acordada para o desempenho das próprias
obrigações.
Estejamos alertas quanto à posição que escolhemos, porquanto, pelo tipo
de nossa experiência diária, sabemos com segurança em que espécie de
vida seguimos nós.

Scheilla
(Do livro “Comandos do Amor”, Francisco Cândido Xavier)

"A proteção da Esfera Superior é inegável para todos nós que ainda nos
movimentamos na sombra.
Ai de nós, todavia, se não procurarmos as bênçãos da luz!..." - André Luiz

ESTUDO DAS DOENÇAS MENTAIS


ENCERRAMENTO
Cap. 16 - Alienados mentais

Antes de visitarmos as cavernas de sofrimento, Calderaro instou-me a


faser com ele rápida visita a grande instituto Consagrado ao recolhimento
de alienados mentais, na Esfera da Crosta.
— Compreenderás, então, mais exatamente —explicou, generoso,
dirigindo-se a mim com a delicadeza que lhe é peculiar — a tragédia dos
homens desencarnados, em pleno desequilíbrio das sensações. Excetuados
os casos puramente orgânicos, o louco é alguém que procurou forçar a
libertação do aprendizado terrestre, por indisciplina ou ignorância. Temos
neste domínio um gênero de suicídio habilmente dissimulado, a auto-
eliminação da harmonia mental, pela inconformação da alma nos quadros
de luta que a existência humana apresenta. Diante da dor, do obstáculo ou
da morte, milhares de pessoas capitulam, entregando-se, sem resistência, à
perturbação destruidora, que lhes abre, por fim, as portas do túmulo. A
princípio, são meros descontentes e desesperados, que passam des-
percebidos mesmo àqueles que os acompanham de mais perto. Pouco a
pouco, no entanto, transformam-se em doentes mentais de variadas
gradações, de cura quase impossível, portadores que são de problemas
inextricáveis e ingratos. Imperceptíveis frutos da desobediência começam
por arruinar o patrimônio fisiológico que lhes foi confiado na Crosta da
Terra, e acabam empobrecidos e infortunados. Aflitos e semimortos, são
eles homens e mulheres que desde os círculos terrenos padecem, en-
covados em precipícios infernais, por se haverem rebelado aos desígnios
divinos, preterindo-os, na escola benéfica da luta aperfeiçoadora, pelos ca-
prichos insensatos.
Guardando carinhosamente a observação, acompanhei-o na excursão
matinal ao grande estabelecimento, onde os mentecaptos eram em grande
número.
No primeiro pátio que topamos, compacta era a quantidade de
mulheres desequilibradas que palestravam.
Uma velha de cabelos nevados, mostrando acerba ferocidade no olhar,
envergava o uniforme da casa, como quem arrastasse um vestido real, e
dizia a duas companheiras apáticas:
— Na minha qualidade de marquesa, não tolero a intromissão de
médicos inconscientes. Creio estar presa por motivos secretos de família,
que averiguarei na primeira oportunidade. Tenho poderosos inimigos na
Corte; contudo, as minhas amizades são mais prestigiosas e fiéis.
Baixou a voz, como receando espias ocultos, e falou ao ouvido de uma
das irmãs de sofrimento:
— O Imperador está interessado em meu caso e punirá os culpados.
Segregaram-me por miseraveis questões de dinheiro.
Elevando o diapasão, inesperadamente, bradou:
— Todos pagarão! Todos pagarão!
E continuava explicando-se com gestos de grande senhora.
Compungia-me observar a promiscuidade entre as enfermas
encarnadas e as entidades infelizes, que ali se acotovelavam. Preso ainda
ao meu antigo vezo de curiosidade, tentei estacar, a fim de ouvir a demente
até ao fim, mas o Assistente deu-se pressa em considerar:
— Não nos detenhamos. Infelizmente, atraVessamos vasta galeria de
padecimento expiatório, onde nossos recursos socorristas não ofereceriam
vantagens imediatas. Aqui, quase todos os alienados são criaturas que
abdicaram a realidade, atendo-se a circunstâncias do passado sem mais
razão de ser. Essa desventurada irmã já possuiu titulos de nobreza em
existência anterior; perpetrou clamorosas faltas, dando expansão às
energias cegas do orgulho e da vaidade. Renascendo em aprendizado
humilde para o reajustamento imprescindível, alarmou-se ante as primeiras
provações mais rudes da correção benfeitora, reagiu contra os resultados
da própria sementeira, entregou o invólucro físico ao curso de ocorrências
nefastas; e, por fim, situou-se mentalmente em zonas mais baixas da
personalidade, passando a residir, em pensamento, no pretérito de mentiras
brilhantes. Agarrou-se, desesperada, às recordações da marquesa vaidosa
de salões que já desapareceram, e perambula nos vales da demência em
lastimáveis condições.
Não déramos muitos passos, encontramos novo ajuntamento, em que
sobressaía curiosa dama, extremamente nervosa.
— Deus me livre de todos, Deus me livre de todos! — gritava, inquieta.
— Não voltarei! nunca, nunca!...
Aproxima-se, cordata, a enfermeira, e pede:
— Senhora, mais calma! É seu marido que vem à visita. Vamos ao
guarda-roupa.
E sorrindo:
— Não se sente feliz?
— Jamais! — bradava a demente com espantoso semblante de angústia.
— Não quero vê-lo! odeio-o, odeio, com tudo o que lhe pertence!
tRepetindo expressões de desprezo, inteiriçou-se, caindo em lamentável
crise de nervos, pelo que a auxiliar da enfermagem houve que requisitar so-
corro urgente.
Desejei reter-me, a fim de estudar a situação, mas o Assistente impediu-
me, esclarecendo:
— Não percas tempo. Não remediarias o mal. Nossa passagem aqui é
rápida. Recomendo apenas anotes o refúgio de todos os que se esquecem
dos deveres presentes, pretendendo escapar aos imperativos da realidade
educadora.
Modificou a inflexão da voz e prosseguiu:
— Não asseguramos que todos os casos do hospício se relacionem
exclusivamente com esse fator. Muita gente atravessa este paVorosO túnel,
premida por exigências da prova retificadora; é, no entanto, forçoso
reconhecer que a maioria encetou o pungitivo drama em si mesma. São
irmãos nossos, revoltados ante os desígnios superiores que os conduzirem a
recapitular ensinamentos difíceis, qual o de se reaproximarem de velhos
inimigos por intermédio de laços consangüíneos ou o de enfrentarem
obstáculos aparentemente insuperáveis.
“Para que se efetue a jornada iluminativa do espírito é indispensável
deslocar a mente, revolver as idéias, renovar as concepções e modificar,
invariavelmente, para o bem maior o modo Intimo de ser, tal qual
procedemoS com o solo na revivificação da lavoura produtiva ou com
qualquer instituto humano em reestruturação para o progresso geral.
Negando-Se, porém, a alma a receber o auxilio divino, através dos
processos de transformação incessante que lhe são oferecidos, em seu be-
nefício próprios pelas diferentes situações de que os dias se compõem no
aprendizado carnal, recolhe-se á margem da estrada, criando paisagens
perturbadoras com desejos injustificáveis.
Quase podemos afirmar que noventa em cem dos casos de loucura,
excetuados aqueles que se originam da incursão microbiana sobre a
matéria cinzenta, começam nas conseqüências das faltas graves que
praticamos, com a impaciência ou com a tristeza, isto é, por intermédio de
atitudes mentais que imprimem deploráveis reflexos ao caminho daqueles
que as acolhem e alimentam. instaladas essas forças desequilibrantes no
campo íntimo, inicia-se a desintegração da harmonia mental: esta por vezes
perdura, não só numa existência, mas em várias delas, até que o
interessado se disponha, com fidelidade, a valer-se das bênçãos divinas que
o aljofram, para restabelecer a tranqüilidade e a capacidade de renovação
que lhe são inerentes à individualidade, em abençoado serviço evolutivo.
Pela rebeldia, a alma responsável pode encaminhar-se para muitos crimes,
