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Nesse sentido, primeiramente será necessária uma distinção conceitual dos tipos
de competência existentes no texto da Constituição Federal (CF), de acordo com a
doutrina. Após, far-se-á uma análise da decisão em si do Supremo Tribunal Federal
(STF), verificando-se se o entendimento da Suprema Corte vai ao encontro ou não da
doutrina constitucional majoritária.
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
(BRASIL,2020).
(...)
Destaca-se que cada Estado federativo existente possui sua própria forma de
divisão de competências, que costumam variar segundo o processo histórico de
formação da própria federação. Não se realizará qualquer análise crítica a respeito da
razoabilidade ou da adequação da forma pela qual a República Federativa do Brasil
optou por distribuir as competências legislativas de seus entes federados.
Nesse sentido, o presente trabalho fará uma análise mais prática, no sentido de se
verificar apenas como foi feita essa distribuição de competências e de como o Supremo
Tribunal Federal as interpretou e aplicou no julgado objeto do trabalho.
A repartição administrativa diz respeito à competência dos entes para agir sobre
determinado assunto. Nesse sentido, as competências administrativas podem ser
exclusivas ou comuns.
Como exemplo dos tipos de repartição legislativa, nota-se que compete à União,
privativamente, legislar sobre direito civil (art. 22, I, da CF). De outra forma, compete
concorrentemente à União e aos Estados e ao Distrito Federal legislarem sobre direito
tributário (art. 24, I, da CF).
(...)
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição. (BRASIL,2020).
Por esse motivo, a doutrina elenca que aos Estados cabe legislar sobre normas que
não sejam de interesse geral (de competência da União), nem de interesse local (de
competência dos Municípios). Seriam, portanto, normas de interesse regional.
Nesses termos, fica claro que os Estados poderão legislar sobre todas as
matérias que não lhes sejam vedadas expressamente ou mesmo
implicitamente pela Constituição. Como exemplo, para o exercício das
competências remanescentes dos Estados, podemos observar que quem
organiza e fiscaliza o transporte local são os Municípios, bem como o
transporte interestadual, é a União. Todavia, em relação ao intermunicipal,
não há previsão expressa. Aqui temos que a competência é remanescente dos
Estados-membros (FERNANDES, 2018, p. 886).
O Distrito Federal, por sua vez, sendo ente federado com atribuições típicas tanto
de Município como de Estado, possui competência para editar tanto leis de interesse
local como leis de interesse regional. É o que dispõe o art. 32, §1º, da CF:
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á
por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos nesta Constituição.
Nesse sentido, dispõe o art. 24, §3º, da CF, que, inexistindo legislação federal
em vigor, os Estados poderão exercer legislação de forma plena (isso significa, editar
normas de caráter geral). Todavia, legislando a União, posteriormente, sobre o tema,
ficam as normas estaduais existentes suspensas, conforme estabelece o §4º do art. 24 da
CF:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
É mister salientar que existem requisitos para que possa ocorrer a delegação
das competências privativas da União para os Estados. Nesse sentido, os
requisitos de delegabilidade são: a) Requisito Formal: a União só pode
delegar para os Estados competência legislativa mediante lei complementar.
b) Requisito material: a União só poderá delegar questões específicas das
matérias presentes nos incisos - não podendo delegar o inciso sem
delimitação. c) Requisito Implícito: da isonomia, encontra-se no art. 19, inc.
Ili, CR/88. (FERNANDES, 2018, p. 888-889).
Salienta-se, também, que a delegação não se confunde com abdicação. Ainda
que a União delegue aos Estados a edição de determinada lei, não há óbice a que futura
lei federal seja editada pela União, revogando, portanto, a Lei Delegada naquilo que lhe
contrariar.
III - pelos gestores locais de saúde, nas hipóteses dos incisos III, IV e VII do
caput deste artigo.
(...).
Isso se extrai tanto da leitura do art. 23, II, da CF, como do inciso I do art. 198,
que estabelece o princípio da descentralização administrativa do Sistema Único de
Saúde (SUS):
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
(...).
Destaca-se que, segundo julgado do STF, não é possível sequer que os Estados e
Municípios se omitam de exercer sua competência concorrente, sendo inconstitucional
que determinado tema seja regido por simples remissão à lei federal.
Da mesma forma que não seria possível que um ente federado (no caso, o Estado)
legislasse sobre interesse regional com mera remissão à Lei Federal, também não o seria
no caso da COVID-19. Ou seja, não é possível que a União obrigue os demais entes a
legislar por remissão à lei federal, no que tange à matéria de competência concorrente.
Isso não significa, contudo, que a União não possui competência para tratar das
medidas de isolamento relativas à COVID-19. A existência dessa competência,
inclusive, foi a razão pela qual não se declarou a inconstitucionalidade da norma
federal. É ampla a capacidade da União para legislar sobre o tema, desde que, ao fazê-
lo, não esgote por completo as capacidades dos demais entes federativos.
5. CONCLUSÃO.
O presente artigo conclui que há, no ordenamento jurídico brasileiro, duas
técnicas de repartição de competências federativas: uma vertical e uma horizontal. A
vertical é a que prevê o compartilhamento de competências federativas pelos entes
federados, estando prevista, precipuamente, nos artigos 23, 24 e 30, I, da Constituição
Federal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 09. ed. –
Bahia: Juspodium, 2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Os Municípios detêm competência para legislar
sobre assuntos de interesse local, ainda que de modo reflexo, tratem de direito comercial
ou do consumidor. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b075703bbe07a50d
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Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/51311013e51adebc
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Disponível em: < http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5201979>.
Acesso em 21/07/2020.
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em: < http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo914.htm>.
Acesso em 21/07/2020.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>,
Acesso em 21/07/2020,
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
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Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/l13979.htm>. Acesso em: 21/07/2020