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A sintaxe da Libras:
topicalização e focalização
Dando continuidade à abordagem da sintaxe da Libras, nesta uni-
dade você vai conhecer outros tipos de estruturação frasal e as varia-
ções do verbo “comer”, uma vez que vamos ver os sinais referentes a
frutas e a outros alimentos.
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Sinais seria comparável ao das línguas orais em termos neurológicos.
Veja a que conclusões eles chegaram lendo o texto a seguir.
É importante ressaltarmos que esses estudos enfatizaram a ASL
(American Sign Language – Língua de Sinais Americana), mas se
aplicam às Línguas de Sinais em geral.
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Diagnostic Aphasia Exam (Goodglass and Kaplan, 1972) foi adaptado
para a ASL. Isso nos permite comparar o padrão de prejuízo encon-
trado em pacientes surdos e ouvintes. Desenvolvemos, também, uma
bateria de medidas linguísticas para avaliar aspectos específicos da
compreensão e produção da ASL. Os três pacientes apresentados aqui
servem como ilustração da pesquisa do laboratório sobre o papel do
hemisfério esquerdo no processamento da língua de sinais. O labora-
tório tem, desde então, estudado muitos outros sinalizadores lesados
à esquerda que exibiam afasia de sinais e fornecem indícios adicionais
sobre a organização cerebral para língua de sinais.
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O tópico é o tema do discurso que apresenta uma ênfase especial, posicionado no início
da frase e seguido de comentários a respeito desse tema. Esse recurso gramatical é muito
comum na Libras.
A marca do tópico delimita as fronteiras da topicalização na língua de sinais brasileira:
somente tópicos são associados com a marca não manual, ou seja, essa marca não pode se
espalhar sobre a sentença.
<MAÇÃ> EL@ GOSTAR
(De maçã, ela gosta.)
(tópico)
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<MAÇÃ> EL@ GOSTAR-NÃO!
(De maçã, ela não gosta!)
Essa mesma frase pode vir acompanhada ainda de interrogação.
<MAÇÃ> EL@ GOSTAR-NÃO?
(De maçã, ela não gosta?)
E lembre-se de que a expressão facial é muito importante na sina-
lização, pois ela também é definidora dessas estruturas. Por exemplo:
quando topicalizamos MAÇÃ, podemos dar uma leve inclinada na
cabeça (para frente) para marcar o tópico.
É claro que podemos formular também frases exclamativas com
tópico. Veja:
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Na frase topicalizada, também podemos expressar a condição de
nunca termos feito algo.
<MANGA> EU COMER NUNCA(!)
(Manga, eu nunca como.)
Você percebeu que a estruturação em tópico de uma frase em
Libras consiste em destacar seu tema? Pois bem, vejamos outra forma
de estruturação de frases nessa língua.
VOVÓ COMPRAR FRUTAS MUIT@ <COMPRAR>
(Vovó comprou muitas frutas, comprou.)
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QUEM GOSTAR LARANJA <QUEM>
(Quem gosta de laranja, quem?)
Lembre-se de que a expressão facial é de extrema importância na
sinalização para indicar a dúvida, a interrogação.
EU GOSTAR-NÃO MAMÃO COMER <GOSTAR-NÃO>
(Eu não gosto de comer mamão, não gosto.)
VOCÊ COMER FRUTAS TODOS DIAS <COMER>?
(Você come frutas todos os dias? Come?)
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VOCÊ GOSTAR MAÇÃ?
(Você gosta de maçã?)
MAÇÃ EU GOSTAR!
(De maçã, eu gosto!)
EU GOSTAR-NÃO ABACAXI
(Eu não gosto de abacaxi.)
VOCÊ GOSTAR?
(Você gosta?)
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ABACAXI EU GOSTAR-NÃO!
(De abacaxi, eu não gosto!)
SALADA FRUTAS VOCÊ GOSTAR?
(De salada de frutas, você gosta?)
ÀS VEZES SALADA DE FRUTAS EU COMER GOSTOS@!
(Às vezes eu como salada de frutas. É gostoso!)