a cujos resultados nefastos se cativa indefinidamente; e, pelo desânimo, é
propensa a cair nos despenhadeiros da inércia, com fatal atraso nas
edificações que lhe cabe providenciar.
Nesse ponto dos esclarecimentos, penetrávamos extensa varanda no
departamento masculino e logo se nos deparou um homem que decerto se
enquadrava entre os esquizofrênicos absolutos. Rodeavam-no algumas
entidades de sombrio aspecto. Semelhava-se o doente a perfeito autômato,
sob o guante de tais companheiros. Exibia gestos maquinais, e, ao guarda
que se aproximava, cauteloso, explicou em tom muito sério:
— Venha, “seus João. Não tenha receio. Ontem eu era o “leão”, mas
hoje, sabe o senhor o que eu sou?
Ante o enfermeiro hesitante, concluiu:
— Hoje sou a “bananeira”.
Encontraria, eu, sem dúvida, no caso, excelente ensejo de enriquecer
experiências, porqüanto de pronto reconhecera a entrosagem completa en-
tre a vitima e os obsessores que lhe eram invisíveis. O desditoso era
rematado fantoche nas mãos dos algozes tipicamente perversos.
Calderaro, porém, não me permitiu interromper a marcha.
— O processo de desequilíbrio está consumado — informou —, e não
encontrarias possibilidade de recompor-lhe, em serviçO rápido, as energias
mentais centralizadas na região inferior. O infeliz vem sendo objeto de
práticas hipnóticas de implacáveis perseguidores; acha-se exposto a
emissões contínuas de forças que o deprimem e enlouquecem.
— Céus! — exclamei, aparvalhado — como socorrê-lo?
— Trata-se de um homem — acrescentou o orientador — que em
encarnações anteriores abusou do magnetismo pessoal.
Não pude sopitar a objeção que me nasceu espontânea:
— Como? as ciências magnéticas são de ontem...
Calderaro estampou no olhar a condescendência que lhe é
característica e retorquiu:
— Acreditas que teriam sido iniciadas com Mesmer?
E, sorridente, ajuntou:
— Se consideráramos o sentido literal do texto, o abuso de magnetiSmo
pessoal teria começado com Eva, no paraíso...
Indicou o enfermo e prossegUiU:
— Em pretérito não muito remoto, nosso imprevidente amigo se excedeu
em seu potencial de fascínio, desviando-o para aventuras menos dignas.
Várias mulheres que lhe sofreram a ação corrosiva, assestaram contra ele
incessantes explosões de ódio doentio e corruptor, extravasamentos que o
pobre companheiro merecia em conseqüência da atividade condenável a
que se dedicou por muitos anos. Minado pela reação persisttente, minguou-
lhe o cabedal de resistência; converteu-se, destarte, em joguete das forças
destrutivas, às quais, a bem dizer, voluntariamente se unira, ao abraçar,
entusiasta, a declarada prática do mal. Até quando se demorará em tal
atitude, não será possível prever. Geralmente, ao delinqüirmos, podemos
precisar o instante exato de nossa penetração na desarmonia; jamais
sabemos, porém, quando soará o momento de abandoná-la. No retorno à
estrada reta, através de atoleiros em que chafurdamos, por indiferença e
má fé, não podemos prefixar calendários para a volta: implicamo-nos em
jogos circunstanciais, de que só nos despeamos após doloroso
reajustamento...
Observando-me a admiração, ante a experiência hipnótica que os frios
verdugos levavam a efeito, o Assistente considerou:
— Não te impressiones. A morte física não modifica de súbito as
inteligências votadas ao mal, nem o duelo da luz com a sombra se adstringe
aos estreitos círculos carnais.
Logo após, éramos surpreendidos por dois velhinhos atoleimados, a
pronunciar frases desconexas.
— O tempo — elucidou o orientador, indicando-os — acaba sempre por
denunciar a nossa posição verdadeira. Quando a criatura não haja feito da
existência o sacerdócio de trabalho construtivo, que nos cumpre na Terra,
os fenômenos senis do corpo são mais tristes para a alma, pois, neste caso,
o indivíduo já não domina as conveniências forjadas pelo imediatismo
humano, patenteando-se-lhe a fixação da mente nos impulsos inferiores.
Milhões de irmãos nossos permanecem, séculos afora, na fase infantil do
entendimento, por não se animarem ao esforço de melhoria própria. En-
quanto recebem a transitória cooperação de saúde física relativa, das
convenções terrenas, das possibilidades financeiras e das variadas
impressões passageiras que a existência na Crosta Planetária oferece aos
que passam pela carne, esteiam-se nos títulos de cidadãos que a sociedade
lhes confere; logo, porém, que visitados pelo morbo, pela escassez de
recursos ou pela decrepitude, revelam a infância espiritual em que jazem:
voltam a ser crianças, não obstante a idade provecta manifestada pelo
veículo de ossos, por se haverem excessivamente demorado nos sítios
superficiais da vida.
A exposição não podia ser mais lógica; todavia, examinando aquele
vasto ambiente, onde tantos loucos de ambos os sexos modorravam
distantes do realismo do mundo, sem a mais leve perspectiva de
desencarnação próxima, pensei nas criaturas que já renascem imperfeitas e
perturbadas; nas crianças atrasadas e nos moços em luta com a demência
juvenil; nas fobias sem número que amofinam pessoas respeitáveis e
prestativas, e solicitei, então, do instrutor esclarecimentos sobre os quadros
de sofrimento desse jaez, que de improviso assaltam os ambientes
domésticos mais distintos.
O Assistente não se surpreendeu, e observou:
— Estudamos aqui, André, a messe das sementeiras, assim do presente,
como do passado. Ponderamos não só a aprendizagem de uma existência
efêmera, mas também a romagem da alma nos caminhos infinitos da vida,
da vida imperecível que segue sempre, vencendo as imposições e as
injunções da forma, purificando-se e santificando-se cada dia. Verificarás,
conosco, afligente quadro de padecimentos espirituais, e é provável que
apreendas, num hospício humano, algo dos desequilíbrios que afetam a
mente desviada das Leis Universais. Em verdade, na alienação mental co-
meça a «descida da alma às zonas inferiores da morte». Através do
manicômio é possível entender, de certo modo, a loucura dos homens e das
mulheres que, aparentemente equilibrados no campo social da Crosta
Terrestre, onde permutam os eternos valores divinos por satisfações
ilusórias imediatas, são relegados depois, além do sepulcro, a inominável
desespero do sentimento. Quanto às perturbações que acompanham a alma
no renascimento ou na infância do corpo, na juventude ou na senilidade, é
mister reconhecer que o desequilíbrio começa na inobservância da Lei,
como a expiação se inicia no crime. Adotada a conduta em desacordo com a
realidade, encontra o espírito, invariavelmente, em todos os círculos onde
se veja, os efeitos da própria ação. Seja nos mecanismos da hereditariedade
fisiológica, seja fora de sua influência, a mente, encarnada ou não, revela-se
na colheita do que haja semeado, no campo de evolução do esforço comum,
no monte da elevação pela prática do sumo bem, ou no vale expiatório pelo
exercício do mal.
O Assistente, que se dispunha a retirar-se, fitou-me demoradamente, e
rematou:
- O louco, em geral, considerando-se não só o presente, senão até o
passado longínquo, é alguém que aborreceu as bênçãos da experiência
humana, preferindo segregar-se nos caprichos mentais; e a entidade
espiritual atormentada após a morte é sempre alguém que deliberadamente
fugiu às realidades da Vida e do Universo, criando regiões purgatórias para
si mesmo.
Compreendeste?
Fixei o instrutor, reconhecidamente.
Sim, havia entendido. E, ponderando a lição da manhã, segui o
orientador, que silente abandonava o campo de observação, a fim de mais
tarde nos avistarmos com os benfeitores que visitariam as cavernas, em
missão de amor e de paz.

