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RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
1
A sigla LGBTQIA+, significada aqui como: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Gênero Queer,
Intersexual, Assexuais e ‘+’, que enquadra a multiplicidade de outros gêneros, será utilizada para englobar a
comunidade. Ainda assim, compreendemos que a sigla vem sofrendo diversas variações ao logo dos anos e dos
movimentos. Por isso, o intuito da utilização dessa variação no presente estudo visa identificar nominalmente
toda a comunidade, porém não há nenhum intuito de padronizar ou protagonizar um gênero em detrimento de
outro.
social. Os impressos objetos desta pesquisa possuem linhas editoriais distintas, o que nos
permite analisar discursivamente a produção de sentidos sobre a comunidade nos variados
segmentos estilísticos. Como metodologia de trabalho, em um primeiro momento, são
realizadas pesquisas bibliográficas para nortear as reflexões apresentadas, com vistas a
compreender a linguagem sociodiscursiva construída sobre a comunidade LGBTQIA+ nos
textos jornalísticos. Em seguida, em pesquisa documental, de cunho qualitativo, analisamos
quatro matérias do Jornal Extra e quatro matérias de O Estado do Maranhão, todas com
temática ou traços discursivos marcantes que envolvem a comunidade LGBTQIA+, utilizando
a Análise do Discurso Crítica (FAIRCLOUGH 1989, 1995, 2001 [1992], 2003).
2
Policiais nova-iorquinos tentavam constantemente fechar o bar Stonewall Inn, em Nova York, Estados Unidos.
O estabelecimento era muito frequentado por LGBTQIA+s. Os frequentadores vinham sofrendo perseguições e
agressões da polícia que, por sua vez, alegava que o bar era propriedade da máfia italiana. Porém, na noite de 28
de junho de 1969 – data que hoje marca a luta e a resistência da comunidade LGBTQI+ – um grupo de
homossexuais, lésbicas e transexuais atacou os policiais com garrafas e pedras, proferindo frases de
empoderamento. O episódio atraiu a atenção da imprensa, proporcionando a visibilidade da comunidade e o
incentivo aos primeiros movimentos LGBTQIA+s pelo mundo (MARIUSSO, 2011, p. 2).
(2008, p. 07), queer é um corpo estranho que perturba, provoca e causa fascínio. Para além
disso, o queer não possui uma identidade e orientação sexual específica, podendo então
transitar entre gêneros ou novas conceituações.
Por muitas décadas, a homossexualidade, a heterossexualidade e a bissexualidade
foram as orientações sexuais preponderantes. Porém, se pensarmos em categorizar a
orientação em apenas três segmentos, contradiremos o discurso segundo o qual a orientação
sexual varia de pessoa para pessoa, podendo ou não estar enquadrada em uma dessas três
classificações. Podemos citar, como exemplo, a assexualidade que ocorre quando um
indivíduo não sente atração sexual por nenhum gênero. Ainda assim, o assexual pode
manifestar interesse afetivo e emocional por alguém. A pansexualidade também é uma
orientação sexual. As pessoas pansexuais podem desenvolver atração física, emocional e
sexual por outras, independente da sua identidade de gênero ou sexo biológico. Em oposição à
bissexualidade, a pansexualidade é uma orientação que rejeita a noção de dois gêneros.
A necessidade, portanto, de reconhecimento de diversas identidades de gênero e de
orientações sexuais gerou processos de organização dos sujeitos em grupos que buscam a
quebra da hegemonia organizada em torno do gênero binário em masculino e feminino e da
heteronormatividade.
Criada inicialmente para questionar a formulação biológica dos sujeitos, a distinção
entre gênero e sexo se firma na tese de que, para além do sexo biológico, o gênero é
construído por meio da percepção identitária do sujeito social. Segundo Butler (2003), a
multiplicidade derivada do conceito de gênero impossibilita a unidade do sujeito, uma vez que
possui múltiplas interpretações.