Fizemos aqui apenas um apanhado geral dessas construções para que você compreenda
melhor as possibilidades de organização sintática de frases na Libras. Caso você tenha inte-
resse em conhecer outras especificidades estruturais e aprofundar seus estudos linguísti-
cos em Libras, sugerimos o livro Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos, de Ronice
Muller de Quadros e Lodenir B. Karnopp, publicado pela editora ArtMed. Nele, Quadros e
Karnopp apresentam um estudo linguístico da Libras desenvolvido com base em pesquisas
minuciosas, que une os estudos da linguística geral com as especificidades da Libras.
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Antes de prosseguirmos, é importante que você se lembre de outro
aspecto linguístico da Libras: o das variações regionais. Lembra-se de
que o regionalismo foi abordado no primeiro livro de nosso curso?
Nessa ocasião, você aprendeu a sinalizar a palavra “verde” segundo os
dialetos curitibano, paulista e carioca. Como estamos estudando sobre
as possibilidades de estruturação frasal na Libras, é importante que
você não as tome como um padrão único, mas que considere os dia-
letos sociais e o registro não padrão dessa língua, assim como ocorre
com o português.
Para compreender melhor esse aspecto linguístico, leia um trecho
da obra Surdez e linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas, de
Ana Paula Santana.
(...)
É preciso ainda muito estudo sobre a variedade “não padrão” dessa língua.
Cumpre observar que não estou me referindo ao português sinalizado
– já que os pais ouvintes não fazem sinais para preposições, artigos e
conjunções –, mas às variedades de usos dessa “língua”. Uniformizar a
língua de sinais seria o mesmo que uniformizar a língua portuguesa.
Sabe-se que a diferença de dialetos não se dá apenas entre o português
de Portugal e o do Brasil, mas entre as várias regiões brasileiras. O por-
tuguês do Brasil apresenta, segundo Bagno (2000), alto grau de diver-
sidade e de variabilidade, por causa da extensão territorial e das dife-
renças entre as classes sociais. O mito de que o português é um bloco
coeso, compacto e homogêneo não se sustenta, principalmente quando
há discriminação e imposição da norma culta da língua para todos os
falantes, deixando a maior parte da população marginalizada.
Se não há língua portuguesa “ideal” nem falantes “puros”, por que teríamos
língua de sinais “pura”? Tem-se discutido a língua de sinais como se fosse
uma língua homogênea – “a língua dos surdos”. Entretanto, ela também
tem suas variáveis, que fogem a uma descrição gramatical da língua, como
se tem feito até o momento. Essas variáveis se referem ao aspecto semân-
tico diferenciado (por exemplo, os sinais de MÃE e de PAI no Rio Grande
do Sul e em São Paulo são diferentes), além dos aspectos fonológicos e
sintáticos. Ressalto, quanto a isso, a importância da inclusão de trabalhos
da sociolinguística nos estudos da língua de sinais brasileira, bem como
as abordagens dos aspectos pragmático-discursivos relativos ao funciona-
mento de tal língua, que ainda estão no seu início (...).
SANTANA, A. P. Surdez e linguagem: aspectos e implicações
neurolinguísticas. São Paulo: Plexus, 2007. p. 99-100.
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Sinalizando frutas, alimentos
e algumas ações a eles relacionados
Com o intuito de que você possa praticar ainda mais enunciados
em Libras, apresentamos mais um conjunto de sinais para a construção
de enunciados que se referem a ações relacionadas a frutas.
Frutas
frutas
BANANA MAÇÃ MAMÃO ABACAXI
ABACATE CAJU LARANJA PERA
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GOIABA LIMÃO COCO MANGA
MELANCIA MORANGO
UVA melão maracujá
pêssego frutaria
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Alimentos
ALIMENTOS
MACARRÃO ARROZ CARNE FEIJÃO
DOCE SAL PÃO OVO
COMPRAR VENDER COMER EXPERIMENTAR
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FRITAR ASSAR COZINHAR
DESCASCAR SERVIR
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