___________________________________________________________________________

ALIENAÇÃO MENTAL

Emmanuel
Reunião pública de 23/1/59
Questão nº 373

Enquanto o vício se nos reflete no corpo, os abusos da consciência se nos


estampam na alma, segundo a modalidade de nossos desregramentos.
É assim que atravessam as cinzas da morte, em perigoso desequilíbrio da
mente, quantos se consagraram no mundo à crueldade e à injustiça,
furtando a segurança e a felicidade dos outros. Fazedores de guerra que
depravaram a confiança do povo com peçonhento apetite de sangue e ouro,
legisladores despóticos que perverteram a autoridade, magnatas do
comércio que segregaram o pão, agravando a penúria do próximo,
profissionais do direito que buscaram torturar a verdade em proveito do
crime, expoentes da usura que trancafiaram a riqueza coletiva necessária
ao progresso, artistas que venderam a sensibilidade e a cultura,
degradando os sentimentos da multidão, e homens e mulheres que
trocaram o templo do lar pelas aventuras da deserção, acabando no suicídio
ou na delinqüência, encarceram-se nos vórtices da loucura, penetrando,
depois, na vida espiritual como fantasmas de arrependimento e remorso,
arrastando consigo as telas horripilantes da culpa em que se lhes agregam
os pensamentos.
E a única terapêutica de semelhantes doentes é a volta aos berços de
sombra em que, através da reencarnação redentora, ressurgem no vaso
físico — cela preciosa de tratamento —, na condição de crianças-problemas
em dolorosas perturbações.

Todos vós, desse modo, que recebestes no lar anjos tristes, no eclipse da
razão, conchegai-os com paciência e ternura, porquanto são, quase sempre,
laços enfermos de nosso próprio passado, inteligências que decerto
auxiliamos irrefletidamente a perder e que, hoje, retornam à concha de
nossos braços, esmolando entendimento e carinho, para que se refaçam, na
clausura da inibição e da idiotia, para a bênção da liberdade e para a glória
da luz. (Emmanuel, do livro "Religião dos Espíritos", 6, FCXavier, FEB)

DOENÇAS DA ALMA
Emmanuel

Na forja moral da luta em que temperas o caráter e purificas o sentimento,


é possível acredites estejas sempre no trato de pessoas normais,
simplesmente porque se mostrem com a ficha de sanidade física.

Entretanto, é preciso lembrar que as moléstias do espírito também se


contam.
O companheiro que te fala, aparentemente tranqüilo, talvez guarde no peito
a lâmina esbraseada de terrível desilusão.