A discussão sobre a multiplicidade de gênero gera uma ruptura na dicotomia homem
versus mulher, construída por uma visão naturalizada da binaridade dos gêneros, que
sistematiza a subordinação patriarcal, ou seja, essa segmentação de gênero evidencia um ser
como superior e outro como inferior. Desse modo, as relações de identidade e de gênero são
marcadas pela dominação masculina e pela heteronormatividade, que organizam as relações
básicas de divisão social e provocam uma hierarquia entre os sexos que é culturalmente
construída e aceita.
Bourdieu (2002) observa que essa visão androcêntrica, que coloca homem como
modelo de representação coletiva, é vista como neutra e incontestável. Por esse motivo, a
ordem social funciona como uma simbologia para corroborar a dominação masculina sobre a
qual se alicerça, construindo ideologicamente a figura do homem “macho” como dominante,
ou seja, hegemônica (FAIRCLOUGH, 2001).
Nesse processo, é importante considerar o papel dos discursos, que constroem
identidades e representações sociais por meio dos sentidos elaborados nos diversos sistemas
semióticos (FAIRCLOUGH, 2001). Nesse processo, temos um conjunto de sentidos que
denotam as noções de normalidade e de anormalidade das práticas e dos sujeitos, fazendo com
que a construção identitária seja dependente dessa distinção, dessa avaliação. Por exemplo, a
homossexualidade, que sempre fez parte da História, estando presente nas mais diversas
culturas, é vista como pecado na tradição judaico-cristã, contexto discursivo em que o
indivíduo com orientação ou identidade sexual distinta da “normalidade” tem suas relações
sociais marginalizadas.
Para fugir desse estigma da marginalização social, a comunidade LGBTQIA+ busca
um local de voz, uma vez que, dentro do sistema discursivo, a comunidade não é representada
em sua realidade social, seguindo sempre padrões de representações externas a ela. Muitas
vezes, esses discursos controem representações e identidades que corroboram
posicionamentos que excluem não somente pela interdição, mas também pela pela separação e
rejeição desses sujeitos e de seu grupo social (FOUCAULT, 2009).
Segundo Foucault (2009, p. 37), nem todo discurso é aberto e penetrável. Algumas
regiões discursivas são proibidas, enquanto outras não possuem restrições e estão à disposição
de cada sujeito que fala. lembrando que discurso “é, também, aquilo que é o objeto do desejo;
e visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo
que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mais aquilo porque, pelo que se luta, o poder
do qual nos queremos apoderar” (FOUCAULT, 2009, p. 10). Assim, ainda que a comunidade
LGBTQIA+ emita um discurso que busca visibilidade e reconhecimento de seus direitos, a
forma como esses sujeitos sociais são representados nas práticas sociais relacionam-se aos
papéis sociais a eles atibuídos (VAN LEEUWEN, 2008), que podem ser de sujeitos
subjulgados quando é feita uma representação associada a uma linguagem negativa ou
positiva na caracterização dos indivíduos.
Ademais, o processo de estigmatização de um membro da comunidade LGBTQIA+
também perpassa o estereótipo de homem afeminado. Segundo Darde e Morigi (2012, p. 159),
a atribuição negativa à afeminação é algo historicamente construído. “Ao considerar o ser
efeminado alguém inferior, os grupos estabelecidos como majoritários dentro da
heteronormatividade imediatamente atribuem a todos os homens homossexuais essa
característica”.
Assim, na sociedade contemporânea, em que o poder hegemônico é construído por
meio de processos de consentimento e naturalização, o conceito de representatividade é
protagonista dessa luta por inclusão, já que esta acontece quando identificamos o poder
discursivo dos sujeitos, uma vez que discursos materializados nas práticas sociais contribuem
para que se mantenha ou se subverta a ordem do discurso e relações sociais hegemônicas
opressoras (FAIRCLOUGH, 2001).
SULBATERNIDADE NO JORNALISMO
O jornalismo, intrínseco ao processo de comunicar, é um elemento fundamental da
organização social. Temer (2014) reflete que a imprensa é a porta-voz da democracia, do
progresso e da cidadania. O jornalista, como principal agente desse processo, entra em contato
com diferentes vivências todos os dias e, a partir disso, delimita espaços que serão integrados
na construção da informação.