A irmã que te recebe, sorrindo, provavelmente carrega o coração ensopado


de lágrimas.

Surpreendeste amigos de olhos calmos e frases doces, dando-te a


impressão de controle perfeito, que soubeste, mais tarde, estarem
caminhando na direção da loucura.

Enxergaste outros, promovendo festas e estadeando poder, a


escorregarem, logo após, no engodo da delinqüência.
É que as enfermidades do espírito atormentavam as forças da criatura, em
processos de corrosão inacessíveis à diagnose terrestre.
Aqui, o egoísmo sombreia a visão; ali, o ódio empeçonha o cérebro; acolá, o
desespero materializa fantasmas; adiante, o ciúme converte a palavra em
látego de morte...

Não observes o semelhante pelo caleidoscópio das aparências.

É necessário reconhecer que todos nós, espíritos encarnados e


desencarnados em serviço na Terra, ante o volume dos débitos que
contraímos nas existências passadas, somos doentes em laboriosa
restauração. O mundo não é apenas a escola, mas também o hospital em
que sanamos desequilíbrios recidivantes, nas reencarnações regenerativas,
através do sofrimento e do suor, a funcionarem por medicação compulsória.

Deixa, assim, que a compaixão retifique em ti próprio os velhos males que


toleras nos outros. Se alguém te fere ou desgosta, debita-lhe o gesto menos
feliz à conta da moléstia obscura de que ainda se faz portador. Se cada
pessoa ofendida pudesse ouvir a voz inarticulada do Céu, no instante em
que se vê golpeada, escutaria, de pronto, o apelo da Misericórdia Divina:
“Compadece-te”.

Todos somos enfermos pedindo alta.

Compadeçamo-nos uns dos outros, a fim de que saibamos auxiliar.

E mesmo que te vejas na obrigação de corrigir alguém — pelas reações


dolorosas das doenças da alma que ainda trazemos —, compadece-te mil
vezes antes de examinar uma só. (Emmanuel, do livro Justiça Divina,
Francisco Cândido Xavier)

OUTRO LADO: PARA LER E ANALISAR: SOFRER É SEMPRE RUIM?

O LADO BRILHANTE DA DEPRESSÃO


Pesquisadores sugerem que a depressão não é uma desordem
mental, mas uma adaptação que serve para analisar melhor
problemas
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI90115-15257,00.html
27/08/2009 - 15:01 - Atualizado em 27/08/2009 - 15:26
(REDAÇÃO ÉPOCA) Os cientistas americanos Paul Andrews e J. Anderson
Thomson escreveram esta semana para a revista Scientific American
explicando o artigo The bright side of being blue: Depression as an
adaptation for analyzing complex problems (O lado brilhante de estar triste:
Depressão como uma adaptação para analisar problemas complexos, em
uma tradução livre), publicado recentemente por eles no periódico científico
Psychological Review. Para Andrews e Thomson, a depressão não é uma
desordem mental, mas uma adaptação que, apesar de dificultar em vários
aspectos a vida das pessoas que se encontram nesse estado, também traz
benefícios.

"Isso não quer dizer que a depressão não seja um problema", escreveram os
pesquisadores na Scientific American. "Pessoas depressivas têm problemas
em realizar atividades diárias, não conseguem se concentrar em seus
trabalhos, tendem a se isolar, são letárgicas, e muitas vezes perdem a
capacidade de sentir prazer em atividade como comer e fazer sexo".

Mas mesmo com todos esses problemas, Andrews e Thomson acreditam


que exista algo útil sobre a depressão: depressivos, os cientistas afirmam,
pensam mais intensamente em seus problemas; ficam meditando sobre
esses problemas e têm dificuldade em pensar sobre qualquer outra coisa.
Segundo Andrews e Thomson, diversos estudos mostram que esse tipo de
pensamento pode ser altamente analítico. "[Pessoas em depressão]
demoram-se em um problema complexo, dividindo-o em componentes
menores, que são considerados um de cada vez", afirmam. "Esse estilo de
pensamento analítico pode ser bastante produtivo".

Andrews e Thomson afirmam ter encontrado evidências de que pessoas que


ficam mais deprimidas enquanto resolvem um problema complexo em um
teste de inteligência tiram notas maiores no teste; pessoas em depressão
também resolvem mais facilmente dilemas sociais. Para eles, a
possibilidade de "ligar" um estado de depressão parece ser uma habilidade
importante, não apenas uma desordem ou um acidente, que serve para
resolver um problema social complexo.

TRISTEZA NÃO É DOENÇA


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78970-9556-
486,00.html
Entrevistas da Semana
08/09/2007 - 00:04 | Edição nº 486

Sociólogo americano diz que a psiquiatria transformou um


sentimento normal em um problema médico
Entrevista com o sociólogo Allan V. Horwitz
por SUZANE FRUTUOSO

Ficar triste dói. O sentimento pode ser passageiro ou durar muito tempo.
Mesmo nesses casos, não significa que ele só possa ser superado com
remédios, diz o sociólogo americano Allan V. Horwitz. O livro que lançou nos
Estados Unidos em julho, The Loss of Sadness: how Psychiatry Transformed
Normal Sorrow into Depressive Disorder (A Perda da Tristeza: como a
Psiquiatria Transformou a Tristeza Comum em Desordem Depressiva), em
parceria com o psiquiatra Jerome Wakefield, é uma tentativa de alertar
sobre o que considera um excesso de diagnósticos de depressão.

ÉPOCA – O que significa a “perda da tristeza” que dá nome ao livro?


Allan V. Horwitz – Tristeza é a resposta normal a perdas que sofremos na
vida. Agora se tornou comum chamá-la de “depressão”. Algo normal foi
transformado em doença. A cultura dos antidepressivos transformou em
doença dificuldades que fazem parte da vida.

ÉPOCA – Segundo calcula a Organização Mundial da Saúde (OMS), 121


milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. O que o senhor acha
desse número?
Horwitz – É uma estimativa muito elevada. A OMS usa os sintomas da
tristeza, que até podem ser os mesmos da depressão, sem considerar o
contexto do acontecimento que deixou a pessoa triste. Incluem na mesma
estatística quem sente uma tristeza normal e quem realmente é depressivo.

ÉPOCA – Que sintomas caracterizam a tristeza e a depressão?


Horwitz – Segundo o manual de diagnósticos da psiquiatria (DSM-4), se
cinco sintomas de uma lista de nove durarem mais de duas semanas, os
médicos dizem que há depressão. São eles: perda do humor; perda de
interesse por atividades prazerosas; ganho de peso ou perda de apetite;
insônia ou excesso de sono; agitação ou apatia; cansaço; sentimento de
culpa e baixa auto-estima; dificuldade de concentração e de decisão;
pensamentos recorrentes sobre morte ou tentativa de suicídio.

ÉPOCA – Então, qual é a diferença entre tristeza e depressão?


Horwitz –Ficamos naturalmente tristes pelas perdas do dia-a-dia, como de
um relacionamento amoroso, de um emprego, de uma notícia de que seu
estado de saúde não é bom. Ou quando há condições estressantes – como a
pobreza – ou relações sociais em que se sofrem abusos, como os de poder.
São situações ruins, mas sofrê-las não significa que algo esteja errado. É
diferente da depressão, que surge sem razão específica. Não precisa ter
acontecido algo terrível para surgir a depressão, que tem características
biológicas. Ainda assim, a maior diferença não é o que acontece no cérebro.
É o que ocorre dentro do contexto social. É dar à tristeza o ar de doença.

ÉPOCA – Depois de quanto tempo a tristeza passa a ser um quadro


preocupante?
Horwitz – Não existe uma linha divisória definida. Podemos dizer que se uma
tristeza dura mais de dois meses algo pode estar errado. Mas não significa
que não tenha solução. O que importa é que estão tratando quem levou um
fora do namorado e não consegue se concentrar, dormir ou comer direito da
mesma maneira que a alguém com sintomas que persistem por longos
períodos. Ficar na fossa quando um namoro acaba é a resposta natural a
um estresse, e não um distúrbio mental.

ÉPOCA – A tristeza pode ser boa? O que podemos aprender com ela?
Horwitz – Uma situação dolorosa nunca é boa. A tristeza que envolve a
perda pela morte de alguém que foi importante para nós é dura e custa a
passar. Por outro lado, a perda do emprego e o fim de um relacionamento
amoroso são circunstâncias que nos fazem parar para pensar. Revemos
defeitos, analisamos conseqüências de nossos atos. Isso ajuda a encontrar
equilíbrio na hora de começar de novo. A pessoa ganha maturidade.

ÉPOCA – O sentimento de perda provocado pela morte de alguém que


amamos é depressão?
Horwitz – Não. É uma situação pesada. Mas a perda pela morte também faz
parte da vida. Todos vamos perder pessoas queridas, e todos vamos morrer.

ÉPOCA – Como superar as fases mais complicadas?


Horwitz – O melhor a fazer é conversar com pessoas próximas. Falar com
amigos e parentes. Procurar o apoio de quem nos conhece é o remédio
ideal. A terapia também pode ajudar. Especialmente nos casos em que a
tristeza se prolonga.

ÉPOCA – Desde quando a tristeza passou a ser medicada como doença?


Horwitz – Desde 1980, quando a Associação Americana de Psiquiatria lançou
uma nova versão do manual de diagnósticos, que hoje está na quarta
versão. O diagnóstico para distúrbios mentais se tornou generalista. Se
alguém apresentar cinco sintomas daquela lista, é depressivo. Mas os
médicos não se preocupam em questionar as circunstâncias.

"Ficar na fossa quando um namoro acaba é a resposta natural a um


estresse. Não é um distúrbio mental."

ÉPOCA – Qual é a responsabilidade dos médicos nesse cenário?


Horwitz – Os médicos deixaram de considerar em que contexto esses
sintomas surgem. Sei que no fundo é difícil para eles investigar as causas
da tristeza, porque gastam no máximo 15 minutos com um paciente. É um
contato muito breve – e fica mais fácil receitar uma pílula. Nem sempre é o
que acreditam ser o melhor. Mas eles são pressionados pelo sistema de
saúde – especialmente nos Estados Unidos – a não se prolongar em
consultas. Os médicos estão falhando. Mas existem razões para essa falha.

ÉPOCA – E o paciente? Tem culpa?


Horwitz – Sim. Os médicos também cedem àquilo que o paciente deseja.
Eles receitam o que o paciente pede quando chega ao consultório. Se não
há evidências de que o paciente realmente sofre de algum transtorno, é
uma atitude irresponsável.

ÉPOCA – O que é mais grave: tomar antidepressivos sem precisar ou ter


uma depressão não tratada?
Horwitz – Alguém com depressão realmente precisa de tratamento. A
intenção de nosso livro não é dizer que pessoas com problemas reais não
devam ser tratadas da forma adequada, com remédios. Mas nos últimos
anos ficou claro que consumir antidepressivos sem necessidade é um
perigo. As duas situações são alarmantes.

ÉPOCA – A indústria farmacêutica colaborou para essa cultura de tratar a


tristeza com medicamentos?
Horwitz – A indústria farmacêutica ganha muito dinheiro com
antidepressivos. Promove esses produtos com anúncios mostrando pessoas
felizes, que superaram seus problemas ao engolir uma pílula. É uma cena
comum apresentada na publicidade. São casais, pais e filhos em situações
do cotidiano, da família, do trabalho, que estão bem graças a um remédio. É
um marketing poderoso e perigoso.

Allan V. Horwitz
QUEM É
Americano, tem 59 anos. Nasceu em Minneapolis, no Estado de Minnesota.
Divorciado, tem três filhas
PROFISSIONAL
Professor de Ciências Sociais e do Comportamento e diretor do Pós-
Doutorado em Doenças Mentais da Universidade Rutgers, do Estado de
Nova Jersey
O QUE PUBLICOU
É autor também de Creating Mental Illness (Criando Doenças Mentais), de
2002

O VALOR DA TRISTEZA
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG82052-8055-511,00-
O+VALOR+DA+TRISTEZA.html
29/02/2008 - 23:35 | Edição nº 511

Um estudo questiona a eficácia dos antidepressivos. E novas pesquisas


mostram que a infelicidade pode ser boa para nós.