Rozendo (2012) explica que, embora alguns atores sociais, como as minorias sociais,
não componham as manchetes televisivas ou as capas dos jornais impressos, isso não significa
que essas minorias não façam parte da realidade social. Contudo isso é sintomático de
movimentos discursivos em prol de manutenção de projetos de poder, como nos casos do
patriarcado e da heteronormatividade, principalmente porque o espaço midiático é um campo
no qual o sujeito que fala é, ao mesmo tempo, aquele que pode corroborar os fatos, assim
como aquele que pode produzir a sua verdade e submetê-la à realidade, pelo poder que exerce
na sociedade (NAVARRO, 2010).
Sodré (2005) explica que os grupos sociais compostos por minorias não têm direito à
voz no espaço tradicional. Mulheres, negros e a comunidade LGBTQIA+, tidos como
minorias, trabalham contra-hegemonicamente na mídia alternativa. Ainda assim, o grande
desafio continua sendo o de inserir as minorias na imprensa como um todo, democratizando
os espaços.
Santana (2018), ao estudar a comunidade LGBTQIA+ como pauta em jornais da
Bahia, observou que o enquadramento dado a um acontecimento é fechado, de modo que não
se deixa espaço para refletir sobre aspectos outros que não os noticiados. Ademais, a
comunidade LGBTQIA+ não tem lugar de fala, sendo silenciada dentro das condições
subalternas a que está submetida.
O conceito de subalternidade é compreendido como o daquele que está na contramão
da hegemonia, vivendo no seio da invisibilidade dentro de estruturas estabelecidas na
sociedade contemporânea. “São os historicamente oprimidos pelo sistema ‘normatizador’. Na
prática aplicada ao mundo ocidental, a subalternidade é ocupada principalmente por mulheres,
negros pobres e LGBT” (SANTANA, 2018, p. 29).
Assim, os estudos das subalternidades associam-se a movimentos de democratização,
uma vez que é crucial prever a proteção de grupos sociais enfraquecidos e a promoção de
canais efetivos de expressão política que inviabilizem a dominação opressora de grupos mais
poderosos. Essa luta se trava também no âmbito do discurso, no qual a imprensa ocupa um
papel de destaque no surgimento e na manutenção de regimes democráticos e na contestação
de representações hegemônicas opressoras.
Analisando a cobertura das eleições presidenciais de 2014, Santana (2018) identificou
que assuntos como a criminalização da homofobia e a identidade de gênero foram pautas
entre os presidenciáveis e, consequentemente, das matérias jornalísticas. Contudo, o corpo das
reportagens era construído com duas vozes, a do jornalista e a fala de uma representação
política. Esse contexto possibilita a reflexão sobre como os enquadramentos do acontecimento
noticioso podem silenciar a voz da comunidade LGBTQIA+ na cobertura jornalística.
Orientado pelas ponderações de Foucault (2014), Santana (2018, p. 28) analisa que o
discurso se manifesta na forma de um acontecimento e, por isso, há a necessidade de olhar
para os diversos enunciados presentes nesse discurso, a fim de compreender os caminhos da
prática discursiva. No jornalismo, enquadramentos e perspectivas podem ser colocados em
segundo plano, deixando de considerar o que está além do que foi noticiado. Assim, quando
não há voz da comunidade LGBTQIA+ em uma pauta relacionada a ela, o jornalismo está
subalternizando a relevância da comunidade.
Contexto semelhante foi econtrado por Jeronimo (2019), que ao analisar a
representação da comunidade LGBTQIA+ na cobertura do Jornal O Povo nas eleições
presidenciais de 2018, observou que os temas mias frequentes na seleção das noticias marcam
a afirmação ou negação do reconhecimento dos membros da comunidade. Além disso, o
pesquisador identifica que:
Ademias, o modo como um jornal lida com os locais de fala gera a invisibilidade e/ou
o silenciamento de sujeitos e a perpetuação dos espaços de privilégios. Contribuem para essa
prática o controle editorial regido por interesses políticos e ecônomicos que colocam a
imprensa no papel de produtora de discursos, cujos sujeitos são posicionados conforme os
interesses de grupos específicos (FAIRCLOUGH, 2001). Assim, por exemplo, o campo
ideológico de uma redação jornalística pode validar o discurso de anormalidade para a
comunidade LGBTQIA+, principalmente se pensarmos nos modelos de represetnação
hegemônicos e as construções identitárias já descritos neste estudo.