Quando foi lançado nos Estados Unidos, em 1987, o mais famoso


medicamento antidepressivo do mundo chegou a ser apontado, pela revista
Scientific American, como um “anjo que ilumina as trevas da alma”. O
Prozac foi o primeiro de uma série de remédios que visam alterar o nível de
serotonina, uma substância química do cérebro relacionada à sensação de
prazer. Com as mudanças das últimas duas décadas no modo como a
ciência médica encara a depressão, esses medicamentos se tornaram
campeões de venda. O número de pílulas consumidas no mundo inteiro
pulou de 4 bilhões, em 1995, para 10 bilhões, em 2004, um aumento de
150%. No Brasil, também se registrou um salto. Há três anos, 20,6 milhões
de comprimidos foram vendidos no país. No ano passado, foram 24,4
milhões (um aumento de 18,5%). Por isso, um estudo lançado na semana
passada na Public Library of Science Medicine (Biblioteca Pública da Ciência
Médica) causou grande impacto. O pesquisador Irving Kirsch, da
Universidade de Hull, no Reino Unido, e seus colegas revisaram os estudos
clínicos de vários antidepressivos e concluíram que, nos casos de depressão
leve, seus efeitos não são melhores que os de placebos. (Os placebos,
pílulas sem substância ativa, são usados em um grupo separado de
pacientes para avaliar quanto da melhora se deve ao remédio e quanto
apenas ao efeito psicológico de ser atendido e medicado.)

Kirsch utilizou estudos que a indústria não havia divulgado. Os laboratórios


foram obrigados a liberá-los pela Food And Drug Administration, o órgão
regulador de medicamentos dos Estados Unidos. A indústria rebateu a
conclusão, dizendo que Kirsch analisou poucos estudos. Além disso, outro
estudo, lançado também na semana passada pelo Escritório Nacional de
Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos, afirma que o uso de
antidepressivos ajuda a diminuir a taxa de suicídios. Essa discussão
provavelmente terá vida longa. E dá força a uma questão de fundo: s por
que buscamos com tamanha avidez a felicidade? Boa parte do sucesso dos
remédios está não numa epidemia de depressão, como apontou o psiquiatra
Derek Summerfield em um recente artigo no Journal of the Royal Society of
Medicine, mas numa “epidemia de receitas de antidepressivos”.
Os antidepressivos são um avanço extraordinário, diz o psiquiatra paulista
Renato Del Sant, diretor do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas. “Mas, para receitá-los, é preciso uma avaliação longa
e precisa. Hoje, os psiquiatras estão mais preocupados em acompanhar os
avanços da neurociência do que em se debruçar no histórico do paciente,
muitas vezes até por falta de tempo. Por isso, o diagnóstico está cada vez
mais superficial.”

Nessas horas, confunde-se tristeza com depressão. E dá-lhe remédio. É


como se quiséssemos abolir de nossa vida toda e qualquer contrariedade.
“Eu não tenho problemas de depressão, apenas de mau humor e timidez”,
diz um internauta da comunidade Confissões de um Prozaquiano, que tem
160 membros no site de relacionamento Orkut. “Uso pelo estresse do dia-a-
dia mesmo. É um santo remédio.” O próprio Del Sant é um exemplo contra
o abuso. No ano passado, uma de suas filhas, Carlota, sofreu um acidente
de trânsito e está em coma até agora. Já passou por 16 cirurgias. “Eu,
minha mulher, Solange, e minha outra filha, Lorena, estamos
profundamente tristes. Muitas vezes, choramos. Sentimos falta da nossa
Carlota. Mas não estamos depressivos.” Assustado com a enorme indústria
que se formou em torno de nossa necessidade de ser felizes acima de tudo,
um dos pioneiros do estudo da felicidade, o psicólogo americano Edward
Diener – por muito tempo alcunhado de Doutor Felicidade – voltou atrás.
Não à toa, seu próximo livro, em parceria com o filho, Robert Biswas-Diener,
terá o título de Rethinking Happiness (Repensando a Felicidade). Diener não
renega sua tese central, de que as pessoas felizes vivem mais (por ter
sistemas imunes mais fortes) e são mais bem-sucedidas. Mas ele
aprofundou suas pesquisas. Em geral, os estudos sobre o tema comparam
pessoas felizes com pessoas infelizes. Desta vez, Diener comparou pessoas
felizes e pessoas extremamente felizes. Aí, o resultado é outro. Os
extremamente felizes vivem menos que os moderadamente felizes, e são
menos bem-sucedidos.

Sua conclusão: há um nível de felicidade ótimo, além do qual ela se torna


mais prejudicial que benéfica. Segundo ele, numa escala de 0 a 10, sendo 0
o sujeito miserável e 10 a pessoa inabalavelmente contente, o melhor é
uma nota 8, nível médio de felicidade. Ele garante uma existência aprazível
e traz uma margem de insatisfação que evita a letargia. Como diz Diener,
há uma lista enorme de pessoas que querem que você seja mais feliz – não
importa quanto você já seja. Essa lista inclui os ativistas da psicologia
positiva, uma corrente que se tornou preponderante nos Estados Unidos no
fim da década de 90 e afirma que, em vez de apenas curar doenças, a
medicina da mente deve tratar de elevar nosso bem-estar. Também inclui
os autores de livros com receitas para sermos mais contentes, os políticos
em quem você votou (porque a probabilidade é que os reeleja), os
profissionais de auto-ajuda, os técnicos de laboratórios que buscam drogas
cada vez mais eficazes para combater a tristeza. Até sua mãe, “porque ela o
ama e provavelmente se sentirá um fracasso se você for uma pessoa
infeliz”. Há, no entanto, uma corrente cada vez mais vigorosa contra essa
indústria da felicidade. Ela inclui quatro vertentes de combate:
1. Felicidade tem limite Nesse campo estão os argumentos apresentados
por Diener: ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna
as pessoas menos capazes, menos saudáveis, menos atentas a riscos. Além
do pragmatismo de Diener, há uma questão de essência. “Cedo ou tarde na
vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é
irrealizável”, escreveu o escritor italiano Primo Levi, um sobrevivente de um
campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. “Poucos,
porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a
infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os
estados-limite são da mesma natureza, eles vêm de nossa condição
humana, que é contra qualquer ‘infinito’.”

Há ainda uma terceira forma de entender os limites da felicidade. Só


conseguimos ter a percepção de um sentimento em comparação com
outros estados de ânimo. Como demonstram vários estudos, é a variação do
humor que nos causa espasmos de alegria ou de tristeza. “Felicidade em
excesso é indesejável, porque leva a uma capacidade menor de apreciá-la”,
diz o historiador inglês Stuart Walton, autor de Uma História das Emoções,
publicado no ano passado no Brasil. No livro, Walton examina as emoções
que considera primordiais (como medo, raiva, tristeza e felicidade) e as
relaciona à vida moderna. “Se você tem algo o tempo todo, não pode dizer
se aquilo é bom ou ruim”, diz. “É preciso descartá-lo para saber se a tal
coisa lhe oferece ganhos ou perdas.” Portanto, quem diz que é 100% feliz
pode não estar falando a verdade. Felicidade, por definição, não é um
estado de espírito permanente. Fosse assim, as pessoas seriam mais fortes
na vida.
“A felicidade pode chegar com um amor, com uma conquista, com um fato
que transformou de maneira positiva o indivíduo”, diz Walton. “Mas ela não
fica para sempre. De uma hora para outra, pode e provavelmente vai
partir.” Assim como a infelicidade.
Ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas
menos capazes, menos saudáveis e menos atentas a riscos .

2. Sem obstáculos, não há vitória: Uma segunda defesa da tristeza pode


ser resumida pelo famoso ditado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “O
que não me mata me torna mais forte”. Ele aponta para o valor da
adversidade. Como disse Paulo, em sua Carta aos Romanos: “O sofrimento
produz resistência, a resistência produz caráter e o caráter produz a fé”.
Algumas pessoas que passam por grandes traumas, como a perda de um
ente querido, relatam que se tornaram mais completas depois de passar
pela experiência, afirma o psicólogo Jonathan Haidt, da Universidade de
Virgínia, nos EUA, em seu livro The Happiness Hypothesis (A Hipótese da
Felicidade). “Quem passa por episódios traumáticos aprende a se conhecer
melhor e passa a valorizar as coisas que realmente têm importância”,
escreveu Haidt. Elas dão mais valor à amizade, à família, ao tempo livre,
apreciam o que têm e entendem melhor seus limites. “Só quem vive
emoções profundas e passa pela dor e pelo sofrimento é capaz de se
realizar na plenitude. O homem é um ser ambíguo”, diz o filósofo brasileiro
Franklin Leopoldo e Silva, que no ano passado publicou um livro chamado
Felicidade – Dos Filósofos Pré-Socráticos aos Contemporâneos.

Não é por algum ingrediente precioso que o sofrimento molda o caráter.


Para Haidt, isso acontece porque nós somos seres viciados em contar
histórias. O que sabemos sobre nós mesmos é um relato que continuamente
reescrevemos, escolhendo o que lembrar do passado e o que projetar para
o futuro. As adversidades nos ajudam a criar histórias melhores. (Ou você
acha que a Branca de Neve seria um bom conto se a bruxa nunca a tivesse
envenenado? Hamlet teria feito sucesso se não vivesse atormentado pelo
drama do assassinato de seu pai?)
É claro que os traumas, assim como podem “purificar”, podem matar. Ou
estragar uma vida inteira. Crianças são especialmente suscetíveis. Algumas
pesquisas mostram que a melhor época para enfrentar um grande desafio
na vida é a que vai do início da adolescência até os 20 e poucos anos –
quando é assim, a probabilidade de o episódio servir de estímulo, em vez de
fator de paralisia, é maior.
Os estudos modernos estão de acordo com as teses levantadas há meio
século por um dos maiores estudiosos de mitologia do mundo, o americano
Joseph Campbell. No livro O Herói das Mil Faces, ele descreve um esquema
comum a quase todos os grandes mitos da humanidade, incluindo as
grandes religiões. Para se tornar um herói, a personagem recebe um
“chamado”, tenta rejeitá-lo, é obrigada finalmente a aceitar a missão, viaja,
passa por alguma provação, encontra alguém ou algum objeto mágico que
lhe forneça uma revelação, volta mais forte, vence o obstáculo inicial e, com
isso, liberta os demais, ou lidera-os no caminho da redenção. Pense em seu
herói favorito, ou na história de Moisés, Jesus, Maomé, Buda, e compare
com o roteiro de Campbell.

Por que é sempre assim? Para Campbell, essa trajetória faz parte de nossa
psique. Em nossa formação individual, passamos também por um enredo
parecido. Somos os heróis de nossa história. Quando o obstáculo é feroz
demais, ou quando nos perdemos no deserto, estabelece-se o quadro
neurótico. Nesses casos, o remédio é indicado. Mas tomá-lo antes de ter a
oportunidade de confrontar nossos demônios é desperdiçar a oportunidade
de crescer.

Marvin Minsky, um dos pais da inteligência artificial e pesquisador do MIT,


nos EUA, uma das universidades mais renomadas do mundo, resumiu a
questão de forma precisa. “Se pudéssemos deliberadamente controlar
nossos sistemas de prazer, seríamos capazes de reproduzir o prazer do
sucesso sem a necessidade de realizar coisa alguma – e isso seria o fim de
tudo. ”Pessoas que passam por grandes traumas, como a perda de um ente
querido, aprendem a valorizar as coisas que realmente importam.