Uma forma de problematizar essas questões é analisar os discursos veiculados pela
imprensa e suas representações, pois se a comunidade LGBTQIA+ for apresentada apenas por
meio de enunciadores externos a ela, os fatos ali apresentados são meramente noticiosos, sem
potencializada para gerar reflexões sobre suas implicações sociais, por exemplo.
METODOLOGIA
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Práticas sociais são: “maneiras recorrentes, situadas temporal e espacialmente, pelas quais agimos e
interagimos no mundo” (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999, p. 21).
a diversas transformações comunicacionais, o impresso reflete a tradicionalidade do
jornalismo e, consequentemente, a credibilidade da informação.
As matérias selecionadas apresentam a comunidade LGBTQIA+ e/ou seus membros
como sujeito principal do discurso, ou àquele/a para quem o discurso fora direcionado. Além
desse critério, os jornais deveriam estar disponíveis em repositório da Internet para que os
textos pudessem ser acessados e salvos para posterior análise. A coleta do material que
compõe o corpus da pesquisa compreendeu o período de 2017 e 2018. O recorte temporal de
dois anos foi escolhido com o objetivo de compreender como a linguagem jornalística pode
sofrer alterações de um período para outro.
Para orientar o processo de identificação das matérias, foi criado um conjunto de
palavras-chave: 37 termos – conforme o Quadro 1 – que foram selecionados segundo o
Manual de Comunicação LGBT (2010), compreendendo terminologias características da
comunidade, além de palavras utilizadas para denotar estereótipos e preconceitos de gênero.
Fonte: Elaborado pelos autores com base no Manual de Comunicação LGBT (2019).
Todas as matérias fora m registradas por meio de print e armazenadas em nuvem com
conteúdo completo. As matérias são nomeadas com um código composto por uma indicação
de data – dia, mês e ano –, editoria, título da notícia e palavra-chave. Exemplo: 26.01.2017 –
POLÍCIA – Jovem é preso por tentativa de homicídio em Humberto de Campos –
Homofobia.
No primeiro levantamento, foram obtidas 79 matérias no Jornal Extra e 232 no Jornal
O Estado do Maranhão. Elas puderam ser agrupadas nas seguintes categorias/editorias:
coluna, editorial, política, polícia, geral, economia, televisão, alternativo e mundo. De total,
foram selecionadas quatro (04) reportagens representativas de cada periódico, totalizando oito
(08) textos, organizados conforma a data de publicação, sendo as matérias 01, 02, 03 e 04
referentes ao Jornal Extra e as Matérias 05, 06, 07 e 08 referentes ao O Estado do Maranhão,
conforme Quadro 2. Essa seleção não prejudica a análise, pois são representativas das marcas
discursivas dos jornais, que se mantêm, ainda que veladas, em todas as suas linhas editoriais.
DATA DA
TEXTO TÍTULO EDITORIA CONTEÚDO
PUBLICAÇÃO
JORNAL EXTRA
O ESTADO DO MARANHÃO
1º. Nenhum homem da face da terra, mesmo que se submeta a uma cirurgia para
substituir o pênis por uma vagina, isto porque decidiu agora tonar-se mulher, nunca
vai ovular e saber que significa uma TPM; nunca vai parir e saber que é sentir a
dor de um parto. E não o vai, porque lhe são inexistentes o útero e as trompas de
falópio.
2º. Nenhuma mulher da face da terra, mesmo que se submeta a uma cirurgia para
tirar os seios e substituir a vagina por um pênis (e aqui não faço a mínima ideia de
tal engenharia!), isto porque decidiu ficar homem, nunca vai produzir
espermatozoides. E não o vai, porque lhe são inexistentes a próstata e os
testículos.
3º. Nunca o orgasmo da mulher será como o orgasmo do homem, assim como o
orgasmo do homem nunca será como o orgasmo da mulher. Com efeito, o orgasmo
do homem será sempre um orgasmo másculo, porque o homem ejacula em forma de
jato. O orgasmo da mulher será sempre um orgasmo feminino, idêntico à sua
natureza íntima e discreta.
4º. A nenhum homem da face da terra, mesmo que se submeta a uma cirurgia para
substituir o pênis por uma vagina, isto porque decidiu agora tonar-se mulher, fará
sentindo marcar uma consulta ginecológica para fazer o exame de prevenção. Pois
como se poderá diagnosticar se está ou não com mioma, inflamação, corrimento,
se o aparato gerador não lhe é inerente?
5º. A nenhuma mulher da face da terra, mesmo que se submeta a uma cirurgia para
tirar os seios e substituir a vagina por um pênis (e aqui não faço a mínima ideia de
tal engenharia!), isto porque decidiu ficar homem, fará sentido marcar uma consulta
com o urologista para fazer o exame de próstata. Pois como se poderá diagnosticar
se está ou não com a próstata alterada se este aparato produtor não lhe é inerente? (O
ESTADO DO MARANHÃO, Opinião. 2018).
Nos trechos destacados da Matéria 07, o autor tenta reafirmar as identidades do ser
homem e do ser mulher, marcando diferenças, para ele permanentes. Ele procura, portanto,
reafirmar essas identidades por “por meio da marcação de diferenças que levam a um
processo de inclusão ou exclusão” (ALVES, 2017, p. 119), pois ao determinar o que alguém
é, estamos simultaneamente dizendo o que não é, e isso se traduz em afirmações sobre “quem
pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e sobre quem está excluído”
(SILVA, 2000, p. 82) na sociedade e em suas práticas, legitimando uns e deslegitimando
outros.
Assim, a exemplo do que ocorre no texto da matéria, apenas são incluídos homens e
mulheres, excluindo da representação os demais sujeitos e suas diversas construções
identitária de gênero. Contudo, eles não são suprimidos do texto, apenas colocados em
segundo plano (VAN LEEUWEN, 2008), pois a exclusão assim construída deixa vestígios ao
criar espaço para pensar em quais atores sociais estão sendo negados nessa argumentação, ou
seja, mesmo não mencionado aos atores sociais da comunidade LGBTQIA+, o/a leitor/a pode
inferir quem eles são.
Associado aos atores sociais da comunidade LGBTQIA+, também são incluídos nos
textos outros atores, dentre eles podemos destacar aqueles identificados como homofóbicos e
preconceituosos – comportamentos que parecem ser julgados negativamente no texto da
Matéria 02, que diz: “Ninguém quer ser tachado de homofóbico” e “Os preconceituosos
tentam se disfarçar”. Até mesmo o Estado e suas instituições são representados em uma
posição de rejeição ou negação da comunidade LGBTQIA+ e seus membros, como ocorre na
Matéria 01 que cita: “Quanto ao princípio da não-discriminação, o Tribunal também
acrescentou que não existe qualquer discriminação, já que os Estados são livres de (sic!)
reservar o casamento apenas a casais heterossexuais”, levando à interpretação de que os
países têm poder para impedir essas uniões.
Algumas identificações, contudo, apontam aspectos positivos da comunidade como no
caso da Matéria 05, como “o colorido”, “a festa”, “o brilho”, normalmente associados à
comunidade. Porém, infelizmente, em nossa análise, essa foi uma representação pontual, pois
a representação da comunidade tende a uma busca de neutralidade como no uso de
generalizações como “pessoas do mesmo sexo” e “usuário transgêneros”, mas acaba
prevalecendo um tom de reprovação, ou seja, construída por identificações depreciativas com
o uso de palavras como “boiola”, “bicha velha” e com afirmações como “gays não podem dar
mais o anel”, ou “movimentos gays de todo país vão ter que rebolar, para reverter essa
decisão do Tribunal Mundial dos Direitos Humanos”; ou ainda, na negação da “ideologia de
gênero”, identificada como: “força ideológica [que] obscurece” e que representa uma
“escuridão recalcitrante”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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