3. A alegria ou a vida: Um terceiro ponto de defesa da tristeza vem da


teoria evolucionista. Os sentimentos negativos, como angústia, tristeza e
pessimismo, fazem parte de nossa natureza. A seleção natural os favoreceu
porque, se não os tivéssemos, seríamos presas fáceis de adversidades.
Imagine um homem pré-histórico extremamente feliz e despreocupado,
saindo desarmado no meio da selva. Se esse ancestral existiu algum dia, ele
morreu, provavelmente comido por um grande felino. O que sobreviveu, e
deu origem à espécie humana, foi seu primo preocupado, atento – por vezes
angustiado e rabugento. É assim com todos os animais. O estado de tensão
é uma condição necessária à vida.
No livro Felicidade, o economista Eduardo Giannetti aponta outros riscos
que o contentamento exagerado traria para a sobrevivência da civilização.
Segundo Giannetti, a invenção de uma pílula que provesse todos os
cidadãos de felicidade provocaria danos irreparáveis ao mundo. Na
ausência de sentimentos negativos como culpa, vergonha, remorso
e arrependimento, todos eles neutralizados pelo tal remédio,
haveria um enfraquecimento do respeito às normas morais de
convivência. As pessoas não se sentiriam psicologicamente inibidas
para praticar atos terríveis porque, ao tomar a pílula, deixariam de
sentir culpa ao prejudicar alguém. O resultado seria o caos
completo, que muito provavelmente resultaria no aniquilamento do
mundo tal qual o conhecemos.
É durante as fases de depressão que surgem os questionamentos que
despertam a criatividade da pessoa atormentada.

A GRANDE INSTRUTORA
Emmanuel

Benemérita instrutora existe, cuja visitação sempre recebemos com alarme


e às vezes com reclamações infindáveis.
Orienta sem gritaria e ampara sem violência.
Semelhante mentora palmilha todas as estradas humanas e chama-se
“enfermidade”.
Nesta afirmativa não há lirismo simbólico.
Desejamos apenas considerar que a doença é a correção provocada por
nossos próprios desequilíbrios, agora ou no passado, atuando, a fim de que
não venhamos a cair em maiores padecimentos na esteira do tempo.
Por isso mesmo, vale receber-lhe a presença com respeito, moderação e
bom ânimo.
Se a dor te não impede a movimentação orgânica, persevera com o
trabalho, sem desprezá-lo, embora não possas atender a todos deveres na
feição integral, e não olvides que enquanto o corpo é suscetível de ação
própria, o serviço é o melhor reconstituinte para as deficiências da vida
física e o melhor sedativo para os aborrecimentos morais.
Se a enfermidade age nas células que permanecem a teu serviço, confia-te
pensamento reto.
Nunca te entregues à revolta, ao desalento ou à indisciplina.
Esse trio de sombras te encarceraria em maiores conflitos mentais.
A mente insubmissa ou desesperada não poderá governar o cosmo vital a
que se ajusta, agravando os seus próprios problemas.
Ergue-te, em espírito, na intimidade do coração, trabalha sempre e não
percas o sorriso de confiança.
Cada dia é nova folha do livro infinito da vida e a proteção do Senhor não
nos abandona.
Se tens o corpo atado ao leito, incapaz de mobilizar as próprias energias a
benefício de ti mesmo recorda que, por
vezes, a lição da enfermidade deve ser mais longa, a favor de nossa grande
libertação no futuro.
Toda perturbação guarda origens profundas na alma e se o veículo físico
passará sempre, à feição de veste corruptível, o espírito é o herdeiro da
vida imortal.
Indispensável pensar nisso para que a serenidade nos dignifique nas horas
de crise, porquanto representam grande apoio para nós mesmo a calma e a
coragem que espalhamos naqueles que nos cercam.
O doente inconformado é um centro de sombrios pensamentos, ligados à
discórdia, à rebelião e ao desânimo.
A enfermidade exerce a função de mestre precioso.
Faze silêncio em ti e ouve-lhe os avisos ligeiros ou as advertências
profundas.
E ainda que te encontres à frente da morte, lembra-te do Amigo Divino que
demandou a ressurreição através do leito erguido na cruz, usando o infinito
amor e a extrema renúncia, no próprio sacrifício, para sanar as dores da
Humanidade.
(Emmanuel, do livro "Visão Nova" - Francisco Cândido Xavier -
Autores Diversos)

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A PRECE DE CIPRIANA
(Cap. Final do livro “No Mundo Maior”)
http://www.institutoandreluiz.org/a_prece_de_cipriana.html

«Senhor Jesus,
Permanente inspiração de nossos caminhos,
Abre-nos, por misericórdia,
Como sempre,
As portas excelsas
De tua providência incomensurável...

Doador da Vida,
Acorda-nos a consciência
Para semearmos ressurreição
Nos vales sombrios da morte;

Distribuidor do Sumo Bem,


Ajuda-nos a combater o mal
Com as armas do espírito;

Príncipe da Paz,
Não nos deixes indiferentes
À discórdia
Que vergasta O coração
De nossos companheiros sofredores;

Mestre da Sabedoria
Afugenta para longe de nós
A sensação de cansaço
À frente dos serviços
Que devemos prestar
Aos nossos irmãos ignorantes;

Emissário do Amor Divino,


Não nos concedas paz
Enquanto não vencermos
Os monstros da guerra e do ódio,
Cooperando contigo,
Em tua augusta obra terrestre;

Pastor da Luz Imortal,


Fortalece-nos,
Para que nunca nos intimidemos
Perante as angústias e desesperos das trevas;
Distribuidor da Riqueza Infinita,
Supre-nos as mãos
Com teus recursos ilimitados,
Para que sejamos úteis
A todos os seres do caminho,
Que ainda se sentem minguados
De teus dons imperecíveis;

Embaixador Angélico,
Não nos abandones ao desejo
De repousar indebitamente,
E converte-nos
Em teus servidores humildes,
Onde estivermos;

Mensageiro da Boa Nova,


Não permitas
Que nossos ouvidos adormeçam
Ao coro dos soluços
Dos que clamam por socorro
Nos círculos do sofrimento;

Companheiro da Eternidade,
Abençoa-nos as responsabilidades e deveres;
Não nos relegues à imperfeição
De que ainda somos portadores!

Dá-nos, amado Jesus, o favor de servir-Te


E que o Supremo Senhor do Universo Te glorifique
Para sempre.
Assim seja!...

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REALIZAÇÃO:
Instituto André Luiz
http://www.institutoandreluiz.org/
Divulgação Espírita Virtual

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